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NÚCLEOS ECOLÓGICOS: UM NOVO MODELO DE

DESENVOLVIMENTO

REFLEXÕES INICIAIS

Nos últimos anos intensificou-se a crítica quanto a decadência de nossas cidades em

diversos aspectos como violência, saúde, educação, saneamento, acesso a moradia,

mobilidade urbana e etc.

Porém, ainda não está claro qual o modelo “ideal” para equacionarmos os desafios

impostos na atualidade. Sendo assim, visando contribuir com a discussão do Projeto

Nacional de Desenvolvimento, proponho pensarmos numa metodologia de

desenvolvimento (mais importante que o projeto em si) que utilize os princípios com as

quais a sociedade já vem experimentando de forma a convergir os interesses, ou seja,

neste momento não precisamos inventar a roda e sim utilizarmos as que existem para

implantarmos o que chamo de “Núcleos Ecológicos” visando o alcance do interesse

comum.

Antes de explicitar as características desse novo modelo é importante entendermos que a

forma atual de empreender, principalmente na questão imobiliária, se baseia na

fragmentação absoluta de interesses (herança do período colonial, escravocrata e

autoritário) produzindo cidades caóticas, violentas, segregadas, ambientalmente

degradantes e hostis a vida humana. Neste contexto o poder público apenas atua para

amenizar os problemas criados não conseguindo o êxito desejado nas soluções dos

problemas da sociedade.

UM EXEMPLO PRÁTICO DO QUE SERIA UM NÚCLEO ECOLÓGICO

NÚCLEO ECOLÓGICO DE MUCURICI/ES

Numa área de 4 km² (aproximadamente 2 km x 2 km) será implantado:

1. 1500 Unidades habitacionais (1000 de interesse social; 200 para servidores públicos e
300 para os demais cidadãos);
2. 1 Centro de serviços essenciais (educação, saúde, administração, segurança, comércio,
serviços e etc.);
3. 1 Centro de saneamento e manutenção (gestão dos resíduos, reciclagem, composta-
gem, obras, drenagem, pavimentação, limpeza, etc);
4. 1 Centro empresarial/comercial/industrial;
5. Arranjos produtivos sociais;
6. Região ao entorno com produção de alimentos em base agroecológica;
7. Significativas áreas verdes e de preservação ambiental protegidas.

UNIDADES HABITACIONAIS

► Projeto sustentável;

► Lotes tamanhos iguais (300 m² ideal);

► Limites urbanísticos definidos;

► Unidades habitacionais de interesse social serão construídas pelo poder público


(preferência para a mão de obra de futuros moradores);

► Unidades para comercialização e dos servidores públicos serão construídas pela iniciativa
privada (construtoras) com critérios de projeto, limites de valores e linha de financiamento.
CENTRO DE SERVIÇOS ESSENCIAIS

► Área central do empreendimento;

► Dever ser acessada pelos moradores mais distantes independente de qualquer tipo de
transporte motorizado (preferencialmente a pé) com segurança e acessibilidade;

► Precisa oferecer serviço de saúde, educação, segurança, administração, assistência social,


comércio essencial e lazer;

► É o coração do empreendimento referência para o transporte público coletivo.


CENTRO DE SANEAMENTO E MANUTENÇÃO

► Área estrategicamente localizada no empreendimento;

► Responsável pelas atividades de manutenção das áreas/edificações públicas;

► Executa a gestão dos resíduos sólidos, drenagem urbana, efluentes domésticos e


abastecimento de água*;

► Pode utilizar veículos movidos a eletricidade gerada no próprio empreendimento para a


coleta dos resíduos;

► Cada unidade residencial servirá como uma usina doméstica de reciclagem dos resíduos,
realizando um pré-tratamento facilitando a gestão coletiva.

* na ausência da concessionária

CENTRO EMPRESARIAL/COMERCIAL/INDUSTRIAL

► Área destinada aos diversos empreendimentos como lojas, oficinas, igrejas, restaurantes,
escritórios compartilhados, startups, indústrias 4.0 ...;

► Deverá ser explorado economicamente pelos ex proprietários do terreno (aluguel,


arrendamento ...);

► Poderá ser oferecido um programa de crédito para fomentar a implantação das empresas;

► Incentivará a vinda de famílias dos centros urbanos consolidados para o empreendimento;

► Implantação de novo regime de trabalho com a diminuição da carga horária priorizando a


eficiência e a qualidade de vida.

ARRANJO PRODUTIVO SOCIAL

► Conjunto de atividades econômicas gerenciadas pelo poder público responsável por


oferecer os empregos necessários para as famílias mais vulneráveis e arrecadar parte os
tributos que financiarão os serviços públicos;

► Exemplos:

- Centro de saneamento e manutenção;


- Fábrica de insumos para a construção (tijolos, manilhas, pavimentos, pré-moldados ...);

- Outras atividades mantidas por compras governamentais (complexos industriais, engenharia


reversa...).

SERVIÇOS DE SAÚDE

► Instalação de uma unidade de saúde básica completa (atenção primária);

► Também deverá ser instalada uma unidade de saúde complementar (centro de integração
comunitária) com as práticas integrativas reconhecidas pelo SUS (PICS);

► Será a porta de entrada para qualquer enfermidade. Em caso de emergência deverá ser
encaminhado para um pronto socorro mais próximo.

SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO

► Instalação de uma unidade escolar em tempo integral para todas as idades, da pré-escola à
Universidade;

► Também poderá oferecer um espaço comunitário de eventos, cultura e arte como teatros,
auditórios e etc.

ENTORNO COM PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA

► Será fomentado e financiado uma transição agroecológica da área rural do entorno do


empreendimento com o objetivo de produzir alimentos e outros insumos agrícolas de
qualidade e sem riscos a saúde para, principalmente, o mercado local;

► Financiamento para implantação de pequenas agroindústrias de beneficiamento da


produção agroecológica.
ETAPAS DE EXECUÇÃO:

1. O poder público estabelecerá equipe multidisciplinar de trabalho dentro do corpo téc-


nico existente ou elabora concurso público para preenchimento das vagas necessárias.
2. A equipe de trabalho fará uma varredura nas áreas e municípios possíveis para a exe-
cução dos empreendimentos ao mesmo tempo em que faz levantamento das deman-
das socias emergenciais.Após isso será feito um cruzamento das informações físi-
co/ambientais com a sócio/econômicas e selecionadas as áreas viáveis e prioritá-
rias(ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO a nível regional/local). Em seguida se-
ráapresentada ao representante público para definir as estratégias eselecionar o em-
preendimento inicial.
3. Uma vez selecionado o empreendimento será dado o início a oplanejamento em con-
junto com o(s) proprietário(s) da(s) área(s).Lembrando que no levantamento inicial das
áreas também será feito uma triagem inicial com os proprietários das terras.
4. Havendo um entendimento entre a equipe de trabalho (viabilidadetécni-
ca/social/ambiental) e os proprietários (viabilidade econômica) será apresentado o
empreendimento ao poder legislativo para procedimentos de ajustes legais e realiza-
das todas as aprovações e licenças nos órgãos responsáveis.
5. Após todas as licenças e aprovações será lançado o empreendimento.
6. O poder público poderá estabelecer pessoa jurídica específica para o empreendimento
de forma a administrar todas as etapas inclusive a comercialização das unidades habi-
tacionais e gestão do núcleo após sua implantação com servidores concursados. Isso
pode evitar a especulação imobiliária por terceiros.
7. De posse do projeto aprovado o poder público fará o planejamento dos investimentos
em saúde e educação.
8. Após o planejamento de execução inicial será contrata a mão de obra constituída prin-
cipalmente de trabalhadores em situação de vulnerabilidade sendo que suas famílias
serão as primeiras a morarem no empreendimento. Concomitantemente a isso serão-
deslocados os servidores que já estejam no quadro de funcionários que tenha aderido
ao projeto. Caso não tenha adesão suficiente serárealizado concurso público para tal.
9. Uma vez que o empreendimento esteja em fase adiantada deexecução (moradias, es-
cola, unidades de saúde, infraestrutura,arranjo produtivo social local) serão chamadas
as construtorasinteressadas para apresentarem seus projetos e comercializarem suas-
casas. Para atrair as famílias dos comerciantes e prestadores deserviços será aberto
uma linha de crédito específica.
10. O empreendimento também será ajustado para as novas tecnologiasde forma a viabili-
zar a indústria 4.0, Startups, Coworking entre outros.

OBSERVAÇÕES:

a) O poder público não terá custo adicional com a equipe responsávelpelo planejamento
visto que, pelo menos nos Estados da federação,já existem diversos profissionais capa-
citados que poderãotranquilamente ser alocados neste trabalho;
b) Existe um contingente enorme de profissionais formados nos últimosanos sedentos
por uma oportunidade de emprego, ou seja, nãofaltará mão de obra qualificada pelo
menos no início;
c) Também existe um mercado em potencial referente aos “filhos daclasse média” que
ainda não saíram da casa de seus pais (que jáestão consolidados de certa forma) que
poderão ser atraídos paraesses projetos e viabilizarem seus empreendimentos;
d) É muito mais agradável para o campo progressista planejar asociedade em bases cole-
tivas que ficar“marretando” os problemas onde eles seguramente não serãoresolvi-
dos;
e) Para implantar o projeto proposto é necessária pelo menos uma interação entreum
Governador de Estado e um Prefeito Municipal. O Presidente daRepública pode aju-
dar,mas não é impedimento. Opa, já temos nestemomento muitos prefeitos e gover-
nadores progressista, tem algumdisposto a fazer uma revisão territorial?

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