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OBRAS PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS

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Sumário
OBRAS PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS .......................................................................... 1
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 3
1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4
2- OBRAS PÚBLICAS ............................................................................................... 7
2.1- Construções Públicas e Sustentabilidade .......................................................... 8
2.2- As Construções Sustentáveis no Brasil ............................................................ 11
2.3- Certificações de Construção Sustentável ........................................................ 13
2.3.1- Leed ................................................................................................................. 13
2.3.2- AQUA-HQE .................................................................................................... 14
2.3.3- LEED E AQUA-HQE .................................................................................... 14
2.4- Principais Materiais de Construção Ecológicos ............................................. 14
2.5- A Sustentabilidade Visando à Economia da Obra ......................................... 16
2.6- Contribuições Para a Sustentabilidade na Construção Civil ........................ 18
3- CIDADES NO BRASIL SE DESTACAM POR SUAS OBRAS PÚBLICAS
SUSTENTÁVEIS ...................................................................................................... 19
3.1- Da teoria à realidade: cidades brasileiras e suas ações sustentáveis ............ 21
4- NOVOS RUMOS PARA AS CONSTRUÇÕES VERDES E A LEGISLAÇÃO
APLICÁVEL............................................................................................................. 28
4- REFERÊNCIAS ................................................................................................... 35

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-


sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1 – INTRODUÇÃO

Podemos conceituar a sustentabilidade como ações e gestões sustentáveis que


visem o cuidado com o meio ambiente. São ações humanas que tragam artifícios
para suprir as necessidades dos seres humanos, sem comprometer o futuro das
próximas gerações.

Por haver essa preocupação este conteúdo tem como principal objetivo relatar
sobre a importância da sustentabilidade principalmente em obras públicas.

A metodologia utilizada foi através da revisão bibliográfica nas bases de dados


já existente no período de janeiro a agosto de 2018. Tendo como conclusão que
as empresa se preocupam com a implantação de materiais sustentáveis na
construção civil em obras tanto públicas quanto privadas para a melhoria econô-
mica, a diminuição dos resíduos sólidos e para a proteção do meio ambiente.

Nos dias atuais muito se fala sobre sustentabilidade, mas poucas coisas são
feitas em prol desse conceito. Mais na realidade qual o significado de sustenta-
bilidade e sua importância para a sociedade?

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Podemos conceituar a sustentabilidade como ações e gestões sustentáveis que
visem o cuidado com o meio ambiente. São ações humanas que tragam artifícios
para suprir as necessidades dos seres humanos, sem comprometer o futuro das
próximas gerações. Sua função é desperta o cuidado e a busca de soluções que
possam minimizar as ações das mudanças climáticas e ambientais causadas
pela ação predatória do homem (NORO et al., 2009).

Na literatura encontram-se os termos sustentáveis, sustentabilidade e desenvol-


vimentos sustentáveis tanto em setores privados e em políticas públicas, con-
tudo ainda não estão bem definidos definitivamente estes conceitos. Quando se
realiza uma vasta busca pelos termos há uma relação predominante com o de-
senvolvimento sustentável (LINDSEY, 2011; STEPANYAN, LITTLEJOHN e
MARGARYAN, 2013).

Apesar desses termos já estarem existentes há muitos anos, há certa resistência


e dificuldade na execução da sustentabilidade no nosso dia a dia. Pois a mesma
requer um cuidado com a degradação do meio ambiente, onde deve ser usadas
alternativas que visem minimizar esse problema.

Com o crescimento populacional há uma necessidade de crescimento habitaci-


onal, industrial, econômica etc. E dentro desse crescimento está a construção
civil, que tem como objetivos realizar construções de pequeno, médio e grande
porte, sendo elas públicas ou particulares. Entretanto o uso de materiais para
uma determinada demanda dessas construções precisa ser investido tais quais:
cimento, areia, madeira, água, fios elétricos, mão de obra etc. Devido a isso te-
mos a seguinte pergunta esses materiais da construção civil tanto em obras pú-
blicas quanto particulares, está visando à sustentabilidade? Ou a sobra desses
materiais é reaproveitada visando minimizar os impactos ambientais que pode-
riam trazer para o meio ambiente?

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Por esse motivo o objetivo principal relatar sobre a importância da sustentabili-
dade principalmente em obras públicas, pois as mesmas já estão sendo incluí-
das em um sistema de sustentabilidade através das licitações que buscam em-
presas que visem diminuir os impactos ambientais sobre os materiais usados
nessas construções.

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2- OBRAS PÚBLICAS

Segundo o Tribunal de Contas de União (TCU) (2014) obras públicas está con-
ceituada como toda e qualquer construção, reforma, fabricação, recuperação ou
algum tipo de ampliação de bem públicos. Isso pode acontecer de forma direta
(quando os próprios órgãos assumem pelas obras) ou as obras podem ser con-
tratadas por licitações (obras contratadas por terceiros). Para que esse último
aconteça é necessário adotar regimes de contratação tais quais:

 Empreitada por preço global: quando se contrata a execução da obra


ou do serviço por preço certo e total;

 Empreitada por preço unitário: quando se contrata a execução da obra


ou do serviço por preço certo de unidades determinadas;

 Tarefa: quando se ajusta mão-de-obra para pequenos trabalhos por preço


certo, com ou sem fornecimento de materiais;

 Empreitada integral: quando se contrata um empreendimento em sua


integralidade, compreendendo todas as etapas das obras, serviços e ins-
talações necessárias.

Independente se a obra for direta ou por licitação devem ser levados em consi-
deração alguns critérios. Após a criação do projeto da construção a ser realizada,
se deve observar a regularização da obra por licenciamento ambiental conforme
a resolução que dispõem as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama) nº 001/1986 e nº 237/1997 e da Lei nº 6.938/1981. Esse documento
visa um estudo do Impacto Ambiental (EIA) e a implementação do Relatório de
Impacto ambiental (RIMA) como parte importante do projeto (TRIBUNAL DE
CONTAS DE UNIÃO, 2014).

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Esse licenciamento é importante para qualquer construção, pois á a partir dele
que se podem averiguar os impactos que uma construção trará ou causará para
o meio ambiente, e em quanto tempo ele conseguira se reconstruir.

2.1- Construções Públicas e Sustentabilidade

A definição de construção sustentável é considerada como um novo conceito


que surgiu dentro da engenharia civil, que tem como objetivo tornar as constru-
ções mais ecológicas com intuito de torna-las mais baratas. Das atividades hu-
manas que mais causam impactos ambientais é a construção civil.

Um levantamento realizado no Brasil cerca de 35% dos materiais extraídos para


serem empregados na construção em da natureza anualmente tais quais: ma-
deira, metais, areia, pedra, etc… Além da utilização de todo esse recurso natural
ainda são utilizados 50% de toda a energia produzida que visam abastecer ca-
sas, condomínios, prédios. Mas atualmente para diminuir a utilização de toda
essa energia, está sendo realizada uma conscientização para utilização de luz
solar através da implantação de placas solares.

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Segundo Corrêa (2009) a incorporação de práticas sustentáveis na construção
de obras tanto públicas quanto particulares está sendo vista como uma tendên-
cia que a cada dia cresce no mercado. Sendo seu uso um caminho sem volta,
pois os governos, consumidores, investidores e associações estão sempre em
alerta, onde são estimulados e pressionados ao mesmo tempo para a incorpo-
ração das práticas da sustentabilidade dentro das obras minimizando o impacto
ao meio ambiente e econômica para a obra. E que para que uma obra seja re-
conhecida como sustentável deve apresentar os seguintes requisitos básicos:
Adequação ambiental; Viabilidade econômica; justiça social e Aceitação cultural.

Na visão de Chaves (2014) o envolvimento da sustentabilidade em construções


está diretamente ligada a durabilidade e capacidade de sobreviver adequada-
mente ao longo de tempo possível, observando a maneira de como as mesmas
respondem as condições ambientais, do solo, da água e dos impactos ambien-
tais no meio ambiente de uma forma geral. Pois a durabilidade das edificações
é o principal quesito para uma edificação sustentável, e está diretamente ligada
à qualidade do processo construtivo e dos materiais empregados.

Quando nos referimos em construções sustentáveis também estamos nos refe-


rindo a hierarquia dos 4 R’s que compõem este conceito que são descritos
abaixo:

 Reduzir: diminuir ao máximo o consumo.

 Reutilizar: utilizar novamente, mesmo que para outro fim.

 Reciclar: este é o R mais falado. Separação do material realiza-se coleta


seletiva para não recicla-lo, pois a mesma envolve a transformação física,
química ou biológica do material e o seu retorno ao ciclo de uso.

 Racionalizar: agir com consciência, na utilização de materiais alternati-


vos e de baixo impacto ambiental.

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Ainda segundo a autora algumas construções sustentáveis são chamadas de
“Construção Verdes”, pois todas as obras são projetadas para funcionar como
um sistema em perfeita harmonia com o meio ambiente.

Além disso, para que a construção esteja dentro da era da sustentabilidade com
a ajuda dos 4 R’s, ainda se pode incluir 5 conceitos básicos mais de suma im-
portância nas obras que busquem diminuir os impactos ambientais causados
pela construção civil:

1) A realização de Projetos Inteligentes: que aproveitem melhor as caracterís-


ticas do terreno bem como a natureza com a utilização da energia solar pou-
pando assim o uso de lampas.

2) Redução da Poluição: reduzir poluição com o aproveitamento dos materiais


reduzindo assim o desperdício, o uso de ferramentas inteligentes tais quais os
andaimes de metal reutilizáveis ao invés dos de madeira. Separa e reutilizar as
sobras das obras, e o que for possível à reciclagem enviar para os setores res-
ponsáveis.

3) O uso de materiais Ecológicos: Plástico reciclado, madeira de refloresta-


mento, concreto reciclado são várias as opções de materiais que podem ser usa-
dos pela engenharia civil para aumentar a sustentabilidade de uma construção.

4) Eficiência Energética: Além de construir obras de maneira ecológica, a cons-


trução sustentável também busca casas e prédios que mantenham de modo
econômico. Obras mais econômico e sustentável é através da eficiência energé-
tica, através do uso de energia solar.

5) Aproveitamento da Água: A água, um dos bens mais preciosos da humani-


dade, também pode ser muito melhor aproveitada segundo os conceitos da
construção sustentável. A água das chuvas, por exemplo, pode ser facilmente
estocada em cisternas e caixas-d’água para ser usada em serviços.

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A aplicação desses conceitos faz perceber a importância da sustentabilidade na
realização de obras na construção civil, e de como elas ajudam a no melhora-
mento da reutilização dos resíduos gerados e no uso de alternativas naturais que
possam contribuir com a diminuição de materiais poluentes. Por esses motivos
os órgãos públicos estão trabalhando criteriosamente sobre o uso de matérias
em obras que serão realizadas diretamente ou por licitação.

2.2- As Construções Sustentáveis no Brasil

No Brasil a ideia sobre construções sustentáveis tem chegado muito tarde. No


primeiro Simpósio do CIB sobre construções e meio ambiente foi organizado
pela Escola Politécnica da USP em meados de 2000. Esse encontro foi impor-
tante para trazer um alerta para as indústrias sobre a realidade e a necessidade
de usar estratégias sobre a sustentabilidade no uso de materiais para a constru-
ção civil (AGOPYAN; JOHN, 2011).

Consentine e Borges (2016) destacam que foi na década de 1990 que no Brasil
surgiram as medidas consistentes na busca por construções sustentáveis, com
estudo que foram possíveis mesurarmos os processos de reciclagem, desperdí-
cio de materiais e energia, e chega à conclusão que na construção civil era ne-
cessário a mudança de estratégias para a e economia mundial. Tal afirmação é
uma prova de que não é preciso tanta tecnologia na construção sustentável, é

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possível alcança-la gerindo bem os recursos e aproveitando o que é oferecido
pelo local.

Por esse motivo há uma necessidade de uma relação harmoniosa entre a indús-
tria e o consumidor, pois são necessárias mudanças culturais, de valores e de
comportamentos sobre a sustentabilidade. Por isso são significativas mudanças
tais quais: a felicidade atrelada ao usufruir ao invés do consumir; a valorização
da durabilidade do produto em detrimento da moda instantânea; e, a adoção do
transporte público ou mesmo o não transporte (NASCIMENTO, 2012).

E para que isso seja possível é necessário destacar a importância dos métodos
de certificação de acordo com as agências dos países de origem mesmo que
não possam lidar com problemas ambientais graves. Embora a construção sus-
tentável seja tema amplamente discutido no meio acadêmico e entre lideranças
empresariais, seus princípios ainda não são colocados em prática, talvez pela
posição de retaguarda de órgãos governamentais líderes devido ao poder de
compra (AGOPYAN; JOHN, 2011).

De acordo com Garé (2011), as principais certificações internacionais são o sis-


tema de avaliação BREEAM (Building Research Establishment Environmental
Assessment Method), do Reino Unido, o HQE (Haute Qualité Environnemen-
tale), da França, o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), dos
Estados Unidos da América, o CASBEE (Comprehensive Assessment System
for Building Environmental Efficiency), do Japão, e o SBAT (Sustainable Building
Assessment Tool), da África do Sul.

Segundo CBCS (2014) e Herzer e Ferreira (2016), a importância das certifica-


ções no Brasil veio a partir do ano de 2007, através de projetos de empreendi-
mentos comercial de alto padrão. As principais certificações internacionais no
país são a LEED e a AQUA-HQE (Alta Qualidade Ambiental), adaptação brasi-
leira da certificação francesa HQE. Ainda, foram desenvolvidas certificações de
construção sustentável no Brasil, de abrangências distintas, como o Selo Quali-
verde, o Selo BH Sustentável, a PBE Edifica, o Selo Casa Azul e o Referencial
Casa.

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O papel das certificações ambientais de construção sustentável destaca-se pe-
rante a crescente preocupação com os significativos impactos ambientais gera-
dos pelas atividades da construção civil e perante a importância deste setor para
o desenvolvimento sustentável (HERZER; FERREIRA, 2016).

São diversos os benefícios econômicos, sociais e ambientais frente à adoção


destas certificações ambientais para edificações. A comprovação do compro-
misso ambiental das construções, a valorização do imóvel, o estímulo a políticas
públicas de fomento à construção sustentável, o uso racional e a redução da
extração dos recursos naturais, a redução do consumo de água e energia, o uso
de materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental, a melhora da gestão de
resíduos sólidos e melhora da qualidade de vida (GBC BRASIL, 2014; FUNDA-
ÇÃO VANZOLINI, 2015).

A através destas certificações as obras podem ficar livres de problemas coma


fiscalização ambiental.

2.3- Certificações de Construção Sustentável

Apesar da grande abrangência das certificações de construção sustentável in-


ternacionais no Brasil, o país vem gradativamente desenvolvendo certificações
próprias: PBE Edifica, Edifica e Inmetro; o Selo Casa Azul; o Selo Qual verde e
o Selo BH Sustentável. No entanto, estas certificações nacionais são setoriais,
envolvendo nichos menores que as certificações LEED e AQUA-HQE, as quais
possuem abrangência internacional e diversas dimensões a serem avaliadas em
diferentes tipos de construção (CBCS, 2014).

2.3.1- Leed

A certificação LEED reconhece estratégias e práticas sustentáveis em edifícios,


desde o projeto até a construção e manutenção destes. Atualmente, está certifi-
cação é utilizada em mais de 150 países, sendo o Brasil o quarto país no ran-
king mundial a possuir maior número de registros LEED além dos Estados Uni-
dos da América (USGBC, 2014).

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2.3.2- AQUA-HQE

Com início no Brasil em 2008, o processo AQUA-HQE é uma certificação inter-


nacional da construção sustentável desenvolvido a partir da certificação fran-
cesa HQE (Haute Qualité Environnementale) e aplicado no Brasil pela Fundação
Vanzolini. Esta certificação visa a sustentabilidade nas construções brasileiras e
foi adaptada para a realidade do país, considerando o clima, a cultura, as normas
técnicas e a legislação locais, buscando a melhoria continua de seus desempe-
nhos (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2015; HERZER; FERREIRA, 2016).

2.3.3- LEED E AQUA-HQE

As certificações LEED e AQUA vêm sendo valorizadas no Brasil ao longo dos


anos. Enquanto a certificação LEED sofre um aumento no número de emissões
de certificado por ano a cada ano, a certificação AQUA sofreu uma redução deste
quesito a partir de 2014 em relação aos anos anteriores. Estas reduções obser-
vadas podem ser reflexo do alto custo inicial das certificações ambientais. Ape-
sar desta redução da velocidade de crescimento das emissões de certificações
anuais por parte da AQUA e da redução do número de registros LEED, o cenário
de ambas as certificações é de valorização no mercado, visto que os empreen-
dedores têm utilizado a sustentabilidade ambiental como diferencial competitivo
(HERZER; FERREIRA, 2016).

2.4- Principais Materiais de Construção Ecológicos

Segundo Laruccia (2014) sempre após uma construção existem vários restos de
materiais que geram impactos negativos ao meio ambiente, e são descritos
como resíduos sólidos de construção civil.

Para que esse acúmulo de resíduos deve-se realizar um projeto sustentável


identificando quais os impactos que cada resíduo causará ao meio ambiente.

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Quadro 1. Materiais que podem ser substituídos visando à sustentabilidade do setor

Para minimizar os impactos ambientais acerca de resíduos sólidos da constru-


ção civil, a engenharia traz algumas das evoluções surpreendentes lançados que
bem aplicados podem tornar um ambiente mais ecologicamente correto. No qua-
dro 1 acima são citados alguns materiais que podem ser substituídos visando à
sustentabilidade do setor. São materiais que possuem características ecológicas
por diminuírem impactos do processo de produção quando comparados com os
tradicionais.

Cimento Ecológico

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Tijolo Ecológico

2.5- A Sustentabilidade Visando à Economia da Obra

Conforme Queiroz (2016) quando há a decisão da realização de alguma obra do


órgão público ou privado, devem ser levados em consideração os fatores econô-
micos durante a elaboração do projeto, visando a princípio a sustentabilidade da
construção. Pois a construção dita como sustentável tem como objetivo a criação
e manutenção responsável de um ambiente baseado na utilização eficiente de
recursos e em princípios ecológicos.

Com isso Silva e Mateus (2009) apontam que a economia e a sustentabilidade


devem caminhar lado a lado no processo de desenvolvimento. Os autores apon-
tam maneiras que venham contribuir tanto com a economia quanto com a sus-
tentabilidade que é a utilização de recursos renováveis, utilizar materiais reutili-
záveis ou descartáveis, visando sempre à economia e qualidade, na figura 1 se
pode observar as propriedades para um projeto de construção sustentável.

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Figura 1. Resumo das prioridades a se adotar no projeto de uma construção
sustentável

Na figura 1 acima pode-se observar que todas as características acerca do pro-


jeto de construção civil estão todas relacionadas economicamente, contribuindo
com a minimização dos resíduos sólidos assim confirmando dá à redução dos
custos da obra.

Queiroz ainda aponta que quando não há a possibilidade da recusa de alguns


dos produtos para a construção, deve haver a possibilidade de reduzir o con-
sumo do mesmo. Pois diminuindo a sua utilização o lixo gerado é gradativamente
reduzido seja pela embalagem ou o descarte do produto. Também se pode, por

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exemplo, reduzir a quebra de tijolos solicitando ao fornecedor de blocos cerâmi-
cos o envio de blocos previamente cortados.

Corrêa (2009) explicita que é interessante utilizar o clima de forma favorável à


construção. Como um mesmo município pode possuir zonas climáticas distintas,
estratégias diferenciadas devem ser utilizadas na implantação de edificações,
para permitir o aproveitamento das potencialidades microclimático e subse-
quente bom desempenho energético, reduzindo-se o uso de aparelhos como
ventiladores ou climatizadores de ar, gerando assim, maior economia.

Há quem diga que a sustentabilidade em obras saia muito mais cara que o nor-
mal, mas se for levado em conta a quantidade de material que é desperdiçado,
a técnica da sustentabilidade sai mais barata, pois agrega o reaproveitamento
de quase todos os resíduos sólidos desprezados nas obras.

2.6- Contribuições Para a Sustentabilidade na Construção Civil

Segundo Côrtes et al (2011) a sustentabilidade traz uma contribuição significa-


tiva para a construção civil como se pode observar a seguir:

 Criação de manual de licenciamento ambiental e identificação de riscos


de responsabilidades solidárias associadas a obras, acessível aos cola-
boradores e todas as partes envolvidas nos empreendimentos, como
forma de estimular a consciência e o cumprimento da legislação vigente;
 Formar grupos para estudos de formas de conciliação da expansão das
atividades da organização com a proteção dos ecossistemas, inclusive
viabilidade técnica e econômica para substituição de materiais renováveis
em lugar de não renováveis, privilegiando, nos projetos, sempre que pos-
sível, proposições de alternativas de energia não poluente, reuso da água,
etc.;
 Adaptar gradativamente as instalações da empresa, bem como canteiros
de obras e projetos, aos conceitos atuais de preservação dos recursos

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naturais, formas alternativas de energia, reuso da água, além de dissemi-
nar essas práticas entre colaboradores e as partes envolvidas nos empre-
endimentos;
 Desenvolver campanhas educativas periódicas sobre separação e reci-
clagem do lixo; uso racional da água e energia; saneamento, etc., tanto
internas como para as famílias dos colaboradores e suas comunidades;
 Na formação de parcerias, consórcios ou terceirização de serviços, os lí-
deres estabelecem pré-condições de compromisso quanto à qualidade,
saúde, meio-ambiente e segurança para as pessoas e os ambientes dos
empreendimentos;
 Promover a organização e higiene nos ambientes de trabalho, através de
programas como o 8-S – programa educativo e de mudança comporta-
mental baseado numa série de ações voltadas ao bem-estar nos ambien-
tes organizacionais, além de produzir, entre outros benefícios, a redução
de desperdícios, aumento da produtividade e do lucro (Côrtes et al.,
2011).

Através dessas contribuições poderá contribuir com a diminuição dos impactos


ambientais da construção no meio ambiente, e com isso conservando as futuras
gerações tanto humana quanto animais.

3- CIDADES NO BRASIL SE DESTACAM POR SUAS OBRAS PÚBLI-


CAS SUSTENTÁVEIS

O cenário da arquitetura sustentável vem ganhando rumos promissores, apesar


de ainda representar apenas 2% do mercado voltado à construção civil. Agora,
transfira essa realidade à gestão pública!

Talvez essa seja a hora de conhecermos as ações e investimentos efetivamente


concluídos até hoje pelos gestores de nossas cidades, o que resultará em co-
branças mais eficazes e levará as futuras administrações municipais a coloca-
rem em prática projetos de urbanismo concretos e sustentáveis.

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Nesse sentido, um fato que não se pode ignorar é o posicionamento das cidades
brasileiras frente ao cumprimento das metas propostas e convencionadas pela
ONU, em 2015. Elas incluem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) e o acordo global definido na 21ª Conferência das Partes (COP-21) para
a diminuição do aquecimento global e da emissão de gases de efeito estufa.
Segundo o Programa Cidades Sustentáveis, a expectativa do Brasil é de contri-
buir com uma redução de 37% até 2025 e de 43% até o ano 2030.

Diante do contexto de que nosso país ocupa o primeiro lugar entre os países
mais urbanizados da América Latina, o Programa criou o chamado Guia Gestão
Pública Sustentável (GPS).

O material inclui os ODS e aborda, em detalhes, 12 eixos de gestão urbana,


inclusive àqueles que abrangem obras de infraestrutura, bem como sua influên-
cia no desenvolvimento sustentável, ideais para contextualizar gestores munici-
pais e sociedade sobre como as cidades podem se tornar financeira, social e
ambientalmente mais saudáveis.

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3.1- Da teoria à realidade: cidades brasileiras e suas ações sustentá-
veis

Embora ainda haja muito o que fazer para nossas cidades e/ou capitais serem
consideradas, de fato, 100% sustentáveis, a gestão de alguns municípios já deu
passos importantes rumo à sustentabilidade, graças às suas obras públicas, pro-
gramas ou espaços urbanos inteligentes. Em parte dos projetos, tecnologias sus-
tentáveis, mobiliários e equipamentos adequados ou “soluções verdes” permiti-
ram uma melhor mobilidade, mais qualidade de vida e a diminuição de resíduos,
sendo os grandes responsáveis por levar um novo conceito às cidades.

São Paulo, Santos e seus espaços sustentáveis

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Não poderia ser diferente! Uma das maiores cidades do mundo, sendo a maior
do Brasil, a cidade de São Paulo conta com diversos projetos de caráter susten-
tável, seja pelos materiais de construção empregados, seja por seus sistemas
construtivos modernos e ambientalmente corretos. Um deles é o novo Hospital
Municipal da Vila Brasilândia, que tem sido edificado pela prefeitura com o má-
ximo aproveitamento de ventilação e luz naturais, sistema de reuso de água para
jardins e vasos sanitários e placas solares próprias para gerar água quente.

Já uma das obras públicas que, se replicada em outros projetos, poderá fazer
de Santos uma cidade sustentável, é a Unidade de Educação Mário de Almeida
Alcântara. Após reforma, a escola se tornou a primeira da rede municipal a con-
tar com captação e reutilização de água de chuva, além de aquecimento por
meio de energia solar para abastecimento dos chuveiros e torneiras da cozinha.
O projeto seguiu as diretrizes do novo Plano Diretor de Desenvolvimento e Ex-
pansão Urbana de Santos, que incentiva obras com o uso de recursos naturais.

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Obras públicas sustentáveis na cidade do Rio de Janeiro

Outra das cidades brasileiras que contam com projetos inteligentes, econômicos
e ecologicamente responsáveis, o Rio de Janeiro é detentor de programa habi-
tacional que entregou apartamentos sustentáveis a uma comunidade carente.
Cada residência é composta por janelas que oferecem luminosidade natural,
lâmpadas de LED, reuso de águas pluviais, áreas comuns com sensor de pre-
sença, vasos sanitários com duplo acionamento e sistema de aquecimento solar.
As ruas de acesso à comunidade ainda contam com asfalto de borracha.

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Mais uma ação do Rio no âmbito de construções sustentáveis é o Cenpes –
Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobrás. O objetivo maior do pro-
jeto do complexo foi a busca por total eficiência energética, o que também incluiu
a captação de água com o uso de seis cisternas e a iluminação e arejamento
naturais, além de telhado termoacústico formado por mantas de garrafas PET. A
obra pública foi projetada pelo renomado escritório de arquitetura Zanettini.

Capital federal também tem exemplo de construção responsável

Igualmente com projeto do Zanettini Arquitetura, o Fórum do Meio Ambiente e


da Fazenda Pública, localizado em Brasília, recebeu total aproveitamento da
chamada ventilação cruzada e luminosidade natural, além de fazer uso de águas
cinzas para fins não potáveis. Atendendo aos requisitos da certificação LEED®,
o empreendimento foi 100% construído em aço e seus terraços vazios e verdes
foram criados com a intenção de deixar os ambientes mais “humanizados”.

Outras características interessantes da obra do primeiro “fórum verde” do Distrito


Federal são suas lajes steel deck e divisórias em drywall, que permitiram uma
construção mais flexível com o objetivo de facilitar e tornar mais rápidas futuras
alterações. Tais sistemas também possibilitaram uma execução mais ágil e

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limpa; a proposta não só minimizou os impactos ao meio ambiente, como resul-
tou em conforto aos usuários e maior eficiência energética.

As Estações de Sustentabilidade de Curitiba

Conhecida antiga por suas práticas urbanas, obras públicas e planejamento ba-
seados em sustentabilidade, o destaque mais recente da capital paraense são
as suas Estações de Sustentabilidade.

O projeto das unidades chama a atenção não só pelo conceito, mas também
pela proposta construtiva: as estações foram instaladas em containers maríti-
mos e sua última unidade projetada de forma a recuperar uma área abandonada
da cidade. O calçamento com acessibilidade, os paraciclos e o paisagismo na-
tural são outros de seus pontos positivos.

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A ideia das Estações de Sustentabilidade de Curitiba ainda é nobre e sustentável
por ter como objetivo a centralização da coleta voluntária de resíduos recicláveis.
Dentre eles, estão vidro, papel, papelão, metal, plástico e, no caso das estações
do tipo 2, entulhos da construção civil e resíduos vegetais como gramas, poda
de árvores etc.

A vantagem da iniciativa curitibana não só permite uma coleta maior de lixo re-
ciclável, como possibilita a redução de custos com o descarte e o combate a
pragas, dentre elas os temidos mosquitos transmissores de doenças.

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A preocupação com a sustentabilidade tem levado a Indústria da Construção
Civil, a grandes transformações e à absorção de novos conceitos gerenciais. São
diferenciais cada vez mais importantes para as empresas que fabriquem produ-
tos ou prestem serviços que não degradem o meio ambiente. Estudos compro-
vam que as empresas que cultivam uma forte imagem de responsabilidade social
apresentam melhor desempenho financeiro, inclusive no mercado acionário.

A sustentabilidade se associa cada vez mais à capacidade de inovação. Muitas


das práticas sugeridas já são utilizadas por outros setores, assim, a inovação
reside em aplicá-las em empresas da Construção Civil. É importante se observar
que a maioria delas não está associada a investimentos vultosos, mas à busca
de soluções simples, eficazes e criativas, que promovam melhorias nos ambien-
tes de trabalho e no relacionamento entre a empresa e as partes interessadas.

Na busca pela literatura acerca da temática aqui apresentada, se pode observar


que as empresas já se preocupam com implantação de materiais sustentáveis

27
na construção civil, para a redução de resíduos sólidos e a diminuição do uso de
recursos naturais visando o cuidado com o meio ambiente.

4- NOVOS RUMOS PARA AS CONSTRUÇÕES VERDES E A LEGIS-


LAÇÃO APLICÁVEL

A Lei nº 10.257/2001 instituiu o Estatuto da Cidade, regulamentando os artigos


182 e 183 da Constituição Federal brasileira, foi o marco essencial norteador da
atual política urbana. Esta legislação estabelece normas que regulam o uso da
propriedade urbana, visando a uma melhor execução da política urbana, melho-
ria da segurança, do bem-estar das pessoas e do equilíbrio ambiental. Com ele,
os municípios dispõem de um marco regulatório para a política urbana. Sua fun-
ção é garantir o cumprimento da função social da cidade e da propriedade ur-
bana, o que significa o estabelecimento de normas de ordem pública e interesse
social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da
segurança e do bem-estar dos munícipes.

O inciso II do artigo 2º do referido Estatuto, institui a gestão democrática através


da participação da população e de associações representativas dos vários seg-
mentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos,
programas e projetos de desenvolvimento urbano.

A Constituição Federal cria alguns instrumentos para viabilizar a questão da pro-


priedade e sua função social destacando-se a obrigatoriedade do Plano Diretor
para cidades com população superior a 20 mil habitantes; exigência de ade-
quada utilização e aproveitamento do solo urbano bem como a concessão do
uso de terrenos e o usucapião urbano. Algumas dessas situações são reguladas
pelo Estatuto da Cidade e por legislações específicas. Nos últimos anos, os mo-
vimentos em torno da questão urbana têm se fortalecido, principalmente no to-
cante a sustentabilidade.

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Na Constituição Federal, são destacadas três referências diretas à propriedade:
a inviolabilidade da propriedade; garantia do direito de propriedade e a qualifica-
ção que toda a propriedade atenderá sua função social.

Da mesma forma, a propriedade está destacada no § 2º do art. 182 da referida


Constituição que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Esse dispositivo encontra-se no capítulo II da ordem econômica, onde a propri-
edade urbana também é informada pelos princípios gerais da atividade econô-
mica. Nos incisos do art. 170, encontram-se disposições sobre a propriedade
privada, a função social da propriedade e a defesa do meio ambiente.

Nesse sentido, a Constituição prescreve em seu art. 174 que o planejamento é


obrigatório para o Estado e indicativo para o setor privado, tendo o art. 182 defi-
nido que o instrumento de planejamento das cidades é o plano diretor que passa
a ser o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana,
sendo que a cooperação das associações representativas no planejamento mu-
nicipal segundo art. 29, XII, é obrigatória.

O Estatuto da Cidade regulamenta dispositivos que procuram combater a espe-


culação imobiliária nas cidades. A partir da vigência do plano diretor do municí-
pio, áreas consideradas não utilizadas ou subutilizadas, situadas em regiões do-
tadas de infraestrutura estão sujeitas à edificação e parcelamento compulsórios
(artigos 5º e 6º).

É através do Plano Diretor que os municípios desenvolverão suas competências


de promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e con-
trole do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. O planejamento
urbano não é realizado exclusivamente pelos municípios, devendo atender tam-
bém às diretrizes gerais traçadas pela União e pelos Estados.

O Estatuto da Cidade dispõe de elementos que aperfeiçoam a compreensão dos


planos diretores, embasados em princípios de justiça orçamentária, participação

29
popular e regulador de institutos jurídicos como o solo criado, o direito de pre-
empção, as operações urbanas, a transferência do direito de construir etc.

A finalidade do planejamento local é o adequado ordenamento do território mu-


nicipal, com o objetivo de disciplinar o uso, o parcelamento e a ocupação do solo
urbano (art. 30, VIII). O solo qualifica-se como urbano quando ordenado para
cumprir destino urbanístico, especialmente, a edificação e o assentamento viá-
rio. Esse ordenamento é função do plano diretor, que deverá ser aprovado pela
Câmara Municipal, a que a Constituição Federal elevou à condição de instru-
mento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana (art. 182, §
1º).

Dessa forma, o plano diretor constitui o instrumento pelo qual se efetiva o pro-
cesso de planejamento urbanístico local. Demonstra ser um instrumento em po-
tencial da demanda por proteção ambiental, uma vez que normatiza a atuação
estatal junto com a comunidade na ordenação de um meio ambiente urbano
equilibrado e saudável promovendo a qualidade de vida no meio ambiente ur-
bano. O direito de propriedade que era absoluto, exclusivo e perpétuo, sofreu
uma relativização em virtude da função social da propriedade inserida na Cons-
tituição Federal de 1988.

Salienta o professor José Afonso da Silva que o direito da propriedade e sua


função social devem ser estudados a partir dos princípios da ordem econô-
mica.11 Como determina o § 2° do art. 182 da Constituição Federal de 1988, a
propriedade urbana cumprirá sua função social quando atender às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. Caso a polí-
tica de desenvolvimento urbano municipal, estabelecida no plano diretor não te-
nha como prioridade atender as necessidades essenciais da população margi-
nalizada e excluída das cidades, estará em pleno conflito com as normas cons-
titucionais norteadoras da política urbana, com o sistema internacional de prote-
ção dos direitos humanos, em especial com o princípio internacional do desen-
volvimento sustentável.

30
Hugo de Brito Machado do discorrer sobre a progressividade do IPTU, ressalta
que do ponto de vista da política urbana, pode-se entender que a propriedade
cumpre sua função social quando atender às exigências fundamentais da urba-
nização que estejam expressas no Plano Diretor. Isto, no entanto, segundo o
tributarista, não significa que não existam outras formas pelas quais a proprie-
dade também tenha que cumprir sua função social, até porque a propriedade há
que ser encarada como riqueza que é, e não apenas como elemento a ser tra-
tado pelas normas de política urbana.

Nessa mesma trilha José Souto Maior Borges, destaca que a função social não
é a de um atributo ou apêndice, que possa vir ou não a se agregar ao domínio.
A Constituição Federal não prevê alternativas para o exercício do direito de pro-
priedade: com ou sem função social. Propriedade só com função social. A pro-
priedade deverá, portanto, exercer sempre a função social.

O Imposto sobre Transmissão causa mortis e Doação de Quaisquer Bens ou


Direitos pode ter interesse ambiental, tanto quanto a preservação do patrimônio
histórico com tributação diferenciada dependendo da legislação específica. De
igual modo, o IPTU — Imposto Predial Territorial Urbano, com tributação no que
se refere a sua progressividade no tempo e seu uso de acordo com a função
social da propriedade, poderá ser instrumento de política urbana conforme de-
termina o Estatuto da Cidade, em seu artigo 7º. O Imposto Sobre Serviços, por
sua vez, dispõe de diversas possibilidades para adequação da legislação para
fins de redução de sua incidência para atender finalidades ambientais, inclusive
com vistas à construção civil, por meio da concessão de incentivos.

Os incentivos fiscais com vistas à preservação ambiental, para fins deste estudo,
devem ser analisados considerando as questões do meio ambiente urbano. Im-
portante destacar, então, que a gestão do meio ambiente urbano representa um
desafio complexo para as sociedades contemporâneas. Não se trata apenas de
considerar a preservação dos recursos ambientais, mas também de assegurar
condições de vida digna à população, propiciando que parcelas da sociedade
não sejam excluídas do processo de desenvolvimento das cidades. Assim, o
meio ambiente, qualificado de urbano, engloba tanto o meio ambiente natural

31
quanto o meio ambiente transformado, resultado da ação do homem e da socie-
dade, ou seja, o meio ambiente na e da cidade.

A Constituição Federal de 1988 consagra, no caput do seu art. 225, o direito de


todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, inclusive o meio ambiente
urbano, bem de uso comum do povo, cabendo ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras. As-
sim, pode-se afirmar que a adoção de políticas públicas buscando a sustentabi-
lidade urbana implica, portanto, repensar o modelo de desenvolvimento, gerando
o direito à cidade sustentável, reafirmando com isso de gestão sustentável dessa
cidade.

A função social da propriedade, como afirma José Afonso da Silva, não se con-
funde com os sistemas de limitação da propriedade, pois estes se relacionam
com o respeito ao direito do proprietário, enquanto a função social da proprie-
dade integra a própria estrutura do direito de propriedade.

Ressalte-se, ainda, que a Constituição Federal determinou quais instrumentos


poderiam ser utilizados pelo Poder Público Municipal para exigir do proprietário
urbano o adequado aproveitamento de sua propriedade em razão de solo urbano
não edificado, subutilizado ou não utilizado (art. 182, § 4°, I, II e III, da CF/88). O
Estatuto da Cidade, ao fixar as diretrizes gerais da política urbana, estabeleceu
os contornos dos instrumentos para garantir o cumprimento da função social da
propriedade urbana: o parcelamento e edificação compulsórios, o Imposto sobre
Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) progressivo no tempo e desa-
propriação para fins de reforma urbana.

Em março de 2009 o Governo Federal, instituiu o Programa de Aceleração do


Crescimento (PAC). No tocante à habitação, referida Proposta prevê, por meio
do Programa Minha Casa, Minha Vida, que sejam construídas, nos dois anos
seguintes no Brasil, cerca de um milhão de casas, para pessoas com renda de
até três salários mínimos para atendimento junto às Prefeituras e de três a dez
salários mínimos podem aderir ao financiamento Caixa Econômica Federal.

32
Com esses programas habitacionais e intervenções nos impostos, ajudou a
construção civil a um representativo crescimento nos últimos anos. Neste con-
texto pode ser considerada a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializa-
dos (IPI) para os materiais necessários ao setor. De igual modo o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) e o programa do governo Minha Casa, Minha
Vida, que possibilita a aquisição de moradias com preços reduzidos, além do
crescimento da construção civil, visam propiciar melhores condições de vida.

A Constituição Federal atribuiu novas responsabilidades aos municípios referen-


tes à promoção de programas e políticas públicas, visando à melhoria da quali-
dade de vida nas cidades. O inciso VI do artigo 23 estabelece a competência
legislativa comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
que passaram a empreender ações visando proteger o meio ambiente e comba-
ter a poluição em qualquer de suas formas. Tal dispositivo vem reforçado pelo
inciso V do artigo 225, ressaltando que para assegurar a efetividade do direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impõe que o Poder Público deve
controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio am-
biente.

O direcionamento constitucional, consagrando a autonomia e competências aos


municípios, estimulou a formulação de diversas políticas públicas em âmbito lo-
cal. A possibilidade dos municípios elaborarem suas próprias leis orgânicas fa-
cilitou a inserção do planejamento em sua realidade política e socioambiental.
Com isso, vem ocorrendo, cada vez mais, um convencimento dos governantes
de que a esfera local é o lugar mais apropriado para a prática de uma gestão
ambiental mais efetiva e participativa, capaz de reverter o atual quadro caótico
presente na maioria das grandes cidades brasileiras, mediante um novo modelo
de desenvolvimento urbano política, econômica, social e ambientalmente sus-
tentável.

33
No município, uma gestão ambiental integrada deve levar em consideração di-
versas dimensões (econômica, social, cultural e ambiental), incluindo o fortaleci-
mento de cooperações intermunicipais e a participação da população na defini-
ção de prioridades associadas às práticas de gestão ambiental que devem en-
volver planejamento, controle, acompanhamento e comunicação permanentes.
Assim, pode-se afirmar que a gestão do meio ambiente urbano representa, um
desafio complexo que, além de levar em consideração a preservação dos recur-
sos naturais, deve também assegurar condições de vida digna à população, pro-
piciando que parcelas da sociedade não sejam excluídas do processo de desen-
volvimento das cidades.

O planejamento para o desenvolvimento das cidades deve ser adequado para


cada cidade, considerando suas peculiaridades e o crescimento urbano e os
efeitos sobre o meio ambiente. Cabe ao Governo Municipal traçar as metas para
um ordenamento do espaço físico da cidade, de forma a que a mesma possa
cumprir a sua função social, com vistas ao desenvolvimento econômico. De igual
modo, outros entes da Federação deverão estabelecer políticas públicas que
envolvam também a preservação ambiental com estímulos ou desestímulos ao
desenvolvimento de atividades específicas, podendo com isso utilizar a extrafis-
cal idade. Desta forma, os recursos devem ser aplicados na implementação de
políticas públicas em todos os níveis de governo, para oferecer melhores condi-
ções para compatibilizar o direito ao desenvolvimento com o direito à proteção
do meio ambiente garantido constitucionalmente. Uma das prerrogativas muni-
cipais é a concessão de incentivos fiscais com a diminuição parcial ou total dos
tributos da competência dos municípios, destacando-se no presente estudo, in-
centivos voltados às construções verdes. No entanto, a concessão de incentivo
fiscal injustificado pode comprometer o orçamento da administração pública tri-
butante. Cabe então à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
no âmbito de suas respectivas competências, estabelecer a adequação de suas
políticas públicas, principalmente para a construção civil sustentável, conforme
as necessidades cidade, em sintonia com a Lei de Responsabilidade Fiscal.

ATENÇÃO À LEI Nº 10.257/01 (ESTATUTO DA CIDADE).

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4- REFERÊNCIAS

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