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Pregação Expositiva TEOLOGIA BÍBLICA
II. Teologia Bíblica Uma Introdução à Pregação e à
III. Evangelho
IV. Conversão
Teologia Bíblica
a
V. Evangelismo
Diagnóstico – O Problema com Grande Parte da Pregação de Hoje
VI. Membresia Article
Na associação de igrejas à qual eu pertenço – a Southern Baptist Convention
10.06.2014
VII. Disciplina [Convenção Batista do Sul] , a batalha pela inerrância da Escritura pode ter
VIII. Discipulado sido ganha. Entretanto, nem nós nem outras denominações ou igrejas evangélicas que
ganharam batalhas semelhantes deveríamos nos congratular tão rapidamente. Isso porque
IX. Liderança muitas igrejas conservadoras podem abraçar a inerrância da Escritura, mas, ainda assim,
negar na prática a suficiência da Palavra de Deus. Nós podemos dizer que a Escritura é a
palavra inerrante de Deus, mas, ainda assim, falhar em proclamála seriamente de nossos
púlpitos.
Existe, na verdade, uma fome pela palavra de Deus em muitas igrejas evangélicas hoje.
Algumas séries de sermões fazem, em seus títulos, referências a programas de TV tais como
Gilligan’s Island, Bonanza e Mary Tyler Moore. A pregação, com frequência, foca em passos
para um casamento bemsucedido ou em como criar filhos em nossa cultura. Sermões sobre
questões familiares, obviamente, são adequados e necessários, mas dois problemas
By Thomas R. frequentemente aparecem. Primeiro, o que as Escrituras de fato ensinam acerca desses
Schreiner assuntos é frequentemente negligenciado. Quantos sermões sobre casamento apresentam
com fidelidade e urgência o que Paulo de fato ensina sobre os papeis do homem e da mulher
(Ef 5.2223)? Ou acaso nós estamos constrangidos pelo que as Escrituras ensinam?
Segundo, e talvez mais sério, tais sermões são quase sempre pregados no nível horizontal.
Eles se tornam o centro da vida semanal da congregação, e a cosmovisão teológica que
permeia a Palavra de Deus e provê o fundamento para toda a vida é simplesmente ignorada.
Nossos pastores se tornam moralistas como Dear Abby, dando conselhos sobre como viver
CATEGORY + uma vida feliz semana após semana.
AUTHOR + Muitas congregações não percebem o que está acontecendo porque a vida moral que tal
pregação promove está de acordo, ao menos em parte, com a Escritura. Ela vai ao encontro
DATE +
das necessidades sentidas tanto por crentes como por incrédulos.
Pastores também creem que devem preencher seus sermões com histórias e ilustrações, de
modo que as anedotas enfatizem o ensino moral apresentado. Todo bom pregador usará
ilustrações. Todavia, sermões podem se tornar tão repletos de histórias que acabam
Popular this Month desprovidos de qualquer teologia.
Uma Introdução à Eu tenho ouvido evangélicos afirmarem com certa frequência que as igrejas evangélicas estão
Pregação e à Teologia indo bem em teologia porque as congregações não estão reclamando daquilo que lhes é
Bíblica ensinado. Tal comentário é completamente assustador. Nós, como pastores, temos a
By Thomas R. Schreiner
responsabilidade de proclamar “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Nós não podemos pôr a
nossa confiança em pesquisas de opinião congregacionais para determinar se nós estamos
Pregue ao Descrente,
cumprindo o nosso chamado. Nós devemos pôr a nossa confiança naquilo que as Escrituras
ao Crente e ao Membro
de Igreja exigem. Pode ser que uma congregação jamais tenha sido seriamente ensinada na Palavra
By Aaron Menikoff de Deus, de modo que os crentes não percebem onde nós estamos falhando como pastores.
O que é “Membresia Paulo nos alerta que “entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho” (At
Significativa”? 20.29). E, em outro lugar, ele afirma que “haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina;
pelo contrário, cercarseão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo
coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregandose às fábulas” (2Tm
4.34). Se nós avaliamos nossa pregação pelo que as congregações desejam, nós podemos
estar dando espaço para as heresias. Eu não estou dizendo que nossas congregações são
heréticas, mas apenas que o teste para a fidelidade é a Palavra de Deus, e não a opinião
popular. O chamado dos pastores é para alimentar o rebanho com a Palavra de Deus, não
para agradar as pessoas com o que elas desejam ouvir.
para agradar as pessoas com o que elas desejam ouvir.
Muito frequentemente, nossas congregações são treinadas de modo pobre por aqueles de
nós que pregam. Considere o que acontece quando alimentamos uma congregação com uma
dieta constante de pregação moralista. Eles podem aprender a ser gentis, perdoadores,
amorosos, bons maridos ou esposas (tudo isso é bom, obviamente!). Os seus corações
podem ser aquecidos e até edificados. Mas, à medida que o fundamento teológico é
negligenciado, o lobo da heresia passa a espreitar cada vez mais de perto. Como? Não que o
próprio pastor seja um herege. Ele pode ser completamente ortodoxo e fiel em sua própria
teologia. No entanto, ele presume a teologia em toda a sua pregação e, assim, tornase
negligente em pregar ao seu povo o enredo e a teologia da Bíblia. Em uma ou duas gerações,
portanto, a congregação pode, desavisadamente e por ignorância, chamar um pastor mais
liberal. Esse novo pastor também pregará que as pessoas devem ser boas, gentis e
amorosas. Ele também enfatizará a importância de bons casamentos e relacionamentos
dinâmicos. As pessoas nos bancos podem nem sequer discernir a diferença, uma vez que a
teologia parece exatamente igual à do pastor conservador que o precedeu. E, em um sentido,
ela o é, pois o pastor conservador nunca proclamou ou pregou a sua teologia. O pastor
conservador cria na inerrância da Escritura, mas não em sua suficiência, pois ele deixou de
proclamar tudo o que as Escrituras ensinam à sua congregação.
Nossa ignorância acerca da teologia constantemente se evidencia. Não saem da minha mente
duas ocasiões nos últimos dez anos (uma em um grande estádio, por um pregador cujo nome
não lembro) em que um pregador convidava as pessoas para virem à frente. O sermão no
estádio pretendia ser um sermão evangelístico, mas eu posso honestamente dizer que o
evangelho não foi pregado de modo algum. Nada foi dito acerca de Cristo crucificado e
ressurreto, ou por que ele foi crucificado e ressurreto. Nada foi dito sobre por que a fé salva, e
não as obras. Milhares vieram à frente e foram, sem dúvida, contados como salvos. Mas eu
coçava minha cabeça e indagava o que de fato estava acontecendo. Eu orei para que ao
menos alguns fossem verdadeiramente convertidos, talvez porque eles já conhecessem o
conteúdo do evangelho de ouvilo em outras ocasiões. O mesmo aconteceu no culto de uma
igreja que eu visitava. O pregador prolongouse em um inspirado convite para que os ouvintes
“viessem à frente” e “fossem salvos”, mas ele não deu qualquer explicação acerca do
evangelho!
Tal pregação pode encher nossas igrejas de pessoas não convertidas, as quais são
duplamente perigosas: elas foram asseguradas por seus pastores de que são convertidas e
de que nunca podem perder a sua salvação, mas ainda estão perdidas. Então, daquele dia
em diante, essas mesmas pessoas são exortadas, semana após semana, com o nosso novo
evangelho para esses tempos pósmodernos: sejam legais.
Descoberta – O que é Teologia Bíblica
A solução para os problemas com a pregação rasa descritos na Parte 1 é, na verdade,
bastante simples: os pastores precisam a prender a usar a teologia bíblica em suas
pregações. Contudo, tal aprendizado exige que comecemos com a pergunta: o que é teologia
bíblica?
Teologia Bíblica versus Teologia Sistemática
A teologia bíblica, em contraste com a teologia sistemática, foca no enredo bíblico. A teologia
sistemática, embora seja informada pela teologia bíblica, é atemporal. Don Carson argumenta
que a teologia bíblica
se coloca mais próxima ao texto do que a teologia sistemática, almeja ser genuinamente
sensível no tocante às distinções entre cada corpus e busca conectar os diversos corpora
usando as suas próprias categorias. Idealmente, portanto, a teologia bíblica permanece
como uma espécie de ponte entre a exegese responsável e a teologia sistemática
responsável (ainda que cada uma dessas inevitavelmente influencia as outras duas). [1]
Em outras palavras, a teologia bíblica se limita mais intencionalmente à mensagem do texto
ou corpus em consideração. Ela questiona quais temas são mais centrais para os escritores
bíblicos em seu contexto histórico e procura discernir a coerência entre esses temas. A
teologia bíblica foca no enredo da Escritura – o desdobramento do plano de Deus na história
redentiva. Como nós consideraremos mais cuidadosamente na Parte 3, isso significa que nós
deveríamos interpretar e então pregar cada texto no contexto de sua relação com todo o
enredo da Bíblia.
A teologia sistemática, por outro lado, formula questões ao texto que refletem as questões ou
preocupações filosóficas do momento. Os sistemáticos também podem – com um bom
propósito – explorar temas que estão implícitos nos escritos bíblicos, mas que não recebem
atenção primária no texto bíblico. Além disso, deveria ser evidente que qualquer teologia
sistemática digna desse nome é edificada sobre a teologia bíblica.
A ênfase distinta da teologia bíblica, tal como Brian Rosner observa, é que ela “permite que o
texto bíblico dite a pauta”. [2] Kevin Vanhoozer articula o papel específico da teologia bíblica
ao dizer: “‘teologia bíblica’ é o nome dado a uma abordagem interpretativa da Bíblia a qual
assume que a Palavra de Deus é textualmente mediada pelas diversas palavras, literária e
historicamente condicionadas, dos seres humanos”. [3] Ou, “para exprimir a asserção de
modo mais positivo, a teologia bíblica está em harmonia com os interesses dos próprios
textos”. [4]
Carson expressa bem a contribuição da teologia bíblica:
Mas, idealmente, a teologia bíblica, como seu nome implica, mesmo ao trabalhar
indutivamente a partir dos diversos textos da Bíblia, busca desvendar e articular a unidade de
todos os textos bíblicos tomados juntos, recorrendo primariamente às categorias daqueles
próprios textos. Nesse sentido, ela é teologia bíblica canônica, teologia bíblica “detodaa
Bíblia”. [5]
A teologia bíblica pode limitarse à teologia de Gênesis, do Pentateuco, de Mateus, de
Romanos ou até mesmo à teologia paulina. Contudo, a teologia bíblica pode também
compreender todo o cânon da Escritura, no qual o enredo das Escrituras como um todo é
integrado. Com muita frequência, pregadores expositivos limitamse aos livros de Levítico,
Mateus ou Apocalipse, sem considerar o lugar que eles ocupam no enredo da história
redentiva. Eles isolam uma parte da Escritura da outra, e assim pregam de um modo
truncado, ao invés de anunciarem todo o conselho de Deus. Gerhard Hasel corretamente
destaca que nós precisamos fazer teologia bíblica de um modo “que busca fazer justiça a
todas as dimensões da realidade de que os textos bíblicos testificam”. [6] Fazer tal teologia
não é meramente uma tarefa para professores de seminário; é a responsabilidade de cada
pregador da Palavra!
Pensemos novamente sobre as diferenças entre teologia bíblica e sistemática, para o que
Carson traça o caminho. [7] A teologia sistemática considera a contribuição da teologia
histórica e, assim, se utiliza da obra de Agostinho, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino, Edwards
e tantos outros ao formular o ensino da Escritura. A teologia sistemática procura anunciar a
Palavra de Deus diretamente para o nosso tempo e nosso ambiente cultural. Obviamente,
então, qualquer bom pregador deve ser versado na sistemática para anunciar uma palavra
profunda e poderosa aos seus contemporâneos.
A teologia bíblica é mais indutiva e fundacional. Carson corretamente afirma que a teologia
bíblica é uma “disciplina mediadora”, ao passo que a teologia sistemática é uma “disciplina
culminante”. Nós podemos afirmar, então, que a teologia bíblica é intermediária, funcionando
como uma ponte entre o estudo histórico e literário da Escritura e a teologia dogmática.
A teologia bíblica, então, trabalha a partir do texto em seu contexto histórico. Isso não significa
afirmar que a teologia bíblica é um empreendimento puramente neutro ou objetivo. A noção
de que nós podemos separar nitidamente o que o texto significou do que ele significa [what it
meant from what it means], como pretendia Krister Stendahl, é uma quimera. Scobie diz o
seguinte acerca da teologia bíblica:
As suas pressuposições, baseadas em um compromisso com a fé cristã, incluem a
crença de que a Bíblia transmite uma revelação divina, que a Palavra de Deus na
Escritura constitui a norma da fé cristã e da vida cristã, e que todo o variado material
tanto do Antigo como do Novo Testamentos pode de algum modo ser relacionado ao
plano e propósito do único Deus de toda a Bíblia. Tal teologia bíblica situase em algum
lugar entre o que a Bíblia “significou” e o que ela “significa”. [8]
Seguese, então, que a teologia bíblica não está confinada apenas ao Novo Testamento ou ao
Antigo Testamento, mas que ela considera ambos os Testamentos juntos como a Palavra de
Deus. De fato, a teologia bíblica trabalha a partir da noção de que o cânon da Escritura
funciona como a sua norma e, assim, ambos os Testamentos são necessários para
desvendar a teologia da Escritura.
Equilibrando o Antigo e o Novo Testamento
Há uma maravilhosa dialética entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento no trabalho da
teologia bíblica. O Novo Testamento representa a culminação da história da redenção iniciada
no Antigo Testamento e, assim, a teologia bíblica é por definição uma teologia narrativa. Ela
captura a história da obra salvadora de Deus ao longo da história. O desenrolar histórico do
que Deus tem feito pode ser descrito como a “história da salvação” ou a “história redentiva”.
Também é proveitoso considerar as Escrituras a partir da perspectiva de promessa e
cumprimento: o que é prometido no Antigo Testamento é cumprido no Novo Testamento. Nós
precisamos tomar cuidado para não apagarmos a particularidade histórica da revelação do
Antigo Testamento, de modo a expungir o contexto histórico do qual ele nasceu. Por outro
lado, nós devemos reconhecer o progresso da revelação do Antigo Testamento para o Novo
Testamento. Tal progresso da revelação reconhece a natureza preliminar do Antigo
Testamento e a palavra definitiva que vem no Novo Testamento. Dizer que o Antigo
Testamento é preliminar não elimina o seu papel crucial, pois nós só podemos entender o
Novo Testamento quando também compreendemos o significado do Antigo Testamento, e
viceversa.
Alguns são hesitantes em abraçar a tipologia, mas tal abordagem é fundamental para a
teologia bíblica, uma vez que é uma categoria empregada pelos próprios escritores bíblicos. O
que é tipologia? Tipologias são as correspondências divinamente pretendidas entre eventos,
pessoas e instituições do Antigo Testamento e o seu cumprimento em Cristo, no Novo, [9]
como quando Mateus se refere em seu Evangelho ao retorno de Maria, José e Jesus do
Egito usando a linguagem da saída de Israel do Egito (Mt 2.15; Êx 4.22; Os 11.1).
Obviamente, não apenas os autores do Novo Testamento observam essas “correspondências
divinamente pretendidas”. Os autores do Antigo Testamento também o fazem. Por exemplo,
tanto Isaías como Oséias predizem um novo êxodo que será moldado de acordo com o
primeiro êxodo. Do mesmo modo, o Antigo Testamento fala da expectativa de um novo Davi
que será ainda maior do que o primeiro Davi. Nós vemos no próprio Antigo Testamento,
portanto, uma gradação na tipologia, de modo que o cumprimento do tipo é sempre maior do
que o próprio tipo. Jesus não é apenas um novo Davi, mas o maior Davi.
A tipologia reconhece um padrão e um propósito divinos na história. Deus é o autor final da
Escritura – a história é um drama divino. E Deus conhece o fim desde o começo, de modo que
nós, como leitores, podemos ver prenúncios do cumprimento final no Antigo Testamento.
Direção – Como Fazer Teologia Bíblica ao Pregar
Ao pregar as Escrituras, é vital compreender onde o livro que estamos estudando se situa na
linha do tempo da história redentiva. Correndo o risco de simplificar demais, fazer boa teologia
bíblica ao pregar consiste em dois passos básicos: olhar para trás e, então, olhar para o todo.
Olhar para Trás – Teologia Antecedente
Walter Kaiser nos lembra de que nós deveríamos considerar a teologia que antecede cada
livro à medida que pregamos as Escrituras.
Por exemplo, ao pregarmos o livro de Êxodo, nós dificilmente interpretaremos a mensagem
de Êxodo com exatidão se o lermos à parte de seu contexto precedente. E o contexto
precedente de Êxodo é a mensagem transmitida em Gênesis. Nós aprendemos em Gênesis
que Deus é o criador de todas as coisas, e que ele fez os seres humanos à sua imagem, de
modo que os seres humanos estenderiam o governo do Senhor por todo o mundo. Adão e
Eva, contudo, falharam em confiar em Deus e em obedecer o mandato divino. A Criação foi
seguida pela Queda, a qual introduziu morte e miséria no mundo. Não obstante, o Senhor
prometeu que a vitória final viria através da semente da mulher (Gn 3.15). Intenso conflito
haveria entre a semente da mulher e a semente da serpente, mas a primeira iria prevalecer.
Nós vemos no restante de Gênesis a batalha entre a semente da mulher e a semente da
serpente, e nós aprendemos que a semente da serpente é muito poderosa: Caim mata Abel;
os ímpios subjugam os justos até que restam apenas Noé e sua família; seres humanos
conspiram para fazer um nome para si mesmos ao construírem a torre de Babel. Ainda assim,
o Senhor permanece soberano. Ele julga Caim. Ele destrói todos no dilúvio, exceto Noé e sua
família. E ele frustra os desígnios dos homens em Babel.
O Senhor faz uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó, assegurando que a vitória prometida
em Gênesis 3.15 viria por meio da semente deles. O Senhor lhes concederá uma semente,
uma terra e uma bênção universal. Gênesis focaliza especialmente na promessa acerca da
semente. Em outras palavras, Abraão, Isaque e Jacó não possuem a terra da promessa,
tampouco eles abençoam o mundo inteiro durante a sua geração. Mas Gênesis conclui com o
relato dos doze filhos que o Senhor concedeu a Jacó.
relato dos doze filhos que o Senhor concedeu a Jacó.
Então, como essa “teologia antecedente” de Gênesis é crucial para a leitura do livro de
Êxodo? Ela é fundamental, pois, quando Êxodo começa com a imensa multiplicação de Israel,
nós imediatamente reconhecemos que a promessa abraâmica de muitos descendentes, dada
em Gênesis, está se cumprindo. Não apenas isso, olhando para Gênesis 3, nós percebemos
que Faraó é um descendente da serpente, enquanto Israel representa a semente da mulher.
O esforço de Faraó para matar todas as crianças do sexo masculino representa os desígnios
da semente da serpente, à medida que a batalha entre as sementes, preanunciada em
Gênesis, continua.
Enquanto continuamos a nos mover pelo livro e Êxodo e o resto do Pentateuco, nós podemos
ver que a libertação de Israel do Egito e a promessa de que eles conquistarão Canaã também
represente um cumprimento da aliança do Senhor com Abraão. A promessa da terra está
agora começando a se cumprir. Além disso, Israel agora atua, em certo sentido, como um
novo Adão em uma nova terra. Como Adão, eles devem viver em fé e obediência no espaço
que o Senhor lhes concedeu.
Se nós tivéssemos que ler Êxodo sem ser informados pela mensagem antecedente de
Gênesis, nós não perceberíamos a significância da história. Nós leríamos o texto à parte do
seu contexto, e seríamos vítimas de uma leitura arbitrária.
A importância da teologia antecedente é evidente ao longo do cânon, então nos
contentaremos aqui com outros poucos exemplos. Vejamos:
A conquista sob Josué deve ser interpretada à luz da aliança com Abraão, de modo que
a posse de Canaã é entendida como o cumprimento da promessa feita a Abraão de
que ele desfrutaria da terra de Canaã.
Por outro lado, o exílio dos reinos do norte (722 a.C.) e do sul (586 a.C.) ameaçado
pelos profetas e registrado em diversos livros representa o cumprimento das maldições
da aliança de Levítico 26 e Deuteronômio 2728. Se os pregadores e as congregações
não conhecem a teologia antecedente da aliança mosaica e as maldições ameaçadas
naquela aliança, eles dificilmente poderão discernir o significado de Israel e Judá sendo
enviados para o exílio.
A promessa do novo Davi reflete a aliança previamente feita com Davi de que a sua
dinastia permaneceria para sempre.
O Dia do Senhor, que é tão proeminente nos profetas, deve ser interpretado à luz da
promessa feita a Abraão.
Obviamente, o mesmo é verdade acerca do NT.
Nós dificilmente poderemos entender a importância do reino de Deus nos sinóticos se
não conhecermos o enredo do Antigo Testamento e formos ignorantes acerca das
alianças e promessas feitas a Israel.
A significância de Jesus ser o Messias, o Filho do Homem e o Filho de Deus está
completamente arraigada na revelação prévia.
O livro de Atos, como Lucas aponta em sua introdução, é uma continuação do que
Jesus começou a fazer e ensinar, e, portanto, é informada tanto pelo Antigo Testamento
como pelo ministério, morte e ressurreição de Jesus.
As epístolas também se alicerçam na grande obra salvadora realizada por Jesus Cristo,
e explicam e aplicam às igrejas estabelecidas a mensagem salvadora e o cumprimento
das promessas de Deus.
Finalmente, Apocalipse faz sentido como o ápice da história. Não é apenas um anexo
aposto ao final para promover alguma excitação sobre o tempo do fim. As muitas
alusões ao Antigo Testamento demonstram que a revelação do Apocalipse é traçada
sobre o pano de fundo da revelação do Antigo Testamento. Semelhantemente, o livro
não faz qualquer sentido a menos que vejamos que ele se coloca como a conclusão de
tudo o que Jesus fez e ensinou.
Isso não significa que o enredo da redenção tem a mesma centralidade em todos os livros do
cânon. Nós poderíamos pensar acerca dos livros de sabedoria como Cantares de Salomão,
Jó, Eclesiastes, Provérbios e Salmos. Contudo, mesmo nesses exemplos, os autores bíblicos
pressupõem as verdades fundamentais da criação e queda de Gênesis, assim como o papel
especial de Israel como o povo da aliança de Deus. Algumas vezes, eles até mesmo articulam
esse papel, como quando os Salmos narram a história de Israel. Ainda assim, nós somos
lembrados da diversidade do cânon e reconhecemos que nem toda porção de literatura
possui a mesma função.
A principal verdade para os pregadores aqui é que eles devem pregar de tal maneira a
A principal verdade para os pregadores aqui é que eles devem pregar de tal maneira a
integrar os seus sermões no escopo mais amplo da narrativa bíblica da história da redenção.
Aqueles nos bancos precisam ver a imagem mais abrangente do que Deus tem feito e como
cada parte da Escritura contribui para aquela imagem. O que nos leva ao segundo passo para
fazer boa teologia bíblica na pregação…
Direção – Como Fazer Teologia Bíblica ao Pregar (cont.)
Olhe para o Todo – Pregação Canônica
Como pregadores, nós não devemos nos limitar apenas à teologia antecedente. Nós também
devemos considerar o todo da Escritura, o testemunho canônico que agora possuímos no
ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Se nós pregarmos apenas a teologia
antecedente, não estaremos dividindo acuradamente a palavra de Deus; tampouco estaremos
levando a mensagem do Senhor ao povo de nossos dias.
Quando pregamos nos primeiros capítulos de Gênesis, portanto, nós também devemos
proclamar que a semente da mulher é Jesus Cristo, e que a queda da criação na futilidade
será revertida por meio da obra de Jesus Cristo (Rm 8.1825). Nossos ouvintes devem ver
que a velha criação não é a palavra final, mas que há uma nova criação em Cristo Jesus. Nós
devemos mostrarlhes pelo livro de Apocalipse que o fim é melhor do que o começo, e que as
bênçãos da criação original serão alargadas (por assim dizer) na nova criação.
Do mesmo modo, o que nós como pregadores diremos ao pregar em Levítico, se não
pregarmos Levítico à luz do cumprimento havido em Jesus Cristo? Certamente nós devemos
proclamar que os sacrifícios do AT se cumpriram na obra de Jesus Cristo na cruz.
Além disso, os regulamentos concernentes às leis alimentares e à purificação devem ser
interpretados canonicamente, de modo a compreendermos que o Senhor não nos chama
para seguirmos as leis alimentares ou os regulamentos de purificação. Esses regulamentos
apontam para algo maior: a santidade e a nova vida que devemos possuir como crentes (1Co
5.68; 1Pe 1.1516).
Tampouco é o caso, como o Novo Testamento claramente ensina, de que os crentes ainda
estejam sob a lei Mosaica (Gl 3.154.7; 2Co 3.718). A antiga aliança foi planejada para estar
em vigor por um período determinado na história da salvação. Agora que o cumprimento em
Cristo se manifestou, não estamos mais sob a aliança que o Senhor instituiu com Israel.
Então, é um erro pensar que as leis às quais Israel estava obrigado como nação deveriam
servir como paradigma para os estados nacionais atualmente – como defendem os
teonomistas em nossos dias. Nós devemos reconhecer, em nossa pregação, a diferença
entre Israel como povo de Deus e a igreja de Jesus Cristo. Israel era o povo teocrático de
Deus, representando tanto o povo da aliança de Deus como um ente política. Mas a igreja de
Jesus Cristo não é um ente político com um código de leis para os estados nacionais. A igreja
é composta de pessoas de todo povo, língua, tribo e nação. Uma falha em compreender essa
diferença entre a antiga e a nova aliança devastaria nossas congregações.
Se nós não entendermos as diferenças entre a antiga aliança e a nova, teremos dificuldade,
por exemplo, em proclamar a conquista da terra em Josué. Certamente, a promessa para a
igreja de Jesus Cristo não é que nós possuiremos a terra de Canaã algum dia! Diversamente,
ao lermos o Novo Testamento, nós aprendemos que a promessa da terra é entendida
tipologicamente e também expandida para um cumprimento final no Novo Testamento. A
epístola aos Hebreus explica que o descanso prometido sob Josué nunca foi planejado pra
ser o descanso final para o povo de Deus (Hb 3.74.13). Paulo explica que a promessa da
terra a Abraão não pode ser confinada a Canaã, mas se universaliza para incluir o mundo
inteiro (Rm 4.13). Descobrimos em Hebreus que nós, como cristãos, não aguardamos uma
cidade terrena, mas uma cidade celestial (Hb 11.10; 14.16; 13.14), uma cidade por vir. Ou,
como João coloca em Apocalipse 2122, nós aguardamos a Jerusalém celestial, a qual não é
outra coisa senão uma nova criação. E, outras palavras, se nós pregarmos em Josué e não
enfatizarmos a nossa herança em Cristo e a nova criação, então teremos falhado
miseravelmente em comunicar o enredo da Escritura na exposição do livro. Teremos truncado
a sua mensagem de modo que o nosso povo falhará em ver como toda a Escritura se cumpre
em Cristo, e como todas as promessas de Deus são “sim” e “amém” em Cristo Jesus (2Co
1.20).
Se nós pregarmos as Escrituras canonicamente, usando a teologia bíblica, então
proclamaremos Cristo tanto a partir do Antigo Testamento como do Novo Testamento.
Devemos evitar o perigo, é claro, de fazer alegorias simplistas ou conexões forçadas entre os
testamentos. Nós não cairemos em tais erros se tivermos realizado adequadamente o
testamentos. Nós não cairemos em tais erros se tivermos realizado adequadamente o
trabalho da teologia bíblica e seguido a hermenêutica dos próprios escritores apostólicos. Os
escritores apostólicos, afinal, criam que o Antigo Testamento apontava para Cristo e se
cumpria nele. E eles aprenderam essa hermenêutica do próprio Jesus Cristo, no momento em
que ele abriu as Escrituras para Cleopas e seu amigo no caminho de Emaús (Lc 24). Sob
esse aspecto, alguns têm defendido que a hermenêutica dos apóstolos era inspirada, mas
não deveria ser imitada hoje. [11] Tal visão não se sustenta porque sugere que o cumprimento
do Antigo Testamento visto pelos apóstolos não confere com o que os textos verdadeiramente
significam. Se esse é o caso, as conexões apontadas entre os testamentos são arbitrárias, e
os apóstolos (e o próprio Cristo!) não servem como modelos de interpretação do Antigo
Testamento hoje.
Se nós cremos, contudo, que os apóstolos foram leitores inspirados e sábios do Antigo
Testamento, então nós temos um padrão para lermos todo o Antigo Testamento à luz do
cumprimento realizado em Jesus Cristo. O enredo e as estruturas do Antigo Testamento todos
apontam para ele e são aperfeiçoados nele. [12] Quando nós lemos sobre a promessa de
Abraão no Antigo Testamento, nós percebemos que ela se cumpriu em Cristo Jesus. As
sombras dos sacrifícios do Antigo Testamento encontram a sua substância em Cristo. Por
exemplo:
Festas como a Páscoa, o Pentecostes e os Tabernáculos apontavam para Cristo como
o sacrifício pascal, para o dom do Espírito e para Jesus como a Luz do mundo.
Os crentes não estão mais obrigados à observância do shabbat, pois ele também era
uma das sombras da antiga aliança (Cl 2.1617; cf. Rm 14.5) e pertence à aliança do
Sinai que não está mais em vigor para os crentes (Gl 3.154.7; 2Co 3.418; Hb 7.11
10.18). O shabbat aponta para o descanso que já começou para nós em Cristo e que
será consumado no descanso celestial do último dia (Hb 3.124.11).
O templo antecipa Cristo como o verdadeiro templo, enquanto a circuncisão é
consumada na circuncisão do coração ancorado na cruz de Cristo e protegido pela obra
do Espírito.
Davi, como rei de Israel e um homem segundo o coração de Deus, não representa o
ápice do reino; Davi é um tipo de Jesus Cristo. Cristo, o superior Davi, era impecável.
Ele é o rei messiânico que, por meio de seu ministério, morte e ressurreição, inaugurou
as promessas que Deus fizera ao seu povo.
Se não pregarmos o Antigo Testamento considerando todo o cânon, nós estaremos nos
restringindo a lições morais do Antigo Testamento, ou, o que é igualmente provável, nós
raramente pregaremos no Antigo Testamento. Como cristãos, nós sabemos que muito do
Antigo Testamento não fala mais diretamente à nossa situação hoje. Por exemplo, Deus não
prometeu nos libertar da escravidão política como libertou Israel do Egito. A terra de Israel é
politicamente volátil nestes dias, mas os cristãos não creem que a sua alegria virá pelo fato de
viverem em Israel, tampouco pensam que a adoração consiste em ir ao templo para oferecer
sacrifício. Contudo, se não pregarmos o Antigo Testamento canonicamente, à luz da teologia
bíblica, ele frequentemente será negligenciado na pregação cristã. E, ao fazêlo, nós não
apenas nos privamos de maravilhosos tesouros da palavra de Deus, mas também falhamos
em ver o caráter profundo e multifacetado da revelação bíblica. Nós nos colocamos em uma
posição na qual não lemos o Antigo Testamento do modo como Jesus e os apóstolos faziam,
e assim não vemos que as promessas de Deus são “sim” e “amém” em Jesus Cristo.
Ler o Antigo Testamento canonicamente não significa que o Antigo Testamento não seja lido
em seu contexto históricocultural. A primeira tarefa de todo intérprete é ler o Antigo
Testamento em si mesmo, discernindo o significado pretendido pelo autor bíblico ao escrevê
lo. Além disso, como defendemos acima, cada livro do AT deve ser lido à luz de sua
teologia antecedente, de modo que o enredo da Escritura é compreendido. Mas nós também
devemos ler toda a Escritura canonicamente, de modo que o Antigo Testamento é lido à luz
da história completa – o cumprimento que veio em Jesus Cristo.
Em resumo, nós deveríamos sempre considerar a perspectiva do todo – do autor divino – ao
fazer teologia bíblica e ao pregar a Palavra de Deus. Nós deveríamos ler as Escrituras tanto
de frente para trás como de trás para frente. Nós deveríamos sempre considerar a história
que está se desenvolvendo bem como o fim da história.
Conclusão
A nossa tarefa como pregadores é proclamar todo o conselho de Deus. Nós não cumpriremos
o nosso chamado se, como pregadores, nós falharmos em fazer teologia bíblica. Nós
podemos receber muitos elogios de nosso povo por nossas lições morais e nossas
ilustrações, mas não estamos servindo nossas congregações fielmente se elas não entendem
ilustrações, mas não estamos servindo nossas congregações fielmente se elas não entendem
como toda a Escritura aponta para Cristo, e se elas não obtêm de nós um melhor
entendimento do enredo da Bíblia. Que Deus nos ajude a sermos mestres e pastores fieis, de
modo que cada pessoa sob nossos cuidados seja apresentada perfeita em Cristo.
Notas:
1. D. A. Carson, “Systematic and Biblical Theology,” em New Dictionary of Biblical
Theology (eds. T. Desmond Alexander e Brian S. Rosner; Downers Grove: InterVarsity, 2000),
94. Uma outra definição é apresentada por Charles H. H. Scobie: “A teologia bíblica pode ser
definida como o estudo ordenado do entendimento da revelação de Deus contida nas
Escrituras canônicas do Antigo e do Novo Testamentos” (“The Challenge of Biblical
Theology,” Tyndale Bulletin 42 [1991]: 36).
2. Brian S. Rosner, “Biblical Theology,” in New Dictionary of Biblical Theology, 5.
3. Kevin J. Vanhoozer, “Exegesis and Hermeneutics,” in New Dictionary of Biblical Theology,
56.
4. Ibid., 56.
5. Carson, “Systematic and Biblical Theology,” 100.
6. Gerhard Hasel, “Biblical Theology: Then, Now, and Tomorrow,” Horizons of Biblical
Theology 4 (1982): 66.
7. Para a discussão que segue, ver Carson, “Systematic and Biblical Theology,” 10102.
8. Scobie, “The Challenge of Biblical Theology,” 5051.
n
Bible (IVP, 1976), capítulo 7.
u 10.
English » Sobre 9Marks Contato Livros Doe
Walter Kaiser, Jr., Toward an Exegetical Theology: Biblical Exegesis for Preaching and
Subscribe
Teaching (Grand Rapids: Baker, 1981), 13440.
11. Richard N. Longenecker, Biblical Exegesis in the Apostolic Period (2. ed.; Grand Rapids:
Eerdmans, 1999).
12. Sobre a importância da centralidade em Cristo na nossa pregação, ver Graeme
Goldsworthy, Preaching the Whole Bible as Christian Scripture: The Application of Biblical
Theology to Expository Preaching (Grand Rapids: Eerdmans, 2000); Sidney o
p
Greidanus, Preaching Christ from the Old Testament: A Contemporary Hermeneutical
Method (Grand Rapids: Eerdmans, 1999); Edmund P. Clowney, Preaching Christ in All of
q
Scripture (Wheaton: Crossway, 2003). [N.T.: Dentre tais obras, apenas o livro de Sidney
Greidanus foi publicado em português, pela Editora Cultura Cristã, com o título Pregando
Cristo a partir do Antigo Testamento.]
Este artigo foi extraído e adaptado do The Southern Baptist Journal of Theology [Jornal de
r
Teologia Batista do Sul] 10.2 (2006) e é usado com permissão. Thomas Schreiner serve como
pastor de pregação na Clifton Baptist Church em Louisville, Kentucky. Ele é também professor
– + A
de Novo Testamento no Southern Baptist Theological Seminary [Seminário Teológico Batista
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B
do Sul] e escreveu Romans [Romanos] (Baker, 1998) e Paul, Apostle of God’s Glory in Christ:
A Pauline Theology [Paulo, o Apóstolo da Glória de Deus em Cristo: Uma Teologia Paulina]
(InterVarsity, 2001), entre muitos outros títulos.
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