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LUTA PELO PODER NA OBRA HAMLET

AUTORES: FRANCIELE LIMA VIEIRA; ANDREA ALESSANDRA LELEN PASSOS;


JAQUELINE CELUPPI SANTOS, MARCELA GEOVANA RICHTER SILVEIRA.

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma análise sobre como a “Luta
pelo poder” se apresenta dentro do clássico “Hamlet” de Shakespeare. Considera-se
esta obra um clássico a partir da perspectiva de Calvino quando define que, “Um
clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”
(CALVINO, 1993, p.2).
Inicialmente, fundamenta-se o conceito de poder e consequentemente
exemplificamos tais relações e como estas influenciam no desenvolvimento da obra.
Para essa análise recorremos há exemplos abordados em aula, artigos científicos
que contribuíram como suporte para análises e contextualização dessa narrativa.

DESENVOLVIMENTO

A peça se passa na Dinamarca, e conta a história do Príncipe Hamlet que


tem como objetivo vingar a morte do rei Hamlet, seu pai, que foi assassinado por seu
irmão, Cláudio. Após envenená-lo, Cláudio casou-se com a rainha e se tornou rei
daquele país.
Hamlet planeja seus passos de vingança através da loucura fingida e se
depara com a corrupção, traição, incesto e vingança. A fim de compreendermos toda
a trama dessa tragédia, primeiramente necessita-se compreender o significado da
palavra poder.
Segundo o dicionário da língua portuguesa o significado de poder é: “ter a
faculdade ou o direito, de poder determinar algo”; “dispor de força ou autoridade”;
“direito de deliberar, agir ou mandar” (FERREIRA, 2013:593).
Em uma breve reflexão sobre o pensamento de Foucault (1975, p.25) em
relação ao poder, em seu livro “Vigiar e Punir”, o autor apresenta as formas de
poder, justificando sujeitos atuando sobre os outros sujeitos: “[...] aos mecanismos
da punição legal um poder justificável não mais simplesmente sobre as infrações,
mas sobre os indivíduos[...]”. O filósofo mostra o poder como um direito, e esse
poder muda e se movimenta da maneira que a sociedade se coloca. Existem
governantes e governados.
Seguindo o pensamento de Foucault, onde defende que o poder é uma rede
de relações, percebe-se que a luta pelo poder está presente por toda a obra,
constata-se essa relação de sujeitos atuando sobre sujeitos. No início do primeiro
ato, em uma troca de posto de serviço entre os guardas Bernardo e Francisco nota-
se a saudação “Viva o rei!” (SHAKESPEARE, 2017, p.173); outro exemplo é
observado no diálogo entre Marcelo e Francisco: “Fiéis ao reis” (SHAKESPEARE,
2017, p.174). Essas proclamações são tradicionalmente feitas pelos súditos, e
simbolizam uma das diversas formas de manifestações como adesão à continuidade
da soberania.
Mas a relação de poder em Hamlet ultrapassa a relação rei e súditos, o
próprio Hamlet também cede ao pedido de sua mãe, a Rainha que após a morte do
pai de Hamlet casa-se com o cunhado, solicita que ele não vá a Wittenberg e Hamlet
responde: “A vós, senhora, eu obedecerei." (SHAKESPEARE, 2017, p.185). Embora
Hamlet olhe com desconfiança o casamento da mãe e teme que ela tenha
participado do assassinato de seu pai, Gertrudes demonstra o poder sobre seu filho
como um sinal de seu afeto e preocupação.
A respeito de Ofélia, trata-se da representação da figura feminina da época,
submissa e obediente, condicionada a viver de acordo com o que o pai decide para
a sua vida, pois segundo os padrões da época, a mulher honrada era aquela que
fugia das paixões da carne, de tudo que podia manchar sua reputação. Nota-se, em
sua personagem, uma figura limitada e ausente de poder, cuja voz não é ouvida.
Polônio, aproveita-se de sua posição de autoridade sobre sua filha e a usa como
isca para descobrir o que está causando a loucura do príncipe Hamlet.
Os amigos de infância de Hamlet, Rosencrantz e Guildenstern, aparecem a
partir do Ato II Cena II. Seus diálogos expõem o intuito de agradar ao Rei,
obedecendo às ordens em relação a Hamlet. Identifica-se, portanto, interesse
pessoal acima da relação de amizade para com Hamlet, sendo usados conforme os
planos de Cláudio. A corrupção deles é manifestada no diálogo a seguir:
“Rosencrantz: Vós poderíeis antes
Mandar, e não pedir, oh majestades,
Com poder soberano sobre nós” (SHAKESPEARE, 2017, p.216).
Hamlet, fingido loucura, consegue manter-se na corte, despistando aqueles
que o vigiam. Com a chegada dos atores da cidade a Elsinor, Hamlet tem a ideia de
usar da peça para ter a certeza de que seu tio é mesmo o culpado pela morte de seu
pai ou se era tudo um engano, um demônio se passando por espírito para
atormentá-lo:
Hamlet: [...]Ouvi dizer que quando os malfeitores
Assistem a uma peça que os imita,
Sentem na alma a perfeição da cena
E confessam de súbito os seus erros.
Pois o crime de morte, sem ter língua,
Falará com o milagre de outra voz.” (SHAKESPEARE, 2017, p.239).

Uma das fases mais célebres da literatura, "Ser ou não ser, eis a questão",
encontrada em Ato III Cena I, manifesta o complexo dilema que Hamlet vive.
Continuar ou não a vingança? Era claro, em suas reflexões, a consciência de que se
ele prosseguisse com a vingança, ele se tornaria semelhante ao seu tio: "os fins
justificam os meios”.
No Ato III, na Cena I, logo depois de que as suspeitas de Polônio foram
negadas, a da que a loucura de Hamlet estava sendo provocada por seu amor não
correspondido por Ofélia, o Rei resolve que a melhor ideia seria levar Hamlet para a
Inglaterra novamente. Ele usa como justificativa que Hamlet se tornou um risco para
o bem-estar das pessoas a sua volta e de si mesmo, e segundo o Rei, ele se importa
demais com o jovem príncipe para o vê-lo definhar desse jeito. O rei continua
insistindo no assunto, mesmo que Gertrudes tenha pedido para tentar falar com o
filho antes.
A primeira cena do Ato IV, depois de Hamlet acidentalmente matar Polônio e
do desastre que foi a peça para o Rei, ele volta a falar sobre mandar o príncipe para
a Inglaterra. Percebe-se, nesse momento, que não é só por medo de que Hamlet
machuque alguém, mas de que Hamlet faça algo que possa prejudicar seu reinado e
o poder que ele adquiriu após matar seu irmão. Ele sente seu poder ameaçado por
Hamlet. Na Cena III, há a confirmação dessa teoria por conta da seguinte fala do rei:
“Rei: [...] E se, rei da Inglaterra, algo me prezas —
E meu grande poder deve valer-me,
Já que inda tens sangrentas cicatrizes
Da nossa espada, e rendes homenagem
Do teu respeito —, não verás sem zelo
Este ato soberano, que consiste
Em cartas, que explicam nosso intuito
De pronta morte para o pobre louco.” (SHAKESPEARE, 2017, p. 284).
Se o Rei estivesse realmente preocupado com o bem-estar de Hamlet, e o
estimasse como ele diz estimar, ele não imploraria a Inglaterra pela morte do
sobrinho e pelo bem de seu próprio poder acima de tudo.
Logo após, na Cena IV, se presencia um monólogo do jovem Hamlet, onde
ele contesta o que leva o homem, um jovem e inexperiente como Fortinbras, a
marchar com vinte mil homens para a morte iminente no ataque à Polônia. Será que
é a necessidade de poder? A esmola de terras? Ou como ele mesmo diz, por uma
quimera ou um ardil de glória? Por uma terra onde não cabem nem os que vão
lutar? Se vê o tempo todo, durante o livro, Hamlet questionando o poder, a origem e
a valorização dele.
No Ato IV Cena IV, há a situação em que Hamlet ouve a conversa de
Fortinbras pedindo ao seu Capitão para ir até ao Rei da Dinamarca, Cláudio, para
pedir mais escuta para a sua marcha neste reino. Hamlet observa uma oportunidade
de usar esse fato a seu favor para realizar uma vingança pessoal contra seu tio
Cláudio, como ele próprio diz: “Como as coisas se ligam contra mim, e incitam a
minha tímida vingança, o que é um homem se o seu grande bem é dormir e comer?”
(SHAKESPEARE, 2017, p.287).
Já na Cena V do mesmo ato, quando Ofélia começa a perder a cabeça após
a morte de seu pai e Laerte, seu irmão, volta para tirar satisfações e executar
vingança contra o assassino, todo o povo pede para que ele, Laerte, se torne rei.
Não é surpresa que o rei se sente ameaçado, então ele explica para Laerte sua
inocência e estava prestes a revelar a ele quem tinha sido o assassino de seu pai,
esperando assim eliminar as duas ameaças ao seu poder de uma vez só. Isso pode
ser percebido na seguinte passagem do livro:

“Laerte: [...] Venha


O que vier, hei de vingar meu pai;
Vingá-lo inteiramente.
Rei: Quem o impede?
Laerte: Minha vontade, não a deste mundo.
E quanto ao meios, hei de controlá-los
Tão bem que farão muito com tão pouco,
Ao desejar saber toda a verdade.
Rei: Da morte de teu pai, pede a vingança
Que atinjas ao acaso, com teus golpes,
Amigo ou inimigo, vencedor
Ou derrotado?” (SHAKESPEARE, 2017, p.294)

Porém, Laerte afirma que apenas se vingaria dos inimigos. Além disso, o Rei
não teve tempo para revelar o assassino de Polônio, já que eles foram interrompidos
por Ofélia, que está em um acesso de loucura.
Segundo o dicionário Priberam, a vingança significa: “Ato ou efeito de vingar
ou de se vingar”; “Atitude de quem se sente ofendido, ou lesado por outrem, e
efetua contra ele uma ação mais ou menos equivalente = desforço, desforra,
represália”. Analisando esse conceito pelo dicionário Priberam, conclui-se que
Hamlet estava em busca de uma vingança pessoal para com seu tio, havendo uma
luta pelo poder com a intenção de derrubá-lo do trono e de preferência matá-lo pelo
fato também dele ter envenenado o seu pai.
No Ato IV cena V, Ofélia também luta pelo seu poder demonstrando que pela
morte de seu pai, o seu irmão irá saber de tudo e dando a entender que seu irmão
não deixará quieto a situação de seu pai ter morrido e ter desaparecido o seu corpo
sem ao menos ter tido um funeral decente. Essas são suas palavras para o Rei e a
Rainha: “Meu irmão vai saber de tudo.” (SHAKESPEARE, 2017, p. 291).
Laertes, vai ter uma conversa não amigável com o Rei Cláudio e a Rainha
Gertrudes, onde quer saber sobre a morte de seu pai. Observa-se, nesta citação,
que Laertes também luta pelo poder, buscando a vingança pelo seu pai: “Cheguei ao
ponto de não ter mais respeito a este mundo e nem a outros. Venha o que vier, hei
de vingar meu pai; vinga-lo inteiramente!” (SHAKESPEARE, 2017, p. 294)
No Ato IV na cena VI, o Rei Cláudio conversa em particular com Laertes
sobre quem matou seu pai que foi Hamlet! Cláudio pela sua luta ao poder,
especificamente a sua luta para ficar no poder! Como Rei da Dinamarca e casado
com Gertrudes que foi esposa do seu irmão a quem ele envenenou para ficar no
poder como Rei! Aonde ele luta com todas as suas forças por: “essa luta ao poder”,
desde o princípio da história. Ele planeja nos mínimos detalhes com Laertes a morte
de Hamlet, com o intuito de que no final todos do reino pensassem que Hamlet
morreu por um acidente. Assim, nesta citação Laertes planeja com o Rei: “Untarei a
minha espada de um veneno, que comprei de um pirata tão mortal que uma faca
uma vez imersa nele, se tira sangue de alguém, não há no mundo ervas que salve
ele da morte.”(SHAKESPEARE, 2017, p.305). A cólera de Laertes por Hamlet
aumenta quando ele descobre que sua irmã Ofélia comete suicídio.
No Ato V Cena I, Horácio e Hamlet estão em um cemitério onde Hamlet
conversa com o Coveiro. O Coveiro está a fazer a cova para Ofélia, Hamlet acaba
por descobrir porque o Rei, a Rainha, sua mãe e Laertes e outras pessoas trazem
Ofélia para ser sepultada. Hamlet sente uma tristeza por Ofélia ter se suicidado e
aparece para todos, Laertes, pela sua luta ao poder de se vingar de Hamlet parte em
luta contra Hamlet e os dois lutam juntos! Mas o Rei tem outros planos e separa a
briga e os dois juram se enfrentar no castelo com um duelo de espadas.
Ato V Cena II, na sala do castelo todos se juntam para assistir o duelo de
espadas mas, o Rei coloca também veneno nós cálices de vinho no intuito de
oferecer para Hamlet porém, infelizmente a Rainha Gertrudes, no desespero de ver
a luta de seu filho Hamlet, pega a taça de vinho e a toma, resultando em sua morte.
Neste intervalo de tempo, Hamlet já tinha sido ferido pela espada de Laertes que
tinha o veneno pois, no meio de uma confusão as espadas caíram no chão e se
misturaram e Hamlet acabou pegando a espada envenenada que era de Laertes e
Hamlet com a espada envenenada também conseguiu atingir Laertes. Vendo Hamlet
que sua mãe tinha sido envenenada por Cláudio, Hamlet com a mesma espada
ataca e acerta o Rei. No final todos morrem envenenados.
Nota-se que a luta pelo poder foi, principalmente, o fator da queda e da morte
dos personagens Hamlet, Cláudio e Laertes. O orgulho e a vingança pessoal de
cada um tomou conta, pelas suas lutas pelo poder, pelos problemas particulares de
cada um desses personagens levando-os à desgraça.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir neste trabalho que “a luta pelo poder” foi de suma
importância para o acontecimento dos fatos. Em Hamlet essa luta leva o
personagem a uma vingança pessoal que será finalizada por uma grande tragédia.
Quando Marcelo diz: “ A algo de podre aqui na Dinamarca” (SHAKESPEARE, 2017,
p.201) leva o próprio Hamlet a investigar os acontecimentos em sua família a pensar
sobre o “ser ou não ser, eis a questão” (SHAKESPEARE, 2017, p.242). A corrupção
infelizmente está presente de uma forma atemporal em todas as sociedades e depor
o rei Cláudio do poder, se torna um dever em nome da honra de seu pai.
Analisamos esse trabalho dentro de todos os objetivos que nos ofereceram
como proposta, expressando através de citações do livro de Shakespeare e
observamos que na luta pelo poder entre os personagens nota-se que o governo por
fim, é fruto da sociedade que governa. Esse trabalho foi importante para o nosso
conhecimento, compreensão e aprofundamento sobre esse tema analisado. Além de
termos permitido desenvolver e nos aperfeiçoar competência de investigação.
REFERÊNCIAS

SHAKESPEARE, William. Hamlet. Tradução Barbara Heliodora. 1. ed. Rio de


Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2017.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Tradução Nilson Moulin. São Paulo:
Editora Companhia das Letras, 1993

FERREIRA, Aurélio B. de H. Minidicionário da língua portuguesa. Curitiba: Editora


Positivo, 2013.

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<https://dicionario.priberam.org/vingan%C3%A7a> Acesso em: 19 set. 2021

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<https://www.indexlaw.org/index.php/revistadireitoarteliteratura/article/view/3760/0>.
Acesso em: 22 set. 2021.

LESSA DOS SANTOS, Alessandra; PISSOLLATTO DA COSTA, Graziele. Entre a


Donzela e a Ninfa: duas maneiras de perceber a Ofélia de Shakespeare. 2010. 11
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<https://todasasmusas.com.br/02Alessandra_Graziele.pdf>. Acesso em: 23 set.
2021.

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