Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - FACULDADE DE LETRAS

ALUNA: KARINE MARIA DOS SANTOS ALMEIDA SILVA


PROFESSORA: IRENE DIETSCHI
DISCIPLINA: LITERATURA DA LÍNGUA INGLESA

TEMA:Por que Hamlet procrastina em executar as instruções do fantasma? Hamlet


é um covarde ou um herói?

INTRODUÇÃO:

Na tragédia Shakesperiana “Hamlet”, o jovem protagonista cujo o nome é o título da


obra, recebe a visita do fantasma de seu falecido pai e antigo rei dinamarquês e
como justificativa de sua visita, o fantasma traz a história da verdadeira causa de
sua morte e instruções para que Hamlet o vingue. O coração do jovem já estava
tomado pelo luto e também cheio de revolta pelo tão recente casamento de sua mãe
com seu tio e atual rei da Dinamarca, mas ainda assim, hesita em tomar qualquer
atitude contra seu tio antes de ter certeza que o espectro que lhe apareceu era
verdadeiramente de seu pai. Muitos leitores julgam Hamlet como covarde por
retardar a vingança do injustiçado rei, mas seria ele realmente um covarde ou um
herói que planejava a vingança perfeita? Neste texto, tentarei discutir o que leva
Hamlet a procrastinar a vingança de seu falecido pai.

DESENVOLVIMENTO

Desde o começo da tragédia, Hamlet se mostra extremamente triste e desmotivado


a viver. Não são poucas as vezes que ele demonstra a dor do luto através de suas
palavras e ações, o que, ao mesmo tempo, deixa claro o amor e devoção por seu
falecido pai e, posteriormente na peça, sede de vingança. Há uma discussão entre
leitores acerca da conduta do jovem príncipe em relação à vingança do antigo
antigo rei, alguns leitores julgam Hamlet como covarde e uma das principais razões
é que Hamlet procrastina a vingança de seu pai mesmo tendo oportunidades
perfeitas, tal como na cena III do segundo ato, quando o Rei Cláudio está ajoelhado
fazendo preces aos céus e Hamlet julga que poderia matá-lo naquele momento,
entretanto decide não o fazer, visto que o assassino de seu pai estava em momento
de oração e sendo assim, sua alma iria para o céu enquanto a alma do velho
Hamlet pagava por seus pecados sofrendo e queimando no enxofre. O próprio
Hamlet se denomina covarde em diversas passagens da obra, comparando suas
próprias atitudes as de um animal: “Todos os acontecimentos parecem me acusar,
me impelindo à vingança que retardo! O que é um homem cujo principal uso e
melhor aproveitamento do seu tempo é comer e dormir? apenas um animal.”(p.101)
Apesar disso, o príncipe dinamarquês se mostrou altamente capaz de armar para
causar a morte de seu tio e completar a sua vingança, mas também não deixou que
esta o contaminasse, então fez planos para descobrir se o que o infeliz espectro
relatou tinha acontecido de fato ou era apenas uma armação de algum espírito do
inferno, como podemos observar na fala de Hamlet para seu companheiro Horácio:

Esta noite há uma representação para o Rei. uma das cenas lembra
as circunstâncias que te narrei, da morte de meu pai. Peço, quando
vires a cena em questão, que observes meu tio com total
concentração de tua alma. Se a culpa que ele esconde não se
denunciar nesse momento, então o que vimos era um espírito do
inferno, e minha suspeita tão imunda quanto a forja de Vulcano. (Ato
III, cena II)1

Não podemos ignorar o fato de que Hamlet não temia a própria morte, ele não
valorizava sua vida terrena dando a ela valor inferior ao de um alfinete (ato I, cena
IV). O que Hamlet temia era que sua alma fosse enviada ao inferno caso ele
cometesse suicídio. Podemos perceber sua angústia para com o mundo em seu
famoso monólogo da primeira cena do terceiro ato: “ser ou não ser - eis a questão
[...]”, onde ele afirma que o motivo pelo qual os humanos aguentam os sofrimentos
deste mundo, é o medo do pós morte. Sendo assim, o Príncipe não hesitaria em
arriscar sua própria vida para cumprir seu plano. Ele também não hesitou em tirar
de seu caminho quem ameaçava atrapalhar sua vingança. Matou com suas próprias
mãos, Polônio, o lord camarista e enviou para morte seus antigos companheiros de
infância, Guildenstern e Rosencrantz, a estes últimos, não demonstrou
arrependimento devido à sua traição:

Hamlet: Ora, homem, os dois cortejaram tudo pelo cargo. Não


pensam na minha consciência; sua destruição procede do próprio
intrometimento. é perigoso para os inferiores se meterem entre o
passo e a estocada. (Ato V, Cena II)2

CONCLUSÃO

Vimos, portanto, que Hamlet era completamente capaz de finalizar a qualquer


momento sua vingança. Então qual motivo o levou a retardar o feito? O sentimento
de culpa e o pensamento de se tornar tão pecaminoso quanto seu próprio tio ao tirar
a vida de alguém que possui o mesmo sangue. Podemos concluir isto ao perceber a

1
Vers. Inglês. Hamlet, Prince of Denmark by William Shakespeare [Collins edition] November, 1998
[Etext #1524]: “There is a play to-night before the king; One scene of it comes near the circumstance,
Which I have told thee, of my father's death: I pr'ythee, when thou see'st that act a-foot, Even with the
very comment of thy soul Observe mine uncle: if his occulted guilt Do not itself unkennel in one
speech, It is a damned ghost that we have seen; And my imaginations are as foul As Vulcan's stithy.”
2
Vers. em Inglês: “Why, man, they did make love to this employment; They are not near my
conscience; their defeat Does by their own insinuation grow: 'Tis dangerous when the baser nature
comes Between the pass and fell incensed points Of mighty opposites. “
agonia do príncipe em sua fala: “Sou arrogante, vingativo, ambicioso; com mais
crimes na consciência do que pensamento para concebê-los, imaginação para
desenvolvê-los, tempo para executá-los.” (Ato III, cena I). Apesar de toda a tragédia
que envolve o final da obra, Hamlet em seus momentos finais de vida
(consequência de envenenamento) executa o rei com o veneno de sua própria
armadilha, cumprindo a vingança do pai. Todos nós devemos reconhecer o quão
difícil foi para Hamlet aguentar o fardo da vingança, ainda assim ele a cumpriu
mesmo que seu tardar causou a morte de entes queridos, o que não torna Hamlet
um herói, mas devido a todas as questões emocionais pelas quais ele passou,
certamente não devemos julgá-lo como covarde.

REFERÊNCIAS:

SHAKESPEARE, William. Hamlet/ William Shakespeare; tradução de Millôr


Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007. 144 p.

SHAKESPEARE, William. Hamlet, Prince of Denmark. Collins edition, 1998 (Versão


em PDF)

Você também pode gostar