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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

Faculdade de Comunicação, Artes e Letras


Curso de Artes Cênicas – Licenciatura - FACALE

HAMLET: UM ENSAIO SOBRE A OBRA PRIMA DE


SHAKESPEARE

Dourados/MS
2019
INTRODUÇÃO

O presente ensaio teve como objetivo fazer uma análise crítica e interpretativa da
tragédia Hamlet, mas o texto acabou se parecendo mais com uma resenha do que um estudo.
A obra que vou analisar foi escrita por Willian Shakespeare entre 1599 e 1601, o autor foi um
importante dramaturgo inglês que contribuiu grandemente para a literatura moderna, e esta é
considerada a obra prima do autor por sua complexidade e atemporalidade
A narrativa é organizada em forma de peça teatral, contendo cinco atos e diversas
cenas. O enredo gira em torno dos dramas do príncipe Hamlet após a morte do pai e o
casamento repentino de sua mãe com o cunhado, o jovem não consegue conceber essa relação
com bons olhos, acha que é uma união incestuosa. De certa forma Hamlet tem razão em
desconfiar desse casamento da rainha com Claudio, que se tornou rei repentinamente após
essa união, pois o leitor verá no decorrer da trama que Claudio é um assassino que usurpou o
trono.
A obra tem enfoque principalmente nos dilemas de Hamlet, que perde muito tempo
refletindo e amargando-se no luto e pouco age para vingar a morte do rei, mesmo diante da
certeza que o rei havia sido assassinado. A peça é centrada no tem vingança, algo que aparece
desde o inicio da trama, mas também fala sobre corrupção, traição, a moralidade também é
algo bastante recorrente.
Hamlet, além de ter um prestigio muito grande entre os críticos e para o cânone
literário, a peça também marcou o inicio da modernidade na literatura, pois o autor rompe
com os paradigmas literários da época e produz algo novo mesmo utilizando-se se elementos
e recursos já existente em outras obras.
ENREDO DE HAMLET

Para compreender a trama de Hamlet é necessário, antes, conhecer os personagens


principais que dão sentido á história: O jovem Hamlet, príncipe da Dinamarca é o
personagem principal, filho do antigo Rei Hamlet, que supostamente havia morrido no jardim
do palácio picado por uma cobra venenosa, até que esta suposição é desmentida pela aparição
do fantasma do rei que revela ao jovem que ele havia sofrido um envenenamento arquitetado
por seu irmão Cláudio. Cláudio se tornou o novo rei da Dinamarca ao se casar com
Gertrudes, rainha mãe de Hamlet, o novo rei é um homem dissimulado uma “besta
incestuosa e adultera”.
Polônio é o primeiro-ministro e conselheiro do rei, está sempre filosofando e
proferindo conselhos, é pai de Laertes e Ofélia, que é terrivelmente apaixonada por Hamlet a
ponto de morrer de amor. Horácio é amigo de Hamlet, é um dos primeiros a ver o fantasma
do rei, ele não havia acreditado nos soldados que disseram ter visto um espectro muito similar
ao falecido rei rondar pelo castelo à meia-noite, mas ao ver com seus próprios olhos torna-se
crédulo e não tarda a avisar Hamlet sobre a visão.
O clima no castelo Elsinor está bastante tenso, não somente por causa do casamento da
rainha com o cunhado e a posse desse ao trono dinamarquês, mas sim pela ameaça de invasão
de Fortimbras da Noruega, que está revoltado com a derrota de seu pai, que foi morto pelo
velho rei Hamlet e também pela perda de todo o território norueguês. Fortimbras quer reaver
todas as suas posses e tem intenção de invadir a corte dinamarquesa.
Hamlet que já era um rapaz melancólico antes, fica ainda mais esquisito depois do
encontro com o fantasma de seu pai, os cortesãos do palácio começam a desconfiar que ele
esteja louco “Que Hamlet está louco é verdade. É verdade lamentável. E lamentável ser
verdade; uma louca retórica”.
Mas suspeitam que ele esteja louco de amor por Ofélia, quando na verdade ele
maltrata a garota, ela sim é louca por ele. Percebe-se que Hamlet tem certa aversão às figuras
femininas, depois da decepção com a mãe, que nem esperou o defunto Hamlet esfriar na cova
e já tratou de se casar com o próprio tio, do qual o jovem não gosta nenhum pouco, isso fica
evidente em diversas passagens quando ele está com a mãe ou com Ofélia. O trecho a seguir
reflete sua pouca consideração por mulheres “fragilidade, teu nome é mulher”.
Desde o principio da narrativa Hamlet também apresentou um comportamento
melancólico conforme Polidório (2012) “Hamlet sofre de maneira intensa desde o início da
tragédia. Ele não disfarça a tristeza”, dando pouco valor a própria vida e sem saber porque
ainda vivia, comportamento evidenciado nos seguintes trechos “minha vida não vale um
alfinete”, mas parece que depois que descobre toda a trapaças do tio o jovem, fica com animo
redobrado, nutrindo-se da expectativa por vingança.
Acontece que a euforia da vingança não demora muito a passar, ele acaba se perdendo
em dilemas morais e dúvidas filosóficas, um belo exemplo que quem muito pensa e pouco
faz, o clima de melancolia que nunca o abandonou acaba ficando ainda mais intenso, fazendo-
o divagar demais sobre a existência de si próprio e das coisas. Mesmo Hamlet fingindo-se de
louco para desmascarar Claudio, o leitor percebe que o rapaz tem uma loucura própria que vai
além do fingimento.

Ser ou não ser eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do
destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias e, combatendo-o, dar-lhe
fim? Morrer, dormir só isso. E com o sono dizem extinguir dores do coração e as mil
mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente
desejável. Morrer, dormir, dormir! Talvez sonhar.

Quando Hamlet resolve contratar uma companhia de teatro para fazer uma peça
simulando a morte do antigo rei, as coisas começam a desandar, pois Claudio percebe que o
jovem é uma ameaça e decide mandá-lo para longe. Desde então começa uma sucessão de
desgraças e envenenamentos. Hamlet mata enganadamente Polônio, Ofélia enlouquece com a
constante rejeição de Hamlet e a morte do pai, e supostamente afoga-se tirando a própria vida.
Para coroar ainda mais o mar de desgraças, o novo rei decide envenenar a taça de
Hamlet, mas quem acaba tomando da bebida envenenada é a rainha, que morre. Laertes
decide vingar a morte do pai causada diretamente por Hamlet, e a morte da irmã, causada
indiretamente, parte para um duelo com o príncipe, mas durante a luta as armas são trocadas e
Hamlet acaba ferindo acidentalmente Laertes. Hamlet acaba envenenando Claudio que
também morre e assim vai se sucedendo várias mortes até não sobrar quase ninguém.
Somente Horácio fica para contar a história ao rei Norueguês, Fortimbras que chega
para tomar o poder, porém não encontra obstáculo algum em tomar posse da coroa.
REFLEXÕES ACERCA DA OBRA

Na visão de Rosenfeld (1996) o teatro não está a serviço da literatura dramática, não é
apenas um meio de divulgação do texto literário, essa é uma concepção errônea que
desvaloriza o ator. E Shakespeare inovou em suas obra, principalmente Hamlet, no qual o
autor rompeu com a tradição medieval de contar histórias, centrada nas questões religiosas.
Cada peça de Shakespeare apresenta um mundo novo, mais amplo e complexo que as
perspectivas da idade média.
Rosenfeld ainda defende que Hamlet é uma obra que questiona todos os valores e os
mistérios do pós morte, “não parece mais haver valores absolutos” diz o autor, embora certas
ideias morais ainda sejam nitidamente presentes.
Hamlet foi uma obra atemporal que inspirou diversas outras obras de vários tipos,
desde a literatura, música, teatro, cinema, poesia e até mesmo nas artes plásticas. Como
exemplo de Hamlet nas artes, cito a pintura de John Everett Millais, produzinda em 1852, essa
tela é uma das obras mais lindas e trágicas que pude contemplar, o pintor utilizou-se de várias
técnicas complexas de pintura para trazer uma imagem bastante vívidas, quase que
fotografada da morte de Ofélia. É impossível não se emociona com a beleza e significado da
pintura.

Ofelia (1852). John Everett Millais. Galeria Tates


A personagem Ofélia é bastante discutida tanto na literatura quanto na psicanálise,
pois a loucura presente em Hamlet não está centrada na figura do protagonista e sim da
mocinha. Retratada como um ideal de beleza, uma pessoa frágil que enlouqueceu de amor. A
esse respeito Tiburi (2010) ressalta que os temas loucura e morte eram comuns na literatura
do século XIX:
Ofélia tornou-se um modelo de mulher tendo um correspondente ideal de beleza a
ser seguido pelas moças na realidade. Serviu como um estranho paradigma: era o
modelo das histéricas dos manicômios que, segundo a psiquiatria vigente, deveriam
copiar o comportamento de Ofélia. Ora, sabemos que a loucura é um conceito amplo
e que não escapa de uma construção cultural (TIBURI, 2010, p.302)

Outra obra baseada em Hamlet que tive o prazer de assistir foi a adaptação
cinematográfica produzida em no Reino Unido em 1945, protagonizada por Laurence Oliver é
um retratação bem fiel à original. O filme é em preto e banco e não traz a maioria dos
recursos cenográficos elaborados das produções atuais, mas ainda assim é primoroso nos
detalhes e uma boa pedida. O vídeo está disponível no You Tube.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O livro vai muito além de ser uma obra de tragédia, corrupção, também traz muito
drama e sacadas espirituosas, envolve quem está lendo do começo ao fim sem deixar o leitor
perder o interesse pela história. Para quem não está acostumado nesse tipo de narrativa em
formato de peça teatral, pode se sentir um pouco perdido diante de tantas falas e personagens,
como eu fiquei ao ler, mas conforme fui avançado na leitura, peguei o ritmo e me acostumei
com a escrita sensacional de Shakespeare.
Por saber que trata-se se uma peça de drama, já prevemos de antemão as situações
dramáticas, as mortes e tudo o mais, mas o ato final consegue fazer com que entremos em um
clima eufórico diante de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, terminei com vontade de
ler mais, me aventurar em outras obras do autor.
Hamlet além de ser um clássico é uma obra atemporal, que deve ser lida, apreciada e
estudada por todos, não somente por sua grande importância histórica como também pela
genialidade e fluidez da escrita de Shakespeare, e pelas sensações que se tem durante a leitura,
pois acredito que um livro antes de tudo tem que conquistar o leitor, provocar o deleite e o
prazer.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A.N.M. Academia Nacional de Medicina. A loucura de Hamlet. Disponível em: <


http://www.anm.org.br/conteudo_view.asp?id=1195&descricao=A+loucura+de+Hamlet>.
Acesso em 30 de out. 2019.

BLOG. Encontros com artes. Ophelia, de Jonh Everett Millais. Disponível em: <
http://encontroscomarte.blogspot.com/2013/08/ophelia-de-jonh-everett-millais.html>. Acesso
em 30 de out. 2019.

POLIDÓRIO, V. Análise de algumas características da personagem Hamlet da peça


homônima de William Shakespeare. Revista Entrelinhas – Vol. 7, n. 2 (jul./dez. 2012).

ROSENFELD, A. “Shakespeare e o pensamento renascentista”. In: Texto/contexto I, 5ª ed.


São Paulo: Perspectiva, 1996, p. 123–145.

SHAKESPEARE, William. Hamlet. Trad. Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 1996.

TIBURI, M. Ofélia mor Ofélia mor Ofélia morta – do discurso à imagem. Estudos
Feministas, Florianópolis, 18(2): 352, maio-agosto/2010.

YOUTUBE. Filme Hamlet 1948. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?


v=kZa__JrFWo0 >. Acesso em 30 de out. 2019.

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