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Escola Profissional Agrícola D.

Dinis

Curso: Técnico de Gestão Equina

Disciplina: Equitação

Ano: 2º ano

Professor: Miguel Duarte Mansos

(M13) UFCD 3002


Equinicultura – generalidades sobre desbaste

(Carga horária - 25 horas – 30 tempos)

(M13) UFCD 3002 – Equinicultura – generalidades sobre desbaste


Professor: Miguel Duarte Mansos
Objetivos
 Caracterizar a psicologia do cavalo.
 Identificar as bases e fases do desbaste.

Conteúdos

1. Psicologia do cavalo

1.1. Os sentidos
1.2. Aprendizagem das perceções
1.3. Associação de sensações
1.4. Aptidão física
1.5. Temperamento e personalidade
1.6. Capacidade de assimilação
1.7. A atenção
1.8. O à vontade

2. Primeira fase do desbaste

2.1. Confiança e segurança do poldro e do desbastador


2.2. Limpeza, confiança, a voz
2.3. Passeios à mão

3. Segunda fase do desbaste

3.1. Lições à guia, o chicote


3.2. Aceitação do arreio
3.3. Aceitação da embocadura
3.4. Submissão ao cavaleiro
3.5. Desenvolvimento físico do cavalo

Critérios de avaliação:
 Saber (30%)
 Saber fazer (50%)
 Saber estar (20%)

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1. Psicologia do cavalo

1.1. Os sentidos

1.1.1. Visão

• Raio +/- 340º


• Campo binocular limitado;
• Monocular.

• Dicromática (os cavalos têm dificuldade em distinguir o amarelo e o verde do cinzento).

 Humanos

 Cavalos

Assim, tem-se por cores que causam mais impacto nos cavalos o azul, preto, branco e
amarelo e, como as que causam menos impacto nos cavalos o castanho, verde, vermelho e
cinzento.

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1.1.2. Audição

• O cavalo possui um ouvido muito sensível;


• Conseguem ouvir sons a 4400 metros;
• Conseguem detectar perturbações na natureza;
• Ouvem entre os 55 Hz e os 33,5 KHz (Humanos entre 20 Hz e 20 KHz),
consequentemente, consegue ouvir sons mais agudos que o ouvido humano.

“Existe uma relação inversa entre campo visual e a percepção auditiva. Os cavalos têm uma
má percepção auditiva que é colmatada pelo amplo campo visual. A posição das orelhas
mostram para onde está focada a sua atenção.”

1.1.3. Olfacto

• Reflexo de “Fleming”;

1.1.4. Tacto

A sensibilidade de um cavalo varia consoante as zonas do corpo. É muito importante


conhecer esses limites para uma aplicação correcta das ajudas no maneio e na equitação.

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1.1.5. Paladar

• Os cavalos não possuem conhecimentos nutritivos, sendo apenas capazes de evitar os


alimentos tóxicos;
• Os alimentos, ao serem ingeridos, misturam-se com a saliva que dissolve os componentes
químicos que nele existem, permitindo assim, o contacto com as células nervosas
sensitivas;
• Ao serem estimuladas, criam impulsos até ao cérebro.

1.2. Aprendizagem das perceções


A inteligência prática dos cavalos versus a inteligência humana:
• Os cavalos têm tendência para a Imitação e Sentido Gregário;
• A Obediência baseia-se no "Instinto de Conservação";

A memória do cavalo e a sua importância no seu ensino:


• É a principal "característica mental" do cavalo;
• O resultado do ensino depende da forma como o cavaleiro a utiliza e compreende pois tal
como a aptidão física, é variável de cavalo para cavalo.

"A Linguagem equestre aprende-se pela repetição"


(Não cair na rotina)

1.3. Associação de sensações


A linguagem equestre assenta fundamentalmente na
"Lei da associação das sensações"

Quando se produzem impressões simultaneamente ou se fazem suceder imediatamente,


basta que uma se apresenta ao espírito para que as outras surjam rapidamente.

A Obediência às ajudas não é um ato natural, tem de ser "compreendida".

O cavalo tem de "compreender" primeiro para se habituar a obedecer.

A utilização criteriosa da "LEI DA ASSOCIAÇÃO DAS SENSAÇÕES" leva à obediência mas para tal o
cavaleiro tem de ser:
• Generoso – Nas festas ou outras compensações;
• Firme e justo – no castigo ou correção.

Atenção: Não confundir "Má vontade" com "Dificuldade de Execução"

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A"LEI DAS SENSAÇÕES" funciona assim como principal veículo para o "ensino do cavalo" mas
funciona tanto para o "bem" como para o "mal".
O cavaleiro sem "Método", sem "Paciência", sem "Capacidade para Raciocinar", que num dia
pedem as coisas de uma determinada maneira e no outro alteram completamente o método
utilizado, produzem cavalos que:
• "não entendem" as ajudas;
• "não ouvem" as ajudas;
• "se defendem" tornando-se muitas vezes “imontáveis” (quando mais finos ou de carácter
mais difícil).

1.4. Aptidão física

Cada raça de cavalo possui suas particularidades morfológicas, uma índole típica, como
também as suas aptidões para o trabalho, desporto ou para o lazer e andamentos variados.
Podemos dividir as raças de equinos em dois grandes grupos, conforme o seu tipo de andamento
predominante: O Trote e a Marcha.

Dentro das raças de cavalos, apenas três recebem o nome de puro-sangue: o cavalo
árabe, o inglês e o lusitano. O cavalo puro-sangue lusitano é um dos que mais se destaca por ter
um temperamento que, ao mesmo tempo em que é dócil, apresenta segurança e coragem. Um
dos animais mais recomendados e usados em competições equestres.

1.4.1. Puro-sangue Árabe

Origem

É uma das mais puras e antigas raças de cavalos do mundo e que praticamente entrou na
formação de quase todas as raças modernas. Selecionada no deserto da Península Arábica, entre
o mar Vermelho e o Golfo Pérsico, por onde vagavam algumas tribos nómadas, a quem se deve a
pureza sanguínea na seleção do cavalo árabe e a importância dada às éguas mães – Koheilan,
Seglawi, Ibeion, Handani e Habdan, as cinco éguas que serviram de matrizes para as cinco
principais linhagens que compõe a raça Árabe até aos nossos dias.

Características

Cavalo com altura média de 1.50m, podendo atualmente chegar até 1.58m, possui cabeça
de forma triangular com perfil côncavo, orelhas pequenas, olhos grandes arredondados e muito
salientes, narinas dilatadas, ganachas arredondados, boca pequena, pescoço alto e curvilíneo na
sua linha superior, peito amplo, tórax amplo, dorso e rim médios, garupa horizontal e saída de
cauda alta que permanece elevada durante o movimento.

Seu trote e galope são amplos e cadenciados, com muito garbo, tendo temperamento
muito vivo e grande resistência. As pelagens básicas são alazã, castanha, tordilha e preta.
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Aptidões

Pelas suas características são aptos aos desportos hípicos de salto e ensino em categorias
intermédias, resistência e trabalhos agropecuários.

1.4.2. Puro-sangue inglês

História

É impossível definir a origem do Puro Sangue Inglês. Sabe-se que entre os séculos XVII e
XVIII, foram feitos cruzamentos de cavalos ingleses com éguas importadas da Península Ibérica,
Turquia e Itália a fim de incrementar a velocidade dos cavalos de corrida, desporto muito popular
em Inglaterra.

Características

Cavalo de médio para grande porte, pelagem castanha ou tordilha, geralmente sólida,
com perfil reto e olhos grandes. A raça está presente na formação das principais raças modernas
de cavalos de desporto.

Aptidão

Animal utilizado especificamente para corridas no plano ou com obstáculos, salto de


obstáculos, ensino e CCE.

1.4.3. Puro-sangue Lusitano

Origem

Acredita-se que a raça puro-sangue lusitano teve origem nos lendários cavalos da
Península Ibérica, recebendo algum toque dos cavalos puro-sangue árabes, assim como dos
espécimes da região norte da África.

Características

Sangue Quente: O puro-sangue é reconhecido entre os especialistas como um cavalo de


“sangue quente”. Esse animal é resultante de uma seleção de milhares de anos, algo que o torna
especial, pois permitiu que estabelecesse uma simpatia única para com o ser humano.

Reconhecimento: Embora as contribuições da raça para o desenvolvimento da equitação, assim


como força de trabalho, sejam muito antigas, a sua raça apenas foi oficialmente reconhecida no
ano de 1967.
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Animal Raro: Esta raça é rara devido ao pequeno número de éguas reprodutoras. Estima-
se que existam em torno de 2 mil, sendo que metade delas se encontra em Portugal. O Brasil
conta com cerca de 600 éguas da outra metade e a França com cerca de 200. As restantes estão
espalhadas por países como Estados Unidos, Bélgica, Canadá, México, Alemanha, Inglaterra e
Itália.

Competidor: As características de puro-sangue fazem do cavalo lusitano uma ótima


escolha para competições, uma vez que ele apresenta coragem e quase não tem limitações. Tem
sido usado em quase todas as modalidades desportivas equestres, especialmente naquelas com
obstáculos, pois tem aptidão natural para isso.

1.4.4. Raças com aptidão para o trabalho

Antigamente, os cavalos de tiro eram utilizados como força motriz. Pela sua resistência e
altura, eram úteis em atividades agrícolas ou puxando carros e carruagens. Os cavalos de tiro
pesado moviam máquinas, enquanto, os de tiro leve eram utilizados para mover coisas em uma
velocidade maior.

Ainda hoje, as raças de cavalo de tiro são muito valorizadas pelas suas características. Sua
tipologia é dividida em cavalos de tiro pesados e leves, havendo diversas raças de entre as quais:

Shire

É a maior raça de cavalo do mundo, originária da Inglaterra. Pesa entre 800 e 1000 kg e
chega a ter uma altura de 1,60 a 1,85 metro. Originalmente utilizado para drenar pântanos, foi
alimentado, criado e cruzado com cavalos holandeses.

De cabeça larga e pescoço curto, com lombo e traseira curtos, porém possuindo os membros e
extremidades grossos. Também é excelente para o trabalho agrícola e para a movimentação de
elementos pesados.

Percheron

Vem das colinas de Perche, na França. É a mais conhecida das raças de cavalos de tração.
Seus antecedentes mais antigos foram usados durante as Cruzadas. Em 1839, ele foi exportado
para os Estados Unidos e é muito valorizado pelos agricultores do país. Atualmente, é uma raça
também usada em atividades recreativas, feiras e competições.

A raça destaca-se por ter excelentes qualidades físicas, é ágil e, ao mesmo tempo, poderosa e
resistente. De pescoço curto, cabeça e extremidades fortes, é possível encontrá-los em dois
tipos: o Percheron grande, que chega a ter 1,60 metro de altura e pesar até 1000 kg e o
Percheron pequeno, que chega a pesar cerca de 600 kg.

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Bretão

Existe desde a Idade Média, vindo da região da Bretanha e França. Foi cruzado com raças
árabes, alemães e de puro-sangue. Sua força e rapidez o tornam especial para trabalhos no
campo e de tração semirrápida. Existem três subtipos de bretões provenientes de diferentes
áreas da Bretanha, caracterizados pela sua diversidade de resistência e temperamento tranquilo.
É uma raça que tem sido muito utilizada para melhorar e criar outras.

Clydesdale

Uma raça interessante entre cavalos de tração. É o resultado de cruzamentos entre cavalos
flamengos e éguas de tração da Escócia. A raça foi melhorada ao ser cruzada com o Shire e com o
cavalo árabe. Por isso, é uma raça mais elegante, com articulações robustas. Sua força e a do
Shire são similares.

1.5. Temperamento e personalidade

O cavalo, como qualquer outro animal, possui uma individualidade que o diferencia de
outras espécies, sendo um animal único dentro de seu grupo. Um dos elementos que
caracterizam essa individualidade é sua personalidade. Entender a personalidade do cavalo é
importante tanto para quem monta, quanto para quem possui e gosta deste belo animal.

Acreditar que os animais não possuem os mesmos traços que os seres humanos é uma
ideia equivocada. Pelo menos, no que diz respeito ao caráter e ao temperamento. E é útil saber
diferenciar e identificar essas características ao estabelecer uma relação com alguma raça de
cavalos. Sobretudo porque esses traços definirão a maneira como o animal precisa ser tratado.

Características mais comuns da personalidade do cavalo

Ao falar de personalidade, estamos nos referindo aos hábitos e reações que identificam o
animal e que ele apresenta durante a maior parte do tempo. Tanto no seu estábulo (boxe),
quanto nas horas de trabalho, caso o animal seja dedicado aos desportos ou outras utilizações.

Em geral, a personalidade do cavalo tende a ser tranquila. Sendo assim, com segurança e
respeito, é possível ensiná-lo.

Sendo um animal que costuma ser presa, é guiado por seus instintos e o mais comum
deles é o de sobrevivência. Em frente à possibilidade de uma ameaça, ele reage. Daí a
importância de gerar uma relação de confiança e ensinar ao cavalo como responder às atitudes
humanas.

O cavalo é um animal social, que vive em manadas quando está livre na natureza e que
manifesta suas emoções. O animal tende a ser dominante e estabelece uma hierarquia de

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comando, sem uso da violência. A agressividade não é parte de sua natureza, preferindo fugir em
vez de lutar. No entanto, se ele se sente em perigo, reage dando coices ou mordendo.

Comportamento corporal, base para comunicação

Como o ser humano, o cavalo se comunica com os animais de sua espécie. Por não emitir quase
nenhum som, a comunicação é feita através de movimentos corporais. A observação de seu
comportamento, dos movimentos de suas orelhas, boca, cauda e postura corporal ajudará a
saber de quais formas é possível se comunicar. Assim, será mais fácil gerar confiança e entender
sua personalidade.

Existem cavalos com uma personalidade ruim?

Existem cavalos com uma personalidade difícil, embora não seja uma situação muito comum. Tal
característica é demonstrada a partir de atitudes particulares. São exemplos quando ele se
agacha ou move as orelhas, quando move as patas e a boca, estirando os lábios e mexendo seu
maxilar. Ou também quando ele mostra sua traseira ou seus dentes.

Nem todos os cavalos demonstram esse comportamento. Além disso, geralmente, eles não
manifestam uma personalidade problemática, pois são conhecidos por serem mansos e
amigáveis. É de grande importância o vínculo gerado com o ser humano e o grau de
conhecimento mútuo.

Personalidade e temperamento:

Embora sejam frequentemente reconhecidos por terem características idênticas, os cavalos


diferenciam-se substancialmente.

Além disso, ele é um animal que pode ser educado. Sua personalidade também está relacionada
à sua disponibilidade para aprender, assim como à sua vontade de treinar, sua docilidade, entre
outras características.

O temperamento tem a ver ainda com o tipo de raça ou linhagem do animal. Por isso, os cavalos
podem ser nervosos e hiperativos, precisando de mais ou menos espaço para viver.

De acordo com o temperamento, existem três tipos de cavalos:

• De sangue quente: também chamados de raça pura. Eles são mais ativos, nervosos e
alertas. Com melhor “monte”.
• De sangue morno: são os gerados a partir do cruzamento entre os de sangue quente e
frio.
• De sangue frio: geralmente são calmos, domesticados, provêm de raças mais pesadas.

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A personalidade ideal para cavalos de desporto

Uma de suas qualidades mais valorizadas é a capacidade atlética. Sendo assim, a personalidade
do cavalo é uma característica importante a ser considerada. É ideal para o desporto:

• Demonstrar boa disponibilidade, compreendendo e seguindo as ordens do cavaleiro.


• Quando reage de maneira positiva às dificuldades ou erros cometidos.
• Se tem uma boa “montabilidade”, assim como capacidade de trabalhar sob pressão e
bom controlo emocional.
• O cavalo é um animal fascinante cuja personalidade pode ser entendida com uma boa
observação e boa vontade. Dessa forma, com uma interação adequada, baseada no
respeito e na confiança mútua, é possível interpretar os traços que definem seu modo
de ser.

1.6. Capacidade de assimilação

Significado: - BIOLOGIA - capacidade fundamental de um ser vivo que lhe permite integrar, na
sua própria matéria, as substâncias e a energia captadas do meio exterior.

- Apropriação e compreensão de conhecimentos; absorção.

A capacidade de um cavalo assimilar corretamente tudo o que lhe é pedido durante o


desbaste, está diretamente relacionado com o seu temperamento e personalidade e com o
respeito, firmeza, segurança e paciência, nos métodos utilizados pelo desbastador em todas as
fases do desbaste.

1.7. A atenção

Só se obtém a atenção de um cavalo se este estiver descontraído, tranquilo e com ações


por parte do desbastador simples e sem brusquidão e de preferência falando sempre com o
cavalo.

Atenções:

• A repetição ajuda a fixar as associações mas torna as lições longas;

• Sessões demasiado compridas e repetitivas, irritam e cansam os cavalos (Saber quando


parar);

• As impressões fortes, mesmo que pouco repetidas, gravam-se mais facilmente.

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1.8. O à vontade

2. Desbaste

“Desbastar um cavalo significa fazê-lo perder a sua rudeza inicial, suavizar lhe os movimentos e
fazê-lo aceitar o peso do homem nos três andamentos.”

“O desbaste é a educação do cavalo, baseado no estudo do seu comportamento e, a partir daí, da


formação do seu carácter, do equilíbrio do seu estado psíquico e físico, do desenvolvimento
harmonioso e do fortalecimento das suas massas musculares, das suas articulações, dos seus
tendões, dos seus andamentos, dos seus reflexos, procurando eliminar ou minimizar as
deficiências com que a natureza o dotou, proporcionando-lhe a robustez moral e física para
desempenhar a disciplina para que está vocacionado e a capacidade para se poder submeter ao
seu adequado ensino.”

A evolução morfológica e temperamental dos cavalos, bem como as dificuldades dos


exercícios, exigindo maior calma, descontração, flexibilidade, “souplesse” e amplitude dos
andamentos, foi alterando e aperfeiçoando, ao longo dos tempos, o quadro das ajudas.

A violência provocada por freios de enormes caimbas e esporas de rasgar a pele, foi sendo
substituída pela suavidade, oportunidade e aperfeiçoamento do acordo das ajudas, o que
implicou adaptações não apenas nos arreios a utilizar, mas também na própria colocação em
sela, dentro da “posição clássica”.

Tem por objetivos:


• A domesticação do poldro;
• O seu desenvolvimento físico e moral;
• A aceitação do arreio e da embocadura;
• A aceitação do peso do cavaleiro deixando-se montar;
• O conhecimento e aceitação das ajudas naturais, deixando-se conduzir nos três
andamentos naturais.

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2.1. Primeira fase do desbaste

2.1.1. Confiança e segurança do poldro e do desbastador

A “Domesticação” do poldro é o primeiro passo para o estabelecimento da relação entre


o Homem e o cavalo. É através dela que se desenvolvem a confiança e a compreensão.

2.1.2. Limpeza, confiança, a voz

A limpeza (maneio diário) e as distribuições da ração, são oportunidades de aproximação


ao poldro, primeiro com alguma desconfiança, mas logo se transformando em momentos de
agrado e confiança mútua.
Exige-se do cavaleiro muita paciência, firmeza, inteligência, espírito de observação e
método, assim como, muita compreensão e "afabilidade".
O “desenvolvimento físico e moral” do Poldro obtém-se com: a Higiene, a alimentação e o
trabalho ginástico no picadeiro e no exterior.
O emprego criterioso da Voz, é da maior importância e utilidade.

2.1.3. Passeios à mão

Nos primeiros dias, o “arreatar” e os passeios à mão, são muito importantes na


domesticação e constituem a primeira lição de “submissão”.
O trabalho, além do desenvolvimento muscular, regula o equilíbrio, a saúde e o
carácter do poldro.
O emprego criterioso da Voz, é da maior importância e utilidade.

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3. Segunda fase do desbaste

3.1.1. Lições à guia, o chicote


O trabalho á guia é o primeiro contacto que o poldro tem com o ambiente de trabalho que
o acompanhará durante toda a sua vida. Assim há toda a vantagem em começar corretamente
desde as primeiras sessões tendo o cuidado de lhe fazer memorizar uma série de procedimentos
que o vão disciplinar.
Fazer trabalhar o poldro sempre numa postura correta só trará benefícios. O cavalo
exercitar-se-á numa forma mais sã, pois mais facilmente se conterá a sua natural tendência para
retomar a liberdade que o leva a sair em fortes e desenfreadas galopadas, nocivas à sua
integridade física. Acidentes graves podem ser evitados. A pessoa que o tem à guia pode mesmo
ser atingida com um coice ou algum encontrão despropositado fruto da sua excitação e falta de
disciplina.
É também uma forma de manter o cavalo em trabalho sempre que exista um motivo que
impeça de o fazer montado: uma lesão do próprio cavalo (no dorso por exemplo), uma lesão do
cavaleiro, falta de tempo, etc.

Trabalho do poldro à guia


Material a usar:
A escolha de um bom cabeção de guia á fundamental, assim como o seu correto
ajustamento.
O cabeção deve ser cómodo mas ao mesmo tempo ter a capacidade de controlar
minimamente o cavalo.
Existem vários tipos de cabeção desde o suave ao mais violento:
• Com focinheira de couro;
• Com focinheira metálica articulada;
• Com focinheira metálica rígida.

Devem ser escolhidos consoante a sensibilidade de cada cavalo, começando sempre por
utilizar o mais suave e só passar para um de efeito mais forte caso exista um apoio abusivo na
guia por parte do cavalo.
O seu ajustamento deve ser cuidadosamente efetuado e não deixado à mercê de um
tratador menos qualificado.

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A sua focinheira deve ser colocada bem justa sobre o alto do chanfro, sem contudo tocar,
para não ferir, as apófises zigomáticas.
Deve ser munido de uma cisgola que deve ser bem ajustada nas ganachas, a fim de evitar
que a faceira exterior toque ofensivamente no olho do cavalo.
A guia deve ser colocada na argola do lado interior do círculo para o lado em que se
trabalha, evitando que a focinheira rode no chanfro provocando grande desconforto no cavalo
ou até mesmo algum ferimento.
Mais tarde, depois de o cavalo estar familiarizado com o bridão e corretamente encostado
na guia podemos passar a usar a guia no bridão, sendo o uso do cabeção de guia dispensado.
A guia passa pela argola do bridão do lado interior do círculo de fora para dentro, sobe pela
face, passa pela nuca, desce pela face exterior e vai fixar-se na argola de bridão do lado exterior
do círculo.
A guia deve ser de material leve e resistente. Caso seja munida de um mosquetão, este
deve ser de abertura prática e segura. O seu comprimento deve rondar os 8 a 10 metros, pois o
círculo ideal de trabalho à guia é de 15 a 18 metros.
Devemos estar munidos de um chicote leve e com uma ponta suficientemente comprida
para alcançar o cavalo quando necessário.

Procedimentos importantes:
É no picadeiro ou num local devidamente confinado para o efeito, num ambiente calmo e
que devemos iniciar este trabalho de guia, sem que ninguém, a pé ou a cavalo, o venha
perturbar.
Nas primeiras sessões até que o cavalo esteja bem para diante à ação do chicote e da voz e
encostado corretamente na guia, descrevendo os círculos com um contacto suave e regular na
guia, será útil e preciosa a ajuda de uma segunda pessoa no chicote, funcionando como um
prolongamento do braço da pessoa que segura a guia.
Esta segunda pessoa atua dirigindo-se mais por trás da garupa do cavalo quando é preciso
“tocá-lo” para diante se cai sobre o lado exterior e pesa na guia ou dirigindo-se mais à espádua
do lado interior do círculo quando o cavalo cai sobre o mesmo lado, fazendo perder o controlo
na guia .
Este trabalho é o princípio do trabalho de encurvação. Adaptando o cavalo desde a cabeça à
cauda à curvatura do círculo, permite que ele descreva o círculo fazendo os posteriores seguir
exatamente a pista desenhada pelos anteriores, havendo uma perfeita perpendicularidade do
corpo ao solo, tal como descreve Decarpentry em “Equitation Académique” no seu diagrama.

A encurvação:
Como fazer para obter uma boa encurvação com o cavalo à guia? Na encurvação, o cavalo
deve adaptar a sua coluna vertebral, da cabeça à cauda, à curvatura do círculo.
O cavalo que anda sobre o círculo deitado sobre um cone não está encurvado.
O cavalo que anda sobre o círculo como sobre um cilindro, ajustando a coluna vertebral à
curvatura do círculo da cabeça à cauda está encurvado. A forma correta e mais segura de pegar
na guia é exercer a condução com a mão do mesmo lado em que se trabalha isto é, se o cavalo
trabalha para a mão direita é a mão direita que deve conduzir e vice-versa, fazendo oitos com ela
na mão enquanto a outra mão segura o excedente da guia e suporta o chicote.

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O chicote está virado para a frente quando está em ação durante o trabalho, ou para trás
quando o mesmo termina e é necessário trazer o cavalo ao centro do círculo. Quando este se
aproxima, devemos fazê-lo avançar mais alguns passos para que se coloque ao nosso lado como
se estivéssemos a prepará-lo para o montar de um lado ou do outro mas sempre do mesmo lado
em que acaba de trabalhar, evitando que se pare diante de nós, frente a frente.
Não é na cabeça que devemos o acariciar, mas sim no pescoço, na espádua ou melhor ainda
no dorso ou nos rins, para que aprenda a ficar imóvel deixando-se tocar por todo o corpo
confiado na pessoa que o trabalha.
Uma vez acariciado em perfeita imobilidade, primeiro do lado em que acabou de trabalhar
e do lado em que o irá fazer seguidamente.
É altura de lhe dar a ordem de saida para diante. Colocando-nos do lado dele e abrindo o
braço do mesmo lado incitamo-lo levemente com a voz e com o chicote para que o faça
disciplinadamente reforçando os bons modos e a sua educação.
Pessoalmente, prefiro iniciar o trabalho de guia para a mão direita contrariamente ao que é
costume, ou em caso de cavalos naturalmente encurvados à direita, o que não é vulgar, começar
para o lado contrário à sua encurvação natural e aí à esquerda. É uma forma de sobretudo no
poldro, combater a sua inflexão natural e as suas primeiras brincadeiras, por vezes mais emotivas
e violentas, não serão tão difíceis de suportar por quem sustém a guia, pois não existe a
tendência natural de, para aquela mão, o cavalo se deixar cair sobre o lado exterior, pesando
abusivamente na guia.
À voz, com a ajuda do chicote para pôr o cavalo para diante ou retendo um pouco a guia
para reduzir o andamento ou mesmo passar ao andamento descendente é o homem que dá as
ordens e comanda a sessão de trabalho. Quando tudo está organizado podemos iniciar o
trabalho de galope. Trabalho esse que só nestas circunstâncias se deve abordar visto ser
frequente provocar alguma excitação nos cavalos, motivo de desordem e indisciplina.
Uma falta corrente nestes momentos é o galope desunido a evitar a todo o custo, passando
rapidamente ao trote até restabelecer a calma e só então retomar o galope.
Uma vez terminado o trabalho para as duas mãos é bom retomar um pouco o trabalho para
a mão em que se iniciou, para que o cavalo termine a lição tranquilamente causando uma boa
impressão, que nos vai favorecer o início de uma sessão de trabalho mais tranquilo e disciplinada
no dia seguinte.
Seguindo estes princípios educativos, podemos dar início a um desbaste em segurança para
o cavaleiro ao mesmo tempo que teremos um cavalo sempre disponível para efetuar
corretamente um bom trabalho à guia quando necessário e ao longo da sua vida, preservando a
sua saúde física e moral.

É de muita importância e muito útil no DESBASTE DO CAVALO pois:


• Ginastica;
• Flexibiliza;
• Equilibra;
• Fortalece.

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É no trabalho à Guia que o cavalo aprende:
• A primeira rédea de abertura;
• A aceitar o arreio e o bridão;
• A aceitar o peso do cavaleiro;
• Aprende o movimento para diante;
• Aprende as ajudas impulsivas.
"Usar sempre um ajudante"

O uso criterioso do CHICOTE, sempre acompanhado da VOZ é indispensável para


assegurar o movimento para diante e manter o cavalo encostado à guia.

O trabalho à guia deve ser feito nos três andamentos, voltando ao passo sempre que o
cavalo force a mão no trote ou no galope – a paciência é indispensável.

Deve ter lugar num picadeiro circular ou de pequenas dimensões para evitar as defesas e
o forçar da guia e o cavalo deve estar preso com um bom e bem ajustado cabeção.

O uso de rédeas fixas no trabalho à guia é de muita utilidade, pois promove o encosto e
permite trabalhar a linha de cima, distendendo-a e arredondando-a.

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"Atenção! O uso das rédeas fixas só deve ser iniciado depois do movimento para diante
assegurado e o seu ajuste correto (baixas e compridas) é fundamental".

3.1.2. Aceitação do arreio

No picadeiro e só depois do cavalo se mostrar calmo e obediente no trabalho à guia.


Com o cavalo parado e seguro pelo desbastador, o ajudante mostra-lhe o arreio (sem
loros) e deixa-o cheirar. Gestos lentos e acompanhados de festas são muito importantes para
ganhar a confiança.
Depositar suavemente o arreio sobre o dorso e só ajustar a cilha quando o cavalo der
sinais de confiança. Apertar só mais tarde e depois de algumas voltas.
Se o cavalo se defender, empurrar para diante com firmeza mas sem brutalidade, usando
o chicote, sempre acompanhado da voz.
Após algumas voltas, pôr a passo, puxar ao meio e afagar o cavalo, é normalmente
suficiente para que se acalme e aceite esta nova sensação.

3.1.3. Aceitação da embocadura

3.1.4. Submissão ao cavaleiro

Esta lição só deve ter lugar depois do cavalo aceitar bem o arreio, nos três andamentos, e
inclusive depois de o suportar com os loros descidos e soltos a baterem com os estribos nos
costados.
Com o cavalo seguro, o ajudante acerca-se do cavalo pelo lado esquerdo, afaga-o na
cabeça e pescoço, bate com a mão no vaso do arreio, estica e bate com o loro esquerdo no
arreio e pressiona-o.
Depois, lentamente, enfia o pé no estribo com a biqueira encostada à cilha, faz força para
baixo, tira o pé, volta a pôr, repete várias vezes, sempre acompanhando com a voz e as festas.

(M13) UFCD 3002 – Equinicultura – generalidades sobre desbaste


Professor: Miguel Duarte Mansos
Quando sentir o cavalo em confiança, o ajudante, dando um impulso com a perna esquerda,
levanta-se sobre o estribo, deitando-se de lado sobre o arreio ao mesmo tempo que com a mão
direita afaga o costado.
Finalmente e após várias repetições da operação anterior, montar, apear, voltar a montar, o
ajudante, passando a perna direita bem alta, para não tocar na garupa, senta-se suavemente no
arreio e calça o estribo direito com cuidado.
O desbastador, com o maior cuidado e recuando, pede então alguns passos de passo,
sempre falando e afagando o cavalo e só depois faz com que comece a andar à guia, primeiro em
círculos apertados e ao passo, para maior controlo e depois em círculos mais largos, a trote.
Nesta fase o ajudante deve segurar-se ao arreio, ou às crinas ou até a um loro à volta do
pescoço e nunca segurar quaisquer rédeas.
Mais tarde quando já trotar e galopar com regularidade, poder-se-ão colocar as rédeas e
começar a ensinar ao poldro a sua ação, quer no controlo da direção, quer no da quantidade de
movimento.
Para terminar o desbaste, o poldro deve então ser montado solto, atrás de uma “madrinha”
e, depois de confiado no picadeiro, ser trabalhado no exterior, em passeios pelo campo, de
preferência em terreno ondulado, de preferência na companhia de outros cavalos.

3.1.5. Desenvolvimento físico do cavalo

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