Violência patrimonial, classe e gênero - Está tudo conectado

Como já apresentado, alguns conceitos são fundamentais para nos aprofundarmos no

tema dessa pesquisa. Sem dúvida o conceito de gênero está totalmente ligado à violência
contra a mulher de forma geral e à violência patrimonial especificamente.
Quando se compreende que as relações de gênero perpassam por uma estrutura de
dominação que não se dá apenas a partir de uma perspectiva material mas também simbólica
(BOURDIEU, 2002), ou seja, todas as estruturas das relações entre homens e mulheres
acabam por reforçar a desigualdade existente entre esses dois grupos o que tem um impacto
muito grande inclusive em relação aos casos de violência doméstica e familiar.
A classe como fator interconectado à violência patrimonial é possível compreender,
através dos números do relatório elaborado pelo Ministério Público do Pará, que a condição
econômica da vítima está diretamente ligada com a violência contra a mulher:
É possível observar que em relação aos agressores 100% deles possuem renda de no mínimo
mais de um salário. Já no gráfico abaixo é possível observar que em relação âs vítimas, 40%
não possuem renda e 40% possuem renda inferior a um salário mínimo.

É possível afirmar, portanto, que a vulnerabilidade econômica é um dos fatores que

fortalecem a violência contra a mulher, tendo nos mais de 4.000 casos observados no ano de
2020 uma incidência de violência muito maior em mulheres que não tem renda própria do
que entre aquelas que possuem essa autonomia financeira.
A categoria de classe em sentido econômico está relacionada à violência, entre outros
aspectos pelo que a socióloga Saffioti apresentou como:

"Haja vista o uso do patrimônio, que homens fazem para subjugar suas mulheres. A
ameaça permanente de empobrecimento induz muitas mulheres a suportar humilhações e outras
formas de violência” (SAFFIOTI, 2011)
Portanto, mesmo que a figura do tipo penal violência patrimonial não esteja diretamente
encontrada em todo caso de violência contra a mulher, o fato de a maioria das mulheres
vítimas de violência serem dependentes economicamente seja do agressor ou da família, é um
fator de caráter patrimonial que colabora e reforça a existência desse quadro de violência e
mesmo a permanência nesse ciclo.