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PANOCU ANO UM

#08 “FORTRAN”
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*neste ano não trataremos do “Signo Secreto”
Câncer
HORÓSCOPO ESPORTI- Todos os dias que você precisar sair mais cedo do trabalho, vai
chover. É melhor nem sair. Leve uma troca de roupa, deixe por lá.

VO PANOCU ANO UM* Se despeça de seus filhos uma última vez. Cor: Cinza.
Escorpião
por ducky Já ouviu falar em speed dating? Conheça o Speed Networking!
Áries Venha até um de nossos encontros, faça conexões com mais de
2 mil pessoas, sem nenhum motivo! Abra o LinkedIn num fim de
Esse ano você vai brilhar mais do que o próprio sol. Aproveite, tarde de Sexta-Feira, chame sua chefe para tomar umas a sós,
você precisará ser sua própria fonte de vitamina D, visto que vai isso é muito profissional! Cor: Roxo.
passar todos os dias no escritório. Cor: Amarelo (O sol é branco)
Touro Sagitário
Leia O Monge e o Executivo. Releia. Grife as partes que você gos-
Muito tempo em filas pelo ano todo, aproveite para ler livros, ta, cubra-as com glacê. Rasgue fora as partes que não dialogam
aprenda a investir. Você não está investindo? Todo mundo devia com seus preconceitos, dê para a sua namorada comer. Dividir é
investir. Como assim, “não tenho dinheiro”? Pare de ser pobre, conquistar. Cor: Branco.
seu pobre. Cor: Azul bebê.
Leão Capricórnio
Sua eficiência lhe renderá mais tempo na sala de descompressão,
Você já se encontrou em solidão tamanha que chegaria a con- mais tempo para questionar se existe progresso em trocar um
templar se alguém sentiria a sua falta se você só deixasse de sistema totalitário pelo neoliberalismo desenfreado. Seu gerente
existir? Haha! Nem eu! Compre o Saveiro com o qual você sempre ficará satisfeito ao reconhecer a sua eventual aderência ao micro
sonhou, este momento é seu. Venda o Saveiro, sua casa, sua mãe, dosing diário de opióides que ele também pratica. Cor: Azul.
use o dinheiro para investir em criptomoedas. Cor: Não.
Virgem Aquário, uma palavra: High stakes.
Você é um unicórnio. As pessoas te valorizam, te capitalizam, Peixes
escrevem textões no Medium sobre você. Mas está vindo o artigo Bom ano para inventar um produto inovador capaz de disruptear
matador na InfoMoney: “Não era tudo isso” - Antônio Versanutti o market de startups com seu know-how de design thinking e sua
(ou algum outro maluco com sobrenome gringola). Cor: Rosa. inteligência emocional. Comece seu pitch com “É como se fosse
Libra um UberTinder, NuWeWork, Décimo Quinto Andar… mas para um
público que não existe, que não quer esse serviço.” Cor: Laranja.
Você não sabe se sai da casa dos seus pais e contrata uma em-
pregada, ou se faz os seus pais se mudarem para perto do seu Gêmeos
trabalho? Por que não os dois?! Ligue agora e conheça PUBER, a O amor da sua vida virá de patinete elétrico. Infelizmente você
startup que oferece Parents As A Service (PAAS)! Dos mesmos o atropelará, a vida do amor de sua vida se esvaindo enquanto
criadores da “Pappi”, agora com novos métodos em maus-tratos seu corpo perde a força nos seus braços, no meio da faixa de
ao trabalhador. Cor: Bege. pedestre. Cor: Grin.
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ESPORTES COM PAULA FORTRAN


FUTEBOL DE ESGOTO
Eu trabalho cerca de 21 horas por dia, então Desde o desaparecimento de uma série de juízes (de futebol,
e outras categorias), e da visita de Leonice Arcoverde ao ainda
costumo tomar banho no vestiário a céu aberto ilhado Buracão da Bavária, pouco havia-se ouvido falar no
da redação. “Náuticos da Looca”, time não-looque que se estabeleceu após
Por dias eu notei um zumbido estranho emanando do ralo do chu- a misteriosa e infindável tempestade que se formou em torno do
veiro, até que decidi abrir e investigar. Com uma traquitana envol- estádio do Buracão.
vendo roedores e um megafone, consegui amplificar o som, vozes, Conforme eu me esgueirava pelo tortuoso encanamento mal-
que repetiam, “Confie em si mesmo… treinar o corpo é treinar a mantido pela subprefeitura, eu ouvia aquele familiar som do ralo
mente… seja sua própria bola… o futuro começa no agora…”. se aproximando.
Outros membros da redação se recusaram a apoiar minha investi- Eram os Náuticos, em uma encruzilhada do esgoto da Looca, trei-
gação, segundo Betinha Morton, repórter investigativa da Panocu, nando embaixadinhas entre ratos e baratas. “Coaching é melhor
“Ninguém é doido de tomar banho nessa água de esgoto, eu tenho que terapia! Você vai ver, é só se comprometer!” gritava um senhor,
casa! Você sai daquele chuveiro fedendo mais do que quando en- mais tarde identificado como um dos juízes desaparecidos. Os jo-
trou, Fortran!” gadores do Náuticos, ao notarem minha presença, me rodearam,
Quando Betinha formou a Milícia Improvisada Humanitária fascinados pela presença de uma “moça da superfície”. Alexandre
Looque (MILIMPHULO), vi uma oportunidade de investigar Goya, capitão do time, me explica entre grunhidos e confusas ges-
pessoalmente e em segurança as estruturas de saneamento do ticulações a situação do time: “a Tempestade está furiosa, quer
bairro da Looca. Enquanto as tropas destreinadas de Betinha consumir o mundo, nós fugimos pelo esgoto”, explica o filho do
apedrejavam uma lan-house, eu aproveitei para dar um pulinho na Goya do Atléticos, segundo o rapaz, o time sofreu mutações gené-
rede de esgoto e ver o que eu achava. ticas que os torna dependentes fisiológicos do futebol, e que sem
constante treinamentos, pereceriam, e daí surgiram os “futecoa-
ches”; dos juízes perdidos no Olho do Buracão, os mais resolutos
(dentre eles Alfredo Mourinho cuja jornada foi coberta pela Panocu
no começo do ano) foram tomados por intensas agências cósmicas
que os transformaram em abominações pseudocientíficas. “O que
lhe falta é resiliência! Você tem que valorizar essa oportunidade!”,
gritava outro juiz abestalhada para Jones “Bola”, que levava chu-
tes de dois chorosos jogadores.
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E xiste uma mentira perpetuada por meses


a fio nesta publicação. Junto com a minha
estabilidade financeira e paz de espírito, eu vou
estraçalhá-la. Ao contrário do informado pe-
las indiscretas forças regentes da Looca, Daniel
“Jinsoo” Miyura, o Criador, está vivo.
O poder liberto por Catatau Cabrão foi mera
fração do potencial d’A Máquina. Como ele
poderia saber? Burro pra cacete, mesmo com
sabedoria oculta do além-cosmo nas palmas das
mãos. Se não entendia liberdade civis básicas,
como entenderia as transmissões oriundas do
Olho do Buracão? Firmes e fortes, enquanto Jin-
soo ainda fazia suas jogadas do outro lado do
Véu. Agora que experimentamos o poder de sua
Todos os jogadores (exceto o Bola, que está na UTI), passaram criação, é impossível negar que o Criador seja ca-
brevemente por remendos na Clínica para Times Ori Santos paz de ir e vir entre as nossas realidades.
(CliTOriS). Como os jogadores despatriados não tinham para onde Essa outra dimensão, que chamamos “Tem-
ir, eu, Paula Fortran, decidi adotá-los, sou conhecida por ser uma pestade”, não pertence exclusivamente ao seu
boa mãe.
jovem inventor. Assim como Cabrão conseguiu
Os “futecoaches” permaneceram no esgoto, gritando com ratos e
uns com os outros, tentativas de trazê-los à superfície provaram- extrair o poder do Zeebo Jinsoo, outros, mais es-
-se fatais devido à sensibilidade ao sol desenvolvida pelos mes- tudados, também conseguirão. Única explicação
mos. Alfredo Mourinho, que sofreu leve desintegração, devastante para a tranquilidade que vivemos neste perío-
acidente de trabalho, deixa herança de 70 mil reais e uma lancha do de trégua. Não se enganem pelo silêncio dos
para os Náuticos, que ficarão na posse de sua guardiã legal até Bebês no G
recuperarem seus títulos de eleitor com registro biométrico. A redação da Panocu esclarece aos seus leitores que a jornalis-
ta Betinha Morton já não possui filiação alguma com nosso corpo
editorial. Todavia, a despeito de desligarmos seu computador en-
quanto escrevia tais barbaridades, não sabemos como retirá-las?
Fora a Sra. Morton, é só o Dalailama do Caralho, nosso garoto do
TI, quem sabia mexer direito no projeto da revista no InDesign.
Ele ainda está preso dentro do Zeebo-Startup, sinceras desculpas.
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TOP 4 SOLTEIROS
MAIS COBIÇADOS DA LOOCA
A Panocu não apoia qualquer espécie de mercantilização da população
looque, até porque se apoiasse não caberia na sessão de classificados.
Dito isso, seguem os quatro solteirões mais cobiçados do bairro.
4. Dalailama do Caralho
Filho de Paulo Geraldo, era visto entregando Panocus
de patinete antes de se tornar prisioneiro de um robô
gigante. Se você procura um homem estressado e
que vai te enrolar bastante, Dalailama é o cara. Sobre
o encontro perfeito, ele responde, “uma baladinha
rooftop”, infelizmente não sabemos o que isso quer
dizer.
3. Alexandre Goya
Recém-desnoivo, ex-jogador do Náuticos, o sonho de
quem prefere um parceiro que não fala bosta, nem fala
nada. Seu corpo escultural e charme de homem feio
levam alguns a suspeitar que ele venha acumulando
almas dentro do peitoral sarado. Sobre o presente
perfeito, Goya filho adoraria uma camisa branca re-
gata, já que esteve rasgado todas durante os treinos.
2. Paulo Geraldo Filho
Filho bastardo do Paulo Geraldo, é um homem
sensível. Gosta de Lana del Rey e de uma dose diária
da cachaça de acerola do bar do Vital. O parceiro
ideal para quem gosta de chorar assistindo filme de
herói e comédias românticas em redes de streaming.
Sobre o tipo ideal, Paulinho responde, “uma mistura
do Hugh Jackman com a Hebe Camargo”.
1. Zambino Zinco
Agradando gregos, troianos, e até cariocas, Zambino,
mais novo herdeiro da famiglia, frequenta a Augusta
e o Bar do Amigos, joga bola com o Atléticos e com o
time do Morumbi, seu personagem preferido da Tur-
ma da Mônica é a Magali. Sobre uma possível agenda
maligna por trás de sua aparente perfeição, Zambs
responde com um sorriso de canto e pede o meu zap.
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PAULA FORTRAN E OS RAPAZES EM: Foi na segunda-feira, dois meses após o furdunço da batalha dos

OLHO DO
Kaijus na Looca que começamos a receber cartas preocupantes.

“Panocu, eu ouvi uns barulhos esquisito na carcaça


daquele robô dos videogames, quando eu tava voltando a
faculdade. Quando que o caminhão da sucata vai vir bus-
car aquele robô gigante gentrificante?” - Ângelo, Rua C.

BURACÃO
“Nas últimas noites tenho sentido meus pensamentos
invadidos por dúvidas existenciais e metalinguísticas.
Também ouço Paulo Geraldo peidando aqui do lado, o que
atrapalha a clientela.” - Patrícia Soares, pipoqueira que
estaciona o carrinho na subprefeitura desde a batalha

P
contra Cabrão.
aulo Geraldo, redator de Bebês no Gerúndio da Panocu, foi
contratado um pouco antes de todos os outros que ainda tra- Foi por volta desses momentos que eu encontrei os Náuticos no
balham aqui. Ele não tem nada em comum com ninguém, e esgoto (pag. 4). Após pressioná-los por alguns minutos, consegui
muitas vezes não parece nem saber falar a mesma linguagem. que me admitissem que estiveram em contato com Paulo Geraldo.
“Sim, sim, é verdade. Paulo Geraldo passou as férias no
Buracão, essa é a verdade. Ele encontrou O Criador no
Olho do Buracão, e com a carcaça do Zeebo Jinsoo, apri-
sionou seu poder. Paulo Geraldo é Deus.” - Número Sete,
ex-jogador do Náuticos.
Tomei a única decisão sensata em uma situação de extremo pe-
rigo: mandei quem estava no banco, os Náuticos, para investigar
Grande parte da redação chega às 11h30, e senta para tomar um melhor o caso. “Destruam Paulo Geraldo se for necessário, ele foi
café. Eu tomo café preto, a Betinha, que não está mais conosco, longe demais”, eu disse, cansada desse velho se fazendo.
toma café com leite. Os estagiários mamam o café direto da ca-
feteira, é uma cena linda da natureza, a Editora Chefe toma café
puro: sem açúcar, e sem água; por volta das duas da tarde ela fi-
nalmente cria coragem para bater na porta do escritório do nosso
colega mais sênior.
Se Paulo Geraldo tem casa, eu nunca vi. Se ele foi casado, nin- Existem algumas tragédias que nem mesmo a maior publicação
guém ficou sabendo, ninguém nunca veio cobrar pensão dele aqui do bairro consegue descrever. Você, caro leitor, cara leitora, já se
no escritório, provavelmente o único que nunca passou por isso. perguntou numa tarde de verão ardido, às margens do rio Tietê,
Trinta anos aqui na redação, e eu nunca ouvi um pio sobre Lídimos enlatado num ônibus feito uma sardinha, como seria saltar na cor-
Parentes, Zeebo, startups na Looca… mas as coisas têm mudado. renteza fétida, banhar-se naquelas águas turvas?
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Enfileiradinhos, com seus corpos sarados e deformados, o time Editora Chefe: Paula, como você me perde um time inteiro, e agora
de mutantes partiu rumo à tempestade que cobre o estádio da quer perder outro?
Bavaria. Os Náuticos olharam para o Olho do Buracão, e o Buracão
Paula Fortran: Eu tenho um compromisso com o jornalismo. O
olhou de volta para eles.
jornalismo vive e morre no Olho do Buracão.
EC: Eu tenho um compromisso em manter viva alguma parcela do
meu quadro de funcionários!
PF: Pois é, cês demitiram a Betinha, os estagiários foram colocados
homines nautae, tibi placere memento mori em estado de hibernação pro fim da temporada, aquele cara lá que
fez a matéria de culinária apareceu um dia e nunca mais, e o Paulo
memento mori Geraldo, literalmente, É DEUS.
EC: Tá bom. Paula. Me fala, como você vai salvar o bairro de um
Deus? Com jornalismo, é? Com futebol?!

Dos onze jogadores, animados por finalmente saírem do banco,


só voltou um. Mas ele não era só ele. Em seus olhos, o brilho de
incontáveis almas. Náuticos tornou-se legião, um só corpo feito
receptáculo das vidas de todos consumidos pela tempestade. Onze
mais um milhão. Em suas mãos, um celular. No Zap, um áudio de PF: Talvez. Talvez o negócio seja resolver tudo na porrada. E com
46 minutos do Paulo Geraldo. jornalismo. E com futebol. Com um churrasco no domingo? Vai
saber! Ficar fazendo pergunta e não fazer nada só vai atrasar a
Panocu em dois a três meses!
Com a cabeça entre as mãos, a Editora Chefe respirava fundo.
EC: Então vai logo, Fortran. Vai logo, e não me volte aqui sem uma
matéria de quatro a cinco páginas.

A mensagem, ao meu nome, é um pouco repulsiva, meio violenta, Não me lembro muito bem de como foi a nossa chegada, ou de
extremamente rude e só um pouquinho erótica. A Editora Chefe como as coisas ficaram daquele jeito. Paulo Geraldo Filho, que
não autorizou sua transcrição na íntegra, mas o áudio dizia que estava lendo um gibi de luta japonês em um dos barzinhos na boca
Paulo Geraldo tornou-se uma entidade além do espaço e do tempo, do Buracão, relata seu testemunho:
capaz de e intento em desfazer a vida na Terra como a conhecemos.
“Eram umas sete da noite, eu ainda tava na terceira garrafa de
A Editora Chefe convocou assembléia de emergência com todos Dreher, não ligo de beber sozinho. Chegou um Monza preto com
os presentes no prédio, no caso eu, Paula Fortran, ela mesma, o três futeboleiros idosos, e uma moça. Aí chegou um Corsa pra-
indivíduo agora conhecido como Náuticos, e o time do Atléticos, do ta todo remendado, com mais três. Depois, chegou uma Brasília
qual sou atual proprietária, e que treinava golzinhos na copa. [...]” P.G.F. continua listando veículos por alguns parágrafos.
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“Então aquela galera toda ficou lá, olhando pro Buracão que nem Uma voz inconfundível trovoou pela tempestade.
uns tonto, que nem pôster de filme. Se eu achei estranho meu “Não tem problema derreter o meu cérebro. Eu não tenho cére-
pai não-assumido ter entrado ali uns meses atrás e assumido bro, eu não tenho nem pâncreas, nem olho, nem rim. Você bate
onisciência? Não, pô, normal, isso é normal, a gente fala isso por em mim, tá tudo oco.”
aqui. Isso é normal. Quando eu trabalhava com o meu irmão, o Era Sérgio Março Adorno, camisa 13, zagueiro estrela do
life coach da firma preparava a gente pra tudo. A senhora gritou Atléticos da Looca. Caolho, orgulhoso.
umas coisas pra tempestade (posso falar que é a senhora?), os
macho sarado deram um grito de guerra forçado, a tempestade, Presumo pelo bairro da Looca que ninguém gostaria de continuar
que nessa altura já tinha a cara do Paulo Geraldo, levantou a sen- questionando tanto as propostas e consequências filosóficas da
hora pelo pé, o auge, né? Ficou com aquela cara de bocó, não sei própria existência, ou se tornar um com os próprios vizinhos.
o que a senhora tava pensando não.” Foi com um bem colocado chute que Adorno fez um favorzinho à
população, um só pé na fuça de Paulo Geraldo foi suficiente para
Deveríamos publicar nossas experiências pessoais e tratar isso
como jornalismo? É possível atingir qualquer nível de obje- romper o crânio de sua forma física e dissipar a tempestade.
tividade no jornalismo? Existe oposto polar ao que nos tor- De dentro do hospital/marcenaria da Dona Laranja, eu concluí a
namos? Somos narrações confiáveis de nossas próprias vidas? última matéria da Panocu Ano Um. Tiveram que dar uns pontos
Existe amor em SP? Experiências traumáticas compartilhadas no meu joelho bom, e trocar a minha perna de pau por uma nova.
nos forçam mais próximos do que realmente somos? Futebol Os jogadores do Atléticos e o Náuticos me trouxeram adesivos de
pode ser uma forma de resistência ao mesmo tempo que é uma
emojis para colar na minha perna.
popular forma de entretenimento das massas de custo altíssi-
mo e capaz de causar danos irreparáveis à economia de nações Na quinta-feira, exatamente três dias após a batalha no Olho do
em crise? Se agarrar à iconografia bairrista em um mundo de Buracão, eu cheguei de manhã, bem cedo, no escritório da Panocu,
fantasia é um resquício do conservadorismo ou uma resposta cumprimentei o zelador, deixei a minha carta de afastamento na
rebelde ao isolamento inerente ao estilo de vida paulistano? mesa da Editora Chefe, sentei na mesinha da copa para um café.
“Aí os jogadores foram pra cima da senhora, e a senhora gritou Tal qual uma múmia saindo da tumba, de bigode e óculos escuros,
alguma coisa, que eu não ouvi.” lá estava ele, saindo da sua cabine de escritório: Paulo Geraldo.
Existem indivíduos em SP? Existimos, ou somos apenas com- Nesta altura eu não posso dizer que me surpreendi.
bustível para o calor da tempestade? Talvez devêssemos nos Ele me entregou a matéria dele pronta, num meio-metro de papel
render ao Olho do Buracão. Talvez tudo seja em vão. higiênico, se sentou do meu lado. Café preto.
Eu existo em SP? SP existe? A Looca? Os fenícios? A Panocu?
É o terrível fim de uma metrópole, ou o belo começo de um
deserto? Um deserto sem fim, de areia, sal, e medo. Medo de BEBÊS NO GERÚNDIO
começar tudo de novo. Eu existo aqui? Eu existo? Eu existo? Por Paulo Geraldo
Eu gritei para os jogadores, “Só sai de campo! Não tem mais Bebês entregando Bebês zoando
jogo! Ele vai derreter os cérebros de vocês!”, em vão, é claro. Bebês fundando Bebês cantando
Todos correram para a marcação de Paulo Geraldo, O Rebento, Bebês significando Bebês colhendo
Metalomaníaco. Fechei os olhos, pensava na última vez em que vi Bebês complicando Bebês descansando
a seleção jogar, pensava que talvez nunca mais fosse ver o Brasil Bebês sinucando Bebês partindo
quase ganhar uma copa de novo.
Arte da capa e “Patinho de Calça (sensacional)”
por @drontocore

panocu.minestore.com.br

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