Você está na página 1de 5

1

INTRODUÇÃO
Tome nota, novato.
Essas são a suas primeiras lições aqui na Agência.
(Raíssa Nunes, Diretora)

Arquivos Paranormais é um RPG, um jogo no qual 2 ou mais


jogadores se unem para contar uma boa história. Isso ocorre por
meio da interpretação de papéis de Investigadores, que tentarão
solucionar os Casos criados pelo Diretor, o responsável pelos
desafios, pistas e pela descrição do cenário do jogo.

Entretanto, isto não quer dizer que o Diretor joga contra os


Investigadores. Ele alimenta a ficção, desafia os jogadores e
apresenta problemas solucionáveis, sempre recompensando aqueles
que mais se ativerem às Minúcias que cada Caso apresenta.

Quanto aos Investigadores, sua meta é solucionar o Caso. Mas


isso não significa que a exploração de seus Dramas Pessoais,
Laços com os demais protagonistas e objetivos individuais serão
negligenciados, uma vez que as pessoas não são unidimensionais.

Mas que Casos são estes?

Em Arquivos Paranormais temos histórias que se passam na


Terra, o planeta de muitos de nossos leitores. Contudo, as tramas
que se desenrolarão sempre girarão em torno de Fenômenos das
mais diferentes espécies ‒ aliens, ocultismo, superciência, magia,
fantasmas, monstros, etc ‒ que agirão como uma mola que
impulsiona a ficção dos Casos. Neste contexto, as instituições
investigativas como a polícia não se envolvem com esses
Fenômenos, mas há uma instituição dedicada exclusivamente a
isto: a Agência. E é nela que os Investigadores trabalham.
2

Todos os jogadores interpretarão Investigadores que trabalham


nesta instituição ‒ a Agência. E ela é criada coletivamente na
primeira sessão de jogo. Após isto, o Diretor terá a
responsabilidade de criar os Casos que comporão a Temporada da
Série (sucessão de Casos) até seu clímax.

Tudo que você precisa para aprender a jogar está aqui neste livro. De
dicas simples para interpretação a exemplos de jogo, passando por
pequenos contos que indicam o clima que se pretende em Arquivos
Paranormais.

Falando em clima, pretende-se que o foco deste jogo seja a ação


investigativa sobre uma aura de suspense. A incerteza e o improvável
serão amigos dos jogadores de Arquivos Paranormais, ainda que
o Tom das sessões de jogo possa oscilar do Prosaico e Anedótico
com um padeiro alienígena viciado em bala de tamarindo ao
Profundo e Intenso, com o exorcismo visceral de um bebê
recém-nascido, trazendo à mesa de jogo tabus e dilemas éticos.

Haja vista que há uma miríade de Tons possíveis em uma narrativa


de fantasia urbana ‒ o gênero de Arquivos Paranormais ‒
teremos cautela para que o Protocolo de Segurança seja mantido
nos jogos.

Agora é hora de apresentarmos a estrutura deste manual de jogo.


Estamos na Introdução, o espaço que temos para apresentar um
bom resumo do que será apresentado nas próximas páginas. Após
isto temos o capítulo A Agência, onde apresentaremos a
metodologia de criação coletiva do cenário de jogo. Logo depois, em
Os Investigadores, trataremos da construção dos protagonistas
que serão interpretados pelos jogadores de Arquivos Paranormais. O
próximo capítulo chama-se O Sistema L’Aventure, que apresenta
de forma clara e concisa as regras do jogo. Em As Pistas nós
explicaremos como se dá a sequência investigativa nas sessões de
3

jogo. O capítulo seguinte intitula-se O Caso é dedicado ao Diretor,


explicando como criar e conduzir uma história. E aproveitando o
diálogo com o Diretor, temos em A Série o espaço para discutir o
desencadeamento de Casos tratados por uma mesma Agência. Por
fim, temos as fichas utilizadas como referência e as planilhas que
serão utilizadas pelos jogadores e pelo Diretor nos Anexos.

Para jogar Arquivos Paranormais é necessário, para além dos


participantes, a cópia dos Anexos que estão no final deste livro,
lápis, borrachas, ao menos 1 dado de 4, 6, 8, 10 e 12 faces
(disponíveis em lojas de RPG, livrarias e bazares), um local
confortável para jogar e disposição para vivenciar histórias de
investigação sobrenatural. Mas sabemos que ao término da leitura
deste manual de recrutamento à Agência você estará pronto. Bem,
você está substituindo um Investigador que não prestou atenção às
regras e teve aquele "acidente" em um Caso. Não queremos que isso
se repita, não é mesmo?

Informações Sigilosas: Por que Arquivos Paranormais?


Nosso objetivo ao criar esse jogo é explorar ficcionalmente os
Fenômenos que são fruto de especulação em nossa sociedade como
combustível aos Casos investigados por uma Agência. Optamos pelo
conceito Arquivos pois cada Caso será efetivamente arquivado pelo
Diretor, e temos toda uma preocupação estética em transmitir neste
livro algo como a documentação oficial de uma Agência. Quanto ao
conceito Paranormal, o consideramos mais preciso que sobrenatural,
uma vez que o segundo considera os eventos fora da normalidade
como superiores (sobre). Por Paranormal temos algo que está ao seu
lado (para), sempre ali, e por vezes até sustentando o que é tomado
como “normal”. A precisão do conceito Paranormal já ajuda a
compreender que os Fenômenos não são superiores, incríveis ou
potencialmente danosos à sociedade. Eles são hodiernos, por vezes
apenas ocultados pela Agência.
4

NA AGÊNCIA, DUAS DA MANHÃ, RIO DE JANEIRO

Nanci estava bem inquieta. Tentei puxar assunto com ela algumas
vezes até chegarmos à Agência. Ela ficou quieta o tempo todo. Mexia
no celular, jogava aqueles puzzles de doces, entrava em sites de
cobertura esportiva e xingava a notícia que confirmava que o gol que
seu time tomou era irregular. “Eu sabia! Estava impedido! Fomos
roubados outra vez!”.

Fiquei na minha, né? Nem reclamei do cigarro. Odeio cigarro. Meu


pai fumava e não tenho boas lembranças. Nanci aguardou a leitura
de minha retina. Achei estranho que ela não tenha feito a checagem
pelos olhos, mas sim usando uma amostra de seu sangue. Tentei dar
uma olhada quando ela colocou o dedo no dispositivo para coleta,
mas fui fulminada por um olhar reprovador.

“E então Fernanda, o que você conseguiu até agora?” Respondi


segura, pois sabia que tinha boas pistas: “O xenomorfo foi o
verdadeiro responsável pelas mortes. Todos no bairro relatam algo
um tanto monstruoso. Mas você sabe, associar isto a uma lenda
urbana é um pulo. Já falaram de homem do saco, assombrações…”

Passamos pelos três scanners e fomos higienizadas por vapores


estéreis. Ainda bem que mudaram a fragrância, já que lavanda me
causa enjoo. “Nanci, você gosta de sândalo?”, “Eu prefiro cerveja
preta.” Notei que seria algo um tanto difícil conviver com essa
parceira.

“Olá Investigadoras da Divisão 4. Já recebemos os dados da


investigação até o momento. Ah, esqueci de comentar que vocês
agora estão na mesma Divisão e são parceiras. Sei que trabalhavam
sozinhas, mas a Agência verificou seus dados e acredita que seus
serviços em conjunto serão mais eficientes que outrora. Tratem-se
com profissionalismo e respeito, e atenham-se ao Caso.”
5

NA AGÊNCIA, QUATRO E MEIA DA TARDE, BRASÍLIA

Corri como um louco tentando alcançar o demônio, mas não


consegui, já que estava atordoado. Nícolas se aproximou da lixeira e
se concentrou, tentando buscá-lo por meio de seus Poderes. Já Vó
Lúcia se abaixou e começou a conversar com Anacleto. Ela tinha
certeza que a rede de contatos de nosso Agente de apoio localizaria o
demônio em fuga. Mas era hora de dispersar a população, isso tinha
de ser feito de forma rápida. Anacleto foi liberto de sua coleira e
partiu. Tomei Nícolas pela mão e saí rapidamente do centro da cena.
Aguardei Vó Lúcia no carro e partimos para a Agência. Pouco tempo
depois falamos com a Diretora.

“Pequeno problema, Souza. Tivemos um contratempo inicial. Parece


que Eufradim, o demônio da lata do lixo do parque deixou de ser
suspeito. Ele é o cara que procuramos.”

“Muita calma, Tomé. Você está vendo culpa onde ela não existe. Eu
conheço seus métodos e tenho certeza que já chegou apertando o
demônio. Você acha que isso é coisa que se faça? Ele nem tem lugar
pra morar direito e aposto que chegou sendo truculento. Demônios
têm sentimentos, sabe? E o pior, veja bem essa confusão toda que
vocês criaram. Você acha que vai ser fácil limpar tudo isso?”

“Souza, que tal falar que era a gravação de uma novela ou filme de
ação?”, Vó Lúcia deu a ideia enquanto trocava mensagens com
Anacleto pelo celular.

“Você acha que o povo é idiota? Já usamos essa desculpa duas vezes
no último mês. Brasília não é Hollywood não, ainda que haja atores
profissionais no plenário.” É melhor que vocês tenham uma boa
ideia, já que os recursos estão escassos e a reputação de vocês já não
é das melhores aqui na Agência…

Você também pode gostar