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CENTRO ESTADUAL DE TEMPO INTEGRAL – CETI RAMA BOA

ÁREA DO CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS ( PORTUGUÊS)


PROFESSORA : GLEYCIANE MONÇÃO
ALUNO(A) _________________________________
SÉRIE 1° A
DATA ________/____/____________

Tecnologia

Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de


escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho
no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos
lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A
máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa.
Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou
precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente
ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele
responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação
aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como
aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado.
Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele
diz "Errado". Não diz "Burro", mas está implícito. É pior, muito pior.
Às vezes, quando a gente erra, ele faz "bip", Assim, para todo mundo
ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia
errava. E lá vinha ele: "Bip!" "Olha aqui, pessoal: ele errou." "O burro
errou!".
Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais
coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que
qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com
ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você
jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele
só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver
programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca
usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só
aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a
máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco,
jamais faria "bip" em público.
Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira
vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a
sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à
carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável
cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de
relacionamento, mais formal e exigente.
Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como
Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida
profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel
Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou
na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais
rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei
que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar
a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você
pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas
juro que é sincero.
Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela
primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que
ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. Que fato motivou o cronista a escrever sua crônica?

2. Essa crônica apresenta estrutura narrativa? Explique.

3. Que tipo de narrador aparece nessa crônica?

4. Marque a alternativa mais adequada em relação ao que o narrador faz


no texto.
a) Conta uma série de acontecimentos.
b) Explica um fato.
c) Argumenta a favor de um problema que é apresentado.
d) Faz uma reflexão sobre a situação apresentada.

Explique por que você escolheu a alternativa selecionada como correta.


Fúria no trânsito
Existe uma forma simples de avaliar o grau de evolução do ser
humano. Basta observar dois sujeitos após uma batida. Saem dos
veículos arrebentando as portas. Olhares ferozes. Torsos inclinados
para a frente. Mãos crispadas. Batem boca. Bastaria mudar o cenário,
trocar os ternos por peles e entregar um porrete para cada um.
Estaríamos de volta à pré-história, Poucas atividades humanas
despertam tanto o espírito selvagem como a guerra no trânsito.
Tenho um amigo de fala mansa, calmo e sensato. Outro dia estávamos
no carro. Chuviscava. O suficiente para que os carros entrassem numa
luta desenfreada no asfalto. Cortadas súbitas. Buzinas. Ele passou a
costurar por todos os lados. Fomos ao Morumbi Shopping. Havia uma
fila para o estacionamento vip (quem almoça em alguns restaurantes de
lá tem direito a manobrista gratuito).
- Um idiota está parado lá na frente - ele anunciou.
- Por que idiota? Você não sabe o motivo ... - comecei a dizer.
Não pude terminar a frase. Agarrei-me ao banco. Ele atirou o carro para
a direita. O da frente fez o mesmo. Para não bater, meu amigo jogou o
seu sobre o canteiro. Veio a pancada. O pneu arrebentou. O veículo
parado mexeu-se, vagarosamente, e partiu. Meu amigo esbravejou.
Trocou o pneu. Depois foi a uma borracharia, onde acabou brigando
também. Passou o resto do dia num humor de cão. Telefonou:
- Tudo por culpa daquele imbecil!
Argumentei:
- Você não sabia o motivo de o carro estar parado. A pessoa podia estar
se sentindo mal. Pense. Por causa de alguém que não conhece, você
quase amassou o carro, arrebentou seu pneu e está furioso. Como
permite que um desconhecido faça tudo isso com você?
Silêncio sepulcral. Depois, ouvi um clique do telefone sendo desligado.
Costumo dirigir devagar. Quando vou para o Litoral Norte é uma
tortura. A estrada só tem uma pista, com muitos locais de ultrapassagem
proibida. Tento me manter na velocidade exigida pelas placas. Adianta?
Alguém sempre gruda em mim. Volta e meia, quando ultrapassam, ouço
me xingarem.
Nestes tempos politicamente corretos, já não se ouvem tantos gritos do
tipo:
- Ô dona Maria, vá pilotar fogão!
Entretanto, existe, sim, um preconceito contra mulher ao volante.
Confesso que também já tive. Hoje, às vezes passo por uma senhora
dirigindo em paz. Alguém do meu lado reclama:
- Olha lá, empatando o trânsito. Só podia ser mulher.
Lembro que as seguradoras costumam cobrar menos de motoristas do
sexo feminino. Causam menos acidentes. Há algum tempo uma amiga
bateu em uma moto. Teve de se trancar no carro enquanto um bando de
motoqueiros solidários com o acidentado chutava seu carro. Foi
resgatada pelo socorro. Detalhe: o culpado era o motoqueiro. Ninguém
se machucou. Ela voltou para casa apavorada.
Soube de um rapaz que certa vez foi fechado numa grande avenida.
Gritou:
- Safado, você vai ver!
Seguiu atrás, buzinando. O outro tentava fugir, ele perseguia. Deu uma
superfechada, obrigando o carro a parar. Saiu furioso, pronto para a
briga. Aproximou-se.
No banco do motorista estava uma senhora idosa, tremendo de medo.
Ele caiu em si.
- Parecia que eu estava em um filme, me assistindo.
Gaguejou. Pediu desculpa. Partiu.
No dia seguinte, vendeu o carro.
- Não confio em mim mesmo ao volante. Eu me torno outra pessoa.
Prefiro não dirigir.
Claro que não é uma receita para todo mundo. Para ele, funcionou.
Anda de ônibus, táxi ou metrô. Sente-se feliz. Como se tivesse
abandonado a pré-história e, finalmente, ingressado na civilização.

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. A crônica narra um flagrante da vida no cotidiano, e o fato


relatado pode ser verídico ou fictício.

a) Observe que a crônica em estudo apresenta uma certa dose de


humor, em razão do conteúdo abordado. Em que fato do dia a dia
o autor se inspirou?

b) Qual é a crítica feita pelo cronista no primeiro parágrafo do texto?

2. É comum haver trechos descritivos inseridos em narrativas.


a) O que o narrador visou destacar na descrição presente no primeiro
parágrafo?

b) Em sua opinião, há exagero quando o narrador compara o


comportamento dos que dirigem com violência a seres humanos
da pré-história? Esclareça sua resposta.

c) Apesar de a cena descrita apresentar características que não traduzem


propriamente o humor, que trecho nos parece cômico?

3. A partir do segundo parágrafo, o narrador passa a contar o caso


real de um amigo, que serve de exemplo para o que ele afirmou
antes.
a) Observe que, segundo o narrador, o amigo tinha um temperamento
tranquilo. Como se explica a mudança de atitude desse amigo ao dirigir
o carro?
b) Há pessoas que, mesmo sendo controladas, assumem um
comportamento diferente ao volante. Por quê?

4. No diálogo inicial entre os dois amigos, é possível perceber a


irritação do motorista.
a) Por que a reação dele e do motorista do carro à frente parece
engraçada?
b) Mesmo com um passageiro no carro, o amigo continua agressivo na
direção e se enfurece ao colidir e estragar o pneu. O que o narrador quer
demonstrar ao relatar as consequências da batida?
c) Nem mesmo o argumento do narrador consegue acalmar o amigo. As
considerações que ele faz, na conversa com o motorista, lhe parecem
sensatas? Esclareça sua resposta.
d) O próprio narrador conta suas experiências como motorista. Ao
contrário do amigo, ele dirige dentro dos limites de velocidade, mas isso
parece irritar outros motoristas. O que você pensa a respeito dessa
atitude de os motoristas pressionarem aquele que dirige dentro dos
limites?

5. Apesar de ter diminuído, o preconceito contra a mulher no trânsito


continua existindo. De acordo com o texto, que fato toma evidente que
as mulheres são competentes ao dirigir?
6. Outro fato narrado na crônica em estudo se refere à atitude desastrada
de um jovem motorista, ao ser fechado pelo carro de uma idosa. A
decisão de abandonar o volante, tomada por ele após essa situação,
constitui uma medida adequada ou radical? Justifique sua resposta.

7. No texto, foi empregada a norma culta da língua, mas há momentos


em que prevalece a informalidade. Dê exemplos e explique o emprego
da linguagem informal na crônica.

8. A crônica pode estar mais próxima da literatura - e nesse caso a


linguagem é subjetiva, pessoal- ou do jornalismo - quando a linguagem
é mais objetiva. Na crônica em análise, os fatos são narrados de maneira
mais literária ou jornalística? Esclareça sua resposta.

9. Ao criar seu texto, o cronista tem um ou mais objetivos. Identifique


o(s) objetivo(s) dessa crônica.
( ) Explicar o comportamento humano.
( ) Divertir ou entreter o leitor.
( ) Alertar o leitor sobre situações perigosas.
( ) Fazer o leitor refletir criticamente sobre a vida.

10. Ao registrar uma situação do cotidiano de forma simples, coloquial


e breve, o narrador não só produziu humor, como também fez uma
crítica social. Como se pode confirmar essa característica na crônica em
estudo?

Meio-dia e meia

Acho muito simpática a maneira de a Rádio Nacional anunciar a


hora: "onze e meia" no lugar de "vinte e três e trinta" [...]. Mas confesso
minha implicância com aquele "meio-dia e meia".
Sei que "meio-dia e meio" está errado; "meio" se refere a hora e tem de
ficar no feminino. Sim, "meio-dia e meia". Mas a língua é como a
mulher de César: não lhe basta ser honesta, convém que o pareça.
Aquele "meia" me dá ideia de teste de colégio para pegar estudante
distraído. Para que fazer da nossa língua um alçapão?
Lembrando um conselho que me deu certa vez um amigo boêmio
quando lhe perguntei se certa frase estava certa ("Olhe, Rubem, faça
como eu, não tope parada com a gramática: dê uma voltinha e diga a
mesma coisa de outro jeito") [...] Aliás, a língua da gente não tem
apenas regras: tem um espírito, um jeito, uma pequena alma que aquele
"meio-dia e meia" faz sofrer. E, ainda que seja errado, gosto da moça
que diz: "Estou meia triste..." Aí, sim, pelo gênio da língua, o "meia"
está certo.

1. Explique o que o cronista quis dizer com este trecho: "a língua da
gente não tem apenas regras: tem um espírito, um jeito, uma pequena
alma que aquele 'meio-dia e meia' faz sofrer",

2. Identifique, entre os itens abaixo, os que estão redigidos não de


acordo com as regras da variedade padrão, e sim conforme "o espírito,
a pequena alma da língua". Justifique sua (s) escolha (s).

a) Depois do jantar, restaram sobre a mesa duas meias garrafas de vinho


e bastantes frutas e doces.
b) Este ano a viagem foi bem tranquila; tinha menas pessoas nos ônibus,
porque quase ninguém viajou no feriado.
c) A velhinha segurou o pacote que o rapaz estava lhe dando e disse:
" — Muito obrigado, moço; deixei cair porque estava muito pesado".
d) As viagens baratas de avião tornaram possíveis os sonhos de muitos
brasileiros.
e) Durante estes últimos meses, ela veio bastante vezes passear aqui em
casa.

OBSERVAÇÃO

RECEBEREI DIA 10/05/2022A ATIVIDADE JÁ RESPONDIDA


NÃO RECEBEREI OUTRA DATA A NÃO SER QUE APRESENTE
ATESTADO

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