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A mitologia branca: a

metáfora no texto
filosófico
Jacques Derrida
Apresentação: Rafaela Vianna
A metáfora no texto filosófico
“(..)existirá a metáfora no texto filosófico? Sob que forma? Até que ponto?
Será essencial? Acidental? etc”

- reflexões que se aproximam do pensamento de Blumenberg → o


dicionário de termos filosóficos, a relevância da metáfora
Jardim de Epicuro - diálogo entre Aristo e Poliphilo
- a ideia da usura, da moeda que perde seu valor como moeda e se torna
puramente metal:
“Os dois interlocutores conversam precisamente sobre a figura sensível que
se acolhe e que se usa, até passar despercebida, em cada conceito metafísico.
As noções abstratas escondem sempre uma figura sensível. E a história da
língua metafísica confundir-se-ia com o apagamento da sua eficácia e a usura
de sua efígie, A palavra não é pronunciada mas pode-se decifrar a dupla
dimensão da usura: o apagamento por fricção, por esgotamento, por
esterilização, é certo, mas também o produto suplementar de um capital, a
troca que, longe de perder a entrada, faria frutificar a riqueza primitiva,
acrescentaria a paga sob a forma de lucros, de acréscimo de interesse, de
mais-valia linguística, permanecendo as duas histórias do sentido
indissociáveis.” (p.250)
Jardim de Epicuro - diálogo entre Aristo e Poliphilo
“POLIPHILO: Era apenas um sonho. Sonhava que os metafísicos, quando se
utilizam de uma linguagem se parecem [imagem, comparação, figura para
significar a figuração] com os amoladores que, em vez de facas e cinzéis,
passariam à pedra-de-amolar medalhas e moedas, para apagar o exergo, o
milésimo e a efígie. Quando, depois de o terem feito, já não se vê sobre as
peças de cem sous nem Vitória, nem Guilherme, nem a República, eles dizem:
‘Estas peças não têm nada de inglês, nem de alemão, nem de francês;
retiramo-las do tempo e do espaço, já não valem cinco francos, são de um
preço inestimável, estendendo-se o seu curso infinitamente.’ Eles têm razão
para falar assim. Através desta indústria de amola-tesouras, as palavras
passam do físico para o metafísico. Vê-se, em primeiro lugar o que elas aí
perdem; não se vê imediatamente o que é que elas ganham com isso.”
(p.250)
A ideia do palimpsesto
“Ainda que a metáfora metafísica tenha fornecido todo o sentido de cima para
baixo, ainda que tenha apagado pilhas de discursos físicos, dever-se-ia
sempre poder reativar a inscrição primitiva e restaurar o palimpsesto.” p. 252

“Mitologia branca — a metafísica apagou em si própria a cena fabulosa que a


produziu e que permanece todavia ativa, inquieta, inscrita a tinta branca,
desenho invisível e recoberto no palimpsesto.” p.254

- palimpsesto: papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado,


para dar lugar a outro
A metafísica: a mitologia branca?
“A metafísica — mitologia branca que reúne e reflete a cultura do Ocidente: o
homem branco toma a sua própria mitologia, indo-europeia, o seu logos, isto
é, o mythos do seu idioma, pela forma universal do que deve ainda querer
designar por Razão.” P.253
Maleness, metaphor and the “crisis” of reason
- artigo de Genevieve Loyd, publicado no livro A Mind of One’s Own:
Feminist Essays on Reason and Objectivity
- relação com “A metáfora branca”: citado muitas vezes no artigo, o texto
de Derrida é usado para mostrar como metáforas são constitutivas do
pensamento filosófico ocidental, não como mero ornamento, para
analisar as implicações das metáforas de “masculinidade” e “feminilidade”
presentes na história da filosofia
A metáfora da mente em movimento em Descartes
- The metaphor of the mind in motion is so familiar to us — so inextricable from
our thought about thinking — that it is difficult to see how we could shed it. It is
a basic metaphor, like those drawn from the bodily senses, which Derrida
discusses in “White Mythology” — so much part of our thought that it can be
difficult to see that they are metaphorical at all.

- A metáfora da mente em movimento é tão familiar para nós — tão inextricável


do nosso pensamento sobre o pensar — que é difícil ver como desfazê-la.
Trata-se de uma metáfora básica, como aquelas tiradas dos sentidos corporais,
as quais Derrida discute em “A mitologia branca” — tão inerente ao nosso
pensamento que pode ser difícil até mesmo identificá-la como metafórica.
A contingência da metáfora
Our difficulty in thinking of thought without the idea of activity can make it
appear that activity is the essence of thought, as if we had something that
does not rest on the contingency of metaphor. But perhaps such
impossibilities are always retrospective. Derrida has shown in “White
Mythology” that the metaphors through which we describe thought itself are
particularly difficult to think away. But his approach also stresses the
contingency of metaphors, even those we cannot shed. The insight into
contingency that comes with awareness of operations of metaphor gives us
valuable understanding of our ways of thinking, even where we cannot begin
to articulate what it would be like to think otherwise. p.86
A contingência da metáfora
- pensar a metáfora como contingente, mas não insuficiente ou superável
pela metafísica e pela razão “pura”:
Nossa dificuldade em pensar sobre o pensamento sem a ideia de atividade
pode fazer parecer que atividade é a essência do pensamento, como se
houvesse algo que não se baseia na contingência da metáfora. Mas talvez tais
impossibilidades sejam sempre retrospectivas. Derrida mostrou em “A
mitologia branca” que as metáforas através das quais nós descrevemos o
pensamento em si mesmo são as mais difíceis de se livrar. Todavia, sua
abordagem também insiste na contingência das metáforas, mesmo daquelas
que não podemos desfazer. O insight sobre contingência que vem com uma
consicência das operações da metáfora nos fornece um entendimento valioso
de nossas formas de pensar, mesmo quando não podemos sequer começar a
articular como seria pensar de outra forma.
Referências bibliográficas
DERRIDA, Jacques. A mitologia branca. In: Margens da filosofia. Campinas:
Papirus Editora, 1991.

LOYD, Genevieve. Maleness, metaphor and the ‘crisis’ of reason. In: A mind of
one’s own: Feminist Essays on Reason and Objectivity. New York: Routledge,
2001.

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