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abordagens e perspectiva desenvolvidas por ele, tais como a importância que dá a
comunidade, à virtude, à tradição, como veremos mais adiante.
Macintyre, já se casou três vezes, isto é, de 1953 à 1963 era casado com Ann
Peri com a qual tinha duas filhas, de 1963 à 1977 com Suzann Williams, com a qual
teve um filho e uma filha) e por fim casou com a Lynn Sumida Joy, com a qual vive
actualmente no Reino Unido com sua família.
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No que concerne a sua formação secundária, segundo Gonçalves (2007, p. 11)
Macintyre frequentou-a em escolas privadas, nomeadamente o Epson College, uma
instituição de classe média, sediada nos subúrbios de Londres, em Surrey, destinada a
educação de filhos de médicos. Por razões de saúde, não concluiu de forma regular a
mesma, tendo em conta que dos cinco anos que duraria o ensino secundário, frequentou
apenas aproximadamente quatro, tendo-os completado pelo auxílio de tutores
particulares, dos quais Robin G. Collingwood (na altura estudante em Oxford), que o
introduziu no pensamento de John Ruskin desempenhou um papel de destaque. Desta
forma, para Macintyre, esses dois autores, foram duas influências preponderantes na
construção do seu pensamento.
Nessa ordem de ideias, é importante referir que aos dezasseis anos, o Queen
Mary College da University of London( universidade de Londres), admitiu-o para o
primeiro ciclo dos seu estudos universitários visto que já se havia revelado um aluno
promissor e aí cursou um bachelor of arts (bacharelato em artes) em humanidades
clássicas, estudando neste programa sobretudo a leitura de obras de Platão e Aristóteles
e ao estudo do Grego, Latim e Matemática concluindo assim em 1949, e é durante a sua
permanência no Queen Mary College que desenvolveu o seu interesse profundo por
questões filosóficas e em destaque as questões éticas (GONÇALVES, 2007, pág.12).
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bases sólidas para as suas actividades posteriores, como professor e escritor de renome
na actualidade.
Dessa feita, o nosso autor recebeu uma gama de influências, desde a educação
familiar nos elementos fundamentais da cultura do seu povo, da educação religiosa no
cristianismo, como mencionamos anteriormente, do Marxismo, da psicanálise, da
Filosofia analítica e finalmente do Aristotelismo e Tomismo.
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Desta feita, não seria estranho esperar que desenvolvesse uma concepção ou
apreciação superficial e por conseguinte negativa em relação ao cristianismo. No
entanto, é a partir da terceira influência proporcionada pela leitura da Rerum Novarum
que compreende adequadamente a doutrina cristã.
Por outro lado, precisamos salientar que outra ocasião que permitiu reforçar a
influência do cristianismo em Macintyre é a aproximação ao tomismo, pois não é
estranho que a leitura de Tomás de Aquino o ajudasse a solidificar o seu interesse pelo
cristianismo e a sua compreensão cada vez melhor, embora não fosse esse o objectivo
principal que o tivesse feito mergulhar no tomismo.
Por fim, interessa ressaltar que, Macintyre durante a sua formação universitária
no Queen Mary College (Q.M.C), integrou-se em grupos de actividades ecuménicas
como o Christian Estudant movement, tendo frequentado o mesmo grupo em
Manchester e ainda envolveu-se também em grupos informais de amigos interessados
em discussões sobre o Cristianismo, sendo que neste período, muitos deles passaram a
professar a fé da igreja católica romana (GONCALVES, 2007, pág. 13).
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Marry College encontrara um professor que militava no Partido Comunista, através do
qual solidifica a sua pertença ao mesmo, pois, durante os estudos universitários,
MacIntyre também conheceu Edward Thompson, historiador e igualmente adepto da
teoria marxista. Tanto MacIntyre quanto E. Thompson defendiam um marxismo com
ênfase humanista e combatiam a visão dogmática de um marxismo stalinista presente no
Partido Comunista Britânico. (BRUGNERA, 2015, p. 24).
Desta feita, podemos entender que é a partir daí que Macintyre perde seu
interesse pelo cristianismo e envereda mais afincadamente pelo Marxismo. Por outro
lado, o autor descobre semelhanças entre o cristianismo e o marxismo, pois, uma e outra
procuram oferecer uma explicação da existência humana. E isso pode explicar o motivo
que fez com que o autor depois de abandonar o cristianismo abraçasse logo o
Marxismo. Porém, a diferença entre os dois sistemas é que o cristianismo o faz desde
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uma perspectiva teocêntrica, já o Marxismo compreende a existência humana a partir de
um pressuposto antropocêntrico (secularizado), socio-histórico.
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profissional, ela é uma forma de tratamento psicológico (análise da mente) que visa à
cura pela palavra ou o autoconhecimento. (CASTRO, 2012, p. 33).
Nesse sentido, nosso autor considera que a relação do inconsciente com termos
como neuroses, traumas, repressão…constitui uma novidade por parte de Freud, pois,
«o estudo do inconsciente expressa uma inovação conceitual, pois, a tarefa do
psicanalista é a de ajudar seu paciente a admitir seu presente e seu passado, trabalho
realizado mediante o recurso de analogias entre sua conduta adulta e possíveis situações
da infância». Claramente, o que interessa aqui ao autor (Macintyre), é a importância da
história (passado) na determinação ou explicação do comportamento da pessoa, sendo
que nas suas abordagens Macintyre coloque muito em realce a importância da história
na compreensão dos factos sociais e da própria moral.
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No que respeita ao método freudiano, prende a atenção do nosso autor a relação
de interdependência que existe entre os conceitos “freudianos”, uma vez que só assim é
que se pode compreender devidamente a abordagem do mesmo. Nesse sentido, para
Macintyre, «o mérito de Freud foi o de ter desenvolvido um trabalho que visa à
compreensão da totalidade do comportamento humano e não o mero estudo de
fragmentos comportamentais». (BRUGNERA, 2015, p. 30).
uma expressão que pode ser entendida pelo menos de dois modos: em um
sentido mais amplo, significa uma maneira de se fazer filosofia recorrendo-se
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ao método analítico para o tratamento das questões filosóficas. Em um
sentido mais específico e historicamente determinado, a filosofia analítica é
uma corrente filosófica que adopta o método analítico e surge ao final do
século XIX, desenvolvendo-se ao longo do século XX até os tempos actuais,
caracterizando-se assim como uma das principais correntes do pensamento
contemporâneo.
Nesse sentido, «em termos gerais, a filosofia analítica pode ser caracterizada por
ter como ideia básica a concepção de que a filosofia deve realizar-se pela análise da
linguagem» (MARCONDES, 2004, p.12).
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A segunda, referida nos “meados dos anos 60”, baseia-se essencialmente na
tendência da filosofia analítica da “separação entre metodologia das suas pesquisas e o
estudo da história da filosofia”, pois de acordo com Macintyre,
Foi durante a última fase da minha militância analítica, por volta de meados
dos anos 60, que me dei conta de estar elaborando uma estratégia nova de
pensamento. Sobretudo me dei conta de uma segunda fraqueza da filosofia
analítica, que residia na separação entre metodologia das suas pesquisas e o
estudo da história da filosofia, de modo que a própria filosofia analítica só
podia ser compreendida se inserida num contexto histórico e, portanto,
entendida como produto inteligível de uma argumentação compartilhada
(BORRADORI, 2003, p. 199).
Todavia, embora se afirme que Macintyre por algum tempo foi filósofo
analítico, é necessário clarificar, que o foi apenas no que se refere à linha de
pensamento na qual fez a sua formação e algumas obras relativas ao momento pré-
maturidade, ou ainda, antes de constituir o seu projecto filosófico definitivo.
Outrossim, não obstante à crítica acertada que o autor faz à filosofia analítica já
apresentada, importa-nos salientar que Macintyre não se afasta totalmente da mesma,
uma vez que no seu pensamento, encontram-se marcas de um dos maiores filósofos
analíticos contemporâneos, Ludwing Wittgenstein. De acordo com Carvalho (2013, p.
308), há certa similaridade entre Wittgenstein e MacIntyre no tocante ao conceito
macintyreano de prática com os conceitos de jogos de linguagem, forma de vida e
semelhanças de família, como podemos observar no que segue:
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as coincidências em nossa maneira de nomear as cores dentro de uma cultura
são compatíveis com os desacordos significativos entre culturas sobre essa
mesma questão. (BRUGNERA, 2015, p.31).
Portanto, vale salientar, que uma das diferenças significativas entre MacIntyre e
Wittgenstein é a de que MacIntyre está preocupado com a desordem da linguagem
moral contemporânea como consequência de uma história de decadência da práxis
moral concreta e de suas formas de justificação a partir da modernidade iluminista, não
realizando uma crítica da linguagem moral como tal. (BRUGNERA, 2015, 32).
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Gonçalves (2007, p. 236) refere também, que especialmente nas obras Whose
Justice? Which Rationality? (1988) e Three Rival Versions of Moral Enquiry (1990),
posteriores a After virtue (1981), MacIntyre se aproxima do pensamento de Tomás de
Aquino, apontando-o como adaptador do pensamento aristotélico, por meio da
reformulação e ampliação deste através do estabelecimento de uma pesquisa dialética
que possibilitou o diálogo entre a tradição aristotélica e a agostiniana – tradições
originariamente rivais – construindo, sistematicamente, um complexo esquema de
pensamento e solidificando uma nova tradição de pesquisa.
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É importante saber que o comunitarismo é uma corrente filosófica e política que
emergiu nos anos 80 nos países liberais anglo-saxões, principalmente, surge como
reação aos excessos do individualismo liberal que se havia implantado na Europa
naquela época e que provocou uma verdadeira privatização da vida social e
consequentemente a deterioração da vida pública, tornando a actividade política algo
meramente instrumental, criando uma vida burocrática, centralizada e altamente
individualista (COSTA, 2010, p. 30).
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Contudo, Carvalho (2014), apresenta duas razões pelas quais Macintyre não
pode ser considerado “comunitarista” no stritus sensus do termo: primeiro porque a
referida corrente não apresenta por si mesma um valor intrínseco positivo e em segundo
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tarde em “Justiça de Quem? Qual a Racionalidade”, mergulha no tomismo como
ampliação to aristotelismo e se assume como aristotélico tomista, autores em cujo
pensamento vê a solução para os grandes e graves problemas criados pelo pensamento
moderno.
1.4.2 Obras de Macintyre
Para melhor abordagem das suas obras, decidimos dividí-las de modo geral em
dois grupos principais. No primeiro grupo destacamos as que foram escritas no período
pré-maturidade e no segundo grupo enquadramos aquelas denominadas obras da
maturidade, que constitui como ele mesmo chama do seu “projecto filosófico
definitivo”, constituindo três obras fundamentais: After Virtus (Depois da Virtude),
Who Justice? What Rationality? (Justiça de Quem? Qual Racionalidade?) e finalmente
Tree Rival Version of Moral Enquary (Três Versões Rivais da Moral).
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isto porque, primeiramente a sua perspectiva era simplesmente de interpretar doutrinas e
ideologias com as quais convivia e não só.
Depois de termos apresentado a primeira parte, por assim dizer dos escritos de
Macintyre, na segunda parte, conhecida como escritos da maturidade, aquilo que muitos
autores denominam como Projecto Filosófico Central (Definitivo) de Macintyre.
Desta feita, apresentaremos uma súmula destas três principais obras do autor e
com maior rigor e profundadidade, porque é nelas que consta o cerne do seu
pensamento filosófico.
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A obra Depois da Virtude escrita em 1981, é para Cardoso(2010, p. 9) a primeira
parte de uma série de três livros nos quais MacIntyre vai, aos poucos, corrigindo e
reformulando sua argumentação, mediante a consideração das críticas feitas e de sua
reflexão própria. As demais obras da sua trilogia seriam Justiça de quem? Que
racionalidade? (1988) e Três versões rivais da investigação moral (1990).
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unidade narrativa da vida humana e tradição. Em capítulos posteriores,
expõe ainda sua avaliação da justiça como virtude, retomando a
interpretação dicotômica em Nietzsche e Aristóteles e acrescentando
mais um contraponto entre Trotsky e São Bento, como conclusão.
Por fim, na obra Three Rival Of Moral Enquiry: Encyclopedia, Genealogy, and
Tradition (1990) (Três Versões Rivais da Ética: Enciclopédia, Genealogia e Tradição)
o autor apresenta uma defesa da racionalidade prática de inspiração aristotélico-tomista.
Nesta obra, Macintyre apresenta soluções para a situação catastrófica da modernidade
diagnosticada em “Depois da Virtude”, pois, segundo MONTEIRO (2016, pp.27-28)
Outra obra não menos importante que precisamos referenciar e que segundo
consta tem como seu testamento intelectual, é a Dependent Racional Animals(1999)
(Animais Racionais Dependentes) obra onde corrige, esclarece e desenvolve os
argumentos das obras anteriores ( GONÇALVES, 2007, pág. 21). Segundo ROSA (2 p.
9 ) é nesta obra na qual Macintyre retrata a sua antropologia filosófica, trazendo à tona o
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problema da dependência humana no interior da reflexão moral. Para o autor, o
entrelaçamento dos conceitos de animalidade humana, bem natural e virtude apresentam
um tipo de relação entre o ser humano e a natureza que requer um conjunto de virtudes
inteiramente reformulado e diferente daqueles até então discutidos por Macintyre. Esse
novo conjunto de virtudes está fundamentado num modelo que implica o
desenvolvimento das virtudes como responsabilidade compartilhada. Por outro lado,
para MONTEIRO (2016, p.29) «em Dependent Rational Animals (1999) explora-se a
noção de “florescimento” e procura-se compreender o papel das virtudes na existência
humana».
Por outro lado, elas apresentam pontos de afastamentos, na medida em que cada
uma tem uma abordagem na qual se centra, sendo que Depois da Virtude desenrola-se
em torno da crise em que se encontra o pensamento moderno e contemporâneo e sua
proposta de solução com a recuperação do pensamento aristotélico-tomista; Justiça de
Quem? Qual a Racionalidade centra-se nos temas de justiça e raciocínio prático, ao
passo que Três Versos Rivais da Ética trata especificamente das diferentes versões de
ética desenvolvidas ao longo da história e das suas divergências e incompatibilidades;
finalmente, em Animais Racionais Dependentes, aborda-se o tema da antropologia
Macintyreana que enfatiza a virtude como aspecto fundamental da essência humana.
Ensuma, importantente reiterar que desde 1977, Macintyre dedicou-se num novo
e uno projecto, afincado nas suas reflecções sobre as inadequações dos seus trabalhos
anteriores, dizer que o objectivo do seu projecto é buscar um esquema de pensamento
que permite sobretudo encontrar soluções para os problemas morais das sociedades
contemporâneas ocidentais. São de realce as contribuições para a história da filosofia,
para a filosofia moral, para a teoria politica, para a filosofia das ciências sociais e para a
filosofia da religião, sob influencias fundamentais das obras de Aristotéles e S. Tomás
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de Aquino, sem deixarmos de mencionar as influências de Hegel , Collingwood e
Wittgenstein e não só (GONÇALVES, 2007, pág. 21).
Nesse sentido, embora sejam obras diferentes, o compêndio dessa trilogia, nos
apresenta de forma contundente e aprofundada a essência do projecto definitivo dos
escritos de Macintyre, que revela o seu momento de amadurecimento como pensador, o
diagnóstico que faz da modernidade e o seu posicionamento relativo aos problemas
gerados pelo pensamento moderno e contemporâneo, seguido da proposta de solução
dos mesmos.
Desta feita, concordamos com Monteiro (2016, p. 29), segundo o qual Alasdair
MacIntyre é um dos filósofos contemporâneos que reúne mais simpatizantes, ou, pelo
menos, um dos grupos de simpatizantes mais heterogéneos. Reclamado por marxistas,
católicos, aristotélicos, tomistas, relativistas, conservadores, liberais, mais à esquerda e
mais à direita, a sua crítica da modernidade e da filosofia moral contemporânea
dificilmente deixa indiferentes aqueles que lêem os seus ensaios.
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científicos, temas de trabalho de fim de cursos, desde licenciatura até ao doutoramento,
em que um dos representantes do pensamento de Macintyre no Brasil é o Doutor Helder
Buenos Aire de Carvalho, professor… Por outro lado, na Europa o pensamento do
nosso autor teve maior e melhor recepção em países como Inglaterra, Espanha, Portugal
e tantos outros países. Finalmente, Aqui em África e especificamente em Angola e
nessa academia (ISDB) a perspectiva Macintyriana floresce, embora timidamente, e
teve como seu mentor o professor de Filosofia Política e Ética, Padre Ramon Uria SDB
desde o ano de 2015, cujas reflexões e referências à Macintyre influenciou na escolha
dessa pesquisa em abordagem, assim como a que precedeu esta, a primeira monografia
tendo como autor principal Macintyre, na sua linhagem ético-moral, cujo tema foi:
apresentado pelo estudante Tomás Kupanguela.
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