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DIMENSIONAMENTO NO ELU DE VIGA PRÉ-MOLDADA E PROTENDIDA

EM PRÉ-TRAÇÃO

Prof. Dr. Roberto Buchaim


Universidade Estadual de Londrina

1. INTRODUÇÃO

O dimensionamento no ELU de vigas pré-moldadas e protendidas em pré-


tração apresenta ao engenheiro de projeto vários problemas que podem ser
esclarecidos tendo como referência as normas atuais, especialmente a NBR
6118: 2014, assim como o MC90 e o MC2010, bem como os trabalhos, dentre
outros, de Regan (2010, 1999) e Ramirez (1994). Os problemas que devem ser
considerados, discutidos a seguir por meio de um exemplo, são: (a) ELU-
Flexão com armadura mista, (b) ELU-Força cortante, (c) Zona de introdução da
força de protensão e ancoragem da armadura protendida.

2. O EXEMPLO CONSIDERADO

2.1 Dados do problema

A Figura 1 mostra a seção e o esquema estático de uma viga , pré-moldada e


protendida em pré-tração. As vigas  são justapostas e formam uma laje de
piso, p.ex., “com elevada concentração de pessoas ou com predominância de
pesos de equipamentos fixos por longo período de tempo” (cf. Tabela 11.2 da
NBR 6118, item 11.7.1). Sob a laje há garagens, o que justifica considerar pelo
menos a classe de agressividade ambiental II (CAA II). As cargas consideradas

são as seguintes:  =  
ó
 = 9,12  ;  =
  +   +
 * 
çõ + !

 = 5,70 ; % = &
 
á = 2,40 × = 12 , e
 + 

perfaz um total de 26,82 
para uma viga . As resistências dos materiais são:

!. = 40/0: resistência característica do concreto aos 28 dias;


!.,1 = 30/0: idem aos 7 dias, o que se consegue com um dia na pista com
cura a vapor;
,4*5
0,85!.3 = 8 67 = 24,3/0: valor de cálculo da resistência do concreto para
6
solicitações normais;
567 ,4*567
!.39 = 0,7 :1 − 9*< 8 = 14,3 /0: idem, cf. item 22.3.2 da NBR6118: 2014,
6
no método de escoras e tirantes, para nós com duas forças de tração e uma de
compressão no concreto fissurado (nós TCT), p.ex. alma de vigas;
567 ,4*567
!.3= = 0,85 :1 − 9*< 8 = 17,3 /0: idem, para nós com duas forças de
6
compressão e uma de tração (nó CTC), p.ex. em apoio simples (/ = 0);

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5DE7
ç ?0 190 @A15,2, !BC3 = 0,9 × ,* = 1487/0;
5F7
Aços CA-50 e CA-60: !C3 = 8G
= 435  522/0, respectivamente, mas
5F7
!CH3 = 8G
= 435/0, para estribos CA-50 e CA-60.

2.2 ELU-Flexão

A armadura estabelecida por condições do ELS, mostrada na Figura 2, consta


de três cordoalhas ∅15,2 e uma barra ∅16 CA-50 por nervura, e ambas as
armaduras se estendem no vão todo da viga. A respectiva força resistente total,
consideradas as duas nervuras, é (áreas em 9 , resistências em JK/9 ):

@BMN = ΣPB !BC3 + ΣPN !C3 = 2 × Q3 × 140 × 1,487 + 200 × 0,435) = 2 × 711,54JK

donde a altura do bloco de tensões no banzo comprimido, com @. = @BMN :

@.
R= = 2 × 711,54⁄Q 0,0243 × 2400) = 24,4
0,85!.3 5S

Com este valor obtêm-se os braços de alavanca das armaduras ativa e passiva

UB = 600 − 12,2 − 140 = 447,8, UN = 600 − 12,2 − 48 = 539,8

e o momento resistente

/3 = ΣPB !BC3 UB + ΣPN !C3 UN = 2 × Q624,54 × 0,4478 + 87 × 0,5398) =


677,7JK,

pouco maior que o momento solicitante no centro do vão

9 129
/V3 = W5 QX +  + %) = 1,4 × 26,82 × = 675,9JK
8 8

O braço de alavanca resultante da armadura mista é

/3
U= = 677,7/Q2 × 711,54) = 0,476
@BMN

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600  1200  600  
b 1

ℎ5S = 100  H,N_B /2 = 150  ℎ = /25 = 600mm


b 2

H,[\5 /2 = 100  !b 100 × 100 , !b 50 b !& c
 b ç

Características geométricas:
P = 365000 9
U9 = 452,97 
d = 936761,796 × 10e e
f,9 = 20680,528 × 10= =
ã  = 12 f, = −63711,439 × 10= =
J = 56,66 , J9 = 174,55 

Y5
Figura 1: Viga  para piso com carga variável de 500
JK
( 5 )
+ 2

& = 35 
gh = 5 
i = 30 
46 bNj = 48 
3g15,2 ?0 190 @A bBj = 140 
46 bNMB
j
= 110,3  klm
PNMB = 2Q200 + 420) = 1240 9 klm
46 PN,op,qrs = 200 ×
*
= 58,59 ELU
,t×t
1g16 ?P − 50 PB,hXh = 2 × Q58,5 + 420) = 957 9 ELU
48

58,5 × 48 + 420 × 140


bB,hXh
j
= = 128,8  kln
478,5
H,[\5 /2 = 100 

Figura 2: Disposição da armadura longitudinal na seção transversal

2.3 ELU-Força cortante

2.3.1 Montagem da treliça resistente da nervura

Aplica-se o modelo de treliça resultante de campos de tensão, tanto nas


nervuras do  quanto nos flanges. As treliças são examinadas a seguir. A
escolha da inclinação das diagonais comprimidas, cf. o MC2010, atualmente é
mais restrita, e se dá na faixa Z[\ ≤ Z ≤ 45° , em que Z[\ = 25° nas peças
com força normal de compressão significativa ou protendida. Anteriormente, no
MC90, tinha-se Z[\ = 18,43° . Vale mencionar os demais limites: Z[\ = 30°

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nas peças de concreto armado (caso do flange do exemplo) e Z[\ = 40° nas
peças com força normal de tração significativa (caso de talão, se houvesse).
No exemplo, escolhe-se Z = 25,45° , e com U = 0,476, resultam seis
segmentos de comprimento U&Z = 0,476&25,45° = 1, em cujos pontos
médios são posicionadas as seis cargas nodais equivalentes da treliça (i.e., na
treliça e na viga têm-se iguais reações de apoio e momentos fletores sob as
cargas nodais):

W5 Q + %) U&Z = 1,4 × 26,82 × 1 = 37,55JK

Diferentemente do CA, é preciso incluir na treliça a ação da protensão. Se a


protensão fosse, além de reta, excêntrica em relação aos dois banzos, sua
ação poderia ser substituída em cada qual por duas forças de compressão
estaticamente equivalentes à força de protensão.

Do cálculo no ELS obtém-se força de protensão após as perdas, 0u =


921,4 JK. O coeficiente para o cálculo da força de neutralização,
correspondente a tensão nula no concreto armado (i.e., com armadura passiva)
é dado pela expressão

9
ΣPB U[B
v = vB,94 w1 + x y z = 0,0679
P[,94
[,94

em que as características geométricas são as da seção ideal, P[,94 é a área e

[,94 é o raio de giração, vB,94 é o coeficiente de equivalência entre os módulos


de elasticidade do aço e do concreto calculado aos 28 dias (i.e., com !. ≡
!.,94 ), U[B é a distância entre os CGs da seção ideal e da armadura ativa.
Com v, obtém-se a força de neutralização após as perdas progressivas

0u 921,4
0\u = = = 988,5 JK
1 − v 1 − 0,0679

Donde seu valor de cálculo:

0\3,u = WB 0\u = 0,9 × 988,5 = 890 JK

Ocorre que na pré-tração a força de protensão é introduzida nas extremidades


da peça por aderência, de zero na borda externa da peça a seu valor máximo
no final do comprimento de transferência |Bh . Este comprimento, de acordo
com o item 9.4.5.2(b) da NBR 6118: 2014, vale

|Bh = 70,9∅ = 1078 ≅ 1,10

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no caso de cordoalha CP190, liberação gradual, tensão na pista ~B[ =
0,74!Bh = 1406 /0 e !., = 30 /0. Assim, a força por unidade de
comprimento ao longo de |Bh é igual a

890
\3,∞ = = 809,1 JK/
1,1

A força \3,u , introduzida nos comprimentos de transferência das extremidades


da peça, produz tração na armadura protendida e compressão no concreto,
ambas formando um sistema de forças estaticamente nulo. Considerando que

o nó do apoio dista :50 + < = 100 da borda da peça, sendo 100  a
9
largura da almofada de apoio, com 50  de folga entre a borda da peça e a
almofada, cf. a Figura 1, nesse nó já se tem a força (compressão no concreto)
igual a

0,10 × 809,6 = 80,96 JK

Com estes dados, resulta a treliça da Figura 3.

(a) Forças normais nas barras da treliça

(b) Detalhe das forças normais na região do apoio

Figura 3: Treliça no plano vertical da alma da viga

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A Figura 3 mostra as forças nos banzos, nas diagonais e nos montantes da
alma em toda a viga. Assim, a armadura protendida está sob a ação das forças
distribuídas \3,∞ (externas à armadura protendida) nos primeiros 1,1 (e em
1 nas barras da treliça) correspondentes à força interna constante e igual a
0\3,u = 890 JK nos restantes Q12,20 − 2 × 1,1) = 10,0. Esta força consome
parte da resistência do aço de protensão, igual a

0\3,u 890 × 10=


~B\3,u = = = 1059,5 /0
ΣPB 2 × 3 × 140

Como as forças na armadura protendida são auto-equilibradas e não há reação


de apoio pela ação da protensão em peça isostática, ao aplicar as cargas,
obtêm-se as forças no banzo inferior, cf. a Figura 3, para as quais se tem à
disposição a parcela complementar de resistência

0,9 × 1900
!BC3 − ~B\3,u = − 1059,5 = 427,5/0
1,15

valor curiosamente próximo de !C3 do CA-50. Logo, o máximo acréscimo


possível de força na armadura protendida é

QΣPB )€!BC3 − ~B\3,u  = Q6 × 140) × 0,4275 = 359,1JK

A este valor se soma a resistência da armadura passiva

QΣPN )!C3 = Q2 × 200) × 0,435 = 173,9JK

donde o total 533JK, superior ao máximo valor no banzo inferior, a saber,


518,1JK. Com isto, o banzo inferior está verificado, pois a respectiva armadura
é constante em toda viga. Notar que no centro do vão o banzo inferior tem a
força

890 + 518,1 = 1408,1JK

a mesma do banzo comprimido

ΣPB !BC3 + ΣPN !C3 = 1408,1JK

e exatamente igual a

/3 675,9
= = 1408,1JK
U 0,48

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2.3.2 Cálculo da armadura transversal

O primeiro montante próximo ao apoio, cf. a Figura 3(a), deve suspender o


equivalente a cinco forças concentradas (e não seis, pois a carga é direta, i.e.,
aplicada no topo da treliça; seriam seis se toda a carga fosse indireta), de
resultante a ser distribuída no comprimento U&Z para transformá-la em
estribos de resistência !CH3 , ou seja,

PNH 5 × 37,55
= = 431,69 /
 1 × 0,435
‚Gƒ „
Igual valor resulta da expressão
N
= †.Xh‡5… , em que ˆ3 é a força cortante
Fƒ…
imediatamente à direita do montante em consideração. A área obtida
corresponde a estribos de dois ramos nas duas nervuras do . Logo, para
estribo ∅h = 5 tem-se o espaçamento

4 × 20
= = 0,185 ≅ 17,5&
431,6

nos primeiros 100&. No segmento seguinte têm-se quatro forças a suspender,


donde o espaçamento

5
 = 0,185 × = 0,231 ≅ 22,5&
4

Nos demais, pode-se mostrar que basta armadura transversal mínima, ou seja,
k∅5,  = 25&, dois ramos.

2.3.3 Verificação do concreto da alma

Na primeira diagonal de inclinação Z = 25,45° , tem-se a força de compressão


@.‡ = 433,9JK, comprimindo a área da alma, a qual para duas nervuras é igual
a

H,[\ U&Z = 2 × 100 × 476 × &25,45° = 859629

donde a tensão

@.‡ 433,9 × 10=


~.H3 = = = 5/0 ≤ !.39 = 14,3 /0
H,[\ U&Z 85962

Resultado igual obtém-se da expressão

ˆV3 1
~.H3 = ‰&Z + Š ≤ !.39
H[\ U &Z

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a qual difere da indicada na NBR 6118: 2014, item 17.4.2.2, que no modelo I
567
considera Z = 45° , U = 0,9b e v„9 = :1 − <, donde a condição de segurança
9*
do concreto da alma:

!
!.39 H U 0,7 ‰1 − . Š 0,85!.3
250
ˆV3 ≤ ˆ‹39 = = H 0,9b = 0,27v„9 !.3 H b
1 1
:&Z + < &45° +
&Z &45°

Na região do apoio é obrigatório verificar a ancoragem da armadura e a tensão


de compressão no concreto no nó junto à almofada de apoio. O ângulo da
diagonal do apoio é dado por &ZŒ = 0,5&Z = 1,05 ou ZŒ = 43,6°, e as forças
nodais são as obtidas da análise da treliça, cf. a Figura 3(b). Ver a Figura 4.

~.3,Œ
@.‡,Œ = 325,33/2 JK
9 = 256 

ZŒ = 43,6°

2bj = 258  80,96/2 JK 153,73/2 JK


bj = 129 

50  @‚3 /2 = 225,3/2 JK
 = 100 

Figura 4: Forças atuantes no nó do apoio de uma nervura

Notando que as forças indicadas no nó de apoio referem-se a uma nervura, a


tensão no concreto da alma junto ao nó resulta, a favor da segurança, igual a:

@.‡,Œ 325330
~.3,Œ = = = 6,4 /0 ≤ !.3= = 17,3 /0
H[\ 9 2 × 100 × 256

O comprimento de ancoragem básico de barras nervuradas CA-50 para


!. = 40 /0, em zona de boa aderência, é igual a | = 28,91∅ = 463 .
Para a barra inferior ∅16, distante bN′ = 48  da base do , o seu
comprimento entre a borda interna do nó e a extremidade é igual a:

50 − & +  + bN′ &ZŒ = 50 − 30 + 100 + 48&43,6°= 170 

Logo, a parcela de sua força disponível no nó, em uma nervura, é

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170
× 200 × 0,435 = 32 JK
463

As armaduras protendidas têm comprimento de ancoragem necessário, cf. item


9.4.5.3 da NBR 6118:2014, dadas pela expressão:

!BC3 − ~B∞
|B3 = |Bh + |B = Q58,6 + 35,3)∅ = 94∅ = 1429 
!BC3

Em que |B é o comprimento de ancoragem básico, como se a armadura ativa


não fosse protendida, |Bh é o comprimento de transferência da força de
protensão, |B3 é o comprimento de ancoragem necessário (ação da protensão
mais a das cargas).

No CG da armadura ativa, entre a extremidade da peça e a borda interna do


nó, tem-se disponível o comprimento:

50 +  + bB′ &ZŒ = 50 + 100 + 140&43,6°= 297 

Logo, a parcela da força de escoamento correspondente em uma nervura vale:

297
Q3 × 140 × 1,487) = 0,252 × 420 × 1,487 = 130 JK
1429

*=,1
Como a força a ancorar no nó em cada nervura é 9
= 76,8 JK, vê-se que as
armaduras ativa e passiva têm força total disponível no nó do apoio o valor
130 + 32 = 162 JK > 76,8 JK em uma nervura. Apesar deste resultado
favorável, adicionam-se três grampos longitudinais ∅6,3 CA-50, posicionados
nos pontos médios de duas barras longitudinais, e de comprimento 1,50 ,
cobrindo a tração (140,3/2 JK) do nó seguinte ao do apoio. A força resistente
destes três grampos vale, para uma nervura, 3 × Q2 × 31,5) × 0,435 = 82,2 JK.
Esta força somada à da barra inferior ∅16 resulta em 82,2 + 36,1 = 118,3 JK >
76,5 JK, donde se vê que as armaduras passivas já garantem a ancoragem. Os
grampos devem ser inseridos dentro dos estribos verticais.

Cabe neste ponto mencionar outros mecanismos resistentes, além do


providenciado pela treliça, que podem ser considerados em peças protendidas:
as forças de curvatura dos cabos curvos e o efeito de arco. O primeiro não se
aplica no caso, pois a armadura é reta, mas o segundo poderia ser
considerado. Uma vez que se garante nos nós dos apoios das nervuras do  a
força total das armaduras igual a ∆@BMNMYŒBXN = 2 × Q130 + 32 + 82) =
488 JK, ao efeito de arco corresponderia a carga

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8 8
∆%3 = ∆@BMNMYŒBXN U = 9 488 × 0,476 = 12,9JK/
 9 12

Esta carga poderia ser descontada da carga externa, para a montagem da


9,49‘9,t
treliça, donde um valor Q1 − 9,49 ) = 48% menor, quase a metade.
Conforme apontado por Regan (2010, 1999), o mecanismo resistente pelo efeito
de arco é particularmente importante em vigas de alma espessa (que tendem a
se transformar em laje). No exemplo, mantém-se a solução anterior porque
haveria redução nos estribos do primeiro segmento próximo ao apoio (zona D)
e a restante armadura transversal já é praticamente igual à mínima.

No que segue, examina-se de forma aproximada a zona de extremidade em


que ocorre a introdução da força de protensão, no comprimento de
transferência igual a |Bh = 70,9∅ ≅ 1,1, sob ação somente da protensão. A
Figura 5 mostra a transferência da força de protensão inicial ao concreto. Para
as treliças resultantes que se iniciam na metade do comprimento de
transferência, e têm diagonais inclinadas na proporção 2: 1, i.e., Z = 26,6° em
relação à reta horizontal, resulta a força transversal de tração correspondente a
uma cordoalha

0[
@Nh = 3 = 49,3JK
4

A armadura resultante, cobrindo a ação das três cordoalhas, para WB = 1,1 e


tensão ~N = 250 /0, distribuída em todo o comprimento de transferência, é
igual a

WB @Nh 1,1 × 49,3 9


= = 197 ≈ 6 k∅5 &b 17,5&
~N |Bh 0,250 × 1,10 

Esta armadura controla a fissuração no plano horizontal, e deve ser intercalada


com os estribos verticais (que nos 100& iniciais da extremidade também são
espaçados cada 17,5 &), para melhor confinar o concreto. Ver a Figura 8.
Alternativa melhor, embora mais trabalhosa, consiste em substituir o estribo de
confinamento por dois outros: o primeiro une a barra ∅16 e a segunda
cordoalha, o segundo une a primeira e a última cordoalha. Com isto, têm-se
quatro barras transversais à alma, ao invés de duas. A propósito, o MC-90,
item 6.9.12.4, considera que as tensões de tração, originadas pela aderência
da armadura protendida em pré-tração, são suficientemente controladas
quando há armadura de confinamento das barras longitudinais na zona D. Se
essa armadura não existir, essas tensões são resistidas pelo concreto em
tração, para o que é exigido um cobrimento mínimo de concreto (em todas as
direções) dado por:

UEL – Depto de Estruturas – Concreto Protendido, Prof. RBuchaim, Abril 2015 Pág. 10
ç 
 

 ≥ 3∅ → &
 ≥ 3∅
ç 
 

 < 3∅ → &
 ≥ 4∅

As tensões resultantes da ação da aderência a partir da barra tracionam o


concreto, e podem produzir fissuração especialmente em plano horizontal entre
duas barras, pois a ação de uma cordoalha sobre o concreto se soma à da
seguinte.

0[ /3
@Nh = = 49,3 JK
4

46 

46 

0[ /3
 = 591/3 JK
94 

 |Bh /2 = 540 46 


™
ç b 
ã
PB,hXh
= 0  0,74!Bh
2
= 591 JK/


k
 b &! 
200  49,3 × 10=
= 1,1 × = 197 9 /
250 × 1,1

Figura 5: Zona D nas extremidades, forças transversais à armadura longitudinal na nervura


do  (coeficiente de segurança da força de protensão WB = 1,1 ).

2.3.4 Dimensionamento da armadura longitudinal do flange

A armadura longitudinal necessária para resistir às tensões de tração no flange,


na fase em vazio, quando atuam só a força de protensão inicial e o peso
próprio, pode ser obtida da Figura 6. Este cálculo é feito na seção
correspondente ao fim do comprimento de transferência, na seção em que se
tem 100% da força de protensão, com 0[ = ΣPB ~B[ = Q6 × 140) × 0,74 × 1,9 =
1181JK, distante U[B = 0,307 do eixo ideal e majorada por WB = 1,1, e o
momento do peso próprio /Y = 55JK, sem majorar, i.e., W5Y = 1. Com as
características geométricas da seção ideal para ˜ = 7b , área e módulos de
resistência das bordas inferior e superior, respectivamente iguais a P[,1 =
3719389 , f[9,1 = 22652,5 × 10= = , f[,1 = −66065,1 × 10= = , obtêm-se
as tensões extremas indicadas na Figura 6.

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~.3 = 1,72 /0

.h
ℎ − c = 50,6 

ℎ = 600  1,72 × 50,6 K JK
U[B 0[
.h = = 43,5 = 43,5
2  
43,5 9
N,SX\Y = = 174
~.93 = −18,7 /0 0,25 
|Bh = 1,1 

 

b

Figura 6: Estado limite último de ruptura no ato da protensão. Cálculo da armadura


longitudinal no flange, cf. item 17.2.4.3.2 da NBR 6118: 2014

A armadura longitudinal, dimensionada com a tensão 250/0, refere-se


apenas ao trecho das extremidades com tensões de tração, e pode ser
diminuída a cerca de 2,5  das extremidades. Na alma tem-se, a armadura
adotada para estribos, intercalada com os estribos de confinamento, cf. mostra
a Figura 8. Uma alternativa de dimensionamento da zona D em peças
protendidas em pré-tração baseada em tensões elásticas está indicada no
MC90, item 6.9.12. Por este caminho, neste exemplo não há fissuração na
zona D e, mesmo que houvesse, a armadura resultante não prevaleceria sobre
a já calculada.

2.3.5 Montagem da treliça do flange e dimensionamento da armadura


transversal

A Figura 7 mostra em planta a treliça correspondente ao flange do ,


(perpendicular à treliça da nervura), considerando apenas meia largura, i.e.,
0,55S = 1,20 e metade do vão, por causa da dupla simetria. Os apoios contra
translação horizontal distam cada qual 0,30 do plano vertical da nervura.

Z5S = 30,96°

Figura 7: Planta de metade do flange do , respectivas geometria e forças da treliça (Obs.:


na barra vertical central dobrar a força em virtude da simetria).

Nota-se desde logo que a soma das forças aplicadas é igual, no centro do vão,
š…
à força longitudinal de compressão atuante em metade do flange = 704JK.

Assim, a força de compressão no centro do vão é transferida pouco a pouco
para a alma da viga, até anular-se na extremidade do flange junto ao apoio. Em
cada nó superior da treliça vertical referente a uma nervura, tem-se a força da
diagonal (vinda do flange) multiplicada por &Z (e &ZŒ no primeiro nó).

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Resultado igual decorre da diferença das forças nodais horizontais. Para obter
a força de tração transversal @Nh,5S adota-se Z5S = 30,96°, Z5S = 0,6 (poderia
ser Z5S = 2/3, cf. recomendado no item 9.6.2.2 e Figura 9.6 da NBR
6118:2014), donde seu valor máximo

30,96°
@Nh,5S = 195,6 = 195,6 × 0,3 ≅ 58,7 JK
2

como indicado na Figura 7. Neste exemplo, mantém-se em todo o flange a


armadura calculada para esta máxima força, a qual deve ser distribuída em
U&Z = 1:

@Nh,5S 58,7 9


Nh,5S = = = 135
U&Z!CH3 1 × 0,435 

A compressão diagonal no concreto do flange é baixa, e resulta da expressão

c›@.,5S › 114,1 × 10=


~.,5S = = = 2,2/0 ≪ !.39
QU&Z) × QZ5S ) × ℎ5S 1 × 10= × 30,96° × 100

Além desta armadura, deve-se considerar aquela necessária para a flexão


transversal do flange, o qual pode ser considerado como uma laje biapoiada
nas nervuras sujeita a dois carregamentos: (1) cargas totais em toda largura,
para efeito da armadura superior, e (2) peso próprio do flange mais o restante
da carga somente entre as nervuras. No exemplo bastam armaduras
transversais mínimas superior e inferior. Estas armaduras, cf. o item 17.3.5.2.1
da NBR 6118: 2014, para seção retangular e !. = 40 /0, resultam da taxa
geométrica mínima, [\ = 0,18%, referida à altura ℎ do flange, donde:

9 9
N,[\ = 0,18% × 100 = 0,180 = 180
 

Assim, a armadura total transversal na camada superior do flange é igual a:

+
N,hXh,5S = 135 + 180 = 315 = 1∅8 &b 15 &, 


e deve ser posicionada na face superior do flange, pois na flexão do  resultou


uma altura do bloco retangular de tensões igual a R = 24,4  ≪ ℎ5S =
100 . Longitudinalmente, pode-se adotar
+
N,[\ = 180  = 1∅6,3 &b 15&. Esta armadura, na face superior, atende
à exigida nas extremidades para as tensões de tração na fase em vazio, cf.
calculado na Figura 6. Na face inferior do flange, adota-se também a mesma
armadura mínima nas duas direções. Ver na Figura 8 o detalhamento da
armadura do .

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2380 
∅6,3 &b 15 &, ∅8 &b 15 &,
 b  



k∅5:
2µQ6 &b17,5
2 × 2∅5 Q), ∅6,3 !. &b 15 &, + 6 &b 22,5)
& &ℎ ℎ
U  b b
çõ +29 &b 25
6k∅5 &b 17,5&, 3∅15,2 ?0 190 @A  
 &

 2 c
 bb,
1∅16 ?P 3 
 ∅6,3

&
 − 50  &ℎ
= 150 
H,N_B  b c
 bb,
&  

&
 1,50

&  

!b 100 × 100 , !b 50 b !& c


 b ç
150 &
(a) Seção transversal

Notas:
1- Cobrimentos & = 35 nas
14
nervuras e 20 na laje.
46 2- !., ≥ 30 /0 na data da
3g15,2 ?0 190 @A protensão e !.,94 ≥ 40 /0.
46 3- P 
b
 b ! 
b  b 
 íb
46 
 b á
 
1g16 ?P − 50   à bb  bℎ.
48

H,[\5 = 100 

(b) Disposição da armadura principal longitudinal

Figura 8: Detalhamento da armadura da viga : (a) seção transversal, (b) detalhe da


disposição da armadura principal longitudinal.

3. CONCLUSÃO

O exame de peças pré-moldadas e protendidas em pré-tração nos ELUs pode


ser feito de modo relativamente simples e seguro, usando no dimensionamento
à flexão e à força cortante modelos de treliça resultantes de campos de
compressão (banzo superior e diagonais em estado uniaxial de compressão) e
de tração (banzo inferior, em parte ou no todo, e estribos, em estado uniaxial
de tração), decorrentes da aplicação da teoria da plasticidade. Particularmente
na ação combinada da força cortante e do momento fletor não entra a parcela
resistente ˆ. ou Ÿ. , mas o estado duplo de tensões (compressão-tração) no
concreto da alma é levado em consideração na redução em 30% da resistência
do banzo “essencialmente comprimido”, cf. expressão do MC90, item 6.2.2.2,
donde o valor adotado para !.39 . Com isto, o problema fica reduzido à sua
forma mais simples e de fácil compreensão, e o engenheiro faz então contas

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seguras do tipo “força dividida por resistência = área, ou força dividida por área
= resistência”.

Com relação à treliça da alma, cf. a Figura 3, chama-se a atenção para o fato
de as forças do banzo superior (no caso de armadura protendida inferior), nas
diagonais e nos montantes não se alterarem haja ou não a protensão. O que
neste particular diferencia, então, peças em CA ou CP é a escolha do ângulo
de inclinação das diagonais, o qual pode ser menor no CP, pois a peça
protendida (e a peça com força normal de compressão significativa) é
dimensionada usualmente para não haver fissuração em serviço. Isto é o que
quer dizer a expressão “compressão significativa”. Em outras palavras, o
dimensionamento no ELU não dispensa verificações em serviço.

Da mesma forma, no flange aplica-se modelo de treliça derivado de campos de


tensão, conforme foi mostrado na Figura 7. O mesmo se pode dizer do nó de
apoio, da ancoragem das armaduras, e ainda do tratamento da zona D, cujo
esforço de pesquisadores em datas recentes consiste em integrá-la à zona B,
numa só treliça.

Quanto à protensão da armadura, como se mostrou, o modelo resistente é


separado em duas partes, observando-se o seguinte: na primeira, a protensão
atua como ação, com tensão ~B\3,u , e nela só há forças no banzo inferior,
iguais em intensidade e de sentidos opostos no concreto e na armadura. Na
segunda, a armadura de protensão atua como se fosse passiva com o restante
de resistência disponível Q!BC3 − ~B\3,u ). Como se vê, a soma de ambas as
partes explora no máximo a resistência !BC3 .

Por fim, acentua-se a possibilidade de uso do efeito de arco, desde que a


ancoragem da armadura garanta a força de empuxo correspondente.

4. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Projeto de


estruturas de concreto: procedimento: NBR 6118: 2014. Rio de Janeiro,
2014.

BUCHAIM, R. Concreto Protendido: Tração Axial, Flexão Simples e Força


Cortante. EDUEL, 2007. Londrina, Pr.

COMITE EURO-INTERNATIONAL DU BETON. CEB-FIP Model Code 1990.


London: Thomas Telford, 1993.

INTERNATIONAL FEDERATION FOR STRUCTURAL CONCRETE (fib). CEB-


FIP. MODEL CODE 2010. Final draft. Volumes 1 and 2. Bulletins 65 and 66.
March 2012.

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RAMIREZ, J. A. Strut-Tie Design of Pretensioned Concrete Members. ACI
Structural Journal. September-October, 1994.

REGAN, P. Ultimate limit state principles. In: FEDERATION INTERNATIONALE


DU BÉTON. Bulletin 52. Structural Concrete: textbook on behavior, design
and performance. Lausanne, v.2, sec. ed., 2010, first ed. 1999.

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