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LONDRINA
2009
PATRÍCIA PAULA DA SILVA
INTRODUÇÃO 4
1 AS FESTAS AFROBRASILEIRAS E A GEOGRAFIA 9
1.1 FESTA: DEFINIÇÃO E FUNÇÃO SOCIAL 9
1.2 O SINCRETISMO COMO MEIO DE RESISTÊNCIA CULTURAL 14
1.3 AS DIFERENTES EXPRESSÕES RITUALÍSTICAS 16
1.4 A FESTA E O ESPAÇO 17
1.5 DEFININDO ESPACIALIZAÇÃO 19
2 A ESPACIALIZAÇÃO DAS FESTAS AFROBRASILEIRAS EM LONDRINA 21
2.1 OS TERREIROS EM LONDRINA 21
2.1.1 Tenda de Umbanda do Pai Tomás 25
2.2.2 Terreiro de Candomblé Recanto de Oxalufan 29
2.2.3 O Cantinho de Pai João 31
2.2.4 Ylê Axé Opo Omim 33
2.2.5 Ilé Asé Sàngo Oba Àìyrà Alaketu – Templo de culto aos Òrisà 34
2.2.6 Centro de Umbanda e Condomblé Vovó Cambnda da Angola 41
2.2.7 As festas afro-brasileiras – teoria e prática 47
3 CONCLUSÃO 52
4 REFERÊNCIAS 53
5 ANEXOS 55
5.1 Entrevista Candomblé 55
5.2 Entrevista Umbanda 57
INTRODUÇÃO
Porém, tais fatos não foram suficientes para suprimir por completo
a cultura africana. Os negros criaram estratégias de resistência que, de certa
forma, preservaram alguns elementos da cultura, como é o caso da sincretização
dos santos católicos com os orixás, que trouxe diversos elementos do catolicismo,
do kardecismo e da cultura indígena para dentro da cultura negra.
(...) toda festa, mesmo quando puramente laica em suas origens, tem
certas características de cerimônia religiosa, pois, em todos os casos ela
tem por efeito aproximar os indivíduos, colocar em movimento as massas
e suscitar assim um estado de efervescência, às vezes mesmo de delírio,
que não é desprovido de parentesco com o estado religioso.[...] Pode-se
observar, também, tanto num caso como no outro, as mesmas
manifestações: gritos, cantos, música, movimentos violentos, danças,
procura de excitantes que elevem o nível vital etc. Enfatiza-se
freqüentemente que as festas populares conduzem ao excesso, fazem
perder de vista o limite que separa o lícito do ilícito. Existem igualmente
cerimônias religiosas que determinam como necessidade violar as regras
ordinariamente mais respeitadas. Não é, certamente, que não seja
possível diferenciar as duas formas de atividade pública. O simples
divertimento, [...] não tem um objeto sério, enquanto que, no seu
conjunto, uma cerimônia ritual tem sempre uma finalidade grave. Mas é
preciso observar que talvez não exista divertimento onde a vida séria não
tenha qualquer eco. No fundo a diferença está mais na proporção
desigual segundo a qual esses dois elementos estão combinados.
(DURKHEIM, 1968, p. 567-568)
Fonte: www.uel.br/atlasambiental
2.2.1 Tenda de Umbanda do Pai Tomás
o Exu não gosta muito de ficar desse lado1, eles não se misturam, ficam
cada um na sua. Porque os Exus mexem com a sujeira e os da direita
mexem com a casa limpa. Ele pega e leva embora os maus fluidos que
as pessoas trazem para o terreiro. Ele ta na esquerda porque ele ta
pagando um débito passado, então estar na esquerda é uma missão dele
de pagar esse débito. (Trabalho de campo, 2008).
1 Nesse caso, o lado do Gongá (o altar).
Fonte: http://www.tendadeumbandadopaitomas.com.br
agradecimento às entidades pelo que elas fazem por nós. Nós jamais
vamos fazer uma troca com as entidades, mas elas só nos auxiliam
desde que nós sejamos merecedores, desde que eu esteja plantando o
bem. Então as entidades vão me ajudar, então o mínimo que eu posso
fazer é agradecer a entidade em forma de oferenda. (Trabalho de
Campo, 2008).
Fonte: http://www.tendadeumbandadopaitomas.com.br
PAI TOMAS ABENÇOANDO A MESA EM HOMENAGEM A IEMANJÁ, 31 DEZEMBRO
DE 2008
Fonte: http://www.tendadeumbandadopaitomas.com.br
Oxalá esta num quarto só branco, que só tem ele; as Yabás3 estão em
outro quarto; os Aborós4 em outro; Nanã e Abaluaê [...] porque não pode
misturar dois orixás diferentes num lugar só, não pode por Abaluaê, que
é orixá da morte, da doença, junto com Xangô, que é de vida. Mas o orixá
esta na cabeça de cada um, ali é onde foi feita a obrigação para ele.
(Trabalho de Campo, 2008)
3 Orixás femininos.
4 Orixás masculinos.
Dá em torno de 4 festas por ano. Tem um ano que dá para Xangô, outro
para Oxóssi, outro para Ossanha. Daí vem uma pessoa que quer dar
obrigação, daí dá o toque para aquela pessoa, para o santo dessa
pessoa. Joga o Búzios, daí, por exemplo, ela tem que fazer um Ebó, que
é uma limpeza. Às vezes ela só vem fazer o Ebó para a vida dela andar
né, mas se ela gosta daqui daí ela continua. Até ela ver que o orixá dela
ta virando daí ela tem que fazer o santo. (Trabalho de Campo, 2008)
8 Local de cruzamento entre vias onde comumente são feitas oferendas de comida, como a
galinha
preta, bebidas, charutos etc.
9 A dirigente limitou essa informação, pois, segundo ela, é necessário ser iniciado no Candomblé
para ter certos conhecimentos.
todas as casas tem suas raízes e tem seu orixá certo pra ser
homenageado, aqui nós temos uma agenda que são 5 orixás no ano [...]
Ogum, segundo sábado de abril; ultimo sábado de julho é de Xangô;
domingo é marinheiro; segunda-feira Olubajé; segundo sábado de
dezembro é a festa maior da casa que é pra deusa da casa e do herdeiro
do axé que é Oxum e Oxóssi [...] eles são as raízes da casa. (Trabalho
de Campo, 2008)
2.2.5 Ilé Asé Sàngo Oba Àìyrà Alaketu – Templo De Culto Aos Òrìsà
A entrevista foi realizada no dia 6 de novembro. O terreiro está
localizado na zona leste da cidade, relativamente afastado da área central.
Fundado em 1976, dos terreiros de Candomblé que ainda “tocam”11 em Londrina
esse é o mais antigo, declara a dirigente “existem terreiros mais antigos mas não
„tocam. mais”. A dirigente mora no bairro Aeroporto, também na zona leste, mas o
terreiro fica no Ernani Moura Lima. Assim ela explica a localização do terreiro
Eu vim passear aqui, o bairro era novo, estava inaugurando, daí passei
aqui e vi essa casa e perguntei na brincadeira para o vizinho quanto que
era e ele falou. Daí eu falei “mas aqui dá pra eu comprar, o dinheiro que
eu tenho dá”. E fiz o negócio no mesmo dia. [...] Quando comprei a casa
não tinha a intenção de montar o terreiro, comprei só para ter mais uma
casa para investir, daí meu caboclo veio e disse “essa casa é minha” e
está até hoje. (Trabalho de Campo, 2008)
14 Quarto todo branco onde a pessoa se retira para fazer a iniciação, que é o chamado
“recolhimento”.
Esses são os que têm mais fundamento dentro da casa, é axé da casa.
Todo ano no mês 6 eu tenho por obrigação dar a festa pra Xangô. Eu não
dou festa pra todos os orixás porque são muitos. Então conforme vai
dando a gente dá a festa. Na lenda nossa são 16 orixás.” (Trabalho de
Campo, 2008).
A festa a gente faz para o orixá, então geralmente nas festas todas as
pessoas que tem orixá vem pra cá, a gente prepara a comida, se for dar
festa de Oxum então prepara tudo que é de Oxum. Então a gente está
louvando o orixá, está chamando o orixá pra casa, está agradecendo por
tudo aquilo que ele faz pra gente. A gente faz a festa pra isso, pra louvar,
pra engrandecer o orixá e agradar. Nós temos por obrigação de fazer a
festa. (Trabalho de Campo, 2008)
Exu, quem é Exu? Ele é o dono das porteiras, ele que cuida tudo aí fora,
ele é que nem um guarda, um vigia da casa. Então o que ele come? É
matança, mel, bebida, dendê, farofa. Ogum: é o orixá trabalhador, todos
nós precisamos de Ogum, ele que trabalha pelas estradas, nos nossos
caminhos, defende nós do mal, da feitiçaria, da bruxaria, abre nossos
caminhos pra trabalho, pra negócio. Ele come feijoada, cará, matança
também. Oxossi, é das matas, gosta de frutas, milho, coco, ele gosta de
muita fruta, doces. Ossanha é a deusa da mata, só vive na mata, é
arisca, desconfiada, sem Ossanha a gente não pode recolher15 ninguém,
porque nós precisamos das folhas, ela é dona das folhas, então quando a
gente precisa a gente vai lá na mata, bate paó16, pede licença pra
recolher as folhas. Na mata ela está dentro do palácio dela. Todas as
festas são no terreiro, na mata é só oferenda, mas prepara na casa e
depois leva pra lá. A gente leva muita fruta no mato pra Oxossi. Abaluaê,
deus da cura, deus de muita fartura e de muita prosperidade. Xangô
come amalá, comida feita com quiabo, rabada de boi, camarão e
amendoim. Daí a comida fica arriada 3 dias no pé do orixá, depois a
[...] semanas antes pra que aquela festa aconteça é necessário os ebós,
os sacrifícios, que são criticados, mas são necessários para que os orixás
se fortaleçam, através das ervas, pra banho, para enfeitar. Então você
tem que chegar e sentir a boa energia da casa e não a minha porque
hoje eu posso esta bem e amanha não. O ambiente da casa tem que
está bom e para isso começa toda uma preparação [...] (Trabalho de
Campo).
A preparação da festa começa semanas antes e todos os
membros são chamados a ajudar. Essa mesma dirigente declara “Quem entra
aprende o yorubá, a escolher feijão, a ralar, a descascar [...] aqui dentro é uma
escola.” (Trabalho de Campo, 2008). A dirigente do Ilé Asé Sàngo reforça “nas
festas todas as pessoas que tem orixá vem pra cá e a gente prepara a comida, se
for dar festa de Oxum então prepara tudo que é de Oxum.” (Trabalho de Campo,
2008).
[...] os africanos quando vieram para o Brasil, uns usavam pedras [...]
quando o senhor não permitia eles pegavam mamãe Oxum, que é Nossa
Senhora da Aparecida, e punham lá, daí veio o sincretismo religioso, os
santos da igreja católica foram batizados no ritual dos negros
representando o orixá de origem, que a pedra era a imagem. Então o
orixá é um espírito de luz, de muita grandeza. Oxossi é representado por
são Sebastião, porque ele foi morto a flechada num pé de manga, então
tem uma história de vida parecida entre os orixás e os santos católicos.
(Trabalho de Campo, 2008).
Exu eu não dou, porque a casa é de Oxalá, então nós cortamos para
Exu, cantamos para Exu, louvamos ele, mas lá mesmo na casa dele, é
um ritual mas não é aqui na “roça”20. Porque na festa para Exu tem
muitas coisas que não pode ter na festa de Oxalá, não pode ter muita
bebida, cigarro. (Trabalho de Campo, 2008)
20 Dentro do terreiro.
Com isso, observa-se a relação entre o sagrado e o espaço, entre
a festa e a significação do seu respectivo espaço, não somente nesta declaração,
mas da mesma forma no fato de alguns terreiros realizarem as festas para cada
orixá em seus locais sagrados, como é o caso do terreiro Tenda de Umbanda do
Pai Tomás que realiza a festa de Oxum nas cachoeiras (figura 3) e a festa de
Iemanjá na praia (figura 4).
Os terreiros de Umbanda e Candomblé estão localizados de norte
à sul, de leste à oeste do município de Londrina. Desde o Ylé Axé Opo Omim, ao
norte, ao Cantinho do Pai João, no extremo sul do município, o Centro de
Umbanda e Candomblé Vovó Cambinda no extremo oeste da cidade e o Ilé Asé
Sàngo no extremo leste do limite urbano. Todos relativamente distantes da área
central. Os mais próximos da área central são o do Pai Tomás e do Pai Tiãozinho.
3. CONCLUSÃO
4. REFERÊNCIAS
ADOLFO, Sérgio Paulo. As nações do Candomblé. In: In: ANDREI, Elena Maria;
FERNANDES, Frederico A. G. (orgs.). Caderno Uniafro 2 – Caderno afro-
brasileiro: construindo novas histórias. Londrina, 2007, p. 88-101.
AMARAL, Rita. Festa à Brasileira – sentidos do festejar num país que “não é
sério”. São Paulo: Tese de Doutorado – FFLCH – USP, 1998.
BIRMAN, Patrícia. O que é Umbanda. São Paulo: Brasiliense, 1983.
5. ANEXOS
5.1 Entrevista Candomblé
Entrevistado (nome):
Idade:
Profissão:
Lugar de origem:
Idade:
Profissão:
Lugar de origem:
28) Quando o terreiro foi fundado?
29) Quem o fundou? Sabe a motivação ou por que esta pessoa o fundou?
30) Conte a história da formação do terreiro.
31) Sua localização sempre foi essa? Pensando que aqui seria um terreiro, qual
foi o critério de escolha desse lugar?
32) O terreiro esteve ou está ligado a algum movimento negro?
33) Em que bairros (ou cidades) moram os filhos de santo?
34) Quais são as celebrações/rituais que ocorrem no terreiro? (Indicar dias da
semana e épocas do ano, tentando perceber a motivação das mesmas).
35) Como se inicia, desenvolve e o que determina o fim do um ritual de festa?
36) Qual é o significado das festas? Quando elas são realizadas?
37) As festas são destinadas para quais orixás? Explique.
38) Explique a organização das festas. Como são distribuídas as atividades
para a sua realização?
39) Quais são as celebrações, em quais dias da semana e épocas do ano?
40) Quais são as oferendas destinadas a cada orixá? Eles possuem locais
específicos na casa e nas cerimônias?
41) Quais são as características dos locais tidos como ideais para as práticas
religiosas?
42) As entidades possuem locais sagrados específicos dentro da casa? Em
caso positivo explicar a lógica de tais alocações).
43) Fale sobre os orixás (quais e quantas são as entidades religiosas, o que
regem, quais são os dias da semana que lhes são dedicados, cor equivalente
entre outras informações).
44) Existe equivalência dos orixás com os santos católicos? Se sim, como ela
se processa (ocorre)?
45) Trabalha com pretos-velhos, caboclos, exus e as crianças? Se sim, quem
são eles?
46) Existem hierarquias entre as entidades?
47) Os participantes /freqüentadores da casa possuem funções? Como elas
são atribuídas? Existe uma hierarquia?
48) No candomblé acredita-se em pecados? Quais são eles?
49) Como são os rituais de iniciação? Existe reclusão? Se sim, de quanto
tempo, com qual objetivo?
50) Há alguma exigência para os seguidores que participam dos rituais?
51) Há algum problema em participar das celebrações da casa e freqüentar
outras religiões/terreiros?
52) Quais são as nações do candomblé? Qual é a nação do candomblé da
casa?
53) A casa já sofreu algum tipo de repressão policial ou ação da população
local?
54) É cobrado algum preço para se realizar trabalhos? Qual a finalidade dessa
cobrança? Como variam os preços?
55) O que é Buri?
56) O que significa “fazer o santo”?
57) O que é “bater Paó”?
58) O que é “catular”?
59) O que são as linhas para o Candomblé?
60) Qual a diferença entre “corte para o santo”, “toque para o santo” e “festa
para o santo”?
61) O que é o Ybá? O que é o Inxé?
62) Quem é Orumilá? Quem é Ifá? Quem é o Egum?
63) Qual é o Exu da casa? Explique a localização da casa de Exu.
64) Qual o sentido/objetivo da incorporação?
65) Durante os rituais os cânticos para os orixás são cantados em português?