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Il)l# ll,l#MllBRAN( AS
lus0-BRAsILEIR0.
Les longs ouvrages me font peur:
Loin d'épuiser une matière,
On n'en doit prendre que la fleur.
LA FONTAINÉ.
*>
#… .

À{a^{}\}\}\{\{

52EBR&#8㺠#LUSO-BRAS####R9
PARA 1855,
Com 431 artigos e 123 gravuras,
POR

ALEMANDRE MAGNO DE CASTILH0,


Acºnst roamAno EM NATnsMArica PetA UNIvensiosos os cousa",
cAvALLEIRO DA o RDEM DA conceição,
MEw BRo o.o INSTITUTo HIstoRico Dz rARis,
DA Associação INDUSTRIAI, Pokru ENSE,
DA socieDADE Dos ANTIQUARIos DE SANTo aman,
DA Dos Amigos DAs LETRAs E AR1 Es DE s. Miguel,
DA ACADEMIA DE Rhones,
nº socien ABE FRomoroRA DA AGRiacLTuRA MichAruxN&,
po INsTrrero AFRicANo RE PARIs,
Erc., Etc., Etc.

LISBOA.
NA IMPRENSA DE LUCAS EVANGELISTA.
CALÇADA DO DUQUE N.°
1854 |
/ } “}
ERRATAS DO ………… # *S é
/? } 4S"
Caracol. — Onde, a pag. 273 do precedente
Almanach, se lê que é um verme, leia-se que
é um mollusco. — Peço perdão ao animalejo de
o haverem os compositores atirado para classe
#ente
OI1O.
ao corrigirem as provas. O seu a seu

Innumeravel fonte. Lê-se isto a pag. 285, li


nha 10. O que eu escrevi foi: inexgotavel fonte.
E verdade que muitas vezes mal se lê o que es
CTCVO.

Problema recreativo. — Não fiquei muito re


creado, quando ao reler o 3.º da pag. 118, vi que
em vez de: e mais 5, pozeram: e mais 6, fican
do assim errada a solução do problema.

ERRATA DE 1855.

Onde, em pag. 139, se lê: Pena é que não fos


se ao menos Cyclope, deve ler-se: Pena é que não
tivesse mais um olho na testa como os Cyclopes.
Charadas do Armanach de 1s51.

Pag. 35 — SATURNo.
N. B. Sahio errada a divisão das
syllabas, que é: uma e duas,
e não: uma e uma. .

» 68 — AMAZONA.
» 129 — NoVENTA.
» 154 — PALAFoz. •

» 156 — PIANO. ••

N. B. A divisão das syllabas de


Ve ler-se: duas e uma, e não:
duas e duas. • •

» 191 — RÓSALIA. " "


» 202 — PAPHOS.
» 210 — CHIENDENT.
» 214 — PASTEL.
» 293 — ZERO.
» 291 — ANGELICA. "
» 357 — GIRASOL. , , " ".
* *

As palavras das Charadas do #" Al


manach serão publicadas no de 1856. -
Xuthores cujos nomes honrão as paginas
Nº presente Almanach.
#

Ill.mas EX.mas Snr.as


* *

D. Antonia Gertrudes Pusich.

D. Maria José da Silva Canuto. -

D. Maria Peregrina de Souza.

D. Maria Rita Golaço Chiappe.

D. Maria Rita Corrêa de Sá.

Obscura Portuense.

A. Carlos Calisto.

A. Gonçalves Dias (Brasileiro).


A. J. Pereira da Silva.

A. J. S. de Cabedo.

Alexandre Herculano.

Anonymo (Brasileiro).

Anonymo (Portuguez).

Antonio de Serpa.
Antonio Feliciano de Castilho.

Antonio José Maria Campêlo.


Antonio Lino Leão de Vasconcellos.

Antonio Mauricio Cabral.

Antonio Pereira da Cunha.

Antonio Pereira Zagallo.


Antonio Xavier Rodrigues COrdeiro.
Augusto José Gonçalves Lima.
Bocage.
Bluteau.
Claudino Augusto Cezar Garcia.
D. P. e Silva.

Duarte de Sá Junior.

Filippe do Quental. |

Francisco de Paula Barbosa Nogueira.


Francisco E. Leoni.

Francisco Leitão Ferreira.


Francisco Manoel Trindade.

Francisco Raphael da Silveira Malhão.


Inhato-Mirim (Brasileiro).

Jacintho Ignacio de Brito Rebello.


João d'Aboim.

João d'Andrade Corvo.

João Nunes de Brito.

Joaquim d'Araujo Jusarte.

Joaquim José Ferreira Campos.


Joaquim José Pinto de Moraes.

José Adão dos Santos Moura.

José Carlos Cerveira Valente.

José da Silva Mendes Leal Junior.

José Diogo da Cunha.


José Maria da Silva Leal.

José Maria do Amaral (Brasileiro).


José P. R. de Carvalho (prasileirº.
Laurindo José da Silva Rebello (Brasileiro).

Luiz Augusto Xavier Palmeirim.


Luiz Filippe Leite.
Luiz Paulino Borges.

Magano (Brasileiro).
M. J. B. Dias (Brasileiro).

Miguel do Couto Guerreiro.


Pedro Cervantes de Carvalho rir…,
S. P. M. Estacio da Veiga.
Thomaz José Pinto Serqueira (Brasileiro).
Visconde d'Almeida Garret.
| + º = <- !! !! = = = = = == º -º !! !! !! --★ → → → —
INDECE
DOS ARTIGOS CONTIDOS NO PRESENTE ALMANACIl.

A Amigo de ar e luz . 158


Amigos. . 165
Abelhas . . . . 360 Amigos torrados . 348
Acacia . . . . . . 351||Amor africáno . . 147
Acido prussico . . 340Amor de Raspail. .398
Acrostico . . . . 258||Amor e saudade ou a
Adagio turco. . . . 195 Ponte de Coruche 338
Adevinhar o valor de Amuletos . . . 324
3 cartas. . . . 287|Anneis. . . . 131
Adevinhar uma car- Anniversario. . 177
ta em 40. . . . 306|Annunciação. . 178
Adevinhar uma pa- Antisthenes . . 224
lavra entre 24. . 201|Apotheose. . 305
Agua de Collonia . 255Apparelho da visão. 261
Agua furtada. . . 280Applauso . . . . 198
Album .. . . . . 166|Aqueducto d'Evora. 146
Alcachofras . . . 251|Archeiro empertiga.
Alcorão monstruoso 228 do. . . . . . 354
Alfinete que rendeu Argano. .. .. . 375
milhões. . . . 175|Arma terrivel. . 247
Algodão herbaceo . 206|Arroz denunciante. 150
Aleluia . . . . . 189.Assassinos . 391
Amabilidade musul- Astrologia. . 122
mana. . . . . 208Auscultação . . 280
Ambarvaes . . . 221|Authologia . 245
Amigo das letras. . 167|Autographia - . 240
Autoridade paterna. 241 C
Ave Maria. 196
Ave Marias . 336 Cabeça de S. Gonçalo 296
Aviso aos Janotas . 165 Cada qual sabe do seu 154
Cadaveres. . . . 357
B Café e cafeeiro . . 243
Calculo das probabi
Bagdad e a Torre de lidades . , . . 223
Babel. • . 257 Caldeirão d'Alcoba
Baile . . , . . 151 ça. . . . . . 300
Balão reflectido. , 264 Caluda. . . . . 297
Bambuchata . , 148 Campo Elysio .. . 2i3
Banhos. . . . , 180 Campo estrellado . 373
Barbeiros chins. . 219 Cartuxa de Napoles. 295
Barcarolla. . 385 Carvalho da Virgem. 296
Bastilha . 268 Casa enterrada . . 131
Bazar . 124 Casa portatil. . . 236
Bebado desdentado. 130 Caverna de Mam
Bebedice nos Esta mouth . . . . .. 310
dos Unidos. . 364 Cerveja. . . . . 311
Beber . . 365 Cevada e palha d'Al
Beijos . . .. . . 353 cobaça . . 162
Besta esfomeada. . 258 Chafariz turco . . 113
Boa letra . . 204 Charadas, 134, 152, 210
Boa nora . , 209 242,276, 287, 318, 371,
Bobo . . . 194 380, 397.
Bonito dia. . 255 Chatterton . . . 302
Bonzos. 387 Chuva de sapos . . 249
Borrachinhas de mar 181 Ciumes . . . . 307
Bossa de jogador . 157 Clemencia de Mo-
Botanica . . 275| narcha . . . .
• 300
Braceletes. . . .. 318 Cometa de 1853. . 307
Bulla d'ouro . . 197 ommercio de flores 166
Ommunicações te- Curiosidades ameri
legraphicas 135 canas . . . .
Como se dá cabo das Cynophontes. . . 269
formigas . . 184
Como se dá cabo do D
gorgulho . 278
Como se evitão pica- Dança cavallar . . 330
das de vespas. . 207|Danúbio . . . 119
Como se toma posse Dentes limados . . . 143
d’uma terra. . 182|Descabeçado. . . 160
Como um poéta paga Desfeita disfarçada. 191
as suas dividas , 396Desgraça . . . 304
Confissão: . . . 240Devoção do barquei-,
Confissão ingenua . 352 ro.” . . . "... 382
Conquista de Grana- Dez asneiras em 4 pa:
da; ….. …, : i. 285, lavras … . . . . .320
Constancia aldeã .142|Dia (Ao) 26 de Janei
Consuaes . . . 301 || ro. . . . . . 133
Contagio do saber . 128Dia aziago para o Por a
Contrabando . . 380 . . . . . . 182
Contradança . . 174|Dias aziagos. : 302
Corda de enforcado.. 217|Dialogo
Côr dos olhos. 118 Matheusoentree ao Mãi
Pai ...
Corpo de Santa Theo- Cassarina . . 393
dosia. . . 233|Diamantes. ... ; , 394
Correio inglez . 256|Dignidades, titulos,
Criado infiel . . 152 e postos. . .
Cruz luminosa . . 188|Divórcio entre o mé-
Cruzes de Serpa. . 269 rito e a fortuna .398
Cuidado com o chlo- Bom Lucas de Portu
ro formio + gal. . . . . .324
Cultura e exporta- . . Dor de peito : . 370.
ção da purgueira. 227 Dous mil vestidos , 158
quias. ... . . . 246
Elephante. . . . 127|Extremo filial . . 3(1
Elogio de La Fontai- F
I18 - - - - -
Embaixador imber
e . . . . . 145|Falladora de profis
Emigração alemã : 248, são. . . . . . 210
Entrudó . . . . 153|Fanatismo politico. 144
Eramos dous. . . 372/Fazer do San Beni
Escada Santa em Ro- to gala . . . . . . 174
IÍ13 . . . 231|Feiras de criados . 356
Escamas e pennas . 348|Felicidade. . . . . 281
Escravos previden- Ferrugem das olivei
tes . . . . . 277 ras . . . . . 237
Escrupulos . . . 331|Festa das linguas . 177
Escudo (O meu). . 183|Festa de Corpus
Escurial . . . . 290 - Christi . . . . 238
Esmola (A) e a mão. 379|Festa do burro . . 123
Esperança (A) . . 210|Festa do Natal . . 396
Esposa. . . . . . 399|Filippe II e a Inqui
Estandarte d'amor. 230_sição. . . . 342
Estatua da Baviera. 139|Fineza enigmatica . 377
Estimulo paravalen- Flor do céu . 49
_tes . . . . . 283|Floresta de Compie
Estio . . . . . 250 gne . . . . . 199
Estrellas (As). . . . 363|Força do destino. .355
Estudo da anatomia. 344|Frades afogados. . 383
Estufas monstruosas 183|Frades Valentes . . 339
Estupido . . 323Fragmentos do tes
Estylo . . . . . . 320 tamento de Pedro
Eu, ella, e vós ; ; 390, Grande. •

Exposição argelina 294||Francezes e inglezes 174


Fructos electricos . 220Illuminação com gaz
Fueros. . . 143 d’agoa . . . .
Furor gastronomico 116|Immortalidade do
corpo . . . . 262
* G Imposto (O), a Du
queza de Mercia e
Galantaria. . . 280 o curioso . . . 122
Getas . . . . 234|Imposturas e cruel
Golodice de Bersane ade de Mah0met 379 ·
Leite. 361|Imprensa . . 286
Grinho (o) da la India (A) ás portas
reira. . . . . 386 da Europa. . 27
Guano . . . 292|Inspiração. . 137
Guilherme o Con- Invenção do Snr. do
quistador . . 320 Castellinho. . 309

H - * J

Habilidade dos dados.361|Jantar salgado ". . 185


Habilidades por nu- Jogos cereaes . 19?
IIlêTOS. . 150, 247 Jorge IV e Jorge Rei 383

Hemispherios de Ma Jornalismo na Ingla


gdeburgo . 215. terra. . . . . . . . 164
Herculanum . . . 265|Justiça de Carlos o
jespanholada arabe 139. Temerario . . . 313
Homem bicolor. . 223 Justiça inaccessivel 121
Homem jumento. . 239
Hylarias . . 176 L
Hymno do trabalho. 325 - - -
Lago mysterioso. .351
I Lampiões horarios. 216
Lebre e burro . 284
Idade das mulheres. 229 Leitores bravios. . 133
Lemare. • . 167 Mendicidade . . . 245
Lemurias. 214 Migrações dos pas
Leopardo . . . 333 saros. . . . . 125
Lição a vaidosos. . 237 Minha resolução. . 378
Livrossibyllinos. . 129 Ministro desmemo #
Lonchamps . 186 riado. . . . . 350
Lord Byron . ., 197 Miseria. . . . . . 315
Luiz XIVe os archei Missionario (O) e o
ros . . . 31? Philosopho. . . 246
Lupercáes . . 160 Moda .. . . . . 394
Lusiadas . . 336 Modas francezas. . 372
Luta com a morte . 289 Modo de distinguir a
Lutecia. 375 morte real da mor- º
Luto de Frederico
de te apparente . . 115
Prussia . 381 Modo de fisgar mal
Luxo e miseria . . 363 feitores. . 229 A…

Lyra . 263 Modo de reconhecer


a largura d'um rio
- M com um chapéu . 308
Modo facil para de
Maio e Maia . . 209 terminar a altura
Maio pequenino. . 209 d'um edificio. . 136
Manes . . . 1{() Modos de baterá por
Mar Baltico . 21 | ta em Inglaterra. 147
Mar Negro e mar de Modos de comer . 328
Marmara 262 Momento de saudade 235
Martyrios da Paixão Montanha a dançar. 359
(Os). 18S Montanhas lunares . 146
Mastro de Maio 269 Monte Olivete . . 222
Maxima . 262 Morte . . . . . 357
Me mellem
Memoria
.
. 371 3
381
388
"#
dS
de Epaminon
. . . . . ÓZ
Memoria feliz. . 238 Morte do Padre Braz 316
Mosteiro de Junias Ovos da Paschoa . 190
de Pitões 962 •

Muito boa noute. ". 352 | P


Mulher (A) e a rosa 334 • • •

Museu da Epiphania. 117Paciencia . . . .. 311


Palacio dos Tavoras. 121
N Palacio publico . . 239
Palavra. . . . . 334
Não me deixes . . 298Palilias.
Natercia de Camões. 330 Pantheon . . . . 370
Naturalisação. . . . 337|Pão .. . . . . . 260
Navios monstruosos 126|Par (Um) . . . . 157
Nem Presidenta nem Paraiso, . . . . 248
Secretaria . . . 288Paris . . . 250
Newton, Voltaire, e Parodia . . . . 249
Pope... . . . . 368 Patria ; , . . . . . . 267
Nova Babylonia . . 140|Patria (A'). . . . 153
Novo salva vidas . 196|Paz (A) da noute. . 395
Pêgas . . . 362
O Pégaso . . . . . 356
Peixe d'Abril. .. . 184
Obra prima da crea- Penitencias no In
C2O
- . . . . . 5 dostão . . . . 212
Oferta de medalhas Peór que morte. . 115
ao Snr. A. F. de Peregrino. . . . 3
Castilho. . . . 321|Pérolas improvisa
Opposição. . . . 377 das . . . . . 219
O que é o homem . 312|Pescaesalgado aren
O que é ser veridico 226, que . . . . . 341
Ordem de S. André. 323Physico mór . . . . 274
Orelha de papel. .333 Pinta-monoscomfu
Ouro . . . . . 344 maças . . . . 28%
Outono. . . . . 327|Pintos - - - - - 191
Pintura em Vidro . 299 R
Piscicultura,..., ... 376
Pistola d'algibeira Rabecão gigante. . 268
d'Isabel de Ingla- Raphael e os Car
terra. . . . . 292 deaes . . . 164
Pleiadas. . . . . 203 Receita para calos . 156
Pobre e feliz . . . 349 Reforma (A). . 138
Pobres . . . . . 306 Refutação de criti #
Poesia pastoril . . 273 cas . . . . . . . 327
Poéta (0) . . . . 218|Relogio de Lubech. 286
Pompeu e os seus tro- Remorsos. . . . 398
phéus . . . . . . 161|Resuscitado . . 343
Porque choras? .. . 259|Resplandores. . . 185
Porquinhas de S. An- Retrato de Petrar
ã9 . . 317 cha (A um). . 172
- Prazer da caça . . 145 Rhétorica. . 376
Precaução para não Riqueza . 382
morrer afogado . 322||Rosa. . . . . . 317
Prece d'um Doutor Rosa ou estrella. . 192
musulmano. . . . 249|Ruinas de Cápua. . 373
Prece Universal. . 345
Precioso relicario . 296 S
Prelo que vale por 30 329
Premio d’eloquencia 271|Salamandra . . 391
Presente liquido. . 117Salomão . . . , 179
Primavera (A') ; . 176Salsaparrilha. . . 390
Prova d'agua a fer- Samsão. . . . . 260
ver . . . . . . 371Santa Isabel d'Alpe
Providencia . . . 224] drinha . . . 159
Psalmos . . . . 259 Santo Antonio . . 243
Q Santo Balsamo . . 178
São Basilio e o médi
Quaresma. . . . 170 co. . . . •

25
São Gonçalo de Ama ra: . . . . . 193
rante. . . . . 1 19Temporas. 159
São João . .
Saudades da infan
. . *#*# …" engraça 299
O
cia - - - - - 74 Terremotos periodi
Sapateiro d'Aoste . 36 COS
Semana Santa . . 18#Testamento do Mar
Semeei cravosazues 359
Sensitiva . .
quez de Valdega
279 IIldS . . .
A+
O
Serracão da Velha . 17í Thargelias. . . . 205
Seus labios . . . 114|Thesouro de São
Signos do Zodiaco . 141 Marcos . 204
Silencio . . . . . 288Tigre . . . 271
Sino da infamia . . 171|Tintureiros . 331
Sino esquesito . . 211|Titulos do Impera
Sino milagroso . . 319L dor da Russia. . 130
Soldados russos. . 135 Toupeiras (As) e a
Soledade (A) . . . 186 Aguia . . . . 226
Sortilegio. . . . 207|Traductores... . . 277
Spleen . . . . . 329 Tres maravilhas. . 232
Sua Magestade Ca Trophéu d'um Inqui
tholica . 285 sidor. . . . .
Suicida. . . . . 317|Trovas d'um drama
Suspiro (Um). . . 162_ inédito .
Tumulo. . 363
T
U
Talisman cosaco. . 170
Tartufo. . . 169|Ullemas . . . . 215
Te-Deum . . . . 333||Ultima verdade . . 205
Temperamento . . 279 União . • • 322
Temperatura da ter- lúrna . . . . . 853
V Visitas. ". . _. 333
Volcão na Ilha de S.
Valle das Furnas. . 39 Miguel . . 254
Vaticano . . . . 284 Volcões º, •. 181
Velhice .. ... .. .. 367 Volga . 337
Verdadejornalistica í6#Voltaire. . . : 232
Verres e Verrinas . 267 Votos . 360
Versos sem titulo . 347 Voz prophética . 251.
Vigario do Gerez,
Mourella, e Ca Z
breira . . . . 384
Vinho . . . . . 282 …"

Virtuoso .. . . . 377 Zero por quociente. 157.


Visita a Jérusalem. 189ZuyderzeUl 30
PR01030.

l, dous mil quatrocentos e vinte e nove annos que


0ReiServio Tullio instituio em Roma as lustrações,
Usança, que ainda que ás vezes interrompida, per
maneceu todavia por muitos séculos. De cinco em
"inco annos, ou segundo outros, de quatro em qua
tro, se efectuavão as lustrações publicas dos ro
manos, chamando-se lustro o espaço comprehen
dido entre lustração e lustração. Ao encêrrar de
cada lustro fazia-se o recenseamento do povo, pa
gavão-se os tributos, e fechava o Estado as suas
contas com os cidadãos; as cidades e o imperio,
Por via de solemnes sacrificios, se purificavão,
implorando
#" Os dias das divindades fados mais propicios
ulteriores. •

*
Alguma cousa ha-de aproveitar para si, das no
ticias que enthesoura, o Almanach de Lembranças: ;
celebrará o seu lustro. A conjunctura ninguem di
rá que não vem propria: se computais o lustro por
qüatro annos, quatro são os annos que o nosso Al
manach preencheu; se por cinco, com este volu
me em que hoje escrevemos, e que logo tereis nas
mãos, se inteira o quinto. Façamos pois a nossa re
senha, o nosso ajuste de contas, as nossas purifi
cações, os nossos votos e compromissos para o por
VlT.
Mil oitocentos e vinte e seis dias se achão re
gistados n’estes cinco volumes. Todos elles com
alguma cousa mais que as meras indicações calen
daricas do estylo, e trazendo cada um para o ban
quete do povo, seu fructo de sciencia, sua flor de
arte, seu aroma do espirito, sua noticia do passa
do ou do presente, seu conselho ou aviso, ou quan
do menos, seu sal e adubo para a conversação, o
que tudo sommado representa um profuso pano
rama de mais de 2,000 artigos.
Todo o livro tem um principio, um meio, e um
fim, e é, mais ou menos imperfeitamente, uma obra
de unidade. A sua concepção presidio um pensa
mento, e facil sereconhece o alvo certo em que poz
a mira, ou cravasse ou não cravasse n’elle o tiro.
Outra é a natureza da nossa obra, se de obra lhe
cabe o nome; pois com estar acabada em cada uma
• de suas fracções minimas, nunca na totalidade o
está, nem o pode estar. E como o tempo, queima
ginariamente fraccionamos, sendo que por ambas
Suas extremidades na sempiternidade se vai *#
#--
der. E tambem como a sciencia, que sendo essen
cialmente uma, tanto se divide e subdivide, que
o sabio, abaixo de Deus, só o pode ser o genêro
humano no seu complexo; ou é finalmente, em
ponto pequeno e imperfeito, um como reflexo d'es
ta assombrosa e sempre cambiante variedade da
natureza. Passeais, viajais, ou estais: ascena cir
cumstante, os seus promenores de decoração, a
sua illuminação, os seus actores, o que fazem, o
que dizem, o em que se interessão, o d’onde vem,
o para onde vão, o como chorão, o como riem, o
como tecem e destecem as suas mutuas relações,
tudo se desconcerta e renova de continuo. Reve
são-se e misturão-se o acabar e o começar; é um
Fº? de milhões destrophes,em todos os estylos,
igadas por um fio invisivel, e parecendo descon
nexas, mas cuja primeira estancia o—eu canto —
só a sabe o supremo e omnipotente poéta que o
concebeu. Na infinidade da natureza, tão necessa
rio papel representa o Oceano como o aljofar li
quido pendurado a tremer na orla da folha verde;
o elephante como o infusorio; a aguia como a bor
boleta; a primavera como o inverno; as estrellas
como o átomo; o sol que deslumbra como os luzei
rinhos apenas perceptiveis, que os physicos mo
dernissimos têem averiguado estar perennemente
jorrando dos dous polos de cada um dos corpos,
assim inorganicos como organisados: tudo o que
é, differe não só de tudo o mais que é, mas até de
si mesmo nos instantes que se succedem; e tudo
o que é, é o que deve ser, no logar, tempo, e con
#ºurº, para onde a Providencia o lançou. O que
se nos representa menos grande ou imponderavel,
menos bom ou máu, menos bello ou feio, deve ter
ainda, para quem o vê de cima e com todas as suas
relações, grandeza, bondade, e formosura. Ora, se
á natureza nenhum philosopho assizado ousou ja
mais tachar com censuras as suas apparentes desi
gualdades e incongruencias,se para cada um de nós
a vida se compõe sempre, diversamente misturada,
de annos que rodeião estaçõescaprichosas, de esta
cões que se devolvem por mezes desiguaes, de me
zes que se deduzem por dias dessemelhantes, de
dias que se fião por horas de todas as côres, e de ho—
ras que ainda se desfião em momentos tão impro
phetisaveis; se ao alvorecer de cada dia ninguem
sabe o de que elle lhe virá cheio, nem mesmo se lhe
virá;e se na resenha mental da meia noute,antes do
adormecer, todos descobrimos no espaço recém
percorrido muito successo que não prepararamos
nem previramos, consequencias de muitas cousas
que parecião incapazes de as produzir, e occasiões
para muitas derivações e desvios em nosso rumo;
Se tudo isto é a vida, e esta mesma incerteza e mys
terio é por ventura o que mais a ella nos afeiçóa;
o nosso escripto, fortuito como a natureza e os suc
cessos, olhando alternativamente para todos os
tempos e para todas as partes, e em todas desco
brindo e adorando o Ente sem limites — nó unico
da unidade do universo.—tem n'isto mesmo, queá
primeira vista poderia parecer o maior de todos
os defeitos, a principal explicação da simpathia
que no commum dos animos encontrou.
Procederemos pois d'aqui ávante, no “s"#
ustro, no terceiro, e em quantos houvermos de
existir na obra, como desde o principio o havemos
feito, sejá não for que alguma forterasão, que não
prevemos, nos obrigue a tomar outro caminho. E
quando por morte, velhice, cançasso, ou alguma
outra forte causa, da natureza ou da fortuna, levan
tassemos mão da tarefa, e desamparassemos o qua
dro em que eternamente se trabalharia sem nun
ca o concluir, outrem, que se ponha a elle em nos
so logar, o continue, com a mesma desambiciosa
soltura de traços, o mesmo pensamento de amor
dos homens,
Oxalá !.... e com mais acerto e finura
• •
de côres,
Quando, em remotos dias, por dezenas e cente
nares, se contarem Ós Volumes do Almanach de
Lembranças, toda esta collecção, e cada uma de
suas partes, poderá ainda ser lida, assim como ca
da individuo folga de revistar no animo o que pas
sou, e calcular pelo que passou o que poderá ain
da succeder-lhe, ou assim como, nos monumentos
e na memoria do genero humano, se archiva em
fragmentos a historia d'outras idades que produ
ziram a presente, e os feitos, dictos, e pensamen
tos
têS.da presente, que encerra o germem das seguin
• •

Sobre a idéa com que foi concebido, com que


tem sido executado, e com que verisimilmente o
continuará a ser, o Almanach de Lembranças, jul
gamos superfluo acrescentar mais nada ao que
já n’este e nos precedentes prologos expozemos.
Sem vaidade nós applaudimôs da intenção, posto
#………… da execução nosnão podemos igual
mente gloriar. Desta diremos como dos seus epí
grammas dizia Marcial: bom, mediocre, e máu,
compõe meu livro; ou como dos seus dizia Tho
maz Owen :

Hic liber est mundus; homines sunt, Oschine, versus;


Invenies paucos hic, ut in orbe, bonos.

Escrevemos chãmente, porque escrevemos pa


ra as turbas; com brevidade é parcimonia, por
que nem o espaço dá para mais, nem a mais avan
# o estomago dos leitores do nosso tempo, de
il para obras massiças, e affeito á tremoçaria
dos artigos de jornaes que entretêem mais do
que sustentão. Levamos por devisa a maxima va
riedade, não só por nos conformarmos com as ra
sões ha pouco apontadas, mas porque temos, de
sejamos, e devemos ter, folheadores para as nos
sas paginasinhas, n'um e n'outro sexo, em todas
as idades, e em qualquer posição e condição da
Vida social.
Esta derradeira clausula faz tambem com que
levemos sempre summo tento em evitar o que
possa, nem por sombras, pôr em risco a innocên
cia ou os bons costumes; em duvida as crenças *}
respeitaveis; em desveneração a fé e praticas re
ligiosas; ou crear desgosto, ou augmentar azedu
mes, nas politicas parcialidades. E isto o que te
mos feito; e o que temos feito é o que projecta
mos continuar invariavelmente, por onde conta
mos que o favor, de anno para anno crescente,
com que estes opusculos vão sendo cada vez ";
acolhidos e agasalhados, poderá ainda accrescem
tar-se-lhes.
E' aqui a oceasião de agradecermos a todos os
ue por algum modo tem concorrido para a dif
usão, leitura, e estudo, do Almanach de Lembran
gas pelo povo. Quasi todos os Ex."ºs e Rev.mºº
Prelados deste Reino e Ilhas, quasi todos os
Ex." Governadores Civis, muitos Parochos,
muitissimos Administradores de Concelho, mui
las Camaras Municipaes, muitas pessoas distinctas
e influentes por terras de provincia, muitos Cor
reios Assistentes de localidades populosas; mui
10$professores de instrucção primaria; muitas fa
miliasurbanas e camponezas; têem aceitado a nos
Sa0fferta de bom animo, e têem contribuido para
que n'ella procurem haver parte, não só os seus
immediatos dependentes, mas ainda outros indi
Viduos a quem se estende o seu influxo, Graças
à laes auxiliares, o Almanach de Lembranças ins
true os meninos de muitas escholas, desenfada
muitos serões provincianos, entretem os domingos
de muitas donzellas, encurta horas a muito ancião
Solitario, e já em alguns quarteis de tropa dá aos
soldados, instruidos pela eschola regimental, com
que substituir vantajosamente as conversações
0ciosas, grosseiras, e dissolutas, da tarimba.
Aos litteratos em geral não professamos me
hor gratidão. Os artigos em prosa e verso que de
Vemos à generosidade de mnitos d’elles ornão
Como joias as nossas folhas. •

Estes collaboradores accidentaes, espontaneos,


hºmpre bem vindos, já não são unicamente
portuguezes; alguns pertencem ao grande Impe.
rio que ainda há pouco era Portugal, e que de
Portugal ha-de ser em todos os tempos irmão, pe
la communidade das ascendencias, das recorda
ções gloriosas, das dynastias, da lingua, da reli
gião, dos nomes, dos costumes, e dos interesses.
Já passaram felizmente os dias de mal cabidos
ciumes, que parecião tornar inimigas duas na
ções que portantos titulos, e por todos, se devião
amar. O brasileiro no pequeno e antigo Portu
gal, e o portuguez no moderno e immenso Brasil,
respirão igualmente ares de patria e sentem-se
em familia. Mutuamo-nos sem invejas as nossas
litteraturas; applaudimos fraternalmente, de um
para o outro hemispherio, a apparição e o brilho
de relevantes engenhos.
E' a este feliz sentimento de hospitalidade e
eonvivencia, proprio de um século despreoccupa
do e humanitario, que o Almanach de Lembran
pas deve, átem de uma collaboração que o illus
tra, ir-se já tambem tornando livro popular por
essas regiões, de que um Principe, a quem a his
toria reserva algumas das suas paginas mais es
plendidas, tem de fazer sem duvida, e cedo, uma
das nações mais felizes e poderosas. •

Por tudo isto, o Almanach de Lembranças, desde


o principio do seu segundo lustro, será impresso
em duas edições ao mesmo tempo — a de Portugal
e a do Brasil. Communs no fundo estas duas edi
ções, só differirão nas clausulas propriamente de
calendario, para sérvirem
teresses de ambos *º
com igualdade aos in
os paizes. •
A empreza do 4/manach de Lembranças, com
tão Valentes, profundas, dilatadas, e vivazes rai.
lºs, já nada têm que recear.
A edição, do presente volume é tirada a vinte
mil exemplares.

Lisboa 10 d'Agosto de 1854.


A lexandre Magnº de Casti lho,

31
N. B. — Por ser differente "}"# das
duas edições do meu Almanach de 1851, fiz as
referencias de artigos d’este, em relação, não ás
paginas, como nos outros, mas aos dias do
II]02. •

A 52 p.86, significa: Almanach de 1852, p. 86.


A. 53 p. 58, Almanach de 1853, p. 58; e as
sim por diante.

Os artigos são todos independentes uns dos ou.


tros; as referencias são tão sómente para que pela
mesma occasião se leia o que ao mesmo assumpto
Se acha mais ou menos ligado.
CHR0N0LUGIA.
Eras Ou Epochas Geraes.

Era vulgar chamada do Nascimento de


Christo . . . . . . . . 1855
Pela melhor Chronologia. . 1860
Da Creação do Mundo, segundo o Texto
Hebreu e a Vulgata. . . . . . 5859
Do Diluvio Universal. . . . . . . 4203
Da Correcção Gregoriana . . . . . 273
correspondencia de algumas Eras com a vulgar.
Anno do Periodo Juliano. . .. . . . 6568
— da Primeira Olympiada . . . . 2631
— da Fundação de Roma, segundoVar
— rão . . . . . . . . . . . 2608
— da Epoca de Nabonassar. . . . 2604
— do Principio da monarchia portu
guêZa. . . .. . . 759
COMPUTO ECCLESIASTICO.

Aureo numero . . . . . . . . 13
Cyclo solar . . . . . . . . . 16
Indicção Romana. . . . . . . . 13
Epacta. . . . . . . . . . XII
Letra Dominical. . . . . . . . G
33 3
TEMPORAS.

Fevereiro. . . . .. . 28, e Março 2 e 3


Maio . . . . . . . 30, e Junho 1 e 2
Septembro . . . . . 19, 21, 22
Dezembro. . . . . . 19, 21, 22
FESTAS MOVEIS.

Septuagesima. . . . 4 de Fevereiro.
Cinza . . . . . . 21 de Fevereiro.
Paschoa . . . . . 8 d'Abril.
Ladainhas. . . . . 14, 15, 16 de Maio.
Ascensão . . . . . 17 de Maio.
Pentecostes ou Paschoa
do Espirito Santo. . 27 de Maio.
Trindade . . . . . 3 de Junho.
Corpo de Deus . . . . 7 de Junho.
Coração de Jesus. . . 15 de Junho.
1.° Domingo do Advento. 2 de Dezembro.

QUATRO ESTAÇÕES DO ANNo.

Primavera... Começa a 21 de Março.


Estio......... » a 22 de Junho.
Outono...... » a 23 de Septembro.
Inverno..... )) a 22 de Dezembrº,
ECLIPSES TOTAES DA LUA.
(Parte Visivel em Lisboa.)
2 de Maio.
Principio do eclipse. . . 1 h. 37’ 35”m. tempo médio
Principio do eclipse total. 2 h. 39' 59 º )) )

Meio do eclipse. . . . 3h. 28' 17» )) ))

Fim do eclipse total . . 4 h. 16' 35 ), )) ))


Fim do eclipse. . . . 5 h. 18' 59 º )) ))
25 de Outubro.
Principio do eclipse. . . 5h. 7° 5”m. tempo médio
Principio do eclipse total. 6 h. 8' 5 » )) ))

Meio do eclipse. . . . 6h. 52' 35 , )) ))


Fim do eclipse total. . . 7 h.37' 5 º X) X)

Fim do eclipse. . . . . 8h. 38' 5 » }) >

ECLIPSES PARCIAES DO SOL.


(Invisiveis em Lisboa)
A 16 de Maio e 9 de Novembro.
DIAS DE GRANDE GALA.

1 de Janeiro, Dia d'Anno Bom (Beijamão).


29 d'Abril, Dia em que S. M. 1. o Sr. D. Pe
drºIV. Decretou e Déu a Carta Constitucional
da Monarchia Portugueza #
21 de Julho, Juramento da Carta Constitucio
"ale Nascimento de S. M. I. a Senhora Duque
2a de Bragança Beijamão).
16 D.
Snr. de Pedro
Septembro, Nascimento de S. M. F. o
V. (Beijamão) •

29 de Outubro, Nascimento de S. M. F. El
# Regente (Beijamão). "
PEQUENA GALA.

17 de Fevereiro, Nascimento da Ser. Senhora -


Infanta D. Antonia. •

16 de Março,
nhor Infante
Nascimento do Sereníssimo Se
D. João. •

8 d'Abril, Domingo de Paschoa. •

30 de Maio, Dia do Nome de S. M. F. El-Rei


Regente.
7 de Junho, Corpo de Deus.
15 de Junho, SS. Coração de Jesus.
4 de Julho, Nascimento da Ser. Senhora In
fanta D. Isabel Maria. . • -

10 de Julho, Nome de S. M. I. a Senhora Du


queza de Bragança.
21 de Julho, Nascimento da Ser. Senhora In
fanta D. Maria Anna.
23 de Julho, Nascimento do Ser. Senhor In
fante D. Fernando.
31 de Outubro, Nascimento do Ser. Senhor
Infante D. Luiz Filippe.
4 de Novembro, Nascimento do Ser. Senhor
Infante D. Augusto.
1 de Dezembro, Acclamação do Senhor D.
João IV.
25 de Dezembro, dia de Natal.
31 de Dezembro, dia de S. Silvestre.
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NASCIMENTOS E OCCASOS DO SOL EM 1855.

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Sel)Täs №aş)
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en- on• → 6Na- Gae.-- :)• 6N
ANNO DE 1855.
#[2] | • # -
§§ Phases da Lua. S = Phases da Lua.
== ==
S| 3|Lua cheia # "]= 6Quart, II]. # t.
= 37 m. E ||14|Lua nova II].
= 1 m.f=|22|Quart. cr. 7, 13 m.
5 2 m ["|29|Lua cheia 5 44 m.
• 5 m.|<1.4 Quart. m. 8 44 t.
5 24 m = |12|Lua nova 6 16 t.
5 11 t. 15.209uart, cr. 0 57 t.
E-23|Quart, cr. 37 t. - 27 Lua cheia } # t.
31 t. I –: 3 Quart. m. II].
3, 23 t. # 1Lua nova 10 15 m.
# 18|Lua nova 9 m. #### CT. } ?"
2 49 m 95||25|Lua cheia •

EE.99uart. m. 52 . E, 29uart, m.10 28t.


0 t = 11 Lua nova 2 47 m
|5||16|Lua nova 2 28 t. E18Quart, cr. 3 1 t.
"249uart, cr. 5 20 m.JºzsLua cheia 6 50 m.
2|Lua cheia 3 27 m.l= | 1|Quart. m. 4 40 t.
<S 9|Quart. m. 2 25 m. # 9 Lua nova 6 54 t.
=|16|Lua nova , 1 37 m.> 16Quart.cr 10 38 t.
=23|Quart, cr. 11 26 t. 223Lua cheia 7 15 t.
31|Lua cheia 2 11 t. | | 1|Guart. m. 1 34t.
g,79uart. m. 7 11 m. É 9Lua nova 9 41 m.
=|14|Lua nova 1 52 t. 5169uart, cr. 6 20 m.
=229uart, cr. 4 15 t. §28Lua cheia10 2 m.
"29/Lua cheia 10 371, º 31Quart.m.11 27 m.
38
Marés.

Conhecem-se as horas das marés pela idade da


lua, designada para todos os dias do anno pelos
àlgarismos que se achão á ilharga dos dias domez.
Procurando essa idade na tabella seguinte, ter
se-hão as horas de # e baixamar em um dia
qualquer. Supponhamos que se desejão saber os
preamares e baixamares de 20 de Septembro; pro
curando este dia na folhinha, acharemos qué é o
10° da lua, e procurando na 1.º columna da ta
bella o n.º 10, acharemos na mesma linha horison
tal o que desejamos.
Quando na fabella das primeiras marés se notão
marés da tarde, as marés da manhã d'esse dia são
as segundas do dia antecedente, como acontece
no dia 30 da lua, cujas marés da manhã são asse
gundas do dia 29.
TABOA

Dos Preamares e Baiacamares no Tejo.

= • 1. º 1.º 2.º 2.0


5=
—º |
PREAMAR. BAIXAMAR. PREAMAR. BAIXAMAR.
= " || h m. Th. m. Th. m. | h. m.
1 3T18 t. 9"30"t. 3" 12 m. 9 "54 m.
2 4 6 t.10 18 t. 4 30 m. 10 42 m.
3 4 54 t.11 6 t || 5 | 18 m. 11 30 m.
4 5 - 42 t. 11 54 t || 6 6 m. 0 18 t.
5 6 30 t. 0 42 m. 6 54 m. 1 6 t.
6 7 18 t. 1 30 m. 7 42 m. 1 54 t.
39
É . 1.º 1.º 2.º 2.º
#5 PREAMAR. BAIXAMAR. PREAMAR. BAIXAMAR.
# h. m. | h. m. | h m. | h. m.
7 8 6 t.| } 18 m. 830 m, 2 42 t.
8 8 54 t || 3 6 m. 9 18 m. 3 30 t.
9 9 42 t. 3 54 m. 10 6 m. 4 18 t.
10 10 30 t. 4 42 m |10 54 m. 5 6 t.
11 |11 18 t || 5 30 m |11 42 m. 5 54 t.
12 0 6 m. 6 18 m. 0 30 t. 6 42 t.
13 0 54 m.| 7 6 m. 1 18 t. 7 30 t.
14 1 42 m | 7 54 m. 2 6 t. 8 18 t.
15 2 30 m. 8 42 m | 2 54 t. 9 6 t.
16 3 18 m. 9 30 m. 3 42 t. 9 54 t.
17 4 6 m |10 18 m. 4 30 t. 10 42 t.
18 4 54 m.11 6 m. 5 18 t. 11 30 t.
19 5 42 m. 11 54 m. 6 6 t. 0 18 m.
20 6 30 m. 0 42 t. 6 54 t. 1 6 m.
21 7 18 m. 1 30 t. 7 42 t. 1 54 m.
22 8 6 m. 2 18 t. 8 30 t. 2 42 m.
23 8 54 m. 3 6 t. 9 18 t. 3 30 m.
24 9 42 m. 3 54 t. 10 6 t. 4 18 m.
25 10 30 m. | 4 42 t.|10 54 t. 5 6 m.
26 |11 18 m. 5 30 t.|11 42 t. 5 54 m.
27 0 6 t. 6 18 t. 0 30 m. 6 42 m.
28 0 54 t. 7 6 t. 1 18 m. 7 30 m.
29 1 42 t. 7 54 t. 2 6 m. 8 18 m.
30 2 30 t. 8 42 t. 2 54 m. 9 6 m.

—<33>

40
TABELLA DOS INCENDIOS.

|*c.
<

TORRES. | = | Postos DE GUARDA.


2
Beato Antonio... ..|11| — |

S. Vicente........ ..|12|Escholas Geraes.


13 Calçada do Monte.
14 Loyos.
Conceição Nova......... 15 Carmo.
S. Nicoláu................ 16 Praça da Figueira.
Soccorro.................. 17 Mouraria.
S. José.…................ 18||Santa Martha.
Pena....................... 19 Freiras da Encarnação.
Bemposta................ de Bola. 20Cabeço
S.Seb. da Pedreira...... 21 Largo de S. Sebastião.
Monserrate.............. #Árçº das Amoreiras.
Santa Isabel............. 23 Junto á Igreja.
Convento Novo......... 24R. de Buenos-Ayres.
Necessidades............ 25 Livramento.
S. Francisco de Paula-26 Pampulha.
Velho.......... 27 Inglezinhas.
Santos o
Paulistas.............…. 28 Na mesma Igreja.
hagas......…………… 29 Rua das Flores.
S. Roque.....….……… 30||Trav. da Queimada.
N. Senh. dos Martyres.131
S. Paulo ..................
A##
#"……… . Geral.
• • • • • • • • • • • • • • • • • • •• • • • • • • • • • 331......……….......……
Belem........…………. 34 Junto á Igreja.
~ – ) ------- _-
MERCADOS E FEIRAS
$$3$#E4),3?&\$3$

EM TODO O REINO DE

#= stre#, "Imºist j <= Asa, er_1= "

Todos os Domingos, em Abreiro, Alcobaça, Al


medovar, Ancião, Batalha, Bragança, Caldas da
Rainha, Casal de Loyvos, Cuba, Espinhal (franca),
Favaios, Ferreira, Lamego, Leiria, Louriçal, Ma
fra, Marinha Grande, Mirandella, Monte Alegre,
Montemor o Novo, Pombal, Portalegre, Provesen
de, Sabrosa, Sanfins, S. Thiago de Cacem (franca),
Serpa, Sines, Soure (franca), Valença.
* Esta relação é a unica exacta de quantas por ahi
se publicão, pois foi feita sobre os Mappas Oficiaes que
por todos os Ex.ººº Snrs. Governadores Civis do Reino
me foram remettidos, pelo que lhes tributo aqui de no
vo os meus sinceros e cordeaes agradecimentos.
A. M. C.
Todas as Segundas feiras, em Almas de Ser
E"# 2 dias, Álvares, 2 dias (franca), Canavezes,
lvas, Murça, Pampilhosa (franca), Santo André
de Poiares (franca), Villa Pouca d’Aguiar.
Todas as Terças feiras, em Beja, Braga, Celo
rico da Beira, Coimbra (franca), Condeixa (fran
ca), Evora, Leiria, Penafiel, Porto, Villa Real, Vi
ZCU.

Todas as Quartas feiras, em Amarante, Barro


zelas, Miranda do Corvo (franca), Mirandella, Por
talegre, Provesende, Sabrosa.
Todas as Quintas feiras, em Barcellos, Bragan
ça, Castello de Vide, Gouvêa, Lebução, Malveira
(franca), Monte Alegre, Murça, Porto, Villaflor,
Villa Pouca d’Aguiar.
Todas as Sextas feiras, em Canavezes, Condei
#º) Porto de Moz, Vianna do Castello, Vil
3 tê31.

Todos os Sabbados, em Amarante, Certã, Evo


ra, Guimarães, Porto.
MERCAD 0S E F E IR A S

<>{{##223;&#4),33.

A0s Domingos, em Penella


As Segundas feiras,em Castello-branco, Crasto,
Ponte de Lima, S. Julião do Freixo.
As Quartas feiras, em Amares, Santo Thyrso,
S. Martinho da Gandra. •

As Sextas feiras, em Souto de Leça, Souto de


S. Thiago de Costoias.
Aos Sabbados, em Lanhezes, Gandra da Feira.

MERCAD 0S E FEIRAS

##$#$4,$$.

No 1º DoMINGo de cada mez, em Azeitão, Bel


lºs (franca), Mangualde, Campo Grande (franca),
#"es,
Q
Gollegã, Guarda, Mação, Meda, Pinhel,
Provesende, Sandomil, S. Thiago d'Armamar,
Sendim, Sobral de Monte Agraço (franca), Touril
(franca).
No 2.° DOMINGo, em Alemquer (franca), Alhan
dra, Alhos Vedros, Arcozello, Arganil, Arouca,
Assores, Azueira, 2 d. (franca), Botulhe, Castello
branco, Cêa, Chão do Couce, Malhado Sordo, Mou
ta (franca), Porto, Sacavem (franca), Sarzedas, Sa
meiro, Santarem, S. Pedro de Penaferrim (franca),
S.Vicente, Sardoal, Sarzedas, Sobreira formosa,
Souto Maior, Taboa, Trancoso, Trevões.
No 3.º DoMINGo, em Almada (franca), Canellas,
Chamusca, Chans, Figueiró dos Vinhos, Gavião,
Góes, Guarda, Maceira, Pinhel, Ponte de Sor, Rio
Maior, S. João do Monte, S. Bartholomeu da Char
meca (franca), Torres Vedras (franca), Treixianda.
NA VESPERA Do 4.° DoMINGo, em Armamar.
No 4.º DoMINGo, em Ameixial, Amieira, Azam
buja (franca), Cartaxo, Carvalhaes, Castellobran
co, Farinha podre (franca), Freixedar, Loures
(franca), Mealhada (franca), Mondim de Lamego,
Nellas, Payão (franca), Santa Marinha, Trancoso,
Villa da Rua, Villar Maior. •

No 5.º DoMINGo (quando o ha), em Villa No


V2.
No ULTIMO DoMINGo, nas Caldas da Rainha, Lou
rinhã (franca), Trucifal (franca).
NA.1.° SegundA FEIRA, em Alfaiter, Bello Mon
te, Lixa, Lourosa, Pedrogão, Sul, Villa Fer
mando. •

NA 1.° SEGUNDA FEIRA depois do 1.° Domingo,


em Moimenta da Beira. 46
NA SEGUNDA
NA2.° FEIRA
SEGUNDA da 2.°
FEIRA, nosemana,
Fundão, em Lamego.
Souto. •

NA 2.° SEGUNDA FEIRA depois do 1º Domingo do


mez, em Aguiar da Beira.
NA 3.° SEGUNDA FEIRA, em Fornos.
NA 4.° SEGUNDA FEIRA, em Caria.
NASEGUNDA FEIRA depois do 2.° Domingo do mez,
em Marialva.
NA SEGUNDA FEIRA depois do 3.° Domingo, em
S. Pedro do Sul, Sernancelhe, Tarouca.
NA SEGUNDA FEIRA depois do 4.° Domingo, em
Castro Daire.
NA ULTIMA SEGUNDA FEIRA, em Carapichana, De
veza, Oliveira de Frades, Peso da Regua, Sata
TIO.
NA 1.º TERÇA FEIRA, em Avinges, Felgueiras,
Rioledo, Torre do Terranho.
NA 1.º TERÇA FEIRA entre 16 e 23, em Coja.
NA1.° QUARTA FEIRA, em Miranda do Corvo (fran
ca), Penamacor, Pena Verde.
Na 1 º QUARTA FEIRA depois do dia 14, em Mi
randa do Corvo (franca), Vouzella.
Na 2.° QUARTA FEIRA, em Alcofra, Castanheiro.
Na 3 a 8# FEIRA, em Penella de Trevões.
Na QUARTA FEIRA da 3.° semana, quando o
Inez principia em domingo, e da 4.° semana quan
do principia em outro qualquer dia, em Sabu
g0Sa.
Na ULTIMA QUARTA FEIRA, em Avô. __ .
Na 1.º QUINTA FEIRA, em Freches, Freixo de Es
pada á cinta, Pesqueira, Sabugal, Santa Cruz, San
tar, Satam.
47
Na 2.° QuINTA FEIRA, em Mosteirinho, Pampi
lhosa (franca), Proença a Nova.
NA 1.º QUINTA FEIRA depois do 3.º Domingo do
mez, na Figueira (Guarda). \

NA 3.º QUINTA FEIRA depois do 1.° Domingo do


mez, em Dornellas, Villa do Touro.
NA 4.º QUINTA FEIRA, em Minzella.
NA ULTIMA QUINTA FEIRA, em Tondella.
NA2.° SEXTA FEIRA, em Castendo, Fataunços.
No 1º SABBADo, em Mogadouro, Freixo de Nu
mão, Fontêllo.
No SABBADO depois do 1.° Domingo, em Lamas
de Satam.
No 2º SABBADO, em Barrellas.
No 4.º SABBADO, em Barrellas, Villa Verde.

No dia 1 de cada mez em Becco, Caminha,


Guiaes, Miranda, Mogadouro, Pico de Regalados,
Ponte do Mouro, Seixedo. +

No dia 2, em Frei Gil, Loureiro, Povoa de Var


Zl Ill.

Ao dia 3, em Arcos, Lebução, Marco de Cana


vezes, Mirandella, Villa do Conde, Villa Nova da
Cerveira, Villa Nova d’Ourem. •

No dia 4, em Condeixa, Monte Real, Nesprei


ra, Padornello, Itibeira de Pena, Rio de Moinhos.
Ao dia 5 em D. Chama, Graça de Baião, Gravel
los (franca), Neves, Penamaior, S.Thiago, Valença.
No dia 6, no Calvario, Cerva, Gagor, Porto, Ri
bações. 48
No dia 2, em # Santa Maria de Emeres
(franca),Tarunquella, Valde Nogueira,Villa Real3d.
No dia S, em Almeida, Barca, Basto, Campello,
Chãas, Leiria, Moncorvo, S. Gabriel, Tontoza, Vil
la Real.
No dia 9, em Algozo, Boticas (franca), Melgaço,
Oliveira do Hospital, 8 d. (franca), Paredes, Penha
Longa, Povoa de Lanhoso, Sabrosa, Val Passos.
No dia 19, em Amarante, Chã, Chão grande,
(franca), Fontinha,
nafiel, Santalha, Guia (Louriçal),
Sinfães, Vimioso. Lagoaço, Pe •

No dia 11, em Alijó (franca), Amarante, Mila


gres, S. Pedro do Sul. -

No dia 12 em Arcozello das Maias, Amarante,


Castanheira de Pedrogão, Feira Nova, Parada,
Pombal, Sendim, Vallença, Villa do Conde.
No dia 13, em Ançã (franca), Guimaza (franca),
Friamunde, Murça, Piães, Portella, Porto de Moz,
Rebordello, Villa Verde, Vista Alegre. "
No dia 14 em Arcos, Bragança, Caminha, Cha
ves, Penafiel, S. João da Serra.
No dia 15, em Castro Laboreiro, Loivos, Man
ualde, Marco de Canavezes, Mezão frio franca)
oimenta da Beira (no dia 15 sendo Domingo, e
se não, no dia immediato), Santo Amaro, Senhor
do Bom Successo, Montemor o Velho, Padornello,
(franca) Tojal, Villaflor.
No dia iG, em Frei Gil (Aregos), Porto, Santo
Antonio da Seca, Villa Nova da Cerveira.
No dia 12, em Alfandega da Fé, Amarante, Ar
neiro de S. João (franca), Carrazedo (franca) Jus
# S. Thiago
9
de Figueiró, Sargaça. 4
No dia 1s, em Castello de Monforte, Loureiro,
Marrare s, Nespreira, Paderne, Pico de Regalados,
Vallença. • • •

No dia 19, em Basto, Chacim, Povoa de Varzim.


No dia 20, em Boticas (franca ),Coreixas,
Ermel
hºnº ), Monção, Seixedo, Villa do Conde, Vi
IlhOS.
No dia e I, em Bragança, Celorico da Beira, Fran
co, Oliveirinha, Pena maior, S. Thiago, Sozello.
No dia 22, em Aldêa Nova, Barca, Santa Cruz,
Senhora das Dores (franca). -

No dia 23, em Agua Revez (franca), Barrosa,


Rocio, S.Sebastião de Sinfães, Vallença, Vinhaes.
No dia 2 s, em Cravições, Lousã, Freixo de Es
ada á cinta, Melgaço, Paredes, Penafiel, Penha
Onga, Teixeira.
o dia 25, em Alcobaça, Armado, Légua, Mou
ta, Ponte da Barca, Varzea, Villa Pouca d'Aguiar.
No dia 2 G, em Chã, Izeda, Porto, Sinfães, To
xa (franca), Val de Sogueiro, Villar de Maçada.
No dia 22, em Feiranova, Friamunde, Jou (fran
ca), Lama de Legoinha (franca), Milagres, Santo #
Amaro, Sargaça. •

No dia 28, em Amarante, Favaios, Monte Ale


gre, Santa Martha, S. Gabriel, Sozello.
No dia 29, em Macedo de Cavalleiros, Pedrei
No dia so, em Eiró.
IOS. - •

No ultimo do mez, em Carrazeda, Castro Labo


reiro, Chaves, Mezão frio (franca), Thomar.
Quatro dias antes do ultimo do mez,em Ruivães.
50
MERCADOS E FEIRAS ANNUAES,
Janeiro.
1. Castellobranco, 3 dias, Flor da Rosa, 2 d.,
Moita, Pesqueira. 3. Aviz, 3 d., Mondim de Basto.
4. Montargil, 2 d., Porcariça, 2. Ponte de Sor, S.
Caetano. 12. Ulme, 3 d. 15. Alfeizirão, Certã, Es
callos de cima, Maceira,Santo Amaro, S.Jorge, Sar
cina (franca). 29. Atalaya, Cantanhede (franca),
Moreira de Rei, Pena Verde, Prado, 2 d., Vidiguei
ra, 3 d.22.TorresVedras (franca). 24, CabeçãRe
donda (franca). 25. Constantina, 29. Terena, 3 d.
(franca).
FeVereiro»
M. Castro Daire, 3 d., Gavião, 3 dias. 2. Casa
branca, Evora, 2 d., Olival. 3. Arouca, Benedicta,
Ega (franca), Ferreira, Juncaes, Monte Perobolço,
S. Braz (franca). 4. Albufeira, 2 d. I M. Certã. I3.
Chamusca, 3 d. 24. Abrantes, 3 d. 25 (1.º Do
mingo da Quaresma). Medellim. Nos fins do mez,
Régua.
Março. •

2 (1.º Sexta feira). Flor da Rosa. 3 (2.º Sab


bado da Quaresma), Loulé, 2 d. 4 (2.º Domingo
da Quaresma). Freixo. II. TorresNovas, 3 d. 15.
Salvaterra do Extremo. AS (4.º Domingo da Qua
resma). Almodovar. A 9. Aveiro, Proença a Velha,
Souto de Leça. 19 (Segunda feira da 5.° semana
de Quaresma). Cabeção (franca). 21. Arcos, Sei
xas. 25. Aldêa Galega da Merceana (franca),
*eirº (franca), Bagunte, Certã, Figueiras Podres,
Leiria, Paço, Quintella, Snrº de Cadiz (Sinfães).
25 (Domingo de Lazaro). Covilhã, Pavia (fran
ca), Porto. 3.O. (Ante vespera de Domingo de Ra
mos). Evora, 2 d. (franca), Valença de Taboaço.
31. (Vespera de Domingo de Ramos). Snrº da
Ribeira.
- A IDFºi º •

5. Rio de Moinhos, 2 d., S. Marcos. G. Góes,


e (Sexta feira de Paixão). Barro (franca): s (Do
mingo de Paschoa). Erra. 9 (1.º Oitava da Pas
choa). Caneças (franca), Louva. E O. (2.º Oitava da
Paschoa). Valle. I I. Montelavar (franca). 15
(Domingo da Paschoela). Borba, 3 d. (franca), Fer
reira, Idanha a Nova, Louriçal, Santarem, 2 d. I G
(Nossa Senhora dos Prazeres). Amoreiras (fran
ca), Lagarteira, Monsanto, S. Miguel, Castro Ver
de 22. Mourão, 3 d. (franca), 25. Alcacer do
Sal (franca), Alter do Chão, Alvalade, Arcozello,
Castellobranco, es, Villa Viçosa (franca).
• Maio.

1. Agualva 3. d. (franca), Cabaços, Medellim,


Olhão. 3. Barcellos, Lamego, 8 d., Outeiro,Silves,
6 (1.º Domingo). Santa Catharina. S. Estremoz,
2 d. (franca), Foscôa, Villa Nova de Famalicão,
2 d. I O. Garvão, 3 d., Porto. 15. Sanhoane. I ?
(Ascensão). Marvão, Semide (franca), 20 (3.º Do
mingo). Elvas. 3 d. 24. Arronches, 3 d., e G. S.
Thiago de Brilhe.22 (Domingo do Espirito San
to). Amoreiras (franca), Arouca, Azueira, 3 d.
(franca), Fontêllo, 3 d., Lappa, Mercês (franca),
Sacavem (franca), S. Romão. 2 S (1.º Oitava %
Espirito Santo).Vianna do Alemtejo. 29.Terena,
3 d (franca). 29 (2.º Oitava do Espirito Santo).
Valonga (franca). • •

«III um ino»
3 (Domingo da SS. Trindade). Aldêa Gallega
da Merceana (franca): 4. Mouta Santa. Porto de
Moz, S. Goes, 10 (2.º Domingo de Junho). Almar
gem (franca), Lappa, 2 d. 12. Aljustrel, 3 d. 13.
Almada, 3 d. (franca). Barquinha, Cintra (franca),
Gandara de Serem, Granja Nova, Mertola,Monsan
to, Venda do Pinheiro (franca), Villa Real, 8 d.,
Villa Verde, Villa Viçosa, 2 d. (franca). I? (3.º Do
mingo de Junho). Almargem (franca), Sobral de
Monte Agraço (franca). Is. Cabeço de Vide. 2o.
Almodovar, Amarante. 3 d. 24. Braga, 2 d., Evo
ra, 3 d. (franca), Frieira, Guarda, Lagoa, 3 d , Lou
zã, Mirandella, Peredo, Vide, 25. S. Christovão.
29. Cercal, Certã, Choto, Flor da Rosa, 3 d., Ida
nha a Nova, Macedo de Cavalleiros, Porto de
Moz, Sabugal, S. Pedro de Aregos, S. Pedro de
Penaferrim (franca), S. Pedro de Solles,TorresVe
dras (franca). •

«5 UAI ino» • |

2. Constantina. 4. Coimbra (franca), Côndei


xa (franca). 1o. Vidigueira, 3 d. II. Arcos, Sei
xas. 15 (3.º Domingo de Julho). Bucellas (fran
ca), Conceição, Murgueira (franca), Sant'Anna da
Serra, MG. Faro, 3 d. I 2. Becco. 23. Arruda, 2 d.
(franca), Piedade, 3 d. (franca): 24. Estremoz,
3 d. (franca). 25. Amieira, Ericeira (franca), Jun-
caes, Leomil, Marialva, Medellim, Mirandella,
#"uºsº, Santo Ago, Setubal (franca), Tremez.
26. Loures, 3 d. (franca), Minde, Sabugal, Sou
to de Leça. 2º. Cuba, 3 d., Figueiró dos Vinhos.
29 (Ultimo Domingo). Vermuil.
Agosto.
2. Lamego, Tavira, 3 d., Torrão, 3 d. 4. Alan
droal, 3 d. (franca), Ermidas (franca), 5. Constan
cia, 3 d., Freixo de Espada á cinta, Proença a Ve
lha. G. Bombarral (franca), Nespreira. B. Beja,
7 d. IO. Castello de Vide, Celorico da Beira,
Leiria, Povoa de Santo Adrião (franca), Sabu
gal, S. Marcos, S. Lourenço, S. Thiago de Brilhe,
Santa Suzanna no Landal, Sebadelhe, Snr.° do
Mosteiro, 13. Moncorvo. 14. Castro Marim, 2 d.
15. Alandroal, 3 d. (franca), Almargem (fran
ca), Barreiro (franca), Batalha, Caldas da Rainha,
Campo Maior, 3 d., Castanheira: Ceiça (franca),
Ferreira, Fronteira, 3 d. Lappa, Monsánto, Monte
Agraço (franca), Paçô, I G. Mido, Sarzedas. I S.
Vianna do Castello, 3 d. 19 (1.º Domingo depois
de 15 d'Agosto). Torres Vedras (franca). 19 (3.°
Domingo d'Agosto). Castro, 3d. 2o. Alcobaça, Se
nhora da Serra, 5 d. (franca). 21. Penamacor. 22.
Proença a Nova, 3 d. 2a. Mexelhoeira grande, 2 d.
Salvaterra do extremo, S. Bartholomeu da Char
neca, 2 d. (franca). 24. Arouca, Bilhó (franca),
Canno, 2 d., Craviçães, Caxarias, Coimbra, Pe
nafiel, Ruivães, Villar, Serpa, 3 d., Trancoso,
Vallada, Villa dos Sinos. e5. Jeromenha, 2 d.
(franca), Piedade (franca). 25. (Ultimo sabbado
d'Agosto). Aldêa Gallega,Atalaya, 3 d (franca).26.
(ultimo Domingo d'Agosto), Bellas, 3 d. dº",
Grandola, Fontinha, Trucifal (franca). 27. Aguas
Bellas, Freixedar. 2S. Penamacor. 29. Loulé,
3 d. 31. Montargil.
Septembro»
2. Certã. 2 (1.º Domingo). Cintra (franca), Guia,
Chão de couce (Arraial). 3. Mondim de Basto. G.
# 3 d. (franca). 2. Mouta, 3 d. (franca), Vil
la Real, 3 d. S. Asinhoso, Belem, 3 d. (franca no
1.°), Barbacena, 3 d., Lagoa, 3 d. Lamego, Luz
(franca), Mangualde, Montemor o Velho (franca),
Moura, 3 d. Nazareth (Arraial), Perrães, Rio de
Couros, S. Thiago de Cacem, Saraparte, Sobreira
formosa, Villa Viçosa (franca), IO. Chacim. Aº
(Segunda feira depois de 8 de Septembro). Bragan
ça. I2. Santa Cita, 4 d. 13. Alcoutim, 3 d., Ode
mira, 3 d., Portalegre, 3 d., Villa do Bispo. M3
(Quinta feira seguinte a 8 deSeptembro).Nazareth,
Pederneira. A4, Alumieira de Loureiro. M5. Er
vedal, 3 d., Mogadouro, Rio Maior, Santa Eufe
mia do Paraíso, 16 (3,º Domingo). Alter do Chão,
Celorico da Beira, Ferreira, Freineda, Villa Nova
de Reguengos (franca): 19. Arronches, Ponte de
Lima, 3 d. 2o. S. Bartholomeu de Messines, ? d.
Vizeu, 15 d. (Os 3 1.º franca), 2 M. Benavente,
3 d., Cabeceiras de Basto, Elvas, 3 d., Fratel, Lou
rinhã (franca), Mertola, Montelavar (franca), Be
foios, 8 d., Soure (franca), Villa Nova de Famali
cão, 2 d.23 (Domingo immediato a 21 de #
tembro), Villa Franca do Rodão (franca), 23 (4.°
Domingo de Septembro).Terena,3.d. (franca),ºº.
#…talvãº, 3 d, 25, Aljesur, Veiros.
O
Res. Qde
mira, 3 d., Ourique, 2 d.29. Alemquer (franca),
Ameixial, 3 d. (franca), Cellaviza (franca), Coru
che, 3 d., Ferreira, Foscoa, Olhão, Penella, Por
to, Rezende, Runa (franca), Souzel, 3 d. Tarouca,
Vendas Novas de Lourosa, Villarinho do Bairro.
30. Idanha a Nova.
OIIfIII»I"Os
1. Soajo. 4. Arcozellos, Castellobranco, Guar
da, Marvão, Ponte de Sor, Redondo, 3 d. (franca),
S. Francisco de Caria, Tavira, 3 d. 2 (1.º Domin
o de Outubro). Almoçageme (franca), Entradas,
illa Franca, 3 d. Reguengo. S. Evora, Povo da
Guia, 2 d. 9. Odivellas (franca). MO. Alcacer do
Sal (franca), Villa Real de Santo Antonio, 2 d. 11.
Santarem, 3 d. 12. Lagos, 3 d. 14 (2.º Domin
o de Outubro). Campo Grande, 8 d. (franca): 15.
ogadouro, 2 d. 16. Ferragudo, 3 d._18. Certã,
Couvellos (franca). 2o. Faro, 3 d.S. Pedro (Obi
dos), Thomar, 3 d. 21. Pereira (franca). 2 1 (3.°
Domingo de Outubro), Mercês (franca). 26. Mon
chique, 3 d. 22. Ruivães. 2 s. Proença a Velha,
Santo Antão (franca). São Simão (franca), Sardoal,
3 d. Villa de Frades, 2d, es (4º Domingo de 0u
tubro). Mercês (franca). 2s (Ultimo Domingo).
Pombal. so. Villa Nova de Santo André (franca).
a M. Chaves, 3 d. (franca).
NOVermIDI"Os
1. Alcains, Almargem (franca), Alvito, 3 d.,
Borba, 3 d. (franca), Cartaxo, Mação, Mangualde,
Santa Quiteria (franca), S. Bento da Lagoa, 2 }6
Silves, 2 d., Soajo, Sobral de Monte Agraço (fran
ca), Tentugal, 2 d. (franca). 4 (1.º Domingo de
Novembro). Oeiras, (franca), Serra d'El-Rei (fran
ca). 5. D. Chama. G. Atouguia (franca), Rebaldei
ra (franca), Seixal(franca). 9. Estremoz, 3 d. (fran
ca). 1o. Cella, Pinhel. II. Ega (franca), Golle
gã, 3 d., Penafiel, 3 d., S. Martinho da Sapataria
(franca), S. Martinho de Salreu, Villa Nova de Por
timão, 3 d. II (2.º Domingo de Novembro). Oei
ras (franca). 25. Rebolosa, Villa Facaia. 29. Ama
rante. 30. Ervedal, Freixeda, Goes, Mafra, 3 d.
(franca), Mezão frio, 3 d. (franca), Moroes, Pena
macor, Santo André de Esgueira, São Jorge, S.
Thiago de Cacem, 2 d. (franca).
DeZemlyI"O•
1. Soajo. 2 (1.º Domingo). Louriçal; 3. Pinhan
cos. 3 (1.º Segunda &# do mez). Lamego.
4. Santa Barbara. S. Cadaval (franca), Cascaes
(franca), Cezimbra (franca), Pernes, 3 d., Torre do
Bispo, Touril (franca). 1o. (2.º Segunda feira).
Lamego. 13. Bagueixe, Chancellaria; Porto de
Moz, Trancoso, Villa Verde. 12. (3." Segunda
feira). Lamego. 1s. Sarnadella (franca). 21.
Abambres, Alcacer do Sal (franca), Canha (fran
ca), Idanha a Nova, 24 (3.° 2.º feira). Lamego.
31. Colmêas, Gradil (franca).

• *> #

57
FOLHINHA PORTUGUEZA
PARA

O ANNO DE 1855

com a indicação de todas as principaes =


festas de Lisboa.

N. B. O numero immediato ao dia do mez indica a ida


de da lua, e com elle se conhecem as horas das marés,
como atraz se declara.

SIGNO DE #ís A QUARIO.

1 DE JANEIRO (14.º) — Segunda. & CIRCUMCI


são do SENHoR (A. 51 p. 33 e 34 e 27 de Janeiro.
A. 54 p. 33). Grande Gala. Beijamão. Indulgen
cia em varias Igrejas. Festa na Graça, Barrei
ro, e Seixal.

2 DE JANEIRO (15º)— Terça. Santo Isidoro, Bis


po Martyr. - -- 58 2
693 DE JANEIRO (16.") — Quarta. Santo Antero,
Papa M. Santo Aprigio, Bispo de Beja, Portuguez.
Santa Genoveva, V. (A. 52 p. 35). Indulgencia na
Madre de Deus na 1.º quarta feira de cada mez.
Lua cheia de Dezembro ás 8h, 28 m. da manhã.

4 DE JANEIRO (17.°) Quinta, S. Gregorio, Bispo.


S. Tito, díscipulo de S. Paulo. Indulgencia no
Convento do Desaggravo em todas as quintas
feiras do anno, e como a da Porciuncula na
Igreja das Religiosas do Sacramento na 1.° 5.°
feira de cada mez.
5 DE JANEIRO (18.") — Serta, S. Simeão Este
lita (A. 51, 5 de Jan.). Santa Apolinaria, Virgem.
S. Telesphoro, Papa Martyr. } de ins
trumental na Sé, e ao escurecer começão as Ma
tinas, tambem de instrumental. Principião as
13 sextas feiras de S. Francisco de Paula na
sua Igreja, com Indulgencias. Começa a Novena
de N. Senhora da Divina Providencia.

6 DE JANEIRO (19.º) — Sabbado. XK, DIA DE REts


(A. 51, 6 de Jan. A. 53 p. 38). Indulgencia no
Loreto. Benção no Menino Deus. Grande festa
na Sé, a que assistem SS. MM.
7 DE JANEIRO (20º) — Domingo (1.º depois de
Reis). NossA SENHORA DE JESUS. S.Theodoro, Mon
ge. Permittem-se os casamentos solemnes. Indul
gencia Plenaria em Santo Amaro no 1.° Domin
{ de cada mez. Festa em Jesus.
8 DE JANEIRO (21.") — Segunda. S. Lourenço
Tribunaes. Patriarcha de Veneza. Abrem-se os
Justiniano, •

9 DE JANEIRO (22.") — Terça. S. Julião Martyr.


Festa na sua Fréguezia, em que foi abolido o
º dia santo de guarda.
10 DE JANEIRO (23.°) — Quarta. S. Paulo, 1.°
Eremita. S. Gonçalo de Amarante.
@ 11 DE JANEIRO (24.º) — Quinta. Santo Hy
gino, Papa Martyr.
Quarto minguante de Dezembro aos 23 m.
depois do meio dia.
12 DE JANEIRO (25.º)— Sexta. S. Satyro, Martyr.
13 DE JANEIRO (26.º) — Sabbado. S. Hilario, B.
14 DE JANEIRO (27.°) — Domingo (2.º depois de
Reis). SANTIssIMo NoME DE JESUs. NossA SENHORA DA
DivINA PRovineNCIA. S. Felix, Martyr. Indulgencia
em S. Domingos para os Irmãos dos Passos no
2.° Domingo de cada mez. Festa principal do
Sagrado Coração de Maria no Mosteiro da En
carnação.

15 DE DE JANEIRO (28º)— Segunda. Santo Ama


ro, Abbade. Festa em Santo Amaro, na Concei
gão Velha, e no Convento do Desaggravo, com
Lausperenne. |- 60
16 DE JANEIRO (29.°) — Terça. Os Santos Mar
tyres de Marrocos. S. Marcello, Papa Martyr. Co
meção os dias de Santa Engracia na Sé de Lis
boa, para desaggravar o Santissimo Sacramen
to, pelo desacato na Fréguezia da mesma San
ta, na noute de 15 para 16 de Janeiro; ha Pro
cissão dentro da Igreja. Tambem se desaggra
va no Conventinho (Santa Clara), havendo ser
mão na mesma noute do desacato, e festa com
sermão nos tres dias.

17 DE JANEIRO (30.") — Quarta. Santo Antão,


Abbade. Santa Leonilla, Martyr.
@ 18 DE JANEIRO (1.º) — Quinta. A Cadeira de
S. Pedro em Roma. Santa Prisca, Virgem Martyr.
Lua Nova de Janeiro ás 8. h. 47 m. da manhã.
19 DE "Nemo (2.º) — Sexta. S. Canuto, Rei de
Dinamarca, Martyr (A. 52 p. 245).
20 DE JANEIRO (3.º) — Sabbado. S. Sebastião,
Martyr (Jejum no Patriarchado). Foi abolido o
dia santo de guarda na sua Fréguezia, na Ilha
de S. Miguel, e em Lamego, e o dia santo dis
pensado em Braga, Pinhel, e Funchal, Festa de
instrumental em S. Sebastião da Pedreira, fei
ta pelos marcineiros, de quem o Santo é Patro
no Festa na Igreja do Hospital de S. José.
21 DE JANEIRo (4.") — Domingo (3.º depois de
fºiº Santa Ignez, Virgem Martyr.
22 DE JANEIRO (5.") — Segunda. S. Vicente Mar
tyr, Padroeiro de Lisboa e do Algarve (A. 52 p.
54). Santo Anastacio. — Festa em S. Vicente de
Fóra e na Sé. Festeja-se S. Sebastião na sua Igre
ja, com instrumental.
23 DE JANEIRO (6.") Terça. Os Desposorios de
Nossa Senhora com S. José. S. Raymundo de Pe
nafort. Santo Ildefonso, Arcebispo de Toledo.
24 DE JANEIRO (7.") — Quarta. N. Senhora da
Paz. S. Timotheo, B. M.0 B. Marcolino, D.
-
+

@ 25 DE JANEIRO (8.") — Quinta. Conversão do


Apostolo S. Paulo.—Festa e Lausperenne na sua
Fréguezia, em que se abolio o dia santo de guarda.
Quarto crescente de Jan. á 1 h. 48 m. da manhã.
26 DE JANEIRO (9.°)—Sexta. S. Polycarpo, Bispo
Martyr, Santa Paula, Viuva. Festa a S. Sebastião
na Fréguezia de S. Paulo.
-
/ –

27 DE JANEIRO (10.º) — Sabbado. S. João Chry


Sostomo, Bispo e Doutor da Igreja. Festa a N. Se
nhora da Piedade em S. Paulo. |

28 DE JANEIRO (11.º) — Domingo (4.º depois de


Reis). S. Cyrillo, Bispo. A Beata Veronica, A.Tras
ladação de S. Thomaz d'Aquino; O B. Matheus de
Agrigento, B. Festa principal do Sagrado Cora
gão dº Maria no Mosteiro da Encarnação. Come
90 a Novena das Chagas de Christo. 62
29 DE JANEIRO (12º) — Segunda. S. Francisco de
Sales, Bispo. S.Pedro Thomaz, C. Festa de Laus
perenne nas Silesias a S. Francisco de Sales.
30 DE JANEIRO (13.") — Terça. Santa Martinha,
Virgem Martyr, SantaJacintha de Mariscotti, Vir
8êm- r

31 DE JANEIRO (14.") — Quarta. S,Pedro Nolas


co, da Ordem do Carmo. S. Cyro, Martyr.

SIGNO DO PISCIS.

1 DE FEVEREIRo (15.° — Quinta. Santo Ignacio,


Bispo Martyr. Santa Brigida. O Bemaventurado
André de Conti (A. 51, 1 de Fevereiro). Jejum ex
cepto nos Bispados d'Elvas e de Vizeu. -
* *

@ 2 DE FEVEREIRO (16.º) —Seata. S3. PURIFicação


DE NossA SENHoRA (A. 51, 2 de Fevereiro, A. 52 p.
64). Festa nos Terceiros do Carmo e na Sé.
Lua cheia de Janeiro ás 3h. 51 m. da manhã.

3 DE FEVEREIRo (17.°)— Sabbado. S. Braz, Bispo


Martyr. O B. Odorico, F.Festa a S. Braz na Con
#㺠Velha, em Santa Luzia, e nos Martyres.
4 DE FEVEREIRO (18.°) — (Domingo da Septua
# Santo André Corsino, Bispo S. José de
eonisa. Costuma celebrar-se na Igreja das
Commendadeiras da Encarnação uma festa com
Exposição do SS. Sacramento e sermão de ma
nhã e de tarde, chamada a festa da Archicon
fraria do SS. Coração de Maria, e com Indul
# Plenaria
omingos da Madre confrades. Começão
paradeos Deus. *"
os

5 DE FEVEREIRO (19.") — Segunda.Santa Agueda,


Virgem Martyr. Os Martyres do Japão, S. Pedro
Baptista e seus"""### Matinas na Igreja
das Chagas á festa do Orago.
6 DE FEVEREIRo (20.º) — Terça. As Chagas de
Christo. Santa Dorothea, Virgem Martyr. ôBem
aventurado Antonio de Amandula. Festa e Laus
perenne na Igreja das Chagas e Te-Deum de tar
de: Festa do Snr.Jesus dos Desamparados com Ju
bileu para os Irmãos no Mosteiro da Encarnação.
7 DE FEVEREIRO (21.º) — Quarta. S. Romualdo,
Abbade. S. Ricardo, Rei d'Inglaterra. Festa a
Santo Urbano Martyr na Igreja das Chagas,
8 DE FEVEREIRO (22.°) —Quinta. S. João da Mat
ta, Fundador da Qrdem da SS. Trindade.
9 DE FEVEREIRO (23.") — Sexta. Santa Apollo
nia, Virgem Martyr, Advogada contra a dor de
dentes. Festa e Lausperenne nas Monicas.
{ @ 10 DE FEVEREIRO (24.") — Sabbado. Santa Es
cholastica, V.S. Guilherme, Duque d'Aquitania, A.
Quarto minguante de Janeiro ás 3h. 10 m.
da manhã.

11 DE FEVEREIRO (25º)-Domingo da Sexagesi


ema. S. Lazaro, Bispo. Os 7 Fundadores dos Sérvi
tas. A Bemaventurada Joanna Valesia.

12 DE FEVEREIRO (26.") —Segunda, Santa Eula


iia, Virgem Martyr.
13 DE FEVEREIRO (27.") — Terça. S. Gregorio II,
Papa, Santa Catharina de Ricci, V., D. A Bemaven
turada Viridiana, V., da Ordem de S. Francisco.
14 DE FEVEREIRO (28.") — Quarta. S. Valentim,
Martyr. Vesperas da Trasladação de Santo An
tonio, na sua Igreja.

15 DE FEVEREIRO (29")—Quinta. Trasladação |


de Santo Antonio. Os Santos Faustino e Jovíta,
Martyres. Festa em Santo Antonio da Sé.
@ 16 DE FEVEREIRo (1.º) — Sexta. s. Porphy
rio, Martyr. O B. Bernardo de Corleone.
Lua nova de Fevereiro ás 6 h. 11 m. da tarde.

17 DE FEVEREIRO (2.º) — Sabbado. S.Faustino,


Martyr. O Bemaventurado Nicoláu de Longobar
dis, Minimo. Faz 10 annos a Serenissimo Senhº
# Infanta
Q
D. Antonia. Pequena Gala.
Y)
18 DE FEVEREIRo (3.°) — Domingo da Quinqua
gesima. S. Theotonio, 1º Prior de Santa Cruz de
Coimbra. S. Simeão, Bispo Martyr. Indulgencia
das 40 horas na Sé é em S. João Nepomuceño por
occasião da Exposição do SS. Sacramento até á
3.º feira depois de Completas.
19 DE FEVEREIRO (4º)— Segunda. S. Conrado,
Franciscano. O B. Alvaro de Cordova.

20 DE FEVEREIRo (5.") — Terça feira de entrudo


(A. 51, 4 de Março, A. 53 p. 70). S. Eleutherio,
Bispo Martyr.
21 DE FEVEREIRO (6.") — Quarta feira de Cin
zas (A. 51, 5 de Março, A. 52 p. 85. A. 53 p. 71).
S. Maximiano, Bispo Martyr. Santa Angela de Mi
ricia, Virgem, da Ordem de S. Francisco. Jejum
até á Paschoa, menos aos Domingos. Prohibem-se
as benções matrimoniaes desde este dia até o 1.°
Domingo depois de Paschoa. Benção da Cinza na
Sé, com instrumental. São prohibidos os especta
culos publicos n’este dia e em todas as 6.º feiras
da Quaresma. •

22 DE FEVEREIRO (7.º) — Quinta. S. Margarida


de Cortona. A Cadeira de S. Pedro em Antio chia

(# 23 DE FEVEREIRO (8.°) — Sexta. S. Pedro Da


mião, Bispo. S. Lazaro, Monge.
Quarto crescente de Fevereiro ás 4 h. 57 m.
da tarde. 66
24 DE FEVEREIRo (9º) — Sabbado. S. Mathias,
Apostolo. S. Pretextato, Bispo. Foi abolido o dia
santo dispensado. -

25 DE FEVEREIRo (10.º — Domingo (1.º da Qua


resma). S. Cesáreo, Irmão de S. Gregorio Naziam
zeno. Procissão
Franca, em Santo Antão do Tojal, Villa
e Cascaes. •

26 DE FEVEREIRo (11.") — Segunda. S. Torcato,


Martyr, Arcebispo de Braga.

27 DE FEVEREIRO (12.") — Terça, S. Leandro,


Arcebispo de Sevilha. A Bemaventurada Virgem
Christiana.

28 DE FEVEREIRO (13.") - Quar ta (Temporas).


S. Romão, Abbade. O Bemaventurado Thomaz de
Cora. 2.º Trasladação de Santo Agostinho.

SIGNO DE _\

1 DE MARÇo (14º)— Quinta. Santo Adrião Mar


# S. Rozendo Portuguez. A Bemaventurada Ma
thia de Nazareis, da Ordem de S. Francisco (A.
} 1 de Março), -

$
2 DE MARço (15.º) — Sexta (Temporas). S. Sim
plicio,
Graça. Papà. Procissão do Senhor dos Passos da

G 3 DE MAnço (16.") — Sabbado (Temporas).S.


Hemeterio, Martyr. Santa Cunegundes.
Mua cheia de Fevereiro ás 9 h. 3 m. da tarde.

4 DE MARço (17.°)— Domingo (2.º da Quaresma).


S. Casimiro. S. Lucio, Papa Martyr. Procissão em
Sacavem. •

5 DE MARÇo (18.") — Segunda. S. Theophilo, Bis


o de Cesarea. O Beato João José, da Ordem de S.
rancisco.

6 DE MARÇo (19.°) —, Terça, Santo Ollegario,


Bispo. Santa Colleta, Virgem. S. Marciano, Bispo
Martyr.
7 DE MARço (20º) — Quarta. S. Thomaz d'Aqui.
no, Doutor da *# da Ordem de S. Domingos.
Santas Perpetua e Felicidade, Martyres. Foi abo
# dia Santo dispensado
t!?"0408.
em Faro e seus su

8 DE MARço (21.°)—Quinta. S. João de Deus (A.


54, p. 102).
9 DE MARço (22º) — Serta. Santa Francisca Ro
mana, Viuva. Santa Catharina de Bolonha, Virgem,
da Ordem de S. Francisco. 68
10 DE MARÇo (23.°) — Sabbado. S. Melitão e seus
# #anheirºs, Martyres. Começa a Novena de
. JOS62.

3) 11 DE MARÇo (24.") — Domingo (3.º da Qua


resma). S. Candido, Martyr. Procissão dos Passos.
em Oeiras e Alverca, e dos Terceiros de S. Fran
cisco na Arruda. — Faz 33 annos S. A. Serenis
sima a Senhora D. Januaria Maria.
Quarto minguante de Fevereiro á 1 h. 23 m.
da tarde.

12 DE MARÇo (25.º) — Segunda. S. Gregorio, Pa


pa e Doutor da Igreja.
13 DE MARÇo (26º) — Terça. A Bemaventurada
Sancha, Virgem, Infanta de Portugal. S. Rodrigo,
Martyr. Santa Eufrasia, Virgem.
14 DE MARgo (27.") — Quarta. Trasladação de S.
Boaventura, Santa Mathilde, Rainha. — Faz 33
"nos S. M. a Imperatriz do Brasil, D. Thereza,
#istina Maria, Irmã
88. •
de S. M. o Rei de Napo

15 de março (28º)— Quinta. s/acharias, Papa.


S. Longuinhos, soldado, Martyr... -- ".

16 DE MAnço (29.º) — Sexta. S. Cyriaco, Martyr.


Procissão dos Passos em Belem e no Desterro. —
Faz 13 annos o Sereníssimo Senhor Infante D.
#". Pequena Gala.
17 DE MARço (30.") — Sabbado. S. Patricio,
Apostolo da Irlanda. Santa Gertrudes, Vir
gêIll.

@ 18 DE MARÇo (1.º) — Domingo (4.º da Quares


ma). S. Gabriel, Archanjo. S. Narciso, Arcebispo
de Braga. O Bemaventurado Salvador da Horta,
da Ordem de S. Francisco.
Lua nova de Março ás 4 h.9 m. da manhã.
19 DE MARÇo (2.°) — Segunda. S. José, Esposo
de Nossa Senhora (A. 54 p. 112). Festa e Lauspe
renne na sua Fréguezia. Festa na Igreja do Hos
pital de S. José, em Belem, e com Jubileu para os
Irmãos no Mosteiro da Encarnação. Foi abolido
o dia santo dispensado nas Cidades do Porto,
Lamego, Guarda, Beja, Castellobranco, Funchal,
e Prelazia de Thomar, e o dia santo de guarda
nas outras dioceses.

20 DE MARço (2.°)—Terça: S. Martinho Dumien


se, Arcebispo de Braga (4.53 p. 110). O B. João
de Parma, da Ordem de S. Francisco.
21 DE MARÇo (4º) — Quarta. S. Bento, Abbade.
Festa no Mosteiro da Encarnação. Principia a
Primavera (A. 51, 21 de Março).
22 DE MAngo_(5º) — Quinta. S. Benvenuto,
Bispo. Santo Emygdio, Bispo Martyr. Santo
Ambrosio de Sena, da Ordem de S. Domin
OS,
{ 70
23 DE MARço (6.") — Serta.S. Felix e seus com
panheiros, Martyres.
Sacramento. Matinas na Fréguezia do

24 DE MARço (7.") — Sabbado. Instituição do San


tissimo Sacramento. S. Marcos, Martyr, Santo
Agapito, Bispo. Festa de instrumental e Lauspe
renne na Fréguezia do Sacramento, em que fou
abolido o dia santo de guarda. Indulgencia co
mo a da Porciuncula em todas as Igrejas em que
estiver o SS. Sacramento, ou tiverem a sua invo
cação, ou do Corpo de Christo. Festa no Conven
to de Santa Clara. Começa o Septenario de N.
Snr.º das Dores.

25 DE MARço (8.°) — Domingo DA PAIXÃo ou DE LA


zARo. ANNUNCIAÇÃo DE NossA seNHoRA (A. 51, 25 de
Março e 6 de Abril. A. 53 p. 122). Indulgencias.
Festa e Lausperenne em S. Francisco de Paula.
Benção no Menino Deus. Procissão dos Passos na
Luz e em S. Antão do Tojal. Festa de instrumen
tal na Fréguezia da Encarnação e de Santa Joan
na. São prohibidos os espectaculos desde hoje até
Domingô de Paschoa inclusive.
Quarto crescente
49 m. da de Março ás 10 h.
manhã. •

26 DE MARÇo (9º)— Segunda. S. Ludgero, Bis


po. S. Theodoro, Bispo Martyr. S. Braulio, Bis
p0.

mº DE MARço (10.°) — Terça. S. Roberto, Bispo.


28 DE MARÇo (11.") — Quarta. Santo Alexandre,
Martyr. •

29 DE MAnço (12 *)— Quinta.S. Victorino eseus


Companheiros, Martyres.

30 DE MARço (13.°) — Sexta. As sete DoRes DE


NossAsFNHoRA (A. 53 p. 108). Festa e Lausperenne,
na Ermida das Dores e nas Igrejas onde houve
Septenario. Festa e Snr. Exposto na Guia. Fes
ta de instrumental em Santo Antonio da Sé. Fes
ta em Santa Joanna. • • •

31 DE MAnço (13.") — Sabbado. Santa Balbina,


Virgem. S. Benjamin, Diácono, Martyr.

SIGNO DO

1 DE ABRIL (15.") — DowINGo DE RAnos (A. 51, 1.°


de Abril).As Chagas de Santa Catharina de Sena.
S. Macarío. Festa na Sé com instrumental. Pro
cissão de tarde na Madre de Deus, Campo Gran
de, Loures, e Almada. Princípião as férias.
622 DE ABRIL (16.") — Segunda. S. Francisco de
Paula. Santa María Egypcíaca. Festa e Lausperen
me em S. Francisco de Paula.
Lua cheia á 1 h. 52 m. da tarde. 72
3 DE ABRIL (17.") — Terça. S. Ricardo, Bispo. S.
Benedicto, da Ordem de S. Francisco. S. Pancra
cio, Bispo Martyr. — Faz 24 annos S. A. a Se
renissima Snr.° D. Adelaide Sophia, Esposa do
Snr. D. Miguel de Bragança.
4 DE ABRIL (18.") — Quarta feira de Trevas (A.
51, 16 de Abril, A, 52 p. 128). S, Isidoro, Arcebis
po de Sevilha. S. Zozimo. Oficio nos Martyres, S.
Roque, Sé, etc. •

5 DE ABRIL (19.°)— Quinta feira de Endoenças


[*# desde o meio dia até ao meio dia seguinte).
(A. 51, 1 de Abril, A. 52 p.12. A. 53 p. 113.). S.
Vicente Ferrer, da Ordem de S. Domingos. Fes
ta de instrumental na Sé.

6 DE ABRIL (20.)— Sexta feira de Paixão (A. 51,


6 e 18 de Abril, A. 53 p. 114, A. 54 p. 134). S. Mar
cellino, Martyr. A Bemaventurada Catharina de
Pallancia, da Ordem de Santo Agostinho. Pro
cissão do Enterro na Graça, em Jesus, nos Cle
rigos Pobres, nas Francezinhas, e em Belem.
7 Dr Annil (21.") — Sabbado d'Alleluia (A. 51,.
19 de Abril). Santo Epifanio, Bispo Martyr.
8 DE ABRIL (22.°) — Domingo de Paschoa (A. 51,.
20 de Abril, A. 52 p. 125, A. 53 p. 116). S. Aman
cio Bispo. Festa de intrumental na Sé. Benção
Papal. Festa nos Martyres Pequena Gala. Faz 19
"yº" que chegou a Lisboa S. M. El-Rei Regente.
A
@ 9 DE ABRIL (23.°)—Segunda (1.º Oitava). Tras
ladação de Santa Monica. Foi abolido o dia santo
dispensado no Funchal e o de guarda na outras
dioceses.
Quarto minguante ás 8h. da tarde.
10 DE ABRIL (24.") — Terça (2.º Oitava); S. Eze
quiel, Propheta. O Bemaventurado Antonio, Mar
tyr, da Ordem de S. Domingos. Foi abolido o dia
santo dispensado.
11 DE ABRIL (25.º) — Quarta. S. Leão I, Papa. O
Beato André do Monte Real, da Ordem de Santo
Agostinho.
12 DE ABRIL (26º) — Quinta. S. Victor, M. Por
tuguez. O B. Angelo de Clavasio.
13 DE ABRIL (27º) — Sexta. S. Hermenegildo,
Martyr. A Bemaventurada Margarida do Castel
lo, Virgem, da Ordem de S. Domingos.
. 14 DE ABRIL (28º) — Sabbado. S. Tiburcio e S.
Valeriano, Martyres. S. Pedro Gonçalves Tel
Ill0. *

15 DE ABRIL (29.º) — Domingo da Paschoela (A.


53 p. 121). Santas Basilissa e Ânastacia, Martyres,
Santo Eutychio, Martyr. Festa á Snr.º das An
gustias em S. Francisco de Paula. Communhão
dos meninos e sermão nas Fréguezias do Sacra
mento e Magdalena. P~
74
6) 16 DE ABRIL (1.º) — Segunda. NossA SENHORA
Dos PRAzERES E DA PENA. S. Engracia, V. M. S. Fru
ctuoso, Arceb. de Braga. Festa de instrumental
na Fréguezia da Encarnação. Festa no Mosteiro
da Encarnação, em Santa Joanna, na Fréguezia
da Pena, e em S. Christovão. Procissão de ma
nhã por voto; sahe da Fréguezia de Santos para
a Ermida dos Prazeres. •

Lua nova de Abril ás 2h. 28 m. da tarde.

17 DE ABRIL (2.º) — Terça. Santo Aniceto, Pa


pa Martyr. Santo Elias, Monge Portuguez.
18 DE ABRIL (3.°) — Quarta. S. Gualdino, Bis
po e Cardeal. O Bemaventurado André Hibernon, F.
19 DE ABRIL (4º) — Quinta, Santo Hermoge
nes, Martyr. O Bemaventurado Conrado Miliano,F.
- 20 DE ABRIL (5.°) — Sexta. Santa Ignez de Mon
tepoliciano, Virgem.
21 DE ABRIL (6.") — Sabbado. S. Anselmo, Arceb.
de Cantuaria. Com.a N9v.de S. Catharina de Sena.

22 DE ABRIL (7.") — Domingo do Bom Pastor


(A. 52 p. 144). FuciDA DE Nossa SENHoRA. Santos Sote
ro e Caio, M. Santa. Senhorinha, V. Portugueza.
23 DE ABRIL (8.°) — Segunda. S. Jorge Martyr,
Defensor do Reino Festa e Lausperenne em S.
Jorge onde foi abolido o dia santo de guarda.
75
GE 24 DE ABRIL (9.") — Terça. S. Fiel de Sigma
ringa, Martyr, F. Santo Honorio, Bispo. Começa
a Novena de Santa Cruz no Castello. |
#|
Quarto crescente de Abril ás 5h. 20 m. da manhã.
25 DE ABRIL (10.º) — Quarta. S. Marcos, Evan
gelista. •

26 DE ABRIL (11.°) — Quinta. S. Pedro de Rates,


Martyr e 1.° Bispo de Braga, S. Cleto e S. Marcel
lino, Martyres. Procissão da Saude. Dia santo de
guarda gbolido no Arcebispado dº Braga.
27 DE ABRIL (12.") — Sexta. S. Tertuliano, B. S.
Toribio, Arcebispo de Lima. O Bemaventurado Ja
cobo de Bictecto, F. Começa a Novena de N. Snr.º
do Resgate. - , " " , .

28 DE ABRIL (13 *) Salado. s. Vital, Mar


-

tyr. S. Prudencio, Bispo. O Beato Lucio, F. OBem


aventurado Agostinho de Novelo, A. +

29 DE ABRIL (14.") — Domingo. S. Pedro, Mar


tyr, da Ordem de S. Domingos.S. Hugo, Abbade.
esta nos Martyres a Santa Maria Egypciaca
pela Real Irmandade dos Areheiros, e ao Patro
cinio de S. José na Igreja da Estrella. Anniver
sario da Carta Constitucional. Grande Gala, Bei
jamão. Faz 62 annos S.A. a Serenissima Senho
ra D. Maria Thereza, Viuva do Senhor D. Pe
dro Carlos, e tornada a casar com o Serenissimo
Senhor D. Carlos Maria de Hespanha.… 7s
30 DE ABRIL (15º) — Segunda. Santa Catharina
de Sena (A: 52 p. 110) V. S. Peregrino, Servita.
Festa nos Paulistas.

"SIGNO DE

1 DE MAIO (16º) — Terça. S. Filippe e S. Thia


go, Apostolos. S. Segismundo. Foi abolido o dia
-santo de guarda no Funchal e o dispensado nas
outras dioceses.
(A. 51, 1.º de Maio).

@2 DE MAIO (17.º)—Quarta.S.Athanasio, Bispo.


? "……………… Mafalda, Virgem, Infanta de Por
ugal.
Lua cheia de Abril ás 3h. 27 m.
- da manhã.

3 DE MAIo (18.") T{## Invenção da Santa


Cruz (A. 53 p. 154). Foi um dos dias santos dis
pensados abolidos pela Bulla de 1844.
4 DE MAIO (19.°) — Seacta. Santa Monica, Viu
va, mãi de Santo Agostinho. Começa a Novena de
?> Senhora dos
4
Martyres. * -
5 DE MAIo (20.º) — Sabbado. Conversão de San
to Agostinho. S. Pio V.,Papa, da Ordem de S. Do
mingos. Santo Angelo, M., da Ordem do Carmo.
6 DE MAIO (21.º)— Domingo. MATERNIDADE DE Nos
sA SENHoRA. S. João ante portam latinam. S. João
Damasceno. Festa de Nossa Senhora do Resgate,
na sua Ermida aos Anjos, e do Senhor Jesus dos
Perdões na Igreja da Magdalena.
7 DE MAIo (22.°) — Segunda. Santo Estanisláu,
Bispo Martyr. Começa a Novena de S. João Ne
pomuceno. Festa da Coroação de espinhos de
Nosso Senhor, em Santa Joanna.
8 DE MAIo (23.°) — Terça. Apparição de S. Mi
guel Archanjo. Festa na sua Igreja. Principia a
Novena da Ascensão.

@ 9 DE MAIo (24.º) — Quarta. S. Gregorio Na


zianzeno, Bispo. •

Ouarto minguante de Abril ás 2h.25 m. da manhã.


10 DE MAIo (25.º) — Quinta. Santo Antonino,
Arcebispo de Florença, da Ordem de S. Domin
gos. Festa ao Patrocinio de S. José na Igreja
das Religiosas de Santo Alberto.

11 DE MAIO (26.") — Sexta. Santo Anastacio, M.


12 DE MAIo (27.") — Sabbado S. Joanna, Princeza |
de Portugal, V. (A, 53 p. 161) Festa no seu "#
13 DE MAIO (28º) - Domingo. Nossa SENHORA nos
MARTYREs. S. Pedro Regalado, da Ordem de S. Fran
cisco. O Beato Alberto de Bergamo, da Ordem de
S. Domingos. Festa na Fréguezia dos Martyres,
em que foi abolido o dia santo de guarda. Prin
cipia a Novena de Santa Rita de Cassia.

14 DE MAIO (29.º)— Segunda (Ladainhas, abs


tinencia de carne). S. Gil, da Ordem de S. Domin
gOS (A. ## 163). S. Bonifacio, Martyr. O Beato
Francisco de Fabiano, F. Festeja-se hoje S. Fran
cisco de Paula na sua Igreja.
15 DE MAno (30.")— Terça (Ladainhas, absti
mencia de carne). S. Izidro, lavrador. O Beato
Egydio, da Ordem de S. Francisco.

@ 16 DE MAIO (1.º) — Quarta (Ladainhas, Je


jum). S. João Nepomuceno, Martyr. Santo Ubaldo,
Bispo. S. Simão Estok, da Ordem do Carmo. Festa
e Lausperenne em S. João Nepomuceno. Embar
ca o Cirio do Cabo.
Lua nova de Maio á 1 h. 37 m. da manhã.

17 DE MAIO (2.º) — Quinta. X AscENSÃo Do SENuoR


(A. 51, 29 de Maio). S. Paschoal Baylão, F. S. Pos
sidonio. Começa a Novena de S. Filippe Nery.
Festa no Sacramento, em Santa Martha, e no Con
vento de Santa Clara. Faz-se a Hora na Igreja
dos #### e no Sacramento. Festa, Lauspe
renne, e Indulgencia, na Ermida da Ascensão,
aos Paul istas. • • • • |

79
18 DE MAIo (3º) —Sexta. S. Venancio, Martyr.
Santo Erico, Rei de Suecia. Começa a Novena do
Espirito Santo.
19 DE MAIo (4.") — Sabbado. S. Pedro Celestino,
Papa, Santo Ivo, da Ordem de S. Francisco.
20 DE MAIo (5.º) — Domingo. S. Bernardino de
Sena, da Ordem de S. Francisco. A Beata Colum
ba de Riete, Virgem, da Ordem de S. Domingos.
Procissão do Corpo de Deus no Salvador.
21 DE MAIo (6.°) — Segunda. S. Manços, Mar
tyr, 1.° B. d'Evora. Desembarca o Cirio do Cabo.
22 DE MAIO (7.") — Terça. Santa Rita de Cassia,
Viuva. Santa Quiteria, V. M. e oito irmãs Portu
guezas (A. 53 p. 170). Santa Helena. S. Ato, Bis
po Portuguez. A B. Emiliana, Viuva, da Ordem
de S. Francisco. Festa de instrumental a Santa
Rita de Cassia na Ermida da Oliveira.

. (C23 DE MAIo (8 °) — Quarta. S. Basilio, Arce


bispo de Braga. S.. Desiderio, Bispo Martyr.
(Juarto crescente de Maio ás 11 h. 26 m. da tarde.
24 DE MAIo (9º) — Quinta. Santa Afra, Martyr.
O Beato João do Prado. Martyr. Trasladação de S.
Domingos (A. 54 p. 173).
25 DE MAIo (10.º)—Sexta. S. Gregorio VII, Pa
pa, S. Urbano, Papa, M. 80
26 DE MAIo (11,º) — Sabbado (Jejum.) S.Filippe
Nery, Fundador da Congregação do Oratorio. Fês
ta na Ermida da Victoria pelos Congregados de
S. Filippe Nery.
27 DE MAIO (12.°) — Domingo de PENTEcosTEs ou
PaschoA Do Esplarro SANTo. S. João Papa, Martyr. O
Veneravel Beda. Festa de instrumental na Sé. Sa
he da Fréguezia de S. Pedro em Alcantara o Ci
rio de Nossa Senhora das Mercês, e volta na ter
º á noute.

28 DE MAIO (13.º)—Segunda (1.º Oitava). S. Ger


mano, Bispo (Foi um dos dias santos dispensa
dos abolidos no Funchal e Prelazia de Thomar,
º dos dias santos de guarda abolidos nas outras
dioceses).
29 DE MAIo (14.") — Terça (2.º Oitava). S. Maxi
mo, Bispo (Foi um dos dias santos dispensados
qbolidos pela Bulla de 1844). \,

30 DE MAIo (15º) — Quarta (Temporas, Jejum).


$.Fernando, Rei de Castella.S. Felix, Papa, Mar
tyr. Nome de S. M. El-Rei. Simples Gala. …
º 31 DE MAIo (16.º)— Quinta. Santa Petronilla,
Virgem. O Beato Diogo Salomão, da Ordem de S.
0mingos. Começa o Oitavario do Corpo de Deus
} Francezinhas e no Mosteiro da Encarna
Pú0.
81 Lua cheia de Maio ás 2h. 11 "º tarde.
SIGNO DE

1 DE JUNHo (17.º) — Sexta (Temporas, Jejum).


S. Firmo, Martyr. O Bemaventurado Jacobo de
Strepa. Começa a Trezena de Santo Antonio.
2 DE JUNHo (18.°)—Sabbado (Temporas, Jejum).
S. Marcellino, Martyr. O Bemaventurado Sadoc e
seus 48 Comp., M. Matinas na Encarnação.
3 DE Junho (19.") — Domingo da SANTIssIMATnix
DADE. Santa Paula, V.M.Santo Ovidio, B. de Braga.
4 DE JUNHo (20.º) — Segunda. S. Francisco Ca
raciolo. S. Quirino, Bispo Martyr. Trasladação de
S. Pedro, Martyr, da Ordem de S. Domingos. Fes
ta na Fréguezia da Encarnação da Irmandade
dos Clerigos Pobres a que assiste como Juiz o Snr.
Cardeal Patriarcha.

5 DE JUNHo (21.") — Terça. S. Marciano, Martyr.


S. Bonifacio, Bispo Martyr. O Beato Pacifico, F.
6 DE JUNHo (22.º)— Quarta. S. Norberto, Bispo.
Santa Paulina, Virgem Martyr. Festa e Procissão
do Corpo de Deus nos Martyres, e festa do Desag
gravo pelas escravas da Irmandade do SS. Sa
cramento no Mosteiro da Encarnação. Começa a
Novena do Coração de Jesus. • $2
|
| (É 7 DE JUNHo (23º) — Quinta. & Conro DE DEUs.
S. Roberto, Abbade. Pequena Gala. Procissão da
Cidade. Festa nos Conventos de Santa Clara e de
Santa Joanna. São prohibidos hoje os espectacu
los publicos.
Quarto minguante de Maio ás 7 h.
11 m. da manhã.

8 DE JUNHo (24.º) — Sexta.S. Salustiano, da Or


dem do Carmo. S. Severino, Bispo. O Beato Fran
cisco de Patriciis, Servita. Principia a Novena de
Nossa Senhora Mãi dos Homens. -

9 de Junho (25.º) — Sabbado. S. Primo e S. Fe


liciano, Martyres. Santa Melania.
10 DE JUNHo (26.º) — Domingo. Santa Margarida,
Rainha de Escocia. |

3 |
11 DE Junh0 (27.°) — Segunda. S. Barnabé, Ap.
12 DE JUNHo (28º) — Terça ("# no Patriar
chado). S. João de S. Fagundo. Santo Onofre. O
Bemaventurado Guido, da Ordem de S. Francisco.
13 DE JuMHO (29.º) — Quarta. XX.Santo Antonio
de Lisboa, da Ordem de S. Francisco (A 52 p. 260.
A. 53 p.191). Festa de instrumental na sua Igre
ja a 4% assiste a Camara Municipal. Foi aboli
do o dia santo dispensado em Braga, Bragança,
Castello Branco, Elvas, Guarda, Portalegre,
#riº, e Funchal. * *-* *-
@ 14 DE Junho (1º) — Quinta (Jejum, .S Basi
lio Magno, Bispo. Santo Eliseu, Propheta. Procis

são do Corpo
Lua nova de
de Deus,
Junhode
á tarde,
1 h. 52 na
m. Sé de Lisboa.
da tarde.

15 DE JUNHo (2.º)—Serta. SS. CoRAÇÃo DE JESUs. S.


Vito, M. Assistem à festa no Convento da Estrella
SS. MM. Grã-Cruzes, e Commendadores. Festa
nas Francezinhas, no Convento de Santa Clara, e
nas Religiosas do SS. Sacramento a Nossa Senho
ra dos Aflictos. Procissão de tarde em Jesus. Pe
quena Gala. Começa a Novena de S.João Baptista.
16 DE JUNHo (3º) — Sabbado. S. João Francisco
Regis. Santo Aureliano, Bispo.
17 DE JUNHo (4,º) — Domingo. NossA SENIoRA MÃ1
Dos HoMENs. Santa Theresa, Rainha de Leão, Por
tugueza. S. Manoel e Irmãas, Martyres. O Beato
Paulo de Arezzo.
18 DE JUNHo (5.º) — Segunda. S. Marcos e S.
Marcellino, Irmãos Martyres. A B. Osana, V.F.
19 DE JUNHo (6.") — Terça. Santa Juliana de Fal
coneri, Virgem. S. Gervasio e S. Protasio, Marty
res. A Beatã Miquelina, Virgem Franciscana.
20 DE JUNHo (7.º) — Quarta. S. Silverio, Papa
Martyr. S. Macario. Começa a Novena de S. Pedro.
21 DE JUNHo (8.") — Quinta.S. Luiz Gonzagºs,
22 DE JUNHo (9º) — Sexta. S. Paulino, Bispo.
0 Beato Filippe de Placencia, da Ordem de Santo
Agostinhô. Principia o Verão (A. 51 p. 200).
Quarto crescente de Junho ás 4 h. 15 m. da tarde.
23 DE JUNHo (10.º) — Sabbado (Jejum). S. João,
Sacerdote. Santa Edeltrudes, Rainha de Bretanha.
24 DE JUNHo (11.°) — Domingo. PUREZA DE NossA
SeNuoRA, Nascimento de S. João Baptista (A. 52p.
204. A 33 p.203). Festa em S. João da Praça, Pe
nha de França, Lumiar, Almada, Alcochete, etc.
25 DE JUNHo (12º)—Segunda. S. Guilherme, Ab.
S.Febronia, V.M.S.Tude, advogado contra a tosse.
26 DE JUNHO (13.") — Terças João e S. Paulo,
Irmãos Martyres. S. Pelagio, Martyr.
27 DE JUNHo (14º) — Quarta, S. Ladisláu, Rei
d’Hungria. O Beato Benvenuto, F.
28 DE JUNHo (15.º)— Quinta (Jejum).S.Leão II, P.
6229 DE JuxHo (16.º) — Sexta. X S. Pedro e S.
Paulo, Apostolos A. *# 208), Festa e Lauspe
ºnne na Igreja de S. Pedro em Alcantara, nos
Inglezinhos, Lumiar, Cintra, e Seixal.
Lua cheia de Junho ás 10 h. 37 m. da tarde.

30 DE IuNno (17.") — Sabbado, S. Marçal, Bispo.


#" na Graça.
Q
SIGNO DE LEO. "

1 DE JULHo (18º) — Domingo (A. 51 p. 240). S.


Theodorico, Abbade. . |- +
• • •• "

2 DE Julho (19.") — Segunda. VisitAÇÃO DE NossA


SENHORA, Festa na Igreja de S. Roque, cujo Ora
go é a Visitação, e nas Silesias. Dia santo dis
pensado abolido no Funchal.

3 DE Julho 20.") — Terça. S. Jacinho, Martyr.


Santo Heliodoro, Bispo. -

4 DE JULHo (21.º) — Quarta. Santa Isabel, Rai -


nha de Portugal (4.52p. 40, 72,105, A. 53 p. 213,
372). Festa na sua Frèguezia, onde foi abolido o
dia santo de guarda. Faz 54 annos a Serenissima
Senhora Infanta D. Isabel Maria. * #

5 DE Julho (22.°) — Quinta, Santo Athanazio,


Martyr. O Bemaventurado Miguel dos Santos, Ad
Vogado contra cancros e tumores,
@ 6 DE JULHo (23º) — Serta. Santa Domingas,
Virgem Martyr. Começa a Novena de S. Camillo.
Quarto minguante de Junho aos 51 m. depois
do meio dia. . … … 86
7 DE JULHo (24.") — Sabbado. Santa Pulcheria,
Virgem. S. Claudio e seus Companheiros, Marty
res. Começa a Novena de N. Senhora do Carmo.
8 DE JULHo (25.°) — Domingo. NossA SENHonA no
PATRocinio. S. Procopio, Martyr. O Beato Louren
go de Brunduzio, da Ordem de S. Francisco.
9 pr Julho (26º) — Segunda S. Cyrillo, Bispo
| Martyr. O Bemaventurado S. João de Colonia,
Martyr, da Ordem de S. Domingos. O Beato Nico
láu e seus Companheiros,-Martyres.
10 DE JULHO (27º) — Terça. S. Januario e seus
Companheiros, Martyres. Santa Amelia, Virgem.
Principia a Novena de Santa Justa. Dia do no
me de } M.I., a Senhora Duqueza de Bragança:
Pequena Gala.
11 DE JULHo
ladação (28º) — Quarta. S. Sabino. Tras
de S. Bento. •

12 DE JULHO (29.º) — Quinta. S. João Gualberto,


Abbade. S. Nabor e S. Felix, Martyres.
13 DE JULHo (30.º) — Sexta. Santo Anacleto, Pa
pa M. Faz 8 annos a Ser. Senhora Princeza D.
Leopoldina, filha de S. M. o Imperador do Brasil.
@ 14 DE JULHo (1º) — Sabbado. S. Boaventu
ra, Bispo Cardeal, da Ordem de S. Francisco.
Lua nova de Julho às 3h. 24 m. da manhã.
15 DE JULHO (2.°) — Domingo. Anjo Custodio
do Reino. S. Camillo de Lelis. Santo Henrique Im
erador. Festa na Magdalena a S. Camillô de Le
is. Festa e Procissão no Sacramento.

16 DE JULHo (3.") — Segunda. TRIUMPHõ DA SANTA


CRUz. NossA SENHoRA Do CARMO. S. Sisenando, Mar
tyr. O Beato Cesláu, da Ordem de S. Domingos.
Festa a Nossa Senhora em S. Nicoláu, nas Reli
#
tTelld.
de Santo Alberto, e no Convento da Es

17 DE JULHo (4.") — Terça. Santo Aleixo.


18 DE JULHo (5.º) — Quarta. Santa Marinha, Vir
gem Martyr. S. Frederico, Bispo. O Beato Simão
de Lipnica, da Ordem de S. Francisco. Foi aboli
do o dia santo de guarda na Fréguezia de Santa
Marinha.

19 DE JULHO (6.") — Quinta. Santas Justa e Ru


fina, Martyres. S. Vicente de Paulo, Fundador da
Qrdem da Congregação da Missão e das Irmãs da
Caridade. Festa e Lausperenne na Fréguezia de
Santa Justa, em que foi abolido o dia santo de
guarda. Faz 31 annos S.A. o Principe D. Luiz,
Conde de Aquila, Marido da Senhora Infanta D.
Januaria.

20 DE JULHO (7.°) —Sexta. S. Jeronymo Emylia


no. Santo Elias, Propheta. Santa Margarida, Vir
gem Martyr. Começa a Novena de Sant'Anna.
21 DE JULHo (8.") — Sabbado. Santa Praxedes,
Virgem. Faz 12 annos a Serenissima Senhora In
fanta D. Maria Anna. Pequena Gala.
@ 22 DE JULHo (9º) — Domingo. Santa Maria
Magdalena. Festa e Lausperenne na sua Frégue
zia em que foi abolido o dia santo de guarda.
Quarto crescente de Julho ás 7 h. 13 m. da tarde.
23 DE JULHO (10.") — Segunda, S. Apollinario,
Bispo M.S. Libório, Bispo. A Beata Joanna Vanna,
Virgem, da Ordem de S. Domingos. Faz 9 annos
o Ser. Sr. Infante D. Fernando. Pequena Gala.
24 DE JULHo (11.") — Terça (Jejum). Santa Chris
tina, Virgem Martyr. S. Francisco Solano, F.
25 DE JULHo (12.°) — Quarta. S. Thiago, Apos
tolo. S. Christovão, Martyr. Festa e Lausperenne
em S. Christovão. Festa em S. Thiago. Foi abo
lido o dia santo dispensado em Braga, Lamego,
Vizeu, Priorado do Crato, e Beja, e o dia santo
de guarda nas outras dioceses.
26 DE JULHO (13.°) — Quinta. S. Symfronio. S.
Olympio e S. Theódulo, Martyres. Começa a No
vena de S. Domingos.
27 DE JULHO (14.º)—Sexta. S. Pantaleão, Medico
e Martyr (Pena de talião). A Beata Cunegundes,
Virgem, da Qrdem de S. Francisco. Dia santo de
gºrdº abolido no Porto.
28 DE JULHo (15.") — Sabbado. Santo Innocen
cio, Papa.
ê> 29 DE JULHo (16º)—Domingo. SANT'ANNA, MÃE DA
MÃ DE DEUs. Santa Martha, Virgem. Santo Olavo,
Rei da Noruega, Martyr. Festa de instrumental
nas Freiras de Sant'Anna e nas de Santa Joan
na. Festa e Procissão na Magdalena. Festa em
Bemfica. Festa em Santa Martha. Principia a
Novena de S. Caetano. Faz 9 annos S.A. a Sere
nissima Princeza D. Isabel, filha mais velha de
S. M. o Imperador do Brazil.
Lua cheia de Julho ás 5h. 44 m. da manhã.

30 DE JULHO (17.") — Segunda. S. Rufino, Mar


tyr.

31 DE JULHo 18.") — Terça. Santo Ignacio de


Loyola. Juramento da Carta Constitucional. Faz
*3 annos S. M. I. a Snr.º Duqueza de Bragança.
Grande Gala. Beijamão.

SIGNO DE

, 1 DE Agosto (19.")—Quarta (A. 51, 1 de Agosto).


S. Pedro ad vincula. Os Martyres de Chellas. 90
2 DE Agosto (20.º)— Quinta. Nossa Senhora dos
Anjos. Santo Estevão, Papa Martyr. Faz 31 annos
S. A. a Serenissima Senhora Infanta D. Fran
cisca, Princeza de Joinville.
3 DE AGosto (21.") — Sexta. Invenção de S. Es
tevão Proto-Martyr.
GE 4 DE Agosto (22.") — Sabbado. S. Domingos.
Festa em Santa Joanna. •

Quarto minguante de Julho ás 8h. 44 m. da tarde.


5 DE AGosTo (23º) —Domingo. Nossa SENHoRA DAs
NEVES. Festa do Orago na Freguezia do Soccorro.
6 DE AGosto (24.º) — Segunda. TRANSFIGURAÇÃo pr
CHRISTO. Sant'Iago, Eremita: Festa na Fréguezia
do Salvador. Principia a Novena da Assumpção.
Dia santo de guarda abolido na Fréguezia do
Salvador e nas Cidades de Pinhel e Angra.
7 DE AGosto (25.") — Terça. S. Caetano. Santo
Alberto, da Ordem do Carmo S. Severino, Mar
tyr. O Beato Vicente d'Aquila, da Ordem de S.
rancisco. Principia a Novena de S. Roque.
8 DE AGosto (26.º) — Quarta. S. Cyriaco e seus
Companheiros, Martyres. S. Severo, Presbytero.
9 DE Agosto (27.") — Quinta (Jejum). S. Ro
mão, Martyr. O Bemaventurado João de Salerno,
* Ordem de S. Domingos.
10 DE AGosTo (28.") — Serta. S. Lourenço, Mar
tyr. Santa Filomena, Virgem Martyr, Princeza.
Festa e Lausperenne na Fréguezia de S. Louren
ço, em que se abolio o dia santo de guarda.
11 DE AGosto (29.º) — Sabbado. S. Tiburcio e
Santa Suzanna, Martyres.
@ 12 DE AGosto (1.°)— Domingo. Santa Clara,
Virgem, da Ordem de S. Francisco. Festa na sua
Igreja e nas Francezinhas.
Lua nova de Agosto ás 6 h. 16 m. da tarde.
13 DE Agosto (2.º) — Segunda. S. Hypolito e S.
Cassiano, Martyres. Santa Helena, Virgem Martyr.
O Bemaventurado Pedro de Moleano, F.
14 DE Agosto (3.°) — Terça (Jejum). S. Euse
bio. Santa Athanasia, Viuva. O Bemaventurado
Sanches, da Ordem de S. Francisco. A Bemaventu
rada Juliana do Busto, da Ordem de S. Agostinho.
15 DE AGOSTO (4.º)}}. Quarta. AssUMPÇÃo de NossA
SENHORA. Festa de instrumental na Sé. Indulgen
Cia em varias Igrejas. Festa nos Clerigos Pobres.
Procissão nas Flamengas ao Calvario. Festa na
Ermida da Assumpção, na Rua da Prata. Festa
de instrumental, SS. Sacramento Exposto, ar
raial, e feira, em Calhariz de Bemfica. Procissão
e arraial no Barreiro. Festa na Peninha em Cin
tra. Jubileu no Arcebispado de Braga, e por 8
dias no Patriarchado. 92
16 DE AGosto (5.°) — Quinta. S. Roque, da Or
dem de S. Francisco. S. Jacintho, da Ordem de S.
Domingos. Foi um dos dias santos dispensados
abolidos no Funchal. Festa na Igreja da Miseri
cordia.

17 DE AGosto (6°) — Serta.S.Mamede, Martyr.


A Bemaventurada Emilia, Virgem, da Ordem de S.
Domingos. Festa e Lausperenne em S. Mamede,
onde foi abolido o dia santo dispensado. Princi
pia a Novena do Coração de Maria.
__18 DE AGosto (7.") — Sabbado. Santa Clara de
Monte Falco, Virgem, da Ordem de Santo Agosti
nho. S. Lauro, Martyr.
19 DE AGosto (8.") — Domingo. S. Joaquim, Pai
de Nossa Senhora. S. Luiz, Bispo, da Ordem de S.
#iscº. Principia a Novena de Santo Agos
tinho.

20 DE AGosTo (9º) — Segunda. S. Bernardo,


Abbade e Doutor da Igreja.
Quarto crescente de Agosto ás 7h.
57 m. da tarde.

21 DE AGosTo (10.º)—Terça. Santa Joanna Fran


fisca, Viuva. Santo Anastacio, Martyr, Santa Um
bellina, Irmã de S. Bernardo.
22 DE Agosto (11.") — Quarta. s. Timotheo,
Mºst.
23 DE Agosto (12.") — Quinta (Jejum), S. Filip
pe Benicio. S. Liberato e seus Companheiros, Mar
tyres. O Beato Jacobo de Mevanha, D.
•24 *Agosto (13.") — Serta. S. Bartholomeu,
Apostolo (A-51, 24 de Agosto). Dia santo dispensa
do abolido pela Bulla de 1844.
25 DE AGOSTO (14º) — Sabbado. S. Luiz, Rei de
França. , ' , -

26 DE Agosto (15º)— Domingo, sacrano Conscio


DE MARIA. S. Zepherino, P. M. Festa na Ermida do
Campo Grande e no Mosteiro da Encarnação.
@ 27 DE AGosTo (16.º) — Segunda. S. José Cala
zans. S. Ruffo, Bispo Martyr. - , , ,

Lua cheia de Agosto aos 44 m. depois.


* * * do meio dia.

po28e Dr.
DE AGOSTO (17.") — Terça. S. Agostinho,
da Ígreja. • … .
Bis

2º Dr Agosto (189— Quarta. Degolação de S.


João Baptista. ** ,

*"PE AGOSTO (19.°)— Quinta. Santa Rosa de Li


*a, Virgem, da Ordem de S. Domingos. Princi
P*** Novena de Nossa Senhora das Necessidades.
31 DE Agosto (20º) — Sexta.S. Raymundo No
ººº, Cardeal. Festá em Santa Mariha. *
, SIGNO DE fiº."
1 DE se prevano (21") — Sabbado. Santo Egydio,
Abbade. Principia a Novena de S. Nicoláu To
lentino. Começão as férias (4, 51 p. 279).
2 de serTaxºno (22.") — Domingo. Santo Este
vão, Rei da Hungria. S. Brocardo, C.
@ 3 DE SEPTEMBRO (23º – Segunda. Santa Eufe
mia, Virgem Martyr. Os Beatos João de Perusa e
Pedro de Saxoferrate, Martyres.
Quarto minguante de Agosto ás 7 h.
47 m. da manhã. … "

4 DE SEPTEMBRO
Viterbo, Virgem, F.(24.")
Santa—Candida.
Terça. Santa Rosa de

5 DE SEPTEMBRO (25º) —Quarta. Santo Antoni


n0, Martyr, A. O Bemaventurado Gentil, Martyr.
Trasladação dos Martyres de Lisboa.
6 DE SEPTEMBRO (26º) — Quinta Santalibania,
W. A. Os Santos dos Cónegos Regrantes. , ,
7 DE SEPTEMBRo (27.") — Sexta (Jejum). S. João,
#r. S. Anastacio, Martyr. - i : " …
8 DE SEPTEMBRO (28.°)—Sabbado.NATivIDADE DENos
sA SENHoRA, Santo Adrião, Martyr. Festa e Lauspe
renne na Ermida da Victoria. Festa nas Neces
sidades, Loreto, Luz, Guia, Linda a Velha, etc.
Dia santo de guarda abolido pela Bulla de 1844.
9 DE SEPTEMBRO (29.º)—Domingo. SANTissimo NoME
DE MARIA. S. Sergio, Papa. A Bemaventurada Sera
phina, Viuva, F. Festa nas Francezinhas. Festa a
Nossa Senhora da Graça e a Nossa Senhora da
Guia nas suas Igrejas. Festa d'arraial na Cruz
Ouebrada. Festa dos Cereeiros a Nossa Senhora
Franca, na Fréguezia de S. Thiago.
10 DE SEPTEMBRo (30.") — Segunda, S. Nicoláu
Tolentino, da Ordem de Santo Agostinho.
@ 11 DE SEPTEMBRo (1.º) — Terça, Santa Theo
dora, Penitente. O Beato Bernardo de Ofida, F.
Lua nova de Septembro ás 10 h. 15 m. da manhã.
12 DE SEPTEMBRO (2.º) — Quarta. S. Auta, V. M.
13 DE SEPTEMBRO (3º) — Quinta. S. Filippe, M.
14 DE SEPTEMBRo (4.º) — Sexta. ExALTAÇÃo DA SAN
TA CRuz. Festa nas Francezinhas e na Igreja das
Religiosas de Santo Alberto. Foi abolido o dia
santo dispensado na Cidade de Miranda.
15 DE SEPTEMBRo (5.º) — Sabbado. S. Domingos
em Soriano. S. Nicomedes, Martyr. 96
16 DE SEPTEMBRo (6.º)— Domingo. Festa das Do
res de Nossa Senhora. Trasladação de S. Vicente,
M. S. Cornelio, M. Festa em S. Nicoláu, na Ermi
da das Dores, e em Santos o Velho. Faz 18 annos S.
M. o Senhor D. Pedro V. Grande Gala. Beijamão.
17 DE SEPTEMBRO (7.°) — Segunda. S. Pedro de
Arbues, Martyr. As Chagas de S. Francisco.
18 DE SEPTEMBRo (8.°) — Terça. S. José de Cu
pertino. S. Thomaz de Villa Nova, Bispo.
(# 19 DE SEPTEMBRO (9.") — Quarta (Temporas,
Jejum), S. Januario, Bispo Martyr, Santa Cons
tança, Martyr.
Quarto crescente de Septembro ás 6 h.
24 m. da manhã.

20 DE SEPTEMBRO (10.º) — Quinta (Jejum). San


to Eustachio e seus companheiros, Martyres. Co
meça a Novena de S. Miguel.
21 DE SEPTEMBRO (11.") — Serta (Temporas, Je
jum). S. Matheus, Apostolo e Evangelista. Santa
Ifigenia, Princeza.
22 DE SEPTEMBRO (12.°) — Sabbado (Temporas,
Jejum). S. Mauricio, Martyr.
23 DE SEPTEMBRo (13.º) — Domingo. S. Lino, Pa
pa Martyr. Santa Tecla, Virgem Martyr. Princi
gº o Outono (A. 51, 23 de s……….
A -
24 DE SEPTEMBRO (14º) — Segunda. NossA SENHo
RA DAs MERCÊs. Festa nas Mercês em que foi aboli
do o dia santo de guarda. Oficio e Missa pela
alma de S. M. I. o Senhor Duque de Bragança.
São prohibidos hoje os espectaculos publicos.
6525 DE SEPTEMBRO (15º) — Terça. S. Firmino,
Bispo Martyr. Santo Herculano, Soldado Martyr.
O Beato Pacifico de S. Severino. Começa a Nove
na de S. Francisco de Assiz.
Lua cheia de Septembro ás 8h. 49 m. da manhã.
, 26 DE SEPTEMBRO (16.") — Quarta, S. Cypriano e
Santa Justina, M.(A.53, p.290) A B. Luiza,Virgem.
27 DE SEPTEMBRo (17.") = Quinta. S. Cosme e
Damião, Martyres. Santo Eleziario.
28 DE SEPTEMBRo (18º) — Serta. S. Wencesláu,
Duque de Bohemia, S. Bernardino de Feltro, da
Ordem de S. Francisco. O Bemaventurado Simão
de Rochas. Festa da Dedicação da Igreja Paro
chial do Sacramento na sua Fréquezia. Começa a
Novena de Nossa Senhora do Rosario.

29 DE SEPTEMBRO (19.") — Sabbado. S Miguel


Archanjo (A 53 p. 293). Dia santo de guarda abo
lido na Fréquezia dos Anjos, e dia santo dis
pensado abolido na Fréguezia de S. Miguel. Festa
em S. Miguel, na Fréguezia do Sacramento, no
Mosteiro da Encarnação, em S. Paulo, e na Fré
guezia dos Anjos, de que S. Miguel é Orago.
30 DE SEPTEMBRO (20.") — Domingo. S. Jeromy.
mo, Dr. da Igreja. Festa a S. Miguel em Santos o
Velho. Festa e feira em Belem. Acabão as férias.

SIGNO DE N& SCORPIO,

1 DE ouTUBRo (21.") — Segunda. Santos, Verissi


mo, Maxima, e Julia, Irmãos Martyres Portugue
zes (A. 51, 4 de Out. A. 53 p.295).S. Remigio, B.
Festa e Lausperenne na Fréguezia de Santos em
que foi a# o dia santo de guarda.
@ 2 DE ouTUBRO (22.") — Terça. Os Anjos da
Guarda (A. 54, p. 297). •

0"r"## ## de Septembro ás
10 h. 28 m. da tarde.

3 DE ouTUBRo (23.°) — Quarta. S. Candido, Mar


tyr. S. Maximiano, Bispo. Traslad. de Santa Clara.
4 DE OUTUBRo (24º) — Quinta. S. Francisco de
Assiz. Festa nas Freiras de Santa Clara, nas de
Santa Anna, e no Soccorro.
5 DE ouTUBRO (25.") — Sexta, S. Placido e seus
Companheiros, Martyres.
6 DE OUTUBRO (26.") — Sabbado. S. Bruno. Co
meça a Novena de Santa Thereza.
7 DE ouTUBRO (27.") — Domingo. SS. RosARIO DE
NossA SENHORA. S. Marcos, Papa. O Bemaventurado
Matheus Carrerio, da Ordem de S. Domingos. Fes
ta a S. Miguel em Santos, o Velho. Procissão do
Rosario nas Religiosas do Bom Successo. Festa
nas Religiosas do SS. Sacramento, ás Necessida
des, no Convento de Santa Joanna, e em S. Nico
láu, instituida pelo Snr. Manoel Ribeiro da Silva.
8 DE ouTUBRo (28º) — Segunda. Santa Brigida,
Viuva, Princeza de Nericia. Santa Pelagia, Peni
tente, -

9 DE ouTUBRO (29.º) — Terça. S. Dionisio, Bispo


de Paris. Santo Andronico e Athanasia, Martyres.
Foi abolido o dia santo de guarda no Funchal e
o dispensado nos suburbios. •

10 DE ouTUDRo (30.") — Quarta. S. Francisco de


Borja, Padroeiro do Reino e Conquistas. S. Luiz
- Beltrão. Principia a Novena de S. Pedro de Al
Canta1'a. |

@ 11 DE ouTUBRo (1.") — Quinta. S. Firmino,


Bispo. Primeira Trasladação de Santo Agostinho.
Lua nova de Outubro ás 2h. 47 m. da manhã.

12 DE ouTUBRo (2.º) — Serta, S. Cypriano, Bispo


Martyr. S. Seraphino, da Ordem de S. F"#
13 DE ouTUBRO 3.°) — Sabbado. S. Eduardo, Rei
de Inglaterra. S. Daniel e seus Companheiros, Mar
tyres,

14 DE OUTUBRO (4º)— Domingo. NossA SENHORA pos


REMEBros. Patrocinio de S. José. S. Calisto, Papa
Martyr. Festa na Sé. Festa e Lausperenne nas
Freiras do Rato. Começa a feira do Campo Gran
de. Faz 38 annos S.A., o Principe de Joinvil
le, Esposo de S. A. R. a Snr." Princeza D. Fran
Cl SC (L.

15 DE ouTUBRo (5,º) — Segunda. Santa Thereza


de Jesus, Virgem, da Ordem do Carmo. Festa no
Convento da Estrella e das Palmelôas na Penha
de França. Começa a Novena de S. Raphael.
16 DE ouTUBRO (6.") — Terça. S. Martiniano, Mar
} da Ordem de Santo Agostinho. S. Gallo, Ab
ade. -

17 DE ouTUBRO (7.") — Quarta. Santa Hedwiges,


Viuva, Duqueza de Polonia.
@ 18 DE ouTUBRO (8.º) — Quinta. S. Lucas Evan
gelista. -

Quarto crescente de Outubro ás 3h.


1 m. da tarde.

19 DE ouTUBRO (9.º) — Sexta. S. Pedro de Alcam


tara, da Ordem de S. Francisco. Festa em S. Pedro
#"……….
20 DE ouTUBRO (10.º) — Sabbado. Santa Iria, Vir
gem Martyr, Portugueza. S. João Cancio. Dia san
to de guarda abolido no Arcediagado de Santa
rem e Prelazia de Th0mar. •

21 DE OUTUBRO (11.º) — Domingo. Santa Ursula


e suas Companheiras, Virgens M. Festa das 11,000
Virgens em Santa Martha e em Santa Joanna.
22 DE ouTUBRO (12º) — Segunda. Dedicação da
Basilica de Mafra. Santa Maria Salomé. O Beato
Gregorio Celli, da Ordem de Santo Agostinho.
23 DE ouTUBRO (13.°) — Terça. S. João Capistra
no, da Ordem de S. Francisco. S. Romão, Bispo.
S. João Bom, da Ordem de S. Agostinho.
24 DE S.
chanjo. ouTUBRO (14.º)Martyr.
Fortunato, — Quarta. S. Raphael Ar •

. @25 DE ouTUBRO (15º) — Quinta. Santos Chris


pim e Chrispiniano, Irmãos Martyres. Eclipse de
Lua (Ver no principio do Almanach.)
Lua cheia de Outubro ás 6 h. 50 m. da manhã.

26 DE OUTUBRO (16.º) — Sexta. Santo Evaristo,


Papa Martyr. O Bemaventurado Boaventura de Po.
tenza, da Ordem de S. Francisco. Faz 53 annos o
Senhor D. Miguel de Bragança.
27 DE OUTUBao (17.") — Sabbado (Jejum). Os
Martyres d'Evora. S. Elesbão, Imp. da Emyººł,
28 DE OUTUBRO (18º) — Domingo. S. Simão e S.
Judas Thadeu, Apostolos.
29 DE OUTUBRO (19.") — Segunda, Trasladação
de Santa Isabel, Rainha de Portugal. S. Feliciano,
Martyr. Santa Eusebia, Virgem Martyr. A Bem
a Venturada Bemvinda, Virgem, da Ordem de S.
Domingos. Faz 39 annos S. M. El-Rei D. Fernan
do. Grande Gala. Beijamão.
30 DE ouTUBRo (20.)—Terça. S. Serapião, Bispo.
31 DE ouTUBRO (21.°)—Quarta (Jejum). S. Quin
tino, Martyr. Faz 17 annos o Serenissimo Snr. In
fante D. Luiz Filippe Pequena Gala.

SIGNO DE sAGITTAR f0.

Ç1 DE NovEMBRo (22.º) X Quinta. FESTA DE To


Dos os SANTos. Jubileu no Arcebispado de Braga,
e por 8 dias no Patriarchado. Festa ao Senhor
Jesus da Via Sacra em Santa Engracia, e de tar
de Procissão por voto, pelo terremoto de 1755. Fes
ta e Procissão por voto em Cacilhas; São prohibi
dos hoje os espectaculos publicos (A. 51, 1 e 4 de
Nov. A. 54 p. 325).
Quarto minguante de Outubro ás 4 h. 40 m.
da tarde. •

- 103
2 DE NovEMBRO (23.°) — Serta. Commemoração
dos Defuntos. S. Victorino, M. São hoje prohibi
dos os espectaculos publicos (A. 51, 2 de Nov.,
A.52 p. 329. A. 53 p. 326).
3 DE NovEMBRO (24.º) — Sabbado. S. Malaquias,
Bispo Primaz da Irlanda.
4 DE NovEMBRO (25.º) — Domingo. S. Carlos Bor
romeu, Arcebispo Cardeal. Faz 8 annos o Serenis
simo Senhor Infante D. Augusto. Pequena Gala.
Faz 44 annos S.A. o Snr. # D. Sebastião,
filho da Serenissima Snr." D. Maria Thereza.

5 DE NOVEMBRO (26.º) Segunda. S. Zacharias e


Santa Isabel, Pais de S. João Baptista. Faz 10 an
nos S, A., o Principe D. Pedro Filippe, Duque
de Penthievre, filho de SS. A.A. R.R. o Snr. Prin
cipe de Joinville e a Snrº Princesa D. Fran
C? $('([.

6 DE NOVEMBRO (27.") — Terça. S. Severo, Bispo


Martyr, S. Leonardo. Principia a Novena de San
ta Gertrudes. Oficio e Missa por alma da Senhor
D. João IV, fallecido n’este #
.7 DE NOVEMBRO (28º) — Quarta. S. Florencio,
Bispo. Principia a Novena do Bemaventurado
Gonçalo de Lagos.
8 DE NovEMBRO (29.") — Quinta. S. Severiano e
Seus Companheiros, Martyres. 104
é?) 9 DE NoveMBRO (1.º) — Sexta. S. Theodoro,
Martyr. Os Santos da Ordem de S. Domingos.
Eua nova de Novembro as 6 h. 54 m. da tarde.

10 DE NOVEMBRO (2.º) — Sabbado. S. André Ave


lino. Os Defuntos da Ordem de S. Domingos (Je
jum, excepto nos Bispados de Coimbra e Aveiro, e
no Priorado do Crato).
11 DE NovEMBRO (3.") — Domingo. PArRocinio Dr.
NossA SENHoRA. S. Martinho, Bispo. Festa em S.
Thiago (A. 51, 12 de Nov., A. 52 p. 338, A. 53 p.
335, 336, A. 54 p. 336,337).
12 DE NovEMBRo (4.") — Segunda. S. Martinho,
Papa Martyr. S. Diogo, da Ordem de S. Francisco.
13 DE NovEMBRo (5.") — Terça. Santo Eugenio,
Bispo de Toledo. Os Santos das Ordens de Santo
Agostinho, S. Bento, e SS. Trindade.
14 DE NovEMRBo (6.") — Quarta. Trasladação de
S. Paulo, Primeiro Eremita. O Bemaventurado Ga
briel, da Ordem de S. Francisco. O Bemaventurado
João Licio, da Ordem de S. Domingos. Os Santos
da Ordem do Carmo.

15 DE NovEMBRO (7.") — Quinta. Dedicação da


Basilica do SS. Coração de Jesus. Santa Gertrudes
Magna. O Bemaventurado Alberto Magno, da Or
i#㺠Domingos, Festa no Convento do Co
dem dedeS.Jesus. •

9
(C16 DE NovEMBRO (8.º)— Sexta. O Bemaventu
rado Gonçalo de Lagos, da Ordem de Santo Agos
tinho. Santa Ignez, Virgem, da Ordem de S. Fran
cisco. S. Valerio. A Beata Luiza Narzi, Virgem.
Começa a Novena de Santa Catharina.
Quarto crescente de Novembro ás 10 h.
8 m. da tarde.

17 DE NovEMBRO (9.") — Sabbado. S. Gregorio


Thaumaturgo, Bispo.
18 DE NovEMBRo (10.") — Domingo. S. Romão.
19 DE NovEMBRO (11.º) — Segunda. Santa Isa
bel, Rainha de Hungria.
20 DE NovEMBRO (12.") — Terça. S. Felix de Va
lois, Fundador dos Trinos.

21 DE NovEMBRO (13.") — Quarta. APRESENTAÇÃo


me NossA SENHORA. Indulgencia em varias Igrejas.
Foi abolido o dia santo dispensado no Funchal.
22 DE NovEMBRO (14.º) — Quinta. Santa Cecilia,
Virgem Martyr. Grande festa de instrumental nos
Martyres, á qual assistem SS.MM. (A. 51, 22 de
Nov., A. 52 p. 348.)
@ 23 DE NovEMBRO (15.º) — Sexta. S. Clemente,
Papa Martyr. Santa Felicidade, Martyr.
Lua cheia de Aovembro ás 7 h.
15 m. da tarde.
106
"24 DE NovEMBRO (16.") — Sabbado. S. João da
Cruz, da Ordem do Carmo. Santo Estanisláu Ko
tska. S. Chrisogono, Martyr.
25 DE NovEMBRo (17.°) — Domingo. Santa Catha
rina, \### Martyr. Festa na sua Fréguezia em
que foi abolido o dia santo de guarda. Principia
a Novena de Santa Barbara.

26 DE NovEMBRO (18.º) — Segunda. S. Pedro Ale


xandrino, Bispo Martyr. A Beata Delfina, Virgem,
da Ordem de S. Francisco.

27 DE NovEMBRo (19.") — Terça, Santa Margari


da de Saboia, Viuva, da Ordem de S. Domingos.
O Beato Leonardo de Porto Mauricio. Os Santos
da Ordem de S. Paulo, 1.º Eremita. Principia a
Novena de S. Nicoláu.

28 DE NovEMBRo (20.") — Quarta. S. Gregorio


111, Papa. S. Jacobo de Marca, da Ordem de S.
Francisco.

29 DE NovEMBRo (21.") — Quinta (Jejum). —S.


Saturnino, Martyr. Os Santos das 3 Ordens de S.
Francisco. Principia a Novena de Nossa Se
nhora da Conceição, na sua Igreja, Loreto, An
jos, etc.
30 DE NOVEMBRO (22º) — Sexta. Santo André,
Apostolo. Foi um dos dias santos dispensados
abolidos pela Bulla de 1844.
107
\,

SIGNO DE && SCORPIO,


ii

3) 1 DE DEZEMBRO (23º) — Sabbado. S. Eloy,


Bispo. E o Santo dos Ourives; festeja-se na sua
Capella, na Rua da Prata, quando para lá vai o
Lausperenne, o que anda pôr este tempo;
Quarto minguante de Novembro á 1 h.
34 m. da tarde.

2 DE DEzEMBRo (24º) — Domingo (1.º do Adven


to). Santa Bibiana, Virgem Martyr. Os Defuntos
das 3 Ordens de S. Francisco. Faz 30 annos S. M.
o Imperador do Brasil.
3 DE DEZEMBRO (25.") — Segunda. S. Francisco
Xavier, Apostolo das Indias. Festa em S. Roque.
4 DE DEZEMBRO (26.") — Terça. Santa Barbara,
Virgem Martyr. S. Pedro Chrysologo, Bispo Oficio
de Santa Cecilia nos Martyres. Foi abolido o dia
santo dispensado em Faro e seus suburbios.
5 DE DEZEMBRO (27.°) — Quarta. S. Giraldo, Ar
cebispo de Braga. S. Sabbas, Abbade. A Bemayen
turada Isabel Bona, Virgem, da Ordem de S. Fran
cisco. Foi abolido o dia santo de guarda em Bra
ga e seus suburbios. 108
6 DE DEZEMBRO (28º) — Quinta. S. Nicoláu, Bis
po: Festa na sua Fréguezia, em que foi abolido
o dia santo de guarda.
7. DE DEZEMBRO (29.") — Sexta (Jejum), Santo
Ambrosio, Bispo e Dr. da Igreja (A. 52 p. 51). Ma
tinas na Sé. •

8 DE DEZEMBRO (30.") — Sabbado. X NossASExHo


RA DA CoNCEIÇÃO, Padroeira do Reino e Conquistas
(A.51, 8 de Dez., A.53 p. 315). Assistem SS.MM. a
festa de Pontifical na Sé, e são obrigados a assistir
tambem com os seus mantos todos os Grã-Cruzes e
Commendadores da Conceição que se acharem na
Côrte. Benção Papal. Festa na Conceição, Nova e
Velha, no Convento da Estrella, nos Inglezinhos,
Loreto, Freiras de Santa Anna, Anjos, S. Lou
renço, Santos o Velho, S. José, S. Christovão,
Santa Joanna, etc.
3) 9 DE DEZEMBRO (1.º) — Domingo (2.º do Ad
vento). Santa Leocadia, Virgem, Martyr. Festa a
N. Snr.° da Conceição, na Guia.
Lua nova de Dezembro às 9h. 41 m.
• da manhã.

10 DE Przeugno (2.º)— Segunda S. Melquiades,


Papa Martyr. Trasladação da Santa Casa do Loreto.
11 DE DEZEMBRo (3º) — Terça. S. Damaso, Papa
Portuguez. S. Franco, da Ordem do Carmo.
109
12 DE DEZEMBRO (4.º) — Quarta. S. Justino, M.
13 DE DEZEMBRO (5.º)—Quinta. Santa Luzia, Vir
gem Martyr. O Beato João Marinonio. Festa em
Santa Luzia e nas Chagas.
14 DE DEZEMBRO (6.º) — Sexta. S. Agnello, Ab.
15 DE DEZEMBRO (7.") — Sabbado, S. Eusebio,
Bispo Martyr.
@ 16 DE DEZEMBRo (8.") — Domingo (3.° do Ad
vento). As Virgens d'Africa, Martyres. O Bema
venturado Sebastião Magi, Dominico. Trasladação
de Santa Maria Magdalena de Pazzi. Principia
a Novena do Natal.
Quarto crescente de Dezembro ás 6 h.
20 m. da manhã.

17 DE DEZEMBRO (9.º) — Segunda. S. Lazaro,


Bispo. S. Bartholomeu de S. Geminiano.
18 DE DEZEMBRO (10.") — Terça. Nossa Senhora
do O’; S. Esperidião, Carmelita (Dia Santo de
guarda abolido na Fréguezia de Bemfica, e dia
santo dispensado abolido no Funchal).
19 DE DEZEMBRo (11.) — Quarta (Temporas,
Jejum). Santa Fausta, Mai de Santa Anastacia.
20 DE DEZEMBRO (12.°) — Quinta. (Jejum). S.
Domingos de Silos, Abbade. 110
21 DE DEZEMBRo (13.") — Sexta (Temporas, Je
jum). S. Thomé, Apostolo. Festa na sua Igreja
(Foi abolido o dia santo dispensado na sua Fré
guezia).
22 DE DEZEMRRo (14.") — Sabbado (Temporus,
Jejum). Santo Honorato, Martyr. Principia o In
?){2,}"?! O.

@ 23 DE DEZEMBRO (15º) — Domingo (4.º do Ad


vento). S. Servulo, advogado contra a paralysia.
Santa Victoria, Virgem Martyr. Faz 49 annos a
Serenissima Senhora Infanta D. Anna de Jesus
Maria.
Lua cheia de Dezembro ás 10 h. 2 m. da manhã.

24 DE DEZEMBRo (16.") — Segunda (Jejum). S.


Gregorio, Martyr. Matinas na Sé com instrumen
tal. Férias até aos Reis.

25 DE DEZEMBRo (17.") — Terça. E NAscimENTo DE


Nosso SENHoR JESU CHRISTo Jubileu no Arcebispado
de Braga e por 8 dias no Patriarchado. Festa de
instrumental e Pontifical na Sé. Festa no Lore
to, S. Roque, etc. Pequena Gala. São prohibidos
hoje os espectaculos publicos (A, §1, 25 de Dez., A.
52 p. 337).
26 DE DEZEMBRO (18.") — Quarta (1.º Oitava).
Santo Estevão, Proto Martyr. Festa e Lausperen
ne na sua Igreja. Dia santo de guarda abolido
# Bulla de 1844,
27 DE DEZEMBRO (19.") — Quinta (2.º Oitava).
S. João, Apostolo e Evangelista. Foi um dos dias
santos dispensados abolidos pela Bulla de 1844.
28 DE DEZEMBRO (20º) — Sexta (3.º Oitava).
Os Santos Innocentes, Martyres. Foi um dos dias,
santos dispensados abolidos pela Bulla de 1844.
Está """ ao publico a Santa Casa da Mise
?"? C 07" (!? 0.

29 DE DEZEMBRO (21.º) — Sabbado. S. Thomaz,


#pº de Cantuaria, Martyr. Festa nos Ingle
3 l??ROS. •

30 DE DEZEMBRO (22.°) — Domingo. S. Sabino,


Bispo Martyr. Costuma ser festejada na Fréguezia
da Magdalena no ultimo domingo de Dezembro a
Senhora da Conceição e Caridade, que veste n'es
te dia uns poucos d'orphãos.
(; 31 DE DEZEMBRo (23º)— Segunda. S. Silves
tre, Papa (A 51, 31 de Dezembro). Pequena Gala.
Dia santo dispensado abolido pela Bulla de 1844.
Assistem SS.MM. ao Te Deum de instrumental na
Sé, em acção de graças pelos beneficios recebidos
no decurso do anno (Não foram muitos). Te Deum
em todas as Cathedraes e Collegiadas.
Quarto minguante de Dezembro ás 11 h.
27 m. da manhã.

112
ALMANAU DE IIIBRAMAS,

1.° DE JANEIRO Segunda feira).


chafariz turco.—Ha em Constantinopla, no bair
ro de Pera, que é aonderesidem commummente os
embaixadores, e em geral os christãos, um chafa
riz fabricado pelos turcos, que merece ser visto.
- Recebe as aguas do
aqueducto de Belgra
dô; sobem estas por
canos para cima d'um
entablamento aguen
tado em duas pilas
tras, a modo de por
tal, e que tem por ci
ma, uma especie de
->+>--> •-
meio zimborio;
bentão,logo depoisre
as
aguas por oito bicas com tanta braveza e tamanho
estrondo, que ninguem se entende, concorrendo
sobre modo para augmentar aquelle estrepito o
echo da abobada que assombra o chafariz. Os tur
cos são fracos mestres d'obras, e por isso não
têem esta para elles outra igual no mundo. Quan
do a mostrão aos estrangeiros empertigão-se to
dos. Nesta parte não ha quem não #" pouco
#"…º
}
COLIl 38 COUSâ8 da Sua terra
2 DE JANEIRO (Terça feira).
SEUS LABIOS.

Seus labios tão frescos— tão rubros — tão bellos


Com meigo surrir,
São qual um cravinho, que a aurora dourada
. Faz languida abrir.
Seus labios tão frescos — tão rubros — tão bellos
Tem tão linda côr,
Que a rosa, dirieis, descóra e suspira
De inveja e de dor.
Seus labios tão frescos — tão rubros — tão bellos
- Tem um tal condão, •

Que em extase enlevão o mais despiedado


Feroz coração. -

Seus labios tão frescos — tão rubros — tão bellos


Espandem perfumes,
Que em doce transporte de goso embriagão
|- Os homens e os numes.
Seus labios tão frescos— tão rubros — tão bellos
- De viço e pudor
Na pureza excedem das Yudicas flores
A mais bella flor.

Repletos d'encantos — de doce magia,


De terna expressão,
Seus labios tão frescos—tão rubros — tão bellos
Assim é que são.
Angra dos Reis (Brasil).
M. J. B. Dias. 114
3 DE JANEIRO (Quarta feira).
Modo de distinguir a morte real da morte appa
rente.—Sustentão médicos de primeira plana, co
mo Orfila, Marc, Ngsten, e varios outros, que to
das as vezes que os musculos se não contrahem
sob a influencia do galvanismo, é isso prova de
haver completamente acabado a vida. Pensão elles,
fundados nas experiencias do Doutor Crimotel da
Tilloy, que pode o galvanismo decidir claramente
a questão, e que ninguem deve ser enterrado se
não depois de se haver visto que nenhum efeito
produz no corpo a pilha de Volta.
No estado em que a sciencia hoje se acha, pode
fazer-se em poucos instantes essa experiencia nos
musculos d'um cadaver, com uma pilha; ou com
um apparelho electro-magnetico... ..
Aconselhamos aos nossos facultativos fação al
gumas experiencias em tal objecto; e se é com ef.
feito exacto o que asseverão aquelles médicos emi
nentes, como é de crer, faça-se um regulamento
especial em tão grave materia (4.53. p. 261).

4 DE JANEIRO (Quinta feira).


Peor que morte.—Tinha certomeirinho por mu
lher a uma d’estas de cabellinho na Venta e nariz
arrebitado. Tendo um dia o seu ministro de sen
tenceara um salteador, e parecendo-lhe pouco ape
na de morte, perguntou ao meirinho: não acharia
mos pena ainda mais aspera? —Só casando-o, lhe
respondeu
115 o martyr. — 4;

5 DE JANEIRO (Sexta feira). •

Furor gastronomico. —Houve em Milão, nº re


feitorio dos Dominicos, uma soberba pintura afres
co, nada menos que de Leonardo de Vinci, repre
sentando a Ceia do Senhor, e cobrindo uma pare
de inteira: o tempo tinhajá damnificado atrozmen
te esta obra prima quando ali entraram os fran
cezes; só restavão visiveis duas ou tres figuras
que Napoleão mandou copiar num quadº º óleo,

é em mosaico, e por isso se conservão.
#############
Os foram
porém não annos
· * os unicos profa
nadores d’aquelle
verdadeiro por
tento artistico;
ainda elles não ti
nhão começado a
desbotar as côres
e limar as fórmas,
quando já os que
=
entravão n'aquel
=> la vasta casa Se a S
sombravão de verem por entre as pernas do Salva
dor uma porta aberta. Era o caso, que Suas Reve
rendissimas, tendo advertido em que da cosinhº
para o refeitorio se podia vir por caminho maiº
curto, rompendo a parede naquelle sitio, e achºu
do que nada valia tanto como comer bem quente,
metteram mãos á obra, efuraram sem lhe importº"
or onde: nem Jesu-Christo era capaz de lhes "º"
rear os impetos gastronomicos (4. 53, p. lºu {
6 DE JANEIRO (Sabbado) # (Epiphania).
Museu da Epiphania.—Acaba de abrir-se em Ma
drid um museu, unico no seu genero. Pertence ao
Duque de Hijar, e compõe-se da collecção comple
ta dos trages com que, de ha quatro séculos para
cá, se vestião as Rainhas de # no dia de
Reis. E uso neste paiz que a Rainha reinante ap
pareça n’este dia vestida toda de novo; ora, em vir
tude de um privilegio que remonta a tempos im
memoriaes, é propriedade do chefe da familia du
cal de Hijar, ao qual deve ser entregue, todo o ves
tuario da Soberana em tal occasião. •

Fez-se essa ceremonia no passado anno de 1853,


com o vestuario da Rainha Isabel II na Epiphania
d'esse mesmo anno. O seu vestido de setim branco
com folhos côr de lilaz, o chapéu, o véu de renda,
as luvas, o lenço, tudo foi levado por dous com
missarios régios em um coche da casa, escoltado
or um destacamento de archeiros, ao palacio do
uque de Hijar, que segundo o costume o recebeu
na sua sala do throno, com o uniforme de Tenente
General, e rodeado de todos os seus familiares,
7 DE JANEIRO (Domingo).
Presente liquido. — Vendo um aldeão que todos
levavão alguma cousa a Cyro e elle nada tinha, cor
reu ao rio, e enchendo as mãos d'agua lh'a ofere
ceu. Ficou Cyro satisfeito com a intenção que a tal
dadiva presidia, e mandou-lhe dar um frasco d'ou
ro com mil ducados."
117
8 DE JANEIRO (Segunda feira).
A côr dos olhos.

Não me dirás, morenita,


Teus olhos de que côr são?..
Dos negros tenho receio;
Nos olhos pardos não creio;
Teus olhos azues serão?...
Se fossem verdes, esperava,
Mas talvez esperasse em vão.
Eu gosto dos olhos pretos; Olhos azues não desprezo,
Ao vel'os quasi morri; Pois ja por elles gemi;
Olhei-ós a vez primeira, Já um olhar desvairado
E tive o demonio em mi; D'olhos azues consegui;
Luctei com ellé e comigo, Já... são cousas deste mundo!
Deixei de olhar e venci!... Quasi o juizo perdi!...

Os olhos pardos eu amo Os olhos verdes adoro;


Como os d’aquella que vi, Vi-os um dia, tremi;
Ternos, languidos, ardentes, Tive calor, tive frio,
Ah! com que delirio os li!...]Tive um desmaio, morri:
Enganei-me na leitura, Porém quiz vel’os de novo,
Só eu sei o que sofri!... E pra vel'os renasci!...
A côr dos olhos, que importa?
Quero nos olhos condão;
Verdes, pardos, azues, negros,
Só valem com expressão;
Eu quero olhos que fallão,
Que vibrão no côração!...
João d'Aboim.
9 DE JANEIRO (Terça feira).
panubiº, — E o maior rio da Europa, logo de
pois do Volga. Nasce na floresta negra e lança-se
no Mar Negro, depois de haver banhado oitocêntas
e tantas léguas de amenas e apraziveis margens.
Nenhuma das ribeiras que n'elle desaguão é nave
gavel. Será pelo Danubio que a Europa communi
cará principalmente com a Asia, quando os Sobe
ranos dos estados por elle atravessados o houve
rem tornado navegavel em todo o seu transito.
Quando um canal, ou um caminho de ferro, o unir
ao Rheno, vasto projecto que está quasi completa
mente realisado, haverá então uma communicação
directa entre o Mar do Norte e o Mar Negro.
Se descerdes um dia pelo declive das montanhas
da floresta negra, pedi que vos mostrem a nascem
te desse rio magestoso; conduzir-vos-hão ao jar
dim d'um principesito alemão, e apontando para
um pequeno tanque, dir-vos-hão: «Olhai para o
fundo; é aíli que nasce o Danubio. » Se ahí o vê
des porém pobre e humilde, logo se mostrará rico
e soberbo; e tanto mais orgulhoso, quanto são
poucas as ribeiras que n'elle se lanção, e a si pro
prio, quasi exclusivamente, deve a sua elevação.
10 DE JANEIRO (Quarta feira).
S. GoNÇALo D'AMARANTE,
S. Gonçalo d'Amarante, Sejão as velhas béatas
Casamenteiro das velhas, Que rezem com santidade;
Porque não casais as moças, São de mais, ha-as de sobra
Que mal vos fizeram ellas? Na vossa santa irmandade.
119
Rezar-vos-hei, ó meu santo, Promessas que fazem moças
Tres padre-nossos cantados, Tem tal condão e verdade,
Se por cada um me derdes Que oSanto deixou as velhas,
Tres esbeltos namorados. }
Foi p'r'asmoçasporbondadº!
• }

Irei descalça ouvir missa E a datar d’esta promessa,


No dia do vosso nome, Feita ao bom do S. Gonçalo,
Se eu alcançar boa paga Não ha uma só donzella
Deste amor que me cº………ºu- possa deixar de amale,
-
|

Nem todas as velhas juntas Que a todas o bom do Santo


Levarão tantos bentinhos, Deu alma p'ra seis amores,
Como encobertos n'est’alma A qual d’elles o mais falso
Levarei ternos carinhos. Em seus dons e seus favores
}

S. Gonçalo d'Amarante, Sejão as velhas beatas


Brincalhão e galhofeiro, Que rezem com santidade;
Fazei-vos antes das moças são de mais; ha-as de sobra
Devoto casamenteiro. Na vossa santa irmandade.
}

Que euvos prometto portodas são Gonçalo d'Amarante,


Ficando a nosso contento, Um dos meus tres namorados
Muita crença na virtude, lira
rezar-vos por mim
Muita fé no casamento. Os padre-nossos cantados.

Rezar-vos-hei, ó meu santo, E só se dirá, mentindo,


Tres padre-nossos cantados, D'um santo tão galhofeiro,
Se por cada um me derdes Qu'inda é, como era d'antes,
Tres esbeltos namorados. Das velhas casamenteiro.

Luiz Augusto Xavier Palmeirim.


#
120
11 DE JANEIRO (Quinta-feira).
austiça inaccessivel, — Ha em Florença, por en
tre varios restos preciosos
da antiguidade, algumas co
lumnas de porphyro de mui
bellos lavores. Sobre uma
%) destas, defronte da Igreja
da Trindade, está uma esta
tua mais que colossal, repre
sentando a Justiça: por isso
disse um critico de Floren
çº: «A Justiça n’esta cidade
está tão alta, que ninguem,
por mais que faça, lhe pode
chegar…» (A. 51, 24 de Jan).

12 DE JANEIRO Sexta feira).


o Palacio dos Tavoras.—Descendo da estrada do
Porto para a Villa de Mirandella, dá-se de frente com
um objecto de interessante e lugubre recordação
historica: é o palacio do Marquez de Tavora, ainda
formoso, mas deserto. E' magnifica a sua planta,
bella e elegante a fachada, demasiado baixas toda
via as portas das serventias. Tem estampadas na
frente as armas dos Tayoras, apagadas pela mão do
# de conformidade com a sentença proferida
pela Junta da Inconfidencia, aos 12 de Janeiro de
1759. Pertence hoje este solitario e funebre pala
cio ao Sr. Conde de Villa Real.
1.Prºença 12 de Jan. de 1854. F. M. Trindade.
13 DE JANEIRO (Sabbado).
Astrologia. — A Astrologia, ou Astrologia judi
ciaria, que o vulgo reputa uma sciencia abstrusa, e
uma arte que faz conhecer os futuros pela inspec
ção dos astros, não é mais nem menos que uma va
nissima e abominavel impostura de Velhacos, para
disfructarem tolos e medrosos. Nasceu na Chaldéa
e nasceu da Astronomia, sciencia verdadeira que
tambem lá teve a sua origem;, por onde disse al
guem que era a filha douda de mãi acisada.
E' triste e semsabor ver que ainda hoje em dia,
em paizes civilisados; se permitta em almanachs e
folhinhas, isto é, nos livros mais # ulares de to
dos, alimentar nos espiritos acanhados e incultos
estes erros grosseiros, e nem sempre innocentes,
de influencias de planetas e signos, sobre os nasci
mentos, os casamentos, as doenças, as venturas,
os genios, e as mortes, dos individuos!... Não é
em tolices d'essas que se devião empregar os typos
e o papel, cuja "###" é unicamente
instruir e civilisar (A. 52 p.293).
, º imposto, a Duqueza de Mercia, e o curioso.--Ha
vendo o Duque de Merciaimposto uma enorme con
tribuição aos habitantes de Coventry, no anno de
1052, pedio-lhe sua mulher, em nome d'elles, que
o abolisse. Respondeu-lhe o Duque, homem disso
luto e extravagante, que lhe faria a vontade, mas só
debaixo da condição de que percorreria nua e a ca
Vallo toda a cidade. Submetteu-se a esposa a isso,
Ordenando desde logo que ninguem á hora ºp";
da, e sob pena de morte, apparecesse nas ruas ou
à janella; assim atravessou toda a cidade, d'um ex
tremo a outro, coberta só com suas bellas tranças.
Não houve senão um homem (se fosse uma mulher
admirava menos) que levado da curiosidade abrio
um poucochinho a janella, o que lhe valeusêrman
dado matar. Em memoria dºeste acontecimento,
ainda hoje se conserva em Coventry, e na mesma
casa em que elle se passou, a estatua d'um homem
a olhar pela janella.
14 DE JANEIRO (Domingo).
Pesta do burro. — A pé } Ver: des
cripto no dia 28 d'Abril do Almanach de 1851, e de
havermos até dado o Cantico do burro a pag. 371
do de 1854, transcreveremos o que sobre o mesmo
objecto nos escreve um de nossos assiduos leito
res: «Não obstante as luzes que Filippe Augusto
forcejou por diffundir no seu tempo (1182 a 1222),
ainda então, entre muitas outras grosserias, houve
a da Festa do burro. Celebrava-se esta em Beauvais
a 14 de Janeiro. Escolhia-se a rapariga mais bonita
da cidade, montava-se n'um jumentinho ajaezado
com luxo, punhão-lhe ao collo uma creancinha, tur
do para representar a fugida para o Egypto, e assim
se ia em procissão desde a Sé até á fréguezia de
Santo Estevão; entrava a moça acavallopela igreja
acima, e se ia pôr na capella mór da parte do evan
gelho. Começava a missa cantada: introito, credo,
etc., tudo era acompanhado com o estrebilho de:
#".
12:
hi-hum, hi-hum, arremedando o zurrarde
muitos burros; virando-se em fim o padre para o
} dizia: Ite missa est, hi-hum, hi-hum, hi
um, e o povo respondia : Deo gratias, hi-hum,
hi-hum, hi-hum !...

15 DE JANEIRO (Segunda feira).


sazar. — Este nome, hoje popular em toda a Eu
ropa, é de origem oriental. Significa venda ou
logar para ella ordenado. Na India, em outras par
tes do Levante, e particularmente na Persia, são
umas especies de ruas largas e abobadadas, onde
concorrem os que têem quaesquer fazendas para
vender, ou necessidade de as mercar. Ha bazares
descobertos e bazares cobertos: dos cobertos, uns
são debarracas de panno, como as nossas feiras, ou
de pedra e cal, como a Praça da Figueira, em lis
boa. Ha-os tambem de grandes edifícios, quadra
dos ou redondos, com suas columnas e zim ºrºk
16 DE JANEIRO (Terça feira).
Migrações dos passaros, — São um dos episodios
mais incomprehensiveis da vida dos animaes. Uns,
que vivem de insectos, partem de França no ou
tono, afim de irem procurar o sustento em latitu
des mais meridionaes, e só voltão no mez d'abril.
Querem outros uma perpetua primavera; chegão a
França no fim do ínverno, e depois do mez de maio
sobem para o norte, onde ficão em quanto dura o
calor mais ao sul; regressão para França no ou
tono, e partem d’ahi para o meio dia assim que
o primeiro frio se declara. Querem outros sem
pre um verão semelhante ao de França; abandonão
.…" a zona torrida no fim da pri
mavera, passão alios tres me
zes mais quentes do anno, e só
no outonó se retirão. Ha outros
em fim, que precisão sempre
d'um frio moderado; fogem no
outono das regiões glaciaes,
vem passar o inverno no sul, e só no principio da
primavera voltão de novo para o norte. *#
O que ha de mais # na migração dos pas
saros é o efectuar-se muitas vezes antes que a
mingua d'alimentos ou o rigor da estação a isso os
# Para as suas viagens aéreas formão-se em
batalhões compactos, dispostos com a maior arte:
, Les bois, les monts, et les rivages,
Retentissent du vol de ces vivanis nuages,
Que l'instinct, le besoin, aidés d'un vent heureux,
#" dans des climats qui n'étaient pas pour eux.
Q
Cobrem frequentemente # porção do céu
com suas innumeraveis phalanges, e chegão até ás
vezes a escurecer o sol, como o afirma Audubon,
o qual vio no estado de Kentucky passar em 20 mi
nutos 163 bandos de pombos por cima da sua ca
beça; avaliou elle o numero total em mil a mil e
duzentos milhões! •

Lá me parecem passaros de mais!...


17 DE JANEIRO (Quarta feira).
Navios monstruosos. — N'uma das ultimas ses
sões da sociedade dos engenheiros civis em Lon
dres, antes de principiar à discussão sobre os bar
cos de vapor do oceano, foi lido um curioso arti
guidade. as dimensões dos maiores
gosobre •
navios da anti
Um construido por Ptolomeu Philopator tinha
420 pés de comprimento, 56 de largura, 75 d'altu
ra, a contar da quilha,e fazião-lhe a manobra 4.000
remeiros, 200 escravos, e 2,820 marinheiros! Era
uma cidade ambulante. •

Hyeron, Rei de Syracusa, mandou construir pelo


corynthio Archias, sob a vigilancia de Archime
des,uma embarcação destinada para a guerra e pa
ra conduzir trigo, cujas dimensões se ignorão, mas
que devião ser enormes, pois tinha vinte ordens de
remos. Não achando o Rei porto algum capaz de
Conter aquella massa enorme, fez presente d’ella a
Ptolomeu, Rei do ### que a mandou pôr em
terra em Alexandria, d’onde nunca mais sahio.
Bem empregado dinheiro!... 26
1
18 DE JANEIRO (Quinta feira).
Elephante. — Ao que dissemos (A. 52 p. 260)
acrescentaremos hoje algumas linhas de Bluteau:
«Tem a cabeça grossa, o pescoço curto, as ore
lhas pequenas, comparadas com o corpo, as quaes
move e abana de contínuo. Tem na testa tanta for
ga, que com ella lança ao mar grandes embarca
ções. Os olhos, ainda que grandes, respectivamen
te á cabeça são pequenos, e vivos, e o olhar surra
teiro, como de porco. A tromba lhe serve de hariz
e este nariz lhe serve de mão, pelo que lhe chama
ram em latim: manus nasuta. Com esta mão, car
tilaginosa, earnosa, flexivel, a modo de cobra,
grossa junto da bôca e quanto mais d’ella se apar
ta mais delgada, como cano de lambique, em cujo
remate tem dous buracos, que são como ventas,
por onde respira, chega este animal ao chão, ele
va á bôca quanto apanha, quer liquido, quer sóli
do. Esta mesma mão ou tromba, é arma não só de
fensiva, mas ofensiva, e tão violenta que de uma
só """ mata o elephante um cavallo ou um ca
melo. Tem a bôca perto do estomago, a linguape
ena, e álem dos quatro dentes que a natureza
lhe deu para mastigär, do queixo superior lhe sa
hem dous dentes muito compridos, muito alvos,
agudos, e de ponta revolta. O ventre é mui alto,
largo, e as costas mais altas que todo o mais corpo
e cabeça. O couro é grosso, aspero, cheio de ver
rugas, de cabello tão curto, * parece pelado: a
côr de cima escura, e a cauda pequena. Ha ele
Phºtº que têem 16 palmos de alto. Dizem que
não é bom para a géração senão depois de 20 annos, {
que chegão a viver duzentos, e que aos 70 está no
auge das suas forças. Eamigo do vinho, inimigo do
frio, teme muito o fogo, e ainda mais as formigas e
os ratos, os quaes se acaso lhe entrão nas orelhas,
ou tromba, os fazem desatinar, e por isso quando
acordão, é *"}", com impeto e furia. Da memo- A
ria, docilidade, limpeza, brio, e generosidade, d’es
te animal, contão os authores cousas maravilhosas.
Um dos maiores castigos que lhe podem dar, é di
zer-lhe palavras injuriosas. Vingão-se de qualquer
pequeno despreso ou afronta que se lhes faça.»

|
19 DE JANEIRO (Sexta feira). |

cºntagio do saber. — Gabando-se um vaidoso de |


ser sabio por ter conversado com muitos, lhe res
Pondeu outro: «Tambem eu tenho conversado com }
muitos ricos e ando a tenir.» |
128
20 DE JANEIRO (Sabbado).
Livros sibyllinos. — Apresentou um dia uma ve
lha, que depois se julgou ser a sibylla de Cumes,
a Tarquinio Prisco, nove livros, que lhe afir
###
Z mou estarem cheios d’oraculos pedio
lhe porém tão exorbitante preço por elles, que o
Monarcha atomou por demente. Que faz a mulher?
atira com tres ao lume, e pede-lhe a mesma quan
tia pelos seis restantes. Mais indignado ainda ficou
o Rei. Péga então a velha em outros tres, e arro
ja-os tambem ás chammas, tornando a pedir a mes
ma quantia pelos unicos tres que lhe ficavão, e
que no caso de serem recusados te
rião a mesma sorte dos outros. Pare
ceu isto por tal modo extraordinario a
Tarquinio, que mandou chamar os au
gures (sacerdotes entre os romanos gentios que
prognosticavão o futuro pelo vôo ou pelo canto
das aves), e dizendo-lhe estes que não hesitasse
em comprar os tres livros restantes pelo preço que
a sibylla pedia, assim o fez o Monarcha.
Quem sabe
bornados pela se os augures não havião sido su
velha! # • • • • • •

Os livrossibyllinos, em que se continhão os ora


culos das siby[las, gozavão de grande autoridade
entre os romanos; são todavia hoje em numero de
oito, e contém variosversos propheticos; mas pou:
co se acredita na sua authenticidade, antes é quasi
geral a opinião de haverem sido compostos no rei
nado d'Antonino ou Marco Aurelio.
(4. 52. p. 71.4.53, p. 98.)
129
21 DE JANEIRO (Domingo).
Títulos do Imperador da Russia. — Nicoláu, por
graça de Deus, Imperador e Autócrata de todas as
Russias, de Moscou, Kieff, Wladimir, e Novgorod,
Czar de Kasan, Czar de Astrakan, Czar de Polonia,
Czar da Siberia, Czar do Chersoneso Taurico, Se
nhor de Pskoff, Grande Principe de Smolensk, da
Lithuania, da Valachia, da Podolia, e da Finlandia,
Principe d'Esthonia, da Livonia, da Curlandia, da
Semigallia, da Samogicia, de Bialystok, de Kare
lia, de Tver, de jougria, de Perm, de Viaika, da
Bulgaria, e de varios outros paizes, Senhor e Gran
de Principe do territorio de Nougorod interior, de
Tschernigoff, de Riaizan, de Polotzk, de Rostof,
de Jaroslär, de Bielozero, d'Oudoria, d'Obedoria,
de Koudinia,de Witebsk,deMtislafd, Dominador de
toda a região hyperbórea, Senhor do paiz d'Heria,
de Kartalinia,de Grousinia, de Kabardinia, e d'Ar
menia, Senhor hereditario e feudal dos Principes
Tscherkesses, dos das montanhas, e diversos ôu
tros, Herdeiro da Noruega, Duque de Schleswig
Holstein, de Santo Ormarn, de Ditmarsen, d’Odem
burgo, Senhor temente a Deus, Protector orthodo
xo dos gregos no Imperio ottomano, etc. etc.
. Em alguns d'aquelles paizes tem tanto como eu.
22 DE JANEIRO (Segunda feira).
. Bebado desdentado. — Vendo um sujeito a um
bebado desdentado, disse: «Serião as cheias que
lhe levaram as presas?» • 130
23 DE JANEIRO (Terça feira):
Anneis, — Dizem que Scauro, genro de Seylla,
foi o primeiro que trouxe anneis em Roma. Os es+
cravos trazião-nos de ferro, os livres de prata, de
ouro os nobres e senadores. O annel de casamento
é symbolo de fidelidade conjugal; o dos Bispos (A.
52 p. 142) mostra que é sua esposa a Igreja. Os dou
tores e professores publicos trazião-nos antigamen
te como distinctivo de sua profissão. Aristoteles
trazia sempre os dedos carregados d'anneis. Nos
banquetes tiravão-nos os romanos dos dedos, e
punhão-nos ao redór dos copos em que bebião, ao
que alludio Juvenal quando disse: Denudare digi
tos ut ornes poculum.
24 DE JANEIRO (Quarta feira).
Uma casa enterrada. — Acaba de descobrir-se,
proximo a Napoles, a uma pequena profundidade
de tres Ou # palmos, e está já toda desentu
lhada, uma linda residencia de campo, de archrite
ctura mui semelhante á dos edificios de Pompeia
(4.53 p. 324.), da qual só difere em achar-se cons
truida sobre arcadas e pilares. Tem 10 casas e um
vestibulo bastante espaçoso. Encontraram-se alli
duas amphoras, dous instrumentos d'agricultura
de fórma singular, um esqueleto d'homem, e outro
de passaro. Estava o prédio inteiro alagado, em
consequencia das infiltrações do Sarno, e será por
isso dificil conserval'o (4.51.25 de Fevereiro, A.
#". 60324. A. 53, p 216, 369.)
23 DE JANEIRO (Quinta feira).
Leitores bravios.—Leitores, ou verdadeiros cren
tes, se denominão os fanaticos de uma nova seita
christã que já pelos fins do anno passado ia em te
meroso augmento na Noruega. Leitores se chamão
porque o mais da sua vida é ler na Biblia; quanto a
verdadeiros crentes, não haseita religiosa que não
pretenda para si esse exclusivo. São intolerantes
como inquisidores, chegando a matar os que não
pensão como elles, a deitarem-lhes fogo ás casas, e
a perseguirem-lhes as viuvas e orphãos. Se aquel
les homens tivessem lido mais do que a Biblia, ou
se ao menos a Biblia a tivessem sabido ler e enten
der, não veriamos juntar-se ainda aos tantos deli
rios e variações da christandade esta seita ferina,
25 DE JANEIRO (Sexta feira).
Aº dia 26 de Janeiro, Anniversario natalício do
Sr. Dr. A. P. de Castilho.

coMPostGÃo LVRICA DEDIGADA A suA EsposA.

Quem me déra ser pombinha! Quem me déra o senhorio


Ir sósinha Do austro frio!...
Por essas plagas do céu! Fôra eu Rei dos aquilões,
Topar a lua sem véu, Que hoje enfreára os tufões,
Mergulhar-me em seu pallor Fizera-os soprar amenos,
Inspirador, Tão seremos
E abater o vôo ingente Como uma corda da lyra,
Refulgente, Que suspira, -

Sobre o tecto festival Ou como o som matinal


D'esta casa, em teu natal!
3 •
Das brisas pelo rosal.

Quem me déra ser aurora Quem me déra ser o oceano,


Uma hora, | Para ufano
Hoje só, para surgir Todas asgalas trazer
Toda esplendida a surrir, De meu immenso poder!
E doirando os ferteis prados, Vir assoberbar o Tejo,
Orvalhados, ! Dar-lhe um bejo,
Fazer palpitar as flores E em meu volver marulhoso,
Multicores, Magestoso, •

Todos os dons acordar De espadanas de cristal


Da primaverá sem par! Tapizar todo o areal!
133
Quem me dera entre ºs Archaniºs, Mas não sou o Rei dos mares,
Entre os Anjos, Nem nOS ares
Ser igual a Gabriel!... Posso ir as nuvens fender;
Desprendera o meu laurel ||Não posso as portas correr
Ante o throno de saphira, Ao planeta luminoso;
Lá pedira Nem radioso
Permissão de oferecel'o, Dos Arautos de Solyma
E prendel'o Sou acima;
C'o a minha dextra immortal Posso apenas modular
N’essa fronte divinal. De mil desejos o arfar.
Tu exulta, que és esposa
º Carinhosa;
Gloria, prazer, nome seu, •

Tudo o que for d’elle é teu; !


Pertence-te, n’este dia
De alegria,
Enthesourar os votivos
Dons festivos, #
Sacerdotiz sem álcaç
par ar.
• Do Numem adeste
26 de Janeiro de 1851. -

Maria Canuto, Mestra regia.

27 DE JANEIRO (Sabbado).
Gharada. •

Sou chefe de fila de immensos soldados - 1


… E extremo da terra defeso aos mortaes... 2 .
Achar-me-has nos deuses dos mais invocados
Se podes do Olympo transpor os umbraes. -
C.
*** 134
28 DE JANEIRO (Domingo).
communicações telegraphicas. — Apresentavão
as communicações telegraphicas acabadas em 1853,
um desenvolvimento que se pode calcular em per
to de 13,300 léguas, uma décima parte das quaes na
Grã-Bretanha: só umas 30 e tantas léguas são sub
terraneas.
. Estão-se actualmente construindo umas 150 lé
guas na Inglaterra; Escocia, e Irlanda, e muitas
mais se projectão n’um proximo futuro.
Hana America uma extensão de 6 a 7,000 léguas
de communicações telegraphicas, acabadas e em
actividade, e 3,000 a 3,560 eomeçadas.
Principiou a Russia o seu systema de telegra
phos entre São Petersburgo, Moscou, e Cracovia,
e entre os portos do Baltico e os de Mar Negro.
Vão-se estabelecer, emfim, communicações tele
graphicas na India, n'uma extensão de mais de
1,000 léguas.
A Australia, aAfrica, ea China, serão talvez, em
breve, quasi osunicos paizes em que não haja cºm
municações telegraphicas.
E quando as houver na China, na Africa, e na
Australia, pensar-se-ha tambemnisso em Portugal.
29 DE JANEIRO (Segunda feira).
soldados russos.—Fallando n’elles, dizia o gran
de Frederico da Prussia: « Não é bastante vencê
l'os, é preciso matal'os — Ao que Napoleão acrºsº
#" : «E matal'os tres vezes pelo menos."
*) •
30 DE JANEIRO (Terça feira).
Modo facil para se determinar a altura d'um edi
ficio. —Sem grandes calculos mathematicos, sem
medir com prumos de cima para baixo, e sem mais
instrumento que um páusinho, pode uma pessoa,
mesmo debaixo, averiguar a altura d’um palacio,
d’uma igreja, d'uma torre, d'um mastro arvorado,
etc. Crava-se no chão uma bengala, uma canna,
ou um páu qualquer. Marca-se no terreno o ponto
onde chega a sombra d’elle, e outro tanto se faz
º ao ponto onde chega a
sombra do objecto cu
ja elevação se deseja
conhecer. Fixados es
tes dous termos, com
para-se o comprimento
da sombra do páu com
…T" a alturado mesmo páu.
Supponhamos que no momento da observação o
comprimento da sombra é tres vezes maior que o
do páu; como todos os outros objectos postos ao
mesmosol é evidente que devem projectar sombra
tres Vezes maior que a sua altura, mede-se com
Passºs, com cordel, ás varas, ou como se quizer,
ººomprimento da sombra que se marcou do edifi
cº: º tºmando d'esse todo uma terça parte, está a
altura do edificio reconhecida. Se a sombra no
lºººººtº
for menor da
queobservação, em logar de ser maior,
• •• • • •

de se diminuir. o objecto,
* __ •
J multiplica-se
? plica em logar
8 •

Nada mais simples,


136
31 DE JANEIRO (Quarta feira).
inspiração. —Já no dia 10 de Outubro de 1851 e
a pag.108 do Almanach de 1853, relatámos bas
tantes extravagancias de homens célebres. Sob o
titulo; Gelo e fogo, dissemos tambem a pag.200 do
de 1852, que Diderot, antes de compôr algum ar
tigo para a Encyclopedia, fazia muitos accionados,
dava murros em cima da mesa, corria pela casa,
atirava com a cabelleira ao ar, até que o suór lhe
corresse em bica, e viesse com elle a inspiração;
em quanto Lamenais só podia escrever com os pés
em agua quente, receoso de alguma congestão ce
rebral. Ahi vão mais extravagancias:
Gavarni não faz um só desenho sem fumar: é
machina de vapor que accende pela manhã e apa
ga a noute. •

Eugenio Sue não pode escrever senão quasi ás


escuras:
muita vez éos
verdade
leitores.que ás escuras ficão tambem •

Os melhores versos de Victor Hugo foram feitos


passeando na Praça da Bastilha.
Janin não escreve cousa com geito senão fazem
do-lhe muita algazarra ao pé.
Balzac deitava-se ás 6 horas da tarde, dormia
até á meia noite, bebia uma terrina de café, e nas
18 horas que se seguião, escrevia, quasi successi
vamente, uma resma de papel.
Alexandre Dumas, antes de se pôr a escrever,
tira o chambre e os suspensorios, e elle ahi vai.
Châteaubriant passeava descalço por cima dela
#º frio, e só depois de constipado escrevia bem.
1 DE FEVEREIRO (Quinta feira).
A REPoRMA (LYRA ANACREoNTICA).
Valente soldado, Amor, Devém-méter abatido
Fui sempre em tuas fileiras; Asminhaspropriasfaçanhas:
Das tuas reaes bandeiras Oito lustros de campanhas
Eu nunca fui desertor. Afrouxão todo o vigor.
Em tuas mavorcias lides Por isso peço, meu chefe,
Eu era sempre o primeiro; A reforma merecida,
Servi como granadeiro, Que éjusto que em tantálida
Servi como caçador. Do ócio prove o sabor.
Honrado sangue verti Terás de menos,que importa?
A teu lado nas batalhas; b'hoje emdianteumsoldado;
Escalei altas muralhas Porém que inda reformado
Com denodado valor. Guardará seu pundonor.
Brioso me viste sempre Se algum dia o teu imperio
Nos mais arriscados p'rigos; Invadir poder contrario,
Numerosos inimigos Irá franco voluntario
Combatia sem temor. Combater em teu favor.
Nem eu preciso, meu chefe, Quem ha dever indiff'rente
Referir-te a minha historia, Fluctuar o teu pendão ?
Pois que devezes com gloria. Não bater-lhe o coração
Não ouvia o teu louvor! Aos rufos do teu tambor?
Tu bem sabes que não cabe Revestido da coragem
No meu coração fraqueza; Dojuvenil tempo antigo,
Mas por lei da natureza Irei no campo inimigo
Murchaemfimtodo overdor. Buscar o teu aggressor.
Dos heróes seguir o trilho
Será toda a minha gloria;
Dar-te os louros da victoria,
E morrer servindo Amor.
Dr. J. P. R . de Carvalhº "…)
2 DE FEVEREIRO (Sexta feira).
Estatua da Baviera. — Como talvez houvesse
alguem que tomasse por exageração o que acerca
dessa estatua dissemos a pag. 306 do Alm. prece
dente, transcreveremos o que a tal respeito acaba
mos de ler em um bello folhetim de Eugene Guinot:
«O mais bello dos monumentos de Munich é a
cstatua da Baviera, que se eleva orgulhosa e co
lossal, encostada ao seu leão, com a mão direita
nos punhos da espada, e apresentando com a ou
tra a Munich uma viçosa corôa de louro. E' bello,
é grande, é magnifico. Fica-lhe por traz uma pe
quenita igreja, que dá ares d'um banco em que a
estatua se vai sentar; vista porém de perto é outra
cousa. Sobe-se pelo interior do grandioso monu
Ihento; sete pessoas se podem sentar muito à von
tade dentro da cabeça. »
E' impossivel que lhe não dêem volta ao miolo!
3 DE FEVEREIRO (Sabbado).
- Hespanholada arabe. —Convidados os chefes de
tribus árabes jº em 1844 vieram a Paris para um
sumptuoso baile dado nas Tulherias por Luiz Filip
e, notou-se que um d'elles se pozera, triste e me
ancholico, a um dos cantos da Sala dos Mare
ehaes, detodas a mais bella:perguntado porque tão
carrancudo e pensativo se mostrava, respondeu:
«Por ter dous olhos só para admirar tudo isto!...»
Pena é que não fosse ao menos Cyclope.
1 *# se o transformassem em Argos, que pêxinxa!...
4 DE FEVEREIRO (Domingo).
* Nova Babylonia. —Estende-se a cidade de Lon
dres por um espaço de 78,092 geiras de terreno, e
comprehende cento e vinte e duas milhas quadra-,
das. A sua população, que augmenta de dia para dia,
elevava-se pelo ultimõrecenseamento a 2.362,236,
habitantes, mais de dois terços da de Portugal in
teiro. Se se lhe fizesse um muro á roda, com uma
porta para cada um dos |" pontos cardeaes,
e se fosse preciso que todos aquelles beefes sahis
sem d'alli ao mesmo tempo por essas quatro portas,
(º 3 Tº de frente, serião necessarias vinte e qua
tro horas para que a cidade ficasse despejada, e no
fim d'ellas estaria a frente de cada columna a mais
de 65 milhas da porta respectiva. Ha 15 annos só
contaya Londres 1:274,000 habitantes. Tem hoje
15 milhas inglezas de comprimento e 12 de largu
ra, 14,000ruas, 280,000 casas, 34 mercados, 75 pra
cas, e uma infinidade de igrejas, capellas,escholas,
theatros, etc. (A. 51,7 de Outubro. A. 53. p.233.350)
Manes. —Tanto por temor como respeito, pres
tavão culto os antigos aos manes ou almas dos mor
tos. Em Athenas e Roma tinhão mezes especiaes, em
que lugubremente se cantava em honra e memoria
d'elles. Afim de que não fossem contrahidos os ca
samentos sob máús auspicios, erão estes prohibidos
no segundo mez do anno, por lhes ser cônsagrado.
Ouvindo um nosso portuguez recitar uma ode
aos manes de Gomes Freire, exclamou: «Pois Go
mês Freire tinha manos!... 140
5 DE FEVEREIRO (Segunda feira).
signos do zodiaco
Aquario, peixe, carneiro (1),
Toiro, gemeos, caranguejo (2)
Tem o semestre primeiro. - - - -
Desanda o sol viageiro, … … -

Faz São João seu festejo.


Mas lá vem leão, Astréa (3),
A balança, (4) scorpião,
Fréxeiró,
Recúa, solar cabra (6) Amalthéa.
(5) clarão, •

Que outro sol (7) nasce em Judéa!


A série dos signos do zodiaco acha-se nos dous
versos latinos: • •

Sunt Aries, Taurus, Gemini, Cancer, Leo, Virgo,


Libraque, Scorpio, Arcitenens, Caper, Amphora, Piscis,
(1) Aries (2) Cancer (3) Virgo (4) Libra (5) Sagi
tario (6) Capricornio (7) Jesu Christo.

141
6 DE FEVEREIRO (Terça feira).
consTANGIA ALDEã.

. Viste º fidalguinho, | Por este de seda


Tão dado e tão franco ? De trinta mil côres,
Veneras a opeito, Que cheira a dous cheiros,
Sombreirinho branco? A resas e amores.

Como andou co'as moças ! Quem me dá taes prendas,


A rir, e a dançar, E uns risos assim,
No dia da festa Bem mostra que morre
No nosso logar! D'amores por mim.
Vistel'o Theresa ? Nas danças do adro
Lembras-te, Luzia? Que apertos de dedos!...
Reparaste, Rosa ? Nos jogos de prendas,
Déste fé, Maria? Que lindos segredos!
Pois sabei, vós todas, Sabei, mas, caluda!...
Que aquelle alfenim Sabei que é marquez!
Se perde e se mata E então que promessas,
3D'amores por mim. Que o trasgo me fez!
A missa da festa Vou ser marquezinha;
Primeiro nos vimos; Vou ter traquitana;
Ao beijar-se os padres, Dançar vamos juntos
Olhou-me... e surrimos. A cracoviana.

A porta da igreja, Trajar ouro e rendas,


N’aquelle apertão, Veludo e setim:
O lenço que eu tinha, Dar-me-ha quanto eu queira,
Trocou'-mo na mão Pois morre por mim.
142
Olhai o seu coche !.. Ai dôr! finda a sésta!
Lá chega... que lindo!... Marqueza mofina!
Lá passa!...que monstro!...Tornemos á ceifa,
Com outra vai rindo. Que toca a busina.

Pois hei-de vingar-me: Co'os os mais cegadores


Onde está Chrespim ? Chrespim lá vem ja...
Este sim, que estala Não lhe conteis isto,
D'amores por mim. Que endoudecerá.
Antonio Feliciano de Castilho.

7 DE FEVEREIRO (Quarta feira).


Fueros.— E o nome por que se designão na Hes
panha os direitos e privilegios particulares das pro
vincias de Biscaya, Guipuscoa, e Alava. Datão da
invasão dos mouros, e nada mais são do queas con
dições primitivamente feitas, o pacto concluido,
com os chefes livremente eleitos pelos habitantes
da Cantabria e das Asturias. Nenhum Rei d'Hes
panha ousoujámais violal'osabertamente, e poris
so se conservaram em quasi toda a sua integridade
até não hamuito tempo; mas em consequencia dos
recentes acontecimentos politicos, fez-se uma tram
sacção em tal assumpto entre o poder central de Ma
drid e as provincias privilegiadas.
8 DE FEVEREIRO (Quinta feira).
pentes limados. —Confessou São Jeronymo que
mandaralimar dous dentes para melhor pronunciar
#"… Elle que foi santo não deviamentir.
9 DE FEVEREIRO (Sexta feira).
Panatismo politico, — Ainda hoje se vêem, com
uma especie de veneração, na cidade de Barcello
na, em Hespanha, os restos d'um antigo palacio
que de anno para anno ha cahido em ruinas, e per
tenceu á antiga familia dos Condes de Pinos. Asse
gura-se alli que havendo um de seus ascendentes
abraçado a causa do Archiduque contra # V.,
recommendara, no acto de morrer, a seus herdei
ros, que não restaurassem nunca o referido pala -
cio, que fôra mui damnificado durante o sitio da
cidade pelo Duque de Berwick, « afim de que levas
sem à posteridade essas ruinas a lembrança de
sua dedicação ao Soberano a quem servira. »

Elogio de la Fontaine. — Dizia Fontenelle que


La Fontaine
mais era tão
que Phedro tolo, que nem sabia que valia
e Esopo. • 144
A
10 DE FEVEREIRO (Sabbado).
Embaixador imberbe. — Mandando Filippe II o
seu joven Condestavel felicitar o Papa Sixto V, es
te, ao ver que o Rei de Hespanha lhe mandava por
embaixador um homem tão moço, lhe perguntou,
indignado, se o seu Rei não tinha lá senão gente im
berbe para uma embaixada ao Summo Pontifice,
ao que o hespanhol lhe torna com altivez: « Se
nhor! se El-Rei meu amo fizesse consistir o mérito
nas barbas, teria enviado a V. Santidade um bode!»

o prazer da caça. — Consiste, na opinião de um


critico, em correr atraz de quem foge, e esperar
por quem não prometteu vir. •

145 10
11 DE FEVEREIRO (Domingo).
Montanhas lunares. — Do Jornal litterario, em
Londres publicado, transcrevemos o resultado de
recentes observações feitas com telescopios de
grande augmento. ### !
Ha duas especies de montanhas lunares. Com
põe-se a 1.º de montanhas destacadas, distinctas,e
curiosas por extremo. O que particularmente as
distingue, é o elevarem-se subitamente do meio
d’uma planicie, em vez de se acharem presas a ou
tras, como ordinariamente acontece no nosso plane.
ta. Uma d’ellas, a que se deu o nome de: Pico, tem
9,000 pés d'altura, e a fórma d’um pão d'assucar.
São muito vulgares na lua as montanhas d’esta na
tureza, tanto mais notaveis, quanto é perfeitamen
te plana a superficie sobre que perpendicularmen
te se elevão: custa a conceber que nenhuma im
pressão produzisse no solo adjacente a causa que
lhes deu origem. A2.º espécie de elevaçõeslunares
compõe-se decordilheiras inteiramente semelhan
tes ás nossas. Ha, entre estas, duas principaes que
parece não haverem formado a principio senão
uma;distinguem-se perfeitamente, e deu-se-lhes o
nome de: Appeninos. Podem comparar-se os Appe
ninos lunares com a nossa mais alta cordilheira;
tem 18,000 pés de elevação. Ha outra cordilheira na
lua cujas montanhas são ainda mais altas, pois se
elevão 25,000 pés acima da base (A.51, 8 de Maio).
-
- - -
}
*** …» -

* Aqueducto d'Evora. — Foi obra dos romanos, e


tem por nome: Aqueducto de Sertorio. us
12 DE FEVEREIRO (Segunda feira).
Modos de bater á porta na Inglaterra. — A maior
parte das casas na Inglaterra são habitadas por
uma só familia, têem sempre fechada a porta da
rua, e na porta um martello. Ha ali uma especie
de pragmatica, quanto ao numero de martelladas.
ma só annuncia o homem do leite, um criado
da casa, ou um pobre, e equivale a - Desejaria
entrar.
Duas indicão o carteiro, ou pessoa com mensa
gem qualquer: dão a conhecer que vem com pres
sa, e que se tracta de negocio: correspondem a -
- Preciso entrar.
Tres denotão o dono da casa, ou pessoa que or
dinariamente a frequenta: significão — Abri.
Quatro manifestão pessoa quasi nobre que che
ga de carruagem, e dizem — Quero entrar.
Quatro, duas vezes repetidas, annuncião pessoa
de elevada jerarchia, e querem dizer — Abri de
pressa, pois bastante vos honro vindo aqui.
uinze ou vinte, repetidas e repenicadas, dizem
que vem bebado para casa o meu amigo inglez.
13 DE FEVEREIRO (Terça feira).
Amor africano. — Em certa região da Africa,
quando uma rapariga está para casar, enche uma
cabaça d'agua, ajoelha na presença do seu aman
te, pede-lhe que fave as mãos, e bebe depois a agua,
o que lá é reputado como a maior prova d'amor...
e cá de porcaria. . .
147 |
14 DE FEVEREIRO (Quarta feira).
Eambuchata. — Commummente, e na bôca do
vulgo, significa este termo o mesmo que:patusca
da, ou funçanata de grande desenvoltura. Entre os
pintores porém tem uma accepção especial, e si
gnifica um desenho de fantasia extravagante ebur
lesca. Diz-se que este titulo de bambuchata, pro
viera de um pintor flamengo do século XVII, o
= \> qual n’este gosto compu
nha os seus paineis; cha
mava-se este em realidade
Pedro Laer, mas os italia
nos, por apódo á sua esta
#R tura apoucada e feição de
A
| Esopo, lhe pozeram à alcu
# nha de: Bamb0ccio ou Bam

#W## boche, que em sua lingua é


como diminutivo de bambo
(menino), e se applica aos
titires ou bonecos de ara
- º mes, a que nós outros, com
VTT

os castelhanos, chamamos: Juans de las vinhas.


O nosso famigerado pintor Sequeira, falecido
em Roma poucos annosha, era insigne no impro
|
visar bambuchatas sobre assumpto dado. Lança Y
Yão-se num quarto de papel varios pontos com o
bico de uma penna,e disparatadamente se lhe dizia
o que havia de fazer de cada um d'aquellespontos;
este hade ser olho, aquelle bico de pé, aquelle na
riz, aquelle ponta de espada, etc.; pegava do lapis,
e improvisava e que se lhe pedia. 148
|
15 DE FEVEREIRO (Quinta feira).
FLoa Do cÉU.
Alva rosa, flôr do céu, Flôr do céu, és tão ephemera!
Eu chamo a hora formosa Maldassombrasvensbrotando,
Que em nossa lingua mimosa, Já na luz vais desfolhando,
Tem nome de madrugada. Flôr do céu, és um mysterio.
Quando o dia vem raiando, Linda flôr, qual é teu fructo?
Quando anoute vaimorrendo, O sonho da eternidade,
Flôr da luz, tu vens nascendo Que, mas horas da saudade,
Tão mimosa e transparente! Ensinas a quem te vê.
D'entresombrasvens rasgando Cada vez que no céu abres,
Dubia luz tão graciosa, Florinha da madrugada,
Como surge a flôr viçosa, Minha alma, tão consolada,
Que do calix vem rompendo. Tão ditosa, te contempla !
Quaesfrescos estames de ouro, Meu pensamento a ti vôa,
A estrella d'alva isolada, # em ti a minha dôr,
Quasi quasi desmaiada, ual se abriga o beja-flôr
Inda fulge no horisonte, Em corolla de assucena.
Alvas pétalas do dia Explica-me, ó coração,
Em roda lhe vão sahindo, Esta tua sympathia!
Linda hora vai-se abrindo Ao bardo que assim dizia,
Qual corolla de um jasmim. O coração respondeu:
De trevas e luz se fórma —«A florinha que eu amava
Tua côr tão delicada; Cá na terra se murchou;
Muita treva, eis-te apagada; Lá no céu desabrochou,
Luz de mais te muda o ser. Co'o nome de madrugada.»

li#Flamengo (Brazil)
de Fevereiro de 1854. José Maria do Amaral.
9
16 DE FEVEREIRO (Sexta feira).
Arroz denunciante. — Recorre-se na India, para
conhecer os culpados, a um meio singular, que
ali se julga provar a influencia do medo na se
creção da saliva. Quando é commettido um de
- licto em alguma grande oficina ou manufactura,
reunem-se na mesma sala todos os suspeitos, faz
se-lhes mastigar por alguns instantes uma peque
na porção de arroz, e ordena-se-lhes depois que o
deitem fóra. Pode haver certeza de que o culpado
o deitará inteiramente sêcco. •

O que resta saber é se a vergonha de se ver in


justamente accusado, o resentimento que d’ahi po
de resultar contra o accusador, a indole e o genio do
individuo, não produzirão talvez igual resultado.
. E melhor comer o arroz do que esperdiçal'o as
Sllll, |- • • •

17 DE FEVEREIRO (Sabbado).
Babilidade por numeros. — Havendo em uma das
mãos um numero par de tentos, e na outra um nu
mero impar, adivinhar em que mão está o par e o
impar. — Multiplique-se o numero da mão direita
por um numero par, e o da esquerda por um impar.
Ajuntem-se os dous productos. Se o total é impar,
o numero par está na mão direita e o impar ná es
querda. E vice versa. — Assignando a uma moe
inha de prata um valor par, e a outra de cobre
um valor impar, pelo mesmo modo se adivinhará
º qual a mão em que está uma e outra. 150
18 DE FEVEREIRO (Domingo gordo).
Baile. — Bailes simples são n’este mundo de an
tiguidade immemorial. A Socrates louvaram os ou
trosphilosophos gregos por haver dançado nos bai
les festivos de Athenas. A Platão censurou-se o não
ter dançado n’um baile do Rei de Syracusa. De Ca
tão se refere que não houve remedio senão apren
dera dançar na idade de 59 annos. Muitos sacerdo
tes na religião pagã dançavão nos templos e pelas
ruas. Em França já nos primeiros séculos da mo
narchia se fazia dos bailes grande apreço. Luiz XIV.
dava-os sumptuosissimos. Actualmente, todas as
côrtes dão bailes; dão-nos todos os embaixadores;
dão-nos todos os ricos e meio ricos. Dança-se nos
palacios; por pousadas dos mechanicos; nos ar
raiaes de romaria; nas aldeias e casaes; nas eiras
e nos adros das igrejas rusticas. Dança-se parabe
neficio nas calamidades que assolão uma provin
cia; dança-se por santa caridade em favor de uma
familia indigente; dança-se para os asylos da infan
cia; dança-se nas casas depois de passarem as pro
cissões; dança-se nos noivados; nos baptisados;
nos anniversãrios natalicios; nos despachos;ha bai
les mascarados; bailes sem ceremonia; bailes aris
tocraticos; bailes plebeus; bailes onde se não con
fessa que se foi; bailes de creanças; bailes de crea
dos; bailes de todas as castas, para todos os fins, e
de todos os modos imaginaveis. Que prova isto?
|# a natureza mesma ensina que o movimento da
dança tem, a par do seu valor artistico, um tanto
#prºveitº…
1
para a sociabilidade e boa harmonia.
19 DE FEVEREIRO (Segunda feira).
o criado infiel. — Arranjou um sujeito na sua
adega 32 garrafas de vinho, pelo seguinte modo:

; ; 7

e como desconfiasse do criado, notou-lhe que a


somma das garrafas dava 9 de todos os quatro lados.
Este, que era mais esperto do que o amo, em tres
visitas que fez á adêga, furtou-lhe decada vez qua
tro garrafas, dispondo as restantes pelo seguinte
modo, que satisfazia sempre ao que unicamente lhe
havia notado o amo, isto é, que por lado se con
tavam sempre 9:
| •

2 5 25 ||
$
| 33 3 33 || |||| 1 1 1|
2 5 2 3 3 3 | 4 1 4

Aqui lhe bi- Aqui lhe bi- Aqui lhe bi


fou 4. fou mais 4. fou outras 4.

Ctharada,

A primeira Hercules pousa, 2


Da segunda se apodera, }
E o meu todo, mal ou bem,
Fama é que então fizera. ***
20 DE FEVEREIRO (Terça feira de entrudo).
Entrudo. — Carnaval lhe chamão as outras lin
guas, e a nossa tambem ás vezes. O nome de entru
do; segundo Bluteau, é corrupto de: introito, por
que o entrudo é como introito da quaresma. Por
isso, acrescenta o mesmo author, dizião os nossos
velhos em latim macarronico: Sanctus introitus
tempus quebrare panellas.» Querem outros que
o entrudo seja quasi o mesmo que intruso, «pelos
muitos abusos que no tempo do entrudo se intro
duziram.» Uma etymologia mais verosimil é a que
aponta o mesmo Bluteaú, dizendo que «em Sala
manca chamão ao entrudo: Antruejo, e nas aldêas
circumvisinhas: Antruido; d’onde parece se deri
va o nosso entrudo, que nas provincias do norte se
chama: entruido.
Estas festanças,populares e generalissimas,têem
as suas raizes em gentilidades das mais remotas
eras, e por isso mesmo que erão de comes e bebes,
sobrenadaram incólumes nas destruidoras vagas
dostempos até
nós, e lá hão de
ir ainda prova
velmente por
|- - ########< êSSaS E idades
|- #$ fóra. Entre OS
=<><> romanos, gre
gos, e egypcios, achamos já o entrudo. Vêr as ba
chanaes, as lupercaes, as saturnaes, as floraes, as
festas do boi Ápis, etc. +

gº dias do entrudo são propriamente os tres que


precedem á quarta feira de cinzas; mas já muito
antes, desde a Senhora das Candeias, "#
em Portugal as pulhas carnavalescas. O carnaval
de Roma e o de Veneza, que são talvez os mais di
vertidos de todo o mundo, começão mezes antes
da quaresma; em França, desde dia de Reis ja se
conta carnaval. Entre nós erão estes passatempos
ainda ha poucos annos quasi silvestres e ferozes;
semelhavão batalhas de que não era raro ficarem
feridos e mortos. Hoje estão mais civilisados, ain
da que não de todo, consistindo principalmente
em mascaradas, danças pelas ruas, e comes e be
bes á tripa forra. «Há muito quem não queira acre
ditar nos jejuns do tempo santo, dizia um préga
dor velho, mas nos brodios do entrudo todos crêem
de pedra e cal.» (A. 51, 4 de março, A. 52p 155.
238, A. 53 p. 70.109.)
21 DE FEVEREIRO (Quarta feira).
- Cada qual sabe do seu. —Admirando-se os ami
gos d’aquelle veneravel e virtuoso romano, Paulo
Emilio (A. 52. p. 322.), d'elle haver repudiado a
mulher, matrona ilhustre, formosa, e exemplar no
seu viver, foi elle buscar uns sapatos que tinha no
vos, de bom cabedal, e na apparen
*> cia mui bem feitos, e pondô-lh'os
diante, lhes perguntou: « Que defei
to achais n'este calçado?» — nenhum — º respon
deram elles.» Estou por isso, lhes tornou Paulo
Emilio,
«leja.» mas eu que o experimentei,
… ……… • •
cá sei onde me
' ' .. … ".
• 154

22 DE FEVEREIRO (Quinta feira),
A PATRIA.

Eil'o! o nobre baixel! — Do porto amigo


Ovante sahe altivo e melhorado:
Na procella feroz valeu-lhe o abrigo
Contra as iras do pélago irritado.
Do naufragio escapou! No dorso ingente
O mansinho leão, surgindo iroso,
Bem o fez vacillar, e bem patente
Seu fim mostrou no abysmo temeroso.
Foi feliz. Resistio. Lamenta apenas
Algum perdido, incauto marinheiro,
Algumas velas rôtas, e as antennas
Partidas pelo vento traiçoeiro.
Eil'o! o nobre baixel! — As leves azas
Candidas sólta ao sôpro favoravel:
Qrgulhoso caminha; as ondas rasas " "
Corta ufano, com garbo inimitavel.
Seus polidos canhões á terra envião
Adeus atroador. Na despedida .
Cortezes, terra e mar, assim porfião,
Como quem teme as penas da partida.
• • ## -
Tremúla á pôpa a nacional bandeira,
Cercada de emblematicos trophéus;
Mil flammulas gentis a brisa arteira º
Sacode nos airosos mastaréus.
155
Com frémito sonoro as vagas mansas
Humildes vão beijar-lhe alva cintura.
O cordame simula negras tranças;
Facha ardente aurea prôa ao sol figura.
Vai, ó nobre baixel, corre esses mares,
Livre, e ousado, e com Deus! Deus te bemfade!
Oh ! nunca, meu baixel, nunca depares
No alto mar co'o furor da tempestáde!
Vai, ó nobre baixel, foge aos escolhos!
Desconfia de um pégo cristallino!
Velem por elle, etêrno Deus, teus olhos!
Incólume o conduz ao seu destino !
#$#

(Brasileiro.)

23 DE FEVEREIRO (Sexta feira).


Receitº para callos.—Uma, bastante experimen
tada, eficaz, e facil, é um pouco de adhesivo, que
se vende em qualquer botica. Embrandece-se ao ar
do lume e põe-se sobre o callo: as do
res cessão quasi desde logo, e ao cabo
de dias, poucos ou muitos, o callo de
Sappareceu. Em quanto se traz o adhe
sivo, podem-se lavar os pés; se aconte
cer que elle então caia, bom remedio,
ponha-se outro.
E quem se der bem com a receita, fique com
adhesão a quem lh'a ensinou. 156
24 DE FEVEREIRO (Sabbado).
Bossa de jogador.—A um jogador acerrimo poz o
confessor por penitencia que passasse essa noite
fechado em casa a meditarem algum passo da pai
xão, e voltasse no dia seguinte para levar a absol
Vição, se a merecesse, e ir então commungar. Vol
tou o penitente, como se lhe ordenara. — «Cum
prio a penitencia que lhe impuz?»— «Sim, Padre»
— «Meditou?—(Sim, Padre» — «Com a devida at
tenção, com verdadeiro fervor?» — «Sim, sim, Pa
dre, sem me distrahir um unico instante, nem dor
mir um minuto em toda a noite.»—«E em queme
ditou?» – N’aquelle joguinho dos soldados a ver
qual havia de apanhar à tunica do Salvador! lá é
que eu me queria, que para aquillo dos dados te
nho uma mãosinha!..

25 DE FEVEREIRO (Domingo).
zero por quociente. — Qual é o numero que divi
dido em duas partes iguaes dá este milagre?—É8,
ou 88, ou 888, etc., # se lhe}** Ullin I'lS
co bem pelo meio, ficará zero d'ambos os lados.
Um Par. — Disputava-se n’uma reunião se o ca
valheiro fulano tinha ou não sahido par na ultima
fornada. Um par antigo, conhecido pelos. Seus
bons ditos, entrou neste momento. « Aqui esta
quem nos pode tirar das duvidas, exclamou um:
—Fulano é par, senhor conde?» — «E': respon
# o fidalgo, quando anda a cavallo.»
26 DE FEVEREIRO (Segunda feira).
Amigo de ar e luz. — O corpo principal d'uma
planta, o eixo que se eleva acima da superficie do
solo buscando o ar e a luz, e d’onde partem todos
os outros orgãos do vegetal, denomina-se: caule.
Uma simples experiencia basta para provar que o
caule procura sempre a luz e o ar. Se semearmos a
semente d’uma planta trepadora, de alegra campo,
por exemplo, n'um vaso que esteja dentro d’uma
casa onde entre ar e luz só por uma janella, e se
colocarmos entre a planta e a janella uma táboa
vertical, com largura bastante para interceptar a
luz, e que tenha, a seis pollegadas d'altura acima
do vaso, um buraco d’uma pollegada de diametro,
observaremos o seguinte. Logo que a semente ger
minar, e a planta começar a crescer, o caule ir-se
ha aproximando da taboa e encostando-se a ella;
e logo que chegar ao buraco, enfiar-se-ha por elle,
e irá assim receber os raios de luz e o ar que entra
pela janella. Se se fizer outro buraco na taboa, e
voltarmos todo o systema, de modo que o extremo
do caule fique outra vez na sombra, passar-se-ha
outra vez o mesmo phenomeno; o caule crescerá,
aproximar-se-ha do segundo buraco, e sahirá por
elle, indo de novo buscar o arealuz (J. d'A.Corvo).
.

27 DE FEVEREIRO (Terça feira).


"ºu" mil vestidº. — Lê-se em um manuscripto
do Museu Britanico, que Isabel d'Inglaterra tinha
mais de 2,000 vestidos na sua guarda roupa. iss •
28 DE FEVEREIRO (Quarta feira).
remporas. — São quatro jejuns de preceito na
Igreja, nas quatro estações do anno, em tres dias de
uma semana, quarta feira, sexta, e sabbado. Foram
estes jejuns instituidos, não só para consagrar a
Deus as quatro partes do anno, ou para alcançar
da divina # a perfeitamadureza dos fructos.
da terra, mas tambem para implorar a graça do Es
# Santo na ordenação dos clerigos de Evange
ho e de Missa, que nos sabbados das mesmas Tem
poras se conferia. As 1.º temporas são depois da
1.° dominga de Quaresma: as 2.° depois da festa
do Espirito Santo: as 3.º depois do dia da Exalta
ção da Cruz; as ultimas depois do dia de Santa Lu
Zla. . -

Santa Isabel de Alpedrinha. Ha annos na villa


de Alpedrinha, tendo o finado Antonio Paes de
Amaral, Thesoureiro da Collegiada instituida por
Fr. Mauricio,Vigario d’aquela mesma villa, ido ao
templo da Misericordia, ajoelha, faz a sua oração,
e olhando para um dos altares onde está a Rai
nha Santa Isabel vestida de habito, vê-a acenar
lhe como quem chama, 1.°, 2°, e 3.° vez; dirige
se a ella, péga-lhe na mão, e sahe de dentro um ra
to: era ele que movia os braços de engonços da
Rainha Santa.
Beati qui non viderunt et crediderunt (A. 52.
p. 40. 72, 105, 281. A. 53. p. 213.372).
Bemposta 28 de Fevereiro de 1854. .
159 • João Nunes de Brito.
*)
1.° DE MARÇO (Quinta feira).
Lupercaes. — N’este dia celebravão os romanos
as Lupercaes, festa em honra de Pan, trazida da Ar
cadia á Italia por Evandro, séculos antes de fun
dada Roma. Duraram as Lupercaes até quasi ao fim
do século quinto da era christã; havia tres com
• \\ munidades de Lu
*>\\ percos, que erão os
---- mancebos sacerdo.
tes d’este culto. No
dia da solemnida
de, depois de im
molarem cabras em
honra do seu Deus
- # galhudo, sahião os
- #####>" reverendos maga
nões, nús em pello, para o meio da rua, sarapinta
dos com o sangue das victimas, ás gargalhadas, e
de chicote em punho ião tosando em ar de galho
fa tudo quanto encontravão.Aquellas surras láti
nhão, no crer do povo, suas virtudes expiatorias,
rasão porque se lhes não esquivavão: asmulheres
até procuravão apanhar boa dose, porque tinhão
# que assim, # mercê do deus caprípede,
icarião mais bem fadadas para mãis. Foi o Papa
Gelasio quem abolio aquella silvestre brincadeira.

Pescabeçado. —Negando-se um sujeito a um


amigo que da rua o vira á janella, disse este ao
criado: «diga-lhe da minha parte que para a ou
tra vez, em sahindo, não deixe a cabeça em "#
2 DE MARÇO (Sexta feira).
Pompeu e os seus trophéus. — Sabido é que Pom
peu, vencedor nas Hespanhas, cobrio os Pyrenéus
demonumentos da sua gloria. As inscripções d'es
Sºs monumentos dirião como se assenhoreara de
846 cidades poressas regiões. Por diversas authori
dadescolligidas na obraintitulada:Marcus Hispa
nica, se averi
gua que esses
trophéus ha
Vião sido ere
CtOS no terri
torio de Jun
quera. De al
guns se acha
ram vestigios
junto do Por
thu, abaixo do
moderno cas
tello de Belle
---- Garde, assim
como nos valles d'Andorra e de Altavaca; a maior
parte se reduzem a uns argolões de ferro com seus
dez pés de diametro, chumbados em rocha, nos
quaesse conjectura estarião enfiadas as hastas dos
trophéus; n'outras partes são fragmentos de co
lumnas, e até de arcos de triumpho.
Os trophéus tragou-os o tempo, mas do tempo
triumphou o nome do heróe, um dos maiores da
antiguidade.
161 (A. 51, 17 de Fevereiro, A. *rº.
3 DE MARÇO (Sabbado). +

O SUSPIRO.

Mimosa flôr, que imitando Infeliz quem, contemplando


Da escura tristeza a côr, 10 teu modesto ornamento,
Mudo retrato pareces Não lê em cada folhinha
Do meu mallogrado amor ! Expressões de sentimento!

Os suspiros que eu exhalo, Oh! Queira o gelado inverno


Modesta flor, não meadmirão;Teus tenros botões poupar,
Teu simples nome me adverte|E a rouca furia dos ventos
Que até as flores suspirão. --Em teu favor abrandar.

Sem ter a pompa do cravo, Se porém na haste mimosa


Nem da rosa a formosura, Te cortar mão imprudente,
Tu despertas na minha alma|Não consintas te desfructe
Mil idéas de ternura. |Quem teusencantos nãosente

Os teus singelos encantos Procura o seio de Marcia;


São de maior attracção; Busca ser da ingrata acceito;
O cravo só falla aos olhos, Seja o primeiro suspiro
O suspiro ao coração. Que ella acolha no seu peito.

Antonio José Maria Campêlo.


4 DE MARÇO (Domingo).
cevada e palha d'Alcobaça. — Na porta do Mos
teiro d'Alcobaça pozeram os religiosos o seguinte
annuncio : «Aqui se vende trigo e centeio; cevada
e palha não, porque mal chega para os padres. 62
3 DE MARÇO (Segunda feira). "
- | • |- #

Pignidades, titulos, e postos. — A principio a


palavra: Rei, designava o maioral de um po -
vo: ninguem o excedia em dignidade. Imperador
designava o general em chefe do exercito: era su
bordinado ao Rei. Os romanos, expulsando os Reis,
substituiram-nos por consules annuaes, afinal tam
bem substituidos pelos triumviros. Nos tempos ca
lamitosos era nomeado um dictador. Cesar, assu
mindo a auctoridade suprema, intitulou-se lmpe
rador, por haver sido general do exercito romano:
Imperadores se denominaram tambem os seus suc
cessores; mas esses Imperadores tinhão abaixo de
si muitos Reis, e todos os vassallos e tributarios de
Roma: então, o Imperador passou a ser mais que
Rei. Hoje porém designão as duas palavras a mes
ma idéa, o chefe supremo de um estado indepen
dente. • … "
Duque era o general que conduzia o exercito, •

Vem da palavra dueere, conduzir, guiar (A. 34


pag. 170). - * * * ** *

Marquez era o governador da fronteira, ou mar


ca,nome que se dava ás provincias fronteiras D’ahi
vem tambem a palavra: Marechal.A's marcas de
pois chamou-se: marchas. Conde era o companhei
ro do monarcha (comites); correspondia de algum
modo ao que hoje chamamos: camarista, com a dif>
ferença que o camarista o acompanha em casa e o
condé na guerra… . …; …" é …" . *- -

Visconde era o que substituia o conde. Barão o


# por qualquer feito se assignalava.…………
General é o que tem o mando geral do exercito;
Tenente General o que o substitue; Marechal o que
mandava só na fronteira: Brigadeiro o commandan
te de uma brigada; Coronel o de uma pequena co
lumna (columnela). Capitão quer dizer: chefe emi
nente. Alferes vem do árabe: é o que leva a bandei
ra. Do árabe vem tambem: Almirante, o general do
mar. Chefe é termo saxonio (chief). Mórdomo, o
maior em casa (major domo).
Rio de Janeiro 5 de
Março de 1854.
• Thomaz José Pinto Serqueira.
6 DE MARÇO (Terça feira).
Raphael e os cardeaes.— # UlIA?
occasião os cardeaes o ter elle carregado dema
siadamente de incarnado umas caras de S. Pe
dro e S. Paulo. Responde-lhes mui serio o gran
de pintor: Meus senhores, filos taes e quaes estão
nabemaventurança, porque se envergonhão de ver
a sua Igreja tão mal representada.
Jornalismo na Inglaterra. — O imposto do sello
nos jornaes, em toda a Grã-Bretanha, apesar de
não passar de 18 réis por periodico, produz uma
quantia annual que orça por um valor de quator
ze mil contos de réis da nossa moéda! Só em Lon
dres se deitão semanalmente nas caixas do correio
700,000 jornaes, o que anda por mais de 36 mi
lhões por anno!!! O que se não pode calcular são
es milhões de mentiras que dizem. : 164
7 DE MARÇO (Quarta feira).
Amigos, — Edificando Socrates para si uma casi
nhola excessivamente pequena, e estranhando-lhe
alguns que homem tão grande com tal coxixolo se
contentasse, respondeu: « Oxalá que o chegasse
eu a encher de amigos verdadeiros!» -
|- |- Tinha ra
são para o seu
tempo. Nes
ta parte é o
mundo mais
Fafortunado.
Hoje, qual
quer lagalhé,
ém tendo de
fazer uma jornada de duas léguas, já pelos periodi
cosse despede dos seus numerosos amigos, por lhe
não ser possivel, diz elle, visitar tanta malta!
Em querendo saber a conta exacta dos que tem,
é pedir doze vintens a cada um.

8 DE MARÇO (Quinta feira).


Aviso aos janotas. —Não será máu que os jano
tas meditem o seu bocado n’um epigrammahespa
nhol que aqui se lhes traduz:
«Uma vida dissipada,
Sensual e sem virtude.
Traz pobreza, má saude,
E velhice antecipada.»
º isso ha tanto rapaz com cara de velhº.
Q
9 DE MARÇO (Sexta feira).
ALBUIVI.

O Album é um invento Fallar-lhe na madrugada,


De perfidia e de maldade; Ou na campina, ou no prado,
E' p'ra muitos em verdade E' motivar-lhe um enfado,
Um bem terrivel tormento.Por se ver ella olvidada.

A pessoas indiscretas Segundo — se é d’uma feia,


Se deve tal invenção, Ainda ha mais que reflectir:
Que põe em tribulação Ou escrever e mentir,
As cabeças dos poétas. Outão mal que ella onão leía.

Ha sobre tudo tres casos Mas o caso mais profundo


Que podem
Em que acontecer,
é muito de temer E' n'um
Que Album
já está de casada,
iniciada •

Que os poétas
{
fiquem rasos. Nos mysterios d’este mundo.
• •

Primeiro—se é pertencente Porque, dizer-lhe que é bella,


O livro a moça solteira; … E que se lhe está rendido,
Fallar d'amor é asneira, Pode ofender o marido,
Ou ao menos imprudente. Se não a ofender a ella.
Dos albums renego bem; rº º

São cousas que não se entendem!... . .


N’elles louvores ofendem,
E a falta d'elles tambem.
Duarte de Sá Junior.

commercio de flores. —Eleva-se annualmente a


15 milhões de francos em París. 166
10 DE MARÇO (Sabbado).
Um amigo das letras. — Morreu ha pouco na
Bohemia um cavalheiro riquissimo, o qual deixou
toda a sua fortuna ao author d’uma obra em 5 vo
lumes, que fôra seu unico entretenimento nos ulti
mos annos, e que desejou fosse enterrada com elle.
Seria para continuar a lel’a na sepultura? n'esse
caso era preciso levar tambem comsigo ao menos
uma lamparina.Talvez não goste de dormir com luz.
verdade Jornalistica. — «Me melem se eu me en
tendo com estes nossos jornaes; leio-os todos e fi
eo sempre a nadar sem saber qual falla verdade.»
«Pois, meu amigo, faça como eu; é não ler senão
um,e acreditar sempre o contrario do que elle diz.»
11 DE MARÇO (Domingo).
Lemare.—Eis como falla d'elle o insigne Besche
relle Senior, no seu diccionario com razão chama
do:=Monumento á gloria da lingua e letras fran
cezas: «F. Alexandre Lemare, sabio grammatico,
nascido na Riviére (departamento do Euro) em
1766, e falecido em Paris em 1835, Director do
Collegio de São Claudio em 1789, fundou o Athe
neu da mocidade. Cultivava simultaneamente a
grammatica,as sciencias,e a industria. Quando bem
se pensa que tão distinctophifologo não entrou
na Academia, deplora-se forçosamente o cego aca
so que parece presidir á escolha dos membros de
# corporação. Que serviços não houvera elle fei
67
to ao Diccionario! Mas a que vem pezares fóra de
tempo? O seu curso de lingua, que gozou, e ain
da goza, da estima
dos verdadeirossa
bios, nem se quer
authorisado foi pe
la Universidade! E
mate-se um homem
pela honra da sua
patrial»
Até aqui Bes
cherelle: acrescen
temos que foi ao
à methodo de leitu
ra de Lemare que
|- Portugaldeveu ori
ginariamente o methodo de Leitura Repentima, ho
je tão generalisado sob o título de: Methodo Cas
tilho, ou Methodo. Portuguez. Originariamente,
repetimos muito de proposito, pois o Methodo
Portuguez, pelos desenvolvimentos que seu au
thor lhe deu, e sobre tudo pelas bases novas de
decomposição e leitura auricular que lhe ajuntou,
sem precedente algum nacional ou estrangeirº,
pertence à nossa terra, posto que a primeira idéa
que o occasionou viesse de França, como já por
ventura a de Lemare proviera d'outras cabeças. A
lº de nacionalidade do methodo de Leitura
eixou de o ser para as pessoas de boa fé, desde a
confrontação que meu irmão, o Sr. A. F. de Casti
lho, no prologo da sua segunda edição, fez do seu
methodo com o de Mr. Lemare, 168
12 DE MARÇO (Segunda feira).
Tartufo. — E”, como todos sabem, o titulo da \ >
melhor comedia de Molière, e uma das melhores do
mundo. Piron, vendo-a em scena pela primeira vez,
ficou extasiado, e exclamou: «Se esta obra não es
tivesse feita, ninguem era capaz de a fazer! »
Uma composição de tanto mérito foi todavia per
seguida: depois das primeiras representações pro
• hibio-a o Intendênte
da Policia, e com a no
tavel circumstancia de
chegar ao theatro ain
timação á hora em que
já estava para seleyan
#"tar o panno. O author,

__>#7
=* que era tambem
é director actor,
da compa
nhia, sahio á bôca do theatro, e disse ao publico:
«Meus senhores, não ha hoje o Tartufo, porque o
Sr.
tem.Intendente
» ! #da Policia não quer que o represen

Oito dias depois d'aquella prohibição, represen


tava-se impunemente Scaramouche, comedia licen
ciosamente impia, composta por outro poéta. Luiz
XIV, no fim do espectáculo, disse ao Principe de
Condé: « Tomara saber o porque tanto applaudem
esta comedia aquelles mesmos que tanto mal disse
ram do Fºgº «Senhor, lhe respondeu o Prih
cipe, esta não ofende senão a Deus e o Tartufo of
fendia os beatos. » -

Quaes damnão mais a religião, Tartufos ou impios?


13 DE MARÇO (Terça feira).
Quaresma. — O jejum não é uma invenção do
christianismo, como lhe reprehendem censóres de ,
má fé; o christianismo adoptou-o d'outras religiões,
e sanctificou-o. No Oriente e na India é antiquissi
mo o jejum. Jejuavão os # jejuavão os la
cedemonios e outros povos da Grecia, sem exce
ptuar os deliciosos athenienses; jejuavão os roma
nos; e os hebreus, desde alta antiguidade, havião
jejuado, como ainda o fazem. Os proprios maho
metanos, tão regalões, têem seus jejuns religiosos.
Bluteau divide os jejuns em: natural, medici
nal, philosophico, moral, espiritual, penitencial,
e ecclesiastico. Jejum natural, total abstinencia de
comer e beber, desde a meia noite antecedente; '
medicinal, dita para saude; philosophico, privar
de alimentos para mais livre exercicio das facul
dades intellectuaes; moral, a mesma renunciação |
para algum fim moral, bem como para atenuar os
appetites da carne; espiritual, privar-se de pec
car; penitencial, renunciação de comidas muito
saborosas para expiar culpas; ecclesiastico, em
fim, voluntaria abstinencia de sustento e de cer
tos manjares para satisfazer ao preceito da igreja.
14 DE MARÇO (Quarta feira).
ºralisman cosacº. —Ao partirem os cosacos pa
ra a guerra, levão comsigo um saquinho de terra
do seu paiz, o qual lhes serve de recordação e ta:
lisman, e morrem beijando essa memoria da pºiº,4
15 DE MARÇO (Quinta feira).
serração da velha. — Noute da Serração da Ve
lha se chama a d’esta quinta feira da 3° semana de
quaresma, por se dividir aqui, pouco mais ou me
nos; ao meio o tempo da penitencia. A Serração da
Velha é uma especie de recrudescencia das loucu
ras do carnaval. Celebra-se á luz d'archotes, com
musica e algazarras, fingindo-se serrar atravez do
corpo uma velha mettida n'um cortiço, e chamada:
Maria Quaresma. O testamento da velha, enfiado
de pulhas em verso de pé quebrado, tem sido por
muitas vezesfeito e impresso. Aos gallegos boçaes,
aos provincianos lorpas, e aos rapazes da rua ain
da não traquejados nas cousas de Lisboa, costu
ma-se pregar à peça de os fazer ir para algum si
tio remoto, com banco ou escada ás costas, para
melhor disfructarem a comica-tragedia, que se re
duz ao logro, ou, como hoje dirião, desapponta
mento, e meia duzia de cacholetas ao som de vaias.
Em quanto o vulgo assim brinca, a gente mais
subida e de melhor
les, ás vezes gosto dá n'esta noute seus bai
mascarados. •

16 DE MARÇO (Sexta feira).


sino da infamia. — Ha por traz da casa de com
mercio da cidade d'Hamburgo (uma das mais ri
cas de todo o mundo) um sino a que chamão: da
infamia, o qual toca um dia inteiro quando alli
ha alguma quebra fraudulosa, fazendo logo co
º nhecido de todos o nome do fallido. |

171
17 DE MARÇO (Sabbado).
A UM RETRATO DE PETRARGHA.

Eil'o! o grande cantor! Na larga fronte


Brilha a cºrôa que a lyra lhe ganhou,
Como nos olhos inspirados fulge
O reflexo da luz que o illuminou.
Eil'o! o grande cantor! Já cinco seclos
Passaram sobre a lousa que o escondeu;
E da morte apesar, inda no mundo
A fama dos seus cantos não morreu.

Bem cara te custou tamanha gloria!


Dura a cºrôa que a fronte te cingio!
Fez-te poéta o amor, mas a ventura
Só em sonhos fagueiros te surrio.
Sem esp'ranças amar foi teu destino;
Ver a Laura e sofrer, eis teu condão; <?
Vinte e um
A arranca r-te essede
annos amor do não
penas coração . am
bastar •

Viste-a um dia morrer por mór tormento !...


O golpe que aos teus olhos a roubou,
Não te poude matar! gastaste a vida
Chorando sobre a campa que a encerrou.
Morres!... na fonte de Voclusa um echo.
Parece que inda ouvimos suspirar,
Como se a sombra de Petrarcha ainda
Fosse em busca de Laura allivagar.
172
Mas que importa, Petrarcha? Não serias,
Nunca serias o immortal cantor,
Se um destino cruel te não lançara
Dentro d'essa alma tão acceso amor.

Não serias, que a deusa dos teus cantos,


A musa que os teus hymnos inspirou,
Foi Laura, como foi tambem Natercia
A musa do Camões que nos cantou.
Poétas! sois assim. Quem vos faz grandes
E por vezes do mundo o amor fatal;
Amor, que é fonte de tenaz martyrio,
Mas que em paga vos dá vida immortal.
Antonio Xavier Rodrigues Cordeiro.
18 DE MARÇO (Domingo).
contradança. — Lá vem nossos pais, maridos de
nossas mãis, pais de nossos filhos, e nossos pro
prios maridos.
Como pode ser? Assim: Alfredo e Eduardo ca
saram com Elisa e Paulina; houve uma filha de ca
da consorcio, por nome Rachel e Guilhermina; en
viuvando Alfredo e Eduardo, casaram com Rachel
e Guilhermina, e podião dizer aquillo.
19 DE MARÇO (Segunda feira).
razer do San Benito gala. — Ignorão muitos a
origem d’este nosso anexim, por não saberem o que
seja: san benito. E uma contracção das palavras
hespanholas: saco benito (saco abençoado), nome
que em Portugal e na Hespanha se dava a uma es
pecie de escapulario que sepunha aos heregescon
demnados pela Inquisição, imitando com isso o uso
da Igreja primitiva, que ordenava enfiassem os cri
minosos o corpo por um sacco, a que tambem se
chamava: bento.

Francezes e inglezes. — Disputavão entre si um


inglez e um francez sobre qual d'essas duas nacio
nalidades era mais gloriosa, e terminaram assim a
discussão:
«Eu, disse o inglez, se não fôra inglez, quizera
ser francez. »
«Pois eu, lhe respondeu o francez, se não fôra
francez.... quizera ser francez.» 174
20 DE MARÇO (Terça feira).
Alfinete querendeu milhões.—E muito para me
ditar o que deu origem á colossal fortuna de um
dos mais opulentos banqueiros dos nossos tempos.
* Era Lafitte de baixa condição.Aos 14 annossabia
apenas ler, escrever, e contar, que mais lhe não
permittira aprender a miseria de seus pais. Com
aquelle pequenino alforge in ual vai-se a Pa
ris com uma carta de recommendação para um rico
negociante. Recebe-o este como de ordinario é re
cebido # mal trajado se apresenta. Despede-o
desabridamente, e sahe o pobre moço banhado em
lagrimas, e como ######## o ul
timo raio de esperança que ainda lhe restava: Ao
atravessar o páteo vê-o casualmente da janella o
negociante; Lafitteleva os olhospregados no chão,
como quem só para a sepultura appella; vê um al
finete; abaixa-se, apanha-o, e prega-o nojalequi
nho tedo roto. Bravo! exclama o negociante! quem
assim aprecia um objecto de minimo valor, e cui
dadosamente o guarda, dá mostras de um espirito
de ordem, de prévisão, de ecónomia; deve ser um
bom empregado no meu escriptorio, e pode ir lon
ge. Seguio-se a este pensamento o mandalo cha
mar, admittilo em casa, ver n’elle pelo andar dos
tempos um modelo d'honra, exactidão, e intelli
encia, augmentar-lhe de um para outro anno o or
denado, associal'o no commércio, dar-lhe a filha
??? Casamento, deixar-lhe toda a sua fortuna, e ha
bilital o para passar, de rico que já era,
para Opu
#gº a que chegou. " > ..." -
21 DE MARÇO (Quarta feira).
Hylarias. —A festa assim chamada, por ser da
maior folgança
e pelos romanos
celebrada n’este
dia em honra de
Cybele,deusa da
terra, ou a terra
ella propria,ser:
vio de inaugu
rar a primave
ra, e já vinha do
culto grego. A
vespera era dia
luctuoso e de ex
cessivas lamen
|- tações; chama
vão-lhe dia de sangue; mas nas Hylarias, tudo o
que cheirasse a funebre ou triste, era defeso. Ia
pelas ruas em procissão a imagem de Cybele, acom
panhada de grandes chacotas, e trajando cada um
a seu talante. -

Á PRIMAvERA.

Primavera, mãi das flores, Como és bella e deleitosa!


Vem brilhar em nosso clima,Nossa alma de gosto anciosa,
A selva, a planicie anima, Acha em ti gostos bastantes,
Orna-as, veste-as de mil côres. E em qualquer dos teus instantes
Doce estação dos amores, Um prazer,um bem,segosa.

J. da S. Mendes Leal Junior.


176
22 DE MARÇ0 (Quinta feira).
ANNIVERSARIO.

Se a vida não fosseumprisma,Seumanno quemais prosegue


Que nas imagens mentidas Não fôra no precipicio
Vem os olhos illudir; Mais um passo a fraquejar;
Se quando a mente s'abisma Se a virtude, a si entregue,
Em cogitações perdidas, Não buscára em vão do vicio
Podesse a luz descobrir; Collo altivo derribar;

Se d’este som no agitado, Se inda á borda do jazigo


Que existencia se nomeia, Essa voz, já mal segura,
Nos acordasse a razão; Podesse dizer: Vivi;
Porvir, presente e passado, Ah! então, meu bom amigo,
Não fossem dura cadeia, Em que efluvios de ternura
OPprimindo o coração; Te abraçára eu hoje a ti!
Mas se o anno vai sumido
N’este vendaval desfeito,
Onde bonança não tens,
Como heide eu rouco gemido
Converter, dentro do peito,
Na palavra — Parabens?!
A. J. S. de Cabed 0.

23 DE MARÇO (Sexta feira).


Festa das linguas. — Foi celebrada este anno em
Roma, com a costumada solemnidade, a festa das
linguas, fallando-se por essa occasião 42 idiomas
#……. Foi uma especie de "…
24 DE MARÇO (Sabbado).
santo Balsamo.— E o nome d'uma profunda
e vasta gruta, situada a quatro léguas das tres ci
dades, de Aix, Toulon, e Marselha, e que póde con
ter 1,500 pessoas. Está no flanco de uma montanha,
e diz-se que Santa Magdalena, irmã de Lazaro, a
habitou 33 annos. Filtra-lhe a chuva a travez da ro
cha, e entra na gruta, onde fórma uma bella cister
na, cuja agua é tambem augmentada pela neve
quando se derrete. Para chegar a ella é preciso su
bir a uma alta montanha. Ha lá dentro uma capella
de gosto moderno, cuja frente e altar são de mar
more, um monumento """"## o sepulchro
de J. C., e no pedestal d’este o Bispo Maximino
dando de commungar a Santa Magdalena. Mais
longe, e no fundo da gruta, ha outro altar dedica
do á VIRGEM. Não poucos peregrinos vão de con
tinuo Visitar este sítio memoravel.

25 DE MARÇO (Domingo).
. Annunciação. — A menção authentica mais an
tiga que existe d’esta festa, é a do sacramentario
do Papa Gelasio 1.º, no anno 492. Desde então é
que se celebra, tanto na igreja occidental como
na oriental. •

N’este dia se commemora a embaixada trazida


pelo Anjo á Virgem Maria, notificando-a da parte
de Deus para Mãi do Salvador.
(A. 51, 25 de Março) -

178
26 DE MARÇO (Segundafeira).
salomão. — Rei dos judeus, 3.° filho de David e
de Bethsabée; nasceu no anno do mundo 2971 e
1029 antes de J. C. Apoderou-se do throno de Is
rael com detrimento de Adonias, seu irmão mais
velho, que mandara matar, e casou com a filha de
Pharaó do Egypto, para a qual mandou construir
um soberbo palacio em Jérusalem. Foi por occa
sião de suas nupcias com esta Princeza que dizem
haver composto o seu magnifico epithalamio: O
Cantico dos Canticos. — De todos é conhecida a
sentença que deu quando duas mulheres susten
tavão porfiadamente serem ambas mãis da mesma
criança, — Foi visitado pela Rainha de Sabá (A.
53, p. 199), que ficou maravilhada de sua sabedo
ria e magnificencia. Tinha então Salomão sujeitos
a seu poder todos os paizes e reinos entre o Eu
phrates e o Nilo (A, 51, 17 de Junho, A. 52, p. 98,
210). Costeavão o oceano suas numerosas frotas,
e navegavão para Ophir (A. 52 p.275), d’onde tra
zião ouro em pó, aromas, marfim, etc. Diz a Escri
ptura que tornara o ouro e a prata tão communs
em Jérusalem como as pedras das ruas. No 4.°
anno de seu reinado deu principio a esse famo
so templo que nunca teve rival, e que dizem ter
custado móntes d’ouro. Corrompido pelo pro
prio excesso de seu poder, apartou-se do SE
RIOR, sacrificou a idolos de pedra e bronze, e
tornou-se escandaloso o seu comportamento. Mor
reu na idade de 58 annos, depois de 40 de rei
nado. - - " .

170 •º •
27 DE MARÇO (Terça feira).
manhos. — Crê-se haver sido no oriente que se
edificaram as primeiras casas de banhos publicos.
Os gregos adoptaram desde altissima antiguidade
a usança ao mesmo tempo saudavel e deliciosa; e
os romanos,que dos gregos a imitaram ainda, subi
ram de ponto o luxo de taes estabelecimentos. Só
Agrippa, no anno em que foi édil em Roma, edifi
cou cento e setenta casas de banhos. Os árabes e
os turcos são d'entre todas as nações modernas as
que mais se banhão. Consagrando como artigos de
religião as abluções, andou o mahometismo muito
ajuizadamente. Em Portugal, exceptuando os ba
nhos de mar e os de rios na estação calmosa, po
de-se dizer que este grande meio hygienico é to
talmente desconhecido. Lisboa só possue tres ou
quatro casinholas de banhos, que nem convidão
por seducções artisticas, nem por commodidades,
nem pela barateza. De todas essas emprezas parti
culares, a mais natiga, e a mais afréguezada, é a do
Sr. Dr. Nilo, na Rua do Principe. \

[[I'## " ". A fundação de uns banhos


\| * | "}}

* *
grandiosos seria uma empreza
para dar bons interesses aos
seus accionistas, e um bom :
serviço ao aceio, que entre
nós não é excessivo, e á pu
blica saude, para a qual a pu
| reza do corpo não contribue
II13.

(A. 52 p. 363 A. 53 p. 288).


180
28 DE MARÇO (Quarta feira).
volcões. — São aberturas immensas e naturaes
na superficie da terra, pelas quaes sahem materias
abrasadas e chammas, impellidas por agentes sub
terraneos. Chama-se: cratera, a abertura por onde
estas prorompem. O Etna e o Vesuvio são os mais
famosos e nomeados de todos. Muitos são os sitios
em que ainda hoje se vêem vestigios de antigos vol
cões, que talvez ainda bramão nos mesmos pontos,
mas a grande profundidade. Demasiado longa fô
ra a enumeração de todos os que estão ardendo na
vasta superficie do globo. Désde a Islandia até á
Terra do Fogo, e em todos os gráus de latitude e
longitude, ha volcões em diversos gráus de vehe
mencia. Os da America são particularmente no
taveis e têem sido descriptos por distinctos natu
ralistas. Os da Africa e Asía são menos conhecidos;
é porém de crer que um minucioso exame poucas
ou nenhumas noções acrescentaria ao que a tal res
peito se sabe. A lista dos volcões apagados seria
infinitamente maior que a dos que ainda ardem.
Afirmão os geólogos que têem estudado os terre
nos volcanicos de França, que só na antiga provin
cia de Auvergne se contão ainda hoje mais de mil
crateras de Volcões antigos (A, 51, 7 de Abril e 24
de Dezembro. A. 52 p. 124.325. A. 53 p. 279).
Borrachinhas do mar. — E o nome que dão os
francezes a certos molluscos, sem cabeça apparen
te e sem concha, que se agarrão aos rochedos e a
outros corpos,e injectão agua aquanto os inquieta.
181
29 DE MARÇO (Quinta feira).
Dia aziago para o Porto. — De tristissima recor
dação é para a cidade invicta o dia 29 de Março !
foi n'elle que em 1809 a invadiram os francezes,
matando os poucos portuguezes que encontravão;
poucos, porque a povoação inteira, e grande par
te dos povoados, de longe e de perto, que ali se ti
nhão acolhido, julgando a cidade um baluarte inex
pugnavel, fugião espavoridos e na maior desor
dem, dirigindo-se para a ponte do Douro. Alguem
se havia lembrado de levantar um dos alçapões da
ponte de barcas que então havia, para os france
zes, a não passarem, e n'esse boqueirão cahiram
milhares e milhares de desgraçados!... Os que
ião adiante e vião o abysmo, querião retroceder,
mas erão impellidos pelos que os seguião, e pe
las ondas de povo que para o mesmo ponto se pre
cipitavão. Os proprios inimigos se horrorisaram
de tamanho desastre, e fizeram por salvar alguns
infelizes que barafustavão ainda nas aguas. +

No mesmo dia, d’ahi a 43 annos, em 1852, se des


pedaçava o vapôr Porto na barra da mesma cidade!
Quantas familias encheu pois de luto. nessas
duas catastrophes o aziago dia 29 de Março !
Obscura Portuense.

como se toma posse d’uma terra.—Cahindo Ju-º


lio Cesar do cavallo ao desembarcar na Africa, paiz
que pertendia conquistar, exclamou: « Favorável •

esagio! tenho a África debaixo de mim! não ca


i, tomei posse d’ella!...
182
30 DE MARÇO (Sexta feira).
o MEU Escudo..
S0NETO,

Solitario entre os homens, que aborreço,


Tôrvos, funereos dias, vou gastando,
Cada instante de vida calculando
Pelo rancor que de nutrir não cesso.
Aridos êrmos misero atravesso
Da existencia, que marcha ao termo infando;
A meta eis se aproxima; eis expirando,
O horror aos homens, que abomino, esqueço.
Neste abandono, equivalente á morte,
Dá-me um palmo de terra a natureza,
Onde ás injurias fugirei da sorte:
Alli repousará minha tristeza; •

E contra a dor, que soffro, alli, mais forte,


Terei escudo, e natural defeza. •

Lamego 30 de Março 1854. Antonio Pereira Zagallo.


31 DE MARÇo (Sabbado).
Estufas monstruosas.— São por tal modo vastas
as dos Duques, de Richemond, de Devonshire, de
Northumberland, e de outros figurões na Ingla
terra, que dentro d'ellas se passeia a cavallo e
em caleche !
183
4 DE ABRIL (Domingo).
Peixe de Abril. — No 1.º de Abrilusão em Fran
ça, e em Portugal tambem nas provincias do Nor
ie, mandar presentes de logro, encaixar petas, e
escrever cartas de pulhas.» E o peixe de Abril,
dizem
timaraos francezes. Qual será a origem d’isto? Es
sabel'o. •

2 DE ABRIL (Segunda feira).


semana santa. — Esta semana, assim chamada,
é para os christãos a mais solemne de todo o an
nó. N’ella celebra a Igreja com as mais tocantes
ceremonias o drama da redempção do genero hu
mano, a paixão do Salvador, e à sua morte, até á
sua resurreição triumphal no dia de Paschoa.
Não é só a leitura dos Evangelhos que attrahe
nestes dias ao templo; é a poesia inspirada e ins
pirativa do Propheta-Rei; são as sublimes melan
cholias dos grandes lyricos da fé, os prophetas;
são os assomos, piedosos e ungidos, dos mais fe
cundos e ferventes doutores da Igreja. Por isso
vemos n’estes dias o sanctuario visitado até de
incredulos, que no mais do anno o transporão
sem o olhar. A uns o amor de Deus; a outros o
amor do bello: a não poucos tambem o amor dos
anjos terrestres.
como se dá cabo das formigas. — Deitando por
cima do formigueiro um punhado de folhas de to
mate ou um pouco de sal. 184
4
3 DE ABRIL (Terça feira).
Resplandores, — O resplandor, ou auréola, que
vale o mesmo, é um meio circulo de raios d’ouro ou
prata que se põe na cabeça de certas imagens. Já
entre os pagãos, Apollo, como Deus do sol, se re
presentava com um resplandor. No christianismo
os pintores e esculptores
ao principio só punhão es
te Ornamento ao Salva
dor, em memoria talvez
§ da Transfiguração. Do se
culo V em diante genera
, lisou-se, como em nossos
dias as Senhorias e Ex
==#=> cellencias. Não houve pa
rente pobre: todos os santos e santas da côrte do
eéu foram condecorados com auréolas; chegaram
se até a pôr nas cabeças dos animaes symbolicos
dos Evangelistas. Por derradeiro a moda tem mais
d’uma vez fantasiado para as cabeças das damas,
assim como coraes e diamantes, pentes altos, de ou
ro,de pedraria,e radiados á feição de resplandores.
Jantar salgado. — Havendo Carlos V, jantado
um dia em casa de um rico negociante d'Antuer
pia, por nome Doens, queimou este em sua pre
sença, no fim do jantar, um recibo de dous mi
lhões que o Monarcha lhe passára, assegurando
lhe que em muito maior quantia avaliava a honra
# fizera. Estou que por metade tornava a
jantar com elle.
185
4 DE ABRIL (Quarta feira de Trevas).
Lonchamps, — Foi uma Abbadia de religiosas
fundada no século XIII por Isabel de França, ir
mã de São Luiz, ao pé da aldeia de Bolonha, nos
arredores de Paris: para eila se retirou, ahi mor
reu, e é fama que fizera depois bastantes mila
res, que deram ao mosteiro a maior reputação.
Foi este visitado por muitos Soberanos, e entre
elles por Filippe o longo, que ahi adoeceu e mor
reu. Adquirio depois a Abbadia outra especie
de celebridade. Davão-se n’ella, na 4.°, 5.", e
6.º feira, da semana santa, concertos espirituaes
em que se ouvião as melhores vozes da capital, e
a que concorria toda a nobreza e sociedade ele
gante de Paris. Por occasião da revolução de 1789
foi Lonchamps vendido e demolido, e cessaram
os passeios; tornaram todavia a ser de moda, e
nos mesmos dias, no tempo do consulado, e sub
sistem ainda hoje, se bem que tão sómente ahi
concorrão agora os janotas e mulheres de equi
voca reputação da capital, no que ella muito
abunda (A. 51, 16 de Abril. A. p. 128).

5 D'ABRIL (Quinta feira santa).


A SOLEDADE,

Que voz dolorosa, que tristes gemidos,


Os echos retumbão da antiga Sião !
Rachel se lamenta dos filhos perdidos!
Não ha consolala, porque elles não são. 186
São ais e saudades que solta Maria,
Chamando entre angustias seu charo Jesus;
Debalde o procura com tanta agonia;
Do filho que resta? no monte uma cruz!...
A cruz, que sua alma consola e tortura,
Agora na terra seu unico amor!...
O vós que provastes da vida a amargura,
Dizei se ha tormento que iguale essa dor!
O Archanjo, se agora baixasse, SENHORA,
Saudando teu nome da parte de DEUs,
Esse AVE festivo callára d'outr’ora,
Seus ais compassivos unira co’os teus.
Nem — DEUS É coMTigo — teria juntado,
Que Deus já parece de ti se ausentou;
Deixou mesmo o filho; foi surdo a seu brado;
De seu desalento Jesus se queixou.
Mas ah! se n'outr’ora te disse: BEMDITA,
Não menos agora to deve dizer;
Que a benção celeste por Deus foi predita
A quem sobre a terra chorar e sofrer.
Bemdize pois, VIRGEM, as magoas que soffres,
Que eterna ventura no céu te darão!
Com ellas, abrindo das graças os cofres,
Alcança conforto p'ra os filhos de Adão.
D. Maria Rita Corrêa de Sá.
isº 51, 17 de Abril, A. 52 p.129. A 53p. 113)
6 DE ABRIL (Sexta feira santa).
cruz luminosa. — Na sexta feira santa á noute
vai o povo em cardume á igreja de S. Pedro, em
Roma, não tanto por espirito de devoção, como
para gozar d'um formoso espectaculo—a cruz lu
minosa. As cem alampa
das de bronze, que ao
longo do anno ardem ao
tumulo de S. Pedro, apa
gão-se todas, nem ha
mais luz alguma na am
plidão do recinto senão a
cruz de lanternas pendu
rada da cupola e cahida
sobre o altar mór (A. 51,
6 e 8 d'Abril. A. 53 p. 114).
MOTE.
os martyrios da Paixão.
GLOSA.
Apenas na cruz expira (O es |

Daltaredempçãoo author,
OJordão, d'espanto e dor,
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S >\w*)
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*}{º) A
Atraz as aguas retira:
Duro rochedo suspira,
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Perde o sol almo clarão, ( >
Revivendo os mortos vão, \ S-A N
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Elementos travão "\> ###### S$5=}
E sente insensivel terra NS=<>{ A =-

Os martyrios da Paixão.
Bocage.
7 DE ABRIL (Sallado d’alleluia).
Alleluia. — E palavra composta de duas he
braicas, que significão: louvai o Senhor.
No tempo de São Damaso, Papa portuguez, se
introduzio na igreja latina a Alleluia. Nos fune
raes dos primeiros séculos da igreja cantava-se
, alleluia. O Papa Julio II foi quem mandou que no
officio divino se não dissesse alleluia desde a se
ptuagesima até ao sabbado santo. Refere S. Je
ronymo que os monjes e monjas, antigamente,
com esta palavra se convidavão para irem cantar
juntos os louvores de Deus (A. 51. 19 de Abril).
8 DE ABRIL (Domingo de Paschoa).
Avisita a Jérusalem. —Tornaram-se de moda re
liquias e romarias. Em quanto actualmente se
achão expostas numerosas reliquias na antiga e
historica cidade de Aquisgram, consistindo, pela
maior parte, em fragmentos do vestido da Vir
gem, na mortalha de
S. João Baptista, nas
fachas do Menino Je
SuS,na #### da
Paixão, no braço di
# reito de S. Simeão,
> etc., etc., organisão
se jornadas regula
----- res, e economicas,
não só para aquela cidade, onde tanto está res
Pºstendº a fé christã, mas até para Jérusalem.
9 DE ABRIL (Segunda feira).
os ovos da Paschoa.— E' costume em muitas dás
nossas aldeias mandar pela Paschoa ao respectivo
Parocho um folar com o seu ovinho pintado, ou
simplesmente um presente d'ovos. E bem pode di
zer-se que é geral este uso e vem de tempos im
memoriaes. E' uma das tradições simbolycas nas
cidas do catholicismo, e repousando em uma idéa
mystica, ainda não bem interpretada Amelhor ex
plicação é esta: o ovo traz comsigo a idéa da espe
rança — a de ver desenvolver-se um germen — e
o sentimento que desperta a solemnidade da Pas
choa, anniversario da resurreição de Christo, é
tambem o da esperança de nossa futura resurrei
ção. Um tal presente será pois symbolo d'esta cren
éa religiosa.
. Na idade média, na Vespera do domingo de Pas
choa, juntava-se em França a rapasiada, com pi
fano e tambor, lanças e varapáus, e precedida de
bandeiras com imagens burlescas, corria toda a
fréguezia a pedir esmola para os ovos da Paschoa.
o tempo de Luiz XIV e no de Luiz XV, em dia
de Paschoa, levavão-se ao Rei depois da missa aça
fates cheios d'ovos dourados que elle distribuia.
Ainda hoje é seguido á risca um tal costume na
Russia. O que offerece um ovo, diz: «Resuscitou
Jesu Christo» ao que responde o que o recebe:
«Estou por isso.» E grama-o. Os ovos dados por
pessoas ricas são de porcelana pintada ou doura
da, com inscripções emblematicas, e furados nas
extremidades para se pendurarem ao pescºçº, 90
10 DE ABRIL (Terça feira).
Pintos.—Um distribuidor de periodicos, porno
me: Manoel Pinto, pobrissimo e com 8 filhos, di
zia n'um bilhete de |# festas, em prosa, pedindo
aos assignantes se lembrassem d'elle: «Toda a mi
nha fortuna são 8 pintos, e em vespera de 9, mas
nenhum cambista me daria por elles um vintem!...
-- 11 DE ABRIL (Quarta feira).
Desfeita disfarçada. — Entra um sujeito n’uma
companhia com 12 rosas na mão, mas haalli 13 se
nhoras, e grande desfeita seria excluir uma do pre
sente da linda flor. E grande o seu embaraço, por
# todas, na qualidade de senhoras, têem igual
direito ao delicado mimo. Ha porém entre ellas
uma que lhe fez certa travessura, ou lhe não cor
respondeu ao seu affecto, ou lhe foi inconstante,
ou tem o narizarrebitado, e bem quizera que fosse
essa a quem tocasse o bilhete branco na loteria de
12 premios que se decide a fazer, para que a sorte
só carregue com as culpas, e para que sobre ella só
caião,as imprecações da senhora que tem de ser
por ella, segundo todas as apparencias, desfeitea
"da. Para isso, fal'as sentar a todas em circulo, e lá
de certo modo, e principia a distribuir as rosas,
contando de 1 até 9, e dando sempre uma á9.º se
nhora.Deste modo,a que ficaraá esquerdad’aquel
la por onde principiara a contar pela direita, ficou
sem nada. O mesmo houvera acontecido á que ficas
# # direita se pela esquerda houvesse começado.
12 DE ABRIL (Quinta feirº).
Jogos cereaes, — Fo:
ram estes jogos cele
brados oito dias a fic
em honra da deusa Ce.
res, sendo hoje o pri
meiro. As damas roma
nas, Vestidas de branco
e com archotes na mão,
erravão pela cidade, a
fingir Ceres á procura
de Proserpina. Os ho
mens tambem se ves
tião de branco. Havia
combates a cavallo,mas
os édis por fim subs
tituiram-nos por combates de gladiadores.
13 DE ABRIL (Sexta feira).
Ros.A ou EsTRELLA?

Vi-te gentil e formosa, Porém rosa tu não eras,


Sem que podesse affirmar Que eu espinhos te não vi:
Se tu eras branca rosa, Sendo estrella não podéras
Ou estrella a scintillar. Dar-me asfallas que te ouvi.
Se? •

A principio rosa bella O que eras pois? Oh!eu creio,


Te julguei; chamei-te flor; Se é que assim o posso crer,
Logo depois vi-te estrella, Que a final de tanto enleio,
Déste-me luz, dei-te amor. Tu eras anjo, ou mulher.

S. P. M. Estacio da Veiga.
192
14 BE ABRIL (Sabbado).
Temperatura da terra. — Se não tivesse a ter
ra calor proprio, encontrar-se-hia uma tempera
tura uniforme em todas as suas profundidades:
não acontece porém assim, pois á proporção que
se avança da superficie para o centro, augmenta
rapidamente essa temperatura. Provém este ca
lor do fogo central; a prova d’isso é que o aug
mento de temperatura é sempre proporcional á
profundidade. Resulta das experiencias dos phy
sicos, que, se ao
perforar a camada
solida e fria que es
tá cobrindo a im
mensa fornalhain
terior do globo,
nos afastamos uns
cem pés da suasu
perficie, exterior,
sobe o thermome
tro um gráu, e na
mesma proporção irá subindo, se d’ella continuar
mos a afastar-nos. Achou-se confirmada esta lei
por occasião de abrir-se o Poço de Grenelle, #
temperatura é de 17 gráus e meio; e que expelle
a sua agua, bastante quente, d’uma profundidade
de 527 metros. O mesmo aconteceu em Mondorff,
no Luxemburgo, em que um poço de 730 metros
deu um calor de 24 gráus.
} (Asl. p.102.214.226. A 52 p.251.A.5. p.22)
193 13
15 DE ABRIL Domingº).
Bobo, — Bobo, jogral, ou chocarreiro, e talvez
tambem, sem grande impropriedade, bufão, se
chama em nossa lingua o que os francezes deno
minão: boufon ou: fou (doudo).
… Clio Rhodigino refere um caso em que geral
. mente se crê estar a rasão etymologica do nome de
bufão. Tinha El-Rei Erecteu, diz elle, instituido na
Attica uma festa, por causa do que em seu tempo
se passara com um sacrificador de victimas, cha
mado: Buphão. Tendo este immolado um touro an
te a ara de Jupiter, padroeiro da cidade, fugio lo
g0, e } tal arte se homisiou, que não houve dar
com elle, por mais diligencias que para isso se fi
zessem. Depozeram-se no tribunal a machada e
mais instrumentos do sacrificio que Buphão havia
deixado no chão, para servirem de provas no pro
cesso contra elle. Aº falta de homem sahio a sen
tença contra a machada. Ficou-se renovando d'an
no à anno a representação d'esta farçada sacro-fo
rense, e em rasão de ser folgança publica, muito
adubada com sal de dicterios, mómos, e vaias,
se chamaram pelo tempo adiante: bufões e bufo
neria, os individuos, dictos, e acções, comica
mente extravagantes.
Por espaço de muitos séculos houve bobos de
Riº e de moradia nos lº dos Reis e dos
idalgos. Em França, o ultimo bobo da côrte foi An
# reinando Luiz XIV. Em Allemanha ainda os
houve muito depois. Se havemos de dizer a ver
dade, este máu gosto de senhores ainda não *#
sou de todo. Ha muita casa de armaria e rendas
grossas, onde, effectivo ou occidental, com o titu
lo de criado, de capellão, de hospede, de mórdomo,
de compadre, e de amigo, se tem um bonacheirão
que serve de debique aos da familia e á gente de
fóra. E' um dos mais semsabores abusos que se
} fazer da grandeza e da fortuna. Adignidade
umana vocifera no fundo do coração contra estes
insultos cobardes e continuos, que não assentão
senão, ou na fome que a tudo se resigna por de
pendencia, ou na estupidez que perdoá tudo, por
que não sabe o que lhe fazem.
No theatro o bobo é um genero, pouco mais ou
menos, como palhaço, e as peças de baixo comico
no theatro lyrico italiano ainda hoje têem o nome
de: operas bufas.
Na litteratura e na conversação ha pessoas que,
por mingua de reflexão, ou de gosto, ou de instin
cto, descambão frequentes vezes, de engraçadas
que podião ser, em bobos, condição a que nenhu
maalma de bem se deveriajamais sujeitar.Se fazeis
rir com chistes finos, sois engraçado; se provocais
gargalhadas com arremedos, - caretas, visagens,
contorsões, sois bobo; se a setta que disparaes,Vol.
ta a cravar-se em vós mesmo, sois bobo: se procu
rais divertir com cousas grosseiras, immundas,
maléficas, absurdas, ou de uma falsidade e impos
sibilidade imperdoavel, sois bobo, e bobo mesmo
na accepção castelhana do vocabulo, que é de: tolo.

#Adagio turco. — O offendido perdoa muitas ve


O offensor nunca.
16 DE ABRIL (Segunda feira).
Ave Maria. —
O costume de in
vocar assim a
Virgem antes de
entrar no corpo
do sermão data
de 1300. Quem o
introduzio foi Al
berto de Padua, prégador Agostinho, de grande no
meada no seu têmpo (A. 51, 21 de Março).
17 DE ABRIL (Terça feira).
Novo salvavidas. —Acaba de fazer-se no Elba a
experiencia de um novo salvavidas. Atirou um ho
mem comsigo ao rio, embrulhado n’uma especie
de colxão,amarrado á roda do corpo. Por muitas
vezes lhe quizeram fazer mergulhar a cabeça na
agua, mas não foi possivel; levou-o depois a cor
rente como se fôra uma taboa. D’ahi a poucos mi
nutos, o homem,que não sabia nadar entrou são e
salvo para dentro do barco em que fôra até ao
meio do rio.
... O tal colxão é muito parecido com os colxões or
dinarios, e tem um reservatorio d’ar e um escani
nho em que se mettem viveres e agua para alguns
dias;pode-se até dormir n’elle. Com um colxão d'es
<tes passão-se dias e dias inteiros em cima das on
das, por mais bravas que estejão. Eu é que o não
troco por um dos meus (A. 54 p. 77.180). 196
18 DE ABRIL (Quarta feira).
Lord Byron. — O maior Pºº inglez d’este sécu
lo. Morreu em Missolonghi, a 18 de Abril de 1824,
na idade de 37 annos, pelejando pela independen
cia, e liberdade da Grecia. Foi transportado o seu
cadaver para Londres a 1 de Julho no navio Flori
#A da, ficando todavia ali o coração. Veio
A num caixão com muitos buracos, met
º tido n’um tonel de espirito de vinho, e
do mesmo modo que Nelson havia sido
| conduzido de Trafalgar. Ao chegar o
capitão á Inglaterra, quiz deitar fóra
# o espirito de vinho, mas oppoz-se um
dos maiores enthusiastas do poéta, e propoz que
se vendesse; assim se fez, e pôr cada canada sepa
gou uma libra: poucos minutos bastaram para
despejar o tonel (A. 53 p.238.244. A. 54. p. 54.98).
19 DE ABRIL (Quinta feira).
Bulla d'ouro. — Foi até á destruição do imperio
d'Allemanha,no principio do século XIX, a lei fun
damental e constitutiva do corpo germanico. Deu
se-lhe aquelle nome por estar selada com um sel
lo d’ouro. Escripta em papel velino, e confiada á
uarda do primeiro magistrado da cidade de Franc
ort, a tal ponto chega a veneração por ella, que
foi com a maior difficuldade que em 1632 poude
o eleitor de Moguncia renovar os cordões de seda
de que pendia o sello, operação que só na presen
# e númerosas testemunhas foi permittida.
20 DE ABRIL (Sexta feira).
Applauso. — Em toda a parte se applaudem, e
em todos os tempos se applaudiram, as cousas de
agrado, # para os ouvidos, quer para os olhos,
da multidão; assim como se reprovão por mani
festações estrondosas os espectaculos ou discur
sos que não preenchem o fim proposto.
Entre nós o applauso consta principalmente de
palmas, com as quaes ás vezes se misturão vozes
de: bravo, bis, e dá capo, corrupção do italiano:dal
cap0 (desde o principio), se se deseja a repetição.
A reprovação faz-se com os pés, d’onde talvez lhe
veio o nome de: pateada, e ás vezes com assobios.
Os francezes, inglezes, e outros povos, applaudem
tanto com os pés como com as mãos, e só com o
assobio è que reprovão. Os applausos dos moder
nos são nada, comparados com os dos romanos. Um
europeu de hoje, transportado a um espectaculo
da antiga Roma, mostrar-se-inia completo barbaro
por sua supina ignorancia na arte de applaudir:
quando arte dizemos, empregamos um termo pro
priissimo. O applauso que se executava com as
mãos, aprendia-se com mestres em escolas espe
ciaes, e se dividia em tres especies, a saber: bom
bi, imbrices, testas. Bombi, que significa: zumbi
do de abelhas, era o resultado de certos movimen
tos dos dedos que imitavão aquelles sons; imbri
ces, que significa: telhado, era outro movimento
# arremedava o estrepito da chuva no telhado;
inalmente, testaº, que val tanto como: potes, era
um estampido, operado pelas palmas, que dava *#
do som de certas talhas acusticas embebidas nas
paredes dos theatros. De nenhuma destas cousas
é possivel termos hoje idéa clara; mas todas ellas
nos provão quanto a sociedade preterita diferia
da presente. Em que se havia de empregar a mo
cidade opulentissima, soberba, e cercada de es
cravos, senão em futilidades!

21 DE ABRIL (Sabbado).
Palilias. — N’este dia celebravão os romanos
com o nome de palilias a festa de Pales, deusa tu
telar dos rebanhos. Na cidade mesmo se accendião
fogueiras, mas nos campos muito mais, e já desde
pela manhã. N’ellas lançavão leite, vinho fervido,
milho, mel, e depois enxofre, e fazião-lhes girar
em redor os gados, com o que tinhão para si que se
livrarião de loios e doenças. A roda d’aquellas fo
gueiras fazião depois os rustiços suas danças fol
gasans, cantando os louvores de sua deusa.
Querem alguns que n'este dia, e com esta festa,
solemnisassem tambem a fundação de Roma.
Floresta de conpiegne. — Esta antiga floresta,
quasi inteiramente povoada de antiquissimas ar
Vores, foi ultimamente avaliada em 49 milhões de
francos, a saber, 17 milhões de terreno e 32 de ma
deiras. Tem 2.907,400 varas quadradas de super
ficie; é de 22 leguas a sua circumferencia: atra
vessão-na 338 estradas, tem 13 lagôas, 8 tanques,
318 pontes, 200 encruzilhadas, e 11 fontes que
#" 4 correntCS.
22 DE ABRIL (Domingo).
curiosidades americanas.—Chegou a Paris,pelo
meado d'este anno de 1853, um viajante que andou
annos pela America equinoxial, e visitou as qua
renta e duas tribus silvestres que demorão pelas
confluencias do Orenoque e Rio Negro, entre 6
gráus de latitude norte e 1 de
latitude sul, e entre 65 e 77 de
longitude occidental do meri
diano de Paris. Contão-se n'a
quellastribus algumas muibra
vias que estanceião por sitios
desconhecidos,enunca tiveram
tracto,nem por longe,com gen
te civilisadá. O nosso viajante
estudou quanto poude aquelle
mundosinho exotico. Trouxede
seus idiomas noticias mui pre
ciosas para os estudos linguisti
cos;collecções dehistoria natu
ral; de instrumentos musicos;
Vestuarios de cascas d'arvores;
redesdemaravilhosa contextu
ra e mui historiadas; primorosos arabescos de pen
nas; urnas funebres; armas de guerra e caça; etc.
etc. Algumas das armas bellicas enthesouradas por
elle têem suas inscripções gregas, assim como de
senhos manifestamente gregos apparecem no la
vor de varios cestos que mostra.
A historia dos povos não tem menos enigmas
que a da natureza.
200
23 DE ABRIL (Segunda feira).
Adivinhar uma palavra entre 24. — Escrevão-Se
estas em 24 papeis com os seus numeros por baixo:
ROME NICE NANCI COCHE RECHE AIRE
29 65 8735 8 1837 39 3 4 5 293 4 5 1725
NERONRAONARCHER CHEMIN CAENMACON
85.298 219 8 12345 2 3 4 567 8 3158 61398
CHIEN CARMIN NOION CHINON HIMENORME
34758 3 1 267889798 3 47898 47658 92 65
MENIN ARME HERON CRIN NERAC MER
65878 1 265 45298 3278 85213 652

Escolhido um d’estes nomes, pergunte-se se tem


um numero par ou impar d'algarismos. Se for par,
# a somma dos dous por baixo da 1.º e
..º Ietra; a dos dous por baixo da 2.° e 3º; a dos
dous por baixo da 3.° e 4.º; e se o numero tiver
só quatro algarismos, a dos dous por baixo da 2.°
e 4.º Supponhamos que se escolheu: #
O 1.ºn.º e o 2º dão 11; o 2.º e o 3.º dão 15; o 3.°
e o 4.º dão 11; o 2.º e o 4.º dão 14; escreva-se assim:
1.º equação — 1.º mais o 2.º igual a ... 11
2.° » " – 2.º mais o 3.º igual a 15
3.º º — 3.º mais o 4 º igual a 11
4.º º — 2.º mais o 4.º igual a 14
29 11
Some-se d'um lado o que dão as equações pa
# e do outro o que dão as impares (despresan
do sempre o que der a 1.º equação, quando o nu
mero escolhido tiver 4 ou 6 algarismos) e dimi
nua-se um numero do outro: n’este caso diminuin
do 11 de 29, ficarão 18, cuja metade é 9, e será es
te o 2.º algarismo da palavra: o resto facil será de
achar, recorrendo ás equações primitivas.
O 2º numero é 9.
O 1.ºé iguala 11 menos o 2.º, igual a 11 menos 9, igual a 2.
03."é igual a 15menos o 2º,igual a 15menos 9, igual a 6.
O 4.°é igual a 11 menos o 3.°, igual a 11 menos 6,igual a 5.
Procurem-se pois os algarismos 2965 na palavra:
ARCHEMINO,
1 2345 67 8 9
a chave do enigma, e achar-se-ha ROME.
Se a palavra escolhida tiver o numero impar de
algarismos, a marcha será a mesma, só com a dif
ferença, 1.° de se dever perguntar a somma do 1.°
e do ultimo numero em logar da do 2.º e ultimo:
2.º de diminuir da somma dos numeros das equa
ções impares a somma dos numeros das equações
pares; 3.°, de que o algarismo assim achado mos
tra a 1.º letra da palavra. Seja a palavra #####
O

1.º equação—1.º mais o 2º igual a 13


2.º » —2.º mais o 3.° igual a 7
3." » —3.º mais o 4.º igual a 11
4.º º – 4.º mais o 5.º igual a 17
5.° º – 1.º mais o 5.º igual a 16

24 - 40
De 40 tirando 24, ficão 16, cuja metade é 8; logo
O 1º numero é 8. 202
O2ºé igual a13menos o 1º, igual a 13 menos8, igual a 5.
O3"é igual a 7menos o 2º, igual a 7 menos5, igual a 2.
O4ºé iguala 11 menos o 3°, igual a 11 menos2, igual a 9.
O5°é igual a 17 menos o 4º, igual a 17 menos9,igual a 8.
Procurando em ARCHEMINO os algarismos
8 5 2 9 8 acharemos: NERON.

24 DE ABRIL (Terça feira).


Pleiadas — E' um grupo de estrellas colocadas
no pescoço do signo: Touro, correspondente ao
mez d'abril: ficão á direita do boldrié d’Orion,
subindo para o norte, e desapparecem no principio
do outono. Tirão o nome d'uma palavra grega que
significa: navegar, em rasão de se supporem nos
tempos antigos fataes aos navegantes. No seu li
vro intitulado: Nuntinº sydereus, afirma Galileu
ter descoberto com o seu telescopio 40 estrellas
n'aquela constelação, na qual não vêem os olhos
nús mais do que sete, a que se poz o nome de:
Electra, Mérope, Maia, Taygate, Sterope, Alcio
ne, e Celeno, filhas de Pleione, mulher de Atlas.
-
Perseguidas, segundo a fabula, por Orion, seu
namorado, recorreram a Jupiter, seu pai, que lhes
deu o céu por asilo, e as converteu êm estrellas.
Ora se vêem seis, ora sete, pelo que disse Ovidio:
0ua septem dici, sea tamen esse solent. Diz o
mesmo poéta, moralisando a fabula, que a das
sete irmãs que de ordinario se não deixa ver tão
claramente, é Mérope, que vendo as seis irmãs
casadas com deuses, tem vergonha de apparecer,
# ter casado com Sisypho, simples mortal.
25 DE ABRIL (Quarta feira).
Thesouro de S. Marcos.—Era riquissimo este the
souro da républica veneziana, formado dos des
pojos do de Constantinopla. Está n’uma salla com
quatro portas de ferro, que se fechão logo, por uma
certa mola, sobre os que lá entrão. Tomou-se es
te cuidado, em consequencia do roubo que fize
ra em 1427 O &######
Entre varios e mui numerosos objectos que or
não o thesouro, taes como: vasos d'agatha, uma
finissima saphira do peso de 10 onças, etc. etc.,
ha (e é sem duvida o mais precioso e importante)
um manuscripto em folhas de pergaminho muito
velho, quasi que em pó, que dizem ser autho
grapho do Evangelho de S. Marcos. As tres ou
quatro letras que d’elle se podem ler são origem
para dissertações dos antiquarios. Dizem uns que
são gregas, outros que são romanas, outros que
são hebraicas, o que diminue muito o crédito de
tal singularidade.
26 DE ABRIL (Quinta feira).
Boa letra.

Oh! mal haja quem bem cedo


Secretario te não faz,
Que a tua letra é capaz
De guardar todo o segredo.
Miguel do Couto Guerreiro.
204
27 DE ABRIL (Sexta feira).
Thargelias.— Festa celebrada antigamente pelos

#*
R} athenienses em honra
de Apollo e Diana, ou
\ }{ do sol e da lua, no mez
de Abril.
Para obterem d'a
quelas divindades in
dulgencias e colheitas
abundantes, sacrifica
vão-lhes dous homens,
ou um homem e uma
mulher, que para isso
se andavão engordando
por espaço de mezes.
Levavão-nos com col
lares e braceletes de fi
gos passados, eião-nos
desancando pelas ruas
com ramos de figueira; depois de immolados,
queimavão-nos, e as cinzas lançavão-nas ao mar.
Não ha festa mais divertida!...

A ultima verdade.— Logo depois de eleito, cer


to Papa, chegou-se-lhe um Cardeal ao ouvido, e
disse-lhe: «Eis-vos Papa; ouvi pois a verdade pe
la ultima vez: seduzido pelas adulações do mun
do, ides julgar que sois um grande homem, quan
do não passais d'um pedaço d'asno. Com esta Yos
deixo, para vos ir também adorar. Estou para
VOS Obedecer. »
205 |
28 DE ABRIL (Sabbado).
Algodão herbaceo. — Aos lavradores da nossa
terra recommendamos o seguinte extracto d'uma
carta publicada na Gazetta Oficial da Guadelupe:
«Notei eu, no outono passado, ao descer o Mis=
sissipi, grande porção de arbustosinhos de 30 a 35
centimetros d'altura, em ambas as margens do rio;
formava cada um delles uma especie de ramalhe
te d'alvissima côr. Facilme foi reconhecer o algo
dão herbaceo, cuja introducção na Guadelupe se
me figurara sempre de grande utilidade. Ao vol
tar alli,affligi-me ao vera desgraça em que se acha
va a nossa agricultura, e os poucos recursos de
muitos de nossos proprietarios, e naturalmente
me occorreu a cultura do algodão herbaceo, a qual
é facil e pouco dispendiosa., Mandei, vir semen
tes da Nova Orleans, e acabão de chegar-me em
quantidade suficiente para numerosas experien
C1àS. |- •

O algodão herbaceo dá-se em toda a qualidade


de terreno, mas prospéra particularmente nos cli
mas quentes. Bastão-lhe seis semanas, dous mezes
quando muito, para crescer e produzir; no fim d'es
se tempo chega ao maximo desenvolvimento; ar
ranca-se, e facilmente se separa o algodão do cau
le a que adhere. Em climas semelhantes ao nosso
podem-se fazer seis colheitas por anno no mesmo
terreno. E' uma planta que de pouco se sustenta.
Uma geira de terra consagrada a isto daria gran
de beneficio. Nenhum trabalho penoso exigem es
ta cultura e colheita; mulheres e creanças Pºgº
n’ellas empregar-se. E de bella qualidade este ai
godão e certissimo o seu consummo. »
Casas de commercio ha em Lisboa e no Porto
ue estão em frequentes relações com os Estados
Inidos; nada ha pois mais facil do que mandar vir
algumas sementes de tal planta e experimental'as
tambem cá, particularmente no Algarve e ilhas.
(A. 53. p. 88. A. 54. p. 62.) --

29 DE ABRIL (Domingo.)
sortilegio, — Um dos mais usados sortilegios
nos seculos XIII, XIV, e XV, cuja origem parece
remontar aos povos da antiguidade, que por Ovi
dio foi claramente descripto, e de que ainda se
achão vestigios entre certas nações barbaras do
Novo Mundo, e particularmente entre os selva
gens do Canadá, consistia em picar com uma agu
lha a figura de cera d'aquellês que por sua alta
posição estavão ao abrigo dos malefícios #
res; Proferião-se ao mesmo tempo diversas for
mulas com imprecações contra elles, que se jul
gava sofrerem na mesma parte em que era pica
da a sua imagem; uma picada no coração era
de fé que produzia morte proxima. Foi accusa
do d'um sortilegio assim e d'outros analogos, que
Enguerrand de Harigny foi condemnado á morte
e levado ao cadafalço em 29 de Abril de 1315.
*

como se evitão picadas de vespas. — Lavando


mãos e cara com agua de colonia, ou d'alfazema,
Vinagre, ou aguardente.
207
30 DE ABRIL (Segunda feira).
Amabilidade musulmana. —Estranhou uma se
nhora ao embaixador turco, em Pariz, o poder-se
um musulmano casar com muitas mulheres. «Sim,
minha senhora, lhe respondeu o diplomata, per
mitte-o a nossa lei, para podermos gosar em mui
tas o que só em vós se acha reunido. »
1 DE MAIO (Terça feira).
Maio Pequenino. Maio e Maia. Mastro de Maio.—
Este mez é particularmente consagrado á Virgem
Maria. No seu primeiro dia usão ainda agora entre
nós os rapazes percorrer as ruas, festejando e
acclamando uma creancinha enfeitada de flores
a quem dão o nome de: Maio pº". Na pro
vincia do Minho põem á borda das estradas um
menino e uma menina com o nome de: Maio e Maia,
deitados n’uma camilha de flores e verdura, e um
prato ao pé para os passageiros deitarem a sua es
mola. Em França e Hespanha é uso dos campone
zes irem obsequiar as pessoas principaes da terra,
plantando-lhe diante da porta um mastro enfeita
do a que dão o nome de: Maio (A. 51, 1 de Maio).
2 DE MAIO (Quarta feira).
Uma boa nora. —
-- « Uma cousa que nun
: ########\**> #X2 ca heide perdoar d
…ai es_*_* * meu marido (dizia cer
*#*#* # ta mulher levadinha
da breca) é ter nascido
de semelhante mãi!
Boa nora!...
A uma nora mere
cia ella andar amarra
da toda a sua vida!...
|- •- >• E º va,Adizia fortuna
maioroutra d'E
da mes
ma laia, foi não ter sogra que aturar!
209 14
3 DE MAIO (Quinta feira).
… A ESPERANÇA. * * *

- * **
{Domeu pastorinconstante. Na manhãdosmeus 15 annos
Não é essa ao longe a lyra? Na minha cabana entrou,
E' essa, mas já não sôa Eem quanto me punha flores
Por Thyrse que inda o suspiraSeu destino lamentou,

Não é por ti que se toca, —«Cruel, podes tu,disseelle,


Pobre pastora, não é!... º Demeustormentoszombar!»
Ah! quanto eu fui desgraçada Eeulhedisse-º Sêconstante,
Em lhe dar a minha fé! «Deixa o tempo trabalhar»

O seu canto e avozdos echos A primavera, que vira


Repetiram vezes mil, Nascer do ingrato os ardores,
Das raparigas da aldeia Osvio decrescer, murchar-se,
Que eraThyrse a mais gentil. Quaesmurchão asminhasflores
Que eu era a sua pastora; Mas zephyro as flores torna
Que era elle o meu pastor; De quem fugira inconstante:
Que eu lhe seria traidora lá. E não pode inda ser Daphne
Sem que me-fosse traidor. Omeu Daphne,omeu amante?
###

(Brasileiro)
- Falladora de profissão. — Ninon dizia muitas ve
zes a M." de Chevreuse: «Se eu soubesse que de
pois de morta havia de encontrar no céu as pessoas
de minha amisade para conversarem comigo, mui
to havia de desejar morrer!» 219
4 DE MAIO (Sexta feira).
Mar Baltico. — Grandissimo fºho do Mar do
Norte. Confina com as costas de Dinamarca e da
Suecia a O., a E. com a Bothnia, a Finlandia, a Li
vonia, e a Curlandia, ao S. com a Polonia e a Prus
sia. Tem 1900 kilometros (475 léguas) de com
pº sobre 250 (62 léguas) de largo. A sua super
icie, comprehendendo os golphos da Bothnia e
da Finlandia, é de 65,000 kilometros quadrados.
E' muito mais perigosa a navegação n’este mar
do que no Mar do Norte, em razão dos immensos
rochedos de suas costas e das frequentes mudan
ças de vento. A sua agua é mais fria e mais clara
que a do Oceano; contém poucas materias sali
nas. Tres ou quatro mezes cada anno interrom
pe o gelo a navegação em toda a sua superficie,
Quarenta rios se lanção n’elle, cujos principaes
são: o Neva, o Dwina, o Oder, o Vistula, e o
Niemen. Mais de 10,000 navios atravessão todos
os annos o Mar Baltico, vindos do Mar do Norte.
Tem um grande numero de ilhas.
sino esquisito. — De Mont'Alegre me informa o
Ill"º Snr. João Teixeira de Mesquita, que ha na Sé
de Miranda do Douro um sino lº foram pôr no te
lhado. Puxando por uma corda que está no meio
da igreja dá tres badaladas que se ouvem em toda
a cidade, menos dentro da mesma igreja. Poucos
sineiros se gabão de tal fortuna!...:
211 • A. 54Ap.75)
(A 52 p. 267. 53p.242.347.
5 DE MAIO (Sabbado).
renitencias no Indostão.—Não ha terra no mun
do em
jão que mais singulares
as penitencias. do que
Referiremos no Indostão se
algumas: •

Vivem uns, 40 annos e mais, n’uma gaiola. An


dão outros toda a vida com ferros aos pés.
Andão uns com as mãos sempre fexadas, para
que as unhas, crescendo, se lhes enterrem na pal
ma da mão e a atravessem de lado a lado; agar -
rão-se outros a ramos
completamente d'arvores até que os braços
se paralysem. • •

Fazem uns o voto de estarem sempre em pé, e


outros de se não deitarem senão em camas com
picos de ferro que de continuo os acordão.
Uns olhão para o sol até cegarem de todo; con
servão-se outros sempre ás escuras.
Têem-se feito enterrar uns com a cabeça para
baixo e os pés só de fóra, em quanto outros hão
ficado só com a cabeça de fóra, e só pestanejando
se podião defender das aves de rapina que lhe vi
nhão depenicar na cabeça e na cara.
Muitos se hão cortado mãos, braços, e lingua.
Houve um palerma que medio com o corpo a
distancia de Benares a Jaggernaut (que é de mui
tas léguas), deitando-se no chão, pondo-se em pé,
tornando-se a deitar e pondo a cabeça onde ulti
mamente tiveraaoossitio
bra (e de tolo) pés,aprasado.
até chegar em ar de co •

São espertos, não ha duvida!... Se fosse preci.


so tudo aquillo para a gente se salvar... coitado de
Inim!... e coitado tambem de Vocemecê que "#;
6 DE MAIO (Domingo).
campo Elysio, — Com este titulo publiquei no
meu livro: Camões, uma nota que vai da pagina 224
até pagina 250, e que supponho não foi lida, nem
as outras. E pena, porque alli se pedião cousas
muito faceis e muito boas, se a alma, se a poesia,
se o estudo, se a gratidão, se os brasões da patria,
se a fecundação intellectual, e se o futuro, se de
vem ter entre os homens por cousas de algum apre

90. Como este Almanach, impresso a tantos mil


exemplares, tem de ir a muita mão, e pode dar a
boa sorte que # véreador influente, que al
gum Governador Civil, que algum membro do cor
polegislativo, ou o ministro das obras publicas,
acertêm de pôr aqui os olhos, tornarei a suscitar
#ntº seria justó, glorioso, excitativo, e intei
ramente exequivel, um campo elysio, ou cemi
terio privilegiado, para os benemeritos; idéa em
cuja defensa se podem escrever volumes, e contra
a qual o maior engenho não distillaria uma só li
nha que não repugnasse pelo fetido d'ingratidão,
- A. F. de Castilho.

7 DE MAIO (Segunda feira).


Lemurias. — N’este dia começavão os romanos
a festa assim chamada, e que de 9 passava a 11 e
de 11 a 13 do mesmo mez, vindo a ser um triduo
interpolado. O fim era afugentar da casa, e da
presença dos vivos, os phantasmas importunos,
almas do outro mundo, ou trasgos, como hoje
diriamos. Consistia principalmente a ceremonia
em se levantar da sua cama o dono da casa por
volta de meia noite, ir á fonte lavar as mãos por
tres vezes, levar favas pretas na bôca, e il'as dis
parando com o sopro para traz das costas a uma
e uma, dizendo: «Com esta fava me resgato a
mim e aos meus. »
A cousa má, a ventesma, ou lemuria, entreti
nha-se a apanhar as favas, que por ser ás escuras
lhe havião de custar a achar, o homem safava-se,
trocava-lhe as voltas, e vinha fechar-se em casa,
onde terminava a solemnidade com espojar-se.
A familia acompanhava o acto com grande motim
de bacias e vasos de metal.
Durante aquelles seis dias era de máu agouro
6 casar, e em geral por todo o mez. 214
8 DE MAIO (Terça feira).
hemispherios de Magdeburgo. — E o nome que
se dá a duas meias espheras concavas, de cobre,
uma das quaes tem uma especie de torneira pela
qual se pode ajustar com a machina pneumatica,
e a outra uma argola de cobre. Juntão-se esses
dous hemispherios um ao outro, de modo que
formem um globo; extrahe-se-lhe todo o ar,
e só com grandissima força, superior á de uns
poucos de cavallos, se podem depois separar.
O nome d’estes hemispherios vem do inventor
Otto de Guerike, bourgmestre de Magdeburgo,
a quem tambem se deve a invenção da machina
pneumatica.
(A, 53 p. 308.)
9 DE MAIO (Quarta feira).
Ulemas. — Por tanta vez se ha fallado nos Ule
mas depois da complicação dos negocios do Orien
te, que não será fóra de proposito dizer o que se
jão á quem por ventura o não saiba. E o nome que
dão os turcos aos doutores da lei musulmana. São
em geral empregados nas mesquitas, nos hospi
taes, nas escholas, e incumbidos de explicar o Al
corão, de velar pela educação dos Príncipes, de
exercer empregos diplomaticos, e de administrar
justiça. Da multiplicidade de suas attribuições re
sulta muita vez uma extraordinaria confusão de
poderes. -

(A. 51, 30 de Outubro)


215
10 DE MÁIO (Quinta feira).
Iampeões horarios. — Está-se agora fazendo em
Bruxellas uma nova e mui util applicação da ele
ctricidade.
Estabeleceu-se uma corrente electrica entre 0
relogio do Observatorio e um ponteiro fixo a ca
da lampeão d'aquella capital, de modo que todas
as vezes que o relogio dá horas, ou meias horas,
immediatamente as indica tambem o ponteiro n'um
dos vidros do lampeão. Ninguem d'ora ávante dei
xará de saber alliás quantas anda.
Gharada.

No calmoso e ardente estio, Entre as areias ardentes


Em que a brisa bemfazeja Julga ao longe um lago ver;
Repousava entre palmeiras, E logração do deserto;
Sem bulir o quer que seja, Mostra agua sem a ter,
Um viandante cançado Cahe sem força o viandante
La na Arabia se arrastava,Sobre a areia escandecida,
E quasi morto de sede E quasi, quasi a segunda
A primeira lhe faltava... 1 ||Lhe arrancaorestodavida...1

No emtanto o sol dardeja:


Parece arder o deserto ;
Não se ouve o vento ao longe,
Não se sente aragem perto!..
O miserrimo na areia,
Exhausta a vitalidade,
Não se queixa ja do todo,
Porque entrou na eternidade.
216
11 DE MAIO (Sexta feira),
corda de enforcado.—Enforcou-se em Paris por
sua mão, não ha muito, um pobre homem, cons
ternado por ter perdido o ténue emprego de que
vivia, Córda de enforcado, dizem que é bom pre
servativo de desastres. Todos os visinhos da es
cada quizeram ter o seu pedacinho da fatal corda,
um que esportulou mais alguns soldos, levou maior
porção, com o que se deu por forro para todo o
sempre de penas e trabalhos. Nesse mesmo dia,
atravessando uma rua populosa ao
• •
tempo em que
passavão um car

ro carregado e
uma sege, vio-se
entalado entre el
les,sem poder va:
ler-se e fugir: #
+ => >>>>>> =hio, passaram-lhe
#<><><><> as # do carro
por cima das coxas, quebraram-lh'as, levaram-no
para o hospital aos gritos, poucos dias após falle
ceu; os outros, escarmentados com o successo, tra
taram de queimar muito depressa as suas cordas
de enforcado, persuadidos de que, em logar de fa
zerem bem aquelas reliquias, tinhão pelo contra
rio mandinga, e punhão em eminente perigo de
quebrar as pernas.
Factos d’estes na chamada capital do mundo ci
vilisado provão claramente quanto o povo, em to
da a parte, jaz ainda longe da necessaria instruc
# e como a carencia de educação religiosa e de
noções geraes de philosophia, aliás facillimas de
transmittir pelas escholas á população, occasiona
todos os dias desgraças funestissimas.
12 DE MAIO (Sabbado).
o PoéTA.

O poéta não conhece Se despertasse o poéta,..


Da terra senão as flores! Não poderia ja sel’o !
Se o desengano viesse Ovídio seria geta (*)
Roubar-lhe gentis amores Se um dia sentisse gelo
Que aalma lhe trouxe do céu!...Onde tinha o coração.
Se em vez da terra d'outr’ora Apagar-se-hia a centelha,
Ou d'horisontes futuros, Que o genio teacende em chammas,
Se em vez de sonhada aurora, Queesse véuqueoscéusespelha,
Do occaso osgolphãos escuros A Homeros, Camões, e Gamas,
Lhe mostrasse o roto véu!

?...Mundos,goria, e deuses dão!..
*.*

Vives para amar! não queiras


Gratidões em recompensa ; -
Ama, sim, de mil maneiras,
Ama sempre ! que é immensa
A missão que te conduz.
Ama toda a humanidade,
Sem ver nos homens o homem; ;
Faze como a caridade,
Que pede só que lhe tomem
E acceitem calor e luz!
Lisboa, 12 de Maio de 1854. Luiz Filippe Leite.

(*) Leia-se o artigo sobre os getas a pag. 234 do presen


te Almanach.
218
13 DE MAIO (Domingo).
Barbeiros chins. — Em todas as cidades do ce
leste imperio andão os barbeiros pelas ruas, to
cando uma campainha, para que os fréguezes
saibão que vão passando. Trazem comsigo um
banco, uma bacia de barba, uma toalha, um
pucarinho d'agua quente, e uma especie de foga
reiro para lhe conservar sempre o mesmo calor.
Assim que os chamão, põem o banco no sitio da rua
que mais commodo lhes parece, ensaboão a cabeça,
limpão os ouvidos, pintão as sobrancelhas, fazem
a barba, e escovão o fato, tudo isto por uma moe
dinha de cobre que poderá valer, quando muito,
dez réis. Não ha hadá mais barato, se é que não le
vão, da cara e da cabeça, pelo menos um vintem
de carne. •

14 DE MAIO (Segunda feira).


Pérolas improvisadas (A. 53, p. 142. A. 54, p.
100, 130) – Acaba de chegar à Inglaterra uma
curiosa amostra de pérolas artificialmente obti
das pelos chins em uma especie d'ostra ou con
cha de mar. Introduzem-lhe um bocadinho de
áu, ou uma pedrinha, que titilla, ou para fal
ar em linguagem mais vulgar, faz cócegas, ao ani
mal em quanto vivo, e o obriga a depositar no fun
do da concha o germen da pérola.
Introduzem tambem ás vezes bocadinhos de
metal, os quaes, depois de cobertos por aquelle
germen, lhes servem de reliquias.
(A. 51, 7 de Maio e 31 de Outubro)
15 DE MAIO (Terça feira).
Fructos ºlectricos, — O raio passara pelo supre
mo destruidor; o raio deverá passar dentro em
pouco pelo creador supremo da natureza, porque
o raio não é, em ultima analyse, mais que a electri
cidade, e a electricidade é provavelmente a gran
de palayra dos enigmaticos phenomenos da vida
e da reproducção em toda a natureza organisada.
. Arrancar o raio aos céus, como Franklin, e pro
hibir-lhe devasgar a terra, era já muitissimo, mas
que se dirá quando se vir que a sciencia, não con
tente com os serviços } a materia do raio presta
de continuo, e invisivelmente, á vegetação, a obri
ga, por artificiosos conjuros, a vir auxiliar a gran
de arte do agricultor, a avolumar-lhe e a sasonar
lhe os fructos, e a fazer de cada predio rustico um
paraiso, e do mundo todo a terra da promissão!...
E isto o que desde 1844 se começou a descobrir
em França, pelas tentativas d'um agrónomo dis
tincto, e o que ultimamente se tem confirmado nos
Estados Unidos, por experiencias numerosas. En
tre duas chapas de metaes diversos colloca-se um
arame cujas extremidades ficão presas ás mesmas
chapas; este arame communicador passa pela plan
ta cuja maturação se pretende aperfeiçoar; o mais
corre por conta da natureza; a seu tempo, ou an
tes do seu tempo, apparece o fructo, faz-se gigan
te, formoso e suavissimo.
Não será por isto mesmo, que a natureza tornou
as arvores, e as plantas em geral, feixes densissi
mos de conductores electricos? 220
A ignorancia dos antigos tinha dado a Jupiterº
raio: a sciencia dos modernos furta-lh'o, reparte-o"
e o entrega por mão das artes a Pomona, a Vertu
mno, a Flora, a todas as divindades campestres,
alegria, encantamento, e sustentação da terra.
16 DE MAIO (Quarta feira. Ladainhas).
Ambarvaes. — São as rogações, ou ladainhas de
Maio, a sanctificação christã das ceremonias pa
gans-romanas, chamadas: umbarvaes, palavra que,
derivada de ambire arva, significarodear os cam

pos. Duas vezes no anno se fazião as ambarvaes;


em Abril e em Julho : da primeira vez invocando
se em favor das sementeiras o Pai Marte; da segun
da, Jano, Jupiter, e Juno, em favor da cólheita. Os
mºdºres de Roma, que tinhão fazendas pelos ar
rabaldes, sahião da cidade coroados de carvalho,
na companhia dos sacerdotes chamados: Irmão:Ar
vaes, que erão doze, creados já do tempo de Ro
mulo; para este fim, ião rodeando processionalmen
te as quintas com orações em que se esconjura
vão todas as doenças e pragas dos camponezes,
dos gados, e das terras, e finalmente se fazia o sa
crificio su-ové-tauril, assim nomeado por serem
as victimas, uma porca, uma ovelha, e um touro,
Os lavradores remotos da cidade tinhão tambem
as suas ambarvaes, de menos pompa sim, mas de
não menos tocante devoção.
(A. 51, 26 de Maio, 15 de Julho, 16 de Agosto.
A. 53 p. 92.164. A. 54 p. 34.)
17 DE MAIO. 3 (Quinta feira. Ascensão)
Monte olivete.—Assim chamado das muitas oli
veiras que n'elle havia. E o logar sagrado para
onde J. C. muitas vezes se retirava a fazer oração
e d’onde subio ao céu no dia de sua triumphante
Ascensão. Do alto d'este monte se descobre da ban
da do poente toda a cidade de Jérusalem; fica o
Valle de Josaphat entre o monte e a cidade. Divide
se o monte em tres cabeços, nos quaes se diz que
levantaram as concubinas de Salomão altares aos
seus idolos. No outeiro mais alto ainda se vêem as
ruinas d'um magnifico templo, edificado por San
ta Helena, e no meio d’uma das naves uma peque
na capella de fórma octogona, com uma figura em
cada um dos oito angulos, e seu zimborio por ci
ma; o pavimento é todo de lagedo, excepto "#
a da rocha d'onde o sENHOR, estando em pé, su
is ao céu, logar que fica descoberto, e em que se
observa o vestigio do pé esquerdo de J. C., mi
lagrosamente cavado altura de tres dedos, e si
tuado de maneira, que bem se conhece que ao ele
vir-se, tinha o rosto virado para o norte. E opi
não d'alguns que deixara impressos os vestigios
(ambos os pés, e que os turcos levaram o do pé
direito, para o guardarem na sua grande mes
quita. •

18 DE MAIO (Sexta feira),


calculo das probabilidades. —Foi levado a gran
de augmento pelos célebres Laplace e Poisson.
E' a esta sciencia que se deve a creação dos Se
guros de vidas, fundados, nas taboas de morta
Iidade feitas por Halley. O aperfeiçoamento das
taboas astronomicas é devido tambem, em gran
de parte, aos recentes progressos feitos neste
ramo. A theoria das probabilidades pode dizer
se que não é outra cousa senão o bom senso
reduzido a calculo.
19 DE MAIO (Sabbado).
um homem bicolor.—O poéta francezSt. Amant
estava uma noite n'uma reunião onde tambem se
achava um individuo de cabello preto e barba .
branca; repararam todos na novidade; St. Amant
chega-se a elle e lhe diz: «Pelo que # tendes
# " mais dos queixos que da bola.» •
20 DE MAIO (Domingo).
A Provide
,bcllos ncia. -Todos conhecem aquelles dbis
versos de Racine sobre Providencia :
a
« Aux petits des oiseaux il donne la pâture,
« Et sa bonté s'étend sur toute la nature.

.. .

Outro poéta distrahio-se da fome, parodiando


os n'estes dois :

« Aux petits des oiseaux il donne la pâture,


« Et sa bonté n'exclut .. que la littérature.
(A. 52. p. 276. A. 54. p. 166)
· Antisthenes. — Tendo-lhe perguntado um ho
mem para que lhe tinha sido precisa a philosophia,
lhe respondeu ophilosopho: « Para viver cºmi#
21 DE MAIO (Segunda feira).
Ieopardo. — Deriva-se esta palavra de duas
gregas que significão: leão e panthera, porque
d'ambos participa este bravo animal, mammifero
da familia dos gatos, originario do Senegal e de
Guiné. Tem uns tres pés de comprido; o pelo
amarello no dorso, e branco por baixo do ventre,
com manchas pretas. Cação-no os naturaes d'a
quelles dous paizes com as suas azagaias, ou fa
zendo-o cahir n’uma cova coberta de verdura: os
dentes do leopardo pertencem ao Rei, vende-se

lhe a pelle, e com a carne faz-se um banquete na


tribu. Ataca indistinctamente homens e animaes,
e produz a maior assolação nos paizes que per
corre. Tem o olhar feroz, os olhos em continue
movimento, os dentes fortissimos, e as unhas agu
das. Apesar de multiplicarem immenso, nem por
isso deixão de ser raros os leopardos; porque os
tigres, que habitão em grande numero as mesmas
regiões, dão cabo d'elles.
225 15
22 DE MAIO (Terça feira).
AS TOU PEIRAS E A AGUIA.

* APOLOGO.

Reunidas as toupeiras N’este proposito assaltão


Em certo logar da terra, De chofre o passaro altivo,
Decidem fazer á aguia Contando tel’o seguro
Desabrida e crua guerra. Seja morto ou seja vivo.
Então este bate as azas,
Por livrar-se da alliança,
… E se remonta onde a furia
. Das toupeiras não alcança.
• •+

Entre os homens tambem halComo a aguia habita o genio


Toupeirasquefazem guerra; Nas alturas sobranceiras;
O peior é não subirem Das alturas não se enxergão
Um palmo acima da terra. Escuras, cegas, toupeiras.
(Brasileiro.)

23 DE MAIO (Quarta feira).


1

/ o que é ser veridico, — N'uma companhia em


que se achava o nosso famoso Morgado d'Assen
tiz, entrou um dos mais famigerados mentirosos
da capital. Saudando este, com a formula sacra
mental — Muito boa noite, meus senhores — O
Morgado, voltando-se de repente para uma crear
da, disse: «Abra as janellas, que já é dia. »
24 DE MAIO (Quinta feira).
Cultura e exportação da Purgueira. — De uma
memoria publicada pelo excellente patriota e já
falecido General Pusich (de quem tanto ainda hô
je se recordão as Ilhas de Cabo Verde, a que na
qualidade de Governador prestou importantes e
valiosos serviços), extrahimos o seguinte:
«Existe n'estas ilhas uma arvore silvestre cha
"mada: Purgueira, de cujo fructo (que se parece
com uma noz Verde) se extrahe um excellente
azeite, de que se servem os habitantes para luzes
e sabão. Vegeta e prospera por toda a extensão
das ilhas, e não exige mais trabalho que plantar
uma estaca em Junho, ou semear um grão em
Agosto, para immediatamente vegetar e cres
cer com pasmosa rapidez. A sua propagação se
ria de muita utilidade, porém ninguem n'isto
pensa. Um só dia cada anno bastaria que se dedi
cassem a esta geral plantação ou sementeira, que
em poucos annos se verião as ilhas cobertas d’es
ta arvore, que não só dá azeite com o seu fructo,
mas tambem, com a sua casca e madeira do tronco
dá uma boa cinza para sabão e para tinta azul
ferrete, e a sua raiz e sumo tinge e faz uma côr
amarello-escura. » :
A estas observações junta o Snr. João Antonio
Leite as seguintes:
« A purgueira é o unico genero que póde feli
citar as Ilhas de Cabo Verde; só a exportação de
seu azeite convem ao commercio e prosperidade
jºelº archípelago; favorecel’o será salvar
aquella terra, sendo certo o lucro de 20 a 30,000
réis, e mais, por pipa. O café não produz senão
junto ás ribeiras, é a purgueira até nas montanhas,
e sem trabalho, servindo para azeite, para sabão,
e para duas qualidades de tinta, azul ferrete e
amarello escuro, depois de queimado o seu tron
co ou os seus ramos, que servem como lenha, cu
ja cinza tanto proveito dá.
25 DE MAIO (Sexta feira).
Alcorão monstruoso, — Ainda hoje se vê na Me
ca (A. 51, 8 de Junho) um livro como não ha
outro no mundo. E o Alcorão (A. 31, 30 de Outu
tubro), todo escripto por um devoto musulmano
e seus dous filhos. As letras têem umas tres pol
legadas de altura, e o volume um pé de grossura,
4 pés e 8 pollegadas de comprido, e 2 pés e 8 pol
legadas de largo. O texto foi todo escripto pelo
pai, e nas entrelinhas traduziram os filhos a mes
Ima obra em lingua persica. A encadernação é
de taboas. Foi transportado o livro para a terra
natal de Mafoma ás costas d'um camelo, e por
todo o caminho fóra ajoelharam diante d’elle os
verdadeiros crentes, que em romaria vinhão de
muitas léguas de distancia: abria-se de quando
em quando o enorme cadeado que entre si ligava
os dous taboados, e ao abrir-se o livro admiravão
todos a perfeição com que fôra escripta aquella
obra, cujo primeiro exemplar se persuadem os
musulmanos haver cahido do céu a folha e fo -
lha, como já dissemos n'outro artigo. 228
26 DE MAIO (Sabbado).
Modo de fisgar malfeitores. — « Ordenou o dito
Senhor(El-Rei D. Manoel) que todo o oficialme
canico tivesse na cidade de Lisboa, á porta de sua
tenda, e casa em que vivesse e estivesse, um cro
que em haste de 16 palmos, tendo casa em que cou
besse. E quando não coubesse na casa, fosse de
# que na casa coubesse. E fossem obriga
os com osa…ditos
-
croques a acudir a qualquer
e… *É ----
ar
roido, que
se fizesse
Ilà l'Ulà CPIl
},1 que vives
| sem, ou por
onde fossem
/# al
guns malfei
t0re8, e tra
balhassem
== = quanto pos
sivel lhes fosse para os prenderem, e entregarem
presos ás justiças. E não o cumprindo assim, não
dando e mostrando tal rasão que os absolvesse de
culpa, pagassem mil reaes, ametade para quem os
acusasse, e outra metade para a piedade, etc. ete.
(Leis extravagantes )
Esta bem extravagante é.
Idade das mulheres.—E', na opinião d'um criti
# o unico segredo que ellas sabem guardar. --
27 DE MAIO (Domingo).
Estandarte de amor. — Faz hoje dez annos que
da costa de Inglaterra deu á vela John Franklin, à
testa d’uma pequena expedição, encarregada de
explorar a passagem do norte da America, passa
gem que só no anno de 1853 foi effectivamente des
coberta por Mac-Clure. Qual fosse a sorte d’aquel
le oficial e de seus companheiros de viagem, é o
que ainda hoje se ignora, apesar de terem ido de
então para cá muitas outras expedições em sua pro
CU T3.
Por que motivo, ao pregar no chão um mastro
no alto do qual se vião ricamente bordadas as ar
mas d'Inglaterra, na ilha desconhecida, situada a
mais de 80 gráus de latitude, e a que deu por no
me: Garry, corrião aslagrimas pelas faces do atre
vido navegante que tantas difficuldades havia já
até então stoicamente vencido em sua longa e pe
rigosa navegação? contalo-hemos, pois é uma das
mais honrosas paginas de sua historia
Antes de partir para tão temeraria e arriscada
expedição, tivera Franklin uma luta bastante pe
nosa entre a affeição e o dever. Casado de dousan
nos, estava sua mulher já quasi na hora do passa
mento, quando d’ella devia separar-se: revestin
do-se de uma heroica resignação e de um nobre
atriotismo, pretextando o repouso de sua ultima
O T3 e 3 fºi de quem por tão estreitos vinculos
a ella se ligara, pedio a seu marido que não retar
dasse por sua causa o momento da partida,e no acto
de uma despedida que devia ser eterna, lhe *
tregou uma bandeira de seda, bordada por suas
proprias mãos, rogando-lhe que a não fizesse tre
mular senão em alguma terra incognita dos ma
fes do polo; Facil é pois de conceber a pungente.
impressão de John Franklin, ao pregar nos ro
chedos da Ilha Garry o glorioso estandarte da
lnglaterra. %
• …º •

28 DE MAIO (Segunda feira). >


#

Escada santa em Roma.—Está situada em frente


de São João de Latrão, e conduz a uma capella par.
ticular dos Papas, em que se acha grande quanti
dade de reliquias; por isso se lhe deu o nome de:
Sancta sanctorum Escada e capella foram obra de
Sisto V (4.54, p. 192). Compõe-se aquella de 28de
gráus de marmore branco vindo de Jérusalem, e
que dizem ser os mesmos da escada de Pilatos; é
tambem tradição que J. C. os subira e descera mui
tas vezes. Foi Santa Helena, mãi de Constantino Ma
gno (A.51, 18 d'Abril, A.52 p.154,309,363,381) que
os mandou para Roma com muitos outros objectos
sanctificados pelo sangue do Redemptor. E' tido
aquelle sanctuario na maior veneração, e por isso
se sobe de joelhos a escada santa, pela qual nin
guem desce, mas sim por outra que fica ao lado.
Gastos os degráus com o grande concurso de fieis
foiQuinta
precisodoforral’os de madeira.
Carvalhal, Termº de * *

-

Santarem, 28 de Maio de 1854. +

Joaquim José Ferreira Campos. -

231
29 DE MAIO (Terça feira).
Tres maravilhas. — Tres cousas me maravilhão
n'este mundo, dizia uma americana, em Boston;
primeira, atirarem os rapazes pedradas à fructa,
|- quando ella
tem de ca
hir estando
madura; se
gunda, o ha
ver guerras
em que os
•- ++++ |-
homens se
matem uns

aos outros, quando todos hão de morrer sem tan


to ruido; terceirã, o correrem os rapazes atraz
das raparigas, quando, se se não cançassem, se
rião ellas que correrião atraz d’elles.
30 DE MAIO (Quarta feira).
voltaire. — E hoje o anniversario da morte do
célebre Voltaire, nascido a 20 de Fevereiro de 1684
e baptisado com o nome de:Francisco Maria Arouet
de Voltaire. Foi poéta tragico, comico, satyrico, ly
rico, e epico; foi historiador, romancista, philoso
pho, e critico; quasi que não ha genero em que não
exercitasse o seu engenho. Tomara por devisa o
instruir o povo; isto é, o dissipar-lhe do animo
crenças absurdas e prejudiciaes; mas de envolta
com os erros guerreou, infelizmente, tanto, as
crenças religiosas mais respeitaveis como #
uentes vezes os bons costumes. Morreu na ida
e de 94 annos, por haver tomado, contra uma ve
hemente excitação que lhe tirava o dormir, uma
excessiva dose de opio.
(A. 51, 19 de Outubro, A. 52 p. 120, 243,
249, 362, A. 54 p. 36.)
31 DE MAIO (Quinta feira).
: corpo de Santa Theodosia.—Acaba de desembar
car em Marselha o Bispo d'Amiens, o qual se diri
gio logo para a capital, onde conduzio o corpo de
Santa Theodosia, recentemente extrahido das ca
tacumbas de Roma. Aos que duvidão da identida
de daSanta, responde o catholico prelado, que álem
: dos incontestaveis signaes porque os Martyres se
reconhecem, se achou na pedra sepulchral inscri
pto o seu nome, com a declaração de haver nasci
do em Amiens; sustentão ao mesmo tempo os ar
cheólogos romanos, de todos os mais versados em
taes materias, que nenhuma duvida ha na intelli
gencia de tal inscripção. Afim
de que se apoie n'um facto po
sitivo a fé catholica, e de con
formidade com as prescripções
da igreja no que respeita ao cul
to dos Santos, foi authorisado
elo Soberano Pontifice o de
- Sinta Theodosia, e hospedada
a santa na sua terra com mui
> ta devoção e grandes festejos
> por tres dias prolongados.
1 DE JUNHO (Sexta feira). |

Gétas. — Os Gétas, segundo Strabão, habitavão


o territorio para alem dos suevos, a leste, no se
uimento do Danubio; é o que chamamos hoje
'ranssylvania, Valachia, e Bulgaria, e que fica à di
reita do Danubio. Fallavão os Gétas a mesma lin
gua que os povos da Thracia. Pretendem alguns
escriptores que Gétas e Godos fosse o mesmo, e
jº os dois nomes não vinhão a ser em realida
e senão um, supposta a modificação. Enganaram
se porém: os Godos habitavão perto do Baltico,
ao poente do Vistula, e os Gétas, desde o seu prin
cipio, sempre estiveram nas margens do Danubio,
perto da Dacia, O que deu causa asemelhante er
ro, é terem os Godos, sob o imperio de Marco Au
relio, deixado o norte e invadido o paiz dos Gé
tas, de fórma que por um unico povo os tomaram
a ambos.
As sarcasticas allusões que Ovidio faz á barba
ridade e costumes semi-selvaticos d’estes povos,
lhes dão uma triste celebridade. Descahido da gra
ça de Augusto, o poeta sulmonense foi desterra
do de Roma, e por motivos que só ele sabia, não
obstante as varias conjecturas da posteridade, se
vio reduzido a ir supportar a dureza de climas sep
temtrionaes, e ainda mais que esses naturaes rigo
res, os desconsolos e solidão do espirito entre gen
te inculta, e longe de tudo que lhe era mais caro.
. Não obstante a aversão que em diversos tre
chos de suas poesias vota á congelada terra do
exilio, consta que aprendera o idioma "#
n'elle compozera um panegyrico a Augusto, a ver
se o abrandava. Nem assim o conseguio, que por
lá se finou de saudade. •

Pois ja era empenho de agradar ao Imperador!


Escrever em lingua barbara quem compoz as Mº:
tamorphoses, os Fastos, as Elegias, e a Arte de
amar!... (A. 52 p. 264. A. 54 p. 34)

2 DE JUNHO (Sabbado).
Momento de saudade.

De prado em collina meus olhos vagando, !


Divisão pastores seu gado a guardar,
E os mansos cordeiros em torno saltando,
Gostosos, sem magoas, com elles brincar.

Alli, no remanso da verde planura,


Entoa seus cantos o rude zagal;
Seus cantos dictados por doce ventura
Do brando, singelo, viver pastoral.
Fendendo o cristal do ribeiro tortuoso,
Aonde se espelha o nascente arrebol,
O cisne de neve a cantar sonoroso, .
Quão grato saúda o surdir do almo sol!

Por entre a folhagem das arvºres copadas


As aves desprendem seu doce carpir ;
E os tenros filhinhos, saltando as ramadas,
§º vôos primeiros os pais vão seguir.
Alem os cabeços erguidos negrejão,
E lá sobre a ponta d'aquelle alcantil,
N'um gozo innocente — que os máus não invejão —
Deitados soltamos a voz vezes mil.

O doce murmurio da esbelta cascata


Entrava pela alma, tão meigo — sem dor! —
Que vezes bebemos d’essa agua de prata!
Que vezes cantamos ao som do stridor!

Mas ai! — que estes quadros, de gozo tão vivo—


Não podem do peito arrancar-me o sofrer;
Não, não; — que o desgosto não tem lenitivo,
Se ha n’alma saudade, se ha dor no viver! —
Jacintho Ignacio de Brito Rebellº.

3 DE JUNHO (Domingo).
casa portatil. — Entre os objectos mais curio
sos da actual Exposição de Nova York figura um
bahu de tamanho ordinario, dentro do qual se
contém uma casa bastante grande para alojar uma
pessoa, com um sophá, uma cama, e um gabão,
tudo de gomma elastica. Compõe-se de quatro
paredes, tecto, e chão, e não precisa senão de
uatro espeques em que se apoie. Enche-se tudo
'ar com um folle. que tambem se acha dentro
do bahu, e por meio d'elle se converte o gabão
n'um bote, dentro do qual se pode atravessar
um rio (A 52 p. 33.229.294.316.332.356.364.
A. 53 p. 162, 171.192.207.215.222). 236
4 DE JUNHO (Segunda feira):
lição a vaidosos. — Passando Filippe II por To
ledo, e vendo um grande pala
cio, perguntou de quem era?
responderam-lhe que de um
seu secretario. « Grande gaio
la # tão pequeno passaro!.”
replicou o Rei (A. 51, 30 de
Maio, 10 de Agosto, 24 de Sep
tembro. A 52 p. 90.139. A. 53
p. 65,246).
5 DE JUNHO (Terça feira).
Perrugem das oliveiras. — Descobrio-se agora
na Bairrada, que um cesto de cal virgem em pó,
mettida n'uma cova de meio palmo a um palmo de
profundidade, á roda do tronco, e coberta depois
com terra, é quanto basta para limpar completa
mente a ferrugem das oliveiras.
Não nos cançaremos nunca de pedir que se ex
}# a eficacia de todos os alvitres,acharem
conse
hos, admoestações, ou receitas, que se
n'estes livrinhos, em tão grande profusão derra
mados pelo povo, afim de que se não acreditem e
arreiguem prejuizos e erros, antes pelo contrario
se aclare a verdade quanto possivel em pontos de
facto. E de qualquer resultado que se obtenha, pe
dimos tambem se nos dê parte, para confirmarmos
ou rectificarmos o que hajamos dito. Assim lucra
remos todos.
237
6 DE JUNHO (Quarta feira).
Memoria feliz. —Tinha um sujeito a memoria
por tal modo escorregadia (memoria hominis es
corregabilis est), que tudo quanto tinha que fazer
O marcava no seu álmanach de lembranças: che
gou a escrever um dia: «Não me esquécer de que
é ámanhã que me caso.» -

7 DE JUNHO (Quinta feira).


A festa de corpus Christi. — No anno de 1264 se
introduzio n'este reino a festa de: Corpus-Christi,
instituida no mesmo anno pelo Papa Urbano IV, em
rasão do que succedera em Bolsena, onde o Ponti
fice então se achava com toda a sua côrte. Estan
do um sacerdote a dizer Missa, depois de haver con
sagrado a Hostia e o Caliz, duvidou da trans-subs
tanciação do pão e vinho em Corpo e Sangue de
Christo; vio então que de improviso a Sagrada
Hostia lançava sangue, que banhou todo o Corpo
ral; e querendo elle encobrir a sua pouca fé, Vol
tou a dobra do Corporal em cima do Sangue, o
qual repassou todas as dobras, ficando n’ellas um
signal de sangue em fórma de Hostia. Vendo o Pa
paisto por seus proprios olhos, e examinando a
verdade do facto, instituio a festa do Corpo de
Christo Sacramentado na 5.º feira depois do Outa
vario de Pentechostes em toda a Igreja Catholica.
Lisboa a recebeu com applauso, e até ao presente
se tem feito em Portugal com toda a solemnidade.
Francisco de Paula Barbosa "irias
8 DE JUNHO (Sexta feira).
"o honsem jumento. — Existe em Val de Lagoa,
}}" aldeia do concelho de Mirandella, um
omem chamado: Manoel Areias, que por tal mo
do imita a voz de todos os animaes, que chega a
illudil'os a ponto de os fazer acudir ao reclamo:
ladra como o mastim quando presente o homem,
ou quando cahe sobre o lobo que invade o redil;
grunhe como porco, etc. etc.; no que porém é
perfeito, é em zurrar como um jumento; assim que
O gado asinino o ouve, corre para elle. Ainda não
ha muito que aconteceu alli um facto curioso. Vi
nha um póbre diabo com dous cantaros de vinho,
e encontrando-se com Manoel Areias, põe-nos no
chão, e pede-lhe que zurre e dê quatro couces; o
homem, que era condescendente, ##" a zurrar,
entra aos couces nos cantaros, falos em peda
ços, e entorna todo o vinho; quizo outro obrigal’o
à pagar o prejuizo, recusou porém Manoel Areias,
dizendo que na qualidade de homem não estava
obrigado a. pagar o prejuizo causado quando ju
HIGntO. •

O que admira é que o homem dos cantaros não


respondesse a este argumento com outros dous
COUCOS. • • • |

Mirandella 8 de Junho de 1854.


Antonio Mauricio Cabral.

Palacio publicº. — Foi a inscripção que man


dou gravar na frente do seu palacio o melhor de
#" os Imperadores romanos, o grande Trajano.
9 DE JUNHO (Sabbado).
confissão. — Sacramento estabelecido per J. C.
depois da resurreição, e declarado obrigatorio para
todos os christãos pelo concilio de Latrão em 1215.
Nos tempos primitivos fazia-se, como hoje, a con
fissão secretamente, mas para peccados graves
era preciso recorrer ao Bispo, o qual decidia, se
gundo a gravidade do caso, se devia, ou, não, ser
#

publica confissão
nitencia.a Hoje em dia, pe
e aexi
ge a lei canonica, que to
dos os christãos, sob pena
de perderem a qualidade de
filhos da Igreja, se confes
sem uma vez por anno 20
seu proprio pastor. Por mais
violentos que hajão sido os
ataques de seus detractores,
nada tem a confissão perdi
do de seu caracter divino;
só ella pode acalmar as paixões, acabar com os
odios, vinganças, e rivalidades, e restituir aos
corações magoados esses sentimentos termos e
generosos que nos fazem achar um amigo em cada
homem, um irmão em cada inimigo.
Autographia. — E' um processo lithographico,
por meio do qual se passa exactamente para a
pedra toda a qualidade descripta. Tem tres gran:
des vantagens sobre a impressão ordinaria: é
mais rapida, mais fiel, e mais economica. 240
10 DE JUNHO (Domingo).
Authoridade paterna.—Tanto a authoridade co
mo o titulo de pai foram sempre respeitados e pro
tegidos por todas as legislações e em todos os po
vos. Foi mais ou menos extensa em diversos pai
zes e tempos; na antiga Roma chegava até ao direi
to de vida e morte, e na China é ainda illimitada.
Entre os povos modernos continuão a ser regula
dos por leis, o poder do pai, os seus deveres para

com os filhos, e os direitos d’estes à herança dos


bens. O codigo reconhece e respeita a authori
dade paterna. A lei religiosa, a civil e criminal, e
os sentimentos naturaes, prescrevem a obedien
cia, o amor, e a dedicação, áquelles a quem se de
#" existencia. O titulo de pai foi em ºdo. OS
tempos venerado. Os gentios chamavão a Jupi
ter: pai dos deuses. Romulo foi chamado: pai de
Roma, por havel'afundado. Denominaram-se:pais
da patria os senadores romanos. O mesmo titulo
deu o Senado de Roma ao Imperador Augusto. Ao
Nilo chamão os africanos: pai das aguas.
Adagios: Entre pai e irmãos não mettas as mãos.
De pai santo, filho diabo. Um pai para cem filhos
e não cem filhos para um pai. Irmão maior pai me
nor. Pai não tiveste, mãi não temeste, diabo te fi
zeste. Pai velho, mangarota, não é deshonra. Quem
quer que é, a seu pai parece. Qual o pai tal o filho,
ual o filho tal o pai. Quem te matar teu pai, não
lhe cries o filho. Onde bem me vai, tenho pai e
mãi. Filho és e pai serás, assim como fizeres as
sim acharás: o que Martinez de la Rosa tradu
zio elegantemente:
De tus hijos solo esperes
Lo que con tu padre hicieres.

11 DE JUNHO (Segunda feira).


Gharada.

Com duas, que são meus remos, 2


Eu que o sou, veloz navego.
Pobre barco, se sobre elle 1
Minha furia descarrego!
Sou uma pausa
N'uma subida:
Se a altura é grande,
Sou repetida. ###
242
12 DE JUNHO (Terça feira).
café e cafeeiro. — E o cafeeiro um arbusto es
pesso, de 5 a 8 pés de altura, e com as folhas bas
tante *# com as da larangeira; a flor as
semelha-se um pouco á do jasmin e exhala deli
ciosissimo aroma. Dá o cafeeiro uma especie de
cereja pequenina (cuja polpa tem um gosto amar
o), dentro da qual se achão duas favinhas, uni
as uma á outra, mettidas n'um involucro pardo.
Para ter uma plantação de café, é preciso semear
aquellas duas favas em quanto unidas, lançando
á terra o fructo inteiro; se se deixa seccar a ce
reja, dividem-se as favas, e deixa de existir o ger
men do arbusto.
O uso do café só em 1669 foi introduzido em
França por Soliman Agá, Embaixador da Por
ta Ottomana junto a Luiz XIV. Só pessoas d'alta
linhagem o tomavão a principio; é hoje porém
a bebida favorita de todas as classes da socieda
de, quasi em toda a parte, menos na Hespanha,
onde se dá a preferencia ao chocolate.
13 DE JUNII0 (Quarta feira. Santo Antonio).
santo Antonio. — Nasceu em Lisboa, onde hoje
é a igreja da sua invocação, junto á Sé, no anno de
1195, d’uma familia rica e honrada do appellido de
Bulhões,com quem a principal fidalguia d’este rei
no folga de se aparentar, e ainda agora muitos fi
# põem no sobrescripto de suas cartas: S. A.
#4
. (Santo Antonio te guie).Tomou o habito, prir
+
meiro de Conego Regrante de Santo Agostinho, de
pois de S. Francisco, que ainda a esse tempo vi
via, e embarcou para Africa á busca do martyrio.
Um temporal o lançou para Italia, onde estudou as
theologias, prégou, e converteu. Gregorio XI, que
então occupava o throno pontifical, lhe chamava
a arca d’alliança, o secreto depositario das letras
santas. Foi Lente em Montpellier, em Tolosa de
França, e em Padua, onde faleceu aos 13 de Junho
de 1231, com 36 annos de idade. Trinta e dous an
nos depois da sua morte erigio-se em Padua um
templo sumptuoso, onde lhe encerraram o corpo
n'um mausoléu que é obra prima de esculptura.
Attribuião-lheja em sua vida dom de milagres e luz
de prophecia. Existem obras suas escriptas em la
tim e impressas. E o Santo de mais devoção pa
ra os portuguezes, e em particular para os seus
patricios lisbonenses. A imagem de Santo Antonio
está em todos os oratorios, em todas as mercearias,
em todas as ruas, no dia dasua festa, e por cima da
porta de muitas quintas, em vulto, ou nos muros
em azulejo. O que porém não é facil de explicar, é
a idéa que o povo tem geralmente, de que Santo
Antonio foi brincalhão e travesso, gostando de
pregar peças, e de quebrar os cantaros ás moças,
para depois lh'os concertar com a sua benção.
Com espirito mais chistoso que patriotico e pio,
dizia o nosso sabio Abbade Corrêa da Serra, que
Santo Antonio era para elle o Santo mais ajuizado
de todo o calendario, porque « havendo tido a des
# de nascer em Lisboa, tivera o bom discurso
e Viver e morrer longe de Portugal.» (*p;}
14 DE JUNHO (Quinta feira. S. Basilio.)
s. Basilio e o médico. — Fez S. Basilio os maio -
res esforços para trazer á fé o seu médico, porém
debalde. Adoecendo o Santo, chega o médico, to
ma-lhe o pulso, e diz-lhe: « Morre antes do pôr
do sol» — E se ámanhã a estas horas, lhe respon
de o enfermo, ainda viver, far-vos-heis christão ?
— «Faço, lhe responde o médico. »— O Santo as
sim o pedio a Deus, e foi ouvido. No dia seguinte
baptisou o médico, poz-se em oração, e morreu.
15 DE JUNHO (Sexta feira).
Anthologia. — Vem do grego e significa: rama
lhete de flores. Em sentido figurado é este o titu
lo que por vezes se tem dado a collecções de poe
sias mimosas de authores varios. A primeira an
thologia de que ha noticia,
foi uma, hoje perdida, com
pilada por Meleagro, cerca
de um século antes da nos
sa era, na qual figuravão
quarenta e seis dos melho
res poétas gregos.
Em todas as litteraturas
ha d’estas collecções, mas
- nem sempre sob o mesmo
titulo; umas se chamão: Florilégios, outras: Par
mas0s, outras: Thesouros, etc.
.…………….—º a lepra dos estados.
16 DE JUNHO (Sabbado).
o Missionario e o Philosopho.
Nobre soldado da Cruz, O corpo adusto lhe veste
A santa, divina luz, Com a virtude celeste,
Leva do archote sagrado Junto ao baptisterio santo:
Ao pobre filho de Adão, Regenera o sem ventura,
Que na escura região E dize-lhe com ternura :
Da mortejaz sepultado. «DoSENHOR te cubra o manto!

Deixa os lares paternaes, Ensina-lhe as nossas artes;


Para não vel'os jámais; Appareção n'essas partes
Animo, zelo, coragem! Daindustria humana os portentos,
Que por ti está chamando, Ganhe amor ao trabalhar,
Em despreso miserando, Saiba construir o lar,
Lá das brenhas o selvagem. E domar os elementos.

Vai rasgar-lhe o denso véu, Mas que vejo! Surgirão


Que o não deixa ver do céu Homens que só da rasão
E da terra o Creador, Cultivando a escaça luz,
Nem o mysterio profundo Luz de facho claro-escuro,
Da restauração do mundo Farão morrer no futuro
Pela lei do Redemptor. Os bellos fructos da cruz,

Desembrenha-o das florestas, Assim vai o mundo!... A fé


Lava-o das manchas infestas Ora em triumpho se vê,
Com o orvalho divinal; Ora em tal ruina jaz,
Venha, á voz da caridade, Que estar quasimorta indica!
Ao rosto da humanidade O Missionario edifica,
Dar osculo fraternal. O Philosopho desfaz.

Francisco Raphael da Silveira Malhão.


> - 246
17 DE JUNHO (Domingo).
Arma terrível. —A0 Ver certos inventos dos
séculos passados, admira que os immediatos os
não aperfeiçoassem nem mesmo d'elles se ser
vissem! Nesse caso está a arma de guerra do
tempo da Rainha Isabel, que pelo governo inglez
foi mandada, com uma riquissima collecção d’ou
tras armas que se achavão em deposito na Tor
re de Londres, para a actual exposição de No
vayork. Compõe-se de cinco peças d'artilharia
que girão á roda d’um eixo n’um plano hori
sontal, e que se descarregão umas depois das
outras sob a pressão d'um martello. Imagina-se
bem a horrorosa mortandade que devem fazer
n'um exercito inimigo (A. 51, 18, 28, 30 de Maio
e 23 de Novembro. A. 54 p. 217).
18 DE JUNHO (Segunda feira).
Habilidade por numeros. Meio de adivinhar o nu
mero que resta depois de varias operações, d’uma
somma que se poz no pensamento, — Pense em um
numero. Dobre-o. Ajunte-lhe um numero qual
quer. Tome metade. Tire d’esta o numero que po
zera no pensamente. Deve restar-lhe metade do
numero que se mandou juntar.
EXEMPLO.

Seja o numero que se poz na idéa, 6. Dobre-o,


12. Ajunte-lhe 4,16. Tome metade, 8. Tire 6, res
* 2, metade de 4.
19 DE JUNHO (Terça feira).
Emigração alemã. — Se não faz deshonra á Al
lemanha, visto se
rem os alemães os
homens mais an
dejos e cosmopo
litas de todo o mun
do, muita honra faz
por certo aos Esta
dos Unidos, a se
2## guinte estatistica
2 de emigrados da
velhaGermaniapa
=="" ra aquellas novas,
florentes, e ainda liberrimas, regiões:
Em 1846 ........ 32,372 individuos
Em 1847 ........ 53,681 })

Em 1848 ........ 29,947 ))

Em 1849 ........ 28,627 ))

Em 1850 ........ 25,776 ))

Em 1851 ........ 37,939 ))

Em 1852 ........ 58,552 }

Total.............. 266,894
Paraiso — Celeste mansão, em que os christãos
gozarão eternamente da vista de Deus—os maho
metanos beberão vinho e acariciarão lindas hou
de —
ris seus scandinavios beherão sangue no craneo
e osinimigos. •

248
20 DE JUNHO (Quarta feira).
chuva de sapos. —Quem falla é o distinctophy
sico Pelletier num relatorio á Academia das Scien
cias de Paris:
« Estava eu em Hauz: tolda-se de repente o
céu, e d’ahi a pouco principia a chover a canta
ros; telhados, ruas, praças, tudo em curtos ins
tantes se acha coberto de sapos; estendo a mão
}^^ fóra e apanho alguns. Dentro em meia
ora havia levado tudo a enxurrada. Por maior
que seja a dificuldade de explicar como é que
taes sapos havião podido sem azas trepar lá para
cima, e conservar-se por lá (Deus sabe em que
altura e quanto tempo, dou todavia o facto como
verdadeiro, e afirmo que me deixou no espirito
profunda impressão. »
21 DE JUNHO (Quinta feira).
Prece de um doutor musulmano.—Foi Abdalia
der um dos mais famosos doutores da Turquia (on
de tambem ha doutores). Era esta a sua oração de
todos os dias:
« Senhor omnipotente! Aos que de continuo
prostrados ante o teu throno immortal, só se oc
cupão em prestar-te o culto devido á tua mages
tade, digna-te lançar olhos compassivos sobre el
les — sobre estes vis insectos que te adorão. »
Insecto será elle !....

;……. — Arremedo de macaco.


22 DE JUNHO (Sexta feira).
Estio. — Esta estação corresponde á carreira do
sol pelos tres signos do zodiaco, Cancer, Léo, e
Virgo: principia para nós no solsticio de junho
e acaba no eqüinoxio de septembro. Do nome de
solsticio, que significa: parada do sol, lhe vem o
de: estio, que em latim se diz: estas, derivado de:
stare, estar ou parar. Outros querem derivar es
tas de estus, que significa: fervença ou calma ex:
cessiva. Ao estio chamamos tambem: Verão. «E'
o verão a virilidade do anno» segundo a expres
são de Virey; é a quadra em que as cidades de
sertão para os campos: em que os céus têem a sua
maior transparencía; em que o reinado da luz é o
mais amplo e o da noute quasi nullo; em que as
searas maduras susurram abundancia; uma gran
de variedade de fructos succede ás flores; e as
sombras mysteriosas dos bosques estão na sua
maior pompa; mas, em desconto, é o tempo das
moscas, dos mosquitos, dos vermes, dos insectos,
dos reptis de toda a especie, dos mais asquerosos
e dos mais incommodos; é o tempo das cesões, das
inflammações, dos fastios, dos abatimentos, das
preguiças-CE' a estação do amor, disse um man
cebo-º — «Será — lhe respondeu um velho—
mas é a estação de pagar a renda das casas, ao que
nunca achei graça.» (A. 51, 22 de Junho.)
Faris. —Assim o definio quem podia fazel’o:
«Paraiso, dascavallos.
inferno dos mulheres,
… purgatorio
• ' dos
. . homens,

250
23 DE JUNHO (Sabbado).

A voz prophetica.
Quando infante—ejá sentia "Por servirem de vãs galas
N’alma o fogo dos amores— «A uma bella tambem vã,
Pelo campo andava um dia, «Vensaocampohojearrancal'as
Quiz á dama a quem servia, lº Para sobre o pó das salas
Quiz dar um ramo de flores. «Serem murchas ámanhã?

Percorri a varzea amena, «Essa bella a quem vaidosa


-Era em Maio-amplo jardim. «Teu amor o ramo dá,
Como a tarde era serena! «Folha a folha, desdenhosa,
Colhi a rosa e assucena, O jasmim, o lyrio, a rosa,
Colhi um lyrio e jasmim. «A'manhã desfolhará.»

Era o tempo emqueaos meninos Essa voz, ai! foi propheta


Falla o prado, a fonte, o céu, De infantís precoces dores!
Fallão aves nos seus trinos, Profecia foi completa,
Emqueasflorestem seus hymnos Porque amores de poéta
Vozes tem da noute o véu. Como um ramo são de flores.

Pobres flores! ao colhel’as Sãojasmim,são lyrio, e rosa,


Esta voz julguei ouvír: Quandon’almaempuroalvor;
«Nãotens,impio,penad’ellas? Mas se os dá a uma formosa,
«Vens colhelas quandobellas Por momentos que alli goza,
«Começavão de surrir? Perde viço, crença, amor.
Antonio de Serpa.

Alcachofras, alcachofres, ou alcachofas. — Há-as


de duas qualidades: as bravas, ou do mato, que se
#mº pelo S. João, e as de comer, a que cha
mão: hertenses, pratenses, ou
mansas. Julgão-se nativas da An
daluzia. Erão raras na Italia no
tempo de Plinio naturalista; de
* pois deixaram-se totalmente de as
tratar, e tão esquécidas chegaram
a ser, que refere Hermoloo Bar
baro que apparecendo alcachofras
em Veneza em 1473, foram havi
das por cousa de novidade.
Hoje em dia são um prato mui
to usual nas mezas italianas, nas francezas, e mais
ou menos nas delicadas de todos os paizes da Eu
1'0pa. •

24 DE JUNHO (Domingo. S. João).


s. João. —Filho de Zacharias e de Santa Isabel,
e primo e precursor de Jesu Christo. Passou o me
lhor de sua vida em penitencias no deserto, man
tendo-se de gafanhotos e mel bravo. Baptisou o
Salvador e foi por elle baptisado. Morreu degol
lado por vinganças de uma mulher.
Prototypo de penitentes, e havido por alguns
como o primeiro monge, quem explicará e porque,
na imaginação do povo, S. João vem todo cercado
de idéas amenas, folgazans, e namoradas! As fo
gueiras e fogos de vistas, as alcaxofras e hervas pi
nheiras, os ovos e sortes de casamento, os boche
chos e os 5 réis queimados, as cantigas e as dan
Ças d’esta noute, em que segundo o rifão ninguem
se deita, tudo isto desdiz extraordinariamente do
Viver de S. João. O seu viver era poético e Pº#
cas são todas estas praticas; mas são duas poesias
de indoles mui diversas, e até oppostas.
A noute de S. João foi em tempos antiquissimos
celebrada com tres missas como a do Nátal.

25 DE JUNHO (Segunda feira).


Illuminação com gaz d'agua. — O descobridor
d’este gaz foi o chimico Jobard, que em 1833 deu
parte do seu descobrimento ao famoso Thénard,
que só depois de boas pro
vas practicas n’elle acredi
tou. Consiste o processo em
decompor a agua, em retor
tas verticaes, por meio do
carvão ardente. A agua, diz
aquelle sabio, é o maior de
#E posito de gaz que se encon
==+&º tra na natureza. Em muitas
experiencias feitas em ponto grande,
tem-se obti
do, com um kilogramma (*) d agua e igual quan
tidade de óleo de resina, 222 # cubicos de gaz
d'illuminação. Um pé cubico d'agua decomposto
or meio do coke incandescente,bastaria para uma
uz de gaz durante 300 horas.
O gaz extrahido da agua tem a grande vantagem
de não deitar cheiro nem produzir fumo. Não per
mitte todavia o ramerrão que por em quanto subs
titua o que se extrahe do carvão, apesar de se
haver já bem reconhecido a sua superioridade.
(*) 1 kilogramma corresponde a 2 arrateis, 2 onças,
e 6 oitavas.
253
26 DE JUNHO (Terça feira).
volcão na ilha de s. Miguel em 26 de Junho de
1638.—Tremeu a terra na Ilha de S. Miguel; con
tinuou a tremer espantosamente por espaço de 8
dias, de tal sorte que os moradores desampararam
as casas, acolhendo-se aos campos, e aos 3 de Julho
seguinte, ao diante do Pico das Camarilmas, uma
légua ao mar, em uma paragem chamada a Ferraria,
onde de toda esta ilha vão a pescar, em um sab
bado rebentou, duas léguas afastado da terra, um
Volcão de fogo com tanta furia, que todo o oceano
não foi bastante a lhe resistir; sendo assim que do
centro do mar, onde rebentou, até á flor da agua,
se pescaria com linhas de 150 braças de comprido.
Este fogo não sahia de mais de circuito de mar
que obra de dois alqueires de terra de semeadura,
e Sahia com tanta furia, que trazia a areia que acha
Va em baixo, com cinza e agua salgada, e tudo is
to subia com tal força, que se levantava até ás nu
Vens, a modo de velo d'algodão, e cahindo outra
Vez no mar, o fazia como polme: de quando em
quando trazia este fogo penedos maiores que mon
tes, e levantando-os obra de tres lanças no ar, tor
nayão a cahir, e encontrando com outros que ião
subindo, se despedaçavão no ar, e as lascas d'el
les que cahião, tomadas nas mãos, se desfazião em
terra negra.
Com os ditos montes e penedos, que o fogo lan
çava debaixo da agua, se formou uma ilha sobre
a mesma agua, de circuito de quatro alqueires de
terra de semeadura ao principio, mas aos "??
lito mez de Julho, em que se fez a relação que veio
* Lisboa, teria légua e meia de comprido. Antes
de rebentar este fogo na paragem sobredita se pes
caram muitos e Varios peixes, que por espaço de
oito dias todos os barcos da cidade, cada um ao
menos carregava oito mil, e depois do incendio
matou o fogo na dita paragem onde se levantou
tinta quantidade de peixe, que se poderam carre
ar 8 grandes náus, e para o que sahia em terra se
izeram covas mui grandes nas praias, em que se
enterravão, por não inficionar o ar; a seis léguas
da dita Ilha se acharam peixes mortos pelo mar,
e a 8 se sentia o enxofre.
Ephemeride Historial — do Beneficiado Fran
cisco Leitão
blica de Ferreira—MS. da Bibliotheca Pu
Evora. •

27 DE JUNHO (Quarta feira).


Agua de colonia. — Podem acreditar, dizia um
sujeito no meio de uma grande roda, que tres an
nos a fio bebi agua de Colonia?
Ora essa! não pode ser: é peta!...
Juro-lhes que é verdade!
E não lhe fez mal?
Nada, não.
E porque a bebia? •

Porquê quem está em Colonia não costuma man


dar vir a agua d'outra parte.»
Bonito dia. — Para o dizer deixai chegar a
noute.
28 DE JUNHO (Quinta feira).
correio inglez. — Acaba de publicar a Admini
tração dos Correios da Grã-Bretanha o resultado,
de 1840 a 1852, do porte uniforme de um penny ou
20 réis, para qualquer distancia ali percorrida por
uma carta. Foi o seguinte o numero de cartas n’ts
ses 13 annos transportadas pelo correio inglez:

1840........... hões|1847........... 322 »


1841...........196 # > 1848........... 329 º
1842...........208 # > 1849...........337 % º
1843...........220 : º 1850........... 347 o
1844...........242 » 1851........... 360 ; º
1845...........271 ; º [1852........... 379; º
1846.......... 299 ; º Total 3607milhões
256
29 DE JUNHO K (Sexta feira).
Bagdad e a Torre de Babel. —E' Bagdad uma
cidade notavel por haver sido durante largo tem
po metrópole do imperio e culto musulmano. Faz
parte da *# Asiatica, e remonta a sua funda
gão ao anno 762. Está situada nas margens do Ti
gre. Foi tomada e saqueada mais d’uma vez nas
guerras dos Califas, umas vezes pelos mogols e ou

tras pelos persas. Apoderaram-se d’ella os turcos


depois de um sitio de tres mezes, e de então para
cá tem sempre feito parte do seu imperio. Tem
80,000 habitantes. E' rica e de muito commercio,
como deposito das producções da Arabia, da Per
# }
da India, e da Europa.Tem 3 léguas circuitO.
A nove milhas de Bagdad, entre o Tigris e o
Euphrates, vêem-se no meio d’uma planicie as rui
nas d’uma torre, a que os naturaes chamão: Tor
re de Nembrod, e que o vulgo imagina serem ves
tigios da Torre de Babel; é porém mais provavel
que fosse edificada por um principe arabe que n'el
la accendia um pharol para reunir os seus subdi
tos em tempo de guerra. \

30 DE JUNHO (Sabbado).
Besta esfomeada.—Chegando certo freiratico á
portaria d'um convento, pedio á Madre Rodeira
um copo d’agua; desejosa esta de se descartar
d'elle, que de continuo a apoquentava, mandou
lhe dar um copo d'agua e uns grãos de cevada em
salva de prata. Bebê o maganão, atira depois ao
chão copo e cevada, mette á salvá debaixo do bra
ço, e esgueira-se, dizendo: «A besta vinha com
tamanha fome, que até roeu a mangedoura.»
Grijó 30 de Junho de 1854.
O Arcipreste de Mirandella
Joaquim José Pinto de Moraes.
Acrostico.

Raria é a Musa que anima esta lyra,


» gloria maior que no mundo hei de ter,
a isonha esperança que as dores me tira,
- llapso d'amor que alta crença me inspira,
> mavel mulher que hei de amar té morrer;
A. J. Pereira da *"iss
1 DE JULHO (Domingo).
Porque choras?

Innocente, porque choras? E meu halito fatal;


Porque imploras O Cristal
Delirante o meu amor? Da ventura vai manchar-te:
Não sabes, anjo, que a taça|Da vida o lago sereno
Da desgraça Co’o veneno
Tem do fel o amargor? De meus dias vou turbar-te.

Ornão-te as faces as rosas


Tão formosas
D'uma candida alegria;
Ah! não queiras desfolhal'as,
E trocal'as
Pelos goivos da agonia!

Não quero pagar carinhos Tu acharás quem te adore,


Co’os espinhos Quem implore
D’uma triste desventura; De joelhos teu amor;
Tu és estrella brilhante, Eu só posso da desgraça
E eu errante, Dar-te a taça,
Sou apenas sombra escura.Dar-te a taça d'amargor.

Augusto José Gonçalves Lima.

2 DE JULHO (Segunda feira).


Psalmos. — São canticos compostos em hebreu
e traduzidos em latim, para uso dos que não sa
bem nem latim nem hebreu. * -
259
3 DE JULHO (Terça feira).
Samsão.—Filho de Hanue, da tribu de Dan, nas
ceu no anno do mundo 2859. Tornou-se notavel
por tres factos, segundo a tradição; por sua for
ca mais que humana que lhe provinha do cabello,
pela sua fraqueza por Dalila, mulher philistina, e
pelo modo por que morreu. Foram estas as suas
principaes façanhas. Sendo ainda moço, abrio de
meio a meio um leão. Queimou as searas dos phi
listeus, lançando-lhes raposas com tochas accezas
na cauda. Matou mil d’entre elles com a queixada
d'um jumento. Pegou um dia nas portas, com seus
gonzos e ferrolhos, da cidade de Gaza, onde o ha
vião feito prisioneiro, e carregou com ellas para
o alto de certa montanha defronte de Hebron. Apai
xonado, como disse, por Dalila, trahio-o esta re
Velando aos philisteus o segredo de sua força.
Cortaram-lhe estes o cabello, arrancaram-lhe os
olhos, e obrigaram-no a puxar uma atafona; cres
cendo-lhe porém outra vez o cabello, recobrou a
força. Havendo-o mandado vir 3,090 philisteus ao
templo de Dagão para que alli servissé de escarne0
ao povo, chegou-se a uma das mais fortes colum
nas, abalou-a, deu com o templo em terra, e fi
cou sepultado com todos os seus inimigos debai
XO das ruinas.

4 DE JULHO (Quarta feira).


Pão. — O melhor modo de prevenir a revolta
dos que não têem pão, é dar-lh'o. 260
5 DE JULHO (Quinta feira).
Apparelho da visão. — Compõe-se de dois or
gãos principaes, o nervo optico e o olho. E o pri
meiro destinado a transmittir a impressão da vi
são,do olho ao cerebro.Está colocado o olho numa
cavidade ossea, denominada: orbita, em que exis
te uma abertura pela qual passa o nervo optico.
As membranas de que o olho se compõe, do ex
terior para o interior, são: a sclerotica, esbran
quiçada, fibrosa, e opaca, com uma abertura na
# anterior, onde se acha engastada outra mem
rana transparente, com o nome de: cornea trans
parente; do ponto da sclerotica em que se engasta
a cornea, desce outra a que se chama: Iris, e a
abertura: pupilla, ou vulgarmente menina do olho.
A membrana que inteiramente reveste a scleroti
ca, chama-se: choroidéa, e sobre ella assenta Ou
tra, chamada: retina. Os humores que se encon
trão no olho, são: o aquoso, na camara anterior
formada pela cornea e pelo iris; o cristallino, si
tuado no meio aquoso do olho, onde se .
refrangem os raios de luz, e o vitreo, na
menbrana hyoloidéa. Cristallino é um
* corpo semelhante a uma pequena lente,
que fica por traz de iris, e é envolvido por uma
membrana fibrosa e transparente, com diversas
densidades em seus differentes pontos, chamada:
capsula do cristallino. São seis os muscnlos que
dão movimento ao olho: quatro fazem-no mover
de dentro para fora e vice versa; dão-lhe os ou
* dois o movimento de rotação. São os olhos
li### pelas palpebras, cuja funcção é distri
uir na superficie do olho humores que facilitem
as suas excreções (A. 53 p. 303, A. 54 p. 287).
6 DE JULHO (Sexta feira).
Mar Negro e Mar de Marmara. — Chamaram os
antigos por ironia ao Mar Negro: Ponto Euxino (0
que significa: mar hospitaleiro), pelas tempestades
que alli são frequentes. E um vasto mar interior,
situado entre a Russia, a Turquia Européa, a Asia
tica, e as regiões do Caucaso, e cuja superficie se
avalia em 14,000 léguas quadradas. Communica
com o Mar de Marmara pôr um estreito de peque.
na extensão, e por este com o Archipelago. A sua
agua é pouco salgada. •

O Mar de Marmara tem 220 léguas de superfí


cie. Provém-lhe o nome d'uma ilha que n'elle ha
muito afamada por suas bellas pedreiras de mar
more (A. 53 p. 236).
7 DE JULHO (Salvado).
Immortalidade do corpo. — « Grande cousa é
não poder morrer um homem!» diz um dos nossos
mais afamados poétas, porém dos menos favoreci
dos pelo lado da fortuna.—Então quem é que não
pode morrer?— «Sou eu.» —E porque?— «Porque
não tenho onde cahir morto. »

maxima. —0 mais dificil para o homem não é


conhecer-se, é corrigir-se. 262
8 DE JULHO (Domingo).
LYRA.

Põe na virtude, D'esses que empregão


Filha querida, Palavras ternas,
Da tua vida Juras eternas,
Todo o primor. Deves fugir.
Só a prudencia Verdade pura
Guie teus passos, Não tem rodeios,
Foge dos laços Nem busca meios
Que tece amor. De seduzir.

Meigas palavras, Mas, se em tua alma


Terna expressão, Penetra a chamma,
Da adulação E n’ella inflamma
Mago poder, Terna paixão,
Despreza, evita, Busca no peito
Com força ingente; Do pai amigo,
Alma innocente Remedio ao perigo
Tentão perder. Do coração.

E' filtro usado Eis da virtude


Por creatura Sincera prova,
Que chamma impura Que te renova
Busca atear; Paterno amor.
Que amargo pranto Põe na virtude
Jámais apaga Filha querida,
Eterna chaga, Da tua vida
Duro pezar. Todo o primor.
Inhato-Mirim.
(Brasileiro)
263
9 DE JULHO (Segunda feira).
Balão reflectido. — Recebeu a Academia das
Sciencias de Paris, em sua ultima sessão, commu
nicação de diversos phenomenos meteorologicos
observados n’uma ascensão aerostatica feita por
um tal Luiz Deschamps e outro aeronauta.
«Continuámos a subir, diz elle; a uma altura de
4,000 metros descobrimos o sol, e apresentou-se
nos um sublime espectaculo. Erão 10h, 29 m.; rei
nava na atmosphera um solemnissimo silencio, e
estendião-se densos vapores a nossos pés, forman
do uma vasta curva, no centro da qual nos acha
vamos colocados. Elevavão-se em seus pontos ex
tremos nuvens muito maiores que limitavão o ho
risonte. Ao olharmos attonitos em torno a nós,
avistámos a uns 1,200 metros a imagem do nosso
balão fielmente reproduzida n'u
ma das nuvens em que se reflectião
os raios do sol. Abrimos então a
valvula, expellimos um pouco de
gaz, afim de evitar os perigosos ef
feitos da instantanea dilatação do
hydrogenio, occasionada pelo ca
lor solar, e vimos, na parte inferior
da imagem reflectida do balão, le
vantar-se, como nós, a nossa pro
pria imagem. Nada pode exprimir
> àsensação de que nos achámos pos
suidos, á vista d'um phenómeno d'optica tão novo
para nós, e que durou perto de seis segundos ?
(A. 51 p.204. A. 52 p. 160, 371. A. 53 p. 39, ***

10 DE JULHO (Terça feira).
Exerculanum. — Uma rua comprida de casas es
cangalhadas, meia duzia de casitas de campo, bem
edificadas, mas desertas e deshabitadas; eis o as
pecto sombrio, lugubre, e miseravel, da aldeóla
de: Résima, meio arruinada, e que está cobrindo
as grandes ruinas da cidade de Herculanum.
ete são as camadas de lava que o Vesuvio em di
versos tempos vomitou, e que affogão aquella ci
dade romana. Em 1726 ordenara o Soberano que se
excavasse para os alicerces de uma casa de campo
} alli pretendia construir; topan
o os operarios com tectos de ca
sas, excavaram mais; romperam o
telhado a uma, e acharam-se den
tro d'ella. Nas seguintes excava
ções foram-se descobrindo muitis
simos objectos preciosos para os
antiquarios. Encontraram-se ho
mens em cinzas, que mal se lhes to
cava se desfazião; entre outros, um
velho descendo por uma escada
com uma lanterna e as chaves da
|- " , casa na mão. Todos os homens que
se têem achado são em acto de fugida, uns agarra
dos ás chaves, outros a correrem para a porta da
rua,etc. etc. O que a muitos consternou foi dar com
o esqueleto d'um pobre soldado,num quartel onde
se vião objectos militares; morrera o infeliz amar
rado por uma corrente, debatendo-se por fugir!..
# (A. 51, 25 de Fevereiro. A. 53 p. 279)
265
11 DE JULHO (Quarta feira).
Exposição de reliquias. — Faz-se de sete em se
te annos em Aquisgram, na Prussia Rhenana, de
10 a 14 de Julho, uma exposição de reliquias. E'
aquella cidade (onde está sepultado Carlos Magno)
pára os catholicos da Allemanha, da Suissa, da Bel
gica, da Hollanda, o mesmo que éMeca para os mu
sulmanos (A. 52 p. 189). O uso de expor essas re
liquias (que foram dadas áquelle Monarcha pelo
Patriarcha João de Jérusalem e pelo Califa Haroum
al-Raschid) data do anno 809 e foi estabelecido por
um concilio celebrado em Aix, a que assistio o Pa
pa Leão III. Foram transportadas, no tempo em que
os vandalos davão a lei em Franca no fim do sécu
lo passado, para a cidade de Paderborn, na West
halia, d’onde só voltaram em 1804. Ha entre el
as umas a que chamão grandes e outras peque
nas. As grandes são:
1.º O vestido branco da VIRGEM quando nasceu
J.# Parece novo e tem cinco pés e meio de com
pr1(10. •

2.º Asfaxas do MENINO JESUS: são amarelladas,


. 3º O lençol em que foi envolvido S. João Bap
tista depois de degollado. E de panno de linho.f
nissimo e está amarrado com um cordão de seda
branca. Ainda n'elle se vêem pintas de sangue.
4.º.A toalha com que cobriram o SALVADOR, do
mundo em quanto o crucificavão. Está dobrada º
presa com um cordão.
. As pequenas reliquias são em grande numero;
figurão éntre ellas: a ponta de um dos craVOS ???
Serviram para O acto da crucifixão; um cinto de
couro de J. C.; um bocado de cana que por escar
neo lhe foi oferecido como sceptro pelos judeus;
*#
UlIT] da corda que servio para o flagellar;
um bocadinho da Vera Cruz mettido n’uma caixi
nha d'ouro que pertenceu a Carlos Magno; um
espinho da corôa do REDEMPToR; um dente de
Santa Catharina; uma costella de Santo Estevão;
cabellos de S. João Baptista; o braço direito de
Carlos Magno; e n'um caixão de prata, que pésa
90 libras, o crâneo d'este famoso Soberano e a sua
bozina de caça (A. 55 p. 189).
12 DE JULHO (Quinta feira).
verres e verrinas.—Foi Verres d’uma familiapa
tricia de Roma, e ainda hoje é detestada a sua me
moria pelas infamias que practicou sendo Questor,
e sobretudo governando a Sicilia, que opprimio
durante tres annos. Os gritos das victimas acha
ram por fim um eloquente interprete. Cicero ac
cusou e desmascarou o tyranno, que foi degrada
do Voltou porém depois a Roma, d’onde foi pros
cripto pelos Triumviros, sendo a final morto por
seus sicarios. São 7 os discursos de Cicero contra
Verres, e dá-se-lhes o nome de: Verrinas (A. 51,
20 de 0utubro. A. 52 p. 80, 264. A. 53, p. 43, 138.
A. 54 p. 241).
Patria. — E o logar em que se nasce, dizem al
guns; é onde nos vai bem, o que affirmão quasi
todos.
267
13 DE JULHO (Sexta feira).
Rabecão gigante. — Inventou-se e fabricou-se
em Vienna, em 1829, um rabecão de sete cordas,
verdadeiro Polyphemo dos instrumentos musi
cos. O arco era movido por certa machina, em ra
são de não haver Ferrabraz que podesse com elle.
Faz-nos lembrar o que de um rabecão descom
munal escreveu um nosso poéta hyperbolico, os
qual principiava assim:
Dez léguas de rabecão!
Légua a légua uma escravelha!
O arco como o da velha !
E cada arcada um trovão!

14 DE JULHO (Sabbado). -

Bastilhe. —N’este dia do anno de 1789 tomaram


os parisienses á viva força a Bastilha, horrorosa
prisão de estado que assombrava a sua capital
desde o fim do século XIV. Os pavorosos myste
rios da Bastilha, registados na historia, são sem
conto. Tamanho ardor de odio pozeram os libe
raes em demolir aquelle monumento da tyrannia,
que poucos dias depois da sua tomada nem já
ruinas d’elle ali apparecião. Era uma praça rasa
com esta inscripção no meio: «Aqui se dança.»
E de facto alli dançava toda a cidade!
Onde era a Bastilha via-se ainda não ha muitos
annos um elephante de enormes dimensões, e se
eleva hoje a columna de Julho, consagrada aos
Martyres da revolução de 1830 (A. 52 p. *) ess

15 DE JULHO (Domingo).
Gynophontes.—Este nome grego, que vale o mes
mo que: matança de cães, era o d’uma festa que
os gregos d'Argos celebravão nos abrazados dias
dos caniculares, e em que era parte essencial ma

tar quantos cães se topavão pelas ruas. Bem po


deria ser causa de tal festa evitar o perigo que dos
cães damnados pelo calor costuma resultar (A.
53 p. 253).
16 DE JULHO (Segunda feira).
As cruzes de serpa. — Ha em Serpa uma tradi
ção que dá origem a esta cruz, que fica na estra
da que vai para Mertola. Havendo os mouros con
uistado novamente a villa aos christãos, D. Af
onso II, o Gordo, a quiz recuperar, com um exer
# que pessoalmente commandou. Deu batalha
no mosteiro de S. Gens, hoje de N. Snrº d'Agua
delupe, e dentro em pouco se pronunciou a vic
toria a favor de suas armas. Qual não foi porém a
confusão, ao espalhar-se que não apparecia o Ge
neral e Rei! a tal ponto chegou, que deixando os
nossos de atacar os mouros que ainda resistião,
se destroçaram, não obstante os muitos esforços
dos cabos do exercito, que pretendião mostrar
aos soldados que o seu Rei ainda existia. Busca
do por toda a parte, foi encontrado estendido no
chão ao pé do seu cavallo. Despiram-lhe a arma
dura, e viram que não estava morto, nem mesmo
ferido, mas tão sómente suffocado pelo calor, em
razão de sua muita gordura. Ao tornar a si, per
guntou: «E a batalha? — «Está ganha» lhe res
ponderam— «Então persigam’o-l'os, tornou o Rei.
— «E os mortos?»—«Enterrão-se» — «E a memo
ria d’elles?»— «Faça-se uma cruz de páu»—
Assim se fez, e ainda existe.
Annos depois, mandou D. Diniz fazer uma cruz
de marmore ao sahir da villa, e em memoria da
outra chama-se hoje a esta: a cruz nova,
Agora, em abono da historia, cumpre dizer que
não consta em livro algum que D. Affonso II côn
uistasse Serpa; é pois de crer que a tradição
Osse alterada com o volver dos séculos. Dizem
que as chronicas de Santa Maria, uma das frégue
zias d’esta villa, fallavão na batalha, mas não se
pode tal averiguar, porque desgraçadamente já
nã0 eXistem.
Serpa 16 de Julho de 1854.
A. Carlos Callisto,
270
17 DE JULHO (Terça feira).
Memoria. — Faculdade imperfeitissíma nos de
vedores, nos ministros e altos funccionarios, e em
quantos hão recebido obsequios.
18 DE JULHO (Quarta feira).
Premio de Gloquencia. — Preparando-se certo
Embaixador para arrumar, segundo seu costume,
um discurso pomposo ao bom de Henrique IV,
quando este estava berrando com fome para ir
#*# começou n’estes termos: «Senhor, Agesi
áu, Rei de Lacedemonia...» atalha-o de repente
o Soberano: «Agesiláu, Rei de Lacedemonia, já
a estas horas havia de ter jantado, e eu tenho a
barriga a dar horas; adeus, meu amigo, adeus, te
mOS conversado.»
E foi jantar, deixando o Embaixador embasba
C300.
(A. 51, 15 de Julho, A:52, p. 235, 293, 303, 359,
A. 54, p. 178)
19 DE JULHO (Quinta feira).
Tigre.—Não é tão forte como o leão,mas é mais te
mivel, porque é mais feroz. Quer esteja farto, quer
faminto, a nenhum animal perdoa, e se por vêzes
larga a preza, é com a idéa de ir devorar outra. Só
se encontra nas mais ardentes regiões da Africa e
da Asia. A fêmea pare de cada vez quatro a cinco
#º torna-se então mais furiosa do que o ma
cho, e é terrivel a sua colera se por ventura lh'os
roubão.
E' indomavel este animal. Não reconhece os be #
neficios que recebe, e dá cabo até, se pode, de quem
lhe dá de comer. Os seus movimentos são vivos e
ageis. A cabeça parece-se com a do gato, os olhos
são amarellos e ferozes, o olhar traidor, os dentes
agudos, e a lingua aspera. A pelle é coberta de

>===== >>>>>>

listras pretas que destação num fundo amarellado. \


O pello é macio e lusidio e mui curto o da cauda.
Tem as pernas curtas, mas fortes. Pode, como 0
gato, recolher as unhas.
Os tigres da especie maior, que são rarissimos,
temás vezes até dez pés de comprimento! São por
tal modo fortes, que depois de haverem matado
um boi ou um cavallo, o levão, correndo. 272
20 DE JULHO (Sexta feira).
Poesia pastoril. — De boi vem derivada a pala
vra: Bucolica, nome que por extensão significa:
a poesia campestre em geral, eglogas,idylios,etc.
II\{\S |# em particular se applica por excelencia

às eglogas de Virgilio. •

Todos os paizes têem a sua poesia bucolica, e


quasi todos abundantissima, ainda que as mais

#E_>
|

das vezes insipida. Os bucolicos gregos mais no


taveis foram:Theocrito, Mosco, e Byon, e os roma
nos: Virgilio, Calpurnio, e Nemesiano. Entre os
modernos sobresahe com indisputavel eminencia
o suisso alemão Gessner. Em Portugal, as eglo
# dos nossos quinhentistas, sem excenº Ca
mões, Ferreira, Sá de Miranda, nem Bernardes,
são frias. Pintão banalmente a natureza, e põem,
em logar das inspirações simplices que namorão,
ensamentos fabricados e alambicados affectos. A
iana de Jorge de Monte Mor, pois ainda que es
cripta em castelhano nos pertence, a Diana, ape
zar de cahir nos mesmos defeitos, é talvez o que
no genero possuimos de mais formoso.
Os nossos arcades fizeram todos estenderete de
eglogas e todos perderam n’isso o tempo. Domingos
dos Reis Quita, o cabelleireiro, estrema-se como
principe entre os bons homens d'esse tempo de in
sipida memoria. A sua fabula selvatica de: Lico
ris pode figurar decentemente a par do: Pastor
Fido, de Guarini, e do Amintas do Tasso.
A poesia pastoril é hoje um genero morto e en
terrado. As Cartas d'Echo e a Primavera, de meu
irmão A. F. de Castilho, foram o seu canto do cysne.

21 DE JULHO (Sabbado).
Phisicº mor: — O Dr.Ribeiro, conhecido pelo no
me de: Ribeirão, médico de grande saber, foi des
M%" por D. Rodrigo da Cunha, para Phisico
Mór de Cabo Verde. «Indo uns amigos dar-lhe os
parabens, «não os aceito, disse; que honra me re
sulta de um despacho sem grammatica! Um mi
nistro que ignora que não pode haver compara
tivo nem superlativo sem positivo! Phisico Mór
de uma terra onde não ha phisicos de tamanho .
nenhum, nem um médico, nem meio chirurgião,
nem um quarto de boticario !» 274
22 DE JULHO (Domingo).
Botanica.—Como estamos no meio da estação
em que as plantas triumphão com a sua maior pom
pa, fallemos de botanica. Crê-se haverem sido os
egypcios os primeiros que estudaram plantas; e
não falta quem diga que já desde todo o seu prin
cipio tinhão tractados d’esta sciencia. Pela Biblia,
documento bem antigo, se reconhece que em cer
tos paizes já então era a botanica frequentada.
Na Grecia dos séculos heroicos, muitos dos prin
cipaes personagens cultivavão a botanica, taes
como: Aristeu, Jasão, Telamon, Teucro, Peleu,
Achilles, Patroclo, etc., os quaes a tinhão apren
dido do famigerado Chiron. Pela botanica, e de
# uso que d’ella fez, é que Medéa ganhou
ama de magica. Mas a sciencia das plantas a prin
cipio limitava-se em lhes especular as virtudes cu
rativas e propriedades maléficas, e não sabia as
pirar a mais; por isso os cathalogos botanicos do
grego Theophrasto são tão apoucados, que só con
tém 600 plantas. Deoscórides e Plinio tambem os
não acrescentaram. Os séculos seguintes a Dios
córides pouco mais fizeram.
Longás idades após rebentou a botanica já mais
vigorosa. Os que por então mais lhe aproveitaram
foram: João Bauhin, que veio a falecer em 1544,
Gaspar Bauhin, seu irmão, finado em 1569; Ges
mer de Zurich, por antonomasia o Plinio alemão,
e a quem se deve o methodo para classificar vege
taes fundado na observação dos fructos; Cesalpi
*# médico italiano; Leonardo Fusch, professor
$
d'anatomia, e Mourison, médico inglez. Finalmen.
te, pelo principio do século XVIII, Tournefort, di
vidindo e classificando as plantas, e algum tempo
depois o immortal Linneu, distinguindo-lhes prín
cipalmente os sexos, estabeleceram ambos talme
thodo, que a botanica assumio foros de verdadeira
sciencia. Depois d’estes vieram-lh'os augmentar
outros homens de grande mérito, taes como Jus
sieu, Thonin, du Petit-Thouars, Cuvier, etc.
Os antigos só tinhão observado 500 a 560 plan
tas. No fim do século XVI já havia descriptas 6,000.
Tournefort traz 8,846 especies, e hoje as plantas
classadas e descritas andão por mais de 50,000.
Entre os auctores portuguezes tambem se con
tão botanicos mui distinctos para o seu tempo, e
nomeadamente Garcia da Horta entre os antigos,0
insigne Brotero e o Abbade Corrêa da Serra entre
os modernos. Entre os contemporaneos figurão 08
Snrs. Doutores, José Maria Grande, Antonio Joa
quim de Figueiredo, e Bernardino Antonio Gomes.
O estudo da botanica é sem contradicção um
dos mais interessantes, posto diga o melancholico
Rousseau que é de solitarios, ociosos, e mandriões.
Felizes os que assim mandreião!...
23 DE JULHO (Segunda feira).
Charada.
Vê-se a primeira no todo,
Mas dizem lá não está,
E na segunda o seu todo
Cedo ou tarde se fará. * __
276
24 DE JULHO (Terça feira).
Escravos previdentes. —No Mensageiro
de Java, jornal que se publica na Batavia,
achamos a relação d'um curioso episodio
jº alli se passou ultimamente n'uma ven
a d’escravos, pertencentes á herança
d’uma dama chineza.
Pozeram-nos em cima d'um estrado, para que
por todos podessem bem ser vistos, e antes de se
receber o primeiro lanço, fizeram elles tinir um
pouco de dinheiro, e disse o homem encarrega
do de vendel'os: «Meus senhores, conseguiram
estes pobres escravos,á força de perseverança, tra
balho, e ecónomia, juntar uma pequena somma, e
solicitão de vós o grande obsequio de os deixar
des tambem lançar, na Venda a que se vai pro
ceder, afim de verem se por esse modo se ficão per
tencendo a si proprios e se tornão forros.»
Ninguem se oppoz. Pozeram á venda os qua
tro primeiros escravos, e ninguem lançou, senão
essês mesmos quatro infelizes, que offereceram
20 florins por si, e de si proprios ficaram sendo se
nhores. O mesmo aconteceu com os outros 8, qua
tro dos quaes recobraram a liberdade por 12 flo
rins e os outros quatro por 10. Barata fazenda!...
25 DE JULHO (Quarta feira).
Traductores. — A quasi todos os nossos se po
de applicar o proverbio italiano— Tradutore tra
#rº (traductor, enganador). •
26 DE JULHO (Quinta feira).
como se dá cabo do gorgulho.—Avalião em Fran
ça em mais de cem milhões de francos o prejuizo
ánnualmente causado em todos os celleiros da Eu
ropa por este devastador insecto. Grande serviço
é pois inculcar o como se lhe pode dar cabo da
pelle. E' a cousa mais facil d’este mundo. Experi
mentem-no os nossos lavradores, e dê algum d'el
les parte do resultado pela imprensa periodica, ou
por via d’este mesmo livrinho, que n'isso haverá
grande lucro,das
maior parte pois ha muito quem não acredite na
receitas. •

Deitem-se todos os annos quatro ou cinco pu


nhados de linho canhamo, bem fresco e com a sua
semente, por toda a superficie do celleiro, que se
deverá ter varrido muito bem. E quanto basta pa
ra que o insecto não appareça.
Vio-se nada mais simples? Por este modo se po
dem preservar do maldito bixo, o trigo, o arroz,
e todos os grãos encelleirados, que elle róe e des
troe
Foicom a maior
o acaso semisto
quem ceremonia.
ensinou. •

Havia num celleiro uma grande porção de tri


go, já meio consumido pelo animalinhó, quando
por acaso se lhe deitou por cima linho canhamo;
dentro em poucas horas paredes e tecto estavão in
çados de gorgulho que fugia em passo accelerado,
e que n'essa retirada levou oito dias.
ara haver o linho canhamo bem fresco no tem
po em que se faz a colheita do trigo, é preciso se
meal'o com a antecipação opportuna. 278
4
27 DE JULHO (Sexta feira).
A India ás portas da Europa.—Dentro em muito
pouco tempo se achará terminada a linha de ferro
de Ostendê a Trieste, cuja extensão é de 500 lé
guas. Pouco mais de dous dias gastarão as cartas,
Os Viajantes, e as encommendas, para irem das
margens da Mancha ás do Adriatico; em quatro
dias mais chegarão ao Egypto, e graças ao cami
nho de ferro de Alexandria ao Cairo, que avança
rapidamente, e em breve se terminará poderão no
fim de 36 horas achar-se a bordo d'um vapor no
Mar Vermelho, e chegar a Bombaim d’ahi a doze
dias, isto é, tres semanas depois de haverem par
tido de Londres. Já então-chegará a Suez o tele
grapho electrico que se trata de estabelecer através
do Mediterraneo; e as 4,000 milhas de fios metal
licos que já hoje vem dar a Calcutá, reunirão to
das as cidades importantes da India com o porto
de Bombaim. Assim, antes de terminado o anno
de 1856, se communicará pelo telegrapho electri
co com todas as partes da India em dez ou onze
dias, e pelos vapores e caminhos de ferro em 21
dias com Bombaim. Nós cá veremos tudo isso por
um Oculo.
28 DE JULHO (Sabbado).
Sensitiva. — Virgem de quinze annos.
Temperamento.—E' um cavallo fogoso que mui
tas vezes toma o freio nos dentes e despedaça o
#leirº.
29 DE JULHO (Domingo),
Auscultação.—Assim se chama ao acto com que,
applicando o ouvido a uma pessoa, se procura re
conhecer a lesão que vai lá dentro, afim de saber
como se hade tratar médicamente. E ao peito que
mais commummente se applica a auscultação, pa
ra averiguar as doenças dos pulmões.
Ha facultativos de ouvido tão subtil que aus
cultão perfeitamente com elle desarmado; outros
servem-se de um instrumento que para isso se in
ventou, chamado; stetocopio, e que hoje se fabri
ca muito aperfeiçoado.
A auscultação foi um sentido novo e utilissimo
com que se dotou a medicina moderna.
30 DE JULHO (Segunda feira).
Galantaria. — Miran
do-se no espelho uma
formosa, um poéta, que
a tomou em flagrante,
lhe disse:
«Só assim podereis
Ver um rOStO COmO O
VOSSO, ))
Forte admiração! tam
bem eu nunca vi uma
cara como a minha.

Agua furtada. — E muitas vezes o abrigo da in


digencia, do mérito, e da virtude. 280
31 DE JULHO (Terça feira).
A Felicidade.

Era bello esse tempo da vida


Em que esta harpa fallava de amores :
Era bello quando o estro accendião
Em minh’alma da guerra os horrores.
N’esse tempo o balouço das vagas
Me era grato, qual berço da infancia:
E o sibilo da balla harmonia,
Semelhante á de flauta em distancia.

Eu corri pelos campos da gloria,


D'entre o sangue colhendo uma palma,
Para um dia a depôr aos pés d'essa
Que reinou largo tempo n’esta alma.
Mas qual ha coração de donzella
Que responda a um suspiro de amor,
Quando vibra nas cordas sonoras
Do alaude de pobre cantor?
Triste o dom do poéta! — no seio
Tem volcão que as entranhas lhe accende;
E a mulher que vestio de seus senhos
Nem sequer um olhar lhe comprehende !
E trahido — e passado de angustías —
Ao amor este peito cerrara;
E quebrada, no tronco do cedro,
A minha harpa infeliz pendurara.
281
Um véu negro cubrio-me a existencia,
Que gelada, que inutil corria :
Meu engenho tornou-se um mysterio
Que ninguem n’este mundo entendia:
E embrenhei-me por entre os deleites,
Mas, tocando-o fugia-me o goso:
Se o colhia, durava um momento;
Apoz vinha o remorso amargoso. "_ " - -

Esquéci-me do Deus que adorava: *

O prestigio da gloria passou;


E a minh’alma, vazia de esp'rança,
No limiar do porvir se assentou. |

Meus pulmões arquejaram com ancia, •

Buscando ar na amplidão do futuro,


E sómente encontraram, por trevas,
De sepulchros um halito impuro.
Mas, emfim, eu te achei, meu consolo,
Eu te achei, oh ! milagre de amor!
Outra vez vibrará um suspiro º
No alaude do pobre cantor. . "

Eras tu, eras tu, que eu sonhava; ; , , , , , , , ,


Eras tu quem eu já adorei, , , ,, ,,, , , , , , !
Quando aos pés de mulher enganosa ….……. :
Meu alento em canções derramei. , , , , , , . .
Se na terra este amor de poéta, , , — , .
Coração ha que o possa pagar, …, … ; , , ..…
Serás tu, virgem pura dos campos, i. …"…,
Quem virá a minha harpa acordar. …, … . .
Como a luz duvidosa da tarde,
Quando o sol leva ao mar mais um dia,
Reverbera poesia e saudade
Na alma immensa de um rei da harmonia;
Tal poesia e saudade em torrentes
No teu meigo surrir eu aspiro,
E no olhar que me lanças a furto,
E no encanto de um mudo suspiro.
Para mim és tu hoje o universo;
Sôa em vão o bulicio do mundo;
Que este existe sómente onde existes,
Tudo o mais é um ermo profundo.
No silencio do amor e ventura,
Adorando-te, oh ! filha dos céus,
Eu direi ao SENHOR: tu m'a déste,
Em ti ereio por ella, oh meu Deus!re
Alexand Herculano. •

1 DE AGOSTO (Quarta feira).


Estimulo para valentes. — Depois de transporta
dos à capital da Alsacia os restos mortaes do Mare
chal de Saxe, entraram dous soldados, que ha
vião servido sob as suas ordens, no templo em que
sehavião depositado. Aproximão-se em silencio ao
tumulo, desembainhão as espadas, afião-nas em os
degráus de marmore do sumptuoso monumento
elevado á memoria do guerreiro, e sahem intima
mente convencidos de que poderão assim imital’e
*# dia em defesa da patria.
2 DE AGOSTO (Quinta feira).

Lebre e burro.—Argumentando um velho estu


pido com um rapaz esperto, acabou assim a dis
cuSSãO:
«Qual de nós
terá aprovei
tado mais n'es
te mundo,VOS
Sê com OS SêuS
18 Ou 20 an
nos, Ou eu
COmOS mêUS
64?
|- **><>>>>>* «Essa é boa!
|- # #=, pois isso leva
se lá pela idade? mais corre uma lebre d'um an
no que um burro de vinte.»
3 DE AGOSTO (Sexta feira).
Pintº-monos com fumaças. — Certo pinta-mº
nos que pretendia ser tido em conta de grande
artista, disse um dia com ar de grande importam
cia: «Vou mandar caiar o tecto da mi
nha sala para depois lhe pintar um far
s naso.» Acudio um amigo: «E melhor
pintal o primeiro e caial'o depois, º
vaticano. — Chamou-lhe um critico perVersº:
manufactura de concordatas, bullas, e pastoraes.
E eu chamo-lhe um thesouro para estudos "#
4 DE AGOSTO (Sabbado).
conquista de Granada, sua Magestade catholica.
— A conquista de Granada, effectuada por todo o
orbe christão, destruio a denominação dos mouros
na Hespanha. Durara ella 760 annos. Subsistira
o reino de Granada desde 1292, que Mahomet
Aben Alhamar o fundou, até 1492, que Boabdil,
ultimo Rei dessa linhagem, o restituio aos caste
lhanos. -

Este reino, conquistado em menos de dez annos,


tinha 70 léguas de largura sobre 30 de largo; con
tinha 32 cidades de primeira ordem, 97 menores,
e mais de 2,000 povoações. Se se attende á sua pou
ca extensão, era o mais rico, o mais fertil, e o mais
}^* aiz de toda a Europa; continha tres mi
hões de # e dava a seus Soberanos um
rendimento annual de 700,000 ducados. O commer.
cio e a agricultura fazião a principal occupação e
riqueza dos granadinos. … .
As montanhas das Alpujarras ainda hoje são ha
bitadas por descendentes dos mouros, que apesar
de christãos, hão todavia conservado os usos, leis,
costumes, e até grande parte da lingua, de seus an
tepassados. • - •

O Papa Alexandre VI recompensou o animo e fer


Vor do Rei Fernando com o titulo de: Catholico, a
Seus successores conservado. Quando o Pontifice
escrevia àquelle Monarcha, sobrescriptava sem
re as suas cartas: Ao illustre Rei de Castella,
rmula que depois substituio a de: Rei Catholi
20 de Hespanha, • * * * .… -

285
5 DE AGosto (Domingo).
Relogio de Lubeck. — Foi terminado em 1405 e
é obra prima no seu genero. Vêem-se-lhe no mos
trador: a ecliptica, o zodiaco, os tropicos, o equa
dor, a orbita dos principaes planetas, o nascimento
e o occaso do sol, os dias do anno, e as festas prin
cipaes. Com tanta exactidão se executão os movi
mentos de todas as peças, que a qualquer hora do.
dia se pode conhecer o estado do céu. Regulará
até 1875.
Tem tambem uma figura, que representa J. C.,
a qual abre todos os dias, ao meio dia em ponto,
uma porta que lhe fica á direita, e por onde sa
hem, uns depois dos outros, e se inclinão perante
o SALVADOR, o Imperador d'Allemanha e os sete
Eleitores, ou Soberanos entre os quaes se achaya
antigamente a Allemanha dividida; corresponde
lhes J. C. com um gesto. Todas estas figuras entrão
por uma porta que se fecha sobre a ultima person
Il{\{êIll. "
"uma das duas torres da igreja de Santa Maria
ha um carrilhão que toca a todas as horas, dadas
em um sino por uma figura que representa o tem
po; a cada hora vira a cara para a banda outra fi
gura.
E' esta uma das maravilhas do norte da Europa.
(A. 52 p. 320. A. 53 p. 171. A. 54 p. 115)
Imprensa.—E uma bozina de que os pobres
têem precisão para que os grandes os oução. Luz
de gaz clarissima e économica. 286
6 DE AGOSTO (Segunda feira).
Adivinhar o valor de tres cartas. — Valha cada
carta tantos pontos quantos tem pintados, os azes
11, e as figuras 10.
Mande-se a uma pessoa tirar tres cartas d'um
baralho de cincoenta e duas, pôl'as sobre a me
sa viradas para baixo e contar sobre cada uma
dellas tantas cartas mais quantas faltarem para
chegar ao numero 15. Se a 1.º carta é um 9, a
2.º um az, e a 3.º um 7, porá sobre a 1.º seis car
tas, sobre a 2.º quatro, e sobre a 3.° oito. Pe
dir-se-ha depois o resto do baralho, contar-se-hão
as cartas que ficaram, e diminuindo 4 d'esse res
to, teremos o numero total de pontos das tres car
las que estão beijando a meza. •

Sé o baralho for de 40 cartas, deverão juntar


se 8 unidades ao numero de cartas restantes.

7 DE AGOSTO (Terça feira).


charada.

Com este e com outro igual 1


Caminhava certo padre
Ligeiro por alli fóra, 2
Para casa d'um compadre.
E que já não era cedo;
Meio dia tinha dado,
E para comer o todo
Fôra o padre convidado. ###
8 DE AGOSTO (Quarta feira).
Nem Presidenta nem secretaria. — Quando em
França se tratava a questão, muiphilosophics,
da emancipação, ou alforria, do sexo adoravel,
reunio-se um grande numero de damas para for
# mar uma sociedi
de destinada à
sustentar por t)
dos os modos, e
a todo o custo,
eSSOS SOUIS I1OVOS
interesses. Era a
primeira sessão;
não se achava por
consequencia a
# meza constituida;
* cumprial nomear
#3 por acclamação
#ºumaPresidentain
*§ terina — «A mais
• > * "velha, a mais vê
lha º disseram muitas vozes. Não appareceu uma
só que fosse mais velha. «Pois bem, prescinda-se
por ora de Presidenta; nomeemos uma secretá
ria; seja a mais nova.» Saltaram todas a dispu
tar a cadeira do secretariado. E o resultado foiº
#* impossivel que a sociedade se consti
UllSSê. " , , … -

silencio. — Persuade ás vezes mais do que apa


laVra. ,{ ; ,"º #$* * * * * ** * * *

288
9 DE AGOSTO (Quinta feira).
Luta com a morte. — Havendo Siward, Conde
ou Duque de Northumbria, perdido um filho no
mesmo momento em que a victoria se mostrava
- - - favoravel a suas
armas e contra
ria ás de Macbe
th, Rei da Es
cocia, na bata
lha que entre os
dous exercitos
se travara,a pri
meira cousa que
perguntou com
a maior Serent
dade de espirito
foi se recebera o
golpe mortalpe
|- la frente ou pe
- las costas; res
pondendo-se-lhe que pelo estomago, retorquio:
«Bem está! é assim mesmo que eu quizera tam
bem morrer!" Não foram porém n’este particular
attendidos os seus votos. Ao sentir-se atacado,
em 1055, de molestia mortal, e vendo que estava
proximo o seu ultimo momento, pensou que era
indigno de tão grande guerreiro morrer n’uma ca
ma, e ordenou que o armassem dos pés até à ca
beça, e o sentassem n'uma cadeira de espaldar.
Foi n'essa posição, e com a espada nua na mão, que
#imº com a morte, e foi por ellasubjugº
10 DE AGOSTO (Sexta feira).
Escurial. — O palacio do Escurial, cuja origem
relatámos a 10 d'Agosto do Almanach de 1851, é a
mais sumptuosa e a mais vasta de todas as casas
reaes do universo. Dedicado a São Lourenço, que
morreu n’umas grelhas, não se vêem alli por toda
a parte senão grelhas esculpidas e pintadas. D'umas
grelhas tem tambem a fórma o magnifico edificio,
que ha custado 60 milhões, e em que habitou Fi
lippe II nos seus ultimos annos, morrendo defron
te do altar mór para onde mandou que o transpor
tassem nos derradeiros momentos. O logar em que
expirou ainda hoje tem á roda uma gradaria de fer
ro, a que ninguem se aproxima. Persuade-se o
Vulgo de que o espirito inquieto e turbulento
d'aquelle Principe vem todas as noutes visitar a
sua antiga residencia, e que á meia noute em pon
to divaga pelo convento.
Ha em todo o edifieio 14,000 portas, 11,000 ja
nellas, 800 columnas, 22 páteos, e 17 elaustros. Pe

3.S.
28 arrobas as chaves que abrem todas as por
• •

. A frente principal tem 300 passos de largo e uma


5.° parte d'altura: na porta do meio estão as armas
d'Hespanha,
Clffhä. ,
com a efigie de São Lourenço por
• • • •

# A igreja foi construida pelo modelo da de São


Pedro de Roma, e tem 360 pés de comprido sobre
280 de largo. Vêem-se por toda a parte, ricos mar
mores, ouro, e quadros dos melhores authores ita
lianos. Tem 9 côros, e em cada um d'elles o #
orgão, que acompanhava, no tempo dos frades, as
Vozes dos duzentos religiosos que alli cantavão
defronte de outras tantas estantes douradas. As
vestimentas sacerdotaes erão cobertas de pedras
finas; os vasos e candelabros, d’ouro e prata; no
interior do tabernaculo da capella principal ha
via uma esmeralda do tamanho d'um ovo. Quan
do digo: erão, havia, é porque supponho que na
da lá haverão deixado os francezes, como támbem
cá fizeram, e como por toda a parte fazem os con
quistadores, Deus lhes perdoe!.... ,
Por baixo da igreja está o famoso Pantheon, com
muitas urnas negras nas quaes se achão os restos
mortaes dos Reis de Hespanha.
Depois de terminado o edificio, assistio Filip
pe IV á trasladação dos cadaveres dos Principes
e Princezas da Familia Real, e tomou para thema
do sermão o padre que então prégou, estas pala
Vras d'Ezechiel: Ossos descarnados, escutai a voz
do Senhor!....
Depois da Igreja e do Pantheon, o que mais ad
mira é a Bibliotheca, não só pela sua belleza e ele
gancia, pelos seus innumeraveis bustos, e por suas
ricas pinturas, mas pela multidão e escolha dos
livros, e pelo numero e raridade dos manuscrip
tos. E' uma das mais preciosas collecções de tal
genero que no mundo existem. Achão-se alli frag
mentos de Tito Livio e de Diodoro de Sicilia que
nunca foram impressos, um tractado de Santo
Agostinho sobre o baptismo, escripto pela sua
propria mão, e varios outros de diversos Padres
da Igreja. • - -

291
11 DE AGOSTO (Sabbado).

Guanº. — Até agora apenas era conhecida a sua


existencia em algumas ilhas do Oceano Pacifico;
hoje porém acabão de descobrir-se novos depo
sitos de consideravel profundidade mesmo no in
terior das terras, principalmente nos arredores
d'Islay (uma das Hebridas): a differença entre o
guano da costa e do interior existe em ser a côr
do primeiro mais loura que a do segundo, na sua
contextura mais granulosa, e na natureza de seus
fosseis, que são restos de peixes, em logar de res
tos de passaros, como os de guano da costa. Sup
põe se # estes depositos de guano são devidos
ao encalhamento de peixes arremessados remo
tamente pelas vagas. Effectivamente não é raro
ver milhares de peixes mortos expostos nas praias
e empestando o ar, até que o sol os haja desseca
do: nas costas do Senegal encontrão-se d’estes
bandos de peixe com 30 a 36 centimetros d'espes
sura (Revista dos Açores).
12 DE AGOSTO (Domingo).
Pistola d'algibeira de Isabel de Inglaterra. — A
arma a que chamão por antiphrase: pistola d'al
gibeira d'aquella célebre Rainha, é uma peça de
bronze de 22 pés de comprido. Átira a distancia
de duas léguas uma bala de 15 libras, inglezas.
Foi offerecida áquella princeza pela cidade de
Utrecht. Acha-se hoje no castello de Dover, edi
ficado n’um monte á borda do mar. *s:
13 DE AGOSTO (Segunda feira).
Fragmentos do Testamento de Pedro Grande. —
Sendo nosso invariavel systema, nada escrever
n'estes livrinhos que possa ofender opiniões po
liticas ou religiosas, apresentaremos sem com
mentario algum, e bem certos, por outro lado, de
lº os leitores lh'o farão, os seguintes fragmentos
O testamento do Imperador da Russia, cuja po
litica ha sido invariavelmente seguida por todos
OS Se UlS SUCCCSSOTOS ;
«Havendo-me Deus, de quem recebi a existencia
e a corôa, esclarecido sempre com a sua luz e sus
tentado com o seu divino amparo, considero o po
vo russo como predestinado para o dominio geral
da Europa. Fundo este pensamento na circums
tancia de haverem chegado as nações européas,
pela maior parte, a um estado de velhice proxima
à decrepidez, ou para elle marcharem a passos de
gigante; segue-se pois que serão facil e indubi
tavelmente conquistadas por um povo joven, quan
do este houver chegado a toda a sua força e de
senvolvimento. Considero eu a futura invasão dos
paizes do Occidente e do Oriente pelo Norte, co
mo um movimento periodico determinada pela Pro
videncia, que tambem regenerou o povo romano
por meio da invasão dos barbaros.»
Recommenda depois Pedro Grande a seus suc
cessores, que se aproximem de Constantinopla e
da India o mais que possão: «O que ahi reinar,
diz elle, será o verdadeiro Soberano do mundo.»
Conclue assim: - ";
293
«Desmembrada a Suecia, vencida a Persia, con
uistada a Turquia, reunidos os nossos exercitos,
# o Mar Negro e o Baltico pelas nossas
- esquadras, deverá propor-se separadamente, e
com a maior discrição, primeiro a côrte de Ver
salhes, depois á de Vienna d’Austria, repartir com
ellas o imperio do universo. Se uma das duas ac
ceitar, o que de certo acontecerá, por pouco que
se lisongeie o seu orgulho e a sua ambição, deve
rá a Russia servir-se d’ella para esmagar a outra
e despedaçar depois a que sobreviver, travando
COIm # uma luta de morte, cujo resultado é cer
to, possuindo já a Russia todo o Oriente e grande
parte da Europa!!!...» (A. 51, 11 de Janeiro)
Exposição argelina. — A Exposição permanente
dos productos da Argelia, ha poucos dias em Paris
principiada, é, por assim dizer, a historia d'essa
parte da Africa: indica os progressos rapidos da
agricultura e o desenvolvimento
tomar as differentes que ahi podem
especies de cultura. •

Os cereaes, o tabaco, o linho, a ruiva, a cocho


nilha, e as plantas oleoginosas, alli figurão a par
d'outras da mesma especie, porém d’outros paizes,
com as quaes podem facilmente comparar-se; mas
o que mais chama a attenção, é a seda grega e o
algodão, materias primas que nas possessões arge
linas são de superior qualidade, e serão dentro ém
pouco uma fonte de riqueza para os colonos. Pelas
amostras de madeira e de mineraes que alliseachão
expostas, se conhece tambem todo o proveito que
pode tirar-se das florestas e minas da Argelia.
14 DE AGOSTO (Terça feira),
cartuxa de Napoles. — Este mosteiro, coloca
do sob a invocação de São Martinho, é por tal
modo rico e aprazivel, que custa a crer seja ha
bitado por frades cartuxos, ordem de todas a mais
Severa. Não é grande a igreja, mas achão-se ahi
reunidas, ou para melhor dizer, amontoadas, to
das as maravilhas da arte. Admira-se no côro a
Natividade do famoso Guido, painel de preço
inestimavel, e varias producções de mérito igual,
de Espagnolet, Paulo Veronese, etc. etc. Tem
o claustro 200 pés quadrados; o pavimento é de
marmore do mais raro. São sustentadas as quatro
galerias por sessenta columnas inteiriças de mar
more branco de Carrara. Cada frade tem o seu
aposento, que se compõe d'uma alcova, d'um
#*# com a sua bibliotheca, e d'um quinta
inho. O do Provincial mais parece o d'um Prin
cipe do que d'um religioso: vê-se n’elle o famo
so crucifixo de Miguel Angelo, cuja perfeição af
firmão centenares de escriptores ser devida ao
haver o célebre estatuario mandado crucificar um
çamponez só para lhe servir de modelo. Se assim
é (o que difficilmente se concebe), o primeiro sen
timento que deve inspirar é um horror profun
do por tamanha atrocidade, e o segundo, que não
crucificassem, tambem a Miguel Angelo, para o
ensinar a não levar tão longe o amoria arte. An
tes, poupasse o camponez e lhe sahisse um pou
co menos perfeito o crucifixo (A. 51, 14 de Ja
*#" e 27 de Março, A. 52 p. 207). , no .
15 DE AGOSTO (Quarta feira).
Mosteiro de Junias de Pitões. Precioso relicario.
cabeça de s. Gonçalo, carvalho da virgem. — Nas
faldas orientaes da Serra do Gerez, duas léguas
ao poente da Villa de Mont'Alegre, e um quarto de
légua ao sul da povoação de Pitões, na margem
d'um dos confluêntes do Cávado, existe o anti
quissimo Mosteiro de: Santa Maria de Junias,
que a tradição faz coévo da monarchia: diz ella
que nas repetidas correrias dos mouros por estes
sitios, nos fins do século XI, pelo zelo d'um devo
to christão fôra guardada no tronco d'um carva
*N lho uma imagem de N.
S. da Assumpção; pou
co tempo depois, vindo
dous fidalgos da Galli
za caçar a estes sitios,
aconteceu que os cães,
acossando um "porco
montez, pararam, latin
do, junto ao dito carva
lho;apearam-se os fidal
gos, e tirando a ima
gem do escondrijo, lhe
mandaram construir lo
go uma boa igreja, com

Mosteiro
terciense,da Ordem
o qual, Cis
anné
X0 ao d'Osseira, na Galliza, conservou até os nos
sos tempos dous monges — o Abbade da Parochia
e um companheiro.
296
Foi Abbade neste Mosteiro S. Gonçalo Cister
ciense, natural da Villa de Chaves, o qual, reco
lhendo-se de Cela Nova da Galliza, morreu na ser
ra do Gerez no meio da neve, e por essa occasião
os sinos do Mosteiro tocaram por si mesmos, se
gundo refere Fr. Manoel da Mealhada.
Havia nesta igreja um precioso relicario, que
foi transferido pelo Arcebispo D.Agostinho de Cas
tro para o Convento do Populo, de Braga; cedeu po
rém algumas reliquias ao Juiz Pedâneo de Pitões,
para ofertal'as ao Duque de Bragança,Senhor d’a
# terras, que as mandou para a Real Capella
e Villa Viçosa.
A cabeça de S. Gonçalo, que se conservou em
Pitões, foi consumida com outras preciosidades
por um incendio nas guerras com Castella.
O Abbade d’esta Igreja era mitrado, e ainda alli
Se conservão restos d'um rico Pontifical. •

Em um terreiro junto á Igreja existe um velhis


simo e concavo carvalho, que alguns querem que
seja o mesmo em que foi descoberta a dita imagem.
No portal que fecha um antigo recinto, hoje cemi
terio, existem dos lados, em tosco busto, dous
cães de pedra, emblema dos cães a que allude a

tradição do Mosteiro.
• José Adão dos Santos Moura.
• -

Abbade de S. Vicente da Chã.

16 DE AGOSTO (Quinta feira).


caluda.—O que sabe que nada sabe deve saber
} deve callar-se.
17 DE AGOSTO (Sexta feira).
Não me deixes !

Debruçada nas aguas de um regato,


A flor dizia em Vão
A corrente, onde bella se mirava:
«Ai, não me deixes, não!
«Comigo fica, ou leva-me comtigo,
«Dos mares á amplidão;
«Limpida ou turva, te amarei constante,
«Mas não me deixes, não! »
E a corrente passava; novas aguas
Apoz as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
«Oh! não me deixes, não! »
E das aguas que correm incessantes
A eterna successão, " "
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
«Ai não me deixes, não! * * * * * *

Por fim desfalecida, e a côr perdida,


Quasi a lamber o chão,
Buscava inda a corrente, por dizer-lhe
Que a não deixasse, não!
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão !...
A afundar-se dizia a pobresinha:
«Não me deixaste, não!»
A. Gonçalves Dias.
(Brasileiro)
18 DE AGOSTO (Sabbado).
Pintura em vidro. — Principiou, por assim dizer,
sob o influxo do pensamento christão, e produ
zio obras primas que dificilmente se imitão hoje
nos paizes mais cultos. A basilica de Santa Sophia
8IY) ##### cuja reconstrucção terminou
em 627, parece haver sido um dos primeiros mo
numentos religiosos em que se empregou o vidro
de côres para ornato das janellas. Teve a França
grandes artistas n’este genêro,e quasi todas as suas
antigas basilicas são embellezadas com essas ad
miraveis pinturas, cujo segredo se perdeu: não
faltarião hoje artistas que igualmente as fizessem,
mas o que se ignora é a composição d’aquellas cô
restão vivas e brilhantes, e que muito mais resplan
decem quando o sol bate em chapa n'uma d’aquel
las supérficies. Pode-se dizer que se perdeu apin
tura em vidro,se se comparão as obras antigas nes
te genero com as que hoje se fazem.
19 DE AGOSTO (Domingo).
Terremoto engraçado. — A principal igreja de
Lausana, capital d'um cantão suisso, é solida
mente construida, e são grossissimas as suas pa
redes. Um terremoto no século XVII abrio umas
}^* pollegadas n’uma d’ellas, desde a abo
ada até ao pavimento; d’ahi a pouco veio segun
do, e restituio a parede ao seu estado primitivo.
Se algum terremoto um dia nos fizer cahir o te
lhado em cima da cabeça, esperemos que venha
#" levantal'o outra vez para o seu logar.
20 DE AGOSTO (Segunda feira).
clemencia de Monarcha.—Havendo Sapor I oc
cupado o throno da Persia por morte de Artaxer
xes (A. 54p. 275), aproveitôu-se da indolencia dos
romanos para continuar a fazer-lhes guerra, e ar
ruinou a Cilicia, a Mesopotamia, e muitas outras
rovincias que aos romanos se havião submettido.
avendo tido Valeriano a desgraça de ser vencido
e feito prisioneiro por Sapor, foi tratado com a
mais inaudita crueldade. Sérvio-se d’elle uma vez
para montar a cavallo, pondo-lhe os pés em cima
das costas, e fel’o depois esfolar vivo; arrancada
a pelle toda, mandou deitar sal por cima das car
nes escorrendo em sangue!.... Morreu assassina
do. Podera!... •

21 DE AGOSTO (Terça feira).


o caldeirão d'Alcobaça.— Todos ouviram fallar
no monumental caldeirão que em Alcobaça se con
servava, tomado na batalha d'Aljubarrota aos cas
telhanos, que nelle fazião, segundo é fama, a co
sinha para o seu exercito. Indo áquelle convento
Filippe II, e estando com os seus cortesãos a ad
mirar a corpulencia de tal Vasilha, lembrou-se um
d'elles de lhe aconselhar que a mandasse fundir,
e fazer com aquelle metal sinos ou peças de arti
lharia. Deus me livre! respondeu o Monarcha; se
sendo caldeirão brada tão alto, que seria se fôra
Sinos ou peças !...… - -

300
22 DE AGOSTO (Quarta feira).
consuaes. — Festas pelos romanos celebradas
n'este dia, em honra do Deus Consu, que era uma
invocação de Neptuno. Como este deus era havido
pelo creador do primeiro cavallo, ou inventor da
picaria, consistião principalmente as consuaes

em cavalgadas, e em se coroarem de flores ca


Vallos e machos. |

Diz a historia que nas festas consuaes é que Ro


mulo perpetrou o rapto das sabinas.

23 DE AGOSTO (Quinta feira).


Extremº filial.—Escrupulosamente se submet
tia o ultimo Imperador da China, falecido em 1850,
a um uso que a si proprio se havia#º De
pois de haver adorado os idolos pela manhã, diri
gia-se ao quarto de sua mãi para lhe beijar a mão,
o que muitas vezes, por uma dignidade que ella lá
entendia, lhe era recusado; o que fazia com que o
Monarcha se prostrasse então por terra e beijasse
#" poucas de vezes a porta fechada.
24 DE AGOSTO (Sexta feira. S. Bartholomeu).
Dias aziagos.—E antiquissima preoccupação,
não só no vulgo mas até em pessoas aliás illustra
das, o acreditar em que ha dias aziagos, mal es
treados, ou mal fadados. D'estes dias tinhão mui
tos os romanos, e os agoureiros da sua religião con
corrião pelas suas ceremonias oficiaes para corro
borar cada vez mais essa absurda crença, incom
moda sempre, e muita vez prejudicialissima.
O dia de S. Bartholomeu é, na supersticiosa per
suasão do nosso povo, um dos mais desastrados dias
de todo o anno, porque dizem que n'elle anda o
diabo ás soltas. Todas as terças e sextas feiras do
anno são tambem para muitas familias, e para qua
si todos os maritimos, dias ruins para se começar
COUSil # se não possa acabar antes da meia nou
te. Nada mais ridículo que taes prevenções.
Os parochos deverião forcejar por extirpal'as;
nós assignalam'ol'as aos nossos leitores ajuisados,
para que estes as combatão nos espiritos pusilla
nimes em que exerção algum influxo.
25 DE AGOSTO (Sabbado).
chatterton. — Nasceu em 1752 em humilde ber
ço e foi educado n’uma escola de caridade em Bris
tol. Já de pequeno era taciturno e indiferente a
tudo. Ao ver, na idade de doze annos, renegar um
padre a sua religião por motivos de interesse, rom
peu o silencio, e compoz contra elle uma bellissi
ma satyra, que o tornou conhecido. Animado #
Ios elogios que de toda a parte lhe fazião, consa
grou-se d’ahi em diante a um estudo perseveran
te, e tornou-se inexgotavel a sua imaginação; tan
to porém o perseguio a desgraça, que depois de
diversas peripecias, e particularmente por se ha
ver envolvido na politica, se vio reduzido á mise
ria e á desesperação, e foram ellas causa de que a
si proprio, e na idade de 18 annos, cortasse o fio
da existencia,a 25 d'Agosto de 1770!...: Pouco an
tes de morrer, escreveu uma linda ballada sobre
a caridade, em que apar de uma bella e pura moral
respirava o sentimento, que atrozmente o mina
va, da miseria contra que sem esperança comba
tia. Alfredo de Vigny fez de Chatterton o heróe
de um dos mais notaveis dramas do século actual,
drama que
mundo real.reproduz a luta eterna da poesia e do

Bahia 8 de Junho de 1854. Magano.

26 DE AGOSTO (Domingo).
Iluxo e miseria. — Desapparecera quasi de todo
o numerario da Hespanha no tempo de Carlos II,
no século XVII, para o que muito contribuira o
decreto que reduzira a um terço do seu valor as
moedas d’ouro e prata e prescrevera o cobre. Su
bia não obstante à tal ponto o luxo dos grandes de
Hespanha e dos cavalheiros da finança, que era
tido por pobre o que só tinha 800 duzias de pratos
de prata Era com escadas do mesmo metal que se
chegava
Łº emás quemaissealtas prateleiras dos enormes ar
guardavão. •
27 DE AGOSTO (Segunda feira).
zuyderzéo. – O Zuyderzéo é um golphº do Mar
do Norte que penetra pelo interior da Hollanda,
e data de 1225. Era d'antes uma boa provincia dos
Paizes Baixos, toda habitada, e defendida do mar
por fortificações; mas de repente, crescendo as
àguas, romperam aquelas fortificações, cortaram

.….………
a Frisia em duas partes, uma a leste eoutra a oes
te, e allagaram quasi 300 léguas quadradas de ter
I'CI]0.
A antiga costa do paiz submergido ainda hoje é
marcada por uma série de ilhas que se estendem
como uma linha do sul ao norte.

Besgraça.—Molestia por tal modo contagiosa,


que todos fogem de quem a sofre. 304
28 DE AGOSTO (Terça feira).
| Apothéose —Termo grego, adoptado nas lin
guas modernas, e que significa. deificação, ou:
acto de deificar. Entre os romanos, o Imperador •
que morria, desde Julio Cesar até Constantino, era
solemnemente referido ao numero dos deuses; na
da mais solemne que todo esse ceremonial. Mui
tas Imperatrizes gozaram de igual honra. Da pira
do Imperador soltava-se uma aguia, que espavori
da das chammas voava e desapparecia pelo espa
go, acreditando o povo que levava para o céu a al
ma do falecido; para as Imperatrizes em logar
d'aguia era um pavão. Depois de assim consagra

dos tinhão templos com sacerdotes, sacrifícios, e


fºstas, º que tudo o senado lhes decretava.
} 305 20
A mais antiga apothéose de que ha memoria é a
de Osiris, que de rei passou a ser divindade tute
lar do Egypto. Logo depois veio a de Bello. Xeno
fonte narra que Cyro fôra o primeiro homem ado
rado mesmo em vida. -

De todas as apothéoses antigas, as que a philoso


phia menos reprova e mais ama, são as dos ho
mens ou mulheres que por seu engenho e virtu
de fizeram algum beneficio ponderoso á huma
nidade. •

No christianismo a canonisação faz ainda lem


brar a apothéose.
29 DE AGOSTO (Quarta feira).
Adivinhar uma carta em quarenta, percorrendo
duas vezes o baralho. — As cartas brancas valem
o numero de pontos que têem; as damas, 8;
os valetes, 9; os reis, 10. A somma do valor de
todas as 40 cartas é 220, ou vinte e duas ve
zes 10. Tirada pois uma carta do baralho, iremos
addicionando por sua ordem os valores de to
das as outras, pondo sempre de lado as dezenas:
o que no fim vem a faltar para completar 10, indi
cará o valor da carta que se tirou; percorrendo o
baralho 2.° vez, saber-se-ha o naipe. Supponha
mos que a somma acaba em 4; para 10 faltão
6, logo a carta tirada do baralho é um 6: cor
rendo pºis rapidamente 2.° vez, saberemos de que
naipe e.

Pobres, — São os negros da Europa. 306


30 DE AGOSTO (Sexta feira).
o cometa de 1853. — Faremos um curto extrac
} do que sobre elle publicou o Observatorio de To
OS8 .
Passou pelo ponto mais proximo do sol a 2 de
# e da terra a 8. Naquelle dia estava afas
tado do sol onze milhões quatrocentas e quarenta
mil léguas, e n'este, quatorze milhões e seis centas
mil. A sua distancia da terra, a 15 d'Agosto, era de
mais de 45 milhões e meio de léguas; a 1 de Sep
tembro, de mais de 28 milhões e meio; a 5, de 17
milhões; no dia 9 já estava outra vez a 30 milhões.
Fossem lá correr atraz d’elle !...
A sua velocidade era tal, que de 15 d'Agosto a 2
de Septembro percorreu 29 milhões e 545,000 lé
guas, — um milhão 555,000 por dia De 1 a 2 de
Septembro chegou a um milhão 678.000 léguas em
24 horas, ou 19 léguas e meia por segundo.
Era enorme o seu volume. Houve dia em que a
cauda apresentou uns 3 milhões de léguas de com
|{{# Observou-se que era esta cauda menos
rilhante no meio do que nos extremos, o que deu
logar a que alguns pensassem que existe n'este
corpo celeste uma cavidade interior.
. E de crer que nos torne a honrar com a sua vi
sita entre os annos de 1858 e 1861. A cautelem’o
nos e gritemos-lhe todos: «Passa de largo! »
31 DE AGOSTO (Sexta feira).

ciumes. —Veneno do amor.


307 +
1 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
Modo de se reconhecer a largura d'um rio ou tra
cto de terra com um chapéu. — Collocai-vos a bor
da do rio ou espaço de terra cuja largura preten
deis reconhecer; pegai no vosso chapéu e che
gai-o, com o tampo para o ar, até rente dos olhos,
Começai a inclinal’o gradualmente, enfiando sem
pre a vista pelo chato do tampo até que ella vá ba
ter precisamente sobre a borda da margem d’álem;
então girai para a direita ou para a esquerda, um
quarto de circulo, ou mais, se quizerdes, com
muito cuidado em não augmentar nem diminuir
a inclinação do chapéu, nem des
viar os olhos da primitiva direcção
por cima do tampo. Logo que derdes
\____A com a vista n’uma arvore, n'uma
=> herva, n'uma pedra, ou qualquer ou
tro objecto distincto, podereis pôr o vosso chapéu
na cabeça; que tendes a medida apanhada. Con
tai, caminhando, os passos que vos separão d'es
se marco, e igual numero de passos será a largu
ra do rio, ou campo que não podieis atravessar.
A rasão é clara: collocastes-vos n'um centro de
circulo, e vós e a vossa vista enfiada pelo cha
péu servistes de compasso com que descreves
tes parte do circulo de que estaveis no centro.
A margem d’álem do rio ficou-vos n’um ponto
da circumferencia, e n'outro ponto da mesma cir
cumferencia vos ficou a arvore, herya, ou pedra
que marcastes; conhecida pois uma d’essas exten
sões, conhecida ficará tambem a outra. 308
2 DE SEPTEMBRO (Domingo).
Invenção do senhor do castellinho. — Sonhou um
lavrador, e mais sua mulher, de Aldeia Rica, fré
uezia d’Açores, districto da Guarda, que no logar
oAncinho, fréguezia do Eirado, Concelho d'Aguiar
da Beira, estava n’uma gruta, entre dous grandes
penhascos, uma Imagem de Christo pregado na
cruz. Encaminhando-se ao sitio revelado, ahi en
contraram uma pedra tosca, que alguma semelhan
ça tinha com a dita Imagem: publicada a sua In
venção, fizeram dar-lhe melhor fórma, e pozeram
lhe o nome de: Senhor do Castellinho, porque
estava no cimo dos taes penhascos um pequeno
castello de pedras miudas. Espalhou-se a noticia
e a devoção, e em pouco tempo abundaram tanto
as ofertas, que se erigio uma lrmandade com a
invocação ou titulo da dita imagem, e deu-se prin
cipio a um magnifico templo. Dirigião a obra dous
devotos da familia dos Beltrões, da villa do Cara
pito, mas concluida a capella mór, pozeram na fren
te d’ella um letreiro, que dizia que: O Snr. José
de Gouveia Beltrão, de Carapitô, mandara fazer
aquella obra em o anno de 1734. Escandalizou-se
o povo com a inscripção, e immediatamente ces
saram as ofertas, a devoção, e a mesma obra, que
assim se conserva até ao presente. Da Irmandade
apenas resta um pequeno fundo, com o rendimento
do qual se celebra annualmente no primeiro domin
go de Septembro uma solemne festa, a que dão um
nome engraçado, e que se torna muito luzida, por
se fazer ahi tambem n'esse dia uma grande roma
309
ria, que reune a mais brilhante mocidade d'aquel
les arredores. E porque muitos prégadores não
acertão a conformar os seus discursos com o ob
jecto da festa, seguem quasi sempre differente ru
mo, e chamão-lhe uns: do Senhor dos Ancinhos,
e outros: do Senhor dos Engaços.
José Diogo da Cunha.
Abbade de Carapito.

3 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).

cavernº de Mammouth. —E assim que Willis,


na sua Viagem aos tropicos, falla n'esta maravilha
da Martinica:
«Não ha penna que possa descrever a impres
são causada pela caverna ante-diluviana de Mam
mouth. E' uma cidade de gigantes que um terre
moto absorveu, e que um tecto de montanhas e
rochedos preservou das aguas do diluvio e de to
do o genero de destruição. Não é uma caverna sub
terranea, humida e suja; é uma fileira de vestibu
los, zimborios, corredores, ruas, avenidas, e ar
cadas: não é uma caverna, é uma cidade em rui
nas, privada de sol, de lua, e de estrellas; que pa=
rece havertido já o seu dia de juizo, e sobre a qual
se elevou nm novo mundo tambem já decrépito.
Nenhum architecto podera crear tão agigantados
arcos, tão atrevidas abobadas; nenhum operario
houvera podido construir columnas, cornijas, e
lagroso que umas a outras se sustentão pôr mi
galerias,equilibrio.» •

• 310
4 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
cerveja. — Esta bebida, cujo uso se vai genera
lisando cada vez mais, e que muitos preferem ao
vinho, em rasão da saúde, do preço, e de se poder
tomar impunemente em maior quantidade, é de in
venção antiquissima. Era cerveja a bebida mais
trivial em terras do Egypto, onde lhe attribuião a
invenção a El-Rei Osiris. Já em eras affastadissi
mas bebião muita cerveja pela Grecia e Italia. Os
antigos belgas, os gallos, os germanos, e os hes
R"# tomavão na, não ha saber desde quando.
o tempo de Strabão alcançamos por elle mesmo
que era muivulgar a cerveja em Flandres e na In
glaterra.
Como se fabrica de cevada ou trigo, e ás vezes
da mistura d’estes e outros grãos, querem alguns
que o nome de: cervisia, que os romanos lhe da
vão, e de que nós fizemos o de: cerveja, se deri
vasse do de: Ceres.
Como quer que seja, o que não será inutil dizer
aqui, é que nos paizes do norte as mulheres que
amamentão creanças aos peitos têem sempre á
mão, e se regalão de beber largamente, cerveja
destemperada,ou por melhor dizer, temperada com
leite, com o que augmentão sobremodo a abun
dancia do seu, engordão, e passão ás mil maravi
lhas. Consta-nos que já algumas em Portugal ex
erimentaram o mesmo e se deram muito bem.
’ cousa que merece ser tentada (A. 54. p. 74).
3 ?… — A paciencia é o genio, disse Buffon:
1 •
5 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).
Luiz xiv e os archeiros. — Nasceu aquelle gran
de Rei no dia 5 de Septembro de 1638, de Luiz
XIII e de Anna de Austria. A hora do seu nasci
mento, o povo, alvoroçado com *# noticia,
corria de tropel para os aposentos da Rainha. Os
archeiros que estavão á porta, o repellião com o
couto dos bastões, o que deu logar a que Luiz XIII
lhes dissesse: «Deixai, deixai entrar, archeiros!
este menino é de todos» (A. 51, 23 d'Agosto, A. 52
p. 267, 349, 362. A. 53 p. 41, 149, 168, 175, 221
269, 341. A. 54 p. 76,93, 176, 178).
6 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).
o que é o homem ("). — «O homem é como a
escuma do mar, que se levanta Viçosamente so
bre as suas aguas, e qualquer onda a derruba e
desvanece; é um bocejo da terra, que sobe vapor
hº morrer em fumo; é um fumo que o ar espa
ha; uma folha que o vento leva; fogo que se
converte em cinzas; cinza que se desfaz em pó;
pó que se muda em lodo; lodo que se converte em
terra; e terra # Se converte em nada. »
E então não fãz gosto ser homem !... E a mulher
que será?
(*) Fallámos a pag. 313 do Alm. de 1853 em Fr.
Antonio das Chagas, uma das glorias da Vidigueira e
Varatojo; daremos hoje uma pequena amostra do seu
estylo.
31 2
7 DE SEPTEMBRO (Sexta feira).
Justiça de carlos o Temerario.—Mandara Rhin
sault, Governador do ducado de Gueldra, pren
der um rico negociante, sob o falso pretexto de
conspirar contra a segurança do estado, e com o
secreto designio de ver correspondida a sua pai
xão pela esposa do preso, a quem por intermédio
d’ella, e com sacrificio de sua honra, promettia a
liberdade. Submette-se a virtuosa esposa a tão
dura condição, e no momento em que espera ver
de novo e abraçar a seu marido, a quem, se bem
que infiel, não deixara de ser fiel um só momento,
é a nova de seu assassinio que barbaramente lhe
annuncião. Descon
solada, raivosa, in
dignada, lança se a
afflicta mulher aos
pés de Carlos o Te
merario, e em tré
mulas e convulsas
vozes lhe pede que
a vingue. Ouvio a
triste narração o Va
lente guerreiro; cha
ma Rhinsault à sua
- * presença e assim lhe
falla : «ldes immediatamente dar a mão de es
poso á mulher a quem haveis deshonrado; º pa=
ra reparar o crime que commettestes, ides fazer
ihe completa cedencia de todos os vossos bens."
Em vão recusa a pobre mulher uma tal reparºçº:
313
dentro em poucos momentos é levado a effeito o
pensamento de Carlos o Temerario, que á victi
ima dirige estas solemnes palavras, registadas
pela historia: «Esse homem esta quite para com
vosco, pois vos pertencem todos os seus bens; é
preciso que o """ tambem para com a justiça;
corte-se-lhe a cabeça.
E foi-lhe a cabeça a terra.
8 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
cuidado com o chloroformio. — Acaba de morrer
no hospital d'Orleans um militar a quem se deu
uma forte dose de chloroformio antes de certa ope
ração. Vai o conselho de saude d'aquella cidade
averiguar todas as circumstancias que acompanha
ram tal acontecimento.
Não é a primeira vez que o emprego do chloro
formio é causa de morte. Dificil era, em quanto se
não sabia lidar com tão poderoso agente, evitar os
seus funestos resultados quando se emprega mal;
hoje porém, que tanto se tem vulgarisado, é im
perdoavel qualquer desgraça que resulte de sua
errada applicação. Recommendamos se sigão á
risca as precauções que tão bem indicadas se achão
numa carta escripta no fim de 1852á Gazetta dos
Hospitaes de Paris, por occasião de morrer ahi
uma pobre mulher que se havia feito chloroformi
Sarantes de lhe arrancarem um dente.
Ha dentistas que com o dente levão o queixo;
este, em logar do queixo, levou a vida!... Aceada
operação!... (A. 53, p. 50, 199, 377). 314
9 DE SEPTEMBRO (Domingo).
obra prima da creação.

SONETO,

Envolta em sombras toda a face tua,


Jazias, ó materia, abandonada!
Não tinha ainda o mar certa morada,
Não havia no céu nem sol nem lua!

De seres toda a terra estava nua,


E' n'um cahos immenso mergulhada!
Mas eis lhe falla um Deus, surgem do nada
Mil gratas producções á vista sua.

Astros fulgurão na celeste esphera;


No ar, na terra, e no mar, copia assombrosa
De mil diversos animaes prospera.
•+

E d'obra tão sublime e grandiosa


Qual o remate foi?... Deus lh'o pozera,
Quando alfim te creou, mulher formosa.
Antonio Lino Leão de Vasconcellos.
(Amarante)
(A. 53 p. 257. A. 54 p. 343)

10 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).


. Miseriº.—Mais horrorosa ainda do que a mise
# é a necessidade de encobril'a.
11 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
Morte do Padre Braz, — O Padre Braz, o versista
de eterna e jocosa memoria, jazia na cama com a
molestia que o havia de levar. Já os médicos o ti
nhão sentenceado, mas ninguem se atrevia a dar o
fatal desengano a um homem que toda a sua vida
gastara em fazer rir o proximo. Francisco de Mo
raes, amigo intimo do enfermo, e conhecido por
uma epistola que este em melhores dias lhe havia
dirigido ácerca dos seus
remelosos filhinhos, Fran
cisco de Moraes, digo, to
ma a si o cumprimento do
triste dever. O poéta pede
logo os sacramentos ulti
mos; despegado inteira
mente dos pensamentos
terrestres, escutava a elo
# fervente e ungida
|- o seu pastor, que metten
> > do-lhe á cara um grande
|- - |- crucifixo, tão martyr da es
culptura como dos judeus, forcejava por lhe alar
O espirito às regiões da recompensa.
« Quando os meus olhos mortaes
Ponho nos vossos divinos...»

profere com voz sumida, mas devota, o enfermo.


—Continue, irmão, diz o padre, esforçando-o á
jaculatoria —
316
«Quando os meus olhos mortaes
Ponho nos vossos divinos...
Estão me lembrando os meninos
Do Francisco de Moraes. »

Eao dizer isto, expirou, no meio d’uma estupen


da gargalhada de Francisco de Moraes e do Padre.
Zeuxis morreu a rir; o Padre Braz morreu fa
zendo rir (A. 53, p. 97).
12 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).
Porquinhas de santo Antão.—E' um insecto cha
to, do tamanho da unha do deco minimo, porém
mais estreito, branco na barriga e cinzento nas
costas. Tem muitos pés, e ha-os de duas especies;
umas domesticas, que se crião debaixo das tinas,
ou talhas d'agua, nas gretas das pedras, nas ade
gas e mais logares humidos, e outras só nos matos.
Todas ao primeiro toque se encolhem, e juntando
a cabeça com a cauda fórmão do corpo uma boli
nha immovel, e só depois de lhes passar o medo
de serem apanhadas tornão á sua primeira fórma.
Rosa.—Emblema da beleza, da mocidade, e
da vida.

suicida. — Homem que acha mais simples ir


buscar o repouso lá no outro mundo, do que ten
tar fortuna cá neste. E' uma especie de criado
de servir que se despede do amo porque lhe
não paga.
317
13 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).
Braceletes. — Pela noute dos tempos se esconde
a origem dos braceletes, manicas, manilhas, ou
pulseiras. Antigamente erão os Reis que outorga
vão aos capitães ou soldados, como recompensa,
o direito de trazerem este ornamento no braço que
assim sustentava e defendia o estado; depois, as
mulheres, como era enfeite garrido e brilhante,
foram-no arrogando tambem a si, e a final ficaram
só ellas com a posse. Nas eras biblicas, os proprios
Patriarchas, sem serem militares, trazião mani
lhas por distincção. Entre os orientaes, e em va
rios povos da Africa, tambem os braceletes são
communs ainda hoje, havendo-os até nas pernas
(a que se deveria chamar: perneletes).
Os collares pertencem á mesma familia de ata
vios, bem como as corôas, diademas, grinaldas e
cocares, as charpas e bandas, as fimbrias ou bar
ras do vestido, e outras mil invenções, com que
ao principio o poder procura distinguir-se, e que
depois a vaidade lhe usurpa.
Charada.

Certa matricida ha tempos


Deu bastante que fazer,
Pois por ser muito a primeira 1
A segunda veio a ser. 1

Ora a subir, [ Manda o rifão


Ora a descer, ] Não a perder. 318
14 DE SEPTEMBRO (Sexta feira).
sinº milagroso. — Fallão osjornaesinglezes com
grande assombro n'um caso que em Trim, cidade
da Irlanda, se passara, ao chegar alli a noticia da
morte de LordWellington,falecido a 14 de septem
bro de 1852. Mandou dobrar os sinos o Prior da
igreja principal; começou a puxar-se pelas cor.
das do sino maior, um dos mais bellos é dos mais
sonoros da Irlanda; d’ahi a poucos segundos deu.
a primeira badalada, mas d’ahi por diante, por mais
que pelas cordas se puxasse, e por maiores que
fossem as voltas que désse no ar, não houve ar
rancar-lhe um unico som! O que ha de mais sin
gular é que ao examinar-se o sino com attenção,
se vio que fôra fundido por Edemond Blood, em
1769, anno em que nascera Lord Wellington. Co
meçara pois a tocar no anno do seu nascimento e
mysteriosamente se callara no de sua morte, e no
roprio momento em que tinha de annuncial'a.
Disseram uns que era em testemunho de saudade
do general, e outros que por não querer implorar
as preces da religião para quem tanto sangue ha
Via feito derramar, o que prova que tudo sob dous
diversissimos aspectos pôde ser encarado.
Dizem que para restituir-lhe a voz, vai a paro
chia de Trim refundir o sino milagroso. Eu, no lo
gar delle, se fallasse depois, havia de ser contra
semelhante barbaridade: devera pelo contrario ser
conservado, como monumento, não de um prodi
gio absurdo, mas d’uma absurdissima credulidade.
# fação lá historia pelos jornaes!...
15 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
Guilherme o conquistador. — Havendo Roberto
do diabo, Duque de Normandia, visto dançar num
baile a filha d'um fabricante de pelles de Falaise,
por nome: Harlotte, namorou-se d’ella, e dahi
resultou 0 nascimento do célebre Guilhermº, o
Conquistador, que de Duque de
Normandia passou no futurº a
Rei de Inglaterra, por testamen
to verbal d'Eduardo o Confessor,
ue morreu sem filhos, e apesar
a energica resistencia, nos cam
pos d'Hastings, do seu competi
dor Harold.
-
Havendo-se Guilherme apo
#3 derado de Alençon, antes da con
|- " quista d'Inglaterra, mandou cor
tar pés e mãos a trinta e dous homens da cidade,
#" por escarneo, e para lhe lembrarem o humilde
e seu nascimento, havião, rindo e brincando, sal
tando e dançando,sacudido pelles na sua presença.
16 DE SEPTEMBRO (Domingo).
Dez asneiras em quatro palavras.—º Constando
H18# tem V. amigos em todos os imperios ro
go-lhe o favor de mandar pesquilisar no da Divi
namarca ácerca de meu tio, da faculdade de bo
ticario (TEXTUAL).
Estylo. — O estylo é o homem, disse Buffon:

17 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).
oferta das medalhas no ultimo sarau artistico
dado pelo sr. Dr. A. F. de castilho em Janeiro de
1854. — Discurso DEM. J. S. CANUTo. — Senhoras
e Senhores! Depois que n'este recinto, assignan
do uma declaração feita pelo Sr. Silva Tulio, dés
tes o mais franco e leal testemunho de vossa ad
hesão ao Methodo Castilho; ao methodo eminen
temente civilisador e christão; ao unico, dos que
até agora têem apparecido, que se pode chamar
methodo, como muito bem explicou o Sr. Seixas,
surgio de entre vós uma outra Commissão a pro
por-vos o remate d'esse
testemunho tão honroso
para vós, quão lisongeiro
deve ser para o distincto,
incançavel, e philantropi
co author.
EstaCommissão,Senho
raseSenhores, propunha
vos que transmittisseis e
perpetuasseis na familia
$ do Sr. Dr. Castilho o facto
; grandioso que nos apre
senta este curso normal;
esta reunião de respeita
veis professores, a maior
@* **>> parte d’elles encanecidos
no magisterio, e cuja presença n’este logar fórma
o quadro mais sublime e venerando que mão de
artista poderia desenhar !
221 21
Alguem (e não fui eu, Senhoras e Senhores,
como erradamente se tem supposto, alguem in
dicou uma demonstração de publica estima ao
Sr. Luiz Filippe Leite, e na pessoa d'elle a todos
os verdadeiros amigos e apostolos do Sr. Castilho.
. A Commissão adoptou esta idéa; falou, e vós
immediatamente fizestes vosso tudo quanto se vos
propoz; correstes á mêsa e depositastes as vossas
subscripções. As medalhas eil'as aqui: a Com
missão constitue-me sua e vossa representante
n'este acto solemne.
Felicito-vos Sr. Dr. Castilho, porque no cume
das áridas encostas onde tendes súbido com a
vossa cruz redemptora, encontrais a gratidão, o
amor, a perfumar-vos com as suas flores balsami
cas, a bafejar-vos com seu halito aviventador.
Felicito-vos, Sr. Luiz Filippe Leite, porque na
longa carreira do vosso digno apostolado, ten
del o ajudado a levar essa cruz: tendes atraves
sado com elle o chuveiro das contradicções; ten
des dissipado com elle a ignorancia das turbas.
Felicito-vos, nobre assemblea, porque nos re
mís perante as provincias insulanas do labéu de
ingratos e desconhecidos; porque nos conquis
tais o apreço, a veneração, das nações estrangei
ras; e porque ajudais os mandatários dos altos
poderes do Estado a colocar na devida posição
a instrucção publica, a instrucção primaria, o ber
ço de todas as instrucções, sem a qual nenhuma
outra pode êxistir.
União. — E o segredo da força.
- 322
18 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
ordem de santo André.—N’este dia de 1698 ins
tituio o Czar Pedro o Grande, recolhendo-se das
suas viagens da Allemanha e dos Paizes Baixos, a
Ordem russiana chamada: de Santo André.
A condecoração é uma cruz de Santo André com
um livro no centro e n'elle as lettras: L. C. P. C.D.
R., que vem a dizer: Le Czar Pierre Conser
vateur de La Russie. O cordão d'esta medalha é
cadeia d'ouro com rosas (4.51, 11 de Janeiro, A.
53, p. 115, 118).
- 19 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).
Morte de Epaminondas. — Levantando-seguer
ra entre os elienses e os de Mantinea, acudiram os
thebanos em soccorro dos primeiros e deu-se uma
batalha nas planicies de Mantinea, á vista d'esta
cidade. O general the bano Epaminondas desen
volveu alli toda a sua lactica e todo o seu valor;
mas tendo-se mettido em pessoa no conflicto pa
'ra inclinar a victoria á sua parte, foi mortalmên
te ferido no peito, no anno 363 antes de J. C.,
com seus 48 de idade. Estando quasi a espirar
perguntou: «Quem vence ? » — «Nós » lhe res
ponderam os thebanos. — «Vivi quanto basta!...
deixo a minha terra vencedora» (A. 53, p. 160).
Estupido. —Homem cujas faculdades intellec
tuaes nem sequer lembrão o instincto do animal.
A cabeça é luxo.
323
20 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).
Amuletos. — A supersticiosa crença dos amu
letos é de altissima e immemorial antiguidade.
Amuleto se chama a qualquer objecto portatil
a que se attribuem virtudes preservativas contra
males corporaes ou moraes. Certas letras, pala
Vras, figuras, dentes, ou outras partes de animaes,
têem gosado entre os ignorantes, e provavelmen
te continuarão a gosar ainda por muito tempo,
de grandissima reputação contra certos achaques.
Dente de cão ao pescôço dizem que preserva
de dor de dentes. Se ha dor de dentes procedi
da de defluxo, queixo de ouriço com ella, Chave
macha faz passar accidentes epilepticos. Coto da
semana Santa arreda trovoadas. Sino saimão es
panta bruxas. Unha de Grã-besta previne terçãas.
áusinho de alecrim, feitiços. Corda de enforca
do, desgraças. Etc. etc. etc. O rol de taes parvoi
ces não tem fim, e os males que elas podem oc
casionar não são poucos, nem, muitas vezes, pe
quenos (A. 53 p. 274).
21 DE SEPTEMBRO Serta feira.
D. Lucas de Portugal. — D. Lucas de Portugal,
fidalgo muito pobre de haveres e muito rico de
bons ditos, andando uma vez com fastio, recom
mendava a toda a gente que não dissessem nada
no Paço, porque «se quando se sabia que ele co
mia bem, nunca lhe tinhão dado nada, que seria
constando que tinha fastio!...
324
22 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
HYMNO DO TRABALHO

Aos Artistas Portalegrenses.


(Cantado na noute de 22 de Septembro de 1853 por
occasião de inaugurar-se a eschola de Leitura Repenti
na em Portalegre, fundada pelo Academico J. d'Arau
jo Jusarte, seu mestre, auxiliado pelo Ex.mº Snr. Go
vernador Civil, auctor da musica do mesmo hymno.)

Entre os cantos que solta o artista,


Quando em bagas lhe escorre o suór,
Cresce a vida, referve o alento,
O trabalho redobra o amor.
Trabalhar, que o trabalho no mundo
E' riqueza que a todos seduz:
E' estrella luzente, que eterna
No horisonte da vida reluz.
Eia, pois, meus irmãos, que o trabalho
Sobre a terra é a nossa missão:
Trabalhar! que O cansaço do ocio
E' da vida fatal perdição.
Trabalhar, que o trabalho etc.
A opulencia, envolvida no luxo,
Só vegeta, não goza o viver;
Que o trabalho na vida se encerra,
Trabalhando se esquece o sofrer!...
Trabalhar, que o trabalho etc.
Quem na terra é mais nobre que o obreiro,
Vendo o dia nascer, acabar,
Para a noute ir aos filhos, á esposa,
O pão negro contente ofertar?
Trabalhar, que o trabalho etc.
Oh! mal haja o ingrato ocioso,
Que renega da sua missão,
Pois não sabe que envolta na lida
A fadiga converte-se em pão.
Trabalhar, que o trabalho etc
Trabalhar, que no espaço que existe
Desde a terra ás alturas dos céus,
Té o insecto nos montes, nos ares,
Trabalhando, contenta ao seu Deus.
Trabalhar, que o trabalho no mundo
E' riqueza que a todos seduz:
E' estrella luzente que eterna
No horisonte da vida reluz.

Portalegre 22 de Septembro de 1853.


Joaquim d'Araujo Jusarte.
32

23 DE SEPTEMBRO (Domingo).
outomnº. — E o quarto do anno, que principia
no equinoxio ao fim do verão, e vái rematar no
Solsticio do inverno. Tres signos do zodiaco visi
ta o sol durante o outomno: libra, scorpião, e sa
gittario. Querem alguns que o nome de: outom
n0, em latim Autumnus, viesse derivado de: auc
lus (augmentado), porque n'esta estação se accu
mulão com as grandes colheitas os haveres do la
Vrador.
E em verdade o outomno o praso mais farto do
anno em pães e fructos serodios, mas a vegetação,
depois de tanta prodigalidade, entra a destoucar
se e despir-se para o seu somno do inverno; de
crescem os dias; a transparencia dos céus estivos
Se empana; vem cahindo os frios; principião as
chuvas; já sussurrão as tempestades; os ventos
redemoinhão pelos ares as folhas sêccas; é o pra
S0 do anno mais doentio e o mais melancholico.
E' muitas vezes o ultimo, e o mais temido, para os
atacados de molestias de peito (A. 51, 23 de Sept.)
24 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).
Refutação de criticas. — A Nuno da Cunha, Go
vernador da India no tempo d'El-Rei D. João III,
escrevia seu pai, Tristão da Cunha: «Cá dizem mal
de ti a El-Rei; mas faze justiça, manda pimenta, e
deita-te a dormir (A. 51, 10 de Março, 13 de Ju
lho, 29 d'Agosto, 13 de Sept., A. 52 p. 50,90, 153.
A. 53 p. 22).
327
23 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
...ººººººººººner.
hão —No
de ººººr juntos, Japão,
faz cada quando
um aos outrosmuitos
gran
de? Cortezias antes de se pôrem à mesa.
Fºººontrario na Ilha d'òtahiti A, 53 p. 291) os
habitantes, com serem muisociaveis e de costumes
mui brandos, comem, cada uma seu Canto, e com
*º*º ar de desconfiança não pouco ridiculo:
ºdºs ºs da mesma familia como que fogem uns
dºs ºutros nesta occasião; dois irmãos, dois es.
ºººº, duas irmãs, e todos, cada um com seu ca
* Se colocão a tres ou quatro pés de distancia
* dos outros, de costas Viradas, no mais imper
turbavel silencio.
O rei de Loango, na Africa, tem duas casas pa
º as suas refeições; come n'uma e n'outra be
; tem pena de morte quem o vir comer ou be
ber. Parece esta es.
quisita usança dizer
que El-Rei não per
tence á especie hu
mana, mas á das di
Vindades.
Em muitas ordens
religiosas da christan
dade, o refeitorio é silencioso como um sepulchro;
noutras ha um ledor de cousas mysticas em quan
to os mais manducão; mas o costume mais uni
Versalmente seguido, tanto entre os povos anti
gos como entre os modernos, é fazer da hora e
logar da mesa uma recreação, é muitas vezes #
festa. Os convivas romanos coroavão-se de flores,
ungião-se de essencias aromaticas, trajavão ga
las, reclinavão-se em coxins, e sem faltar no opi
paro das iguarias, tinhão musicos, dançarinos, e
comediantes, que os divertião em quanto elles se
brindavão com os mais custosos vinhos fazendo
as saudes determinadas pelo rei do banquete.
26 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).
Um prelo que vale por trinta, — Fallão os jor
naes de Novayork n'um prelo de imprimir que al
li foi agora
inventado, e
que péga no
papel sem fim,
tal qual sahe
do cylindro,
imprime-o,
corta-o, e do
3) bra regular
mente por ho:
raumas30,000
folhas de ta
manho ordi
• - nario. Afirma
o inventor que pode imprimir duas milhas de pa
pel tão depressa como anda uma locomotiva pe
los caminhos de ferro. Lá me parece muito!
spleen. —Molestia ingleza que principia pelo
#"…º e acaba pelo suicidio.
27 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).
Dança cavallar. — Referindo-se a Aristoteles,
conta Atheneu que andando em guerra os de Cro
tona com os sybaritas, e sabendo o como estes ades
travão os seus cavallos em saltar e dançar ao som
de instrumentos, mandaram aos seus trombetei
ros aprender a occultas as musicas de que em
taes evoluções usavão os inimigos. Entrados á ba
talha,e partindo a cavallaria dos sybaritas á redea
solta para cahir em cima dos crotonienses, deram
estes a tocar rijamente com todas as trombetas as
taes musicas. Os quadrupedes, julgando-se em fes
ta, deixão-se de investidas, e principião a caraco
lar, a tripodear a compasso, a trocar e variar pas:
sos, sem que haja modo para os cavalleiros os fa
zerem tornar da folia para o combate, com o que
dando-lhes em cima os tangedores, os tangeram
tão deveras, que acutilando-os e desbaratando-os,
não tiveram que entoar a poucos minutos andados
Senão victoria. •

28 DE SEPTEMBRO (Sexta feira).


Na tercia de Camões. —Na Capella Mor de Con
vento de Dominicos d’esta Cidade, está coloca
do do lado do Evangelho um tumulo singelo, e
hoje arruinado, que se julga ser de D. Catharina
d'Athaide, decantada debaixo do nome de — Na
tercia — nos versos do immortal Camões.
Ainda que alguns têem por fabulosa a existen
cia d’esta dama, escriptores ha mui "#
que asseverão que na côrte de D. João III exis
tira uma formosa senhora d'aquelle nome, a quem
o nosso poéta dedicara as suas mais ternas affei
ções, e que em consequencia d’isso fôra desterra
do para Santarem.
ão é nossa intenção entrar agora em questão
tão delicada, nem queremos, nem podemos, asse
verar que seja esta a D. Catharina d'Athaide que
#
3 Imºll"? o caso é que a era da inscripção
está conforme com o tempo em que se diz vive
ra a dama a quem consagrara os seus mais inti
mos pensamentos o author dos Lusiadas.
A inscripção do tumulo é a que se segue:
Aqui jaz Dona Catharina d'Athaíde, filha d'Al
varo de Sousa, e de Dona Filippa d'Athaide, e ne
ta de Diogo Lopes de Sousa, e por ser devota
d’esta casa lhe deixou vinte mil réis de juro; tem
por isso missa quotidiana, e lhe derão esta Ca
pella a ella e a seu pai e mais herdeiros descem
dentes. Falleceu a 28 de Septembro de 1551.
D. P. e Silva.
(Aveiro)
29 DE SEPTEMBRO (Sabbado).

Tintureiros. — Os melhores, e mais afrégueza


dos, são os ministros, pois tingem da côr da sua
a opinião de todos os pretendentes.
Escrupulos. — Tormento de quem os sofre.…. e
mais do seu confessor.
331
30 DE SEPTEMBRO (Domingo).
Precaução para não morrer afogado.—Hainven
tostão singelos, tão faceis, tão baratos,e tão uteis,
que faz espanto o não se adoptarem e generalisa
rem apenas se imaginão. Um destes é o que ha an
nos se experimentou com o melhor exito em Fran
ça e em Inglaterra, e de que na Revista Universal
Lisbonense se deu noticia, e se fez a devida recom
mendação, com pouco ou nenhum resultado prati
co até ao dia de hoje.
Um colxão recheado de aparas e serradura de
cortiça (talvez nas fabricas de rolhasse desaprovei
te isso) é um leito insubmergivel, mesmo com uma
pessoa em cima; ora, se as camas de bordo fossem
todas de colxões assim, mesmo por lei, que bem
a podia haver ao menos para os navios do estado,
cada marinheiro ou passageiro tinha já um seguro
mais contra
naufragios, e
dormiria mui
to mais des
cançado no
seu colxão sal
vador,que até 1

são elles, se
gundo parece,
muito elasticos e fofos. •

Mais: se todos os colxões de um navio, C0m0


na mesma Revista se indica, tivessem pelos qua
tro lados amarrilhos fortes, muito bem podião em
Occasião de desastre amarrar-se uns aos "#
e formar de repente uma vasta jangada, propor
cionada ao numero e peso dos viajantes; janga
da que a todas as outras vantagens reuniria ain
da a summa elasticidade para resistir ao jogo do
mar e embate nos penedos. Finalmente, duas cor
rêas fortemente cosidas em cada colxão, e afive
ladas uma á outra por cima do corpo do dono, pre
serval’o-hião, e a cada um de seus companheiros,
deOh!
serem varridos pelas vagas.
não ter havido d'estes colxões de salva
mento a bordo do infeliz vapor Porto! que de ter
rores e mortes se não teria poupado!?...
(A. 55. p. 182, 196.)
1 DE OUTUBRO (Segunda feira).
orelha de papel. — Publicou-se ha annos na Re
vista, Universal Lisbonense um invento pequeno,
mas de não pequena utilidade, pelo qual se propor
ciona aos surdos,sem trabalho, descommodo, nem
dispendio, o ouvirem um tanto mais, e ás vezes
muito. Consiste simplesmente em agarrar com os
dentes uma folha de papel dobrada em # par
tes e escutar. Este phénomeno, aliás de facilima
explicação, tem sido verificado por muitos mou
cos; como porém chega este livro a muita parte
onde talvez não haverá penetrado tal noticia, jul
gámos conveniente reprodusil'a.
Te Deum, —Acção de graças que pelas mesmas
batalhas estão actualmente dirigindo ao céu tur
COS e TUSSOS,
• 33
2 DE OUTUBRO (Terça feira). —
A MULHER E A ROSA.

A rosa é formosa, A rosa é formosa,


Fragrante, donosa, Fragrante, donosa,
Mas cercão-n'a espinhos, Mas cercão-na espinhos,
Que podem ferir. Que podem ferir.
Da purpura o manto, Sei bem como a flor
Com graça e encanto, Semelha o candor
Bem sei que tem de uso Da meiga innocencia,
Pomposa vestir. Que imita a surrir.

A rosa é formosa,
Fragrante, donosa,
Mas cercão-na espinhos,
Que podem ferir.

Sei que embalsamada, Mulher rigorosa


Louçã, perfumada, Parece-se á rosa!...
A roma, suaye Dos céus quantos anjos
Nos- deixa sentir. Se hão visto cahir !

A rosa é formosa, A rosa é formosa,


Fragrante, donosa... Fragrante, donosa...
Mas cercão-na espinhos, Mas cercão- na espinhos,
Que podem ferir. Que podem ferir.

(Brasileiro.)
Palavra. — E o vestido do pensamento.
334.
3 DE OUTUBRO (Quarta feira).
Testamento do Marquez de valdegamas. — Foi
João Donoso Cortés, Marquez de Valdegamas, um
dos maiores sabios de Hespanha e dos mais elo
quentes oradores do mundo, no século actual. Ci
taremos, como dignas de tal homem, algumas de
suas disposições testamentarias:
«Recommendo a todos os meus, e muito espe
cialmente a meu irmão, considerem como sua ir
mã e como seus proprios filhos, a viuva e filhos
de nosso falecido irmão Pedro; forcejem por
fazer seguir a estes a mesma senda de seu pai, o
qual viveu como justo e morreu como santo. A sua
Vida e a sua morte foram perpetuo objecto de mi
nhas lagrimas,e ainda hoje o choro,sem que lhe pa:
gue com tal recordação o muito que lhe devi. Foi
a sua prodigiosa virtude, depois da graça divina,
que operou a minha conversão, e serão as suas pre
ces, depois da misericordia de Deus, que me abri
rão as portas do céu.
Prohibo expressamente a minima ostentação no
meu funeral: contente-se a vaidade com o seu im
## sobre os vivos e deixe em paz os mortos.
rohibo sobretudo, por occasião de minhas exe
quias, essa musica profana e voluptuosa que trans
formou em theatros os nossos templos.»
4 DE OUTUBRO (Quinta feira).
visitas, — O maior prazer de quem as faz é mui
#" não achar em casa os qué procura.
5 DE OUTUBRO (Sexta feira).

2/ Os Lusiadas, dizia o
fConde da Idanha, têe |

um grande defeito: o não\\


serem tão pequenos que se
Possão decorar, ou tão gran-||
des que nunca se acabem !

6 DE OUTUBRO (Sabbado).
Ave-Maria". — Assim chamamos ao que os fran
cezes chamão com palavra latina: Angelus. E a
saudação angelica (A. 51, 25 de Março), seguida
de uma pequena oração á Virgem —à Ave Maria
e a Santa Maria, repetidas por tres vezes, com
uma breve antiphona no principio de cada uma.
Foi o Papa João XXII quem em 1318 instituio es
ta reza. Luiz XI, em França, mandou que em to
das as igrejas do seu reino se tocassem os sinos
para esté exercicio devoto, ao romper do dia, ao
meio dia, e ao sol posto, costume piedoso que se
espalhou por toda a christandade catholica. 336
7 DE OUTUBRO (Domingo).
volga. — E o maior rio da Europa e só banha
territorio russo. Nasce na planicie de Valdai, a O.
de Astrakhan, e lança-se no Mar Caspio, por 8 prin
cipaes embocaduras, depois de haver percorrido
740 léguas. |

8 DE OUTUBRO (Segunda feira).


naturalisação. — Bastantes pessoas nascidas em
Portugal farião bem em se naturalisar portugue
zas. A maior parte dos portuguezes são tão pouco
gºs"…
337 !... 22
9 DE OUTUBRO (Terça feira).
Amor e saudade ou a Ponte de Coruche. *

Era a hora em que o sol posto A hora, o logar, e tudo,


Inda um crepusculo envia; Me infundia sentimento:
Hora de amor e saudade, Meu coração era triste,
De terna melancholia. E triste meu pensamento.

Hora d’illusões, d'encanto, E na idéa eu tinha aquella


Que Byron chamava sua, Que alli vi, que alli passou
E em que o pranto desafia Breves instantes comigo,
Uma dor suave e crua. E que depois se ausentou!..

E eu jazia solitario, Aquella que era tão linda,


Recostado sobre a mão, Que não tornei mais a ver;
Junto a Coruche, na Ponte Aquella que eu amo tanto,
Que tem por cima um chorão E que o não sabe sequer!...:
Das aves o derradeiro Não sabel'o!... Oh! esta idéa
Canto fenecera! tudo E bem cruel (eu dizia)!
A meditar convidava; Eheide amala,heideserdella
Todo o campo estava mudo. Sem teresperança um só dia!

E este silencio profundo Tantoamor,tantos cuidados,


Era só interrompido Serão acaso sem fructo?...
Pelas aguas, que passavão Eis-me só, tenho-a perdido
Sob a ponte com ruido. Quandoinda creioquea escuto

*Por haver sahido alterada a ordem das quadras d’es


ta composição do Snr. Leoni, no Almanach precedente,
a transcrevemos de novo, pedindo mil perdões ao illustre
poéta por aquella anarchia typographica.
338
N’este sitio ainda ha pouco Quem medera umsó instante
Se abrigou do sol ardente; Apertal'a ao peito meu!
Aqui vi seus lindos olhos, Abrir esta alma,e dizer-lhe:
Que baixava docemente. «Se só minha, serei teu!»
Em todo o seu rosto havia Mas quem sabe (ajuntei logo
Um encanto juvenil: Com fatal presentimento),
Não é mais pura e mais bella Quem sabe se aquelle peito
A rosa no ameno abril. Ama a outro ou vive isento?

Sua voz insinuante


Eosolhos volvendo ao ponto
Tinha um prestigio e doçura Em que a bella se escondeu,
Que levava até ao fundo Vi todo o horisonte escuro,
Do coração a ternura. E meu coração tremeu.
Ai de mim! morro por ella! O surdo rumor das aguas
E este amor acrisolado Escutei n'este momento:
Mysterio será que nunca Meu coração era triste,
Lhe tem de ser revelado...? E triste meu pensamento.

Longe tempo sobre a ponte


Fiquei sem de mim saber,
Solitario e pensativo,
E olhando as aguas correr.
Francisco E. Leoni.

10 DE OUTUBRO (Quarta feira).


Frades valentes. — A meia légua ao norte de Pe
niche está situado o extincto convento de S. Ber
nardino, da Ordem de S. Francisco, e confi
#ºntº
339
com o Oceano, que lhe bate.nos ImUl
ros da cerca, e por algumas partes, lhe serve de
muro a rocha. Em 10 de Outubro de 1677, das 3
para as 4 horas da manhã, foi este Convento assal
tado por 40 mouros desembarcados de dois cor
sarios fundeados a pouca distancia, e tão galhar
damente se houveram os frades, que os mouros
tiveram de retirar, levando apenas captivo um
sapateiro que estava no Convento. Para pôr os
frades ao abrigo d'estes assaltos, D. Pedro II lhes
fez mercê de 12 espingardas, 4 partasanas, e um
1ambor, para tocarem a rebate, com uma sufi
ciente provisão de polvora e bala. Ainda hoje alli
se vê a praça d'armas do Convento.
Pedro Cervantes de Carvalho Figueira.
11 DE OUTUBRO (Quinta feira).
Acido Prussico.—E veneno tão fatal, que uma
só gotta d'elle bebido produz morte quási instan
tanea, e antes de
passadas horas já
todas as carnes
estão desfeitas;
entretanto a na
tureza sabe em
pregal'o em tem
perar fructos
com tal conta, a
modo tão Seu,
que ficão sabo
|- rosissimos e não
matão. O pêcego contém certa dose deste acido,
e por isso é elle as vezes indigesto e produz ºi?
12 DE OUTUBRO (Sexta feira).
Pesca e salga do arenque. — Durante o reinado
de Filippe o Bom, em que Bruges se tornou céle
bre por suas tapeçarias; em que 150,000 operarios
trabalhavão nas fabricas de lã de Louvain; em que
tão nomeadas erão Bruxellas e Malines por suas
bellas rendas; abrio-se para os industriosos bel
as uma nova mina de riqueza e prosperidade, e
az ella ainda hoje, em grande parte, a fortuna da
Hollanda. A pesca e salga do arenque fez entrar
centenares de milhões nos cofres dos Paizes Bai
xos, e tão productiva chegou a ser nos séculos XV
e XVI, que n'ella se empregaram uns 3,000 na
ViOS e s" braços. Servio para formar intré
pidos marinhei
ros, costumados
a uma vida activa
elaboriosa, a uma
é severa disciplina,
e a uma grande
ecónomia. Tanta
>
S |-
importanciali
ainda gão
hoje a esta
pesca os hollandezes, que antes de mandarem pa
ra ella as suas embarcações,implorão em seus tem
plos, afim de que vingue, a protecção divina.
Estupendas riquezas ganharam tambem os fla
mengos com a pesca do arenque, e foi por isso que
em 1347 erigiram um monumento á memoria de
Beukels, que ensinou o modo de embarrical'os,
#umentº que visitou Carlos V com sua irmã,
a Rainha de Hungria, afim de honrar a memoria
de um simples pescador a quem se devera o acha
do de uma inexgotavel fonie de ríquezas.
13 DE OUTUBRO (Sabbado).
Filippe II e a Inquisição.—Innumeraveis pessoas
suspeitas de seguirema doutrina de Luthero havião
sido queimadas vívas pela Inquisição; esperavão
ainda trinta e tres em Valhadolid pela execução da
mesma sentença. N’este comenos chega Filippe II
aquella cidade, ordena que se proceda logo ao sup
plicio d’aquelles infelizes, e assiste a elle com gran
de ceremonial, com seu filho D. Carlos, sua irmã,
seus cortezãos. Dirige-se-lhe com sentidas vozes
uma das infelizes victimas, e diz-lhe: «Como po
deis vós, ó Rei, ser testemunha dos tormentos de
vossos subditos? Tende antes compaixão de nós,
e salvai-nos d’esta morte cruel que não merece
mos!...» — «Eu, salvar-vos! lhe responde o com
passivo Monarcha; levaria eu proprio a lenha ás
costas para que meu filho fosse queimado, se tão
culpado houvesse sido como vós!...»
E placido e impassivel, só d’alli sahio depois de
#" a cinzas os corpos de tantos desgraça
OS!...
O que isto prova, não é ainda tanto a perversi
dade de Filippe II (que era muita), como o poder
d'aquelle tribunal de sangue, ante o qual tremia,
e se via coacto, o proprio Soberano.
Deu origem aquelle facto a um quadro soberbo
que ha pouco vimos em Paris. 4
342
14 DE OUTUBRO (Domingo).
Re8UISC itado.

Jantando bem descançados E o caso, que engolindo


Certa mulher, e marido, Um osso mal mastigado,
Esta dá medonho grito; Em logar de ter morrido,
Aquelle tinha cahido. Tinha ficado engasgado.
Agua, saes, e sinapismos, Com o choque salta o osso!
Fricções, tudo s’empregou; Corre á casa! Que prazer!
Mas o pobre nem respira, Estes ditosos consortes
Sua existencia acabou. Escaparam de morrer!
Agora são as lamurias; Passados annos, ataca
Gritos, choros, e desmaios: O marido enfermidade,
Drama bem desempenhado, Para a qual não tendo fôrças
Sem que dependa d'ensaios. Morreu por fim de verdade.
Aianjo! ai meu queridinho! Escusado é repetir;
Ai alma de cherubim! Novas lamurias houveram;
Sem arrimo n’este mundo, Porém maiores cuidados
Triste! Que será de mim?!— D'esta vez appareceram.
Mas não havia remedio; «Bem pelo meio da rua !
Do enterro se tratou; Com cuidado, e devagar!
E ao descer pela escada Passem de largo as esquinas
Eis que o pranto renovou. Não vá o corpo esbarrar!»
Indo voltar uma rua Ora cortem as más linguas;
Bate na quina o caixão; Cada um diga o que queira:
O defunto se levanta; Não ha maiores desvelos
Foge tudo em confusão! Do que os d’uma companheira
*##

(Brasileiro.)
343
15 DE OUTUBRO (Segunda feira),
Estudo da anatomia, — E' a André Vesal que se
deve o haver-se arrostado o prejuiso que se op
punha a que para aquelle fim se utilisassem os
cadaveres. Filho de um pharmaceutico de Bru
Xellas, chegou com o andar dos tempos a ser
1.º médico de Carlos V e de Filippe II. Não se
havia feito anatomia antes d’elle senão em ma
cacos, porcos, e outros animaes, cuja estruc
tura interna se reputava um pouco semelhan
te á do homem. Grandeásimpuls o houvera dado
• sciencias médicas, se
não fosse perseguido pe
la inquisição hespanho
la. Accusado de que, ao
abrir o cadaver de um
Barão,afim de descobrir a
causa de sua morte, palpitara o coração sobre o
escalpello, foi condemnado á morte, pêna commu
tada à rogos de Filippe II na de uma peregrina
ção à Terra Santa. Depois de mil estranhãs, vi
cissitudes occorridas na sua jornada a Jérusalem,
lançado por um naufragio na ilha de Zante, ahi
morreu de fome a 15 de Outubro de 1564.

16 DE OUTUBRO (Terça feira).


ouro, — E' um metal amarello, que faz assassi
nar os homens, incendiar as cidades, opprimir os
cidadãos, e succumbir as mulheres. Assim mes
mo quem me dera dez mil alqueires d’elle ! 344
17 DE OUTUBRO (Quarta feira).
Prece universal. — Pelo grande poéta inglez
Pope foi feita a seguinte formula de oração para
todo o genero humano:
Pai do universo ! ó tu
que os povos todos ado
rão debaixo dos grandes
nomes de Jehovah, de Ju
piter, e de SENHoR!
«Suprema e primeira
causa, que occultas a
meus olhos tua adoravel
essencia, e só me fazes
conhecer a minha igno
rancia e a tua bondade.
* ** « Dá-me, em tal estado
# • •
#\:\> 5 de
bemcegueira,
do mal,o discernir
e deixar eá
liberdade humana os seus direitos sem offender
os teus santos decretos.
«Que não recuse eu nenhuma das graças que
tu me concedes. Não devem volver a ti ós teus
favores: recebel'os, é obedecer-te.
«Não permittas que eu só veja os teus benefí
cios nos estreitos limites da terra, e que te consi
dere só como Deus do homem, em quanto de toda
a parte me rodeião milhares de mundos.
«Que não ouse a minha fraca mão despedir teus
raios, nem lavrar sentença de condemnação, con
tra os que eu julgar teus inimigos. •

assº caminhar pela estrada da verdade, ajuda


O
me; se d’ella me desviar, conduze-me para o bom
caminho.
«Preserva-me do louco orgulho e de insolentes
murmurações: que tão satisfeito me considera
com o que me recusa a tua sabedoria, como com
o que me concede a tua bondade.
«Ensina-me a sentir os males dos outros e a
occultar os seus erros. Emprega para comigo a
mesma misericordia que eu para com os outros
houver empregado. •

«Por pequeno que a teus olhos seja, é teu so


pro que me anima. Guia-me, quer eu viva ou quer
morra hoje.
« Dá-me a paz e o que possa convir-me, tu que
sabes o que me convém ou não: em tudo seja fei
ta a tua vontade.
«Pai do universo! a quem serve de templo to
do o espaço, e de quem são altar, a terra, o mar,
e os céus! escuta as acções de graças de todos os
Seres e chegue a ti o incenso de suas orações —
AMEN.

18 DE OUTUBRO (Quinta feira).


Trophéu d'um Inquisidor. — Ainda hoje se vê em
Saragoça o tumulo de marmore d'um Inquisidor
Geral á entrada do côro da igreja metropolitana.
Tem á roda 6 columnas de marmore pouco altas,
e de cada uma d’ellas está pendurado pelo pescoço
Ul II) Im OUTO.
Digno trophéu de Inquisidor!...
Antes o pendurassem, a elle, pelo pescoço..
*$4
19 DE OUTUBRO (Sexta feira).
versos sem titulo.

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• • • • • • • • • • • •

Pois essa luz scintillante


Que brilha no teu semblante,
D'onde lhe vem o esplendor?
Não sentes no peito à chamma
Que aos meus suspiros se inflamma
E toda reluz d'amor?
Pois a angelica fragrancia
Que te sentes exhalar,
Pois, dize, a ingénua elegancia
Com que te vês ondular,
Como se baloiça a flor
Na primavera em verdor,
Dize, tanta gentileza,
Pode dal'a a natureza?
Quem t'a deu senão amor?
Vê-te a esse espelho, querida,
Ai! Vê-te por tua vida;
E diz se ha no céu estrella,
Dize se ha no prado flor,
Que Deus fizesse tão bella
Como te fez meu amor?
Visconde d'Almeida Garrett.

Peregrinº. —E um homem que deixa muita vez


patria, mulher, e filhos, para que se falle n'elle, e
parair ganharindulgencias na Terra Santa, onde se
vai divertir. •

347
20 DE OUTUBRO (Sabbado):
Escamas e pennas. — Escreveu o Padre Athana
sio Kircher que ha na China uns peixes todos co
bertos de escamas, que todo o inverno vivem de
baixo d'agua, e no principio da primavera largão
as escamas, e vestidos de pennas abrem as azas e

vôão para os montes, aonde vivem todo o estio e


outono, e chegando o inverno tomão a sna pri
meira figura e se restituem ao mar.
Já é mentir!...
E era padre!..
21 DE OUTUBRO (Domingo).
Amigos torrados. — Bautru, Conde de Serant,
asseava, em um dia de calor ardentissimo, de ca
eça descoberta com o Duque d'Orleans.Dizendo
lhe este que dos seus amigos tambem elle era ami
go, deveras, respondeu-lhe Bautru: « V. Alteza,
pelo que vejo, não gosta d'elles crus; agradão-lhe
mais torrados. »
348
22 DE OUTUBRO (Segunda feira).
POBRE E FELIZ.

Operario, como sou,


Não invejo ao rico a sorte,
Nem me seduz essa côrte
Com que a ventura o cercou:
De riquezas desherdado,
Tenho no braço um morgado
Que por nenhum preço dou.

Banha-me a fronte o suór, Se á força do meu lidar,


Com que grangeio o sustento, Me colhe o corpo a fadiga,
Mas sou tão rico e opulento Vem a noute, a boa amiga,
Como o mais rico senhor, Allivios ao corpo dar;
Pois tenho n’alma um thesouro Então nos braços da esposa
Que vale mais do que os d’ouro.E filhos, o peito gosa
— E da familia o amor. Ditas que não sei contar.

349
Juntos ao pé do fogão, . A branda voz da mulher,
Naslongas noites de inverno, Que é metade da minh'alma,
Enviamos ao Eterno Corre em demanda da palma
As preces do coração: Que lidando hei-de colher:
E, depois, somno profundo Ledo retomo o trabalho,
Nos afasta d’este mundo Empunho de novo o malho,
De vaidade... e d'ambição. Recomeço o meu viver.

Assim que brilhão no cêu Operario, como sou,


Da madrugada alvas rosas, Não invejo ao rico a sorte,
Damos graças fervorosas Nem me seduz essa côrte,
Ao que na cruz pereceu. Com que a ventura o cercou:
Filhos e mulher abraço, De riquezas desherdado,
Renovando assim o laço Tenho no braço um morgado
Que p'ra semprenosprendeu Que por nenhum preço dou.
Filippe do Quental.

23 DE OUTUBRO (Terça feira).


Ministro desmemoriado. — Gerto ministro da co
rôa em Portugal, do nosso tempo, muito conheci
do, e muito digno de o ser, tinha entretanto a me
recida fama de não cumprir quasi nunca as promes
sas com que sempre embalava os pretendentes.Um
d’estes, cançado já de subir as escadas da secreta
ria e de lhe entregar minutas por escripto da sua
justa pretenção: «Senhor Conselheiro, são já com
esta seis memorias que entrego a V.º Excº!....»
- «Pois, meu senhor, lhe respondeu o outro, se
em logar das seis me houvesse dado uma só, que
é a que me falta desde que os negocios me azoi
não, já estava despachado ha muito tempo.» 350
24 DE OUTUBR0 (Quarta feira).
Lago mysterioso. — Hana Carniola, a seis léguas
de Laybach, e proximo á aldeia d'Adelsberg, no*
tavel pela sua gruta de stalactites, um lago curio
sissimo. Umas vezes está cheio d'agua, e ou
tras vezes transforma-se em terra firme, na qual
se podem fazer plantações. E assim que o des
creve Mr. Depping no seu; Viajante Moderno.
«No fundo do lago Ciskniz (é como lhe cha
mão) ha 18 cavidades pelas quaes se escôa o lago
inteiro em 25 dias, findos os quaes se vê o fundo,
e em vez d'agua fica um terreno mui fertil, mui
proprio para a cultura, e que se lavra e semeia.
Apparece dentro em pouca á vegetação, e tres me
zes depois faz-se uma colheita de feno e de mi
lho, e até se caça aonde pouco antes só havia agua
e peixes. D’ahi a 4 mezes principia o lago a en
cher-se novamente pelas mesmas aberturas, e
eleva-se á mesma altura, sendo muito para no
tar que só emprega para isso um dia, em vez de
25 que lhe foram precisos para desapparecer.
25 DE OUTUBRO (Quinta feira).
Acacia.—Arvore originaria da America, Sep
tentrional e importada para a Europa, segundo pa
rece, em 1600. D’ella se extrahe a gomma arabica.
A acacia e a sua flor são simbolycas na maço
naria; chamão-lhe arvore innocente, porque di
zem que os seus espinhos, picando, não fazem
damno.
351
26 DE OUTUBRO (Sexta feira).
confissão ingenua. — Certo actor francez da
Opera, cantando uma vez com voz bastante fraca
e incerta uma aria que principiava: « Eu venho
de...» grita-lhe um da platéa: — Da taverna —
A divinhou — replica o actor.

27 DE OUTUBRO (Sabbado).
Muito boa noute! —Um hespanhol que só tinha
um olho, estava um dia jogando a péla com alguns
amigos; no meio do jogo salta-lhe um pela ao
olho e o cega. Tira o chapéu para a companhia, e
diz-lhe: Buenas noches !
352
• 28 DE OUTUBRO (Domingo).

Urma.—Vaso empregado
pelos antigos para os exer
cicios dos adevinhos, para
conter liquidos, para os me
| dir, para guardar as cinzas
dos mortos,e para receber os
votosporoccasião de se ele
gerem os magistrados ou os
que devião combaternos jo
gos publicos. Ha sido fre
quentemente empregada es
fa palavra pelos antiquarios
para exprimir tudo aquillo
em que se hão encerrado
restOS mortaeS, COmO VaSOS
de marmore, sarcophagos,
e até os proprios tumulos.
29 DE OUTUBRO (Segunda feira).
Beijos. — Como seja hoje dia de beijamão, fal
lemos um pouco de beijos, que não é tratar as
sumpto dessaboroso.
Duas cousas se teem energicamente exprimido
pelos
já beijos: primeira,
de amizade; segunda,o bem querer,Os de amor,
já beijos
• o respeito. da
primeira especie deveu-os haver entre Adão e Eva,
e entre elles e seus filhos; vieram em tradição

contínua até nós; hão-de ir de nós até ao fim do
mundo; e é tão natural expressão esta, que até
353 23
outros animaes, aves, e quadrupedes, beijão a seu
modo quando os agita a benevolencia.
O beijar de respeito já tambem procede de re
motas e esquécidas antiguidades. A palavra: ado
ração, não significa, ao pé da letra, senão o acto de
beijar. Beijavão-se as imagens dos deuses, os alta
l'CS, a S # e portas dos templos, e a terra sa
grada. Dos deuses passou o costume aos potenta
dos mundanos, a quem, como aos deuses, umas
vezes se beijaram as mãos, outras a barra do ves
tido, outrasos pés. E quando, ou aos deuses ou aos
potentados se não podia chegar com a bôca, al
çava-se para elles a mão propria, e essa se beija
va com veneração. Aos senhores beijavão as mãos
os escravos, e ainda hoje a beijão aos prelados os
fieis,aos ecclesiasticos álguns seculares,e aos avós
e pais a sua descendencia. • •

O beijar o pé, ou pantufo, ao Papa, foi introdu


zido por Adriano I e Leão III, os quaes pretende
ram accomodar ao Pontificado esta demonstração
de acatamento,que para exaltação do imperio tem
poral já havia sido arrogada pelo Imperador Dio
cleciano. Em Portugal conserva-se o costume do
beijamão ao Rei, e mesmo áspersonnagens da Real
Familia; mas solemne e oficialmente, só ao chefe
do estado.

Archeiro empertigado. —Faz hoje um anno que


or occasião do anniversario de S. M. El-Rei D.
ernando se dirigia para o Paço um archeiro, de
grande uniforme e com a sua alabarda ás cos
tas; ia muito ufano e contente de si e com "#
gravidade que fazia rir a quantos o vião. Ao pas
sar por elle uma mulher que não tinha papas na
lingua, descarta-se-lhe com esta: «0 hôme! bocê
vai tão inchado, que parece que é bocê que faz an
n08!...»
30 DE OUTUBRO (Terça feira).
Força do destino.—Sendo advertido Filippe, Rei
de Macedonia, pelo oraculo de Apollo, de que es
tava em perigo de ser morto por uma carreta, or
denou que se fizessem desapparecer todos os car
ros e carretas do seu reino. Devia porém cum
prir-se o oráculo, pois, como disse Bocage.
Que eu fosse emfim desgraçado,
Decretou do fado a mão:
Lei do fado não se muda,
Triste do meu coração!...
Morto por Pausanias, soube-se que estava es
culpida uma carreta nos copos da sua espada.
(A. 51, 1 e 29 de Junho, e 11 de Novembro,
A. 52 p. 71, A. 53 p. 43).
31 DE OUTURRO (Quarta feira).
Terremotos periodicos. — Ha no meio do lago
d'Acherusa uma ilha, povoada de alguns gregos e
poucos monges n'um conventinho. Apresenta es
ta ilha todos os outomnos um phenomeno muino
tavel, a saber: logo que principia a estação, de meia
em meia hora, e ás vêzes mais a miudo, treme a ter
ra. Cada terremoto d’estes é seguido d'um estam
#º como de peça d'artilharia.
1 DE NOVEMBRO (Quinta feira).
Feiras de criados. — Ha um costume célebre-em
Orleans e seus arredores. Os criados não se ac
commodão as mais das vezes senão por um anno:
são como os actores do nosso Theatro de S. Car
los que tambem só por um anno se escripturão.
Não são examinados ahi da cabeça até aos pés, co
mo acontece nos bazars de Constantinopla, mas
conversa-se com elles, pergunta-se-lhes o que
> sabem fazer, onde teem servido,
se teem bons attestados, quanto
querem ganhar, tomão-se emfim,
com elles proprios, todas quan
tas informações se desejão, e
conclue-se o ajuste, dando o amo
em signal, ao seu novo criado, a
|- quantia de 10 centesimos, que
andão por 17 réis, os quaes são pelo moço empre
gados em castanhas. Não haja medo de que se fal
te # contracto depois de dado e recebido o si
gnal.
Este anno, diz um jornal d’aquella localidade,
esteve o mercado bem sortido e bastantes nego
cios se fizeram; houve alta no preço dos boliei
ros e baixa sensivel nos moços de dar agua.
Faz-se uma feira de gente como se faria uma
feira de porcos!...
Pégaso.—E' um cavallo mal ensinado que dá
couces e mais couces aos que o não sabem mon
tâT.
356
2 DE NOVEMBRO (Sexta feira).
Morte. — Nem os romanos nem os gregos con
sentiram em consagrar-lhe templos; todavia os
romanos elevaram-lhe
altares com esta ins
| } • // cripção: « Dedicado
ao somno eterno.» A
mais vulgar de todas
} as allegorias da mor
te é um genio, immo
vel e triste, com um
|- facho virado na mão.
O cypreste, cujos ramos cortados nunca mais cres
cem, e o gallo, que perturba o silencio da noute,
são ha muito consagrados á inexoravel divindade.
cadaveres. — Os romanos, e muitos povos anti
gos, reduzião os seus mortos a cinzas com gran

despó,
de ceremonias, e assim
que mettião tornados
em urnas, num àpunhadº
os davão terra. O
7
costume porém de queimar os cadaveres é menos
antigo que o de os enterrar.
O de ôs embalsamar foi muito frequente no Egy
pto e por varias partes do Oriente, séculos antes
de se inventarem as pyras. Pela embalsamação
desceram até ao nosso tempo, e irão ainda longe,
muitos homens e mulheres de milhares de annos.
O enterramento era a restituição do homem á
terra sua mãi. A embalsamação uma especie de
protesto, ainda que frivolo, contra a mortalidade.
A incineração originar-se-hia, ou de pestes, em
lº falecião braços e forças para andar enterran
do, e em que se temia que as exhalações putri
das dos sepulchros aggravassem a maleficencia do
ar, ou, segundo alguns autores, inventarão-na os
romanos nas suas campanhas longinquas, para no
caso de virem a perder essas terras, os inimigos os
não irem injuriar nas sepulturas,
Os christãos do principio da igreja tornaram á
moda de enterrar, pela extravagante idéa de que
ossos inteiros podérião muito melhor resuscitar,
do que ossos queimados. Povos silvestres das cos
tas do mar lançavão a elíe os seus defunctos com
penedos ao pescoço; outros comião-nos; outros
lançavão-nos no campo ás feras; outros pendura
vão-nos em arvores até que o tempo e as aves car
nivoras os desfizessem. De todas estas selvajarias,
e daqueima,tambem se valeram codigos criminaes,
que engendrados em eras barbaras chegaram ain
da a enchovalhar os nossos tempos: hoje, o cos
tume das nações civilisadas é enterrar os seus mor
tos, e embalsamar ás vezes altas personagens. 358
3 DE NOVEMBRO (Sabbado).
Montanha a dançar.—Referem muitos escripto
res que no anno de 1575 a montanha de Marcely,
a duas léguas de Hereford, mudara de logar por
um violento tremor de terra. Por espaço de tres
dias a viram baloiçar-se no ar de tempo a tempo;
caminhou depois cerca de uns duzentos pés pelo
valle dentro e, o que não é menos admiravel, le
vantou-se a muitas braças do solo. No logar que
d'antes occupava não há agora senão um valle de
400 pés de comprido e de 300 de largo. Na sua via
gem atropellou gente, derrubou arvores, a capel
la da aldêa, casas, etc., mas um redilsinho com o
seu cercado de plantas e hortas nem de leve o
amarrOtOu.
4 DE NOVEMBRO (Domingo.)
MOTE.
Semeei cravos azues * *

Em bellos vasos de vidro.


GLOSA.
No tempo em que os ventos sues
Sopravão com arrogancia,
No meu quintal, por jactancia,
Semeei cravos azues:
Nasceram os meus tafues
Amarellos como um cidro:
Prometti a Santo Izidro,
Se não mudassem de côr,
Levar-lh'os, quando lá fôr,
Em bellos vasos de vidro.
5 DE NOVEMBRO (segunda feira).
Abelhas. — Ao que sobre ellas dissemos a 2 de
Março do Almanach de 1851, acrescentaremos
hoje o que diz o nosso Bluteau:
Quando sahem os enxames d’abelhas novas, le
vão comsigo Alimpadeiras e Aplanadeiras. Es
tas são do mesmo feitio que as ####
e só se co
nhecem por serem maiores. As Alimpadeiras são
como carochas, e entrão pri
meiro que nenhumas a alim
par o sitio para onde hão de
ir, e depois de limpo entrão
as abelhas, e ellas mesmas as
matão e as deitão fóra. A abe
lha mestra ensina ásA plana
deiras a fazer os casulos da
cera para receber o mel, e em
os favos estando cheios, se
\ ; os não crestão a tempo, o co
|- |- mem, porque não querem ir
buscar fóra o sustento. As Aplanadeiras nunca
sahem fóra, porque sempre estão occupadas a re
colher o mel nos casulos, e do que cahe fóra d'elles
se sustentão, Escrevem os antigos que na contem
plação da prodigiosa natureza das abelhas gasta
rº o philosopho Aristomaco 60 annos
6 DE NOVEMBRO (Terça feira).
vºtºs – Trata-os Deus muita vez como os mi
nistros tratão a maior parte dos requerimentº a
7 DE NOVEMRO (ouarta feira)
Gºlºdice de ºersane Leite. — Para encarecer a
paixãº, a verdadeira paixão, que tinha por tudo
quanto era doce o nos
so lyrico Bersane Lei
te, dizia Bocage com o
mais Sizudo tom da
convicção: « Era eu
capaz de fazer dar ao
_> |- Bersane tres voltas
*-+. completas á roda do
globo, caminhando adiante d’elle com um páu
d'alféloa na mão.»
8 DE NOVEMBRO (Quinta feiru).
Habilidade dos dados. — Deitando dous dados
sobre uma banca, adivinhar os seus dous numeros.
— Mandar-se-hão fazer as seguintes operações:
Veja o numero de pontos de um dos dados. Do
bre-o, junte-lhe 5. Múltiplique por 5. Junte a este
producto o numero de pôntôs do outro dado. Qual
é a somma total? Tirem-se d’ella 25. Os dous alga
rismos que restarem marcarão os dous numeros
que sahiram.
Exemplo.
Supponhamos que sahiram os numero 2 e 6.
Dobrando o numero 2, tendo 4; juntando 5, te
nho 9; multiplicando por 5, tenho45; juntando 6,
tenho 51; diminuindo 25, ficão 26. Logo os dous
ºperº São : 2 e 6.
9 DE NOVEMBRO (Sexta feira).
Pêgas, — E' a pêga um animal tão damninho,
e tão abundante na França e na Hespanha, que
muitas sociedades agricolas têem proposto pre
mios para quem descubra o melhor meio de dar
cabo d'ellas. A dous se reduzião esses meios até
agora — tiro e visco — mas é tamanho o instin
cto d'essas aves, que presentem o caçador, e pou
cas vezes o deixão chegar a distancia de lhes fa
zer fogo; ao visco tambem poucas vezes se pé
gão. Descubrio agora um lavrador de Périgueux,
um meio facil de extinguil'as. Achando um coelho
morto na sua coelheira, foi-se a elle, untou-o com
certa preparação venenosa, e pendurou-o n’uma
arvore. As pêgas atolaram o dente (apezar de
não terem dentes) na carne do coelho, come
ram-no todo, e no dia immediato já cincoenta ha
Vião sido victimas da sua glotonaria.
Tenha cuidado quem usar de tal receita para
dar cabo, não das pêgas, que entre nós são pou
co vulgares, mas d'outros quaesquer animaes
damninhos, em enterral’os logo, e por modo tal
que lhes não cheguem as aves e animaes domesti
cos, pois facil fôra que morressem tambem enve
nenados. • •

São as pégas muito desconfiadas, teem o ol


facto delicadissimo, e são ladras por natureza.
Manteem-se de bichos, são faceis de domesticar,
e aprendem com facilidade. Fazem os ninhos com
muita arte, e põem de ordinario nove ou dez ovos.
Em França, junto a Santo Albino, diz "";
houve entre pêgas e gralhas uma batalha tão
cruel, que de cada parte cahiram em terra muitas
mortas, e foram tantas as que n'esta peleja se
ajuntaram, que tomavão campo de duas léguas:
d'alli a alguns dias se deu n'aquelle mesmo logar
uma batalha em que morreu muita gente; d’esta
batalha e d’este estrago parece que foi annuncio
a peleja e morte das pêgas.
(A. 51, 24 de Janeiro.)
10 DE NOVEMBRO (Sabbado).
AS ESTRELLAS.

Lindas, mimosas saphyras,


Que o véu da noute bordais,
Dizei-me, estrellas, dizei-me
Se acaso tambem a mais :

Tereis sómente por fado


Luzir, luzir, e não mais?
Não creio, estrellas, não creio;
Sois tão formosas?... amais.

Augusto de Lima.
Tumulo.—Monumento elevado nos confins dos
dous mundos. Termo de todas as grandezas hu
manas. Nivel que tudo aplana e iguala.
Qu’importe lors qu’on dort dans la nuit du tombeau,
Qu'on ait porté le sceptre ou trainé lerâteau!...
11 DE NOVEMBRO (Domingo).
Bebedice nos Estados Unidos. — Querem saber o
que as bebidas espirituosas têem feito nos ultimos
dez annos nos Estados Unidos da America? Oução.
Causaram á nação uma despesa directa de 600
milhões de dollars (1200 milhões de cruzados).
Occasionaram-lhe igual despesa indirecta.
Deram cabo de 300,000 vidas.
Mandaram 100,000 creanças para os asylos.
Metteram 150,000 pessoas na cadeia.
Fizeram endoudecer 1,000.

Deram causa a 1,500 assassinios.


Foram origem de 2,000 suicidios.
Occasionaram, com incendios e outras perdas
materiaes, um prejuizo de dez milhões de dollars.
Cobriram de luto 1:200,000 viuvas e orphãos!...
Se dos inglezes receberam os americanos os
usos, as tradições, e a gloria, tambem d'elles her
daram o amor da pinga (A. 51, 12 de Novembro.
A. 52 p. 388. A. 53 p. 335, 336. A. 54 p. 336, *#
12 DE NOVEMBRO Segunda feira).
Beber. — O uso das bebidas fermentadas é muito
antigo e muito geral. Os povos que não tinhão uvas
fazião seus vinhos de outros fructos, de grãos, de
leite azedo, etc. Os gregos e os romanos punhão
o beber entre as ceremonias religiosas, ou depois
de libarem o vinho o derramavão por cima da ca
beça da victima, na ara, no fogo do sacrificio, e no
pavimento do templo. Punhão copos cheios aos
mortos nos dias solemnes da sua commemoração;
e nos banquetes convivaes elegião um para rei do
vinho, que houvesse de regular a ordem, o modo,
e a quantidade dos brindes. Este rei do Vinho erá
muitas vezes tirado á sorte. Já n'esses tempos se
bebia á saude dos presentes e dos ausentes, sen
do galhardia despejar tantos copos quantas erão as
letras do nome do amigo a quem se Victoriava.
Não era ainda então a embriaguez reputada em
conta de tão opprobriosa como hoje. O poéta gre
go Anachreonte não cantou senão o vinho, as ro
sas, e o amor; e o grande lyrico romano Horacio
consagrou ás delicias de Bacho uma boa parte das
suas odes; costume esse que poétas christãos ar
cádios imitaram, e levaram ao excesso, em ridi
culos_dythirambos. Hoje o fazer gala de delirar
por efeito de bedida seria de pessimo gosto e mui
to mal recebido: e com efeito, a dignidade huma
na provem da razão; e destruilla scientemente, é
de todas as brutezas a mais indisculpavel. Por is-,
so é que na Inglaterra e nos Estados-Unidos se
# fundado, e crescido, sociedades denomina
das: de temperança, que forcejão de todos os mo
dos por arrancar o populacho, e mesmo a classe
média, d'aquelles paizes, ao costume de beber
immoderadamente. Seja porém como for, como o
vinho é muitas vezes um confortativo para o es
tomago, um agasalho para o frio, um calmante pa
ra as penas do animo, um occasionador d'alegrias
e convivencia, a embriaguez tarde ou nunca se
extirpará, e S. Martinho, que alguns julgão ter sido
bebado, ou amigo de bebados, hade ainda muito
tempo ser invocado com copos de canada em pu
nh0.
13 DE NOVEMBRO (Terça feira).
Trovas de um drama inedito.

Se o dia está lindo, E em barco velleiro,


E o sol vai fulgindo, Que sulca, ligeiro,
No mar esparzindo Do Tejo fagueiro
Golphadas de luz; Os vivos cristaes,
E as cupulas cresta Eu passo embalado,
Da verde floresta, De ti apartado,
Que ás horas da sesta Carpindo o meu fado
Colas sombras seduz; Em prantos, em ais...

Se, ao longe, indeciso,


• Se, acaso, eu diviso
- Teus olhos, teu riso,
Que ás aguas surri,
Exclamo orgulhoso :
«Se o mundo vaidoso
No sol tem seu gôso,
Eu... goso-te a ti.
366
Se o astro de prata Se a brava tormenta,
No Tejo retrata Que em furias rebenta,
Seu rosto, que mata, Co'as garras, sedenta,
Que enleva de amor; Se aferra ao parcel,
Se a noite vai pura, Se as nuvens são densas,
E o rio murmura, E as trevas intensas,
Lascivo, e procura E, em vagas immensas,
Nas margens a flor; Me boia o baixel;

Se acceso em desejo, Sem tino e conselho,


As brisas invejo, No pinho já velho,
Que em languido bejo, Se dobro o joelho,
Te brincão no vêu; Orando ao meu Deus;
No véu, que me acena, Se rasga a procella
Qual mão de assu cena, Um raio... e revela,
Que surge, serena, Qual placida estrella,
Do limpido céu; Dois olhos... os seus!

Eu digo: «os perfumes, Ergui-me e confio;


Da brisa os queixumes, A’s ondas surrio;
A noite c'os lumes, Não tremo do rio,
Co’os plainos d'anil, Que ferve em cachões;
E a luz, que fluctua Co'o peito e co’o braço
Na face da lua, Retalho esse espaço,
Não valem a tua, E chego... e te abraço
Que inda é mais gentil.» Por entre os tufões.
Antonio Pereira da Cunha.

14 DE NOVEMBRO (Quarta feira).


velhice. = Arvore mal presa na terra e que já
não tem folhas nem dá fructo,
367
15 DE NOVEMBRO (Quinta feira).
Newton, voltaire, e Pope. — Voltaire, moviu…
Nº um sentimento de enthusiasmo, declarou ser
ewton o maior genio que jámais houvera; se
todos os do universo se formassem, dizia elle, se
ria Newton o Generalissimo. Eis-aqui a traducção
que Dorot fez do epitaphio que Pope compoz aº
grande philosopho. -

Lépaisse nuit regnait sur le monde encore brut;


Dieu dit: «Que Newton soit...» Soudain le jour parut.
Pour second créateur tout l’univers le nomme !
Interrogez le ciel, la nature, le temps;
C'est un Dieu, dirent-ils, il ne craint rien des ans...
Hélas! ce marbre seul atteste qu'il est homme!...
(A. 51,
243,8 249,
de Janeiro
362. A.e 19 de 215.
55 p. Outubro, A.p.5236).
A. 54 p. 120, •

368
16 DE NOVEMBRO (Sexta feira).
o sapateiro d'Aoste. — Dizem que já se não in
venta: é falso. Ahi vai uma cousa que nunca a
ninguem tinha lembrado, e que anda correndo por
toda a Suissa.
Na ultima sessão do conselho geral de Berne deu
parte o Presidente de haver recebido o requeri
|- * *** mento d'um sa
pateiro da pe
quenina cidade
d'Aoste, situa
da na falda do
monte de S. Ber
nardo, e que De
771 (i ! St?'e 1mm Or
talisou no seu
Leproso, reque
rimento em que
O mestre dizia
constar-lhe ter
sido condemna
do á morte um
inglez em Ber
>>> --…"

,
*>
=-

|- ne, e pretender
subtrahir-se a ella, depositando uma somma de
dez milhões de francos para uma loteria de 99
bilhetes e 99 premios, cada um de cem mil fran
cos, ou quarenta mil crusados, e com um unico
bilhete branco, o qual imporia ao que o tirasse a
obrigação de ir morrer no logar do Lord, rece
#
369
tambem préviamente igual quantº Com
#
esta se contentava o bom do homem para ir a mor
rer em logar do inglez, e era a auctorisação para
isso que do conselho supplicava., Allegava em seu
favor o pobre sapateiro o ser pobre, o não lhe im
portar morrer por haver já feito 30 annos (o que
prova que tambem lá por aquellas terras corre um
aneximportuguez), o estar carregado de familia, e
o não se poder conformar com a idéa — não #
bem — com a triste, medonha, e horrorosa realida
de, das privaçõês por que diariamente a fazia pas
sar. Havia pois n'esta deliberação do pobre sapa
teiro um sentimento nobre e generoso, que mui
tos escarnecerão, e que eu, pai de familias, per
feitamente comprehendo e aprecio: o que não sei,
é se em todo o mundo se acharião cem homens
com igual resolução, o que não depõe muito em
favor da humanidade!...
Foi regeitado o requerimento do } homem,
pelo simples facto de ser tudo aquillo uma balela;
e até houve um conselheiro que desejou se escre
vesse á margem da petição o adagio francez: «Va
te faire pendre ailleurs. » Foi todavia maganão
de bom gosto o que tal balela levantou, e por sua
originalidade julgámos dever relatalia, fazendo ao
mesmo tempo votos pela prosperidade do sapatei
ro, a quem todos em Aoste deverião dar a fré
guezia, o que ainda assim o não enriqueceria mui
to, pois é terra pobre e miseravel, e em que an
dão descalços a maior parte dos habitantes.
Pantheon. —E' esta a inscripção do de Paris:
AOS GRANDES HOMENS A PATRIA RECONHECIDA.
\, 4
17 DE NOVEMBRO (Sabbado).
charada.

Qual será a mais perfeita Uma sou das sete irmans


Das obras do Creador? Que pelo mundo, em torrentes
Será, pura, a mulher bella Festivaes, nos derramamos
Meiguice toda e amor? 1Commago prazer dasgentes. 1

Foi meu pai cruel e injusto


Quando o serviço dobrou
Do moço que a minha irmã
Com tanto extremo adorou. 2

Que alegre não é meu todo! Mulher, anjo, divindade,


Formado d’uma pastora, E's, ó bella, para mim !
Da melhor obra de Deus, Só o termo da existencia
D'um prazer que o mundo adora! A meu culto porá fim.
José Maria da Silva Leal.

18 DE NOVEMBRO (Domingo).
Prova d'agua e ferver. — Poucos séculos atraz,
os tribunaes obrigavão aos accusados de bruxa
ria a tirar uma pedra do fundo d'um caldeirão
d'agua a ferver. Como a mão sahia pellada, met
tião-na n'um saquinho fechado com o sello do ma
gistrado; e se passados tres dias não havia já si
gnal da escaldadura, era declarado innocente o
accusado; alias punião-no como criminoso. A que
horrores não tem aberto porta neste mundo a ca
rencia de instrucção!....
371 #
19 DE NOVEMBRO (Segunda feira).
Modas francezas. — Refere Mylord Bolingbroke,
que no tempo do famoso Colbert custavão á In
glaterra as maravalhas do luxo francez 500 a
600,000 libras esterlinas por anno (o que anda por
>-> |- TTTTTTTT-T-T--
- 2700 contos de
§ réis), e o mes
mo proporcio
nalmente ás
outras nações.
De então para
cá tem consi
deravelmente
augmentado a
exportação de
todos os ob
jectos de luxo das fabricas francezas. Só Paris
exporta por anno 75,000 colletes de barbas, que
rendem um milhão de francos, toucas e chapéus
de senhora por mais de 5 milhões, flores artificiaes
por uns dous milhões, e leques por um milhão.
20 DE NOVEMBRO (Terça feira).
Eramos dous. — Ora, senhores! (exclamava um
gastrónomo) sempre comemos hoje um perú, cou
sa mais saborosa!... muito gordo, muito bem as
Sado, muito bem recheado, n’uma palavra, come
m'ol'o todo!... não lhe deixamos senão os ossos!...
—E quantos erão, quantos erão?
— Eramos só dous — eu e o perú — 372
«} 1
21 DE NOVEMBRO (Quarta feira).
Ruinas de capua. campo estrellado. — Chamou
Polybio a Capua a mais ditosa das cidades, pelo
delicioso campo que a circumdava; hoje, todavia,
só belissimas ruinas attestão o seu antigo esplen
dor. Ainda ahi se vêem os restos d'um castello, de
dous amphitheatros, uma das portas da cidade, tres
ou quatro templos meio derribados, fragmentos de

columnas, e destroços d’architectura. A aldeia de


Santa Maria foi toda construida com esses frag
mentos e destroços. A actual Capua está a uma pe
quena légua de distancia d'essas ruinas. E' uma
pequena cidade bem fortificada, mas sem monu
mentos e edificios notaveis. Achão-se nos seus ar
redores muitas medalhas que os camponezes ven
dem aos viandantes. O campo é alti de prodigiosa
fertilidade, e por isso lhe chamão: campo estrel
lado, ou favorecido, segundo alli julgão, por to
das as benéficas e salutares influencias dos astros.
373
22 DE NOVEMBRO (Quinta feira).
Saudades da infancia.

Tenho saudades da infancia, E saudades do silencio


Do tempo gasto a brincar; Por sobre a terra a imperar
Saudades, que são martyrio E saudades da luz pálida,
Que vem a alma torturar. Magestosa, do luar.

…………………… E saudades d'esses canticos


Do pranto que derramei, Das aves, dizendo: amor,
lnda falto d'experiencia, Saudades dosbrandoszephiro,
Só tendo os brincos por lei. Agitando a linda flor.

E saudades do mysterio Oh!que martyrio amemoria,


Da noute,
• et
doos
meu encia Que se não quer esquécer
d'i velar,
Dos meussonhos d'innocenc Do ledo tempo da infancia,
Das nuvens a divagar. ue mais não pode volver!..

Do som grave e melancolico Ai! de tudo d'essa época,


b um sino, ao longe atanger, De brinquedos, de folgar,
E saudades do murmurio A minha alma recordando-se,
Das aguas manso a correr. O tormento a vem gelar.

Luiz Paulino Borges.


23 BE NOVEMBRO (Sexta feira).
Pºr de peitº. — Ouvindo Mºº de Sevigné ler
durante duas horas com muita alma a Mr. de Beau
lieu, disse-lhe: « Sabe q ue mais ? está-me a doer
O seu peito.
374
24 DE NOVEMBRO (Sabbado).
Argano. — Distribue actualmente o Ministro da
marinha em França a quantos lh'as pedem semen
tes d’uma arvore assim chamada, e muito vulgar
no interior do imperio de Marrocos, sobretudo
nos arredores de Mogador, cujo fructo, depois de
haver dado um óleo abundante, optimo para o
sustento d'animaes, tambem se emprega alli co
mo adubo magnifico para as terras. O tronco tem
15 pés d'altura e 9 de circumferencia; umas vezes
é d'uma só peça, e outras composto d’uma infini
dade de ramos que adherem entre si e formão um
todo. Principia à aclimar-se um pouco em França
esta arvore preciosa, especialmente em terrenos
arcentos e pedregosos. Muito conviria que os
nossos lavradores tratassem de ver o proveito que
de tal arvore entre nós poderia tirar-se: ha talvez
n’ella uma fecunda mina de prosperidade.
25 DE NOVEMBRO (Domingo).
Lutecia. — E o mesmo que: cidade de lama. E'
e nome que durante uns poucos de séculos se deu
a mais immunda e insalubre de todas, e que hoje
tem o pomposo nome de : Paris. Mºreillº Filip
pe Augusto com a infecção das ruas, ordenou que
todas ellas se calçassem na sua capital, o que fez
com que diminuisse a mortalidade, que era muito
maior, proporcionalmente, do que a de todas as
outras cidades da Europa. Só por aquillo devia
#pº Augusto ir para o céu vestido e calçaº.
73
26 DE NOVEMBRO (Segunda ferra).
Piscicultura. — Daremos succintamente a noti
cia de um invento d'este anno em que escrevemos,
e de que os jornaes scientificos têem fallado com a
devida admiração: aos olhos do naturalista, é um
phenomeno sem precedencia no reino animal; aos
do ecónomista,é a creação de um valor exorbitan
te; aos do gastronomo uma profusão de novas de
licias; aos do caritativo um grande recurso pa
ra os pobres. O inventor é Mr. Coste; a arte in
ventada, e que tudo isto dá de si, tem por nome:
Piscicultura. Por ella, os tanques, lagos, canaes,
e rios, vão-se povoar aos cardumes de peixes es
- > colhidos, taes co
mO trutaS e Sal—
mões. A fecunda
ção dos ovos é fei
ta de um modo que
se pode chamar ao
mesmo tempo na
tural e artificial. Não descreveremos os appare
lhos e processos com que se prefaz este milagre;
diremos só que se prefaz, e que provavelmente não
tardará muito que todos os paizes do mundo (o nos
so provavelmente depois de todos os outros) se en
riqueção com a adopção do exemplo francez.
27 DE NOVEMBRO (Terça feira).
Rhétorica. — E' a arte de fallar muito e dizer
pouco.
376
28 DE NOVEMBRO (Quarta feira).
Fineza enigmatica.—Um discreto hespanhel que
namorava a uma senhora chamada Anna, formou
do nome este emblema. Pintou uma ancora com
esta letra:
En el medio está la pena
}' en los fines quien la ordena.

Metade do nome Ancora é: cor, que significa: o


coração; e as primeiras e ultima letras da pala
vra dizem : Ana, que nós escrevemos: Anna.
29 DE NOVEMBRO (Quinta feira).
ºpposição:-E' a sentinella que defende as fron
teiraS COnStitucionaeS.

virtuoso. —E o nome que muita vez se dá no


mundo ao que melhor occulta os seus vicios.
377
30 DE NOVEMBRO (Sexta feira).
A minha resolução.

O que fazes, ó minha alma ? Nasceaplanta, aplanta cresce


Coração, porque te agitas?Vai contente vegetando,
Coração, porque palpitas, Só por onde vai achando
Porque palpitas emvão? Terra propria a seu viver;
Se aquelle que tanto adoras Mas se acaso a terra esteril,
Te despresa, como ingrato,A's raizes lhe é veneno,
Coração, sê mais sensato, Ella vai n'outro terreno
Busca outro coração! As raizes esconder.

Corre o ribeiro suave Segue o exemplo da planta,


Pela terra brandamente, Coração ! porque te agitas?
Se o plano condescendente Coração, porque palpitas,
D'elle se deixa regar : |Porque palpitas em vão?
Masse encontra algum tropeço Se aquele que tanto adoras
Que o leve curso lhe prive, Te despresa, como ingrato,
Busca logo outro declive, Coração, sê mais sensato,
Vai correr n'outro logar. |- outro coração!

Segue o exemplo das aguas, Saiba a ingrata que punir


Goração ! porque te agitas? Tambem seitamanho aggravo;
Coração, porque palpitas, Se me tracta como escravo,
Porque palpitas em vão? Mostrarei que sou senhor:
Se aquelle que tanto adoras Como asaguas,como aplanta,
Te despresa, como ingrato, Fugirei d'essa homicida;
Coração, sê mais sensato, Quero dar a uma alma fida
Busca outro coração! Minha vida e meu amor.
Laurindo José da Silva Rebello.
- - (Brasileiro.)
373
1 DE DEZEMBRO (Sabbado).
Imposturas e crueldade de Mahomet. — Princi
piando a descobril'as e a publical'as um de seus
secretarios, mandou-o assassinar em sua propria
casa, e incendiar esta, dizendo ao povo que fôra
o fogo do céu que a consumira, afim de o punir
por haver querido modificar o alcorão.
Aproveitou das convulsões epilepticas a que
era sujeito, para persuadir a sua mulher que erão
extases durante os quaes vinha um anjo fazer-lhe
revelações sobre pontos de religião.
Mandou um dia esconder um companheiro seu
dentro d'um poço, e poz-se este a gritar lá debai
xo, ao passar o falso propheta, que « Mahometera
o enviado de Deus.» Receando depois que o ami
go o trahisse, mandou entaipar o poço, e ahi mor
reu o pobre infeliz !....
2 DE DEZEMBRO (Domingo).
A esmola e a mão.

Certa dama um patacão


Quiz de esmola a um pobre dar,
E elle indo-lhe a pegar,
Pegou na esmola, e na mão :
Fugio-lhe ella, e ele sisudo,
Lhe disse: «como sou pobre,
E tudo é da côr do cobre,
Cuidei que me dava tudo.» +++

pelº modos, a dama era mulatal...


2 DE DEZEMBRO (Segunda feira).
contrabando. —Voltaire, chegando secretamen
- te a Paris, e demorado ás por
tas da cidade pelos guardas
que lhe perguntaram se trazia
comsigo algum contrabando ;
respondeu: «Meus Senhores,
o contrabando que trago, sou
eu mesmo » (A. 51, 19 de Ou
3 tubro, A. 52 p. 120, 243, 249,
362. A. 54, p. 36).
4 DE DEZEMBRO (Terça feira).
charade.

Quem os teus dotes contasse,


Mulher, anjo, amor, portento,
Se a conta lhe não falhasse,
Encontrara bem um cento.

Se ao cavallo com tal laço,


Um pé a outro ligar,
Só durante curto espaço
Hade o triste caminhar.

Tem pelo e tem pontas, que move á vontade;


Tem pernas immensas, e é feia a valer;
Em casarões velhos, e na escuridade,
E onde, e só quando, costuma ###
389

5 DE DEZEMBRO (Quarta feira).


Me mellem. —Aos que não sabem d’onde vem
este dizer portuguez: me meliem se... diremos que
foi castigo, e atrocissimo castigo, nas Hespanhas,
pôr os criminosos nús, amarrados, ao sol, untados
de mel, e com as mãos presas, afim de se não po
derem valer d’ellas contra moscas, vespas, e mais
insectos, que lhes viessem fer
roar, com o que morrião deses
perados.
Uma atrocidade semelhante
era ja do tempo dos antigos per
sas, os quaes encerravao os seus
sentenceados por crimes graves
dentro em caixas, ficando-lhes
|- só de fóra as mãos e a cabeça,que
se untavam de mel e leite. Naquelle inferno, ím
moveis, á soalheira, padecião e aturavão até quin
ze e vinte dias, pois os obrigavão a comer e be
ber, com vontade ou sem eila.

6 DE DEZEMBRO (Quinta feira).


Luto de Frederico da Prussia. — Oito dias antes
de morrer, soube Frederico da Prussia (o Grande)
que os adelos e mercadores andavão comprando
e ajuntando quanto crépe podião. «Ah ! diz elle,
se soubesse que me havião de obedecer depois de
morto, mandava que o meu luto fosse côr de rosa;
que boa lição para os monopolistas e que favor para
# mulheres! » (A. 51, 23 de Janeiro e 15 de Maio).
381
7 DE DEZEMBRO (Sexta feira)

A devoção do barqueiro.

Onde vais tão socegado Não vês toldado o horisonte


No teu baixel a vogar, Pela escura cerração?
Tão devoto olhando sempre "Rugir não ouves o vento
As verdes aguas do mar ? Já desfeito em furacão?
Não receias essas vagas Não ouves de ti já perto
Que já vês encapelar? O estampido do trovão?

Não temes que a onda irosa Olha essa vaga espumosa


que ao longe sentes bramir, Que sobre o teu lenho vem!..
Esse teu lenho tão fragil Se salvar-te queres hoje,
Te possa agora afundir? Foge, foge para álem;
Vê que a procella vem perto, Procura porto, que um porto
Foge, se podes fugir! Sobre o mar ninguem o tem.
Não vês a chuva em torrentes E o barqueiro socegado,
Que se despenha dos céus? Sem ouvir um brado meu,
Na forte luz do relampago Luctando c'o a tempestade,
Queteassombra osolhos teus, Do mar a furia venceu,
Não receias, ó barqueiro, Por que devoto invocára
A potente mão de Deus? A Santa Virgem do céu !...
D. Maria Rita Colaço Chiappe.
8 DE DEZEMBRO (Sabbado).
viaho. — Jantar sem V inho é o mesmo que bai
le sem orchestra e boticario sem quina.
níqueza. – E o thermometro da cºnside"?
9 DE DEZEMBRO (Domingo).
Jorge Iv e Jorge Rei.—Subindo Jorge IV ao thro
no de Inglaterra, foi condemnado á morte o assas
sino Jorge Rei, que ao Monarcha pedio lhe perdoas.
se, em um gracioso requerimento, que fielmente
traduzido dizia assim:

* Jorge Rei faz ao Rei Jorge


Triste e humilde petição,
Esperando que o Rei Jorge
A Jorge Rei dê perdão.
Se o Rei Jorge a Jorge Rei
Fizer a graça pedida,
Jorge Rei a Deus implora
Ao Rei Jorge longa vida.»
10 DE DEZEMBRO (Segunda feira).
Frades afogados. — O Padre José Agostinho de
Macedo, em quanto frade da Graça, quasi nunca
deixou de comer no chão por castigo de traves
suras. Um dia, que pelas não ter feito, ou por se
lhe não saberem, estava á mêsa para jantar com os
outros padres, vendo que lhe punhão diante uma
plangana com meia dusia de feijões fradinhos n’u
ma caldivanada immensa, começou a despir-se a
toda apressa, com modos de afflicto e grandes ais.
— «Que faz, Padre?» — perguntou o Guardião.—
« Vou-me deitar a nado, a ver se salvo este par de
#giosos que se está afogando nas grandesaguas.
11 DE DEZEMBRO (Terça feira).
vigario do cerez, Mourella, e cabreira. — Nas
ovoações proximas ás serras do Gerez, Mourel
Í
a, e Cabreira, ha o antiquissimo costume de con
duzir, de Maio a Outubro, grossas manadas de vac
cas ás pastagens abundantes que alli se encon
trão, e d’onde regressão bem nutridas e possan
tes. No anno seguinte, demorando-se-lhes a parti
da, velº-as-heis decidirem-se sem mais ceremonia
a partirem sem pegureiro, de duas e tres léguas
de distancia, e por ingremes caminhos, para os
saudosos passigos, situados em reconditos val
#
! |11 ##> les. São curiosos
# # os regulamentos
|- _> DO # dos
} gados d’aquella
} boa gente. No 1.°
| de Maio elegem
ºs chefes
* milia de fa
um magis
trado a que cha
|-
Simão:Vigário,que
- > á sua custa brin
da os eleitores com a indispensavel pinga; faz-se
na sua presença o arrolamento exacto dos gados
(exceptuando às vitellas e as mãis que crião), ju
rão os donos, sobre a cruz d'um rosario, ser exa
cta a conta que dão, e alternativamente se obri
gão a conduzir e pastorear 300 ou 400 vaccas, sal
Vo se por acaso se despenharem por alguma ri
banceira, ou forem atacadas da perneira, "#
* dá no gado vaccum e lhe apodrece a carne. O
igario dá audiencia no primeiro domingo de ca
da mez, pune com multás as faltas dos pastores,
e regula quanto a tal objecto se refere, sendo mui
raro que se recorra ao juizo contencioso, mais
apparatoso sim, porém menos prompto.
E tambem admiravel o modo por que aquellas
manadas nos dias de calor sobem a tomar o fres
co da sesta nos pincaros do Gerez, seguindo-se
uma a uma pelos mais estreitos carreiros.
Os bois de ordinario pastão livres, e se diz: un
darem á suissa os que seguem como futuros pais.
• José Adão dos Santos Moura,
Abbade de S. Vicente da Chã.

12 DE DEZEMBRO (Quarta feira).


Barcarolla. — Dá-se este nome a certas cantigas
dos gondoleiros de Veneza, que muitas vezes lhes
improvisão a letra e algumas a
musica. O nome de Barca rolla de
ve ser derivado de . — Barca. A
poesia nem sempre é admiravel, e porem sempre
melodiosa. •

Nel porto di Livurno


E” giunto um bastimento;
Cara ! morir mi sento !
Mi sento, ó Dio, mancar!

. A mesma prosa italiana é verso. E' uma lingua,


diz M. "º de Stael, que tem mais espirito do que os
ue a fallão. •

85 • 25
13 DE DEZEMBRO (Quinta feira).
o grillinho da lareira. *
Como a noute está medonha =«Souviandante perdida. »
Como é forte a ventaneira!.. Diz uma voz feiticeira.
Como canta,e canta,e canta, =Abramos, quejá se escuta
O grillinho da lareira!... O grillinho da lareira.

Que escuro lá vai por fora!.. «Seja aqui a paz de Deus! »


Que trovoada rasteira ! «Venha com Deus, viageira»
Só não mostra que se assusta Assentou-se, e poz-seaouvir
O grillinho da lareira. O grillinho da lareira,

Rezemos á Santa Virgem, Oh ! que bom é o viver


Renovemos a fogueira: Em socego, sem canceira!..
Não temamos, que não teme E ouvir cantar sem cuidados
O grillinho da lareira. O grillinho da lareira.

Aijesus!quem bate á porta?! Eu fui rica, requestada,


Santo Lenho de Moreira!.. E nas festas a primeira;
Todos tremem; té se cada Zombaria então se ouvisse
O grillinho da lareira. O grillinho da lareira.

Se fosse coisa ruim, E vivi vida folgada


Não fôra a porta barreira; Té ouvir voz traiçoeira!..
Viera té onde está Ai de mim ! antes ouvira
O grillinho da lareira. O grillinho da lareira.
* Os termos em italico d 'esta mimosa poesia são lo
eaes, e geralmente empregados na Maia e suas imme
diações.
386
Mas deixei a minha terra, (« Pois terá aqui abrigo!..
Fui trahida, e forasteira, Quemgeme énunca estrangeira:
Sem abrigo, e sem ouvir Comnosco fique-se ouvindo
O grillinho da lareira. O grillinho da lareira.

É tarde, toca a dormir:


Continua a inverneira !
Sósinho cantar deixemos
O grillinho da lareira.
Maria Peregrina de Sousa.
14 DE DEZEMBRO (Sexta feira).
Bonzos. — E o nome generico dado pelos portu
guezes aos padres do Japão, desconhecido porém
aos orientaes. Emprega-se hoje, para designar não
só os padres d’aquelle imperio, mas tambem os da
China e da Cochinchina. Convem todos em tres
cousas, a saber: no fingimento do celibato, na abs
tinencia de carnes e pescados, e em trazer a ca
beça e a barba rapada, em signal de desprezo do
mundo. Ha mais de 900 annos que um Rei do Ja
# escolheu a cidade de Meaco, para n’ella edi
icar 3,800 templos, sob a direcção de bonzos; fi
caram porém, com o andar dos tempos, reduzidos
a 800. No anno de 1551, assolaram os bonzos parte
do reino, e acommettidos em seus templos pelo
Rei do Japão, derrubou este a maior parte d’elles, e
tirou a vida a quantos bonzos lhe cahiram nas mãos.
Não poucos se encontrão hoje mendigando pela
China e abusando por toda a parte da credulidade
do povo.
387
15 DE DEZEMBRO (Sabbado).
Ao Snr. A. F. de Casti RHao.

NO ENCERRAMENTO DO CURSO NORMAL DE


LEITURA REPENTINA.

MEMORIA.

Salve! genio sublime, que soubeste


Com próvida intenção,
Trocar em louro a cºrôa de cypreste
A vate em aflicção "...
E do Universo á voz, a que fugia,
Disseste: «Ella aqui está !....»
Pude arrancal'a às sombras da agonia!...
Acolhe-a; é tua já !...
E' nossa.» E desprendeste os sons á lyra
Que só vibravão dor!
Já da Patria aos laureis ufana aspira;
Já tem vida e fulgor!
Já tenta o genio, as azas despregando,
Os astros demandar;
E espinhosas veredas afrontando,
Comtigo caminhar! •
Só co'a rasão, que lhe reflecte n'alma,
Quer teu brilho seguir;
Plantar tambem a grandiosa palma
Que ha-de erguer-se ao porvir! 388
Mas ai!... nesses desertos, que de abrolhos
Havemos de sofrer!...
No mar que atravessarmos, que de escolhos
Teremos a vencer!...
Porém firmes a voz nunca escutemos
Da lisonja servil;
Sempre a verdade; e impávidos marchemos
Com alma Varonil!

Nossos nomes já mais separe a inveja;


Nossas almas já mais
Em discordia fatal o mundo veja!
Sempre, sempre leaes!
De amigos ajudado, sente ao menos
Suave o peso á cruz!
Prosegue!... dá-nos dias mais amenos
De esperança e de luz!
Prosegue!... que o teu norte seja a gloria,
Seja o bem do paiz!
Prosegue, que o Senhor dá-te a victoria,
E a nação te bem diz!
A ti, genio sublíme, sempre os passos
De perto seguirei:
Da amizade fiel antigos laços
Sempre respeitarei.
E quando, já vencida a longa estrada,
Repousares em paz;
A sombra de teus louros recostada,
Comtigo me verás. •

D. Antonia Gertrudes Pusiek.


389
16 DE DEZEMBRO (Domingo).
salsaparrilha. — E' uma planta da America Me
ridional, cujas raizes, compridas e fibrosas, são
de grande uso na medicina. No commercio reu
nem-nas em feixes volumosos. Ha-as de varias
especies; a de Honduras, a de Caracas, e a da Ja
maica: é a esta que de ordinario se dá a prefe
rencia. Todas ellas contém grande porção de gom
ma e certa materia a que se attribuem as virtudes
sudorificas da salsaparrilha. Toma-se em cosimen
to, e emprega-se em todas as molestias que re
querem o uso dos sudorificos, taes como os rheu
matismos chronicos, certas afecções cutaneas,
etc. etC.

17 DE DEZEMBRO (Segunda feira).


Eu, ella, e vós.—Pedindo um hespanhol, por no
me Antonio Pimentel, a certo poéta de cujo nome
me não recordo, uns versos para Lucinda,sua aman
te, nos quaes só entrasse elle, ella, e o poéta, se
quizesse, fez-lhe este a seguinte chistosa poesia:
Don Antonio Pimentel
(Aqui entra el)
Unos versos me pidió
(Aqui entro yó)
Para Lucinda la bella
(Aqui entra ella):
Y esta la poesia es
En que entramos todos tres.
18 DE DEZEMBRO (Terça feira). \
salamandrº.—E' um reptil muito parecido com
a lagartixa. Durante largo tempo julgou o vulgo
que vivia dentro do fogo, e não faltão ainda almas
crédulas que d’isso se persuadem. O que todavia
é certo, e não menos singular, é que se se lhe cor
ta uma parte qualquer, dentro em pouco lhe tor
na a crescer, como ao caracol, a propria cabeça
(A. 54 p. 273). Os olhos mesmo lhe tornão a appa
recer outra vez depois de arrancados. Para dar
cabo d'ella basta deitar-lhe por cima um pouco de
sal ou de tabaco.

19 DE DEZEMBRO (Quarta feira).


Assassinos. — E o nome de uma seita de mata
dores, acerrimos defensores da lei de Mafoma, com
tão cega e cruel obediencia ao seu Principe, a quem
chamavão: o Velho da Montanha, que mandados
por elle se expunhão a todos os perigos e a todo
o genero de supplicios, principalmente para tirar
a vida a Principes christãos e varões illustres cu
jo poder temião e de cuja amizade desconfiavão.
Tornou-se famosa no tempo das cruzadas e foi go
vernada 172 annos por uma dynastia de 8 Sobera
nos. A Capital do seu pequeno principado era May
sout, Cidade situada nas montanhas do Ante-Liba
no. Por duas vezes esteve o illustre Saladino pa
ra ser assassinado por elles. Ameaçado um de seus
chefes pelo Sultão, ordenou a um de seus solda
# se precipitasse do alto d’uma torre, e a outrº
se apunhalasse,o queimmediatamente praticaram,
dizendo por essa occasião o chefe dos assassinos
ao enviado do Monarcha: «Dizei a vosso amo que
tenho 70,000 homens assim.» Não admira que um
homem armado de tal poder se tornasse temivel
ao mundo inteiro. Chegara a estabelecer como
dogma religioso a crença n’uma vida futura cheia
de delicias, e como dogma politico a mais abso
luta dedicação; desorte que não tinha mais do que
designar uma victima para que logo se lhe arran
casse a vida. Foram mortos por elles, o Impera
• "\">

----
=>=

dor Conrado, o conde Raymundo Tripolitano, e


Duarte, filho do Rei de Inglaterra. Dizem que
erão senhores de 10 ou 12 Cidades nos contornos
de Tyro ou Phenicia. Assevera Hosmanno que pos
suião mais de 40,000 castellos, bem munidos, e
ue seu instituidor fôra um tal Alaodim, no anno
}00. Deu-se depois o mesmo nome aos que matão
á traição, ou de proposito e caso pensado, os que
matão por dinheiro ou peita, e geralmente fallan
do, os que commettem homicidio Voluntario.
20 DE DEZEMBRO (Quinta feira).
Dialogo entre o Pai Matheuso e a Mãi cassarina. "
Mãi Cassarina. Mãi Cassarina.
De que rize, Pai Matheuso? I Jasu ! que trapaiada!...
De que dás o gargaiada ? O Lisboa está tonta!...
E' de me ver rinigada?
I Jasu! vaia-te Deuso !... Pai Matheus0.
Cara, cara, que faze conta
Pai Matheus0. Todo essa embruiada.
Cassarina, ha mais d'um mezo Os parede quer caiada
Que adivinho esto função: I gana os pleto dinero;
O Lisboa in confusão Já nan leva os estrangero
De aléglia está glitando: As somas de Portugare;
«Não quero estar pelos mando Leva vinho, leva sare,
Do Sioro DoM ZoÃo. Lá p'ra o Rio de Janero.
Mãi Cassarina.
Y que é feto do Regença?
Pai Matheuso.
Isso já escangaiou-se:
Toda a tropa alevantou-se
Contra Sua Excellença.
Mãi Cassarina.
Ora ! sempre és bem creença!
E se viere os Maréchare?
Pai Matheus0.
Já não hade governare,
Que es um Duque intoruso;
Vai com Maria do Luzo
Pés de burro apanhare. J. C. C. Valente.
* Foi composto logo depois da revolução de 1820.
39?
21 DE DEZEMBRO (Sexta feira).
Diamantes. — Parece, que até pouco tempo an
tes da morte de Maria Thereza d’Austria, se usa
vão pedras de côr e pérolas nos adornos, e que só
de então para cá é que os brilhantes começaram a
estar em yoga na França, e a generalisar-se pela
Europa, obtendo a preferencia sobre todas as ou
tras pedras preciosas. O diamante é de todas as
edras a mais dura, a mais pesada, e a mais bri
# Deve ser inteiramente claro, ainda que
alguns ha de côr. Resisteá lima, e não pode ser po
lido senão com a sua mesma limadura. Tem pro
priedades fosforica e electrica. São mais ou menos
estimados segundo a côr e o gráu de sua transpa
rencia. Se tem alguma imperfeição na fórma ou na
côr da agua, ou algum ponto escuro no interior,
perde muito do seu valor. A regra para a sua ava
liação é o quadrado do seu pêso. Reconheceu-se
ultimamente que o diamante arde, lançando uma
chamma # que se consomme, e mesmo
se evapóra no crizol, com um gráu de calor menor
que o necessario para fundir a prata fina. As mi
nas mais notaveis são: Gani ou Colur, a 40 léguas de
Gasconda. Rasconda, a 60 de Visapur, Latawata, e
Sumelhur. Ha tambem abundantes minas de dia
mantes na Ilha de Bormeu, no Brasil, e em Malaca.
Claudino Augusto Cezar Garcia.
22 DE DEZEMBRO (Sabbado).
Moda". — E' uma contribuição que a industria
do pobre impõe sebre a vaidade do rico. 394
23 DE DEZEMBRO (Domingo).
A paz da noute.

Noute ! oh ! noute! que esplendida refulges,


Com teu escuro manto recamado !...
Como essas tuas galas magestosas,
Esse aspirar das auras vaporosas,
Como esse arfar do Tejo prateado
Vem acordar-me a lyra!
A lyra que se espande em harmonias
Sob este céu, rival do céu da Italia!...
O bardo, sobraçando-a, olhou ao Norte!...
Contristão-no esses canticos de morte,
Que de lá lhe retumbão té á Gallia!...
Em mudece e suspira!
Suspira sobre a triste humanidade,
Que as arduas illusões de marcios louros
Em fervidas phalanges arrebanhão
Nas plagas que o Mar Negro e o Caspio banhão,
cruaambições
Votada áDas ceifa dosá pelouros,
mira!... •

E o bardo, refugindo a inuteis prantos,


Recluso dos penates no sanctuario,
Evoca perennaes os dons profusos
Da paz risonha que bafeja os lusos!
Quer que as victorias só do ferro agrario
Lhe engrinaldem a lyra!
Alexandre Magno de Castilhº.
395
24 DE DEZEMBR0 (Segunda feira).
Como um poéta paga as suas dividas. — Devia o
poéta Fernão da Silveira cinco tostões a um ho—
mem, e ainda que o virassem de cabeça para bai
XO e o sacudissem setecentas vezes, não sahiria
d'elle com que lh'os pagar. Apresentando-se-lhe
um dia em casa o crédor a pedir o seu dinheiro,
recebe-o o poéta com toda a cortezia, e tomando
uma vióla lhe canta n’ella uma trova, depois se
gunda, sem intervallo, depois ter
{\*><\#
>
ceira, depois quarta, depois quinta,
depois sexta, e arrumando o instru
*=>>>2" mento lhe diz com o tom mais cor
tez e amoravel: « cada uma das trovas que ouvis
tes, não a cantaria eu, fosse a quem fosse, por me
nos de tostão; fica por tanto saldada a nossa con
tinha com as cinco primeiras, e a outra que resta
tenho eu muita satisfação em v'ol'a oferecer de
graça. » Defenda-me Deus, responde o bom ho
mem, levantando-se para sahir, e mettendo a mão
á bolsa : «Defenda-me Deus de tomar o alheio! aqui
tendes o tostão que vos devo, e mais este meio,pe
la lição que me déstes, para nunca mais empres
tar a quem põem as dividas á viola.
25 DE DEZEMBRO E (Terça feira).
Festa do Nºtal. — A Igreja não tem maior so
lemnidade. E o ponto a que se prende o princi
pio da redempção, sendo do nascimento de Chris
to que data a era moderna das nações civilis",
Tres missas pelo mesmo sa
cerdote, e nocturnas, só as
tem este dia. O Natal é festa
de cidades e campos; desde
as cathedraes até ás choupa
ninhas resplandecem prese
pios illuminados. A casa mais
pobre tem o seu banquete da
meia noute, os seus sobrados
escasqueados, a sua cozinha
caiada e laureada, as suas
|- broas de mel, as suas filhós
aboboradas, os seus folares de ovos pintados;
deitão-se fatos novos para as boas festas, e gra
ças a ellas muitas reconciliações se realisão.
As creanças com rasão chamão sua á festa do
Natal.
A ridente usança dos paizes do norte, conhe
cida pelo nome de: Arvore do Natal (4.51, 25 de
Dezembro) principia a introduzir-se em nossas
terras. Ainda bem!
Ao cepo da fogueira do Natal, e bem assim aos
cotos das velas que alumiaram a festa, attribuem
os nossos camponezes grandes virtudes (A. 51, 25
de Dezembro. A. 52 p. 377). |

26 DE DEZEMBRO (Quarta feira).


charade.
Muitas serpentes 2
E alegrias 2
Tenhão Vossas Senhorias. ###

397
27 DE DEZEMBRO (Quinta feira).
o amor de Raspail. — « Haveis podido já mais
encontrar uma vez sobre o caminho que vos con
duz ao termo da vida, um ser semelhante áquelle
que uma vez haveis adorado? Haveis podido en -
contrar duas vezes em vosso coração essa arden
te inspiração, essa suavidade de esperança, esse
frenesi de desejos, esses espasmos de deliciosa
voluptuosidade, que elevaram a vossos olhos o
ser amado á altura do céu, a felicidade de se sen
tir amado á altura d’uma victoria e da conquista
d'um imperio? Haveis podido assim amar duas,
vezes? Haveis podido? Dizei-m'o, a fim de que eu
vos admire.»

28 DE DEZEMBRO (Sexta feira).


Bivorcio entre o mérito e a fortuna. — D. João
de Palafox, perguntado pelo Marquez de Torres,
Mórdomo mor, sobre o que lhe parecia a côrte,
respondeu:
Marqués mio, no te asombre
Ria y llore quando veo
Tantos hombres sin empleo,
Tantos em pleos sim hombre.
29 DE DEZEMBRO (Sabbado).
+

Remorso. — Inferno terrestre: consola os bons


da prosperidade dos máus. 398
30 DE DEZEMBRO (Domingo).
valle das Furnas. — Das Furnas se chama na Ilha
de S. Miguel um vasto, fresco, amenissimo, e de
licioso Valle, conhecido e procurado por gente de
longe, em rasão da abundancia, variedade, e gran
desvirtudes, de suas aguas thermaes. E' a Cintra
d'aquella Ilha nos verões. Os que não necessitão
das aguas ferreas e das sulphureas, que por alli
borbulhão e rebentão em abundancia, nem por is
so deixão de ir, podendo, tomar lá alguns dias de
recreação. Por baixo d'este valle ardem ainda fo
gos volcanicos, d’estes que tantas vezes têem aba
lado violentamente aquelle e os outros terrenos
do archipelago açoriano, sendo a existencia d'es
tes fogos revelada, não só pela alta temperatura
das nascentes que em muitos sitios fervem em ca
chão, mas tambem por espessas fumaradas, pelos
estrondos subterraneos, é pela incrivel força que
de baixo se influe á vegetação.
Sobre o valle das Furnas publicou uma curiosa
e erudita memoria o Snr. Commendador Bernar
dino José de Senna Freitas.

31 DE DEZEMBRO (Segunda feira).


. . Esposa. — Mulher que jura obediencia ao mari
do, e que as mais das vezes se faz obedecer por
elle.
FIM.

399
**
ALMANACH

DE LEMBRANÇAS
LUSO-BRASILEIRO.
Les longs ouvragés me font peur :
Loin d'épuiser une matière,
On n'en doit prendre que la fleur.
- LA F0NTAIN S.,
ALMANACH

LE#######5
* US%3-BRAS##, E#R9
EºA ERA E $5:G,
COM 426 ARTIGOS E 126 GRAVURAS,
POR

ALEXANDRE MAGNO BE (ANTILI(),


2.A cºm A Rºk roRMAno EM MATHEMATICA PELA UNIVERSIDADE DE colºr: RA,
cAvAznal Ro LA, oRDEM DA conceição,
MBM ano Do INs fr: Uro III.sroRico Dr FA ais,
na Associação INDUSTRIAI, PoETvense,
DA soci RDA os Dos ANTIQUARios De sAixº-o atea,
DA pos AMíGos DAs LETRAS E ARTES DE são Miaczi,
DA so CIBLA DE AGRICOLA MADEIRENSE,
»o exNTRo 1 Roxo roR DA INSTRUcção DE BEratº,
Do INSTITUTO COXIM BRICENSE,
DA ACADEMIA DE RHO DES,
DO INETITUTO AFRICANO DE PAR 1.8,
BA socisa Aºk PRoMo reRA DA AGRICULTURA MIR HALENsE,
E f C., E º G., Eie.

ELES BOA •
TYPOGRAPHIA UNIVERSAL.
RUA Dos CALAFATEs N.° 113.
1855
Les longs ouvragés me font peur :
Loin † une matière,
On n'en doit prendre que la fleur.
- LA F9NTAINE,
ALMANACH
DE

L#RANÇAS ?, US 3-BRAS#####R9
EºA ERA E $5:G,
COM 426 ARTIGOS E 126 GRAVURAS,
POR

ALEXANDREMAGNO DE CAMILIO,
# A cuíA RSR. rof. MADO EM MATHEMATICA PELA UNIVERSIDADE DE colºr=RA,
eAYAknRIRp DA o RDEM DA conceição,
MT\iiiRo DO ENST 1: UTo HISTORICO DE #A aís,
DA Associação INDUSTRIAI. PoRTvensE,
DA socíRDADE Dos ANTIQUARios De sAIX -oarea,
DA E os A MiGos DAs LETRAS E ARTES DE são Hi GºEL,
DA SOCIESPADE AGRICOLA MADEIRENNE,
»o esNTRo ProMoron DA INSTRUcção PE beta",
Do INSTITUTo coxiMBRicexsk,
DA ACADEMIA DE RHO DES,
DO INSTITUTO AFRICANO DE PARIS,
BA socis#Abk PROMoro RA DA AGRICULTURA MIRCHALENSE,
Ef E., E. G., Isº é.

ELE SEGDA.
TYPOGRAPHIA UNIVERSAL.
RUA Dos CALAFATEs N.° 113.
1855
DUAS PALAVRAS.

D.…… o ALMANACEI DELEMBRANÇAs


esforçar-se por corresponder cada vez mais ao lisongei
ro acolhimento do Publico, será impresso todo em typo
novo o immediato de 1857. Nada, por outro lado, deixará
a desejar, a mitidez da edição, a qualidade do papel, e a
belleza das gravuras.
De 20,000 mil exemplares é a tiragem do presente am
no ; de 24,000, provavelmente, será a do seguinte.
Em todas as capitáes de districto em Portugal, e em to
das as grandes cidades do Brasil, se achão depositos dos.
precedentes Almanachs, a que muita vez me refiro: con
virá ler sempre os artigos de taes referencias, afim de
colher maiores noções sobre o objecto de que se tracta,
e que o pequeno quadro em que devo circumscrever-me,
me não permitte quasi nunca desenvolver. Facil está de
reconhecer que é muito menos como Almanachs do que
como volumes successivos de uma pequenina, amena, e
instructiva #*#*# que estes meus livros devem
ser considerados. A collecção d'elles encerra materia
disseminada por milhares de volumes, e muita que nun
ea havia visto a luz publica.
A todos quantos em tal empreza com a maior delicade
za e bondade me coadjuvão, repito aqui os meus sinceros
e cordeaes agradecimentos.
Os artigos não assignados são todos de minha compo
sição e por sua doutrina me responsabiliso.
Alexandre Magno de Castilho.
5
N. B. — Por ser diferente a paginação das duas edi
ções do meu Almanach de 1851, fiz as referencias de ar
tigos d’este, em relação, não ás paginas, como para os
outros annos, mas aos dias do mez.
A. 52 p. 86, significa: Almanach de 1852, pag. 86.
A. 53 p. 58, Almanach de 1853, pag. 58; e as
sim por diante.
Os artigos são todos independentes uns dos outros; as
referencias são tão sómente, repito, para que pela mesma
occasião se leia o que ao mesmo assumpto se acha mais
ou menos ligado. •

CEaaradas do AIEmanacia de I S55.

Pagina 34 — APOLLo.
152 — MAÇARocA.
216 — ARDOR.
. 242 — PATARATA.
276 — CoRPo.
287 — PERUA.
318 — MARÉ.
371 – EMIL1A.
380 — CENToPRIA.
» 397 — BOAS FESTAs.

N. B. As palavras das Charadas d’este Almanach se


rão publicadas no de 1857. No emtanto vão pensando.
&################################################

# Se ºutroras cºzjos mornaes Fadºrarão as Pa- #


# gi Raias digº Rºareseeate ARMananagacias #
Ill.mas Ex.mas Snr.as #
D. ANNA AMALIA DE SÁ. #
ANONYMA PORTUGUEZA. #
D. ANTONIA GERTRUDES PUSICII. É
D. JULIA..... #
D. MARIA CANDIDA P. V. {
D. MARIA DO PATROCINIO DE SOUSA. #
D. MARIA JOSÉ DA SILVA CANUTO. #
D. MARIA PEREGRINA DE SOUSA, e
#
D. MARIA RITA COLLAÇO CIIIAPPE. # ;';

D. MATHILDE COELHO PESTANA. }


{}^^

OBSCURA PORTUENSE. #
1{

# D. PEREGRINA J. DA SILVA BENEVIDES.


}
SOROR DOLORES.
^ }
y.
}#
<» …><><><><><>
$<>GSGSOSOSQS->OSÕSQS->$3<><>

Cavalheiros cujos anomes honrão


as paginas «lo preseFate
AIERA BRIR ERCIR»

A. I. P. Tatagibu (Brasileiro).
{
A. J. S. de Cabedo.

Alexandre Braga. }
{@
Anonymo (Brasileiro).
Anonymo (Portuguez).
Antonio Alcalá Galiano.

Antonio Cyro Pinto Osorio (Brasileiro).


D. Antonío da Costa Macedo.

Antonio da Cunha. !
Antonio de Macedo e Silva.

#
#=º=e=e=e=s=º Se>

A
\ Antonio Feliciano de Castilho.

Antonio Freire de Serpa Pimentel.

Antonio Gomes Nogueira Accursio das Neves.

Antonio Gonçalves Dias (Brasileiro).


Antonio Maria do Couto Monteiro.

Antonio Pereira da Cunha..

Antonio Xavier Rodrigues Cordeiro.


A. P. S.

A. U.

Augusto Cesar da Silva Mattos.

Augusto Emilio Zaluar.


Bluteau.

Constancio (Brasileiro).

$)
E (Brasileiro).
Emiliano Antonio de Sousa.
{
Ernesto Marecos.

F. M. Trindade.

|
{{
?
Francisco Alvares e Souza Carvalho.

Fr. Francisco de Monte Alverme (Brasileiro).


Francisco José d’Oliveira Sampaio
#|
(Brasileirº).
Francisco Pereira Barbosa Nogueira.

{}
Francisco Raphael da Silveira Malhão.
F. X. de Novaes.

Gongora.
Guilherme Centazzi Junior.
|
Inhato-Mirim (Brasileiro).

|
Jacintho Augusto de Sant'Anna e Vasconcellos. {
Jacintho José de Proença Azevedo e Carvalho. }
J. d'Araujo Jusarte. { }
J. da Costa Cascaes.

J. G. de Barros e Cunha. i }
João Augusto de Souza. #
João d'Andrade Corvo.

João de Lemos Seixas Castello Branco, {


Q)
João Felix Pereira. {%
João José Ferreira dos Santos.
{
Joaquim José Ferreira Campos. }
Q
Joaquim Vieira Botelho da Costa (Brasileiro). {
>
José Antonio Mangas. \, #
V
@
{}
SeSQS9<>GSG<>GSG-EGS9
*1
# José Augusto Corrêa Leal. #
# José Corrêa de Barros Coelho, #
#3

# José Ignacio Cardoso.

# D. José Maria da Piedade Lencastre.

# José Maria do Casal Ribeiro.

José Pinto Saraiva de Meirelles Falcão.

José Victorino Ventura Pinheiro.

Julio Cesar Machado.


fé}

# • •

Julio de Castilho. #
#

# Lopes de Mendonça. #
#

# Luiz Filippe Leite. #


#
#
# Manoel Antonio Alves d'Azevedo (Brasileiro). #
#
#
Marquez de Maricá (Brasileiro). #
#8
g ft:

12
Pedro Cervantes de Carvalho Figueira.

Pedro Pereira da Silva Guimarães (Brasileiro).

Raymundo A. de Bulhão Pato.

S. P. M. Estacio da Veiga.
D. Thomaz de Noronha.

Visconde d'Almeida Garrett.

Visconde da Pedra Branca (Brasileiro).


INDECE
Dos ARTIGOS CONTIDOS NESTE ALMANACH.

A Anatomia ............ 369


Animaes excommunga
dos .. ... --.........
Abdicação ........... 144. Animalinho poético... 102
Acaso - - - - - - - - - - - - - - - - 248 Antes que cases olha o
Achanto ..... • • • • • • • • . 315 que ia ZeS. . . - - - - - - - - 3
Achaque de barbeiros. 145 Antiguidades d'Aguiar
Achar um furto sem des da Beira............
cobrir o ladrão ..... 164 Apotheose ............. 167
Acrostico........... ... 146 Aqueducto das Aguas
Actriz (A) e o crédor... 139 ivres . . . . . . . . .
Adhesivo para callos .. 382 Arauto....... • • •.
Adoração dos Magos... 100 Arca d’alliança.......
Agencias auxiliadoras Arca de Noé .......... 225
do commercio....... 324 Argamassa chineza.... 153
Agua de Seltz ........ 205Ariete....... 212 • • • • • • • • •

Aguias na Grã-Breta Arlequim ou Arlequi


nha .......… - - - - - -. 143 I10 • • • • • • • • • • • • • • • •
Albarda.... ... 292 Arvore de La Pérouse. 320
Almanach ..... . 259 rvores de Calaveras... 180
Almanach chine ... 11 shantis .....
Vaile da Asphalto...... ...
A}edrinha,
orre, moédas ro Assassinio compassi
ITlö [188 • • • • • • • • • • . . . . 286 Asteroides........
Alpujarras... |
Amor ............ . . . . 132 Atoleiro de nova espe
Amor e coadjuvação... 345 C18, . . . . . . . . . - • • • • • • 207
Amor maternal....... 330 Aurora boreal ..... . . . 299
|

Ausencia ............. 267íCamaleão . . . . . 23


*
Avareza ....... • • • • • • • 322 Caminhos de ferro na
Inglaterra . . . . 157
B Camões e a Patria. 147. 325
Campainha electrica. . 262
Canal aéreo . * . 379
Baíle (O)............. 361|Candeia que vai adian
Bailes mascarados .... 137 te . . . . . . . 356
Baixo relevo.......... 306 Cantico do Estio . . 244
Balouço ........ • • • • • • 125Capella do Santissimo
Balsaminho ou Balsa- em Toledo . . . 125
mina. .............. 155|Capella milagrosa . . 252
Balsamo.............. 114|Capital da Persia. . 144
Bancarrota........... 169 Caprotinas . . . . . 246
Bando para a festa de Carlos V e D. Antonio
S. Gonçalo.......... 104 de Leyva. . 210
Baralho .............. 194 Carne e tutano. . . . 220
Barão de Catania..... 1160arruagens armadas em
Barometro natural .... 258 guerra. . . . . 304
Barro de fama ... . 108|Casamento . . . . . 179
Belgica .............. 281. Carvalho de séculos. . 252
Benção dos cavallos... 110 Castro d'Avellãas. 218
Bispo de Cahors e Vis- Cataracta do Niagara. 289
conde de Cessac .... 357Cataventos. . . . . 205
Bolinha que parecem Cathedral d'Assiz. 314
2359eia magestosa
duas. .............. 296
Bom prégador (Um)... 145 Celeste imperio . 191
Braços cruzados ...... 378 Cereaes . . . . . , 181
Cerejeira milagrosa. . 291
-
C •
Charadas, 107,201,
179, 176, 114, 123,
211, 141
217
. Cadaver cortez. . . . 220 235, 254, 263, 276, 309
Cães da Terra Nova. . 313 315, 322, 346, 359, 365
Calçado: . . . . . 103_. e . . . .....:. . 372
California . . . . 146 Charutos de Manilha. 107
Calor e frio nas zonas Chócos . . . . . . 166
glaciaes . . . . . 180Chorar pelo movilho. .380
Cintra . . . . • # Cylindro monstruoso . 216
Cirio da Nazareth . 2
Clepsydros. . . . . 236 D
Cochonilha. . . . . 150
Coincidencia politica. . 133
Coiro e cabello . . . 219 Dadiva de Rei. .
Como se enterravão os Dagoberto 1, Rei de
Reis de França. . . 241}_ França . . . . . 162
Como se torna leve um Dahlias . . . . . . 173
corpo pesado . . . . . 205 Dedicação maternal. .. 371
Congresso meteorologi- Defensa contra inimi
CO - . . . . . . . gOS. . . . . . .
Conjuração dos Ta- Deficit . . . . . . 183
moios . . . . . . 311Defuncto . . . . . 156
Conservação natural de
cadaveres . . . .
Dentista. . .
184|Descobrimento
.
do Me
. . 261

Consolação para calvos ,..., xico. , . . .:. . . !


e desdentados . . . 213 Desejos do coração . . 109
Convento descommu- Desengano para préga
nal. . . . . . . 177 dores . . . . . .
Coral. . . . . .:: .. 370Destino: . . . . . 343
Corôa. . . . 130 e 179Diamastigos . . . . 160
Corôa d'Inglaterra . . 234|Dias sanctos . . . . 194
Correspondencia ma- Diferença das horas nos
gnetica?. . . 148 diversos pontos do
Corsega. . . . . . . 352_ . globo. . . . . . .
Cortezia d’uma ban- Diminuir um copo de
ca . . . . . . . 133 vidro . . . . . . 227
Cousas em que se não Direito de mão mor
pode acreditar. . . ta . . . . . . . 217
Crenças populares doMi- Divida enorme . . . 204
nho. . . . . . . 271 Dizer (O) e o fazer . . 272
Cretins . . . . . . 273D. Alvaro de Castro. . 160
Cruz do deserto (A). . 303 Domine non sum di
Cuidado com a campho- gnus . . . . . . . 208
ra . . . . . . . 171Domingo. . . . . . 210
Cura . . . . - . . . . . 185Dôr de mariz . . . . 122
17
Dous ataques ao Rio de E ortação de chá na
Janeiro .
Doutora (Uma)
. . . .
# ?hina. . . . 124

F
E Fabrico d'alfinetes . . 329
Farinha de bolotas .. . 280
Febre amarella . . . 365
Feónomia. . 204, 310 Febre salvadora . . . 191
Edificações na China... 317 Fidalgo (Um) . . . . 223
Elephante (ó) é o Rhi- Filippe e Farmenião. . 137
noceronte . . . . 141. Fome. . . . . . . 312
Elephantes prendados. 157|Fosseis . • . 331
Emenda subita . . 312 Fox e os Quakers. . 198
Enxerto de nova espe- → Fra Diavolo • 29
cie . . . . . . . . 228Franqueza de creança. 293
Epaminondas réu . . 132 Fr. Francisco de Mon
Epitaphio , . . . 182 te Alverme . . 203
Epitaphio do Marquez Fumo. . 193
de Maricá . . . . 326|
Epitaphio de Ménage .381 G
Eremita (0) . . . . 174
Eschola dá experien- Garrett (A). . . 358
cia. . . . . . . 285 Gato . . . . . . . 34
Espada . . 1996erminação prodigiosa, 197
Espirito religioso dos Gloria (Uma) de Tran
habitantes de Ben COSO 1
guella. . . . . . . 307 Gomma elastica . . . 278
Estatistica conjugal. . 202 Grande mariz . . 97
Estatua de Shakes Gratis. . • .290
peare . .. . . .
Estrella do Sul . H
Estrellas cadentes .
Exercicio para fazer Harpa éolia, . . . . 149
COTTGT. . . . .. . 337 Haverá felicidade no
Existencia de Deus . . 341 mundo ? . • . 327
Exportação d'arenques. 111 Hayti. . • . . 256
18
Historia d'um violino. 3#
João Tição. - . . 186
Homem artificial, . 332 Jogos floraes . . . . . 189
Honra . 296 Jornada da Lourinhã. 98
Hora de comer . 284 Jornalismo inglez . 294
Hydropathia . . 328 Juramento. . 227
Hyena . . . . . . 124
Hymno, ao Sr. Antonio L
Feliciano de Castilho. 333
Hymno da Sociedade dos Lago d'enxofre . 290
Amigos das Letras. . 226 Lamentos . . . . 310
IIypocrisia. . 251 Latim de Cicero . . 364
Leão domado . . 122
I Lembrete a eruditos. . 339
Licor divino . . . . 379
Ilha do Sal. • . 118 Lima e Ponte de Lima. 258
Ilhas Sandwich . 257 Limonada gazoza. . . . 249
Illusão celeste. . 337 Lisboa e Constantino
Imperador Commodo, . 99 pla. . . . . . . . 335
Imperador de Hayti. . 332 Logares memoraveis. . 353
Imperadores romanos. 307 Loquacidade das mu
Impostor até morrer. . 261 lheres. . . . . . 200
Influencia da lua na ve Luz electrica . . . 102
getação • • • 2 Luz mysteriosa . . 267
Instincto e memoria
d'um cão. •
M
Instituto Africano . . 178
Integridade de territo- 279 Maçãs. .. . 253
I'IO Madeira. . . 206
Irmão % • • • •

de meu tio, 319 Magdalena (A) . 376


Italiano (O) e o cavallo. 264 Malaga . . . . . . 172
Marechal Saldanha e
J Coronel Pacheco . . 108
Marietta Gresti (A Sr.º) 242
Jasmim (0) . . . 239 Medicina • • . 165
Jejum d'Abbade . . 360 Medico de nova especie. 161
Jeremias Bentham . . 136 Meio de evitar que o
#" Seymour. . . 331 sangue suba á cabeça. 273
Melões . . 140 Napoleão e a dança. . 127
Meu ramo (0). . . 221 Napoleão e Bonaparte. 285
Meu testamento (0). . 229 Neve incarnada . . . 1
Minha terra (A) . • 196 Nome de Pedro (O). . 176
Miscellanea. , 222 Nomes originaes. __ 220355
Miserias da vida. . 314 Noute de S. João (Na) .. 233
Missão (A) do christia
nismo e as Ordens

applicação da col
8
Monasticas. 300 Novo emprego da ele- 3
Modelo , de paciencia. 151|_ctricidade . 67
Modelo de requerimen- Novo fogo gregez. . . 351
tos. . . . . . . 364|Nuvens . . . . . . 368
Modo de afugentar os
ratos . . . . . . O
Molestia das vinhas. . 292
Monge (O) e o Vian
dante . . . . . . 1880bra portentosa . , 225
Monotonia . . . 138Obscuro e mal criado. 136
Monte Ararath. . 2240culos de ver ao longe. 247
Monumento ao Sr. Dom Oligarchia . . . . 183
Pedro I, Imperador Olympia. . . . . 154
do Brasil. . . . 254|Orgão descommunal. .309
Morra o homem, fique a Orgão hydraulico.
fama . . . . . . ####" cemiterio.. 335
325

Morte de Demosthenes. 277 Ouriço (O) e a fructa. 138


Mosteiro de S. João dos Ouro . . . . . . . 295
Reis • . 137
Muito em pouco tempo. 249 P
Multiplicação de caras. 251
Muralha da China . - 171
Mysterio. . • . 214, Padre NOSSO . . . 250
Palacio de cristal n’um
N rio da Siberia. . 260
• Palmeiras da India. . 126
Panthera . . * . . 281
Não chores. . . 134 Pão vegetal e mineral. 243
Napoleão de pedra . . 193Papagaio (O) . . . 170
20
V

Papel de pita. . 316 Proezas da Marqueza


Pára-raios. - - . . 264 de Brinvilliers. . . 123
Parma e reminiscencias Profundidade do mar. 202
do Imperio .. . . 272
Pégada de Ceylão . . 371
Pelagio e a gruta. . 265
Peneireiro (O). . . . 238
Penha dos namora
dos. . . . . . . 187
Qualidades de gente. .. 323
Phenomeno singular. . 109 Quatro (As) idades da
Philippolis ou Philippo mulher . 243 • •

polis . . . . . . 344 Quem o alheio veste na


Planicie de Pharsalia. 106 219
praça o despe .
Pobre (Uma) que com
tudo se contenta. 294
Pobreza de imaginação
R
nos Estados Unidos. 231
Poéta brasileiro (Um). 297 Ramalhetinho da pue
Ponte de Riga. . 115 ricia . •

População da Russia. . 221 Ramo de alecrim (o) . 182


População das maiores Rebelde. . . . . . . 361
cidades da Europa e Receita para fazer rir. 197
dos Estados Unidos. 270 Receitas de médicos. . 375
Porco (O) preto de Bra Rei (O)
(0) e os corregedo
8 213
gaà . . . . . . . 232 TGS . . . . . . .

Portugal e a lebra . . 148 Religião christã (A) e o


Portugal e Brasil. . 323 numero 3. . . . . 1
Portugal e Hespanha. . 190 Religião dos druidas. . 116
Position de la France Relogios de sol 302
sous Robespierre. . 168 Remédio contra a cho
Potichomania. . 357 lera. . .
Preciosidades geologi Remedio para a hydro
CAS , • . 230 phobia . . . . . 149

Prytaneu... . . . 382 Remedio para escalda


Presente de ganços. . 373 duras . .
Primeiro e unico. 71 Remedio para narizes
"#"… mina de sal. 268 grandes . * • • •
Remedio para os olhos. 296 Socego da vida . . . 255
Reproducção de im Solas impermeaveis. . 168
pressos . 339 Soldado (O) e o defun
Requerimento de um cto. . . . . . . 381
poéta . . . º "as, Somma sem conheci
Rio da Prata . . 373 #" das parcel
Rochedo de Leucate. . 240 dS . . . . . •

Russia, Paris, e Lon Somnambula (A). . . 347


dres 133 Sonhando . . . . . 274
Superior a Achilles. . 302
S
T
Sabão vegetal. . 183
Sacerdote bonito. . 245 Tanto dinheiro ! . . . 230
Sacco d’orelhas . . . 301 Tavermeiro arithmetico. 159
Sacrificio de Curcio. . 190 Templo d'Aphrodite. . 367
Salgalhada. . . 175 Tentação diabolica. .. 380
Saliva • . 266 Testamento de D. Af
Sangue azedo. . 288 fonso VI. . . . . 280
Sanguesuga . . 288 Testamento d'um poéta. 344
Sans changer. , 154 Testamento original. .308
Sans souci. . . . . 120 Thomson e Quin. . . 98
Se eu fosse querido. . 119 Tinta. . . . . . . 148
Segredo. . 307 Toca a beber . . .
•" • . 346
Semana. • . 326 Torre de Ispahan. .
• •
. 172
Serpente luminosa, . 110 Torre de porcelana. . 208
Serpentes da Martini Tosão d’ouro . . . . 115
Cº • • • • • • . 156 Trança monstruosa. . 298
Singular alliança. . 263 Tratamento da cholera. 199
Sino dos finados. . 383 Tres Pessoas (As) da
Sinos. . . 212 Santissima Trindade. 188
Situação, limites e ex Tributo de gratidão... .. 318
tensão do Brasil . 127 Trigo de dous séculos
Sociedade dos vegeta- e meio . . . . . 130 •

listas . . . . . . 268Tubarão. . . . . . 340


22
Tumulo de uma mu- ___Verdade (A) e a fabula. 313
lher. . . . . . . 366 Ver e olhar. . . • . 248
Vestuario . . . . . 246
U

Vida (A).
Vida . . . 165,
d'um homem 354
. . 295
Vinho para a Criméa. . 139
Ultimas palavras d'An- Volcões . . . . . 321
na Bolena . . . . 100Votº (Um) de grati
União Iberica. . . . 195_dão. . . . . . 374
Vulcanaes . . . . . 266
V
• W
Variedades e cultura da
cánna d'assucar . . 131
Velocidades . . . . 228 Wasingthon. . . . . 377
Venus venaes . . . . 224 Waterloo . . . . . 125
RAMALHEINHO BAFUERICA
POR

Luiz Filippe Leite.

O RAMALHE TINHO DA PUERIcIA está destinado a formar


uma collecção de livrinhos para as escolas primarias e
para o ensino domestico. Achão-se publicados os nu
Imer0S

|
! | DEVERES DOS MENINOS.

3 — PRECEITos HYGIENicos (em verso).


4 — JôIo (civilidade — em verso).
Fica no prelo o n.º 5 — soBRRBA.

Vendem-se em todas as lojas do costume em Lisboa e


nas Provincias. — Preço: 20 réis cada livrinho.
N. B. Leia-se o que sobre esta obra escrevemos a
pag. 360 do presente Almanach.

24
PROLOG0.

() nosso chistoso escriptor Antonio de Serpa, n'um dos


ultimos numeros do segundo tomo do jornal a Semana,
tecia, com toda a graça do seu fecundo engenho, e com
muita verdade tambem, o elogio da variedade. Segundo
elle, e segundo nós, é a monotonia a peór de todas quan
tas pragas podem assolar uma existencia. É tal pecha a
monotonia, que nem ao grande Racine a perdoava um cri
tico. Tem a monotonia da perfeição, dizia D'Alembert.
A variedade perpétua e absoluta é a divisa da natu
reza; a tendencia caracteristica da mulher, que é legis
ladora do bom gosto; a lei suprema da litteratura; a as
piração contínua de todas as artes; a condição essencial
do progresso e da perfectibilidade. Nenhum mérito pode
paliar a falta da variedade, em quanto a variedade, só
por si, pode descontar até certo ponto a carencia de to –
dos os outros méritos. A montanha de luz, esse diaman —
te monstruoso que admirámos na Exposição Universal,
embora excedesse os haveres do maior opulento, quem
se deteria nem um quarto d'hora a observal’o ? era
monótono; mas o kaleidóscopo, o humilde kaleidóscopo
plebeu, e quasi gratuito, entretem horas inteiras, com
as metamorphoses dos seus matizes, o velho como o me
mino, o sabio como o rustico.
Admirai quão radiante, vestido de galas, e espalhan
do-as pela natureza, que anima e vivifica, se nos apre
senta no pino do estio o rei dos astros ! mas nem o seu
esplendor vos permitte comtemplal'o, nem que o podes
seis, vos recreara por largo tempo a sua vista, em rasão
de ser igualmente brilhante e monótona a sua superfieie.
Attrahe todos os olhos, pelo contrario, na estação oppos
ta, o humilde fogão, ora com o trémulo rosicler das suas
labaredas, que se ateião, ora com o fluctuar e descahir
das suas alegrias, ora com o estallar das suas chispas,
ora com o desabar dos seus ephémeros edificios, ora com
o seu triumphar das trevas, ora com o seu succumbir
lhes; com todos conversa, a todos recorda alguma cousa,
com todos medita, a todos inspira, a todos ameaça, a to
dos promette, com todos chora, e com todos ri; é um
kaleidóscopo vivo, um fogo d'artificio mais caprichoso,
um poema que se não escreve, um livro de feitiços,
uma obra magica para os olhos, para os ouvidos, pa
ra o animo, e para os affectos.
Eis o porque sahe este sexto volume do Almanach de
Lºmbranças, não direi ordenado, mas de proposito de
sordenado como os dos annos precedentes. Agradar a
todos não é possivel; sei que alguns dos meus leitores
ainda se não poderam conchavar eom este noticiar for
tuito, com estas frequentes antitheses entre o dia e a
lembrança que n'elle se suscita; como porém estamos
em tempos em que são as maiorias as que vencem, e ºs
que legalmente têem rasão, deixo-me ir com a "#
que no bom gasalhado que tem feito ao livrinho, n'um e
n'outro hemispherio, claramente mostra que o desambi
cioso systema d’elle lhe não desagrada.
N'um e n'outro hemispherio disse, e com rasão, pois
não só em nossas mais remotas provincias ultramarinas,
senão tambem por toda a immensa superficie do prospe
ro e florescente imperio brasileiro, e pelas circumvisi
nhas républicas, se ha largamente derramado, e tornado
popular, este humilde livrinho. Sirva elle de um nexo
mais entre nós e os nossos irmãos brasileiros; estreite e
fortifique os vinculos de # que mutuamente nos
rendém; e já que é livro de lembranças, leve tambem
embranças da patria aos que longe d’ellagemem saudo
sos ! ... Se do oriente recebem a luz essas boas e ame
nas terras brasileiras, se os raios de sol que as inundão,
illuminaram primeiro terras de Portugal, leve-lhes tam
bem este livro que o oriente lhes envia, e já que mais
não pode, memorias portuguezas, e votos de irmãos por
sua prosperidade e engrandecimento ! ...
Lisboa 15 de Junho de 1855.

Alexandre Magno de Castilho.


ERRATAS.

1.". Uma cousa é lava e outra larva; foi isto que eu


escrevi, e se não copiou, na linha 7.° da pag. 138.
2.° O artigo a pag. 232 refere-se a um porco preto, e a
gravura é uma porca branca: só ha pouco lhe dei pela
côr e pelo sexo.

3.º Como o queijo fosse classificado vegetal na linha


23 da pag. 268, é o que a mim proprio me estou ainda per
guntando. Lembra-me aquella historia : « Para meu gos
to, a melhor ave de penna é o porco. »
4.º Pag. 311, linha 29. Aquillo hade ser por força
epopéa em logar de épocha.
5.º Não será por falta de se achar repetida a mesma
Charada a pag. 315 e 322, que deixará de ser adivinhada.
O que a tal pleonasmo (chamemos-lhe assim) deu origem,
é uma historia que aqui me não resta espaço para contar.
6." A pag. 341, linha 18, foram supprimidas algumas
palavras que tornaram o sentido incompleto: o que se
quiz dizer foi que um bom nadador podia escapar ao tu
barão quando elle se voltasse, e # de bórdo se pescava
o animal, alando-o por um cabo. Era melhor que se tives
se dito. Presumo todavia que o erro veio já do original,
o que nem por isso me desculpa, mas sempre é uma cir
cumstancia atenuante.

7.° Reis da Suecia e Noruega (Pag. 342, linha 24) é


um disparate, pois a Suecia e a Noruega compõem a Scan
dinaviã, regida toda ella pelo mesmo Soberano. O que se
quiz dizer, foi Reis da Suecia e Dinamarca (Para perto
se muda). 28
EXTRACTO

De correspondencia relativa ao Almanach de 1856.

J. J. F. D. (Rio de Janeiro) — E demasiado consti


tucional, e por isso o não publico, o hymno que me
remetteu Ao PAssAMENTo DE s. M. F. A SR.° D. MA
RIA II. Fiz voto de nada estampar nas paginas d’esta mi
nha obra, que directa ou indirectamente, de perto ou de
longe, possa ir de encontro com estas ou aquellas idéas,
religiosas ou politicas, e de respeitar todas as crenças e
convicções, fugindo de discutil'as. Quem abrir este li
vro, faça-o desassombradamente, na certeza de que lhe
não procurará um minuto de desprazer.
A. J. M. T. (Porto) — E' linda a poesia que se dignou
remetter-me, porém demasiado livre. Nem todas as ver
dades se dizem. Manda a religião, a decencia, a delica
deza, que ella em certos pontos se não apresente nua e
descarnada, antes seja o pensamento coberto com um véo
algum tanto menos transparente do que o que V. S. lam
çou sobre o seu soNHo. Sonhe muito embora tudo isso,
que nenhuma imputação lhe cabe, mas guarde-o para si
quando os seus sonhos forem tão eroticos e libidinosos
como o de 9 de Junho, e não me tome em caso algum
para orgão de seus devaneios amorosos, pois é de crer
º% tal orgão lhe desafinasse.
ARDUENA (Rosario, na provincia do Maranhão). —
São lindos os epigrammas que me mandou, mas des—
#""""" chegaram tarde, e só no Almanach de
857 poderão ser publicados. Mil agradecimentos pelas
delicadissimas expressões com que me honra.
A. S. G. (Coimbra) — Não me parece bastante or
thodoxa a doutrina que emitte sobre a IMMACULADA con
CEtÇÃO DE MARIA; poderia em todo o caso provocar po
lemica funesta, ou pelo menos desagradavel, e parece
me bom prevenil'a, pois taes polemicas chegão até, mui
ta vez, a abalar a fé mais robusta. Por outro lado tor
nou-se dogma aquelle ponto, e anti-religiosa fôra hoje
qualquer discussão sobre elle.
F.T.A. (Bahia) — Que publique o estado do merca
do ! ! ! Sirva-se dizer-me se é o do anno immediato pa
ra que o livro é destinado, ou do que já lá vai, o que
seria de uma utilidade espantosa. Que idéa faz este Snr.
da minha obra ! ....

S. T. (Braga) — Serão publicados, como deseja, os


interessantes artigos que me envia sobre hygiene pu
blica, de todos os mais uteis.

INIMIGO DO SEXO (Villa Real).—E logo do femini


no!!! O Senhor ! pois passou-lhe pela idéa um só momen
to que daria entrada no meu Almanach essa virulentissi
ma satyra contra as senhoras ! tão virulenta, que nem
se atreveu a assignal'a, apesar do chiste com que foi
escripta! A favor das Senhoras pode mandar quanto quei
ra, que gostosamente o publicarei, mas contral ......
Se houvesse uma força superior que a tal podesse im
pellir-me, n'esse momento cessara eu a publicação da
minha obra. Pois se até já me rendeu uma rabecada
mestra d’uma Senhora de Leiria (como disse a pagi
nas 343 do Almanach de 1854) a publicação do erry

ma que veio a pag. 257 do de 1853, e com o qual só
quiz dar uma idéa do alto ponto a que chega a ima
ginação hespanhola, que seria se publicasse agora es
sa verrina, em bom e castiço portuguez, contra todas as
senhoras!....

« São nosso maior tributo,


Por isso me achão austero;
Serão boas, não discuto,
Mas eu p'ra mim não as quero. »
Pois quero eu ! Ora esta ! O que o author quiz foi ver
se me cômpromettia, fazendo-me publicar a sua satyra.
Estava arranjado !....
G. P. S. (Pernambuco) — Não acceito o conselho de
deixar um espaço branco no fim de cada artigo, para n’el
le escrever cadaum o que a tal dia se lhe refira, porque
já a practica de dous annos me provou que não passa is
so dê mera theoria. O que o leitor quer, é achar bastante
que ler.
*A.M.O.R. (Buenos Ayres) — Ahi, e em todas as répu
blicas proximas ao imperio do Brasil, se achão reimpres
sões dos meus *#*# Almanachs. Agradeço muito
a remessa dos dous artigos relativos ao ex-dictador Ro
sas, mas isso tambem é politica, e por conseguinte (não
# cançarei nunca de repetilo)
1ClO.
para mim fructo prohi

C. C. M. (Montevideu) – N’este mesmo Almanach se


acha já rectificado a pag. 373 o que o Padre Cattaneo as
severa sobre o caudaloso rio da Prata. Fiei-me na corôa
do ecclesiastico ao reproduzir o seu artigo !....
. T. S. P. (Paraguay) — Muito estimo que se acho sa
"#" com a independencia da sua républicá, mas per
mittir-me-ha que não ponha luminarias, nem mande re
picar os sinos, por esse acontecimento. Devolverei a
quem me ordena o seu Hymno Paraguyense, depois de
o haver aprendido a cantar, mas só para mim.

R.S. (Vianna) — Que supprima a palavra beijo to


das as vezes que apparecer n’uma poesía ! .... Meu ami
go, outra vida. Eu sei muito bem onde acaba a liberdade
Fº# e onde principia o desaforo da linguagem, e não
aja medo que eu # jámais que nos artigos publi
cados nos meus Almanachs se transponhão as barreiras
prescriptas pela decencia; se porém levarmos a severi
dade ao ponto de eliminar a palavra beijo de uma poesia,
quando as tres quartas partes e meia das vezes não pode
essa palavra ser tomada senão como demonstração de af
fecto puro, extremoso, real, e verdadeiro, poremos um
dique á impetuosa torrente de uma poética imaginação, e
degeneraremos em tartufos. A carta a que respondó faz
me ver que ha Vestaes d’ambos os sexos. Quem quizer ler
só artigos mysticos, é comprar o Flos Sanctorum.
A. M. F. B. (Lisboa) — Tambem acho que deve ser
eterna a impressão que lhe deixou o dia 23 d'Agosto; no
seu logar acontecer-me-hia o mesmo ; é todavia melhor
guardal'a para si, do que dar conta d’ella ao Publico!...

Na é?\o/
$$
(**)

32
PROCOSTICOS DO TEMPO
Centenares de # me hão pedido para que nos
meus Almanachs dê parte de todas as mudanças de tem
po. Repetirei aqui o que a todas ellas tenho respondido.

Num livro feito, expressamente para o povo, e em


tão larga abundancia derramado até pelas mais insigni
ficantes localidades, fôra crime imperdoavel entreter-lhe
no espirito grosseiros prejuizos e absurdos. Repugna-me
ue em obras semelhantes appareção tão escandalosas
alsidades, tanto mais quanto são as unicas, por assim di
zer, que o nosso publico lê, e por essa simples razão de
verião ser cuidadosamente expurgadas de erros de toda a
qualidade. Não ha um calculo, nem sequer fallivel, sobre
que possa assentar um tal prognostico; tudo quanto a es
te respeito se escreva é objecto de pura phantasia.
« Pois quer duvidar da influencia da lua no tempo? »
— dirão muitos — Duvido sim. Acontece com a lua o
mesmo que com os jogadores, todos elles supersticiosos.
«Mude de cartas porque aquellas perderam; vamos para
aquella cruzeta, que é a feliz.» Se o resultado é bom, ex
clama-se logo : « vê? foi a mudança de cartas, foi a mu
dança de logares; se o resultado é máu, fica-se na mes
ma, não se faz caso d'essa observação, e sustenta-se para
Outra vez o mesmo absurdo. Com a lua é o mesmo. Pas
sou em julgado que as suas phases trazem mudança de
tempo; se effectivamente muda, exclama-se logo : « ora!
isso estava visto ! pois se era lua nova ! pois se foi ho
je quarto crescente !» se fica exactamente na mesma,
nada se diz, mas continua-se no mesmo prejuizo, ou pa
ra melhor dizer, na mesma teima. Muda o tempo cem
vezes com as phases da lua; é uma prova; fica na mes
"…………… Vezes; foi uma excepção ºgº
não des
# a regra
istas.
geral dos lunaticos observadores e calcu
-

E' a França o paiz das estatisticas. O que ahi se de


duzio de observações cuidadosamente feitas em um pe
riodo de 20 annos, como disse a pag. 84 do Almanach
de 1854, foi que chove mais vezes entre a lua nova e
a lua cheia do que entre a lua cheia e a lua nova im
mediata; mas isso não determina o que terá de acon
tecer com esta ou aquella lua nova, com esta ou aquel
la lua cheia, em *#*# Querer applicar-lhes o Cal
culo das probabilidades, é a maior de todas as extrava
gancias ! ... * ' - - -

Supponhamos porém que sejão possiveis semelhantes


Vaticinios; para que terra em particular são elles feitos?
Ninguem ignora que muitas vezes chove aqui e faz sol
acolá, a uma distância apenas de poucas léguas; ora, os
nossos Almanachs são lidos em Me #"?? terra, se me não
engano, a mais ao norte do nosso Portugal, e em Faro,
terra, me persuado, a mais ao sul, e para esses pontos
extremos, é separados um do outro para cima de cem lé
guas, se dão impávidamente os mesmos prognosticos ! ! !
E quem sou eu, que assim me atrevo a rebater uma
opinião quasi geral do vulgo? •

Sou um homem que me fundo nas mais simplices no


-
ções de physica e de bom senso, e que em meu apoio
transcrevo por segunda vez a opinião do célebre astro
nomo ha pouco, falecido, a quem a capital do mundo
civilisado orgulhosamente denominou o sabio da Euro
pº. De joelhos. E Arago quem vai fallar:

«Protesto altamente contra as predicções que todos os


annos
geiros.se me attribuem, em França e ……

nos paizes estran
|- |

«Nunca uma palavra sahida da minha bôcca, nem em


conversas intimas, nem nos cursos publicos por mim fei
tos ha mais de trinta annos, nunca uma linha publicada
com meu consentimento, poderam autorizar "s",º
_>
suppôr-me o pensamento de que seja possivel, no actual
estado de nossos conhecimentos, annunciar com alguma
certeza o tempo que fará d’ahi a um anno, a um mez, a
uma semana, direi mesmo, só com um dia d'antecipação.
«Julgo poder deduzir de minhas investigações esta
consequencia capital : nunca, sejão quaes forem os pro
gressos das sciencias, poderão os sabios de boa fé, e ze
losos de sua reputação, predizer com exactidão o tempo
que fará. . .
«Bem devera autorizar-me tão formal declaração a
esperar me não fação representar por mais tempo o
papel de Nostradamo, ou de Matheus Lensberg, mas
não o espero. • •

« Centenares de pessoas, e muitas d’entre ellas ha


vendo até recebido os ultimos gráus nas nossas Uni
versidades, virão perguntar-me ainda para o anno: o
inverno será rigoroso ? que lhe parece, será muito
quente o verão ? o outomno será muito humido º este
tempo sêcco durará ainda muito ? |

«Só Deus poderia responder a taes perguntas. »


Apesar de tão irrecusavel autoridade, muitos entre
nós ficarão tambem na mesma, tanto é difficil de extir
par um antigo, prejuiso. Eu é que lavo d’ahi as minhas
imãos. Disse-lhes o que é, franca e desapaixonada
mente; que mais podia fazer?
Dar-se-ha caso que a verdade, quando é clara de
mais, cegue como o sol?

###.
/t> 0\,
: - . .
$#* * .

... .. * . * .º e 92º. -
JUÍZO DO ANN().

Se são absurdos e infundados quantos prognosticos do


tempo se fação, nada mais desenxabido e sem sabor do
que o JUIZO DO ANNO ! E cousa que tambem muitos de
continuo me pedem, e por isso aqui a todos responderei
por junto. •

E' triste na verdade que no século XIX, haja ainda


quem pretenda fazer reviver a Astrologia ! Hade, ser
abundânte a colheita ! como se para dar cabo d'ella
não bastasse muitas vezes o calor, a chuva, O Vento, as
geadas. Hade, haver paz, ou guerra ! como se os que
assim riscão de dedo podessem influir nas mil e uma
circumstancias que para uma ou outra possão sobre
vir. Haverá muitas enfermidades ! como se ellas tam
bem se annunciassem com antecipação. O planeta do
minante será a lua, será Mercurio, será Venus ! como
se algum d'esses astros podesse ter um anno mais sen
sivel influencia do que outro no pequenino grão d'areia
que habitamos. Os que nascerem em tal mez serão boni
tos, serão feios, terão lindos olhos, serão Zanagas, serão
fieis, serão inconstantes ! como se em todos os mezes não
viesse á luz fazenda de toda a qualidade.
Repito pois: O JUIzo Do ANNo é de todas quantas
semsaborias se escrevem a mais desenxabida e sem sabor.
Chega a ser consciencia profanar os prelos e abusar
assim da liberdade de imprensa, arreigando no espi
rito do pobre povo tão grosseiros prejuizos! ...

36
RESPEITO Á PROPRIEDADE.

Uma cousa que entre nós mal ainda se concebe é a


propriedade litteraria.
Raros são os jornaes que em terras portuguezas se pu
blicão, e alguns até dos mais acreditados, que repetidas
vezes não fação avultados emprestimos aos meus pobres
Almanachs. Até ahi não me importa. A alguns tenho de
clarado — e de novo aqui o repito — que os 2,500 e tantos
artigos até hoje por mim publicados nos primeiros seis
volumes d’esta obra estão á disposição de todos, e sem ne
cessidade de prévia autorisação minha os podem litteral
mente reproduzir; o que porém se não harmonisa com
sentimentos de delicadeza, é que os transcrevão, com a
maior sem ceremonia, sem se dignarem declarar, d’onde
os extrahem. Que dirião se diariamente lhes roubassem
- os seus artigos de fundo e os fizessem passar como sa
hidos de alheia penna!...
Leio muita vez os meus artigos nas folhas periodi
cas já em 3.° e 4.º mão, e até muitas vezes se decla
ra no fim que são extrahidos de tal ou tal jornal, que
impudentemente os arrogara a si. E' como a roupa vên
dida na Feira da Ladra e a que se tirou a marca para se
lhe não conhecer o dono.
Ainda não ha muitos dias que eu despedi um criado pe
lo simples facto de o ver a depennar um pato vivo; pois
é o mesmo que diariamente me está fazendo a impren
sa periodica!...

—º4####2-—

37 |
CORRESPONDENCIA .
. • DE, • |- - -

ALGUMAS ERAS COM A VULGAR.


# - • |- *

Anno do Periodo Juliano. . . . . . . .. . . . 6568


— da Primeira Olympiada . . . . . .
— da Fundação de Rôma, segundo Varão. . . 2608
— da Epoca de Nabonassar . . . . . . * . . .
— de Principio da Monarchia Portugueza. . . 759

COMPUTO E CCLESIAST ī CC).

Aureo numero . • #4
Cyelo solar . • • • • • • • • • • • • 17
1ridieção Romana, . . . . .
Epacta. • • . .-.
• . . • • • .. . . XXIII
14

Letra Dominical, . . F F

* * –-----------
:: #

TEMPORAs.
Fevereiro.
Mºi •
. . . . . . . . . . . . !3, 45, 19
-- . . . . . . . . . . . . . . . 14, 16, 17
Septembro . . . . . . . . . . . . 17, ?, 20
"#" . . . . . . . . . . . . 17, 19, 20
FESTAS MOVEIS.

Septuagesima . . . . . . . . 20 de Janeiro.
Cinza . . . . . . . . . . . 6 de Fevereiro.
Paschoa . . . . . . . . . . 23 de Março.
Ladainhas. . . . . . . . . . 29 d'Abril.
Ascensão . 1 de Maio.
Pentecostes ou Paschoa do Espirito
Santo . . . . . . . . . . 11 de Maio.
Trindade . . . . . . . . . . 18 de Maio.
Corpo de Deus . . . . . . . . 22 de Maio.
Coração de Jesus . . . . . . . 30 de Maio.
1.º Domingo do Advento. . . . . 30 de Novembro.

QUATRO ESTAÇÕES DO ANNO.


Primavera . . . . . Começa a 20 de Março.
Estio . . . . . . , > a 21 de Junho.
Outono . . . . . . » a 22 de Septembro.
Inverno . . . . . . > a 21 de Dezembro.

BENÇÕES.
- Prohibem-se desde 4.º feira de Cinza até ao 1 º Do
mingo de Paschoa e desde o 1.º Domingo do Advento
até dia de Reis. 40
DIAS DE GRANDE GALA.

1 de Janeiro, Dia d'Anno Bom (Beijamão).


29 d'Abril, Dia em que S. M o Sr. D. Pedro IV.
Decretou e Deu a Carta Constitucional (Beijamão).
31 de Julho, Juramento da Carta e Nascimento de S.
M. I. a Senhora Duqueza de Bragança (Beijamão).
16 de #bº"Nº mºntº de S. M. F. O Sr. D. Pe
dro V. (Beijamão).
29 de Outubro, Nascimento de S.M. o Sr. D. Fernando.
(Beijamão).

PEQUENA GALA.
17 de Fevereiro, Nascimento da Serenissima Senho
ra Infanta D. Antonia.
- 16 de Março, Nascimento do Ser. Sr. Infante D. João.
23 de Março, Domingo de Paschoa.
22 de Maio, Corpo de Deus.
30 de Maio, SS. Coração de Jesus e dia do Nome de
S. M. o Sr. D. Fernando.
4 de Julho, Nascimento da Serenissima Senhora In
fanta D. Isabel Maria.
10 de Julho, Nome de S. M. I. a Senhora Duqueza de
Bragança.
21 de Julho, Nascimento da Serenissima Senhora In
fanta D. Maria Anna.
23 de Julho, Nascimento do Ser. Sr. Inf. D. Fernando.
31 de Outubro, Nascimento do Ser. Sr. Infante D. Luiz.
4 de Novembro, Nascimento do Serenissimo Senhor
Infante D. Augusto.
1 de Dezembro, Acclamação do Senhor D. João IV,
25 de Dezembro, dia de Natal.
# de Dezembro, dia de S. Silvestre.
ECLIPSES DO SOL E LUA.
, , , 5 de Abril. , , , , , , , .
Eclipse parcial do sol (invisivel em Lisboa), , ,
| #
* * *

… , , , 20 de 4 bril. , , , , , , , ,. .
Eclipse parcial 29
da de
Lua (invisivel em Lisboa). .
Septembro. • •
,

Eclipse annular do Sol (invisivel em Lisboa).


E CLIPSE PARCIAL DA LUA.

(Visivel em Lisboa).
13 de Outubro. ,
Principio do eclipse. .. . . 8 h.44' 35" tempo medie.
Meio do eclipse . . . . . 10 h. 17' 35" , » >
Fim do eclipse. . . . .. "" . .. " . 11: h. 50’ 35”. »i
• , >

Marés. . , !

Conhecem-se as horas das marés pela idade da lua,


designada para todos os dias do anno pelos algarismos
que se achão á ilharga dos dias do mez. Procurando es
sa idade na tabella seguinte, ter-se-hão as horas de
preamar e baixamar em um dia qualquer. Supponhamos
que se desejão saber os preamares e baixamares de 29
de Septembro; procurando este dia na folhinha, achare
mos que é o dia 22,º da lua, e procurando na 1 º Columna
da tabella o n.º 22, acharemos na mesma linha horison—
tal o que desejamos.
Quando na tabella das primeiras marés se notão marés
da tarde, as marés da manhã d'esse dia são as segundas
do dia antecedente, como acontece no dia 30 da lua, cu
jas marés da manhã são as segundas do dia 29, 42
*
BAIXAMAR.
TABOA DOS PREAMARES E BAIXAMARES NO TEJO

§ää→→→→ →→ →→→→→→→→ → Ê ëË ëËëËë Ě Ěě å


h. m.

& < > Go <s> <+ 6\! o Oo <o<+ 6\} <> Go <c <^ $] © oo ºo <+ 6N <> dx, «o <+ și esco &
șşşºgºșº;$2<o;$3&ºș3;$2?sgężºșşș2º
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PREAMAR.

E = E = E = E = E = E ·· ·· · · ·· · · ·· · · ·· ·· ·· ·· ·· · · ·· ·: E = E &
III.
2.º

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* * * * •º • * * * * *
BAIXAMAR

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1.º

II]

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ANNO DE 1856.

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29/Quart. m. 1 55 t. 35 29|Lua nova 3 11 m.
— 5|Lua nova 5 16 m _1.79uart, cr. 5 1 m.
#E|120uart. er. 4 15 m. =|13|Lua cheia 10 22 t.
=|20|Lua cheia 8 37 m 5 20ôuart. m. 5 29 t.
27 Quart. m. 10 49 t. 28|Lua nova 9 18 t.
.|4|Lua nova 2 6 t. E | 5 Ouart, cr. 4 46 t.
#|11|Quart. cr. 8 9 t. #|1:|Lua cheia 8 19 m.
>= |19|Lua cheia 11 20 t. 3 ||19|Ouart. m. 9 57 m.
279uart. m. 4 57 m.|2=|27|Lua nova 3 18 t.
g|2|Lua nova 11 3 t. e 59uart. er. 2 49 m.
= 10Quart. cr. 1 13 t. # |ua cheia - 7 36 t.
=|18|Lua cheia 11 15 m §|19|Quart. m. 6 7 m
250uart. m. 9 40 m.l… (27\Lua nova 8 8 m.
45
… … # TABELLA DOS INCENDIOS. ………………

… ………… … -- |2
|- TORRES. # Postos de GuARDA.
=
! #
Beato Antonio ...... • • • - 11 | — -

S. Vicente.............. 12 Escholas Geraes.


Graça ................ .113 Calçada do Monte.
Sé........ 14 Loyos.
• • • • • • • • • •• •

Conceição Nova......... 151Carmo.


S. Nicoláu.... .46|Praça da Figueira.
Soccorro.... .i17 Mouraria. •

S. José..... 18 ||Santa Martha.


Pena.........… .i 19 Freiras da Encarnação.
Bemposta...... ....|20 Cabeço de Bola.
S. Seb. da Pedreira....!?! Largo de S. Sebastião.
Monserrate............. 22 Arco das Amoreiras.
Santa Isabel............ 23 Junto á Igreja.
Convento Novo.......... 24 R. de Buenos-Ayres.
Necessidades. .......... 25 Livramento. |
S. Francisco de Paula... 26 Pampulha.
Santos o Velho....... ... 127 Inglezinhas.
Paulistas...............! 28 Na mesma Igreja.
Chagas --....... 29 Rua das Flores."
s. fogue...............136 Travessa da Queimada.
N. Senhora dos Martyres. Administração Geral.
S. Paulo - ....…......... 2 Ribeira Nova. . . ,
• • • • - - -- - - - - - - --- - - - - - -- - -
Belem.. … - - - - - - - - - - Junto á Igreja.
46.
DIAS EM QUE SÃO PROHIBIDOS OS ESPE
CTACULOS PUBLICOS.

Quarta feira de Cinza, e em todas as Sexta feiras de


Quaresma — Desde Sabbado de Lazaro até Domingo de
Paschoa inclusive. — Quinta feira d'Ascensão, Domingo
do Espirito Santo, e dia da Procissão do Corpo de Deus
da Cidade.
Nos dias 24 de Septembro, 1, 2 e 15 de Novembro,
e 25 de Dezembro. -

Nos dias de lucto da côrte, por morte do Rei, Rai


<nha, ou Pessoa Real.
Nos dias em que se fizerem preces publicas por gran
des calamidades.

•---

TABELLA

Dos dias feriados em que não ha despacho.

- A Segunda e Terça feira depois do Domingo da Quim


quagesima. -

Desde Domingo de Ramos até Domingo da Pas }


choela. •

Todo o mez de Septembro (ferias judiciaes e escho


lasticas). ** * * *

Desde 24 de Dezembro inclusivé, até 6 de Janeiro.… .


Nos dias 29 d'Abril, 16 de Septembro (por costume),
29 d’Outubro. }
E em todos os Domingos e dias sanctificados. - … º
47.
TABELLA

Dos dias de Audiencias, e Sessões


dos Tribunaes.

Conselho d'Estado — Quartas.


Supremo Tribunal de Justiça — Segundas e Sextas.
Relação — Terças, Quintas e Sabbados.
Juizos de Direito — Segundas, Quartas, Quintas e Sab
bados., audiencias geraes e de julgamento — Terças
e Sextas audiencias ordinarias.
Tribunal Commercial de primeira instancia — Terças,
Quintas ou Quartas, e Sabbados expediente: Terças
e Sextas audiencias ou assentadas publicas.
Tribunal Commercial de terceira instancia — Sabbados
havendo afluencia de causas.
Supremo Conselho de Justiça Militar — Terças e Sab
bados para o exercito — Terças e Sextas para a Ma
rinha.
Conselho Ultramarino — Terças e Sextas.
Governo Civil — todos os dias.
Conselho de districto — não tem dia certo.
Camara Municipal de Lisboa — todos os dias.
Thesouro Publico — não tem dia certo.
Conselho Fiscal de Contas — Idem.
Junta do Credito Publico. — Terças e Quintas.
48
MERCADOS E FEIRAS

EM TODO O REINO DE

* #=sfelige"I Fest js###_e

A paginas 43 e seguintes do Almanach de 1855 dei a


relação completa e oficial de todos os Mercados e Feiras
do Reino, relação feita pelos Mappas oficiaes que por
todos os Ex.ººº Snrs. Governadores Civis me foram re
mettidos; a ella me refiro pois, limitando-me aquí a
enumerar tão sómente as que não cahem no mesmo dia
do anne.

FEVEREIRO.

10 — (1.º Domingo da Quaresma) Medellim.


16 — (2.º Sabbado da Quaresma) Loulé, 2 d.
17 – (2.º Domingo da Quaresma) Freixo. • •

MARÇO. •

2 — (4.º Domingo da Quaresma) Almodovar.


3 — (2.º feira da 5.º semana de Quaresma) Cabe
ção (franca).
9 — (Domingo de Lazaro) Covilhã, Pavia (franca),
Porto. •

49,
*{4 — * ……… de Domingo de Ramos) Evora, 2 d.
franca). "
15 — ("…º de Dominqo de Ramos) Senhora da Ri
Cl T8.
21 — Sexta feira de Paixão) Barreiro (franca).
23 — # de Paschoa) Erra.
24 — (1.º Oitava da Paschoa) Caneças (franca), Louva.
25 — (2.º Oitava da Paschoa) Valle,
30 — (Domingo da Paschoella) Borba, 3 d. (franca),
Ferreira, ldanha a Nova, Louriçal, Santa
rem, 2 d.
31 — (Nossa Senhora dos Prazeres) Amoreiras (fran–
#geneirº
e T(i.e.
Monsanto, S. Miguel, Castro

MAIO.
* * .. … … • *

1 – (Ascensão) Marvão, Semide (franca).


4 — (1.º Domingo) Santa Catherina.
41 —(Domingo
• do Espirito
ca), Arouca, Azueira,Santo), Amoreiras
3 d. (franca), (fran
Tontello,
3 d., Lappa, Mercês (franca), Sacavém (franca),
S. Romão.
12 — tejo.
(1.º Oitava do Espirito Santo) Vianna do Alem
* • • •

13 — (2.º Oitava) Valonga (franca). •

48 — (3.º Domingo) Elvãs, 3 d.


48 — (Domingo da SS. Trindade) Aldeia Gallega de
Merceana (franca).

JUNHO.

8— { Domingº) Almargem (franca), bappa, 2 d.


,45 — (3.º Domingo) Almargem (franéa), Sobral de
Monte Agraço (franca). • - 50
JULHO. "

20 — (3.º Domingo) Bucellas (franca), Conceição, Mur


gueira (franca), Sant'Anna da Serra.
27 —(Ultimo Domingo) Vermuil.
AGOSTO. -
17 — (1.º Domingo depois da Assumpção) Torres Ve
dras (franca).
17 — (3.º Domingo do mez) Castro, 3 d.
30 — (Ultimo Sabbado do mez) Aldeia Gallega, Ata
laia, 3 d. (franca).
31 — (Ultimo Domingo d'Agosto) Bellas, 3 d. (fran
ca), Grandola, Fontinha, Trucifal (franca).
SEPTEMBRO.

7 — (1.º Domingo) Cintra (franca), Guia, Chão de


Couce (arraial).
11 — (5,º feira immediata á Natividade) Nazareth,
Pederneira. •

15 — (2 º feira depois da Natividade) Bragança.


21 — (3.º Domingo) Alter do Chão, Celorico da Beira,
Ferreira, Freineda, Villa Nova de Reguem
gos (franca). •

2 8 — (Domingo immediato a 21 de Septembro) Villa


Franca do Rodão (franca).
28 — (4.º Domingo do mez) Terena, 3 d. (franca).
OUTUBRO.
5 — (1.º Domingo) Almoçageme (franca), Entradas,
Villa Franca, 3 d., Reguengo.
12 — (2.º Domingo do *# Campo Grande, 8 d.
(franca).
# — (3.º Domingo) Mercês (franca).
26 — { º Domingo) Mercês (franca).
26 — (Ultimo Domingo do mez) Pombal.
NOVEMBRO.

2 — (1.º Domingo do mez) Oeiras (franca), Serra


d'El-Rei.
9 — (2.º Domingo do mez) Oeiras (franca).
DEZEMBRO.

1 — (1.º Segunda feira do mez) Lamego.


7 — (1.º Domingo do mez) Louriçal.
8 — (2.º Segunda feira do mez) Lamego.
FOLHINHA PORTUGUEZA

SIGNO DE AQUARIO,

JANEIRO.

1 (24,º) — Terca. X CIRCUMcIsão Do SENHoR (A. 51,


p. 33 e 34 e 27 de Janeiro. A. 54, p. 33). Grande Galà.
Beijamão. Ind. em varias Igrejas. Festa na Graça, Bar
reiro e Seixal.

2 (25.°) — Quarta. S. Izidoro, B. M. Ind. na Madre


de Deus na 1.º quarta feira de cada mez.
3 (26.°)— Quinta. S. Antero, P. M. S. Aprigio, B. de
Beja, Portuguez. S. Genoveva, V. (A. 52, p. 35). Ind. "º
Convento do Desaggravo em todas as quintas feiras dº
anno, e como a da Porciuncula na Igreja das Religiº
sas do Sacramento na 1.° 5.º feira de cada mºz.
JANEIRO. ,
4 (27º) — Sexta... S. Gregorio, B. S. Tito, discípulo
de S. Paulo. Principião as 13 sextas feiras de S. Fran
cisco de Paula na sua Igreja, com Indulgencias. Come
ça a Novena de Nossa Senhora de Jesus.
5 (28º) — Sabbado. S. Simeão Estelita (A. 51, 5 de
Janeiro). S. Apolinaria, V. S. Telesphoro, P. M. Vespe
ras de instrumental
Matinas, na Sé, e ao escurecer começão as
tambem de instrumental. •

6 (29.º) — Domingo. DIA DE REis (A. 51, 6 de Jan.


A. 53, p. 38. A. 55, p. 117. A. 56, p. 100). Ind. no Loreto.
Benção no Menino Deus. Grande festa na Sé, a que as
sistem
de cadaSS.MM.
mez. Ind. Plen. em S. Amaro no 1.° Domingo•

7 (1.º) — Segunda. S. Theodoro Monge. Abrem


se os Tribunaes e permittem-se os casamentos so
lemnes. - •

Lua nova de Janeiro ás 10 h. e 40 m. da tarde.

8 (2.º) — Terça. S. Lourenço Justiniano, Patriarcha


de Veneza. •

9 (3.º) —Quarta. S. Julião, M. Festa na sua Frégue


2ia, em que foi abolido o dia santo de guarda. •

10 (4.º) — Quinta, S. Paulo, 4.º Eremita, S. Gonçalo


de Amarante (A. 55, p. 119. A. 56, p. 104). "." … º
314 (5.º) — Sexta, S. Hygino, Papa Martyr. Prin
eipia a Novena de Nossa Senhora da Divina Provi
dencia, . * . * . * ** * * * *

42 (6.") — Sabbado. S. Satyro, My … "



* *
54.
JANEIRO.

13 (7.°) — Domingo (1.º depois de Reis). NossA SE


NHoRA DE JESUS, S. Hilario, B. Fcsta em Jesus. Ind. em
S. Domingos para os Irmãos dos Passos no 2.º Domin
go de cada mez. •

14 (8.") — Segunda. S. Felix, Martyr.


Quarto cresc, de Janeiro ás 3 h. e 6 m. da tarde.

15 (9º) — Terça. Santo Amaro, Abb. Festa em San


e Amaro, Conceição Velha, e Convento do Desaggravo.
16 (10º) — Quarta. Os Santos Martyres de Marrocos.
S. Marcello, P. M. Começão os dias de S. Engracia na
Sé de Lisboa, para desaggravar o SS. Sacramento, pe
lo desacato na Fréguezia da mesma Santa, na noute de
15 para 16 de Janeiro; ha Procissão dentro da Igreja.
17 (11.") — Quinta. S. Antão, Ab. S. Leonilla, M.
18 (*) — Sexta. A Cadeira de S. Pedro em Roma.
S. Prisca, V. M. . .… * . . **

19 (13.º) — Sabbado. S. Canuto, Rei de Dinamares,


Martyr (A. 52, p. 245). , ,… , . .. .
20 (14.º) — Domingo (da Septuagesima). SANTIs
siMo NoMR DE JESUs. NossA SENHoRA DA DiviNA PRo
VIDENeIA. S. Sebastião, M.… Começão os Domingos da
Madre de Deus. Festa principal do Sagrado Coração
de Maria no Mosteiro da Encarnação. Festa de instru
mental em S. Sebastião da Pedreira, feita pelos mar
cineiros, de quem o Santo é Patrono, e em S. José.
21 (15º)- Segunda (Jejum 7}0 Patriarchado). San
ta. Ignez, V. M. *

*
<
*
< <
• •
-

\, ***

55 •
JANElR0.

22 (16º) — Terça. X S. Vicente, M., Padroeiro de


Lisboa e dó Algarve (A 52, p. 54). S. Anastacio. Festa
em S. Vicente de Fóra e na Sé. Festeja-se S. Sebastião
na sua Igreja, com instrumental.
Lua cheia de Janeiro ás 2 h. e 52 m. da manhã.

23 (17.º) — Quarta. Os Desposorios de Nossa Senhora


com S. José. S. Raymundo de Penafort. S. Ildefonso,
24 (18º) — Quinta. Nossa Senhora da Paz. S. Timo
theo, B. M. O B. Marcolino, D
25 (19.º) — Sexta. Conversão do Apostolo S. Paulo.
Festa e Lausperenne na sua Fréguezia em que se abo
lio o dia santo de guarda.
26 (20º) — Sabbado. S. Polycarpo, B. M. S. Paula, V.
Festa a S. Sebastião na Fréguezia de S. Paulo.
27 (21.º) — Domingo (da Sexagesima). S. João Chry
sostomo, B. e Dr. da Igreja. Festa a Nossa Senhora da
Piedade em S. Paulo.

28. (22.º) — Segunda. S. Cyrillo, B. A B. Veronica, A.


Trasladação de S. Thomaz d'Aquino. O B. Matheus de
Agrigento, B. Começa a Novena das Chagas de Christo.
29_(23º) — Terça. S. Francisco de Salles, B. S. Pe
dro Thomaz, C. Festa e Lausperenne nas Silesias a S.
Francisco de Sales.

30 (24.º) — Quarta. S. Martinha, V. M. S. Jacintha.


Quarto ming. de Janeiro ás 7 h. e 58 m. da manhã.
31 (25.") — Quinta. s. Pedro Nolasco, c. s. cº,#
S1GNO DE PISCIS,

FEVEREIRO.

1 (26.º) — Sexta (Jejum excepto nos Bispadas d'El


vas e de Vizeu). S. lgnácio, B. M. S. Brigida. O B. An
dré de Conti (A. 51, 1 de Fevereiro).
2. (27º) — Sabbado. X PURIFICAÇÃo DE N. SENHORA
(A. 51, 2 de Fevereiro, A. 52, p. 64). Festa nos Terceiros
do Carmo e na Sé.
3 (28º) — Domingo (da Quinquagesima). S. Braz,
Bispo M. O B. Odorico, F. Ind. das 40 horas na Sé e em
S. João Nepomuceno por occasião da Exposição do SS.
Sacramento até á 3.º feira depois de Completas. Festa
d. S. Braz na Conceição Velha, em S. Luzia, e nos
Martyres. -

4. (29.°)— Segunda. S. André Corsino, B, S. José de


Leonisa. •
FEVERE]RO.

5 (30.º) — Terça feira de Entrudo (A. 51, 4 de Mar


co, A. 53, p. 70. A. 55, p. 153) S. Agueda, V. M. Os Marty
res do Japão, S. Pedro Baptista e seus Comp. Matinas na
Igreja das Chagas á festa do Orago.
6, (1.°) — Quarta feira de Cinza (A. 51, 5 de Março.
A; 52, p. 85. A. 53, p. 71. A. 55, p. 170). "As Chagas de
Christo. S. Dorothea, V. M. O B. Antonio de Amandula.
Jejum até á Paschoa, menos aos Domingos. Prohibem
se as benções matrimoniaes desde este dia até o 1.º Do
mingo de Paschoa. Benção da Cinza na Sé, com ins
trumental. São prohibidos os espectaculos publicos n’es
te dia e em todas as sextas feiras da Quaresma.
Lua nova de Fevereiro ás 9 horas e 59
minutos da manhã.

7 (2.º) — Quinta. S. Romualdo, Ab S. Ricardo, Rei


d'Inglaterra. Festa a Santo Urbano Martyr na Igreja
das Chagas.. " ** *

º 3.°) — serta. s. Jºão da Mattº, Fundador da or


dem da ss Trindade. . . - -
+

9 (4.º}— Sabbado. S. Apolonia, V. Martyr, Advo


###"
04/tt C(1$,
a dôr de dentes. Festa e Lausperenne nas

10 (5.°)— #"# da Quaresma). S. Eseholas


tica;
em Santo Guilhermé,
V. S.Antão Duque
do Tojal, d'Aquitania,
Villa Franca, eA: Procissão:
Cascaes. •

11. (6.º) — Segunda. s. Lazaro, B. Os 7 Fundadores


dos Servitas. A B. Joanna Valesia. - •

12 (7º) — Terça. s. Eulalia, V. M.


FEVEREIRO.

43 (8.°) — Quarta (Temporas); S. Gregorio II, Papa.


S. Catharina de Ricci, V. D. A B, Viridiana, V. F.
Quarto cresc. de Fevereiro á 1 h. e 35 m. da manhã,
14 (9.º) — Quinta, S. Valentim, M. Vesperas da Tras
ladação de S. Antonio na sua Igreja. - - - -

15 (10.º) — Sexta (Temporas). Trasladação de Santo


Antonio. Os Santos Faustino e Jovita, MM. Festa em San
to Antonio da Sé. Procissão dos Passos da Graça.
16 (11.º) — Sabbado (Temporas).
O B. Bernardo de Corleone.
S. Porphyrio, M.

17 (12.°) — Domingo (2.º da Quaresma). S. Fausti


no, M. O B. Nicoláu de Longobardís, Minimo. Procissão
em Sacavem. Faz 11 annos a Sereníssima Senhora In
fanta D. Antonia. Pequena Gala.
18 (13.°) — Segunda. S. Theotonio, 1.° Prior de San
ta Cruz de Coimbra, S. Simeão, B. M.
19 (14.") — Terça. s. Conrado, Franciscano. o B. Al
varo de Cordova. •

20 (15º) — Quarta. S. Eleutherio, B. M.


Lua cheia de Fevereiro ás 9 h. e 4 m. da tarde.

21. (16º) — Quinta. S. Maximiano, B. M. S. Angela


a#Nº - - - *>

22 (17:º) — Sexta. S. Margarida de Cortona. A Cadei


ra de S. Pedro em Antiochia."

# (isº)— sabbado. s. Pedro Damião, B. S. Lazarº.


FEVEREIRO.

24 (19.º) — Domingo (3.º da Quaresma). S. Pretex


tato, B. Procissão dos Passos em Oeiras e Alverca, dos
Terceiros de S. Francisco na Arruda.

25 | (20.º) — Segunda. S. Mathias, Ap. Foi abolido o


dia santo dispensado.
26 (21.") — Terça. S. Cesareo, Irmão de S. Gregorio
Nazianzeno.

27 (22.°) — Quarta. S. Torcato, M., Arceb. de Braga.


28 (23.°) — Quinta. S. Leandro, Arceb. de Sevilha.
A Bemaventurada Virgem Christiana.
29 (24.º) — Sexta. S. Romão, Ab. O B. Thomaz de
Cora. 2.º Trasladação de S. Agostinho. Procissão dos
Passos em Belem e no Desterro. •

Quarto ming de Fevereiro á 1 h. e 5 m. da manhã.

SIGNO DE ARRES,

1 (25.º) — Sabbado. S. Adrião M. S. Rozendo Per


"#.
tuguez. A B. Mathia de Nazareis, F. (A. 51, 1 de
MARÇO.
2 (26º) — Domingo (4.º da Quaresma). S. Simpli
cio, Papa.
3 (21.º) — Segunda. S. Hemeterio, Martyr. Santa
Cunegundes.
4 (28º) — Terça. S. Casimiro. S. Lucio, P. M.
5 # Quarta. S. Theophilo, B. de Cesarea. O
Beato João José, F.

6. (tº) — Quinta. S. Ollegario, B. S. Colleta, V.


S. Marciano, B. M.
Lua nova de Março ds 8 horas e 1
+ minuto da tarde.

7 (2.º) — Sexta. S. Thomaz d'Aquino, Dr. da Igre


ja. Santas Perpetua e Felicidade, MM. Foi abolido o
dia santo dispensado em Faro e seus suburbios.
s (3º)— Sabbado. s. João de Deus (4.54, p. 102).
Principia o Septenario das Dores de Nossa Senhora.
4.º) — Domingo da Paixão ou de Lazaro (4.54.
6 d'Abril). Santa Francisca Romana, V. S. Catharina de
Bolonha, V. F. Benção no Menino Deus. Procissão dos
Passos na Luz e S. Antão do Tojal. São prohibidos
os espectaculos publicos desde hoje até Domingo de Pas
cho a inclusive.

10 (5.º) — Segunda. S. Melitão e seus 39 Comp., MM.


Começa a Novena de S. José.
11 - (6.º) — Terça. S. Candido, M. Faz 34 annos S.A.
Serenissima a Snr.", D. Januaria Maria.
61
MARÇ0.
42 (7.°) — Quarta. S. Gregorio, Papa e Doutor da
Igreja.
43 (89) — Quinta. A B. Sancha, V., Infanta de Por
tugal. S. Rodrigo, M. S. Eufrasia, V.
Quarto crescente de Março ás 2 horas
da tarde.

14 @"| — Serta. As SETE DORES DE NossA SENRioR A


(A. 53, p. 108). Trasladação de S. Boaventura. S. Mathil
de, Rainha. Festa e Lausperenne na Ermida das Dores
e nas Igrejas onde houve Septenario. Festa e Senhor
Exposto na Guia. Festa de instrumental cm Santo An
tonio da Sé. Festa em Santa Joanna. Faz 34 annos S.
M. a Imperatriz do Brasil, D. Thereza Christina Ma
ria, Irmã de S. M. o Rei de Napoles.
15 (10.") — Sabbado. s. Zacharias, P. S. bongui
nhos, soldado, M. • • • • •

46 (11.º) — Domingo DE RAMos (A. 51, 13 d'Abril.


A. 55, p. 184). S. Cyriaco, M. Festa na Sé com instru
mental. Procissão de tarde na Madre de Deus, Campo
Grande, Loures, e Almada. Faz 14 annos o Serenissi —
no Senhor Infante D. João. Pequena Gala,
17 (12.º) — Segunda. S. Patricio, Ap. da Irlanda. S.
Gertrudes, V. Principião as ferias.
48. (13.°) — Terça. S. Gabriel, Archanjo. S. Narciso,
Arceb. de Braga. U B. Salvador da Horta, F.
19 (14º)—ouarta feira de Trevas (4, 51, 16 d'A
bril, A. 52, p. 128). S. José. Esposo de Nossa Senhora
#3
(A. 54, p. 112). Officio nos Martyres, S. Roque, Sé,

MARÇO.
20 - (15º) — Quinta feira de Endoenças. (E desde :
meio dia até ao meio dia seguinte). (A. 51, 17 d'Abril.
A. 52, p. 229. A. 53, p. 113. A. 55, p. 186). S. Martinho
Dumiense, Arceb. de Braça (A. 53, p. 110). O B. João de
Parma, F. (A. 55, p. 176). Festa de instrumental na Sé.
Principia a Primavera (A. 54, 21 de Março).

21 (16º) — Sexta feira de Paixão (A. 51, 6 e 18 d'A


bril. A. 53, p. 114. A. 54, p. 134. A. 55, p. 188). S. Ben
to, Ab. Procissão do Enterro na Graça, em Jesus, nos
Clerigos Pobres, nas Francezinhas, e em Belem. Come
ga a Novena de Santa Catharina de Sena. . . ** *
Lua cheia de Março ás 3 h. e 27 m. da tarde.
22 (17.") — Sabbado d'Alleluia (A. 51, 19 d'Abril:
A. 55, p. 189). S. Benvenuto, B. S. Emygdio, B. M. S.
Ambrosio de Sena, da Ordem de S. Domingos.

23 (18.º) — Domingo de Paschoa (A 51, 20 d'Abril,


A. 52, p. 125: 4.53, p. 116. A 55, p.190). S. Felix e
seus Comp., MM. Matinas na Fréguezia do Sacramen
to. Festa de instrumental na Sé. Benção Papal. Festa
nos Martyres. Pequena Gala. - : ~~
24 (19.°) — Segunda. Instituição do SS. Sacramento.
8. Marcos, M. S. Agapito, B. Festa de instrumental c
Lausperenne na F###e2ía do Sacramento, em que foi
- abolido o dia santo de guarda. Indulgencia como a da
Porciuncula em todas as Igrejas em que estiver o SS.
Sacramento, ou tiverem a sua invocação ou do Corpo
de Christo. Festa no Convento de Santa Clara.

25 (20.°) — Terça. X ANNUNCIAção DE N. SeNHoRA.


Festa de instrumental e Lausperenne na Fréguezia da
Encarnação e nos Mosteiros da Encarnação e S. Joanna
MARÇO.
26 (21.º)— Quarta. S. Ludgero, B. S. Theodoro, B.
Martyr. S. Braulio, B
27 (22.°) — Quinta. S. Roberto, Bispo.
28 (23.°) — Sexta. S. Alexandre, Martyr.
29 (24.º) — Sabbado. S. Victorino e seus Comp., MM.
Quarto ming. de Março á 1 h. e 55. m. da tarde.
30 (25.º)— Domingo. S. João Climaco, A B. Angela
de Fulgino, Viuva.
31 (26.º) — Segunda. S. Balbina, V. S. Benjamim,
Diácono, Martyr.

SIGNO DO
S$ \>

ABRIL.

1. (27.º) — Terça. As Chagas de S. Catharina de Se


na. S. Macario. (A. 51, 1 d'Abril, A. 55 p. 184.) 64
ABRIL.

2 (28º) — Quarta. S. Francisco de Paula. S. Maria


Egypciaca. Festa e Lausperenne em S. Francisco de
Paula.

3 (29.º) — Quinta. S. Ricardo, B. S. Benedicto, F. S.


Pancracio, B. M.—Faz 25 annos S.A. a Ser. Sr." D. Ade
laide Sophia, Esposa do Sr. D. Miguel de Bragança.
4 (30.º) — Sexta. S. Isidoro, Arceb. de Sevilha.
S.. Zozimo.

5 (1.º) — Sabbado. S. Vicente Ferrer, da Ordem


de S. Domingos.
Lua nova d'Abril ás 5 h. 16 m. da manhã.

6 (*) — Domingo do BoM PASToR (A 52 p. 144). S.


Marcellino Martyr. A B. Catharina de Pallancia, da Gr
dem de S. Agostinho.
7 (3.°) — Segunda. S. Epifanio, B. M.
8 (4.º) — Terça. S. Amancio, B. Faz 20 annos que
chegou a Lisboa S. M. o Sr. D. Fernando,
9 (5.º) — Quarta. Trasladação de S. Monica.
10 (6 º) — Quinta. S. Ezequiel, Propheta. O Bem
aventurado Antonio, M., da Ordem de S. Domingos.
11 (7.º) — Sexta. S. Leão I, P. O B. André do Monte
Real, da Ordem de S. Agostinho.
12 , (8 °) — Sabbado. S. Victor, M. Portuguez. O B.
Angelo de Clavasio.
Quarto crescente d'Abril ds 4 h. 15 m. .……….
ABRIL.

13 (9.º) — Domingo. S. Hermenegildo, Martyr. A


B. Margarida do Castello, V. da Ordem de S. Domingos.
Festa nos Martyres a S. Maria Egypciaca pela Real Ir
mandade dos Archeiros, e ao Patrocinio de S. José na
Igreja da Estrella.

14 (10.º)— Segunda. S. Tiburcio e S. Valeriano, MM.


S. Pedro Gonçalves Telmo.
15. (11.°)—Terça. S. Basilissa e Anastacia, MM. S. Eu
tychio, M.
16. (12.°) — Quarta. S. Engracia, V. M. S. Fruetuoso,
Arceb. de Braga.
17 (13.º) — Quinta. S. Aniceto, P. M. S. Elias, Mon
ge Portuguez.
18 (14.º) — Sexta, S. Gualdino, B. e Cardeal. O Bem
aventurado André Hibernon, F

19. (15.º) — Sabbado. S. Hermogenes, M. O Bemaven


turado Conrado Miliano, F.
20 (16º) — Domingo. S. Ignez de Montepoliciano, V.
Lua cheia d'Abril ds 8 horas e 37 mi
nutos da manhã.

21. (17.º) — Segunda. S. Anselmo, Arceb. de Can


tuaria. Começa a Novena de Santa Catharina de
Sena.

22 (18º) — Terça. SS. Sotero e Caio, Martyres. S.


Senhorinha, V. Portugueza. Principia a Novena da As
censa O.
• 66
/* (+
ABRIL.

23 (19.º) — Quarta. S. Jorge M., Defensor do Reino.


Festa e Lausperenne em S. Jorge, onde foi abolido o
dia santo de guarda.
24 (20º) — Quinta. S. Fiel de Sigmaringa, M. F.
S. Honorio, B. Começa a Novena de S. Cruz no Castello.
Procissão da Saude. Dia santo de guarda abolido no Ar
cebispado de Braga.
25 (2.º) — Sexta. S. Marcos, Evangelista. Principia
a Novena de Nossa Senhora do Resgate.
26 (22.°) — Sabbado. S. Pedro de Rates, M. e 1.° B.
de Braga. S. Cleto e S. Marcellino, MM. Foi abolido o
dia santo de guarda no Arcebispado de Braga.
27 (23.º) — Domingo. FUGIDA DE Noss A SENHoRA,
S. Tertuliano, , B. S. Toribio, Arceb. de Lima. O Bem
aventura do Jacobo de Bictecto.
Quarto minguante d'Abril ds 10 h. 49 m. da tarde.
28 – (24.º) — Segunda. S Vital, M. S. Prudeneio, B.
O B. Lucio, da Ordem de S. Francisco. O Bemaventura
do Agostinho de Novelo, A.
29 (25.°) — Terça (Ladainhas). S. Pedro M. D. S.
Hugo, Ab. Anniversario da Carta Constitucional.
Grande Gala. Beijamão. Faz 63 annos S.A. a Serenis
sima Senhora D. Maria Thereza, Viuva do Senhor D.
Pedro Carlos e do Senhor D. Carlos Maria, de Hes
panha.

30 (26º) — Quarta (Jejum). S. Catharina de Sena, V.


(A. 52 p. 110), S. Peregrino, Servita. Festa nos Paulis
tºº. Embarca o Cirio do Cabo. - +
SIGNO DE GEMINIS.

} (21.") — Quinta. E3 AscENSÃo Do SENHon. S. Fi


lippe e S. Thiago, Ap. S. Segismundo. Festa no Sacra
mento, em Santa Martha, e no Convento de Santa Cla
ra. Faz-se a Hora na Igreja dos Martyres e no Sa era
mento. Festa, Lausperenne, e Indulgencia, na Ermida
da Ascensão aos Paulistas. São prohibidos hoje os espe
ctaculos publicos (4.51, 1 e 29 de Maio, A. 55 p.209 e 222).
2 (28º) — Sexta. S. Athanasio, B. A B. Mafalda, V.
Infanta de Portugal. Principia a Nov. do Espirito Santo.
3. (29º) — Sabbado. Invenção da Santa Cruz (A. 53
p.154). Dia santo dispensado abolido pela Bulla de 1844.
4 (1.º) — Domingo. MATERNIDADE DE NossA SE
NHoRA. S. Monica, Viúva, Mãi de S. Agostinho. Começa a
Nov. de N. Sr.º dos Martyres. Festa de N. Sr.º do Res
gate na sua Ermida aos Anjos e do Sr. Jesus dos Perdões
na Magdalena. Procissão do Corpo de Deus no Salvador.
Lua nova de Maio ás 2 h.6 m. da tarde.

5 (2.°)—Segunda. Conversão de S. Agostinho. S. Pio


V. Papa, D. S. Angelo M. C. Desembarca o Cirio do º?
MA10.

6 _(3º) — Terça. S. João ante portam latinam. S.


João Damasceno.

7 (4.º) — Quarta. S. Estanisláu, B. M. Começa a


Nov. de S. João Nepomuceno. Festa da Coroação de es
pinhos de Nosso Senhor, em Santa Joanna.
8 (5.º) — Quinta. Apparição de S. Miguel Archanjo.
9 (7.º)
10 (6.º) — Sexta. S. Gregorio
— Sabbado (Jejum). Nazianzeno,
S. Antonino, B.
Arceb. de •

Florença, da Ordem de S. Domingos. Festa ao Patroci


nio de S. José na Igreja das Religiosas de S. Alberto.
11 (8.º) — DoM INGo DR PENTEcosTEs ou PAscHoA Do
EsPIRITo SANTo (A. 51, 8 de Junho. A. 52, p. 179). S. Anas
.tacio, M. São prohibidos hoje os espectaculos publicos.
Festa de instrumental na Sé. Sahe da Frég. de S. Pedro
em Alcantara o Cirio de N. Senhora das Mercês, e vol—
ta na terça á noute.
Quarto crescente de Maio ás 8 h. e 9. m. da tarde.
A

12 (9.º) — Segunda {' Oitava). S. Joanna, Princ. de


Portugal, V. (A. 53, p. 161). Festa no seu Conv. Foi um dos
dias santos dispensados abolidos no Funchal e Prela
zia de Thomar e dos dias santos de guarda abolidos nas
outras dioceses.

13 (10.º) — Terça (2.º Oitava). NossA SENHoRA Dos


MARTYREs. S. Pedro Regalado, F. O B. Alberto de Ber
gamo, D. Festa na Fréguezia dos Martyres, em |"[";
abolido o dia santo de guarda, assim como o foi o dia
santo dispensado da 2.º Oitava da Paschoa. Principia
a Nov. de S. Rita de Cassia. Procissão do Corpo de Deus,
"#" na Sé de Lisboa.
MAIO.

14 (11.º) — Quarta (Temporas, Jejum). S. Gil, D.


(A. 54 p. 163). S. Bonifacio, M. O B. Francisco de Fabia
no, F. Principia o Oitavario do Corpo de Deus, nas
Francezinhas e no Mosteiro da Encarnação.
15. (12.°) — Quinta, S. Izidro, lavrador. O Beato
Egydio, F.
16 (13 º) — Serta {"","$ Jejum). S. João Ne
pomuceno, M. Santo Ubaldo, B. S. Simão Estok, C. Festa
e Lausperenne em S. João Nepomuceno.
17 (14º)—Sabbado (Temporas, Jejum), S. Paschoal
Baylão, F. S. Possidonio. Começa a Nov. de S. Filippe
Nery. Matinas na Fréguezia da Encarnação.
18 (15.º) — DoMINGo DA SS. TRINDADE (A. 51, 15 de
Junho, A. 54 p. 190). S. Venancio, M. Santo Erico, Rei de
Suecia. |

19 (16º) — Segunda. S. Pedro Celestino, P. S. Ivo,


F.Festa, na Fréguezia da Encarnação, da Irmandade
dos Clerigos Pobres a que assiste como Juiz o Sr. Car
deal Patriarcha.
Lua cheia de Maio ás 11 horas e 20 mi
nutos da tarde.

20 (17.º) — Terça. S. Bernardino de Sena, F. A B.


Columba de Riete, V. D.

21 (18º) — Quarta. S. Manços, M., 1.° B. d'Evora.


Festa e Procissão do Corpo de Deus nos Martyres, e festa
do Desaggravo pelas escravas da Irmandade do SS. Sa
cramento no Mosteiro da Encarnação. Principia a Nov.
do Coração de Jesus. 70
MAIO.

22 (19.º) — Quinta. X CoRpo Dr DEUs (A. 51, 19 de


Junho, (A. 52, p. 191, 367.A.55, p. 238). S. Rita de Cas
sia, Viuva. S. Quiteria, V. M. e oito irmãs portuguezas
#iana, V. F. Festa nos Conventos de S. Clara e
53 p. 170). S. Helena. S. Ato, B. Portuguez. A B. Emi
de Santa
Joanna. São prohibidos hoje os espectaculos publicos.
Procissão da Cidade. Pequena Gala.
23 (20.º) —Seata.S. Basilio, Arc. de Braga. S. Desi
derio, B. M. Principia a Nov. de N. Sr.º Mãi dos Homens.
24 (21.º) — Sabbado. S. Afra, M. O B. João do Prado,
M. Trasladação de S. Domingos (A. 54 p. 173).
25 (22.º)—Domingo. S. Gregorio, P.S. Urbano, P. M.
26 (23º) — Segunda. S. Filippe Nery, Fundador da
Congregação do Oratorio. Festa na Ermida da Victoria.
27 (24.º) — Terça. S. João P. M. O Veneravel Beda.
Quarto minguante de Maio ás 4 h. 57 m. da manhã.
28 (25.°) — Quarta. S. Germano, B.
29 (26.º) — Quinta (Jejum). S. Maximo, B. Procis
são do Corpo de Deus, de tarde, na Sé de Lisboa.
30 _(27º) —Sexta. KK SS. CoRAção DE JESus (A. 53 p.
181). S. Fernando, Rei de Castella.S. Felix, P. M. Assis
tem é festa no Convento da Estrella SS. MM., Grã-Cru
2 es, e Commendadores. Festa nas Francezinhas, no Con
vento de S. Clara, e nas Religiosas do SS. Sacramento a
N. Sr.º dos Aflictos. Procissão de tarde em Jesus. Peque
na Gala. Nome de S. M. El-Rei.
31 (28.°) — Sabbado. S. Petronilla, V. O B. Diogo
#… D.
$1GNO DE CANCER.

1 (29.°) — Domingo. N. SENHoRA MÃ1 Dos HoMENs.


S. Firmo, M. O B, Jacobo de Strepa. Começa a Trezena
de S. Antonío (A. 51, 4 de Junho).
2 (1.º) — Segunda. S. Marcellino, M. O B. Sadoc e
seus 48 Companheiros, MM • •

Lua nova de Junho ás 11 horas e 3 minutos da tarde.

3., (2.º) — Terça. S. Paula, Virgem Martyr. S. Ovi


dio, B. de Braga.
Á {' — Quarta. S. Francisco Caraciolo. S. Quiri
mo, B. M. Trasladação de S. Pedro, M., D
5 (4.º) — Quinta. S. Marciano, M. S. Bonifacio, B. M.
O Beato Pacifico, F
6 (5.º) — Sexta. — S. Norberto, B. S. Paulina, ";}
JUNHO.

7 (6.º) — Sabbado. S. Roberto, Abbade.


8 _(7º) — Domingo, S. Salustiano, C. S. Severino, B.
O B. Francisco de Patriciis, Servita.

9 (8.º) — Segunda. S. Primo e S. Feliciano, Marty


res, Santa Melania.

10 (9.") — Terça. — S. Margarida, Rainha de Escocia.


Quarto crescente de Junho á 1 hora e 13
minutos da tarde.

11 (10.º) — Quarta. S. Barnabé, Apostolo.


12 (11.º) — Quinta (Jejum no Patriarchado). S. João
de S. Fagundo. Santo Onofre. O B. Guido, F.
13 (12.°) — Serta X S. Antonio de Lisboa, F. (A. 52,
p. 260. A. 53, p. 191. A. 55, p. 243). Festa de instrumen
tal na sua Igreja a que assiste a Camara Municipal.
Foi abolido o dia santo dispensado em Braga, Bra
gança, CastelloBranco, Elvas, Guarda, Portalegre,
Porto, e Funchal.

14_(13.°) — Sabbado. S. Basilio Magno, Bispo. S. Eli


seu, Propheta.
15 (14º) — Domingo. S. Vito, M. Começa a Novena
de S. João Baptista.
16 (15.°) — Segunda. S. João Francisco Regis. S. Au
reliano, Bispo.
17 (16º) — Terça. S. Thereza, Rainha de Leão, Por
"#" S. Manoel e lrmãas, MM. O B. Paulo de Arezzo.
JUNHO.

18 (17.°) — Quarta. S. Marcos e S. Marcellino, Ir


mãos Martyres. A B. Osana, V. F.
Lua cheia de Junho ás 11 horas e 15
minutos da manhã.

19 (18.°) — Quinta. S. Juliana de Falconeri, Virgem.


S. Gervasiõ e S. Protasio, MM. A. B. Miquelina, V. F.
20 (19.º) — Sexta. S. Silverio, P. M. S. Macario. Co
meça a Novena de S. Pedro.

21 (20.º) — Sabbado, S. Luiz Gonzaga. Principia e


Verão (A. 51, 22 de Junho, A. 55, p. 259).
> 22 (21.º) — Domingo. S. Paulino, B. O B. Filippe de
Placencia, da Ordem de Santo Agostinho.
23 (22.º) — Segunda # S. João, Sacerdote.
S. Edeltrudes, Rainha da Bretanha.
24 (23.°) — Terça X. Nascimento de S. João Baptis
ta (4; 51, 24 de Junho, A. 52, p. 204. A. 53, p. 203, A. 54,
p.201, A. 55, p. 252). Festa em S. João da Praça, Peruha
de França, Lumiar, Almada, Alcochete, etc.
25_(24.°) — Quarta. S. Guilherme, Ab. S. Febro
nia, V. M. S. Tude, Advogado contra a tosse.
Quarto minguante de Junho ás 9 horas e 40
minutos da manhã.

26 (25.") — Quinta. S. João e S. Paulo, Irmãos Mar


tyres. S. Pelagio, Martyr.
27 (26.°) — Sexta. S. Ladisláu, Rei d'Hungria. O Bea
to Benvenuto, F.
74
• JUNHO.

28 (27.º) — Sabbado (Jejum). S. Leão II, Papa.


29 (28º) — Domingo. PUREZA DE N. SENHoRA. S. Pe
dro e S. Paulo, Apostolos (A. 53, p. 208. A. 54, p. 206).
Festa e Lausperenne na Igreja de S. Pedro em Alcan
tara, nos Inglezinhos, Lumiar, Cintra, e Seixal.
30 (29.º) — Segunda. S. Marçal, B. Festa na Graça.

S1GNO DE

1 (30.º) — Terça. S. Theodorico, Abbade (Alma


nach 51, 2 de Julho).
2 (1.º) — Quarta. VisITAÇÃo DE N. SENHoRA. Festa
na Igreja de S. Roque, cujo Orago é a Visitação, e nas
Silesias. Dia santo dispensado abolido no Funchal.
Lua nova de Julho ás 8 h. e 53 m. da manhã.

? (2°)— Quinta. s. Jacintho, M. S. Heliodoro, B.


JULHO.

4 {}} —Sexta.S. Isabel, Rainha de Portugal (A. 52,


p. 40, 72, 105, 281. A. 53, p. 213, 372). Festa na sua Fré
quezia, onde foi abolido o dia santo de guarda. Faz 55
annos a Serenissima Senhora Infanta D. Isabel Maria.
5 (4.º) — Sabbado. S. Athanazio. M. O B. Miguel
dos Santos, Advogado contra cancros e tumores.
6 (5.º) — Domingo. S. Domingas. V. M. Começa a
Novena de S. Camillo.

7 (6.º) — Segunda. S. Pulcheria, V. S. Claudio e


seus Comp., Martyres. Começa a Novena de N. Senhora
do Carmo.

8 (7.°) — Terça. S. Procopio, M. O B. Lourenço de


Brunduzio, F.
9 º}
— Quarta. S. Cyrillo, B. M. O B. S. João de
Colonia, M.D. O B. Nicoláu e seus Comp., Martyres.
10 (9.º) — Quinta. S. Januario e seus Comp., Marty
res. S. Amelia, V. Principia a Nov. de S. Justa. Dia do
nome de S. M. 1., a Snr.º Duqueza de Bragança. Pe
quena Gala.
Quarto crescente de Julho ás 6 h. e 45 m. da manhã.

, 11 (10.º) —Sexta. S. Sabino. Trasladação de S. Bento.


12 (11.°) — Sabbado. S. João Gualberto, Ab. S. Na
bor e S. Felix, Martyres.
13 (12.°) — Domingo. N. SENHoRA Do PATRocINio.
S. Anacleto, P. M. Faz 9 annos a Ser. Snr.º Princeza
D. Leopoldina, filha de S. M. o Imperador do "…:
JULHO.

14 (13.º) — Segunda, S. Boaventura, B. Cardeal, F.


15 (14.º) — Terça. S. Camillo de Lelis. S. Henri
que, Imperador. Festa na Magdalena a S. Camillo de
Lelis. •

16 (15.º) — Quarta. TRIUMPHo DA SANTA CRUZ. Nos


sA SENHORA DO CARMO. S. Sisenando, M. O B. Cesláu, D.
Festa a N. Senhora em S. Nicoláu, nas Religiosas de
S. Alberto, e no Convento da Estrella.

17 (16.º) — Quinta. Santo Aleixo.


Lua, cheia de Julho ás 8 h. e 54 m. da tarde.

18 (17,º) — Sexta. S. Marinha, V. M. S. Frederico, B.


O B. Simão de Lipnica, F. Foi abolido o dia santo de
guarda na Fréguezia de S. Marinha. Principia a No
vena de Sant'Anna.

19 (18.º) — Sabbado. Santas Justa e Rufina, Marty


res. S. Vicente de Paulo, Fundador da Ordem da Congre
gação da Missão e das Irmãs da Caridade. Festa e Lausp.
na Frég. de S. Justa, em que foi abolido o dia santo de
guarda. Faz 32 annos S.A. o Principe D. Luiz, Conde
de Aquila, Marido da Senhora Infanta D. Januaria.
20 {*}Domingo. — ANJo CUsToDIo Do REINo. 8.
Jeronymo Emyliano. S. Elias, Propheta. S. Margarida,
V. M. Festa e Procissão no Sacramento.

21 (20.º) — Segunda. S. Praxedes, V. Faz 13 annos


a Seren. Snr.º Infanta D. Maria Anna. Pequena Gala,
22 (21.°)—Terça. S. Maria Magdalena, Festa e Lausp.
na sua Frég., em que foi abolido o dia santo de guarda,
JULHO.
23 (22.º)—Quarta. S. Apollinario, B. M. S. Liborio, B.
A B. Joanna Vanna, V. D. Faz 10 annos o Ser. Snr. In
fante D. Fernando. Pequena Gala.
24 (23.°) — Quinta (Jejum). S. Christina, V. Martyr.
S. Francisco Solano, F.
Quarto ming. de Julho ás 2h. e 24 min. da tarde.
25 (24.º) — Sexta. S. Thiago, Ap. S. Christovão, M.
Festa e Lausp. em S. Christovão. Festa em S. Thiago.
Foi abolido o dia santo dispensado em Bragança, La
mego, Vizeu, Priorado do Crato e Beja, e o dia santo de
guarda nas outras dioceses. -

(25.º) — Sabbado. S. Symfronio. S. Olympio e S.


Theódulo, Martyres. Começa à Novena de S. Domingos.
27 (26.º)—Domingo. SANT'ANNA, MÃE DA MÃu DE DEUs.
S. Pantaleão, Medico e M. A. B. Cunegundes, W. F. Festa
de instrumental nas Freiras de S. Anna e nas de S. Joan
na. Festa e Procissão na Magdalena. Festa em Bemfica.

28 (27º)— segunda. Santo Innocencio, Papa.


29 (28º) — Terça. S. Martha, V.S. Olavo, Rei da No
ruega, M. Festa em S. Martha. Principia a Nov. de S.
Caetano. Faz 10 annos S.A. a Seren. Snr." Princeza
D. Isabel, filha mais velha de S. M. o Imper. do Brasil.
30 (29.º) — Quarta. S. Rufino, Martyr.
31. (1.º) — Quinta. S. Ignacio de Loyola. Juramento
da Carta Constitucional. Faz 44 annos S. M. I. a srº
Duqueza de Bragança. Grande Gala. Beijamão.
Lua nova de Julho ás 8 h. e 31 m. da tarde.
sIgNo DE |

AGOSTO.

. 1 (2.º) —Sexta (A:51, 1 de Agosto). S. Pedro ad


Vincula. Os Martyres de Chellas.
2 (3.º)— Sabbado. N. S. dos Anjos. S. Estevão, P. M.
Faz 32 annos S.A. a Ser. Snr.º Princeza de Joinville.

3 (4º) — Domingo. Invenção de S. Estevão Proto-M.


4 (5.º)—Segunda. S. Domingos. Festa em S. Joanna.
5 (6.º) — Terça. N. S. das Neves. Festa no Soccorro,
onde se abolio o dia santo de guarda, bem como o dis
pensado no Funchal.
6 (7.º) — Quarta. Transfiguração de Christo. Sant'—
Iago, Eremita. Festa no Salvador. Principia a Nov.
da Assumpção. Dia santo de guarda abolido na
*# … do Salvador e nas Cidades de Pinhel e Angra.
AGOSTO.

7 (8.") — Quinta. S. Caetano. S. Alberto, C. S. Se —


verino, Ml. O B. Vicente d'Aquila, F. Principia a Nov.
de S. Roque.

8 (9.°) — Serta. S. Cyriaco e seus Comp., Marty


res. S. Severo, Presbytero.
Quarto crescente de Julho ás 11 h. e 45 m. da manhã.

9 (10,º) — Sabbado (Jejum). S. Romão, M. O Bem


aventurado João de Salerno, da Ordem de S. Domingos.
10 (11.º) — Domingo. S. Lourenço, M. S. Filomena,
V. M. Princeza. Festa e Lausperenne na Fréguezia de
S. Lourenço, em que se abolio o dia santo de guarda.
11 (12.º) — Segunda. S. Tiburcio e S. Suzanna, MM.
12. (13.º) — Terça. S. Clara, V. F. Festa na sua
Igreja e nas Francezinhas.
13 (14.º) — Quarta. S. Hypolito e S. Cassiano, MM.
S. Helena, V. Martyr. O B. Pedro de Moleano, F.
14. (15.º) — Quinta (Jejum). S. Eusebio. S. Athana
sia, Viuva. O B. Sanches, F. A B. Juliana do Busto, A.
15 (16.º) — Sexta. X AssUMPÇÃo DE Noss A SENHORA.
Festa de instrumental na Sé. Ind. em varias Igrej. Festa
nos Clerigos Pobres. Procissão nas Flamengas ao Cal
vario. Festa na Ermida da Assumpção, na Rua da Pra
ta. Festa de instrumental, SS. Sacramento Exposto, ar
raial e feira, em Calhariz de Bemfica. Procissão e ar
raial no Barreiro. Festa na Peninha em Cintra. Jubi
leu no Arcebispado de Braga e por 8 dias no Patriar
chado. Principia a Novemã do Coração de Maria.
AGOSTO.

16 (17.º) — Sabbado. S. Roque, Franciscano (A. 54,


p. 252). S. Jacintho, da Ordem de S. Domingos. Foi um
dos dias santos dispensados abolidos no Funchal. Fes
ta na Igreja da Misericordia.
Lua cheia de Julho ás 5 horas e 21
minutos da manhã.

17 (18º)—Domingo. S. JoAQUIM, PAI DE N. SENHORA.


S. Mamede, M. A. Bem aventurada Emilia, V., da Ordem
de S. Domingos. Festa e Lausperenne em S. Mamede,
onde foi abolido o dia santo dispensado.
18 (19.º) — Segunda. S. Clara de Monte Falco, V., da
Qrdem de S. Agostinho. S. Lauro, M.
19 (20.º) — Terça. S. Luiz, B., da Ordem de S. Fran
cisco. Principia a Novena de Santo Agostinho.
20 (21.º) — Quarta. S. Bernardo, Abbade e Dr. da
Igreja.
21 (22.º) — Quinta. S. Joanna Francisca, Viuva,
S. Anastacio, M. S. Umbellina, Irmã de S. Bernardo.
22 (23.°) — Sexta. S. Timotheo, M.
Quarto ming. de Julho ás 8h. 30 m. da tarde.
23 (24.º) — Sabbado (Jejum). S. Filippe Benicio. S.
Liberato e seus Companheiros, MM. O Bemaventurado
Jacobo de Mevenha, da Ordem de S. Domingos.
24 (25.º) — Domingo. SAGRADo CoRAÇÃO DE MARIA.
S. Bartholomeu,_Apostolo (A. 51, 24 de Agosto)._Festa
na Ermida do Campo Grande e no Mosteiro da Encar
n açao.
81 3 A
AGOSTO.

25 (26º) — Segunda. S. Luiz, Rei de França.


26 (27.º) — Terça. S. Zepherino, P. M.
27 (28.°) — Quarta. S. José Calazans. S. Rufo, B. M.
28 (29.º) — Quinta. S. Agostinho, B. e Dr. da Igreja
29 (30) — Seata. Degollação de S. João Baptista.
*# #####sº, ºui", "º º
Lua nova de Agosto ás 10 h. e 37 m. da manhã.
31 (2º) — Domingo. S. Raymundo Nonnato, Cardeal.
Festa em Santa Martha.

SIGNO DE

SEPTEMBRO.
| $) —Segunda. S. Egydio, Ab. Principia a Nov.
de S. Nicoláu Tölentino (A. 51, 6 de Septembro, A. 53,
p. 268). Começão as férias, 82
SEPTEMBRO.

do 2 (4.º)
Carmo. — Terça S. Estevão, S. Brocardo, da Ordem

3 (5.º) — Quarta. S. Eufemia, Virgem Martyr. Os


Bemaventnrados João de Perusa e Pedro de Saxoferra
te, Martyres.
4 (6.º) — Quinta. S. Rosa de Viterbo, da Ordem de
S. Francisco. S. Candida.

5 (7.º) —Sexta. S. Antonino, Martyr, A. O B. Gentil,


Martyr. Trasladação dos MM. de Lisboa.
6 (8.°) — Sabbado (Jejum). S. Libania, Virgem,
da Ordem de Santo Agostinho. Os Santos dos Cónegos
Regrantes.
7 (9.º) — Domingo. S. João. M. S. Anastacio, M.
Quarto cresc. de Agosto ás 3 h. 20 m. da tarde.
8. (10.") — Segunda. NATIvinADE DE NossASENHORA.
S. Adrião, M. Festa e Lausp. na Ermida da Victoria. Fes
ta nas Necessidades, Loreto, Luz, Guia e Linda a Velha.
Dia santo de guarda abolido pela Bulla de 1844.
9 (11.º) — Terça. S. Sergio, P. A B. Seraphina, Vir
gem, da Ordem de S. Francisco,
10 (12.º) — Quarta. S. Nicoláu Tolentino, da Ordem
de Santo Agostinho.
11 (13.º) — Quinta. S. Theodora, Penitente. O B.
Bernardo de Ofida, F.

# (14.º) — Sexta, S, Auta, V. M.


SEPTEMBRO.

13 (15º) — Sabbado. S. Filippe, M.


14 (16.º) — Domingo. SANTIssIMo NoME DE MARIA.
ExALTAÇÃO DA SANTA CRUZ. Festa nas Francezinhas.
Festa a N. S. da Graça e a N. S. da Guia nas suas Igre
jas. Festa d'arraial na Cruz Quebrada. Festa dos Ce
reeiros a N. S. Franca, na Fréguezia de S. Thiago.
Festa na Igreja das Religiosas de Santo Alberto.
Lua cheia de Agosto á 1 h. e 31 m. da tarde.
15 (17.º) — Segunda. — S. Domingos em Soriano.
S. Nicomedes, Martyr.
16 (18.º) — Terça. Trasladação de S. Vicente, M. S.
Cornelio, M. Faz 19 annos S. M. o Senhor D. Pedro V.
Grande Gala. Beijamão.
17 (19.º) — Quarta (Temporas, Jejum). S. Pedro de
Arbues, M. As Chagas de S. Francisco.
18. (20.º) — Quinta. S. José de Cupertino. S. Thomaz
de Villa Nova, B.
19 (21.") —Sexta (Temporas Jejum). S. Januario,
Bispo Martyr. S. Constança, M.
20 (22.°) — Sabbado (Temporas, Jejum). S. Eusta
chio e seus Companheiros, Martyres. Começa a Novena
de S. Miguel.
21 (23.º) — Domingo. FEsTA DAs DoREs DE N. SE
NHoRA. S. Matheus, Ap. e Evang. S. Ifigenia, Princeza.
Festa em S Nicoláu, na Ermida das Dôres, e em San
tos o Velho.
Quarto ming. de Agosto ás 5 h. e 11 m. da …";
SEPTEMBRO.

22 (24.º) — Segunda (Temporas, Jejum). S. Mauri


cio, M. Começa o Out. (A. 51, 23 de Sept. A. 55, p. 327).
23 (25.º) — Terça. S. Lino, P. M. S. Tecla, V. M.
24 (26.º)—Quarta. Noss A SENHoRA DAs MERCEs. Fes
ta nas Mercês, em que foi abolido o dia santo de guar
da. Officio e Missa pela alma de S. M. o Sr. Duque de
Bragança. São prohibidos hoje os espectaculos publicos.
25 (27º) — Quinta. S. Firmino, B. M. S. Herculano,
Soldado M. O B. Pacifico de S. Severino. Começa a No
vena de S. Francisco de Assiz.

26 (28.º) — Sexta. S. Cypriano e Santa Justina, MM.


(A. 53, p. 290). A B. Luiza, V. Principia a Novena de
Nossa Senhora do Rosario.

27 (29.º) — Sabbado. S. Cosme e Damião, Martyres.


Santo Eleziario.

28 (30.º) — Domingo. S. Wencesláu, Duque de Bo


hemia. S. Bernardino de Feltro, Franciscano. O B. Simão
de Rochas. Festa da Dedicação da Igreja Parochial do
Sacramento na sua Fréguezia.
29 (1.º) — Segunda. S. Miguel Archanjo (A, 53, p.
293). Dia Santo de guarda abolido na Frég. dos Anjos e
dia santo dispensado abolido na de S. Miguel. Festa
em S. Miguel, na Frég. do Sacramento, no Mosteiro da
Encarnação, em S. Paulo, e na Fréguezia dos Anjos.
Lua nova de Septembro ás 3 h. e 11 m. da manhã.
30 (2.º) — Terça. S. Jeronymo, Dr. da Igreja. Festa
"grº em Belem. Acabão as férias.
SCORPIO.
SIGNO DE

OUTUBRO.

1 . (3.º) — Quarta. Santos, Verissimo, Maxima, e Ju


lia, Irmãos MM. Portug. (A 51, 4 de Out. A. 53 p. 295).
S. Remigio, B. Festa e Lausp. na Fréguezia de San
tos, em que foi abolido o dia santo de guarda.
2 (4.º) — Quinta. Os Anjos da Guarda (A. 54, p. 297).
3 (5º)— sexta. s. Candido, M. S. Maximiano, Bis
po. Trasladação de S. Clara.
4 (6.º) — Sabbado. S. Francisco de Assiz. Festa nas
Freiras de S. Clara, nas de Santa Anna, e no Soccorro.,
5 (7.º)— Domingo. SANTIssumo RosARIo DE N. SE
MHORA. S. Placido e seus Comp., MM. Festa a S. Miguel
em Santos o Velho. Procissão do Rosario nas Religiosas
do Bom Successo. Festa nas Religiosas do SS. Sacramen
to, ás Necessidades, no Convento de S. Joanna, e em S.
Nicoláu, instituida pelo Snr. Manoel Ribeiro da Silva.
6 (8.º) — Segunda. — S. Bruno. Começa a Novena
de Santa Thereza. 86
OUTUBRO.

7 (9.º) — Terça. S. Marcos, P. O B. Matheus Carre


rio, da Ordem de S. Domingos.
Quarto cresc. de Septembro as 5 h. e 1 m. da manhã.
8 º#### S.Brigida, Viuva, Princeza de Ne
ricia. S. Pelagia, Penitente.
9 (11.) — Quinta. S. Dyonisio, B. de Paris. SS. An
dronico e Athanasia, MM. Foi abolido o dia santo de
guarda no Funchal e o dispensado nos suburbios.
10, (12º) = Sexta, S. Francisco, de Borja, Padroeiro
do Reino e Conquistas. S. Luiz Beltrão. Principia a
Novena de S. Pedro de Alcantara.

11 (13.º) — Sabbado. S. Firmino, B. Primeira Tras


ladação de Santo Agostinho.
12 (14º)—Domingo. N. SENHoRA Dos REMEDIos. Pa
trocinio de S. José. S. Cypriano, B. M. S. Seraphino, F.
Festa na Sé. Festa e Lausp. nas Freiras do Rato. Co
mºça a Feira do Campo Grande.
13 (15.º) — Segunda. S, Eduardo, Rei de Inglaterra.
S. Daniel e seus Comp., MM. Festa das Palmelôas na
Penha de França.
Lua cheia de Septembro ás 10 h. e 22 m. da manhã.
14 (16º) — Terça. S. Calisto, P. M. Faz 39 annos
S.A. o Principe de Joinville, Esposo de S. A. R. a Ser.
Sr.º Princeza D. Francisca.

15 (17.") — Quarta. S. Thereza de Jesus, V., C. Festa


*# ?……… da Estrella. Começa a Novena de S. Ra
phael.
OUTUBRO.

16 (18º)—Quinta. S. Martiniano, M., A. S. Gallo, Ab.


17 (19.°) — Sexta. Santa Hedwiges, Viuva, Duqueza
de Polonia.

18 (20.º) — Sabbado. S. Lucas Evangelista.


19 (21.º) — Domingo. S. Pedro de Alcantara, F. Fes
ta em S. Pedro, em Alcantara.

20 (22.°) — Segunda. S. Iria, V. M., Portugueza. S.


João Cancio. Dia santo de guarda abolido no Arcedia
gado de Santarem e Prelazia de Thomar.
Quarto ming. de Septembro ás 5 h. e 29 m. da tarde.
21 (23º) — Terça. S. Ursula e suas Comp. VV. MM.
Festa das 11,000 Virgens em Santa Martha.
(24.º) — Quarta. Dedicação da Basilica de Mafra.
S. Maria Salomé. O B. Gregorio Celli, A.
23 (25.º) — Quinta. S. João Capistrano, F. S. Ro
mão, B. S. João Bom, A.

24 (26º) — Sexta. S. Raphael Arch. S. Fortunato, M.


25 (27.º) — Sabbado. Santos Chrispim e Chrispinia
no, Irmãos MM.
26 (28º) ;#"gº. Santo Evaristo, P. M. O B. Boa
ventura de Potenza, F. Faz 54 annos o Sr. D. Miguel
de Bragança. Festa das 11,000 Virgens em S. Joanna.
27. (29.º) — Segunda (Jejum). Os MM. d'Evora.
S. Elesbão, Imp. da Ethyopia. 8s
OUTUBRO.

28 (1.º) — Terça. S. Simão e S. Judas Thadeu, Apos


tolos. Dia santo abolido pela Bulla de 1844.
Lua nova de Outubro ás 9 h. e 18 m. da tarde.

29 (2.º) — Quarta. Trasladação de S. Isabel, Rainha


de Portugál. S. Feliciano, M. S. Eusebia, V. M. A. B. Bem
vinda V., D. Faz 40 annos S. M. El-Rei D. Fernando.
Grande Gala. Beijamão.
30 (3.º) — Quinta. S. Serapião, Bispo, C.
31 (4.º) — Sexta (Jejum). S. Quintino, M. Faz 18 an
nos o Ser. Sr. Inf. D. Luiz Filippe. Pequena Gala.

SIGNO DE SAG1TTARIO.

NOVEMBRO.

1 (5.º)—XX. Sabbado. FESTA DE ToDos os SANTos, Ju


bileu no Arcebispado de Braga e por 8 dias no Pa
triarchado. Festa ao Senhor Jesus da Via Sacra em
Santa Engracia, e de tarde Procissão por voto, pelo
terremoto de 1755. Festa e Procissão por voto em Caci
lhas. São prohibidos hoje os espectaculos publicos.
(A. 51, 1 e 4 de Nov. A. 54, p. 325.)
NOVEMBRO.

2 (6.º) — Domingo. S. Victorino, M.


3 (7.º) — Segunda. Commemoração dos Defunctos.
S. Malaquías, Bispo Primaz da Irlanda. São hoje pro
hibidos os espectaculos publicos (A. 51, 2 de Nov. A 52,
pag. 329. A. 53, pag. 326).
4 (8.º)—Terça. S. Carlos Borromeu, Arceb. Cardeal.
Faz 9 annos o Serenissimo Sr. Infante. D. Augusto. Pe
uena Gala. Faz 45 annos S. A. o Serenissimo Sr. In
### D. Sebastião,
ria Thereza. filho da Serenissima Sr.º D. Ma

5 (9.º) — Quarta. S. Zacharias e S. Isabel, Pais de


S. João Baptista. Faz 11 annos S. A. o Ser. Sr. D. Pedro
Filippe, Duque de Penthievre, filho de SS. A.A. RR. o
Principe de Joinville e a Serenissima Sr.º Princeza D.
Francisca.
Quarto crescente de Outubro ás 4 horas e 46
minutos da tarde.

6 (10.º) — Quinta. S. Severo, Bispo Martyr. S. Leo


nardo. Principia a Nov. de S. Gertrudes. Oficio e Mis
sa por alma do Sr. D. João IV, fallecido n’este dia.
7 (11.º) — Sexta. S. Florencio, B. Principia a No
vena do B. Gonçalo de Lagos.
8 (12º) — Sabbado (Jejum excepto nos Bispados
de Coimbra e Aveiro e no Priorado do Crato). S. Seve
riano e seus Comp. MM.
9 (13.º) – Domingo. PATRoc1N1o DE NossA, SE
NHoRA. S. Theodoro, M. Os Santos da Ordem de S.
Domingos. 90
NOVEMBRO.

10 (14º) — Segunda. — S. André Avelino. Os De


functos da Ordem de S. Domingos.
11. (15º) — Terca. S. Martinho, B. (A. 51, 12 de Nov.
A. 52, p. 338, A. 53, p. 335, 336. A. 54, p. 336. A. 55,
p. 364 e 365). Festa na Fréguezia de S. Thiago.
12 (16º) — Quarta. S. Martinho, P. M. S. Diogo, F.
Lua cheia de Outubro ós 8 h. e 19 m. da manhã.

13 (17.") — Quinta. Santo Eugenio, B. de Toledo. Os


Santos das Ord. de S. Agostinho, S. Bento, e SS. Trin
dade.

14 (18º) — Sexta. Trasladação de S. Paulo, Primeiro


Eremita. O B. Gabriel, F. O B. João Licio, D. Os San
tos da Ordem do Carmo.

15 (19.°) — Sabbado. Dedicação da Basilica do SS. Co


ração de Jesus. S. Gertrudes Magna. O B. Alberto Ma
gno, D. Festa no Convento do Coração de Jesus.
16 (20.º) — Domingo. O B. Gonçalo de Lagos, A.
S. Ignez, V. F. S. Valerio. A B. Luiza Narzi, V. Começa
a Novena de S. Catharina.

17 (21.º) — Segunda. — S. Gregorio Thaumaturgo, B.


18 (22.º) — Terça. — S. Romão.
19 (23.°) — Quarta. S. Izabel, Rainha de Hungria,
Quarto ming. de Outubro ds 9 h. 57 m. da manhã.
20_(24.º) — Quinta. S. Felix de Valois, Fundador
dos Trinos.
NOVEMBRO.

21 (25.º) — Sexta. APRESENTAção, DE N. SENHORA.


Indulgencias em varias Igrejas. Foi abolido o dia
santo dispensado no Funchal.
22 (26º) — Sabbado. S. Cecilia, V. M. Grande festa
de instrumental nos Martyres, á qual assistem SS.MM.
(A. 51, 22 de Nov., A. 52, p. 348).
23 (27.º) — Domingo. S. Clemente, P. M. S. Feli
cidade, Maityr.
24 (28.º) — Segunda. S. João da Cruz, C. S. Estanis
lau Kotska. S. Chrysogono, M.
25 (29.º) — Terça. S. Catharina, V. M. Festa na sua
Fréguezia em que foi abolido o dia santo de guarda.
Principia a Novena de S. Barbara.
26 (30.º) — Quarta. S. Pedro Alexandrino, B. M.
A B. Delfina, Viuva, da Ordem de S. Francisco.

27 (1.º) — Quinta. S. Margarida de Saboia, Viuva, D.


O B. Leonardo de Porto Mauricio. Os Santos da Ordem de
S. Paulo, 1.º Eremita. Principia a Nov. de S. Nicoláu.
Lua nova de Novembro ás 3 h. 18 m. da tarde.

28 (2.") — Sexta. S. Gregorio III, P. S. Jacobo de


Marca, da Ordem de S. Francisco.

29 (3.º) — Sabbado # S. Saturnino, M. Os


Santos das 3 Ord. de S. Francisco. Principia a Nov. de
N. Senhora da Conceição, na sua Igr, Loreto, Anjos, etc.
30 (4.º) — Domingo (1.º do Advento). (A. 51, 30 de
Novembro). S. André, Apostolo. 92
>

Sl GNO DE {*=

1 (5.º) — Segunda. S. Eloy. B. E o Santo dos Ou


rives; festeja-se na sua Capella, na Rua da Prata,
quando para lá vai o Lausp., o que anda por este tempo.
(Almanach 51, 1 de Dezembro).
2 (6.º) — Terça. S. Bibiana, V. M. Os Defunctos das
3.Ord." de S. Francisco. Faz 31 annos S. M. o Impera
dor do Brasil. -

3 (7.º) — Quarta. S. Francisco Xavier, Apostolo das


Indias. Festa em S. Roque. *

4 (8.°) — Quinta. S. Barbara V. M. S. Pedro Chry


soIogo, B. Oficio de Santa Cecilia nos Martyres.
5 (9.°) —Sexta. S. Giraldo, Arceb. de Braga. S. Sab
bas, Ab. A. B. Izabel Bona, V. F.
Quarto crescente de Nov. as 2h. 49 m. da manhã.

6 (10.º) — Sabbado (Jejum). S. Nicoláu, B. Festa


nq sua Frég., em que foi abolido o dia santo de guarda,

"#7 (11º)—Domingo (2.º do Advento). S.Ambrosie, B.


a Igreja (A. 52, p. 51). Matinas na Sé.
DEZEMBRO.

8 (12.º) — Segunda. KK NossA SENHORA DA CoNCEI


çÁo, Padroeira do Reino e Conquistas (A. 51, 8 de Dez.
A. 53, p. 315). Assistem SS.MM. á festa de Pontifical na
Sé, e são obrigados a assistir tambem com os seus man
tos todos os Grã-Cruzes e Commendadores da Concei
ção que se acharem na Côrte. Benção Papal. Festa na
Conceição, Nova e Velha, no Convento da Estrella, nos
Inglezinhos, Loreto, Freiras de S. Anna, Anjos, S. Lou
renço, Santos o Velho, S. José, S. Christovão, S. Joanna.
9 (13.º) — Terça S. Leocadia, V., M.
10. (14.º) — Quarta. S. Melquiades, P. M. Traslada
ção da Santa Casa do Loreto.
11 (15.º) — Quinta. S. Damaso, Papa Portug. S. Fran
cisco, da Ordem do Carmo.
Lua cheia de Novembro ás 7 h, e 36 m. da tarde.

12 (16º) — Sexta. S. Justino, Martyr.


13 (1°)… Sabbado. Santa Luzia, V. M. o B. João
Marinonio. Festa em S. Luzia e nas Chagas.
14 (18º)-Domingo (3º do Advento): S. Agnello, Ap.
Festa à N. Senhora da Conceição, na Guia.
15 (19.º) — Segunda. S. Eusebio, D. Martyr.
16. (20º)—Terça. As Virgens d'Africa, MM, O B. Se
bastião Magi, D. Trasladação de S. Maria Magdalena de
Pazzi. Principia a Novena do Natal.
17 (21;º) —Quarta (Temporas, Jejum). S. Lazaro, B.
S. Bartholomeu de S. Geminiano. 94
DEZEMBRO.

18 (22.º) — Quinta. N. Senhora do O'. S. Esperi


dião, Carmelita (Dia santo de guarda abolido na
Fréguezia de Bemfica, e dia santo dispensado abolido
no Funchal).
19 (23.º) — Sexta (Temporas, Jejum). S. Fausta, Mãi
de Santa Anastacia. •

Quarto ming. de Nov. às 6 h. 7 m. da manhã.


20. #bºdº (Temporas, Jejum). S. Domingos
de Silos, Abbade.

21 (25.º) — Domingo (4º do Advento). S. Thomé,


Apostolo. Festa na sua Fréguezia, onde foi abolido o
dia santo dispensado. Principia o Inverno.
22 (26.º) — Segunda. S. Honorato, Martyr.
23. (27º)—Terça; S. Servulo, Advogado contra a pa
ralysia, S. Victoria, V. M. Faz 50 annos S.A. a Serenis
sima Senhora Infanta D. Anna de Jesus Maria.
24. . (28.°) — Quarta (Jejum). S. Gregorio, M. Matinas
na Sé com instrumental. Férias até aos Reis.

25 (29.º) — Quinta. XX. NAscIMENTo DE N. SENHOR JE


SU-CHRISTO, Jubileu no Arcebispado de Braga e por 8
dias no Patriarchado. Festa de instrumental e Pontifi
gºl na Sé. Festa no Loreto, S. Roque, etc. Pequena Gala.
São prohibidos hoje os espectaculos publicos (A. 51,
25 de Dez. A. 52, p. 377. A. 55, p. 396).
26 (30.º) — Sexta (1.º Oitava). S. Estevão, Proto M.
Festa e Lausperenne na sua Igreja. Dia santo de guar
"gº" pela Bulla de 1844.
DEZEMBRO.

27 (1.º) — Sabbado (2.º Oitava). S. João, Apostolo e


Evangelista. Foi um dos dias santos dispensados aboli
dos pela Bulla de 1844.
Lua nova de Dezembro ás 8 h. e 8 m. da manhã.

28 (2.º) — Domingo (3.º Oitava). Os Santos Innocen


tes, MM. Foi um dos dias santos dispensados abolidos
pela Bulla de 1844. Está patente ao publico a Santa Casa
da Misericordia. Costuma ser festejada na Frég. da Mag
dalena no ultimo dom. de Dez. a Senhora da Conceição
e Caridade, que veste n'este dia uns poucos d'orphãos.
29 (3.º) — Segunda. S. Thomaz, Arcebispo de Can
tuaria, M. Festa nos Inglezinhos.
30 (4.º) — Terça. S. Sabino, Bispo Martyr.
31 (5.º) — Quarta. S. Silvestre, P. (A. 51, 31 de Dez.)
Pequena Gala. Dia santo dispensado abolido pela Bulla
de 1844. Assistem SS.MM. ao Te-Deum de instrumental
na Sé, em acção de graças pelos beneficios rccebidos no
decurso do anno. Te-Deum em todas as Cathedraes e
Collegiadas. •

96
ALMANACH DE LEMBRANÇAS.

1 DE JANEIRO (Terça feira).


GRANDE NARIZ.—Numa canção a um nariz descon
forme, im
pressa na
Phenia. Re -
nascida, poz
o author, D.

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-
• –<>"
->==--

#" para que está virado o nariz d'aquell


|: 8TaVuT{\
2 DE JANEIRO (Quarta feira).
THOMSON E QUIN. — Foi Thomson um célebre poéta
escocez do seculo XVIll, author de diversas poesias e tra
gedias, e mais particularmente conhecido pelo seu poema
das Estações. Foi pobre, como quasi todos os poétas. In
formado o famoso actor inglez Quin (de quem outro dia
fellaremos, pois o merece) de que acabava de ser preso o
illustre escriptor, a pedido de um de seus numerosos
crédores, vai-se ter com elle, e assim lhe diz: «Venho
agradecer-vos o bem que me haveis feito sem o saber:
estava a pontos de morrer quando li as vossas Estações,
e tal prazer me deram, que em testemunho d'elle vos con
sidero no meu testamento com um legado de 200 libras
esterlinas; agora porém que estou bom, o que em gran
de parte attribuo á vossa obra, e que talvez tenha ainda
de viver largos annos, e quem sabe se até mais do que
vós, acho que é melhor satisfazer-vos eu proprio aquella
quantia do que deixar isso para o meu testamenteiro. »
E entregues as duzentas libras, desappareceu, sem lhe
dar sequer o tempo de agradecer-lhe.
Ainda Quin não tinha sahido, que já Thomson ex
clamava : « Assim foi melhor, pois talvez o testamentei
ro me roesse a corda!»

3 DE JANEIRO (Quinta feira).


JORNADA DA LOURINHA. — Discutindo entre si dous
individuos ácerca da sempiterna questão do oriente, e
provando um d'elles na discussão não ter conhecimento
algum das localidades em que se estão passando tão im
portantes acontecimentos, # o que mais conhece
dor d’ellas se mostrava :
hái « O homem! vossê parece que chega da Louri
El Ild !... >
— «Parece, é muito boa! lhe replica o outro; pois vos
sê não o sabe? não viémos juntos!?...
* 98
4 DE JANEIRO (Sexta feira).
IMPERADOR COMMODO. — Foi filho e Successor de
Marco Aurelio e bisneto de Trajano por sua mãi Faus
tina. Nasceu no anno 161 de J. C. e foi acclamado Im
perador em 180. Educaram-no philosophos e homens
virtuosos; tornou porém imuteis, essas lições a ferocida
de natural de seu caracter. Na idade de 12 annos, man
dou deitar dentro d'uma fornalha ardente a um escravo
que lhe havia aquécido demasiado o banho; para o per
suadir de que havia sido cumprida a sua determinação,
fez um de seus pedagogos deitar na fornalha uma pelle
bem fresca de carneiro, e grande contentamento causou
ao Soberano o cheiro que esta lançava, e que elle tomou
pelo do corpo consumido do escravo. Semelhante a Nero
e a Domiciano, folgava de derramar o sangue de seus sub
ditos e de perseguir os Christãos. Erão sobretudo os se
nadores e os chefes do imperio que tratava com maxima
crueldade. Não contente com desterrar, despojar, e as
sassinar, sob vãos pretextos, as mais conspicuas perso
magens de Roma, não houve qualidade alguma de vicio
que não tivesse. Fez-se chamar Hercules, e para imitar
o seu heróe, cobria-se como elle com uma pelle de leão,
e servia-se de uma grande massa. Combatia muitas ve
zes no circo com os gladiadores e perseguia os animaes
ferozes no amphitheatro. Havendo sido Perennis e Clean
dro, dous dos mais altos empregados do imperio, assassi
nados por sua ordem, Loeto, collega d'elles, receou para si
a mesma sorte, e induzio Mastia, sua amasia, a envene
mal'o; como porém não produzisse o veneno promptamente
o seu efeito, mandou-o estrangular por um athleta, cha
mado Narciso, no anno 192 de J. C. Dizem que para não
ser obrigado a confiar a cabeça a um barbeiro, quei
mava a barba como Dionysio de Syracusa. — Uma cousa
de que os perversos nunca se penetrão, é de que até ao
fim da vida têem de viver em lucta com a propria
consciencia. *
5 DE JANEIRO (Sabbado).
ULTIMAS PALAVRAS D'ANNA BOLENA — «lde di
zer a El-Rei que até á morte me acompanhará a lem
brança de seus beneficios. Nasci nobre, é verdade, po
rém elle fez-me marqueza, Rainha e sua esposa; e não
podendo dar-me nada mais na terra, põe hoje o ultimo
termo a tantas honras com a palma do martyrio.» (A. 51,
19 e 28 de Maio, A. 53, p. 250. A. 54, p. 177)
6 DE JANEIRO (Domingo).

À #B0RAÇÃO B9S MAGOS,


*###Q333=

Que estrella tão fulgurante Viram, leram, os tres Magos


Que reluz no céu do oriente! A estrella do nascimento,
Tão alva como o diamante, Leram seus sonhos presagos
Como a per'la transparente ! No livro de firmamento:
Astro de tanta lindeza Conduzidos pelo astro
Não creou a natureza Levão eofres d'alabastro,
Entre as estrellas do céu; De myrrha e d'ouro tambem;
E' signal que se traduz Vão adorar o Messias,
Aquelle oceano de luz, Que, segundo as prophecias,
Que da noite rasga o véu. Nasceu agora em Bethlem.
E' signal que o Redemptor Não o procureis ao lado
Vem cumprir asgºlºs , D'esse Herodes impostor,
E' a estrella do Senhor, Que quer ser idolatrado
Como a predisse Isaias: Qual Nabuchodonosor :
E' a luz do Evangelho, Magos, fugi da cilada,
Que deslumbra o mundo velho Fugi da côrte empéstada
Nas trevas da corrupção; Do falso rei dos judeus;
E' pharol da nova lei, Fugí do rei orgulhoso,
Que vem resgatar a grei Deixai o louco vaidoso,
Dos ferros dã escravidão. Que quer luctar contra *#
Nesses paços ha mentira, Em torno ao berço sagrado
Ha tyrannia e traição; Entoão anjos um hymno;
Os raios da sua ira Sobre as palhas reclinado
Despede Herodes em vão; Dorme um Deus n'esse Menino;
Sempre em vão, que não alcança Olhai a Virgem prostrada, -
Nos seus sonhos de vingança Junto d'Elle ajoelhada,
Desmentir a prophecia; Olhos cravados no céu ! ..
Sente aos pés tremer o solio; Vêde o esposo venerando
Treme em Roma o Capitolio O Salvador adorando,
Ao clarão do novo dia. Que das alturas desceu !...

A'vante, Magos, ávante, «Salve! Messias de paz,


Que essa estrella vos conduz; Nobre filho de David !
Vêde-a bem parar diante Essa estrella que nos traz,
Do alvergue de Jesus! Nos conduzio para Ti :
E ahi, entre os pastores, O teu rosto é mais brilhante
E' n'esse berço de flôres Do que o sol lá no levante;
Onde está o Redemptor, Tens por throno o firmamento:
E nas feições da innocencia Pelo poder do teu braço
Que a Divina Providencia Girão mais mundos no espaço
Escondeu o seu fulgor. Do que abrange o pensamento.

Nossas joias, nossos oiros,


Vimos depôr a teus pés:
Nossos sceptros e thesouros
Tudo aqui por terra vês:
Curvai-vos, grandes da terra,
Ante este berço que encerra
O Senhor, o Rei dos Céus!
Curvai-vos, povos do mundo,
Ante o mysterio profundo,
Ante o mysterio de Deus! »

José Maria do Casal Ribeirº.


101
{ 7 DE JANEIRO (Segunda feira).
LUZ ELECTRICA. — Um dos efeitos physicos da elec
tricidade é o desenvolvimento de luz. Fazendo-se com
municar duas pyramides cónicas de carvão calcinado con1
os pólos d’uma pilha, e avisinhando-se os vertices dos
carvões, apparece uma luz que pela sua intensidade só
pode ser comparada á solar. Tem-se querido tirar pro
veito d'este phenomeno, applicando a luz electrica á il
luminação, mas entre outros inconvenientes avulta o da
necessidade de fazer com que se aproximem os carvões
á medida que vai tendo logar a combustão: diferentes
meios têem sido propostos, como o de estabelecer um
systema de rodagens movido pela propria corrente elec
trica, porém á difficuldade de o conseguir acresce o gran
de dispendio que se faria empregando-o.
{ 8 DE JANEIRO (Terça feira).
ANIMALINHO POETICO. — Ha, na Havanna e em seus
arredóres um animalinho, do tamanho d'um besouro, a
que alli chamão: cuculto. De dia mette-se por buracos e
ninguem o vê; mal porém chega a noute, sahe da toca e
vai passear. Tem por cima dos olhos dous pontinhos,
amarellentos e embaciados quando o animal está em re
ouso, azulados e brilhantes assim que se move. As mu
#" são em toda a Wlha de Cuba supersticiosissimas com
o tal bicharoco, e dão-no de presente aos moços que as
pedem em casamento, recommendando-lhes cuidadosa
mente que lhes não escrevão senão á claridade que dão
os taes insectos, pois tem a phosphorescencia que a pro
duz mysteriosas virtudes, uma das quaes é proteger cas
tos amores. Não é raro ver n'aquella ilha mulheres com
duas e tres ordens de folhos no vestido, folhos que só de
cucultos, unidos uns aos outros, são formados, ornato
que nem por isso faz grande vista—pois acaba a phospho
rescencia com a vida do animal —mas anda sempre asso
ciado a idéas eróticas (A 51, 21 de Janeiro). 102
9 DE JANEIRO (Quarta feira).
CALCADO. — Não se sabe de que tempo data. O que
os antigos chamavão: calceamentum, era de couro por
curtir. Tambem se fez antigamente com a casca da arvo
re: papyro, e com junco. Os Imperadores e magistrados
romanos trazião cothurnos de seda incarnada, ou de pan
no de linho muito branco, bordados, e ornados com pé
rolas e diamantes; as pessoas de inferior condição cal
çavão-se com ferro, bronze, ouro e prata: os sapatos de
ferro não servião senão para o supplicio dos christãos,
depois de postos em braza os pregos que lhes mettião por
dentro. Os sapatos ordinarios dos romanos erão d’ouro
ou dourados; os da gente pobre erão de páu. Os homens
trazião-nos pretos e às mulheres brancos. Diferençavão
se os dos senadores e patricios por uma meia lua, distinc
tivo de que procedião dos cem senadores e patricios ins
tituidos pelo famoso Romulo. Estas meias luas erão d’ou
ro, prata, ou marfim, ornadas de diamantes e outras pe
dras preciosas. Os magistrados romanos e os generaes,
nos dias de ceremonia e de triumpho, trazião sapatos in
carnados. Só os escravos é que andavão descalços. Diz
Tacito que Phocion e Catão d’Uttica andavão assim. As ce
remonias religiosas só com os pés descalços se practica
vão, e ainda hoje se practicão, entre muitos povos; os
egypcios adoravão e sacrificavão com os pés nús; as da
mas romanas descalçavão-se nos sacrificios de Vesta; os
pontifices pagãos ordenavão procissões de gente descal—
ça; os turcos não entrão ainda hoje em suas mesquitas
Senão depois de tiradas as sandalias. Os christãos da
Ethyopia têem o mesmo respeito ás suas igrejas, e os
brahmenes das Indias aos seus pagodes. Entre nós, na
Procissão dos Passos da Graça, todos os annos vão senho
ras descalças, quasi sempre fidalgas, debaixo do andor,
ganhando assim, com as promettidas indulgencias, uma
boa constipação (A. 51 15 de Julho e 16 d'Agosto p. 224.
25$4.52. p. 165 A. 53 p. 92.164. A. 54). --
103
10 DE JANEIRO (Quinta feira).
TBANDO
PARA A FESTA DE S. GONÇALLO,
QUE SE VENERA NA IGREJA Do SENHOR DO BOMFIM, NA BAHIA.
Do festejo do Santo mais santo
Escutai a fiel narração,
Que mandou a devota Irmandade
Fazer hoje por este pregão.
Nove noites, que o Santo permitta
Sejão claras, formosas, serenas,
Precedidas de salvas constantes,
Se farão as usadas novenas.

Desde quatro até dez do corrente,


Das novenas teremos álem,
De mil cousas de gosto e de luxo
Variado sorteio tambem.
Em seguida (Que grande e que bello,
Que solemne espectac'lo!) attentai!
Hade haver um palacio de fadas,
Não vos minto, vereis. Escutai!
Hade o adro tornado em jardim
Inundar-se de luzes n'um mar;
Notas cheias de doce harmonia
Hãode as auras subtis embalar.
Para dar ás estrellas noticia
Dos prazeres da leda funcção,
Hade, em nuvens de vivas montado,
Cada hora subir um balão.
Lindo fogo, cem salvas, mais uma,
(Em cortejo ás Bahianas) o fim
Dão á vesp'ra, que o dia seguinte
E o dia que toca ao festim.
104
Neste, álem do que fica já dito,
Ha TE-DEUM, ha um fôgo de planta,
Que, segundo o factor assevera,
Pelas vistas e côres encanta.
Eis, Bahianos, um quadro succinto
Do festejo que havemos de ter,
Para o qual, como povo devoto,
A porfia deveis concorrer.
E' a vós, ó meninas Bahianas,
De quem todo este mundo é vassallo,
Que mais tocão a galla e primores
Do festejo do Santo GONÇALLO.
Da demanda melhor das meninas
Dizem ser este Santo juiz;
Tratem pois de cahir-lhe na graça,
Se quizerem sentença feliz.
Este Santo... (Que dote, que gloria,
Que poder milagroso, sem par !
Este Santo (Escutai namorados)
Faz os moços e moças casar.
Quando aqui S. GONÇALLO primeiro
Festejou-se, de antigos assentos
E' constante que houveram no anno
Alguns cinco a seis mil casamentos.
Certa moça, devota do Santo,
quem joven aos votos traidor
Transformara em crueis desenganos
As douradas promessas de amor,
De joelhos pedindo-lhe um dia
Um remedio a seu fado infeliz,
Vio o Santo tirando-lhe o noivo
Da manguinha da sobrepelliz.
105
Os milagres que faz n’este assumpto
Não ha penna que os possa narrar;
Deve pois festejar S. GONÇALLO
Toda a moça que queira casar.
Que se case tambem uma velha,
Não é raro; bem pode por tanto
Cada velha que queira casar-se
Dar tambem uma esmola p'ra o Santo.
Velhos, moços, e moças e velhas,
Todos juntos deveis festejar -

Ao bom Santo que alegra os amantes,


Ao bom Santo que sabe casar.
Mas a vós, ó meninas Bahianas,
De quem todo este mundo é vassallo,
E que toca fazer os primores
Do festejo do Santo GONÇALLO,
• + + + (Brasileiro).
• •

11 DE JANEIRO (Sexta feira).

PLANICIE DE PHARSALIA. – Foi edificada a moder


na cidade de Pharsalia em uma collina d'onde alcança a
vista até á famosa planicie que vio expirar ante a fortuna
de Cesar a liberdade de Roma. D'alli se distinguem ain
da todos os sitios descriptos por Lucano; aquelle em que
aguerridas legiões mutuamente se atacaram; os desfila
deiros por onde fugiram os vencidos; o ponto em que
n'um frágil batel se ha confiado ás ondas o immortal Pom
peu (A. 55 p. 161).
. Essa planicie, que se estende até aos arredóres de La
risse, está coberta de aldeias. Pharsalia contém 5 a 6,000
habitantes, os quaes se distinguem por sua actividade,
industria e aptidão &#
106
12 DE JANEIRO (salvado).
CHARUTOS DE MANILHA, — O que ha de mais nota
vel n'esta cidade, a principal do archipelago das Filip
# é a fabrica real de charutos em que trabalhão
,000 mulheres, sentadas por secções de 10 a 12 á roda
de mesas cobertas de tabaco e das ferramentas proprias
para lidar com elle. O barulho que fazem, trabalhando e
conversando, é de atordoar. Podéra! 9,000 mulheres!...
São todas feias e andão com as tranças desgrenhadas,
o que mais feias ainda as faz parecer. Sahem duas vezes
por dia do estabelecimento; ao meio dia para jantarem,
e de tarde quando se recolhem, enchendo todas as ruas
da cidade, que então parece habitada tão sómente pelo
sexo feio. O bello sexo em Manilha são os homens.
Cada operaria faz por dia para cima de 200 charutos,
de modo que produz a fabrica diariamente dous milhões
d'elles, ou, deduzidos os dias feriados, uns 700 milhões
cada anno, que d’alli se exportão para todo o mundo.
--Alem d'esta fabrica, ha em Manilha algumas outras
que occupão cerca de 3,000 operarios, d’onde se collige
que a outava pºrte da população ganha a vida com o fa
bríco dos charutos e cigarros. •

13 DE JANEIRO (Domingo).
CHARADA.

Se a 1.° tem por cima A 2.º é de côr verde


O todo d'esta charada, Quando não está madura : 6
Tem de certo a côr escura, “Quando os filhos tem creados
Nem lhe pode ser mudada. Logo a côr se faz escura.
E' o todo de côr negra;
Se branqueia, é máu signal;
. -. Entre nós é mal acceita,
A não ser no carnaval.
107
14 DE JANEIRO (Segunda feira).

O MARECHAL SALDANHA E O CORO


*NEL PACHECO. — Depois de uma batalha
bem dada e bem ganha pelo Marechal Sal
danha, escrevia-lhe um dos seus oficiaes,
o Coronel Pacheco, uma carta pouco mais
ou menos n’estes termos:
Marechal ! •

«Todos louvão a V. Exc." por esta acção;


mas eu pela minha parte declaro que é V.
Exc.º a vergonha do exercito portuguez / V.
Exc.º não se contenta de ser um General;
faz o serviço de todos os coroneis, de todos
os capitães, de todos os oficiaes superiores
e inferiores, e ás vezes até dos soldados:
quem vir isso hade por força dizer que para
nada prestão os nossos militares.»
Não ha censura mais honrosa nem louvor
mais bem cabido.

15 DE JANEIRO (Terça feira).


BARRO DE FAMA.—Nos arredóres da muito antiga ci
dade de Andujar, na Andalusia, achou-se um barro leve,
de um amarello pardacento, de que se fazem certos va
sos que alli se chamão pujaros ou: alcarazas. Postos ao
ar corrente, refresção é purificão a agua. Exportão-se pa
ra toda a parte de Hespanha, e sobre tudo para Castella
e Estremadura. Por isso boas tres quartas partes dos ha
bitantes d'Andujar são olleiros. Andujar é na Hespanha
o que é em Portugal, Estremoz, villa afamada em todo o
reino, e não desconhecida fóra d’elle, pelos seus morin
gues, garrafas e pucarinhos, lavrados, e enfeitados de
passaros, flores e fructos, da mesma materia, e lustro
ºsamente pintados (A.53. p. 89). 108
16 DE JANEIRO (Quarta feira).

0{I}
nº till:
DESEJOS DO CORAÇÃ0.
er#N. Em meigos transportes pedia minha alma,
s ºitº Pedia, esse dia, que eu fosse ao rosal
JJºãº Fazer ramalhetes, colher uma rosa,
Que prenda d’uns annos saudasse um natal.
Oh! sim, que faz annos quem hoje quizera
Cingir com meus braços, ter junto de mim !
S'tou longe, e não posso de abraços cercal'a,
Sou pobre, e só tenho meu parco jardim.
Crueis ventanías, os gelos do inverno,
Varreram-me as flôres sem magoa, sem dó:
As rosas murcharam — destroços da guerra —
De tantas que eu tinha ficou-me uma só.
Oferta singela ! só esta mandára,
Se fôra mais viva, mais bella do que é;
As folhas são raras, o aroma perdeu-se,
E a seiva não veste de musgos o pé.
Despida d'encantos a triste vegeta
Ao cru desabrigo da fria estação:
Desfolhe-se embora, que eu mando outra prenda,
Eu mando os desejos do meu coração.
Antonio Xavier Rodrigues Cordeiro.
17 DE JANEIRO (Quinta feira).
PHENOMENO SINGULAR – Asseverão alguns physi
cos que nas maiores alturas do Pico de Tenerife (que
fica 2,734 toezas acima do nivel do mar) não tem força o
espirito de vinho, nem a lingua encontra sabor nos saes.
18 DE JANEIRO (Sexta feira).
BENÇAO DOS CAVALLOS, — Ainda hoje se practíca
annualmente em Roma, a 18 de Janeiro, uma festa que
lembra a das mulas e cavallos da cidade antiga. Proxi
mo a Santa Maria Maior, e defronte da igreja de Santo
Antonio, se eleva uma columna, erigida em memoria da
abjuração de Henrique IV. Ao pé d'esse monumento se
reunem n'aquelle dia todos os cavallos do Papa e dos
Cardeaes e Principes romanos — com a cauda e as cri
mas ornadas de flores —e vão, depois da missa, entre duas
alas de soldados pontificaes, de frades e de gente do
campo, receber a benção que lhes dá um sacerdote á
porta da igreja. A proporção que este vai lançando a
àgua benta nos cavallos, nos arreios, e nos postilhões e
lacaios, entrão outros criados na igreja, onde bejão uma
cruz vermelha pintada no busto colorido de Santo Anto
mio, e ahi depositão a oferta de seus amos.
19 DE JANEIRO (Sabbado).
SERPENTE LUMINOSA. — Na relação de suas viagens
ao Levante faz menção o sabio Heyne de um phenomeno
singular, a saber — uma luz brilhantissima, e muito pa
recida com a de uma estrella, que víra passar pela Ilha
de Samos. Afirmara-lhe um dos oficiaés de bórdo, co
nhecedor d’aquellas paragens, ter visto muita vez a re
ferida luz, que os supersticiosos habitantes da ilha asse
guravão emanar d’uma enorme serpente que tinha no
meio da cabeça um diamante. A Heyne acrescentaram
diversos turcos que em 1763 ordenara o Grão-Senhor se
verificasse um tal phenomeno; subiram alguns homens,
a muito custo, até ao cimo d'um rochedo quasi a pique, e
encontraram com efeito lá em cima uma serpente mons
truosa, mas sem diamante na cabeça, nem cousa que com
tal se parecesse, o que não impedio os habitantes de Sa
mos de persistirem em sua ignorante credulidade.
20 DE JANEIRO (Domingo).
EXPORTAÇÃO D'ARENQUES, — Exporta-se actual
mente da Noruega para a Inglaterra grande quantidade
d’arenques d'um tamanho enorme. Têem umas 16 polle
gadas de comprido e 4 de largo: pésa quasi um arra
tel cada um (A. 54, p. 80)!
21 DE JANEIRO (Segunda feira).
ALMANACH CHINEZ. —Temos á vista o do anno pas
sado, e d’elle transcrevemos o caracteristico de cada
mez, segundo a crença popular n'aquelle vasto imperio.
1.º Mez. — O vento de leste dissipa o gelo. Começão a
mover-se os animaes que estavão em lethargia.
Sacrifica a lontra a sua primeira presa á mais
antiga das lontras. Principião a rebentar as ar
vores e a herva.
2.º Mez. — Florecem os pecegueiros. Transforma-se o
falcão em pombo. Chegão as andorinhas. Prin
cipião os relampagos e o trovão.
3.º Mez. — Dá flor o wotung. Os ratos transformão-se
em pombos. Primeira apparição do arco-iris.
Os passaros vem comer as amoras. Os pombos
bravos sacodem as azas.
4.º Mez. — Cantão os grillos. Chega o outono.
5.º Mez, — Cantão os passaros dos carniceiros. Cahem
... os chifres aos veados.
6.º Mex. — Vento quente. Decompõe-se a herva e pro
duz Perilampºs:
7.° Mez. — Vento e orvalho. Amadurecem os cereaes.
8." Mez. — Os bichos fechão com terra os buracos que
fizeram. Vão-se as andorinhas. Chegão os gan
ços. Cessa o trovão. • •

9.º Mex. — Os pardaes transformão-se em ostras. Sacri


fica-se o lobo. Cahem os insectos em lethargia
mettidos nos seus buracos.
111
10.º Mez. — Gelo e mais gelo. Os faisães dirigem-se pa
ra o mar e transformão: se em morcegos. Não
torna a apparecer arco-iris. A
11.º Mez. — Correm as fontes. Os bichos fazem seus bu
raquinhos na terra.

12.º Mez.—Vai o falcão para o norte. Grita o faisão. Tre


me o sol e empallidece a lua.
O que a tudo isto podem acrescentar os chins, para to
dos os mezes... é que são tolos.
112
22 DE JANEIRO (Terça feira).
ARLEQUIM OU ARLEQUINO. — Derivão-no uns, com
pouca verisimilhança, de duas palavras italianas: al,
convertido em ar, e lecchino, diminutivo de lecco, glu

tão; querem outros que tendo ido para França, um afa


mado comediante italiano, reinando Henrique III, e sen
do este comediante muito da casa dos Senhores de Har
lay, lhe chamassem os outros artistas seus companhei
ros, e tambem italianos, o Harlequino, como quem dis
sesse portuguezmente: o IIarlaysinho: seja o que fôr, o
# é certo é que de nome ou alcunha que a principio
deveu ser, passou o nome de: Arlequino a designar cer
ta especie de farçantes, primeiro em Bergamo e porto
da a Italia, depoís em França.
O tempo fez decahir do theatro estas personagens, e
ficaram só figurando nas festanças grosseiras da plebe.
O vestuario pintalgado e fóra do commum, é um dos ca
racteristicos do arlequim entre nós. Dá-se este nome
genéricamente a todos os dançarinos de corda, voltea
dores, farcistas, e mais gymnasticos d'obra grossa, de
licias do vulgo e das creanças.
23 DE JANEIRO (Quarta feira).
* BALSAMO. — Ha muitas composições artificiaes de
balsamos, e muitos balsamos que a natureza nos oferece
já promptos; mas tanto os de uma como os de outra es
pecie costumão ter segundo nome que os distingue. O
que se entende pelo simples nome de balsamo, sahe de.
"""
UlII18 que Vespasiano e Tito trouxeram a Roma
quando triumpharam dos judeus. Este arbusto dizem que
não existe ao presente senão na Arabia, onde o cultivão
para o Grão-Senhor.
Tal é a origem do balsamo que na Europa se vende
com o titulo de : Balsamo da Meca, mas quasi sempre fal
sificado.
(4.52 p. 189.274.276 363. A. 53. p. 78. 279. A. 54
p. 264)
CHARADA.

Nas guerras modernas — 2


Nas guerras antigas — 2
Alli se guerreião
Legiões inimigas. * * *
114
24 DE JANEIRO (Quinta feira).
TOS AO D'OURO. — Flandres e Brabante havião che
gado ao maior gráu de esplendor, quando Filippe o Bom
casou com a Infanta Isabel de Portugal. Por occasião das
pomposas festas que por essa occasião se fizeram, fun
dou uma Ordem, cujo emblema era um tosão, o que al
ludia á protecção que por este meio entendia dar ao com
mercio das lãs, que era uma das maiores fontes de pros
peridade do seu ducado de Borgonha.
Só 24 cavalleiros houve a principio, todos d'alta linha
gem e de exemplar comportamento; augmentou porém o
numero ao ficar pertencendo a Ordem aos Reis de Hespa
nha, se bem que mal se dê senão a pessoas reinantes. O
que Filippe o Bom tinha em vista, ao fundar esta nobil
lissima bºm" era dispôr os senhores da sua côrte a
acompanhal’o na guerra contra os turcos, ao que se liga
vão por juramento, bem como a defender a religião e o
principe contra os seus inimigos. Só por traição, heresia,
cobardia, ou qualquer acto reprehensivel, podião ser
excluidos da Ordem. O grão-mestre, que era o Monarcha,
nada podia emprehender sem o consentimento dos caval
leiros. Era artigo do seu regulamento, que a injuria fei
ta a um por todos devia ser vingada.
(Leia-se o que sobre esta Ordem escrevemos a pag. 38
do Almanach de 1853.)

25 DE JANEIRO (Sexta feira).

A PONTE DE RIGA. — Está situada esta cidade na


margem septemtrional do rio Dwina, na Russia, e a duas
léguas do mar. Quatrocentos a quinhentos navios entrão
todos os annos no seu porto. Construio-se, para atraves
sar o rio, uma ponte que toda se desarma quando vem o
gelo, pelo qual podera ser despedaçada, e que de novo
"; # no seu logar assim que acaba o inverno..
5
26 DE JANEIRO (Sabbado).
O BARÃO DE CATANIA – INSTINCTO E MEMORIA
D'UM CAO. — Passando um dia o Barão, que entre nós
fez epocha, por uma rua, vio um cãosinho, com uma per
na quebrada, a gemer a uma porta. Condoído do pobre
animal, leva-o para casa e trata-o com todo o carinho
por muito tempo, até estar restabelecido; depois larga-o:
o cão lambe-o muito, ladra, grita em signal de reco
nhecimento, e vai-se. Passado um anno apparece o cão
de novo a bater á porta e a ladrar. Chegado ao Barão
principia a puchal’ô pelas abas da casaca; o Barão deixa
se ir para ver onde o bicho o leva. Qual foi o seu espanto
ao ver no páteo outro cãosinho, tambem com uma coxa
partida, que o outro lhe trazia para curar !!

27 DE JANEIRO (Domingo).

RELIGIAO DOS DRUIDAS. – Dissemos a ### 241 dO


precedente Almanach que erão os druidas sacerdotes dos
antigos gallos e britannos. Era das mais supersticiosas e
barbaras a sua religião.
Posto nos não seja bem a fundo conhecida, porque ti
nhão para si os druidas que só na memoria é que as ver
dades se devem conservar, e por isso nenhuns monumen
tos escriptos nos deixassem, eis o que um escriptor mo
derno **º colligir de principios d’elles conservados
na tradição.
« Nos bosques sacros é que o homem deve estudar. O
musgo do carvalho hade ser raspado com fouce d’ouro, e
se poder ser na 6.º lua, melhor. Tudo quanto nasce, do céu
prócede. Os segredos da sciencia não se hão de confiará
escripta, senão só á memoria. Todo o cuidado na creação
dos filhos é pouco. Os desobedientes, é arredal'os dos
sacrificios. As almas não morrem ; passão d'um corpo
velho para outro novo. Se o mundo tem de acabar, } gº
ser de fogo ou d'agua. Nos lances solemnes deve-se sa
crificar um homem: conforme o corpo cahir ou cahido
se mexer, segun
do correr o san
ue ou a ferida se
he abrir, se po
derá conjecturar
o que está para
ser. Os captivos
na guerra immo
lão-se nos alta
TeS Ou metten-Se
em cestos, e quei
mão-se. Tracto
com estrangeiro,
nunca se deve
ermittir. Os fi
hos, até aos 14
annos, devem ser
creados sem ver
pai nem mãi. O dinheiro que n'este mundo se empresta,
no outro se recebe (Muito rico hei de eu lá ser). O de
sobediente ponhão-no fóra; ninguem lhe faça justiça,
nem lhe dê emprego. As cartas que se entregão aos ago
nisantes, ou se queimão na pyra com os finados, são pon
tualmente entregues no outro mundo. A lua ousa tudo,
que assim o diz o seu nome celtico. Os pais de familias
são reis das suas portas a dentro; têem direito de vida e
morte na mulher, nos filhos e nos escravos. »
O culto druidico fez tanto horror aos conquistadores
romanos que o extirparam.
Tres escriptores modernos mui distinctos, álem d'ou
tros, poetisaram aquella feroz religião sem lhe tirarem
o pesadumbre: Chateaubriand nos Martures, Bernar
din de St. Pierre n'um precioso fragmento, e Felicio
Romani na opera: Norma. E ha todavia n’ella maximas
salutares.
/

/ 28 DE JANEIRO (Segunda feira).


/ - ILHA DO SAL.—Pertence ao archipelago de Cabo-Ver
de e foi contada entre as ilhas deshabitadas até 1808, em
que o sargento mór, hoje Conselheiro, M. A. Martins a
principiou a aproveitar, mandando para ella alguns es
cravos e um feitor para pastorear gado e recolher sal. Em
1838 para 39 o dito Conselheiro á sua custa a colonisou
com gente da Boa-Vista, a quem deu casas, gado e sus
tento; mandando abrir tanques para a formação da sa
lina, onde cada um dos colonos pode fabricar até 200
maretas de sal, vendendo-lh'o a elle por um preço taxa
do. J. A. das Neves, ao fallar da salina natural que deu
o nome a esta ilha, diz:
« Quasi no centro da ilha ha uma caldeira, e no meio
d’esta rebenta um olho de agua salgada; esta agua, es
praiando-se para os lados, é a que fórma naturalmente
os grandes montes de sal, que desde tempo immemorial
se vão alli accumulando, como os gelos dos Alpes. E'
uma admiravel obra da natureza, que a arte podia aper
feiçoar com pouco custo.»
O Conselheiro Martins executou as obras de arte, va
rou pela raiz um monte de lado a lado, praticou um ca
minho subterraneo, para levar por atalho mais curto o
sal até aos portos do sul da ilha, assentou n’este cami
nho um ferro-carril, e servindo-se dos ventos que quasi
constantemente soprão na mesma direcção, poz velas
nas locomotivas, as quaes impellidas pelo vento trazem
o sal aos portos, e descarregadas voltão puchadas por
burros a carregar de novo.
Do sal naturaI, e do artificial fabricado nas maretas
pelos colonos, exporta a ilha 5,000 moios annualmente.
Cultura, com tão poucos habitantes empregados exclusi
vamente no commercio do sal, não a possue. Gado é que
tem propagado muito, principalmente as cabras, que pa
rem de quatro em quatro mezes tres e quatro cabritos
de cada vez. • A. U. .
118
29 DE JANEIRO (Terca feira).
SE EU FOSSE QUERIDO !
Se eu fosse querido de um rosto formoso,
Se um peito extremoso podesse encontrar,
E uns labios de rosa, que expressão amores,
E abrandão as dores de infindo pesar ;
A dotes tão altos minha alma rendida,
Votara-lhe a vida que Deus me quiz dar ;
Constante a seu lado seus sonhos divinos
Ao som dos meus hymnos quizera embalar.
Depois quando a morte viesse impiedosa
Da amante extremosa meus dias privar,
Da funda sauda de minha alma rendida,
Votara-lhe a vida que Deus me quiz dar !
ANToN1o GoNÇALVES DIAS (Brasileiro).
30 DE JANEIRO (Quarta feira).
ASHANTIS.—Tribu de negros africanos na Costa d'Ou
ro, em Guiné, na Serra Leôa. Foi fundado o reino dos
Ashantis ha pouco mais d'um século por um de seus che
fes. A residencia do Rei é em Kenmassi. E'-lhe permit
tido, por uma lei das mais extravagantes, ter 3,333 mu
lheres, pois, segundo a crença, é d’este numero mystico
que depende a salvação do paiz. Assim que morre o Rei,
são degollados sobre o seu tumulo cem de seus subditos,
afim de que se apresente no outro mundo com um séqui
to digno da régia magestade. Repousa em principios feu
daes a constituição dos Ashantis. E' povo bellicoso. O ge
neral inglez Maccarthy perdeu a vida n'uma guerra co">
tra elles. Tem esse pequeno reino uma superficie de 5,000
"fy quadradas e um milhão d'habitantes.
31 DE JANEIRO (Quinta feira).
NOVA APPLICAÇAO DA COLLA. —Acaba de fazer a
horticultura uma nova e preciosa acquisição no recente
invento de uma nova substancia para fecundar a terra,
substancia que é ainda mais eficaz do que o guano (4.
54 p. 292). Consiste em colla, diluida em agua, e nada
mais. Regando-se com ella plantas até das mais delica
das crescem a olhos vistos e ganhão brilho e vigor. Tem
se observado que plantas em terrenos areentos prosperão
mais regadas com
colla, do que on
tras em boa ter
ra regadas com
agua. Já se sabia
que a colla animal
excellente
é um
#; estrume, e isso fa
º zia, com que os
$ jardineiros ha
, muito procuras
sem por toda a
parte em França
os restos de cou
ro e de pergami
nho provenientes
de fabricas de papeis pintados; é porém facto inteira
mente novo a applicação da colla para réga das plantas.
Colla é o grude extrahido de couros de animaes, e or
dinariamente de couros vacuns, ou do buxo de certo peixe.
SANS SOUCI. — Quer dizer: sem cuidados. E o mo
me dado pelo grande Frederico da Prussia a um magni
fico palacio que mandara construir nos arredóres de Ber
lim, e onde ia descançar de seus assiduos e penosos tra
balhos de Monarcha na companhia de sabios e litteratos
(A. 51, 23 de Janeiro e 8 de Septembro). 120
1 DE FEVEREIRO (Sexta feira).
ALPUJARRAS. — E o nome de uma cordilheira de
montanhas ingremes e escarpadas, de cujo cimo se des
cobre a costa da Barbaria; comprehende umas 50 lé
guas de comprimento e são de granito aquellas, rochas
todas. Existe entre ellas um cantão de 20 léguas de com
prido sobre 12 de largo, que ha mais particularmente
conservado
O nome de
Alpujar
ras, deri
vado de um
governador
mouro por
nome : Al
pujarre.
só ahi que
na Hespa
nha se en
C O Il t r à O
ainda fa
milias de
|m o u r o s,
unico e in
significan
te rest O
d ' ess es
II] O Ul T O S
arabes que
havião con
quistado e subjugado aquelle paiz. Ahi vivem tranquil
los e ignorados, e apesar de se ostentarem christãos,
nem por isso hão conservado menos os usos e costumes
de seus antepassados. Tornou a cultura fertilissimo es
te cantão, no qual se vêem arvores fructiferas de prodi
*# dimensão; d’ahi vem o vinho de Malaga.
2 DE FEVEREIRO (Sabbado).
UM LEÃO DOMADO. — Veio ha muitos annos a Lon
dres um célebre domador de feras americano. Uma das
mais notaveis cousas que em seus espectaculos fazia ver
ao publico, era o metter impávidamente a cabeça dentro
da bôcca de um enorme leão, depois de o haver bem fus
tigado e irritado. Por que artes abrandasse a tal ponto a
furiº do animal, que este se não vingasse logo da pri
meira vez, segredo é esse de poucos até hoje sabido. Um
dia porém que o leão se não achava em tão boa disposição
de espirito (suppondo que os leões tenhão espirito), ou
que fôra mais atormentado pelo homem, ou se lhe revol
tou mais o amor proprio, fosse emfim pelo que fosse, o
diver timento foi muito diferente do que no cartaz se ha
via annunciado. Mette o domador de feras, segundo o
costume, a cabeça na bôcca do animal, e julga logo reco
nhecer n’elle o que quer que seja de sinistro !...
— «O leão mexe com o rabo ? pergunta lá do dentro
com uma voz cavernosa e aflicta. »
— «Mexe, sim » — lhe respondem da platéa.
— «Então Deus tenha piedade da minha alma. » —
Palavras não erão ditas, que jazia no chão o corpo ina
nimado do infeliz, e a cabeça, reduzida a uma informe e
sangrenta massa, passava para o estoniago do animal !
(A. 51, 8 de Fevereiro, A. 5} p. 268)

3 DE FEVEREIRO (Domingº).
DOR DE NARIZ.
J'ai mal au mez, disait Guillot :
Je le crois bien, lui répondit Pierrot,
Et personne dans le village,
Ami, n'est étonne de cà.
— Pourquoi? — Depuis trente ans de mariage
Ta femme te mène par là.
122
4 DE FEVEREIRO (Segunda feira).
PROEZAS DA MARQUEZA DE BRINVILLIERS.—De
molio-se ha poucos dias em Paris um palacio que foi ha
bitado no século XVII pela célebre envenenadora, a Mar
queza de Brinvilliers, cuja rapida biographia apresentá
mos no dia 17 de Julho do Almanach de 1851. Acharam-se
lhe nos alicerces tres esqueletos perfeitamente conser
vados, dous d'homem e um de mulher; ao pé d’este encon
traram-se anneis, brincos, e uma moedinha d'ouro que
tinha gravado o anno de 1665. Suppõe-se serem dos dous
irmãos e da irmã da Marqueza envenenados por ella.
Só em 1670 é que chegaram ao conhecimento da polieia
os numerosos crimes commettidos por aquella terrivel
mulher, que foi presa n'um convento de Liege, na Bel
gica, onde se havia refugiado, e justiçada no anno de
1676. Com os cadaveres dos que matou bem se poderião
fazer os alicerces d'um novo palacio. •

5 DE FEVEREIRO (Terça feira).


CHARADA.
Se o alfaiate no fato
Deixa muita cousa d'esta, lº
Não me serve: ou é novato, |
Ou thesoura que não presta.
Quando punge a consciencia
. De escrupulosos mortaes,
E quando mina a existencia,
Que atormenta e rala mais.
Se em tudo tivera seguido o conselho
De quem só lhe dava proficua lição,
Não fôra á caldeira de Pedro Botelho
Arder como arxote, rugir qual leãº, M. C.

123
6 DE FEVEREIRO (Quarta feira).
HYENA. — E' um animal do tamanho de um cão gran
de ; tem o pelo pardo e coberto de listras atirando para
preto, formando uma especie de juba, como a do leão. O
seu aspecto é feroz e repellente. Vive em cavernas e
or entre rochedos. Ataca os rebanhos, e quando lhe
alta carne de animaes, que mata e despedaça, devora
cadaveres, se por ventura os pode desenterrar. Habita
na Africa e
tambem na
A m é rica
Meridional.
Diz Plinio
O natura
lista (lá
"À 4)677), 772 e N
####; tira) que
#s, chegando
|- >> Se aOS CU11’
=> raes dos
• pastores ,
escuta Se
ouve o nome de algum, e ouvindo-o, imitando a voz
humana, o chama pelo seu nome, e vindo elle, o mata
e leva d’elle a parte que lhe parece. Acrescenta, mais o
mesmo celeberrimo e mentirosissimo improvisador que -
a hyena é macho um anno e outro fêmea, d'onde resul
tou o pintar-se por symbolo da inconstaneia. E mangar
muito com a tropa ...
EXPORTAÇÃO DE CHÁ NA CHINA.— Regula annual
mente, termo médio, por 2,895 milhões de arrateis, o que
a razão, supponhamos, de 18200 réis por arratel, corres
ponde, a Rèís 3,474,000,000,000. Quem não souber ler is
t0, #
Já é beber chá!...
124
7 DE FEVEREIRO (Quinta feira).
BALOIÇO. — A origem deste divertimento de crean
ças é das eras mythologicas.
Conta a fabula que tendo CEba
lo, Rei da Lacedemonia, dado
pela primeira vez vinho a beber
aos seus camponezes, estes, jul
gando ter bebido um veneno,
mataram a Icario. As mulheres
dos assassinos ficaram raivosas
e como que damnadas, sem nada
as poder acalmar. Ordenou por
tanto o oraculo que se instituis
sem jogos em honra do morto,
aos quaes se désse o nome de:
Jogos Icarios, consistindo elles
em se baloiçar o povo em cor
das estendidas de uma a outra
arvore. E exercicio gymnastico dos mais approvados.

8 DE FEVEREIRO (Sexta feira).


WATERL00. -- E o nome d'uma aldeia do Brabante
meridional, a quatro léguas de Bruxellas, e célebre pe
la victoria que n’ella ganharam os alliados contra Napo
leão a 18 de Junho de 1815. Ninguem ignora que foi de
vido o triumpho infinitamente menos a um plano de
campanha bem combinado por Lord Wellington, do que
á chegada do general prussiano Blucker com o seu exer
cito, á traição de Bourmont, e ao inexplicavel comporta
mento de Grouchy. Apesar d’isso, foi o famoso general
inglez agraciado com o titulo de: Principe de Waterloo!
Junto áquella aldeia se eleva um sumptuoso monumento
destinado a perpetuar a memoria d'aquelle funesto acon
tecimento (A. 51, 18 de Junho e 15 d'Agosto).
* 25
9 DE FEVEREIRO (Sabbado).
CAPELLA DO SANTISSIMO EM TOLEDO – Havia
n'esta capella, ainda não ha muitas duzias d'annos, um
thesouro de immenso valor. Quinze ou dezaseis arma
rios abertos na parede estavão cheios de cima abaixo de
vasos sagrados, de cruzes, custodias, cereaes, lanternas,
varas de pallio, e mil outros objectos, quasi tudo d’ou
ro e prata, a que sobresahião duas grandes mitras de
prata dourada, encrustadas de pedras finas, collares d'ou
ro, pérolas, corôas da Virgem, etc., etc. O sacrario era
tambem de prata dourada coberta de pedras preciosas e
ornado de innumeraveis figuras de delicadissimo gosto ;
desmanchava-se em sete mil bocados; erão precisos trin
ta homens para carregar com elle: tinha dentro outro
d'ouro massiço. Havia na mesma capella um relicario da
do por S. Luiz á cidade de Toledo; era uma caixa d'ou
ro, dividida em quarenta compartimentos, em cada um
dos quaes se achava uma reliquia de santo. Dera-lhe o
mesmo Rei uma Biblia escripta em pergaminho, com mil
figuras coloridas e douradas, Biblia que os hespanhoes .
dizião haver sido escripta pelo proprio punho de S. Lu
caS, e pela qual ofereceu debalde, uma cidade ao capitu
lo de Toledo o Rei Filippe II. Muitas paginas levaria
em tim o inventario de # as riquezas por largos an
nos amontoadas na referida capella, sendo a maior de
todas uma Virgem d'ouro, sentada num rochedo de pe
dras preciosas, no meio das quaes brilhava um diamante
de immenso valor,
Que foi feito de tudo isso? perguntem-no ás mil e uma
revoluções que tem devastado aquelle pobre reino ...
PALMEIRAS DA INDIA, — Ha na Índia uma especie
de palmeiras preciosas: bebe-se o succo abundante que
do tronco lhes estilla; faz-se pão e azeite com o fructº;
eom a casca, vasos, taças, e colheres; e com as folhas
papel (A. 51, 26 de Dezembro). 126
10 DE FEVEREIRO (Domingo).
NAPOLEAO E A DANÇA. — Era Napoleão pessimo
dançador. Notando um dia que certa marqueza a quem
escolhera para par, ria por baixo de capa ao ver que
nem sequer as figuras conhecia, exclamou-lhe o guer
reiro com ar solemne : «Minha senhora, o meu for
te não é dançar; é fazer dançar os outros. »

11 DE FEVEREIRO (Segunda feira).


SITUAÇAO, LIMITES, EXTENSAO E POPULAÇAO
DO BRASIL. — O Brasil occupa um vasto territorio da
America meridional, situado entre 4º 30 de lat. norte e
34º de lat. sul, e entre 25° e 62º de long. occidental de
Lisboa.
Os limites do Brasil são: ao norte, as républicas da
Nova Granada e Venezuela, as Guyanas, ingleza, hol
landeza e franceza, e o Oceano Atlantico; ao oriente o
mesmo Oceano; ao occidente, a républica do Uruguay,
a républica argentina (da qual está separado pelo rio
Uruguay), a républica de Paraguay (da qual está sepa
rado pelo rio Parana), a Bolivia, Perú { qual está, em
parte, separado pelos rios Madeira e Javary), e as ré
publicas do Equador e Nova Granada. •

O Brasil tem 920 léguas de comprimento, medidas


desde a foz do rio Oyapock até á extremidade mais me
ridional da provincia do Rio Grande do Sul, e 880 de
largura, desde o cabo de S. Roque na provincia do Rio
Grande do Norte até ao rio Javary. A sua superficie tem,
segundo os calculos de Humboldt, 256,980 léguas. As lé
guas de que aqui fallamos, são de 20 ao gráu.
Nos ultimos annos do século passado apenas havia
no Brasil dous milhões de habitantes entre livres e es—
cravos. Com a chegada da Familia Real augmentou-se
"g
127.
tanto a população. Os inglezes aproveitaram-se
d’esta occasião para estabelecerem casas de commercio
nas diversas cidades do Brasil; os emigrados politicos
francezes, que ao principio se retiravão em bandos pa
ra os Estados-Unidos, começaram em 1816 a encami
nhar-se para o Brasil; militares instruidos, artistas,
negociantes, e grande numero de oficiaes mechanicos,
foram alli exercer cada um a sua industria, e estender o
commercio da sua patria, estabelecendo-se em um paiz

de que só os inglezes, havia oito annos, colhi㺠todo o


fructo. Colonias suissas e alemãas foram para alli trans
portadas á custa do governo com enormissimas despe
zas, e estabelecidas em diversas provincias maritimas:
emfim a emigração de italianos e d'outros muitos estram
geiros foram novas causas que deram maravilhoso im
ulso ao augmento subito da população do Brasil, ava
iada hoje em mais de 4,000,000 de habitantes (Chorº
graphia do Brasil). 128
12 DE FEVEREIRO (Terça feira).
* FRA DIAVOLO. — Mais conhecido pelo nome de: Mi
guel Pozza. Nasceu em Itri, no reino de Napoles. Foi a
principio fabricante de meias, e depois chefe d'uma qua
drilha de ladrões, com o nome de: Frei Diabo, Fra Dia

volo. Fez diversas campanhas contra os francezes. Pre


so e reconhecido em um combate, foi conduzido a Napo
les, condemnado á morte, e justiçado.
E' uma das mais bellas a opera a que este objecto deu
origem. O que é pena é que o libbreto nunca esteja em
"#" com a musica em obras …………
13 DE FEVEREIRO (Quarta feira).
COROA.—A corôa, cujo uso remonta á mais alta anti
guidade, tem uma origem religiosa. Não era a principio
mais do que uma especie de fita, mais ou menos larga,
que cingia a cabeça e atava por traz. Só os deuses e seus
pontifices tinhão direito de a pôr; quando estes porém
deixaram de occupar o imperio, conservaram os seus
successores no governo temporal aquella insignia de sua
authoridade. Fizeram-se então corôas com ramos d'arvo
res, com flores, e de metal. Em Roma erão recompensa
de serviços prestados por soldados ou generaes. #
a corôa d'ouro para estes; a corôa obsidional para os
que havião livrãdo d'um sitio cidadãos romanos ou tro
pas alliadas, corôa feita com herva colhida na praça si
tiada; a corôa civica, de carvalho, para o cidadão que
havia salvado a vida a outro; a corôa mural para o que
primeiro subia ao assalto de uma praça; a corôa cas
trense, com raios d’ouro, representando uma estacada,
para o que primeiro forçava o campo inimigo ; a corôa
naval, toda d’ouro, para o general que no mar ganhava
uma victoria; a corôa triumphal, emfim, de todas a mais
gloriosa, para os generaes que obtinhão as honras do
triumpho. Muitas outras erão tambem decretadas pelos
romanos afim de recompensar acções meritorias.
(A. 51,8 de Março.)
14 DE FEVEREIRO (Quinta feira).
TRIGO DE DOUS SÉCULOS E MEIO. — Ha na cida
de de Zurich, ao pé da igreja dos dominicanos, um cel
leiro antiquissimo, em que durante mais de dous sécu
los se guardou trigo da colheita do verão quente, que
foi a designação que alli se deu ao do anno de 1540.
Esse trigo ainda sê achava em perfeito estado de con
servação no fim do século passado, e para fazer com
elle optimo pão, bastava pôl'o de molho 24 "…;
·

15 DE FEVEREIRO (Sexta feira).


VARIEDADES E CULTURA DA CANNA D'ASSUCAR.
— Não se conheceu durante muito tempo o assucar na
Europa senão pela pequena porção que da India vinha e
se vendia a peso d’ouro como ingrediente util para a
composição de diversos remedios. Só depois de conquis
tado aquelle paiz por diferentes potencias européas, e
de se haverem fundado colonias nas regiões situadas en
tre os tropicos, se deu maior desenvolvimento á cultura
da canna do assucar, e se tornou este vulgar e barato na
Europa. -

Ha numerosas variedades nas plantações dos dous he


#*# impossivel fôra determinar absolutamente
qual é de todas a melhor: o seu mérito relativo está in
timamente ligado com as circumstancias locaes do paiz
em que são cultivadas.
Cita-se geralmente, em primeira linha, a canna d'as
sucar da Ilha Bourbon, a d’Ottaiti, a de Salangore, e a
incarnada d’Assam. •

A de Bourbon e a de Ottaiti parecem pertencer á mes


ma variedade; são, uma e outra, grandes, massiças e re
sistentes; a casca é grossa e d'uma côr amarella um pou
cO transparente.
A de Salangore, bastante cultivada nas colonias in
glezas da peninsula de Malacca, excede todas as outras,
tanto na quantidade como na qualidade de seus produc
tos, mas quebra-se facilmente, e só vinga bem em terre
nos ferteis.
A incarnada d'Assam deve o nome á côr da casca e é
muito estimada nas Indias Orientaes.
Os habitantes d’aquella peninsula fazem grande caso
de certa variedade da canna d'assucar, incarnada, que
é por elles cultivada em todos os seus jardins; attribuem
lhe excellentes propriedades medicinaes, e applicão-na
ao tratamento de todas as doencas.
*"… d’estaca e florece abundantemente. Não es
+

tá bem provado que désse nunca uma canna d'assucar


sementes que fructificassem. As estacas são ordinaria
mente de 9 a 12 pollegadas de comprido; lanção raizes
em pouco tempo e chegão ao seu maior desenvolvimen
to no espaço de dez mezes: reputão-se maduras depois
de haverem dado flor e de terem perdido as folhas, que
murchão antes de cahirem.
As boas variedades de cannas d'assucar, cultivadas em
bom terreno, dão, n'uma superficie de 10,000 metros qua
drados, ou 30,000 e tantos pés, de 6 a 14 mil libras d'as
sucar prompto para o commercio. -

Tanto nas Indias Orientaes como nas Occidentaes se


tem ultimamente aperfeiçoado muito a cultura da canna
do assucar (A. 51. p. 173, A. 53. p. 357). -

16 DE FEVEREIRO (Sabbado).
. EPAMINONDAS RÉU. — Uma lei de Thebas prohibia
sob pena de morte conservar o commando militar por
mais de um mez. Epaminondas tinha violado essa lei,
mas fôra para libertar seus concidadãos. Estavão já os
juizes para lavrar a sentença condemnatoria, quando
Epaminondas lhes pedio que a redigissem n’estes termos:
«# é condemnado á morte pelos thebanos,
porque na batalha de Leuctra venceu os lacedemonios, ac
cão que nenhum general thebano tinha feito antes d'elle,
é com uma unica batalha não só salvou a liberdade de
Thebas, mas tambem a de toda a Grecia; e porque não
quiz por modo algum desistir da guerra antes de ter re
posto em boa ordem a cidade de Messenas e de havela
apparelhado para repulsar esforçadamente a ambição de
Lacedemonia.» •

Defensa tão destra e inesperada desarmou os juizes,


derrubou os adversarios, e fez admirar, tanto a presen
ça de espirito como o valor do sublime criminoso.
- AMOR, — Fazenda bordada pela imaginação. 132
17 DE FEVEREIRO (Domingo).
CORTEZIA D'UMA BANCA. — No tempo em que as
mezas dançavão (como quem dissera: no tempo em que
fallavão os animaes) contava um periodico belga, que
havendo-se reunido, não sei já em que terra d'aquelle
paiz, um grande numero de curiosos em casa do mestre
de primeiras letras, para alli fazerem as ex
periencias da moda, duas mezas foram deputa
das para esse fim, collocadas nos dous topos
oppostos da eschola; a uma presidia o mestre,
á outra o padre cura. A caixa de tabaco do re
verendo ficara sobre a sua meza.
Começou esta, passados poucos minutos, a andar com
tal fervença, e tanto de choto, que á força de pulos a
eaixa se abrio e o tabaco se derramou. Eis o movel qua
drupede a espirrar como o poderia fazer o proprio pa
dre, indo para a missa das almas por manhã de inverno.
A outra meza, que já tambem começava a rodar, não
tardou, com grande assombro dos circumstantes, em se
pôr a dizer da outra banda, e em voz mui distincta: « Do
minus tecum. »

18 DE FEVEREIRO (Segunda feira).


RUSSIA, PARIS E LONDRES. — COINCIDENCIA PO
LITICA. —-Chama-se: Neva o rio que banha S. Peters
burgo, e que a poucas léguas de distaneia se vai lan
çar no golpho de Finlandia. Querem alguns que em seu
proprio nome se ache a predestinação de deverem um
dia a França e a Inglaterra dar a lei na capital do im
perio moscovita. As quatro letras de que se compõe
são as iniciaes do Imperador e da Imperatriz dos fran
cezes e da Rainha de Inglaterra e séu, marido: Napo
leão, Eugenia, Victoria, Alberto (A. 51, 24 de Feverei
ro, 14 de Maio, 2 de Junho, 9 e 15 de Julho, 15 e 26
"#" 16 de Septembro, 19 de Outubro, 4.53, p. 94).
19 DE FEVEREIRO (Terça feira).

MAO (IllEN!,,,
Oferecida e dedicada á minha amiga ***

Donzella, tu sofres, que o diz esse pranto


Que vejo abundante e em fio correr !
Só pode vertel'o com tanta amargura
Quem sente as torturas de intenso sofrer !...
Tu sofres,.. bem sei! que no peito cravado
Tu sentes o espinho de horrivel traição !
Se tentas quebral'o, mais fundo se arreiga,
Mais rasgas as feridas do teu coração |
Amaste inexperta, com fé, com transporte,
O infame perjuro que affectos fingia !
Julgaste sinceras palavras mentidas,
Protestos do ingrato, que amor não sentia !
Trahida tu foste, sem dó, sem piedade,
No afecto mais santo que uma alma creou !
A esperança mais cara que um peito concebe,
Cruento desprezo por terra calcou ! ...
Sem fé, sem esperança, tu és, casta virgem,
Qual rosa singela, sem dor desfolhada!
Qual """ innocente, do vento batida,
Do gêlo do inverno já murcha e crestada ! ...
Sem crenças que alentem, que animem tua alma,
Irás, como o nauta, sem rumo e sem luz,
Sem guia e sem norte, trilhando os espinhos
Da senda escabrosa que á morte conduz l.... 134
Coragem! que és joven; bem podes ainda
Pezares amargos p'ra sempre olvidar !
As crenças já mortas sentir renascidas,
Os sonhos d'outr’ora de novo sonhar ! ...

Bem pode o destino fagueiro mostrar-te


De esperanças cºroado risonho porvir ! ...
O pranto sentido que agora derramas,
Bem pode trocar-se n'um doce surrir ! ...
Não chores por tanto, donzella, não chores;
Confia na sorte, no fado confia ! ...
Se assim te domina cruel desalento,
Mais dura te opprime pungente agonia ! ...
Oh ! não, não consintas que o mundo vaidoso
Traduza em teus olhos o teu sofrimento ! ...
Que o mundo não sabe prestar lenitivo
A's dores acerbas de infindo tormento ! ...

Os homens e o mundo não sabem clementes


Ao fel do desgosto doçura ofertar,
Mas sim, orgulhosos, com riso descarneo,
A dor que causaram crueis insultar ! ...

Por isso, no peito, donzella, concentra


Os ais, os gemidos, o pranto de fel!
Em vez de conforto, não queiras provar
Da turba insolente sarcasmo cruel!...

Donzelia, não chores, occulta esse pranto,


Que assim abundante deixaste correr!
Que o pranto revela segredos do peito,
Decifrá os mysterios d'intenso sofrer ! ...

D. Maria Candida P. N.
20 DE FEVEREIRO (Quarta feira).
JEREMIAS BENTHAM. — Famoso publicista e juris
consulto inglez, nascido em Londres em 1747. Depois de
brilhantes estudos e de uma retumbante estreia como
advogado, renunciou ao fôro por ter uma voz fraquis
sima, e poz-se a estudar a fundo a
legislação e a jurisprudencia do seu
paiz, e depois a dos paizes estrangei
ros, que visitou e cujas linguas apren
deu. A maior parte das suas obras
respira um grande espirito philoso
Fº: Occupava-se menos de as pu
licar do que de as compôr; era um
amigo em Genebra que lh'as tradu
zia em francez e as publicava no
continente, e assim se explica a sin
gular circumstancia de haverem
tornado muito mais conhecido o
nome de Bentham em França, e na
America do que na Inglaterra. Morreu este profundo ju
risconsulto em 1832, na idade de 85 annos : fôra uma
de suas disposições testamentarias que se lhe dissecasse
o cadaver e servisse para demonstrações anatomicas.
21 DE FEVEREIRO (Quinta feira).
OBSCURO E MAL CRIADO. — Mandando um su
geito por um amigo seu pedir uma filha a certo cavalhei
ro para casamento, «Dizei-lhe, respondeu o fidalgo ao
emissario, que se lembre de que é um homem de nasci
mento obscuro e mal criado. » Ouvido o recado, « Tornai
lá, disse o pretendente ao seu plenipotenciario, e pro
vai-lhe que está enganado a meu respeito, pois quanto a
nascimento obscuro, eu nasci ao meio dia e no verão; e
quanto a mal criado não sei como isso possa ser, tendo
eu mamado tres annos a fio. » 136
22 DE FEVEREIRO (Sexta feira).
MOSTEIRO DE S. JOÃO DOS REIS. — Este convento,
da Ordem de S. Francisco, foi fundado pelos Reis Ca
tholicos Fernando e Isabel, na cidade de Toledo, de
pois de se haverem tornado, senhores de toda a Hespa
nha pela tomada de Granada. A igreja, grande e bel
la, tem im
mensas la
ranjeiras, ro
meiras, jas
mim e iros e
murtas, que
dentro de cai
xas formão
diversas ala
medas que se
cru2á0 em tO
dos os sen
tidos. Milha
res de passa
ros, em gaio
las douradas
susp e Il S 8 S
das arvores,
unem alli os
seus cantos
m e l O d iOSOS
ao som des
vores e dos instrumentos, assim como a verdura das ar
vores e as diversas côres de innumeraveis flores se ca
são com os dourados dos altares e os reflexos das arma
ções nos dias de grande festa, e tudo eleva ao céu pen
samento e coração.
BAILES MASCARADOS. — São os de que gostão mais
as mulheres feias.
23 DE FEVEREIRO (Sabbado).
- O OURIÇO E A FRUCTA. —Seremos os primeiros sem
pre a rectificar asserções inexactas em qualquer dos nos
sos artigos, e muito agradeceremos a quem n'ol'as de -
nuncie com benevolo espirito.
Dissemos a pag. 308 do Almanach de 1854 que se sus
tentava este mammifero de caracóes, lavas de insectos,
ráas, sapos, ratos e toupeiras; esse é na realidade o seu
principal sustento em todas as estações; acrescentámos
porém que fructa era cousa em que raras vezes tocava, e
é contra isso que protesta, em uma obsequiosissima car
ta que de Vinhaes nos escreve, o Illm.º Snr. Emiliano
Antonio de Sousa. « O seu alimento favorito, pelo con
trario, são maçãas, peras, e outras fructas semelhantes:
para havel'as sobem ás arvores, sacodem os ramos, déi
tão a fructa a terra, lanção-se sobre ella, cravão-na nos
espinhos de que têem cheio o corpo, e vão depositar a
carga nos covís, onde a devorão com avidez, sendo muito
ara notar que ao retirarem-se com ella, vão cantando,
fazendo um zumido monótono, semelhante ao chiar dos
carros ouvido de longe. Dá isto logar a que aqui em Vi
nhaes, e em quasi toda esta provincia, se diga quando se
vê alguem cantando com peso ás costas: « vai carrega
do e alegre como o ouriço cacheiro.»
24 DE FEVEREIRO (Domingo).
MONOTONIA. — Ajudando um ecclesiastico a bem
morrer a certo peccador endurecido no vicio, excla
mou-lhe: •

«Lembre-se, irmão, que arrependendo-se, dos seus


peccados e morrendo em graça, verá a Jesu-Christo em
frente por toda a eternidade. » •

— «Por toda a eternidade! — lhe respondeu o mor


bundo — E sempre em frente ! O Padre, não poderia velo
tambem algumas vezes de perfil?...... 138
25 DE FEVEREIRO (Segunda feira).
VINHO PARA A CRIMÉA. — Havendo alguns nego
ciantes do Porto deliberado remetter não sei que porção
de vinho ás tropas alliadas da Criméa, apparecéu nas
mascaradas que precederam alli o carnaval ultimo, um
grupo com garrafões e espalhando os seguintes versos :
Como Mister John Bull Este vinho na Criméa,
Nos prefere o nosso vinho, Com o rosbife de sucia,
Vamos todos de caminho Dá cabo de toda a Russia,
Da Criméa para o sul: Que fica de mortos cheia !
É presente mui taful Uma derrota mui feia
Que levamos á Criméa ; Vai Menschikoff chuchar :
Cada botelha vai cheia Este vinho a trabalhar
De sumo d'uva a mais sã; Pelos toutiços inglezes,
Só para Lord Raglan E signal de mil revezes
Vinte botelhas e meia ! | Para os soldados do Czar!...

Se essa face tão córada,


Tão lisa como a romã,
Se apresentar ámanhã
Já chôcha, já desbotada ;
Não cuideis que era pintada,
E se fez por tempo fºiº
Afugentai essa idéa,
Esse pensar tão mesquinho !
Queru dava a côr era o vinho
E o vinho vai p'ra a Criméa. .

A ACTRIZ E O CRÉDOR. — Representava certa actriz,


e dizendo lá no meio do seu papel: «Ah! quando te
rei um pouco de descanço !» — «Nunca ! só mariola !
só. Quando me tiver pago o que me deve ! » — lhe
é?" lá d'uma torrinha um seu crédor.
139
26 DE FEVEREIRO (Terça feira).
MELOES. — São originarios da Asia e começaram a
introduzir-se na Europa por occasião das primeiras ex
pedições dos romanos contra os persas. E comer tão
indigesto, que a muitas personagens célebres nos diz a
história haver dado a morte. O Papa Paulo II morreu
d'um ataque de apoplexia que lhe sobreveio a uma in
digestão de melão. O mesmo aconteceu a Antonio Go
neau, grande poéta e grande philosopho do tempo de
Carlos IX. Havendo Alberto d'Austria, lmperador d'Al
lemanha (achando-se cançado d’uma jornada que fizera
á Hungria), comido melão para acalmar e estancar a sê
de, veio-lhe um fluxo de sangue e d’elle morreu. Ou
tros dous Imperadores,
Frederico III e Henrique
VII, morreram pela mes
ma causa. Henrique IV
gostava muito de melão,
mas não o comia sem que
lhe fizesse mal.
Ha na Persia quem n'um
só dia coma os seus 36 ar
rateis de melão.
Têem um singular cos
tume os jardineiros d’a
quelle paiz: quando os melões estão do tamanho duma
noz, deitão-se ao pé d'elles, com as mulheres e os filhos,
e lambem-nos duas e tres vezes para lhes tirar a pennu
#". que na sua opinião os impede de amadurecerem
e se fazerem doces.
e
Era escravo o famoso fabulista Lockman ; havendo-lhe
dado um dia o seu senhor um melão pessimo, nem por
isso deixou de comel'o todo, exclamando : «Tenho rece
bido de vós tantos beneficios, que se não deve estranhar
coma eu sem que me queixe o primeiro fructo amargo
que me dais.» Esta resposta lhe rendeu a "…

27 DE FEVEREIRO (Quarta feira).


ELEPHANTE E RHINOCERONTE. – Ao que escreve
mos sobre o elephante a pag. 260 do Almanach de 1852,
juntaremos o seguinte:
Tem este enorme quadrupede a pelle durissima por
todo o corpo, menos no ventre. O seu maior inimigo é o
rhinoceronte (A. 53, p. 136), que para matal'o se põe a
certa distancia, dá uma corrida, e lhe enterra no ventre
o chifre ou chifres que tem por cima das ventas, o que
muitas vezes dá logar a que o elephante o aperte e suf
"# com a tromba, morrendo assim ambos.
á a pag. 261 do Alm. de 1852 e 128 do de 1855 apresen
támos à gravura de um elephante, e a pag. 136 do de 1854
a de um rhinoceronte. Não as reproduzimos aqui porque
temos por costume variar todos os annos as nossas gra
vuras, afim de que este livrinho apresente sempre novo
attractivo a seus leitores.

28 DE FEVEREIRO (Quinta feira),

CHARADA.

Se encontra só ossos Avivão o fogo,


Um lobo esfaimado, 2 Tambem fazem frio; 2
Assim se despica Quem m’os dera perto
De ter jejuado. No pino do estio!

Se tem moradores,
Mais havia ter
Se todos houvessem
De lá ir gemer
Os tristes que vivem
Tão triste viver.

141
29 DE FEVEREIRO (Sexta feira).
DOUS ATAQUES AO RIO DE JANEIRO. — A côrte de
França, estimulada contra os portuguezes por estes te
rem abraçado a parcialidade de Carlos III contra Fi
lippe V, consentio que uma armada fosse invadir as colo
nías portuguezas da America. A mira foi posta na cida
de do Rio de Janeiro, onde por sua grande opulencia es
peravão colher rico esbulho. Duclerc, commandante da
esquadra, passa o Atlantico, toma terra a quatro léguas da
cidade, marcha sobre ela atravez de matos, e dá prin
cipio á expugnação (1710). O governador da cidade, Fran
cisco de Castro de Moraes, sahio a campo com seu exer
cito, constante de tres mil portuguezes e cinco mil indí
# disciplinados, e apresentou batalha ao inimigo.
ouve um combate bem ferido, e o resultado d'elle foi
entrarem os francezes na cidade, deixando-se ficar o ca
pitão Moraes, que não era dos mais versados na arte da
guerra. Os francezes penetraram animosos até á praça,
mas vendo-se activamente combatidos por todos os la
dos, sendo das janellas o fogo vivissimo, refugiaram-se
n'um grande edificio chamado: Trapiche. Informado o
governador de que os francezes estavão cercados no Tra
piche, entrou na cidade, e intimou Duclerc que se ren
desse. A este tempo repicavão os sinos de todas as igre
jas em signal de triumpho, o que notando Duclerc, af
firmava que a victoria era sua, e não queria render-se.
Ordenando porém o governador que trouxessem barris
de polvora para abrazar o Trapiche, os francezes depo
zeram as armas, e mettidos em prisões, muitos d’elles
morreram á fome. Duclerc um dia appareceu morto vio
lentamente em seu carcere.
Luiz XIV, desejoso de vingar os manes de Duclerc e
de recobrar a liberdade aos prisioneiros, aprestou uma
esquadra, cuja capitania # de Duguay-Trouin. A
entrada da barra do Rio de Janeiro era defendida por um
grande numero de baterias, e na ilha das Cobras estava

levantado um forte com quatro bastiões. Duguay, sem
temer tão grandes defesas, arrostou-se com o fogo das
baterias, entrou a barra, e principiou a bombardear a
cidade, ao mesmo tempo que o capitão Goyon invadio a
ilha das Cobras, a qual os portuguezes evacuaram depois
de encravar a artilharia. Duguay desembarcou sem op
posição, e antes de principiar o ataque, reclamou a en
trega dos cumplices no assassinato de Duclerc; porém
Moraes, qual outro Alyattes quando Cyaxares reclamava
a entrega dos scythas matadores de seu filho, votou ao
desprezo tal reclamação, e dispoz-se para uma vigorosa
resistencia. Duguay principiou a bater a cidade com
vinte peças de grosso calibre e quatro morteiros. Os por
tuguezes algumas vezes sahiram a invadir o campo ini
migo, mas foram sempre rechaçados. Preparou-se Du
guay para um assalto geral, e um dia, durante uma gran
de tempestade, assaltou e tomou a cidade. Os prisionei
ros do exercito de Duclerc forçaram as portas da prisão
durante o assalto. O governador sahio da cidade, e en
trincheirou-se a uma légua de distancia. Duguay man
dou-lhe dizer que ia reduzir a cinzas a cidade, se não
curava de resgatal'a. O resgate foi ajustado em seiscen
tos e dez mil cruzados, pagos os quaes Duguay regres
sou á Europa.
Constancio, Historia do Brasil, tomo II, cap. VIII.
1 DE MARÇO (Sabbado).
AGUIAS NA GRA-BRETANHA. – Infructiferos são
quantos esforços até hoje se têem feito para dar cabo
d’ellas neste paiz, onde são numerosissimas, sobretudo
na Escocia. Foi apanhada ahi uma, ha poucos dias, de
fabulosa dimensão; o comprimento das duas azas aber
tas, era de perto de 8 pés; o do corpo de 3 pés e duas
pollegadas; o peso de [5 libras; a curva do bico tinha
a largura da mão d'um homem.
143 (A. 51, 9 de Junho, A. 53 p. 92.)
2 DE MARÇO (Domingo).
CAPITAL DA PERSIA. — Tem por nome: Teheran,
e eleva-se na extremidade d'uma planicie areenta, in
salubre, e exposta a um calor abrasador. Entra-se n’ella
por quatro portas. Tem no interior jardins deliciosos,
mesquitas, bazars, o palacio do Schah, e magnificos edifi
cios, o que dá á cidade um aspecto moderno. A distan }

cia a que lhe ficão as grandes vias de communicação pa


ralysa o commercio e a industria de Teheran, cujos ha
bitantes ricos vão passar o verão em barracas mandadas
levantar nas ferteis# de Sultanieh. A sua popu
lação no inverno avalia-se em 60,000 almas.
ABDICAÇAO. — E' de ordinario um acto tão espon
taneo, como o de que dá a bolsa ao ladrão que lh'a pede
com a faca aos peitos. E se alguem abdica espontanea
mente, como Carlos V, e Christina de Suecia, logo se ar
repende como elles (A. 52 p. 315). 144
3 DE MARÇO (Segunda feira).
… UM BOM PRÉGADOR. — Jantando Malherbe um dia
com o Arcebispo de Roão, aconteceu dar-lhe o somno
depois de comer. O prelado que ia prégar, mas que
(coitado !) prégava muito mal, o acorda, e o convida a
vir ao seu sermão; Malherbe lhe responde amigavel
mente : « Senhor meu, #

dispense-me V. Exc.º;
durmo bem sem isso. »
Havendo certo médi
co de uma das nossas
provincias receitado mil
narcoticos a um doente
seu que gemia com do
Tes mortaes, Sem conse
guir que um só momen
to pregasse olho, disse
lhe um dia : « Eu já não
sei o que lhe heide dar
para o fazer dormir; o
Verdadeiro é ir ámanhã
ouvir prégar o Fr. Se
bastião, e se d’ahi a cin
co minutos não dormir, |

então meu amigo, só na sepultura dormirá.» O doente


Seguio o conselho e dormio a Somno solto uma boa hora
e meia que durou o sermão. Resonava!...
Não faltão por esta nossa Lisboa prégadores da mes
ma laia nem quem os empregue para o mesmo fim.
ACHAQUE DE BARBElROS. — Indo um barbeiro mui
fallador fazer pela primeira vez a barba ao Rei Archelau,
e vendo que este não fallava, lhe disse: « Senhor, bar
beio de diversos modos; como quereis que vos eu bar
beie ? » Callado, lhe responde o Rei.
145 (Almanach 54, pag. 354.)
4 DE MARÇO (Terça feira).
CALIFORNIA. — Soberbas construcções de tijolo e de
Fº" no valor de muitos milhões de piastras, se têem
evantado em quasi todos os bairros de S. Francisco,
continuão ainda por toda a parte, e se não houver novos
sinistros, será esta cidade em poucos annos uma das
maiores, mais bellas, e opulentas da America Desgraça
damente, apesar dos numerosos edificios de tijolo e de pe
dra, ha ainda bairros inteiros, sobre tudo do lado do
mar, onde todas as construcções são de madeira, onde
os incendios são muito mais de recear, e onde estes fre
quentes vezes se repetem. • -

m 1852, o movimento geral do porto de S. Francisco


foi de 1,008 navios entrados, medindo 445,014 toneladas,
e de 1,501 embarcações sahidas, com 488,139 toneladas.
A bandeira que teve maior parte n'este movimento,
foi a dos Estados-Unidos, a qual tremulou em 152 navios.
O duplo movimento de cabotagem que se faz do nor
te ao sul pelo Cabo de Horn e do sul ao norte pelo de
Oregon, dá uma idéa exacta da importancia da Califor
nia para a União-Americana, pelo lado da navegação e
do Gommercio (A. 51. 13 de Junho).
5 DE MARÇO (Quarta feira).
ACROSTICO. \,

= rutus du joug des Rois sauva la république;


º ctave fit fermer le temple de Janus;
* uma sur les autels fonda sa politique;
* nnibal se fraya des chemins inconnus;
º ericlés triompha des Marat de l'Attique;
º lexandre au combat signala sa valeur ;
* Omulus des romains prépara la grandeur ;
"º itus chez les mortels sut mériter des temples;
* t dans un héros seul je vois tous ces ………;
6 DE MARÇO (Quinta feira).

GARÃOES E A PATRIA.
«Peregrino, sê bem vindo !
« Quem teus passos encaminha?»
— «A saudade, linda virgem,
«Saudades da patria minha ! »
«D'onde vens?» — « De longes terras.»
« Tua familia ?» — « Morreu.»
E uma lagrima ao romeiro
Dos olhos se desprendeu.
« Triste sorte a do proscripto
« A vagar em terra estranha !...
«E dentro d'alma a saudade !...
«E que saudade tamanha ! »
«Mas, diz-me, qual é teu nome ? »
— «Sou Camões! » — disse a gemer.
« E que procuras agora?»
— «Um abrigo p'ra morrer ! »
«Achaste-o pois, bardo luso !
«Vem, abraça-te comigo!
«Vem, que juntos morreremos,
«Que a Patria morre comtigo !»
Augusto Emilio Zaluar.
FILIPPE E PARMENIAO. — Uma occasião, dormin
do Filippe, murmuravão alguns que esperavão para lhe
fallar. Disse-lhes Parmenião: «Se agora dorme, ve
lava quando vós dormieis (A. 51, 1 e 29 de Junho
"#" Novembro, 4, 53, p. 43).
7 DE MARÇO (Sexta feira).
CORRESPONDENCIA MAGNETICA ? — Escrevo sob a
impressão de um facto que acaba de passar-se á minha
vista, e que foi tambem presenceado, por tres pessoas
mais que se achavão proximas. Trabalhava eu com duas
luzes diante de mim. De repente, apaga-se uma por
que a véla se acabara, e no mesmo instante...... V3
cila e amortece a outra ! Havia, e ha em geral, um
nexo occulto entre duas luzes proximas? foi simples
acaso? pode ser que fosse; não assevero o contrario; mas
vale a pena averigual’o, pois em tal facto, se é constan
te, pode haver talvez origem de importantes applica
ções. Quantos mysterios nos traz ainda encobertos a
natureza!.... E quantos que nunca se descobrirão!...
Poucas semanas depois de escripto o que prece
de, aconteceu, tambem na minha presença, uma
cousa semelhante com um candieiro e duas ve
las que se achavão a pequena distancia: no mes
mo instante, e sem causa alguma ostensiva, es
moreceram ao mesmo tempo, todas as tres
luzes ! Adivinhem lá a razão d'isto !...

8 DE MARÇO (Sabbado).
PORTUGAL E A LEBRE. — Estando o Conde de Sor
telha por Embaixador em Castella, perguntou-lhe um
dia Carlos V, gracejando com a pequena extensão do
territorio portuguez, e querendo dar-lhe a entender que
a dous passos se encontrava sempre a Hespanha:
«Quando se levanta uma lebre em Portugal, aonde
a vão matar ?
«. Na lndia, Senhor, lhe replicou o representante da
mais nobre corôa d'aquellas eras.»
TINTA. — E' um liquidosinho preto com que se der
rubão os thronos e se muda a face do universo.
9 DE MARÇO (Domingo).
HARPA ÉOLIA.—Ao que sobre este assumpto escre
vemos a pag. 294 do Almanach de 1853, acrescentaremos
hoje que é um instrumento summamente agradavel que
toca sem musica nem machinismos, sempre com diver
sidade de melodias. Consiste n'uma caixa de madeira
com suas cordas de tripa pela parte de fóra, afinadas em
|- certa relação harmonica umas com
as outras. Collocada n'um jardim
y, ou n’uma sala por onde passe
| vento, solta toadas deliciosas, que
ora dão a lembrar instrumentos
- diversos, ora voz humana, ora de
}^\ perto ora de longe, ora de cima
#*>/#, ora de baixo, oraionge e melan
- - - * cholicamente, ora com um cer
to ar mais solemne e festival.
As harpas éolias são muito usuaes na Escocia e na Ita
lia; por partes da Allemanha tambem se ouvem; o que
só admira é que sendo luxo tão facil e barato, se não
encontre por toda a parte e seja entre nós quasi inteira
mente desconhecido,

10 DE MARÇO (Segunda feira).

REMEDIO PARA A HYDROPHOBIA. – Publíca o Jor


nal de Leipsicum, que declara infallivel, contra aquel
la terrivel molestia, e que foi confirmado pela expe
riencia de 50 annos de um conteiro saxonio, por nome:
Gastell, o qual não quiz morrer sem o fazer publico.
Reduz-se ao seguinte:
Lavar immediatamente a ferida com vinagre quente
ou agua morna; enxugar e deitar por cima algumas
gottas d’acido muriatico,
(A. 52, p. 314.)
149
- 11 DE MARÇO (Terça feira).
/ (A.COCHONILHA. — Ao que sobre a cochonilha dissemos
53, p. 216) juntaremos hoje alguma cousa mais.
E' um insecto que nasce e se alimenta n'uma planta a
que os botanicos chamão: Cactus opuntia, e mais ge
ralmente conhecida pelo nome de: Nopal, ou figueira da
India, que dá um fructo bastante nutritivo e muito pa
recido com o figo.
Teve por muito tempo, o Mexico o monopolio da pro
ducção da cochonilha, de grande utilidade para tingir
de incarnado. E' com ella que se faz o carmim. Achou-se
o meio de extrahil'o tambem da raiz de ruiva, mas é
muito superior o que se obtem da cochonilha. Tanto
para tinturaria como para pintura emprega a Euro
pa avultada porção de cochonilha, cujo preço é sem
pre alto. •

O cactus opuntia, ou nopal, dá-se sem cultura nos


paizes quentes da Ásia, da Africa e da America, e é mui
to commum na Sicilia e em todo o sul da Italia, onde a
gente do campo se sustenta do seu fructo uns poucos de
mezes do annô. Para multiplicar o nopal, basta cortar
lhe um bocado e mettel’o na terra; deita logo raiz e não
exige nenhum trabalho mais. Promptas as plantações de
nopals, nada mais facil do que multiplicar indefinida
Inente a cochonilha.
Assim que chegão ao seu maximo desenvolvimento,
põem-se em cada pé, de pequena em pequena distancia,
duas ou tres cochônilhas femeas, que para esse fim se
guardaram da colheita precedente. Dentro em dous me
zes multiplicão por tal modo, que apparecem nopals
carregados d’ellas. Faz-se assim a colheita: •

Péga uma pessoa, com a mão esquerda, n'uma bacia


como as de barba, mas de dobrado tamanho; vai-a en
costando a todas as folhas, raspando-as ao mesmo tempo
ligeiramente com uma faca que não córte, e assim se
apanhão os animaes; mettem-se n’uma caldeira "#"
ferver em que se deixão ficar poucos instantes, séccão
se á sombra, e estão promptos.
Ha 30 annos que a cochonilha foi trazida do Mexico
para as Ilhas Canarias, onde os habitantes, por natureza
indolentes, desprezaram a cultura dos no pais, mas nem
} isso se extinguiram, nem a planta nem a cochoni
ha, antes pelo contrario foram sempre prosperando, sem
que ninguem d'elles se occupasse. Vendidos por alto pre
ço a um negociante inglez alguns arrateis d'esse pre
cioso insecto apanhado em nopals bastante antigos, des
pertou isso a attenção publica; principiou-se a pensar
no proveito que da coehonilha se podia tirar, plantaram
se nopals em todo aquelle archipelago, e assim multi
plicou prodigiosamente o animal. D'alli se exporta air
nualmente por uns poucos de milhões, e bem pode qua
druplicar a actual producção sem que o preço alte
re. O nopal e o insecto que d’elle vive, trouxeram
de novo a prosperidade áquellas ilhas a que os anti
gos havião chamado: afortunadas. Na Argelia, onde
essa planta é muito commum, é de crer que em bre
ve se trate de introduzir a producção e o com mercio da
cochonilha. r"
Pode-se fazer uma abundante colheita de dous em
dous mezes, excepto no inverno, em que as chuvas in
terrompem a espantosa multiplicação do mais util dos
insectos (A. 53, p. 63).
+

12 DE MARÇO (Quarta feira). * *

MODELO DE PACIENCIA. – Foi Socrates admira


vel pela resignação com que sofreu quantas injurias
lhe fez sua mulher. Um dia, que depois de haver vo
eiferado contra elle por largo tempo, acabou com ati
rar-lhe á cara um copo d’agua, placido e impassivel
"#
exclamou o philosopho:
esperar « Depois
senão chuva ?» de trovoada, que se
• •
13 DE MARÇO (Quinta feira).
DESCOBRIMENTO DO MEXICO.—Acompanhado Fer
não Cortez (A. 52, p. 357) por 600 a 700 hespanhoes, des
eobrio o Mexico, vasto e rico imperio. Tomaram-no os
##### por um deus, maravilhados do formidavel es
trondo de sua artilharia e do muito que andavão seus
navios. Seguido por alguns indios e por poucos dos
companheiros de
sua temeraria em
preza, entrou na
cidade do Mexico
sem se importar
com a sua popula
cão de um milhão
e habitantes, e
poz a ferros Mon
tezuma, seu Mo
narcha , depois
Im0rt0 em uma Se
dição que preten
dia aplacar. Gua
timozin, genro de
Montezuma, foi
elevado ao poder,
e tentou resistir á
fortuna de Cor
§ tez, mas tanto esse
§ Principe como sua
R mulher, seus mi
nistros, e seus cor
tezãos; cahiram em poder do feliz conquistador do Me
Xico. Havião saqueado a cidade, os aventureiros de que
se compunha o pequenino exercito de Fernão Cortez, e
descontentes estes com o pouco que n’ella encontravão,
accusaram Guatimozin de haver lançado no lago os seus
thesouros, e pediram que elle e seus ministros "; }
sem entregues para declararem onde os havião sepul
tado: postos a tratos, Guatimozin e o seu primeiro
ministro, ambos se mostraram a principio igualmen
te animosos; escapando porém d’ahi a poucos mo
mentos um grito de dor ao favorito do Monarcha, es
tendido n’uma grelha collocada por cima de carvão ac
ceso, « E eu, lhe disse Guatimozin, estou por ventura
n'um leito de rosas?!» Ouvindo Cortez esta exclamação
ficou admirado do sangue frio e resignação do Impera
dor indio, e lhe perdoou a morte, o que o não impedio
de ser d’ahi a poucos dias assassinado, pela vaga suspei
ta de se haver querido evadir da prisão em que rigorosa
Imente O encerravão.
Aquelle é o fiel retrato do famoso conquistador.
14 DE MARÇO (Sexta feira).
ARGAMASSA CHINEZA. — E' assim que na Ghina se
faz uma argamassa com que
se concerta a porcellana (A.
53 p. 118). Faz-se ferver du
rante cinco ou seis minutos,
em agua bem clara, um bo
cado de vidro branco; reduz
se depois a pó, passa-se este
por uma peneira fina, e amas
sa-se com clara d'ovo, tritu
rando a massa em uma su
perficie de marmore. Fica tal
esta argamassa, que os pe
daços com ella unidos nem á
mão de Deus Padre se tor
narão a separar.
Não ha nada mais facil de
experimentar. O peor é que
entre nós nada absolutamen
te se experimenta.
15 DE MARÇO (Sabbado).
- OLYMPIA. — Tornou-se famosa esta cidade pelos jo
gos que n'ella se celebravão de quatro em quatro annos
ém honra de Jupiter Olympio e pelo famoso templo de
dieado á mesma divindade. Era um dos maiores e dos
mais bellos da Grecia, e edificado com uma qualidade
de pedra muito semelhante ao marmore de Paros. Tinha
no interior uma estatua de Jupiter, d’ouro e de marfim,
a qual passava por uma das maravilhas do mundo; era de
sessenta e tantos pés a sua altura e representava o deus
sentado n’um throno. Circumdava o templo um bosque
sagrado em que se collocavão as estatuas dos vencedo
res (4, 51, 18 de Novembro. A. 54, p. 54).
=T= #EY
*. . .

Que tenho! que sinto n’alma, Chega o momento! quem sabe


Que me vem turbar a calma, Que sorte agora me cabe,
Como o tufão turba o mar ? Que fados vão ser os meus !
Porque a face me descora ? Este tremor... este anceio ..
Porque a Deus o labio implora, E' de desejo e receio
Convulsa prece a rezar? De ler-lhe nos olhos seus !
Porque a fronte se me dobra? Vou vel'a! Cumpra-se a sorte!
Porque languida soçobra Cumpra-se! a vida ou a morte;
A uma idéa de pesar ? Ou perdel’a, ou ser um Deus.
Mal posso firmar um passo ! Mas ai de mim ! não mereço
Vagueia a vista no espaço, Que me paguem por vil preço
Pasmada pela amplidão ! Os meus extremos d'amor;
E dos olhos me rebenta Eu, quenas dores da ausencia
Uma lagrima, sedenta Só vivi uma existencia
Como a lava do volcão | De saudade, e fel, e dor;
Ai! que sinto aqui no peito!... Eu, que senti desbotar-se,
Que punhal me vem direito Pouco a pouco desfolhar-se,
A's fibras do coração ? Da esperança a candida flor.
1 54
Eu, que via um mundo aberto Eu, que fugindo ás delicias
E nas brenhas do deserto, Que me trazem as caricias
Sósinho, me sepultei, D’uma irmã que me surri;
Que nas praias, triste monge, Que esquécendo tudo a esmo
Por essas vagas ao longe, Me esquecia de mim mesmo,
A's noites te procurei; Para pensar só em ti...
Eu que nos uivos da guerra, Não posso temer mudança!..
Em pé, nos topes da serra, Alentou-me a confiança...
Debalde por tíbradei! Affoutei-me... Deus! que vi!
Nas tuas faces geladas,
Talvez de der empanadas, \

Raia um ligeiro rubor;


Tremo... tremes! — nos teus olhos,
Como o orvalho nos abrolhos,
Reluz um brando fulgor...
Tens nos labios um surriso,
Tens no seio um paraiso...
E's inda o anjo d'amor !
Antonio Pereira da Cunha.

16 DE MARÇO (Domingo).
BALSAMINHO OU BALSAMINA. — Planta nativa da
India. Tem por fructo uma capsula de cinco cellulas, que
em estando maduras se abrem com elasticidade, enro
lando-se em espira, donde Linneu (A. 53, p. 167) lhe deu
o nome latino: impaciens, que significa : insofrida. A
especie de balsamina em que melhor se nota esta pro
priedade, é a denominada: dos bosques (noli me tange
re), a qual nasce sem cultura nas mattas sombrias e hu
midas da Europa septemtrional. Esta, assim que a tocão
ao de leve, logo de todas as partes principia a estoirar.
No continente da America, e ainda pelo norte da Europa,
eomem-lhe as folhas como espinafres (4.54, p. 167).
155
17 DE MARÇO (Segunda feira).
SERPENTES DA MARTINICA.—São ahi tão communs,
que nada mais perigoso do que passear a pé no campo,
aproximar-se á relva, passar junto d'antigas ruinas. Ha
quem as tema ainda mais do que a febre amarella e os
terremotos. Tem-se procurado dar cabo d'ellas, mas não
ha conseguil'o. Ainda não ha muito que para alli mandou
o governo certos reptís que as exterminão. E' uma espe
cie de homeopathia; os reptís destruidos pelos seus se
melhantes (A. 51, 13 de Janeiro).
Não são as serpentes os unicos animaes nocivos da Mar
tinica; ha na fertil, amena e poética ilha das pequenas
Antilhas (A. 55, p. 310) muitos outros bixarocos que lhe
tirão toda a poesia. Ha os mil-pés (millipeias em vez de
centopeias, A, 55, p. 380), que chegão a ter seis pollega
das de comprido, e cuja picada occasiona uma febre ar
dentissima (nem uma só casa está isenta d'elles); ha ba
ratas maiores do que gafanhotos que entrão por toda a
parte e róem quanto achão á mão; ha aranhas do tama
nho d'um ovo cuja mordidella produz o efeito d'um nar
cotico; ha uns vermes que sem pagarem renda de casa se
alojão na pelle, ahi põem immensos ovos, e occasionão
chagas purulentas e ulceras incuraveis; etc. etc., etc.
Quem quizer ir até lá, escusa de esperar por mim.
18 DE MARÇO (Terça feira).
DEFUNCTO. — Dizia o nosso inte
ressante e graciosissimo José Ni
coláu de Massuelles Pinto na sua
ultima doença, fallando com o as
sistente : « Doutor, alongue-me is
to da vida quanto poder, que sem
pre hei-de ter tempo de mais pa
ra me aborrecer de estar de
funeto.
156

|
19 DE MARÇO (Quarta feira).
ELEPHANTES PRENDADOS. — Torna-se notavel o
elephante, entre todos os animaes, pela sua corpolencia
e intelligencia. Mais de um naturalista ha provado que o
reconhecimento, a vingança, o arrependimento, são n’el
les sentimentos dos mais communs; o que porém até hoje
poucos sabião, é que elephantes podessem dançar com a
mesma graça e agilidade, ou da Lisereux ou de Mllº Fleu
ry. É o que acaba de provar o director de um dos circos de
Paris. A um seu aceno vel'os-heis executar os mais com
plicados, os mais difficeis movimentos, os mais incompa
tiveis até com a sua natureza: correm para traz, para
diante e para os lados, andão á roda, valsão, põem-se no
bico dos pés, virão-se de cabeça para baixo, cruzão ºs
mãos, e fazem mil outras habilidades com a tromba, tudo
ao som de musica, e muito a compasso. Não ha nada mais
divertido do que é ver dous elephantes a dançarem a
polka. São mais prendados do que eu!...
20 DE MARÇO (Quinta feira).
CAMINHOS DE FERRO NA INGLATERRA. — A se
guinte estatistica do material de *# ora existente
em todos os caminhos de ferro na Inglaterra, dá uma
idéa do grande desenvolvimento a que estes allihão che
gado:
2,413 carruagens de 1.º classe, contendo 49,226 logares,
3,414 de 2.º com 124,703 logares.
2,954 de 3.º contando 121,807 logares.
4,000 locomotivas de diversas forças.
1,547 carruagens para transportar cavallos, podendo con
ter 4,547.
7,127 carruagens para gado, admittindo 76,696 bois, car
IneirOS, etc.
Antes d'um anno teremos tambem tudo isso em Por
"# E talvez ainda mais.
21 DE MARÇO (Sexta feira).
A RELIGIÃO CHRISTÁ E O N.º 3. – Christo formou
o-seu apostolado aos 30 annos (3 dezenas). Perseguiram
no os judeus 3 annos. Morreu aos 33 annos e 3 mezes de
idade. Foi crucificado ás 3 horas com 3 cravos. As pes
soas da Santissima Trindade são 3; por isso as Trinda
des se tocão 3 vezes ao dia e de cada vez 3 badaladas.
3 são as virtudes theologaes. Quando a sineta chama
para a missa, toca 3 vezes. Missas de pontifical são de
3 padres. Em dias de Natal e de finados dizem-se 3 mis
sas. O Natal tem 3 oitavas. Cada vez que batemos no pei
to á missa são 3 pancadas. A sagração da hostia conser
vão os padres os dedos pollegar e index unidos, e com
os outros 3 fazem o signal da cruz 3 vezes sobre o calix.
Os Reis Magos que procuravão Jesus erão 3. Na Paixão
de Jesus acompanharam-no as 3 Marias. O trespasso é o
jejum de 3 dias seguidos. Quando o gallo cantou 3.º vez,
reconheceu S. Pedro a sua cobardia. Os dados com que
os judeus jogaram a tunica do senhor (Almanach de 1855
pag. 157) erão 3. Quando se # uma criança, o pa
dre faz 3 cruzes com a concha da agua. Para casamentos
se precisão 3 pregões. Sabbado d'Alléluía appareçe uma
vela grossa e dividida em 3 do meio para cima. As leis
ecclesiasticas ordenaram que um condemnado apena ulti
ma estivesse 3 dias no oratorio. O Calvario tem 3 cruzes.
Quando se incensa o altar, a ceremonia é feita 3 vezes
com o thuribulo suspenso por 3 correntes. As alampadas
estão suspensas tambem por 3 correntes. O altar-mór tem
muitas vezes 3 alampadas. O gallo no oficio de trevas é
triangular. O triangulo se nota em todas as igrejas. Den
tro d'um triangulo se pinta o olho da Providencia. Os
clerigos usão de chapéus de 3 bicos, e os seus barretes
pretos, apesar de quadrados, têem 3 pestanas sómente no
topo. As lanternas que arvoradas acompanhão os andores
ou pallio, têem 3 vidros. Os cereaes, massanetas do pal
}ão, pés de cruzes e castiçaes nos altares, tudo tem a fór
158
fiI3 # A maior parte das igrejas grandes têem 3
portas e 3 janellas. Os frades franciscanos é alguns de ou=
tras ordens usavão de um cordão cingindo o habito com 3
nós. Tres são (#São João) os que dão testemunho no céu,
o Padre, o Filho e o Espirito Santo. 3 são os que o dão na
terra, o espirito, o sangue, e a agua. Jesu Christo resus
citou ao 3.º dia depois de sua morte, e Jonas, que foi
sombra d’este mysterio, andou 3 dias no ventre d'um ce—
taceo. Tres mulheres, e todas Marias, foram ao sepul
chro com os aromas, e estas foram igualmente as tres
primeiras testemunhas da gloriosa resurreição. Tres dias
andou o Menino Jesus perdido em Jérusalem disputando
com os doutores, e na idade de 3 vezes quatro annos, Tres
VeZeS *# Jesu Christo a São Pedro se o amava,
e ouvida a terceira resposta (que não foi lá muito direi
ta) lhe conferio o primado. 3 vezes se bate á porta prin
cipal da igreja com a extremidade inferior da haste da
cruz na procissão de Ramos. A. P. S.

22 DE MARÇO (Sabbado).
O TAVERNEIRO ARITHMETICO. — Com tres medi
das desigua es, uma de 8 canadas, outra de 5, e outra
de 3, medir 4 cana das de vinho.
4. a 2." 3.0
. . 8 canadas 5 canadas 3 canadas
Com eocom
2.°, vinho de queencha-se
o d'esta a 1.º medida
a 3.º; está cheia,naencha-se a
teremos •

1.a 2.a 3.a.


- 3 canadas 2 canadas 3 canadas
Vase-se depois a 3.º dentro da 1.º, e o que ficou na 2.°
metta-se na 3.º; teremos na
1.a 2 a 3. a
6 canadas vazia 2 canadas
Encha-se ####a 2.º de vinho da 1.º e depois de cheia
acabe de encher-se a 3.º; teremos na
1.a
• 2. a
• 3.º
. 1 canada 4 canadas 3 canadas
159
23 DE MARÇO (Domingo).
D. ALVARO DE CASTRO.—Sahindo uma tarde El-Rei
D. João III do Convento
da Graça, fazia parte da
comitiva real D. Alvaro
de Castro, governador
de Lisboa. Estava o dia
frigidissimo e de muito
vento e chuva; e como
viessem todos desco
bertos, exclamou D. Al
varo de Castro, voltan
do-se para o Monar
cha : « Senhor, o bom
portuguez é obrigado
a morrer pelo seu Rei,
mas não vejo porque
se hade constipar.» E
ao dizer isto, cobrio-se
sem mais ceremonia.
Lembra-me aquelle
duello com espadas de
canna entre dous pe
quenitos, abrazados de
ardor marcial: «um de
nós hade morrer, mas nada de bater nos dedos.»
DIAMASTIGOS. — Assim se chamava uma festa dos la
cedemonios em honra de Diana. Os filhos das principaes
familias se açoitavão desapiedadamente uns aos outros
com rijas correias, diante dos altares e na presença dos
pais, que os esforçavão com vozes a não darem signal de
doridos, se bem que as carnes se lhes descosessem e lhes
chovesse o sangue copiosamente. Jogos e usança dignos
d'um povo tão varonil, e para o qual o valor, a força e o
amor da patria, erão os summos merecimentos!...
160
24 DE MARÇO (Segunda feira). •

MEDICO DE NOVA ESPECIE. – Certo cardeal tinha


uma bexiga cheia de materia no interior da bôcca, e já os
medicos o tinhão desamparado, condemnando-o a ficar to
da a vida quasi sem fallar. N'esta tristeza, estava o pobre
doente sentado em sua poltrona, a ler para si; eis que um

== •

# macaco que tinha lhe tira o barrete incarnado da


cabeça, o põe na sua propria, e começa a olhar com ar ver
dadeiramente comico para elle. O cardeal não poude sus
*** o riso á vista de tal scena, e dá tamanha gargalha
a, que lhe arrebenta a bexiga e logo em seguida fica bom.
# #" os medicos não souberam fazer, º? O fil{\C0C0.
25 DE MARÇO (Terça feira).
DAGOBERTO I, REI DE FRANÇA — Foi um Priucipe
terrivel e barbaro, que ao sahir apenas da infancia cor
tava as barbas ao seu pedagogo e o mandava açoutar ;
que depois de haver recebido em dote o reino das Astu
rias, obrigou seu pai a unir-lhe a provincia das Ardennes
e a dos Vosges; que foi impellido pela mais desmedida
ambição ao assassinio e talvez mesmo ao fratricidio;
que teve ao mesmo tempo cinco esposas e innumeraveis
escravas; que durante a guerra com os saxonios mandou
matar todos os prisioneiros mais altos do que a sua es
pada; que depois de haver dado emfim asylo na Baviera
a dez mil familias bulgaras expulsas de sua patria,
#"
mOute
aos bavaros as degolassem todas em uma só
Acrescentemos para tornar o quadro menos sombrio,
que se mostrou Dagoberto amigo das artes, que era ins
truido, que recompensava o mérito, e fez com que gozas
se o seu reino de uma paz gloriosa.
26 DE MARÇO (Quarta feira).
NEVE INCARNADA. — Por mais de uma vez se ha vis
to, particularmente na Suissa. E devida aquella côr a
corpos organisados, de que uma parte pertence ao reino
vegetal e outra ao animal. Examinado um bocado de
neve incarnada pelo physico Shuttleworth com um mi
eroseopio de grande augmento, reconheceu n’elle um nu
mero grandissimo de infusorios de diversas fórmas, qua
si opacos e d'um incarnado escuro. O seu maior diame
tro era de º de millimetro, e o menor de 14 o : movião
se com uma rapidez extrema. Todos esses infusorios erão
a tal ponto sensiveis á acção do calor, que morrião assim
que a temperatura subia um quasi nada acima da da ne
Ye. As substancias vegetaes a que a neve incarnada deve
a sua côr, pertencem á familia do sargaço. 162
27 DE MARÇO (Quinta feira).
AQUEDUCTO DAS AGUAS LIVRES.—Ao viajante que
entra em Portugal, logo se antolha ir visitar este monu
mento gigante (A. 51, 3 de Fevereiro), e confessa no meio
de sua admiração ser o unico d'este genero em toda a
Europa. Lisboa, sem embargo de sua opulencia e rique
za, não podia crescer em população, porque a mingua
de agua lhe tolhia esse progresso Lisboa conter-se-hia
quasi nos limites do bairro de Alfama, se não fôra um
João V, ou outro Rei que o imitasse. N’este bairro apenas
havia quatro chafarizes, alguns poços e cisternas. Tudo
mais que hoje é cidade, erão então campos, com alguns
conventos. João V sentio tão urgente necessidade, e ap —
provado o risco e desenho do brigadeiro Manoel da Maia,
deu principio ao portentoso aqueducto das Aguas-livres
no mesmo anno em que foi acabado o convento de Mafra.
Dezanove annos se gastaram em sua fabricação.
Este aqueducto tem seu começo na ribeira das Aguas
}ivres, junto a Bellas, e gira quasi cinco léguas em ra
mostransversaes. Em seu transito as aguas correm por
baixo da terra quando têem de atravessar os montes, e
por cima de elegantes arcos quando atravessão os valles
e depois as ruas da cidade. Em toda a extensão do aque
dueto se elevão de espaço a espaço torreões quadrados
eom janellas para dar claridade aos encarregados dos con
certos do aqueducto e aceio das aguas. Cento e vinte e sete
arcos se contão ao todo. Os que mais se admirão, são os
35 que se erguem sobre o vaile e rio de Alcantara, os
quaes tem 780 metros de comprimento. A altura do arco
grande é de 68 metros e de 32 a largura. Por cima d’es
ta formosa arcada ha dous passeios, um da parte do
oriente, outro da parte do occidente, com um pouco mais
de metro e meio de largura. D'aqui se deleita a vista na
contemplação do ameno quadro representado n'aquelle
valle, coberto de quintas, pomares, casas de campo e gra
"# campinas. Para mostrar a solidez desta arcadº,
basta dizer-se que com o terremoto de 1755 não sofreu
o menor estrago, nem uma só parede rachou, nem um só
pilar gemeu. Uma cousa que muito singularisa este aque
ducto, é correrem n’elle horisontalmente as aguas, que
só de espaço a espaço descem perpendicularmente como
por degráus de escada. Se não fôra esta direcção hori
sontal que o Rei lhe quiz dar, certamente para melhor
se poder tractar do seu aceio, e ser mais magestoso este
monumento, desnecessario seria tão grande numero de
arcos e tanta despeza, porque attenta a tendencia dos
liquidos ao nivellamento, as aguas, correndo por baixo
##
A 1S 008,
atravessarião profundos valles e entrarião em
Quando o aqueducto apparece no logar das Amoreiras,
é sustentado por um magestoso arco de architectura do
rica, que se "º na Rua das Aguas-livres. Perto d'este
arco ha a chamada Mái-d'agua, que é uma alta torre
quadilátera, com uma grande cascata, e um largo tan
ue para deposito de agua no tempo de abundancia.
Trinta, chafarizes recebem agua d’este aqueducto, 18
dentro da cidade e 12 fóra #
João Felix Pereira (Hist. de Portugal).
28 DE MARÇO (Sexta feira).
ACHAR UM FURTO SEM DESCOBRIR O LADRAO.
— Certo Rei de França entrou por acaso com alguns cor
tezãos na loja de um ourives para comprar alguma cou
sa: ao sahir, quando já estava a pequena distancia, vem
ter com elle o ourives todo aflicto, dizendo que algum
dos seus senhores lhe tinha roubado um diamante de
muito preço. O Rei entra de novo na loja, manda vir um
vaso cheio de sêmeas, e ordena que todos os cortezãos po
nhão no vaso a mão fechada, sahindo com ella aberta.
Quando todos acabaram, mandou vasar as sêmeas, e
achou-se o diamante sem se haver descoberto o *#
29 DE MARÇO (Sabbado).
MEDICINA, — Nada ha mais simples do que foi a me -
dicina em seu principio.
Conta a historia, a pro
posito de Esculapio, que
trazia sempre atraz de si
um cão e uma cabra; ser
via-lhe a lingua do cão
|- - * para curar as ulceras, e s##
o leite da cabra para combater as molestias de peito.
Assevera Heródoto que os habitantes de Babylonia não
recorrião nunca aos medicos; mandavão pôr os doentes
no meio d'uma praça, afim de que, os que houvessem ti
do molestias semelhantes, os vissem, e lhes aconselhas
sem o tratamento proprio. Era prohibido passar por alli
sem perguntar aos doentes, o que sofrião. O mesmo as
severa Strabão, não só dos habitantes de Babylonia, mas
tambem dos Egypcios. Só responder a tanta gente os de
via entysicar.
30 DE MARÇO (Domingo).

AEA, NEXERE-Arase
Sabei que atravez d'um prisma
Vos olhais enganador ! ....
Que quem na ventura.scisma,
Scismará depois, na dôr ! ....
Que todo o surriso mente,
Que todo o peito mal sente,
Que as trevas seguem a luz!
Que ha veneno nos carinhos,
\
• . Que cadaalma
E cada flor atem
suaespinhos,
cruz!

Ernesto MarêCOS.
31 DE MARÇO (Segunda feira).
CHOCOS.—«E' um feio animal (diz Aphonso Karr) cuja
cabeça se assemelha á de um elephante. Dão-lhe #"
guns authores antigos até dous covados de comprimen
to, mas eu nunca vi nenhum com mais de pé e meio. Tem
nas costas, logo por baixo da pelle, um osso branco e
poroso, que muitos põem nas gaiolas dos passaros para
que n'elles agucem o bico: faz tambem desapparecer a
escripta do papel; servem-se d’elle, emfim, os ourives,
para fôrmas de objectos pequenos. Os chócos têem na
extremidade da cabeça oito trombas guarnecidas de chu
padeiras moveis que lhes servem para agarrar na *
sa e a reter: têem outras duas mais compridas que lhes
servem d'ancora para se agarrarem aos rochedos. No
centro d’ellas ha um bico, que parece de substancia cor
nea, e que na fórma e na côr se assemelha ao do papagaio.
No ventre dos chócos ha uma bexiga cheia d'um liquido
negro a que Cicero chamou: tinta, e que Persio asse
gurou servir no seu tempo para escrever. Dizem que é
este liquido, misturado com farinha d'arroz, que com
ôe a tinta da China, Ouvi dizer a pescadores, e tenho
ido em alguns livros, que os ovos dos chócos são brau
cos no momento em que a fêmea os põe, mas que o ma
cho lhes espalha por cima aquelle liquido, que os torna
pretos. O que é certo, é que os chócos o arrojão a grande
distancia, e que torna elle a agua escura, o que lhes per
mitte fugir aos seus inimigos, ou apoderar-se d'ou
tros peixes.
«Quando os chócos estão fóra da agua, tossem como
uma pessoa. Lá custa a imaginar um peixe constipado ;
assim como porém são devidos os nossos defluxos a mu
dança de temperatura, assim tambem se concebe que
um peixe se constipe fóra do seu elemento. E' sabido
que o peixe fóra da água morre asphyxiado no ar, sem o
qual nós não ### viver, do mesmo modo que nós
morremos asphyxiados dentro da agua.» 166
1 DE ABRIL (Terça feira).
APOTHEOSE — Com esta palavra, diz Bluteau, si
gnificava a antiga gentilidade toda a pompa vá das su
persticiosas ceremonias com que os Imperadores e varões
illustres erão collocados entre as falsas deidades dos
antigos. Morto o Imperador, toda a cidade se vestia de
hucto, e depois de acabados os funeraes com muita ma
#### se deitava n'um leito de marfim uma figura
e cera, que se parecia com o defuncto, e que pelo es
paço de sete dias era vestida pelos principaês cavalhei
ros e damas romanas, juntamente assistida de muitos
medicos que de dia em dia ião encarecendo a enfermida
de do Soberano, até que finalmente no 8.° dia os sena
dores e cavalheiros romanos levavão o leito, com a dita
figura dentro, até á praça, aonde havia um magnifico
estrado com outro leito em que deitavão a figura de ce
ra. A este espectaculo assistia o novo Imperador com os
pontifices, magistrados e damas romanas, e depois de
uma pomposa procissão até ao campo de Marte, fóra da
cidade, subia o novo Monarcha a uma tribuna, a que
chamavão das arengas, e fazia o elogio do defuncto;
entregavão depois os senadores este segundo eleito nas
mãos dos pontifices que o collocavão no 2.° andar de
uma machina pyramidal, em que, depois de varias car
reiras dos Cavalheiros romanos, da infantaria e de
muitos coches guiados por cocheiros, vestidos de pur
pura, o Imperador com um brandão pegava fogo na py
ramide, e depois de accesa se soltava d’ella uma aguia,
que espantada das labaredas da machina ardente se re
montava ás nuvens, e segundo a opinião do vulgo arre
batava-se ao céu a alma do Imperador defuncto-Depois
de Romulo, foi Julio Cesar o primeiro, que logrou as
honras d’esta solemnidade, e entre as Imperatrizes foi
Livia a primeira a quem se fizeram estes divinos ob
sequios.
• (Almanach 55 pag. 305.)
167
2 DE ABRIL (Quarta feira).

P0S|||0N DE LA FRANCE S0US R0BE$P|E#E.


GINOHL

{#3#N

# FRANCE SANS E Q
PEUPLE

RELIGI0N

Explication «lu TabIeau t


LE TRôNE RENVERSÉ, LA RELIGIoN A BAs, LE FEU PAR
ToUT, LA vERTU DE CôTÉ, LE cIToYEN BARBARE, LA FRAN
CE SANS ECUS, LE PEUPLE SOUFFRANT.

3 DE ABRIL (Quinta feira).


SOLAS IMPERMEAVEIS. — Pondo uma superficie
bem delgada de caoutchouc entre os dous bocados de
couro de que se compöe a sola d'um sapato, impedirá
completamente a humidade. 168
4 DE ABRIL (Sexta feira).
ARAUTO. — Publica-se em Lisboa um jornal com este
titulo, e não faltará quem (até sendo assignante d'elle)
se veja bem atrapalhado para dizer o que tal palavra
signifique. Digamos-lh'o pois. .
A proposito — e antes de ir mais longe — Não olhem
os sabios para este nosso humilde livrinho com olhos de
lastima, por verem que n'elle damos repetidas vezes
noções vulgarissimas: não é para elles que escrevemos,
mas sim para o povo, e lembrem-se de que o povo nada
sabe, e se por ventura lhe não for pouco a pouco, e em
equeninas porções, administrado o pão do espirito nos
ivros populares, os da sciencia são-lhe defesos, e nada
por fim de contas ficará sabendo.
Voltemos ao Arauto.
Preenchião os Arautos entre os antigos diversas fune
ões civis e religiosas, e erão essencialmente incumbi
os de intimar as declarações de guerra. Entre os mo
dernos erão os Arautos oficiaes de guerra e de simples
apparato : dividião-se em : Reis d'armas, Arautos e
Passavantes, Importantes e numerosas erão as suas func
ções : assistião aos casamentos, á coroação e ao enterro
dos Reis, fão levar declarações de guerra, regulavão to
das as formalidades dos torneios e combates, fazião as
opportunas intimações ás cidades sitiadas, oppunhão-se
á usurpação de titulos ou brazões, velavão pela conser
vação dos altos titulos de nobreza, etc. etc. Erão muito
Considerados e foi sempre olhada a sua pessoa como in
violavel e sagrada. Na Inglaterra ha-se conservado esta
instituição tal qual existia no tempo da Rainha Isabel.
Em França acabaram os Arautos a contar de Luiz XIII
para cá; reviveram porém no tempo do passado imperio,
e até da Restauração, dando com elles outra vez em ter
ra a revolução de Julho.
fº ARROTA.—E' muitas vezes o meio de enriquecer.
5 DE ABRIL (Sabbado).
O EPA EPA 4G A B (Ps

Verde qual bella esmeralda,"Deixavão morder o dedo,


Um papagaio eloquente, Com que o meu pé me pedião;
Com o bico adunco e grosso Da gracinha satisfeitos,
Roia a dura corrente. # a dôr, se rião.
Mimosa filha da casa
Baldos esforços, coitado !
Emprega por se livrar; A seus labios me chegava ;
Quem a liberdade perde, Então de ser papagaio
Custa-lh'a a recupérar. Lastimoso me queixava.
Cançado, sacode as azas, Em vez de labios macios,
Arripia o corpo todo, Que os seus devessem tocar,
Dá estallos e moxoxos, O meu insensivel bico
E se queixa d’este modo : Nada podia gosar. -

«Inda implume do meu ninho Tão dispendidas carietas,


Mlão tyranna me-roubou; De vão orgulho m'encheram;
Era feio e cabeçudo, Fallei; nasceram as azas,
Mui diff'rente do que sou. Foi então que me prenderam.
Não recearam fugisse ; Hoje porém algemado
Não tinha pennas então; (Que miseravel prisão 1),
Hoje sim, éllas me pungem Só tenho por alimento
Desolado coração ! A mais escaça ração !
laia de fidalgote, E porque ? Porque fallei :
Tive grande tractamento; Fallei o que me ensinaram !
Era fôfo pão de ló Lição sempre repetida,
O meu diario sustento. Com que sempre me mataram,
Pulava de cólo em cólo; Porque se valem da força
Davão-me sôpas de vinho; Que lhes deu a natureza ?
Negro, pellado e gosmento, Porque somos papagaios,
Me chamavão: Seu lourinho Porque não temos defeza.
Ah! que se possivel fôsse
Trocar nossas condições,
Para tantos palradores
Nos faltarião grilhões !»
In hato -Mirim (…………o
6 DE ABRIL (Domingo).
CUIDADO COM A CAMPHORA. — No artigo corres
pondente a 29 de Novembro de 1851 disse quanto sabia
ácerca da camphora; hoje porém que não poucos levão
o seu enthusiasmo por ella ao ponto de a mastigarem e
fumarem de continuo, e de trazerem sempre as algibeiras
cheias da tal substancia que Raspail considerou como o
melhor preservativo contra toda a especíe de molestias,
náo será fóra de proposito assegurar-lhes que a funestos
resultados pode dar origem. Em um jornal dos Estados
Unidos acabamos de ler que no hospital dos doudos de uma
das primeiras cidades da União entraram agora aliena
das oito pessoas, em rasão da grande quantidade de cam
phora que havião por diversos modos consumido para se
preservarem da cholera. Está hoje provado que um cão
endoudece (se os homens endou decem, porque não ha de
endou decer um cão, que tem mais juiso do que muitos
homens?) com uma pequenissima porção de camphora, e
que não resiste a uma dóse um pouco maior. Aviso aos
enthusiastas da camphora!....

7 DE ABRIL (Segunda feira).


MURALHA DA CIHINA. – Foi elevada 137 annos an -
tes da nossa era para defender o paiz das invasões dos
tartaros. A sua altura média é de 10 metros (mais de 30
pés) e a sua grossura de 8 metros (mais de 24 pés). Tem
de distancia a distancia torres para signaes. No alto de
cada montanha ha uma fortaleza optimamente construi
da. A sua extensão total é de 625 """ PoucOS all I1OS
bastaram para construir esta obra colossal, que hoje está
cahindo em ruinas, talvez por haver conquistado o celes
te imperio o povo inimigo contra o qual houvera sido
eonstruida (A. 51, 4 de Fevereiro, 24 de Julho e 19 de
"… A. 52 p. 149, A. 53 p. 263).
8 DE ABRIL (Terça feira).
MALAGA, — Chamavão-lhe os phenicios: Malacha, o
ue em sua lingua significava: peixe salgado, pela gran
| exportação que de tal genero alli se fazia. Está situa
da a cidade mesmo á borda do mar, na base de uma al
ta montanha que defendem dous castellos famosos nos
annaes mouriscos. Attribue-se a sua fundação aos phe
nicios. Todos os annos ahi fundeião 200 a 300 navios que

depois vão derramar por todo o mundo esse vinho deli


cioso e sem rival que faz a riqueza da cidade. Foi esta
por tal modo fortificada pelos granadinos a quem per
tencia, que infructiferos foram todos quantos esforços
practicaram os hespanhoes para a tomarem de assalto e
só a fome a poude obrigar a capitular.
(A. 56 pag. 121).
A TORRE DE ISPAHAN. — Ha em Ispahan, antiga ca
pital da Persia, uma torre de 70 pés d'altura, toda feita
d’ossos d'animaes mortos n’uma só caçada. 172
9 DE ABRIL (Quarta feira).
DAHLIAS, — São oriundas do Mexico e foram d’ahi
trazidas para a Hespanha por um botanico dinamarquez
chamado : André * d'onde se lhes deriva o nome. Só
foram conhecidas em França a contar de 1802, e entre
nós ha muito poucos annos,
|- 10 DE ABRIL (Quinta feira).
CHARAbA.
Se p'ra o mal me ha feito a sorte
Ter bem forte
Inclinação,
Já ninguem pode emendar-me,
Nem mudar-me
A condição........... ....... 1
Quem aos tormentos da sorte
Com a morte
Quer pôr fim,
Foge aos laços do inimigo,
E um abrigo
Busca em mim.............. 2
Humilde, mas proveitosa,
Mimosa côr d’ouro Ostento;
Rebento,
Viçosa,
Os prados a ornar
Em quadra calmosa. ,
Festejo sancto bemdito,
Maldito em côrte devassa ;
Não passa
Seu rito
Sem eu lhe esmaltar
Ridente palmito, A. M. C.
173 #
11 DE ABRIL (Sexta feira).

O EREMITA.
No alto de um monte por selvas bordado
Vivia um vélhinho, bem annos havia ;
Passava o seu tempo lavrando o seu campo
E amado por todos a todos servia.
Se havia disputas na aldeia visinha,
Correndo íão todos ao branco ermitão,
E o bom do vélhinho com fallas prudentes
Calmava a contenda prégando união.
Se a tenra donzella temia os feitiços
Que arteiro lhe armava ladino amador,
Lá se ia ao ermita pedir-lhe conselho,
E o velho a safava dos laços de amor.
Se o bello mancebo choroso contava
As penas de afecto que aflicto curtia,
O velho dizia-lhe historias antigas,
E o triste mancebo contente surria.
Se um filho mais moço invejava os extremos
Que o pai de familias só dava ao mais velho,
Corria á choupana, fallava ao ermita,
E um balsamo achava n'um santo conselho.
Se o cura do sitio, de altiva eloquencia,
P'ra si só prégava soberbo sermão,
Aos bons camponezes na lingua da aldeia
Bondoso o explicava o santinho ermitão.
Se a grandes demandas um pobre lapuz
Sedento incitava goloso letrado,
Lá vinha o ermita metter-se permeio
E o plano engenhoso ficava frustrado.
174
Um dia de tarde © á bôcca da noite,
Que noite terrivel, que noite maldita !)
Correu um boato (maldito boato!);
«Acudão, acudão que morreu o ermita.»
E desde esse dia donzellas, mancebos,
Andaram em triste constante brigar;
Vorazes letrados travaram litigios,
E o cura da aldeia cançou de prégar.
Jacintho Augusto de Sant'Anna Faseoncellos.
P. S. Pois era tomar gemadas e ir prégando sempre.

12 DE ABRIL (Sabbado).

SALGALHADA. — Lê-se o seguinte em uma Revista


ingleza: •

O numero das linguas falladas no mundo, sobe a 3,064.


Os habitantes do globo professão mais de mil religiões
diferentes. O numero dos homens é quasi igual ao das
mulheres. O termo médio da vida humana é 33 annos:
uma quarta parte morre antes da idade de 7 annos e me
tade antes dos 17. De cada 1,000 pessoas, só uma chega
a 100 annos; de cada 100, chegão 6 á idade de 75; de cada
500 só uma chega aos 80 annos. — Ha na terra mil mi
lhões de habitantes, de que 333,333,333 morrem annual
Inente, 91,824, diariamente, 3,730 por hora, 60 cada mi
nuto, e por consequencia um cada segundo, perdas com
pensadas por igual numero de nascimentos. Qs casados
vivem mais do que os solteiros. Os homens altos vivem
mais do que os baixos. O numero dos casamentos está na
proporção de 75 para 1,000 individuos. As creanças nas
cidas na primavera são as mais robustas. Os nascimen
tos e mortes são mais frequentes de noute do que de dia.
O numero dos homens capazes de pegar em armas regula
"hº parte da população.
13 DE ABRIL (Domingo).
O NOME DE PEDRO. — Pelo Snr. deputado brasi
leiro Pedro Pereira da Silva Guimarães foi offerecida
a S. M. o Imperador uma obra de sua composição, na
qual prova que em todos
os dias do anno comme
mora a historia as faça
nhas ou acções notaveis
de um Pedro. Foi o des
cobridor do Brasil um
Pedro ; o seu 1.º coloni
sador um Pedro; o seu
1.º Bispo um Pedro; o 1.°
º Servidor Geral do Brasil
um Pedro; o 1.º noviço
da Companhia de Jesus
um Pedro ; o 1.º que
commandou o exercito
da Independencia um
Pedro; o 1.º que bom
> beou a cidade do Recife
em poder dos hollandezes um Pedro; o 1º Capitão Ge
neral do Estado do Maranhão e Grão Pará um Pedro; o
seu 1.º Imperador um Pedro; e o seu actual MoMARCHA
um Pedro. Quem reunio tudo isto foi tambem um Pedro.
CHARADA.
Quinta sou e sou segunda — 1
Terceira sómente sou — 1
Nada, nada desejada
De quem cara me comprou
{
Rosinha tenra, Bafeje só,
Fresco botão, Zephyro brando
Fuja de ti Tuas folhinhas
Rijo tufão, De quando em quando.
176
14 DE ABRIL (Segunda feira).
CONVENTO DESCOMMUNAL. — Ha, poucos dias que
a grã-duqueza Cesarewna, mulher do herdeiro pre
sumptivo da corôa da Russia, e duas de suas irmãas, fo
ram em peregrinação ao famoso convento de Troitsk,
proximo a Moscou, fundado no século XIV por São Ser

{{# # |

4 |
#
#

io, que alli jaz enterrado, e onde Pedro Grande se re


ugiou durante a insurreição dos Strelitz. Este conven
to, o maior de toda a Russia, tem 9 igrejas, um paço im
perial, um seminario, e numerosos aposentos para os
*##"… No tempo da Imperatriz Catherina possuia
mais de 100,000 servos de sua particular propriedade.
Os muros têem mais de 4,000 pés de comprimento, 25 a
40 d'aitura e 20 de grossura, e ha n’elles 8 torres. To
da a abobada da principal igreja em que se depositou o
corpo do Santo, é dourada. Avalião os russos em 600
milhões de rublos de prata as vestimentas, as alampadas
d'ouro, e todas as preciosidades que a essa igreja hão
sido dadas de presente. E ella tambem notavel por seus
enormes sinos. Os tres maiores pesão 1687, 2000, e 4375
arrobas. Ha 300 estudantes no seminario e 1,100 frades
no eonvento; um moto continuo de peregrinos augmenta
ainda mais o extraordinario reboliço que alli reina todo
O ańI10; .

15 DE ABRIL (Terça feira).


INS'fiTUTO AFRICANO. — E' uma sociedade eosmo
polita, fundada em 1838, em Paris, com o fim de concor
rer para a civilisação e colonisação geral da Africa, pela
agrícultura, commercio, industria, artes, letras e scien
eías. O seu presidente actual é o Principe de Monaco e
cºmta já por socios muitos Soberanos e grande parte da
aristocracia e dos homens illustres em Sciencia de todos
os paizes mais cultos Os corpos diplomatico e consular
de todas as nações européas fazem parte, com pequenas
excepções, d'esta cruzada do mundo civilisado contra o
infame tráfico da escravatura em favor de nossos irmãos
africanos. •

O numero dos escravos pretos é n’este anno de 1854


em que escrevemos de 7:500,000, assim repartidos:
Estados-Unidos da America do Norte. . . ' 3.095:000
Brasil . . . . . . . . . . . . . 3:250:000
Colonias hespanholas. . . . . . . . 900:000
Colonias holländezas . . . . . . . . 85:000
Républicas da America Meridional . . . 140:000
Estabelecimentos europeus d'Africa. . . 30:000

7:500:000
178
16 DE ABRIL (Quarta feira).
CASAMENTO. — Em todos os povos, e em todos os
tempos, foi o sagrado nó do matrimonio formado sob a
protecção da lei religiosa, e pareceu necessaria a sauc
ção divina para uma união que o proprio Deus institui
ra. A França e os estados protestantes são talvez os uni
cos paizes no mundo em que o casamento possa ser le
galmente contrahido sem participação da autoridade
religiosa. Nos primeiros tempos abençoavão os patriar
chas, ao mesmo tempo religiosos e politicos, as uniões,
tão puras como os costumes de então : dividiram-se po
rém os povos d’ahi a pouco, introduziram-se por toda a
arte falsos cultos, e mudaram nos diversos paizes as
eis religiosas que presidiáo aos casamentos; o proprio
povo de Deus, que ainda não havia sido completamente
illuminado pela verdade, conservou por muito tempo
imperfeita a constituição do consorcio; erão licitos po
lygamia e divorcio, e gosavão as mulheres de toda a li
berdade. Entre as nações pagãas, mais imperfeitas ain
da erão essas leis.; havião dado origem a polygamia e
o divorcio á escravidão da mulher, que não era consi
derada como esposa e companheira do homem. As mu
lheres n'esse tempo, e como ainda hoje no oriente, vi
viáo encarceradas em seus aposentos, e bem se pode di
zer que não existia na antiguidade a intimidade da fa -
milia. Em Roma todavia estava esta mais bem consti
tuida ; na Gallia e na Germania inspirava a religião um
respeito quasi supersticioso pelas mulheres ; mas foi
preciso que viesse o christianismo para restituir ao ca
samento toda a sua santidade, á mulher toda a sua di
gnidade, e para que esta encontrasse a verdadeira li
berdade no sentimento do dever e da virtude.

COROA.—E um circulo d'ouro, guarnecido por fóra


de brilhantes, mas que tem dentro pontas agudas que
"# sempre a quem a põe (A. 56, p. 130).
17 DE ABRIL (Quinta feira).
AS ARVORES DE CALAVERAS. – E' Calaveras um

rio da California (A. 52 p. 195) e são gigantescas as ar


vores nas proximidades de suas margens. Uma d’ellas,
a que se deu o nome de : Pai dos pinheiros, seccou e
está por terra; tem 400 pés de comprido e 110 de circum
ferencia. E concava no tronco e está este cheio d'agua
que occupa 4 pés de profundidade. A 250 pés da raiz
tem ainda 12 pés de diametro.
Em um grupo formado por tres arvores chamadas: as
Três Irmãs, tem cada uma 92 pés de profundidade e 300
d'altura. Outra chamada: a Arvore Mãi tem 91 pés de
contorno e 325 d’elevação.
A Mãi e o Filho são duas arvores unidas pelo tronco;
tem 92 pés de circumferencia sobre 300 d'altura. As Duas
Irmãs tem 110 pés de circumferencia e 300 de alto.
A Cabana do Pescador é uma das mais notaveis cu
riosidades: é uma arvore de que se queimou parte e no
interior da qual se formaram diversos compartimentos,
conhecidos pelos nomes de : sala, alcova e cosinha ; a
uma concavidade de 200 pés que ha no meio, chama
se: cheminé. Tem esta arvore 86 pés de circumferencia.
Ha alli muitas outras arvores, cada uma com seu nome
particular, e todas de 65 a 94 pés de circumferencia e
de 300 pés de elevação pelo menos, no pequeno espaço
de meia milha.

18 DE ABRIL (Sexta feira).


CALOR E FRIO NAS ZONAS GLACIAES. – Asseve
ra Maupertuis no seu discurso sobre a medida do arco
do meridiano, que n'aquellas regiões vira descer muita
vez o thermometro pela manhã vinte gráus abaixo de ze
ro e subir depois vinte e tres, ficando tres acima de
zero, o que alli deve ser considerado como calor ex
tremo. Pois cá é bastante frio, 180
19 DE ABRIL (Sabbado).
CEREAES. — N’este dia começavão entre os romanos
as festas assim chamadas em honra de Ceres, e que du
ravão dez dias.
Na procissão dos Cereaes íão em andores e paineis to
dos as principaes divindades do paganismo, e adiante de
tudo duas porcas, uma d’ouro outra de prata. No Circo
celebravão-se cavalhadas; fazião-se brodios e convi
tes; davão-se presentes; trajavão-se galas; reinava
grande alegria.
ANIMAES EXCOMMUNGADOS. — Pelo magistrado
municipal da cidade de Troyes, na Champagne, foi pro
ferida em 1516 uma sentença que recorda os tempos de
ignorancia e superstição. Fazendo alli a lagarta gran
de prejuiso nos campos, admoestou-as aquelle honrado
cidadão para que se retirassem dentro em dez dias,
sob pena de ficarem excommungadas. Refere De Thou
que todas as vezes que se dava em qualquer outro pon
to da mesma provincia
de França uma extra
vagantia semelhante, o
que era bastante vul
gar, nomeava-se um
advogado para os ani
maes-accusados, e ora
va elle a seu favor e
contra a parte contraria. Chasseur, procurador régio
em Autum, encarregara-se um dia da defeza dos ratos
contra uma sentença de excommunhão por parte do Bis
po d’aquella diocese, e representou que em rasão de
ser demasiado curto o praso que se lhes assignara #
ra comparecerem em juiso, e de estarem por outro la
do em cata d'elles todos os gatos da visinhança para
lhes saltarem em cima, requeria que a causa fosse adia
"is? assim o conseguio. Forte ratão ! . . .
20 DE ABRIL (Domingo).
O RARIfb RDE AELECERIMI.

Triste imagem de minh’alma,


Pobre ramo de alecrim,
Para dar-te a uma ingrata,
Vou roubar-te ao teu jardim. +

Vais deixar o tronco amigo,


Que te deu vida e amparo,
Como eu por ella deixara
Tudo, tudo o que me é caro.
Vais roçar as mãos formosas,
Os doces labios que eu amo!...
Quem me dera ser ditoso,
Como tu, ó pobre ramo!...
Mas no ramo bem depressa,
Bem depressa vi meu fado:
A ingrata deixou cahil'o! ...
Pobre ramo abandonado ! ...

Aos pés d’ella jaz o ramo,


Murcho e triste sobre o chão,
Murcho e triste aos pés da ingrata
Jaz tambem meu coração.

O raminho abandonado .
Soffremudo e sem dar ais....
Tambem eu soffro, mas amo
A ingrata cada vez mais.
Antonio Freire de Serpa Pimentel.

EPITAPHIO. — E' a ultima das vaidades "is,


21 DE ABRIL (Segunda feira).
OLIGARCHIA. — Dá-se este nome ao poder usurpado
d'uns poucos de cidadãos que d’elle se apoderaram, de
vendo, pela constituição do estado, residir no povo, ou
n'um conselho ou senado. E' dificil que um paiz seja
bem regido quando a sorte d’elle se acha nas poucas
mãos d'homens cujos interesses differem e cujo poder se
funda na usurpação. Tal foi a sorte de Roma no tempo
dos decemviros, que chegaram a ser os unicos domina
dores da républica. Mais odioso se tornou aos romanos
um tal governo no tempo dos triumviros, que depois de
haverem tyrannisado os seus concidadãos, abatido a sua co
ragem, e extincto o seu amor á liberdade, abriram o ea
minho para o governo despotico e arbitrario dos Impe
radores.
Deriva-se esta palavra de Oligon, pouco, e areo, eu
reino (A-54, p. 219 e 238).
22 DE ABRIL (Terça feira).
- SABÃO VEGETAL. — Está-se procurando aclimar
actualmente em Vienna d'Austria uma planta que dá ex
cellente sabão e que é originaria da California. O seu
nome botanico é: phalangium promeridianum. Nasce
alli sem cultura, têm apenas um pé de altura, cobre-se
de folhas em novembro, e murcha em maio. A sua tubara,
ou raiz carnosa, contém uma bola de sabão, cujo cheiro é
o do sabão preto, e que na California se prefere ao me
lhor sabão artificial que de fóra se recebe. Nada ha mais
Simples do que o modo de servir-se d’elle: tira-se aquel
}a bola de dentro do seu involucro, esfréga-se a roupa
com ella e produz uma escuma abundante.
Por Christo, aproveite alguem de tanta cousa boa que
de continuo estamos recommendando ao publico.
#ic". *= Supplemento ao orçamento.
23 DE ABRIL (Quarta feira).
CONSERVAÇAO NATURAL DE CADAVERES. — Ha
no Friul, que
-

Outr’ora fez
parte da ré
ublica de
Veneza, e ho
je pertence á
Austria, uma
pequena vil
la, chamada
Vemone, que
só por uma
particulari
dade se tor
na notavel;
os corpos de
p o sita d os
dentro de
caixões no
carneiro da
igreja con
Servão-Sein
definidamen
te Sem ne
nhuma pre
paração; alli
OS a # de
mais de cem
ann08, tã9
bem conser
vados como
as mumias
- do Egypto
(A. 51, 16 de Novembro. A. 52 p. 77). Apelle adquiré, de
Pois de decorrido muito tempo, a grossura e consistencia
da sola. Attribuem alguns uma tal singularidade aos
principios constitutivos da terra que deitão nos caixões,
e outros ao frio, que n'aquelle sitio é excessivo.
Nenhum cadaver de mulher se encontra alli, o que ori
ginou no espirito de muitos a errada idéa de que só ca
da veres d'homens se conservão n'aquelle carneiro: asse
verão outros que é por decencia que nunca alli se enter
raram mulheres!... Custa a entender onde está a inde
cencia de se acharem homens e mulheres enterrados no
mesmo logar! ....
Joaquim José Ferreira Campos.
24 DE ABRIL (Quinta feira).
REMEDIO CONTRA A CHOLERA. — Parece ser infal
livel o seguin
te, enthusias
ticamente re
com m e ndado
elo doutor
ernyer.
Uma chieara
de leite em que
SC V8 S8 Ul II] CO
pinho d'azeite
d'oliveira e ou
tro d'agua ar
dente. Deitar
se , cobrir-se
bem, transpi
rar, e foi-se a cholera de uma vez para sempre.
Se assim é, não ha nada mais simples. O que desejo
aos meus leitores é que não tenhão precisão de experi
mentar a eficacia da receita !...

CURA. — E' de todos os pastores o mais util e o me


nos retribuido.
25 DE ABRIL (Sexta feira).
MORRA O HOMEM, FIQUE A FAMA – UMA GLO
RfA DE TRANCOSO — JOÃO TIÇAO.— Trancoso é ho
je uma pequena villa, cinco léguas ao N. da Guarda, mas
foi antigamente uma praça notavel por sua vantajosa po
sição estrategica, e pelo brio e coragem de seus defen
sores, entre os quaes avulta o célebre Magriço; é porém
muito para ádmirar que d’elle não reste recordação
alguma entre nós, e que se conserve a memoria de uma
façanha, de certo muito mais antiga, practicada por ou
tro nosso patricio, de quem a historia se esquéceu, fa
çanha que passo a referir.
No tempo em que os nossos maiores derramaram com
tanta profusão o mais puro de seu sangue, para livrarem
a patria da dominação agarena, a meia légua ao S. de
Trancoso, no sitio onde hoje ha uma ermida de S. Mar
cos, acampava um día uma tropa de mouros, que com
sua bandeira na frente tinha vindo pavonear-se sob as
muralhas da praça. Sabido isto por um de seus habi
tantes, por nome — João Tição — foi apresentar-se ao
governador, dizendo-lhe — Que elle se offerecia para
ir ao acampamento dos mouros roubar-lhes o estan
darte, se elle governador quizesse dar-lhe para isso
o seu cavallo, e mandasse abrir as portas, que se
eonservarião abertas até elle voltar — Acceitou o go
vernador a proposta e as condições: parte o esforçado
guerreiro, montado no fogoso ginete, entra no acampa
mento inimigo, rouba a bándeira, e larga a toda a brida
a refugiar-se dentro das muralhas; mas sendo perse
guido de perto pelos mouros, e receando o governador
# estes entrassem com elle, mandou fechar as portas,
deixando fóra o infeliz João Tição, que tendo dado tres
voltas em roda do muro, seguido dos mouros, e vendo
que as portas se não abrião nem podia já, escapar-se,
Virou o cavallo contra a porta (chamada hoje: do Car
\ºlho) e o esporeou com toda a força, bradándo: #
cavallo ; Morra o homem, fique a fama — O nobre cor
cel fez um esforço supremo, e conseguio elevar-se e mais
ao cavalleiro até certa altura d'onde este poude lançar
a bandeira para dentro da muralha, e em que ainda hoje
existe em relevo a figura de um guerreiro, montado no seu
cavallo em attitude de saltar. O cavallo cahio rebentado
no chão, e o cavalleiro em poder dos mouros, que, fritats
do-o em azeite, lhe fizeram pagar cara a nobre ousadha.
° Jacintho José de Proença Azevedo e Carvalho.
N, B. O que merecia o tal governador de Trancoso....
era com uma tranca, e que o mandassem depois fritar
duas vezes — uma em azeite e outra em vinagre.
26 DE ABRIL (Sabbado).
PENHA DOS NAMORADOS. —Têem tambem os hes
panhoes, ou para melhor dizer, tinhão os mouros da Hes
panha, o seu rochedo de Leucate, situado a pouca dis
tancia da actual cidade de Loja, não longe da famosa
Sevilha e proximo a Archidona; rochedo que tornou fa
rnoso o tragico fim de dous desditosos amantes. Ainda
hoje se lhe chama: A Penha dos namorados. Havião os
mouros alli feito prisioneiro a um cavalheiro hespanhol,
joven e formoso. Fº"# a seu favor o Rei de Grana
da, restituio-lhe a liberdade e tomou-o ao seu serviço;
namorou-se d’elle uma das filhas do Monarcha, e a essa
paixão correspondeu o nobre hespanhol; reconhecendo
ambos porém que a desigualdade de condições impediria
Sem duvida que um a outro pertencessem nunca, resol
veram fugir, e em sua busca foram uns poucos de desta
camentos de cavallaria. Havião chegado os dous amantes
ao rochedo de Archidona: vendo-se ahi perseguidos, e a
ponto de cahirem nas mãos de ferozes soldados, desalen
tados e cedendo ao terror do supplicio por que sem du
vida os farião passar, e que só abjurando a religião chris
tã houvera podido evitar o illustre hespanhoi, estreita
mente abraçados e com os olhos fitos no céu, se precipi
taram na eternidade!...
{
27 DE ABRIL (Domingo).
AS TRES PESSOAS DA SANTISSIMA TRINDA DE. —
Persuadia-se um doudo de que representava aquelle
mysterio e de que era ao mesmo tempo um e tres. Ven
do-o um dia bastante esfarra
pado um sujeito cujo princi
pal divertimento consistia em
debicar com doudos e ouvir
lhes as respostas, muitas ve
zes chistosas e até logicas,
disse-lhe :
— « Homem, se em vossê se
achassem reunidas as tres
pessoas da Santissima Trin
dade, não andaria tão pobre
- e esfarrapado como anda.»
— «E por isso mesmo que eu ando assim — lhe res
pondeu o maniaco. --Pois não vê que somos um a ves
tir e tres a romper ?
28 DE ABRIL (Segunda feira).
O SHONGE E O VIANDANTE.

O Viandante disse ao Monge :


«No seio do bosque hervoso,
«Solitario e silencioso,
«Que fazes aqui, tão longe
«Do tracto dos irmãos teus? e.....
O Monge disse ao Viandante:
« Do bosque hervoso no seio,
«Amo, canto, admiro, e creio ! , ..
«E no meu ermo.... incessan
«Aprendo a adorar a DEUs.
Julio de 6as filho,
188
29 DE ABRIL (Terça feira).
JOGOS FLORAES.—Diz Plinio que n'este dia do anno
513 da edificação de Roma se instituiram os jogos floraes
ue annualmente se celebravão em honra da deusa das
ores. Era notavel esta festa pela excessiva desenvoltura
que n’ella reinava; com trombetta se dava signal ás mu
lheres mais desaforadas para dançarem nuas pelas ruas.
ESTATUA DE SHAKESPEARE, — Vai ser elevado
em Londres um monumento, das mais extraordinarias
e colossaes dimensões, á memoria do célebre dramatur
go. Consistirá em uma estatua de bronze fundido, de
cem pés d'altura, ôca, e dividida em tres andares, com
posto cadaum de uma sala redonda de quinze pés d'al
to e 80 de circumferencia. Serão ornadas as tres salas
com baixos relevos que representarão as scenas princi
# das obras de Shakespeare. Na sala do 1º andar
averá de mais a mais as estatuas da Rainha Victoria e
do Principe Alberto. Communicarão entre si os tres an
dares, por uma escada de caracol. No mais alto, que fi
cará dentro da cabeça, enfiando a vista pelos olhos da
estatua (os quaes terão dous pés de largura, para que
estejão em proporção com todas as outras partes) poderá
ver-se toda a cidade de Londres, que d’aquella altura
àpresentará um panorama dos mais deliciosos. Será il
luminado o interior da estatua pela parte superior da
cabeça, que será de cristal, e por grande numero de
frestás abertas nas prégas do fato, pelas quaes se não
dará cá de baixo. Será de pedra o pedestal d’esta enor– º
me estatua, com portas de bronze ornadas tambem de
baixos relevos e que darão entrada para o famoso mo
numento. Levantar-se-ha a estatua ém Primerose-Hill,
altura que domina toda a cidade de Londres. Nas salas
do 1.° e do 3.° andar collocar-se-ha tambem uma collec
ção de bustos de poétas dignos de figurarem ao pé de Sha
#". ou para melhor dizer dentro de Shakespeare.
30 DE ABRIL (Quarta feira).
PORTUGAL E HESPANHA. – E digno de ser trans
cripto e conservado o final, sobretudo, da carta em que o
eloquente orador (o mais notavel talvez da tribuna hes
pan # o distincto diplomata, e o eximio patriota, Al
calá Galiano, se despedio do bom povo portuguez, ao
dar-se-lhe por acabada a missão de representante da sua
Soberana em a côrte de Lisboa. Não o consideramos co
Ino trecho politico, e por isso o reproduzimos:
« Curtissimo valor (se por ventura algum) podem ter os
votos que dirijo ao céu pela prosperidade do povo por
tuguez; conhecendo-o porém eu proprio, faço-os fer
vorosissimos para que esta nação, tão ligada com a
hespanhola, por semelhança de lingua e costumes, por
identidade de religião, por uma litteratura antiga quasi
igual em ambas, e por uma quasi communidade de inte
resses, filha da situação geographica, estreite cada vez
mais os laços que a unem com a nação visinha. Não pre
tenda advogar com isto planos ousados e contrarios á mi
nha lealdade de subdito da minha Rainha, mas sómente
manifestar que desejo com ardor, e espero com plena
confiança, que segundo o que de si derem o tempo e cir
cumstancias impossiveis de prever, em qualquer condi
ção de existencia politica, vão crescendo a estima e af
ição fraternal que devem professar mutuamente portu
guezes e hespanhoes. »
Antonio Alcalá Galiano.

SACRIFÍCIO DE CURCIO. —Foi Quinto Curcio um eé


lebre cidadão romano que viveu seis séculos antes de
- Jesu-Christo.
Tendo-se aberto a terra, disse o oraculo que a aber
tura se não encheria, senão lançando n’ella o que os ro
manos havião de mais precioso. Curcio, armado e mon
tado, precipitou-se no sorvedouro, pensando que não ha
via nada mais precioso do que o valor e as armas.
1 DE MAIO (Quinta feira).
FEBRE SALVADORA. — Certo Imperador, zangado
com o impostor de um astrologo, pergunta-lhe um dia l...
« De que morte has-de tu morrer !?» — «Responde-lhe
o charlatão: De febre ! » — « De febre? mentes ! que vais
ser já já suppliciado !» — E n'isto ordena aos seus que
o matem. Na aflicção grita o astrologo : « Tomem-me o
pulso e verão se tenho febre ou não. »
Com isto salvou-se !

2 DE MAIO (Sexta feira).


CELESTE IMPERIO. — E' a designação que se dá á
China, por se persuadirem os seus habitantes que é de
origem celeste o seu Monarcha. Já antes de fallecido se
lhe prestão honras divinaes: inspira elle uma talve
neração, que ao emprehender alguma jornada pelos seus
vastos estados, se manda fazer de proposito, e só para
elle, ás vezes num transito de 200 léguas, uma estrada
de 15 a 18 pés de largura, no meio da estrada real (ou
imperial) que é larguissima, e sobranceira a ella obra
de pé e meio. Ia um dia S. M. para a Mongolia, e an
dava uma pobre velha, a apanhar lenha n'uma alturasita
que dominava o caminho; como não descesse d’alli antes
de chegar o Soberano, e por este modo se achasse em
posição mais alta, foram-se a ella dous mandarins, e
cortaram-lhe a cabeça provisoriamente.
Se é ponto de fé que raras vezes sabem os Mouar
chas, o que vai pelos seus estados, pois de todos os la
dos se lhes encobre a verdade, nenhum ha no mundo
que mais do que o Imperador da China se ache na
eompleta ignorancia de quanto occorre em seu vastis
Simo imperio de 200 milhões de habitantes. E' incri
Yel o ponto a , que alli chega a falsidade e servilismo
dos cortezãos ! é systema por todos elles adoptado per
suadirem o Soberano de que tudo alli corre ás mil ma
""" Cuida elle que tem um exercito immenso e
invencivel, e só no orçamento existe essa massa im
mensa de phantasticos soldados, cujo pret é comido pe
los mandarins. Pensa que ha nos cofres do thesouro
centenares de milhões, e passando-lhe pela cabeça il'o

inspeccionar um dia, em logar das barras d’ouro que lá


devião estar, não achou senão pedaços de madeira dou
rada, da mesma fórma, e imitando-as perfeitamente! Não
ha paiz no mundo em que a corrupção em toda a qualida
de de empregos publicos vá tão longe. Só se for na Russia.
2
3 DE MAIO (Sabbado).
NAPOLEAO DE PEDRA. — Ao entrar-se em Grenoble,
vê-se nos angulos salientes de
certa montanha a figura de Na
poleão em perfil, e distinguim
do-se perfeitamente pelo chapéu
armado.
N'um quadro do inferno que
orna uma das paredes do Cam
o Santo de Pisa, vê-se tam
em entre os condemnados o
mais perfeito retrato de Napo
leão, retrato feito pelo acaso
300 annos antes de ter vindo
ao mundo o célebre conquista
dor!...
Aqui o apresentamos tal qual
se admira no alto da Columna
Vendôme, cuja descripção, dé
mos a pag.256 do Almanach de
1852, columna toda de bronze,
{ formada com as mil e duzentas
|- R## d'artilharia tomadas por
apoleão aos austriacos, e si
tuada no meio de uma das mais
bellas e magestosas praças de
Paris, na proximidade do for
moso jardim das Tulherias.
Tambem n’uma das monta
nhas proximas ao Puy, em Fran
ça, se admira o busto de Henri
que IV com a sua gargantilha
FUMQ. - E um vapor negro que guia barcos e ho
mens. Sustento que muitos preferem a alimentos subs
"#" Atmosphera de Londres. 7
4 DE MAIO (Domingo).
DIAS SANTOS. — Dos usos religiosos dos romanos
se originaram muitissimos dos usos religiosos christãos.
A Igreja sanctificou tudo o que sem inconveniencia, an
tes com vantagem, se podia conservar.
Havia pois entre os pagãos dias em que, por serem con
sagrados ao culto, era defeso o trabalho manual, o foro,
e mais occupações da vida positiva e prosaica. Dias fes
tos se chamavão esses dias que nós apellidamos de fes
ta, sanctos, ou sanctificados. Havia-os tambem festos até
ao meio dia, e do meio dia em diante profanos e nego
C1080S.
Os dias de festa na igreja catholica tinhão subido a
numero excessivo. A sciencia moderna da ecónomia po
litica provou claramente com suas estatisticas o damno
ue elles trazião á $#*#*? e riqueza, dos povos, e a
aneta Sé não duvidou ser do seu século, riscando-os
do calendario. • •

5 DE MAIO (Segunda feira).


BARALHO. – As cartas francezas têem um naipe de
uadrados, outro de corações, outro de folhas de tre
vo, outro de ferros de lança, e assim as nomeião: Car
reaux, coeurs, trèfles, piques. As cartas hespanholas
têem tambem quatro naipes; um de moeda d’ouro, ou
tro de taças, outro d'uns peixes a que chamão: páus, e
o ultimo de espadas, pôr isso chamão ao primeiro,
oirós; ao ségundo, copas; ao terceiro, páus; e ao
quarto, espadas. Nós, os portuguezes, fizemos o nosso
baralho, tomando dos francezes a pinta dos naipes e
dos hespanhoes os nomes dos mesmos naipes; do que
resultou o disparate de chamarmos; a uns quadrados
vermelhos, oiros; a uns corações, copas; a umas fo
lhinhas, páus; e a lanças, espadas.
• 194
6 DE MAIO (Terça feira).
UNIAO IBERICA. — « Eu voto contra a união iberica.
Os motivos por que assim voto não os sei com certeza,
mas parece-me que álem de muitos que verbalmente
hei discutido com os chefes da lberia, o mais forte é
o amor de minha patria.
Sim, eu amo Portugal. Sinto que se hoje me condem
nassem a deixar de lhe chamar assim ; sinto que se me
unissem á Hespanha: a minha alma sofreria um des
gosto que ainda até hoje ignora, e o meu corpo um gol
pe mortal!
Como imperio, como républica, eu quero sempre ser da
minha patria, da minha terra, do meu paiz.
Eu quero ser pequeno em Portugal, não quero ser
grande d'Hespanha. Eu quero cavar a terra; quero,
quando me faltarem as forças, morrer de fome; mas
quero cavar esta terra, cahir sobre este chão, dar-lhe
o derradeiro suspiro, e esconder no seu seio o meu cor
po. quando o espirito o abandonar.
Já que me intimaram para pronunciar o meu voto, el
le ahi está. Não o fundamento com outras razões porque
elle é filho da paixão, e a paixão não tem nem conve
niencias nem interesses. Amo a patria como amo a Deus;
como amo o anjo de meus sonhos; como amo o nome de
minha mãi e sua memoria; a campa sob que repousão
suas cinzas. Amo Portugal tal qual é; com as suas fontes,
com os seus rios, com as suas montanhas, com os seus ar
voredos, com os seus valles. Amo Portugal com este hori
sonte, com estas estrellas, com estes mares que o banhão.
Amo Portugal, como os martyres d'outr’ora amavão a cruz;
amo-o mais que tudo, mais que todos ; amo-o, como se
deye amar a patria.
uma paixão, é um voto individual, mas é este o meu
voto: quero morrer portuguez. J. G. de Barros e Cunha
N. B. Isto não é politica, é amor da patria, e por isso
o reproduzimos. *
7 DE MAIO (Quarta feira).
A MEFINEIA TERRA.

Pelas margens d'esmeralda, Mas a patria da minha alma,


Pelas aguas de cristal, Heide longe d’ella estar?...
Tem cousas a minha terra, Quel'o a sorte e contra asorte
A minha terra natal!... Que remedio se hade dar ?
Parecem contos de fadas, Se tivera inda uma esp'rança
Nunca vi lindeza igual!... De em seu regaço acabar!....
Tudo alli falla d'amores A minha Bilbau formosa,
Quanto os olhos podem ver; Banhada n'agua a correr,
Até ha contos de flores Parece uma branca rosa
Que fazem gosto saber ; Em seu tugurio a viver;
Quem me dera, terra minha, Como é linda a minha terra,
Que os tornasses a dizer!.... A terra do meu nascer?....
E sobre a via formosa, Nas suas varzeas de flores
IN’essa fonte d’asenal, |Quando vem surgindo o sol,
INas tuas margens de rosa Tudo me falla de amores,
Eu deixaria o meu mal, Como a voz do rouxinol,
O meu mal todo saudades, Quando vôa, quando canta,
Saudades do meu natal. No matutino arrebol.
Pois então, ó terra querida, O patria ! # perdido
O teu delirante amor, Do teu regaço heide estar ?
Affagando a minha vida, Abre teus mimosos braços
Dava-me viço e frescor, , , Para n’elles me lançar !
Dava-me n'alma um surriso Para dentro do teu seio
Para abrir na vida a flor. Estas saudades matâr ! ...
Pelas margens d'esmeralda,
Pelas aguas de cristal,
Tem cousas a minha terra,
A minha terra natal!...
Parecem contos de fadas,
Nunca vi lindeza igual! ...
Raymundo A, de Bulhão Pato.
196
8 DE MAIO (Quinta feira).

| RECEITA PARA FAZER RIR. – Representando-se no


theatro da Rua dos Condes um entremez sem saboris
simo, e achando-se ao pé do au
thor, * traz dos bastidores, o
nosso D. Gastão da Camara Cou
tinho, vendo este que nem um
leve surriso desabrochava ain
da nos camarotes ou na platéa,
estando a peça quasi no fim,
voltou-se todo compadecido pa
ra o poéta e lhe disse : « Ho
- mem! se quer ver toda essa gen
te a rir, salte para a platéa e faça-lhe cócegas; d’ou
tro modo não vai, º

9 DE MAIO (Sexta feira).


GERMINAÇÃO PRODIGIOSA. — Abrindo-se ultima
mente no Cairo um antigo sarcophago egypciaco, achou
se-lhe dentro uma pequena porção de espigas de trigo.
Foram dados a um professor de agricultura #####"
provenientes d'essas espigas, a tal ponto resequidos e
differentes de sua fórma primitiva, que a ninguem pas -
sava pela idéa que podessem germinar depois de trinta
séculos talvez. Pois foi o que aconteceu ! Lançados á
terra, mais por divertimento do que por outra cousa, pro
duziram caules da grossura d’uma canna, acompanha
dos de folhas de tres centimetros de largura e de 20
espigas em cada pé, reunindo em quatro ordens até cem
grãos de enorme tamanho. Uma amostra de trigo d'este,
contemporaneo talvez de Sesostris, ou pelo menos de Cleo
patra, acaba de ser apresentado á Sociedade d’Agricul
tura de Compiegne. •

Já no Almanach de 1853 e sob o titulo: Reproducção


"#… expozemos um caso analogo.
10 DE MAIO (Sabbado).
- FOX E OS QUAKERS. — Foi instituida a seita dos
Quakers por Jorge Fox, sapateiro, nascido em Drayton,
na Inglaterra, em 1624. Julgando-se inspirado por Deus
na idade de 19 annos, poz-se a correr por todo o reino,
prégando contra a guerra, contra o clero, contra todas as
religiões, e particularmente contra a christã, e recom
mendando todavia o amor de Deus pela rigorosa practica
das virtudes, e aconselhando por toda a parte os ho—
mens a mostrarem-se modestos, sobrios, pacientes e ca
ritativos. Meditativo por natureza, muitas vezes lhe
acontecia embrenhar-se por selvas e mattos, onde pas
sava dias inteiros a ler a Biblia.
Persuadidos, Fox e seus partidarios, de que todas as
ceremonias da igreja se fundavão n'um sentimento de
amor proprio e de orgulho, renunciaram a quanto se lhes
assemelhava, e evitaram até as formulas e habitos de
civilidade commum, que denominavão alimento de vai
dade mundana. Tratavão por tu a toda a gente e davão a
todos o nome de amigos. Não se descobrião nem mesmo
ao encontrarem pessoas da mais alta jerarchia, como
então era rigoroso costume. O seu vestuario era simples
e extravagante; excluião d'elle quanto respirasse idéas
de luxo e ostentação, como bordados, rendas, galões,
etc. A paciencia era de todas as virtudes a que mais re
commendavão, e por tal modo pacientes se mostravão,
ue ao receberem uma bofetada, oferecião logo a outra
ace, conformando-se assim com o preceito da lei di
Vina (E' preceito que nunca entendi: quem me der uma
bofetada, leva duas). Era-lhes prohibido jurar. Quize
ram muitos jejuar 40 dias, como jº Christo no deserto,
mas sahio-lhes caro, porque tão prolongada abstinencia
lhes fez perder a saude e a vida.
A palavra Quaker significa : trémulo, e foi adoptada
em razão de repetir continuamente o fundador d’esta
seita extravagante, que se devia tremer na *#gº
Senhor; ora, como Deus está em toda a parte, era pre
ciso andar sempre a tremelhicar, o que nem por isso devia
ser lá muito divertido. O que é certo, é que os Quakers se
espalharam por toda a Inglaterra e pelº America Sep
temtrional, onde Fox morreu em 1681.
A proposito do não jurar dos Quakers: Achando-se
um namorado d'úfima dançarina que tambem lhe não que
ria mal, foi por ella convidado para ir jantar em sua
casa no dia seguinte : « Virei» — «Juras-m'o ? — «Um
Quaker nunca jura e cumpre sempre — A dama rindo:
Uma dançarina faz inteiramente o contrario (A.51, p. 105).
11 DE MAIO (Domingo).
TRATAMENTO DA CHOLERA MORBUS. – Não sei se
é carapetão, mas lá vai. —Fallão diversos jornaes na cura
d'aquélla terrivel molestia por certos indios e malaios
recentemente chegados das Ilhas Filippinas a Cadiz:
Dizem que nem um só doente lhes morre nas mãos. E'
assim que operão:
Deitão o paciente de costas e descobrem-lhe o peito e
o ventre; esfregão depois e tornão, a esfregar, sem dó
nem piedade, lá por onde sabem, até que sintão por bai
xo dos dedos, alli pela altura do epigastrio, um corpinho
redondo, a que se filão com toda a gana até que o doente
haja tomado uma chicara de chá com algumas gottas de
certo liquido. Feito isto, levanta-se o enfermo, faz uma
cortezia ao operador, e vai passear.
Quando em vez de um globosinho apparecem dous, é
fazer testamento, pois dentro em poucas horas se faz
ablativo de viagem.
Asseverão aquelles amigos que a cholera, molestia per
manente no seu paiz, é alli curada por este methodo. Es
tou capaz de ir lá ver se é verdade (A. 56, p. 185).
ESPADA, — Logica irresistivel. Arma que traz muita
*# que d’ella se não sabe servir.
12 DE MAIO (Segunda feira).
LOQUACIDADE DAS MULHERES. — Se ha no mun
do coisa tão tola como as censuras que as mulheres fa
zem ao nosso sexo collectivamente, são as censuras que
o nosso faz tambem collectivamente a todas as mulhe
res. Estas questões universaes e de todos os tempos so
bre os méritos comparativos, excellencias e desvanta
gens, das duas metades da especie humana, provão uni
camente que em toda a parte, e em todos os tempos, foi
• sempre mais
à2= o que se fallou
que o que se
pensou, e que
o senso cha
mado commum
é dote mais
que raro. Ho
IIICIAS O IIIUl
lheres sem os
seus defeitos,
valerião me
# nos do que as
*= sim valem. A
natureza tem
mais philosophia que os philosophos, e infinitamente
mais que os nescios cujo é infinito o numero, como sen
tenceou o Espirito Santo.
Todos reprehendem ás mulheres o serem falladoras.
O sabio autôr das Harmonias da Natureza (Bernardim de
St. Pierre) defendeu-as perfeitamente, ponderando que
se as mulheres não tivessem innatamente aquella ten
dencia, ellas que são as nossas mãis, as primeiras mes
tras, e por muito tempo a companhia natural, e quasi
unica, da puericia, de modo nenhum, ou só muito tarde,
colherião os infantes a linguagem, que em razão d'essa
abençoada loquacidade se aprende rapidamente. 200
Se as mulheres fossem taciturnas, quem distrahiria os
homens dos seus graves cuidados ? e quem lhes mitiga
ria a aspereza nativa ? — Deixai estar tudo o que a ma
tureza fez; e ás mulheres agradecei a sua loquacidade,
como a sua fraqueza e timidez, como a curteza da sua
comprehensão para certas sciencias, como a importancia
que dão ao que nós desdenhamos e condemnamos por
minucias e futilidades.

13 DE MAIO (Terça feira).

CHARADA.

Se na vida sempre absorto


Estive em Deus crucificado, 2
Só muito depois de morto
Fui por todos venerado.
Quem um qualquer adoptar ]
Terá certa a subsistencia, 4
Se n'elle patentear
. Reconhecida excellencia.

Mansão de horridos tormentos


Que o inferno assemelhou !
De Israel dispersos filhos
E outros muitos devorou.

Nos tetricos aposentos


Luz cambiante emfim raiou ;
Sobre os perfidos caudilhos
Ferreos gonzos descerrou.
Sacudio a humanidade
O jugo da iniquidade.
A. M. C.
201
14 DE MAIO (Quarta feira).
ESTATISTICA CONJUGAL. — Ponha os olhos na se
guinte (feita por um observador inglez e applicada ao
sul da Inglaterra no periodo de um anno) quem se achar
inclinado a ligar-se nas cadeias de hymeneu:
Mulheres que deixaram os maridos para irem
atraz dos amantes. . . . . . . . . . 1,362
Maridos que se safaram por não poderem atu
rar as mulheres (á força de serem boas) . . 2,361
Casamentos seguidos de separação volunta
ria . . . . . . . . . . . . . . . 4,120
Ditos, seguidos de guerra debaixo das mesmas
telhas . . . . . . . . . . . . . . 191,023
Ditos, em que marido e mulher se não podem
ver, mas em publico parecem muito amigui
nhos. . . . . . . . . . . . . . . 162,320
Ditos, em que mulher e marido vivem na maior
indiferença . . . . . . . . . . . . 510,132
Ditos, em que marido e mulher são reputados
felizes, mas taes a si proprios se não julgão. 1,102
Ditos, em que os esposos só comparados com
muitos infelizes podem julgar-se ditosos. . 135
Ditos, em que ha felicidade verdadeira . . . 9
Noves fóra nada.
Ora vão lá casar!....
E' verdade que a estatistica foi feita na Inglaterra,
mas, não importa; mette medo e obriga a reflectir ! ...
Meninos e meninas que andais namorados, reflecti!...
15 DE MAIO (Quinta feira).
PROFUNDIDADE DO MAR. — O capitão Ross, célebre
viajante inglez, que ha pouco fez uma viagem á roda do
mundo, lançou a sonda no Oceano Atlantico, a grande
distancia de terra, e achou a profundidade de bra
Cas: é a maior que até hoje tenha dado a sonda. 202
16 DE MAIO (Sexta feira).
FR. FRANCISCO DE MONTE ALVERNE. – Distincto
prégador brasileiro e um dos mais notaveis do século
àctual. Havia já 18 annos que inteiramente recolhido ao
claustro deixara de ouvir-se aquella voz eloquente e re
passada de uncção evangelica; alli perdera a mocidade,
a energia, a vista, e já se não julgava que alguem o de
cidisse a subir de novo á cadeira da verdade. Practicou
CSSO # Sua Magestade o Imperador do Brasil, em
cuja capella prégou a 19 de Outubro de 1854 o il
lustre orador, com geral assombro de quantos o ouvi
ram. Reproduziremos um trecho do exordio, notavel
por sua eloquencia e poesia:
«Não, não poderei terminar o quadro que acabei de
# compellido por uma força irresistivel a en
cetar de novo a carreira que percorri 26 annos, quan
do a imaginação está extincta, quando a robustez da
intelligencia está enfraquecida portantos esforços, quan
do não vejo as galas do sanctuario e eu mesmo pareço
estranho áquelles que me escutão, como desempenhar
esse passado tão fertil de reminiscencias? como repro
duzir esses transportes, esse enlevo, com que realcei as
festas da religião e da patria?... E tarde f... E muito
tarde! Seria impossivel reconhecer um carro de trium
pho n’este pulpito, que ha 18 annos é para mim um pen
samento sinistro, uma recordação aflictiva, um phantas
ma infenso e importuno, a pyra em que arderam meus
olhos, e cujos degráus desci só e silencioso para escon
der-me no retiro do claustro. Os bardos do Thabor, os
Cantores do Hermon e do Sinai, batidos da tribulação,
devorados de pesares, não ouvindo mais os echos repe
tirem as strophes de seus cantos nas quebradas de
suas montanhas pittorescas, não escutando a voz do
deserto que levava ao longe a melodia de seus hym
nos, penduraram seus alaudes nos salgueiros que
"#" o rio da escravidão; e quando os homens
que apreciavão suas composições, quando aquelles
que se deleitavão com os perfumes de seu estylo e a
belleza de suas imagens, vinhão pedir-lhes a repetição
d’essas epopeas em que perpetuavão as memorias de
seus antepassados e as maravilhas do ToDo-PopRRoso,
elles cobrião suas faces humedecidas de pranto e
abandonavão as cordas frouxas e desafimadas de seus
instrumentos musicos ao vento das tempestades.
« Religião divina, mysteriosa e encantadora ! Tu que
dirigiste meus passos na vereda escabrosa da eloquem
cia, tu a quem devo todas as minhas inspirações, tu,
minha estrella, minha consolação, meu unico refugio,
toma esta corôa.... Se dos espinhos que a cercão re
bentar alguma flor; se das silvas que a enlação rever
decerem algumas folhas; se um enfeite, se um adorno
renascer d’estas vergonteas já sêccas; deposita-o nas
mãos do Imperador, para que o suspenda como um tro
phéu sobre o altar do grande homem a quem elle deve
seu nome, e o Brasil a mais decidida protecção. »
Parece uma pagina de Bossuet ! Só assim se falha em
momentos de verdadeira inspiração,
17 DE MAIO (Sabbado).
D1VIDA ENORME. — Do fundo do Algarve escreveu
um sujeito para Lisboa a um seu crédor: — «No dia
tantos do mez que vem passarão a DAR ENTRADA em
casa do negociante fulano OS FUNDOS de que lhe sou
devedor, para que Vossa
cilmente LEVANTAR. » Senhoria os possa ahi mais fa

Erão doze vintens!....


Não custou muito a levantal'os.
O que admira é a imprudencia de mandar tão grande
somma sem escolta!...

ECONOMIA. —Sem ecónomia ninguem pode ser rico;


com ecónomia poucos serão pobres (Johnson). 204
18 DE MAIO (Domingo).
AGUA DE SELTZ. — A 125 léguas de Paris, no duca
do de Nassau, ha uma aldeia chamada : Seltz, proximo
á qual ha uma fonte d'agua gazosa, descoberta no sé
culo XVI. E' esta fria, de sabor picante, inodôra,
#" como vinho de Champagne, e contém
carbonatos de soda, de cal e de magnesia, sul
Pºº soda, e sobre tudo muito acido car
onico. Recommenda-se a quem tem fastio, em
consequencia de falta de exercicio, para azías
e outros incommodos do estomago, etc. etc.
Toma-se pura ou misturada, com vinho... Hoje
#### em dia quasi toda a agua de Seltz geralmen
te empregada é artificial, e, contra o costume, nem
por isso é peór.
19 DE MAIO (Segunda feira).
COMO SE TORNA LEVE UM CORPO PESADO. —
Vem apontada esta experiencia na Carta sobre a Magia
natural escripta por David Brewster a Walter Scott.
Deite-se uma pessoa sobre duas cadeiras, de modo que
fiquem n'uma os pés e na outra as costas. Ponhão-se ou
tras quatro aos lados, duas aos pés e duas á cabeça, vira
das umas para as outras, e busquem ao mesmo tempo le
vantar a primeira; resistirá o corpo com todo o seu peso:
restitua-se depois á posição primitiva e faça a pessoa
deitada um signal qualquer; tomem no mesmo instante
todos cinco uma respiração fortissima, e quando os pul
mões se houverem enchido bem d'essa porção d’ar assim
aspirado, dê o individuo deitado novo signal,, levantem

I}O dO II19SIT10 os outros quatro, e achal’o-hão leve
como uma penna
Experimentem, vá feito !
#w*\ros. — Quanto mais altos estão, mais virão.
20 DE MAIO (Terça feira).

#ABERA

Saudação Lyrica.
Salve ! linda Madeira, ilha ditosa !
E's do Oceano a flor !
E's das ilhas princeza a mais formosa,
Mimo do Creador !

Tens mil plantas, mil flores preciosas,


Teu sólo a alcatifar ;
Onde teus pés, submissas, respeitosas,
Vem as ondas beijar.
Verde é teu rico, magestoso manto !
Tens diadema de luz. ! ...
O seio teu, da natureza encanto,
Mil encantos produz !
Não é de Italia o sol tão claro e bello,
Mais puro que o teu sol:
Manhãas de Portugal (que tanto anhelo)
Dão-te o lindo arrebol !

Que noutes tão amenas tens, Madeira !


Tens aguas de cristal;
Tens no frescor da brisa mais fágueira
Perfume divinal!

Em throno alto e seguro te sustentas;


Tens o céu por docel l ....
Para pintar os campos que alimentas
Quem tivera pincel!
206
Oh! não! ... pincel não pºde o mais sublime
Pintar o brilho teu
A poesia te cante; ella se exprime
Co'a linguagem do céu !
Mas não te cante vate dolorosa
Avezada a carpir;
Cantem-te os filhos teus, Ilha ditosa;
Dá-lhes ledo porvir !
Que eu posso apenas com rasteiros traços,
Com debil, triste voz,
Saudar teus lares ! demandar espaços
Cumpre ao genio veloz.
Como ás nuvens sobranceiros]Não achem póvos no mundo
Se erguem teus montes, assim Que te não saibão prezar ;
Teus genios subão, ligeiros, Que no teu sólo fecundo
Com azas de cherubim ! Não quizessem repousar!
Em som divino entoando E mais tarde á lusa historia
Suaves hymnos d'amor, Pagina de oiro offrecer,
Vão teu nome eternizando Onde no esplendor da gloria
Áquem e álem do equador IlPossão teu nome escrever!
D. Antonia Gertrudes Pusich.

21 DE MAIO (Quarta feira).


ATOLEIRO DE NOVA ESPECIE. – Ainda não ha
muitos dias que ouvi esta exclamação a um sugeito: «Eu
vivo continuamente enfrascado num atoleiro de melan
cholia. » , .
E de toleima — tive eu vontade de lhe responder. Mas
para que, se de toleima se não queixava elle ?
Esquisita cousa! .... nunca ouvi ninguem queixar-se
de ser tolo ! ....
207
22 DE MAIO (Quinta feira).
REME DIO PARA NARIZES GRANDES. – Otaviram
certo marido e mulher que erão muito narigudos, que
na Allema
nha se cas
tigavão os
ladrõ e s
cortando
lhes um bo
cado de ma
riz: no dia
immediato
e n Contra
os um ami
go de bra
ço dado;
—Então
para onde
Vão ?
— Para a
Allemanha.
—Que vão
lá fazer ?
— Meia
* duz ia de
furtos, para ficarmos com o nariz como toda a gente.
23 DE MAIO (Sexta feira).
TORRE DE PORCELANA. — E' uma das maravilhas
da China e na pagina immediata a reproduzimos. «Está
proxima a Nankim, diz Bluteau, tem 9 sobrados de aboba
da, e em cada sobrado uma galeria com janellas e com
grades, e as galerias cobertas com telhados verdes, dos
# vem sahindo uns barretes dourados; da extremi
dade d’estes pendem umas campainhas de cobre que aos
impulsos do vento fazem uma agradavel harmonia.
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ToRRE DE PóRCELANA.
24 DE MAIO (Sabbado).
DEFENSA CONTRA INIMIGOS. — Usão os Brahmenes
das Indias Orientaes de escrever n’um quadrado dividido
em quatro partes os numeros seguintes:

28||32||2 | 7 …"
6 || 3 ||32||3 •

34 | 29 || 8 | 21

4 || 5 || 30 | 33

e por baixo o nome dos seus inimigos. Dizem lá elles


que quem trouxer isto pendurado ao pescoço não poderá
ser atacado. Talvez que nem todos os nossos leitores te
mhão direito para se rirem d'esta sandice. Os que usão
de sinos saimões, e outras cousas semelhantes, para pre
servativo de olhados, bruxarias, etc., não fazem muito
melhor figura do que os Brahmenes.
(A. 1853, p. 274. A. 1855 p. 324.)
CARLOS V E D. ANTONIO DE LEYVA. — Apresen
tando-se um dia ao famoso Carlos V o seu quasi octage
nario general D. Antonio de Leyva, sentou-o a seu lado e
ordenou que se cobrisse. «Um capitão, lhe disse o Sobe
rano, que tão gloriosamente servio em 60 campanhas,
é digno de # dos privilegios dos grandes de Hespa
Bha de 1.º classe, e dê sentar-se e cobrir-se na idade de
# #"", na presença d'um Imperador que mal con
8 * X>

DOMINGO.—Dia de repouso para muitos que nada


fizeram pela semana adiante. 210•
25 DE MAIO (Domingo).
CIRIO DA NAZARETH. — Dura tres dias e tem fama
no reino todo, juntando-se gente de todas as provincias,
e mesmo de terras bastante remotas. Vão alli celebrar o
antigo milagre, coévo da monarchia. As festas da Naza
reth, notaveis por mais de um titulo, têem hoje uma ce
lebridade especial. No dia em que o cirio de Obidos ce
lebra a sua festa á Senhora da Nazareth, préga o Revºº
sr. Padre Malhão, orador distinctissimo, e de quem nos
Almanachs precedentes e no actual se lêem mimosas
poesias (4.54 p. 58, A: 55 p. 246).
Hoje que a eloquencia do pulpito portuguez se acha em
reconhecida decadencia, satisfaz ver subir á cadeira
evangelica um bello talento, um prégador poéta, e uma
intelligencia ao mesmo tempo profunda e brilhante, Be
commendar que se vá ouvir o sr. Padre Malhão á Naza
reth, é dar um bom conselho aos que desejão avaliar a
palavra do evangelho repetida em portuguez castiço e
abrilhantada por uma imaginação ardente.
D. Antonio da Costa Macado.

26 DE MAIO (Segunda feira).


CHARADA.

Do meu todo só se escreve ) Pelos fidalgos inglezes


O seu numero plural. 2 Fui muito vituperado
Sou agradavel ás damas N'uma certa occasião,
Sendo um onus conjugal.) Só por ter alli passado.
Não sou samphona, nem gaita,
Nem viola, nem pandeiro;
A não ser certo poéta
Ficaria no tinteiro.
* * *
27 DE MAIO (Terça feira).
ARIETE. — Os antigos, carecendo de artilharia por
não ser ainda inventada a polvora, recorrião a diversas
invenções de machinas, que fazião, se bem que imper
feitamente, o oficio d'estas possantes bôccas de fogo.
Assim, tinhão para arrojar de longe grandes virotões,
F# grossos, ou rochedos, os engenhos chamados :
alistas e catapultas; bem como para baterem e arrom
barem muros, portas e torres, se valião dos arietes, a
que por outro modo chamamos: vaivens. Erão estes uns
engenhos nos quaes, por cadeias de ferro ou calabres
grossos, pendia uma trave deitada horisontalmente e
tendo n’uma das extremidades uma descommunal cabeça
de ferro como bigorna. Puxando por cordas presas, a
esta trave, e fazendo-a baloiçar, expedião com aquella
eabeça ferrada tão valentes marradas, que as portas es
talavão, e os muros e as torres se alluião.
Em que tempo o ariete se inventasse não consta com
certeza. Alguns o attribuem a Epeu, o mesmo engenhei
ro por quem dizem fôra fabricado o famoso cavallo de
Troya. Segundo Vitruvio pertence aos carthaginezes,
que o idearam quando cercavão Cadix. Polido da Thes
salia o aperfeiçoou, durante o cerco de Filippe (Rei de
Macedonia e filho d'Amyntas) em Bisancio, hoje Constan
tinopla. Alguns, nem aos gregos nem aos carthaginezes
consentem se attribua esta invenção, porque dizem que
os judeus já no tempo de David conhecião este engenho
bellico. Calmet, na sua dissertação sobre a milicía dos
hebreus, nos ensina que o vaivem era já sabido dos po
Vos da Asia, muito antes que os occidentaes houvessem
d'elle a minima noticia.

SINOS. —Fazem rezar menos pelos mortos do que


E### os vivos. Quem revogou aquelle decreto do
r. D. Pedro prohibindo os toques de sinos? Revoga
ram-no os sineiros. Fizeram elles muito bem ! ...
212
28 DE MAIO (Quarta feira).
CoNSOLAÇÃO PARA CALVOS E DESDENTADOS. —
#""" hoje se vê sh igreja
de Munster, na Suissa, o
_____*_>
"V".
|- Ssº
Nº Ni
tumulo de certo velho, por
nome: João de Baldek, de
cano de Kilchberg, faleci
do em 1348, na idade, diz
F; a tradição, de 186 annos.
} Nº}, iê-se-lhe no epitaphio, que
##### depois de haver chegado a
# % velho e de estar calvo e
|- # por segunda vez cabellos
_=_*
desdentado, lhe nasceram

pretos e dentes:
De Kilchberg canus edentatusque decanus
Rursum dentescit, nigrescit: hic requiescit.

29 DE MAIO (Quinta feira).

O REI E OS CORREGEDOREs. – Andava uma tarde


El-Rei D.Sebastião (A. 51, 24 de Março e 13 de Julho,
A. 52, p. 70 e 319) a correr lanças; chegaram dois corre
edores a fallar-lhe ; disse-lhes El-Rei corressem tam
em; interromperam os dois: « Senhor, nós só corremos
atraz dos ladrões !» — Sim?—replica com indiferença o
Principe, continuando a correr: « # então corrão atraZ
um do outro.»

REMEDIO PARA ESCALDADURAS. — Banhar a


parte escaldada o mais depressa possivel em vinho
ou em vinagre bom, e applicar-lhe depois um pan
no ensopado no mesmo liqüido.
213 (A. 53, p. 131, A. 54, p. 378.)
30 DE MAIO (Sexta feira).
MYSTEERI4).
Suspirem outros, mysteriosa virgem,
. Na fria lagem que teu corpo encerra:
Eu não ! minha alma não se prende á terra,
Não vai ás campas envolver-se em pó;
Mas nessas noites, em que a triste lua
De negras tochas o clarão recorda,
Vaga, ó donzella, do teu mundo á borda,
Que hasde encontral'a gemebunda e só.
O vento agreste que no outomno passa,
Calla das aves os saudosos cantos;
Despoja as selvas, ennegreee os mantos
Que a flórea quadra pelo chão deitou :
Só da existencia o tenebroso outomno
Torna mais bellas as colhidas flores,
Callando os hymnos de prazer e amores
Que a primavera dentro em nós soltou!
E o turvo outomno resequio-me o peito
Quando, animado d'um calor fecundo,
Sentia apenas germinar o mundo
No cahos immenso de paixões sem fim:
E então minh’alma se tornou mais triste,
E o gelo inerte de fatal descrença
Cobrio de novo a formosura immensa
D'aquelle mundo que brotava em mim.
*
. Mas esses bellos, fugitivos sonhos,
Não deixão nunca d'agitar meu seio,
Quando, horas mortas, nos espaços leio
Mil doces carmes d'innocencia e amor ....
Parece, ó virgem, que uma lyra ignota,
Por ti bem longe na soidão languida,
Vem, doce e triste, recordar-me a vida
Que só gosamos das paixões no ardor.
214
Porém se tento descobrir ao longe
D'internos gosos a florida estrada,
Sinto que est’alma, ás aflições votada,
Só vê nas sombras a funerea cruz:
5 uando
quando ás vezes um clarão diviso,
me chama vaporosa imagem,
E' sempre o encanto de fatal miragem,
Sempre o reflexo de longinqua luz !

O mundo é triste, se o futuro, ó virgem,


Na tumba d'outrem nos fugio da terra;
Se os mil deleites que a ternura encerra,
Só lá bem longe para nós estão! ...
No outomno d'alma, os laranjaes floridos,
A voz das ondas, as canções d'amores,
A luz, as veigas, a soidão e as flores,
Que dor nos matão ! que prazer nos dão !...

Ai! os mil gosos que sonhei n'outr’ora,


Co'a dextra minha em tuas mãos pousada,
Só n'essa occulta, celestial morada,
Devem mais bellos resurgir por fim:
Só lá, desfeitas as pesadas nuvens,
O terreo manto da fatal descrença,
Verei de novo a formosura immensa
D'aquelle mundo que brotava em mim.

Por isso eu deixo divagar minh’alma,


Saudosa e triste como a flor d'um ermo,
Por essas vastas regiões sem termo
Onde a esperança não desbota em flôr:
Jámais te veja... mas bem sei que és minha !
Bem sei, ó virgem, que em segredo choras,
Pensando triste nas primeiras horas
Do nosso occulto, desgraçado amor.
215
Não chores mais — A tempestade immensa
Que minha fronte rojará por terra,
Como invisivel, fluctuante serra,
Já no horisonte caminhando vem!....
Mais alguns tempos de tristeza e magoas,
E est’alma inerte, d’emoções vasia,
Saudando a aurora de mais bello dia,
N’esses teus ermos vivirá tambem.

Alexandre Braga.

31 DE MAIO (Sabbado).

CYLINDRO MONSTRUOSO. — Para o monstruosissi


mo barco de vapor Metropole acabou de fazer-se ha pou
cos dias na Inglaterra um cilindro, dentro do qual se
deu de jantar a vinte e duas pessoas, sahindo de dentro

todas a cavallo, no meio de grandes applausos ! Cem


pessoas podem alli estar de pé; o seu diametro é de nove
pés, inglezes. Não sei se sabem que os inglezes (e as
inglezas tambem) têem os pés muito grandes. 216
1 DE JUNHO (Domingo).
DIREITO DE MÃO MOR TA. — Foi abolido em todos
Ah,b os seus estados por Henri
que II, Duque de Brabante,
no século XIII: a elle estavão
sujeitos os habitantes de to
do o reino, á excepção dos
fidalgos e dos ecclesiasticos,
Quando morria um pai de
familias, erão os parentes
obrigados a cortar-lhe a mão
direita, e a offerecel’a ao
senhor em testemunho de
servidão, obrigação de que
podião todavia desonerar
se, dando-lhe o mais pre
cioso de todos os seus mo
veis. A'quelle direito se deu o nome de : mão morta.
2 DE JUNHO (Segunda feira).
CHARADA.
Esta chorosa mulher Se um objecto está distante
Que vêdes aqui sentada, E eu o quero aproximar,
Se aquelle senhor quizer, Assim faço, e n'um instante
Tem de morrer degradada...1 Elle ahi me vem buscar...2
Quão formoso,
E radioso, º
Se apresenta,
E se ostenta,
Elevando-se orgulhoso !
Sol brilhante,
Scintillante,
Resplandece
E o enriquece
Com arco iris luminoso. A. M. C.
217
3 DE JUNHO (Terça feira).
CASTRO D'AVELLAS, — E' uma pequena povoação
de 56 visinhos, a tres milhas de Bragança. Vêem-se n’el
la as ruinas do mosteiro de Benedíctinos, fundado por
S. Fructuoso no anno de 667. E' impossivel fazer hoje
perfeita idéa da extensão d’aquelle edificio: existem
ainda dois arcos, os quaes, segundo se crê, davão passa
gem para a igreja; são de fórma acanhada e de tijolo e
cal; tão solidos porém, que têem resistido a perto de do
ze séculos. Parece que o mosteiro e a igreja estavão
defendidos por um muro da mesma materia, o que leva
a crer que os santos varões que o habitavão, se vião
muitas vezes interrompidos em suas orações, e força
dos a defenderem-se contra as aggressões dos mouros.
Confirma esta opinião um curioso manuscripto que te
mos á vista, no qual se lê: «Erão os religiosos do Cas
tro senhores de Bragança (então villa) por doação que
d’ella lhes fez Affonso V, Rei de Leão, por lhe terem fei
to grandes serviços e ajudado a tomal'a aos mouros.»
Cederam os religiosos Bragança a El-Rei D. Sancho I, que
a mandou povoar de novo e depois a deu a Fernão Mên
des de Bragança. No reinado dê D. João III deixaram os
frades o convênto, sem que se saiba o motivo, e foram
os seus bens encorporados nas rendas da Sé, então igre
ja de S. João Baptista, onde hoje é a capella do mesmo
Santo, pertencente á casa do Exm.º barão de Santa Bar
bara. Consentiram os religiosos n'isto, sob condição de
# na Sé se faria todos os dias a commemoração de S.
eInt0, º
E hoje importante a povoação de Castro, por suas
aguas sulphureas, cuja utilidade está provada. Muitas
familias de Bragança, especialmente da classe superior,
vão passar alli o estio, e fazer uso d’ellas, o que torna a
povoação um paraiso habitado por anjos, que todavia
são muitas vezes tentados por demonios.
F. M. Trindade.
218
4 DE JUNHO (Quarta feira).
QUEM O ALHEIO VESTE NA PRAÇA O DESPE. —
A mulher d'um escrivão provinciano tinha posse antiga,
# e não interrompida, do tratamento de Dom.
om illegitimo na verdade, como tantos; e como todos
innocente por sua completissima insignificancia. Como
aquelles que á força, de repetirem uma pºque inven
taram, chegão a final a persuadir-se d’ella, disfructava
a boa mulher o seu Dom com a mais plena boa fé, e Do
na se assignou com seu marido num requerimento para
uma acção de força contra outro escrivão da mesma ter
ra, intentada não sabemos porque; sabia-o porém o ad
versario, e para obstar ao andameñto do processo com
uma boa sobreroda logo no principio d'elle, se lhe oppoz
com uma excepção, argumentando, não contra o Diz, nem
contra o nome, mas simplesmente contra o Dom que o
recedia, ao qual se arremessou armado como um phi
isteu, com a ordenação do liv. 5.º, tit. 92, § 7.º, e as leis
de 3 de janeiro de 1611 e 9 dito de 1739.
«Contra uma fraca dama, ó carniceiros,
« Ferozes vos mostrais e cavalleiros !

Trinmphou. O juiz recebeu a excepção, condemnou a


dama a passar sem Dom O resto da vida, e riscão-lhe o
Dom dos autos, que mais se não possa ler. Requereu a
despojada na maior consternação, allegando com a pos
se e uso, e as anachronicas entranhas de ferro do magis
trado permaneceram inabalaveis. A. F. C.

COIRO E CABELLO. — A um desastrado barbeiro


que o esfollara todo, deixando-lhe a barba quasi do mes
m0 tamanho, disse o nosso Tolentino: «Barbeiros de
levar coiro, e cabello já eu tinha visto, mas vossê, mestre,
faz "º: habilidade, porque deixa o cabello e leva o
COITO ! • • •
219
5 DE JUNHO (Quinta feira).
CARNE E TUTANO. — Rara era a semana em que ao
Padre José Agostinho de Macedo, quando frade gracia
no, se não applicasse castigo de alguma travessura.
Ordenando um dia o Provincial ao dispenseiro, que em
vez de uma boa posta de carne que a todos os outros se
dava, lhe deitasse no prato um pedaço de tutano, ao
vel'o José Agostinho a tremer, por estar muito quente,
exclamou: «Ah! não tremas, não tremas, que eu não te
como ! ... »
6 DE JUNHO (Sexta feira).
NO VIES ORIGINAES. — São esteS OS de tres filhas e
um filho do meu excellente amigo, Joaquim_Possido
nio Narciso da Silva, Cavalleiro da Ordem de Torre-Es
pada e Architecto da Casa Real :
Neomesia Adelina.
Dedamia Rosa.
Licinio Neomesio.
Cleonice Violante.
Não são menos singulares os que se achão a pag. 349
do Almanach de 1854. •

CADAVER CORTEZ. -- Ao morrer alguem a bórdo e


em viagem, é o cada ver posto em cima de uma pran
cha, com uma bala aos pés que in-continenti o leva
para o fundo do mar quando para elle o arrojão; co
mo porém a prancha se ponha obliquamente fóra do
navio, afim de que o cadaver escorregue, a bala, que
é mais pesada, cahe primeiro ao mar, e obriga o corpo
a tomar fóra da agua a direcção vertical durante um
segundo, passado o qual se inclina para diante e de
sapparece para sempre, parecendo haver-se posto em
pé, e feito úma despedida ao navio. Quando a bala não
é bastante pesada, fica metade do cadaver em pé e fó
rº da agua.
220
7 DE JUNHO (Sabbado).
POPULAÇÃO DA RUSSIA. — O Almanach Imperial
de S. Petersburgo de 1849 dá á Russia Européa 60 mi
lhões e meio de habitantes, e a todo o imperio russo 67
milhões. E curioso ver o augmento d'esta nação no pe
riodo de pouco mais
seus habitantes de um século.
nos seguintes annosEra
: este o fiumero de •

*#
1722.. 14 milhões. A #####& = 1824... 50 milhões.
1762. . 20 > ######, 1838.59 »
1795. . 3 X» |- 1844.. 63 >
1818... 45 » 1849.. 67 »

Onde irá isto A dar comsigo ?

8 DE nismo (Domingo).
9 # RA#0.
. Heide um raminho offertar-te
Em paga do que me déste:
Só entrão n’elle saudades,
Chagas, martyrios, cypreste.
Diz a saudade saudades
Que
A sintochaga
chaga de tiprofunda
ausente: •

"Jue o meu triste peito sente.


Diz o martyrio os que soffro
Por causa do meu amor:
O cypreste diz as lagrimas
Que faz verter minha dôr.
• Joaquim Vieira Botelho da Gesta,
221 •
9 DE JUNHO (Segunda feira).
MHSCELLANEA: — Appareceram as carruagens em
França pela primeira vez em 1550 e só n’ellas andaram
n'esse anno Henrique ll (A. 53, p.201 e 345. A. 54, p. 65),
Diana de Poitiers e o Delphim.
Asseverão alguns que foram usados pelos romanos os
algarismos a que nós chamamos: árabes, e se exprimião
com elles a principio, syllabas, palavras, pesos, medi
.das, e por fim numeros.
São Paulino, # de Nole, foi o inventor dos sinos
{# 52, p. 267. A. 53, p. 347. A. 54, p. 75. A: 55, p. 211).
s maiores só no VI século se adoptaram. Vem do Papa
João XIII, em 972, o uso de baptisal’os. Foi o Imperador
Othon (A. 53, p. 321) que depois de coroado, deu o seu
nome ao sino maior de São João de Latrão.
Depois da conquista da Grecia, da Asia Menor, da Sy
ria e da Africa, transportaram os romanos para a Euro
pa toda a especie de fructos. Os damascos vieram do Epi
ro, onde se chamavão: maçãas do Epiro; os pêcegos, da
Persia, onde se chamavão: maçãàs da Persia; os limões,
da Média; as romãas, de Carthago; os marmelos, d'uma
ilha do Archipelago; as melhores peras, de Alexandria,
da Numidia, da Grecia e da Numancia; as melhores
ameixas, da Armenia, da Syria e de Damasco; os figos,
da Asia; e as cerejas do reino do Ponto.
Foi Filippe V o primeiro que introduzio em França, o
direito chamado: da #### imposto sobre a agua do
mar e os raios do sol (E' o que cá nos falta).
Só aos nobres era antigamente permittido em França
pôr cataventos no alto das casas (Por cá não falta quem
os traga no alto da cabeça).
Em séculos atrazados, quando um francez cortava a ca
# a um inimigo, mandava-a pregar em cima da porta;
d’ahi vem o pregarem-se ainda hoje ásportas de certos pa
lacios aves de rapina ou cabeças de animaes carnivoros
(Aves de rapina encontrão-se por ahi a todos os "}}
Foi Luíz o Gordo lº? inventou as guardas nacionaes
(Menos gordo fôra talvez se n’ellas tambem servisse).
O papel (A 53, p. 76.A. 54, p. 69.195) foi inv do
em Pádua no século XIV.
Só em 1185 principiaram a ser calçadas as ruas de Paris.
As cabelleiras foram inventadas por Carlos V, que in
do á Italia fazer-se coroar pelo Papa Clemente }} C

doendo-lhe a cabeça, imaginou que lhe passaria a dor,


rapando-se á navalha e pondo cabelleira, o que por ser
vilismo imitaram todos os seus cortezãos.
Os correios foram estabelecidos em França no tempo
de Luiz IX (A. 51, 8 de julho e 19 de Outubro, A. 52,
p. 235.257. A. 54, p. 295).
O Palacio das Tulherias deriva o nome de uma fabrica
de telhas que anteriormente houvera no mesmo sitio.
Pela mesma de
dim publico rasão se dava igual nome ao mais bello jar
Athenas. •

10 DE JUNHO (Terça feira).


ASSASSINIO COMPASSIVO. — Ha em Hamburgo, e
não sei se em alguns outros pontos da Allemanha, um
Gostume, que alli chamão humano, e que muitos repu
tarão barbaro. Quando o doente está já na agonia, é se
considera de absolutissima impossibilidade o salval'o,
tirão-lhe o travesseiro, afim de que o sangue subita
mente corra para a cabeça e acabe com a vida do pade
cente, o que é obra de poucos momentos no estado de
desfallecimento em que se acha !.....
UM FIDALGO.
Para provar-me # és nobre,
Que és mais fidalgo do que eu,
Me mostras um pergaminho,
Sem pensar sequer, meu pobre,
Que p'ra tornar-te plebeu
Basta o dente d'um ratinho.
11 DE JUNHO (Quarta feira).
MONTE ARARATH. — Perto da cidade de Erivan.
Chamão-lhe os armenios: Mese sousar (monte da arca).
Dizem que ainda ahi se conservão fragmentos da Arca
de Noé. Escre
veu um hollan
dez que subira
até ao cimo, que
para isso lhe ha
vião sido neces
sarios sete dias,
andando cinco
léguas por dia,
no fim das quaes
achava uma er
mida e um er
mitão, que o
agasalhava e lhe
dava um guiapa
ra a jornada im
mediata; asse
verou mais que
a meio caminho
uasi morrera
\<> • - e frio, e no cu
me do monte respirara um ar benigno, e encontrara ou
tro santo ermitão, o qual lhe afirmara estar alli havia
20 annos sem nunca haver sentido frio nem calor, nem
ver cahir uma gotta d'agua.
# um santo ermitão parece-me que mentia menos
Illàl ! . . .

— VENUS VENAES. — E o nome que hoje se dá em


Paris ás bellas dissolutas, cujo numéro regula ordina
riamente por cem mil: não falo senão nas que se achão
nos registros da polieia. 224
12 DE JUNHO (Quinta feira).
ARCA DE NOÉ, — Embarcação que Deus ºrdenou º
Noé que construisse quando se deliberºu º alagar toda
a superficie da terra. Só escaparam á inundação geral
Noé, sua fa
|- milia, sete
pares de to
dos os ani
maes puros
e dous dos
im p u r os
que então
existião
Era de 300
cubitos de
longo, 50 de
largo e 30
d'altura, a
sua capaci
dade. Tinha
No é seis
CentOS an
nos, do us
mezes e dezasete dias quando para ella entrou. Qual en
tão fosse a verdadeira medida dos annos, é o que ainda
hoje se ignora (A, 51, 15 d'Abril e 26 de Outubro
A. 52, p. 99 e 110. A. 53, p. 194).
13 DE JUNHO (Sexta feira).
OBRA PORTENTOSA.

Se Deus consumio seis dias


Quando o mundo formar quiz,
Aposto que gastouo doze
Para arranjar-te nariz. X + +

225 8
í4 DE JUNHO (Sabbado}.
##Y$#Néà EBA f94}{CHE}} }}};">
Dos AMIGOS DAS LETRAS E ARTES EM s. 416 UE2.
Exhortação ao trabalho.
VOZ.
No regaço do luxo, a opulencia
Os cançaços do ocio maldiz:
Entre as lidas surri a indigencia,
Com o pão negro se julga
CORO,
feliz. •

Trabalhar, meus irmãos, que o trabalho


E riqueza, é virtude, é vigor:
B'entre a orchestra da serra e do malho
Brotão vida, cidades, amor. …
VOZ.
Deus, impondo ao peccado a fadiga,
Té na pena surrio paternal:
Só quem vence a preguiça inimiga
Reconquista o Eden terreal.
côRo.
Trabalhar, mens irmãos, que o trabalho, etc.
VOZ.
Quem dá graças aos céus ao sol pºsto ?
Quem lh'as dá vendo a aurora raiar?
E o obreiro ; o suór lhe enche o resto,
Mas seus dias não turba o pezar.
côRo.
Trabalhar, meus irmãos, que o trabalho, etc.
VOZ.
O que vive na inercia aburrida
Não sómente é d'irmãos roubador,
E suicida; é mais vil que o suicida,
E suicida a quem falta o valor.
côRo.
Trabalhar, meus irmãos, que o trabalho, etc.
VOZ.
Caia o opprobrio no vil ocioso,
Que deshêrda o presente e o porvir !
Só á noite compete o repouso,
Só aos mortos o eterno dormir.
côRo.
Trabalhar, meus irmãos, que o trabalho, etc.
VOZ.
Mar e terra, ar e céu, tudo lida ;
Deus a todos poz luz e deu mãos:
Lei suprema o trabalho é na vida ;
Trabalhar, trabalhar, meus irmãos!
côno.
Trabalhar, meus irmãos, que o trabalho
E' riqueza, é virtude, é vigor:
D'entre a orchestra da serra e do malho
Brotão vida, cidades, amor,
A. F. de Castilho.

15 DE JUNHO (Domingo).
DIMINUIR UM COPO DE VIDRO. —Limpe-se bem o
copo que se pretende diminuir e encha-se de azeite até
á altura por onde se quer que fique. Pegue-se depois em
uma varinha de ferro, de 20 a 25 millimetros de diame
tro, pouco mais ou menos, ponha-se no lume a extremi
dade até se achar em brasa, e metta-se esta assim até
meia pollegada abaixo do nivel do azeite; inflammar-se
ha este, formando uma camada delgadinha á superficie
do azeite frio, e fará estalar circularmente o copo nos
pontos em que o tocar. Deverá este ser posto bem hori
sontalmente e não se agitar o azeite ao introduzir-se-lho
a varinha de ferro.

JURAMENTO. — Quem jura dá a conhecer que a sua


rº não merece credito.
{ +
4*


16 DE JUNHO (Segunda feira).
ENXERTO DE NOVA ESPECIE. —Ensinou ha pouco
um jornal agrícola francez um modo, facillimo de fazer
dar ás arvores excellentes fructos. Péga-se n’uma estaca
de maceira,
pereira, ou
outra qual
quer arvo
re, mette
se uma das
pontas den
tro d’uma
batata, en
terra-se de
pois bem
perpendi-,
cularmente
e de modo
que não fi
quem de fó
ra senão 4
ou 5 centimetros, e dentro em pouco apparecerá uma
arvore que dará os mais bellos fructos.
Peço a algum lavrador que experimente e dê parte do
resultado. — Olhem que não é batata.
17 DE JUNHO (Terça feira).
VELOCIDADES. — Para dar uma volta á roda do glo
##"riº uma pessoa, em passo ordinario, um anno e
18 S ;
Em caminho de ferro, 35 a 40 dias;
O som no ar, #### 32 horas e meia ;
Uma bala d'artilharia, 21 horas e 3 quartos.
A luz, #" mais de 'o de segundo.
A electriçidade, um pouco menos de 'o de “s"#s
18 DE JUNHO (Quarta feira).

O MEU TESTAMENTO.
Em alva, fina cambraia, «Aqui jaz quem rio do mundo
Será meu corpo envolvido; « E de quem o mundo rio ;
bem que por morte saia « Em vida carpia o mundo,
Da estopa em que tem dormido « Morrendo, o mundo carpio»
Em caixão de ferro duro Deixo a vergonha que eu tive
Será posto com cuidado ; Aos grandes, p'ra repartir ;
Deixem-me os bixos que aturo Quem na grandeza hoje vive
Ter lá somno socegado. Pouca deve possuir.
Quatro ricos, avarentos, A roupa que velha seja,
lrão levar o caixão, Deixo-a dos novos barões
Já que só pobres aos centos Ao primeiro que se veja,
Meus amigos aqui são, Por ser tolo, sem calções;
E como sei que o dinheiro E a nova aos que na pobreza
Lhes dá cá todos os bens, A vida passado têem,
Deixo aos quatro e ao coveiro Já que das mãos da nobreza
A cada um seis vintens. Não recebem um vintem.
N’esses ultimos instantes, Deixo aos vis aduladores
Quero que até me enterrar, A minha lingua mordaz,
Vão do Bardo os assignantes P'ra dizer a alguns senhores
Atraz de mim a chorar. Verdades, como hoje faz.
Pretendo ser sepultado Deixo o meu juizo ás damas,
N'um cemiterio profundo, As minhas cinzas ao vento,
Mas onde eu seja avisado Osmeusescriptosáschammas,
Do que vai cá pelo mundo. Meu nome ao esquécimento.
Da campa na cabeceira E tu, d'amigo sincero
Devem negra louza alçar, Se exiges o galardão,
Onde possa mão ligeira Deixar-te mais nada quero :
Este epitaphio gravar: — Deixo-te o meu coração.
J. X. de Novaes.
229
19 DE JUNHO (Quinta feira).
TANTO DINHEIRO ! — Fez-se ultimamente em Fran
ça um emprestimo nacional de 500 milhões de francos, ou
200 milhões de cruzados, e subiram a 2,175 milhões de
francos, ou 870 milhões de cruzados, as quantias subscri
tas. Fizeram-se com isto os seguintes calculos. #
somma, em moéda de 5 francos, pésa 10:875,000 kilogram
mos, ou 21:750,000 arrateis. Um homem pode conduzir, ter
mo médio, 10,000 francos; serião pois necessarios 217,500
homens para conduzirem toda a importancia da subs
cripção nacional. 200,000 francos pésão uma tonelada;
serião por tanto necessarios 20 navios de mil toneladas
cada um para transportarem toda a quantia subscripta.
Suppondo, finalmente, que um homem pode contar 20,000
francos por hora, serião necessarios 12 annos, 5 mezes,
1 dia e 6 horas, para contar aquella somma. Ainda se a
contasse para si!...
20 DE JUNHO (Sexta feira).
PRECIOSIDADES GEOLOGICAS. — Acaba de desco
brir-se entre Acerno e Scafati, na margem do Sarno (rei
no das Duas Sicilias), a uma profundidade de 3 a 4 pés,
uma antiga casa de campo, cuja architectura, excep
tuando a das arcadas, em nada se assemelha á dos edi
ficios de Herculanum e de Pompei. O muro da frente ha
via perdido em grande parte a solidez, em consequencia
das infiltrações da agua do rio. Acharam-se dentro da
casa dous instrumentos aratorios de bronze, dous esque
Retos d'homem e o de um passaro grande.
Nas ultimas excavações feitas em Pompei, acharam-se
tambem esqueletos humanos e o de um cão, por cima uns
dos outros. Nos dedos da mão esquerda de um d'aquelles,
que era de mulher, havia anneis d'ouro, ornados de
camafeus, os quaes foram depositados no Museu Bour
bom, em Napoles.
(A. 51, 25 de Fevereiro, A. 52 p. 325, A. 53 º?
21 DE JUNHO (Sabbado).
ESTRELLA DO SUL. — É o nome que se deu a um
magnifico diamante recentemente achado no Brasil e ha
poucos dias apresentado á Academia das Sciencias de
Paris. E' de uma agua purissima e de fórma dodecaé
drica. Pésa 244 quilates e perderá metade do seu peso
quando for lapidado, valendo então para cima de dous
milhões de crusados (A. 51, 14 d'Abril. A. 52, p. 36, 222,
332. A. 53, p. 138, 280. A. 55, p. 394).

22 DE JUNHO (Domingo).

POBREZA DE IMAGINAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS.


=Traz comsigo o prodigioso augmento de população nos
Estados-Unidos a continua fundação de novas cidades,
que surgem como por encanto em todos os pontos do vas
tissimo territorio da União. Ao creal'as é preciso bapti
salas tambem, e para esse fim recorrem, quasi exclusi
vamente, os americanos, aos nomes das maiores cidades
da Europa e da antiguidade, de homens illustres, de he
róes da independencia, sem lhes importar que já se dés
se o mesmo a umas poucas de duzias de terras. Assim se
explica o existirem hoje n'aquella poderosa républica 156
cidades com o nome de Washington, 116 com o de Fran
klin, 95 Liberdades, 26 Independencias, 24 Lexingtons,
42 Miltons, 48 Middletowns, 23 Charlestowns, 15 Cartha
gos, 13 Utticas, 22 Paris, 21 Romas, 8 Londres, 7 Napo
leões, 6 Jérusalenas, 23 Troyas, 7. Byrons, 6 Cairos, 23
Clintons, #### etc., o que deve fazer a cabeça
em agua aos empregados do correio, e contribuir para
que, por falta de indicações exactas nos sobrescriptos, se
extraviem milhares e milhares de cartas. E vão lá impe
dir os empregados do correio de ir parar a Rilhafolles,
se é que tambem lá se chama assim á casa, dos ºfa
tes!... E vão lá saber a geographia n'uma terra d'estas"…
231
23 DE JUNHO (Segunda feira).
O PORCO PRETO DE BRAGA, — Na cidade de Braga,
o que chamão: montaria do porco preto, é um costume
ou festa antiga, que consiste em que vespera de S. João
Baptista se põe a cavallo a gente principal da cidade, e
passando o rio Deste, fingem que emprasão um porco, e
gastada a tarde em festas, vão no dia do Sancto pela ma
uhã fazer uma montaria com um porco negro, que lhe lá

>"#
.
{T^>

tem apparelhado, e soltando-o lhe seguem o alcance ao


som de cornetas e vozes, que representão uma verdadei
ramontaria, e o vem seguindo contra a cidade todo o
tropel de gente; e se ao passar do rio se lança ao váu e
passa pela agua, o dão aos moleiros das azenhas que ha
na, mesma ribeira, e tomando a ponte, fica da gente da
cidade.
BLUTEAU.
24 DE JUNHO (Terça feira).
NA NOUTE DE S. JOÃO.
Eis chegada a noute excelsa Correndo e rindo, os rapazes
Da mais brilhante funcção, Saltando as fogueiras vão,
Que em todo o orbe se faz Com mil jogos e brinquedos
Na noute de S. João. Na noute de S. João.

Festejos em toda a parte Aqui, que não ha lareiras,


Celebra o mouro, o christão, Sortes, fogueiras, condão,
Todos elles á porfia Só nos restão as saudes
Na noute de S. João. Na noute de S. João !...

Na sua choça o pastor, Venha de vinho um barril;


Na cidade o cidadão, Cada um seu cangirão;
Entoão hymnos sem fim Bebamos até cahir
Na noute de S. João. Na noute de S. João.

As velhas junto á lareira O vinho que nós bebermos


Fiando na roca vão, Não fará indigestão;
Entretidas nos cantares E' balsamo confortante
Na noute de S. João. Na noute de S. João.

As moças junto ás fogueiras Já de longe se aproxima


A magas sortes se dão, Um bem assado leitão,
Queimando a herva pinheira Que findou sua existencia
Na noute de S. João. Na noute de S. João.

Já arde a fogueira sancta Gallinhas, tórtas, empadas,


De resina e alcatrão; Arroz com pato e um capão,
Danção os moços em volta São cousas que nunca faltão
Na noute de S. João. Na noute de S. João.

Rebenta a bomba e o foguete, Principiemos, portanto,


Arde o fogo em profusão, C'os cópos cheios na mão;
Tudo folga e se diverte Saudemos pois a Josino
Na noute de S. João. Na noute de S. João.
233
A saude mais d'aquelles Só eu não tenho alegria
ue temos no coração, Dentro de meu coração,
ue folgarem lá na patria N’este desterro em que vivo
Na noute de S. João. Na noute de S. João !
Gloria a ti, Baptista excelso, Só me lembra a cara patria
Em todo o mundo christão, N’esta erma solidão;
Bemdito seja teu nome Com os mais pra ser não sinto
Na noute de S. João. Na noute de S. João!...
Prasa aos céus que ainda um dia
Finde meu triste condão ;
Que inda vá folgar na patria
Na noute de S. João ! ...
Benguella 24 de Junho de 1854.
João Augusto de Sousa.
25 DE JUNHO (Quarta feira).
COROA D'INGLATERRA. — E' este o valor aproxima
do das diversas joias que a enriquecem:
20 diamantes á roda do circulo, avaliado cada
um em 1,500 libras esterlinas . . . . . Lb. 30,000
2 diamantes grandes no centro . . . . . 4,000
54 pequenos entre aquelles 20 grandes . . . 100
4 cruzes de 25 diamantes cada uma. . . . 12,000
4 diamantes grandes no alto de cada cruz . 4,000
12 diamantes engastados na flor de lis . . . 10,000
18 mais pequenos na mesma flor . . . . . 2,000
Pérolas na cruz principal. . . . . . . . 10,000
141 diamantes pequenos espalhados por ou
tros pontos . . . . . . . . . . . 5,000
26 diamantes na cruz superior. . . . . . 300
2 circulos de pérolas á roda . . . . . . 3,000
Lb. SU,400
Vale li# corôa de Inglaterra, sem fallar no me
tal, 80,400 libras, ou 361 contos e oitocentos mil réis.
26 DE JUNHO (Quinta feira).
CHARADA.

E longo meu curso; sou largo e profundo ;


Dos rios mais bellos eu entro no rol;
Tornou-se famoso meu nome no mundo,
Pois tive nas aguas o filho do sol! .......... 1
Ao vela por modo tão original
Fazendo gaifonas, coçando o sovaco,
Exclamo : « não vejo no mundo animal
Que mais se pareça com o mono e o macaco.... 2
E' com promessas fallazes, A uma velha ! sim senhor,
E com lérias e cantigas, Porém velha masculina,
#" enganadores rapazes Que em rasão do meu rigor
Illudem as raparigas. Usou d'essa trampolina.
Eu que em tafuesejanotas O seu nome era Vertuno,
Nunca, nunca, acreditei, Deus de pomares, vergeis;
Para não sofrer derrotas Fiz passar ao importuno
Só a uma velha me dei. }Por momentos bem crueis,
Mas por fim enterneci-me,
Que era um amante capaz ;
Ao seu affecto rendi-me,
E fez-se outra vez rapaz. A. M. C.

UMA BOLINHA QUE PARECEM DUAS.—Pegue-se n’u


ma bola pequema, por exemplo: um grão, uma ervilha
sêcca, ou mesmo um boccado de cera ou de miolo de pão
que primeiro se arredonde ; ponha-se depois a extremi
dade do dedo maior sobre a do index, e esfregue-se com
ambas ellas a bolinha que deverá ficar no meio : jura
rieis que são duas.
E' cousa que sabem muitas creanças e que ignorão
muitos barbados.
27 DE JUNHO (Sexta feira).
CLEPSYDROS. — Vem, esta palavra de duas gregas
ue significão: relogio d'agua. E' um instrumento que
esigna a marcha do tempo, fazendo passar de um pa
ra outro espaço uma certa quantidade d'agua, d'areia
ou de mercurio, ou pela diferença de nivel de qualquer
d’estes objectos. O clepsydro estava muito em uso entre
os antigos Em Athenas por tal modo abusavão os ora
dores da palavra e da paciencia dos ouvintes, que se
tornou preciso medir-lhes o tempo que podião fallar, o
que se fazia com um clepsydro, a que hoje vulgarmente
se chama : relogio d'areia. Concedião-se-lhes um, dous,
tres clepsydros, e tambem ás vezes meio clepsydro e um
quarto de clepsydro. Ha oradores entre nós (e não são
os melhores) que se não contentarião com menos de 50
clepsydros; temos tambem um (que já foi ministro) que
em um só discurso é capaz de beber 87 se forem d'agua.
Ha homens que andão sêmpre esfómeados; aquelle anda
sempre com sêde. Não sabe fallar dous minutos sem mo
lhar a palavra. *

28 DE JUNHO (Sabbado).
UMA DOUTORA. — Entre os passageiros a bórdo de
um barco de vapôr inglez achava-se ultimamente uma
senhora muito doutora, e envolvendo-se em todas as
conversas ás horas da comida, em que de ordinario só se
deixão ficar nas suas cabinas os que estão enjoados. Fal
lava-se sobre a invenção do vapor, sobre as suas vanta
gens, e sobre a solidez da embarcação em que se navegava:
— De que força é o seu navio? perguntou um dos pas
sageiros ao capitão.
— De 250 cavallos, respondeu este.
— Diga-me uma cousa, capitão — interrompeu a se
mhora — e onde é que accommoda tanto cavallo?
Talvez perguntasse aquillo pela conscieneia de que
lhes devia ir fazer companhia. •

236
29 DE JUNHO (Domingo).
CAMALEAO. — Pequeno animal da feição de lagarti
xa, com a cabeça desproporcionadamente grande e com
o pescoço a modo de peixe. E quadrupede, mas nos seus
movimentos tão vagaroso, que mais se arrasta do que
anda. Tem focinho comprido, olhos grandes, a pelle sem
pello, e esta arrugada. Houve opinião, que o ar era o
seu alimento e que com a bôcca aberta bebia os raios do
sol; porém é certo que vive de muitos insectos, como
moscas, gafanhotos, e outros, que apanha com a lingua,
sempre cheia de humor viscoso. Alguns attribuem a pro
dig i o s a
mudança
d a s suas
côr e s á
ualidade
o logar
em que se
acha; que
Tem Outros
que seja
efeito das
pa ixôes
que o mo
|- ---- →<=-=-=- º vem. Di
zem aquelles que descançado e na som camaleão se
faz de uma côr parda, tirante a azul; e exposto ao sol se faz
mais escuro e as partes menos expostas se cobrem de
manchas; que amuado, parece salpicado de pardo, de
elinante a verde; que dêbaixo da copa d'um chapéu, se
faz roxo; que ao lume da candeia, ainda no meio de uma
folha de papel branco, parece negro; e que fechado n’u
ma boceta se faz verde e amarello. Dizem estes, que o
camaleão estando alegre se deixa ver de uma côr verde de
esmeralda, alaranjada, e entresachada de listões pardos
* e negros; e que irado, se faz escuro e livido (Bluteau).
*
30 DE JUNHO (Segunda feira).
PENEIREIRO. — E' este o titulo com que se annuncia
mais um jornal. Archivemos n’este livrinho o seu pros
pecto, como lindo trecho de florido estilo:
« Querem saber o que é Peneireiro?... — Peneireiro é
um passaro, é uma ave de rapina, carnivora e voraz, que
vive em lucta constante com os córvos e com as gralhas.
— O Peneireiro de que tratamos, posto que pertença a
essa familia d'aves de presa, tem outros usos e predilec
ções diversas. Corta os ares em vôo rapido, purificando
a atmosphera, afastando nuvens, e paira com tenção má
sobre os logares onde lhe fareja a corrupção. — A aguia,
o abutre, o milhafre, são essencialmente romanticos ;
apraz-lhes a vida bucolica; não ha tiral’os dos montes,
dos valles, dos seus leitos de pedras, armados pelo aca
so no declive das rochas. —O Peneireiro tem por uso an
tigo prear na cidade, e parece que os grandes edificios
lhe merecem attenção especial... — Outr’ora os telhados
do convento de S. Francisco davão guarida a uma quan
tidade immensa de pombos bravos. Estas aves damni
nhas voavão ao romper d'alva em grandes bandos a di
vidirem-se pelos campos, onde, á custa das searas de
lavradores pobres, enchião os papos, a mais não lhes ca
ber. —Appareceu então o Peneireiro, sollicito como sem
pre, descreveu o seu vôo circular em torno d'aquelle bam
do esfaímado, e tempos depois os lavradores dos subur
bios de Lisboa dizião bem á sua fortuna, pelo augmento
das suas colheitas. — Querem ver bem o Peneireiro ? ...
Olhem alto, velo-hão sempre esvoaçando sobre os par
lamentos, theatros, academias, secretarias d’estado, re
partições publicas, e salões de baile. — Querem ver o Pe
neireiro?... Olhem alto, vel'o-hão sempre d'azas largas e
olhos scintillantes, vendo tudo, e arrojando á praça públi
ca, tinctas de seu proprio sangue, as aves damninhas que
encontra nos ares.—O Peneireiro poupa o palacio dos Reis,
não por susto (não existe no mundo ave mais atrevida e
233
*a eu os medrosa), mas porque pairando sobre a cidade,
tem visto esses Reis, ao reflexo das lavaredas dos incen
dios, espalhando consolações a infelizes; mas porqne,
occulto nas sombras, tem visto as mãos d'esses mesmos
Reis estenderem-se a bem de seus desventurados irmãos.
— O abutre, por exemplo, semelhante a todas as aves de
presa, descreve por muito tempo um largo circulo em
torno da sua victima; depois vai estreitando esse circu
lo ; depois balouça-se sobre um ponto unico, fecha as
azas, e cahe de chofre sobre a sua presa, que aniquilla
de prompto — O Peneireiro brinca muito tempo com as
victimas, antes de as matar. — Toda a ave de presa em
geral vai devorar as suas conquistas para a solidão dos
valles, para as cumiadas dos montes, para as quebradas
dos rochedos; O Peneireiro, pelo contrario, é na praça
publica, á vista do mundo, á luz do sol, da lua, do gaz e
dos candolabros, que tortura as suas presas »
1 DE JULHO (Terça feira).

{} }AS#.
Ornando simples grinalda, fÉ bem nobre o teu destino!
Em teu leito desmeralda, O teu condão é divino !
Tenra flôr, diz-me onde vás? Eu quizera tel'o assim!.....
— Vou junto da morte dura | Deixa-me ir, quevou comtigo
Encobrir da sepultura Orar no mesmo jazigo,
Fatal, profundo AQUI JAZ. Tenra flôr, não vás sem MlM
Linda flôr, pura e singela,
Na odorífera capella
# inveja do teu fim ...
Es emblema do perigo,
Porém mesmo no jazigo
Tens poesia, JAsMIM.
Augusto Cesar da Silva Mattos.
239
2 DE JULHO (Quarta feira).
ROCHEDO DE LEUCATE.— Era Leucate uma ilha si
tuada nas costas da Acarnania. Havia n’ella um promon
torio no cimo do qual se havia edificado a Apollo um
templo magnifico; segundo um costume antiquissimo,
todos os annos, no dia da pomposa festa d'aquelle deus,
se devia precipitar do alto da montanha um criminoso con
demnado á morte. Era um sacrificio expiatorio que os

habitantes de Leucate havião promettido ao filho de Ju


piter e de Latona, afim de se subtrahirem por esse meio
a todos os flagelos de que podião ser victimas.
_Tornou-se tambem célebre esta rocha por uma tradi
ção das mais singulares: acreditava-se n'aquelles tem
Pos, e por aquelles sitios, que os que se atiravão por alli
abaixo até ao mar, ficavão curados de uma vez para sem
Pre de todas as penas do coração. E o mais é que ficavão.
240
3 DE JULHO (Quinta feira).
COMO SE ENTERRAVAO OS REIS DE FRANÇA. —
Agora que tanto se está fallando em França na traslada
ção dos restos mortaes de Napoleão, do IIôtel dos Inva
lidos, onde repousão em magestoso tumulo, para o car
neiro real de São Dionisio, não será fora de proposito
narrar o como, ainda não ha muito, alli era recebido o
cadaver do ultimo Soberano fallecido. Assim que che
# á porta d'aquelle vasto subterraneo em que tantos
os ultimos Reis de França se achão depositados, cober
to com o manto real, e precedido pelo sceptro, pela co

l roa, pela mão de justiça e pela espada, punha-se o cai


xão no chão, e por tres vezes successivas batia á porta
O mestre de ceremonias, pedindo licença para entrar,
Vinha então o Prior de São Dionisio até á porta, de mi
tra na cabeça, báculo na mão, cruz ao peito, e rodeado
d'um clero numeroso, e principiava o seguinte dialogo:
— Quem vem perturbar a paz d’este logar sagrado?
— Um christão.
— Que missão lhe havia Deus confiado na terra ?
— Era Rei.
241
— E como preencheu os seus deveres ? que fez a bem
do seu povo ? orou? sofreu ? perdoou?
— Oruu, sofreu, e perdoou.
— Que nos pede então ?
-— A sepultura christã, as preces que consolão, a bem
ção que leva ao céu.
— Entre, já que é christão e cumprio os seus deveres:
está prompto o altar para as preces e o sepulchro para o
repouso.
Abria-se então a porta, levantava-se a lousa sepul
ehral, e dava-se á terra o corpo do Monarcha.
4 DE JULHO (Sexta feira).

A SENHORA MARIEITA GREST.


O rouxinol entre as flôres, 10 adeus que á patria diz
Gorgeando seus amores, O proscripto, que infeliz
Não tem voz mais argentina, Para sempre a vai deixar,
Nem respira mais ternura, E um grito penetrante,
Nem melodia mais pura, Tem um echo, é semelhante
Do que tu, Gresti divina. Ao pungir do teu cantar !
Uma aura perfumada, Deve assim noespaçoethereo
lá do Oriente soprada, Ser um anjo de mysterio
Onde linda fada mora, Modulando hymnos d'amor;
Cultivando seus rosais, Deve assim vibrar sonoro
Não murmura meiga os ais N'esse eterno, augusto côro,
Como a tua voz sonora. Quando louva o Creador.

Quando a harpa de Sião, És o genio da harmonia,


De sublime inspiração, Que podeste, por magia,
Solemnes cantos vibrava, Essa voz ao céu roubar;
Mais que tu não commovia, A mulher não pode tanto ;
Nem a compaixão movia, Não tem o condão d'encanto
Nem o remorso acordava. De todos arrebatar !
Soror Dolores.
5 DE JULHO (Sabbado).
ÁSPHALTO. — Servia antigamente esta palavra para
designar entre os gregos toda e qualquer especie de be
tume ou argamassa natural. Segundo a versão da Biblia
chamada dos setenta (A. 52 p. 250), servio o asphalto na
construcção daTorre de Babel e daArca de Noé (4,56 p.225)
Designa-se hoje por este nome o betume de Judéa, só
lido, quebradiço, vitreo, negro, lusidio, inflamma vel,
e de desagradavel cheiro. O verdadeiro asphalto é o que
se tirava dos arredores de Babylonia e que alguns affian
ção que entrava em grande Fº" no fogo gregez (A. 52
p. 284). De ha annos para cá tem-se dado o nome d'as
phalto a diversos betumes com que se tem calçado as
ruas, betumes que em paizes quentes tem o grande in
conveniente de se derreter e de prender os pés. E ver
dade que se n'esse momento se passa junto a uma bella,
o tal inconveniente se transforma em vantagem. Fica-se
preso por dous lados, pés e coração. E o coração ainda fi
ca mais derretido que o asphalto.
6 DE JULHO (Domingo). •

PÃO VEGETAL E MINERAL. – Os habitantes da


Laponia, quando a colheita, é pouco abundante, mistu
rão uma substancia mineral a que chamáo: berguchl
(farinha das montanhas) á sua farinha de cereaes, e com
isso fazem pão. Analysada pelo célebre chimico Berse
lius aquella farinha mineral, encontrou n’ella, álem
de certa materia animal, grande porção de silicia. Exa
minada com o microscopio descobriram-se-lhe 19 espe
cies de infusorios. E boa esta farinha para se comer, diz
Humboldt, mas não para que uma pessôa se sustente com
ella — Na Suecia faz-se o pão com uma mistura de cen
teio, de aveia, e de casca de bétula, ouvidoeira, bem tri
turada, e que o torna tão duro que poucos dentes entrão
eom elle. Não me serve.
243
7 DE JULHO (Segunda feira).
(GANTIGO DO ESTIÇ).
Os orbes louvando teu nome divino,
Hosannas te cantão na immensa extensão ; º
A terra te mande, Senhor, mais um hymno,
Agora que as veias lhe escalda o verão.
Lá vai já fugida gentil primavera;
Ao cálido estio deixou seu logar;
Aquella só flôres e esp'ranças nos dera,
As flôres em fructos sabe este mudar.

Apoz os concertos de maio viçoso


Começa o banquete da festa annual;
Eu, triste conviva, padeço e não gos0, º . .
E aos mortos invejo descanço final!...
Eterno ! perdoa se louco praguejo;
De angustias cançado, se odeio o meu ser:
Perdoa, se longe de ti meu desejo,
Volteia em procura de estavel prazer.
Repugna do homem á vil natureza
DO cópo da vida tragar todo o fel;
E cheia de affectos descahe na tristeza,
Se iguaes os não acha no mundo infiel.
Meu Deus! E por isso, que em tanta amargura
Minha alma se abysma, delira na dôr,
# ou se esquece, que a ti só procura,
m quanto doudeja, perdida de amor.
O espirito ardente que aos bardos tu déste,
Encerra de amores perennes volcões;
E o vulgo profano da chamma celeste
O ardor não conhece; mal vê seus clarões.
244
Só d’ella procedem as mil sympathias
Que gerão mil ancias na vida mortal:
Saudades são tuas, nadando sombrias
De terreos affectos na cheia caudal.

A immensa levada refresca sómente,


E a sêde não farta que temos de amar: •

Que vezes mais sêcca, mais só, mais doente,


Minha alma não sinto depois de a tragar!
Tal é a existencia do vate na terra !
Sonhar uns affectos que o mundo não tem!
Amor que sacia no alto se encerra,
Em ti que és a fonte do amor e do bem!...
D. José Maria da Piedade e Lancastre.

8 DE JULHO (Terça feira).


SACERDOTE BONITO. — Uma menina, estando um
"> clerigo nota
velmente feio
a baptisal’a,
chorava que
não h a via
quem a calas
se, « E' com
medo da agua
fria » dizia o
p a, d ri n h o.
«Nada, não,
replica a par
#teira, é com
= medo da cara
do Sr. Padre. »
# O padrinho
- ==#=############## * já alli se não
vê na gravura; tinha que fazer e foi-se embora mais eedo.
* pequeno tambem é feio como um ladrão.
O
9 DE JULHO (Quarta feira).
CAPROTINAS. – N’este dia Celebravão annualmente
os romanos as Caprotinas, em honra de Juno, sahindo os
escravos ao campo com as suas senhoras, beijando-as á
sombra de figueiras bravas, jogando á pedra, uns com os
outros com grande galhofa, e arremedando inofensiva
mente uma batalha.
Dá-se como origem d'esta festa, que depois que os
gallos evacuaram Roma, quizeram os povos circumvisi
nhos invadir a républica, pela supporem estenuada e in
capaz de se defender, e nomearam general em chefe a
Lucio, dictador dos Fidenates. Mandou este a Roma um
arauto, com intimação de lhe entregarem as mulheres e
filhas, se querião subtrahir a cidade á devastação. Es
tando o senado sem saber dar-se a conselho, e os ci
dadãos na maior consternação, uma escrava, chamada
Philotis, convoca as companheiras, persuade-lhes to
marem como ella os trajes das donas e donzellas a quem
servem, e assim se vão todas, representando de roma
nas, ao campo inimigo. O general as reparte pelos ofi
ciaes e soldados; ellas, sob o falso pretexto de ser aquel
le um dia para ellas festivo pela sua religião, induzem
os seus hospedeiros a banquetearem-se em sua compa
nhia; como os colheram tomados do vinho e cançados de
folia, já lá pela noute velha deram signal aos romanos,
segundo, era ajustado, trepando-se uma acima de uma
figueira brava; os romanos acudiram logo armados, ex
terminaram os inimigos, reconduziram para a cidade as
suas libertadoras, e em premio lhes deram a alforria e
dotes para se casarem. De caprificus, nome que em la
tim significa: figueira brava, se chamaram : caprotinas
estas festas de agradecida memoria.
10 DE JULHO (Quinta feira).
VESTUARIO. — Se o do pobre muitas vezes tem bu
racOs, o dos ricos, não poucas, tem nódoas. 246 •
11 DE JULHO (Serta feira).
* SOMMA SEM CONHECIMENTO DAS PARCELLAS. —
Apresentem-se a uma pessoa quatro linhas horisontaes
com 5 pontos cada uma, como á margem se acha figura
- do, e diga-se-lhe que escreva nas duas
primeiras linhas os numeros que qui
• • zer: Supponhamos que escreveu
• • • • • 3765
I-STETUTT 98455. •

1_º_º_º_º_8_ Escrever-se-hão então a 3.° e 4.º par


cellas formadas da 1.º e da 2.", tomando os numeros que
áquelles algarismos faltão para prefazer 9. Escrever-se
hia n’este caso: 56234
1544
Sommando, achar-se-ha sempre o numero 199998,
que se deve escrever antes de tudo, mas fazendo uma
dobra no papel para que n㺠seja visto senão depois.
- N. E'muito facil de reter este numero, pois é todo
composto de noves, menos o 1.º e o ultimo algarismo,
que SOmnuados dão tambem 9.

12 DE JULHO (Sabbado).
OCULOS DE VER AO LONGE. — «Papá, papá — ex
clamou um dia, no anno de 1600, um pequenito a Zacha
rias Jansen, cidadão de Middelbourg — acabo de ver o
boneco da torre da igreja bater com o martello no sino. »
- «Como pode isso ser, pátetinha, se a torre fica a um
bom quarto de légua, e até mal o boneco se distingue ? »
- «Com estes dous vidros, papá. »
Examinados elles, vio Jansen que um era concavo e
outro convexo, e pondo aquelle perto do olho e este a
certa distancia, reconheceu que os objectos remotos ef
fectivamente se lhe aproximavão, claros e distinetos:
metteu os vidros dentro d'um tubo, e ahi ficaram inven
tados os oculos de ver ao longe.
247
13 DE JULHO (Domingo).
DESENGANO PARA PRÉGADORES. — Um frade já
tão velho, que parecia da instituição das ordens religio
sas, costumado a brilhar no pulpito, parecia decidido a
não desamparal’o senão com a vida: estava quasi cego,
quasi surdo, quasi sem voz, mas compensava essas min
guas com a erudição e comprimento cada vez mais des 4
medido dos
SeUS-SCT
Imões.
Um dia
que, assim
prégava,
havia já
mais de ho
ra e meia,
n’uma fes
ta da igre
ja do seu
convento,
quando
trêS
= partes em
ue tinha
- ividido o
seu discurso já se armava para entrar na segunda, sobe
elas escadinhas do pulpitolosachristão, puxa-lhe pelo ha
ito, e pondo-lhe ao pé o mólho das chaves, lhe diz muito
amigavelmente: «Olhe, Padre Mestre, quando acabar,
faça favor de fechar a porta da igreja, que já lá não está
ninguem, e eu tambem me safo. »
VER E OLHAR. — Uns olhão sem ver, e outros vêem
sem olhar.

ACASO. — E o deus dos atheus.


248
14 DE JULHO (Segunda feira).
LlMONADA GAZOZA. – E' uma bebida muito refres
cante e pelos médicos bastante recommendada. Diremos
pois como se faz.
Deite-se uma pequena porção d'assucar em um litro
d'agua e junte-se-lhe uma colher d'aguardente de vinho
ou de cereja. Tomem-se, por outro lado, 5 grammas de
bicarbonato de soda e 4 d’acido citrico e misture-se tudo,
passando-o depois para uma garrafa que se lacre bem e
que só se abra no momento de beber a limonada.
Para sahir mais em conta, substitua-se o acido citrico
por acido tartarico; e para lhe dar um aroma agradavel,
juntem-se-lhe algumas gottas de essencia de limão, ou
um bocado d'assucar esfregado primeiro pela pelle do
nuesmo fructo,

15 DE JULHO (Terça feira).

MUITO EM POUCO TEMPO. — Dentro de vinte e qua


tro horas um car
neiro matou um
menino, a mãi
d’este degollou o
carneiro, chegou
o pai do campo
e ás punhaladas
matou a mulher,
veio a justiça,
prendeu-o, e en
forcou-o. Tudo
-
isto relata um
dystico singular:
«Verver cum puero, puerunus, sponsa, maritus;
249 Impete, cultello, fune, dolore perit.
40 DE JULHO (Quarta feira).
Fº? EPRRE NO$5$@.

A S. M. O IMPERADOR DO BRAZIL.
Viva o nosso Imperador, A vossa prosperidade
O grande Pedro Segundo, Tenha grande duração,
No throno do Novo Mundo Sendo o rei da redempção
Padre Vosso. •
Assim na terra.
Senhor, pelo poder vosso, Senhor, a vossa alma encerra
Pelos bens que praticaís, Quanto de bom nos apraz,
Yivo, na terra mostrais Vivamos na terra em paz,
Que estais nos céus. Como no céu !
Já que por graça de Deus A sombra vossa boléu
Tendes sobre nós poder, Nação alguma hade dar-nos,
Ostentai um proceder E nenhuma ha de tirar-nos
Sanctificado. O pão nosso.
Por tantos feitos gravado Pelo grande poder vosso
Já nas paginas da historia, Sempre teremos alento,
Tambem em nossa memoria Ganhando facil sustento
Seja o vosso nome. De cada dia.
Dos males a fera dome Vossa imperial valia
A vossa alta omnipotencia, E' da paz penhor seguro;
E o bem da divina essencia Esp'rança de igual futuro
Venha a nós. Nos dai hoje.
A os brados de nossa voz Nunca a discordia se arroje
O mundo venha a saber, A abalar o throno vosso ;
Como inda grande ha de ser Algum ligeiro erro nosso,
O vosso reino. Senhor, perdoai, .
Neste paiz tão ameno, Vós que dos povos sois pai,
Onde amado tanto sois, A lavoura auxiliando,
A vossa vontade pois Fareis que vamos pagando
Seja feita. As nossas dividas.
$", um povo que vos respeita Dos males as manchas lividas
endo o bem de vós nascer, Que o povo sofre, curai,
Medo não tem de fazer Ao Brasil constante amai
A vossa vontade. Assim como nós.
250
E como parte de vós Vosso auxilio vai servir

O bem que a nação pretende, Aos povos como de luz;


Tambem a quem nos ofende Não caia quem beija a cruz
Perdoamos. Em tentação.
N’este proposito estamos De vós partindo a lição,
Nossos filhos educando, Sempre a Deus respeitaremos;
Que irão assim imitando Dos males que ter podemos
Os nossos. Livrai-nos.
De politica actos vossos Com vosso amparo ajudai-nos
Farão cessar nossos ais, Para que os povos um dia
P'ra que não tenhamos mais Tenhão alli fréguezia,
Devedores. Senhor.
De um Deus irado os rigores De Deus inda com favor
Não mais tragão peste á terra; Tudo isso se ha de alcançar;
Entrar em luctas de guerra Livres havemos ficar
Não nos deixeis. De todo o mal.
Vós que agora protegeis Por vossa mão liberal,
Do - FRADE - o novo arraial, Que o povo beija e respeita,
Não o deixeis n'algum mal Nossa dita seja feita,
Cahir. Amen, Jesus.

A. I. P. Tatagibu (Brasileiro).

17 DE JULHO (Quinta feira).

######? DE CARAS. — Pegando-se em dous


espelhos, fazen o com elles um angulo mais ou menos
agudo, e pondo uma pessoa a cara no meio, vel’a-ha re
etir-se uma, duas, tres, quatro, e até 10 ou 12 vezes.
ara caras bonitas é uma consolação !...
A proposito. — Não ha ninguem tão horrorosamente
feio, que tal a si proprio se julgue. — Nunca vi ninguem
deixar de mirar-se com desvanecimento n’um espelho.
HYPOCRISIA. —Homenagem que o vicio presta á
virtude. •

251
18 DE JULHO (Sexta feira).
CARVALHO DE SÉCULOS, CAPELLA MILAGROSA.
— Falla-se a pag. 202 do Almanach de 1852 em um car
valho cortado na Belgica, e que alli se inculca como a
arvore mais antiga do mundo. Não é exacto: para ver
outra decerto mais velha, e de dobrada grossura e quasi
dobrada altura, basta ir um quarto de légua ao sul de
Castro d'Ayre.
Junto a uma casa de ligeira construcção, que é tradi
ção haver sido hospicio dos Templarios (A. 52 p.235)ha
uma capella com a invocação, hoje, de Nossa Senhora do
Presepio, á qual diariamente concorrem immensos de
votos, e ao N. d’ella se admira um carvalho, cujo tron
co está perfeitamente ôco, e lhe cabem dentro, senta
das, 24 a 30 pessoas. Tem de altura mais de cem palmos
e de grossura sessenta, sem fallar nos cinco palmos a
que fica o tronco enterrado em razão da meia laranja que
se lhe fez á roda para sua melhor conservação. O que
elle tem de mais notavel é conservar a mesma grossura
até ao meio, ou mais acima, sahindo d’ahi ramos gros
ssimos. Ninguem sabe ao certo a epocha da plantação
de semelhante arvore, mas é geral a opinião dê ser côé
va dos Templarios.
Quanto á capella, é tambem tradição que tivera ou
tr’ora a invocação de Nossa Senhora Madre de Deus, e
que sendo atacado o gado de muitos sitios de molestia
que o definhava e destruia, não acontecia o mesmo ao
que pastava nas visinhanças da dita capella, que andava
gordo e médio, o que fez com que os pegureiros para alli
conduzissem todos o seu gado, com qué de repente ces
sasse a epidemia, e elles fizessem vôto de lá irem em
romaria todos os annos. A'lem das procissões que alli vão
de Castro d'Ayre, entre as quaes ha uma a que é obri
gada a concorrer a Camara, vão outras de mais de duas
léguas de distancia.—Castro d'Ayre 18 de Julho de 1854.
José Corrêa de Barros cº"}
19 DE JULHO (Sabbado).
MAÇAS. — Jantando uma senho
ra muito Velha e de muito má
bôcca em casa do Morgado de As
sentiz, offereceu-lhe este uma
excellente maçã; recusou-a a da
ma e disse-lhe o cavalheiro: «já
vejo que nem V. Ex.º é Eva, nem
eu serpente.

20 DE JULHO (Domingo).

AS QUATRO IDADES DA MULHER,


Quatro caixinhas, fieis
Presentes da Providencia,
Resumem de cada bella
As estações da existencia.
Guarda a primeira caixinha
Innocentes rebuçados,
Cartas d'amor a segunda
D'um cento de namorados.

Na terceira o arrebique,
Que as faces vai besuntando,
Inventa as rosas postiças
Quando as outras vão murchando.

Mas depois que o espelho quebra,


Da idade por crua lei,
Toda aternura se encerra
Na caixinha do agnus dei.
João de Kemos Seixas Castello Branco,
253
21 DE JULHO (Segunda feira).
MONUMENTO A S. M. O SR. D. PEDRO I IMPERADOR
DO BRASIL.—Um pensamento havia no espirito de todos
os brasileiros, que, para pronunciar-se unanime e col—
lectivo, só aguardava uma iniciativa, uma opportunidade.
A camara municipal da cidade do Rio de Janeiro o
eomprehendeu perfeitamente, quando, resolvendo erigir
na capital do imperio uma memoria que transmitta á
posteridade o nome glorioso do inclito fundador da na
cionalidade brasileira, o Senhor D. Pedro I, proporcio
nou a todos os brasileiros, residentes dentro e fóra do
imperio, azado ensejo para manifestação de tão espon
taneo e patriotico intuito.. •

Symbolo das glorias patrias, expressão da gratidão


nacional, o monumento que se pretende levantar, por is
so mesmo que tem por origem uma inspiração commum,
deve ser obra de todos; e pôr este motivo a nenhum brasi
leiro pode ser negado o direito de concurso e cooperação.
Todos os brasileiros, pois, que desejarem contribuir
para a erecção do projectado monumento, poderão diri
gir-se á legação de S. M. o Imperador do Brasil, afim de
ahi depositarem suas voluntarias offrendas, que serão
remettidas á referida municipalidade em conformidade
do oficio por esta expedido á mesma legação imperial.
— Lisboa, 24 de fevereiro de 1855.
Por ordem do exm.º sr. enviado extraordinario e mi
nistro plenipotenciario de S. M. o Imperador do Brasil
João José Ferreira dos Santos
nesta côrte
Secretario de legação.
R
22 DE JULHO (Terça feira).
CHARADA,
Não anda — 2
Anda — 2
Anda e desanda. * * *
254
23 DE JULHO ( Quarta feira).
ASTEROIDES. — Chamavão assim no começo d'estº
século aos 4 pequenos planetas, Pallas, Juno, Ceres e
Vesta; descobriram-se depois muitos outros, mas só
se vião com bons telescopios. Julga-se que formavão
antigamente um só corpo que se dividio e cujas partes se
dispersaram em virtude d'algum choque.
24 DE JULHO (Quinta feira).

\[)(E[0 #A \l) \,
A minha Esposa : Candida Maria da Cruz Cantazzi.
Pedi a Deus uma vida Na areia escrevi seu nome,
Só de socego e amor... Nos carvalhos o gravei,
Pedi a Deus um archanjo, Na adusta porta da granja
Meigo archanjo seductor... Tambem um dia o talhei!...
Pedi crente, e muito crente Assim na deserta herdade
Suppliquei o Redemptor... Seu querido nome espalhei..
Um anjo puro eis encontro, Meus suspiros amorosos
Retrato da Mãi dos céus!... Nascido s de amor fervente,
Arrebatou minhas vistas protesto verdadeiros
Seus s
Nas vistas dos olhos seus ; Filhos d'alma pura, ardente,
Tocou-me o peito, e me disse: Quantas vezes têem os echos
«Sou um presente de Deus.» Repetido fielmente ! ...
Com ella fugi do mundo, Adorando a Providencia
Do mundo de corrupção; Eu bemdigo a minha sorte,
Busquei, guiado do anjo, Que em seus arcanos secretos
Socego na solidão; Me deu uma tal consorte,
Busquei amor no amor Pura, Candida, extremosa,
Do seu terno coração. E meu anjo até á morte!...
Quinta da Prata 24 de Julho de 1853.
Guilherme Centazzi Junior.
255
25 DE JULHO (Sexta feira).
HAYTI, — E' Hayti a maior das Antilhas, logo de
pois de Cuba. Está situada entre a Jamaica, Porto Ri
co, e Cuba. Tem um milhão de negros de população.
Foi descoberta em 1492 por Christovão Colombo e per
tenceu a principio aos hespanhoes. Estabeleceram-se
alli depois os france
zes e ficaram com meta
de d’ella pelo tractado
de Ryswick. Era uma
bella colonia antes de
1789, mas os aconte
cimentos politicos da
metrópole na épocha de
completa subversão que
datou d’aquelle anno,
tambem alli produziram
o seu funesto efeito.
Houve uma insurreição
§ geral dos negros na par
à te franceza e na parte
hespanhola, e foi total a
matança dos colonos;
d'essa terrivel revolu
ção nasceu um governo
independente, que a
• França, reconheceu em
1824, contra o pagamento d’uma indemnisação de 150 mi
lhões de francos, depois reduzida a 30 milhões. Foi
Toussaint Louverture um dos maiores vultos que alli
produzio a emancipação da ilha, São aquellas, as suas
exactissimas feições. Horrendo bixo! Podia-se-lhe amar
rar o focinho com um cordel. Parece que o está a esten
der para dar um beijo. Eu cá por mim é que lh'o
não acceitava.
(A, 51, 23 de Dezembro. A. 52 p. 92).
256
26 DE JULHO (Sabbado).
1LHAS SANDWICH. — E' um grupo d’ilhas do Ocea
no Pacifico, em numero de onze, sete habitadas e qua
tro desertas, entre 19 e 22 gráus de latitude norte e entre
154 e 165 de longitude oeste do meridiano de Greenwich.
Foram descobertas pelo célebre Cook na sua 3.º viagem
á roda do mundo, e assim chamadas em obsequio a lord
, Sandwich, que então era primeiro Lord do Almiranta
do. E' de 360 milhas quadradas a sua superficie total.
Volcanica a
natureza de
Seu sólo. Têem
agua em abun
dancia. Têem
se aclimado ahi
diversos ani
maes domesti
cos da Europa.
Produzem ana
nazes, batatas,
canna d'assu
car, cacoeiros,
bananeiras,etc.
Os habitantes,
em numero de
146,000, per
tencem á raça
maleza : são
affaveis e in
• • • dustriosos. A
maior ilha d’este grupo é: Owaihi, e a mais frequen
tada: Oahu ou Woohn. O Rei Taméhaméha, falecido em
1813, tornou muito notavel o seu reinado pelo grande
impulso # deu á civilisação: submetteu a maior parte
destas ilhas, e fixou a sua residencia em Hanarura, na
ilha Woohn,
257 9
27 DE JULHO (Domingo).
LIMA E PONTE DE LIMA. — Desce o Lima das mon
tanhas da Galliza, entra em Portugal, e depois de ha
ver, passado por Ponte de Lima, lança-se no Oceano
abaixo de Vianna. Ao chegar áquella villa, ou para me
lhor dizer, á bella ponte de pedra que lhe dá o nome,
corre sobre um penedo de saibro em que se purificão as
suas aguas, e percorre um largo valle, cujo sólo, fecun
dado por ellas, faz crescer nas duas margens carvalhos
e arbustos que assombrão o rio. Esta verdura, esta som
bra, este frescor, a relva que alcatifa a base e o flanco
das collinas, a limpidez e excelleneia das aguas, tudo
ha concorrido para dar a este rio uma bem justificada re
putação. Mereceu elle aos poétas o nome de: Lethes, pelo
qual é bem conhecido. Conta-se que ao verem-se obri
gados a fugir a implacaveis inimigos os povos que habi
tavão junto ao Guadiana, se refugiaram nas solitarias
margens do Lima, onde em breve esquéceram a patria. As
legiões romanas que pela vez primeira penetraram n’es
ses sitios, commandadas por Junio Bruto, suspenderam
a sua marcha ao chegarem ás margens do Lethes, e ou
fosse porque presumissem estar perto das avenidas do
Tartaro, ou porque de sinistro agouro se lhes figuras
se aquelle nome, resistiram á voz dos chefes e recusa
ram ir ávante: afim de triumphar de sua resistencia,
que não previra, arrancou o general a aguia romana das
mãos do timido oficial que a arvorava, e entrando com
ella, no rio, a poucos momentos o seguio o exercito
inteirO. •

28 DE JULHO (Segunda feira).


BAROMETRO NATURAL. — Na parte septemtrional
da Finlandia ha uma pedra que serve de barometro.
Quando está para chovêr, enegrece, e quando o tem
po está sêcco, cobre-se de manchas brancas. 258
20 DE JULHO (Terça feira).
ALMANACH.

Entre livros e folhetos O tempo, que só Deus pode


Occupa médio logar; Variar a sabor seu,
Serão outros mais fidalgos, Quererem bixos da terra
Nenhum é mais popular. Pôr-lhe leis... é de sandeu !
E sendo tão pequenino O Almanach de lembranças
Que a marca de Judas tem, N’este ponto rasão tem ;
Não leva menos d'um anno Patranhas de Borda d'agua
A lê1'o quem o ler bem. Não as consente; faz bem.
Nem ha dia,em que abelhudo O Almanach nasceu mouro;
A proposito não dê, Sua patria hoje não sei;
Importantes, mais ou menos, Filhos christãos já tem muitos,
Preceitos a quem o lê. Se os tem judeus não direi.
Como destro jardineiro, Sua mãi, Dona Folhinha,
Que em resumido talhão Até por portas andou:
Põe, de varias qualidades, Máus filhos hoje a renegão,
Mil flores em confusão ; Por mãos d’elles se finou.

Assim elle, em breve quadro Pois ao vel'os titulares


Aponta mais do que diz; (Hoje ha muitosq assim são!)
Sciencia e artes entrança Gentis-homens os jurára,
Com variado matiz. Ignorando-lhe a extracção.
Dias sanctos, jejuns, galas, A prole, d'anno pra anno,
Marés, luas, estações, A crescer, multiplicar,
Eclipses, feiras, correios, Dizemq em serões dasbruxas
E do tempo as variações. Já tem dado que fallar.
Praga de Folhinhicidas
Inundando a Portugal,
Dizem muitos; —Eu cá digo:
O que abunda não faz mal.
J. da Costa Cascaes.
*
"30 DE JULHO (Quarta feira).
PALACIO DE CRISTAL NUM RIO DA SIBERIA. —
Assim conta um viajante francez o que vio no rio Lena :
« Havia eu adormecido, contemplando, ao monótono
som dos remos da minha barca, aquellas margens encan
tadas; cessara porém o rumor, suspendera-se o cantar
dos remeiros, e fôra esse mesmo silencio que me acor
dara. Em vez da scintillante claridade do sol, vi então
um fraquissimo crepusculo. Havia-se coberto o rio, em
uma vasta extensão, de uma abobada de gelo que se ele
vava tres toesas acima da agua, occupando uma posição
horisontal; penetravão-na em alguns pontos os raios do
sol, como se fosse cristal, e n'elles se reflectia a luz, to
mando uma côr azulada, que lembrava essas grutas phan
tasticas de que resão os contos das fadas. Receando ver
despedaçada a fragil abobada, ordenei aos marinheiros
que remassem com força para sahirmos d’alli o mais de
pressa — « Callai-vos, me responderam; o mais pequeno
esforço, uma simples palavra que vibre o ar, bastão para
que o gelo se quebre e nos abysme.» —D’ahi a meia hora
haviamos atravessado todo o palacio aéreo e descarreguei
a minha espingarda; o echo repetio o tiro, ouvio-se no ge
lo um grande estrondo, e abateu a abobada com o estam
pido do trovão, sendo-nos preciso fugir precipitadamen
têpº causa das grandes massas de gelo que fluctuavão. »
E' esta a explicação do phenomeno. São altas e escar
padas as margens do Lena; no outomno, depois do desge
lo, enchem-se d’agua; durante essa inundação, géla, o
rio e chega o inverno, que dura dez mezes; a agua cahe
naturalmente no seu leito, deixando abobadas de gelo
suspensas nos ares e apoiando-se nos rochedos; quando
porém falta esse apoio, cahe o gelo ao mesmo tempo que
a agua que o destrõe. Se com algum objecto conhecido se
pode comparar este phenomeno, é com os palacios de
cristal de # e de Londres, que se sustentão em colum
nas, pois verdadeiras columnas são os rochedos do Lena.
31 DE JULHO (Quinta feira).
IMPOSTOR ATÉ MORRER. — Um basofio de marca
maior e que sempre lograra passar por homem rico, che
ado á hora da morte mandou chamar o tabellião para
azer testamento. Depois de lançado o cabeçalho ritual
começou a dictar: « deixo a meu sobrinho fulano o meu
praso de tal; deixo á prima-dona sicrana a minha quinta
de tal; deixo ao meu amigo beltrano toda a minha prata;
deixo ao Asylo de Mendicidade todas as moradas de ca
sas do lado direito da rua
Augusta, indo do Rocio.»
Pára o tabellião, levanta
os oculos, e pergunta
stupefacto: «Todas as
casas do lado direito da
rua Augusta!!!» — «To
das as casas do lado di
reito da rua Augusta, já
disse.» — « O senhor !
pois eu hei-de pôr cá se
melhante cousa ? ! ! eu
não escrevo isso; essas
casas pertencem a tre
zentos donos. » — «Que
tem o Senhor com isso?
quem é que faz o testa
mento ? é o senhor ou
eu ?» — «Isso vai servi
veiro de demandas. » — «E o senhor que lhe importa as
demandas ? ponha e continue.» Ainda o papel não esta
va, acabado, já o ricaço estava na terra da verdade, não
deixando nem com quê se lhe fazer a despeza do enterro.
Conheço muitos impostores da mesma marca.
DFNTISTA. — Homem que trabalha com os queixos
"#" para dar que fazer aos seus,
1 DE AGOSTO (Sexta feira).
CAMPAINHA ELECTRICA. — Impossivel fôra prever
as infinitas applicações uteis, ou simplesmente curiosas,
que da electricidade poderão fazer-se com o andar dos
tempos e o aperfeiçoamento da industria.
Todos, os que hão viajado lá por fóra têem visto nas
grandes hospedarias, e n'uma casa logo á entrada, uma
correnteza de campainhas, cada uma com seu numero, o
qual corresponde a numero igual d'um quarto: ao ouvir
tocar uma d’ellas, vem um criado, examina qual dos ba
dallos treme, e dirige-se logo ao quarto d’onde se tocou.
Tudo isto supprime a campainha electrica.
Em todos os quartos das grandes hospedarias da Eu
ropa ha agora um mostrador grande com um ponteiro
em fórma de relogio; na circumferencia estão escriptas
as ordens que de ordinario se dão n’uma hospedaria ;
apontando com o ponteiro para uma d’ellas qualquer,
corresponde esta immediatamente, e por uma corrente
electrica, á mesma ordem em um mostrador semelhan
te n'uma das casas de baixo, e assim é logo cumprida.
Antes de cem annos cá chegará tambem isso.
Uma cousa temos nós outros os portuguezes: como so
mos muito mais espertos do que todos os outros povos,
não nos convencemos tão depressa como elles, e antes
de admittirmos tambem cá esses inventos de que lá fóra
se apregoão desde o principio incontestaveis vantagens,
achamos prudente esperar cem, duzentos annos, que a
experiencia os confirme duzentos milhões de vezes. E
assim é que deve ser. Assim é que fizemos com o gaz e
os caminhos de ferro. Vejão lá se por ora acolhemos o
telegrapho electrico, que se reduz a meia duzia de fios
de metál! .... Não senhor; isso ainda não tem 50 an
nos, e por conseguinte é ainda cedo; lá para o fim do
século fallaremos. Em prudencia e circumspecção nin
guem nos deita a barra adiante. Tambem não admira. Os
outos povos têem sangue nas veias e nós temos "}}> •
2 DE AGOSTO (Sabbado).
SiNGULAR ALLIANÇA. — Effectuou-se ha poucas se
manas em Boston, nos Estados-Unidos, uma singular al
liança. Casou um viuvo já velho com uma rapariga; pou
co depois casou o filho das primeiras nupcias do ve
lho com a mãi da sua madrasta, do que provieram os
seguintes parentescos: o pai é genro de seu proprio fi
lho, e a mulher d’elle não só é nora d’este seu genro, mas
tambem sogra de sua propria mài, em quanto esta é no—
ra de sua filha, e o marido é sogro de sua propria sogra
e de seu proprio pai.
3 DE AGOSTO (Domingo).
CHARADA.

Quanto mais assopra o vento |


E é violento,
Tanto mais trabalho e corro
Sobre o morro,
E para o geral sustento,
Turbulento,
Com os meus giros concorro.
O que em obrar piamente
Táo sómente
Se deleita e satisfaz,
Sempre traz 1
Com que valha ao indigente,
COntente
Lhe abre a bolsa e assim faz.
O caprixo é minha essencia;.
Com tão futil existencia
Aterro pais e maridos,
E de armazens escolhidos
Sustento a magnificencia. A. M. C.
263
4 DE AGOSTO (Segunda feira).
PÁRA-RA10S. — E' a Francklin (A. 51, 11 de Junho,
A. 53 p. 60 e 94, A. 54 p. 194, A. 55 p. 230) que se deve
este maravilhoso invento. Consistem os pára-raios n’uma
haste de ferro rectilinea terminando em ponta, que se
fixa verticalmente sobre os edificios que deve proteger,
e n'um conductor feito de fios metallicos torcidos. Ain
da hoje ha quem pense que attrahem o raio; é o contra
rio, pois só em muito poucos casos se poderá dar a ful
minação d'um pára-raios perfeito. As principaes condi
ções a que devem satisfazer para se colherem as vanta
gens que oferecem, são: 1.º terminarem em ponta, que
deve ser de platina ou cobre dourado, afim de não se
rem oxydadas e perderem por isso a configuração pri
mitiva. 2.º Não haver solução de continuidade entre a
ponta e o sólo, devendo tambem ser muito intimo o con
tacto do conductor com a terra, 3.° Elevarem-se na par
te mais alta do edificio. 4.º Haver communicação entre
elles e todos os objectos metallicos de grandes dimen
sões que entrem na construcção do edificio. A experien
cia tem mostrado que os pára-raios protegem a área
descripta da base da haste como centro e um raio duplo
do comprimento do pára-raios.
5 DE AGOSTO (Terça feira).
O ITALIANO E O CAVALLO. — Perguntando certo fi
dalgo a um italiano rico porém mi- ->
seravel se queria vender um bom
cavallo que tinha, respondeu que
não, mas que de graça se podia
servir d'elle. « E se eu dissesse
que sim ? perguntou o fidalgo;
Dizia eu que não » respondeu o }

outro. —Se se pegasse pela palavra #--+#########


a todos os que dizem finezas, que seria da delicadeza ?
264
6 DE AGOSTO (Quarta feira).
PELAGIO E A GRUTA. — Havia-se retirado para as
montanhas uma infinidade de godos e de hespanhoes,
fieis á sua religião e a suas leis, afim de se subtrahirem
ao dominio dos musulmanos; por alli vivião errantes e
vagabundos, sem plano nem projecto, confiando porém
sempre em Deus, e esperando que elle lhes facultaria
o regresso a seus lares.
Apresenta-se-lhes Pelagio, homem emprehendedor e
valente. D'onde venha, ninguem o sabe ; quem seja, to
dos o ignorão ; que importa porém quem seja e d’onde
venha, uma vez que são animadoras e solemnes as suas
palavras, que exalta nos corações o sentimento da vin
#### e da fé, que affiança e promette o divino auxilio ?
” um momento pois em quanto lhe jurão todos obedien
cia e fidelidade. Engrossão dentro em pouco as suas
phalanges e não ha um só de seus guerreiros que não dê
a vida para expulsar da Hespanha os musulmanos.
Um dia, que perseguia um malfeitor que o atacara,
vê-o entrar n’uma caverna, e lá vai Pelagio lavar no san
gue a affronta recebida. De repente, apresenta-se á
entrada um ermita, e o adverte de que é aquelle um
asylo sagrado dedicado á VIRGEM, e não deve commet
ter um sacrilegio no sitio que poderá vir a ser ainda re
fugio para Pelágio. Acoçado efectivamente d’ahi a pou
co pelo inimigo, refugiou-se o heróe com os seus solda
dos no subterraneo que a Providencia lhe denunciara.
Ahi se fortificou e esperou pelo exercito musulmano;
apresenta-se este com o traidor Bispo Oppas á sua fren
te; pede o prelado uma conferencia a Pelagio ; appare
ce, o heróe á entrada da gruta; procura o Bispo intimi
dal'o e seduzil'o, mas não o consegue; trava-se o com
bate; milhares de settas são disparadas contra o roche
do valentemente defendido pelos christãos, até que os
musulmanos se retirão em desordem, e cahe Oppas
*#* dos godos que o assassinão. Firma esta Victo
ria memoravel o poder de Pelagio mas Asturias; muitas
cidades d'essa provincia expulsão os mouros; Pelagio
entra vencedor mas mais importantes e funda em seguida
um estado soberano cujas principaes cidades erão Leão,
Gijon, Oviedo, Cangas de Onis e Cangas de Tineu.
Augmenta progressivamente esse estado, e transforma
se em um reino, no qual por mais de tres séculos dicta
ram as suas leis os descendentes de Pelagio.
Ainda hoje é grande titulo de gloria nas Hespanhas o
descender d'aquelles valentes que auxiliaram o heróe em
sua gloriosa e arriscada empreza.
7 DE AGOSTO (Quinta feira).
VULCANAES. — As festas assim chamadas começavão
em Roma no dia d'hoje, e continuavão por decurso de
oito dias. Como erão em honra do deus do fogo, as victi
mas, e tudo o que lhe oferecião, era totalmente consu
mido nas chammas. N’estas oito noites corria a gente pe
das ruas com archotes ou alampadas nas mãos, apostan
do a qual chegaria primeiro a um sitio designado sem
apagar a luz; o que perdia dava o seu archote ou alam
pada ao que ganhava, o que deve ter dado origem ao
anexim portuguez: levar as lampadas a alguem, no
sentido de vencel'o, ou excedel'o.
Das mesmas apostas devem ter procedido as carreiras
que ainda hoje se fazem com luzes no carnaval de Roma,
{#dº cada um por conservar a sua e apagar as dos
V1S lill). OS,
Depois dos Vulcanaes principiavão em Roma os serões.
SALIVA. — E' um liquido incolor, segregado por glan
dulas dispostas dos dous lados dos queixos e por bai
xo da lingua. Favorece a digestão dos alimentos, unin
do-se a elles na bôcca e contribuindo ahi para um prin
"ipio de elaboração. Já se vê pois quanto é nocivo o cos
tume de alguns de expulsar de continuo a saliva.
266
8 DE AGOSTO (Sexta feira).
LUZ MYSTERIOSA. —Na aldeia que tem por nome:
Santa Cruz, situada em um lº mas aprasivel val
le, nas margens do rio Tuilla, n’este concelho de Wi
nhaes, dá-se um phenomeno dos mais singulares. Na
parte mais alta da povoação, no sitio a que chamão :
à Beliqueira, vêem-se as ruinas de uma antiquissima
capella, e em torno a ellàs um espesso arvoredo; n'uma
circumferencia de 40 a 60 passos d’alli, apparece todas
as noutes uma luz mortiça, que ora augmenta ora des
fallece, á imitação da de candeia proxima a apagar-se; no
que porém ainda mais consiste a singularidade do phe
nomeno, é em que tal luz se não vê de perto; e mesmo
de dentro da povoação poucas vezes e de *** sitios
se avista, e só de pontos fronteiros e fóra do povo per
feitamente se distingue. Numerosas experiencias hão
provado que não é fixa, mas sim movel na circumferen
cia que dissemos.
. Não é isto illusão ou fabula ; é uma realidade obser
yada por mim, e por milhares de pessoas desde tempos
immemoriaes; e tão familiarisada está com isto a gente
de todos estes arredóres, que a ninguem já admira, e se
bem se acredite muito por aqui em bruxas e cousas do
outro mundo, é reputado aquillo como um phenomeno
natural, apesar de que ninguem o soube ainda explicar.
Vinhaes 8 de Agosto de 1854.
Emiliano Antonio de Souza.

9 DE AGOSTO (Sabbado).
AUSENCIA.
Tanto se sofre na morte
Quanto na ausencia se sente !
Se a morte é ausencia eterna,
A ausencia é morte apparente:
JULIA... . . .
10 DE AGOSTO (Domingo).
NUS. — De um reverendo,
que era um maroto e embus
teiro reverendissimo, dizia
certo gracioso: «N'uma só
coisa tem fallado verdade o
padre fulano ; é quando diz
á missa.» Domine, non sum
dignus.
PRODIGIOSA MINA DE
SAL.—A de Vic, na provincia
de Lorraine, em França,
descoberta em 1819, occupa
um espaço de trinta léguas
quadradas, e calculou-se que
só no fim de 96,000 annos se
acharia esgotada, extrahindo
se-lhe cada anno um milhão de quintaes metricos de sal.
11 DE AGOSTO (Segunda feira).
SOCIEDADE DOS VEGETALISTAS. – Celebrou-se
ha pouco em Londres a 7.° reunião annual d’esta socieda
de. Consistio n'um banquete em que se não vião senão
farinhas d'isto e d’aquillo, arroz, queijo, alface, couve
flor, cenouras, espinafres, alcachofras, beldroegas, cebo
las, brocos, nabos, couve, repolho, bettarabas, pepinos,
batatas, chicoria, bringella, azedas, feijões, grãos, favas,
ervilhas, rabanos, rabanetes, lentilhas, fructa, etc. etc.
Fragmento de cousa que houvesse respirado e se ti
Vesse mexido, é que alli não appareceu. No meio
do banquete, se de tal nome lhe cabe a honra, levan —
tou-se o presidente, e fez um espiche á assembléa, no
qual declarou ser vegetaiista a grande maioria da huma
nidade: dous terços a tres quartos da especie "#
exclamou o bife (que a elles declarou guerra) não co
mem carne : atreve-se alguem a dizer que se todos fos
sem vegetalistas, não podiamos andar de botas nem de
sapatos, que são feitos com pelles de animaes; essa é
muito boa ! pois a gomma elastica e a gutta-percha não
substituem magnificamente o couro? as pennas d'aço não
são muito melhores do que as de ganço? (IIa votos) Os
médicos, dizem outros, recommendão carne ás pessoas
de constituição debil; pois deixal’os recommendar; eu
digo que se a maior parte dos doentes conhecesse me,
lhor a sua constituição, só hortaliça, legumes e fructos
comeria, e com isso se daria ás mil maravilhas. Erão ve
getalistas os soldados todos dos exercitos da antiga Gre
cia e Roma; os homens de ganhar em Smyrna, que são
os mais fortes de todo o mundo, e que chegão a levar as
suas 20 arrobas em cima do espinhaço, não comem se
não pão e uvas, e não bebem senão agua. A Companhia
Ingleza da Bahia de Hudson não dá agora aos seus em
pregados que fazem o trabalho mais violento senão dous
arrateis e meio de farinha, em vez de dous arrateis de
carne que por dia lhes dava antes. » +

Estrepitosos applausos cobriram as palavras do elo


quente orador.
Duas cousas perguntarei eu: e os animaes de que se
hão-de sustentar? e aonde se hão de metter os que dentro
em pouco atulharão a terra a trasbordar ? ha de fazer
se uma cruzada contra elles ? não fº" ser, pois é por
serem obra de Deus que os vegetalistas os não querem
matar nem comer ; hão-de se deixar viver e multiplicar
*alamentº mas n'esse caso comem-nos elles a
I]OS ! . . .
Deixemos pois estar a cousa como está, que está bem.
Eu cá, em me apresentando um prato de hortaliça e
outro de carne de porco, atiro-me ao porco. •

E se ficar logar no estomago, atiro-me tambem depois


á hortaliça.
Não faço bem?
269
12 DE AGOSTO (Terça feira).
População das maiores cidades da Europa e da Ame
rica do Norte, pelos ultimos recenseamentos.
Londres....... . . 2:363.141 Veneza .......... 126.768
Paris ........... 1:053.262 Pesth ........... 125.000
Constantinopla... 786990 Praga ........... 124.184
Nova-York...... . 522.766 Barcelona ....... 120.000 .
São Petersburgo.. 478437 Genova.......... 120.000
Vienna .......... 477 546 Cincinnati. ...... 116.348
Berlim .......... 441.931 Nova Orleans..... 116.348
Napoles ......... 416.475 Bristol........... 115.000
Philadelphía. .... 409.354 Ghent ..... • • • • • • 112.41. O
Liverpool........ 384.263 Munich.......... 106.776
Glascow. ... 367.800 Bresláu ......... 104.000
Moscow. ... 350.000 Florença......... 402.155
Manchester. . 296.700 Roão.. • • 100.265
Madrid.......... 260.000 Belfast .. • • • 99.660
Dublin ...... .... 254.850 Colonia......... • 92.244
Dresde .......... 91.277
{yão ......... ... 249 325
Lisboa........... 241.500 Stockholmo ...... 90.823
Amsterdam ...... 222.800 Rotterdam....... 90.000
Havana.......... 200.000 Antuºrpia........ 88.800
Mexico........ ... 200.000 Cork ........... • 86 485
Marselha ........ 195.257 Liege ........... 77.587
Baltimore ....... 189053 Bolonha......... 76.100
Palermo......... 180.000 Liorme .......... 75.530
Roma ........... 172.382 Trieste .......... 70.846
Varsovia......... 162.597 Konigsberg ......
Leeds........... 152.000 Sheffield ...... •••

Milão ........... 151.438


Hamburgo....... 148.754
Bostom........... 136.788 Malaga ..........
Bruxellas........ 136.208 | Dantzik.........
Turim........... 135.000 Francfort..... • • •

Copenhague ..... 133.140 Magdeburgo......


Bordeus ..... .... 130.000 Bremen . ........
13 DE AGOSTO (Quarta feira).
CRENÇAS POPULARES NO MINHO. – Junto ás mon
tanhas, a pessoa que enrouquece crê que os lobos descem
da serra; e nas planicies, que a raposa anda perto, e
mais ainda que esta vio sem ser vista a pessoa cuja voz
se prende. — A cabeceira d’uma creança, que as bruxas
podem chupar, se põe uma tesoura aberta e ramos de
arruda e alecrim — A mulher grávida que n'uma procis
são consegue passar por baixo do pallio, fica certa que
terá bom-successo. — A mái que tem filho pequeno não
consente que lhe baloicem o berço vasio, pois isso o tor
naria bravo. — Duas creanças que ainda não fallão não se
devem beijar, pois se o fizéssem, não fallaria depois uma
senão quando fallasse a outra. — A mái que amamenta um
filho não deve beber quando o tiver ao peito, sob pena
de ficar com ataques epilepticos; ha todavia um remedio:
se encontra um d'estes sacerdotes novos, sahidos do povo
supersticioso, e que não perdeu as idéas que bebeu com
o leite, pede-lhe que ao acabar de dizer a missa nova
metta na bôca um bocado de pão de ló, e ficará este sen
do antídoto do mal que fez a mãi da creança — Uma rese
nha completa das abusões populares do Minho, emfim, se
ria tão dificil quanto o fôra contar as folhas das arvo
res e os seixinhos do mar. Os parochos deverião applicar
se a extirpar semelhantes prejuisos.
Obscura Portuense.

14 DE AGOSTO (Quinta feira).


PRIMEIRO E UNICO. – Gabando-se um a Jacome
Gaviceu de que era o primeiro e unico na sua rofissão,
respondeu-lhe: «Se sois o primeiro, não podeis ser o
unico; e se sois o unico, não podeis ser o primeiro.,.
Dos dous grandes pianistas, Listz e Thalberg, diz-se
em Paris que este é o primeiro e aquelle o unico. En
tende-se.
271
15 DE AGOSTO (Sexta feira).
PARMA E REMINISCENCIAS DO IMPERIO. -- Está
Parma situada n'uma planicie e cercada por grandes e
bem cultivadas campinas. Quasi todas as suas casas dão
ara canaes que lhês ministrão agua e em que ha uma
immensidade de moinhos. Uma das cousas mais curiosas
que os estrangeiros alli admirão é o toucador da Archi
duqueza Maria Luiza, ha pou
cos annos fallecida, e uma
meza toda de prata dourada e
lavrada, com um espelho em
cima, e com uma cadeira tam
bem de prata lavrada, com as
sento estufado de damasco, a
qual lhe deu Napoleão por oc
casião do seu casamento. Deu
lhe tambem então a cidade de
Paris, e alli se vê tambem
#A ainda, um espelho com duas
É columnas de prata que o sus
• tentão, assentes em dois na
vios de prata dourada e lavrada. Vê-se alli, emfim, ain
da hoje, o berço que pela nobreza de Paris foi oferecido
ao filho de Napolêão quando nasceu: é todo de prata-la
Yrada, com uma grande aguia aos pés e um docel em
fórma de corôa na cabeceira, do qual sahem riquissimas
cortinas: os balaustres que o cercão são de madre-péro
la dourada (A. 51, p. 23í. A. 53, p. 230).
16 DE AGOSTO (Sabbado).
O DIZER E O FAZER. – Um homem discreto, encon
trando-se com dois inimigos seus, e notando que um o
injuriava e ameaçava, em quanto o outro nem palavra
proferia, exclamou: « do que este diz me não receio eu,
receio-me sim do que est'outro cala. 272
17 DE AGOSTO (Domingó).
CRETINS. — A falta de nome portuguez, vejo-me
obrigado a adoptar o francez, pelo qual se designão in
numeraveis infelizes que se encontrão nas montanhas do
Tyrol e dos Alpes, e que são
da mais completa e incompre
hensivel estupidez. Raras ve
zes têem mais de 4 pés d'al
tura; faltão á maior parte os
orgãos do ouvido e da pala
vra; não têem sensibilidade
de natureza alguma e enve
lhecem antes de tempo; con
servão-se muito encolhidos
ou deitados toda a vida, ou
tros sempre em pé. Chega a
faltar-lhes o instincto dos
brutos, que sabem procurar o
sustento e evitar certos peri
gos; é preciso tratar d'elles
- em todas as operações da vi>
da, sustental'os, vestil'os. E
repellente , o seu aspecto.
peramento lymphatico, olhos
pardos e cabellos brancos. Ha por cá muito quem na par
te moral se lhes assemelhe um pouco: quanto á sua fórma
exterior, ahi fica uma amostra d’ella na gravura acima.
18 DE AGOSTO (Segunda feira).
MEIO DE EVITAR QUE o SANGUE SUBA A CABEÇA.
—Não ha nada mais simples: é pôr-se de cabeça para baixo.
Porque?
Porque o sangue então, em vez de subir, desce.
Foi com esta receita que um charlatão ganhou em
França bastantes francos.
19 DE AGOSTO (Terça feira).

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Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo ! que rosa! que filha de Deus !
Tão pállida ! ao vel’a meu ser devaneia,
Suffoco nos labios os halitos meus !

Não corras na areia, | Donzella, onde vais?


Não corras assim ! Tem pena de mim !

A praia é tão longa ! e a onda bravia


As roupas de gaza te molha de escuma;
De noite — ao seremo — a areia é tão fria ! ...
Tão humido o vento que os ares perfuma ! ...
E tão doentio ! ... | Donzella, onde vais?
Não corras assim ! | Tem pena de mim !

A brisa teus negros cabellos soltou ;


O orvalho da face te esfria o suór ;
Teus seios palpitão; a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor !

Teu pé tropeçou.... | Donzella, onde vais?


Não corras assim ! ! Tem pena de mim !

E o pallido mimo da minha paixão


N'um longo soluço tremeu e parou;
Sentou-se na praia; sósinha no chão,
A mão regellada no collo pousou !
Que tens, coração, I Cançaste, donzella?
Que tremes assim ? ! Tem pena de mim !
Sentou-se na areia que a vaga molhou
Immovel e branca na praia dormia :
Mas nem os seus olhos o somno fechou,
E nem o seu collo de neve tremia.

O seio gelou !.... Oh ! pallida ! fria !....


Não durmas assim ! | Tem pena de mim !

Dormia; na fronte que niveo suór!


Que mão regelada no languido peito !
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito !

Nem um resonar ! ... |Oh! pallida ! fria ! ....


Não durmas assim ! ! Tem pena de mim !

Aqui no meu peito vem antes sonhar


Nos longos suspiros do meu coração;
Eu quero em meus labios teu seio aquentar,
Teu collo, essas faces, e a gélida não !

Não durmas no mar ! | Estatua sem vida,


Não durmas assim ! ... | Tem pena de mim !

E a vaga crescia, seu corpo banhando,


As candidas fórmas movendo de leve !
E eu vi-a suave, nas aguas boiando,
Com soltos cabellos nas roupas de nºvº !

Nas vagas sonhando, Donzella, onde vais,


Não durmas assim ! ... | Tem pena de mim !
E a imagem da virgem nas aguas do mar
Brilhava tão brancã no limpido véu !
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!

Nas aguas do mar |Não morras, donzella,


Não durmas assim ! ... | Espera por mim ! ....
Manoel Antonio Alves d'Azevedo (Brasileiro).

20 DE AGOSTO (Quarta feira).


CHARADA.

Toda a sorte de governos }


Ella tem experimentado, / 2
E vão-lhe lá perguntar |
Qual seja o mais acertado?
Gelasino isto fazia,
ue um deus era galhofeiro:
eve a um liquido a existencia
|
}
E alegre corre em Aveiro.
Enxe a borraxa,
Faz bolinhós,
Assa chouriços,
Frita filhós,
Toca zabumba,
Toca pandeiro,
P'ra chamar gente,
O merendeiro.

N. B Esta charada é mais propria do Minho.


276
21 DE AGOSTO (Quinta feira).
MORTE, DE DEMOSTHENES. — Foi Demosthenes
(4. 53 p. 43) o maior dos oradores regos e viveu no 4.º
século ántes de Jesus Christo. Semelhante a Cicero (4.51.
20 de outubro, 4, 52 p. 80, 264, A. 53 p. 43, 138, 4.34
p. 241 A. 55 p. 267) pagarám-lhe com a morte os servi
gos que fez á sua patria.
Havendo Antipatêr sub
jugado a Grecia, foi
proscripto o célebre ora
dor, e refugiou-se na
ilha de Colónia, onde
se poz sob a inviolavel
####"
rocura-o
de Neptuno.
ahi um cha
mado Achias, que fôra
comico, e que Antipater
escolhera para executar
o mais negro designio, e
insiste com o proscripto
para que volte á Mace
donia, assegurando-lhe
que nada tem a recear,
antes será triumphal
mente recebido pelos
seus concidadãos. Des
confiado Demosthenes de
que só tinha em vista o
perverso fazel’o sahir do
templo que escolhera
- para asylo, envenenou
*º, **º*?rrer arrastou-se até aos pés do altar e expi
rou abraçado ao pedestal do seu ídoloºp ahia pouco erigi
ram-lhe os ºlhenienses uma estatua, por baixo da qual se
lia: «Se a tua força houvesse igualado a tua eloquencia,

*
"??? º macedonio marte houvera triumphado da Grécia,
22 DE AGOSTO (Sexta feira).
GOMMA ELASTICA. — Acrescentemos alguma cousa
mais ao que dissemos no dia 7 de Agosto do Alma
nach de 1851 :
A gomma elastica, ou caoutchouc, é o succo espesse
de varios vegetaes, muito differentes uns dos outros;
os que ministrão a maior quantidade do que se con
somme na Europa, são: a figueira elastica (ficus elastica)
do reino de Népaul, no alto Indostão, e o Hevoea Guya
nensis, arbusto da América meridional.
E' sabido a quantos usos tem a industria moderna ap
plicado a gomma elastica. E' com ella, dissolvida em
espirito de vinho ou em oleo essencial de terebenthina
por meio do calor, que se prepara o tafetá que serve
para os balões. Ha hoje outra substancia do mesmo ge
nero, a que se dá o nome de gutta-percha, que se em
prega em logar da gomma elastica; ignora-se a sua ori
gem, mas pensa-se geralmente que é uma variedade de
caoutchouc produzida pela figueira elastica, de que a
India tem grandes florestas, e preparada talvez por um
methodo particular.
Quanto ao modo por que se extrahe a gomma elastica
da Hevaea Guyanensis, transcreveremos o que a tal res
p;#creve
F8S]].
o doutor P., que habitou muito tempo no
«Cheguei uma noute, diz elle, a casa d'um pobre co
iono dos arredóres do Pará, que me mandara chamar
para um filho doente. A mãi estava sentada á porta,
occupada n'um trabalho que interrompeu mal que me vio:
"Pedi-lhe que me alumiasse. « Eu vou, me disse.» E foi
d'alli colher um fructo maduro d'algodoeiro com que
improvisou um pavio; pegou depois n'uma mão cheia de
sementes de mamona que tirou do pé d'uma planta;
moeu-as entre duas pedras chatas; deitou-as num cal—
deirão d’agoa a ferver que estava ao lume; escumou o
óleo com uma colher de páu; deitou-o num candieiro;
278
arranjou o pavio; accendeu-o, e appareceu a luz. De
pois de haver examinado o doente, e dito que não era
de cuidado a sua molestia, continuou a mulher a sua ta
refa. — « Que faz vossê?» lhe perguntei eu — Faço
gomma elastica, me respondeu ella : meu marido andou
todo o dia pelo bosque proximo, em busca de pés de caout
chouc, em cuja extremidade inferior fez um córte de que
sahio grande copia de seiva; eu agora é que faço o res
to. Vê estas fôrmas de-barro? metto-as dentro d'um vaso
cheio do succo liquido de caoutchouc, ponho-as depois
ao fumo """ por um fogo de madeira resinosa e
verde (ás vezes queimo-me os dedos, mas é o mesmo),
consolida-se immediamente a gomma e transforma-se
n’uma camada delgadinha; afiº"". nova porção de
seiva liquida, que igualmente se consolida, e vou repe
tindo esta operação até que chegue a gomma á grossura
# eu quero ; quebro então a fôrma em mil bocados e
ca-me só a gomma elastica. Sirvo-me ás vezes de fôr
mas semelhantes ás que os sapateiros põem dentro do
calçado, e faço por esse modo sapatos de caoutch ou *.*
Applicando o mesmo processo a uma meia cheia de
terra ou de areia e fechada em cima, obtem-se com a
maior facilidade meias de gomma elastica. •

Quasi toda a que se vendé na Europa vem do Brasil.


(A. 51 p. 249)
23 DE AGOSTO (Sabbado).
INTEGRIDADE DE TERRITORIO. — Dizia um turco
a um veneziano depois da batalha de Lepanto: « E ver
dade que vós nos haveis tomado os nossos navios, pº
rém nós vos hemos tomado a Ilha de Chypre.» — «Nesse
Caso estamos quites, lhe respondeu o veneziano, º -
«Não estamos, não senhor, lhe retorquio o turco: os mº
Vios são como, a barba do nosso Imperador que torna a
crescer quando a corta, mas as provincias são como os
*# que uma vez arrancades nunca mais tornão.»
24 DE AGOSTO (Domingo).
FARINHA DE BOLOTAS. —Tivera um grande pro
prietario em França, no anno de 1844, muito maior nu
mero de bolotas do que os seus porcos lhe comião e do
que podia vender; principiando-lhe a grelar, atirou
com uma por
ção d’ellas pa
ra um forno,
alli as torrou,
e m a n d an do
depois moe
l'as, deitou a
farinha na la
vadura do s -

porcos, que se == -

regalaram com ella, e continuando com o acepipe, dentro


em poucos dias engordaram a olhos vistos. •

Aconselhamos a receita e pedimos se nos communique


o resultado. Esperem por isso. Não experimentarão, e se
alguem experimentar nada participará.
25 DE AGOSTO (Segunda feira).

FESTAMENTO
DE EL-REI D. AFFONSO VI.

Eu fui livre, fui Rei, e fui marido,


Sem reino, sem mulher, sem liberdade :
Tanto importa não ser como haver sido ! ...
A Portugal só deixo esta verdade,
A meu Irmão só deixo este memento.
Este é de Affonso Sexto o testamento.
* * *

• 280
26 DE AGOSTO (Terça feira).
PANTHERA. — Mammifero pertencente ao genero: ga
to, e com a pelle toda cheia de pintas de diversas cô
res, pela maior
parte pretas
sobre um fundo
amarellado. A
cauda arrasta
lhe pelo chão.
E' originaria
da Africa sep
temtrional e
occidental, e
distingue-se
entre todas as
especies do mesmo genero por sua extrema ferocidade.
Asseverão alguns que attrahe a si os outros animaes com
a suave fragrancia que do corpo exhala.
27 DE AGOSO (Quarta feira).
BELGICA. — Derivão uns este nome de belgem: belli
coso; outros de: Beligio, que se diz haver sido Rei d'a
quellas partes em remotas eras. Como quer que seja, o
nome de: belgas é antiquissimo e a historia do seu paiz
famigerada em todos os tempos. No de Cesar, estendia
se a Belgica até ao Sena, e tinha por limites este rio, o
Marne, o Rheno e o Oceano, formando tudo parte das
Gallias. No tempo do Imperador Adriano acrescentou
se com o territorio dos Séquanos, dos Helvectios e dos
Lingones. Em tempos mais modernos, e até já em nos
sos dias, li## aos Paizes-Baixos, mas pela revo
lução de 1830 sacudio o jugo da Hollanda e constituio
se reino sobre si, com a fórma de governo representa
tivo que hoje tem.
#" não seja uma potencia européa, é de toda a Eu
ropa, e de todo o mundo, um dos paizes mais florescentes
e mais afortunados. É a Belgica o exemplar de que os por
tuguezes não devião nunca arredar os olhos, para se
encherem de salvadores brios e nobillissimas esperanças,
pois sem terem mais territorio do que nós, sem posses
sões ultramarinas que nós outros ainda conservamos tão
valiosas, com sólo bom mas inferior ao nosso, com um
clima que nem por sombras ao nosso se compara, sem a
variedade de exposições de que nós gosamos, sem as
vantagens geographicas que nós podemos alardear, con
visinhos de grandes industrias e grandes civilisações,
sobretudo da parte da França, com tres linguas distinc
tissimas, que são grande estorvo á sociabilidade, os bel
gas progridem de anno para anno no caminho da perfec
tibilidade por um modo espantoso, em quanto nós per
manecemos como que enraizados e petrificados. Tudo na
Belgica se nos avantaja : a agricultura, o commercio, a
industria, as artes, o movimento, o crescimento da po
pulação, n’uma palavra. Em quanto Portugal está ainda
a discutir se pôderá ter estradas, a Belgica vai coberta
de uma rede espessa de caminhos de ferro, de rios per
feitamente navegaveis e de canaes.
Se os dinheiros que entre nós não têem feito senão jo
gar na agiotagem, se a actividade intellectual e moral,
que ainda estamos desbaratando em discutir e em nos
guerrearmos uns aos outros, se vierem a empregar como
os dinheiros e como a actividade intellectual e moral dos
belgas, é infallivel, e de primeira intuição, que em pou
eas dezenas de annos Portugal sobrepujará á Belgica; e
será um dos paizes mais delíciosos de todo o globo. De
pende tudo de amanhecermos um dia com juizo.

28 DE AGOSTO (Quinta feira).


INFLUENCIA DA LUA NA VEGETAÇÃO. — Os raios
da lua, que não são mais do que reflexo dos raios do sol;
são trezentas mil vezes mais fracos do que estes. º? dá
82
a lua nem calor nem frio que se possão apreeiar. E"
por isso que os astronomos, apesar da opinião em con
trario da gente do campo, tem duvidado da influencia do
nosso satellite nas variações atmosphericas, na mu
dança de tempo e na vegetação.
Acaba, não obstante, um tal Zantedeschi de rehabili
# por meio de curiosas experiencias, o poder da casta
614S4.
Estudou a influencia de sua luz no movimento dos ve
getaes, e convenceram-no da realidade d’ella observa
ções de cinco annos nos jardins botanicos de Veneza, de
Florença e de Padua. Empregando a luz diffusa, e não
os raios concentrados n'uma lente ou n'um espelho, vio
os raios da pállida Phebe determinarem certo movimento
nas plantas de organisação sensivel e delicada; esse movi
mento foi-lhe impossivel obtelo só pela acção do calo
rico, nem n’uma temperatura igual, bem provada pelo
thermometro, nem em temperaturas inferiores e mesmo
SUl OCTIOTeS.
s plantas em que Zantedeschi mais experiencias fez,
foram as: mimosa ciliata e pudica e o desmodium gy
rans. Teve sempre cuidado de bem determinar a posi
ção dos seus pedunculos e folhas depois de expostos ao
ar livre, e notou que uma vez sujeitos á acção dos raios
lunares, se levantavão, obra de meio centinietro, os pe
dunculos do mimosa ciliata, e de tres centimetros os
do mimosa pudica. Na desmodium gyrans tambem notou
movimentos distinctos de vibração. -

Fica pois provado que exerce a lua uma acção sensi


vel na vegetação.
Ainda que os mais sensiveis thermometros não graduem
o calor do luar, ha todavia uma experiencia facil que o
prova claramente. Dois copos de igual diametro e altura,
e contendo igual porção d'agua, collocão-se tempo igual,
um ao luar e outro á sombra: a evaporação do copo ex
posto ao luar é maior, o que prova que alli era maior
#" o calor (A. 51 p. 159).
29 DE AGOSTO (Sexta feira).
ATHENEU. — Este nome com que se têem condecora
do varios institutos litterarios modernos, e alguns pe
ríodicos de igual natureza, era o de um edificio publico
na antiga Roma, fundado pelo mui letrado Imperador
Adriano no anno 135 da era christã. Alli fazião os sabios
e os poétas a leitura das suas obras em publico, afim de
as tornarem conhecidas, e mesmo de as poderem melhor
aperfeiçoar antes de as darem á luz. Na mesma casa se
davão lições de diversas disciplinas.
As leituras em publico, já practicadas entre os gregos,
não só no Atheneu as tiveram os romanos, e ás vezes
nos theatros, senão tambem nas casas de alguns cida
dãos que para isso, como se vê em Juvenal, benévola
mente prestavão as suas sallas e jardins. No reinado de
D. João V houve em Lisboa, em casa de fidalgos, varios
Atheneus sob diversos titulos; uns para historia, ou
tros para poesia. De 1852 para 1853, houve durante nove
mezes um, n’esta mesma cidade, no palacio Sarmento, á ""
Estrella, com sessões todos os Sabbados, denominados :
Saráus Artisticos, em que, perante centenares de damas
e cavalheiros, os poétas recitavão as suas composições
novas, havendo nos intervallos musica vocal e instru
mental. Muitas poesias nasceram d’estes saráus, que
aliás não haverião existido, e a idéa que ha de os resus
citar em sitio mais central, e com maior esplendor, de
ve encontrar as sympathias de todas as pessoas illustra
das e de gosto.
30 DE AGOSTO (Sabbado).
HORA, DE COMER. — Perguntaram a Diogenes qual
seria a hora melhor para comer; respondeu o philo
sopho: «Para o rico quando tiver vontade; para o po
bre quando tiver que.»
(A. 51, 27 de Junho, A. 53, p. 297. A 54, p. *984
31 DE AGOSTO (Domingo).
A ESCHOLA DA EXPERIENCIA. — Muitas mise
rias deixão de ser soccorridas dos poderosos, por
estes não fazerem idéa do que ellas são e custão. A Rai
nha D. Maria I, vendo uma vélhinha méndiga, pállida,
descarnada, e custando-lhe a caminhar arrimada ao seu
bordão, disse para as suas da
mas, toda maguada : « coitadi
nha da mulher! talvez não Pas
se de sôpa, vacca e arroz! ....
E' por isso que Gaspar Schli
ck, secretario que foi de tres
consecutivos Imperadores de
Austria, costumava dizer que
todo o Rei, antes de chegar a
sel'o, devia ter começado por
particular e pobre, porque ho—
mem que nunca necessitou de
compaixão alheia, nunca já
mais foi compassivo. Isto mes
mo declarou Virgilio quando
oz em boca da desaventurada
ainha Dido aquelle verso, que
ficou proverbial:
Non ignara mali miseris sucurrere disco.
« Quine sait compâtir aux maux qu'on a soufferts !
}
« Je connais le malheur et j'y sais compátir !...

NAPOLEÃO E BONAPARTE. — «Deixem-se lá de his


torias — dizia um sapateiro que tambem se occupava de
politica — Napoleão foi um grande homem, mas assim
"#" não chegou aos calcanhares de Bonaparte. »
1 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).
ALPEDRINHA. VALLE DA TORRE. MOEDAS RO
MANAS. — Alpedrinha, a Petrata dos romanos, deriva o
nome da palavra mourisca: Alperiade, que tambem o
deu á ribeira d'Alperiada, que banha os pés da povoa
ção pelo lado esquerdo: está situada mas faldas da Ser
ra da Gardunha, pertence ao districto de Castello Bram
eo, á Provincia da Beira Baixa, e é capital do concelho
do mesmo nome. O seu sólo é fertillissimo em azeite, vi
nho, trigo, centeio, milho, castanha, em plantas legumi
nosas e deliciosa fructa. E benigno o seu clima: treze
fontes d'aguas limpidas e saudaveis correm em seu re
cinto. O chafariz, construido no tempo d'El-Rei D.
João V, é de admiravel architectura. Muitos são os va
rões illustres que ennobreceram esta villa; estrema-se
entre elles o longevo, rico e sabio D. Jorge da Costa,
Cardeal da Curia Romana e conselheiro de D. Affonso V.
Vê-se a duas léguas ao S. E. o pequeno casal, denomi
nado: Valle da Torre, de 65 fógos apenas. Descobrio-se
nas suas immediações em Dezembro de 1849, a dous tiros
de bala de distancia, para a parte do sul, em um pequeno
valle, um deposito d'antiquissimas moédas ou medalhas,
coévas da républica romana, de prata pela maior parte, e
algumas de cobre cobertas com laminas d'aquelle metal:
têem a circumferencia d’uma moéda de seis vintens, mas
dobrada grossura; umas são perfeitamente circulares e ou
tras de figura oval e irregular. Representão heróes con
temporaneos, consules, senadores, generaes, com suas
respectivas divisas; têem quasi todas, de um lado o nome:
ROMA, e do outro as letras iniciaes do heróe. Entre va
rias que possuo, vêem-se algumas de Sertorio, que veio
estabelecer-se em Evora, e ahi se tornou célebre pelas
sanguinosas guerras que moveu aos seus naturaes e pelos
monumentos que erigio, alguns dos quaes chegaram aos
nossos dias. Admira o ver tão bem conservadas meda
lhas que datão de dous mil annos, José Ignacio cargº
2 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
REQUERIMENTO DUM POÉTA.—O poéta Poisson tí
nha um genio tão aprasivel, que por todos os grandes
era igualmente recebido com amizade. Se lhes pedia
favores, fazia-o com tal urbanidade e cortezia, que o
bem feitor, fazendo-lhe o pedido, julgava cumprir um
dever. Apresenta uma vez Poisson uns versos ao grande
Colbert, então ministro, e padrinho de um de seus fi
lhos; o ministro não acceita, dizendo que os poétas para
nada servião senão para incommodar aos outros com o
fumo do louvor; «Senhor » retruca Poisson, «por estes vos
fico eu que vos não hão-de estontear com o seu fumo.
Pessoas que estavão presentes instaram com o ministro
para que os ouvisse; por fim não teve mais remedio do
que, dar licença, mas com a condição expressa de que
n'elles não haveria louvor algum para si. O poéta co
meçou : •

Ce grand ministre de la paix,


Colbert, que la France révere,
Dont le nom ne mourra jámais,

«Não quero— interrompe o ministro— vós não eumpris


com a vossa palavra; calai-vos ou me ausento. » Os cir
eumstantes o detiveram e Poisson, tendo repetido os di
tOS VerSOS, acrescenta :

Eh bien ! tenez, c'est mon compére.


Fier d'un honneur si peu commun,
Qn est surpris si je m'étonne
Que de deux mille emplois qu'il donne
Mon fils n'en puisse obtenir un |
Colbert immediatamente lhe deu para seu filho um
#… consideravel.
3 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).
SANGUE AZEDO. — Um
borracho, sachristão de cer
ta igreja rural ás abas de
Lisboa, depois de ter minis
trado o vinho ao calix, poz
segundo o seu costume a ga
lheta á bôcca para escorropi
char. Achou o liquido tão
azedo, que fazendo uma ca
reta capaz de obrigar a recuar
uma procissão, exclamou,
menos piedosa do que bachi
camente : « Se Nosso Senhor
tinha o sangue assim, bem
fizeram os judeus em lh'o
tirar, quando não decerto
malignava.»
SANGUESUGAS. — Insectos sem vertebras e com a
órma de verme. Têem a pelle mui fina e revestida d’u
ma substancia mucosa, e um orificio em cada uma
das extremidades, guarnecidos ambos elles d’uma espe
cie de ventosa que se applica exactamente ao corpo. E'
por meio d'um musculo particular que as sanguesugas
operão um vácuo e adherêm com tanta força á pelle. Os
dentes do animal são pequenas cartilagens dispostas em
fórma de triangulo; é esfregando-os por cima da pelle,
que acaba em fim por fural'a.
As peóres sanguesugas são as de sitios pantamosos.
Ha-as de duas qualidades, pretas e verdes. Apanhão-se
mergulhando na agua, ou apresentando-lhes fragmentos
d'animaes. Antes de as applicar á pelle convem deixal'as
algum tempo fóra d'aguá e limpal'as bem com um pan
no bem secco e bem macio.
(A. 51, 24 de Outubro).
288
4 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).
CATARACTA DE NIAGARA. — Este nome, que recorda
o de uma tribu india que a civilisação fez desapparecer
do sólo da America, é ainda hoje o de um canal pelo qual
vão as aguas do lago Erié lançar-se nas do lago Ontarios
E' famoso pela cataracta que tem no meio, cuja extensão

é de mais de 660 metros (perto de 3,000 pés) e se despe


nha da altura de mais de 50 metros em um horroroso
precipicio. Ouve-se o estrondo a muitas léguas de dis
tancia. E' aquella a pintura fiel da célebre cataracta.
O Niagara separa do Canadá o estado de Nova-York.
"#" Vezes hão sido testemunhas as lº margens
1
de terriveis combates entre os inglezes e os americanos,
e são provavelmente destinadas a servirem, em praso
mais ou menos remoto, de theatro para a grande #
que arrancará o Canadá á Ínglaterra.
5 DE SEPTEMBRO (Sexta feira).
LAGO DE ENXOFRE. — E' assim que um viajante
descreve o que ha pouco observou, a 10 léguas de Fill
more, na California:
« O gaz hydrogenio sulphuroso que d’elle, se evapora
incommoda immenso. Tem uma pequena milha de dia
metro e coberta a superficie inteira por uma camada de
enxofre e alumina (base da pedra hume) mui impregna
dos em acido sulphurico. Ouvimos distinctamente um
estrondo subterraneo, attribuido por alguns a fogo inte
rior; cavando porém no proprio sitio d’onde vinha, re
bentou um jorro d'agua, de 18 pollegadas d'altura, e em
que havia algum acido sulphurico, formado pela acção
volcanica: era produzido o estrondo pela evaporação
d’este gaz. Em muitos logares vimos enxofre amontoado
em grande quantidade e em outros pedra hume. Ao an
dar-se por cima d'aquillo, cede como gelo de pequena
consistencia, o que faz pensar que aquella camada está
cobrindo um lago consideravel de iguaes substancias em
perfeita liquidez.
A, pouca distancia crescem pinheiros e carvalhos de
prodigiosa elevação, mas nas margens do lago não se des
cobre vegetação alguma. As collinas proximas são com
postas de carbonato de cal produzido pelo fogo sub
terraneo. Com uma pouca de imaginação e por uma
noute escura, pode-se julgar que é a entrada do in
ferno. »
Não vou lá.

GRATIS. — E' uma palavra tão estranha aos nossos


costumes, que foi preciso ir buscal’a ao latim. 290
6 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
A CEHEE-3EEEIRA ME SPLAG, RGSA.

Tal e qual me foi contada Perdera todo o appetite,


Esta antiga tradição, Já nada a satisfazia,
Dil'a-hei, que não é longa, Quando a freira, de cerejas
Como quasi todas são. Se lembrou um certo dia.

No tempo em que o nosso Rei Porém cerejas no inverno!..


Era Afonso o Bolonhez, Quem pode dar tal presente?
Arranjou-se muita igreja, Só Leonor, que n'alma abriga
Muito convento se fez. Uma fé pura e ardente.
Té Leonor, sua filha, A cerca desce veloz,
Em Santarem professou E junto a uma cerejeira
No das Claras, que devoto Põe-se em fervente oração
O Soberano fundou. Pela sua companheira.
Lê-se nos livros d'então, Eis que a arvore estremece;
Que mal para alli entrara, Como em julho se atavia;
O seu semblante mavioso As cerejas erão tantas
A todos avassallara. Que nem com ellas podia!...
Não era seu nascimento Divulgou-se o caso, e todos
Que a tornava superior ; Disseram que Leonor
Não era, pois cá da terra Era mui visivelmente
Não vivia Leonor. Protegida do SENHOR.
Em suas fallas modestas A cerejeira cresceu,
Não mostrava ser real; Tornou-se ainda mais bella,
O seu todo revelava Até que máo impiedosa
Uma origem divinal. A prostrou, deu cabo d'ella.
Estando uma irmã doente |Ha pouco mais de vinte annos
No seu convento das Claras, Quê com desgosto geral
Buscavão para allivial'a, Deixou de ser do convento
Mas # COU SaS I3F3.S. O orgulho principal.
291
Desde então desappareceu Hoje cresce em seu logar
O monumento sagrado Uma fresca laranjeira,
Desse milagre tão grande Que em vão pretende apagar
No convento praticado. A idéa da cerejeira.
Por quem fosse esta plantada
Lá nas antigas idades,
Não o sei, mas o que é certo
E que deixou bem saudades.
Mathilde Coelho Pestana.

7 DE SEPTEMBRO (Domingo).
/

MOLESTIA DAS VINHAS. — Parece fóra de duvida


que a molestia hoje denominada: Oidium tuckery já em
séculos antigos acommettera as vides, sem que todavia
se possa dizer ao certo quando foi.
«Na Ilha da Madeira, descoberta em 1419, encontra
ram-se titulos de propriedade acautelando o caso de ap
parecer a « mangra » descripta como «bolor » que dava
fidS UlV8S.
«Em Villa Real tambem se achou um praso que impu
nha a obrigação do pagamento de certo fôro em vinho,
no caso de não dar o « cinzento » nas uvas.
«Em certa camara do Douro tambem exíste um titulo
IRO #se provê o caso de dar o «bolorento » nas uvas.
«Estes titulos são do século XVI. Pode por tanto con
cluir-se que a molestia já existio e que não destruio as
Vinhas, e deve-se por isso esperar que passados alguns
annos para que se restabeleção, recoperarão o seu anti
go viço. »
sosEm todo o caso
lavradores. animem-se com esta esperança os nos

ALBARDA. — E o nome que se deve dar á casaca de


IlluitOS.
292

8 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).


FRANQUEZA DE CRIANÇA. — «De quem é mais ami
go, meu menino, do papá ou da mamã?» — «O mesmo. »
E' uma pergunta e uma resposta que todos os dias se
estão ouvindo. A resposta sobre tudo é sempre dada
pelas mesmas palavras, o que # que é innata no
coração humano, não sei se a delicadeza se a falsidade,
inclino-me porém a crer que a falsidade.
Com uma criança de 5 annos tive eu, não ha muito, um
dialogo sobre o mesmo objecto, e quando eu pensava tel’a
enrodilha
do, venci
do, e obri
ado a con
eS S 8 T a
- sua prefe
#\{ rencia pe
à lo pai ou
Q) pela mãi,
9 fugio-me
COII1O UIT13.
enguia, e

ir apanhado:
— « De quem é a menina mais amiga, do papá ou da
mamã ? »
— « O mesmo. » •

— «Sempre hade ser mais amiga d'um ; de qual é ?


diga, que eu guardo segredo.... »
— «O mesmo. »
— « Ora diga-me uma cousa; se tivesse um bolo muito
bom, muito bom, a quem o dava, ao papá ou á mamã?»
— « Comia-o eu. »
#" a pergunta e respondeu com graça,
9 DE SEPTEMRRO (Terça feira).
JORNALISMO INGLEZ. — Consta dos documentos pu
blicados biº arlamento qual o numero total de exem
plares pu licados por cada jornal inglez durante o se
gundo trimestre de 1854:
Sun . . . . . . . . . . 192,000
Globe . . . . . • . . 195,000
Evening Mail. . . . . • 200,000
Morning Post. . • . . 226,000
Morning Herald. . . . . . . 299,000
Bell's Life London. . • • 313,000
Daily News . . . . . . . . 346,044
Weekly Dispatch . • • • 490,517
Morning Advertiser . 608,000
Reynold's Weekly. . .
Weekly Times .
ilustratédiondon News.
News Of the World. . . . 1755666
Lloyd's Weekly London. . 1:469,000
Times - - - - - - . 3:976,720
Q numero total dos jornaes que se publicão em Lon
dres, é de 154,
O Times pagou de sello n'aquelle trimestre setenta e
dous contos de réis aproximadamente; deve por tanto
pagar por anno, tambem aproximadamente, 288 contos !
10 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).
UMA POBRE QUE COM TUDO SE CONTENTA, — Ao
passar ha uns dias pelo Chiado, ouvi o seguinte dialogo:
Meu querido fidalgo, uma esmolinha pelo amor de
Deus ! ...
Perdôe, irmã, não tenho cobre.
9 meu senhor, eu tambem acceito prata!...
E recebeu uma pratinha, que a merecia.
294
11 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).
OURO. — E o mais perfeito e o mais precioso de todos
os metaes; o que reune mais propriedades uteis e agra
daveis, sem uma só qualidade prejudicial. E duas vezes
mais pesado do que o cobre. Brilha menos do que o aço
e a prata. E' mais difficil fundil’o do que este ultimo mê
tal. E imalteravel ao ar. Os acidos não o atacão, excepto
quando se põe em contacto com uma mistura d'acido
azotico e d’acido chlorydrico; então dissolve-se. E por
tal modo tenaz e ductil, que se pode reduzir a laminas
e a fios delgadissimos. Com um só ducado poder-se-hia
dourar uma estatua equestre de dimensões ordinarias;
com 50 grammas d’ouro, o que anda por uma decima par
te d’arratel, poderia fazer-se um fio de 73 léguas de
eomprimento. Dous arrateis d’ouro puro valem 3,444 fr.
ou 600 e tantos mil réis. Acha-se nas areias dos rios e
nas montanhas de varios pontos de França, da Hespa
nha, e particularmente do Mexico. As minas d’ouro que
na Europa se explorão hoje com mais beneficio, são as
da Hungria e as da Transylvania. Não se emprega no
fabríco do dinheiro e de joias senão em certa liga com
prata ou cobre, que o tornão mais duro. Nas moédas
d'ouro francezas entra um decimo de cobre. Quando se
liga com certa proporção de prata, fica esverdinhado.
Era representado o ouro, sob a figura do sol, pelos
alchimistas.
Nas minas da California, quem não tem ouvido fallar
centenares de vezes? (A. 52, p. 195) §

VIDA D’UM HOMEM — Nasce, chora, mama, puchão


lhe as orelhas na eschola, leva depois cacholeta, emba
gão-no, casa e mais embaçado fica, transforma-se em bur
ro de carga, sustenta a familia, ouve berrar os peque
nos, envelhece, limpão-lhe a baba, morre, enterrão-no, e
fica de menos um martyr e um pedaço d'asno (Anonymo).
# }3
Eu no seu logar também não assignava o artigº.
12 DE SEPTEMBRO (Sexta feira).
CEIA MAGESTOSA. — Um camponez que se emprega
ra em procurar ouro nos montes Karpathes, na Transyl
vania, regressou a casa na noute de natal com um sa
quinho d’ouro em pó. Dando-lhe a mulher para cear
um bollo de farinha de mi
lho e papas, começa o alar
ve a comer com grande ap
petite e logo em seguida ex
clama : «Para que sou eu
rico ? adubemos este man
jar de modo que fique mais
precioso do que todos
quantos até hoje têem si
do servidos em mezas de
Principes. » Palavras não
erão ditas, lança por cima
das papas de milho uma
grande porção d’ouro em pó, e assim as come todas aca
bando até por lamber o prato. D’ahi a poucos minutos
sente violentas dores de estomago e no fim de duas
horas era cadaver.
Pois não fosse tolo!...

13 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
REMEDIO PARA OS OLHOS. — Um homem que an
dou doente dos olhos por muitos mezes, dado a curativos
que o ião cegando de todo em todo, entregou-se a final só
á natureza e poz-se bom; pelo que se não cançava de re
petir que a unica receita que a experiencia lhe havia
provado ser eficaz para a vista era fugir de pôr os olhos
em cousa que se parecesse com médico, cirurgião, ou
boticario.

HONRA. — A mais elastica de todas as *aos


14 DE SEPTEMBRO (Domingo).
UM POÉTA BRASILEIRO. — Conheceis nada mais trfs
te do que um poéta, que morre na aurora e no brilhan
tismo de um esplendido futuro ? Dar de face com um
cypreste, gemendo lugubremente sobre um tumulo,
uando se esperavão encontrar corôas de louro e grinal
as de flores, não é por ventura um espectaculo desola
dor ? — Para que veio a mão da morte pousar sobre a
fronte altiva do que anceava conquistar a gloria ? Que
sonhos phantasticos, que ignorados poemas, que des
lumbrantes inspirações, não pereceram com esse ente
pálido e moribundo, despedindo-se entre lagrimas, dos
affectos que mais o prendião na vida ? — Manoel Anto
nio Alvares de Azevedo, poéta brasileiro, cujas poesias
posthumas viram a luz em 1853, no Rio de Janeiro, era
um talento de primeira ordem, uma d’aquellas vocações
omnipotentes, que revelão desde o berço os fecundos
dons do genio. Morto em 1852, só um anno depois é que
o Brasil poude deplorar a perda d’uma das suas mais es
perançosas illustrações. — E o poéta tinha o presenti
mento da sua morte prematura; entre os delirios da sua
alegria, vem sempre pousar um pensamento melancholi
co, uma vaga aspiração de lº a sua passagem na ter
ra hade ser fugitiva e rapida. — A sua perda é d'a
quellas que se devem deplorar, como um funesto acon
tecimento para a situação e progresso das letras. Era
um talento innovador, que não imitária a sua ambi
ção a percorrer as veredas conhecidas, que alcançaria
novos horisontes, impellido pelo fogo da sua inspiração
e tambem pela madureza dos seus estudos. — Havoca
ções, que reproduzem os prodigios das sibyllas antigas.
Prophetisão involuntariamente sobre a trípode, e dei
xão-se arrastar pelo enthusiasmo das suas proprias
palavras. O joven poéta não cantava sómente para que
as turbas se deixassem commover #" harmonia dos
seus cantos; cantava, porque lhe ardia no peito um fogo
devorador, porque a sua alma ébria e palpitante lhe
accendia a imaginação, e como lhe intimava que tra
duzisse aos outros a magia dos seus sonhos, o fervor
dos seus desejos, o esplendido irradiar da sua esperança.
Lopes de Mendonça.)
N.B. A pag.274 se lê uma bella poesia do distincto poéta.

15 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).


TRANÇA MONSTRUOSA – Trancreverei o que do Rio
de Janeiro se me escreveu o anno passado :
« Visita-se aqui um fenomeno estupendo. Ha na rua do
Ouvidor um cabelleireiro francez, Beaum eley, que tem
exposta por traz das vidraças, e serpenteando de modo
que as encaixilha, uma trança de cabello, de quatorze
palmos e meio de comprimento !!! é castanho escuro,
e apertado nas mãos dá um circulo de quasi 6 pollegadas.
Todos os dias está atulhada de gente a frente da loja.
Passando eu por alli hontem, e mostrando-me um pouco
incrédulo, pedio-me Beaumeley que entrasse, e com mui
ta # poz á minha disposição a trança, que
examinei, apalpei, e reconheci que não estava emenda
da em pouto algum, como desconfiava.
Tem apparecido nos jornaes varios artigos a tal res
peito. Dizem alguns que não deve semelhante riqueza
sahir da terra a que pertence (pois se sabe que Beau
meley ha pensado em remetter este phenomeno para a
exposição de Paris) e por isso aconselhão ao governo que
compre a trança: assevera-se que oferecera este já se
te contos de réis, o que Beaumeley recusou, declarando
que a não daria por menos de 35 contos.
E' esta a história da trança, Indo Beaumele) fazer
uma jornada pela provincia de Minas, chegou a Mariam
na, é ahi lhe fallaram na assombrosa trança de cabello
de certa mulher pobre. Não descançou em quanto a não
vio. Ao entrar em casa da mulher, julgou que tinha uma
canastra á cabeça, como bem se avaliará quando se #"
ber que, muito apertado, dava o cabello, sobre a cabeça e
sobre si mesmo, dezaseis voltas, que lhe transformavão a
bola em uma roda de carro, e resolveu logo não sahir d’alli
sem se apoderar da trança: depois de muito regatear,
conseguio compral'a por 500$000 rs., com a condição
de lhe dar um chinó perfeito, contracto que immediata
mente foi levado a efeito.
A mulher tem hoje 36 annos, idade em que raras vezes
se conserva a trança farta.
Fallando eu a Beaumeley na desproporção entre a
quantia por elle dada e a que ora pede, respondeu: «Ob
jectos de certa ordem não tem valor de tarifa ; todo elle
é de estimação: muitos diamantes ha pelos quaes se dão
duzentos contos, e entretanto ha uma grande quantida
de de pedras d'essas, em quanto uma trança como esta,
nem a ha, nem nunca a houve no mundo ; não se ad
mire pois se no primeiro momento eu estava inclinado a
dal'a por seis contos, e agora já a não dou por menos de
35, e se d’aqui a pouco recusar talvez por ella cem con
tos de réis ! ... »
E' de crer que não tivesse animo para tanto !..
Francisco José d'Oliveira Sampaio (Brasileiro).
16 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
AURORA BOREAL. — São as auroras boreaes o mais
bello espectaculo da natureza. E' nas regiões pola
res, no meio das compridas noutes d'inverno, que se
ostenta com todo o seu brilho e magnificencia. A clari
dade boreal é quasi sempre permanente em quanto o so1
se conserva abaixo do hôrisônte; é provavel mesmo que
para quem se colocasse exactamente no polo, seria qua
si sempre illuminada a noute de seis mezes pelos ma
gnificos reflexos da aurora boreal.
A historia d’este phenomeno remonta a Aristoteles,
que o compara á claridade d'um incendio. Muitos o to
"#" por manifestos signaes da colera divina. Não se
sabe até hoje a causa das auroras boreaes, mas parece
achar-se sujeita aos movimentos geraes de rotação e
translação da nossa atmosphera e ao magnetismo ter
restre (A. 51, 27 de Dezembro).
17 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).
A MISSAO DO CHRISTIANISMO E AS ORDENS MO
NASTICAS. — Não posso resistir ao desejo de transcre
Ver outro eloquentissimo trecho do ultimo sermão do
actual Bossuet brasileiro, Fr. Francisco de Monte Al
Verne, trecho relativo á missão reservada ao christianis
mo, e ao modo por que a têem seguido as ordens monas
ticas e as instituições de caridade.
«O philosophismo pode cuspir n’esses homens que
sacrificaram o seu socego em prol de seus irmãos, fun
daram cidades populosas, lançaram pontes sobre os abys
mos, erigiram hospitaes, edificaram hospicios no pin
caro dos Alpes, afim de arrancar á morte desgraça
dos engolidos pelas neves, votando-se elles mesmos a
uma inevitavel morte; mas o christianismo, na sua im
Zmensa caridade, virá em auxilio do genero humano; es
# seus desvarios, e dissimulando suas levianda
es, fornecerá recursos valiosos que reparem seus de
sastres. Ahi tendes a historia, ahi estão documentos irre
fragaveis para comprovar esta verdade. Os Benidictinos
recolhem nas summidades do Cassino as reliquias da
sciencia e o sobejo das artes escapado ao vandalismo e
ao machado dos barbaros. Os Dominicos afugentão com
seus escriptos a depravação e a ignorancia de que se
resentia a idade média. Os Padres Trinos occupão-se
em resgatar os captivos christãos que gemião nas mas
morras de Argel, nas prisões de Tripoli, e nos banhos de
Constantinopla, em face das nações civilisadas. Os Fran
ciscanos guardão depois de séculos esses mesmos Loga
res Santos que a Europa inteira não podera conservar
álem de oitenta annos, a despeito de suas "#"
cruzadas. E quando as lavas do volcão revolucionario,
fomentadas com as doutrinas de Epicuro, propaladas nos
salões de Paris, nutridas com as producções do atheis
mo, elaboradas nos antros obscuros do Barão de Hol
bach, queimaram em 1793 esses troncos seculares, cujos
ramos frondosos havião abrigado a França; as institui
ções verdadeiramente divinas do santo immortal Vicen
te de Paulo, as creações sublimes do Padre l’Epée e do
Abbade Sicard, reunindo milhares de meninos é virgens
expostas á corrupção e á miseria, surdos-mudos de
nascença votados ao idiotismo, e centenares de pobres
desvalidos, victimas da avareza e da insensibilidade dos
ricos, não deixaram mais duvida que ao christianismo
está reservada a missão perpetua e generosa de adoçar,
de minorar, os males da especie humana.» (A. 56, p. 253).

18 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).

SACCO D'ORELHAS. — Usão os turcos de um singu


lar modo de dar conta dos
cavallos mortos no serviço
militar. Um dos encarregados
d’este ramo veio ultimamen
te a Scutari, com um gran
de sacco trazido por dous
soldados, e assim disse ao
Intendente militar: « Morre
ram 200 cavalios; aqui está
a prova.» E despejado o sac
co, foram contadas 400 ore
lhas de cavallo, de todas as
côres e de todos os tamanhos.
Se os taes Intendentes mi
litares se contentão com pro
vas semelhantes, nem por is
so são lá muito fortes em logical nem em senso commum!
301
19 DE SEPTEMBRO (Sexta feira).
RELOGIOS DE SOL. — São de antiquissima data.
D'elles faz menção a Escriptura no Livro dos Reis Cap.
XX e em Isaias Cap. XXXVIII, referindo-os ao anno 742
antes de Jesu-Christo. .
O primeiro que appareceu na Grecia foi o de Anaximan
dro, em Lacedemonia, 545 annos antes da era christã.
Entre os romanos não se sabe quando principiaram.
Diz Plinio (auctoridade das mais suspeitas, pois foi o
almocreve das petas do seu tempo), que Papirio Cursor
introduzio em Roma o primeiro relogio de sol no an
no 306 antes de Jesu-Christo. D’ahi a 30 annos appare
ceu outro no Foro, trazido de Catania, na Sicilia, por
Valerio Messala. Havia alli, um pouco mais tarde, em
todas as casas opulentas, um escravo especialmente in
cumbido de ir ás praças publicas saber a hora que
marcavão os relogios de sol já então estabelecidos em
quasi todas ellas. E quando o escravo se demorava no
caminho?... |

20 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
SUPERIOR A ACHILLES.— A fabula da invulnerabili
dade de Achilles é nada se se compara com a historia do
nosso valoroso Duque de Saldanha. Não ha nos 365 dias
do anno um só que não esteja marcado com a commemo
ração de alguma batalha, acção, refrega, ou escaramuça,
em que elle entrasse ; muitos dias mesmo resão de mul
tiplicados conflictos seus em diversos annos. Cousa po
rém prodigiosa ! expondo-se como tantos centenares de
vezes se tem exposto, tendo-lhe as ballas morto ou fe
rido gravemente, ora alguns dos seus ajudantes d'or
dens, ora todos, e por mais d'uma vez o proprio cavallo
que elle montava, o Duque nem levemente foi já mais fe
rido! Todas as balas, ainda as que mais intencional
Inente se lhe dirigem, trazem no sobrescripto o Guarde
Deus muitos annos, posto pela mão da Providencia!...
21 DE SEPTEMBRO (Domingo).
A CER H."Z EP O FBKESERTO.

Salve, ó Lenho sagrado, Se raras vezes o crente


O cruz do meu Redemptor, Te adora n'esta aspereza,
Arvore santa e frondòsa, Tens, na falta do seu culto,
Fonte de vida e de amor ! O culto da natureza.

Fólgo de ver-te no altar, Louva-te a aurora nascente,


E sobre a torre hasteada, O sol, o ar espaçoso,
E adereçada de flores A clara, radiante estrella,
Erguida á beira da estrada. Da noute o astro formoso;
E no domestico lar, E a nuvem que cruza os ares,
E na ermidinha do monte, Pelos ventos impellida,
E á sombra de annoso freixo E das aves solitarias
Collocada ao pé da ponte. A voz magoada e sentida;
Mas que estremecer de fé, }E o tenro musgo que veste
Que mystica sensação, O teu pedestal no outeiro,
Quando deparo comtigo E a bella rosa serrana,
No meio da solidão!... E o verdejante pinheiro.
Salve, ó Lenho sagrado, Retirada do tumulto,
O cruz do meu Redemptor, E das pompas da cidade,
Arvore santa e frondosa, Esperas alguem que passe,
Fonte de vida e de amor. Para inspirar-lhe piedade.
No retiro, és como a estrella Eu te adoro recolhido ! ...
De brilhante formosura, No mundo da solidão,
## Scintilla graciosa
ntr’os véus da noite escura.
O homem é mais de Deus,
Mais de Deus seu coração.
És um pregão eloquente, O meu fugio para o céu,
Um livro patente e aberto, N’este serro mal te vi;
És a linguagem do céu, Não sonha cousas do tempo,
A Voz de Deus no deserto. Parece outro ao pé de ti.
303
Longe d'aqui os vãos risos, Mas o sol retira; o rosto
Longe as alegrias vãs: Já esconde atraz do monte,
De meus olhos se deslisão E quasi mortos tremulão
Duas lagrimas christãs. Os seus raios no horisonte

Fica-te em paz, lenho santo,


Com saudade vou deixar-te ;
Com saudade muitas vezes
Virei aqui visitar-te.

Francisco Raphael da Silveira Malhão.

22 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).


CARRUAGENS ARMADAS EM GUERRA. — Estão-se
actualmente fabricando
em Paris, para grandes
figurões de Montevideu,
carruagens elegantes ar
madas com peças d'arti
lharia da pequeno cali
- => \\ bre, para repellir os ata
=> >>>>>> * ques dos ladrões que in
festão os arredóres d’aquella capital.

ARCA DA ALLIANÇA. — Foi o nome que se deu á que


Moysés construira por ordem de Deus, aos pés do Monte
Sinai, e em que estavão depositadas as taboas da
lei, a vara d'Aharão, e um vaso cheio de manná do
deserto. Tinha dous cubitos e meio de comprido So
bre um e meio de largo. • • • •

Acompanhava para toda a parte o povo judaico, pois


a considerava como symbolo da presença divina e pe
nhor de victoria.
304
23 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
ESTRELLAS CADENTES. – Um dos mais extraordí
narios phenomenos, e dos que menos até hoje se expli
cão, é essa frequente e subita apparição de corpos lumi
nosos, que se nos figurão estrellas cahidas do firmamen
to. D’onde vem ? que são ? é cousa que ninguem sabe,
e sobre que só se fazem conjecturas. Numerosas obser

vações em França, e particularmente em Paris, tem da


do a certeza de que o numero d'esses asteroides, bastan
te limitado nos primeiros seis mezes do anno, augmenta
progressivamente n'aquelle paiz até 10 d'agosto, dimi
nue depois, e augmenta de novo até 13 de novembro.
Nas duas noutes de 10 a 11 d’agosto, e de 12 a 13 de no
305
vembro, succedem-se uns aos outros com tão curtos in
tervallos, que parecem formar uma chuva de fogo; o nu
mero d'elles em novembro de 1833 foi tal, que se ava
liou em mais de 500,000. O astrónomo Coulvier-Gravier,
que ha muitos annos passa as noutes a observar estes
corpos luminosos no Observatorio de Paris, dirigio ha
pouco á Academia das Sciencias o resultado de suas ul
timas observações. A 18 de junho vio 5 por hora, a 10
de julho, 7; a 13 de julho, 10; a 21 de julho, 15; a 2
d'agosto, 34; a 6 d’agosto, 46; a 10, emfim, 63. A 13
d'agosto já o numero diminuia sensivelmente e era só
de 43. Nada tem de extraordinario o maximum d’este
anno, comparado com o dos precedentes. N’aquella mes
ma noute de 10 d'agosto em que se observavão 63 d'aquel
les meteóros no Observatorio de Paris, erão observados
no mesmo espaço de tempo 64 no de Bruxellas, e todos
parecião lançar-se do mesmo ponto do céu.
Por muito tempo se julgou serem devidas estas repen
tinas apparições a vapores inflammados e dissipados na
atmosphera; pensão hoje porém diversos astrónomos
de primeira plana, que são pequeninos astros, gravitan
do em numero consideravel, e n'uma orbita commum, á
roda do sol. Imaginão outros que são aérolithes, ou pe
dras cahidas do céu. Attribuem outros, emfim, a sua ap
parição a phenomenos electricos.
(A. 51 19 de Fevereiro e 21 d’Agosto A. 54 p. 162, 324)

24 DE SEPTEMBRO (Quarta feira).


BAIXO RELEVO. — E' uma obra de esculptura em que
as figuras pouco resahem do plano. Segundo Plinio foi
Phydias quem inventou este gênero, e seu discipulo Po
lycletes quem o aperfeiçoou. Na mais alta antiguidade
erão os baixos relevos pintados a côres. Ser de tempos
immemoriaes a arte de ôs fundir de metaes, se colhe do
que Homero diz sobre o escudo de Achilles. 306
25 DE SEPTEMBRO (Quinta feira).
ESPIRITO RELIGIOSO DOS HABITANTES DE BEN
GUELLA. —A 23 de Septembro de 1854 chegou alli o Re
verendo Padre Manoel Monteiro de Moraes, mandado
pelo Bispo d'Angola para Prior encommendado da fré
guezia de Nossa Senhora do Populo, depois de se ha
ver estado sem Parocho por espaço d'alguns 6 mezes!!...
O Governador Amaral mandou salvar a fortaleza de
S. Filippe com sete tiros ao desembarque do prelado, e
a Camara Municipal e os habitantes pozeram luminarias.
No dia 24, sendo domingo, foram a maior parte dos
moradores á missa, por convite da Camara (antigamente
não se ía á missa), e tem continuado de então para cá a
frequentar os oficios divinos. •

O Padre Manoel Monteiro de Moraes, se bem que preto,


é um sacerdote de comportamento exemplar e a quem
todos respeitão por suas virtudes.
26 DE SEPTEMBRO (Sexta feira).
IMPERADORES ROMANOS — Dos 62 Imperadores
que reinaram desde Cesar até Constantino, 42 foram as
sassinados ; suicidaram-se 3; abdicaram voluntariamen
te, ou foram a isso obrigados, 2; foi morto um n'uma re
volta; outro foi afogado; morreu um na guerra, outro
de morte desconhecida, e só onze falleceram de morte
natural.
Havendo sido de 819 annos o periodo decorrido desde a
morte de Cesar até á elevação de Constantino ao throno,
foi de 5 annos e 2 mezes a duração de cada reinado. Se
se compara com a dos reinados modernos, acha-se uma
grande diferença a favor dos ultimos.
SEGREDO. — Segredo de tres, segredo de todos, dizia
Santo Agostinho. E o mesmo que diz o nosso rifão: se
*# de tres o diabo o fez (A. 53, p. 314).
27 DE SEPTEMBRO (Sabbado).
TESTAMENTO ORIGINAL. — Foi este o de José Victo
rino Ventura Pinheiro, ha pouco fallecido no Brasil:
«Como sempre tractei o meu corpo, que é alguma cou
«sa, com pouco melindre, não posso auctorisar a que se
«ja tractado com luxo o meu cadaver, que será nada, nem
« a satisfazer a vai
« dade dos vivos.
«Meu cadaver será
« vestido como cos
« tumo andar em
« casa e depositado
« em um caixão dos
« de menos preço.
«Não quero arma
«ção de qualidade
« alguma, nem mes
«mo banqueta, e
«menos ainda to
« cheiros, porque o
« meu cadaver não
«precisará de lu
«zes e tão altas;
«bastará o crucifi
«xo com quatro lu
«zes sobre uma
« meza, e o meu
« cadaver para um canto no logar mais retirado, pois re
«pugna-me a idéa de collocar-se ao pé da imagem do re
«presentante do Ente Supremo uma pouca de terra em
« corrupção, e que da maneira que tenho constantemente
« visto, está representando como idolo, e parece que tu;
«do o mais é accessorio. E porque será indispensavel
«que o meu cadaver seja levado ao cemiterio, será isso
«feito em uma conducção de menos preço, pois não me
« importarão balanços nem quedas. »
308
28 DE SEPTEMBRO (Domingo).

CHARADA.

Quando a mente me acomette


Uma idéa de pavor, 1
O meu semblante a reflecte,
D'alvo objecto assume a côr.
Um titulo igual ao meu
#3 Mulher nunca apresentou; (3
. Foi para elle que o céu
Previdente me criou.
Na caverna
Mais interna
Tem Eolo aferrolhados
Os euros desatinados,
E nem sequer uma brisa,
Bem precisa,
Se deslisa
Pelos mares socegados
Inda agora encapellados
Pela tormenta cruel:
Junto ao leme
Nada teme
O piloto, que inda ha pouco
Se esforçava, aflicto e louco,
Por salvar o seu baixe].

A. M. C.

oRGÃO DESCOMMUNAL. —0 de Winton, na Ingla


terra, tinha 26 folles a que davão 70 homens, que de
vião ser robustos, e que ficavão a suar em bica.
309 (4.53, p. 353. A. 56, 230)
29 DE SEPTEMBRO (Segunda feira).

#A#ENTOS,
Nº UMEI ALBUM H.

La fleur tombe em livrant ses parfums au zéphyr.


LAMARTINE (L’Automne).
Tu queres, donzella, que em folha mimosa
Gravada te deixe symbolica flor ?
Eu pobre não tenho sequer uma rosa
De fresco perfume, de candida côr...
Se flores um dia viçosas me viste,
Pendidas, mirradas, e em cinza já são !
Dar flores não pode quem sempre tão triste,
Tão fertil de magoas, tem seu coração.
Das flores que outr’ora em gentil mocidade,
Tão ébrio de esp'ranças na mente criei,
Só guardo em meu peito sombria saudade,
Mas esta saudade... jámais deixarei!..
Das outras só tenho vestigios cruentos,
Agudos espinhos d'infindo pungir...
Mais nada me-resta !... sentidos lamentos,
Em vez d'essas flores, só posso espargir.
S. P. M. Estacio da Veiga,
ECÓNOMIA.— Era maxima de um homem, que de sum
ma pobreza em que nascera chegou a grandissima fortu
na, e n’ella se manteve até ao fim: ganhar dinheiro é fa
eillimo; quasi toda a gente o sahe e muita o põe por obra;
a difficuldade, o essêncial, o que para quasi todos é he
braico, é a arte de o conservar.
310
30 DE SEPTEMBRO (Terça feira).
{'ONJURAÇAO DOS TAMOIOS. – O Brasil, cujo de
senvolvimento moral e material se torna de dia para dia
mais accelerado e prospero, exerce na realidade uma in
fluencia tão importante nos destinos da América do sul,
que quando mesmo não tivesse com Portugal estreita in
timidade, não lhe podia ser indiferente a marcha sen
sata e liberal da sua politica, a reforma das suas insti
tuições, e os progressos admiraveis do seu commercio e
da sua industria. — D. Pedro II é sem duvida um dos
monarchas que com mais gloria tem cingido n’este sé
culo o diadema da realeza. A sombra do seu manto pro
tector, as artes, as sciencias, o talento e o infortunio, en
contrão sempre um abrigo seguro e magnanimo. A sua
vasta e profunda intelligencia dirige realmente do alto
do throno a sorte do inimenso e brilhante imperio que
lhe confiou a Providencia ! O amor de seus subditos, o
respeito e a admiração dos estrangeiros, são provas in
contestaveis da justiça do seu reinado, cujos fastos glo
riosos a historia registará com orgulho.— Ha poucos dias
chegou á côrte do Rio de Janeiro o Sr. Dr. Domingos José
Gonçalves de Magalhães, Ministro em Napoles, bem co
nhecido já em # a Europa como um dos mais distino
tos poétas brasileiros, auctor dos Suspiros Poéticos e
da magnifica tragedia: O Poéta e a Inquisição, que tan
tos applausos tem merecido do mundo litterario. — Na
terça feira 30 do passado, este illustre cavalheiro teve a
honra de ler no paço de Petropolis, para SS.MM. ouvi
rem, a sua época em dez cantos, recentemente conclui
da, que tem por titulo — A Conjuração dos Tamoios.—
O efeito que esta leitura produzio no animo do Monar
cha foi tal, que dirigindo-lhe as mais lisongeiras con
gratulações, determinou mandar imprimir á sua custa,
O mais fico que se possa fazer no Brasil, o poema do Sr.
Magalhães, para o oferecer depois aos Soberanos e ás
*##… do todos os paizes. (E) (Brasileirº)
1 DE OUTUBRO (Quarta feira).
, EMENDA SUBITA. — Um mordaz, que em certa so
ciedade se assentára casualmente ao pé de uma senhora,
formosa sim mas fria, e tão apoucada de juizo que em

falando quasi sempre fazia rir, disse para um amigo,


suppondo não ser ouvido: «É uma estatuá.» — «Uma és
tatua, exclamou ella! »—De sal, minha senhora, de sal!...»
FOME, — E' a conselheira do crime.
312
2 DE OUTUBRO (Quinta feira).
CÃES DA TERRA NOVA. — São notaveis pela sua
corpulencia, pela sua força, pela sua mansidão, e pela
sua fidelidade aos donos, do que ha não poucos exem
plos. Com um cão d’aquelles por defeza está-se tão se
guro como com dous ho
mens valentes: é um mo
mento em quanto deitão
por terra um malfeitor e
dão cabo d'elle. O conde
das Antas tinha um gran
dissimo, que por toda a
parte o acompanhava, e
que dormia sempre á por
ta do seu quarto. O conde
de Mouchy, em França,
tinha outro que jantava
com elle á mesa.
( , , E proverbial, a fideli
(, dade dos cães. O de Sabi
no, cidadão romano, lan
çado por ordem do Impe
rador Tiberio nas margens do Tibre, levava a seu senhor
moribundo o pão que o povo lhe dava, e depois de haver
o algoz deitado no rio o cadaver do infeliz, lançou-se
atraz d'elle o extremoso e fiel animal. O cão de Jason, de
pois de morto seu senhor, deixou-se morrer de fome. Os
Colophões, povos da Grecia, levavão seus cães á guerra,
e nas batalhas lhes davão a vanguarda (A. 54 p. 370).
A VERDADE E A FABULA.

Venus avait votre beauté ;


C'est une exacte ressemblance !
Je n'y vois que la différence
De la fable à la Vérité,
313
3 DE OUTUBRO (Sexta feira).
RRESEERHAS BA VIEIPA.

Que miserias encerra esta vida !


Que momentos se passão na dor !
Se a esperança da morte não fôra,
Quem teria nas penas valor?!
Pr'a castigo, SENHOR, dos culpados,
Esta vida talvez que bastasse,
Se em logar de contar-se por horas,
— Tristes horas ! — jámais terminasse ! ...
Ninguem chore os amigos que morrem;
Ninguem gema sobre um mausoléu;
Antes sim sobre o berço do infante,
Antes sobre o infeliz que nasceu !
Ver não posso innocente creança,
Sem que as lagrimas deixe correr;
E que sei os martyrios da vida!...
E que sei quanto dóe o sofrer !!
Maria do Patrocinio de Sousa.

4 DE OUTUBRO (Sabbado).
CATHEDRAL DASSIZ. — Assiz, patria de S. Fran
cisco, nada tem de notavel senão a cathedral, digna
de ver-se por sua extraordinaria structura: compõe-se
de tres igrejas, collocadas, como um castellinho de car
tas, por cima uma das outras, e todas ricamente orna
das: é na do meio, e proximo ao altar mór, que está o
tumulo do santo. Fica a igreja á entrada da cidade, e
fºi construida no pontificado de Gregorio IX por um ar
«hitecto allemão.
314
5 DE OUTUBRO (Domingo).
MONTANHA DE TIJOLO. — Ainda não ha muito
que ao pé da estrada que leva de Londres a Li
verpool, e a umas sete léguas d'esta ultima cidade,
se admirava a enorme cheininé d'um estabelecimen
to de productos chymicos. Tinha 406 pés d'altura
sobre 46 de diametro na base e 17 no alto. Com
punha-se de tres milhões e meio de tijolos, pesan
do todos sete milhões d'arrateis, e havia custado
7,000 libras esterlinas, ou 31 contos de réis. Che
miné mais alta nunca em todo o Reino Unido se
havia visto.
Ilavendo-se fechado ha pouco aquella fabrica, fez
se saltar a cheminé. Fizeram-se á roda da base 14
buracos que se encheram de polvora e poz-se-lhes
fogo; foi um momento em quanto desabou aquella
massa immensa, deixando em seu logar uma eleva
da serra de tijolo.
(Almanach 53, pag. 111)

6 DE OUTUBRO (Segunda feira).

ACHANTO. — Diz-se que tendo morrido na antiga Co


ryntho uma noiva, a ama que a havia creado e a amava
extremosamente, mettera n'um cesto varios objectos de
que ella mais gostara, pozera o cesto junto ao sepulchro,
em cima de um pé de achanto, e o cobrira com um testo
largo. Vindo a primavera, rebentou e bracejou a planta,
revestio o cesto com as suas largas folhas, e vedando-lhe
O testo ir mais para cima, naturalmente se debruçou, e en
curvada redescendeu para a terra. Passando por alli um
architecto grego, por nome: Collimaco, reparou em tão
donosa perspectiva, e acrescentou á columna corinthia
o novo ornamento, ainda hoje em architectura cha
mado: achanto.
315
7 DE OUTUBRO (Terça feira).
PAPEL DE PITA. — O papel é um dos productos ín
dustriaes mais preciosos, pois serve de materia prima a
todo o saber humano, não fallando em mil outros usos
seus. Por muitos séculos o papel só de linho se fabricou.
Hoje não só o algodão entra na confeição do papel em
maior quantidade que o proprio linho, mas todas as
plantas filamentosas são reconhecidas como aptas para
darem papel, ou melhor ou peór, e entre ellas, as ortigas,
as malvas, a palha dos cereaes, a casca de muitas arvo
res, etc. etc. etc. De todas as plantas porém talvez ne
nhuma possa n’este particular pedir meças á piteira. E'
o papel da piteira forte como pergaminho, alvo de neve
quando o manufacturão bem, excellente para impressão,
para estamparia, para escripta, e para embrulho : que o
diga a América hespanhola que ora tanto produz e gas
ta. A piteira contém immensa fibra, contenta-se com qual
quer terra, não requer melindres nem tracto algum,
prospéra ao desamparo em sólos que nada mais poderião
dar, serve de tapume ás fazendas, de mantimento aos
bois á falta de outro, tem usos economicos para barrelas,
etc. etc. etc. Veja-se o que n'este proposito escrevemos,
primeiro na Revista Universal Lisbonense, depois no
Agricultor Michaelense.
Ora, se algum fabricante de papel, ou todos elles, tem
tassem esta fabricação com a pita simples, ou lotando-a,
como melhor parecêsse, com o linho, algodão, etc., e se
para obterem à pita começassem por convidar os proprie
tarios ruraes e os municipios que possuem baldios e
charnecas a fazerem copiosas plantações de piteiras, in
dicando-se-lhes de antêmão o modo da colheita e prepa
ração da folha, e fixando o preço por que se pagaria, não
é summamente provavel que o papel desceria desde logo
a uma barateza nunca vista? é chegado a essa barateza,
não é tambem de primeira intuição que os jornaes e os
livros se poderião haver pelos mais diminutos *#
Pedimos que se reflicta muito attentamente n'esta pro
posta. Na folha da piteira pode estar contida uma ines
perada e maravilhosa regeneração intellectual, moral,
industrial e politica, d'este paiz.
A. F. de Castilho.
(A. 51, 2 de Maio e 13 de Junho, A. 54 p. 69.195.200.)
: 8 DE OUTUBRO (Quarta feira).
EDIFICAÇOES NA CHINA. — Costumão os chins, as
sim que dão principio a uma edificação publica ou parti
cular, leval'a d'um folego até a haverem concluido; para
isso têem logo duas andainas de operarios; em quan
to uns descanção, trabalhão outros: de noute faz-se o

}
serviço á luz de archotes, d’onde resulta muitas vezes
arder a casa antes de terminada.
Os que têem edificação na visinhança estão condemna
dos a não dormir em quanto a empreitada não finali
sa. Apresentamos acima um modelo de casa chineza.
(A. 51.4 de Fevereiro, 24 de Julho, 19 de Novembro.
317 A. 52, p. 349. A. 53, p. 260. A. 54, p. 321)
9 DE OUTUBRO (Quinta feira).
TRIBUTO DE GRATIDAO. — A Ill.mº Ex.mº Sr.º D.
Maria Meiº" Pereira Pinto, digna esposa do Sr. Con
selheiro José Isidoro Guedes, Presidente do Asylo de
Mendicidade, e uma das socias fundadoras da Associa
ção Consoladora dos Afflictos, foi dirigida a seguinte
carta. Archivando-a n’este livrinho, só tenho em vista
patentear a S. E. toda a extensão do meu reconhecimen
to pela delicadeza e promptidão com que acolheu e fez
coroar de feliz exito a minha pertenção: #

Ill.mº Ex.mº Snr.º

Agradeço a V. E. muito cordealmente, em meu nome


e no da humanidade e religião, a generosa protecção que
V. E. se ha dignado prestar a um infeliz carregado d'an
nos e miseria. Sei que foi admittido no Asylo, e é a V. E.
que se deverá a conservação por mais alguns dias de
um pobre octagenario, que triste arrastava, pelo mun
do a mais pesada existencia, e a quem, sob as feições
de uma dama caritativa e piedosa, appareceu a Pro
videncia, estendendo-lhe a mão, arrancando-o da bor
da da sepultura, e embellezando-lhe, até, os seus ul
timos momentos.
Oh! bem haja V.E., que em fazer bem aos desgraçados
e em consolar os afflictos, faz consistir a sua maior glo
ria e prazer. Enxe assim esta nossa terra de corações
agradecidos e que apregoão as suas virtudes; sente a in
tima satisfação que resulta de actos meritorios; prepara
muito de antemão a recompensa eterna que só a almas
como a de V. E. é justamente devida. Oh ! bem haja,
repito, quem nasceu com tão nobre e compassivo cora
ção, quem tanto se dóe com as alheias miserias !......
E' para não roubar a V. E. momentos que de continuo
dedica aos infelizes, que lhe não vou pessoalmente beijar
as mãos pela obsequiosissima delicadeza com que
*
#"
ou valer ao meu a filhado, que fica sendo mais um dos
us mil panegyristas.
Apesar de haver sido o obsequio feito a V. E. e por in
tervenção de V.E., é todavia meu dever agradecer tam
bem dó fundo do coração a seu Ex."º esposo a obrigante
promptidão com que abrio as portas do estabelecimento
a quê tão dignamente preside, a um pobre anceão que
nem se atrevia a bater a ellas, porque mal crê na ventu
ra quem de continuo ha sido victima da desgraça, e a
quem seu nobre esposo justificou aquellas sanctas e ani
madoras palavras de Jesu Christo: Batei e abrir-se-ros
ha. Bateu com efeito, e foi o SENHOR que pelas mãos d’a
quelle a quem V. E. unio o seu destino lhe abrio as por
tas do edificio que elle considerara como um palacio de
- fadas, se antes de tudo o não devesse olhar com olhos
ehristãos, e como abrigo da Providencia.
Figura-se-me impossivel que na sua elevada posição
me possa V. E, proporcionar um dia a mínima occasião
de lhe manifestar o meu reconhecimento pessoal, empre
gando-me no seu honroso serviço; mas se por um dos
numerosos arcanos da sorte me fosse dada essa ventura,
ereia V.E. que reconheceria então não haver obsequiado
um ingrato, e que, tanto como a minha vida durará em
minha memoria a lembrança do distincto favor com que
me honrou.
Permitta V. E. que me assigne com a maior considera
ção e respeito
De V. E.
Mt.º att.º ven.º", admirador, e criado.
A. M. C. "

O IRMÃO DE MEU TIO. — Meu tio tem um irmão que


não é meu tio.
Como pode ser ?
E enigma que poucos adivinhão.
:#;" pensem, que tambem eu pensei! ...
10 DE OUTUBRO (Sexta feira).
A ARVORE DE LA PEROUSE.—Entre as curiosida
des que pela Australia foram mandadas para a actual Ex
posição Universal de Paris, figura parte do tronco d'uma
arvore de gomma que existe em Botany Bay, e em que
La Pérouse gravou o seu nome ao visitar aquella costa.
E quem foi La Pérouse?
Eu lhe digo. Foi um célebre navegador francez: en
carregado de ir dar
cabo das feitorias in
glezas da bahia de
Hudson, por tal mo
do o fez, que bem as
sente ficou a sua re
putação maritima. In
cumbido em 1785 de
uma viagem á roda
do mundo, partio de
Brest com as duas fra
gatas, Astro labio e
| Bussola; chegou a 60
ráus de latitude N.,
esceu depois umas
5,600 léguas até Mon
terey, e d’ahi se en
caminhou para as cos
tas da Tartaria e do
-E-">
Japão, e de lá para a
* Nova Hollanda. Pouco
depois de haver chegado ás Novas Hebrides, deixou de ser
conhecido o rumo que seguia e não se tornou a ouvir fallar
em Lapérouse. Em 1827, ao N. das Novas Hebrides, se en
contraram no archipelago de Vanikoro, destroços de em
barcações e diversos objectos que sem duvida havião per
tencido aos náufragos do Astrolabio e da Bussola. Alli
lhes foi levantado um singelo monumento. 320
11 DE OUTUBRO (Sabbado).
VOLCOES. – Ao que por mais de uma vez sobre os
volcões havemos escripto (A. 51, 7 d'Abril e 24 de De
2embro. A. 52, p. 325. A. 53, p. 279. A. 55, p. 181 e 254)
acrescentaremos hoje algumas generalidades:
Encerrão essas montanhas ardentes dentro em seu seio

////// …
//

enxofre, betume, e outros materiaes que servem de ali


mento a um fogo subterraneo, cujo efeito, mais violento
que o da polvora e o do raio, tem sido em todos os tem
pos objecto de terror. Um volcão pode dizer-se que é
uma immensa peça d'artilharia, cuja bôca tem muitas
"# mais de meia légua de diametro; '# ella sahem
torrentes de fumo e chammas, rios de betume, enxofre,
e metal fundido, nuvens de cinza e pedra; vão frequen
temente a léguas de distancia massas enormes de roche
dos a que todas as forças humanas reunidas não houve
rão podido dar o minimo impulso. E' tal a intensidade
do fogo e tanta a quantidade de materias ardentes, fun
didas, calcinadas, vitrificadas, expellidas d’aquella hor
rorosa fornalha, que debaixo d'ellas ficão enterradas ci
dades e florestas, no mesmo ponto substituidas por ele
vadas montanhas, formadas por todos aquelles destroços.
Os volcões muitas vezes abalão o sólo, agitão o mar,
derrubão montes, e mesmo de longe dão em terra com
os mais solidos edificios.

12 DE OUTUBRO (Domingo).
CHARADA.

Poucos são na sociedade }


Os que a não tenhão vilmente 2
Contra toda a humanidade
Armada continuamente.

O meu cantar entristece


E a quem está perto incommodº; 3
Muitas vezes me acontece
Andar-me a cabeça á roda.
Desgraçado do batel
Que nas aguas me cahir,
Pois na voragem cruel
Se hade o pobre submergir.
A. M. C. .

AVAREZA. — O avarento, segundo Santo Agostinho, é


semelhante ao inferno, que } mais que devore nunca
es sacia (Almanach 53, pag. 119). 322
13 DE OUTUBRO (Segunda feira).
PORTUGAL E BRASIL. — Estamos politicamente se
parados do Brasil: a colonia forte e poderosa eman
cipou-se e fundou um imperio florescente e vasto. Por
tuguezes, o amor da patria, não nos torna surdos á voz
dos principios humanitarios. Era justo que a tutella aca
basse, e que as immensas regiões do Novo-Mundo, livres
e independentes, podessem desenvolver a sua activida
de e completar os seus destinos. Mas é em nome dos an
tigos laços que estreitamente nos uniram, que não po
dêmos deixár de observar com desvanecimento os pro
ressos e o esplendor d'essa nação, que falla a mesma
ingua, em cujas veias corre o mesmo sangue, e cujas
tradições mais gloriosas tambem pertencem á nossa
historia. Vocações como a do Sr. Antonio Gonçalves Dias,
como a de Manoel Antonio Alvares d'Avevedo, expirando
na aurora do seu talento, testemunhão eloquentemente
a vitalidade da nação brasileira. Portuguezes, não po
demos deixar de ter orgulho de ver a nossa lingua, ae
cordando harmoniosamente os échos d’aquellas ridentes
campinas, d'aquellas copadas florestas, e se nos fal
tassem outros estimulos de fraternidade, bastava esta
inevitavel communhão das letras, para destruir rivali
dades, pouco proprias da mutua dignidade de duas na
ções, que nasceram, por assim dizer, no mesmo berço.
(Lopes de Mendonça.)

14 DE OUTUBRO (Terça feira).


QUALIDADES DE GENTE. — Colhemos na rua o se
guinte farrapo de dialogo entre um pexeiro e uma adela:
Pereiro. N’este mundo não ha senão quatro qualida
des de gente: marotos, brégeiros, patifes e desavergo
nhados.
A dela ! Ora essa ! E então eu ?
Pereiro, Vossê não é gente.
323 *#
15 DE OUTUBRO (Quarta feira).
AGENCIAS AUXILIADORAS DO COMMERCIO. – Ha
em algumas das principaes cidades da florescente ré
publica dos Estados-Unidos utillissimos estabelecimen
tos para o commercio. Quantas vezes acontece, que por
se ignorar o verdadeiro crédito commercial de uma fir
ma qualquer, se deposita n’ella desmerecida confiança, e
se lhe expedem avultados valores, que muitas vezes vão
morrer n’uma bancarrota, de ordinario frandulosa! quan
tas outras, que um sinistro real, proprio ou alheio, con
tribua para tornar em pessima uma firma até então ex
cellente ! quantas outras, que um inesperado successo,
uma operação feliz, um casamento, uma herança, ha
- jão augmentado
capitáes desfal
eados, e feito re
viver um crédito
abalado ! quan
tas outras, que
uma casa pode
rosa e acredita
da passa a ser
a d m i n is trada
#
- por terceira pes
soa, que não oferece as mesmas garantias aos correspon
dentes ! quantas vezes, emfim, passa uma firma de com
mercio, e por motivos diversos, de boa para má, de má para
pessima, de má para boa, e de boa para excellente ! Tu
do está em saber a quem se confião importantes consi
gnações, em que mãos se depositão valores reaes, e pelos
quaes se é muita vez pessoalmente responsavel, não só
para com socios, mas para com estranhos. E para isto
que em Nova-York, na Philadelphia, e em muitas outras
cidades da União, se fundaram estabelecimentos cujo
unico objecto é ministrar a quem os deseje, e por pequê
no estipendio, todos os esclarecimentos ácerca *#
24
dito, capital, esperanças, familia, recursos, comporta
mento, costumes, genero de especulações, etc. etc., de to
do e qualquer negociante d’aquella importante républica.
16 DE OUTUBRO (Quinta feira).
SONETO,
• CAMÕES E A PATRIA.
Por ti, Patria, provei duros tormentos;
Por ti, amor, sofri baldões do fado;
Em Ceuta vi meu sangue derramado,
Em furia vi no mar os soltos ventos.

Nos desertos ouvi tigres sedentos,


Sofri prisões crueis, sem ser culpado;
Nas plagas de Macáu fui desterrado,
O calix esgotei dos sofrimentos.

Em alto canto ardente e sonoroso


O nome eternizei da patria amada,
Por ella e por amor gemi saudoso !
E quando ao fim de vida tão cançada,
A Lysia torno, ledo e pressuroso,
Achei-me sem amor, sem pão, sem nada !
Pº. Antonio de Macedo e Silva.

A. 51, 24 de Março e 23 de Dezembro. A. 52, p. 101,


183, 244, 330, 341. A. 54, p. 98, 166, 179. A. 55, p. 173,
274, 330).
ORGÃO HYDRAULICO. — Ha, em Palermo, um orgão
cujos
p. 353,folles se p.
A. 56, movem,
309). não com ar, mas com agua (A. 53,

325
17 DE OUTUBRO (Sexta feira).
SEMANA. — Espaço de sete dias, começando no do
mingo e acabando no sabbado, ou, talvez melhor, co
meçando na segunda feira e acabando no domingo. Esta
divisão do tempo em periodos de sete dias, seis para o
trabalho e um para o descanço, receberam-na os chris
tãos dos judeus, que a estabeleceram em commemora
ção de se dizer no Genesis que-Deus fizera o mundo em
6 dias, e ao septimo descançara; mas os christãos, pa
ra se desencontrarem dos judeus, pozeram o seu dia de
repouso depois do d'elles. Os romanos não dividião o
tempo em sete dias, mas em nove, e os gregos em 10, uso
com que em parte se conformou o calendario francez ré
publicano :
Os nomes que damos aos dias da semana, de: segunda
feira, terça, quarta, etc., são os que lhes dá a igreja;
cabendo notar, que nem a Hespanha, nem a França, nem
mesmo a Italia, com ser a cabeça espiritual da chris
tandade, adoptaram tal uso nas suas linguas, antes to
das as tres continuão ainda hoje a empregar nomes pa
gãos, pois á segunda feira chamão: dia da lua; á ter
ça: de Marte; á quarta: de Mercurio; á quinta: de
upiter; e á sexta : de Venus; concordando só comnosco
em o nome de sabbado, que é hebreu, e no de domingo,
que é ecclesiastico (dominica), e significa tanto como :
dia do Senhor.

18 DE OUTUBRO (Sabbado).
EPITAPHIO DO MARQUEZ DE MARICÁ
(Composto por elle mesmo).
Aqui jaz o corpo apenas
Do Marquez # Mº?? ! ...
Quem quizer saber-lhe da alma
Nos seus livros a achará.
326
19 DE OUTUBRO (Domingo).
«HAVERA FELICIDADE NO MUNDO? — Haverá, mas
no coração do homem certo é que não existe ella perfei
ta. Esperar e desejar, é bom ás vezes, mas a felicidade
não está, não pode estar, nem na esperança, nem no
desejo. E se a esperança se realisar, se o desejo fôr sa
tisfeito, então isso é a felicidade decerto ? Pois não é ;
porque vem a desconfiança, vem a incerteza, vem a in
credulidade, vem o susto, vem tudo, perturbar o prazer,
que se não chega a gozar absolutamente completo; avi
var as saudades de um passado que não merece sauda
des; dar vida a novas esperanças que, se um dia se rea
lisarem, perderão o valor, o encanto, o prestigio, com
que a vaga imaginação as enriqueceu. Venha o feliz
triumphador, venha no momento da victoria, quando
todo um povo prostrado no pó, o admira, o louva, o
adora, e diga-nos se não tem no mais recondito esconde
rijo do coração uma tristeza profunda que lhe não deixa
gosar a felicidade da gloria, que lhe faz subir as lagri
mas aos olhos, quando mal nos labios se formou o riso
da alegria ? Venha o avarento, com todos os seus the
souros, cercado de gemmas preciosas, e de pilhas de
oiro, e diga-nos se a riqueza é a felicidade, ou se não º
antes a inquiétação de tôdas as horas; diga-nos se a ri
# não é martyrio, quando o susto se ergue pállido
iante dos olhos, e o terror cinge e aperta nos braços
descarnados o corpo fragil do avarento? Venha o ho
mem que a inspiração guiou pelos incommensuraveis
espaços da poesia, a quem a Providencia revelou alguns
dos sublimes segredôs que só de séculos a séculos ella
diz á humanidade pela bôcca dos poétas, e diga-nos se
nas horas silenciosas da noite, mas horas da solidão,
quando o pensamento oscilla incerto entre o passado e o
futuro, entre o real e o imaginario, entre a terra e o
céu, diga-nos se n’essas melançoiicas horas, ele se não
sentio pequeno e fraco diante da immensidade das cou
327
sas creadas; se não sentio infinita tristeza repassar-Ih e
a alma, se não pedio a Deus que lhe tirasse o dom fatal
do genio, que consome o espirito e lança na ####
ainda no verdor dos annos, os que o possuem ? Venha
tambem o amante que todos imaginão, que todos julgão,
perfeitamente ditoso, porque passa a vida aos pés da
mulher que adora, escutando-lhe palavras e suspiros
que recendem ternura, venha o amante n'esse mesmo
momento em que recebe num estasis de paixão as mais
ardentes, as mais fascinadoras provas de amor, e diga
nos se não sente a melancholia passar sobre a sua felici
dade, como a nuvem ligeira sobre a face do sol em dia
de primavera; diga-nos, se vago e indefinido receio o não
faz subitamente estremecer, quando elle descuidoso se
entrega aos encantos de uma ventura que nada parece
ameaçar ? -

JoÃO D'ANDRADE coRvo


(Um anno na côrte.)

20 DE OUTUBRO (Segunda feira).

HYDROPATHIA, — Uma senhora para quem não seria


\ desgraça nenhuma ter nascido
pescada do alto, tanto os seus
gostos são aquaticos, disputa
va no outro dia com um cirur
gião velho sobre escholas médi
cas, e punha o peito á bala em
favor da hydropathia. Depois
de um vivo tiroteio de argu
mentos e epigrammas de casos
verdadeiros e de casos suppos
tos, « Senhor, disse ella le
vantando-se," para se conhe
cer o poder curativo da agua,
basta o baptismo. » O cirurgião embaçou. 328
21 DE OUTUBRO (Terça feira).
FABRICO D'ALFINETES. — Se conduzirdes pela ima
ginação uma das nossas elegantes a uma d'essas vastas
oficinas em que trabalhão, escorrendo em suór, homens
apenas vestidos, com o semblante luzidio e metallico,
com as gengives negras, com os olhos vermelhos e in
flammados, com os cabellos verdes, e lhe disserdes: « é
por vossa causa que esses pobres infelizes lentamente
se envenenão; nem um só existirá d'aqui a poucos an
nos; todos haverão morrido com os pulmões arruina
dos; não haverá um que chegue a meio século de ida
de; e é por vós que todos elles fazem o sacrificio da sau
de e # vida », não acreditará que tanto custe um alfi
nete !....
Quatorze operações successivas exige o fabrico de tão
pequenino objecto, e constitue cada uma d’ellas, nas
manufacturas, uma especialidade a que exclusivamente
se consagra um pobre operario. E' preciso amarellecer
o fio de latão que da forja sahe negro — passal’o para
um cilindro de madeira — cortal'o de certo comprimento
— adelgaçal'o n’uma das extremidades — fazer-lhe o bi
co —, fazer separadamente as cabeças — cortal'as —
reunilas — ajustal'as — branquear isto — estanhal’o —
seccal'o — preparar o papel — e pregar n’elle emfim os
alfinetes em certa ordem.
Um só homem pode n’uma hora fiar 600 toesas de fio
de latão; ora, como para isso é preciso que corra por
um espaço de 30 pés de comprimento, calculou-se que
anda em cada hora meia légua.
Um operario habil pode cortar por dia 144,000 cabe
ças d'alfinete.
E' insalubre o oficio de alfineteiro, por ser venenoso
o oxydo de cobre. Quanto mais se divide o metal e tan
to mais perigoso é: penetra no nariz, na bôcca e no
estomago (apesar d'um quadrado de vidro que se ajusta
"#" o pó que sahe de todas aquellas operações, e que
pouco a pouco vai seccando as fontes da vida: é o oxy
do de cobre, que tinge de ve rde o cabello.
O uso dos alfinetes só em 1540 principiou em França.
Catherina Howard, mulher de Henrique VIII, introdu
zio-os na Inglaterra em 1543. Os alfineteiros formavão
antigamente em Paris uma corporação cujos estatutos
foram renovados por Henrique IV, em 1602 (A. 52 p.97).
22 DE OUTUBRO (Quarta feira).

AMOR MIATERNAL
CANÇÃo.
Como ao ténue passarinho Mãi das mãis, ó Providencia,
Conchegado em brando ninho Guias a minha innocencia
A mãi dá vida e calor, Para o caminho do bem ;
Minha mãi por mim velava Pozeste um anjo a meu lado,
Com extremoso carinho, Todo amor, todo paciencia ;
Com ternura e com amor. Oh ! este anjo é minha mãi !

Se não fôra essa meiguice Voz do céu então me disse :


Com que á minha meninice « Seja a tua meninice
Minha mãi deu protecção, Toda affecto e gratidão :
Ai de mim ! o que seria? Ama quem por ti faz tanto;
#ºlvez que eu não existisse, A obediencia e meiguice
Tão debil como era então. Teu amor lhe mostrarão.

Não desviava um momento Como o ténue passarinho


De mim o seu pensamento; Sahe um dia do seu ninho
Erão meus males os seus, E do materno calor,
Eu era a luz dos seus olhos, Has-de crescer; serás homem
E o maior contentamento Mas então pague o carinho
De quantos lhe dava Deus. Essa divida de amor! »

Luiz Filippe Leite,


330
23 DE OUTUBRO (Quinta feira).
FOSSEIS. — E o nome que se dá a corpos organisa
dos occultos no interior da terra ha tempos immemo
riaes, anteriores até ao diluvio em alguns casos. Apre
sentão-se de duas maneiras; conservados taes quaes
erão, ou substituidos por outra substancia. Algumas ve
zes só se acha o vestigio que um corpo deixou ficar, ou
o logar que occupara antes de desapparecer por uma
causa que o aniquilou. Encontrão-se frequentemente em
perfeito estado de conservação. Nos animaes desappare
ce em breve a parte gelatinosa, mas a parte calçarea, ou
pelo menos as partes corneas, subsistem indefinida
mente: nos vegetaes conserva-se bem a parte carbo
nica e betuminosa. Muitas vezes é substituido o corpo
organico por uma substancia mineral estranha, substi
tuição que se faz lentamente, mollecula por mollecula.
Outras vezes desapparece completamente o corpo e é
substituido em massa pela materia petrificante, ficando
lhe tão sómente a fórma exterior.

24 DE OUTUBRO (Sexta feira).

JOANNA SEYMOUR. — Foi em igual dia do anno de


1537 que morreu Joanna Seymour, 3 º mulher de Henri
que VIII. Anna Bolena, aia da Rainha Catherina d'Ara
gão, roubou-lhe o coração de seu perverso marido; não
tardou muito porém que não fosse punida por onde
peccara, pois outro tanto lhe fez a sua aia Joanna Sey
mour. Pouco tempo, gozou esta, não obstante, de seu
triumpho: morreu dous dias depois de haver dado á
luz um filho, que no futuro veio a reinar com o nome de
Eduardo VI.
Os irmãos de Joanna Seymour são o tronco dos ac
"# Duques de Somerset e Condes de Hertford.
25 DE OUTUBRO (Sabbado).
UM HOMEM ARTIFICIAL. — Existe perto de St. Se
ver um antigo militar, que tem uma perna e um braço
- de páu, que se movem por meio de
mólas; um olho de vidro; uma
guarnição completa de dentes pos
tiços; o nariz de prata coberto com
uma substancia que perfeitamente
semelha carne; e uma chapa tam
bem de prata, substituindo parte
do crâneo. Traz ao peito a Legião
d'Honra, ganha nas campanhas do
Egypto, Italia, Russia, Friedland,
Austerlitz, Wagram e Waterloo.
Por toda a parte deixou um boca
do. Lembra-me aquella cantiga do meu tempo de rapaz:
Le joli petit mari Il dépose chaque soir
Qu’on me donne en mariage Sa jambe surma toilette,
Il est sâge, il est poli, Ses cheveux dans um tiroir,
C'est un époux accompli. Etses dents dans une assiette
26 DE OUTUBRO (Domingo).
UM IMPERADOR D'HAYTI. — Foi n'este dia do mez,
no anno de 1804, que Dessalines foi acclamado Impe
rador d'Hayti, debaixo do nome de : Thiago I. Toda a
sua vida se distinguio por uma desmedida crueldade
esse negro, que sahira escravo da costa d'Africa, e
alli fôra a principio azurragado pelo mais barbaro dos
senhores d’aquella ilha, em que todos elles erão barba
ros. Quiz macaquear Napoleão e substituir o seu titu
lo de governador pelo de Imperador; foi porém de cur
ta duração o seu reinado, póis morreu em uma sedição
a 17 de outubro de 1806.
(A. 51, p. 845. A. 52, p. 92. A. 56. p. *83a
27 DE OUTUBRO (Segunda feira).

Ao Sr. Dr. Antonio Feliciano de Castilho,

DISTINCTO POETA E AUCTOR DO METHODO PORTUGUEZ.


RECITADo No PRIMEIRO SARÁu PoETico PoR oc
CASIÃO DE SE LHE OFFERECER UMA MEDA
LHA DE OURO EM COIMBRA,

Musica de José Christiano A'nell de Medeiros.

A luz da sciencia, que o mundo ennobrece,


Nos filhos do povo brilhante raiou:
Dissipão-se as trevas, o genio apparece,
C'roado de loiros, que ufano cortou.
Que vozes são estas da infancia enlevada,
Que a todos nos fazem parar, attender ?! ...
CASTILHO, que a leva a bater apressada
A's portas do templo da luz, do saber !
côRo.

Tua gloria, teu nome — CASTILHO! —


Ha-de ás eras futuras passar,
Pois só tu lhes apontas o trilho
Da sciencia que as ha-de illustrar.
Erguido no throno dos sabios legado,
Qual outro Moysés, que subíra ao Sinai,
Offerta aos infantes — o livro dourado —
E diz : « Do saber para o templo avançai!»
E os tenros infantes os hymnos cantando,
Ufanos caminhão com fé, com ardor;
E alli anhellantes, seus mestres amando,
Contentes implorão virtude e valor.
CôRO.
Tua gloria, teu nome — CASTILHO! — etc.
Que gloria não ha-de ferver-te na mente,
A gloria que o ouro não pode comprar,
Quando ouças nas vozes da infancia innocente
Teu nome entre cantos d'amor entoar ! !

Que gloria, juntares áquelles teus louros,


Que o canto da lyra sonora ganhou,
Inda este, que os nossos mais justos vindouros
Verão como um facho, que o genio ateoul
côRo.
Tua gloria, teu nome — CASTILHO ! — ete.
E's tu que da luz, como Milton privado,
Mas ai que mais cedo ! ... dos annos na flôr,
Ovante caminhas, dos Céus inspirado,
Lançal'a em torrentes com hymnos d'amor.
Ajunta mais esta singela medalha,
Ganhada na eterna cruzada sem par,
Aos louros colhidos na immensa batalha
Do grande, que o povo pretende illustrar.
CôRo.
Tua gloria, teu nome — CASTILHO! —
Ha-de ás eras futuras passar,
Pois só tu lhes apontas o trilho
Da sciencia que as ha-de illustrar.
J. d'Araujo-Jusarte.
28 DE OUTUBRO (Terça feira).
LISBOA E CONSTANTINOPLA. — A 25 de Outubro foi
conqüistada Lisboa aos mouros por El-Rei D. Afonso Hen
rques. Assim o traz o commum dos historiadores, e a
lápida antiga, que está no portico da Sé, com a sua
traducção em frente. Todavia, alguns de grande autho
ridade, até por serem contemporaneos d'aquelle feito,
marcão o dia 21 dedicado ás onze mil Virgens. E' tão
vulgar a historia desta acquisição, que o repetila fôra
já agora por demais; não o, é porém a idéa correspon
dente á sua importancia; e ácerca d'isto daremos a opi
nião do sabio escriptor, Duarte Ribeiro de Macedo:
& Os maiores e melhores portos do mundo são Lisboa
e Constantinopla, e por consequencia estas duas cidades
unicamente capazes de virem a ser os dous maiores em
porios do mundo: Constantinopla está entre dous mares,
situada na Europa, visinha da Asia, e não distante de
Africa, mas a situação de Lisboa é incomparavelmente
melhor, porque está no Oceano, e sessenta legoas dis
tante do *#. Antes que dobrassemos o Cabo de
Boa-Esperança, e antes que se descobrisse a America.
se podia considerar Constantinopla em melhor situação
a respeito do mundo conhecido, mas depois que pelos
mares se communicou o occidente com o oriente, depois
que, se descobrio um novo mundo, Constantinopla é o
melhor porto do Mediterraneo, e Lisboa o melhor porto
do mundo.»

29 DE OUTUBRO (Quarta feira).


A ORPHÁ NO CEMITEIRIO.
Pela noute escura e fria, Vem, oh ! lugubre coveire,
Nas horas de solidão, A porta desferrolhar,
E que apraz ao coração E volve-te a repousar:
Visitar esta mansão Quero aqui ver despontar
De doce melancholia ! ..., matutino luzeiro.
335
Nem punhal de scelerados Heide ir; mas quero primeiro
Pode meus passos deter, Seu monumento elevar ;
Nem os mochos a gemer, Quero uma cruz arvorar
Nem os vultos a correr Que domine este logar
Pelas lousas dos finados. De cima de humilde oitefr».

Filha sou, que a mãi procura Echos da gloria mundana,


D'estes muros para áquem!.. Sons que morte hade acabar,
Aqui não temo ninguem ! ... Os mausoléus vem turbar,
Os crimes ficão álem Mas á cruz não hade ousar
D'este sólo de amargura. Erguer-se vista profana,
Pobre mãi! que nem te derão Ella que o tope sagrado
Um marmore sem lavor, No azul diaphano, sem fim,
Que dissesse ao viajor Onde solta um seraphim
Quantas virtudes e amor Sonsd'harpa d'oiro e marfim,
A tua alma enriqueceram ! Parece ter mergulhado ! ...
Miseros orphãos deixara, Doce pharol!.. se a procella
Qual pombinha, que voou Nos engole em seu volcão,
Porque açor fero a acoçou !.. As preces da alma lá vão,
Do minho se extraviou, Como aves de arribação,
Por nuvens que atravessara. Esvoaçar em torno d’ella !
Mas ella foi, nas alturas, N’este asylo mortuario,
Candidas azas bater, Cujo aspecto me seduz,
Caricias de anjos colher, Dormir quero ao pé da cruz,
Seu ninho eterno fazer Escondida no capuz •

Entre myriades puras ! ... De herdado pobre sudario.


Talvez, em quanto radiosa já trinão pelos cyprestes”
Se me afigura nos céus, Os vatesinhos do ar
Os maternos olhos seus Gorgeios mil, a saudar
De lá seencontrão co'os meus, O sol que se ergue do mart.,
De lá me acena saudosa. Como aaurora surgio prestes!
Maria José da Silva Canuto.
336
30 DE OUTUBRO (Quinta feira).
EXERCICIO PARA FAZER CORRER. — Um dos-exer
cicios a que as crianças mais se applicão em França, é
o que designa a gravura á margem. Consiste em
correr atraz d'um circulo de madei
ra, semelhante a um arco de pipa,
conservando-o sempre em pé com
um páusinho, que serve para o im
pellir e levar adiante de si.
E' de tôdos os exercicios gymnas
ticos um dos mais salutares, e ao
|- mesmo tempo dos mais innocentes.
\\ *)
Com elle não ha perigo de quebrar
} uma perna, de deslocar um braço,
\\ de ficar com a cabeça partida, como
\\ |acontece com alguns dos exercicios
#L_ a que indevidamente chamão gym
=à####*= masticos, e que por mais de uma vez
hão sido causa de desastres.—Porque se aboliria a cadei
ra de gymnastica entre nós creada não ha muitos annos, e
que de tanta utilidade, pelos bens que traria e males que
impediria, necessariamente viria a ser ?
31 DE OUTUBRO (Sexta feira).
ILLUSÃO CELESTE,
Que dizem teus lindos olhosEsse abafado suspiro....
Quando se fitão nos meus Esse subito rubor......
Com essa luz meiga, pura, Dirão a minha ventura?....
Que invejão astros dos céus? Fallão-me acaso d'amor?...
Que diz esse riso incerto, Deixa-me crer do teu rosto
Q' em teus labios de carmim|Na dôce, muda expressão;
Tremúla, qual borboleta ||Não falles! ah! não me roubes
Sobre as rosas n'um jardim?|Esta celeste illusão ! .
33 Antonio Maria do Couto Monteiro.
7
1 DE NOVEMBRO (Sabbado).
BADIVA DE REI. — Ao retirar-se para a sua patria
e Conde de Lippe, que viera ao sérviço de Portu
gal, deu-lhe de mimo El-Rei D. José os objectos se
guintes:
6 Peças de artilharia de ouro, de 16 arrateis cada uma,
com os ouvidos cercados de diamantes e brilhantes,
e umas poucas de balas de ouro.
10 Cartuxos de ouro em pó.
6 Carretas de ébano chapeadas de prata.
6 Barras de ouro de 10 arrateis cada uma.
. 1 Boldrié guarnecido de diamantes.
1 Espadim de ouro, igualmente guarnecido.
1 Vestido com bordadura de ouro e os botões de bri
lhantes.
4 Fivellas de ouro com brilhantes para sapatos e ligas.
1 Chapéu com fivella e prezilha de ouro com brilhantes.
1 Fivella de pescocinho, de ouro com brilhantes.
4 "
lhantes.
com castão de ouro guarnecido com bri
1 Habito da Aguia Negra com 740 brilhantes. N. B. As
sim está no original, mas parece-me demasiado.
serião 74, e já não erão poucos.
4 Retrato de S. Magestade e outro da Rainha, guarne
cidos de brilhantes.
1 Retrato do Conde de Oeiras.
2 Caixões de barras de ouro.
Vencia de soldo o Conde de Lippe 2008000 réis dia
rios, que são 73:000$000 réis ou 182,500 eruzados por
&Il Il0.

Não foi por aquelle presente que El-Rei D. José mere


Seu a sumptuosa estatua que no Terreiro do Paço se
lhe levantóu.

Pedro Cervantes de Carvalho rs…;


2 DE NOVEMBRO (Domingo).
REPRODUCÇÃO DE IMPRESSOS. — Foi inventado em
1845, por um tal Rodolpho Appel, natural da Silesia, o
modo de tirar quantas copias se queirão d'um impresso
qualquer.
Ensopa-se a folha impressa n’uma solução d’acido ni
trico, na proporção de f para 7 entre o acido e a agua;
põe-se depois entre folhas de papel de mata-borrão,
afim de lhe tirar a maior humidade. E sabido que uma
tal solução não adhere á tinta de imprensa, que é gor
durosa: applicando pois a folha assim preparada n'uma
chapa bem lisa de zinco, e comprimindo esta fortemente,
ficará no zinco a copia do impresso, e o acido nitrico, em
contacto com os intervallos que ficão entre as letras,
morderá na chapa, e corroerá o zinco, formando uma su
perficie inferior á das letras, que ficarão em relevo. Ti
ra-se depois a folha, que não apresenta alteração; esten
de-se por cima da chapa uma solução de gomma arabi
ca, a qual não adhere ás letras estampadas, que são oleo
sas, mas sim a todos os outros pontos; passa-se por ci
ma um rolo com tinta d'imprensa, que só péga nas letras
em relevo, e se não fixa na gomma; deita-se, emfim, na
chapa uma solução d’acido phosphorico, que corróe ain
da mais profundamente as partes do zinco corresponden
tes aos intervallos das letras impressas, de sorte que a
tinta do rolo lhe não chegue. E quanto basta para obter
um numero indefinido de exemplâres.
3 DE NOVEMBRO (Segunda feira).
. LEMBRETE A ERUDITOS. — Ménage foi um dos mais
instruidos homens de França. Vivia á fallar, e, fallava
sempre a citar. Uma senhora, tendo-o ouvido de bôeca
aberta por espaço de horas, não poude a final deixar de
lhe dizer: «Tudo isso e muito bom, mas agora venha
tambem alguma cousa sua.
Boa carapuça para um sugeito que todos nós conhecemos!
339
4 DE NOVEMBRO (Terça feira).
TUBARÃO.—Do excellente jornal: O Panorama extra
himos o seguinte artigo: — A familia dos squalos abrange
muitas especies, e á frente de todas collocão os natura
listas o tubarão, o mais formidavel e feroz dos monstros
marinhos. Tem a bôcca enorme, armada de seis ordens
de dentes triangulares, serreados na borda, e muito
brancos, e que elle pela força dos musculos inclina para

traz ou endireita como quer. Com a bôcca aberta, os


olhos n’uma direcção obliqua, agitando, como a juba do
leão, as suas largas e fortes barbatanas, apresenta a ex
pressão de extrema ferocidade; nada com uma rapidez
que faz gelar de terror as suas victimas; as barbatanas
e a cauda são dotadas de grande vigor muscular.
Os tubarões têem a fórma dos cações, seus congeneres,
e ha-os tamanhos que medem para mais de vinte "#"
comprimento e oito de diametro; frequentão o mar alto
e tanto se encontrão nos mares do Norte como no Me
diterraneo; seguem os navios para aproveitar tudo quan
to d'elles se deita fóra, porque a sua voracidade é extre
ma; e se por desastre ou ímprudencia algum homem cahe
ao mar, grandissimo é o risco de ser preza do insaciavel
tubarão, que o traga com presteza quasi incrivel, e para
devorar a victima volta-se e atira-se de lado ; só na mui
veloz occasião d'este movimento é que um bom nadador
pode escapar-lhe, alando-o de bordo por um cabo. Como
são mui gulotões, esta qualidade facilita apanhal’os, e os
marinheiros se vingão n’elles fazendo-lhes tractos. O pei
xe não presta para comer, tendo as fibras sêccas e duras,
mas dos figados se extrahe porção de azeite, e a pelle é
excellente lixa grossa. Na ilha de Malta e em outras pa
ragens achão-se dentes petrificados, que se denominão
glossopetras, e que se diz serem de tubarão; não consta
que tenhão prestimo algum, álem de uma curiosidade
para adorno de museus e gabinetes de historia natural.»

5 DE NOVEMBRO (Quarta feira).

A EXISTENCRA BE BEUS,
(ANACHREONTICA.)
Suscitou comigo Eurinda [De repente, e sem fallar,
Sublime disputa um dia, Confundi Eurinda bella:
ual a existência de Deus Ella apontou para o sol,
om mais rasões provaria. Eu apontei para ella.
Antonio Cyro Pinto Osorio (Brasileiro).

(Almanach 54, pag. 308.)


341 {}
6 DE NOVEMBRO (Quinta feira).
CONGRESSO METEOROLOGICO. — Grandes vanta
gens se espera que para a navegação resultem do Con
gresso Meteorológico ha pouco na Belgica reunido para
à adopção d'um systema uniforme de observações me
teorologicas feitas no mar, e a que concorreram quasi
todas as nações da Europa. Emittio-se n’elle o pensa
mento; e com elle se conformaram os delegados d'essas
nações, que désse cada nação maritima instrucções par
ticulares aos seus navios sobre o modo de fazer as obser
vações, e para que sejão adoptados os diferentes mode
los de instrumentos que mais proprios se reconhecerem
para que se consiga a desejada uniformidade. Já ás Cama
ras de Commercio dos principaes portos da Belgica foram
communicados os trabalhos das conferencias maritimas,
e tudo faz esperar que os capitães, fretadores de navios,
e todos os que têem interesse em que as viagens sejão o
mais curtas possivel, apreciando as immensas vantagens
que d’ellas devem resultar para a navegação, lhes prestem
igualmente o seu concurso. A Academia das Sciencias de
ruxellas foi incumbida de designar os instrumentos que
mais proprios julgar para isto, e de dar as instrucções pra
eticas do modo por que as operações deverão ser feitas.
Já os Reis de Suecia e Noruega ordenaram que as obser
vações dos seus oficiaes de marinha fossem communica
das á Academia das Sciencias de Stockolmo; igual de
terminação tomaram Portugal e os Paizes Baixos; o Al
mirantado britannico mandóu fazer as mesmas observa
ções em toda a marinha real; declarou emfim a marinha
mercante ingleza e hollandeza que prestaria o seu ac
tivo concurso ao projectado systema. Facil será que por
uma immensa massa de observações de tal natureza fei
tas em todas as diversas latitudés se possão determinar
em breve praso quaes os ventos que mais geralmente do
minão n'este e n'aquelle mez em todos os mares, e do
termo médio de todas ellas se colha maxima *#
dade de que indo buscar esta ou aquella latitude, se
guindo tal ou tal derrota, se poderá diminuir e numerº
de dias d'uma longa navegação.
7 DE NOVEMBRO (Sexta feira).

Frientisis"…TE…>fs>
?" disse á estrella o caminho
ue ella hade seguir no céu ?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu ?
Quem diz á planta : « Florece ! »
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda,
Os fios quem lh'os enreda?
Ensinou alguem á abelha,
Que no prado anda a zumbir,
Se á flor branca ou se á vermelha
O seu mel hade ir pedir ?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem....
Ai! não m’o disse ninguem.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrella,
Como ao ente o proprio fado
Por instincto se revéla,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destina,
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Visconde d'Almeida Garrett.
343
8 DE NOVEMBRO (Sabbado). - Y

TESTAMENTO DºuM POÉTA.

#-3
i#
">
É=
9 DE NOVEMBRO (Domingo).
PHILIPPOLIS OU PHILIPPOPOLIS. — E' uma cidade
da Turquia européa, na Romelia; tem uns 30,000 habi
tantes; foi destruida quasi inteiramente por um terre
moto em 1808, e havia sido edificada originariamente
or Filippe de Macedonia, pai de Alexandre Magno. O
undador tinha-a appellidado: Ponéopolis, que vale tan
to como: cidade de má gente, em razão de a ter povoadp
com homens da Phócide, por quem fôra saqueado o tem
plo de Delphos; os moradores porém pagaram a desfei
ta com um obsequio, e chrismaram a cidade, dando-lhe o
nome, que sempre depois ficou tendo, do seu*#
10 DE NOVEMBRO (Segunda feira).
AMOR E COADJUVAÇAO. — E o titulo de uma So
ciedade que em França acaba de ser instituida, e de que
já fazem parte muitas notabilidades em todos os ramos.
Se fosse possivel conseguir que os homens todos verdadei
ramente se amassem, n'esse intimo sentimento se apoia
ria, não só a mu
tua coadjuvação, mas
até a prosperidade
dos povos. Acaba
rião por uma vez,
as intrigas, as ca
lumnias, as malque
renças, as invejas,
as inquiétações do
mesticas, as guer
ras, e todos quantos
desastres d’isso tudo
se originão !.... Fi
gura-se, não obstan
---- te, méra utopia um
tal projecto, pois fôra indispensavel para que vingasse
extirpar do coração humano o egoismo, que predomina
em todos os actos da vida, e sejão quaes fôrem, o sexo, a
idade, a condição, e as circumstâncias, ainda as mais
felizes.
11 DE NOVEMBRO (Terça feira).
COUSAS EM QUE SE NAO PODE ACREDITAR. —
Diz um critico (eu não, ainda assim ! ...) que são as
seguintes — Juramentos, finezas, promessas de casa
mento, lérias de janotas, religião das beatas, lagrimas
de mulheres, prognosticos de médicos, vaticinios de al
manachs, noticias de periodicos, chôro de viuvas, indi
cios de bom tempo, quebras de fallidos, e discursos de
deputados.
345
12 DE NOVEMBRO (Quarta feira).
TOCA A BEBER.

Amigos, no vinho — se enterre a tristeza !


O vinho é thesouro — de immenso valor |
# bebe um almude — não sente a pobreza;
De todo o universo — é dono e senhor:
Nos campos de Marte — desterra a fraqueza,
Tambem nos inflamma — nas lidas de amor.
A. M. C.

N. B. —Sempre será bom declarar que o author nun


ca em sua vida bebeu vinho.

13 DE NOVEMBRO (Quinta feira).


CHARADA.
Pºéta, antigo 1 Cidade antiga e>
Teve tal nome. De grão reneme. "
Atraz das Nymphas,
Por entre brenhas,
Com pés de cabra, •

E enormes grenhas ! ...


Fortes patétas -

São os poétas ! ... * * *


346
14 DE NOVEMBRO (Sexta feira).
A $@$#NAMEEEUELA.

(Historia de todas as terras, em linguagem da Maia).


Fui mal a vexada Na minha #
Que sestro que tinha!) Compuz a rodilha (4),
onhando vagava E tem-te não caias
Por casa e cortinha (1). Lá puz a envasilha (5).
Sem medo de bruxas, Encero (6) p'ra casa,
Ou tardo damnado (2), Mas vai ao chegar
Ou do corredor (3), Esbarro na porta,
Que corre seu fado. Acordo a pingar.
Eu tambem corria Na noute seguinte,
Um fado de moira ! Que susto fui ter !
Andava dormindo Só de fallar n’isso
N'uma dobadoira. Me ponho a tremer!..
Saltei, alta noute, Eu pégo, sonhando,
Do catre no chão ; Na minha formada (7),
As saias enfio, E á zen ha me vou :
Envergo o gibão. (Que tal caminhada !...)
Agarro no cant’ro, D'um templo de frades
A fonte fui dar, Passava mui perto,
Enchi-o té riba E vi-o, passando,
(E sem acordar 1). Com luzes e aberto.

2
} Cortinha, campo chegado á casa.
Tardo, é o diabo que a deshorasapparece nos ea
min os na fórma d'um carneiro.
(3) Corredor, é a pessoa que em figura de cão ou bur
ro corre de noute até que lhe fação sangue.
(4) Rodilha, panno torcido que mettem debaixo dos
pesos que levão á cabeça.
}6
Envasilha, todo o vaso que leva liquidos.
Encerar, ir direito a algum sitio.
7 Formada, o grão que cada semana fazem moer e
de que fazem o pão,
347
Ora, como via «Santinha, ao meu sacco
Não posso dizer, . Não me deita a mão ?
Só sei que a dormir Sósinha me custa
Me fui lá metter. Erguel'o do chão. »
Os altares tinhão «Irmã, eu não posso,
Accezas as luzes; Me diz, ajudal'a;
Estavão cobertos Morri tão fraquinha,
Os santos e as cruzes. Que nem tiro a falla (2).
No corpo da igreja Tem esse da esquerda
Que povo que havia!... (1) Talento (3) e poder,
Mas tão caladinho, Que morreu de subito
Que nada se ouvia. Estando a comer. »
E frades sem conta Acórdo de susto,
Lá no altar mór, Alanco (4) a fornada,
Queimavão incenso E saio tremendo,
Em honra ao SENHOR, De medo gelada.
Pousei o meu sacco, Dera meia noite
E puz-me a rezar, Na torre da igreja;
Não crendo que a missa Como então me via
Podesse tardar. Ninguem mais se veja !....
Mas eu tinha pressa, Depois bom remedio
A missa não vinha, Fui descortinar;
E disse á direita Por ser proveitoso
A uma visinha : O quero ensinar.
Abrace um burrinho
Nascido de pouco,
Quem queira escapar
A sonhar tão louco.
Maria Peregrina de Sousa.

(1) E geralmente crido que em muitas igrejas se le


vantão os finados para fazer oração (e entre elles os fra
de? lá por horas mortas.
Não tirar a falla, não ter força para fallas.
3
A Talento, força.
#
Alancar, levantar com custo.
348
15 DE NOVEMBRO (Sabbado).
GATO. – Este animal, inimigo mortal dos ratos, tem
unhas, dentes, lingua e olhos, tão parecidos com os do
leão, que bem ?? e chamar-se pequeno leão domes
tico: d'esta grande semelhança tomaram os turcos moti-
vo para dar credito á fabula do Alcorão (A. 51, 2 d'0u
tubro), que diz que na Arca de Noé nascera o gato do es
pirro do leão (A. 56, p. 225). Ha gatos bravos; são al
guma cousa maiores que os caseiros. Segundo observa
ções médicas, muitas cousas do gato são contagiosas:
o bafo tão venenoso, que pessoas que dormião com ga
to, com a continuação se fizeram thysicos; miolos de
gato comidos causão crueis dores de cabeça, ou fre
quentes vertigens,
e a alguns fizeram
perder o juizo; o
cabello do gato é
tão venenoso, que
de um pello , que

engulira com leite
morreu
mano de aquelle
que ro-
faz F- -<==
---- -
*>

menção a historia; esfregando algum espaço de tempo


as costas de um gato a arripia cabello, sahem uns como
raios de luz, ou faiscas de fogo, que se vêem melhor
em logar escuro. Tambem é opinião, que dos olhos do
gato sahe uma qualidade maligna, que faz tremer al
gumas pessoas; mas a estes tães é causado este tre
mor da antipathia que tem com este animal, porque
ouvindo miar um gato, lhes succede o mesmo. Dizem
que na India ha uns gatos silvestres, que nas ilhar
gas, dos pés até ás mãos, têem uma membrana encolhi
da, com a qual, quando a abrem, podem voar. Tambem
é celebre, nas relações que vem da India, outra casta de
# que n'uma especie de algibeira, trazem a seus fi
hos, e com elles saltão e correm ligeiros, — BLUTEAU.
349
16 DE NOVEMBRO (Domingo).
DIFFERENÇA DAS HORAS NOS DIVERSOS PON
TOS DO GLOBO. — Dissemos a pag. 214 do Almanach
de 1851, que tinha a terra dous movimentos; um de ro
tação sobre si propria, que se efectua em 24 horas e
produz o dia e a noute, outro de translação á roda do
sol, que se completa em 365 dias, 5 horas, e 49 minutos.
E' aquelle primeiro movimento d'occidente para orien
te, o que *]*? (álem d'outros argumentos) pela cir
cumstancia de fazer o sol o seu giro diario, app@rente,
no sentido inverso. Sendo determinado o momento do
meio dia pela passagem do sol pelo meridiano de cada
logar, claro está que quanto mais ao oriente este se en
contrar, tanto mais cedo passará o sol pelo seu zenith;
será por conseguinte ahi meio dia, antes de o ser nos
pontos situados mais a oeste. Avançando realmente a
terra d'occidente para oriente, na razão de 15 gráus por
hora, quando é meio dia no meridiano de Paris, é uma
hora depois do meio dia em todos os pontos do globo si
tuados no meridiano que está 15 gráus mais a leste, e
são 11 horas em todos os situados no meridiano a 15
gráus mais a oeste. Procurando-se pois n'uma carta geo
graphica a diferença de longitude entre dous pontos
quaesquer, facilmente se sabe a differença de tempo que
ha entre elles. Lisboa, por exemplo, está a oeste de
Paris; logo, 1.°, é meio dia em Paris antes de o ser em
Lisboa; por outras palavras, adianta a hora de Paris
sobre a de Lisboa; 2.°, a differença de longitude entre
Paris e Lisboa é de 11 gráus e meio; logo, a differen
de tempo entre os dous logares é de 46 minutos. Quan
em Paris é pois meio dia, não são em Lisboa se não 11 h.
14', Pela mesma razão, quando em Paris é meio dia, é 1
hora da tarde em Vienna d'Austria; 7 h. 20 da tarde em
Pekim, e meia noute na Nova Zelandia, visto achar-se
Vienna d'Austria 15 gráus a leste de Paris, Ispahan 50,
Pekim 110, e a Nova Zelandia a 180. (A. 54 p. 364)
17 DE NOVEMBRO (Segunda feira).
NOVO FOGO GREGEZ. — Antes de ler o que passa
mos a escrever, recommendamos a leitura do que sobre
o fogo gregez dissemos a pag. 284 do Almanach de 1852.
Curiosa por extremo é a experiencia que no tanque do
Palais Royal, em Paris, ha poucos dias se fez. Atirou-se
lhe para dentro um ballão de vidro, quebrou-se com
um páu, e immediatamente se misturou com a agua do
tanque um liquido de particular composição, que prin
cipiou a arder, deitando chammas e fumo, e assim com
tinuou durante quasi um minuto.
Segunda experiencia se fez d’ahi a dias no Sena, e
produzio o mesmo resultado, apesar de fazer bastante
vento e de estar a agua bastante agitada.
Facil é de reconhecer toda a importancia de seme
lhante invenção para ataque ou defeza d’uma praça, e
#" em um combate naval. Atirando aque}
e liquido em grande quantidade, por meio de uma
homba, contra o inimigo, produzirá terriveis resulta
dos. Um navio carregado de alguns recipientes do mes
moliquido, inflammado n’um momento determinado por
meio de rastilho, poderá incendiar facilmente uma gm
barcação inimiga e dar completamente cabo d'ella; ain
da quando se afunde antes de haver abalroado com o va
so que pretende incendiar, sobrenadará o liquido in
flammado, que em poucos instantes queimará a po
bre embarcação, atacando-a por toda a superficie exte
rior, d'onde em curtos instantes passará o incendio para
O interior.
Em vez de pensarem os homens em tão engenhosos e
eficazes meios de mutuamente se destruirem, melhor
fôra que trabalhassem por conseguir que todos vivesse
mos em paz, e o mais que podessemos, n’este valle de la
rimas, com que assim mesmo engraço mais que com o
e Josaphat, apesar da numerosa dompanhia que nelle se
hade reunir.
351 -
18 DE NOVEMBRO (Terça feira).
CORSEGA. — Grande e bellissima ilha do Mediterra
neo. Tem de circuito 187 léguas. E' delicioso o seu clima:
a brisa do mar tempera-lhe o calor. A cada passo alli se
precipitão das altas montanhas que de norte a sul a atra
vessão, e que parecem estar submarinamente ligadas
ás cordilheiras dos Alpes e Apenninos, innumeraveis
torrentes, cujas aguas limpidas e salubres levão a ferti

lidade e a vida aos campos visinhos. São cobertas quasi


todas essas montanhas de espessas florestas de pinheiros
e carvalhos. São muitas as fiquezas mineraes d’esta ilha
mimosa: d'ella tiravão os romanos excellente ferro;
granito e porphyro ahi são tambem, ainda hoje, commu
nissimos. Todos os animaes domesticos se encontrão na
Corsega, mas são mais pequenos: os reptissão ahi vul
# mas pouco perigosos; é facil curar n'aquella ilha
a mordedura do escorpião e da tarantula (A. 52 *###
19 DE NOVEMBRO (Quarta feira).
LOGARES MEMORAVEIS. —N'uma nota assim inti
tulada, impressa no meu livro: Camões, de pagina 289
a 296, se pônderou a grande conveniencia e facilidade de
se assignalarem, para veneração e incitamento, os sitios
em que nasceram, viveram, ou acabaram, homens céle
bres. Alli se davão conselhos bons ás Camaras Munici
paes, os quaes principalmente se reduzião a fazerem el

las pregar sobre taes edificios laminas metallicas com os


competentes letreiros esculpidos, e a impôr os nomes de
que a patria se ufana ás praças e ruas das grandes po
voações. Hoje que temos um ministerio especial de obras
publicas, e á testa d'elle um ministro dos mais distin
ctos e zelosos pelo augmento da patria, pareceu bem
renovar aqui a mesma proposta.
A. F. de Castilho."
353 12
20 DE NOVEMBRO (Quinta feira).

eARA, "$7'#e Ara_e>

Vida!... sonho ! vã promessa, De teu vertice no seio,


Que ao nascer se faz ouvir! Leve gemido deixou
Longo mal, que mal s'expressa O infante que ha pouco veio
No prematuro carpir | Dizer no pranto: Aqui estou.
Aventura ahi nos mente ; |Rodão annos; té que um dia,
E d'angustias o presente; Rôta a nevoa que entibia
Tal o passado foi já ; O claro sol da rasão,
No futuro, álem, que existe? O gemido, outr’ora a custo,
Do receio a nuvem triste, Sevigora no ai robusto
Que tristes annuncios dá. De mais robusta afilicção.

E sempre o pé da desdita
Esmagando esp'ranças vás,
Desde a infancia, que palpita,
Até ao murchar das cãs !
Sempre a sorte em bens escaça,
Só profusa na desgraça,
Que derrama a plenas mãos,
Em vez de premios, castigos,
E o rancor dos inimigos
Em vez do affecto d'irmãos!...

Nos rostos o amor fraterno


Simula dourada paz;
(Corre, á voz da #dº.
Dos crimes o turbilhão,
I

E dentro d'alma o inferno Como a solta tempestade


D'esse egoismo voraz ! Nas vagas da solidão.
Qual, rugindo, a brava fera|Fulmina em raios a ira,
Preza inerme dilacera, Esse genio que respira
Nas brutas garras, sem dó...]O veneno das paixões,
Devora-se homem por homem. E contra os peitos gelados
Pous nadas que se consomem, Vem bater de negros fados
Rojando pó sobre pó. Impetuosos tufões. 354
Se o mundo é idolo immenso!Eu maldigo d'esta vida
Que deslumbra d'esplendor, Riso que Íngrimas tem ;
Em nuvens de torpe incenso.O vil monstro fratricida
Perde o brilho seductor. Neila maldigo tambem !
D'attractivos nunca exhausto Renego o mundo falsario,
De monarcha ostenta ofausto, Que aoRedemptor noCalvario
Mas d’escravo tem o ser, . Propinou morte ruim!...
E é n’elle que a humanidade Por outro mundo me abrazo,
Troca o bem da eternidade Onde a luz não tem occaso,
Pela imagem do prazer ! Onde a vida não tem fim !..
A. de Cabedo.

21 DE NOVEMBRO (Sexta feira).


MAIS NOMES ORIGINAES. — Aos que se lêem a pag.
349 do Almanach de 1854 muitos outros podem juntar-se.,
O Procurador da Corôa e Fazenda em Macáu é casado
com uma excellente senhora, que se chama D. Eudoxia,
e seus filhos têem sido baptisados com os seguintes no
mes: — Asclepiades — Hermogenes — Epigmenes —
Glaphyra — Metrodora — Asteria — Benildes. Tem um
afilhado que se chama: Taxion Aureo Ptolomeu.
Ha dous Capitães de sumacas no Brasil que têem estes
extravagantes nomes: Grato Golinda Deudeu Acayaba
Paraguassú — Miguel Jeripari Caiçaz da Motta Autrão.
Não ha muito que morreu um Oficial de Marinha cha
mado : Victorino Antonio Sebastião José Gregorio.
Esteve em Lisboa, e não sei se ainda está, uma perfei
ta educadôra, chamada: Nize Floresta Brasileira Augusta.
Um empregado da Alfandega Grande de Lisboa tem
uma filha chamada: Bernarda Anniversaria, porque nas
ceu no 1.º anniversario da revolução de septembro.
O actual Administrador do Concelho no Funchal tem
por nome : Tarquinio Taco Torquato Tasso.
355 Francisco Pereira Barbosa Nogueira.
OO
22 DE NOVEMBRO (Sabbado).
CANDEIA QUE VAI ADIANTE. — Um fulano, por ap
pellido: Carrasco, morador na villa da Ribeira Grande,
em S. Miguel, ha hoje uns vinte e tantos annos, tinha
posto, no seu testamento
que lhe fizessem os her
deiros, com o muito que
para isso deixava, umas
exequias solemnissimas.
Considerando depois em
que as ultimas vontades
nem sempre erão bem
pontualmente cumpridas,
e por outra parte lem
brando-se do rifão: cam
deia que vai adiante, as
sentou em mandar fazer
as exequias em quanto vi
>##
vo e são, afim de ter tam
---- bem o gosto de assistir a
ellas. Assim se efectuou, e ainda agora corre fama n'a
quella ilha do lusido e estrondoso da festividade, em
que, por entre os luctos da igreja, foram mais os risos
que as lagrimas, porque em quanto a cléresia atroava
com os responsorios e absolvições a eça de pinho ador
nada de negro, o heróe da festa, gordo como um porco,
córado como um pêcego, e ufano como um empresario
em dia de peça nova, se repotreava no logar d'honra
n’uma bella cadeira de braços, tomando o seu esturro e
oferecendo-o aos vivos. Finalisado o acto, e conti
nuando ainda os sinos a dobrar até á noute, levou pa
ra sua casa os padres a d"# houve brodio ras
####
ebeu
e consta que o que de melhor vontade comeu e
foi o defuncto.
O elogio funebre, unica parte da ceremonia que es
quéeera, parece que lh'o fizerão os herdeiros. 56
23 DE NOVEMBRO (Domingo).
POTICHOMANIA. — E o nome que em Paris se deu a
um passatempo dos mais divertidos, que já alli passou
de voga, e que só agora entre nós principia a ser conhe
cido. Uma senhora conheço eu que leva a sua vida aqui
em Lisboa a potichomanar.
Péga-se em um copo ou vaso de vidro, seja de que di
mensão e de que fórma fôr, e na sua superficie interior
se vão collando com gomma arabica, depois de recortadas,
figuras coloridas; revestida assim essa superficie, cobre
se toda de tinta fina diluida em óleo, passando para esse
fim com um pincel no interior do vaso. E está prompto.
Se as figuras são bonitas e vivas as côres, fica lindo.
No Centro Commercial, ao Loreto, se vendem, chega
dos de Paris, bellissimos papeis com figuras e desenhos, e
vasos de vidro de diferentes fórmas e dimensões para este
recreativo passatempo, que aconselhamos ás nossas lei
toras. Muitos d’aquelles papeis representão figuras e
objectos da China, os quaes dão aos vasos potichoma
na dos a apparencia de vasos do Japão.
24 DE NOVEMBRO (Segunda feira).
BISPO DE CAHORS E VISCONDE DE CESSAC. —
Anda ligado um encargo dos mais singulares ao Viscon
dado de Cessac em França. O Visconde existente é hu
milde subdito do Bispo de Cahors, e deve conduzil’o e
servil'o quando tomar posse, esperando-o para esse fim
á porta da cidade, com a cabeça descoberta, sem capa,
núa uma das pernas, e um pé descalço: assim que chega
o Prelado, condul'o, pelo freio da mula em que dá entrá
da, até ao Paço Episcopal, e ahi o serve á meza, vestido (e
despido) sempre de igual modo. Tem pelo seu trabalho a
mula e o bufête do Bispo, o que orça de ordinario pelos
seus 3,000 francos. A figura que faz para os ganhar não
*#* mais brilhantes! ...
25 DE NOVEMBRO (Terça feira).

A_\, <=#######E"#Fº!
Sou filho teu: meus ossos cobre ao menos,
Terra da minha patria, abre-me o seio.
(GARRET — CAMÕES C, X.)
Correi sobre esta campa alevantada,
Lagrimas tristes minhas, orvalhai-a,
ué a aridez do sepulchro em torno vejo.
Oh! flor de poesia, flor tão bella,
Quem entre os goivos te esfolhou da campa ! ...
Eras cedro frondoso, que a folhagem
Ostentava co’o sol da primavera;
Hoje a sêcca raiz ao ar assopra
O rijo furacão que o vento impelle ! ...
Collosso de poesia e sentimento,
Brilhavas entre os genios, tão altivo
Como ao vento do sul se embala ufana
A palmeira gigante do deserto.
Eis sumida no occaso derradeiro
Essa estrella polar da nossa gloria!...
Do sacro lume o fulgurar tão vivo,
Scintillou... scintillou... e alfim sumio-se !...
Como o cysne inspirado e agonisante,
Ultimo canto exprime em voz solemme,
Finaes accentos de quebradas notas,
Onde o sêllo da morte já se imprime,
Tal nos déste o teu canto derradeiro,
Folhas — folhas cahidas — desprendidas
Da tão florida cºrôa que cingia
A mais nobre cabeça!... Salve, genio !
A beira do sepulchro hoje revives;
Não já na forma material e humana,
358
Mas sim gigante espirito, desprendes
As azas ponderosas, e revôas
Da eternidade ao seio, e desce á campa
O involucro mortal onde os thesouros
Immensos de poesia se encerravão !
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • * *

Cantor ! cantor de gloria e de saudade,


Que saudades nos deixas !... desfolhada
A rosa do porvir, purpurea e bella,
Entre os goivos se perde... Submergio-se
A náu possante, que vogava afouta
No procelloso mar da humana vida!...
Perdeu-se no areal da eternidade
Mais essê grão d'areia; mas o vulto
Do nome teu, ficou pr’a nós inscripto
Em paginas douradas. — Succumbiste,
E na extrema agonia despresaste
As glorias mundanaes, para abraçar-te
Com a cruz do Senhor — Grande na vida
Foste, mas no morrer maior ainda!
Correi sobre esta campa que se fecha,
Lagrimas tristes minhas, orvalhai-a,
Que a aridez do sepulchro em torno vejo !...
Genio inspirado de poesia immensa,
Dorme, repousa em paz na campa fria!
D. Maria Rita Collaço Chiappe.
26 DE NOVEMBRO (Quarta feira).
CHARADA.

R##### !
Mas ai de mim
Se ha boi matreiro ! * * #

359
27 DE NOVEMBRO (Quinta feira).
RAMALHETINHO DA PUERICIA. – E' uma publica
çãosinha creada pelo Director da Eschola Normal Prima
ria de Lisboa, o Sr. Luiz Filippe Leite.
Os numeros 1 e 2 (Deveres dos meninos), 3 (Preceitos
Hygienicos em verso), 4 (Jôio, em verso tambem) por
ora impressos, têem tido um acolhimento, que bem prova
a estimação em que são tidas obras d’estas, pequenas no
formato e no preço — pois cada livrinho se vende por 20
réis — mas grandes no alcance que para a educação popu
lar têem innegavelmente. O Sr. Leite, metrificando quasi
todos os tractados que em miniatura vai dando para as
escholas primarias de um e outro sexo, e para o ensino
domestico, illustrando-os de gravuras, tornando-os in
teressantes e appetitosos pelo tempero que sabe dar á
phrase, faz um verdadeiro serviço. A imprensa da capi
tal e das provincias saudou está util empreza, pagando
aos esforços com que o seu author se consagra a assum
ptos que interessão altamente a instrucção nacional, um
tributo devido. Nós, dando n’este livro noticia da obra, e
contribuindo para que o Ramalhetinho seja cada vez
mais conhecido, levamos aqui um bom conselho aos
pais e mãis de familia e aos professores de instrucção
primaria, a quem muito interessa conhecerem e adqui
Tirem a collecção que recommendamos.
28 DE NOVEMBRO (Sexta feira).
JEJUNT D'ABBADE.
Certo prelado almoçava « Almocei já duas vezes»;
Quando chegou outroabbade;|Torna este: «Isso é commum;
Off'rece um, recusa o outro;|Almoce tres» «Não, não posso
E o porque diz em verdade: Que hoje é dia de jejum.»
Visconde da Pedra Branca ("";}
29 DE NOVEMBRO (Sabbado).
s_> "He Aia_>IIf__H}e

Teimastelao baile esta noute E nas vagas doudejantes


Irás já, mas já sem mim!... Entregue á raiva e á dor;
E se entre as danças ruidosas Depois, ao clarão da lua,
As saudades dolorosas N'aquellas noutes formosas,
Minha imagem te lembrarem, Noutes d' amor e de rosas,
Chora, pensa, e dize assim: Se fito a vista no espaço,
«Nunca mais!matei o encanto Cuido em luminoso traço
Do que n'este mundo havia Soletrar o nome d'elle ;
De maior e de mais santo ! Depois, se a tormenta surge,
Desfolhei de flor em flor E algum raio ao longe cahe,
A corôa que elle formara Na chamma cuido que vai
Das galas do nosso amor ! O resto do seu amor ! ...
Ai! adeus! que amor aquelle! Depois nas horas solemnes,
Que illusões e que ciumes!.. Que ás vezes cortão a vida,
E ainda o clarão dos lumes E uma esperança querida
D'esse frenetico afecto Se desfolha e a leva o vento,
Me abrasa o pensar inquieto Quando nossa mã1 nos morre,
De remorsos e queixumes ! Eque nosso irmão se ausenta,
Vejo-o nas palidas sombras E a saudade nos rebenta
De um sonhar vago e incerto, Na alma de noute e dia,
E quanto mais longe o julgo Vejo morta, extincta, e fria,
Mais d'elle me sinto perto I Aquella fronte que outr’ora
Vejo-o nas agoas dormentes Era a rival radiante •

Inda a fallar-me d'amor, Do sol, da luz, da alegria!


Julio Cesar Machado.

30 DE NOVEMBRO (Domingo).

REBELDE.—Nome dado por cada parcialidade á par


cialidade contraria.
361
1 DE DEZEMBRO (Segunda feira).
ANTIGUIDADES D'AGUIAR DA BElRA. — Esta villa,
cujo foral data do tempo da Rainha a Sr.º D. Thereza,
possue uma Casa da Câmara, e n’ella uma torre de cuja
construcção não ha memoria, e que não obstante se acha
em perfeito estado de conservação : o relogio que n’ella
existe, apesar de velho e de regular mal, é bem cons
truido. Ao cimo da praça ha uma antiga e bella fonte de
cantaria. Perto da villa, para o lado do poente, ha uma
ermida, antiquissima tambem, sob a invocação da Se
nhora do Castello, ermida que alli está em grande ve
neração, e proximo a ella um castello de pedra de can
taria, que parece obra dos romanos, e que apesar de sua
antiga solidez, está já bastante desmoronado pela incuria
das auctoridades administrativas e pouco zelo dos habi
tantes. Perto do castello ha um pequeno valle chamado:
de S. Pedro, e em uma de suas extremidades se notão os
vestigios da antiga ermida com o mesmo nome e da casa de
residencia do Parocho, as quaes foram abandonadas pelo
facto da divisão da commenda, ficando uma a denomi
nar-se: de S. Pedro de Cruxe, e outra: de Santo Euse
bio d'Aguiar: este passou a ser o orago da fréguezia, e
a sua capella a igreja matriz da villa, por estar mais
perto da povoação. } esta a verdade do facto do aban
dono da érmida de S. Pedro, e não a anecdota da Ca
bicanca (A. 54, p. 303), que não passa de uma lenda
popular.
José Pinto Saraiva de Meirelles Falcão.

2 DE DEZEMBRO (Terça feira).


CINTRA, — Villa que tem uma bella pagina na histo
ria de Portugal. Conquistada aos mouros por D. Affon
so Henriques, 1.º Rei da antiga Lusitania, foi graduada
logo, por elle com immensos privilegios e regalias con
cedidas a seus moradores. — A sua serra "#
apresentando na parte mais elevada dous castellos e
mais obras d’arte d'antiga edificação, a que se não po
de deixar de tributar respeito e veneração, faz-nos
acreditar que não ha alli uma unica pedra a que não
esteja ligada uma historia dos tempos antigos. Canta
da pelos primeiros poétas, Bernardim, Camões, Byron e
Garret, têm adquirido, no paiz e fóra d'elle, um nome
immortal, que a fará sempre reapparecer nos séculos vin
douros como um quadro poético, ameno e pitoresco de
Portugal. Imagine o que nunca pizou este recinto d'encan
tos, o declive d'uma enorme montanha cheia de alcanti
lados rochedos; uma sofrivel povoação edificada sobre
as desigualdades do terreno; um paço real irregular,
mas bello em sua architectura, no sitio mais nobre da
villa ; arvores seculares em todas as direcções; quintas
com palacios magnificos, antigos e modernos; torrentes
abundantes d'agua frigidissima, filtrada pelos montes;
penhascos que parece tocarem as nuvens; ruas cober
tas de ramagem, aonde no ardente estio não penetra um
só raio de sol; fontes em que corre a agua mais fria e
fina do nosso paiz ; o arco árabe ao pé da janella italica;
a ogiva gothica junto ao portico simples; imagine, em
fim, um paraiso de que nos é permittido gosar n’este
mundo, e ainda assim estará mui longe de imaginar
Cintra ! ...
« Cintra, amena estancia,
Throno da vecejante primavera,
Quem te não ama ? Quem, se em teu recinto
Uma hora de vida lhe ha corrido,
Essa hora esquécerá?»
Garret.
Que mais se pode dizer | -

Antonio da Cunha.

N. B. Nos artigos correspondentes a 6 de Maio e 9


d'Agosto do Almanach de 1851 enumerámos as curiosi
"# de Cintra.
6.
3 DE DEZEMBRO (Quarta feira).

M8BEL6 BE REQUER#ENTOS,
Assevera-nos quem deve sabel'o que o seguinte fôra
lançado na caixa da Secretaria da Guerra ! ....
• « SENHORA. »
Diz Fulana de tal, Viuva, que foi casada com o faleci
do defuncto fulano de tal, Capitão Mór da bicha, ordenan
gas, ou chuços, como a VOSSA MAGESTADE mais con
ta fizer, que na vida do finado
nunca a ella lhe faltou o preciso,
e ao presente, pelas trapalhadas
d’estas cousas que VOSSA MA
GESTADE muito bem hade sa
ber, se acha no ultimo aquarte
lamento da vida, sem ter nem
ara o seu tabaco nem para a
ruxa da noute, que é o que ás
vezes ainda lhe custa mais que
o pão; e como ella, e o seu de
functo, e todos os defunctos seus ascendentes, sempre
foram vassallos mui legitimos, e lhe aborrece ver tanta
miseria em sua casa,
Pede a VOSSA MAGESTADE seja ser
vida mandar essa gente das côrtes, ou
do jury, ou como é que se chama, que
lhe paguem a mensalidade d'uma me
sada mensal todos os mezes, que não
seja menos de seis mil réis, que as
sim mesmo não é de mais. Assim Deus
ajude a sua alma. E R. M.

LATIM DE CICERO. — Ouvindo um sujeito dizer que


só Cicero fallara bem latim, perguntou : «Aprenderia
com os Padres da Companhía?» 364
à DE DEZEMBRO (Quinta feira).
FEBRE AMARELLA. — Assevera-se que por um mé
dºco allemão e que ha nuuitos annos reside no Mexico,
f)ra descoberto que inoculado o veneno de certa serpen
te, se fica para todo sempre, e inviolavelmente, preser
vado da febre amarella e do vomito negro. Inocula-se do
mesmo modo que a vaccina e produz uma febre com os
mesmos symptomas da febre amarella, porém muito
mais branda. Nas pessoas que já uma vez tiveram qual
# d'aquellas duas molestias, nenhum incommo
o produz: assim 500 militares foram inoculados por
aquelle modo na cidade de Mexico (capital da populosa
républica de igual nome) e nem um só teve depois nem
vomito negro nem febre amarella.
Tem por ahi andado tanta gente scismatica (talvez por
ociosidade de espirito) com a cholera; foram, mesmo, tan
tas as precauções por alguns tomadas para se precave
rem d’ella, que talvez esses timoratos folguem de saber
um preservativo seguro contra molestias epidemicas da
mesma familia. Do Mexico, para onde ha da Inglaterra
frequentes relações, podem requerer tal veneno de
serpente em vidros semelhantes aos de vaccina; evita
rão assim ficar amarellos, se um dia se declarar a febre
da mesma côr, e que impossivel parece não nos haver já
honrado com a sua visita, attentas as relações quasi dia
rias que temos com o Brasil, onde tantas victimas ha feito.
5 DE DEZEMBRO (Sexta feira).
CHARADA.
Sem virgem ser a virgindade tive -

Em mim — commigo — e de mim nasceu:


Nasço, e morro quando morre 2
Quem nascimento me deu. "
Sou villa mui pequenina | Que dá titulo pomposo
Na Beira baixa situada, A Condessa nomeada.
José Augusto Corrêa Leal.
365
6 DE DEZEMBRO (Sabbado).
O TUMULO DE UMA MULHER – E-me dado passar
COI]] # junto do tumulo de um homem; mas
quando vejo o de uma mulher, escapa-me involuntaria
mente um suspiro. Associo ao nome da mulher tudo
o que ha de meigo, terno e delicado. Parece-me vê/a
— virgem — joven, modesta, com os negros olhos scintil
lando, com as faces animadas pelo mais puro sangue, com
o coração trasbordando de immensos e termos afectos.
Parece-me vêl'a, mulher, applicada ao exercicio de seus
deveres domesticos; depois amante e esposa, resumindo
a sua existencia em um sentimento unico, mas immenso
e insondavel; depois mãi, empregando em seus filhos a
ultima e mais rica porção de suas meigas qualidades;
depois, idosa, cançada dos sofrimentos e agonias do
mundo, caminhando placidamente para a sepultura. Oh !
quando se contempla bem o caracter de uma mulher,
eleva-se a nossa alma acima do nivel vulgar da socieda
de ! Foi ella creada para humanisar o homem, mitigar
as suas aflicções, e juncar de flores o seu caminho. Na
hora da desventura, sabe fortalecer-nos; e quando o
destino põe fim á nossa existencia, orvalhão o nosso
tumulo as suas lagrimas. Quem, sem profunda impres
são, olhará para a campa de uma mulher ? Sempre se
faz justiça á memoria do homem ; , á da mulher, nun
ca. As paginas da historia estão abertas para elle; as
meigas |""## da mulher dormem esquécidas na
sua sepultura. E em quantas d’ellas, todavia, não brilha
vão, o genio de um poéta, ou as virtudes de um santo ! !
Aquella que passou despresada pela vereda esteril da
existencia, chorou por outros, como eu agora choro
sentidamente por ella ! ...
PºAntonio de Macedo e Silva.
(A. 53, p. 257. A. 54, p. 343.)
366
7 DE DEZEMBRO (Domingo).
NOVO EMPREGO DA ELECTRICIDADE. —Tratava
se ultimamente em Brayhead, na Inglaterra, de aniquil
hr um enorme rochedo de 50 metros d'altura, que entra
va pelo mar dentro, e que obstruia o caminho de ferro
projectado entre Kingston e Wexford. Fizeram-se-lhe
no alto, em tres pontos diferentes, buracos de 8 metros
de profundidade e 102 millimetros de diametro, e en
caeu-se cada um d'elles com 40 kilogrammas de polvora.
Estabeleceu-se depois uma communicação, por meio de
conductores metallicos, entre os pontos minados e uma
bateria galvanica de grande força, a qual, uma vez pos
ta em acção, inflammasse aquella polvora. Feitos estes
preparativos, e enchendo-se um vaso de mercurio afim
de pôr em contacto os conductores enterrados na polvo
ra º os presos á bateria electrica, foi a extremidade de
todos elles, a um signal dado, collocada no mercurio, e
# instantanea, foi a explosão, que se assemelhou á
e uma descarga d'artilharia. Dez metros da parte su
perior do rochedo, contendo duas mil tonelladas de pe
dra mui solida e dura, foram complétamente arram
cados e cahiram aos bocados; a báse descoberta foi
por tal modo abalada, que na profundidade de 5 a 6
metros se arrancavão as pedras com tenazes de ferro.
Fôra colocada a bateria galvanica a 13 metros do logar
da explosão: os conductores, formados de fios de cobre
unidos a fios de platina, tinhão 40 metros de comprimento.
8 DE DEZEMBRO (Segunda feira).
TEMPLO D'APHRODITE. — Aphrodite vem do grego,
e vale tanto como: sahida da escuma, porque da escu
ma do mar dizem os poétas, com Hesiodo, que, nasceu
Venus. Sob a invocação de Aphrodite, teve a Mãi dos
Amores e das Graças varios templos por toda a Grecia,
com grandes e custosas solemnidades, e romaria mui de
367
longe. Aphrodicias se chamavão aquellas festas. No pro
montorio out’ora denominado: Aphrodisium, e hoje Ca
bo de Cruz, já pheni.
cios, segundo é fama
tinhão levantado um
templo a Aphrodite. De!
mora este cabo entre
França e Hespanha, a
certa distancia de Re
ses e da antiga Ampu
rias, bojando assaz pao
Mediterraneo. Tiveram
para si alguns escript)
res que sobre a corôa do
promontorio é que ter
reava o edíficio, mas a
verdade é que n'esse
posto não havia siticpa
ra tal fabrica. Um au
• thor judicioso quer que
= - fosse n’uma assentada
dos Pyrenéus que olha para a aldeia de Llansa, peragem
d'onde os olhos se espairêam pela amplidão do mar.
Pode-se crer que foi nos proprios alicerces da casa
# que se erigio o mosteiro de S. Pedro de Rodas.
ão ha poéta para metamorphoses como é o tempo! DeVe
nus Aphrodite fez um S. Pedro de Rodas, e do promonto
rio Aphroditium, Cabo de Cruz; nome tirado d'umas cru
zes de páu outr’ora arvoradas na portaria do promontorio.
NUVENS. — São regadores do céu para a fertilidade
da terra; toldos armados contra os ardores do sol; ilhas
nadantes e montes que voão : candidas nuvens que ser
vem de mantilha ao sol quando nasce: em nuvens negras
se amortalha quando morre; e quando o acompanhão pur
pureas, fazem mais pomposa do Principe dos Astros a
retirada. ("#
9 DE DEZEMRRO (Terça feira).
ANATOMIA. — Se o conhecimento da geographia se
tem por cousa #*#*# n’uma educação regular,
quanto mais racional não fôra ainda que ninguem dei
xasse de saber a geographia interior do seu proprio in
dividuo, que é o que se chama anatomia ! Assim como a
geographia é base para a historia, a anatomia traz logo
comsigo um pouco de physiologia e de Pºlº. C

conseguintemente um pouco tambem de hygiene e de


medicina. Algum dia virá em que pareça impossivel, que
por milhares de annos, e em toda a parte, se aprendesse
réthorica, poé
tica, musica,
dança, civilida
de, linguas, de
senho, e mil ou
tras cousas, mais
ou menos dis
pensaveis, e nem
os pais de fami
lias mandassem
ensinar aos fi
lhos, nem os che
fes dos estados
• aos cidadãos, o
que directamente se refere ao conhecimento do seu phy
sico, á conservação das forças, á prolongação da exis
tencia. Para que esses tempos de melhor juizo se avisi
nhem, muito importaria que os escriptores populares
fossem recommendando e aconselhando o estudo da ana
tomia. O maior obstaculo que havia para este estudo se
fazer era o asco e horror do cadaver, e o perigo tam
bem que ás vezes havia em aspirar exhalações mephy
ticas e deleterias que sahião das entranhas e mem
bros estragados e corruptos. Hoje não existe essa objec
#" cadaveres artificiaes, onde todas as peças ana
tomicas mais importantes, fabricadas de certa materia
solida, estão entre si concertadas a formar o corpo. Este
se desmancha a peça e peça, se estuda cada, orgão de
per si, e depois, como todas ellas são numeradas, facil
mente se recompõe. Em Lisboa existe um d'estes cada
veres plasticos pertencente a um medico e distincto ana
tomico o Sr. Dr. Amaral Frazão, Oxalá que elle se resol
vesse a dar, para proveito dos curiosos de um e de outro
sexo, um curso d'esta aceadissima anatomia, acompa
nhado logo de algumas noções geraes, physiologicas, pa
thologicas, hygienicas, terapeuthicas, etc.
Antonio Feliciano de Castilho.

10 DE DEZEMBRO (Quarta feira).

CORAL. — Assemelha-se o coral a um arbusto sem


folhas e lança a raiz em rocha dura; é compacto, e co
berto de um involucro bastante carnudo. E' a mais pre
ciosa substancia do mar, logo depois das pérolas (A. 51,
9 de Maio e . 1 de Outubro, A. # 116). E quasi sem
re incarnado, ás vezes tambem côr de rosa ou amarel
ado, interiormente porém sempre branco. Um ramo
de coral separado do tronco vai continuando a crescer
no fundo de mar se de novo toca em rocha. E' objecto
este artigo de particular industria e de grande com
mercio no Mediterraneo. Pesca-se ordinariamente a
20 ou 25 metros de profundidade. E' com thesou
ras de madeira cobertas com estopa que se quebra
o coral, que vai cahir n’uma redesinha de cordel pre
sa na mesma thesoura. E' sobre tudo em Marselha
que se fabrica o coral, que serve para mil ornatos. Até
o fim do século XVII foi considerado mineral pelos na
turalistas; , depois, vegetal; o que porém é certo, é
que ainda hoje se não sabe como realmente deva ser
classificado, - -

370
11 DE DEZEMBRO (Quinta feira).
PÉGADA DE CEYLÃO. — No cume da mais alta ser
ra da llha de Ceylão, em que tanto se distinguiram os
nossos antepassados, ha uma pequena planicie de 30
passos de diametro, no meio da qual está uma pedra
mais alta dous covados que toda a planicie, a modo de
meza, e no meio d’ella se vê impressa uma pégada d'ho
mem. Terá de comprido dous palmos, e dizem os na
turaes da ilha que é a de um homem que alli foi ter,
e ali esteve muitos annos, prégando a crença de um
só Deus, creador do céu e da terra. De pontos muito
distantes concorrem áquelle sitio peregrinos da gentili
#" parte do Oriente a venerarem a famosa
pegada.
«Podemos com probabilidade afirmar (disse o Padre
Bartholomeu Guerreiro, da Companhia de Jesus, n'um
sermão em dia de S. Thomé no anno de 1623) que a
#"? que em um alto monte está hoje impressa na
lha de Ceylão, e que a gentilidade dos Chingalás tem
por do primeiro homem, foi de S. Thomé, pois não lhe
escapou esta ilha da prégação do Evangelho. »
12 DE DEZEMBRO (Sexta feira).
/>
DEDICAÇAO MATERNAL. — Appareceu já ha muitos
annos um navio naufragado proximo a um banco d'areia,
no Mar Pacifico. Entrou-se dentro, e uma das primeiras
cousas que se vio, foi o cada ver d’uma pobre mulher,
que morrera apertando contra si um pobre innocenti
nho, que ainda respirava, e avidamente estava chu
pando algumas gottas de sangue que sahião de um dos
peitos da mulher: presumio-se que era a mãi, que á
falta de leite rasgara o seio para alimentar o filhinho!...
D'este facto, logo depois de occorrido, deram noticia
todos os jornaes, e merece na realidade ser registado no
"#" dos innumeraveis documentos do amor materno.
13 DE DEZEMBRO (Sabbado).
MODO DE AFUGENTARRATOS. — Havia tantos como
praga em uma casa d'Alfama, e por mais ratoeiras que se
armassem, não º
havia dar-lhes
cabo da pelle.
Que faz o in
quilino ? agar
ra n’um, põe
lhe um gui
zo ao pescoço,
dá-lhe a liber
dade, e tal ba
rulho faz este d’ahi em diante, que serve de espanta
jho aos outros, e não haver mais nenhum.
14 DE DEZEMBRO (Domingo).
CHARADA.

Fui cidade portugueza, }


Mas em terras do Brasil,
Que deu titulo a Princeza \
Pura, amavel, e gentil.
Dando saltos repentinos, )
JE em continua agitação,
Giro em dedos femininos
De rasteira condição.
Tem alguma semelhança
Com as serpentes e cobras;
E preciso em muitas obras,
Nas quaes entra com chibança,
Sem que depois appareça
Mais que o alto da cabeça,
Que umas vezes é raxada,
E outras vezes é furada. A. M. C.
15 DE DEZEMBRO (Segunda feira).
RIO DA PRATA. — Mentio o Padre Cattaneo (apesar
de Padre) em diversas de suas asserções relativas a es
te rio, mencionadas a pag. 332 do Almanach de 1853.
O Rio da Prata (aliás rio da brata, por ser o seu fun
do todo de % não tem 50 léguas, mas sim 30, na sua
foz, desde o Cabo de Santo Antonio até á Ilha dos Lobos.
Vê-se alli um grande banco, a que chamão do Inglez, sum
mamente perigoso, e a que nenhuma embarcação pode
sem grande risco aproximar-se; denuncia-o, algumas
milhas antes, a côr barrenta da agua. Tambem não é
exacto que Montevideu esteja a cento e tantas milhas
da embocadura, pois só d’ella dista umas 60. Menos o é
ainda que de Buenos Ayres a Montévideu haja 100 léguas
de distância, pois apenas ha 52 a 54. De Buenos Ayres á
antiga cidade da : Colonia do Sacramento são dez lé
guas, e quando o tempo está bem claro vê-se a costa
em que ella está situada, por ser mais alta: eu d’alli
a vi muitas vezes durante os dez annos que ahi residi,
especialmente quando o rio baixava com o vento Pam
peiro, pois é sabido que o rio baixa e sobe com o vento.
Quanto a não se verem do lado opposto as casas e torres
de Colonia, direi, 1.º que não ha alli senão a torre da
Matriz; 2.º que aquella grande, rica e florescente cidade
foi barbaramente destruída pelos hespanhoes quando a
tomaram, e as #### hoje existem são todas baixas, e
só proximo ao porto do desembarque se distinguem.
Francisco Alvares e Sousa Carvalho.

16 DE DEZEMBRO (Terça feira).


PRESENTE DE GANÇOS. — Apresenta-se todos os an
nos, no dia d'hoje, de conformidade com uma anti
a usança, uma deputação da fréguezia israelita de
resburgo ao lmperador d’Austria, com dous ganços
#"…
3
O que a tal désse origem é que não sei.
17 DE DEZEMBRO (Quarta feira).

UM V678 BE GRAFBÃO
0fferecido á Exm.º Snr.º D. Maria José da Rocha.
Quanto existe mais nobre em minha alma,
E mais puro no meu coração,
Eu vos dou como prova d’affecto,
De sincera e fiel gratidão.
Sois tão boa qual foi minha mãi,
Que a meus beijos roubou fado atroz;
Outra, affavel e terna como ella,
Outra mãi reconheço hoje em vós! ...
Vossas filhas são minhas irmãs,
Pois me dão provas mil de amizade;
Vosso esposo é meu pai; em vós todos
Do céu vejo a suprema bondade.
Oh ! tão longe da terra natal,
Que seria de mim sem vos ter ?!
Luctaria com meus infortunios,
Que de dôr me farião morrer ! ....

Mas o céu compassivo me ha dado


Encontrar-vos tão boa, extremosa!...
Sois um anjo que a vida me escuda,
E que a vida me torna ditosa.
Se não posso submissa ofertar-vos
Provas mil de fiel gratidão,
Hão de ao menos ficar vossas graças
Esculpidas no meu coração.
Peregrina Julia da Silva "…";
18 DE DEZEMBRO (Quinta feira).
HISTORIA D'UM VIOLINO. — Ha um violino alemão
(violino instrumento e não tocador, violino sem tripas
excepto nas cordas) que se fosse vivo e podesse casar,
não lhe havião de ". pretendentes, pois tem de seu
um morgado. Pertence hoje a Fra encel, director da or
chestra de Manhein, que o mercou por uma somma bruta.
Foi feito no reinado de José II e comprou-o então o con
de de Von Tramansdorf com as seguintes clausulas na
escriptura: que daria logo alli de contado ao vendedor 35
fredericos d’ouro; que todos os annos lhe ficaria dando
uma andaina de fato novo bordado d’ouro; duas pipas
de cerveja ; casa boa para morar; lenha para o lume
e luzes; item, dez florins em dinheiro por mez; item,
uma duzia de canastras de fructa escolhida por sua ma
dama, se a elle lhe désse na cabeça o casar, e álem da
fructa quantos coelhos elles quizessem comer. Dezaseis
annos viveu o regalado vendedor depois de feito o contra
cto, por onde veio a custar a S. Ex.º a brincadeira de 21,050
francos de moeda franceza, o que faz da nossa uns 3 con—
tos e 700$000 réis. Se alguem perguntasse n'esse tempo
em Allemanha : « Que tal está o da rebeca ? », poder-se
lhe-hia responder com verdade: «muitissimo bem.»
Foi o afortunado instrumento despachado para estrea
dor do baile nas festas do casamento do actual impera
dor d'Austria, Francisco José I, que alguem chrismou
em : Francisco José Ribeiro.

19 DE DEZEMBRO (Sexta feira).


RECEITAS DE MEDICOS. — Assim escreveu sobre
ellas o famoso poéta hespanhol Gongora :
Balas de papel escritas
Sacan medicos á luz,
Que som balas de arcabuz
Para vidas ínfinitas.
375
20 DE DEZEMBRO (Sabbado).
A MIAGEDALENAe

SONETO.

A que outr’ora, opulenta e radiosa


De belleza e de amor não saciado.
Leito eburneo, de arminhos recamado,
A seus cultos sagrara caprichosa.

Eil'a aos pés de Jesus, tão lacrimesa!


De odorifera uncção lh'os tem banhado,
Com as anreas madeixas enxugado,
Esplendida na dor, sempre assou brosa!

A que outr’ora aos murmurios respondia


De menestreis accordes, com harpe os
Que a seus festins opiparos reunia :
Muda as turbas perpassa, ouve os motejos:
Amor celeste a mente lhe aluuia;
Pranto e morte fixaram seus desejos.

M. J. da Silva canuto.
21 DE DEZEMBRO (Domingo).
ANTES QUE CASES OLHA O QUE FAZES-Conclue as
sim um poéta os seus conselhos em materia de casamento:
« Quem casa não case ás cegas,
Mas seja sagaz e astuto,
Argos em ver os argueiros;
E nos lances lynce agudo;
Que uma vez lançada a sorte,
Surte effeito e fica surto ;
O alvedrio e seu fadario
Correm depois sem recurso.
376
22 DE DEZEMBRO (Segunda feira).
WASHINGTON. — E' incontestavelmente o maior vul
to dos tempos modernos. Nasceu a 22 de Fevereiro de
1732 na Virginia (A. 51, 23 de Novembro). Foi a princi
pio medidor de campos e propriedades ruraes, feitor
de varias fazendas, e senhor a final, por morte de seu
irmão, de uma grande fortuna. Exerceu sem vencimento
mil cargos publicos, deu, á républica uma grande parte
de seus bens, e nunca d’ella recebeu cousã alguma. O
General que dirigira to
da a guerra da indepen
dencia, e que durante
oito annos fôra Presi
dente dos Estados Uni
dos, só deixou a sua for
tuna patrimonia!, au
g m e n ta d a com uma
grande ecónomia do
mestica, fortuna que se
elevava a tres milhões.
Esse desinteresse de
Washington foi uma de
suas mais bellas quali
dades, e só nas antigas
républicas se achão se
melhantes exemplos.
Fazião perfeita liga, o
seu caracter grave, digno, e reservado, e a sua extraor
dinaria actividade de corpo e maravilhosa promptidão de
espirito. Possuia sobre tudo essa força, essa persisten
cia de vontade, que de tantas cousas são alma e segre
do. Major # de todas as tropas da Virginia na idade
de 19 annos, distinguira-se nas guerras que incessante
mente rebentavão entre francezes e inglezes a proposito
dos limites de suas respectivas possessões ao norte da
*#* Estava já pois améstrado na guerra quando re
bentou a insurreição contra a metrópole em 1775. Para
bem se avaliar Washington fôra necessario passar em
revista os diversos incidentes d'essa lucta concluida em
1783 pelo tractado de paz que reconheceu a independen
cia dos Estados Unidos. Depois de haver dado baixa á
milicia americana, entregou ao congresso, escripta por
sua propria mão e apoiada com todos os documentos
justificativos, a conta de todas as despezas da guerra, e
retirou-se para o seu dominio de Mont-Vernon, rece
cebendo do seu paiz, como unica recompensa, o ser-lhe
entregue franca de porte toda a sua correspondencia !
Consagrou-se então á agricultura, a melhorar as estra
das e a navegação interior, fundou dous collegios, etc.;
como porém o espirito federal perturbasse a unidade
da républica e ameaçasse a sua existencia, fez sentir
Washington a necessidade d'um poder central. Reupio
se para esse fim uma Convenção na cidade de Philadel
pº em 1787, e foi eleito Presidente, por insinuação de
"ranklin (A. 51, 11 de Junho, A. 53, p. 60 e 94, A. 54,
p. 194). Eleito em seguida Presidente da républica por
quatro annos, foi reeleito em 1793. Estava então a répu
blica franceza em todo o seu horror, e pretendendo Was
hington conservar-se neutral, recusou a presidencia por
3.° vez e retirou-se de novo para o seu dominio; havendo
porém o Directorio de França ameaçado os Estados Uni
dos, foi Washington encarregado de organisar o exercito,
e com tanto zelo o fez, que d’ahi lhe proveio uma grande
inflammação intestinal que o roubou á patria a 14 de de
zembro de 1799. Superior aos heróes da antiguidade,
sem modelo e sem émulo entre os modernos, mudou uma
colonia em metrópole, fez uma nação d’uma provincia
ingleza, e creou uma républica em que soube manter e
fazer respeitar a liberdade. —Acima fica o seu retrato. —
BRAÇOS CRUZADOS. — O homem que mais fez n’este
mundo (diz Balzac) foi Napoleão, apesar de se não pintar
nunca senão com os braços cruzados. 378
1
23 DE DEZEMBRO (Terça feira).
CANAL AÉRE0. — Se fordes um dia á Grá-Bretanha e
tiverdes de atravessar o estreito de Menai, em que as
aguas do mar da Irlanda e do canal de S. Jorge se arre
messão contra elle com tamanha, furia que dificilmente
resiste ao seu embate a mais valente embarcação, po
dereis subtrahir-vos aos perigos de navegação tão arris
cada, transpondo-o pelo ar em caminho de ferro ! Pa
rece impossivel, mas que importa isso, se os impossiveis
são hoje realisaveis! Eis como se executou esse temera
rio pensamento.
Fizeram-se dous tubos horisontaes, de grandissimo
diametro, e collocaram-se parallelamente, um para a
ida e outro para a vinda, descançando ao comprido e nas
extremidades em solidos pilares de pedra de cantaria.
Foi a 18 de Março de 1850 que principiaram a ser percor
ridas essas longas e estreitas galerías de 15 pés de lar
gura e 30 d'altura, por baixo das quaes, e a 100 pés de pro
fundidade, passão navios á vela e vapores de todas as di
mensões. Só quatro annos levou a execução d'esta obra
gigantesca, em que se empregaram umas 640,000 libras,
ou 2,880 contos de réis da nossa moeda. Para ajuizar
da sua solidez bastará dizer que immensos carrões
cheios de carvão, e pesando ao todo, com as locomo
tivas que lhes davão impulso, 47,600 quintaes, corre
ram uma vez por alli fóra, sem que dessem de si as
enormes pilastras que sustentão os tubos, cuja exten
são é de 454 metrôs, ou perto de 1,400 pés, exten
são que se atravessa em quatro ou cinco minutos, quan
do muito. ,

24 DE DEZEMBRO (Quarta feira).


LICOR DIVINO. — Assim chamou alguem ao chocola
te, em rasão de se fazer de joelhos, se menear com as
"#" e se beber com os olhos no céu.
25 DE DEZEMBRO (Quinta feira).
TENTAÇÃO DIABOLICA. — Havendo Fairfax, gene
ral do exercito do parlamento inglez, sitiado Colchester,
que se havia conservado fiel ao Soberano, valeu-se d'um
cruel estratagema para obrigar o
Barão Capel, Governador da pra
ça, a render-se a partido. Man
dou prender o filho em Londres,
e conduzil'o á sua presença; pe
de depois uma cônferencia aº
general inimigo, e ao chegares
te ao acampamento de Fairfax,
a primeira cousa que vê, é o filho
nú até á cintura, com as mãos
amarradas atraz das costas, e en
tre quatro soldados, dous dos
quaes lhe apontão um punhal ao
peito, e outros dous uma pistola ao coração. No momen
to em que mais atribulado vê o coração do pobre pai, ex
clama-lhe: «Ou renderes-te, ou veres este innocente mor
to a teus pés» — Meu filho, lhe diz com voz entrecorta
da de suspiros o valente General, lembra-te do que de
Yes a Deus e ao Rei.» Volta de novo á praça, exhorta of
ficiaes e soldados a preferirem uma gloriosa morte a uma
eapitulação vergonhosa, e Fairfax, tocado de tanta gran
deza d'alma e de tanto patriotismo, dá a liberdade ao po
bre mancebo, que impassivel se conservara em tal prova
ça0. 26 DE DEZEMBRO (Sexta feira).
CHORAR PELO NOVILHO. – Achando-me um dia a
jantar em casa do General Villalobos em Lima, ouvio-se
no páteo grande lamuria e # e soube-se que erão
os indios que havião vendido um novilho, que fazião
aquella algazarra e choradeira porque o estavão matan
do. Costume é este alli de tempôs immemoriaes.
José Antonio de Mangas.
380
27 DE DEZEMBRO (Sabbado).
O SOLDADO E O DEFUNCTO. – Ficando um solda
do de sentinella a um defuncto, houve quem por brinca
deira lhe quizesse metter medo, e embrulhado em um
lençol lhe #*# no momento em que principiava
a passar pelo somno; ergue-se o homem espavorido,
péga na espingarda que pozera a um canto, mette-a
á cara, e investe a phantasma, gritando-lhe: «Retire-se
se não quer morrer outra vez.»
28 DE DEZEMBRO (Domingo).

EPITAPHIO DE MENAGE.

Laissons en paix Monsieur Ménage !


C'était un trop bom personnage
Pour n'être pas de ses amis.
Souffrez qu'à son tour il repose,
Lui de quiles vers et la prose
Nous ont si souvent endormis.
29 DE DEZEMBRO (Segunda feira).
ADHESIVO PARA CALLOS. — Transcreverei a carta
#ue de Cavalleiros me escreveu o Ill."º Sr. Antonio
Gomes Nogueira Accursio das Neves:
« Como V. recommenda no seu interessante Alma
nach se lhe dê conta do resultado que se obtenha de
qualquer receita ou alvitre que se experimente, tomo a
liberdade de dizer a V. que foi para mim desgraçada
lembrança o remedio indicado para os callos a pag. 156
do Almanach de 1855. Soffro n'um que muito me in
commoda, e quando vi a receita, tão recommendada e
tão facil, fiquei mettido n’um sino, assentando que era o
mesmo que têl'o já desfeito; passei logo a usar do adhe
sivo, mas percebendo que o callo, em vez de diminuir,
antes erguía em volume e se tornava mais doloroso, pa
rei com o remedio no fim de oito dias, e fiquei peór que
antes, porque o callo se tem conservado mais crescido. »
Agora eu. —N’aquellas palavras se acha a confissão de
que o remedio é excellente. O callo ergueu em volume;
prova isto que se tornasse maior? não ; prova que sahio
para fóra, facilitando assim o esbroal’o com os dedos
pouco a pouco, até que de todo se fosse : se em vez de o
conservar crescido como ficou, Sua Senhoria lhe tivesse
applicado outro adhesivo em cima, houvera crescido ou
tro tanto, e por si proprio cahiria. O tratamento do cal
lo, por tal modo, poderia incommodal'o mais dous ou tres
dias, mas o resultado final seria ver-se livre d’elle. Não
conhece Sua Senhoria aquelle dictado: « Sofrer para ser
formosa ?»

30 DE DEZEMBRO (Terça feira).


PRYTANEO. — Era um edificio em que na Grecia erão
sustentados á custa da républica os que havião bem me
recido da patria.
382
31 DE DEZEMBRO (Quarta feira).
O CENTO DOS FIA...)C3.
$# diz esse bronze no som alterado,
ue tanto no peito desperta o sofrer ?
Que diz ? diz finado baixando ao sepulchro !
Dos sonhos da vida terrivel descrer ! ...

E' som infallivel de dôr e saudade


O echo sentido no triste dobrar!...
Annuncio d'um som no p'ra sempre dormido,
Que o brado mais forte não pode acordar.
Meu Deus! que mysterio ! quem pode sondal'o |
Do pó do sepulchro quem já murmurou !...
Quem disse: «Pr'a todos aqui ha descanço ! »
Em cinzas um Nero jámais repousou.
Ouvira o tyranno, do mundo maldito,
A voz do Eterno bradar : « Maldição !... »
Debalde bradaram tangeres de bronze,
Bradaram debalde pedindo oração !...
A's vozes d'um anjo apinha-se a turba,
A turba, chorando, medita... e resou !
Nas crenças do nada lá foi envolvida,
Quem sabe se em nada depois se tornou !...
São altos juisos, decretos divinos,
Que aos homens só cumpre saber respeitar;
Verdades escriptas no livro sagrado
Que o homem não pode jámais soletrar.
Anna Amalia de Sá.

F#\\|.
383

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