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COMO AS BSCOLAS PAZBM AS POLÍTICAS: ATUAÇÃO BM BSCOLAS SBCONDÁRIAS PAZBNDO PBSQUISA SOBRB ATUAÇÃO DB POLÍTICAS

da política nas escolas contemporâneas inglesas, mas não vamos oferecer­ PARA ALÉM DA IMPLEMENTAÇÃO!
lhes um capítulo sobre a paisagem política atual na Inglaterra ou um relato
detalhado das relações entre políticas e práticas específicas - embora isso é Em muitos escritos sobre política educacional, frequentemente não se
o que acontece em certa medida nos capítulos 4 e s. Este é um livro sobre dá valor ao significado de política e/ou é definida superficialmente como em
como as escolas "fazem" política, especificamente sobre como as políticas uma tentativa de"resolver um problema". Geralmente, essa resolução de pro­
tornam-se"vivas" e atuantes (ou não) nas escolas. Esperamos que este livro blema é feita por meio da produção de textos de políticas como legislações ou
tenha relevância e utilidade geral para além das especificidades dos casos que outras prescrições e inserções voltadas local ou nacionalmente à prática. Esse
exploramos e dos dados que apresentamos e discutimos. Estamos tentando tipo de análise política"normativa", em geral,"assume" a política como uma
delinear uma teoria fundamentada da atuação das políticas (policy enactment)' "[... ] preservação do aparato formal do governo de formulação de políticas"
na escola, ou, pelo menos, identificar um conjunto de ferramentas e conceitos (OZGA, 2000, p. 42), ou o que Taylor et ai. (1997, p. s) descrevem como a"[... ]
que irão fornecer elementos de tal teoria. Nós também queremos apresentar única resposta plausível para [as] mudanças sociais e econômicas" do Estado.
um relato das atuações de políticas nas escolas secundárias que fazem sen­ O problema é que, se a política só é vista nesses termos, então todos os outros
tido para os profissionais e para as pessoas que"conhecem" as escolas, que momentos dos processos de política e atuação das políticas que acontecem
sentem que é assim nas escolas"reais" e, simultaneamente, somar e desafiar dentro e em torno das escolas são marginalizados ou passam despercebidos.
a teorização existente desse complexo processo. Dito isso, apesar de parecer, As interações sociais desordenadas, desarrumadas, ditas criativas e banais
às vezes, este livro não é sobre ensino - no sentido que não intencionamos - que Colebatch (2002) chama de"atividade política" das negociações e da
reduzir o ensino à política ou as escolas ao ensino e à aprendizagem. Ensino construção de coalizões que, de alguma forma, vincula textos à prática-, são
consiste em muito mais do que os aspectos que abordamos aqui - um ponto ao apagadas. Professores, e um elenco cada vez mais diversificado de "outros
qual voltaremos no último capítulo - e as escolas são complexas e, por vezes, adultos" que trabalham dentro e em torno das escolas, sem mencionar os
agendamentos sociais incoerentes. Chega de preâmbulo:"Esta introdução está estudantes, são deixados de fora do processo da política ou tomados simples­
se tornando longa: vamos começar. Não que nós saibamos o início, mas chega mente como cifras que "implementam". Enquanto muitas políticas"feitas"
um momento em que temos de começar - em algum lugar" (SARUP, 1978, p. nas escolas são "escritas" pelo governo, por suas agências ou investidores
9). Começamos com a implementação de políticas e a atuação das políticas e influentes, a formulação de políticas em todos os seus níveis e em todos os
alguns dos pensamentos existentes sobre como as escolas "fazem política" seus locais também envolve "[... ] negociação, contestação ou luta entre os
como base para o nosso argumento para um tipo diferente de compreensão. diferentes grupos que podem estar fora da máquina formal da elaboração de
política oficial" (OZGA, 2000, p. 113).
Assim, queremos"transformar" a política em um processo, tão diverso e
repetidamente contestado e/ou sujeito a diferentes"interpretações" conforme
' Nota de revisão: O termo erractment é de difícil tradução. Originalmente, essa palavra tem sido usada é encenado (colocado em cena, em atuação) (ao invés de implementado) de
no contexto legal para descrever o processo de aprovação de leis e de decretos. Neste livro, os autores a
utilizam no sentido teatral, referindo-se à noção de que o ator possui um texto que pode ser apresentado/
maneiras originais e criativas dentro das instituições e das salas de aula (ver
representado de diferentes formas. O texto, no entanto, é apenas uma pequena parte (porém, uma parte também BALL, 1997, 2008), mas de maneiras que são limitadas pelas possi­
importante) da produção. Os autores usam esse termo para indicar que as políticas são interpretadas
e materializadas de diferentes e variadas formas. Os atores envolvidos (no caso, os professores) têm o
bilidades de discurso. Neste livro, o que se entende por política será tomado
controle do processo e não são "meros implementadores" das políticas. Para a Língua Portuguesa, "po/icy como textos e"coisas" (legislação e estratégias nacionais), mas também como
enactment" pode ser entendido como as políticas são encenadas, colocadas em ação. É importante desta­
car que Stephenj. Ball rejeita a noção de que as políticas são implementadas. Elas estão sujeitas a proces­
processos discursivos que são complexamente configurados, contextualmente
sos de tradução e de interpretação no contexto da prática. A entrevista de StephenJ. Ball a Marina Avelar. mediados e institucionalmente prestados. A política é feita pelos e para os
publicada em Archivos Analíticos de Políticas Educativas é bastante esclarecedora (Avelar, M. Entrevista
com Stephen J. Bali: Uma Análise de sua Contribuição para a Pesquisa em Política Educacional. Archivos
professores; eles são atores e sujeitos, sujeitos e objetos da política. A política
Analíticos de Políticas Educativas. v. 24, n. 24, 2016. Disponível em: <http://epaa.asu.edu/ojs/article/ é escrila nos corpos e produz posições específicas dos sujeitos.
vicw/2368/1743>, Nesle livro, oµlou se por tradu1it rnarlmrnt corno aluaçào d.is políticas.

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