Você está na página 1de 18

Conceitos – como denominar as crenças pré-cristãs

Não existe termo êmico nas fontes primárias nórdicas para designar religião

Paganismo – termo genérico nas fontes literárias nórdicas – (latim paganus) – termo comum
no Ocidente desde a Antiguidade, ressignificado pelo Cristianismo (uso pejorativo).
Heiðinn – homem do campo não cristão – com uso semelhante ao latim paganus, mas
empregada para pagãos tanto escandinavos quanto não escandinavos nas sagas islandesas
(uso pejorativo).
Forn siðr (costume antigo, o paganismo) X inn nýi siðr (costume novo, o cristianismo) (uso
pejorativo).

Os escritores cristãos não entendiam a imensa pluralidade das antigas práticas e crenças
anteriores ao cristianismo e as nivelaram um sentido singular e monolítico, para poder
contrastar melhor estas com a nova religião.

Conceitos na Academia - O termo Religião Nórdica Antiga: adapta o conceito Old Norse da
linguística.

Melhor uso terminológico da atualidade: Religiões Nórdicas Pré-Cristãs


Principais principais fontes sobre mito e rito na Escandinávia pré-cristã

Fontes literárias - Eddas, Sagas islandesas, poesia escáldica

Crônicas históricas: Landnamabók; Islendigbók; Gesta Danorum; Gesta


Hammarbugensis; códigos de leis; etc.

Fontes materiais: objetos móveis de sítios arqueológicos

Fontes arqueológicas: templos e áreas sagradas

Fontes iconográficas: tapeçarias; figurações em objetos móveis e fixos;

Monumentos com figurações: símbolos geométricos e figurativos


A relação entre mito e rito na Escandinávia pré-cristã
A religiosidade nórdica antiga é muito mais conhecida no mundo
contemporâneo por seus mitos do que por outras facetas de suas
crenças, como os rituais e as articulações materiais com o sagrado.
Mito e rito não são a mesma coisa. Como diz Jens Peter Schjødt (2008,
pp. 64-72), mitos contém referências sobre as coisas e os seres, são
dramatizações, enquanto os rituais são ferramentas de comunicação
com o outro mundo (o mito explica, o rito obtém). Essas narrativas são
utilizadas em rituais ou pela esfera religiosa, sem perder suas
características ou serem independentes. Ou seja, em qualquer religião
e religiosidade, os mitos se cruzam com as esferas rituais, mas ao
mesmo tempo tem uma dinâmica própria.
Como afirma o arqueólogo britânico Neil Price: “(...) uma coisa é
entender de que maneira os vikings pensavam sobre seus deuses e
todos os outros seres (sobre)naturais dos nove mundos que
constituíram o mundo nórdico, outra é saber o que eles faziam a
respeito” (Price, 2021, p. 222, grifo do autor).
Exemplos práticos das
diferenças entre mito e rito no
mundo nórdico
ODIN
Nas Eddas o deus Odin é representado como o
deus mais importantes do panteão nórdico –
influenciado por estas fontes, nos manuais de
história das religiões do século XX o deus
Odin surge como o mais cultuado.
A Edda Poética não é um livro sagrado, é um
códice do séc. XIII que compilou diversas
narrativas antigas de regiões e épocas
diferentes – informa sobre a recepção dos
mitos e não sobre as antigas formas rituais e
religiosas.
Odin era um deus da elite aristocrática e realeza,
Pingente do não era adorada por todas as pessoas da
deus Odin, sociedade e das mesmas maneiras e em todas
Uppåkra, as regiões da Escandinávia.
Escânia,
Suécia.
LOKI, ULLR E OUTRAS DEIDADES
Outro exemplo é o deus Loki. Fundamental nos relatos
míticos, por certo. Tanto em termos positivos quanto
negativos, Loki é muito importante para a cosmovisão
nórdica antiga dos mitos. Mas esta deidade está
completamente ausente dos rituais, da toponímia, dos
vestígios arqueológicos de rituais.
Outros exemplos de deidades importantes na mitologia
nórdica da qual não existem evidências de culto ou
importância na prática religiosa foram Heilmdallr
(Nordberg, 2019, p. 357), Bragi, Gefion e Idunna
(Brink, 2007, p. 125).
Uma situação totalmente inversa ao que foi citado é com o
deus Ullr: quase ausente das fontes literárias do mito,
ele foi muito cultuado em várias regiões da Suécia e
Noruega (Brink, 2007, p. 117).
Deus Loki, igreja de Kirkby Stephen, séc. X d.C.; deus Ullr (?), pedra rúnica de Böksta, séc. XI
A seguir: quadro sistemático das formas de
crenças na Escandinávia pré-cristã, de um
ponto de vista geográfico e social,
baseado em Andreas Nordberg, 2012,
2018, 2019.
Templo de Uppåkra, séc. III-VIII d.C.
Ao lado: reconstituição moderna em escala
reduzida e abaixo, sítio original do templo.
Uppåkra, Escânia, Suécia (fotos de Johnni
Langer, 2019).
Reconstitui
ções do
templo de
Uppåkra
Objetos
recuperados em
Uppåkra, fotos
do Museu
Histórico de
Lund, Suécia.,
Objetos votivos
recuperados no templo
de Uppåkra, fotos do
Museu Histórico de
Lund, Suécia.
Templo de Uppåkra, reconstituição esquemática,
Pedra de Snoldelev, DR 248, Reprodução do Centro
Histórico-Arqueológico de Lejre, Dinamarca.
Fotografia de Johnni Langer, 2018.
Estela de Stenkyrka Lillbjärs III,
Gotlândia, Suécia, Museu Visby
(foto: Munir Lufte Ayoub, 2019)
Bibliografia
BRINK, Stefan. How uniform was the old norse religion? In: QUIN, Judith (Ed.). Learning and understanding in the
Old Norse world. London: Brepols, 2007, pp. 105-136.
LANGER, Johnni. Runas, deuses e ritos: As religiões nórdicas da Era Viking. Livro impresso (no prelo).
LANGER, Johnni. Suásticas, ritos e espacialidades: uma comparação iconográfica entre os monumentos escandinavos de
Kårstad e Snoldelev (séc. V-IX d.C.). (no prelo).
LARSEN, Uffe Hartvig. Vikingernes religion og livsanskuelse. Odense: Akademisk Forlag, 1989.
MADSEN, Carsten Lyngdrup. Nordboernes gamle religion. Højbjerg: Forlaget Univers, 2016.
NORDBERG, Andreas. Configurations of religion in late Iron Age and Viking Age Scandinavia. In: EDHOLM,
Klas et al (Eds.). Myth, Materiality, and Lived Religion In Merovingian and Viking Scandinavia. Stockholm:
Stockholm University Press, 2019, p. 339-374.
NORDBERG, Andreas. Circular flow of tradition in Old Norse religion. Fornvännen 113, 2018, p. 76-88.
NORDBERG, Andreas. Continuity, change an regional variation in Old Norse Religion. In: RAUDVERE,
Catharina; SCHJØDT, Jens Peter. (Eds.). More Than Mythology: Narratives, Ritual Practices and Regional
Distribution in Pre-Christian Scandinavian Religions. Lund: Nordic Academic Press, 2012, pp. 119-153.
PRICE, Neil. Vikings: a história definitiva dos povos do norte. São Paulo: Planeta, 2021.
PRICE, Douglas. Ancient Scandinavia: An Archaeological History from the First Humans to the Vikings. Oxford:
Oxford University Press, 2015.
SCHJØDT, Jens Peter. Initiation between two worlds: structure and symbolism in pre-christian scandinavian
religion. Odense: The University Press of Southern Denmark, 2008.
SONNE, Lasse Christian Arboe. Thor-kult i vikingetiden: Historiske studier i vikingetidens religion. Køpenhavn:
Museum Tusculuanums Forlag, 2013.

Você também pode gostar