E

The Red River Park By the words of its founder Henrique Berenhauser
on whether species are natives or not (Davis et al. 2011). On this book are exposed technical reasons ste livro contém o histórico da formação do Parque Florestal do Rio Vermelho, situado
for the use of exotic species by Henrique Berenhauser and its current importance for the protection of em Florianópolis (SC), Brasil, uma área ecologicamente frágil, anteriormente devastada
remaining native flora, formation of favorable microclimate for regeneration of sandbank woods, in pela exploração de madeira para lenha, incêndios e pastoreio, e hoje revegetada
fixing the dunes and more recently as a buffer zone against extreme winds that are frequently sweeping com bosques. É um relato dramático feito pelo seu idealizador e executor Henrique
off Santa Catarina State coasts. The reading of this book, certainly will lead to a revision of the radical Berenhauser, editado após o seu falecimento, sobre a formação do parque e da luta
positioning of suppress all pine and eucalyptus without first considering their ecological functions in para mantê-lo íntegro. Com palavras diretas, o autor não poupa críticas aos invasores
the new formed ecosystem. There is no doubt about if Henrique Berenhauser had not planted pine and institucionalizados e particulares que, graças a conivência e laços com o poder público, assediaram
eucalyptus, we would not have the protection and expansion of the remnants of the original vegetation, terras e recursos do parque.
nor the Conceição lagoon, and the Rio Vermelho Forest Park neither, as we know them today. A esta obra foram adicionadas informações do acervo de documentos históricos sobre o parque,
This book will serve for defenders of the Park because it is an indicator for “Henrique Berenhauser depositado na Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além disso,
Acervum,” deposited at UFSC library, where there are very important documents like map with the há explicações técnicas elaboradas pelo eng. agrônomo, botânico e professor da UFSC, Dr. Giorgini
original boundaries of the park and others where are described tricks used to despoil the Park´s lands, A. Venturieri. É um texto com linguagem simples, mas sem sacrifício dos conteúdos técnicos, feito
some still ongoing. dessa maneira para que possa interessar tanto aos simpatizantes da ideia de que “devemos recuperar os
revestimentos naturais deste planeta” como aos profissionais que sintam a necessidade de acesso a um
texto que cubra todos os aspectos da revegetação de uma área ecologicamente frágil, como são as áreas
de restinga do litoral brasileiro. São trazidas importantes informações, muitas ainda inéditas, sobre os
acertos e erros técnicos cometidos durante a formação do parque.
Entre as organizações não governamentais (ONGs) ligadas ao parque e órgão ambientais, como
a atual administradora do parque, a Fundação do Meio Ambiente (FATMA), existe a determinação de
promover a “retirada total dos pinus e eucaliptos” por considerá-los espécies “exóticas”, “contaminantes
ambientais”, “invasoras” e “responsáveis pela supressão da vegetação nativa”, contradizendo conceitos
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- recentes que pregam que, acima de tudo, o impacto ambiental de uma ação como esta deve ser levado
em consideração independentemente de as espécies serem nativa ou não (Davis et al. 2011).
Neste livro, são expostos os motivos técnicos do uso das espécies exóticas por Henrique
O editor Berenhauser e a sua importância atual na proteção dos remanescentes revestimentos florísticos
Giorgini Augusto Venturieri nasceu em 9 de fevereiro de 1958 na cidade autóctones, formação de microclima favorável à regeneração da mata de restinga, na fixação das dunas e,
de Belém, no Estado do Pará, onde se graduou em Agronomia pela mais recentemente, como zona amortecedora de ventos extremos que, com maior frequência, passaram
Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, atual Universidade Federal a varrer as costas catarinenses. A leitura deste livro por certo levará a uma revisão do posicionamento
Rural da Amazônia (1980). Possui mestrado em Ciências Biológicas radical de suprimir do parque todos os pinheiros e eucaliptos sem antes considerar as funções ecológicas
(Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (1990), assumidas no novo ecossistema formado. Sem dúvida, se Henrique Berenhauser não tivesse feito o
doutorado em Botânica Agrícola pela Universidade de Reading, plantio de pinus e de eucalipto, já não teríamos a proteção e a expansão dos remanescentes da vegetação
no Reino Unido (1994), pós-doutorado em Cultivo de Células e de original, nem a Lagoa da Conceição e o Parque Florestal do Rio Vermelho, como os conhecemos hoje.
Tecidos Vegetais na Universidade da Flórida – Homestead, nos Estados Este livro servirá bem aos defensores do parque, pois é uma porta de entrada para o “Acervo
Unidos da América (1998). Trabalhou como pesquisador no Instituto Henrique Berenhauser”, da Biblioteca da UFSC, onde existem documentos importantíssimos como o
Nacional de Pesquisas da Amazônia, como professor na Universidade mapa com os limites originais do parque e outros onde são descritas as artimanhas usadas para espoliar

O Parque do Rio Vermelho pelas palavras de seu fundador Henrique Berenhauser

Federal do Pará e como consultor do Programa das Nações Unidas as terras locais – algumas delas ainda em curso.
para o desenvolvimento de recuperação de áreas desflorestadas na
Amazônia. Contribuiu com a Enciclopédia de Biodiversidade por duas ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
vezes, publicada pela Academic Press. Atualmente, é professor associado da UFSC (Universidade Federal
de Santa Catarina), onde leciona as disciplinas de Genética (para os alunos do curso de graduação em he book tells the story of the formation of the Rio Vermelho Forest Park in Florianópolis
Agronomia), e Botânica Econômica (para os alunos do curso de pós-graduação em Agroecossistemas). city, which is in the Brazilian state of Santa Catarina, in an ecologically fragile area
Tem experiência na área de botânica, com ênfase em domesticação de plantas e de paisagens, atuando formerly devastated for logging for firewood, grazing cattle and by fires, now re-
principalmente nos seguintes temas: biologia reprodutiva, hibridações interespecíficas, cultivo de orquídeas, vegetated mainly with woods of pine and eucalyptus trees. This is a dramatic narrative
botânica econômica e sistemas agroflorestais. made by the Park’s founder Henrique Berenhauser, edited after his death, about the
Park formation and the fight to maintain its integrity. With direct words, the author does

O Parque do
Giorgini A. Venturieri
not spare criticism for the invaders and institutionalized individuals who, with the connivance and ties
The editor with the government, besieged the land and resources of the Park.
Giorgini Augusto Venturieri was born on February 9, 1958 in the city of Belém, which is in the state of In this work were brought information from historical documents about the Park, deposited in
Pará. Giorgini earned a degree in Agronomy from the School of Agrarian Sciences at Pará, which in 1980 the University Library of the Federal University of Santa Catarina - UFSC, and technical explanations
became the Federal Rural University of Amazônia. In 1990, Giorgini earned a Master’s Degree in Botany prepared by the Agronomist, Botanist and UFSC`s professor Dr. Giorgini A. Venturieri. It is a text

Rio Vermelho
from the National Research Institute of Amazônia, in 1994, he earned a PhD in Agricultural Botany from constructed with simple language, without sacrificing the technical content, made by this way, to be
the University of Reading, United Kingdom and at 1998 a postdoctoral staying in Plant Cell and Tissue interesting both to supporters of the idea that “we should recover the natural vegetation of this planet”
Cultures, at University of Florida – Homestead, United States of America. He was a researcher at the as the interested professionals in texts that covers all aspects about re-vegetation of ecologically
National Research Institute of Amazônia, a professor at the Federal University of Pará, and a consultant fragile areas, as the sandbank off the Brazilian coast. Important information are brought, many still
for the United Nations program to recover deforested areas in Amazônia. He contributed twice to the unpublished, about the technical hits and mistakes committed during the Park´s formation.
Encyclopedia of Biodiversity, which is published by Academic Press. Currently, he is an associate professor Among the non-governmental organizations - NGOs, linked to the Park, and the environmental
at the Federal University of Santa Catarina where teaches genetics, for undergraduate agronomy students agency, as the current manager of the Park, the Environment Foundation - FATMA, there is a
and economic botany for Master of Science and Doctorate students at the Agroecosystem graduation determination to promote the “total withdrawal of pine and eucalyptus” considering them as “exotic”,
course. He has a background in botany, with an emphasis on plant and landscape domestication, and pelas palavras de seu fundador Henrique Berenhauser “environmental contaminants”, “invasive” and “responsible for the suppression of native vegetation,”
primarily focuses on the following subjects: reproductive biology The Red River Park By the words of its founder Henrique Berenhauser contradicting recent concept that, first of all, have to be considered the environmental impact rather than
 capítulo I Chapter I

esta obra foi patrocinada por

this book was sponsored by

ENOPS Engenharia S.A. Universidade Laboratório de Evolução Aplicada

ENOPS Engineering S.A. Federal de Applied Evolution Laboratory
Santa Catarina
Federal
University of
Santa Catarina

2 O Parque do Rio Vermelho 3 Rio Vermelho Park

 The Red
River Park
By the words of its founder
Henrique Berenhauser

O Parque do
Rio Vermelho
pelas palavras de seu fundador
Henrique Berenhauser
 O Parque do
Rio Vermelho
pelas palavras de seu fundador Henrique Berenhauser
The Red River Park By the words of its founder Henrique Berenhauser

Edição / Editor: Giorgini A. Venturieri

Preparação de Texto / 1º Review: Cynthia Costa

O Parque do
Revisão de Texto / Final Review: Cátia de Almeida
Tradução / Translation: American Journal Experts – USA
Edição de Arte / Art Editor: Alexandre (Nani) Dias

Rio Vermelho
Impressão e Acabamento / Print: No n onon on o

pelas palavras de seu fundador Henrique Berenhauser

The Red River Park By the words of its founder Henrique Berenhauser
 Agradecimentos
Agradecemos pelos relatos prestados:
parentes de Henrique Berenhauser, como
Henrique Gabriel Botelho Berenhauser, Carlos
Berenhauser, Max Berenhauser Capella e
Georgia G. Berenhauser (viúva); amigos, entre
eles o prof. Ernesto Tremel e Júlio de Queiróz;
pessoas que trabalharam com Henrique
Berenhauser na implantação do parque, como
Marinho Cassiano Nunes; Sr. Manoel Arquilau
Cardoso, líder comunitário e filho de um dos
trabalhadores do parque.
O editor também agradece ao prof.
Ademir Reis e ao mestrando Daniel Alexandre
Heberle, pela ajuda na identificação das
espécies. Incluo aqui a minha especial
deferência ao Daniel, com quem pude travar
longas, prazerosas, elegantes e amistosas
discussões, que ajudaram significativamente no
aprimoramento do pensamento preservacionista
aqui exposto. À profa. Angela Beltrame,
pela cessão de bibliografia sobre o assunto.
Ao prof. Edemar Roberto Andreatta, pelas
informações sobre a Estação de Larvicultura.
Ao prof. Ênio Pedrotti e ao bibliotecário
Elson Mattos, pelo apoio institucional para
inclusão do acervo na Biblioteca da UFSC.
Aos profs. Francisco Antônio Carneiro
Ferreira e Sandro Luis Schlindwein, que
trouxeram para o acervo caixas com cópias
de documentos sobre o parque, verdadeiros
“kits” deixados por Henrique Berenhauser (ele
fazia de oito a dez cópias de quase tudo!), que,
antevendo a destruição dos documentos sobre
o parque, assegurou acesso à grande parte das
informações que hoje divulgamos neste livro.
Agradecemos, mais uma vez, à família
de Henrique Berenhauser, que doou todos os
documentos deixados por ele, encontrados em
seu escritório particular, onde estava a maior
parte do que hoje compõe o acervo que leva o
seu nome, depositado na Biblioteca da UFSC.
Acknowledgments
For their narratives, we thank Henrique
Berenhauser’s relatives, including Henrique
Gabriel Botelho Berenhauser, Carlos
Berenhauser, Max Berenhauser Capella, and
Georgia G. Berenhauser (his widow). We
thank his friends, including Professor Ernesto
Tremel and Júlio de Queiróz, and we thank his
collaborators in the implantation of the Park,
including Marinho Cassiano Nunes and Mr.
Manoel Arquilau Cardoso,a community leader
and the son of one of the workers in the Park.
The editor also thanks Professor Ademir
Reis and Master’s candidate Daniel Alexandre
Heberle for their help in the identification of
species. I mention here my special recognition
to Daniel, with whom I had long, pleasant,
elegant, and friendly discussions that
significantly improved the preservationist
ideas described here. I thank Angela Beltrame
for supplying bibliographical sources on the
subject, Professor Edemar Roberto Andreatta
for the information on the Larviculture Station,
and Professor Ênio Pedrotti and Librarian
Elson Mattos for the institutional support in
the inclusion of the library collection at UFSC.
I thank Professors Francisco Antônio Carneiro
Ferreira and Sandro Luis Schlindwein for
collecting and transporting boxes of documents
about the Park and the true “kits” that were
left by Henrique Berenhauser (who used to
make eight to 10 copies of almost everything!).
Henrique Berenhauser ensured the access to
much of the information that was provided in
the present book by anticipating the destruction
of Park documents.
Once again, we thank Henrique
Berenhauser’s family for donating all of the
documents that were left by him in his personal
office. These documents contained most of the
materials that compose the collection that bears
his name and is deposited at the UFSC library.
 Prefácio
Henrique Berenhauser, meu pai, nasceu em Florianópolis
no ano de 1909, era descendente de família alemã que imigrou
para o Brasil em meados do século 19. Sofria de asma desce a sua
infância, com crises que o acompanharam até o final da vida, e que
muitas vezes o obrigaram a ficar em casa por longos períodos, bem
aproveitados com leitura, que tanto apreciava, principalmente dos
assuntos ligados à natureza.
Foi um aficionado por fotografia, pelo plantio de árvores e
por orquídeas. Era um apaixonado pela Ilha de Santa Catarina, que
considerava um lugar ímpar em termos de paisagens, clima e belezas
naturais. Gostava de viajar e escrever sobre as suas experiências, tendo
produzido artigos sobre turismo, orquídeas, reflorestamento e, como
não poderia deixar de ser, sobre suas viagens ao redor do mundo.
Ao conhecer as extensas áreas de recreação ao redor de
Londres e o distrito florestal de Frankfurt (Frankfurter Stadtwald),
teve despertado o desejo de criar algo semelhante em sua terra natal.
Partindo de uma área completamente inóspita e devastada, como era
a restinga da Praia de Moçambique, formou o que hoje é o Parque
do Rio Vermelho, um feito apreciado por muitos e ao mesmo tempo
incompreendido por ativistas ecológicos que não pouparam críticas
ao seu trabalho e que, no entanto, não respondiam ao desafio que ele
propunha de ir até o parque plantar o que achassem mais apropriado.
Era duro com os críticos do seu trabalho, mas sempre manteve
o debate ao nível das idéias. Foi um homem que defendeu suas
convicções sem reservas nas palavras e na nomeação das pessoas
envolvidas nas falcatruas armadas para se apropriarem das terras do
parque, um jeito de ser e de agir que incomodou muitos políticos
e que acarretou em retaliações à sua administração, levando a um
nível insustentável, que culminou no seu afastamento do parque.
Embora apaixonado pelo que fez, soube retirar-se de cena e “virar
as páginas da vida” sem mais falar no assunto que tanto ocupou seus
pensamentos e deu-lhe tanto trabalho, realizado de forma voluntária,
sem qualquer remuneração.
Como filho e dirigente de uma empresa de águas, sinto
grande prazer em estar colaborando para a publicação deste livro.
Espero que sirva de ajuda às pessoas, especialmente àquelas que
não conheceram a restinga de Moçambique do jeito que era antes
da implantação do parque, a compreender a magnitude da obra de
Henrique Berenhauser e as razões históricas que a levaram a ser
realizada do jeito que a temos agora.
Florianópolis, 6 de março de 2013.
Carlos Berenhauser
Diretor superintendente da ENOPS ENGENHARIA S.A.
Foreword
Henrique Berenhauser, my father and the scion of a German
family that immigrated to Brazil in the mid-19th century, was born
in Florianópolis in 1909. He suffered from asthma since childhood;
the asthma recurred until the end of his life and often compelled him
to remain at home for long periods of time, well used doing what he
actually appreciated, reading books about nature. He was photography,
planting trees, and orchids afecctionate. He was in love with Santa
Catarina Island, which he considered to be one of a kind because of its
landscape, climate, and natural beauty. He liked to travel and to write
about his experiences, and he published articles on tourism, orchids,
reforestation, and, about his journeys around the world.
His visits to the large recreational areas around London and
to the Frankfurt Forest district (Frankfurter Stadtwald), awakened
a desire to create something similar in his motherland. Thus, he took
a completely inhospitable and devastated land – the “restinga” at
Praia do Moçambique (Mozambique Beach) – and transformed it
into what is known today as Rio Vermelho Park (Red River Park).
Although many acknowledged this achievement, the Park was ill-
received by ecological activists, who made it the target of heavy
criticism and ignored Henrique’s challenge to visit the Park and
plant whatever they deemed suitable.
Henrique was always harsh with those who criticized his
work, but he made a systematic point of restricting debates to ideas.
He always defended his convictions without holding his tongue,
and he explicitly named all of the people who conspired to take
for themselves the lands of the Park. This pattern of behavior was
bothersome for many politicians and resulted in retaliations against
his management of the Park. The retaliations were so unbearable
that he eventually left the Park. Although he was passionate about
his endeavors, he knew when he had to quit the scene, to “turn the
pages of life”, and he never again spoke about the subject that had
taken hold of his thoughts and inspired him to work so hard – work
that he had performed voluntarily, without ever receiving payment.
As his son and the director of a water company, it is a huge
pleasure for me to collaborate in the publication of this book. I hope
it will help people, especially those who did not know the restinga
do Moçambique (Mozambique restinga) before the development of
the Park, to understand the magnitude of Henrique Berenhauser’s
work and the historical reasons that made Rio Vermelho Park what
it currently is.
Florianópolis, March 6, 2013.
Carlos Berenhauser
Superintendent Director of ENOPS ENGENHARIA S.A.

Henrique Berenhauser
(foto de 1988), formador do
Parque do Rio Vermelho
Henrique Berenhauser
(photograph dated 1988),
creator of Rio Vermelho Park
Sobre o autor
Henrique Berenhauser nasceu em 23 de agosto de 1909 na
cidade de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina. Seu
pai, Carlos Berenhauser, era comerciário, e sua mãe, Elfrida Busch
Berenhauser, dona de casa. Foi casado primeiramente com a Sra.
Helena Botelho Berenhauser, mas enviuvou em 1967 e, posteriormente,
aos 58 anos, contraiu novo matrimônio, dessa vez com a Sra. Georgia
G. Berenhauser. Graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito
de Florianópolis aos 30 anos, porém não seguiu carreira, trabalhando
quase toda a sua vida como comerciante de tecidos. Não deixou de
usar, portanto, os conhecimentos da legislação obtidos na faculdade
em diversas ações populares em defesa do Parque do Rio Vermelho.
Tornou-se, assim, ecólogo por devoção.
Era meticuloso em suas anotações e leituras, e o parque por si só
é uma testemunha viva da sua capacidade de observação e sensibilidade
biológica. Em reconhecimento a isso, seu nome foi sugerido para uma
cátedra na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC pelo Dr.
Henry C. Horge, ex-reitor da Rutgers State University, nos Estados
Unidos; infelizmente a UFSC não possui cátedras na sua organização.
No início da sua administração do parque, Henrique Berenhauser
tinha em mente promover o plantio de árvores madeireiras, pois estava
preocupado com o possível colapso no fornecimento de matéria-prima
para o setor. Foi referência regional no plantio de árvores madeiráveis,
tendo visitado muitas regiões do mundo em busca de espécies resistentes
e de rápido crescimento para fins industriais. Nos últimos anos da sua
administração, tornou-se um cidadão muito mais preocupado com a
preservação da integridade das árvores no parque, antes sem valor e
atualmente cobiçadas por políticos e empresários, para propósitos
privados. Tinha como intenção fazer do parque um laboratório para a
indústria madeireira e um local de lazer e deleite público.
A biblioteca de Berenhauser, após o seu falecimento, foi doada
para a UFSC contendo muitos documentos, livros e fotos sobre a
formação do parque e dos arredores de Florianópolis, além de mais de
40 artigos publicados ou não. Berenhauser exerceu o cargo de diretor do
Parque do Rio Vermelho de 21 de novembro de 1962 a 31 de dezembro
de 1974, quando foi exonerado. Atuou como presidente da Associação
Rural de Florianópolis e da Sociedade Orquidófila de Florianópolis.
Seus amigos o consideravam uma pessoa determinada, extremamente
trabalhadora, correta, sincera, destemida e com a incrível capacidade
de “virar as páginas das etapas de sua vida”.
Ao defender o parque, era implacável com os agressores,
citando-os nominalmente nos artigos que escrevia, mas nunca por
conflitos pessoais. Faleceu em Florianópolis no dia 26 de setembro
de 1997, deixando cinco filhos e, à época, 19 netos, bem como uma
chácara no bairro de Morro das Pedras com uma coleção de árvores
madeiráveis, a maior parte delas coníferas, provenientes de várias
partes do mundo. Um banco genético em um local de rara beleza
e que poderá ainda servir muito à economia florestal de nosso país.
On the author
Henrique Berenhauser was born in Florianópolis, the capital
of the state of Santa Catarina, on August 23, 1909. His father, Carlos
Berenhauser, was a tradesman, and his mother, Elfrida Busch
Berenhauser, was a homemaker. Henrique married Mrs. Helena
Botelho Berenhauser, who died in 1967. At 58 years old, Henrique
married Mrs. Georgia G. Berenhauser.
When he was 30 years old, Henrique earned a law degree at
Florianópolis Law School, but he never practiced as a lawyer. For his
entire life, he worked in the textile business. However, he applied his
legal knowledge to several class action lawsuits to defend Rio Vermelho
Park. In his defense of the Park, he became a devoted ecologist.
Henrique was meticulous in his readings and annotations. The
Park is a living testimony to his excellent observational skills and
biological sensitivity. To recognize these traits, Dr. Henry C. Horge, a
former dean of Rutgers State University in the United States, suggested
that UFSC name a chair after Henrique Berenhauser; unfortunately,
the structure of UFSC does not include chairs.
When Henrique Berenhauser began managing the Park, he
promoted the planting of trees for lumber, as he was concerned about
the possible collapse of the supply of raw material to this economic
sector. After visiting several areas around the world on a quest for
resistant and fast-growing species for industrial purposes, he became
a regional expert on planting trees for lumber. During the final years
of his administration, he was more concerned with environmental
issues and with the preservation of the integrity of the Park’s trees and
land, which, although they were worthless in the past, are currently
coveted by politicians and private entrepreneurs. Berenhauser planned
to make the Park a laboratory for the lumber industry and a site for
public leisure and enjoyment.
After Berenhauser died, his library was donated to UFSC.
In addition to more than 40 published and unpublished articles, the
library comprises many photographs, documents, and books about the
creation of the Park and the outskirts of Florianópolis. Berenhauser
was the director of Rio Vermelho Park between November 21, 1962
and December 31, 1974, when he was discharged. He was also the
president of the Rural Association and the Orchidophile Society
of Florianópolis. His friends considered him to be a determined,
hardworking, proper, sincere, and fearless person who was endowed
with an amazing ability to “turn the pages of the stages of his life”.
He was implacable in his defense of the Park against its
aggressors; he would mention them by name in his articles, but never
for personal reasons. He died in Florianópolis on September 26, 1997,
leaving behind five children, 19 grandchildren, and a small farm in
the Morro das Pedras neighborhood that comprised a collection of
trees (mainly conifers) from several parts of the world for lumber. This
genetic bank is located in a place of rare beauty and may remain useful
for the Brazilian forest economy.
 Sumário
Capítulo 1
A FORMAÇÃO DO PARQUE
1.1 O início............................................................................................................................................................................................................................ 20
1.2 O aumento da área de dunas........................................................................................................................................................................................... 20
1.3 O florestamento da restinga............................................................................................................................................................................................ 20
1.4 A estação experimental................................................................................................................................................................................................... 20
1.5 Implantação do viveiro................................................................................................................................................................................................... 20
Adendo do editor: O que é micorriza?................................................................................................................................................................................... 20
1.6 A construção de estradas de serviço............................................................................................................................................................................... 22
1.7 Obras de infraestrutura executadas pelo convênio......................................................................................................................................................... 22
1.8 Implantação do Parque do Rio Vermelho: reconhecimento nacional e internacional................................................................................................... 24
Imagens............................................................................................................................................................................................................................. 26
Capítulo 2
O ASPECTO ECOLÓGICO
2.1 Do plantio em geral e dos espaçamentos utilizados....................................................................................................................................................... 34
2.2 A fixação das dunas e a sua revegetação........................................................................................................................................................................ 34
Adendo do editor: O que é uma árvore?................................................................................................................................................................................ 34
Adendo do editor: Por que nas restingas a vegetação não consegue cobrir toda a área?..................................................................................................... 36
2.3 A importância dos alagados para a diversificação paisagística do Parque.................................................................................................................... 40
2.4 A utilização de espécies compatíveis com a ecologia da restinga ................................................................................................................................ 40
2.5 A vegetação natural poupada.......................................................................................................................................................................................... 42
Adendo do editor: O que são florestas?................................................................................................................................................................................. 42
2.6 Trabalhos de pesquisa e experimentação realizados...................................................................................................................................................... 42
Adendo do editor: O material genético do Parque................................................................................................................................................................. 44
Adendo do editor: Prejuízos com a venda de material genético de elite como tábua do tipo “A”....................................................................................... 46
Adendo do editor: Argumentos usados contra a existência dos pinheiros no Parque do Rio Vermelho.............................................................................. 48
Adendo do editor: A erradicação das espécies exóticas favoreceria a “regeneração da floresta nativa”
em todo o Parque: uma assertiva baseada em paradigma ultrapassado............................................................................................................................... 56
Adendo do editor: O manejo florestal: a opção mais inteligente.......................................................................................................................................... 58
Imagens............................................................................................................................................................................................................................. 60
Capítulo 3
EM DEFESA DO PARQUE
3.1 O desinteresse pelo Parque............................................................................................................................................................................................. 72
3.2 A Secretaria de Agricultura assume a administração do Parque.................................................................................................................................... 72
Adendo do editor: O pinheiro-americano, o mais plantado no Parque do Rio Vermelho.................................................................................................... 74
3.3 Funcionários com altos cargos se aproveitam da área do Parque.................................................................................................................................. 74
3.4 Indenizações indevidas................................................................................................................................................................................................... 76
3.5 A exploração de água potável do subsolo do Parque do Rio Vermelho........................................................................................................................ 76
Adendo do editor: A exploração de água potável do subsolo de dunas................................................................................................................................ 76
3.6 Uma floresta de preservação do meio ambiente foi submetida à exploração predatória.............................................................................................. 76
Adendo do editor: O clima, as florestas e a intervenção humana.......................................................................................................................................... 78
3.7 A falta de compreensão dos nossos governantes pelas áreas de lazer público.............................................................................................................. 80
3.7 A Estação de Larvicultura da Barra da Lagoa................................................................................................................................................................ 82
Imagens............................................................................................................................................................................................................................. 84
Capítulo 4
Considerações finais
4.1 Considerações finais....................................................................................................................................................................................................... 90
Adendo do editor: Exemplo internacional de Parque florestal.............................................................................................................................................. 90
Anexos........................................................................................................................................................................................................................ 94
Citações bibliográficas........................................................................................................................................................................................................ 104
14 O Parque do Rio Vermelho
Summary
Chapter 1
THE CREATION OF THE PARK
1.1 Beginnings...................................................................................................................................................................................................................... 21
1.2 Increase of the area with dunes ...................................................................................................................................................................................... 21
1.3 Afforestation of the restinga .......................................................................................................................................................................................... 21
1.4 Experimental station....................................................................................................................................................................................................... 21
1.5 Establishment of the vivarium........................................................................................................................................................................................ 21
Editor’s Addendum: What is mycorrhiza? ............................................................................................................................................................................ 21
1.6 Construction of service roads......................................................................................................................................................................................... 23
1.7 Infrastructure built by the agreement.............................................................................................................................................................................. 23
1.8 Establishment of Rio Vermelho Park: national and international acknowledgment..................................................................................................... 23
Images................................................................................................................................................................................................................................ 26
Chapter 2
THE ECOLOGICAL ASPECT
2.1 Of planting in general and the plant spacing.................................................................................................................................................................. 35
2.2 Fixation and revegetation of dunes................................................................................................................................................................................. 35
Editor’s Addendum: What is a tree? ..................................................................................................................................................................................... 35
Editor’s Addendum: Why does vegetation fail to cover the entire area of the restinga? ..................................................................................................... 37
2.3 Importance of flooded areas for the diversification of the Park landscape.................................................................................................................... 41
2.4 Use of species that are compatible with the ecology of the restinga ............................................................................................................................ 41
2.5 Spared natural vegetation................................................................................................................................................................................................ 41
Editor’s Addendum: What are forests? ................................................................................................................................................................................. 43
2.6 Research and experimental studies................................................................................................................................................................................. 43
Editor’s Addendum: The Park’s genetic material.................................................................................................................................................................. 43
Editor’s Addendum: Losses from the sale of elite genetic material as type “A” board........................................................................................................ 47
Editor’s Addendum: Objections to the presence of pine trees............................................................................................................................................... 47
Editor’s Addendum: The eradication of exotic species would favor the “regeneration of the native forest”:
an assertion that is grounded on an outdated paradigm ....................................................................................................................................................... 57
Editor’s Addendum: Forest management: the most intelligent option.................................................................................................................................. 59
Images................................................................................................................................................................................................................................ 60
Chapter 3
IN DEFENSE OF THE PARK
3.1 Lack of interest in the Park............................................................................................................................................................................................. 73
3.2 The Agriculture Secretary assumes the management of the Park.................................................................................................................................. 73
Editor’s Addendum: Slash pine, the species most frequently planted in the Park................................................................................................................ 73
3.3 High-level officials take advantage of the Park area...................................................................................................................................................... 75
3.4 Unduly compensations.................................................................................................................................................................................................... 77
3.5 Exploitation of underground drinking water in the Park............................................................................................................................................... 77
Editor’s Addendum: Exploitation of drinking water from the subsoil of dunes................................................................................................................... 77
3.6 A forest for environmental protection was subjected to predatory exploitation........................................................................................................... 77
Editor’s Addendum: Climate, forests, and human intervention............................................................................................................................................ 79
3.7 Lack of understanding by the Brazilian government regarding public leisure areas.................................................................................................... 81
3.7 The Larviculture Station at Barra da Lagoa................................................................................................................................................................... 81
Images................................................................................................................................................................................................................................ 84
Chapter 4
Final remarks
4.1 Final remarks................................................................................................................................................................................................................... 91
Editor’s Addendum: International example of a forest Park ................................................................................................................................................ 91
Appendix.................................................................................................................................................................................................................. 94
Bibliographic citation.......................................................................................................................................................................................................... 104
15 Rio Vermelho Park
 capítulo 1 Chapter 1

16 O Parque do Rio Vermelho 17 Rio Vermelho Park

 Chapter 1

Capítulo 1
A formação do parque
Chapter 1: The Park formation

19 Rio Vermelho Park

 capítulo 1
1.1 O início
Pelo Decreto 2.006 de 21 de setembro de 1962, o governador
do Estado de Santa Catarina Celso Ramos criou a Estação
Florestal do Rio Vermelho, destinando para os trabalhos de
experimentação mil hectares de terras devolutas ao longo da
Praia de Moçambique, situadas entre a Vila da Barra da Lagoa
e o Morro das Aranhas1.
Duzentos anos de cortes constantes da vegetação para
a utilização da lenha, acrescidos de grandes incêndios, que
periodicamente se alastravam pela restinga do Rio Vermelho,
transformaram aquela área arenosa em um deserto, como pode ser
constatado pela fotografia do levantamento aéreo-fotogramétrico
efetuado pela Cruzeiro do Sul, no ano de 1957 (Figura 1a, pág. 26).
Essa área, na época muito devastada, foi destinada pelo
governador à experimentação e identificação das espécies mais
aptas para crescer e proteger a orla marítima do Estado.
1.2 O aumento da área de dunas
A devastação sofrida pela restinga permitiu o deslocamento
de areias impulsionadas pelos fortes ventos, característicos do
litoral de Santa Catarina. Os ventos do quadrante sul arrastavam
a areia da Praia de Moçambique na direção norte, formando
uma faixa de dunas de 8 km de extensão que chegava à Praia
dos Ingleses.
Em alguns lugares dessa faixa, as dunas atingiam a altura
de 60 metros. Os ventos do quadrante norte levavam a areia em
direção à Lagoa da Conceição, que estava sendo assoreada em
virtude desse processo natural. A fixação das dunas ao longo da
Praia de Moçambique foi um trabalho necessário e da mais alta
importância ecológica para evitar o completo assoreamento da
Lagoa da Conceição, um dos monumentos paisagísticos da ilha.
Embora não houvesse tempo para realizar os trabalhos
de revegetação de toda a faixa de 9,5 km ao longo da Praia de
Moçambique, realizou-se o suficiente para fixar e estabilizar essa
faixa ao longo do oceano, não havendo nela mais dunas movediças.
1.3 O florestamento da restinga
A iniciativa do governador Celso Ramos de florestar uma área
de dunas, com a maior parte da sua vegetação completamente
degradada, para destiná-la a recreação foi um projeto pioneiro no
país e poucas vezes repetido no resto do mundo. Os sucessores
do Sr. Celso Ramos, os governadores Ivo da Silveira e Colombo
Salles, deram apoio integral ao projeto, o que permitiu o plantio de
700 hectares com árvores em apenas 12 anos, dando assim origem
ao Parque do Rio Vermelho. Infelizmente, os governadores que
sucederam ao Sr. Colombo Salles desinteressaram-se pelo projeto.
Não houve a complementação dos trabalhos de florestamento e
não se deu andamento à parte social.
1 Pela lei estadual n. 10.021, de 26 de dezembro de 1995, passou a ser denominado Parque Estadual Henrique
Berenhauser, uma menção jamais adotada. Hoje, foi transformado no Parque Estadual do Rio Vermelho,
criado pelo decreto n. 308 de 24 de maio de 2007, e está sob a administração da Fundação do Meio Ambiente
de – FATMA. 2 Geralmente, recomenda-se a retirada dos sacos plásticos das mudas antes de serem plantadas,
20 O Parque do Rio Vermelho
A floresta não recebeu tratos silviculturais, cuja falta criou
condições para repetidos incêndios. Para completar a desgraça,
a Secretaria de Agricultura tomou a decisão monstruosa de
mandar realizar a resinagem de 150 mil pinheiros, escolhidos
entre as árvores de maior porte, ignorando tratar-se de floresta
de preservação ambiental e patrimônio do povo.
1.4 A estação experimental
Em 1963, o governador Celso Ramos firmou convênio com a
Associação Rural de Florianópolis (Dec. 163/63), para que esse órgão
dirigisse a recém-criada estação experimental, sem ônus para os cofres
públicos. A associação aceitou prazerosamente a missão, porque
esperava que a iniciativa do governador trouxesse consideráveis
benefícios para comunidade pela criação de extensa área verde
destinada à recreação, pelo aproveitamento da magnífica praia.
Outros benefícios foram a divulgação de praxes conservacionistas aos
escolares, a pesquisa sobre o meio ambiente, o fomento ao turismo e,
acima de tudo, o embelezamento da nossa ilha.
O encaminhamento do projeto foi um grande
desafio, porque se tratava de um gênero de reflorestamento
completamente diferente daqueles que estavam em andamento
no interior do Estado.
1.5 Implantação do viveiro
Uma das primeiras providências tomadas foi a implantação
de um viveiro, de considerável extensão, capaz de atender
ao programa dos plantios. Nos primeiros tempos, as mudas
foram produzidas em torrões paulistas (Figura 1d, pág. 27),
mas esse processo foi abandonado porque exigia muita
mão de obra; além do mais, os torrões eram frágeis e se
quebravam ao serem transportados. Depois, utilizaram-se
sacos plásticos que eram mantidos durante o plantio2. Para que
as mudas pudessem resistir ao choque do plantio, foram usadas
apenas aquelas de qualidade superior.
O que é micorriza?
Por Giorgini A. Venturieri
A parte viva que habita o solo tem recebido
atenção cada vez maior porque apresenta grande
potencial para ser usada no manejo ecológico e
autossustentável dos solos. Nessa parte viva, estão
os fungos basidiomicetos (aqueles que formam uma
espécie de chapéu posto sobre uma haste), cujas hifas
colonizam e crescem ao redor das raízes das plantas
e, sendo chamados de micorriza. A planta, por meio
com a justificativa de que poderiam inibir o crescimento das raízes. No entanto, não se tem conhecimento
experimental que comprove isso. A manutenção dos sacos plásticos, em um plantio feito em solo de dunas,
aparentemente aconteceu por acidente (ver acervo H. Berenhauser P3, Env 14, Fl 15), mas pode ser mais uma
novidade trazida por Henrique Berenhauser merecedora de um estudo mais aprofundado. (N.E.)
Chapter 1
1.1 Beginnings
On September 21, 1962, Celso Ramos, the governor of the state
of Santa Catarina, created the Forest Station of Rio Vermelho
with decree 2.006 (appendix). One thousand hectares of vacant
government land along Praia do Moçambique , between the towns
of Barra da Lagoa (Lake Border) and Morro das Aranhas (Spider
Hill) , were allocated for experimental work1.
For 200 years, vegetation cutting for lumber and several
major fires affected the Rio Vermelho restinga and transformed a
sandy area into a desert, which is visible in a 1957 photograph that
was obtained by an aerial photogrammetric survey by Cruzeiro do
Sul (Figure 1a, page 26). At that time, the state governor allocated
the severely devastated land for experiments to identify the species
that are best suited to protect the coastal area of Santa Catarina.
1.2 Increase of the area with dunes
The devastation of the restinga allowed the sand to be displaced by
the typically strong winds that blow on the coastal area of Santa
Catarina. Winds blowing from the southern quadrant pushed the
sand of Praia do Moçambique north and created an 8-km strip of
dunes that extended to Englishmen’s Beach.
The dunes measured as high as 60 m. Winds blowing from
the northern quadrant pushed the sand toward Lagoa da Conceição,
which consequently became filled with sediment. The fixation of
the dunes along Praia do Moçambique was necessary and has been
ecologically important in hindering the complete sedimentation
of Lagoa da Conceição, which is one of the key features of the
island’s landscape.
Although there was insufficient time to accomplish the
revegetation of the full 9.5 km strip along Praia do Moçambique,
the revegetation work sufficed to fixate and stabilize this strip
along the ocean, and no shifting sand dunes remain.
1.3 Afforestation of the restinga
The afforestation initiative of Governor Celso Ramos focused
on an area with dunes where most of the vegetation was fully
degraded; the plan to create a recreational site was a pioneering
project in Brazil that was seldom reproduced in other parts of the
world. Successors of Mr. Celso Ramos, namely Governors Ivo da
Silveira and Colombo Salles, fully supported the project. Thus,
700 hectares were planted with trees in just 12 years. This was the
origin of Rio Vermelho Park.
Unfortunately, the series of governors who succeeded Mr.
Colombo Salles lost interest in the project. Afforestation was
discontinued, and the social component of the project was not
developed. The forest did not receive silviculture treatment, which
led to conditions that favored recurrent fires. To make the tragedy
complete, the Agriculture Secretary made the devastating decision
1 On December 26, 1995, state law nº 10,021 renamed the park Henrique Berenhauser State Park, but
this new name was never instituted. According to decree nº 308 on May 24, 2007, the park is currently
named Rio Vermelho State Park and is administered by the Environment Foundation. 2 In general, it
is recommended that plastic bags be removed from the seedlings before they are planted, as the bags
21 Rio Vermelho Park
to extract resin from 150,000 of the tallest pine trees. This decision
failed to consider that the forest has an environmental preservation
role and that it is the property of the people.
1.4 Experimental station
In 1963, Governor Celso Ramos signed an agreement with the
Rural Association of Florianópolis (decree 163/63) that assigned
the administration of the newly created experimental station to the
Rural Association, and there was no onus for the public treasury. The
association happily accepted the appointed task, as it expected that the
initiative, with the creation of a large green area and a wonderful beach
that were intended for recreation, would result in important benefits for
the community. Further benefits included the spread of conservation
principles among schoolchildren, environmental research, the
stimulation of tourism, and especially the beautification of the island.
Putting the project into practice was a significant challenge,
as the chosen afforestation model was different from the models
that were applied elsewhere in the state.
1.5 Establishment of the vivarium
One of the first enacted measures was the establishment of a large
vivarium to support the planting program. Initially, the seedlings
were produced in containers known as “torrões paulistas” (Figure 1d,
page 27). Later, that process was discontinued because it required
too much manpower and the containers were too fragile and broke
during transportation. Thus, plastic bags were used instead, and they
were used throughout the planting process2. For the seedlings to
resist the planting shock, only the highest quality stocks were used.
What is mycorrhiza?
By Giorgini A. Venturieri
The living components of the soil are a focus
of increasing attention, as they exhibit potential for
use in the ecological management and self-sustainability
of soils. These living components include basidiomycota
fungi, which have caps on top of their stems and
are known as mycorrhiza; their hyphae colonize and
grow around the roots of plants. By means of
photosynthesis, plants synthesize sugars, such as glucose
and saccharose, and the sugars are supplied as energy
sources to fungi. Fungi absorb mineral nutrients and
water from the soil and convey them to the roots of plants,
thus establishing symbiosis.
Mycorrhizae significantly increase the absorption
area of roots, which increases the area of uptake for
are thought to hinder the development of the roots. However, no experimental evidence supports this
assertion. The maintenance of plastic bags in plantations that are located in soils with dunes, apparently
adopted by accident (see H. Berenhauser Collection P3, Env 14, Fl 15), represents a further novelty that
was introduced by Henrique Berenhauser, and the process deserves more thorough study. (E.N.)
 capítulo 1
da fotossíntese, sintetiza açúcares como glicose e
sacarose, que são fornecidos como fonte de energia
para os fungos, enquanto estes absorvem nutrientes
minerais e água do solo, transferindo-os para as raízes
da planta, estabelecendo uma simbiose.
As micorrizas aumentam grandemente a área
de absorção das raízes e, consequentemente, a captura
de nutrientes minerais, especialmente aqueles menos
solúveis, como fósforo, zinco e cobre. O mecanismo que
aumenta a absorção é de caráter físico e químico. Físico
porque o micélio micorrízico é menor em diâmetro que
as raízes, por isso podem explorar um maior volume
de solo, proporcionando uma maior superfície para a
absorção. Químico porque a membrana celular do fungo
excreta ácidos orgânicos que ajudam na liberação dos
íons fosfatos. Como resultado, as plantas micorrizadas
são mais nutridas e vigorosas e com mais resistência a
doenças e a condições ambientais adversas. Micorrizas
têm papel importante na sobrevivência e no crescimento
das plantas nos trópicos, onde predominam solos
de baixa fertilidade, carentes em fósforo. Para
algumas espécies, como os pinheiros plantados no
Parque do Rio Vermelho, as micorrizas foram
cruciais para a sobrevivência, o estabelecimento e o
crescimento da planta.
Embora os fungos micorrízicos sejam de ocorrência
generalizada na natureza, nem todos são capazes de
melhorar o crescimento da planta. Algumas plantas
chegam a ser eficientes nesse aspecto quando testadas
em laboratório, mas não conseguem ser competitivas no
ambiente natural e sucumbem. Outras crescem muito
devagar e são de difícil multiplicação industrial, o que
dificulta seu uso em plantios econômicos.
Apesar de 92% das famílias botânicas
(que englobam 80% das espécies) tenham sido
evidenciadas associação micorrízica, muitos fungos
são específicos de determinada espécie ou cultivar,
onde são mais eficientes. Logo, para os cultivos
comerciais, é preciso selecionar a espécie e ou
o cultivar, bem como a linhagem de fungo mais
eficiente. Quando tal seleção é feita, conseguem-
se aumentos de produtividade acima de 50%. Na
natureza, a micorrização é geralmente inibida pela
elevada fertilidade, aplicação de adubos químicos,
perturbação e erosão do solo, uso de fungicidas
sistêmicos e desmatamento. Em solos desnudos
pelo desmatamento, muitas vezes é necessária a
reintrodução dos fungos micorrízicos. A inoculação
de plantas com esses fungos vem sendo mais usada na
produção de mudas de espécies florestais, em especial
22 O Parque do Rio Vermelho
o pinus, porque, para essa planta, ela é indispensável.
Não existem no mercado brasileiro inoculantes
industrializados, e mesmo no exterior são poucos os
países onde esses produtos estão disponíveis, com
exceção dos Estados Unidos e da França.
Em geral, os agricultores preferem fazer a
inoculação utilizando substratos comerciais à base de
casca decomposta de pinus, que tem abundante presença
de esporos dos fungos, ou aplicando liteira decomposta
coletada de plantios já estabelecidos. No caso do
Parque do Rio Vermelho, as mudinhas que em grupo
apresentavam um crescimento mais vigoroso do que as
outras e, portanto, micorrizadas, eram distribuídas pelos
canteiros onde o crescimento apresentava-se menos
vigoroso (Figura 1e, pág. 27). Como consequência,
acabavam levando os fungos para as outras plantas que
passavam também a crescer com mais vigor (Fonte:
Acervo Henrique Berenhauser P4, Env1, Fl22).
1.6 A construção de estradas de serviço
Como as extremidades do parque ficavam a 8 km do viveiro,
foram construídos cerca de 30 km de estradas de serviço, pelas
quais os operários e as mudas eram conduzidos, em caminhões,
até os sítios dos plantios. Uma dessas estradas completou o
último elo do contorno norte da ilha, e foi em virtude de sua
construção que a Barra da Lagoa passou a ter acesso rodoviário
(Figura 1h, pág. 28).
Ao longo da Lagoa da Conceição, a construção de alguns
trechos das estradas foi muito dispendiosa, porque esses trechos
atravessavam um charco, e, para atingir o Morro das Aranhas,
o caminhão que transportava o aterro precisava movimentar-se
sobre pranchas. Concluídos os plantios, as estradas de serviço
tornaram-se aceiros que protegeriam a floresta contra o
alastramento de eventuais incêndios.
1.7 Obras de infraestrutura
executadas pelo convênio
Em 1973, o convênio ainda permitiu a construção de cerca
de 3 mil metros quadrados de estrutura transformadas
em um dos melhores campings do Brasil que englobava:
administração do parque, escritório amplo, oficina, garagens,
depósitos, uma confortável residência para o administrador,
duas casas para guardas-florestais, camping para escoteiros,
5 km de tubulação com 2 polegadas de diâmetro para adução
de água, rede de energia elétrica e outros serviços (Figuras
1i-1m, pág. 28 e 29). Para realizar todas as obras descritas
neste relatório durante os 12 anos, o convênio recebeu
CR$ 1.065.000.
Chapter 1
mineral nutrients (particularly in the less soluble ones,
such as phosphorus, zinc, and copper). The mechanism
that increases the absorption is both physical and
chemical. The mechanism is physical because the
mycorrhizal mycelia have smaller diameters than the
roots; thus, they can exploit a larger volume of soil and
provide larger areas of absorption. The mechanism is
chemical because the cell membrane of fungi excretes
organic acids that release phosphate ions. Consequently,
the mycorrhizal plants are stronger, better nourished,
and they exhibit more resistance to diseases and adverse
environmental conditions.
Mycorrhizae play an important role in the survival
and growth of plants in the tropics, where low-fertility
phosphorus-lacking soils prevail. Mycorrhizae were
crucial for the survival, settlement, and growth of some
species, such as the pine trees at Rio Vermelho Park.
Although mycorrhizal fungi exist all over the
world, not all of them are able to improve the growth
of plants. Some plants show efficiency in this regard
when they are tested in the laboratory, but they do not
behave competitively in natural environments and can
perish. Other plants grow too slowly and are difficult
to grow at an industrial scale, which makes their
use difficult in commercial plantations. Although a
mycorrhizal association is apparent in 92% of botanic
families (which comprise 80% of the world’s species),
many fungi are specific to a given species or cultivar
where they exhibit higher efficiency. Therefore, in the
commercial production setting, it is necessary to select
a species or cultivar in addition to the most efficient
line of fungi. With proper selection, productivity gains
above 50% can be achieved.
In nature, mycorrhization is usually inhibited
by high-fertility soils, the use of chemical fertilizers,
perturbation and erosion of soils, the use of systemic
fungicides, and deforestation. Mycorrhizal fungi must
be reintroduced often in soils that have been denuded
by deforestation. The inoculation of plants with
these fungi is increasingly used in the production of
seedlings of woodland species (especially in pines).
Indeed, the practice is indispensable in pine species.
There are no industrialized inoculants in the Brazilian
market; they are only available in a few countries, such
as the United States and France.
In general, farmers prefer to perform inoculation
either with commercial substrates on a base of
decomposed pine bark that contains abundant fungal
spores or with decomposed litter that is collected from
established plantations. In the case of Rio Vermelho
23 Rio Vermelho Park
Park, the seedlings that exhibited the strongest growth
(Figure 1e, page 27, and were therefore mycorrhized,
were distributed among the beds that exhibited weak
growth. In this way, they transferred fungi to the
remainder of the plants so that they would exhibit
stronger growth (Source: Henrique Berenhauser
Collection P4, Env1, Fl22)1987) (Figure 2b).
1.6 Construction of service roads
Because the edges of the Park were 8 km away from the vivarium,
approximately 30 km of service roads were constructed for
workers to transport seedlings to the planting sites by truck.
One such road represented the last link of the island’s northern
boundary, which provided road access for Barra da Lagoa
(Figure 1h, page 28).
The construction of some sections of road along Lagoa
da Conceição was expensive, as they crossed marshes, and the
trucks that carried the landfill material were required to drive
over planks to reach Morro das Aranhas. When planting was
complete, the service roads became firebreaks to protect the
forest against the expansion of the occasional fires.
1.7 Infrastructure built
by the agreement
In 1973, the agreement allowed for the construction of
approximately 3,000 square meters of structure that became
one of the best campsites in Brazil. That included the Park
administration, a wide office, a workshop, garages, storehouses,
a comfortable house for the manager, two houses for foresters, a
campsite for scouts, five km of two-inch diameter pipes for water,
and an electric energy network (Figures 1i-1m, page 28 and 31).
The agreement was granted CR$ 1.065.000 to accomplish all of
the work over 12 years.
1.8 Establishment of Rio Vermelho
Park: national and international
acknowledgment
Because of its uncommon nature, the work to recover the
restinga of Rio Vermelho awakened much interest among
technicians and nature lovers in Brazil and abroad. Park
administrators were even invited to show slides and to report
on the status of the project at the auditorium of the School
of Forest Resources at the University of Maine in the United
States and at several international congresses and symposia.
Because of the technical knowledge3, people from Australia’s
Queensland Forest Service and the Commonwealth Scientific
and Industrial Research Organisation came to Florianópolis to
 capítulo 1
1.8 Implantação do Parque do
Rio Vermelho: reconhecimento
nacional e internacional
Por sua natureza incomum, os trabalhos de recuperação
da restinga do Rio Vermelho despertaram grande interesse
entre técnicos do país e estrangeiros, além dos amantes da
natureza. Inclusive, fomos convidados para apresentar slides
e para relatar o andamento dos trabalhos no auditório da
Escola de Florestas da Universidade do Maine, nos Estados
Unidos, e em vários congressos e simpósios internacionais.
Em razão desses conhecimentos técnicos3, pessoas do Serviço
Florestal de Queensland e do Serviço Florestal Federal da
CSIRO (Austrália) vieram especialmente a Florianópolis para
averiguar o que foi realizado no Parque do Rio Vermelho, já
que naquele país muitas áreas semelhantes necessitavam de
trabalhos de recuperação.
Professores e alunos da Faculdade de Florestas do
Paraná visitaram periodicamente o andamento dos trabalhos
e, após uma visita feita em julho de 1966, o professor
Franzel, diretor da escola, oficiou ao governador Ivo Silveira,
declarando: “Sentimos que o Sr. Henrique Berenhauser está
prestando inestimáveis serviços ao Estado de Santa Catarina,
com o reflorestamento de algumas áreas do litoral, assim
criando um parque para futura atração turística, não somente
realizando o reflorestamento de algumas áreas com uma
vegetação pobre, mas também os diferentes modos de plantio
[...] São extremamente interessantes as experiências com
o reflorestamento de dunas, tipos de trabalho que diferem
completamente da meta normal de reflorestamento [...] Os
alunos aprenderem que a floresta nem sempre é uma fábrica
de madeira, mas que muitas vezes pode ser extremamente
valiosa para a proteção, bem como propósitos recreativos”.
O diretor da Divisão de Dasonomia, do Serviço Florestal
de São Paulo, Dr. Gurgel Filho, em julho de 1972, escreveu
no Livro de Visitantes: “Em dois dias palmilhei quase dois
lustros de tenacidade, de desafios, cuja obra será mais bem
avaliada pelos posteriores”.
O almirante Herick N. Caminha, comandante do 5º
Distrito Naval, comentou: “Deixo registrada minha admiração
pelo entusiasmo, dedicação e proficiência como se dedicou de
corpo e alma à tarefa de estudar e experimentar meios e modos
de salvar do desbaratamento a cobertura vegetal das nossas
terras não agricultáveis”. Os professores José T. do Amaral
Gurgel e Gerhard Bandel4 deixaram registrado: “Visitamos
a Estação Experimental do Rio Vermelho e ficamos deveras
impressionados com o trabalho realizado, tanto do ponto de
vista científico como prático. Partindo da estaca zero, sem
dados científicos iniciais, foi realizado o milagre. Surge agora
uma área reflorestada, com espécies indígenas e exóticas.
Parabéns ao realizador!”.
3 Grande parte da população tem migrado para as zonas litorâneas onde inúmeras restingas, como as do
parque, acabaram por ter uma ocupação urbana ou ficaram próximas a cidades. Com a nova realidade
climática mundial, pesquisadores e administradores públicos têm procurado estratégias para revegetar
e estabilizar dunas com árvores que possam diminuir a velocidade dos ventos de tufões e furacões,
24 O Parque do Rio Vermelho
O Dr. Lucas Tortorelii, representante da FAO no Brasil e
ex-diretor do Serviço Florestal da Argentina, escreveu: “Lindo
trabajo forestal logrado! El hombre, por el general, factor
negativo en materia forestal, suele tener su excepciones.
La Estación Forestal Demostrativa de Rio Vermelho es, en
realidad, una de ellas; con fe estudio, criterio empuje y efectiva
acción, le ganó – porque así es – ya hoy 22.10.66, le ganó,
solito, la batalla forestal al matagal improductivo y se está
llevando por delante, también forestalmente, a la propia duna.
Ahora es cuestión de tiempo y recursos”.
O engenheiro silvicultor da FAO José Lagrifa Mendes
deixou o seguinte pronunciamento: “Jamais encontrei trabalho
profissional que tanto me agradaria realizar, como fim da
minha carreira florestal. O local é paradisíaco, os problemas
florestais que se apresentam são altamente complexos. É obra
de pioneirismo tanto sob o aspecto florestal como turístico.
Dos fracos não reza a história. Que a saúde não lhe falte,
assim como o apoio dos governantes, para que possa terminar
essa maravilhosa obra”.
Frei Felício G. Vasconcelos – Ordem dos Mínimos - OM,
arcebispo de Florianópolis, assim falou: “Conheci há anos esta
região e particularmente a gleba da atual estação, quando ainda
permanecia desaproveitada. Estou, pois, à vontade para avaliar,
por conhecimento próprio, a grandeza da obra já realizada e
reafirmar que foi magnífica a impressão da visita”.
como os que passaram recentemente pela costa do Sudeste e do Sul do Brasil. Por essa razão, as
técnicas desenvolvidas por Henrique Berenhauser e o estudo de caso do parque passaram a ter uma
renovada atenção. (N.E.) 4 Na época, professores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros,
em Piracicaba, SP. (N.E.)
Chapter 1
learn about the work at Rio Vermelho Park, as several areas in problems posed there are highly complex. It is pioneering work
Australia needed similar recovery work. from both forestry and touristic perspectives. The weak do
Professors and students from the School of Forests of not make history. May he never lack health nor governmental
Paraná periodically came to check on the status of the project, support so that he may finish this wonderful work”.
and after one visit in July 1966, the school director, professor Friar Felício G. Vasconcelos – Order of the Minims
Franzel, reported to Governor Ivo Silveira that, “We feel that (OM), the archbishop of Florianópolis, said the following: “I
Mr. Henrique Berenhauser is performing a great service to knew this area years ago, and particularly the soil of the present
the state of Santa Catarina by reforesting some coastal areas day station when it was not yet used to advantage. Thus, I’m
and thus creating a park that will become a future point of very willing to assess on the grounds of my personal experience
touristic interest, not only by reforesting some vegetation-poor the greatness of the work that has already been accomplished
areas, but also by means of different modes of planting […] and to assert that my impression of this visit was magnificent”.
The experiences with the reforestation of dunes and the type
of work that is completely different from the normal aim of
reforestation are extremely interesting […] The students learn
that a forest is not always a lumber factory, but that quite often,
it is extremely valuable for protection as well as for recreational
purposes”. In July 1972, the director of the Dasonomy Division
of the Forestry Service of São Paulo, Dr. Gurgel Filho, wrote
in the visitors’ book, “In just two days I went through almost
ten years of tenacity and challenges, the results of which will
be better assessed by future generations”. Admiral Herick N.
Caminha, the commander of the 5th Naval District, made the
following comment: “I register here my admiration for the
enthusiasm, devotion, and proficiency with which he devoted
himself in body and soul to the task of studying and testing
means and modes to save the vegetation coverage of our non-
cultivable lands from waste”. Professors José T. do Amaral
Gurgel and Gerhard Bandel4 wrote the following: “We visited the
Experimental Station at Rio Vermelho and were truly impressed
by the work that had been accomplished from both the scientific
and the practical points of view. Starting from scratch, without
any initial scientific data, a miracle was performed. Now a
reforested area emerges with indigenous and exotic species.
Congratulations to the one who accomplished it!”
Dr. Lucas Tortorelii, a representative for the Food and
Agriculture Organization (FAO) in Brazil and the former
director of Argentina’s Forest Service wrote, “A beautiful
forestry work was accomplished! Man is typically a negative
factor in forestry matters, but there are some exceptions. The
Demonstrative Forest Station at Rio Vermelho is, in fact, one
such exception; with faith, study, sound criteria, enthusiasm,
and effective action, it succeeded – because it has – as of
today, October 22, 1966, it won by itself the forestry battle
against the unproductive scrubland, and it is also beating, also
from the forestry point of view, the dune itself. Now it is only
a matter of time and resources”.
The FAO silviculture engineer, José Lagrifa Mendes, left
the following statement: “I’ve never found professional work
that I’d like so much to accomplish as the goal of my career
in forestry. The location looks like paradise, and the forestry
3 Substantial part of the population migrated to the coastal area where countless restingas were areas of Southern and Southeastern Brazil. For this reason, the techniques that were developed by
urbanized or affected by nearby towns. Due to current global climate conditions, researchers and public Henrique Berenhauser, with Rio Vermelho Park as a case study, became the focus of renewed interest. 4
administrators have been looking for strategies to revegetate and stabilize dunes with trees that can At that time, they were professors at the Luiz de Queiroz College of Agriculture in Piracicaba, SP. (E.N.)
reduce the speed of typhoon and hurricane winds, such as those that recently passed over the coastal
25 Rio Vermelho Park
 capítulo 1 Chapter 1

Figura 1a Fotografia da área do atual

1b 1c Parque Florestal do Rio Vermelho e
entorno feita pela Cruzeiro do Sul no
ano de 1957

Figura 1b Gado pastando.

Antes, a pecuária era uma
importante atividade na Ilha de
Santa Catarina, o que levou ao
exagerado desmatamento de quase
toda sua superfície (N.E.)

Figura 1c Cerca construída para

1a conter o gado

Figura 1d Linha de produção de

“torrões paulistas”, usados para
colocar as sementes dos pinheiros
1d Figura 1e As mudinhas com
micorrizas eram transplantadas para
os canteiros onde as plantas não
estivessem crescendo tão bem. Com
mais alguns dias, o fungo micorrízico
colonizava as demais plantas e
melhorava o seu crescimento

Figura 1f Aspecto dos canteiros

Figure 1a Aerial photography of

what is now Rio Vermelho Forest
Park and its surroundings, taken by
Cruzeiro do Sul in 1957

Figure 1b Livestock grazing. In the

past, cattle raising was an important
activity on Santa Catarina Island,
which led to the deforestation of
virtually the entire area

Figure 1c A fence built to

contain livestock

Figure 1d Production line of the

“torrões paulistas”, which
1e 1f is where the seeds of the pine trees
were placed

Figure 1e Seedlings with

mycorrhiza were transplanted
into the beds where the plants
were not growing well. A few
days later, the mycorrhizal fungi
colonized the remainder of the
plants and improved their growth

Figure 1f The appearance

of the beds

26 O Parque do Rio Vermelho 27 Rio Vermelho Park

 capítulo 1 Chapter 1

1h 1i Figura 1g Vista aérea do viveiro.

1g Para se chegar ao parque de carro,
era preciso ir até o norte
da Ilha de Santa Catarina para
depois voltar. As estradas foram
abertas em parceria com a
Prefeitura de Florianópolis. (nota
baseada em relatos da Sra. Georgia
e de Gabriel Berenhauser)

Figura 1h O acesso à atual

Barra da Lagoa antes era feito
apenas com balsas

Figura 1i, 1j e 1l Infraestrutura

do camping

Figura 1m Casa do administrador,

que até recentemente era ocupada
pelo Batalhão de Polícia Ambiental

Figura 1n Restaurante e cantina

do camping

Figure 1g Aerial view of the

vivarium. To arrive to the Park
by car, one had to travel to the
north of Santa Catarina Island and
then return. Based on data from
1j 1m 1n Georgia and Gabriel Berenhauser,
the roads were the result of a
partnership that was

Figure 1h In the past, Barra da Lagoa

could only be reached by raft

Figure 1i, 1j e 1l The campsite

restaurant and cafeteria

Figure 1m The manager’s house,

which, until recently, was occupied by
the Environmental Police Brigade

Figure 1n Infrastructure of the

Park buildings

1l

28 O Parque do Rio Vermelho 29 Rio Vermelho Park

 capítulo 2 Chapter 2

30 O Parque do Rio Vermelho 31 Rio Vermelho Park

 Chapter 2

Capítulo 2
O ASPECTO ECOLÓGICO
Chapter 2: The Ecological Aspect

33 Rio Vermelho Park

 capítulo 2 Chapter 2

O que é uma árvore? derramada pelas árvores, outras plantas da comunidade of dead animals, and animal stools; the litter allows
restos de animais mortos e suas fezes, permite o acúmulo What is a tree? water to accumulate and gradually be released into the
Por Giorgini A. Venturieri de água e a sua liberação gradual para toda a comunidade living community. As plant litter is decomposed by small
viva. Enquanto é decomposta por pequenos animais, By Giorgini A. Venturieri animals, tunnels open in the soil and allow air to enter,
Uma resposta simples seria dizer que se trata galerias são abertas no solo permitindo a entrada de ar which facilitates the growth of new roots and provides
de um vegetal lenhoso, de grande porte, cujo caule, que facilita o crescimento de novas das raízes e levam os A simple answer to “What is a tree?” is that nutrients to existing ones. Trees are components of
chamado de tronco, se ramifica bem acima do nível nutrientes para as já existentes. Árvores são componentes a tree is a large, woody plant with a stem, or trunk, a complex community, and the community members
do solo, ao contrário dos arbustos que se ramificam de uma comunidade complexa, que coopera entre si, para that branches out well above the ground level. On the cooperate to produce forests.
desde o nível do solo. No entanto, se formos procurar formar as florestas. contrary, the stems of shrubs branch out at the ground
predicados de sentidos biológicos para definir o que é level. Nevertheless, if one were to search for predicates
uma árvore, o limite seria o do conhecimento humano. of biological meaning to define what a tree is, one 2.1 Of planting in general
As árvores, como são atualmente, originaram-se 2.1 Do plantio em geral e dos would reach the limits of human knowledge. and the plant spacing
da fusão de espécies microscópicas e unicelulares e espaçamentos utilizados Present-day trees originated from the fusion of In general, planting was performed without the
que viviam nos oceanos pré-históricos, tendo como Em geral, o plantio foi executado sem marcação geométrica das microscopic and unicellular species that resided in geometrical distribution of the burrows, which is how planting
única característica que lembra as atuais árvores o covas, como são realizados os plantios nos Estados Unidos. Salvo em prehistoric oceans. While the original trees also used is performed in the United States. Except for areas that were
fato de que usavam a luz do sol para conseguirem áreas muito infestadas por formigas, que recebiam maior atenção com sunlight for the energy they required to grow, they highly infested by ants, which were the focus of greater
energia para crescer. No caminho evolutivo, vários o combate aos insetos, as mudas ficavam entregues à sorte. were otherwise unlike present-day trees. Along the attention because of the combat against insects, the seedlings
grupos permaneceram aquáticos, outros colonizaram Observou-se que o pinus viceja bem quando em associação evolutionary path, several groups remained aquatic, were abandoned to their fate.
as terras e, para isso, precisaram enrijecer os seus com a vegetação nativa emergente, que afasta a atenção das formigas. while other groups colonized land. The land trees Pines thrive when they are associated with the emerging
corpos desenvolvendo substâncias orgânicas que Esse método contraria a prática rotineira de que os plantios devem ser needed to make their bodies stiff. For this purpose, native vegetation that distracts the ants. This method runs
espessaram as suas paredes celulares e as colaram “limpos” e tornou-se alvo de críticas, inclusive com uma representação they developed organic substances that made their cell against the common practice of making plantations “clean”, and
a outras estruturas fibrosas feitas de lignina, base ao Exmo. Sr. Governador. Mas a missão do projeto era a implantação walls thick, and they added other fibrous structures that it therefore became the target of criticism from the governor.
do caule duro e lenhoso das árvores que se tem hoje. do parque com a maior economia possível, e assim foi feito1. were made of lignin, which is the base of the woody However, the project mission was to establish the Park as
Novas “invenções biológicas” foram conseguidas Em alguns trechos dos alagados, o solo continuou stem that is found on present-day trees. affordably as possible, so the method continued1.
pela fusão de espécies, permuta de genes através encharcado, mesmo depois do rebaixamento do lençol freático. New “biological inventions” evolved after tree The soil remained drenched in some flooded areas even
do sexo ou mediada por micro-organismos capazes A solução foi levantar o nível das covas com a areia obtida das species merged, genes were exchanged through sexual after the water table was lowered. Using sand that collected in the
de transferir material genético de espécies sem valas de drenagem e, com essa providência, as mudas pegaram e reproduction or by microorganisms that transferred drainage ditches, the solution was to raise the level of the burrows. In
parentesco algum e de mutações, foram selecionadas cresceram normalmente (Figura 2a, pág. 60). Em um trecho mais genetic material between unrelated species, and so doing, the seedlings caught up and grew at a normal pace (Figure
ou disponibilizadas ao acaso para colonizar o planeta. baixo das dunas, repetidamente as mudas plantadas acabaram mutations were selected or made randomly available; 2a, page 60). In the lower areas of the dunes, the planted seedlings
As plantas mais altas conseguiram maiores cotas de morrendo. Constatamos, então, que em tais condições de retenção the result was that trees colonized the planet. Although repeatedly died. The management then realized that greater drainage
luz, mas nem todas seguiram esta linha evolutiva, e invisível de água, havia a necessidade de maior drenagem. the tallest plants received more light, not all trees was needed, as there was an invisible retention of water.
as que não conseguiram tal prodígio se adaptaram a Nos plantios realizados no parque, foram usados os mais followed this evolutionary path; the trees that failed Many spacing models were applied to the planting techniques
baixas cotas de luminosidade ou a lugares em que as variados espaçamentos. No início, obedeceu-se às normas to do so had to adapt to lower amounts of light or in the Park. In the beginning, the usual Brazilian rules for planting
plantas mais altas não puderam colonizar. usuais dos plantios no país, o que foi contraproducente porque, to locations where the tallest plants were unable to were applied; however, the results were counterproductive, as
No caminho do aparecimento e evolução das por causa da densidade excessiva das árvores, instalou-se colonize. Along with the evolutionary path of trees, competition developed as a function of the high tree densities. The
árvores, comunidades inteiras de outros organismos uma competição, o que exigiu um desbaste denominado pré- entire communities of other organisms appeared and administrators then used what is called “pre-commercial thinning”
também apareceram e formaram com elas comunidades comercial (Figura 2b, pág. 60). Embora nos povoamentos de formed biological communities that altered the climate (Figure 2b, page 60). In the highest density populations, the
biológicas que modificaram o clima e o solo e, em uma maior densidade as árvores crescessem bem em altura, não and the soil; in an exceptional pattern of cooperation, trees grew high, but they did not thicken up. In places where pre-
forma cooperativa excepcional, favoreceram a coexistência engrossam. Não se tendo executado o desbaste pré-comercial, these organisms favored the coexistence and commercial thinning had not been performed, the aciculae and dry
e manutenção de toda uma comunidade formada de esses maciços tornaram-se focos de incêndio devido ao maintenance of a full community that was comprised of twigs accumulated, and these dense areas became the foci of fires
animais, protistas, e de outras plantas. Árvores, durante acúmulo de acículas e galhos secos (Figura 2c, pág. 60). Como animals, protists, and other plants. During their lives, (Figure 2c, page 60). Because the trees leaned against one another,
a sua vida e morte, produzem quantidades enormes de as árvores encostavam-se umas nas outras, o fogo atingiu a trees produce substantial amounts of wood, leaves, the fires affected the upper parts of the trunks (Figure 2d, page 61).
lenho, folhas, flores, frutos e sementes, que são alimentos parte superior dos fustes (Figura 2d, pág. 61). Nos plantios flowers, fruits, and seeds. Animals and countless other In plantations with five-meter spacing, the small volume of aciculae
de animais e de uma inimaginável quantidade outros seres com espaçamento de 5 metros, por conta de pouco volume de living beings feed, destroy, and decompose this tree and dry twigs2 kept the fires from rising above the ground level,
vivos que destroçam e decompõe tal matéria. Enquanto acículas e galhos secos2, o fogo permaneceu junto ao solo e as matter. While the decomposition progresses, acids are and the plants tolerated fires without exhibiting problems.
estão sendo decompostas, ácidos são gerados que atacam plantas o suportaram bem e sem problemas. produced that attack the soil minerals and make them As Figure 2e (page 61) illustrates, when the managers
os minerais do solo, disponibilizando-os para outras À medida que se foi ganhando experiência, diminuiu-se o available for other plants and microorganisms. Plant gained experience, the number of trees that were planted per
plantas e micro-organismos em crescimento. A liteira, que número de árvores plantadas por hectare, como o exemplo visto litter is a layer of organic matter that covers the soil. hectare decreased. While the shape of the trees was not altered,
é a camada formada sobre o solo pela matéria orgânica na Figura 2e (pág. 61). Apesar do espaçamento amplo, as árvores Plant litter is produced by trees, other plants, remnants they developed larger diameters more quickly, and the trunks

1 A associação entre cultivos para melhorar a produtividade, ainda hoje, é uma prática agronômica de
vanguarda, benéfica ao meio ambiente, cujo entendimento ainda está em construção nos meios científicos.
(N.E.) 2 O ateamento periódico de fogo em plantios e em florestas naturais de pinheiros é uma prática usual feita
para diminuir o acúmulo excessivo de matéria orgânica. Com o fogo periódico, evitam-se grandes incêndios,
capazes de gerar temperaturas extremas a ponto de matar as árvores ou escapar para outras áreas. (N.E.)
3 Foram feitas outras tentativas no Parque para conter a velocidade dos ventos com o uso de plantas. Entre elas,
a aveia-das-dunas (Uniola paniculata L.) introduzida do estado de Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Uma
asterácea ainda não identificada, o capim colchão, o feijão-de-praia (Sophora tomentosa L.), o mangue-da-praia
(Scaevola plumieri (L.) Vahl.) e o gravatá-de-lança (Aechmea ornata Lodd.). Esta última é comumente usada
na região, embaixo das cercas de arame farpado ou não, como auxiliar ao bloqueio da passagem de animais.
1 To this day, a combination of cultures to improve productivity is a vanguard agronomic practice,
and although it benefits the environment, this method is still under development within the scientific
establishment. 2 Setting fire to pine plantations and natural forests is a usual practice to reduce
the excessive accumulation of organic matter. Periodic fires prevent the occurrence of major fires
that are capable of raising the temperature to a point that kills the trees or spreads the fires to other
areas. 3 Other attempts were made to contain the wind speedswith plants, such as sea oats (Uniola
paniculata L.), which was brought from North Carolina in the United States, large crabgrass from
the Astereaceae family, yellow necklacepod (Sophora tomentosa L.), beachberry (Scaevola plumieri
L.) Vahl.), and Aechmea ornata Lodd. The latter is commonly used to block the passage of animals
in the area under barbed wire fences.

34 O Parque do Rio Vermelho 35 Rio Vermelho Park

 capítulo 2
não tiveram a sua forma prejudicada, alcançaram rapidamente um
maior diâmetro e ficaram com os fustes pouco cônicos, o que é
uma preocupação dos silvicultores ao ampliarem os espaçamentos.
O conjunto apresentou ainda uma maior uniformidade.
2.2 A fixação das dunas
e a sua revegetação
Em virtude da supressão quase completa da vegetação
original, criou-se ao longo da Praia de Moçambique uma faixa
de dunas, cuja largura variava entre 500 a 1.500 metros, que ia da
Barra da Lagoa até a Praia dos Ingleses, e era a principal fonte de
areia que assoreava a Lagoa da Conceição.
Por meio do plantio de árvores e arbustos, conseguiu-se
recuperar inteiramente uma faixa de 4 km de extensão. Nos 5,5
km restantes, apenas houve tempo para plantar faixas com o nosso
feijão-da-praia (Sophora tomentosa L.), que, surpreendentemente,
fomentou e permitiu o crescimento de gramíneas e de outros tipos
de vegetação rasteira sobre a totalidade das dunas, de maneira que
deixaram de ser movediças (Figura 2f, pág 62).
Quando foi iniciado o plantio das dunas, constatou-se
que não era viável plantar em áreas onde a areia ainda estivesse
em movimentação qualquer tipo de muda ou planta de tamanho
reduzido, porque em poucos dias eram corroídas pela areia
impelida pelos ventos fortes.
Para contornar esse problema, onde havia areia em
movimentação, as dunas foram cobertas com camadas de junco
(Schoenoplectus californicus Soják) (Figuras 2g-2j, pág. 62 e 63),
que ocorria nas partes baixas das próprias dunas. Mas foi um trabalho
de grande amplitude colher, transportar e espalhar enorme quantidade
de material sobre áreas consideráveis. Depois de cobertos tais trechos,
foram abertas covas que então eram cheias com um ou dois baldes de
turfa colhida em trechos de alguns dos alagados do parque.
Graças à fertilidade, embora pouca, e à capacidade de retenção
de umidade da turfa, nesses plantios foi possível alcançar quase 100%
de sobrevivência. As plantas implantadas com esse sistema iniciavam
imediatamente o seu crescimento3. Ainda melhor teria sido se tivesse
sido utilizada uma pequena quantidade de adubo químico, mas não se
dispunha de recursos para aquisição desse insumo.
Sobre a duna frontal próxima ao oceano, foi preciso
começar a recuperação por meio do plantio de uma “vegetação
pioneira”, a acácia-trinervis (Acacia longifolia Willd.) (Figura
2l, pág. 63), arbusto australiano resistente ao rocio do mar.
No meio delas, foi possível plantar pinus e eucaliptos. Como
leguminosa, a acácia também possui a capacidade de fixar
nitrogênio ao solo. Porém, tem o inconveniente de não ser uma
planta perene, morrendo entre os sete e dez anos de vida. Suas
sementes somente germinam quando tratadas, ou, na natureza,
quando houver um incêndio onde estão plantadas – característica
de quase todas as plantas australianas.
36 O Parque do Rio Vermelho
Por essa razão, procuramos um substituto para a acácia
e fomos encontrá-lo na África do Sul, nas dunas próximas a
Durban, cujo jardim botânico era encarregado de zelar por
considerável trecho de dunas que não sofreu a devastação do
homem, a qual percorremos para colher sementes de Canavalia
maritima Thouars (Figura 2m, pág. 63).
A fixação de dunas e seu florestamento constituem-se
em uma das operações mais dispendiosas e trabalhosas
em toda a silvicultura, exigindo grande mão de obra e bastante
engenhosidade para encontrar soluções para os problemas
que se apresentam, já que a literatura sobre o assunto é
muito pobre.
Por que nas restingas a
vegetação não consegue
cobrir toda a área?
Por Giorgini A. Venturieri
Restinga é um termo genuinamente brasileiro,
usado para designar as áreas de depósito arenoso de
origem marinha e um tipo de vegetação costeira que
os recobre. Os seus solos são formados pelo depósito
de areias vindas do mar (e por isso com baixo teor de
argila e de matéria orgânica), que são trabalhados por
vento, salinidade e umidade, formadores de condições
peculiares que acabam por moldar a vegetação
que ali se estabelece. Os ventos fortes e a baixa
agregabilidade das partículas da areia movimentam o
solo em uma dinâmica que interfere na vegetação que
eventualmente o recobre.
As restingas, como as do parque, possuem três
zonas bem definidas: a) zona de arrebentação; b) zona
das dunas móveis; c) zona alta. A zona de arrebentação,
ou linha de praia, é mais próxima do mar. A vegetação
que a recobre é formada por espécies herbáceas,
geralmente rasteiras, resistentes a alta salinidade,
grande insolação e ventos fortes, ou seja, são espécies
geralmente especializadas com estratégias de reprodução
em condições extremas, como a polinização mediada por
abelhas corpulentas capazes de voar em ventos fortes e o
lançamento de ramos, rentes ao solo, para locais ainda
não ocupados ou parcialmente ocupados por outras
plantas; tais ramos emitem brotações formando novos
indivíduos (os chamados estolões).
A segunda zona, mais interiorana, é mais
larga que a primeira, e nela se encontram as
mesmas restrições da zona anterior, porém a ação
Chapter 2
did not exhibit a remarkably conical shape, which is a concern
shared by silviculturists when the tree spacing is increased. The
trees also exhibited greater uniformity with the wider spacing.
2.2 Fixation and
revegetation of dunes
Because nearly all of the original vegetation was
eliminated, a strip of dunes developed along Praia do
Moçambique with a width that varied between 500 and 1,500
m; the dunes extended between Barra da Lagoa and Praia dos
Inglêses (Englishmen’s Beach) and were the main source of
sand sedimentation at Lagoa da Conceição.
A four-kilometer strip was fully recovered after planting
trees and shrubs. For the remaining 5.5 km, there was only
enough time to plant yellow necklacepods (Sophora tomentosa
L.); surprisingly, this allowed gramineous plants and other
creeping plants to grow on all of the dunes, and the dunes
stopped moving (Figure 2f, page 62).
When planting on the dunes began, administrators quickly
learned that planting seedlings or small plants in areas where
the sand was still shifting was not viable, as the new plants
would be covered within several days by the wind-driven sand.
To overcome this problem, the areas with shifting sands
were covered with layers of California bulrush (Schoenoplectus
californicus Soják) (Figures 2g-2j, page 62 and 63), which
is present at the lowest levels of the dunes. Nevertheless,
the collection, transportation, and spread of huge amounts of
material over large areas required substantial labor. After the
areas were covered, burrows were opened and then filled with
one or two pails of peat that had been collected from the Park’s
flooded areas.
Despite its low fertility, the ability of peat to retain
moisture meant that the survival rate in the peat plantations
was almost 100%. The plants that were implanted using this
system immediately began growing3. While liberal amounts of
chemical fertilizers would have been ever better, there were no
resources to acquire them.
On the front of the dunes that were closest to the ocean,
recovery began by planting “pioneer vegetation”, such as acacia
trinervis (Acacia longifolia Willd.) (Figure 2l, page 63), which
is an Australian shrub that is resistant to sea spray. So, pine and
eucalyptus trees colud be planted between that. As a lgume,
Acacia trineruis is also able to fixate nitrogen in the soil, however
is not perennial and dies after seven to 10 years. Acacia seeds
only germinate when they are treated or when a fire occurs where
they were planted (this is true of almost all Australian plants).
For this reason, we replaced acacia with a substitute from
the dunes near Durban, South Africa. The botanic garden in
Durban oversaw an area of dunes that were free from human
37 Rio Vermelho Park
devastation; the Park administrators visited the garden to collect
the seeds of Canavalia maritima Thouars (Figure 2m, page 63).
Dune fixation and afforestation are some of the most
expensive and difficult operations in silviculture; they require
substantial manpower and ingenuity to find solutions, as the
literature on the subject is limited.
Why does vegetation
fail to cover the entire
area of the restinga?
By Giorgini A. Venturieri
Restinga is a Brazilian term that describes
areas where sea sand is deposited and covered by a
particular type of coastal vegetation. Because restinga
soil is composed of sea sand, there is a low content
of clay and organic matter, and the soil is exposed to
wind, salinity, and moisture. These factors give rise to
peculiar conditions that shape the vegetation. Strong
winds and the low agreeability of the sand particles
make the soil move in a way that interferes with the
vegetation that eventually covers it.
Areas of restinga, such as those in the Park,
comprise three well-defined zones: a) the breaker
zone; b) the shifting dunes zone; and c) the high
zone. The breaker zone, or shoreline, is the closest
zone to the sea. The vegetation in the breaker zone
comprises herbaceous and usually creeping species
that are resistant to high levels of salinity, exposure
to the sun, and strong winds. In other words, these
species are usually specialized and exhibit strategies
for reproduction in extreme conditions, such as
pollination that is mediated by robust bees that can
fly in strong winds and distribute branches, cut
closely to the soil, in the direction of new sites. The
distributed branches produce sprouts that develop
into new individuals (called “stolons”).
The second and more inland zone is broader
than the breaker zone. Although it exhibits the same
restrictions as the first zone, the wind and the salinity are
less intense, which allows for the spread of more species
that reproduce with seeds. Nevertheless, dune formation
in this zone occurs according to unique dynamics.
Dune formation (see Illustration 1 on page 66)
A small obstacle, such as a stone, driftwood,
or a tuft of vegetation, is required to create the
 capítulo 2 Chapter 2

do dos ventos e da salinidade é menos intensa, o
que possibilita a ocupação por um número maior de
espécies que conseguem se reproduzir por sementes.
No entanto, nessa zona há a formação de dunas que
têm uma dinâmica singular.
A formação das dunas (veja Ilustração 1 na
pág. 66)
Um pequeno obstáculo (como uma pedra, um
tronco trazido pelo mar ou um tufo de vegetação)
é necessário para criar condições para que a areia
transportada pelo vento comece a juntar-se na “sombra
do vento”, criando um montinho. Com a continuação
do processo, o acúmulo de areia cresce, tornando-se
um obstáculo maior. A ação continuada dos ventos
predominantes em um mesma direção e areia suficiente
possibilitam a criação de uma duna. Na face mais
exposta ao vento predominante forma-se uma rampa,
decorrente da diminuição da velocidade do vento,
provocada pelo acúmulo de grãos de areia que carrega.
Uma vez que o vento transpõe a rampa, gera um
turbilhonamento que erode a face protegida da duna
formando uma espécie de fosso, e algumas vezes esse
fosso vai abaixo do lençol freático, formando lagos.
A face mais protegida tem um ângulo de
inclinação bem mais acentuado do que a face mais
exposta ao vento predominante. Como a adesão dos
grãos de areia é pequena, acaba por acontecer um
deslizamento conhecido como de blowout, que aterra a
vegetação existente.
As dunas “andam” e desmoronam
continuamente, roubando solo e aterrando comunidades
de plantas e de animais de uma forma catastrófica: é
o fenômeno conhecido como blowout. Veja como ele
ocorre: as dunas são essencialmente constituídas de
grãos de areia trazidos pelos ventos que vêm do mar. O
transporte e a deposição dos grãos de areia ocorrem
por saltação (termo geológico para o processo de
transporte de partículas sedimentares que “saltam”
de ponto a ponto, soerguidos e impulsionados pelo
vento ou corrente de água). A saltação funciona da
seguinte maneira: assim que o vento atinge certa
velocidade, os grãos que estavam parados no solo são
carregados pela corrente de ar e levados na direção
do vento, mas por causa da força da gravidade caem
novamente no chão. Ao caírem, o impacto deles acaba
por impulsionar outros grãos que também entram em
saltação (a chamada “reação em cadeia”). Depois
de certo tempo, o ar em movimento não consegue
mais inserir novos grãos e só tem força suficiente
para sustentar a saltação daqueles que já estão em
circulação. Esse estágio é chamado de saturação.
Quando a saturação é transposta, a deposição ocorre.
A pequena colina formada freia o vento e induz a
saturação, dando a forma típica das dunas.
Geralmente, uma duna tem uma seção
transversal típica, com uma inclinação suave na face
em que incide o vento e uma íngreme, ou encosta,
voltada para a parte mais abrigada do vento,
chamada de face de deslizamento. Quando o ângulo
da face de deslizamento se torna muito acentuado,
ocorre o desmoronamento.
Na terceira e última zona, os ventos já estão
bem mais atenuados, favorecendo a formação de uma
área mais plana e sem a movimentação de solo como a
que acontece na zona anterior. Em decorrência disso,
a colonização por plantas chega a tomar toda a área
e o processo de formação de floresta pode continuar
(ver tópico “O que são florestas”, na pág. 42). Na
terceira zona, ocorre uma “chuva de sementes” de
plantas estabelecidas nos morros, por isso há em
sua composição florística muitas espécies da floresta
tropical úmida de encostas, a floresta atlântica
propriamente dita. Em razão do maior teor de matéria
orgânica nos solos e dos ventos serem mais amenos,
essas áreas são facilmente vegetadas, podendo até
suportar o uso agrícola intensivo, como o cultivo de
pastagens, mandioca e milho.
No caso do parque, os espaços foram ocupados
por tribos indígenas e por descendentes de colonos
açorianos da família Carolina e Alves, antigos
posseiros residentes nas terras onde estão localizadas
as construções do camping (Marinho Cassiano Nunes
- Comunicação Pessoal e mapa de levantamento de
posseiros existente no Acervo Henrique Berenhauser).
Essas áreas também foram exploradas de forma
comunal pelos habitantes do que é hoje o Bairro do
Rio Vermelho (Campos, 1991).
Como a formação de dunas e o seu
desmoronamento é um processo contínuo, a vegetação
não consegue tomar toda essa área, como na zona de
arrebentação e na zona alta. Henrique Berenhauser
conseguiu cobrir a restinga do parque em uma
proporção maior do que ocorre normalmente,
porque entendeu bem esse sistema. Ele implantou
uma cobertura bem mais abundante na zona de
arrebentação (para a diminuição de pontos iniciadores
das dunas), drenou as lagoas (para aproveitar as
áreas com os solos mais turfosos e água disponível)
e plantou-as com pinheiro-americano. Com essas
conditions that allow the restinga sand to gather under
the “shadow of the wind” and form a small mound.
As the process continues, more sand accumulates
and creates a larger obstacle. The continuous action
of the predominant winds, in one direction, and the
substantial amount of sand make the formation of a
dune possible.
As sand grains are accumulated, the wind speed
slows and a ramp forms on the most exposed dune
face. When the wind crosses over the ramp, a swirl
erodes the protected face of the dune and forms a
ditch, which sometimes extends below the water table
and forms lakes.
The slope of the most protected dune face
is steeper than the dune face that is exposed to the
predominant wind. Because the adherence of sand
grains is very low, a process of sliding buries the
existing vegetation.
Dunes continuously “walk” and fall apart,
and during this process, they move and gather soil
and bury communities of plants and animals in a
catastrophic manner: this phenomenon is known
as “blowout”. Blowout occurs because dunes are
essentially made of sand grains that are carried by
winds that blow from the sea. The transportation
and deposition of sand grains occur by means of
“saltation”, which is the geological term for the
transport of sedimentary particles that “jump” from
one point to the next and are driven by the wind or
a stream of water. Saltation works as follows: when
the wind reaches a given speed, the sand grains that
were settled on the soil are carried in the direction
of the draft of air. However, because of gravity, the
sand grains return to the ground. The shock of the
grains falling causes other grains to enter saltation,
which begins a “chain-reaction”. Eventually, the
moving air can no longer recruit more grains and
is only strong enough to maintain the saltation
of the already circulating grains. This stage is
called “saturation”, and deposition occurs when
the saturation is overcome. The small hill that is
formed acts as a brake for the wind, which induces
saturation and is the reason that dunes acquire their
typical shape.
In general, the cross-section of dunes is typical.
The dunes exhibit a smooth slope on the face that is
exposed to the wind and a steep inclination on the face
that is protected from the wind. Collapse occurs when
the angle of the protected face, or the “sliding face”,
becomes too steep.
In the third and final zone, the winds are much
more attenuated and form a flatter area where the soil
is relatively stable. For this reason, plants colonize
the entire area, and the process of forest formation
can continue (see item “What is a forest?”, page 43).
In this third zone, “seed rains” occur from the plants
that are established on the hills; for this reason, the
floristic composition includes many species that are
adapted to humid tropical forest hillsides, such as
the Atlantic rainforest. Because of the softer winds
and the higher amounts of organic matter in the soil,
these areas are easily vegetated and can even support
intensive agriculture, such as the cultivation of
pasture, cassava, and corn.
In the case of the Park, this space was
occupied by indigenous tribes and descendants of
settlers from the Azores who belong to the Carolina
and Alves families. These occupants were the
former leaseholders and residents of the area where
the campsite currently exists (Marinho Cassiano
Nunes, personal communication, and a survey map
of leaseholders from the Henrique Berenhauser
Collection). These areas were also exploited by
the community that resided in the present-day Rio
Vermelho neighborhood (Campos, 1991).
Because dune formation and collapse occur
continuously, the vegetation is unable to occupy
this entire zone as well as it does in the breaker and
high zones. Because he understood it well, Henrique
Berenhauser succeeding in covering a larger fraction
of the Park’s restinga than had been covered by natural
processes. He established abundant coverage at the
breaker zone, which reduced the points that initiate
dune formation; he drained the ponds, which took
advantage of the areas with more peat and available
water; and he planted slash pine. These strategic
interventions resulted in decreased dune formation and
motion and lower wind speeds, which were precisely
the factors that enabled extensive vegetation to develop
across the first two zones of the restinga.
Following studies in several countries, it is
now possible to establish forests that are adjacent to
fierce oceans. A one-million-hectare Australian pine
(Casuarina equisetifolia L.) forest was planted in
China to protect 3,000 km of coastal land that had
been subjected to violent typhoons that had destroyed
villages and farms. That forest is selectively exploited
to produce construction materials and firewood.
The growth of Australian pine is extraordinary, even
in sand, because the presence of actinomyces is

38 O Parque do Rio Vermelho 39 Rio Vermelho Park

 capítulo 2
duas intervenções estratégicas, conseguiu diminuir
a formação e a movimentação de dunas, bem como a
velocidade dos ventos, justamente os dois pontos que
impossibilitavam a formação de uma vegetação mais
extensiva sobre as duas primeiras zonas da restinga.
Graças à pesquisa realizada em vários países,
sabe-se agora ser possível estabelecer uma floresta
junto a oceanos bravios. A China plantou uma floresta
em um milhão de hectares, utilizando a casuarina
(Casuarina equisetifolia L.), para proteger três mil
quilômetros do seu litoral, submetido a violentos
tufões que destruíam aldeias e lavouras. Essa floresta
é explorada seletivamente para produzir material
para construção e lenha. A casuarina em questão tem
crescimento extraordinário, mesmo em areia, graças
aos actinomicetes, relacionados com as bactérias que
se estabelecem em suas raízes e que fixam o nitrogênio
do ar (Figura 2n, pág. 64). Plantamos algumas
dessas árvores em nossa propriedade4. Elas e suas
sementes foram se estabelecer bem junto ao mar.
2.3 A importância dos alagados
para a paisagem do parque
No parque havia alagados com extensões consideráveis.
Neles, o plantio somente seria viável depois do rebaixamento
do lençol freático. Para esse fim, foram abertos manualmente
cerca de 40 km de valas de drenagem (Figura 2o, pág. 65),
com várias larguras e profundidades, já que não se dispunha
de maquinário. Uma das finalidades do projeto era justamente
proporcionar trabalho para os moradores do distrito, que era,
então, um dos mais pobres da ilha. Contou-se também com a
colaboração de presidiários remunerados, que trabalharam com
bastante boa vontade. Tais presidiários residiam no parque, em
acampamento construído especialmente para eles, e para os
quais a estada era considerada um prêmio5.
Nos alagados, também foi possível recuperar extensos
trechos com vegetação nativa do parque. Provavelmente a
única, com considerável extensão, que sobreviveu à devastação
ocorrida no litoral dos estados de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul. Essa vegetação deveria ser classificada pelos renomados
botânicos Padre Raulino Reitz e Professor Klein e, sob a
orientação deles, possivelmente, ser submetida a desbastes
para favorecimento de espécies de maior interesse e seleção de
variedades. A título de experimentação, em um pequeno trecho,
reduziu-se o número de brotos laterais das árvores, que, com
isso, passaram a crescer com maior intensidade.
Os reflorestamentos realizados nos alagados deram origem
aos maciços mais imponentes do parque, porque ali o solo
4 São as casuarinas que ladeiam parte da estrada que corta o Mirante das Baleias, próximo à Praia do
Morro das Pedras, no sul da Ilha de Santa Catarina. (N.E.) 5 A equipe de trabalhadores de campo era
formada por 20 presidiários e 20 diaristas (Sr. Marinho Cassiano Nunes, comunicação pessoal). (N.E.)
6 Esta observação é mais uma evidência que contrapõe ao alardeado argumento (sem comprovação
científica na literatura) de que os pinheiros “matam a vegetação nativa”. (N.E.) 7 Engenheiro agrônomo
40 O Parque do Rio Vermelho
continha mais matéria orgânica e mais umidade, o que permitiu
um melhor crescimento das plantas. Nesses maciços, ocorreu
algo interessante: devido ao sombreamento dos pinheiros, as
árvores nativas cresceram mais e houve a formação de uma mata
mista, maior e mais exuberante que a originalmente encontrada6.
Pensa-se que seria interessante redirecionar o deságue da
rede de drenagem para a Lagoa da Conceição, aumentando assim
a umidade no solo. Isso porque a vegetação nativa, assim como o
pinheiro (Pinus elliottii Engelm.), é tolerante ao alagamento e a
presença de uma maior umidade diminuiria a ameaça de incêndios
(ver quadro na pág. 66).
2.4 O uso de espécies compatíveis
com a ecologia da restinga
Algumas espécies de coníferas e de eucalipto têm a
aptidão de crescer em solos desprovidos de fertilidade e
toleram ventos fortes. Os pinheiros adquiriram essa aptidão
porque, durante milhões de anos, passaram por um processo
de adaptação a ambientes extremamente áridos, e ainda
sobreviveram a vários períodos glaciais. O clima extremamente
seco da Austrália gerou os eucaliptos, que, por conta de sua
rusticidade, são utilizados em todo o mundo para a produção
de madeira, lenha e fibras.
O sucesso da recuperação da vegetação do Parque do Rio
Vermelho deve-se basicamente à utilização dessas essências
florestais, que se desenvolveram bem na restinga. Graças à
orientação recebida do abalizado técnico do Serviço Florestal de
São Paulo, Dr. Helmuth Paulo Krug7, não houve contratempos
nos trabalhos, salvo em um caso, quando nos foram enviadas
sementes de uma espécie inadequada de casuarina8.
O P. elliottii Engelm sentiu-se à vontade na restinga,
crescendo igualmente bem tanto nas dunas como nos alagados.
Regenera-se espontaneamente, confirmando sua perfeita adaptação
ecológica ao litoral de Santa Catarina. Nos alagados, formam, na
superfície do solo, um denso emaranhado de raízes; nas dunas as
raízes procuram por umidade e nutrientes na profundidade do solo.
Contudo, na região litorânea de Santa Catarina, onde
não ocorrem geadas mais fortes, varias espécies de pinheiros
tropicais alcançam um crescimento bem maior do que o P.
eiliottii, como os Pinus caribaea Farjon et Styles vars. caribaea,
hondurensis, e bahamensis9, P. oocarpa Schiede e
Endl. (este último exigindo solo argiloso).
O pinheiro, em razão de sua resistência ao fogo, acabou
por ser uma espécie dominante no sul da América do Norte,
onde, desde tempos imemoriais, os índios utilizavam o fogo
como instrumento para suas caçadas e também para controlar
o crescimento de sub-bosques. O efeito do fogo apenas é
percebido pela carbonização da casca.
do serviço florestal, chefe da Seção de Introdução de Essências (fonte: Diário Oficial do Estado de SP, de
18 de janeiro de 1963), um dos introdutores de Pinus elliottii e Pinus taeda no Brasil ainda na década de
1950 (Brune, 2007). 8 Possivelmente, C. equisetifolia subsp. Incana (ver “Coleções de material genético
e experimentos existentes no Parque Florestal do Rio Vermelho”, nos anexos). 9 Algumas vezes, essas
três variedades são citadas como espécies distintas, como no texto original do autor. (N.E.)
Chapter 2
associated with the bacteria that settle on the roots
and fixate aerial nitrogen (Figure 2n, page 64). We
planted some of these trees in our property4. The trees
established themselves close to the sea.
2.3 Importance of flooded
areas for the diversification
of the Park landscape
There were extensive flooded areas in the Park where
planting was only possible after the water table was lowered.
For this purpose, approximately 40 km of drainage ditches were
manually dug, as there were no machines available, with several
widths and depths (Figure 2o, page 65). One of the aims of the
project was to provide jobs for the residents of the district, which
was among the poorest districts on the island. Additionally, inmates
were paid to help, and they exhibited a strong will to work. These
inmates resided at a camp in the Park that was built specifically for
them, and they considered their stay there to be a reward5.
Extensive areas of the Park’s native vegetation were
recovered in the flooded areas. This vegetation represents the
most vegetation that survived the devastation of the coastal
areas in the states of Santa Catarina and Rio Grande do Sul.
This vegetation was classified by the renowned botanists Father
Raulino Reitz and Professor Klein; under their guidance, the
vegetation could undergo thinning to favor the species of
interest and to select preferred varieties. In an experiment in a
small area, the number of lateral sprouts of trees was reduced;
after the experiment, the trees grew more intensively.
The reforestation that was performed in the flooded areas
generated the most imposing populations in the Park, as the soil
there contained more organic matter and moisture and permitted
more plant growth. An interesting thing happened in these areas:
because of the shadow that was supplied by the pine trees, the
native trees grew especially well and a mixed forest developed
that was larger and more lush than the original one6.
Redirecting the drainage network toward Lagoa da
Conceição, which would increase the soil moisture, was an
interesting option, as the native vegetation and the slash pine
(Pinus elliottii Engelm.) tolerate flooding well, and the higher
level of moisture would reduce the risk of fires.
2.4 Use of species that are
compatible with the ecology
of the restinga
Some species of conifers and eucalyptus can grow in
soils that have been deprived of fertility, and some species
can withstand strong winds. Pine trees acquired these
4 The Australian pines are along the road across from Whale Observatory and near Stone Hill Beach on the
southern side of Santa Catarina Island. 5 The team of fieldworkers included 20 inmates and 20 day-workers
(Mr. Marinho Cassiano Nunes, personal communication). 6 This observation supplies further evidence against
the much quoted notion (albeit without scientific evidence) that pine trees “kill the native vegetation”. 7 As
an agronomy engineer at the forest service and the director of the Introduction of Species Section (Source:
41 Rio Vermelho Park
abilities over millions of years of adaptations from extremely
arid environments and several ice ages. The extremely dry
Australian climate was the source of eucalyptus; because of its
rusticity, eucalyptus is used worldwide for the production of
wood, firewood, and fibers.
The success in recovering vegetation at Rio Vermelho Park
was essentially due to the use of forest species that developed
well in the restinga. Thanks to the guidance provided by the
authoritative technician from the São Paulo Forest Service,
Dr. Helmuth Paulo Krug7, no setbacks occurred during the
performance of the work. The only minor problem was when
the seeds of an inappropriate species of Australian pine3 were
once sent to the Park .
P. elliottii Engelm grew well in the restinga and equally
well on the dunes and in the flooded areas. The tree regenerates
spontaneously, which confirms its perfect ecological adaption
to the coastal area of Santa Catarina. In the flooded areas, the
trees form a dense entanglement of roots on the surface of the
soil, whereas in the dunes, the roots seek water and nutrients
deep in the soil.
Nevertheless, in the coastal areas of Santa Catarina where
there are no heavy frosts, several tropical pine species, such as
Pinus caribaea Farjon et Styles vars. caribaea,hondurensis, and
bahamensis8; P. oocarpa Schiede; and P. insularis Endl. (which
requires clay soil), grow better than P. eiliottii.
Because of their resistance to fire, pine trees eventually
became a dominant species in southern North America where
Native Americans have long used fire as a tool for hunting and
to control the growth of subforests. The effects of fire are only
detectable in the carbonization of the bark (go to page 66).
2.5 Spared natural vegetation
In the areas where the natural vegetation was less
destroyed, neither pine nor eucalyptus trees were planted.
Instead, Park managers decided to preserve the original
vegetation, which exhibited an amazing recovery.
The Park became a true botanic garden of restinga flora,
and its preservation should be a matter of honor for the state.
Native vegetation is diverse in terms of species; therefore,
planting native vegetation ensures that there is year-round
food for the fauna. The leftovers would suffice to support the
eventual repopulation of all of the bird and animal species that
have ever inhabited the coastal area of Santa Catarina.
Because they demand specialized knowledge, botanists,
ornithologists, and other specialists should perform follow-ups
on the preservation of native flora and fauna. Some images of
this chapter represents an aerial view of the remnants of native
vegetation that are now protected.
Diário Oficial de SP, January 18, 1963), he was involved in introducing Pinus elliottii and Pinus taedato Brazil
in the 1950s (Arno Brune, “Notes on forest improvement”, available at: http://www.ebah.com.br/apostila-de-
melhoramento-florestal-zip-a9137.html. Accessed: September 30, 2011). 8 Possibly C. equisetifolia subsp.
Incana (see “Collections of genetic material and experiments at Rio Vermelho Forest Park” in the appendix).
9 Sometimes these three varieties are mentioned as different species, such as in the author’s original text.
 capítulo 2 Chapter 2

2.5 A vegetação natural poupada
Nas áreas em que a destruição da vegetação natural foi
menor, não foram plantados pinheiros nem eucaliptos; optou-se
pela preservação da vegetação original, a qual se recuperou de
maneira surpreendente.
O parque tornou-se um verdadeiro jardim botânico da flora
da restinga, e sua preservação deveria ser uma questão de honra
para o Estado. A vegetação nativa, por ser diversificada em termos
de espécie, assegura a alimentação da fauna existente por todo o
ano. Os remanescentes deixados seriam suficientes para atender
eventuais programas de repovoamento de todas as espécies de
pássaros e animais que existiram no litoral de Santa Catarina.
Por exigir conhecimento especializado, o acompanhamento
da preservação da flora e da fauna nativa deveria ser orientado
por botânicos, ornitólogos e outros especialistas no assunto.
As imagens deste capítulo mostram uma visão aérea dos
remanescentes de vegetação nativa, agora protegidos.
O que são florestas?
Por Giorgini A. Venturieri
O aglomerado de algumas árvores forma um
bosque. Se o aglomerado envolver várias espécies
arbóreas, em um ecossistema complexo formado pela
associação com muitas outras plantas, animais e
micro-organismos, torna-se uma floresta. O conceito
de floresta envolve uma intrincada trama de fatores
bióticos (plantas, animais e micro-organismos) e
abióticos (solo, clima, água, rocha e topografia) e
considera também as interações formadas com o
homem e seus valores culturais, econômicos e lúdicos.
As florestas atualmente ocupam cerca de 30% da
superfície terrestre, mas essa proporção já foi bem maior.
Ocorrem de formas e tamanhos variados, como as taigas,
de regiões muito frias; as savanas, nos trópicos áridos;
até as exuberantes florestas úmidas, como as florestas
Amazônica e Atlântica. O tipo de floresta e o seu local de
ocorrência dependem de inúmeros fatores que incluem
clima, solo, suprimento de água, padrões de precipitação
de chuva, suprimento de sementes e influência humana.
Pode-se encontrar florestas de formação natural
ou artificial. As naturais são formadas por espécies
indígenas locais e não necessariamente plantadas.
As florestas artificiais são aquelas estabelecidas
pelo homem em áreas antes abertas e ocupadas por
revestimentos de menor porte, como as savanas, ou
por substituição de florestas naturais por estandes
compostos de espécies selecionadas para a produção
de algum produto florestal ou de serviços ambientais.
Os principais produtos florestais são: madeira, óleo,
celulose, resina e a caça. Os serviços ambientais são
bem mais numerosos e são: a retenção de resíduos
tóxicos em locais de despejo industrial, proteção de
mananciais e de reservatórios artificiais de água,
proteção contra o assoreamento, favorecimento à
piscicultura pelo suprimento de matéria orgânica
que serve de alimento para larvas de uma miríade de
animais aquáticos, controle de erosão pela diminuição
do impacto dos pingos da chuva sobre o solo e pelas
raízes que o seguram, pela camada de folhas que caem
e forma proteção ao sol e à enxurradas que levam
os nutrientes do solo ou os percolam, pela formação
de zonas de amortecimento de indústrias ou locais
passíveis de desastres ambientais, fornecimento de
matéria orgânica para a acumulação de água e para a
formação de húmus que dinamizam a disponibilidade
de nutrientes no solo, produção de oxigênio e fixação
do CO2 liberado pelos processos de combustão,
transpiração foliar que influi na umidade do ar e nas
precipitações de chuvas e etc.).
Florestas naturais são hábitats de muitas espécies
de animais e plantas, e a sua biomassa por unidade de
área é superior, se comparada com outros biomas. São
vitais para a vida do ser humano pela contribuição que
dão ao equilíbrio do clima e à ciclagem de nutrientes.
As florestas como um todo são fontes de riquezas para
o homem porque, além dos seus produtos e serviços
ambientais, criam postos de trabalho e melhoram a
qualidade de vida das pessoas (Figura 2p, pág. 64).
2.6 Trabalhos de pesquisa e
experimentação realizados
Graças ao espírito de colaboração existente entre os
serviços florestais de todo o mundo, foi possível realizar no
parque um número razoável de trabalhos de experimentação
e pesquisa. Os simpósios e congressos convocados pela FAO
ofereceram oportunidades de contatos, e os relatórios das
pesquisas realizadas, apresentados nessas reuniões, foram
altamente instrutivos.
Por conta da colaboração de países com tradição florestal,
foi possível experimentar no parque mais de 20 espécies de
coníferas (Figura 2q, pág. 65); instalar ensaios de procedência;
fazer plantios com sementes geneticamente melhoradas e
coleções de espécies raras (ver tópico abaixo “O material
genético do parque”). Entretanto, o solo da restinga, desprovido
de fertilidade, limitou parte dessas pesquisas, porque muitas
espécies não cresceram no solo pobre da região.
What are forests?
By Giorgini A. Venturieri
The agglomeration of some trees constitutes
a wooded area. When the agglomeration comprises
several species of trees within a complex
ecosystem that includes other plants, animals, and
microorganisms, it becomes a forest. The notion of
forest includes intricate biotic (plants, animals, and
microorganisms) and abiotic (soil, climate, rock, and
topography) factors, their interactions with humans,
and their cultural, economic, and ludic values.
Forests currently cover approximately 30% of
the world’s land surface, but this proportion was much
greater in the past. Forests exhibit several formats and
sizes, from the taigas of cold regions to the savannas
of arid tropical regions; they include the lush humid
forests, such as the Amazon and the Atlantic rainforests.
The type and location of forests depend on countless
factors, including the climate, soil, water supply, rainfall
pattern, seed supply, and human influence.
Forests may be formed naturally or artificially.
Natural forests containlocal indigenous species and
are not necessarily planted. Artificial forests are made
by humans in areas that were formerly open and
occupied by a smaller coverage of flora, such as the
savannas, or in areas that result from the replacement
of natural forests by composite stands of species that
were selected to yield forest products or environmental
services. The main forest products are wood, oil,
cellulose, resin, and products from hunting. The
environmental services are more diverse. A sample of
environmental services includesthe retention of toxic
waste in areas of industrial discharge; the protection
of springs and artificial water reservoirs; protection
against sedimentation; organic matter (i.e., from
fish farming) that serves as food for aquatic animal
larvae; erosion control by reducing the shock that is
caused by rain on the soil, which is held together by
the roots of plants; erosion control by fallen leaves
that protect against the sun and the torrents that wash
out or percolate the soil nutrients; the development of
shock absorbing zones at industry sites or sites that are
susceptible to environmental catastrophes; the supply
of organic matter for water accumulation and humus
formation that makes the availability of soil nutrients
dynamic; the production of oxygen and the fixation of
CO2 that is released by combustion processes; and leaf
perspiration, which influences the humidity of the air
and the rain.
Natural forests provide habitat for many
animal and plant species; their biomass per unit
of area is much larger compared to other biomes.
Natural forests play a vital role in human life with
their important contributions to climatic balance and
the nutrient cycle. As a whole, forests are a source of
wealth for humans. In addition to their products and
environmental services, forests create jobs and improve
people’s quality of life (Figure 2p, page 64).
2.6 Research and
experimental studies
Thanks to the spirit of collaboration that is shared by
forest services worldwide, a significant number of research and
experimental studies could be performed at the Park. Symposia
and congresses were organized by the FAO and provided
opportunities to establish contacts, and the reports on studies
that were presented at annual meetings were highly instructive.
As a function of the collaboration with countries that
have a forestry tradition, more than 20 species of conifers were
tested in the Park (Figure 2q, page 65), provenance assays
were established, genetically improved seeds were planted, and
rare species were collected (see item below “The Park genetic
material”). However, because of the infertility of restinga soil,
these research projects were limited; many species were unable
to grow on the poor soil.
The Park
genetic material
By Giorgini A. Venturieri
The selection and development of new cultivars
usually begins by making a large collection of genetic
variants, which is known as a “germplasm bank”.
Proper selection is not performed at this stage. Rather,
the main goal is to preserve the genetic variability of a
given species that may later be used. Such variants are
technically known as “introductions” and are described
and made available for selection and combination
programs that have various purposes, such as to develop
resistance against a disease, increase the speed of
growth, or improve the quality of wood.
The next step consists in performing “competition
assays”, which occurs after the set of introductions that
were chosen at germplasm banks are planted based on

42 O Parque do Rio Vermelho 43 Rio Vermelho Park

 capítulo 2 Chapter 2

O material genético do parque
Por Giorgini A. Venturieri
O trabalho de seleção e desenvolvimento de
novos cultivares geralmente se inicia pela formação de
uma grande coleção de variantes genéticas, chamadas
“Bancos de Germoplasma”. Nessa fase, não há
seleção porque a intenção é preservar a variabilidade
genética de uma determinada espécie que possa vir a
ser utilizada nesses bancos. Tais variantes, chamadas
tecnicamente de “introduções”, são descritas e
disponibilizadas para os programas de seleção e
combinação que visam alcançar algum objetivo, como,
por exemplo, a resistência a uma dada moléstia, a
velocidade de crescimento, a qualidade da madeira etc.
O próximo passo é a implantação dos “ensaios
de competição”, que são áreas de plantio, nas quais
um conjunto de introduções, escolhido nos bancos
de germoplasma, é comparado entre si, obedecendo
critérios estatísticos que possibilitam a escolha do(s)
melhor(es) genótipo(s), da forma mais isenta possível,
da influência do ambiente existente na área onde o
experimento foi implantado.
Para garantir maior confiabilidade às médias
obtidas na introdução de cada introdução, são plantados
vários indivíduos que podem ser agrupados em
“parcelas”. Quando a área experimental é muito extensa
ou pouco uniforme, grupos contendo réplicas de todas as
parcelas são constituídos e formam os chamados “blocos”,
que também são distribuídos aleatoriamente na área
experimental. Isso é feito para permitir a análise estatística
baseada na “variância” calculada entre as parcelas e entre
os blocos. Como a variância entre blocos é puramente
ambiental, já que cada um é composto de repetições de
parcelas de todas as introduções, pode-se, por diferença,
extrair a variação que é dependente do ambiente, restando
aquela que é realmente a parte genética, que deverá voltar
a ser expressa quando o agricultor for plantar as sementes
da(s) introdução(ões) eleita(s) como a(s) melhor(es).
A formação e a manutenção de bancos
de germoplasma são dispendiosas e, por isso,
apenas feitas para culturas economicamente muito
importantes. Na época de Henrique Berenhauser como
diretor do parque, não existia bancos de germoplasma
de pinheiros no Brasil e, assim, ele “queimou”
essa etapa, formando dois experimentos básicos:
a) com 16 espécies diferentes de pinheiros vindos de
diversas pares do mundo; b) com 36 introduções de P.
elliottii, escolhidas de regiões de clima similar ao das
restingas do parque e filhas dos melhores clones que
havia nos programas de melhoramento genético das
universidades e companhias madeireiras dos Estados
Unidos (ver anexo “Coleções de material genético e
experimentos no Parque Florestal do Rio Vermelho”,
na pág. 96). Ele trouxe o que havia de melhor em
P. elliotti para: “forma do tronco”, “velocidade de
crescimento” e “densidade da madeira”.
Hoje em dia, o trânsito de material genético não
é mais feito com a mesma facilidade que antigamente.
Há severas restrições para a coleta e embarque das
sementes e envolvem negociações diplomáticas que
exigem contrapartidas vultosas e, quase sempre, o melhor
material não chega a ser cedido. Material genético de
elite é considerado estratégico para quase todos os
países que o detém. Henrique Berenhauser conseguiu
tal façanha porque vivia em uma época em que as
pessoas achavam que material genético era “um bem
da humanidade”. Assim, obteve o material que desejava
de um país que, àquela época, pregava isso. Para os
contatos, serviu-se de amizades feitas por meio do Rotary
Clube Internacional e das muitas viagens que fazia aos
Estados Unidos, especialmente para a Flórida, onde teve
o palpite de que ali estava o material genético de maior
potencial para as condições do clima catarinense.
Hoje, seria extremamente difícil reunir tanto
material e de tão extremada qualidade. Não se tem
notícia de que os dois experimentos já implantados,
em meados de 1969, tenham sido avaliados, nem se
réplicas do material genético foram enviadas para
os bancos de germoplasma de espécies florestais
existentes no Brasil atualmente. Isso ainda poderá
ser feito, já que são experimentos bem montados com
resultados potencialmente promissores para o Estado
de Santa Catarina, que detém o maior parque moveleiro
exportador do país, quase todo baseado na matéria-
prima do P. elliotti, e também para o Brasil, onde o
plantio de P. elliotti sustenta diversas indústrias.
Infelizmente, a perda de tal patrimônio está
ameaçada pela decisão da atual administração do
parque, a Fundação do Meio Ambiente de Santa
Catarina (FATMA), de cortar todos os pinheiros para
vendê-los como “tábuas de boa qualidade” (ver tópico
“Argumentos usados contra a existência dos pinheiros
no Parque do Rio Vermelho”, na pág. 48).
Em razão da amizade com um funcionário do serviço florestal
statistical criteria about the best genotypes for the site of
the experiment. This step is completed as independently
as possible from considerations about the influence of
the local environment.
To make the average measurements of each
introduction more reliable, several individuals are
grouped in “parcels”. When the experimental area is
too large or is not uniform, replicates of all parcels are
grouped into “blocks” that are randomly distributed
across the experimental area. This procedure enables
the statistical analysis of the calculated “variance”
among the parcels and blocks. Because variance
among the blocks stems exclusively from environmental
causes (each block includes repetitions of parcels
for all of introductions), the level of environmentally
dependent variation can be estimated by subtracting
the genetic component, which is expressed when
cultivators plant the seeds of the chosen introductions.
The creation and maintenance of germplasm
banks is expensive. For this reason, they are only
created for species that have significant economic
importance. At the time when Henrique Berenhauser
was the Park director, there were no germplasm banks
of pine trees in Brazil. Therefore, he was required to
skip this step, but he performed two basic studies: a)
He introduced 16 species of pine from different parts
of the world; b) He imported 36 introductions species
of P. elliottii that were selected from areas where the
climate was similar to the climate in the Park restinga.
These introductions were descended from the best
clones that were available from breeding programs at
universities and lumber companies in the United States
(see appendix “Collections of genetic material and
experiments at Rio Vermelho Forest Park”, page 97).
With regard to “trunk shape”, “growth speed”, and
“wood density”, Berenhauser brought the best sources
of P. elliottii to Brazil.
Currently, the transport of genetic material is
not easy as it was in the past. Several restrictions are
imposed on the harvesting and shipment of seeds, which
include diplomatic negotiations that involve substantial
financial contributions. The best materials tend not to be
lent. For countries that possess elite genetic material, it
is considered strategic to avoid sharing.
Henrique Berenhauser could accomplish such a
feat because people in his time believed that the genetic
material was the “property of humankind”. Thus, he was
able to obtain the materials he wanted from countries
that then believed in this idea. To establish contacts,
he pursued acquaintances from the Rotary Club
International, and he made many trips to the United
States. He often visited Florida because he had a hunch
that the genetic material with the greatest potential to
adapt to the Santa Catarina climate was there.
Today, it would be extremely difficult to collect as
much high-quality material. There are no records that
establish whether both abovementioned studies, which
were conducted in 1969, were ever assessed, and there
is no record of whether replicates of the genetic material
were sent to germplasm banks of forest species that
currently exist in Brazil. This omission may be amended
in the future, as both experiments were well designed and
conducted, and the results would have significance for
Santa Catarina’s furniture export business (the largest
of any Brazilian state), which depends almost entirely on
raw material from P. elliottii, and for Brazil as a whole,
where plantations of P. elliottii support several industries.
Unfortunately, this resource is threatened
by the decision of the current Park management,
the Environmental Foundation of Santa Catarina
(FATMA), to harvest all of the pine trees as
“high-quality board” (see item “Objections
against the presence of pine trees in Rio Vermelho
Park”, page 47).
Due to a personal friendship with an employee at the
forest service in Florida, which requested the collaboration of a
cellulose company that was cutting trees in Bahamas, the Park
obtained enough seeds to establish a population of 15,000 trees
of P. elliottii var. bahamensis. After a request by the Rotary Club
of Florianópolis, the Rotary Club in the Philippines helped the
Park obtain seeds of P. insularis Endl. The forest service of Spain
supplied the Park with seeds of P. canariensis C. Smith and P.
radiata D. Don. (Synonym: P. insignis Dougl.), and the forest
service of Portugal supplied the Park with seeds of maritime pine
(Pinus pinaster Ait.; Synonym: Pinus maritima Mill.) from two
locations. Genetically improved seeds of P. elliottii Engelm. came
from a cellulose company that was advised by the Florida forest
service and the state university; these trees produced offspring
with better than average productivity and served the plantations in
the coastal areas of Santa Catarina. The forest service of Taiwan
sent the Park a collection of conifer seeds that were native to the
Pacific (Figure 2r, page 65).
The forest service of Queensland supplied us seeds that
were harvested from selected trees of P. caribea var. hondurensis
Farjon et Styles so that none of the Park’s 4,000 trees of the
species exhibited the shape flaw known as “fox’s tail”, which is
observed throughout Brazil. The forest service of Florida helped
again by sending seeds from the southernmost P. taeda L. that

44 O Parque do Rio Vermelho 45 Rio Vermelho Park

 capítulo 2 Chapter 2

da Flórida, que solicitou a colaboração de uma empresa de celulose tio “A”, segundo estudo encomendado pela FATMA, atual were harvested at a state park near Tampa with a similar latitude jobs, and the increasing demand for high-density wood
que estava cortando madeira em uma das ilhas das Bahamas, gestora do parque. Todo esse material está em vias de ser as Florianópolis. The United States Forest Tree Seed Laboratory that can replace the wood from Amazonia and improve
obtivemos sementes para implantar um maciço com 15 mil árvores destruído, e sua licitação para tal já foi desencadeada. O supplied collections of P. elliottii Engelm. provenances and P. the quality of the furniture in Santa Catarina, the
de P. elliottis var. bahamensis. Conseguimos sementes de P. insularis material introduzido, segundo as anotações deixadas por luchuensis Mayr seeds that were harvested by the United States losses reach the order of billions of dollars.
Endl. por intermédio do Rotary Clube das Filipinas, que atendeu a Henrique Berenhauser, hoje depositadas na Biblioteca da Army when it was stationed on the island of Okinawa9. Henrique Berenhauser introduced material at
um pedido do Rotary Clube de Florianópolis. Recebemos do serviço UFSC, é pré-selecionado para densidade alta, velocidade a time when countries exhibited a much more liberal
florestal da Espanha sementes do P. canariensis C. Smith e do P. de crescimento e qualidade do tronco. attitude than today. At the time, the United States
radiata D.Don. (sin. P. insignis Dougl.) – (Figura 2r, pág. 65). Se levarmos em consideração a expressividade da
Losses from the sale of proclaimed that genetic material was the “property
O serviço florestal de Portugal nos cedeu sementes de
duas procedências do pinheiro-marítimo (Pinus pinaster Ait.
indústria moveleira catarinense, perder uma coleção de
material genético de elite como essa é um golpe tremendo elite genetic material of humankind and thus, it must be shared”. Today, the
transportation of elite genetic material is performed
Sinônimo: Pinus maritima Mill.). Sementes de P. elliottii Engelm.
geneticamente melhoradas vieram de uma indústria de celulose
no poder de competitividade e qualidade dos móveis
aqui produzidos, além de ser um grande descaso com o
for type “A” board only under agreements between governments, and it
requires significant financial compensation for the
assistida pelo serviço florestal da Flórida e pela universidade dinheiro público já investido. A indústria catarinense, em By Giorgini A. Venturieri exporting country. It is difficult to imagine the amount
daquele estado, cujas árvores produziram descendências mais 2010, exportou US$ 272 milhões em móveis, sendo 31% of effort and resources that were needed to establish
produtivas que a média, para servir aos plantios no litoral do estado. do total exportado pelo Brasil. A indústria de móveis de Rio Vermelho Park hosts 12 forest experiments. and maintain, for 41 years, almost five hectares of
O serviço florestal de Formosa enviou-nos uma coleção de Santa Catarina emprega 26 mil trabalhadores em seus Eight of the experiments test 36 progenies of slash pine experiments with pre-selected materials. The feat
sementes de coníferas nativas dessa ilha do Pacífico (Figura 2r, pág. 2 mil estabelecimentos (FIESC, 2012), ou seja, temos o (Pinus elliottii), two experiments involve 16 progenies of was only possible because of a visionary who
65). O serviço florestal de Queensland forneceu sementes, colhidas maior parque exportador moveleiro do país, quase todo Pinus taeda, and one experiment involves three progenies predicted the national and international needs for
de árvores selecionadas, do P. caribea var.hondurensis Farjon et baseado sobre a matéria-prima dos pinheiros e expressiva of P. palustris (see item “The Park’s genetic material”, high-density pine trees.
Styles, de maneira que as quatro mil árvores dessa espécie existentes fonte de emprego. Se considerarmos a extensão das page 43). All of the experiments were pre-selected among I attest that the experiments and the genetic
no parque não apresentam o defeito de forma denominado “rabo de florestas plantadas com pinheiros (1.868.000 hectares, dos the best available experiments at the forest service and material in the Park have much more value than
raposa”, constatado nos povoamentos no restante do país. quais 551.219 (29,5% do país) no estado de SC (Serviço university in Florida and at the forest service in Texas, the money that FATMA hopes to collect by selling
O serviço florestal da Flórida, em mais uma colaboração, Florestal Brasileiro, 2010), a geração de empregos e a which are the sites of origin for the species. boards. If the sales occur, they will result in a huge
enviou-nos sementes da procedência mais sulina do P. taeda L., crescente demanda de madeiras de alta densidade, que Ironically, a study by FATMA, the current loss for science and for the wood business in Santa
colhidas em um parque estadual próximo à cidade de Tampa, que possam substituir as madeiras vindas da Amazônia e manager of the Park, rated pine trees as the only trees Catarina. Indeed, the sales represent an instance of the
tem a latitude aproximada de Florianópolis. O U.S. Forest Tree melhorar a qualidade dos móveis produzidos em SC, that can “possibly supply type ‘A’ board”. Thus, all malversation of public resources!
Seed Laboratory forneceu coleções de procedências do P. elliottii haverá potencial prejuízo na casa dos bilhões. of the material is on its way to destruction, and the
Engelm. e sementes do P. luchuensis Mayr, cuja coleta solicitou ao O material introduzido por Henrique Berenhauser corresponding public bid has already been launched.
exército norte-americano, então estacionado na ilha de Okinawa9. foi feito em uma época em que os países tinham uma
atitude muito mais liberal que a atual. Quando os Estados
According to Henrique Berenhauser’s notes at the
library of UFSC, the introduced material was Objections to the
Unidos pregavam que o material genético “era um bem pre-selected for high-density and fast-growing trees presence of pine trees
Prejuízos com a venda da humanidade e, por isso, deveria ser partilhado”.
Hoje, a cessão de material genético de elite só é feita
with high trunk quality.
When the significance of the furniture business By Giorgini A. Venturieri
de material genético de por meio de acordos entre governos com expressivas in Santa Catarina is considered, the loss of the
elite como tábua do tipo “A” contrapartidas comercias. É de se imaginar o esforço e collection of elite genetic material is a devastating A series of objections has been raised against
os recursos despendidos para implantar e manter quase blow to the competitiveness and quality of the the presence of slash pine and the other exotic species
Por Giorgini A. Venturieri cinco hectares com experimentos, por 41 anos, todo furniture, and it represents a major negligence that were used to revegetate Rio Vermelho Park. In
com material já pré-selecionado por um visionário que of the already invested public funds. In 2010, the this section, the objections are described with the
No Parque do Rio Vermelho, existem anteviu a necessidade de pinheiros com maior densidade Santa Catarina industry exported US$ 272 million corresponding rebuttals. The following text was extracted
12 experimentos florestais, sendo oito deles envolvendo para o mercado nacional e internacional. in furniture, which corresponded to 31% of the total from a presentation at the prosecutor’s office of the state
o teste de 36 progênies de pinheiro-americano (Pinus Asseguro que os experimentos ali implantados e o national export. The furniture business of this state of Santa Catarina, protocol number 01.2011.004957-4, on
elliotti), dois envolvendo 16 progênies de Pinus taeda, material genético existente no local têm um valor muito employs 26,000 workers in 2,000 establishments May 19, 2011. The presentation was made on behalf of a
um envolvendo três progênies de P. palustris (ver tópico mais significativo do que a FATMA pretende angariar (FIESC, 2012). In other words, the Park represents the management program that would consider the biological
“O material genético do parque”, na pág. 44); todos com a venda das suas tábuas. Se isso ocorrer, estará lion’s share of the Brazilian furniture export business, dynamics of the pine plantation, the genetic material, and
pré-selecionados entre os melhores existentes nos provocando um grande prejuízo para a ciência e o setor which is almost entirely dependent on the raw material the data that could be extracted from the 12 established
experimentos da universidade e do serviço florestal da madeireiro do nosso Estado. É um caso de malversação that is supplied by pine trees and is an important experiments in Rio Vermelho Park.
Flórida, e do serviço florestal do Texas, instituições dos dos recursos públicos! source of jobs. When we consider the extension of pine
locais de origem dessas espécies. forests (1,868,000 hectares, from which 551,219 in the I – Ecological arguments, which are not grounded on
Ironicamente, essas árvores foram as únicas state of Santa Catarina represent 29.5% of the national scientific evidence and eschew common sense, for the
classificadas como “possíveis de serem obtidas tábuas do total; Brazilian Forest Service, 2010), the creation of removal of the pines

9 O trânsito de material genético àquela época era muito facilitado quando comparado aos nossos dias, em que os coleção de material genético de inestimável valor para o desenvolvimento da silvicultura no Brasil. Há, no entanto, a 9 The transit of genetic material at that time was much easier compared to today. Presently, countries that library; they represent a priceless collection of genetic material for the development of silviculture in Brazil.
países detentores de material de elite fazem sérias restrições para sua cessão. Os registros do material introduzido e lamentável determinação da atual administração do parque, a Fundação de Meio Ambiente (FATMA), de extinguir possess elite genetic material impose severe restrictions on its distribution. The records of the introduced Unfortunately, the regrettable decision of the current Park administration to extinguish all pine trees in the area
os mapas foram localizados (Acervo Henrique Berenhauser na Biblioteca Universitária da UFSC) e configuram uma todos os pinheiros da área cujo processo de licitação para a execução de tal destruição chegou a ser desencadeado. (N.E) material and the corresponding maps can be located at the Henrique Berenhauser Collection at the UFSC has already been enacted, and the corresponding public tender has been launched.

46 O Parque do Rio Vermelho 47 Rio Vermelho Park

 capítulo 2
Argumentos usados contra
a existência dos pinheiros
no Parque do Rio Vermelho
Por Giorgini A. Venturieri
Existe um leque de argumentações contrárias à
existência dos pinheiros-americanos e demais espécies
exóticas usadas para a revegetação do Parque do Rio
Vermelho. A seguir, são apresentadas com respectivas
contraposições. O texto extraído da representação
feita junto ao Ministério Público do Estado de Santa
Catarina, protocolada sob o número 01.2011.004957-4,
em 19/05/2011, em favor de um plano de manejo que
contemple a dinâmica biológica conseguida com o plantio
dos pinheiros e o material genético e as informações
possíveis de serem resgatados dos 12 experimentos já
implantados no Parque do Rio Vermelho.
I – Argumentações ecológicas assentadas sobre
premissas, sem base científica, e que fogem
ao bom-senso
Que os pinheiros-americanos no parque são invasores que
estão tomando os baixios e se sobrepondo às plantas nativas
Os pinheiros hoje existentes como árvores no
parque foram plantados, como está bem documentado
no Acervo Henrique Berenhauser (Biblioteca da UFSC,
Documentos da História de Santa Catarina). O plantio dos
pinheiros e a introdução de todas as plantas exóticas (que
não foram poucas e que formam populações significantes
no parque) são parte de uma obra humana construída
sobre uma área antes altamente devastada e feita para
conter as dunas, com a mesma funcionalidade conseguida
com obras de construção civil, como os muros de arrimo,
barreiras, terraplanagens, molhes e congêneres. No caso
do parque, tal obra foi feita com plantas, embora também
seja fruto do talento humano (Figuras nas pág. 60 a 63).
Que os pinheiros americanos estão matando a
mata nativa
Nos manuscritos de Henrique Berenhauser, são
mostradas fotos e é discutido que os remanescentes
florísticos autóctones (nativos) adentram a floresta de
pinheiros, quando estes estão espaçados entre si com
cinco metros (Figura 2e, pág. 61). As fotos mostradas
pelas pessoas e instituições contrárias à existência
48 O Parque do Rio Vermelho
dos pinheiros são em plantio adensado, uma estratégia
corriqueira aplicada aos plantios comerciais (como
milho, arroz, eucaliptos e muitas outras) para que
haja economia no controle de espécies que colonizam
os plantios e, então, diminuição da competição com
aquela espécie geradora do produto colhível.
É adequado salientar que existe quase uma
dezena de trabalhos e teses ditas “científicas” que
apresentam o pinheiro-americano como uma “espécie
invasora e destruidora da vegetação nativa”. Porém,
nos estudos que têm dados experimentais, é mostrado
que nos remanescentes da floresta autóctone (nativa),
na sua fase mais desenvolvida, as sementes dos
pinheiros não adentram. Os pinheiros adentram
somente as áreas ainda em regeneração, ou seja,
onde há espaço aberto, onde existe perturbação
no ecossistema (Figura 2s, pág. 66-67).
Há ainda nesses trabalhos “ditos científicos”
a demonstração óbvia de que as sementes do próprio
pinheiro e de outras espécies, depositadas nos plantios
adensados, também não germinam e atribuem isso à
“alelopatia” e não à necessidade de que as sementes de
pinheiro e de muitas outras plantas colonizadoras têm de
receber luz intensa para germinarem. Logo, os pinheiros
não se expandem adentro das florestas desenvolvidas e
não se caracterizam como ameaça às florestas nativas,
porque a luz que chega ao solo não é suficiente para que
as sementes dos pinheiros e de qualquer outra planta
colonizadora germinem.
A eventual presença de pinheiros dentro de uma
floresta nativa clímax, ou mesmo em fase avançada
de regeneração, acontece porque houve a abertura de
clareiras por causa da queda de árvores velhas, raios
etc. Algum pode vir a se estabelecer naquele local, mas,
ao contrário do propalado, não “toma toda a floresta”
porque é uma planta cujas sementes não germinam em
solo sombreado.
O pinheiro-americano está tomando os morros e
evitando a regeneração da mata nativa
É reconhecido que o estágio inicial da evolução
da formação de qualquer floresta, desde que as
condições de solo e de clima permitam, se inicia com
a tomada do ambiente por espécies colonizadoras
(antigamente chamadas de “invasoras”), entre as quais
o pinheiro-americano. Porém, as pessoas contrárias aos
pinheiros não mencionam que as sementes das espécies
colonizadoras precisam da luz solar direta para germinar,
e que nos estágios subsequentes mais maduros (a floresta
Chapter 2
The slash pines in the Park are invaders that occupy
the shallows, and they overlap the native plants
The pine trees that are currently present in
the Park were planted. Their management is well
documented in the Henrique Berenhauser Collection
at the library of UFSC in the documents on the history
of Santa Catarina. The planting of pine trees and the
introduction of the many important exotic plants were
the result of human work that was developed on a
formerly devastated area. The work sought to contain
the dunes, which is the same role that is played by
civil construction work in retaining walls, barriers,
embankments, and breakwaters. In the case of the Park,
the work was performed using plants, but it was also the
product of human skill (figures, pages 60 to 63).
Slash pines are killing the native forest
Henrique Berenhauser’s manuscripts include
photographs that show that the autochthonous (native)
floristic remnants penetrate the pine forest when there
is five-meter spacing between the trees (Figure 2e,
page 61). The photographs that are presented by people
and institutions that are opposed to the presence of pine
trees represent dense plantations, which is a common
strategy in commercial plantations, such as corn, rice, and
eucalyptus, to economically control the colonizing species
by reducing the competition against the selected crop.
It is worth noting that approximately a
dozen published articles and “scientific” doctoral
dissertations describe slash pine as “a species that
is invasive and destructive to the native vegetation”.
However, the studies that include experimental
data show that the pine seeds do not penetrate the
remnants of the autochthonous (native) forest that are
in the highest stage of development. Pine trees only
penetrate areas that are undergoing regeneration,
which is where open spaces remain and perturbations
are present in the ecosystem (Figure 2s, pages 66-67).
These “scientific” studies further show that the
seeds of pines and other species that are deposited on
dense plantations do not germinate, and the studies
attribute this fact to “allelopathy” rather than to the
pine seeds’ need for strong light and the colonizing
species’ need for germination. In fact, pine trees do not
penetrate already established forests, and they do not
pose a threat to the native vegetation. Rather, the light
that reaches the soil is insufficient for the seeds of pines
or for any other colonizing plants to germinate.
49 Rio Vermelho Park
The occasional presence of pines in climax
native forests or forests in an advanced stage of
regeneration can be accounted for by the appearance
of clearings that are caused by the falling of old trees
(i.e., from lightning). Some pine trees may settle in
these clearings, but in contrast to the common warning,
they do not “take over the entire forest”, as their seeds
do not germinate on shaded soil.
Slash pine is taking over the hills and hampering the
regeneration of the native forest
Provided that the soil and climate conditions
are favorable, the initial stage in the formation of any
forest begins with a colonizing species (formerly named
“invaders”), such as slash pine. However, people who
are against the presence of pine trees make no mention
of the fact that the seeds of colonizing species need
direct sunlight to germinate; therefore, during the
following stages (secondary and then primary, or climax
forest) their reproduction is hampered.
People who are against the presence of pine trees
also fail to mention that the species that are present
in the final stage, namely the primary forest, require
specific conditions of shade, biomass, and biota. These
conditions are supplied by the plants that participated
in the earlier stages, including the “invaders”. People
further proclaim that the “exotic invasive species are
the second most frequent cause of biodiversity loss” in
several “scientific” studies that report on the assessment
of the damage that is caused to autochthonous
biodiversity or agriculture, but they do not mention that
the investigated areas were ecosystems that had been in
a homeostatic balance in the past (sensu Odum, 1971);
the introduction of any new species into such ecosystems
is only possible after the balance is severely disrupted.
In other words, such individuals blame the
“exotic invasive species” for colonizing areas that
were made available for colonization by an unbalance
that was caused by man. The idea that slash pine is
taking over the environment at the expense of the native
forest is simply untrue. Rather, if one wishes to promote
a faster regeneration of the climax forest, colonization
should be encouraged in areas that are free from
agricultural activities, and plants that are fit to promote
the fastest colonization of the available space should be
used to regenerate the soil and the ecosystem, which will
promote the growth of climax ecosystem species. Slash
pine is one of the species that exhibit the greatest ability
to fulfill such goals.
 capítulo 2 Chapter 2

secundária e depois a floresta primária ou clímax)
deverão ter sua reprodução muito dificultada.
Não se menciona ainda que, para as espécies
componentes do último estágio, ou seja, a floresta
primária, se precisa das condições de sombra, biomassa
e biota para se estabelecerem, que são proporcionadas
pelas plantas que participaram dos estágios sucessionais
anteriores, as “invasoras”. Alardeia-se que as “espécies
exóticas invasoras são a segunda maior causa da perda
de biodiversidade”; vê-se isso sendo mencionado em
vários trabalhos “científicos” que relatam avaliações
de danos causados à diversidade autóctone, ou à
própria agricultura, mas nenhum menciona que as áreas
estudadas foram, algum dia, ecossistemas que estavam
em equilíbrio homeostático (senso Odum, 1971), no
qual a entrada de qualquer nova espécie ao ecossistema
apenas é possível após a severa quebra de tal equilíbrio.
Em outras palavras, estão colocando a culpa nas
“espécies exóticas invasoras” por estarem colonizando
áreas oportunizadas pelo desequilíbrio provocado
pelo homem. Logo, a ideia passada de que o pinheiro-
americano está tomando o ecossistema em detrimento
da mata nativa é uma inverdade. A verdade é que, se o
desejo for promover mais rapidamente a recomposição
da mata clímax, deveria ser feita a colonização logo nas
áreas desmobilizadas da atividade agrícola, com plantas
que mais rapidamente pudessem promover a colonização
do espaço para recomporem o solo e o ecossistema,
necessários para o crescimento das espécies do
ecossistema clímax. Entre as espécies com a mais elevada
capacidade de fazer isso está o pinheiro-americano.
As espécies invasoras do parque, e de todo o seu
entorno, devem ser eliminadas para que não
venha a ser recontaminado
Esta tem sido uma idéia apregoada pelos
defensores do parque sem ter noção do tamanho
do que seria tal empreitada. Henrique Berenhauser
relata a introdução exitosa de seis espécies que foram
extensivamente plantadas na zona de arrebentação por
cerca de 4 km, e oito espécies de pinheiros plantadas
na zona de dunas móveis e na restinga que somam
aproximadamente 430 hectares. Isso tudo foi plantado
com a ajuda de 40 homens, administrados rigidamente
para que alcançassem tal proeza.
No entorno do parque, existem jardins e quintais
com espécies, quase todas exóticas e “invasoras”,
cultivadas pelos moradores. Isso tem uma razão de ser
que remonta ao início da agricultura. Essas espécies
foram incorporadas à cultura alimentar e a simpatia
lúdica (ornamentais e ou místicas), porque eram
exatamente as colonizadoras, ou, como preferem chamar,
“invasoras”, capazes de preencher os locais perturbados
pela ocupação humana.
Todas as espécies agrícolas que usamos hoje são
“invasoras”. A quase totalidade das espécies associadas
ao ambiente urbano de Florianópolis são também
“exóticas” e “invasoras”. São usadas porque, por não
terem coevoluído com as pragas e doenças daqui, acabam
crescendo e produzindo melhor do que as plantas nativas.
Os agricultores sabem bem disso, daí quase todos os
produtos agrícolas de nosso Estado e do país, bem como
quase todas as plantas ornamentais de Florianópolis,
serem “exóticas” e “invasoras”. O acervo de espécies que
acompanha a espécie humana faz parte do seu “fenótipo
estendido” (Dawkins, 1982), e são elas que garantem a
ocupação em um determinado ambiente. Para se construir
um acervo de plantas úteis e nativas que possam sustentar
aqui a espécie humana, seria preciso modificar todo o
sistema agrícola que começou a ser construído pelo menos
3 mil anos atrás, quando foi inventada a agricultura.
Danificar o fenótipo estendido da espécie humana é
agredir o sistema que garante a sua sobrevivência. É
preciso ter mais sensibilidade sobre esse tema.
Imaginem um técnico do parque, batendo na
porta de um morador do bairro da Costa ou da Barra
da Lagoa, dizendo: “Senhor, por força de lei, viemos
erradicar as suas espécies exóticas, somente as invasoras,
por serem potencialmente contaminantes do parque, e
também conscientizá-lo de que deve plantar, em seu lugar,
uma espécie nativa” (como dito na audiência ocorrida
na Escola Maria da Conceição Nunes, no bairro do Rio
Vermelho). Sem dúvida será uma atitude violentadora que,
se levada adiante, despertará grande revolta na população.
A erradicação das espécies “exóticas invasoras”
em um ambiente totalmente antropogênico é um ato que
dificilmente será propagado sem sérios conflitos, já que
plantas usadas na agricultura, quando domesticadas, são
sempre ditas “invasoras”. O homem, ao ocupar o nicho,
inicia por perturbar o ambiente em seu favor, e as únicas
espécies capazes crescer em ambientes perturbados são
as colonizadoras ou “invasoras”. Não há necessidade
alguma de erradicar as espécies exóticas e “invasoras”
dos ambientes ocupados pelo homem e urbanos, pois
não trazem risco à segurança da qualidade de vida das
populações humanas nem à biodiversidade autóctone,
porque ali já quase não existe. Desse modo, não justifica
o dispêndio do dinheiro e de esforço públicos usados para
promover tal conduta.
Invasive species at the Park and its surroundings
must be eliminated to avoid recontamination
This idea was proclaimed by defenders of the
Park who are unaware of the magnitude of such a
feat. Henrique Berenhauser reported on the successful
introduction of six species that were planted extensively
along 4 km in the breaker zone, and he reported six
species of pine that were planted in the area of the
shifting dunes and restinga; the total plantations
comprised approximately 430 hectares that were
planted by approximately 40 men.
The Park is surrounded by gardens and
yards that are almost entirely composed of exotic
and “invasive” species that were cultivated by the
residents. The reason for this phenomenon goes back
to the beginnings of agriculture. These species were
incorporated into the local dietary habits and ludic
(ornamental or mystic) customs precisely because they
were colonizing or “invasive” species (the term some
people prefer) that could fill in the spaces that had
been altered by humans.
All of the species that are currently used in
agriculture are “invasive”. Almost all of the species
that are associated with the Florianópolis urban
environment are “exotic” and “invasive”. They are
used because they did not co-evolve with the local
plagues and diseases;consequently, they grow better
and are more productive than the native plants.
Cultivators are well aware of this fact, which is the
reason why nearly all of the agricultural products in
Santa Catarina and Brazil, and almost all ornamental
plants in Florianópolis, are “exotic” and “invasive”.
The collection of species that accompanies
the human species is an “extended phenotype”
(Dawkins, 1982) and ensures the occupation of a
given environment. The construction of a collection
of useful native plants that are able to support local
human residents would require the modification of
the full agricultural system, which began to develop
at least 3,000 years ago. Causing damage to the
extended phenotype of the human species represents
an aggression against the system that ensures human
survival. Greater sensitivity is needed to deal with
this subject.
Let us imagine that a Park technician is
knocking on the door of a resident in the Costa
neighborhood of Barra da Lagoa to say, “Sir, under
the power of the law, we are here to eradicate your
exotic invasive species because they are potential
contaminants for the Park, and we want to make you
aware that you must replace them by native species”
(this actually happened at a public hearing at Maria
da Conceição Nunes School in the Rio Vermelho
neighborhood). Doubtlessly, if such an initiative were
enacted, it would represent a violent act that would
lead to the revolt of the population.
The eradication of “exotic invasive” species in
a fully anthropogenic environment will cause a serious
conflict; when plants that are used in agriculture are
domesticated, they are systematically rated as being
“invasive”. When man occupies a niche, he begins
by causing perturbations to the environment that are
necessary for his own benefit, and the only species that
can grow in disturbed environments are the colonizing
or “invasive” plants. There is no need to eradicate
the exotic and “invasive” species from the human and
urban environments because they do not threaten the
safety or quality of life of human populations, and
they do not threaten the autochthonous biodiversity
because it no longer exists there. Thus, to devote
public money and effort to the promotion of such a
measure has no justification.
Pine trees are taking over the dunes of the restinga at
Joaquina Beach
The man used the wood farm the forests of
sandbanks everywhere and what sprang used as
pasture, as has been happenie at Joaquin Beach
sandbanks even today, then, contrary to popular
belief, the vegetation observed is stromgly modified
by man.
As previously mentioned, the pine trees that are
growing on the dunes are reproducing a successional
stage that will likely result in the regeneration of
a climax forest. The pine trees at Joaquina Beach
were not planted like the pine trees in the Park that
were meant to fixate the dunes that were invading the
neighborhoods of Rio Vermelho, Ingleses, and Lagoa
da Conceição. Conversely, the dunes at Joaquina
Beach represent an area of permanent protection. If
the local population were to remove the pine trees,
no environmental problems would ensue. However,
to teach the children that “the pine trees are killing
the native forests and must be eliminated” and to
organize events for “environmental education” where
people will “protect the native forest by eliminating
the invader” is a concentration of hate under the
costume of nativism.

50 O Parque do Rio Vermelho 51 Rio Vermelho Park

 capítulo 2
Os pinheiros estão tomando as dunas da
restinga da Praia da Joaquina
O homem usou as madeiras das florestas de
restinga por todo o mundo e o que brotava usou como
pasto, como vem acontecendo na Praia da Joaquina
ainda nos dias de hoje, então, ao contrário do que se
pensa, o revestimento ali existente está muito modificado
pelo homem.
Os pinheiros que ora crescem ali, como
já explanado anteriormente, estão refazendo um
estágio sucessional que culminaria na regeneração
de uma floresta clímax. Os pinheiros ali existentes
não foram plantados, como no parque, para fixar
as dunas que estavam invadindo os bairros do Rio
Vermelho, Ingleses e a Lagoa da Conceição. As
dunas da Joaquina compõem uma zona de proteção
permanente e, se a população se sente feliz em retirar
os pinheiros dali, não há mal nenhum. Porém, a
atitude de ensinar para as crianças que “os pinheiros
estão matando as florestas nativas e por isso devem
ser eliminados”, inclusive com a organização de atos
de “educação ambiental” em que grupos de pessoas
vão “proteger a floresta nativa com a extirpação
do invasor”, a meu ver, é a focalização de um ódio,
vestido de nativismo, retirado do inconsciente coletivo,
focalizado no momento para uma planta, mas que pode
vir a ser arregimentado para alguma causa política.
Na história, isso já foi feito muitas vezes por líderes
insanos para unir e direcionar pessoas para severos
conflitos. Isso tem de ser visto com grande atenção
pelo poder público e pelos governantes conscientes.
As águas vindas dos pinheiros são marrons, ácidas e
estão matando a fauna da Lagoa da Conceição
As “águas pretas” são assim chamadas devido
a um conjunto de ácidos orgânicos gerados durante a
decomposição da matéria orgânica, quando se encontram
sobre solos arenosos e ácidos, como os das restingas.
Assim são todas as águas das lagoas e rios das restingas
do mundo (por exemplo, a Lagoa do Abaeté, em Salvador,
BA, e o Rio Vermelho no Parque).
Não há qualquer trabalho científico que
comprove que tais águas sejam danosas à fauna típica
dali (capacidade de sobreviver em águas de baixa
produtividade biológica e moderada acidez). As águas
pretas voltaram a aparecer na Lagoa da Conceição porque
a floresta, antes existente no seu entorno, havia sido quase
52 O Parque do Rio Vermelho
toda suprimida e agora está recomposta. Não é à toa que o
rio que ali passa há muito tempo se chama Rio Vermelho.
Com o corte raso dos pinheiros, a mata irá
regenerar-se, como observado nas parcelas
experimentais onde praticado
As parcelas foram estabelecidas na restinga alta,
onde há chuva de sementes advinda da floresta umbrófila
densa das encostas, onde é fácil crescerem árvores, por ser
uma parte com solos mais orgânicos e mais desenvolvidos.A
regeneração ali observada não ocorrerá nas demais
partes do parque porque nelas não ocorre a chuva de
sementes, e também por serem móveis (veja tópico “Por
que nas restingas a vegetação não consegue cobrir toda a
área”, na pág. 36). O corte raso de todos os pinheiros terá
consequências previsíveis e catastróficas como:
1 ) A desestabilização das dunas, antes móveis e agora
fixas com o plantio dos pinheiros. As dunas voltariam
a se mover trazendo de volta os problemas de erosão e
aterramentos observados por Henrique Berenhauser e
documentados nas fotos aéreas de 1957 (Figuras, pág 26);
2 ) Suscetibilização dos remanescentes de vegetação
autóctone a erosão e desgaste provocados pelos
ventos laterais fortes;
3 ) Perda da oportunidade de manter uma área verde
para o público, porque outra estratégia de fixação
de dunas é a urbanização (como feito nos bairros de
Copacabana, Ipanema, Leblon e Barra da Tijuca, na
capital do Rio de Janeiro; na orla de Santos e de São
Vicente, no Estado de São Paulo; e na orla de Balneário
Camboriú, Jurerê Internacional, Canasvieiras e Ingleses,
em Santa Catarina);
4 ) Destruição de um sistema vegetal que pode servir
como atenuador dos efeitos climáticos extremos, como
os tornados, tufões e, eventualmente, furacões, que agora
aparecem com maior frequência na costa brasileira, em
especial, na costa catarinense;
5 ) Destruição de uma paisagem, agora integrada
à cidade de Florianópolis, que já conta com sua
sombra, ar e ambiente lúdico proporcionados pelos
pinheiros, ao longo da rodovia que corta o parque.
Vale ressaltar que muitas espécies exóticas já são
adotadas, e com muito bom grado, em diversas partes
do mundo pelas populações que com elas coabitam,
Chapter 2
This hate arises from the collective subconscious
that is presently concentrated on a specific plant, but the
hate may eventually be channeled toward some political
cause. A similar phenomenon has recurred many times
throughout history by insane leaders who wanted to
unite people and guide them into serious conflict. This
possibility calls for the attention of the civil authorities and
conscientious rulers.
The water coming from the pine trees is brown, acidic,
and is killing the fauna at Lagoa da Conceição
“Black water” refers to the presence of organic
acids that are formed during the decomposition of
organic matter in sandy and acidic soils, such as those
in the restinga and the ponds and rivers in restingas
worldwide (e.g., Abaeté Lake in Salvador, Bahia, and
Rio Vermelho in the Park).
No scientific study has reported that such water
is noxious for the typical local fauna. Fauna can survive
in water with low biological productivity and moderate
acidity. Black water reappeared at Lagoa da Conceição
because the former surrounding forest was eliminated
and is currently being regenerated. It is not by chance
that the river that flows there is long known as Rio
Vermelho (Red River).
As tests in experimental parcels show, the
clear-cutting of pine trees will allow for the
regeneration of the native forest
The experimental parcels were established
in the high zone of the restinga where seed rain falls
from the hillsides of dense rainforest. On the hillsides,
trees grow easily because the soil is more organic and
better developed.
This type of regeneration will not occur in other
areas of the Park because seed rain does not occur
and the other areas are moveable (see item “Why does
vegetation fail to cover the entire area of the restinga?”,
page 37). Clear-cutting the pine trees will have the
following catastrophic consequences:
1 ) The destabilization of the dunes will occur. The dunes
were formerly moveable but became fixated with the
planting of the pine trees. If the pine trees are removed, the
dunes will begin shifting again and the problems that were
caused by erosion and the excessive deposit of sand, which
were observed by Henrique Berenhauser and documented by
aerial photographs in 1957, will recur (Figures, page 26);
53 Rio Vermelho Park
2 ) The remnants of the autochthonous vegetation will
become susceptible to the erosion and wear that are
induced by strong lateral winds;
3 ) The opportunity to maintain a public green area
will be lost, as urbanization is another strategy that
is used to fixate dunes (e.g., in the neighborhoods of
Copacabana, Ipanema, Leblon, and Barra da Tijuca
in the city of Rio de Janeiro; at the waterfront of
Santos and São Vicente in the state of São Paulo; and
at the waterfronts of Camboriú, Jurerê Internacional,
Canasvieiras, and Ingleses in Santa Catarina);
4 ) A plant system that can attenuate the effects of
extreme climatic phenomena, such as tornados,
typhoons, and occasional hurricanes, will be destroyed.
These weather extremes are currently more common in
Brazilian coastal areas, particularly in Santa Catarina;
5 ) A landscape that became integrated with the city
of Florianópolis will be destroyed. The residents
currently enjoy the shade, air, and ludic environment
that are supplied by the pine trees along the highway
that runs across the Park.
It is worth stressing that many exotic species
have been adopted with goodwill in several parts of
the world by the local populations. This is the case
with mango trees (native to India) in Belém do Pará;
ipê trees (native to Brazil) in some towns of Australia’s
interior and in Córdoba, Argentina; olive trees
(native to the eastern Mediterranean) in Portugal;
coconut palm (native to the Malayan archipelago) in
several cities and dunes in Northeastern Brazil; and
flamboyant trees (native to Madagascar) in the cities
of Belo Horizonte and Brasília. The affinity for exotic
species is so remarkable that countless flags extol
them, such as the flag of Santa Catarina, which depicts
a branch of coffee (of Arabic origin but representing a
coastal area crop) and wheat (from the Middle East but
representing a crop from the state’s interior).
If one only wished to increase the remnants
of autochthonous vegetation in the Park, it would be
wiser to remove some of the pine trees that surround
the remnants, always in two-fold ratio for the area
over which the native vegetation might advance, and
with at least 25% variability among the species that
correspond to the original coverage.
Along with the pine and eucalyptus tree
plantations, the forest will expand; the anthropogenic
 capítulo 2 Chapter 2

como é o exemplo das mangueiras (de origem indiana)
em Belém do Pará; dos ipês (de origem brasileira) em
algumas cidades do interior da Austrália e em Córdoba,
na Argentina; das oliveiras (proveniente da parte
oriental do Mediterrâneo) em Portugal; dos coqueiros
(do arquipélago malaio) em várias cidades e dunas do
Nordeste brasileiro; dos flamboaiãs (de Madagascar)
nas cidades de Belo Horizonte e Brasília. A afinidade por
espécies exóticas entre os povos é tão marcante que existe
uma infinidade de bandeiras que as enaltecem, como
acontece com a do Estado de Santa Catarina, em que
figura um ramo de café (origem arábica, representando a
lavoura do litoral) e de trigo (que tem origem no Oriente
Médio, representando a lavoura do interior).
Se o desejo é aumentar os remanescentes da
vegetação autóctone do parque, o mais sensato seria retirar
alguns pinheiros em volta dos remanescentes, sempre na
proporção do dobro da área que a vegetação nativa pudesse
avançar, com, no mínimo, 25% da variabilidade de espécies
existentes no revestimento original.
Há, ainda, uma verdade a ser dita, a floresta ali
será expandida, assim como o plantio dos pinheiros e
eucaliptos, e antropogênica porque a tomada de um
espaço por uma espécie é função de vários fatores,
além da sua simples presença genética, como densidade
do colonizador, densidade do estande estabelecido,
vetor dispersor de sementes, oportunidade climática e
ambiental para o sucesso da germinação, predação etc.,
como pode ser conferido em qualquer bom livro básico
de ecologia. O resultado poderia ser comparável ao
de quando se desejasse fazer uma cópia perfeita de um
instrumento de valor histórico ou artístico, usando todo o
material e técnicas aplicadas nele. O produto será sempre
uma réplica, mas como as pessoas gostam de réplicas que
seja feita a mais fiel possível, uma “réplica autêntica”.
Assim, a busca e a introdução das espécies das
restingas que já não existem mais na ilha deveria ser
feita, o que não será uma tarefa fácil. Para o caso
da restinga alta do parque, onde muitas espécies ali
existentes são as mesmas que habitavam os morros, será
muito difícil. O primeiro motivo é que muitas das espécies
extintas na ilha eram de madeira de lei e, devido ao seu
valor comercial, foram sobre-exploradas – uma relação
dessas espécies foi elaborada em 1797 pelo governador
João Alberto de Miranda Ribeiro, que governou a
Província de Santa Catarina de 1793 a 1800, para fins de
tomada de impostos (Laytano, p. 185).
Outra razão sabida retrata que, infelizmente,
nos capões remanescentes de floresta da Ilha de Santa
Catarina, tais espécies também não mais existem, porque
foram muitas vezes tomadas pelo fogo. As espécies clímax
são geralmente dependentes da altura do lençol freático
e da proteção lateral dos ventos. O manejo das pastagens
que tomavam a maior parte da ilha acabou por provocar
a extinção dos remanescentes das espécies clímax que
aqui existiam e, por essa razão, não existem no entorno
do parque matrizes de plantas clímax para produzir
sementes para povoar a restinga alta.
Como explanado anteriormente, o processo de
regeneração é uma sucessão de espécies em que as
últimas a chegar são as plantas clímax, ou seja, aquelas
que precisam das condições ecológicas proporcionadas
pelas espécies colonizadoras para poderem se
desenvolver. Se não for feita a introdução das espécies
clímax, a réplica da vegetação natural ficará estagnada a
um “capoeirão”. Podem, a esta altura, ver que se advoga
obediência a um preciosismo exacerbado para recompor
uma “réplica de vegetação”, mas isso é uma provocação
para que vejam o estágio da incoerência de uma proposta
primitivista de conservação.
Se é evocada a retirada dos pinheiros “para
manter o sistema de dunas móveis, uma linha que vem
desde o sul”, e para “manter o equilíbrio natural dos
nutrientes que aqui existiam antes”, por que também
não evocá-lo, no mesmo nível, para fazer uma réplica
da mata nativa mais próxima da que existia antes do
desmatamento da restinga? Em verdade, foi aventado
que a reintrodução de espécies extintas seria feita,
mas o problema é que, no plano apresentado para a
formação de mudas para a regeneração da “floresta
nativa”, está prevista a contratação de duas equipes
de cinco pessoas que trabalharão por dois anos,
com aporte financeiro total de R$ 288.000,00, valor
insuficiente para uma tarefa que exigiria pessoas
treinadas para identificar as espécies, buscá-las
nos remanescentes florestais fora da ilha e produzir
mudas em quantidade e rapidez para revegetar dois
hectares por dia (SIC – é essa a meta de desmatamento
preconizada pelo programa de corte dos pinheiros
e demais árvores exóticas do parque licitado pela
FATMA). Não será uma tarefa fácil, mas foi justificada
no momento que os problemas de repovoamento com
as espécies nativas seriam avaliados “à medida que
aparecessem”. Espera-se retirar a cobertura vegetal de
aproximadamente 430 hectares em dois anos, em uma
operação bem planejada, mas nem de perto há uma
estratégia delineada para revegetar tal área.
Cabe mencionar que a maioria do plantio foi
estabelecida dentro do complexo das dunas móveis, onde
o crescimento de qualquer vegetação é muito difícil (as
effects will multiply because the occupation of space
is a function of several factors in addition to the
mere genetic presence of a species. These factors
include the density of the colonizers, the density of the
established stand, the seed dispersion vector, climatic
and environmental opportunities for successful
germination, and predation. The result would be
comparable to the result that comes from wanting to
make a perfect copy of a historically or artistically
valuable instrument: one can use all the materials
and techniques that were originally applied to the
instrument, but the product will always be a copy.
However, because people like copies, we should make
them as faithful to the originals as possible so that
they can be “authentic copies”.
Thus, the search for and the introduction of
restinga species that are no longer on the island
should be performed, but this is no easy task. In
the case of the Park’s high restinga where many of
the current species are the same as the ones that
used to inhabit the hills, the search for the original
species will be extremely difficult. One reason for the
difficulty is that many extinct species from the island
were hardwood and were overexploited because of
their high commercial value.
A report on these species for tax-related
purposes was made in 1797 by Governor João Alberto
de Miranda Ribeiro, who ruled over the province of
Santa Catarina between 1793 and 1800 (Laytano,
p. 185). Another widely known reason is that,
unfortunately, hardwood species no longer exist in
the forest remnants of Santa Catarina Island because
they were often killed by fires. The climax species
usually depend on the high water table and the lateral
protection against winds. The management of pastures
that covered most of the island led to the extinction of
the climax species that resided there in the past; for
this reason, there are no matrixes of climax plants in
the Park’s surroundings to produce the seeds that are
needed to populate the high restinga.
As previously mentioned, the process of
regeneration involves a succession of species where
the climax plants are the last ones to arrive. In
other words, to develop, the plants require the
ecological conditions that are supplied by the
colonizer species. When the climax species are not
introduced, the natural vegetation stagnates at the
level of dense brushwood (“capoeirão”). At this
point, the reader may realize that compliance with the
smallest details is required to regenerate “replicas
of vegetation”; this section is designed to expose the
level of incoherence that is exhibited by primitivist
conservation proposals.
If the removal of pine trees is required “to
maintain the system of shifting dunes, a line that
comes from the South” and to “maintain the natural
balance of the nutrients that existed here in the
past”, then why not go a step further and replicate
the native forest that existed before the deforestation
of the restinga? In fact, proposals have suggested
that the reintroduction of extinct species would be
performed, but for the preparation of seedlings for
the regeneration of the “native forest”, the project
proposed hiring two five-person teams to work for
two years, and it allocated BRL 288,000 for the effort.
This amount is insufficient for a task that requires
people who are specially trained to identify species,
search for the species among the forest remnants
that are external to the island, and produce enough
seedlings at the speed that is required to revegetate
two hectares per day (the deforestation goal that
was recommended by the program to cut down the
Park pines and the remaining exotic trees that were
included in FATMA’s public bid). This will not be an
easy task; an explanation of the proposal indicated
that problems related to the repopulation of native
species would be assessed “whenever they might
appear”. In a well-planned operation, one can expect
to remove the plant coverage from approximately 430
hectares over two years, but the current proposal
lacks any hint of strategy to revegetate the area.
Most of the plantation was established
within the complex that was formed by the shifting
dunes, where the growth of any type of vegetation
is extremely difficult (some pictures in this chapter
compare the former vegetation of the Park, display
how the present-day forest was established, and reveal
its current state). Without the pine trees, which can
vegetate in these inhospitable areas, the cultivation
of other autochthonous plants would only be possible
with substantial investments in wind barriers and
organic matter supplies. The revegetation of such a
large area would require much more than two years.
To summarize, the natural regeneration that
was assessed in the experiment in the high restinga
cannot be extended to the remainder of the area where
the pines and other exotic species are located. The
intention is to cut pine and eucalyptus trees down,
but the consequences of such an action have not been
approached with the same level of interest.

54 O Parque do Rio Vermelho 55 Rio Vermelho Park

 capítulo 2
imagens deste capítulo mostram comparações de como
era a vegetação da área do parque, como foi implantada a
floresta que hoje há ali e o que ela representa atualmente).
Sem os pinheiros, que são capazes de vegetar em área
tão inóspita, o cultivo de qualquer outra planta autóctone
somente será possível com expressivo investimento em
barreiras para vento e aporte de matéria orgânica. A
revegetação de uma área de tal tamanho demandaria um
acompanhamento bem superior a dois anos.
Em resumo, a regeneração natural avaliada no
experimento da restinga alta não pode ser aplicada ao
restante da área onde existem os pinheiros e demais
espécies exóticas. O que se deseja é cortar os pinheiros
e eucaliptos, e as consequências disso não estão sendo
vistas com o mesmo empenho.
Que a sociedade decidiu transformar o parque em uma
Reserva Biológica e, por isso, todas as espécies exóticas
devem ser retiradas dali
Há um erro de origem ao transformarem uma
Estação Florestal (como definido no decreto da
formação do parque) em Reserva Biológica (como
definido no decreto que a transferiu para a FATMA e
mudou a sua categoria) e na subsequente evocação de
uma resolução do CONAMA (indevidamente)
para justificar a “retirada dos pinheiros e demais
espécies exóticas”. Em um paralelo zootécnico seria
o mesmo que pegar a Estação da EMBRAPA de
Gado de Corte e declará-la, por força de lei, como
“Unidade de Conservação”, determinando assim a
extinção de todas as linhagens de elite ali existentes
e de todo o gado no seu entorno para que “não
voltassem a contaminar” a então “Unidade
de Conservação”.
Traçando um paralelo, o pinheiro-americano
é a planta mais rústica e produtiva que temos na
silvicultura, como os zebus são os mais resistentes e
produtivos para indústria do gado de corte. O Estado
de Santa Catarina tem a maior indústria moveleira
voltada para a exportação do país, quase toda baseada
na matéria-prima do pinheiro-americano. Os pinheiros
são o “zebu florestal” do nosso Estado.
Que o lagartinho-da-praia (Liolaemus occipitalis)
está ameaçado de extinção pelo avanço dos
pinheiros-americanos
Contraponho essa afirmação, pode-se dizer que na
floresta de pinheiros fazem ninhos os socós-dorminhocos
(Nycticorax nycticorax). E como ficariam eles?
56 O Parque do Rio Vermelho
A erradicação das espécies
exóticas favoreceria a
“regeneração da floresta
nativa” em todo o parque:
uma assertiva baseada em
paradigma ultrapassado
Por Giorgini A. Venturieri
O paradigma evolutivo de que os indivíduos competem
entre si prevalecendo apenas os mais adaptados (Darwin,
1859), um conceito que teve início em 1859 e permaneceu
com grande força até 1928, quando então aparecerem outros
conceitos mais bem elaborados e assentados em experimentos
de genética e ecologia, como o de “deriva genética” (Wright,
1929), segundo o qual a principal força evolutiva é o acaso,
e depois o da “simbiogênese” (Margulis, 2001), em que as
espécies evoluem basicamente por fusão entre genomas e
por cooperação. Logo em seguida, vieram os conceitos de
“espandril” (Gould, 1979), que diz que alguma coisa evolui
como resultado da seleção de outra característica, enfatizando
que os organismos seriam ativos na formação do seu ambiente
(nicho) e contrapondo a versão passiva (darwiniana) de que
os organismos eram moldados pelo ambiente.
O conceito de espandril deu força a mais dois
outros conceitos: “fenótipo estendido” (já comentado
anteriormente) e “domesticação de paisagens” (ver revisão
em Kareiva et al., 2007), abordando que, em função do
fenótipo estendido, o homem passou a domesticar também
as paisagens. Há também o “conceito de Gaia” (Lovelock,
1979; Lovelock, 1988; Lovelock, 1991; Lovelock, 2001), em
que a unidade evolutiva é a biota com todas as interações
proporcionadas com a parte física do planeta. Tem-se
ainda um antigo conceito, presente em várias religiões,
de que “todos somos um”; esse conceito vem tomando
força com os recentes estudos de genética molecular que
provam que todos os seres vivos, em verdade, partilham
de um reservatório genético comum, e que as espécies são
expressões eventuais desse reservatório (Boto, 2010).
Como se vê, a proposta do corte raso dos
pinheiros está assentada em um paradigma muito antigo
(o darwiniano, de 1859), que não usa adequadamente
os progressos que a humanidade alcançou em ecologia
e evolução. Segundo os novos paradigmas (já não tão
novos), as espécies colonizadoras cumprem um papel
ecológico de regeneração das biotas no caminho para
a homeostase, o que é muito importante para a vida no
planeta; pelo conceito de Gaia, ser exótica ou nativa
Chapter 2
Society chose to transform the Park into a Biological
Reserve, and for this reason, all of the exotic species
must be removed
There is a fundamental mistake in the proposal
to transform a Forest Station (as defined by the decree
that established the Park) into a Biological Reserve
(as defined by the decree that transferred the Park
administration to FATMA and shifted its category) and
in the subsequent (undue) invocation of a resolution
by the National Council for the Environment to justify
the “removal of pine trees and remaining exotic
species”. In zootechnical terms, the transformation
would be the same as declaring the Beef Cattle Station
of the Brazilian Agricultural Research Corporation a
“Conservation Unit” and then demanding the extinction
of all its elite leneages and cattle in thier surroundings
so as not to “recontaminate” the “Conservation Unit”.
Slash pine is the most rustic and productive plant
for silviculture, and zebus are the most resistant and
productive animals for the beef cattle industry. The state
of Santa Catarina hosts the lion’s share of the furniture
export business in the country, which is almost entirely
dependent on raw material that is supplied by slash
pine. Pine trees are our state’s “forest zebu”.
Skull tree iguana (Liolaemus occipitalis) is at risk of
extinction because of the advance of slash pine
The above assertion can be countered with
the fact that black-crowned night herons (Nycticorax
nycticorax) make their nests in pine forests. What
would become of them if the forests were removed?
The eradication of
exotic species would favor
the “regeneration of the
native forest”: an assertion
that is grounded on an
outdated paradigm
By Giorgini A. Venturieri
The evolutionary paradigm asserts that
individuals compete against each other, and only the
best adapted individuals prevail (Darwin, 1859). This
paradigm was first proposed in 1859 and exerted
57 Rio Vermelho Park
a major influence until 1928 when better notions
developed on the grounds of genetic and ecological
experiments, such as the concept of “genetic drift”
(Wright, 1929), where chance is the main evolutionary
force, and “symbiogenesis” (Margulis, 2001), where
species evolve through cooperation and the merging
of genomes. The notion of “spandrel” (Gould, 1979)
was then proposed, which states that organisms
evolve as the result of the selection of other traits. The
notion of spandrel emphasizes that organisms actively
participate in the formation of their environment, or
niche, which contradicts the passive Darwinian view
that organisms are shaped by their environment.
The notion of spandrel supports two concepts:
the “extended phenotype” (discussed above) and the
“domesticated landscape” (see a review in Kareiva et
al., 2007). On the grounds of the extended phenotype,
the domesticated landscape states that man also began
domesticating landscapes. The notion of “Gaia”
(Lovelock, 1979, 1988, 1991, 2001) must also be
mentioned, which suggests that the evolutionary unit
should be the biota and all of its interactions with the
physical side of the planet. The ancient notion that “all
of us are just one” is present in several religions, and
the notion is gaining increasing momentum after recent
studies in molecular genetics, which have shown that
all living beings share one common genetic reservoir
and that species are eventual expressions of that
reservoir (Boto, 2010).
The idea to remove the pine trees is grounded
on an outdated paradigm that goes back to Darwin
in 1859. The old paradigm ignores the progress
that has been achieved in the fields of ecology and
evolution. According to the more recent paradigms,
the colonizing species play an ecological role by
regenerating the biotas along a path to homeostasis,
which is highly significant for life on the planet;
according to the notion of Gaia, the concepts of exotic
or native make no difference, as the only concern is
the “health of the planet”.
For humans, the little attention that is paid
to native species is disadvantageous: we do not take
advantage of genetic stock that could further improve
our lives. However, the solution does not include
the removal of exotic species. The new evolutionary
notions are closely attuned with advancements
in our understandings of ecosystems, ecosystem
administration, and economic theories. Just as
Darwinism had an effect on capitalism, the “Nash
equilibrium” (or cooperative equilibrium) (Nash,
 capítulo 2
não faz qualquer diferença porque o que importa é a
“saúde do planeta”.
Para nós, humanos, o pouco-caso com as
espécies nativas tem um inconveniente: deixar de
aproveitar um acervo genético que poderia melhorar
ainda mais as nossas vidas, mas não é com o corte
das espécies exóticas que se resolve isso. Os conceitos
evolutivos guardam grande sintonia com o progresso
do entendimento dos ecossistemas e também com o
entendimento das teorias administrativas e econômicas,
assim como fez o darwinismo com o capitalismo e agora
o “Equilíbrio de Nash” (ou Equilíbrio Cooperativo)
(Nash, 1950) com as estratégias de administração de
vanguarda, em que a melhor alternativa é aquela em que
todos ganham o máximo que seja possível. A associação
entre espécies leva ao desenvolvimento máximo do
acúmulo de biomassa que as espécies envolvidas possam
conseguir (princípio da homeostase).
Com o corte raso das árvores exóticas, somente a
empresa e as pessoas a ela relacionadas irão ganhar. Com
o manejo (ver tópico abaixo “O manejo florestal: a opção
mais inteligente”), todos irão ganhar. O corte raso, além
de um contra-senso ecológico (ver tópico “Argumentos
usados contra a existência dos pinheiros no Parque do Rio
Vermelho”, na pág. 48) e econômico (ver tópico “Prejuízos
com a venda de material genético de elite como tábua do
tipo “A”, na pág. 46), é um contra-senso administrativo.
O manejo florestal:
a opção mais inteligente
Por Giorgini A. Venturieri
Uma vez entendida a existência expressiva de
revestimentos antropogênicos no parque (35% da área
de pinheiros americanos e eucaliptos segundo o Boletim
do Parque Estadual do Rio Vermelho nº 2 – FATMA;
40% segundo relatos de Henrique Berenhauser; e
aproximadamente 43% segundo dados de Daniel Eberle
– Comunicação Pessoal) e a impossibilidade de voltar a
fazê-lo novamente parecer como “uma restinga natural”,
pode-se manejar e modificar a sua composição florística,
construindo ali uma sucessão de espécies que culminem
em um sistema mais biodiverso e autossustentável, passível
de ser conservado, em termos ecológicos e manejado
como opção econômica e com função social. Com essa
estratégia, seria possível manter o porte florestal e a
função do revestimento de conter a movimentação das
58 O Parque do Rio Vermelho
dunas, mantendo-se como área de desfrute turístico e de
lazer, como originalmente proposto no decreto que formou
o parque, e, mais recentemente, como mecanismo resiliente
aos eventos climáticos extremos.
A proposta de corte raso dos pinheiros, em dois
anos, fazendo com que as madeiras colhidas “sejam
transportadas para serem processadas a 250 km”, e por
isso justificando um “rebate do preço de mercado de
30%”, é um contrassenso técnico, ecológico, social e
econômico, já que existe uma demanda local elevada de
madeira para caixaria e artesanato. A madeira colhida
do parque poderia ser processada por pequenas empresas
do bairro ou por associações.
A floresta de pinheiros, se adequadamente
manejada, poderia ser mantida em pé e continuar
servindo como contentora das dunas, gerando
emprego e riquezas para a comunidade ad infinitum.
Existem pesquisas que comprovam a economicidade
do manejo florestal autossustentável, mesmo em áreas
ecologicamente sensíveis como as do parque. Como
manejo autossustentável, entende-se uma floresta
que possa ter aumentada a sua biodiversidade com a
inclusão de mais espécies componentes, como plantas que
possam produzir frutos para geleias artesanais, cipós para
artesanato, plantas medicinais e flores como orquídeas e
sempre-vivas, apenas para citar algumas. Há na literatura
sistemas exitosos que envolvem pinheiros e plantas nativas
como erva-mate, mogno e araucária (no planalto), pinheiro e
palmiteiro (no litoral do Paraná).
A formação de tecnologias para o manejo
autossustentável de florestas é uma das prioridades de
muitos centros de pesquisa do nosso país e do exterior e
um dos grupos expoentes nessa área se encontra aqui na
Universidade de Santa Catarina. O manejo autossustentável
de florestas vem sendo apontado como uma estratégia que
poderá dar valor econômico a elas enquanto “mantidas
em pé”, sem a necessidade fazê-las monoespecíficas ou de
executar corte raso, como são as florestas comerciais de
pinheiros e eucaliptos.
Quanto a este item, é bom lembrar que as terras
que hoje formam o parque já foram de uso comunal, como
relatado em Campos (1991) e que o seu retorno a uso
comunitário seria um ato justo, especialmente para os
moradores de um bairro pobre, no qual a criminalidade e o
tráfico de drogas vem aumentando.
Chapter 2
1950) is generating cutting-edge administration
strategies that promote options in which “everybody
wins” as much as possible. In terms of species, this
would mean the maximum development of biomass
accumulation that the involved species can achieve (the
principle of homeostasis).
With the clear-cutting of exotic trees, only the
related companies and people will win, whereas with
forest management (see item below “Forest management:
the most intelligent option”), everybody will win. In
addition to making no ecological (see item “Objections
against the presence of pine trees in Rio Vermelho Park”,
page 47) or economic sense (see item “Losses from the
sale of elite genetic material for type “A” board”,
page 47), clear-cutting makes no administrative sense.
Forest management:
the most intelligent option
By Giorgini A. Venturieri
When the Park’s substantial anthropogenic
coverage is understood (according to Bulletin nº 2 –
FATMA at Rio Vermelho State Park, 35% of the area
with slash pine and eucalyptus is covered; according
to Henrique Berenhauser’s reports, the area is 40%;
according to personal communication with Daniel
Eberle, the area is approximately 43%), and when
the impossibility of remaking the Park into “a natural
restinga” is understood, the Park’s floristic composition
can be managed and modified to develop a succession
of species that result in a more biodiverse and self-
sustainable system; the system can be managed for
ecological, economic, and social functions. Such a
strategy would maintain the size of the forest and the
role that the coverage plays in controlling the shifting
dunes, and the area would remain a central tourist site for
recreation and leisure. This management strategy would
follow the decree that created the Park and the recently
added decree that the Park function to mitigate the effects
of extreme climatic events.
The proposal to clear-cut the pine trees within two
years makes no technical, ecological, social, or economic
sense. The harvested wood “would be transported for
processing 250 km away” and would result in “a 30%
cut in the market price”, as the local demand for wood
for boxes and handcrafts is high. The wood that would
be harvested in the Park could be processed by small
59 Rio Vermelho Park
neighborhood companies or associations.
If appropriately managed, the pine forest could
survive and continue to contain the dunes. The forest
could create jobs and wealth for the community ad
infinitum. Some studies have shown the economic
advantages of self-sustainable forest management even
in ecologically sensitive areas that are similar to the
Park. Self-sustainable management means a forest with
a biodiversity that may increase with the inclusion of
further component species, such as plants that provide
fruits for the handmade production of jam, vines for
handicrafts, medicinal plants, and flowers, such as
orchids and golden everlasting. The literature contains
reports on successful systems that are composed of pine
trees and native plants, such as yerba mate, mahogany,
and araucaria (on plateaus), or pine trees and juçara
palm (in the coastal area of Paraná).
The development of technology for the self-
sustainable management of forests is a priority at many
research centers in Brazil and abroad; one of the main
groups that is working on the subject is located at the
University of Santa Catarina. The self-sustainable
management of forests is increasingly mentioned as
a strategy that may increase their economic value,
provided they are “kept standing on their feet”, and
unlike commercial forests of pine and eucalyptus, there
is no need to transform them into monospecific forests
or cut them down.
As was reported by Campos (1991), it is
worth remembering that the current Park lands were
previously for communal use. Thus, to return the lands
to a community-based use would be just, especially for
residents of poor neighborhoods where crime and drug
trade rates are increasing.
 capítulo 2 Chapter 2

2a Figura 2a Nos solos muito encharcados,

a solução foi levantar o nível das covas
com a areia obtida das valas de drenagem
secundária e, com essa providência, as mudas
pegaram e cresceram normalmente (com base
em relato do Sr. Marinho Cassiano Nunes)

Figura 2b Árvores que receberam o

desbaste comercial

Figura 2c Plantio adensado em que a liteira

(também conhecida como serapilheira
ou serrapilheira) formada é tão espessa
que nem as sementes do próprio pinheiro
conseguem germinar. Assim como em
qualquer plantio, a alta densidade dificulta
a entrada de outras plantas, daí a falsa
interpretação de que florestas de pinus e
eucaliptos não deixam qualquer outra planta
se estabelecer sob elas, o que não é verdade,
conforme pode ser visto na Figura 2e

Figura 2d Com o fogo não controlado,

as árvores têm o seu crescimento
comprometido e a qualidade da madeira
depreciada. (N.E.)

Figura 2e Os pinheiros plantados em

espaçamento mais largos (aproximadamente
5 x 5 metros) não induzem a um acúmulo
excessivo de matéria orgânica na superfície
do solo, o que diminui o risco de incêndios,
ou, quando estes ocorrem, não chegam a
matar as árvores. Note aqui que, com o
espaçamento maior, também é facilitada a
entrada de outras plantas colonizadoras

2e

2b 2c 2d Figure 2a In highly drenched soils, the solution

was to raise the level of the burrows with sand
that had collected in the secondary drainage
ditches. In so doing, the seedlings caught
up and grew at a normal pace (based on the
narrative by Mr. Marinho Cassiano Nunes)

Figure 2b Trees subjected to commercial

thinning

Figure 2c A dense plantation where the plant

litter is so thick that pine seeds are unable
to germinate. As in any other plantation,
high-density growth makes the introduction of
other plants difficult; this is the origin of the
myth that forests of pine and eucalyptus trees
do not allow other plants to settle beneath
them, which Figure 2e shows to be false

Figure 2d Uncontrolled fire threatens the

growth of trees, and the quality of their
wood is reduced

Figure 2e Planting pine trees with wider

spacing (approximately 5 x 5 m) avoids the
excessive accumulation of organic matter on
the ground, which reduces the risk of fires
or, when they do occur, prevents trees from
being killed. In this figure, wider spacing
has facilitated the introduction of other
colonizing plants

60 O Parque do Rio Vermelho 61 Rio Vermelho Park

 capítulo 2 Chapter 2
2f 2g 2l
Figura 2f O feijão-da-praia (Sophora
tomentosa L.) ocorre no litoral de
todas as regiões tropicais do mundo.
É uma excelente planta para a
regeneração de áreas degradadas,
especialmente dunas, porque suporta
bem solos salinos e possui um
sistema radicular muito amplo, com
até três vezes a área de projeção da
parte aérea da planta (N.E.)
Figura 2g Caminhão usado
no transporte
Figura 2h Solo já protegido, pronto
para receber as mudas
Figura 2i Mudas plantadas
Figura 2j Vista aérea dos pinheirais
ainda jovens, implantados sobre
as dunas. Notar que as áreas
inicialmente plantadas foram as
mais protegidas pelo vento, as que
corriam a sotavento das dunas
2h
Figura 2l Duna frontal plantada com
feijão-da-praia (Canavalia maritima
Thouars) (planta rasteira e espaçada) e
acácia-trinervis (Acacia longifolia), esta
última já no final do seu ciclo de vida
Figura 2m Sophora tomentosa L.
(arbustos com as flores amarelas)
crescendo no meio do feijão-da-
praia (Canavalia maritima Thouars)
(planta rasteira e espaçada)
2j
2i
62 O Parque do Rio Vermelho 63 Rio Vermelho Park
Figura 2f Yellow necklacepod
(Sophora tomentosa L.) is present
in tropical coastal areas all around
the world. The plant is excellent
for regenerating degraded areas
(especially dunes), as it tolerates
saline soils, and its large root
system is up to three times the area
of the exposed plant (E.N.)
Figura 2g A truck used for
transportation
Figura 2h Protected soil that is
primed for seedlings
Figura 2i Planted seedlings
Figura 2j Aerial view of young pine
trees implanted on the dunes. Notice
that the first planted areas, which
are on the leeward side of the dunes,
were better protected from the wind
Figura 2l Frontal dune planted
with baybean (Canavalia maritima
Thouars), a spaced creeping plant,
and acacia trinervis (Acacia
longifolia) at the end of its lifecycle
Figura 2m Sophora tomentosa
L. (shrubs with yellow flowers)
growing with baybean (Canavalia
maritima Thouars) (spaced
creeping plant)
2m
 capítulo 2 Chapter 2

2n 2o Figura 2n Casuarina (Casuarina equisetifolia

L.) crescendo a poucos metros da Praia de
Moçambique/Parque do Rio Vermelho. É
uma das raras árvores no mundo que consegue
vegetar perto de zona de arrebentação de
praias oceânicas

Figura 2o Drenos construídos para baixar o

nível do lençol freático, visando possibilitar
o crescimento dos plantios. Foram abertos
aproximadamente 40 km desses drenos, tudo “a
braço” (com base em comunicação pessoal do
Sr. Marinho Cassiano Nunes)

Figura 2p Vista aérea do trecho de vegetação nativa

(com verde mais heterogêneo e porte menor do
que os pinheiros que as circundam) protegido no
Parque do Rio Vermelho. A proteção lateral contra
os ventos proporcionada pelos pinheiros, as práticas
contra incêndio e a vigilância para proteção dos
animais, adotadas como rotina pela equipe de
funcionários do parque, foram fatores importantes
na regeneração da flora e da fauna original

Figura 2q Detalhe de um dos dois ensaios de

competição de cultivares de alto rendimento
de pinheiro-americano (P. elliotti) localizado
na Estrada do Mocotó, próximo à Casa do
Administrador do Parque

Figura 2r Pacotes recém-chegados com sementes

de coníferas nativas de Taiwan (Formosa, em
português), ilha do leste do continente asiático
administrada pela República da China. O despacho
foi feito do município de Hsinchu. A quantidade de
sementes introduzidas foi expressiva. (N.E.)

2p 2q 2r Figura 2n Australian pine (Casuarina equisetifolia

L.) growing a few meters away from Praia do
Moçambique, Rio Vermelho Park. The Australian
pine is one of the few trees in the world that can
grow close to the breaker zone of ocean beaches

Figura 2o A drainage ditch was built to lower

the water table and enable the plantations to
grow. Approximately 40 km of drainage ditches
were dug by hand (Mr. Marinho Cassiano
Nunes, personal communication)

Figura 2p Aerial view of an area with

protected native vegetation (the green is more
heterogeneous and the size of the plants is
smaller than in the surrounding pines) at Rio
Vermelho Park. The lateral protection against the
wind is afforded by pine trees, anti-fire measures,
and surveillance that protects the animals.
Ensuring this protection was part of the routine
of Park employees and was important for the
regeneration of the original flora and fauna

Figura 2q Close-up photo of one of the two

competition assays of high-performance cultivars
of slash pine (P. elliottii), which is located at
Mocotó Road near the Park manager’s house

Figura 2r Newly arrived packages of conifer seeds

that were native to Taiwan. The packages were
sent from the municipality of Hsinchu. The number
of introduced seeds was substantial (E.N.)

64 O Parque do Rio Vermelho 65 Rio Vermelho Park

 capítulo 2 Chapter 2

Figura 2s Área de regeneração natural limítrofe

Ilustração 1 / Ilustration 1 2s a uma área de pasto abandonada. Os pinheiros
ocupam espontaneamente apenas as áreas

A formação das dunas (dunes formation)

abertas, onde há luz solar direta, condição
necessária para que as sementes germinem. As
sementes dos pinheiros, por fim levadas para
dentro das áreas já florestadas, não germinam.
Vargem Grande, Florianópolis, SC, abril de
2011. Fonte: G. A. Venturieri.

Obstáculo Figura 2t Duna após um desmoronamento

Obstacle (blow-out). Notar o soterramento da vegetação

Ilustração 1 Desenho esquemático da formação

de dunas
Ocorre
turbulência e a
velocidade do
vento diminui
Figura 2s An area of natural regeneration
Turbulence adjacent to an abandoned grassland. Pine
occurs and wind trees only spontaneously occupy open spaces
speeds diminish where there is direct sunlight, which is a
necessary condition for the seeds to germinate.
In afforested areas, pine seeds do not germinate
(Vargem Grande, Florianópolis, SC, April 2011.
Source: G. A. Venturieri)

Deposição ocorre Figura 2t Dune after a blow-out. Note

Deposition occurs vegetation burial

Ilustration 1 Schematic drawing of the

formation of dunes

2t

Por saltação,
a duna cresce

By saltation
the dune grows

A duna avança na direção do vento predominante e pelo

desmoronamento da areia acumulada na sua crista

The dune progresses in the direction of the predominant

wind and by the collapse of accumulated and at its crest

66 O Parque do Rio Vermelho 67 Rio Vermelho Park

 capítulo 3 Chapter 3

68 O Parque do Rio Vermelho 69 Rio Vermelho Park


Capítulo 3
Em defesa do Parque1
Chapter 3: IN DEFENSE OF THE PARK1
1 Baseado em fatos extraídos dos manuscritos de Henrique
Berenhauser e do artigo intitulado “A grande grilagem do Rio
Vermelho”, publicado no jornal Afinal, p. 19, periódico combativo da
ditadura militar na cidade de Florianópolis, e no jornal O Estado de S.
Paulo, em artigo publicado em 29 de janeiro de 1981.
Chapter 3
1 Based on data taken from Henrique Berenhauser’s manuscripts
and the article titled, “The great fraud at Rio Vermelho”, which
was published the newspaper in Afinal (p. 19) – a Florianópolis
newspaper that is against the military dictatorship – and in O
Estado de S. Paulo article, published on January, 29, 1981.
71 Rio Vermelho Park
 capítulo 3
3.1 O desinteresse pelo parque
O projeto foi iniciado pelo governador Celso Ramos e
prosseguido pelos governadores Ivo Silveira e Colombo Salles.
Os governos que sucederam nada fizeram para continuar ou,
pelo menos, conservar o que havia sido feito. Foram atitudes
injustificáveis e insensibilizáveis, em uma época na qual
se assiste à destruição acelerada dos recursos naturais da
nação. Em virtude dessa destruição incontrolada, prega-se
o conservacionismo, mas não se põem em prática medidas
protetoras do meio ambiente, como fizeram os governadores
já mencionados.
No caso da Ilha de Santa Catarina, dada a crescente presença
de milhares de turistas que aqui vêm para veranear, usufruir do
seu clima ameno, sua beleza encantadora e, principalmente, das
suas magníficas praias, é imprescindível a proteção das belezas
naturais, fontes de rendas para a economia da cidade.
3.2 A Secretaria de Agricultura
assume a administração do parque
Em 31 de dezembro de 1974, foi encerrada a missão da
Associação Rural de Florianópolis, que criou um magnífico
parque ao longo da Praia de Moçambique, com 700 hectares
reflorestados, trabalho único no gênero no país, que transformou
um deserto em patrimônio de incalculável valor, embelezando
esse trecho da Ilha de Santa Catarina, para beneficiar a
população de todo o Estado e atrair turistas.
A Secretaria de Agricultura, entretanto, impediu a
concretização de um parque que servisse à população. O parque
passou a ser administrado por práticos agrícolas sem preparo
para administrar áreas de preservação do meio ambiente. Não
foram complementados os plantios e nem mesmo conservados os
existentes. Ignorou-se que uma floresta plantada necessita de tratos
culturais, da mesma forma como tais tratos são indispensáveis no
caso de lavouras, hortas, pomares e outras atividades agrícolas.
Aos domingos e feriados, o acesso às margens da Lagoa
da Conceição é fechado para que a população não tome
conhecimento do desfrute indevido da residência construída
para a moradia do administrador2. A população apenas percebe
a existência do parque por ser cortado por uma estrada
estadual. A estrada de acesso ao magnífico trecho da Praia de
Moçambique, no extremo sul do parque, não é conservada e
tornou-se intransitável, demonstrando a intenção de impedir
sua utilização pelo público.
Trechos da floresta necessitavam de desbastes que
não foram executados, deixando-se um número excessivo de
árvores. Isso causou estiolamento nas plantas e acumulação,
no chão da floresta, de quantidade indesejável de acículas e de
galhos secos, criando, assim, o ambiente propício para incêndios
que vêm ocorrendo intermitentemente. Tais incêndios causam
2 Atualmente, a área tem acesso restrito e é ocupada parcialmente pelo Batalhão de Polícia Militar
Ambiental do Estado e pela administração do parque. (N.E.)
72 O Parque do Rio Vermelho
a impressão de perda total dos povoamentos atingidos, o que
não acontece efetivamente, porque o P. elliottii possui uma
resistência inata aos efeitos do fogo. Em vista disso, decorridos
alguns meses, as árvores aparentemente queimadas brotam
novamente, notando-se apenas pelos seus troncos carbonizados
ter ocorrido ali um incêndio.
São destruídos apenas os trechos da mata plantados em solo
turfoso, que se incendeia, queimando as raízes das árvores (Figura
3f, pág 84). A única maneira de reduzir-se o risco de incêndio
nessas áreas é com a formação e manutenção de aceiros para
impedir a expansão dos incêndios. Todavia, em relação à área total
da floresta, tais trechos são diminutos e recuperados naturalmente,
porque os maciços contíguos se encarregam de ressemeá-los.
Há 20 anos o parque tem sido atingido seguidamente por
incêndios sem ter sua existência ameaçada.
O pinheiro-americano
Por Giorgini A. Venturieri
Nome científico: Pinus elliottii (Warm.)
Engelm. var. elliottii – Pinaceae.
Nomes populares: pinheiro, pinus, pinos,
pinho-comum, pinho-americano, pinheiro-americano.
Nomes em inglês: southern pine, slash pine, southern yellow pine.
O pinheiro-americano é uma espécie originária
dos Estados Unidos, introduzido em 1948, pelo
Serviço Florestal do Estado. No Brasil, os primeiros
plantios comerciais foram feitos em 1959. Atualmente,
é a espécie mais plantada nas regiões Sul e Sudeste
do Brasil para a produção de matéria-prima para o
setor moveleiro e construção civil – celulose de fibra
longa e resina, da qual se extrai o breu, a terebintina
e outros óleos essenciais.
É uma espécie florestal de rápido crescimento
(com oito anos já pode ser madeirada) que pode ser
cultivada em ambientes com condições adversas, como
regiões áridas, de extremo frio, topos de montanhas
e solos com baixa fertilidade, inapropriados para o
cultivo da maioria das outras espécies agrícolas. Sua
madeira é leve, de cor bege-clara, fácil de serrar e
plainar o que propicia o bom acabamento às peças
com ela construída. A impregnação com corantes e
conservantes químicos, faz essa madeira similar a
outras madeiras mais nobres.
A árvore pode ser plantada em alta densidade
populacional e, quando isso é feito, suas folhas
(acículas) por serem de decomposição lenta acumulam
Chapter 3
3.1 O Lack of interest in the Park and evidence of previous fires is only visible in the carbonized
The Park project was initiated by Governor Celso Ramos trunks of the trees.
and was continued by Governors Ivo Silveira and Colombo Only the areas of forest that were planted on peaty soil
Salles. However, the subsequent governors did not continue are destroyed, as peaty soil is flammable and burns the roots of
or preserve the work that had already been performed. the trees (Figure 3f, page 84). The only way to reduce the
Their attitude was insensitive and unjustified at a time risk of fires in areas with peaty soil is to form and maintain
when the natural resources of Brazil have been subjected to firebreaks that block the expansion of fires. These areas are
accelerating destruction. Due to this uncontrolled destruction, small compared to the total area of the forest, and they recover
conservationism is preached, but no practical measures are naturally because of the spread of contiguous populations.
enacted to protect the environment. Frequent fires have occurred in the Park over the last 20
On Santa Catarina Island, there have been growing years, but the Park’s existence is not threatened by them.
numbers of tourists who visit in the summer for the island’s
Slash pine
pleasant climate, charming beauty, and magnificent beaches.
The protection of the island’s natural beauty is essential, as it
is a source of income for the city economy.
By Giorgini A. Venturieri
3.2 The Agriculture Secretary Scientific name: Pinus elliottii (Warm.)
assumes the management of the park Engelm. var. elliottii – Pinaceae.
The participation of the Rural Association of Florianópolis Common names: slash pine, South Florida slash pine,
ended on December 31, 1974, after creating a magnificent yellow slash pine, swamp pine, pitch pine.
park along Praia do Moçambique that was comprised of 700
reforested hectares. This represents a unique example in Slash pine is native to the United States and
Brazil in which a desert was transformed into a priceless asset, was introduced to Brazil in 1948 by the State Forest
whereas this part of Santa Catarina Island was embellished for Service. In Brazil, the first commercial plantations
the benefit of the state’s population and to attract tourists. were established in 1959. Slash pine is the most
However, the Agriculture Secretary did not allow frequently planted species in the South and Southeast
the Park to serve the population. Instead, the Park became Brazil for supplying raw materials to the furniture
managed by agriculture practitioners who had no training in business and civil construction projects. Slash pine
the management of environmental preservation areas. The has a cellulose long fiber and a resin that is the source
plantations were not increased, and the existing ones were not of pitch, turpentine, and other essential oils.
conserved. Even though cultivation treatment is indispensable Slash pine is a fast-growing forest species (it
on farms, orchards, gardens, and other agricultural activities, supplies wood at age eight) that can be cultivated in
cultivation treatment was ignored in the planted forests. environments with adverse conditions, such as arid
The access to the shores of Lagoa da Conceição is closed areas, areas with extreme cold, mountain tops, and
on Sundays and holidays, so the public may not know the undue areas with low-fertility soils that are inappropriate for
luxury that is associated with living in the residence that was built most agricultural species. The wood is light, has a light
for the Park manager2. The public is only aware of the Park because tan hue, and is easy to saw and flatten. These qualities
of a state highway that runs through it. The road to the magnificent impart a superior quality to products that are made with
Praia do Moçambique, which is at the southernmost end of the it. Impregnation with dyes and chemical preservatives
Park, was not conserved and became useless. This provides further make the wood similar to more noble woods.
evidence of the intention to block the beach’s public. Plantations of slash pine can have high
Some forest areas required thinning that was not population densities, as the leaves (aciculae)
performed. Consequently, an excessive number of trees were decompose slowly, accumulate on the ground, and
left. This led to etiolation in the plants and an accumulation provide a “mantle” that inhibits the growth of other
of undesirable amounts of aciculae and dry twigs on the forest plants; this limits the competition in the plantations
soil, which created favorable conditions for the intermittent and provides savings in their management.
fires. The fires make the affected populations appear to be Dense pine forest plantations are always
totally lost, but P. elliottii has an innate resistance to fire. Trees exposed to a high risk of fires because of the
that appear to be burned will sprout again after a few months, accumulation of dry aciculae on the ground and the
2 Currently, the access to this area is restricted, and it is partially occupied by the State Environmental
Military Police Brigade and the Park management.
73 Rio Vermelho Park
 capítulo 3
sobre o solo formando uma espécie de “manto”, que
inibe o crescimento de outras plantas, evitando a
competição e consequente economia no seu manejo.
Os pinhais plantados de forma adensada
sempre sofrem acentuado risco de incêndio por
causa da camada de acículas secas que se acumulam
no solo, bem como a grande quantidade de resina
existente nos troncos. Apesar disso, suporta bem o
fogo quando não é de grandes proporções, que é
evitado com o ateamento rotineiro e controlado do
próprio fogo (Figuras 3d e 3f, pág 84-85).
Os plantios florestais com espécies exóticas
(como o Pinus elliottii, P taeda e algumas espécies
do gênero Eucalyptus) tiveram grande incentivo no
Brasil na década de 1970, período em que o Parque
Florestal do Rio Vermelho já possuía expressivo
plantio e por isso era ponto de atenção e exemplo de
vanguarda no setor. É uma árvore que pode atingir
30 metros de altura, a casca é sulcada, acinzentada
quando jovem e torna-se marrom-avermelhada na
idade adulta. Os brotos são produzidos na primavera
e em forma de espiral muito apertada, aparentando
velas, inicialmente de cor mais clara que escurece
com o desenvolvimento, quando as acículas crescem
e se arrepiam, formando tufos. Acículas (folhas em
forma de agulhas) são reunidas em grupos de dois ou
três (com 21 a 36 cm de comprimento), de cor verde
brilhante e com a margem finamente serrilhada. Os
estróbilos masculinos (inflorescência masculina)
concentram-se na extremidade de brotos jovens e os
estróbilos femininos (inflorescência feminina) são
pedunculados, em grupos de dois a quatro, raramente
seis, a princípio eretos, que depois se tornam
horizontais e finalmente voltados para baixo, ovais ou
cilíndricos, comumente 12 a 15 cm de comprimento.
As sementes são triangulares, de 5 a 7 mm de
comprimento, pretas e aladas (ver figuras de 3a a 3e
nas pág. 84 e 85).
O P. elliottii entra em associação com um
fungo, as micorrizas (veja tópico “O que é micorriza?,
na pág. 20), que entra nas suas raízes e auxilia
na captação de água e nutrientes, facilitando o
estabelecimento da planta em solos pobres.
Pior do que os incêndios é a incontrolável ânsia da
Secretaria de Agricultura de sacar dinheiro da floresta.
Recentemente, para justificar o corte de milhares de árvores
para “defender” a floresta, propagaram a inverdade de que
sem aceiros adicionais (muitos quilômetros deles) o parque
3 O assédio ainda continua. Recentemente, a atual administradora do parque, a Fundação do Meio
Ambiente de SC – FATMA, preparou um edital para cortar todos os pinheiros, justificando que “são
invasores que estão acabando com a floresta nativa” e obter cerca de 4 milhões de reais com a venda
da madeira, basicamente para combustão. Ironicamente, no único talhão classificado como “passível de
74 O Parque do Rio Vermelho
sucumbiria. Ora, se a secretaria não tem conservado limpos
os aceiros existentes para que esses se tornassem eficazes,
como se poderia esperar que fossem conservar uma dezena
de quilômetros que estão sendo abertos exclusivamente em
trechos onde a madeira é vendida?3
Realmente, o parque precisa de um forte protetor para
defendê-lo da secretaria, que está desfigurando sua floresta com
tais desmatamentos abusivos e desnecessários que ameaçam a
sobrevivência da fauna, porque, dali em diante, incendiários e
caçadores terão acesso fácil a todas as partes da floresta.
3.3 Funcionários com altos cargos
se aproveitam da área do parque
Alguns meses depois da Associação Rural ter deixado
o parque, o administrador nomeado, por intermédio de
interpostas pessoas da sua família, obteve, como sendo terras
devolutas, um considerável trecho do parque. Tal concessão
foi anulada por meio de uma ação popular, o que evidenciou a
falta de lisura nesses procedimentos.
O diretor da CASAN, um político de Rio do Sul4, adquiriu
os direitos hereditários de quatro propriedades localizadas na
Vila das Aranhas, a alguns quilômetros ao norte do parque.
Entretanto, por ocasião do inventário que promoveu, o dito senhor
conseguiu fazer com que essas propriedades “caminhassem”. Em
vez de descrever o que havia comprado, descreveu um trecho do
parque, com 1.188 metros de frente para a Praia de Moçambique.
Porém, esse trecho está separado da “Vila das Aranhas” por uma
montanha com 258 metros de altura!
O inventário é um processo administrativo e não
contencioso. De maneira que a Justiça confia na declaração
dos interessados até que haja provas em contrário, exibidas por
alguém prejudicado. É notório ver o Estado “perdendo” bens
patrimoniais por falta de reação.
Seguindo o exemplo do político de Rio do Sul, os
moradores da Vila do Rio Vermelho começaram a construir
nas dunas reflorestadas pelo convênio. No tempo do convênio,
as tentativas de esbulho eram repelidas imediatamente,
mas houve reação imediata e o Estado teve de mover ação
de reintegração de posse, ganha em última instância. Mas,
quando da reintegração, o oficial de Justiça foi impedido de
realizá-la por ter encontrado reação por parte dos invasores,
capitaneados pelo intendente municipal, montado num ginete,
como documentou um matutino da cidade. Seria de se esperar
que o oficial de Justiça retornasse, dias depois, com escolta
reforçada para restabelecer a soberania da Justiça, o que não
aconteceu. Esperamos que, com o término das férias forenses,
a reintegração seja consumada.
Atualmente, está sendo construída uma residência nas
terras do parque, na sua extremidade norte. O material para essa
serem obtidas tábuas de primeira qualidade” estão os experimentos de competição das cultivares de elite
e a coleção de germoplasma de coníferas (ver detalhamento da coleção no anexo). 4 Era prefeito de Rio
do Sul e deputado federal por três legislaturas pelo PDS, partido de apoio ao governo militar.
Chapter 3
high amounts of resin in the trunks. Nevertheless, survival of the fauna, as arsonists and hunters will have easy
pine trees withstand fire well when it is not too large, access to the entire forest.
which can be ensured with the routine and controlled
production of fires ((Figures 3d and 3f, pages 84-85).
Forest plantations of exotic species, such as 3.3 High-level officials take
Pinus elliottii, P taeda, and some species of genus advantage of the Park area
Eucalyptus, were strongly encouraged in Brazil during Several months after the Rural Association left the Park,
the 1970s; because the Rio Vermelho Forest Park the manager that had been nominated, thanks to the influence
already contained extensive plantations, it became a of his relatives, was granted a permit to exploit an important
focus of attention and a leading example for the sector. area of the Park that had been classified as vacant public land.
Pine trees can reach 30 m in height. Their The permit was annulled by a citizen suit about the unfairness
bark is ridged; the bark is gray at young ages and of these types of procedures.
reddish-brown at older ages. The sprouts that are The director of the Water and Sanitation Company of
produced in the spring are shaped in tight spirals that Santa Catarina, a politician from Rio do Sul4, acquired the
look like candles; the color of the sprouts is initially hereditary rights to four properties in Vila das Aranhas, just a
light, but it darkens over time as the aciculae grow, few kilometers north of the Park. However, the inventory he
become brittle, and form tufts. The aciculae (leaves in requested succeeded in making the properties “walk”. Instead
the shape of needles) cluster in groups of two or three of merely describing his acquisitions, the inventory included
and achieve a length of 21 to 36 cm. The aciculae a section of the Park with 1,188 m of beachfront land at Praia
display a bright green hue and have finely serrated do Moçambique , which is separated from Vila das Aranhas by
margins. The male strobili (male inflorescence) are a 258-meter mountain.
concentrated at the end of young sprouts, whereas Inventories are non-contentious administrative
the female strobili (female inflorescence) are procedures, so the authorities trust the declarations that are
pedunculated and cluster in groups of two to four made by the interested parties unless the aggrieved party
(and occasionally six) elements. The female strobili produces proof to the contrary. Therefore, the state is patently
clusters are initially straight, but they become “losing” assets due to its non-reaction.
horizontal and eventually turn downwards; their Following the example of the politician from Rio do
shape is oval or cylindrical, and their length is 12 to Sul, the residents of Vila do Rio Vermelho began constructing
15 cm. The black and alated seeds have a triangular on the dunes that had been reforested by the agreement. At
shape and a diameter of 5-7 mm (see pictures 3a-3e, the time when the agreement was in operation, dispossession
pages 84-85). attempts were immediately repelled; in this instance, the
P. elliottii are associated with mycorrhizal state immediately reacted by entering a repossession suit,
fungi (see item “What is mycorrhiza?”, page 21) that which was won at the last moment. However, the bailiff was
penetrate the roots and absorb water and nutrients, hindered from accomplishing the actual repossession because
which helps the plant establish in poor soils. of the reaction of the invaders, who were under the leadership
of the county mayor. The mayor was riding a horse when the
local newspaper reported the story. One would assume that the
Nevertheless, the Agriculture Secretary’s unquenchable bailiff would soon return with a stronger escort to reestablish
desire to extract money from the forest is much worse than the rule of law, but it never happened. We hope that after the
the effect of fires. To justify the cutting of thousands of trees, judicial recess is over, the repossession will be accomplished.
the secretary claimed to be “defending” the forest, invoking A private residence is currently under construction
the false assumption that many kilometers of additional inside the northern edge of the Park. The construction
firebreaks were necessary to keep the Park from perishing. If materials are driven directly to the front of the house of the
the secretary fails to keep the existing firebreaks clean, how guard who controls the access to that area of the Park, but the
might one expect the Park to conserve the dozen kilometers guard has not informed the manager of the construction. The
that are currently and exclusively being opened in the areas builder of the house must have fabricated the title to the land
were wood is being sold?3 with a similar method that was used by the politician from
The Park needs a strong protector to defend it from Rio do Sul 5.
the secretary that is disfiguring the forest with abusive and In 1980, a secretary of the state government promised to
unnecessary deforestation; the secretary’s actions threaten the grant the residents of Vila do Rio Vermelho part of the Park,
3 The attacks continue. Recently, the current Park administrator, FATMA, launched a public bid to cut all of the elite cultivars (see the detailed description of this collection in the appendix). 4 He was the mayor of Rio do Sul
pine trees down with the argument that “they are invaders that are doing away with the native forest”. The Park and had three times been a federal congressman who represented the Social Democratic Party, which supported the
would earn four million BRL with the sale of wood for fuel. Ironically, the only plot that was classified as “able to military government. 5 Between 1976 and 1983, the state prosecutor’s office in Santa Catarina entered several suits
supply high-quality boards” is the plot that contains conifer germplasm and hosts the competition experiments with that resulted in the annulment of this and other similar attempts to steal land (Rufino, 1983, apud Ferreira, 2010).
75 Rio Vermelho Park
 capítulo 3
construção passa em frente à casa do guarda (que controla o
acesso desse trecho do parque), mas ele não deve ter informado
o administrador. A pessoa que está construindo a casa deve ter
tido seu título “fabricado” por método igual, ou semelhante, ao
usado pelo político de Rio do Sul5.
Em 1980, um secretário de Estado do governo estadual
prometeu aos moradores da Vila do Rio Vermelho a entrega pura
e simples de um trecho do parque, terras que posteriormente
seriam transferidas para uma empresa imobiliária. A transação
não se consumou em face da ameaça de outra ação popular6.
3.4 Indenizações indevidas
Passados 16 anos da implantação do parque, um
veterinário da Secretaria de Agricultura entrou com uma ação
contra o Estado, alegando ter possuído, dentro do parque, uma
fazenda com 3 milhões de metros quadrados, da qual teria sido
desalojado logo após a revolução de 1964, juntamente com
mais 200 posseiros, seus vizinhos. Alegava que suas casas e
cercas teriam sido demolidas. Essa inaudita violência teria sido
praticada por policiais e presidiários a serviço do parque. Esses
fatos escabrosos e inconcebíveis em plena capital do Estado,
a 20 km do palácio do governo, passaram-se em silêncio, sem
levantar uma onda de protestos.
Como o Ministério Público omitiu-se na defesa do
Estado, o Juiz teve de julgar o acordo com as provas dos autos,
condenando o Estado ao pagamento de indenização superior a
50 milhões de cruzeiros, fruto de um vasto conluio para lesar o
Estado. Teria bastado juntar a fotografia do levantamento aéreo-
fotogramétrico realizado em 1957, o qual mostra claramente
que, em toda a área do parque só havia um morador e o resto
eram dunas e alagados, sem qualquer benfeitoria. Além disso,
em 1956, o Serviço Geográfico do Exército efetuou minucioso
levantamento e confeccionou mapas denominados de “estado
maior” nos quais assinalam casa por casa nos distritos rurais.
No dito mapa, a restinga entre a Lagoa da Conceição e a Praia
de Moçambique é indicada como “dunas e alagados”, salvo o
trecho ocupado pelo único posseiro mencionado.
3.5 A exploração de água potável do
subsolo do Parque do Rio Vermelho
Depois de termos visitado o Serviço de Abastecimento
de Água de Amsterdã, aquilatamos que no subsolo da restinga
do Rio Vermelho deve existir enorme aquífero de água potável,
com o potencial de muitas dezenas de milhões de metros
cúbicos, renovado constantemente pelas abundantes chuvas
que temos nesta região.
Até um período relativamente recente, Amsterdã e áreas
contíguas obtinham a água potável de um aquífero situado nas
5 Entre 1976 e 1983, houve várias ações movidas pela Procuradoria Geral do Estado de Santa
Catarina que culminaram da reversão de tal investida e outras semelhantes (Rufino, G. 1983,
apud Ferreira, 2010). 6 O atual “Beco dos Coroas” era uma via de acesso à atual Estação de
Larvicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, área do parque, invadida, desocupada e
76 O Parque do Rio Vermelho
dunas ao longo do Mar do Norte (ver tópico abaixo “A exploração
de água potável do subsolo de dunas”). Ali, a água doce atinge a
profundidade de 60 metros abaixo do nível do mar. Em condições
especiais, como em dunas, água doce não se mistura com água
salgada. A Praia dos Ingleses e Canasvieiras obtêm sua água de
aquíferos como o que acabamos de relatar e, segundo soubemos,
a CASAN realizará sondagens na restinga do Rio Vermelho.
Como se constata, o parque poderá ter, um dia, outra
importante função: garantir o abastecimento de água potável
necessária para uma população cujo número cresce aceleradamente.
A exploração de água potável
Por Giorgini A. Venturieri
A presença de água nas dunas deve-se a um
fenômeno físico. A água doce tem um peso específico
menor que o da água salgada, ou seja, pode flutuar
sobre ela. A água doce das chuvas, por centenas de anos,
progressivamente expulsa a água salgada de seu local
original. Em razão da altura das dunas, um aquífero é
formado, como uma espécie de “bolha” gigante de água
doce, podendo atingir profundidades muito grandes. A
água doce e a salgada não se misturam por completo
devido a interações físicas que ocorrem no solo.
Na Holanda, um país onde a água, embora seja
abundante, é salinizada ou poluída pela descarga de
efluentes, a captação de água das dunas é extremamente
importante e vem sendo explorada comercialmente
desde 1853. Por causa da exploração de tal recurso,
hoje o sistema recebe um reforço de alimentação
de água doce captado do Rio Reno. Atualmente, as
companhias de fornecimento de água são proprietárias
de cerca de 20% da área de dunas (Figura 3g, pág. 84).
3.6 Uma floresta de preservação foi
submetida à exploração predatória
No governo de Esperidião Amin, o secretário Vilson
Kleinubing entregou a administração do parque à CIDASC
– Companhia Integrada para o Desenvolvimento Agrícola
de Santa Catarina. Mal a CIDASC tomou posse do parque,
contratou a empresa Resiprates para efetuar a resinagem de
150 mil pinheiros.
Em um relatório datado de 30 de janeiro de 1986,
anexado à ação popular7 movida contra os ex-diretores da
CIDASC, para pôr fim à resinagem comercial da floresta do
parque, é mencionado que “as árvores marcadas não foram
resinadas e que as não marcadas foram as resinadas” e “que
indenizada e reocupada pelos mesmos invasores com a conivência de políticos (Ernesto Tremel
– comunicação pessoal). Ver Figura 3h, pág 85. (N.E.) 7 Ação Popular encabeçada por Henrique
Berenhauser encaminhada à Primeira Vara dos Feitos da Fazenda Pública e Acidentes do Trabalho
da Comarca da Capital, processo n. 30/87.
Chapter 3
which was to be transferred to a real estate firm. This transaction
was never completed because of the threat of a citizen suit6.
3.4 Undue compensations
Sixteen years after the Park was established, a veterinarian
from the Agriculture Secretary entered a suit against the state.
He alleged having been the owner of a farm in the Park that
comprised 3 million square meters, and he claimed to have
been evicted, together with 200 neighboring leaseholders,
soon after the 1964 revolution. He further claimed that the
buildings and fences had been demolished. The undocumented
violence was allegedly enacted by policemen and inmates who
worked for the Park. These scandalous and unthinkable events
allegedly occurred at the state capital, a mere 20 km from the
governmental palace, under complete silence, and without
awakening a single public protest.
Because the prosecutor’s office neglected the state
defense, the judge was compelled to act according to the
available testimony. The judge condemned the state to pay
more than CR$ 50 million as compensation for what was
nothing but a vast and fraudulent conspiracy. A defense that
produced the photographs from the aerial photogrammetric
survey in 1957 would have sufficed; the photographs clearly
show that there was only one resident in the Park, and the
remainder of the land was comprised of dunes and flooded
areas that had not been improved. In addition to this, in 1956,
the Army Geographic Service conducted a thorough survey
and drafted a set of general staff maps; every house in the
rural area was represented. With the exception of the area that
was occupied by the single leaseholder, the restinga between
Lagoa da Conceição and Praia do Moçambique was indicated
as “dunes and flooded land”.
3.5 Exploitation of underground
drinking water in the Park
After we visited the Water Supply Service in Amsterdam,
we suspected that the subsoil of the restinga at Rio Vermelho
contained a huge drinkable water aquifer of several million
square meters that was being continually renewed by the
abundant rainfall in the area.
Until quite recently, Amsterdam and the neighboring areas
were supplied with drinking water from an aquifer that was
located in the dunes that bordered the North Sea (see next item
“Exploitation of drinking water from the subsoil of dunes”). At
that location, freshwater reaches a depth of 60 m below sea level.
Under special conditions, such as in areas with dunes, freshwater
does not mix with seawater. Ingleses Beach and Canasvieiras
are supplied by aquifer water that is similar to the water in
6 Present-day “Beco dos Coroas” was an access point to the Larviculture Station at the Federal University
of Santa Catarina. This Park area was invaded, evicted, compensated for, and reoccupied by the same
invaders who were in connivance with politicians (Ernesto Tremel, personal communication) (see Figure
3h, page 85). 7 Civil suit headed by Henry Berenhauser referred to the Court of the Public Treasury and
77 Rio Vermelho Park
Amsterdam, and as far as we know, the Water and Sanitation
Company will probe the restinga at Rio Vermelho. The Park may
play another important role in the future by providing the supply
of drinking water for an ever-increasing population.
Exploitation of drinking water
By Giorgini A. Venturieri
The presence of water in dunes is caused by a
physical phenomenon. The specific weight of freshwater
is lighter than that of seawater; thus, freshwater
can float over seawater. Over the course of many
centuries, the freshwater that is supplied by the rain
progressively displaces the seawater from its original
location. Because of the height of dunes, an aquifer
forms as a giant “bubble” of freshwater that can reach
great depths. Physical interactions in the soil prevent
the freshwater and seawater from completely mixing.
In Holland, a country where water is abundant (albeit
salinated or polluted by effluents), the extraction of
water from dunes has paramount importance and has
been the subject of commercial exploitation since 1853.
Because of the exploitation of this resource, the system
is fed by additional freshwater from the Rhine River.
Today, the water supply companies own approximately
20% of the area with dunes. (Figure 3g, page 84).
3.6 a forest for protection was
subjectedtopredatoryexploitation
During the government of Esperidião Amin, Secretary
Vilson Kleinubing entrusted the Park administration with the
Integrated Company for Agricultural Development of Santa
Catarina (CIDASC). Immediately after CIDASC took office,
it hired the company Resiprates to subject 150,000 pine trees
to resin extraction.
On January 30, 1986, a report that was appended to the
civil suit7 against the former directors of CIDASC to end the
commercial resin extraction from the Park forest noted that
“the designated trees were not subjected to resin extraction,
whereas the non-designated ones were”. The report also noted
that “the follow-up and surveillance were inadequate”. As the
CIDASC directors admitted, Resiprates caused irreparable
damage to the Park. The Park’s forest lost many of its best trees,
thus “compromising the existence of the full reforestation”.
The resin extraction was performed in a brutal manner.
Two-thirds of the bark and sapwood were removed from the
circumference of the trunks, which stopped the circulation of
Labor Accident of the Capital District, process n. 30/87.
 capítulo 3
houve deficiência no acompanhamento e na fiscalização por forças externas, ocorrem de forma bastante
adequada”. Sem sombra de dúvida e conforme confessaram os previsível, ou seja, em direção ao acúmulo máximo
próprios diretores da CIDASC, a Resiprates causou ao parque de biomassa que o ecossistema é capaz de sustentar.
um prejuízo irreparável, já que sua floresta perdeu grande parte Atingido o clímax de uma floresta, a produção líquida
das melhores árvores, “comprometendo a existência de quase de biomassa incorporada se iguala à do consumo, ou
todo o reflorestamento”. seja, a de respiração. Nesse estádio, a floresta apenas
Essa resinagem foi executada de maneira brutal, se renova em forma de “mosaicos” provocados pela
com a remoção da casca e do alburno em duas terças partes morte e queda de uma ou várias árvores que provocam
da circunferência dos troncos e, em vista disso, cessou a clareiras, onde são retomados os ciclos em direção ao
circulação da seiva na parte resinada, comprometendo, restabelecimento do clímax, que persiste até que seja
irremediavelmente, a vida das árvores. Não houve apenas afetado por alguma grande perturbação.
“deficiência no acompanhamento e na fiscalização adequada Sem dúvida, o fator mais relevante que determina
da resinagem”, há ainda dúvidas sobre a lisura do contrato o porte e a composição de espécies de uma floresta é
firmado pela CIDASC com a Resiprates. De acordo com o clima, já que, na maioria dos casos, o solo pode ser
declaração do professor Adonis Zimmermann, da Uniplac e modificado por comunidades vivas, que acabam por
Fearpe, de Lages, “a resinagem de uma floresta com 200 mil propiciar uma infinidade de alternativas biológicas
P. elllottii assegura rendimento anual de CZ$ 1.200.000 (um para culminar na sustentação de uma floresta. Existem
milhão e duzentos mil cruzados8)”. De acordo com os dados do florestas frondosas sobre solos paupérrimos, como
professor Zimmermann, a CIDASC deveria ter recebido vários as de campinarana na Amazônia, estabelecidas sobre
milhões de cruzados durante os três anos em que permitiu que a areia quartzosa, uma espécie de areia branca similar
Resiprates devastasse o parque. Na realidade, e como consta da à das dunas, mas coberta por uma liteira espessa
ação popular, ela recebeu apenas 44 mil cruzados, uma fração que origina abundante húmus, onde vivem animais
do que o Estado deveria ter recebido. e micro-organismos que, ao decomporem a matéria
Esses fatos foram comunicados ao governador Esperidião orgânica, liberam nutrientes que são prontamente
Amim, mas a resinagem somente foi suspensa depois de muito reabsorvidos pelo grande número de raízes existentes,
insistirmos. Não foi instaurado inquérito administrativo, nem que sustentam florestas exuberantes, porque o clima
foi proposta uma ação para compelir a Resiprates a indenizar assim o possibilita.
os prejuízos causados ao parque. O clima do Parque do Rio Vermelho é quente
no verão e temperado no inverno, com um período
Clima, florestas e seres humanos
em que, embora as chuvas sejam escassas, a umidade
do ar se mantém alta durante todo o ano, pela chuva,
pela brisa úmida que sopra do mar acrescida de
Por Giorgini A. Venturieri gotículas levantadas pela arrebentação das ondas.
Essas condições favoreceriam a formação de florestas
Uma comunidade de plantas é considerada clímax exuberantes e altas, mas existem outros fatores,
quando atinge o seu máximo de desenvolvimento. Tal máximo microclimáticos, que em certos locais a limitam.
é um ponto relativo que pode estar sendo regulado por A área do Parque do Rio Vermelho possui três
fatores externos naturais, como o clima e o solo, ou artificiais, fatores que moldam o seu potencial para a formação
como a intervenção humana na forma de agricultura ou de florestas. O vento, a salinização e a disponibilidade
desencadeamento do fogo sem propósito algum. de matéria orgânica. O vento é mais intenso na região
As florestas são as comunidades de plantas que das dunas, a parte que fica mais próxima à praia, e é a
mais acumulam biomassa. Para atingir tal estado, área que apresenta as condições mais desfavoráveis ao
ocorrem sucessões de espécies e de comunidades, desenvolvimento de florestas devido à ação intensa do
que promovem modificações microclimáticas e de vento, que, junto com a areia, tem um efeito abrasivo
sustentação de alimentos, que facilitam a entrada de que corrói as plantas, pulveriza a matéria orgânica e
outras espécies, formando ciclos. Os ciclos não são movimenta o solo. Falta ali a matéria orgânica. Além
estanques entre si porque existe interação do antecessor disso, a drenagem ou a evaporação da água pluvial
com o novo que então se estabelece. é muito rápida e há salinização do solo provocada
O clímax de uma floresta é atingido após uma pela água do mar. Como consequência, as dunas não
sucessão de ciclos que, quando não são interrompidos apresentam grande variedade de espécies de plantas,
8 O crescimento da inflação, a partir de 1980, foi a causa da mudança da moeda Cruzeiro para
Cruzado. Um cruzado equivalia a mil cruzeiros, e isto foi feito para diminuir o número de algarismos
nas transações bancárias. O Cruzado foi adotado como moeda de 1986 a 1989.
78 O Parque do Rio Vermelho
Chapter 3
the sap in the parts where the resin had been extracted. The lives
of many trees were irremediably affected. Indeed, the “follow-
up and surveillance of resin extraction were inadequate”, but
additionally, doubts remain about the fairness of the contract
between CIDASC and Resiprates. According to a statement by
Professor Adonis Zimmermann from the University of Santa
Catarina-Plateau and the Educational Foundation in the upper
valley of Rio do Peixe at Lages, “resin extraction in a forest
comprising 200,000 P. elliotii trees results in an annual income
of CZ$ 1,200,0008”. According to Professor Zimmermann’s
data, CIDASC should have earned several million cruzados
over the three years that it allowed Resiprates to devastate the
Park. However, as the civil suit informs, CIDASC only earned
44,000 cruzados – a mere fraction of what the state was due.
These facts were communicated to Governor Esperidião
Amin, but resin extraction was only discontinued after
much insistence by the Park. No administrative inquiry was
established, and no action was suggested to compel Resiprates
to compensate for the damage it caused to the Park.
Climate, forests, and humans
By Giorgini A. Venturieri
A community of plants is classified as climax when it
reached its maximal development. The maximum is a relative
measure that depends on external natural factors, such
as climate and soil, and artificial external factors, such as
agricultural human interventions and human-induced fires.
Forests are the plant communities that
accumulate the most biomass. To reach such a stage,
successions of species and communities occur and
promote alterations in the microclimate and food
supply; these changes originate cycles and facilitate
the introduction of other species. The cycles are not
isolated from each other; rather, there is an interaction
between the predecessor and its successor.
The climax of a forest is reached after a
succession of cycles that, provided they are not
interrupted by some external process, occur in a
predictable manner. That is, climax is achieved when
an ecosystem’s maximal accumulation of biomass is
nearly achieved. Once a forest climax is reached, the
net production of incorporated biomass becomes equal
to the net consumption of biomass, such as through
respiration. At this stage, the forest is only renewed
by the “mosaics” that are caused by the falling of one
or more trees that create clearings. In the clearings,
the cycles that are directed toward reestablishing
8 Increasing inflation after 1980 caused the shift from Cruzeiros to Cruzados as the national currency.
One cruzado corresponded to 1,000 cruzeiros; this change was made to reduce the numerals in bank
transactions. The Cruzado was the national currency between 1986 and 1989.
79 Rio Vermelho Park
the climax begin again and continue until a major
perturbation occurs.
Doubtlessly, the climate is the most important
factor for the size and species composition of any forest.
In general, the soil may only be modified by the living
community that eventually favors the development of
countless biological alternatives that can maintain the
forest. Some leafy forests develop on extremely poor
soils, such as the soils in the Amazonian campinarana
that are made of a quartz-rich sand, which is a white
sand that is similar to dune sand but is covered by a thick
litter layer that forms abundant humus; decomposition
releases nutrients and is affected by the animals and
microorganisms that reside in the forest. The nutrients
are immediately reabsorbed by the large number of
roots. This reabsorption process supports lush forests.
The climate at Rio Vermelho Park is warm
during the summer and temperate during the winter.
While there is a period of scarce rainfall, the humidity
is high throughout the year because of the rain and
the humid breeze that blows from the ocean, to which
the sea spray is further added. Such conditions favor
the formation of lush and tall forests; however, other
microclimatic factors limit this process in some areas.
Three factors determine the forest-forming
potential of Rio Vermelho Park: winds, salinization,
and the availability of organic matter. Winds are
stronger in the area with dunes, which include the
areas that are closest to the beach and the areas
that exhibiting the least favorable conditions for the
development of forests. The strong action of the wind
on the sand has an abrasive effect that corrodes the
plants, which reduces the organic matter to powder
and makes the soil move. Organic matter is limited in
this area. In addition, drainage or the evaporation of
rainwater occurs quickly, so the soil becomes salinized
by the seawater. Consequently, the dunes do not exhibit
a large variety of plant species, and the dunes only
include species that are specially adapted to the local
conditions. Furthermore, the specially adapted species
only grow in the areas where the superficial layers are
not overheated. Deeper in the hillsides of the dunes
where the wind and the salt from the sea spray are
limited, there is more organic matter and freshwater
available. These areas favor the appearance of more
exigent plants that contain more biomass. In these
areas, the restinga can appear.
In the restingas, the soil relief is flat; lakes and
meandering rivers appear. As one continues into the
forest, the species become larger until there are true
 capítulo 3
aparecendo apenas as que possuem adaptações especiais
ao local e em zonas que não há superaquecimento das
camadas superficiais. Adentrando um pouco mais, nas
encostas das dunas, onde o vento e o sal trazido pelas
gotículas levantadas pela arrebentação das ondas são
diminuídos, há um aumento de matéria orgânica e de
água doce, favorecendo então o aparecimento de plantas
mais exigentes, e com mais biomassa, culminando com
o aparecimento de outro tipo de vegetação, a restinga.
Nas restingas, o relevo é plano e aparecem lagos,
rios lentos e tortuosos. Conforme se caminha para
o seu interior, as espécies vão adquirindo um porte
maior, chegando a formar verdadeiras florestas, mas
sem árvores gigantescas, como a canela-preta (Ocotea
catharinensis Mez) encontrada um pouco mais adentro
nas florestas tropicais umbrófilas, nos morros, onde o
solo é mais argiloso. Os solos das dunas e restingas
são muito pobres em termos de nutrientes químicos
para as plantas, e foram formados pela areia do mar
exposta quando houve o recuo no nível dos oceanos no
período Quaternário.
Uma vez que o clima, na sua concepção
abrangente, no Parque do Rio Vermelho é favorável
à formação de florestas, fica agora compreensível as
estratégias usadas por Henrique Berenhauser para
formar rapidamente uma floresta onde hoje fica o
parque. Ele usou plantas capazes de formar alta
biomassa, resistir à ação intensa e abrasiva dos ventos
e crescer em condições salinas. Após uma seleção
empírica, mas criteriosa, avaliou espécies potenciais,
coletadas no próprio parque e em várias partes do
mundo, sendo as que melhor serviram a tal propósito
foram: casuarina (Casuarina equisetifolia L.), capaz
de crescer até sobre as dunas e a poucos metros da
praia, e pinheiro do tipo Pinus elliotti. Essas espécies
são capazes de se associarem a fungos que ampliam a
zona de absorção de suas raízes e crescerem em solos
muito pobres. Ao crescerem, derramam folhas, galhos
e sementes de difícil decomposição que, por resistirem
mais ao desgaste, acumulam-se e retêm umidade por
mais tempo, desencadeando o início de um ciclo de
colonização de novas espécies, formação de solo,
até a formação de uma nova floresta. O uso dessas
espécies diminuiu a força do vento marinho sobre os
remanescentes da floresta de restinga, ainda nativa,
antes exposta à degradação pelo uso do fogo e do gado.
Entre as organizações não governamentais –
ONGs, ligadas ao parque, órgãos ambientais, como a
9 Aspas de Georgia G. Berenhauser e o padre Júlio Queiroz 10 Tem sido grande a agressividade do
Estado para se apropriar da área do Parque para dar-lhe destino privado. No governo de Espiridião
Amim, o Parque foi transferido para a SC Parcerias (decreto n. 4.273, de 28 de abril de 2006),
órgão do governo com a atribuição de promover parcerias com a iniciativa privada. Segundo
noticiário local, já havia um grupo de investidores europeus interessado em construir ali um
complexo hoteleiro. Após pressão de entidades ambientalistas e políticos, o decreto supracitado
80 O Parque do Rio Vermelho
atual administradora do parque, a Fundação do Meio
Ambiente – FATMA (FATMA, 2009), e professores
da UFSC (Ferreira, 2010), existe a determinação de
promover a “retirada total dos pinus e eucaliptos”
por considerá-los como “espécies contaminantes”,
“invasoras” e “responsáveis pela supressão da vegetação
nativa”. Diante do exposto até então, espera-se que se
tenha a compreensão da razão do uso dessas espécies e
a sua importância atual na proteção dos remanescentes
revestimentos florísticos autóctones, na fixação das
dunas, na geração de biomassa necessária à colonização
de outras espécies e, mais recentemente, como zona
amortecedora de ventos extremos que, com maior
frequência, passaram a varrer as costas catarinenses.
Sem dúvida, se Henrique Berenhauser não
tivesse feito o plantio de pinus e de eucalipto, já não
teríamos a proteção e a expansão dos remanescentes
da vegetação original, nem a Lagoa da Conceição e o
Parque Florestal do Rio Vermelho, como os conhecemos
hoje. Plantar em solos de dunas não é uma tarefa fácil.
Quando dirigia o parque, Henrique Berenhauser foi
diversas vezes criticado por estar usando o pinus como
a principal espécie para revegetar as dunas, críticas
às quais sempre respondia assim: “Disponibilizo um
pedaço de terra aqui no parque para você vir plantar
o que achar que possa ser melhor do que o pinus”9.
Não se tem conhecimento de que o desafio tenha sido
assumido por alguém.
3.7 A falta de compreensão dos
nossos governantes pelas áreas
de lazer público
Nossos governantes não compreendem a necessidade da
existência de áreas públicas de lazer. Isso é uma constatação
simplesmente desanimadora. Observa-se uma multiplicidade
desses serviços na Europa, Austrália, Nova Zelândia, Estados
Unidos e em outros países, servindo a milhões de pessoas de
todas as idades, proporcionando contentamento e repouso, nas
melhores condições possíveis de higiene, e contribuindo para a
criação de um saudável espírito comunitário.
Entre nós, essa incompreensão foi mais uma vez retratada
por ato do governador Esperidião Amim, que, ao ceder um
considerável trecho do parque para o estabelecimento de um
grêmio recreativo particular10 11, ignorou a possibilidade de
urbanizar, para uso público, uma faixa de praia de excepcional
qualidade balneária, ao longo da qual há uma extensa campina
plana, com espaço para estacionamento de milhares de veículos.
foi revogado no fim daquele mesmo ano. 11 Na época em que Henrique Berenhauser era o diretor
do Parque, ele se opôs à cessão de uma área para a Associação de Eng. Agrônomos de SC (Acervo
H. Berenhauser – Biblioteca da UFSC, cartas datadas de 4/7/1974 – P3 env. 14 f. 15; e 24/12/1974
– P3 env. 14 f. 17). A cessão de áreas públicas para associações de funcionários do governo tem
sido um via eficiente para apropriação de terras da União e do Estado. Hoje no Parque tem-se a
Associação de Cabos e Soldados da Polícia e Bombeiros Militares de SC.
Chapter 3
forests, albeit without giant trees, such as Ocotea
catharinensis Mez, which is found deeper inside
tropical rainforests on hills where the soil contains
more clay. The soil of dunes and restingas is poor in
chemical nutrients, as it derives from sea sand that was
uncovered when the level of the oceans receded during
the Quaternary Period.
Because the climate at Rio Vermelho Park favors
the formation of forests, one may now understand the
strategies that were applied by Henrique Berenhauser
to quickly develop forests. He used plants that are able
to generate high biomass, resist the strong and abrasive
winds, and grow under high-saline conditions. After
performing a process of selection that was grounded
on empirical criteria, he assessed potential species that
had been harvested in the Park and in several other
parts of the world. He found that the best-suited species
for his purposes were the Australian pine (Casuarina
equisetifolia L.), which can grow on dunes that are a
few meters away from the beach, and Pinus elliottii.
These species associate with fungi that increase the
area of absorption of their roots, and they grow on
extremely poor soils. Over the course of their growth,
the trees drop their leaves, twigs, and seeds. The twigs
and seeds are difficult to decompose, as they resist
wear, accumulate, and retain moisture for longer
periods. Thus, the trees initiate a cycle of successive
colonization by different species and soil formations
until a new forest develops. The use of such species has
reduced the strength of the sea winds on the remnants
of native restinga forest that were formerly exposed to
degradation from fire and cattle.
Several NGOs that are associated with the
Park have joined the FATMA and professors at UFSC
(Carneiro, 2010) to promote the “total removal of pine
and eucalyptus trees”, as they rate these species as
“contaminant species” that are “invasive” and “guilty
of the extinction of native vegetation”. The reasons
that such species were used can be understood from
the previous arguments. Furthermore, it should now be
clear why the species are important for the park: they
protect the remaining autochthonous floristic coverage,
fixate the dunes, produce the biomass that is necessary
for the colonization by other species, and more recently,
they attenuate the extreme winds that increasingly blow
on the coastal areas of Santa Catarina.
If Henrique Berenhauser had not planted pine
and eucalyptus, there is no doubt that remnants of the
9 Narratives by Georgia G. Berenhauser and priest Júlio Queiroz. 10 The state acted aggressively to
transform an area of the Park for private purposes. During the administration of Espiridião Amin,
the Park was transferred to Santa Catarina Partnerships (decree nº 4,273 on April 28, 2006), a
governmental agency that was entrusted with the mission of promoting partnerships with private
companies. The local news agency reported that a group of European investors was interested in
building a hotel complex there. However, pressure was exerted by environmental institutions and
81 Rio Vermelho Park
original vegetation would no longer be protected and
would no longer expand, and Lagoa da Conceição and
Rio Vermelho Forest Park would not look like they
do today. Planting on dune soil is no easy task. While
Henrique Berenhauser was the Park director, he was often
criticized for using pine as the main species to revegetate
the dunes. To such criticism, he always answered “I’m
making a piece of land here, at the Park, available for
you to come and plant whatever you think is better than
pine”9. That challenge was seemingly not met.
3.7 Lack of understanding by our
government regarding public
leisure areas
Our government does not understand the need for public
leisure areas. This conclusion is discouraging. A multitude of
public leisure areas can be found in Europe, Australia, New
Zealand, the United States, and other countries, and they serve
people of all ages by providing satisfaction and rest under
the best hygienic conditions possible. Public leisure areas
contribute to the development of a healthy community spirit.
A lack of understanding about the value of public leisure
areas was once again reflected by the actions of Governor
Esperidião Amin. Governor Amin allocated a significant
area of the Park to a particular recreational society10 11, and
he ignored the possibility of urbanizing, for public use, a
strip of beach with extraordinary quality for swimming and
a wide flat prairie that could provide parking for thousands
of vehicles. The lack of sanitary installations on our beaches
amounts to a true public health problem. Without sanitation
services, any part of a beach is used by visitors to perform their
physiological functions. In the case of Praia do Moçambique
and its natural parking, a small user fee would suffice to ensure
the conservation and hygiene of the sanitary installations. An
additional source of income could result from parking fees
and vendors.
3.8 The Larviculture Station
at Barra da lagoa
The establishment of Rio Vermelho Park afforded
physical room for the island’s modern Larviculture Station at
Barra da Lagoa, which was founded and directed by UFSC
(Figure 3h, page 85). The term “station” does not accurately
describe the nature of the available facilities, which actually
include a sophisticated laboratory where modern technology is
applied to the production of tiny shrimp larvae. The larvae that
politicians, and the decree was revoked by the end of the year. 11 When Henrique Berenhauser
was the Park director, he opposed an initiative to transfer an area to the Association of Agronomy
Engineers of Santa Catarina (H. Berenhauser Collection,UFSC library, letters dated July 4, 1974, P3
env. 14 f. 15, and December 24, 1974, P3 env. 14 f. 17). The transfer of public areas to associations
of civil servants functioned as an efficient way to misappropriate national and state land. Currently,
there is an Association of Police Corporals and Soldiers and Military Firemen of Santa Catarina.
 capítulo 3
Em nossas praias, a falta de instalações sanitárias
para seus frequentadores chega a ser um problema de saúde
pública. Sem essas facilidades, qualquer parte das praias
é usada para necessidades fisiológicas. No caso da Praia de
Moçambique, com o seu estacionamento natural, bastaria
cobrar uma taxa moderada pelos carros de banhistas para se
garantir a conservação e a higiene das instalações sanitárias.
Outra fonte de receita poderia vir da cobrança de taxas para
o estacionamento de trailers fornecedores de refrescos e
alimentos leves.
3.8 A Estação de Larvicultura
da Barra da Lagoa
Graças à existência do Parque do Rio Vermelho, houve
espaço físico para nossa ilha dispor da moderna Estação de
Larvicultura da Barra da Lagoa. Essa estação foi implantada e
dirigida pela UFSC (Figura 3h, pág. 85). A denominação de
“Estação” não condiz bem com as instalações ali existentes
que, realmente, são as de um sofisticado laboratório onde é
utilizada moderna tecnologia para a produção das minúsculas
“larvas” de camarão. As larvas de camarão que a estação
produz são do tipo rosa-do-atlântico12, tido como um dos
melhores de todas as partes.
A estação resume-se à produção das larvas, que são
vendidas para criadores. Estes constroem grandes açudes, ou
lagoas, onde, mediante alimentação adequada, conseguem
criar camarões adultos em apenas seis meses. Isso é uma
grande esperança para os apreciadores desse delicioso
crustáceo, porque a pesca predatória e a poluição das baías,
dos estuários e das lagoas estão levando ao extermínio ou à
diminuição desse alimento.
A implantação da estação exigiu consideráveis
investimentos, recursos que foram fornecidos pelo BIRD
(Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) e
pelo Fundo de Pesquisa do Banco do Brasil. Além do alto custo
do laboratório, a criação exige também um grande volume de
água do mar livre de poluição. Foram colher esse indispensável
elemento na Praia de Moçambique, ainda nos limites do Parque,
de onde é levada para o laboratório por uma adutora.
Um dos aspectos mais complexos dessa criação é a
preparação dos alimentos para as larvas, as quais, na primeira
fase, alimentam-se de uma solução de algas criadas em
laboratório e diluídas em solução adequada em grandes tanques
transparentes de fibra de vidro, para poder se desenvolver com
o auxílio da luz. Na segunda fase do crescimento, as larvas
tornam-se carnívoras e lhes é servido um minúsculo ser13,
também produzido em laboratório. O criatório é instalado no
segundo pavimento, onde também são mantidos em tanques
especiais os machos e as fêmeas destinados à reprodução.
12 Também conhecido como camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis).13 A alimentação das
larvas de camarão no seu primeiro estágio (assim como de todos os crustáceos, chamadas de
náuplios) era feita com microalgas. Nos estágios seguintes (misis e PI) passavam a ser alimentadas
com náuplios do crustáceo Artemia salina. A Artemia salina entra também na composição da
82 O Parque do Rio Vermelho
Quando prontos para a reprodução, eles são levados para um
tanque especial, a fim de desovarem as larvas. Esse trabalho
de reprodução leva dois meses. Depois de terem produzido
continuamente lotes de 500 larvas, as fêmeas são descartadas.
No momento, a estação produz 1 milhão de larvas mensalmente.
Em breve, deverá aumentar esse número para 2 milhões. A
estação é autossuficiente porque as larvas são vendidas, como
não poderia deixar de ser, dado ao elevado custo de produção.
A operação exige mão de obra de alta qualificação,
trabalhando 24 horas por dia em semanas de sete dias. O
coordenador da estação, prof. Edemar Roberto Andreatta,
passa mais tempo na estação do que em seu lar. É um raro
exemplo de dedicação, sem a qual o projeto não funcionaria.
Ao lado da Estação de Larvicultura, podem ser vistas as
extensas instalações, os numerosos prédios e os gigantescos
tanques construídos pela ACARPESC14 para a aquacultura,
mas que não mais funcionam e estão abandonados, com os
prédios a caminho da ruína.
ração usada nas fases de desenvolvimento posteriores (comunicação pessoal do prof. Edemar
Roberto Andreatta). 14 Extinto órgão de fomento à pesca de SC, e um dos que foram mobilizados
para a formação, em 1990, da atual Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina S.A. (EPAGRI). As instalações mencionadas permanecem abandonadas.
Chapter 3
are produced at the station are from São Paulo shrimp12, which
are rated as some of the world’s best shrimp. The station is
restricted to the production of larvae, which are sold to breeders
who build large weirs, or ponds, to grow adult shrimp in just six
months with the appropriate food. This provides hope to people
who appreciate this delicious crustacean, as predatory fishing
and the pollution of bays, estuaries, and ponds are causing its
reduction and may eventually lead to its extinction in the wild.
The establishment of the station required heavy
investment; the necessary resources were supplied by the
International Bank for Reconstruction and Development
(IBRD) and the Research Fund of the Bank of Brazil. In
addition to the high cost of the laboratory, raising the larvae
requires a large volume of clean seawater, which is collected
in the Park boundaries at Praia do Moçambique and carried to
the laboratory with an adductor.
One of the most complex aspects of raising larvae is the
preparation of their food. During their earliest stage of life, the
larvae feed on a solution of laboratory-grown algae that are
diluted to the appropriate level in large fiberglass tanks that are
transparent so that light can speed their development.
During the second stage of growth, the larvae become
carnivorous and are fed a microscopic organism13 that is also
produced in the laboratory. The breeding tank is located on
the second floor. The males and females that are allocated
for reproduction are kept in special tanks. When they are
ready to reproduce, the shrimp are moved to a special tank
for spawning. The preparation for breeding takes two months.
After the continuous production of batches of 500 larvae, the
females are discarded. The station currently produces one
million larvae per month, and this number will soon double.
The station is self-sufficient, as the larvae are sold to cover the
high cost of production.
This operation requires highly skilled laborers working
24 hours per day and 7 days per week. The station coordinator,
Professor Edemar Roberto Andreatta, spends more time at the
station than at his own home. He is a rare example of a person
who has the necessary devotion for this project to succeed.
Next to the station, the Association for Rural Credit and
Assistance of Santa Catarina14 built extensive facilities with
many buildings and huge tanks for aquaculture, but these
facilities are no longer in operation and have been abandoned.
The buildings are becoming ruins.
12 Also known as pink shrimp (Farfantepenaeus paulensis). 13 The shrimp larvae are fed microalgae and Cattle Breeding Research and Rural Extension of Santa Catarina (Empresa de Pesquisa Agropecuária e
during their first stage of development (as all nauplius crustaceans), and they are fed nauplii of the Extensão Rural de Santa Catarina S.A.). The abovementioned facilities remain abandoned.
crustacean Artemia salina during the following stages (misis and PI). Artemis salina is also a component
of the feed that is used during the later stages (Prof. Edemar Roberto Andreatta, personal communication).
14 ACARPESC (Associação de Crédito Rural de Santa Catarina) was an agency that supported fishing in
Santa Catarina. In 1990, ACARPESC joined with other institutions to create the Company for Agricultural
83 Rio Vermelho Park
 capítulo 3 Chapter 3

Figura 3a Pinheiro-americano.
3d Árvore isolada

Figura 3b Pinheiro-americano.
Ramo com inflorescência feminina

Figura 3c Pinheiro-americano.
Ramo com inflorescência
masculina

Figura 3d Pinheiro-americano.
Tronco de uma árvore chamuscada
pelo fogo, porém ainda viva
3c
Figura 3e Pinheiro-americano.
Laminado da madeira

Figura 3f Nos solos turfosos,

onde a liteira é espessa, o fogo
permanece por dias a fio, e a
destruição das árvores é total

Figura 3g Vista aérea de um

sistema de captação de água
potável de dunas da Prefeitura
Municipal de Amsterdã, em
Zandvoort, Holanda

Figura 3h Vista aérea da atual

Estação de Larvicultura da
Universidade Federal de Santa
Catarina. A estrada ao fundo foi
aberta para dar acesso à estação.
Hoje o “Beco dos Coroas” (foto
tirada em junho de 1977) (N.E.)

3a 3b 3e
Figure 3a Slash pine. Isolated tree
3f 3h
Figure 3b Slash pine. Branch with
female inflorescence
3g Figure 3c Slash pine. Branch with
male inflorescence

Figure 3d Slash pine. Trunk

of a living tree that was burned
by a fire

Figure 3e Slash pine laminate.

Figure 3f In peaty soils where

the litter is thick, fires may last
for many days, and the trees may
be fully destroyed

Figure 3g Aerial view of a system

for extracting drinking water from
dunes, which was established
in Zandvoort, Holland by the
Amsterdam municipal government

Figure 3h Aerial view of the current

Larviculture Station of the Federal
University of Santa Catarina. The
road in the background was built
to provide access to the station.
The present-day “Beco dos
Coroas” (photograph taken in
June of 1977) (E.N.)

84 O Parque do Rio Vermelho 85 Rio Vermelho Park

 capítulo 4 Chapter 4

86 O Parque do Rio Vermelho 87 Rio Vermelho Park


Capítulo 4
Consideracões Finais1
Chapter 4: Final remarks1
1 Para este capítulo, foi acrescentado trecho de carta de Henrique
Berenhauser (P2 ENV19 FL10 de 11/2/1974) existente no Acervo
Henrique Berenhauser, depositado na Biblioteca da UFSC.
Foram omitidos trechos de exacerbado desabafo, que, embora
inadequados para uma obra póstuma, refletiam bem a indignação
do autor frente à inércia dos gestores públicos para com as
florestas do Parque.
Figura 4a Golden Gate Park em São Francisco, Califórnia (EUA).
Modelo desenhado por Henrique Berenhauser para o Parque do
Rio Vermelho em Florianópolis - SC
4a
Chapter 4
1 In this chapter, a fragment of a letter from Henrique Berenhauser was
added (P2 ENV19 FL10 from February 11, 1974). The letter is conserved
in the Henrique Berenhauser Collection at the UFSC library. Fragments
that express an exacerbated degree of catharsis were omitted because
they were inappropriate for a posthumous work. However, these sections
represent an accurate reflection of the author’s indignation for the inertia
that was manifested by the public authorities regarding the Park forests.
Figure 4a Golden Gate Park at San Francisco, California (EUA).
A model desired by Henrique Berenhauser to the Red River Park at
Florianópolis - SC
89 Rio Vermelho Park
 capítulo 4
4.1 Considerações Finais
A Associação Rural de Florianópolis condicionou a aceitação
da missão de dirigir a implantação do Parque do Rio Vermelho à
decretação da inalienabilidade da área destinada ao projeto, no que foi
atendida (Dec. 2.006/62). No decreto 163/63 o governo reforçou esse
estatuto, acrescentando: “Fica estabelecido que os cortes das árvores
serão conduzidos de forma a não prejudicar a finalidade proposta”.
A Secretaria de Agricultura não cumpriu nenhuma das
determinações dos decretos citados e, durante 12 anos, deixou
a floresta entregue à própria sorte, sem lhe proporcionar tratos
culturais (desbastes), e não reagiu contra esbulhos e invasões, como
era permitido pelo Código Civil. Quando se decidiu por alguma
ação, não foi para fazer o desbaste das árvores de menor porte e
defeituosas, mas para perpetrar o absurdo, incompatível para uma
floresta de proteção ambiental, e a resinagem de 150 mil pinheiros,
apenas de árvores de maior porte, em trechos maciços de árvores
raras. Isso resultou na total desfiguração da floresta e em um prejuízo
irreparável. Requer-se muito pouco conhecimento de genética para
compreender que, quando são retiradas as melhores árvores, as que
sobram pouco podem contribuir com sementes e com o padrão das
árvores sacrificadas.
O Parque do Rio Vermelho parece estar fadado a ser aniquilado
pela Secretaria de Agricultura. Essa violência pode ser interpretada
como um desdém de seus técnicos, por jamais terem realizado obra
dessa magnitude. Mas por que precisariam destruir a floresta?
Atualmente, mudado o governo, para continuar explorando
financeiramente a floresta tida como de proteção ambiental, estão
vendendo madeira por preço vil, sob a alegação de que a floresta
necessita de aceiros adicionais para prevenir incêndios. Em verdade,
estão cortando muitas árvores, sempre em trechos que possuem
madeira comerciável. Nos reflorestamentos econômicos do interior
do Estado, os maciços têm entre 50 a 150 hectares, mas o Parque
precisaria ser retalhado em diminutos talhões de pouco mais de dois
hectares? É um fato incontestável que, apesar dos inúmeros incêndios
ocorridos, a floresta sempre se recuperou dos estragos sofridos1.
A finalidade do Parque foi totalmente desvirtuada. A lei que o
criou estabeleceu que a floresta se destinasse à preservação do meio
ambiente, ao embelezamento da ilha e à recreação da população, sem
privilégios de qualquer natureza2. É realmente o máximo que pode
ser “extraído” de uma área inóspita, de solo estéril, castigada durante
a maior parte do ano por ventos fortes carregados de salinidade.
Porém, a Secretaria de Agricultura classifica como “reserva florestal”
essa floresta implantada com tanto sacrifício. Assim, justifica-se
para poder colher receita, utilizando-se de métodos predatórios de
exploração, sem se incomodar com os atos vandálicos que acabarão
destruindo a beleza do empreendimento.
O parque é de tão grande importância para a comunidade
e para o crescente número de visitantes da Ilha de Santa Catarina
que, mesmo que medidas de monta devessem ser tomadas para a
conservação desse patrimônio, ainda assim valeria a pena. Entretanto,
1 O autor aqui se refere ao plano de controle de incêndios encomendado a uma empresa de consultoria, que propunha o
desmatamento para a implantação de inúmeros de aceiros (documento original depositado no Acervo H. Berenhauser da
Biblioteca Central da UFSC). 2 Henrique Berenhauser pensava em transformar o parque em uma grande área de lazer
para a população e se espelhava no exemplo do Golden Gate Park. Ver tópico “Exemplo internacional de parque florestal”.
86 O Parque do Rio Vermelho
as medidas essenciais para a continuidade da sua existência são mais
de caráter administrativo e legal do que financeiro.
O mais problemático será conseguir resguardar 9.500 metros
de linda praia da ganância dos especuladores. Com o passar do tempo,
espero que a população reconheça o valor do que foi feito para o seu bem-
estar e que reaja a qualquer medida que venha diminuir a área do Parque.
Exemplo internacional
de parque florestal
Por Giorgini A. Venturieri
Henrique Berenhauser viajou por várias partes do
mundo (Ásia, Oriente, Europa Oriental e Ocidental, norte da
África, países andinos, Austrália, Oceania, América Central
e Estados Unidos), onde visitou vários parques florestais.
(Figura 4b, pág. 91). Tinha admiração especial pelo Golden
Gate Park, em São Francisco (Califórnia/EUA) (Figura 4a,
pág. 87 e 88)., com aproximadamente 411,6 hectares, que,
assim como o Parque do Rio Vermelho, foi construído sobre
dunas de areia, fortemente castigadas pelos ventos e antes
completamente desflorestadas.
Em 1870, quando a área do Golden Gate Park foi
escolhida, poucas pessoas foram ao seu favor por considerar
a tarefa de revegetar a área ao ponto de adaptá-la à formação
de um parque, um desafio difícil de ser vencido. A fixação das
dunas foi conseguida por um jovem engenheiro civil chamado
Wiliam H. Hall, o primeiro administrador daquele parque,
que, assim como Henrique Berenahuser, trabalhou com
recursos muito escassos.
À época, o parque era distante do centro da cidade de
São Francisco, hoje a 12ª maior cidade dos EUA, e por ele
é circundada. É considerado uma das obras humanas mais
importantes para a cidade de São Francisco. Possui museus
de ciência, museus de arte e de história natural, restaurantes
e lanchonetes, casa de vegetação para plantas ornamentais,
arboretouns, jardim botânico, jardins temáticos (com
azaleias, dálias, rosas, fúcsias, amoras de flor, magnólias,
tulipas, plantas dos romances de Shakespeare), trilhas, lagos,
estádio, playgrounds, planetário, animais soltos e áreas para
exposições. Abriga, ou é usado, por várias associações de
recreação (grupos de cavalgada, arco, beisebol, basquete,
ciclismo, passeio com cães, futebol americano, futebol, tênis,
vela, pesca, golfe, handebol, teatro, jogo de lançamento de
ferradura, peteca, corrida, bocha, nautimodelismo, banda
marcial) e grupos filantrópicos e de promoção social (mulheres
pioneiras da Califórnia, centro para terceira idade). O parque
hoje é um dos locais mais usados pelos moradores e visitantes
da cidade de São Francisco. (Figuras 4b e 4c, pág. 92).
Chapter 4
4.1 Final remarks The most difficult problem is how to protect 9,500 m of beautiful
The Rural Association of Florianópolis conditioned its acceptance beaches from the greed of speculators. In time, I hope that the population
to direct the establishment of Rio Vermelho Park on the decreed will acknowledge the value of the work that was performed for its
inalienability of the project area, and their request was approved (decree wellbeing, and I hope that the population will react against any measure
2.006/62). The government reinforced the status of the Park with decree to reduce the area of the Park.
163/63, and it added that “It is established that the trees will be cut in a
way that does not hinder the intended purpose”.
The Agriculture Secretary did not comply with any of the
International example
of a forest park
stipulations in the historical decrees. Instead, the secretary abandoned
the forest to its fate for 12 years. During that time, cultivation treatment
(thinning) was not performed, and counter to the civil code, the
secretary did not react to disseisin or invasions. When the secretary By Giorgini A. Venturieri
decided to perform an action, it was unrelated to the thinning of the
smaller and flawed trees, and it had a seemingly nonsensical purpose Henrique Berenhauser traveled to many parts of the
that was incompatible with an environmentally protected forest. world (Asia, the East, Western and Eastern Europe, Northern
Furthermore, 150,000 of the largest pine trees from populations of rare Africa, Andean countries, Australia, Oceania, Central
trees were subjected to resin extraction. This resulted in the complete America, and the United States) to visit a diverse assortment of
disfigurement of the forest and irreparable damage. Little knowledge of forest parks (Figures 4b, page 91). He felt special admiration
genetics is needed to understand that when the best trees are removed, for Golden Gate Park in San Francisco, California (USA)
the remaining forest can do little in terms of seeds and standards. (Figures 4a, page 87-88), which extends over approximately
Rio Vermelho Park appears to be doomed to annihilation by the 411.6 hectares Similar to Rio Vermelho Park, Golden Gate
Agriculture Secretary. Such violence can be interpreted as arising from Park was built on sand dunes that were strongly affected by
the disdain of technicians who never accomplished work of similar the wind and had previously been fully deforested.
magnitude. But why do they need to destroy the forest? When the area for the Golden Gate Park was chosen
While the government has changed, the financial exploitation of in 1870, few people favored the project, as it was believed
the environmentally protected forest continues, and the Park is selling that the task to revegetate such an area and transform it into
the wood at extremely low prices with the assumption that the forest a park was a challenge that was too difficult to overcome. The
needs additional firebreaks to prevent fires. In fact, the Park is cutting fixation of dunes was achieved by a young engineer named
many trees down, and always in areas that contain sellable wood. The William H. Hall, who was the first administrator of the park
populations of the economic reforestations in the state’s interior extend and who, like Henrique Berenhauser, had limited resources.
to between 50 and 150 hectares, but the Park should be trimmed in At that time, the park was quite removed from
small areas of little more than two hectares each? This rule of thumb is downtown San Francisco, which is currently the 12th largest
true even with the knowledge that the forest has always recovered from city in the USA and is surrounded by Golden Gate Park.
its countless fires1. The park is rated as one of the most important human works
The purpose of the Park has been totally distorted. The law in San Francisco. It includes museums of science, arts, and
that created the Park established that the forest was to be destined natural history; restaurants and cafeterias; a greenhouse
for environmental preservation, the embellishment of the island, and for ornamental plants; arboretums; a botanical garden and
recreation for the population2. Indeed, recreation may be the best resource thematic gardens (with azaleas, dahlias, roses, fuchsias,
that can be “extracted” from an inhospitable area, which has sterile soil blueberry flowers, magnolias, tulips, and plants from
and is punished for most of the year by strong salinity-carrying winds. Shakespeare’s novels); trails; lakes; a stadium; playgrounds;
Nevertheless, the Agriculture Secretary classifies “forest reserves” as a planetarium; loose animals; and areas for exhibitions. The
forests that can only be established after substantial sacrifice. This is park hosts or is used by several recreational associations, such
the justification the secretary provides to obtain wealth from the park as groups for riding, archery, baseball, basketball, cycling, dog
through predatory methods of exploitation. The justification also avoids walking, football, soccer, tennis, sailing, fishing, golf, handball,
the bother of acts of vandalism that will destroy the beauty of the Park. drama, horseshoe pitching, badminton, running, bocce ball,
The Park is extremely important for the community and for the model ships, and martial bands. The park is also used by
increasing number of people who visit Santa Catarina Island. Even philanthropic and social promotion groups, such as pioneer
if major measures are required to conserve the Park, it would still be women of California and senior citizen centers. Currently, the
worthwhile. However, the essential measures to ensure the Park’s park is one of the most used sites in San Francisco, by both
continued existence are more administrative and legal than financial. residents and visitors. (Figures 4b and 4c, page 92).
1 The author here alludes to a plan for fire control that was requested from a consulting firm. The plan suggested deforestation
as a method to establish countless firebreaks (original document deposited at the H. Berenhauser Collection at the Central
Library of UFSC). 2 Henrique Berenhauser intended to transform the Park into a large public leisure area that was similar
to Golden Gate Park
87 Rio Vermelho Park
 anexos appendix

Figura 4b Prospectos de viagens

4b feitas por Henrique Berenhauser

Figura 4c-4g Nos países que

visitava, procurava sempre
conhecer seus parques florestais.
4e Tinha uma admiração especial
pelo Golden Gate Park, em São
Francisco, Flórida, EUA (figuras
4c antes da implantação e 4b
como é atualmente), de onde
trouxe o conceito de integrar a
área ao lazer público, um esforço
seu nos últimos anos da sua
gestão. Ele queria um parque
para a população

Figure 4b Brochures of
Henrique Berenhauser’s travels

Figure 4c-4g He sought to

visit the forest parks in the
countries that he traveled to.
He felt particular admiration
for Golden Gate Park in San
Francisco, California (4c before
the implantation of the park;
4b present-day appearance). At
Golden Gate Park, he learned
the idea of integrating the Park
area with public leisure, which
was a concern of his during the
last years of his administration.
He wanted a park that was made

4f 4g

4c 4d

88 O Parque do Rio Vermelho 89 Rio Vermelho Park

 anexos appendix

Anexos
Appendix

1 Mapa onde figuram os experimentos 1 Map locating the most significant

mais significativos do parque
2 Anotações e croquis que serviram de base para o
levantamento do material genético existente no parque
experiments in the Park
2 Notes and sketches that served as the
basis for the survey of the genetic material in the Park 2

90 O Parque do Rio Vermelho 91 Rio Vermelho Park

 anexos
Coleções de material genético e experimentos existentes
no Parque Florestal do Rio Vermelho
O material pesquisado faz parte do Acervo Berenahuser, no
qual existem anotações e documentos de Henrique Berenhauser,
o formador do Parque Florestal do Rio Vermelho, depositado na
Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina.
Foram consultados documentos existentes em uma pasta
classificadora intitulada “Genética: Mapas dos Plantios” e em
outra intitulada “Universidades Estrangeiras”. A primeira pasta
continha anotações de campo e mapas que auxiliaram a localizar
a posição dos experimentos e a procedência do material genético.
Por meio da segunda pasta, foi possível levantar os contatos feitos e
o direcionamento dos critérios adotados para a escolha do material
genético introduzido.
Após estudo dos documentos, foram organizadas três tabelas
com todo o material introduzido e, quando disponível, foram
mencionadas a sua procedência e a legenda usada nos mapas. Em
seguida, foram localizados nos mapas os limites de cada um dos
experimentos com base na similaridade das parcelas e sugeridos
delineamentos experimentais que pudessem ser aplicados nas
análises estatísticas.
O acervo genético possui: a) experimentos de competição
de progênies de espécies do gênero pinus, P. elliotti, P. taeda e
P. palustris; b) coleções de árvores e arbustos potenciais para
o crescimento em dunas e ornamentais. Para esta última, não foi
encontrado um mapa pormenorizado, há apenas a citação, em um
dos mapas pesquisados, de uma área de “espécies ornamentais”
onde se podem encontrar algumas das espécies mencionadas na lista.
Exemplares dessa lista são encontrados em diversas áreas do parque
e pelos bairros da redondeza, indicador de que foram plantados
e, possivelmente devido ao seu aspecto ornamental, adotados por
moradores do entorno.
No presente livro, há menção de que anotações sobre os
experimentos “foram deixadas no escritório do Parque”, portanto,
ainda existe a possibilidade de, se feita uma busca, melhorar as
informações aqui expostas.
92 O Parque do Rio Vermelho
O material introduzido
Procedências de Pinus elliotti que fazem parte dos ensaios de
competição implantados no Parque Florestal do Rio Vermelho.
N N *
o o
Procedência Nome Introdução
1 14 FFS/região M Clone 6 Dezembro
Nordeste de 1969
da Flórida folders titled, “Genetics: maps of the plantations” and “Foreign
2 15 ,, Clone 105 ,,
3 16 ,, Clone 108 ,,
4 17 ,, Clone 109 ,,
5 18 ,, Clone 115 ,,
6 19 ,, Clone 123 ,,
7 20 ,, Clone 202 ,,
8 21 ,, Clone 205 ,,
9 22 ,, Clone 206 ,,
10 23 ,, Clone 209 ,,
11 24 ,, Clone 308 ,,
12 25 ,, Clone 601 ,,
13 26 ,, Clone 602 ,,
14 27 ,, Clone 718 ,,
15 28 ,, Clone 817 ,,
16 29 FFS/região B Clone 208 ,,
Nordeste
da Flórida species” where some of the species on the list may be found. Specimens
17 30 ,, Clone 209 ,,
18 31 ,, Clone 503 ,,
19 32 ,, Clone 618 ,,
20 33 ,, Clone 619 ,,
21 34 ,, Clone 634 ,,
22 35 ,, Clone 635 ,,
23 36 ,, Clone 1102 ,,
24 37 ,, Clone 1106 ,,
25 38 USFS/Olustee Clone 317 Janeiro
Experimental de 1970
Station 26 39 ,, Clone G-7 ,,
26 39 ,, Clone G-7 ,,
27 40 ,, Clone 122 ,,
28 41 ,, Clone G-4 ,,
29 42 ,, Clone G-4 x G-317 ,,
30 43 Rayonier Clone 259-55 ,,
31 44 ,, Clone 256-55 ,,
32 45 ,, Clone 312-56 ,,
33 46 ,, Clone 299-56 ,,
34 47 ,, Clone 262-55 ,,
35 48 ,, Clone 170-58 ,,
36 49 ,, Clone 191-57 ,,  
*Número que figura no croqui do experimento Obs.: FFS (Florida Forest Service – EUA); USFS (United
States Forest Service); Rayonier (Empresa multinacional com atividade florestal nos EUA).
appendix
Collections of genetic material and experiments at Rio
Vermelho Forest Park
The investigated material belongs to the Berenhauser Collection
and includes Henrique Berenhauser’s notes and documents. Henrique
Berenhauser was the creator of Rio Vermelho Forest Park; the
Berenhauser Collection is deposited in the Federal University of Santa
Catarina library.
The documents that were consulted are located in classifying
universities”. The genetics folder contains field notes and maps that
helped locate the sites of the experiments and the provenance of
the genetic material. The universities folder allowed a survey of the
contacts that were made and provided the rationale behind the criteria
that were used to select the introduced genetic material.
After the documents were studied, three tables were used to
organize the introduced materials. The provenances and map captions
were entered whenever they were available. Next, the boundaries of
each experiment were located on the maps, and experimental designs
were suggested for statistical analyses.
The genetic collection comprises the following: a) Competition
experiments with progenies of species of the genus Pinus, P. elliottii,
P. taeda and P. palustris; b) Collections of trees and bushes that may
grow on dunes or that serve for ornamental purposes. No detailed map
of ornamental collections was found, but there was an annotation on
one of the investigated maps that mentioned an area of “ornamental
from that list can be found in several parts of the Park and in the
surrounding neighborhoods, which indicates that they were planted
and were possibly adopted by the neighbors for their ornamental
appearance.
The notes on the experiments were found at the Park office.
Thus, it is still possible that a thorough search of the office will add to
the information that is presently included.
93 Rio Vermelho Park
Introduced material
Provenance of Pinus elliottii trees that were included in the
competition experiments in Rio Vermelho Forest Park.
No No* Provenance Name Introduction
1 14 FFS/region M Clone 6 December
Northeastern 1969
Flórida
2 15 ,, Clone 105 ,,
3 16 ,, Clone 108 ,,
4 17 ,, Clone 109 ,,
5 18 ,, Clone 115 ,,
6 19 ,, Clone 123 ,,
7 20 ,, Clone 202 ,,
8 21 ,, Clone 205 ,,
9 22 ,, Clone 206 ,,
10 23 ,, Clone 209 ,,
11 24 ,, Clone 308 ,,
12 25 ,, Clone 601 ,,
13 26 ,, Clone 602 ,,
14 27 ,, Clone 718 ,,
15 28 ,, Clone 817 ,,
16 29 FFS/region B Clone 208 ,,
Northeastern
Flórida
17 30 ,, Clone 209 ,,
18 31 ,, Clone 503 ,,
19 32 ,, Clone 618 ,,
20 33 ,, Clone 619 ,,
21 34 ,, Clone 634 ,,
22 35 ,, Clone 635 ,,
23 36 ,, Clone 1102 ,,
24 37 ,, Clone 1106 ,,
25 38 USFS/Olustee Clone 317 January
Experimental 1970
Station
27 40 ,, Clone 122 ,,
28 41 ,, Clone G-4 ,,
29 42 ,, Clone G-4 x G-317 ,,
30 43 Rayonier Clone 259-55 ,,
31 44 ,, Clone 256-55 ,,
32 45 ,, Clone 312-56 ,,
33 46 ,, Clone 299-56 ,,
34 47 ,, Clone 262-55 ,,
35 48 ,, Clone 170-58 ,,
36 49 ,, Clone 191-57 ,,  
*Number attributed in the experiment sketch Obs.: FFS (Florida Forest Service, USA); USFS (United
States Forest Service); Rayonier (Multinational company that performs forestry activities in the USA).
 anexos appendix

Procedências de diferentes espécies de Pinus que fazem parte dos ensaios de competição implantados no Parque Florestal do Rio Vermelho. Provenance of several species of Pinus trees that were included in the competition experiments in Rio Vermelho Forest Park.

No Espécie Procedência Introdução Obs. No Species Provenance Introduction Obs.

1 P. canariensis Serviço Florestal da Espanha 1965 Plantadas próximas ao extremo sul do antigo posto. Não se deram bem 1 P. canariensis Forest Service of Spain 1965 Planted close to the southernmost end of the older post. They did not
no solo arenoso. Menciona que iriam procurar colocar barro nas covas. take well to sandy soil. The managers would add mud to the pits.
2 P. caribeae var. Bahamas Dezembro Obtidas, por meio da Florida Forest Service, de uma companhia de 2 P. caribeae var. Bahamas December Obtained by an intervention of the Florida Forest Service from
bahamensis de 1969 celulose que estava explorando as matas de pinus nas ilhas Bahamas, bahamensis 1969 a cellulose company that was exploiting pine forests in the
de onde trazia madeiras para serem industrializadas nos EUA. Bahamas and sending wood to the USA for processing.
3 P. clausa (sand pine) EUA – Flórida 1968 Plantadas nas proximidades do acampamento e parte nas dunas, onde 3 P. clausa (sand pine) USA – Florida 1968 Planted near the camp and in the area with dunes where the plants
as plantas sofreram com o rocio do mar. suffered from the action of the sea spray.
4 P. clausa Porto Rico 1967 Crescimento lento. 4 P. clausa Puerto Rico 1967 Slow growth.
5 P. elliotti Clone EUA – Flórida, região nordeste. 1969 Clones superiores obtidos da Regis Paper Co. Obtidas 444 mudas. 5 P. elliotti Clone USA – Northeastern Florida. 1969 Superior clones that were obtained from
D-4-66 Pomar de Lee D-4-66 Lee’s orchard Regis Paper Co. 444; seedlings were obtained.
6 P. elliotti Clone EUA – Flórida, região nordeste. 1969 Clones superiores obtidos da Regis Paper Co. Obtidas 148 mudas. 6 P. elliotti Clone USA – Northeastern Florida. 1969 Superior clones that were obtained from
R-4-66 Pomar de Lee R-4-66 Lee’s orchard Regis Paper Co. 148; seedlings were obtained.
7 P. elliotti Clone EUA – Flórida, região nordeste. 1969 Clones superiores obtidos da Regis Paper Co. Obtidas 581 mudas. 7 P. elliotti Clone USA – Northeastern Florida. 1969 Superior clones that were obtained from
SR-5-66 Pomar de Lee SR-5-66 Lee’s orchard Regis Paper Co. 581; seedlings were obtained.
8 P. elliotti Clone EUA – Flórida, região nordeste. 1969 Clones superiores obtidos da Regis Paper Co. Obtidas 225 mudas. 8 P. elliotti Clone USA – Northeastern Florida. 1969 Superior clones that were obtained from
X-35-S-66 Pomar de Lee X-35-S-66 Lee’s orchard Regis Paper Co. 225; seedlings were obtained.
9 P. elliotti Clone EUA – Flórida, região nordeste. 1969 Clones superiores obtidos da Regis Paper Co. Obtidas 100 mudas. 9 P. elliotti Clone USA – Northeastern Florida. 1969 Superior clones that were obtained from
F-1-66 Pomar de Lee F-1-66 Lee’s orchard Regis Paper Co. 100; seedlings were obtained.
10 P. elliotti Clone EUA – Flórida, região nordeste. 1969 Clones superiores obtidos da Regis Paper Co. Obtidas 1.000 mudas. 10 P. elliotti Clone USA – Northeastern Florida. 1969 Superior clones that were obtained from
J-12-66 Pomar de Lee J-12-66 Lee’s orchard Regis Paper Co. 1,000; seedlings were obtained.
11 P. elliotti Clone EUA – Flórida, região nordeste. 1969 Clones superiores obtidos da Regis Paper Co. Obtidas 538 mudas. 11 P. elliotti Clone USA – Northeastern Florida. 1969 Superior clones that were obtained from
X-10-S-66 Pomar de Lee X-10-S-66 Lee’s orchard Regis Paper Co. 538; seedlings were obtained.
12 P. elliotti Clone EUA – Carolina do Sul (limite s.d. Clones da International Paper Co. Obtidas 224 mudas. 12 P. elliotti clone USA – South Carolina (the n.d. Clones from the International Paper Co. 224;
2943281 setentrional da espécie) 2943281 northernmost limit of the species) seedlings were obtained.
13 P. elliotti Clone EUA – Alabama (do pomar de s.d. Clones da International Paper Co. Obtidas 360 mudas. 13 P. elliotti Clone USA – Alabama (Gateswood n.d. Clones from the International Paper Co. 360;
3100281 Gateswood, Golfo do México) 3100281 orchard, Gulf of México) seedlings were obtained.
14 P. elliotti Clone EUA – Flórida, do pomar de s.d. Clones da International Paper Co. Obtidas 82 mudas. 14 P. elliotti Clone USA – Florida, Dellwood Chipola n.d. Clones from the International Paper Co. 82;
4301281 Dellwood Chipola (Panamá City) 4301281 orchard (Panama City) seedlings were obtained.
15 P. elliotti Clone EUA – Flórida, do pomar de s.d. Clones da International Paper Co. Obtidas 224 mudas. 15 P. elliotti Clone USA – Florida, Dellwood n.d. Clones from International Paper Co. 224 seedlings were obtained.
4301282 Dellwood Madison (Panamá City) 4301282 Madison orchard (Panama City)
16 P. elliotti Clone EUA – Flórida, do pomar de s.d. Clones da International Paper Co. Nº de mudas não informado. 16 P. elliotti Clone USA – Florida, Dellwood n.d. Clones from the International Paper Co. The number of seedlings
4301283 Dellwood Chiefland (Panamá City) 4301283 Chiefland orchard (Panama City) is unknown.
17 P. elliotti Clones EUA – Universidade da Flórida 1969 Obtidas 2.730 mudas. 17 P. elliottii Superior USA – University of Florida 1969
superiores obtidos clones obtained 2,730 seedlings were obtained.
do Dr. Goddard* from Dr. Goddard*
18 P. elliotti var. densa EUA – Florida Forest Service 1969 Obtidas 2.000 mudas. 18 P. elliotti var. densa USA – Florida Forest Service 1969 2,000 seedlings were obtained.
19 P. glabra EUA – Carolina do Sul 1969 Obtidas 53 mudas. 19 P. glabra USA – South Carolina 1969 53 seedlings were obtained.
(spruce pine) (spruce pine)
20 P. glabra EUA – Flórida 1969 Obtidas 32 mudas. 20 P. glabra USA – Florida 1969 32 seedlings were obtained.
...continua ...continue
* Trata-se do Dr. Ray Goddard (1922-2010). Professor emérito da Universidade da Flórida – * Dr. Ray Goddard (1922-2010), professor emeritus at the University of Florida in Gainesville, USA,
Gainesville, EUA, responsável por expressivos avanços no melhoramento genético de P. elliotti. (N.E.) who accomplished significant advancements in the genetic improvement of P. elliottii.

94 O Parque do Rio Vermelho 95 Rio Vermelho Park

 anexos appendix

No Espécie Procedência Introdução Obs. No Species Provenance Introduction Obs.

21 P. glabra EUA – Louisiana 1969 Obtidas 60 mudas. 21 P. glabra USA – Louisiana 1969 60 seedlings were obtained.
22 P. glabra EUA – Louisiana, Howell Cobb 1969 Obtidas 102 mudas. 22 P. glabra USA – Louisiana, Howell Cobb 1969 102 seedlings were obtained.
23 P. hondurensis ---- 1965 Uma linha de árvores plantadas perto do viveiro. Sensível ao rocio do 23 P. hondurensis ---- 1965 One line of trees was planted near the vivarium. Sensitive to sea spray.
mar. Parece não crescer bem em solo de areia pura. Does not grow well on the sand soil.
24 P. insularis Filipinas 1964 Plantadas em diversos lugares. Sensíveis ao rocio do mar, mesmo em 24 P. insularis Philippines 1964 Planted at several sites. Sensitive to sea spray even in remote
lugares mais afastados. Crescimento seria satisfatório se plantado em locations. Growth would be satisfactory if planted on clay soil.
solo argiloso.
25 P. luchuensis Japão – Okinawa 1968 Pequena quantidade introduzida. Plantadas na área que pertencia ao 25 P. luchuensis Japan – Okinawa 1968 A small number was introduced. Planted on the area that belonged to
Ioneo, infelizmente misturadas com as procedentes de Taiwan. Ioneo. Unfortunately, they mixed with the ones from Taiwan.
26 P. luchuensis Taiwan – Por intermédio da FAO 1968 Plantadas na área que pertencia ao Ioneo, em consorciação com P. elliotti. 26 P. luchuensis Taiwan – by intervention of FAO 1968 Planted in the area that belonged to loneo in combination with P. elliottii.
27 P. massoniana Taiwan 1965 Sementes adquiridas. Milhares foram plantadas na propriedade que 27 P. massoniana Taiwan 1965 Seeds were bought. Thousands were planted in the former property of
era do Vitorino. Não se adaptou ao solo pobre da estação. Vitorino. They did not adapt to the soil.
28 P. palustris EUA – Lousiana 1968 Transplantadas para o terreno que foi do Ioneo. 28 P. palustris USA – Louisiana 1968 Grafted into the area that formerly belonged to loneo.
29 P. pinaster Portugal – Marinha Grande 1963 Plantadas em diversas áreas, mas principalmente perto da casa do 29 P. pinaster Portugal – Marinha Grande 1963 Planted in several places mainly near Vitorino’s house in combination
(pinheiro-marítimo) Vitorino, em consorciação com o P. elliotti, onde está competindo em (pinheiro-marítimo) with P. elliottii. They compete satisfactorily in terms of height.
altura satisfatoriamente. Algumas árvores em boa forma. Some trees are in good shape.
30 P. pinaster Marrocos s.d. Plantadas em diversos lugares não identificados, mas reconhecíveis 30 P. pinaster Morocco n.d. Planted in several unidentified places but easy to recognize because
porque as árvores ficaram menores. the trees remained smaller.
31 P. pinaster Uruguai – Punta del Este 1968 Plantadas no fim da estrada, junto à antiga extrema sul do posto. 31 P. pinaster Uruguay– Punta del Este 1968 Planted at the end of the road near the older southernmost end of the post.
Mudas plantadas muito grandes e não ficaram boas (em 1969). The planted seedlings were too large and did not look well (in 1969).
32 P. rígida EUA – Nova Jersey s.d. Obtidas 39 mudas por intermédio do USFS. 32 P. rígida USA – New Jersey n.d. 39 seedlings were obtained from the USFS.
33 P. serotina EUA – Carolina do Norte 1969 Obtidas 100 mudas por intermédio do USFS. 33 P. serotina USA – North Carolina 1969 100 seedlings were obtained from the USFS.
34 P. serotina EUA – Maryland 1969 Obtidas 54 mudas por intermédio do USFS. 34 P. serotina USA – Maryland 1969 54 seedlings were obtained from the USFS.
35 P. taeda EUA – Flórida, Florida Forest 1969 Sementes colhidas durante a operação de derrubada da mata. 35 P. taeda USA – Florida, Florida Forest 1969 Seeds were harvested during deforestation; 7,410 were obtained.
Service. Procedentes da região NE Obtidas 7.410 mudas. Service. Original from northeastern
desse estado, especificamente da Florida and the eastern area of
parte oriental de Pasco Country. Pasco County.
36 P. taeda EUA – Texas, Texas Forest Service Julho Sementes do pomar de clones selecionadas para o clima seco do sul 36 P. taeda USA – Texas, Texas Forest Service July 1969 Seeds from the clone orchard were selected for the dry climate of
de 1969 do Texas. Obtidas 870 mudas. southern Texas; 870 seedlings were obtained.
37 P. taeda EUA – Virgínia, 1969 Sementes do pomar de clones selecionadas daquele estado. 37 P. taeda USA – Virginia, 1969 Seeds from the clone orchard were selected from Virginia; 108
Virginia Forest Service Obtidas 108 mudas. Virginia Forest Service seedlings were obtained.
38 P. taeda Clone EUA – Carolina do Sul, 1969 Obtidas da International Paper Co. 255 mudas. Usadas pela I.P.C. para 38 P. taeda Clone USA – South Carolina, 1969 Obtained from the International Paper Co. 255; seedlings. Used by
2943181 região de Georgetown um ensaio de competição entre P. taeda e P. elliottii. 2943181 Georgetown area I.P.C. in a competitive assay between P. taeda and P. elliottii.
39 P. taeda Clone EUA – Carolina do Norte s.d. Obtidas da International Paper Co. 420 mudas. Usadas pela I.P.C. para 39 P. taeda Clone USA – North Carolina n.d. Obtained from the International Paper Co. 420; seedlings. Used by
2943182 um ensaio de competição entre P. taeda e P. elliotti 2943182 I.P.C. in a competitive assay between P. taeda and P. elliottii.
40 P. taeda Clone EUA – Flórida, Pomar de s.d. Obtidas da International Paper Co. 92 mudas. Usadas pela I.P.C. para 40 P. taeda Clone USA – Florida, n.d. Obtained from the International Paper Co. 92; seedlings. Used by
4301181 Panamá City um ensaio de competição entre P. taeda e P. elliotti. 4301181 Panama City orchard I.P.C. in a competitive assay between P. taeda and P. elliottii.
41 P. taeda de Clones EUA – Texas. Texas Forest Service Julho Obtidas 870 mudas. 41 P. taeda de Clones USA – Texas, Texas Forest Service July 1969 870 seedlings were obtained.
superiores do Texas de 1969 superiores do Texas
42 P. taiwanensis Taiwan 1965 Plantadas em uma fileira em frente ao viveiro e outras espalhadas 42 P. taiwanensis Taiwan 1965 Planted in a row in front of the vivarium; others were spread across
em diversas áreas. Sofre com o rocio do mar. Tem crescimento several areas. Suffers from the action of the sea spray. Grows slowly
lento no solo arenoso. on sandy soil.
...continua ...continue

96 O Parque do Rio Vermelho 97 Rio Vermelho Park

 anexos appendix

No Espécie Procedência Introdução Obs. No Species Provenance Introduction Obs.

43 P. thunbergii Japão – Ilha Kyushu, distrito de 1970 Clones selecionados, provenientes de um pomar de sementes 43 P. thunbergii Japan –Kyushu Island, 1970 Selected clones from a seed orchard that was established in 1962.
Viumamoto implantado em 1962. Sementes obtidas por intermédio do Sr. Karl Viumamoto district The seeds were obtained by the intervention of Mr. Karl Ostom
Ostom do USFS. from the USFS.
44 P. thunbergii Japão – Serviço Florestal Japonês 1965 Obtidas por meio da embaixada em Tókio. Estão plantadas nas dunas. 44 P. thunbergii Japan – Japan Forest Service 1965 Obtained from the embassy in Tokyo. They were planted on the dunes
Apresentou boa sobrevivência, porém com crescimento muito lento. and exhibited good survival, but growth was very slow.

Arbustos e arvoretas potenciais para o crescimento ornamental e em dunas. Sementes Bushes and saplings that were potentially used for ornamental purposes or to grow on the dunes.
introduzidas no Parque Florestal do Rio Vermelho e semeadas em novembro de 1974. The seeds were introduced into Rio Vermelho Forest Park and were sown in November 1974.

Semeadura Espécies Nº do lote Peso País/órgão fornecedor Sowing Species Nº of the plot Weight Supplying country/agency
1 Araucaria heterophylla S10995 50 g Austrália 1 Araucaria heterophylla S10995 50 g Australia
2 Bauhinia rosa 1
--- --- --- 2 Bauhinia rosa 1
--- --- ---
3 Desconhecido --- --- --- 3 Unknown --- --- ---
4 Melaleuca hubescens 2
4745 --- West Australia Forest Service 4 Melaleuca hubescens 2
4745 --- West Australia Forest Service
5 Casuarina equisetifolia subsp. incana S10878 --- Forest Research Institute, Camberra, Austrália 5 Casuarina equisetifolia subsp. incana S10878 --- Forest Research Institute, Canberra, Australia
6 Banksia grandis 4809 --- Austrália 6 Banksia grandis 4809 --- Australia
7 Callitris preissii N/C --- Cupressus de Rottnest Island, Austrália 7 Callitris preissii N/C --- Cupressus from Rottnest Island, Australia
8 Casuarina fraseriana --- --- Austrália 8 Casuarina fraseriana --- --- Australia
9 Dodonaea viscosa 57 100 g (já fervida) África do Sul 9 Dodonaea viscosa 57 100 g South Africa
10 Acacia sophorae --- --- --- 10 Acacia sophorae --- --- ---
11 Pinus oocarpa K34 3171 30 g (57%) Cuba 11 Pinus oocarpa K34 3171 30 g (57%) Cuba
12 Leptospermum laevigatum 815 100 g África do Sul 12 Leptospermum laevigatum 815 100 g South Africa
13 Eucalyptus gomphocephala 511 100 g África do Sul 13 Eucalyptus gomphocephala 511 100 g South Africa
14 Pinus caribaea Pop 75 30/73 25 g (58%) Cuba 14 Pinus caribaea Pop 75 30/73 25 g (58%) Cuba
15 Eucalyptus cladocalyx 242 100 g África do Sul 15 Eucalyptus cladocalyx 242 100 g South Africa
16 Pinus oocarpa K78 12/72 30 g (56%) Cuba 16 Pinus oocarpa K78 12/72 30 g (56%) Cuba
17 Pinus caribaea --- --- Cuba (La Cabana, Pinar del Rio) 17 Pinus caribaea --- --- Cuba (La Cabana, Pinar del Rio)

1 Mencionada como bauínia-rosa, possivelmente Bauhinia montana, muito comum atualmente na área do 1 Mentioned as pink bauhinia, possibly Bauhinia montana; currently very common in the Park.
parque. (N.E.) 2 Possivelmente Rhodamnia rubescens, arvoreta australiana. (N.E.) 2 Possibly Rhodamnia rubescens, an Australian sapling.

98 O Parque do Rio Vermelho 99 Rio Vermelho Park

 anexos appendix

Experimentos de competição de progênies (total 300 plantas). Não computada a introdução nomeada como Experiments of progeny competition without counting the introduction mentioned as “T”, which possibly
“T”, que possivelmente é uma testemunha. represents a control).
De espécies do gênero pinus: Competição de diferentes Between species of the genus Pinus: Competition between
espécies de pinus plantadas em fileiras com 33 plantas, Experimento 7: Competição de 16 progênies de clones de Pinus different species of pine that were planted in rows of 33 plants; Experiment 7: Competition among 16 progenies of clones of Pinus
cada uma das fileiras contendo apenas uma progênie, com elliotti oriundas do Florida Forest Service, implantadas em sete blocos, each row consisted of a single progeny; replicates varied between elliottii from the Florida Forest Service; planted in seven blocks,
repetições variando de 1 a 2, em delineamento inteiramente cada uma contendo uma repetição por progênie (total 112 plantas). one and two; fully randomized design (total of 264 trees). each one containing one replicate per progeny (total of 112 plants).
casualizado (total de 264 árvores).
Experimento 8: Competição de 16 progênies de clones de Pinus Map legend Species Planted individuals Experiment 8: Competition among 16 progenies of clones of Pinus
Legenda no mapa Espécies Indivíduos plantados elliotti oriundas do Florida Forest Service, implantadas em 14 blocos, R P. rigida – N. Jersey 33 elliottii from the Florida Forest Service; planted in 14 blocks, each
R P. rigida – N. Jersey 33 cada uma contendo uma repetição por progênie (total 224 plantas). G P. glabra – S. Car 33 one containing one replicate per progeny (total of 224 plants).
G P. glabra – S. Car 33 S P. serotina – M.D 33
S P. serotina – M.D 33 Experimentos de competição de progênies de Pinus elliotti no F P. glabra – Flórida 33 Competition experiments with progenies of Pinus elliottii planted
F P. glabra – Flórida 33 Parque Florestal do Rio Vermelho, entre 1969 e 1970. L P. glabra – L.A. 33 + 33 at Rio Vermelho Forest Park between 1969 and 1970.
L P. glabra – L.A. 33 + 33 N P. serotina – N. Car 33 + 33
N P. serotina – N. Car 33 + 33 Experimentos Experiments
No 1 2 3 4 5 6 7 8 No 1 2 3 4 5 6 7 8
0 3*12 With Pinus elliotti 0 3*12
De Pinus elliotti 1 7*12 3*28 3*12 This is a set of eight experiments that were planted according 1 7*12 3*28 3*12
É um conjunto de oito experimentos plantados em diferentes 2 7*12 1*28 3*12 to different designs and included the introductions that 2 7*12 1*28 3*12
delineamentos envolvendo as introduções mencionadas na 3 7*12 3*28 3*12 were mentioned in Table 1 and summarized in Table 4. The 3 7*12 3*28 3*12
Tabela 1 e resumidos na Tabela 4. Os experimentos são: 4 7*12 2*28 3*12 experiments included the following: 4 7*12 2*28 3*12
5 7*12 3*12 5 7*12 3*12
Experimento 1: Competição entre sete progênies de Pinus elliotti 6 7*12 3*28 3*12 Experiment 1: Competition among seven progenies of Pinus 6 7*12 3*28 3*12
cada uma com sete plantas por parcela, plantadas em 12 blocos (total 7 7*12 3*28 3*12 elliottii, each one comprising seven plants per parcel and planted in 7 7*12 3*28 3*12
de 588 plantas). 8 6*12 2*28 12 blocks (total of 588 plants). 8 6*12 2*28
9 6*12 3*28 9 6*12 3*28
Experimento 2: Competição de entre seis progênies de Pinus 10 6*12 Experiment 2: Competition among six progenies of Pinus 10 6*12
elliotti, cada uma com seis repetições, plantadas em 12 blocos (total 11 6*12 3*28 3*12 elliottii, each one comprising six replicates planted in 12 blocks 11 6*12 3*28 3*12
de 432 plantas). 12 6*12 3*28 (total of 432 plants). 12 6*12 3*28
13 6*12 2*28 13 6*12 2*28
Experimento 3: Competição de entre 11 progênies de Pinus 14 12+14+12 1*12 1*7 Experiment 3: Competition among 11 progenies of Pinus elliottii; 14 12+14+12 1*12 1*7
elliotti plantadas em fileiras com 28 plantas, cada uma das fileiras 15 12+14+12 1*12 1*7 planted in rows of 28 plants; each row consisted of a single progeny; 15 12+14+12 1*12 1*7
contendo apenas uma progênie, com repetições variando de 1 a 3, 16 12+14+12 1*12 1*7
1*14 replicates varied between one and three; fully randomized design 16 12+14+12 1*12 1*7
1*14
em delineamento inteiramente casualizado (total de 784 plantas). 17 12+14+12 1*12 1*7
1*14 (total of 784 plants). 17 12+14+12 1*12 1*7
1*14
18 12+14+12 1*12 1*7
1*14 18 12+14+12 1*12 1*7
1*14
Experimento 4: Competição de nove introduções de P. elliotii, 19 12+14+12 1*12 1*14 Experiment 4: Competition among nine introductions of P. elliotiii 19 12+14+12 1*12 1*14
IBDF/FAO, com parcelas de 12 x 12 m, cada uma contendo 20 12+14+12 1*12 1*7
1*14 from the Brazilian Institute for Forestry Development; planted in 12 20 12+14+12 1*12 1*7
1*14
possivelmente nove plantas, em quatro blocos casualizados (total 21 12+14+12 1*12 1*7 x 12 meter parcels, each one possibly containing nine plants in four 21 12+14+12 1*12 1*7
estimado de plantas de 324 plantas). 22 12+14+12 1*12 1*7
1*14 randomized blocks (estimated total of 324 plants). 22 12+14+12 1*12 1*7
1*14
23 12+14+12 1*12 23 12+14+12 1*12
Experimento 5: Competição de 24 progênies de clones de Pinus 24 12+14+12 1*12 1*7
1*14 Experiment 5: Competition among 24 progenies of clones of Pinus 24 12+14+12 1*12 1*7
1*14
elliotti oriundas do Florida Forest Service, implantadas em três 25 12+14+12 1*12 1*14 elliottii from the Florida Forest Service; planted in three blocks (the 25 12+14+12 1*12 1*14
blocos (um com 12 parcelas, outro com 14 parcelas e mais um com 26 1*12 first and third with 12 parcels and the second with 14 parcels), each 26 1*12
12 parcelas), cada uma das parcelas contendo uma repetição por 27 12+14+12 1*12 1*14 parcel contains one replicate per progeny (total of 912 plants without 27 12+14+12 1*12 1*14
progênie (total 912 plantas, não computada a introdução nomeada 28 12+14+12 1*12 1*7
1*14 counting the introduction that was mentioned as “T”, which possibly 28 12+14+12 1*12 1*7
1*14
como “T”, que possivelmente é uma testemunha). 29 12+14+12 1*12 1*7 represents a control). 29 12+14+12 1*12 1*7
30 12+14+12 1*12 1*7
1*14 30 12+14+12 1*12 1*7
1*14
Experimento 6: Competição de 25 progênies de clones de Pinus 31 12+14+12 1*12 1*7
1*14 Experiment 6: Competition among 25 progenies of clones of 31 12+14+12 1*12 1*7
1*14
elliotti oriundas do Florida Forest Service, implantadas em 12 32 12+14+12 1*12 1*7 Pinus elliottii from the Florida Forest Service; planted in 12 blocks, 32 12+14+12 1*12 1*7
blocos, cada uma das parcelas contendo uma repetição por progênie 33 12+14+12 1*12 1*7
1*14 each parcel contains one replicate per progeny (total of 300 plants 33 12+14+12 1*12 1*7
1*14
...continua ...continue

100 O Parque do Rio Vermelho 101 Rio Vermelho Park

 anexos appendix

Experimentos De P. taeda Experimentos With P. taeda

N
o
1 2 3 4 5 6 7 8 Experimento de competição de 12 introduções de P. taeda,
34 1*12 IBDF/FAO, com parcelas de 12 x 12 m, cada uma contendo
35 12+14+12 1*12 1*7
1*14 possivelmente nove plantas, em quatro blocos casualizados
36 12+14+12 1*12 1*14 (total estimado de plantas de 432 plantas).
37 12+14+12 1*12 1*14
38 Legenda no mapa Procedência Indivíduos plantados
39 0 12+12+12+12
40 1 12+12+12+12
41 2 12+12+12+12
42 3 12+12+12+12
43 5 12+12+12+12
44 6 12+12+12+12
45 10 12+12+12+12
46 11 12+12+12+12
47 12 12+12+12+12
48 13 12+12+12+12
49 14 12+12+12+12
T 12+14+12 18 12+12+12+12
N 1 2 3 4 5
o
6 7 8 Competition experiment with 12 introductions of P. taeda,
34 1*12 IBDF/FAO; with 12 x 12 meter parcels, each parcel possibly
35 12+14+12 1*12 1*7
1*14 contains nine plants with four randomized blocks (estimated
36 12+14+12 1*12 1*14 total of 432 plants).
37 12+14+12 1*12 1*14
38 Caption on map Provenance Planted individuals
39 0 12+12+12+12
40 1 12+12+12+12
41 2 12+12+12+12
42 3 12+12+12+12
43 5 12+12+12+12
44 6 12+12+12+12
45 10 12+12+12+12
46 11 12+12+12+12
47 12 12+12+12+12
48 13 12+12+12+12
49 14 12+12+12+12
T 12+14+12 18 12+12+12+12

Em adição, existem 43 + 45 plantas da procedência 13,
plantadas como bordadura das coleções, e mais 36 plantas mapeadas
como “Tf”, e outras 36 mapeadas como “Tv”; não se encontrou
qualquer registro explicativo da procedência destas.
Há inda uma indicação no mapa da existência de uma coleção
de “Plantas Ornamentais”, posicionada na lateral voltada para a
Lagoa da Conceição, do experimento de competição de P. elliotti,
na margem leste da Estrada do Mocotó, tendo ao sul uma casa e ao
norte um canal de drenagem.
 
De P. palustris
Experimento de competição de três introduções de P. palustrsi,
IBDF/FAO, com parcelas de 12 x 12 m, cada uma contendo
possivelmente nove plantas, em quatro blocos casualizados
(total estimado de plantas de 108 plantas).
 
Experimento de competição de procedências de Pinus taeda
plantadas em fileiras com 36 plantas, cada uma das fileiras
contendo apenas uma progênie, com duas repetições, em
delineamento inteiramente casualizado (total 288 árvores).
Legenda no mapa Procedência Indivíduos plantados
A do Clone 2943181 36 + 36
B do Clone 2943182 36 + 36
C do Clone 4301181 36 + 36
D Texas 36 + 36
In addition, there were 43 + 45 plants from provenance 13
that were planted as the border of the collections, there were 36
plants mapped as “Tf”, and there were another 36 plants mapped as
“Tv”; no record was found explaining their provenance.
The map also points to a collection of “Ornamental Plants”
that were placed laterally toward Lagoa da Conceição from the
competition experiment with P. elliottii on the eastern margin of
Mocotó Road; there is a house to the south and a drainage channel
to the north.
With P. palustris
Competition experiment with three introductions of P. palustris
IBDF/FAO; with four 12 x 12 meter parcels, each parcel possibly
containing nine plants with four randomized blocks (estimated
total of 108 plants).
 
Competition experiment with provenances of Pinus taeda
planted in rows of 36 plants each; each row contains a
single progeny; two replicates; fully randomized design
(total of 288 trees).
Map legend Provenance Planted individuals
A Clone 2943181 36 + 36
B Clone 2943182 36 + 36
C Clone 4301181 36 + 36
D Texas 36 + 36

Legenda no mapa Procedência Indivíduos plantados Caption on map Provenance Planted individuals
4 12+12+12+12 4 12+12+12+12
7 12+12+12+12 7 12+12+12+12
11 12+12+12+12 11 12+12+12+12

102 O Parque do Rio Vermelho 103 Rio Vermelho Park

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104 O Parque do Rio Vermelho 105 Rio Vermelho Park

Impresso pela Gráfica XXXX XXX em xxxxxxx de 2013

106 O Parque do Rio Vermelho