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EQUIPAMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES: UMA ANÁLISE DO AMBIENTE DE


NEGÓCIO E DA ESTRUTURA INDUSTRIAL (HOSPITAL-PHYSICIANS
EQUIPMENTS: AN ANALYSIS OF THE BUSINESS ENVIRONMENT AND THE
INDU...

Conference Paper · August 2013

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Alexandre Marques
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ)
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ANAIS

EQUIPAMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES: UMA ANÁLISE DO AMBIENTE


DE NEGÓCIO E DA ESTRUTURA INDUSTRIAL

ALEXANDRE BARBOSA MARQUES ( proalexandre@gmail.com , alexandre@mosaicosistemas.com.br )


CEFET/RJ-CELSO SUCKOW DA FONSECA
ADELAIDE MARIA DE SOUZA ANTUNES ( adelaide@eq.ufrj.br , aantunes@inpi.gov.br )
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA ESCOLA DE QUÍMICA DA UFRJ / INPI
FLAVIA CHAVES ALVES ( falves@eq.ufrj.br )
ESCOLA DE QUÍMICA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

RESUMO:
Equipamentos médico-hospitalares e odontológicos (EMHO) têm uma participação destacada
na prestação de serviços de saúde e na economia de um país. Neste artigo objetiva-se entender
melhor o contexto desta indústria para subsidiar futuras pesquisas que visem ao
desenvolvimento da sua capacidade de inovação. Baseado em pesquisa bibliográfica, realiza-
se a análise do ambiente de negócio e da estrutura industrial, valendo-se do conceito de
Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS). Por fim, apresentam-se as constatações
acerca da situação atual da indústria com destaque para a necessidade de desenvolvimento de
competências para inovar que transcendem as questões técnicas.

PALAVRAS CHAVE:
Equipamentos médico-hospitalares e odontológicos, ambiente de negócio, análise industrial,
inovação.

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ANAIS
1. Introdução
Além dos aspectos diretamente relacionados ao bem-estar das pessoas, a Saúde é hoje
reconhecida como um espaço econômico importante para os países, com alto potencial de
geração de conhecimentos e que possui uma dinâmica própria de produção e de inovação.
Nesse espaço, a preocupação com o bem-estar da sociedade, o papel do Estado e as
implicações sobre a economia são de grande influência sobre o modo de introdução de
inovações pelas empresas fabricantes de equipamentos médico hospitalares e odontológicos
(EMHO).
Tais equipamentos têm uma importante função na prestação de serviços de atenção à
saúde. Destaca-se também o reflexo positivo da indústria de EMHO na economia de um país
desenvolvido, sobretudo em termos de balança comercial, quantidade e porte de
empreendimentos e geração de empregos.
Dados econômicos, já analisados por diversas fontes – ABDI, 2009; ABIMO, 2012;
GADELHA et al., 2008/2009 – revelam que a competitividade das empresas brasileiras de
EMHO, de modo geral, é insatisfatória. Atualmente, a demanda interna de equipamentos mais
sofisticados é dominada, dependendo do produto específico, ou por importações diretas ou
pela produção local a cargo das subsidiárias de empresas multinacionais. O mesmo acontece
com as exportações, que estão longe de cobrir as importações. Empresas nacionais, embora
em maioria, são predominantemente de pequeno e médio porte e ficam restritas aos
segmentos de mercado de menor complexidade tecnológica (tecnologias maduras), onde a
competição tende a basear-se no preço.
Por outro lado, o Brasil exporta EMHO, tais como válvulas cardíacas não-mecânicas,
inclusive partes e acessórios, aparelhos de ozonoterapia e de oxigenoterapia, e aparelhos de
mecanoterapia, de massagem ou de psicotécnica, até para países como EUA, Bélgica e
Alemanha (ABDI, 2009). Enfim, o quadro geral revela a existência de fabricantes nacionais
que inovam e conseguem competir em condições mais vantajosas dentro de um conjunto mais
numeroso de fabricantes que não atingem o mesmo nível de desempenho.
No presente artigo, baseado em pesquisa bibliográfica, realiza-se a análise do
ambiente de negócio e a análise estrutural da industrial de EMHO com o objetivo de captar as
especificidades do processo de inovação por seus fabricantes e a dinâmica de competição na
indústria. Assim, na seção 1, apresenta-se e delimita-se o conceito de Complexo Econômico-
Industrial da Saúde, onde está inserida a indústria nacional de equipamentos médico-
hospitalares e odontológicos (EMHO). Na seção 2, analisa-se o ambiente de negócio da
indústria de EMHO. Na seção 3, realiza-se a análise da estrutura industrial. Na seção 4,
baseada nas duas seções anteriores, sintetizam-se as peculiaridades do processo de inovação
na indústria de EMHO. Na quinta e última seção, apresentam-se as considerações finais
acerca da situação atual da indústria em foco.

1. Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS)


Neste artigo, reconhece-se a existência e a interação entre duas lógicas que moldam o
comportamento dos agentes do setor da Saúde: a sanitária e a econômica.
A lógica sanitária tem a qualidade de vida das pessoas como objetivo final e busca
alcançá-lo mediante ações de promoção da sáude e prevenção de doenças, priorizando
aspectos tais como eficácia e segurança dos serviços, medicamentos e tratamentos, bem como
o acesso universal. Entretanto, o acesso universal, apesar de garantido na Constituição, não é
uma realidade concreta para uma grande parte da população brasileira, que depende do
Sistema Único de Saúde – SUS.

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ANAIS
Por sua vez, a lógica econômica preocupa-se com aspectos tais como os custos da
atenção à saúde, a produção local de insumos (por exemplo, fármacos e reagentes) e
equipamentos e o saldo da balança comercial. Os números são impressionantes. Segundo
dados do Ministério da Saúde, o setor responde por 8,8% do PIB, ocupa 10% da força de
trabalho nacional e movimenta US$100 bilhões por ano (MOYSÉS JUNIOR, 2012).
Pressionados pelo aumento e envelhecimento da população; pelo aumento da renda,
especialmente das classes C, D e E; pela mudança do perfil epidemiológico e pela ampliação
da oferta dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), esses números tendem a continuar
crescendo nos próximos anos. Em termos de demanda por serviços de atenção à saúde, esta é
atendida principalmente por meio dos serviços públicos e, portanto, requer a aplicação de
dinheiro público. Como uma grande parte dessa crescente demanda interna é atendida com
importações, o saldo negativo da balança comercial do setor, que, segundo a ABIMO (2013)
atingiu o patamar de US$ 3.359 milhões em 2011, tende a agravar-se. Resumidamente,
reconhece-se que o déficit é estrutural e demonstra a existência de uma inferioridade
competitiva nas indústrias relacionadas ao CEIS como um todo.
Essa dupla lógica é mais bem apreendida quando se utiliza o conceito de complexo
econômico industrial da saúde (CEIS) como instrumento de análise e proposição de ações. Tal
conceito tem sido empregado em vários estudos recentes (GADELHA 2003; 2006; 2007 e
GADELHA et al., 2008/2009).
Nas palavras do próprio Gadelha, o conceito de CEIS significa:

“Na percepção adotada, a saúde passa a ser vista como um espaço


econômico interdependente que configura um sistema de inovação e
um sistema produtivo, congregando alto potencial de geração de
conhecimentos, a existência de uma base econômica setorial de alta
importância, o consumo de massas e a presença destacada do Estado
na regulação e na promoção das atividades e da inovação. O fator
analítico e normativo substantivo a ser destacado é a incorporação,
nesta abordagem, tanto das atividades industriais quanto dos serviços,
que articulam o complexo do ponto de vista do mercado, institucional
e do conhecimento e que, por sua vez, também possuem uma
dinâmica própria de produção e de inovação. Como decorrência, a
estratégia de investimento em saúde passa necessariamente por uma
forte articulação analítica e normativa entre as dimensões da inovação,
da base produtiva e do bem-estar social.” (GADELHA et al.,
2008/2009: 1-2)

O CEIS, mostrado esquematicamente na figura 1, congrega três subsistemas. Os


produtos dos dois primeiros subsistemas (base química e biotecnológica e base mecânica,
eletrônica e de materiais) convergem para o subsistema de serviço. O subsistema de base
mecânica, eletrônica e de materiais engloba atividades industriais de equipamentos e
instrumentos mecânicos e eletrônicos, órteses e próteses e materiais de consumo em geral
(GADELHA et al., 2008/2009) e é o locus da indústria nacional de EMHO, alvo deste estudo.

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Figura 1 - Visão geral do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.


Fonte: Gadelha, 2003.

Como partes constituintes de um mesmo complexo, uma mudança em qualquer um


dos três subsistemas afeta os demais. Assim, inovações em equipamentos acabam por
influenciar os procedimentos adotados na prestação dos serviços de saúde, uma vez que
requerem e/ou possibilitam mudanças na maneira de desempenhar as atividades de prevenção,
diagnóstico e tratamentos da saúde. Nesse sentido, algumas inovações têm permitido a
transferência de atividades de atenção à saúde dos hospitais para ambulatórios e domicílios.
Ao mesmo tempo, inovações em equipamentos podem requerer algum tipo de alteração ou
inovação complementar em termos de, por exemplo, insumos físicos e químicos (FURTADO,
2001).
Como proliferam os modos de classificar e as divergências entre os números do setor
(CALIL, 2001), a classificação da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e
Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO) foi tomada
como referência. Esta classificação estabelece os seguintes setores: equipamentos médico-
hospitalares, implantes e reabilitação, laboratórios, material de consumo, odontologia, e
radiologia e diagnóstico por imagem. O setor de equipamentos médico-hospitalares engloba a
categoria eletromédicos (mesa cirúrgica, incubadora, aparelho de anestesia, autoclave,
respirador, monitor cardíaco, eletrocardiógrafo, lâmpada cirúrgica, bomba de infusão, diálise,
diagnóstico por imagem e outros), que é o foco deste artigo.
Essa categoria foi escolhida devido ao conteúdo tecnológico relativamente mais
elevado dos produtos, ao impacto na balança comercial e a sua relação direta com a prestação
de assistência à saúde. Comparando o ano de 2009 com 2008, as importações de
equipamentos médico-hospitalares reduziram cerca de 1%, enquanto as exportações
reduziram 25,2%. Com isso, o saldo da balança comercial do segmento atingiu –
US$393.263.374,00 (IEMI, 2010). Analisando a categoria ao nível de produtos, encontra-se,
pelo menos, um caso de sucesso competitivo, mesmo diante do quadro geral tão desvantajoso.
Trata-se das incubadoras para recém nascidos, cujos fabricantes atendem boa parte da

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demanda interna combinado com exportações sustentadas, até para países tecnologicamente
mais avançados, como os Estados Unidos. No ano de 2009, o Brasil exportou US$6.351.813,
importou US$ 75.648, perfazendo um saldo de US$ 6.276.165 para este equipamento (IEMI,
2010).

2. O ambiente de negócio da indústria de EMHO


Na figura 2, apresenta-se uma visão geral do ambiente de negócio da indústria de
EMHO no Brasil. Na parte central da figura, têm-se os fabricantes de equipamentos. No que
diz respeito aos de capital nacional, estes são, tipicamente, de pequeno e médio porte,
concentrados na fabricação de equipamentos com tecnologias maduras (afastadas da fronteira
tecnológica). Têm ainda reduzida competitividade nos segmentos mais dinâmicos, com
dificuldades para lidar com os novos paradigmas tecnológicos, de estrutura empresarial
fragmentada e familiar. No que diz respeito às subsidiárias das grandes multinacionais, estas
são, tipicamente, de grande porte, concentradas na fabricação de equipamentos com
tecnologias avançadas, diversificadas, com grande poder de investimento em P&D e
detentoras de recursos complementares importantes.

Figura 2 - Ambiente de negócio da indústria de EMHO.


Fonte: elaboração própria com informações de ABDI, 2007.

No lado esquerdo da figura 2, observam-se dois níveis de fornecedores de insumos.


No primeiro nível estão os fornecedores de componentes, subconjuntos e serviços
especializados para a indústria de EMHO. Tais fornecedores são importantes porque os
equipamentos para saúde têm explorado a convergência de tecnologias oriundas de diversos
campos de conhecimento, tais como micro-eletrônica, óptica, tecnologia da informação,
mecânica de precisão, química e novos materiais. Destaca-se também a importação de
componentes (por exemplo, chips especializados) para a produção interna de alguns
equipamentos. Em se tratando de equipamentos importados, geralmente ela está associada à
prestação de serviços especializados de manutenção e assessoria técnica por parte dos

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fabricantes. No segundo nível estão os fornecedores de peças e componentes isolados, não
necessariamente específicos para a indústria de EMHO.
No lado direito da figura 2, também se observam dois níveis de compradores dos
equipamentos. No primeiro nível estão os distribuidores, atacadistas e representantes. No
segundo nível, destacam-se os hospitais (públicos, filantrópicos e privados), os consultórios
(clínicos e odontológicos), os laboratórios de diagnósticos e os usuários finais (para os casos
de equipamentos mais simples, tais como medidores de pressão arterial, termômetros e
medidores de glicose, cuja operação não represente riscos excessivos à saúde).
Na parte superior da figura 2, observa-se a presença de órgãos regulamentadores e
reguladores da atividade industrial, com destaque para a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária – (ANVISA), responsável pela definição das Boas Práticas de Fabricação e pelo
registro de produtos; e do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), responsável pela
avaliação da conformidade e pelo sistema nacional de metrologia. Em resumo, os órgãos
regulamentadores e reguladores estabelecem as condições mínimas de segurança e de
desempenho dos equipamentos comercializados no país. Para ilustrar uma regulamentação
recente que afeta parte da indústria de equipamentos, basta citar a obrigatoriedade de
atendimento às normas ABNT NBR IEC 60601/2010, referentes à segurança básica e
desempenho essencial de equipamentos eletromédicos. Apesar da importância e dos esforços
da atividade de regulamentação e regulação dos EMHO, ainda ocorrem eventos adversos
como, por exemplo, os associados à baixa qualidade dos produtos para implantes ortopédicos
(LUZ NETO, 2007).
Outro papel desempenhado por órgãos de governo é o de promoção (apresentado na
parte superior da figura 2). Neste sentido, destaca-se a atuação da Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial (ABDI), criada em dezembro de 2004. Seu principal enfoque tem
sido os programas de governo e projetos estabelecidos pela Política de Desenvolvimento
Produtivo (PDP), lançada em maio de 2008. Dentre todas as atividades desenvolvidas pela
ABDI, de especial importância para esta pesquisa é o Estudo Prospectivo com foco no
desenvolvimento tecnológico e na inovação pela indústria EMHO, fatores de contribuição
para uma indústria nacional mais competitiva no mercado global.
Destaca-se também a atuação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos (Apex-Brasil) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A APEX atua
na “promoção comercial de produtos e serviços brasileiros no exterior e na atração de
investimentos estrangeiros diretos (IED) para setores estratégicos da economia brasileira”
(APEX; 2012).
A FINEP é uma empresa pública vinculada ao MCT que financia projetos de inovação
(com recursos reembolsáveis e não reembolsáveis) e promove a realização do Prêmio FINEP
de Inovação, “criado para reconhecer e divulgar esforços inovadores realizados por empresas,
instituições sem fins lucrativos e inventores brasileiros, desenvolvidos no Brasil e já aplicados
no País ou no exterior” (FINEP, 2012). Ela também é a entidade gestora dos Fundos Setoriais
de Ciência e Tecnologia, entre os quais o CT-Saúde, cujo um dos objetivos é o estímulo ao
aumento dos investimentos privados em P&D na área e à atualização tecnológica da indústria
brasileira de equipamentos médico-hospitalares.
Em relação ao BNDES, cabe destacar que a instituição utiliza vários instrumentos de
apoio à indústria de EMHO, tais como linhas de financiamento tradicionais, o Cartão BNDES
(utilizado pelas empresas do setor tanto para a venda de seus produtos a clínicas e hospitais
como para a compra de insumos e serviços tecnológicosi) e o Profarma, seu principal
programa de apoio a este setor industrial (PIERONI et al., 2010).

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O BNDES-Profarma tem como diretrizes estratégicas a elevação da competitividade
do complexo industrial da saúde, a contribuição para a redução da vulnerabilidade da Política
Nacional de Saúde e a articulação da Política Industrial e a Política Nacional de Saúde.
Resumidamente, entre seus objetivos estratégicos estão o aumento, de forma competitiva, da
produção de equipamentos médicos, bem como a indução da pesquisa, desenvolvimento e
produção local destes equipamentos (BNDES, 2012).
Por sua vez, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
é o responsável pelo Plano Brasil Maior, lançado em agosto de 2011, que representa a política
industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior do governo federal, cujo objetivo é
aumentar a competitividade dos produtos nacionais a partir do incentivo à inovação e à
agregação de valor. Na sua diretriz estruturante 2, voltada para a ampliação e criação de novas
competências tecnológicas e de negócios, este plano contempla o Complexo Industrial da
Saúde (CIS) de maneira explícita. De modo não restrito ao CIS, esta diretriz pretende
incentivar atividades e empresas com potencial para ingressar em mercados dinâmicos e com
elevadas oportunidades tecnológicas. Para tanto, prevê o uso do poder de compra do setor
público para criar negócios intensivos em conhecimento e escala. Na diretriz estruturante 4,
voltada para a diversificação das exportações, tanto em termos de mercados quanto de
produtos, e internacionalização corporativa, novamente o CIS é contemplado de modo
explícito. Os objetivos desta diretriz são a promoção de produtos manufaturados de
tecnologias intermediárias e de fronteira intensivos em conhecimento; o aprofundamento do
esforço de internacionalização de empresas via diferenciação de produtos e agregação de
valor; e o enraizamento de empresas estrangeiras e estímulo à instalação de centros de
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no país (MDIC, 2012).
O Ministério da Saúde, no âmbito do programa Mais Saúde: Direito de Todos e em
parceria com o BNDES, FINEP, MDIC e MCT, adotou importantes medidas, as quais
abrangeram o setor da saúde como um todo. De particular interesse para este projeto de
pesquisa, é a diretriz estratégia 5, voltada para o fortalecimento do complexo produtivo e
inovação em saúde, e o eixo 3, que busca dotar o país de uma base produtiva e de
conhecimento que o capacite a atender internamente as necessidades de saúde da população
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Embora não sejam fabricantes no sentido estrito da palavra, registra-se a existência de
empresas importadoras, que também suprem a demanda do mercado interno brasileiro. Tais
importadores respondem por uma parcela significativa da demanda e estão organizados em
associação, a saber, a Associação Brasileira dos Importadores de Equipamentos, Produtos e
Suprimentos Médico-Hospitalares (ABIMED). Além deste canal de suprimento, a importação
também é feita diretamente por hospitais públicos e instituições não lucrativas (GADELHA et
al., 2008/2009). Além de equipamentos novos, também acontece a importação de
equipamentos usados, formando o denominado “mercado de equipamentos de segunda mão”.
Nesse mercado, ocorre a revenda de equipamentos usados no estado ou reformados. A
reforma é feita pelos próprios fabricantes ou por outras empresas (CALIL, 2001).
Em relação ao crescente mercado de equipamentos usados, a preocupação com a
regulamentação e regulação também se faz presente. Não bastasse a necessidade de controlar
a importação legal e regulamentar de equipamentos usados, há ainda os casos de hospitais e
prefeituras municipais que tentam burlar a regulamentação disfarçando a importação de
equipamentos usados como doações ou como se fossem novos. Os problemas das deficiências
na regulamentação e regulação desse mercado são os riscos potenciais à saúde (de pacientes e

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operadores), bem como a evasão de divisas para os pagamentos dessas compras e dos serviços
de manutenção (CALIL, 2001).
Complementando a visão geral do ambiente de negócio, dada sua importância,
convém considerar as entidades de classe. Dentre estas, é de particular interesse para este
estudo a ABIMO, que foi fundada em 1962, por 25 fabricantes de produtos médicos e
odontológicos, que decidiram se unir para fortalecer, organizar e regulamentar o segmento.
Na época, o grupo tinha como foco garantir a qualidade e a segurança dos equipamentos
médico-hospitalares produzidos no país. A ABIMO atua na promoção das atividades
produtivas e de inovação, bem como na representação das empresas do setor e na defesa dos
seus interesses junto aos órgãos de governo. Ao final de 2011, das 449 empresas que atuavam
no setor, cerca de 320 (71,3%) integravam o quadro associativo da entidade (ABIMO, 2011).
Tendo em vista a relativa escassez de informações sobre a incorporação de
equipamentos, a discrepância entre os números (CALIL, 2001) e a multiplicidade de formas
de classificação, destaca-se a relevante contribuição da ABIMO para o setor ao estabelecer
sua própria classificação (de equipamentos e fabricantes).
Adicionalmente, essa associação tem realizado importantes ações de interesse de seus
associados, tais como o trabalho de conscientização e incentivo à busca de certificação e o
convênio com a Apex, para a participação das indústrias brasileiras nas grandes feiras
internacionais, assim promovendo e divulgando a produção nacional (GUTIERREZ e
ALEXANDRE, 2004).
Apesar da existência e atuação da ABIMO, o setor não foi beneficiado com nenhuma
orientação específica em relação à demanda por equipamentos gerada pelo Reforsus (Reforço
à Reorganização do Sistema Único de Saúde 1996, programa de investimentos do Ministério
da Saúde na recuperação da rede física de saúde do país que presta serviços ao SUS). O
componente I do Reforsus incluía a compra de equipamentos médico-hospitalares e unidades
móveis para hospitais públicos e filantrópicos. No total, o programa contou com recursos de
US$ 650 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial
(GUTIERRES e ALEXANDRE, 2004). Esse e outros casos corroboram a necessidade e
importância das associações empresariais do setor (CALIL, 2001).

3. A análise da estrutura industrial


Procede-se a seguir a análise estrutural da indústria brasileira de EMHO, conforme o
modelo das cinco forças de Porter: novos entrantes; rivalidade na indústria; substitutos; poder
dos fornecedores; e poder dos compradores (PORTER, 1989).
Em relação aos novos entrantes e no caso particular dos equipamentos de alta
complexidade tecnológica (fronteira tecnológica) e alto valor unitário, considera-se baixa a
ameaça dessa força, uma vez que as dependências da trajetória tecnológica, economias de
escala, necessidade de capital, elevados custos de mudança, barreiras técnicas
(regulamentação técnica) impostas pelos governos e a necessidade de ativos complementares
(tais como acesso a canais de distribuição global e rede de assistência técnica) das empresas
constituem-se elevadas barreiras de entrada, proporcionando uma base de defesa ampla e
consolidada.
Adicionem-se a esses aspectos o fato de que as empresas dessa indústria ofertam
soluções integradas (produtos diferenciados associados a serviços), além de linhas de
financiamento competitivas (GUTIERREZ e ALEXANDRE, 2004).
Cabe lembrar que os fabricantes de EMHO geralmente são empresas multinacionais
diversificadas (atuam em mais de uma indústria), de múltiplas competências técnicas e de

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grande porte (FURTADO, 2001). Ao longo do tempo, estes fabricantes construíram um
abrangente conjunto de patentes, marcas consagradas no mercado e redes de distribuição
globais. Em conjunto, tais atributos proporcionam aos fabricantes os benefícios típicos da
vanguarda tecnológica, tais como boa reputação, ganhos de escala e escopo (inclusive em
P&D), além de uma substancial proteção da sua propriedade industrial. O fato de serem
diversificados ainda lhes proporciona poder de retaliação, seja na própria indústria de EMHO
ou em outra indústria onde um novo entrante potencial também opere. Por tudo isso, as
barreiras de entrada nos segmentos em que eles atuam são consideradas altas.
No segmento de equipamentos de média e baixa complexidade tecnológica (ou de
tecnologias maduras), como já foi dito, predominam as PMEs. Aqui, as barreiras aos novos
entrantes são mais baixas. Destaca-se que a crescente regulamentação técnica, para o setor
como um todo, acaba constituindo-se como uma primeira barreira de entrada.
Adicionalmente, observa-se que a necessidade de escala de produção tem crescido em
função da participação da China como fornecedora deste tipo de equipamentos. Em outras
palavras, para competir com os fabricantes chineses, as empresas nacionais têm de conseguir
um custo unitário menor, o que geralmente é conseguido com a ampliação das escalas de
produção, as quais, por sua vez, só se justificam quando se atende aos mercados em âmbito
global.
Em relação à rivalidade dentro da indústria, praticamente não há um enfrentamento
direto entre as empresas que atuam nos segmentos de alta complexidade (fronteira
tecnológica) e as fabricantes de equipamentos com médio-baixa complexidade (tecnologias
maduras). Dependendo do tipo específico de equipamento, a indústria se constitui um
oligopólio diferenciado, ou seja, pouquíssimas empresas globais têm o produto para oferecer,
não havendo propriamente uma disputa pelo mercado consumidor nem entre elas, muito
menos com as de média e baixa complexidade tecnológica. Não bastasse isso, os ciclos
tecnológicos desses tipos de equipamentos são cada vez mais curtos e os investimentos em
P&D, cada vez mais altos. Já entre os produtores de equipamentos de média e baixa
complexidade tecnológica, existe um grau maior de rivalidade e o poder destes fica reduzido
perante os compradores. Neste âmbito, a competição tende a ser com base no preço.
Em relação à ameaça de substituição, não que ela não aconteça, mas a introdução de
inovações é cumulativa, não ocorrendo necessariamente a interrupção do uso dos
equipamentos anterioresii. Mesmo assim, algumas tendências observadas nos últimos anos são
a redução do tamanho e complexidade de operar alguns equipamentos e a introdução de
equipamentos que possibilitem o tratamento doméstico. A exemplo disso, citam-se os
medidores de glicose, os medidores de pressão arterial e os equipamentos de hemodiálise.
Como se vê, estas inovações não dispensam os equipamentos semelhantes na rede de
hospitais e clínicas.
Em relação aos fornecedores de insumos não especializados, considera-se que é seu
poder é reduzido. Espera-se um grau de poder um pouco maior para os fornecedores de
insumos especializados (fornecedores de 1ª camada mostrados na figura 2), tais como os de
chips dedicados, sistemas, módulos e filtros (como os utilizados em equipamentos de
hemodiálise). Alguns desses insumos são importados e montados nos equipamentos
nacionais, reduzindo o grau de agregação de valor da própria indústria brasileira de EMHO.
Em relação ao poder dos compradores, no caso do Brasil, o Estado tem papel
destacado. Alguns equipamentos têm mercado monopsônio, isto é, muitos vendedores, mas
apenas um comprador, que é o SUS. Mesmo quando o SUS não é o único comprador, muitas
vezes, parte dos recursos para a aquisição de equipamentos de maior preço vem do governo.

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Nos segmentos em que o mercado tende à concorrência perfeita, o poder do comprador
aumenta por ter várias alternativas de fornecedores. Mesmo assim, no caso de compras
governamentais, o instrumento da margem de preferência tem sido utilizado. Trata-se de uma
política do governo, PAC Equipamentos, lançada pelo Ministério da Fazenda em 27 de junho
de 2012 e com cinco anos de vigência. A medida permite adquirir equipamentos e materiais
hospitalares nacionais com até 25% a mais do que o preço do correspondente importado.
Entre os objetivos das medidas, não focadas apenas nos EMHO, estão a ampliação da
capacidade produtiva e o aumento dos investimentos (Ministério da Fazenda, 2012).

4. Sobre o processo de inovação na indústria de EMHO


Como já foi dito, a introdução de inovações em EMHO é cumulativa, isto é, novos
produtos, baseados em novas tecnologias, não necessariamente substituem os já existentes.
Assim, eles se somam à infraestrutura tecnológica à disposição da Saúde e pressionam os
gastos de aquisição, operação e manutenção (CALIL, 2001).
De modo geral, em termos de inovações tecnológicas e utilizando a terminologia de
PAVITT (1984), a indústria de equipamentos para a saúde enquadra-se na categoria dos
“fornecedores especializados”, cujas principais fontes de tecnologia são o projeto, a
manufatura e a operação de equipamentos. A interação próxima com os clientes, para bem
identificar suas necessidades, alimenta o processo de geração incremental de novos produtos
por parte dos fabricantes.
Os fabricantes nacionais, embora em maior número, são de pequenos e médios portes
e ficam predominantemente restritos aos segmentos de média e baixa complexidade técnica
(GADELHA et al., 2008/2009), isto é, nos segmentos onde a tecnologia é considerada
madura. Em tais circunstâncias, as estratégias tecnológicas predominantes são a imitativa e a
tradicional (TIGRE, 2006), baseadas mais na inovação incremental do que na radical (SILVA
e TERUYA, 2009). Neste âmbito, a concorrência é em termos de preços e, por isso, correm o
risco da “armadilha da pobreza” (JOHNSON e LUNDVALL, 2005). Em outras palavras, uma
vez pressionadas a reduzirem os custos, geralmente deixam de investir em atividades que têm
prazo de retorno mais longo, como o treinamento e desenvolvimento e a pesquisa e
desenvolvimento (P&D), não avançando sua capacidade tecnológica e inovativa.
Desse modo, em alguns casosiii, a tecnologia em si constitui-se um obstáculo para as
empresas nacionais, porque estas não dominam os conhecimentos necessários ao projeto e
fabricação dos equipamentos. Nesse sentido, há de se considerar os efeitos da aceleração do
avanço da fronteira tecnológica no âmbito internacional, a partir da década de 1970, sobretudo
nos campos da informática e de novos materiais (FURTADO e SOUZA, 2001). Daí, a
importância de se verificar como as empresas nacionais fazem a gestão tecnológica e da
inovação.
Outro aspecto do fator tecnologia que tem impactado o setor é a crescente
regulamentação e regulação. Ressaltam-se as exigências de Registro Mestre do Produto
(RMP); de atendimento das Boas Práticas de Fabricação de Produtos Médicos (BPFPM) e do
Monitoramento de produtos comercializados; da certificação de produtos; e a análise de
eventos adversos (LUZ NETO, 2007). Esses e outros regulamentos técnicos, além de
obrigatórios, são custosos e demorados, constituindo-se uma dificuldade (técnica e
burocrática) a mais para os fabricantes brasileiros. Entretanto, uma vez superada essa
dificuldade inicial, os fabricantes mostram-se mais aptos a atender os requisitos técnicos do
mercado europeu e norte-americano, o que se constitui um efeito benéfico. Tem-se assim um
ciclo virtuoso, onde a adaptação de produtos, processos e empresas aos regulamentos estimula

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melhorias qualitativas (GUTIERREZ e ALEXANDRE, 2004). Mas também há um efeito
indesejável, que é a interrupção das atividades dos fabricantes que não conseguem avançar.
Um segundo fator a se considerar é a gestão do negócio. Aqui, incluem-se os aspectos
mercadológicos (como a empresa conquista e mantém seu espaço no mercado); gerenciais
(como a empresa planeja, organiza e controla o trabalho); e operacionais (como a empresa
realiza as macro-atividades logísticas de suprimento, fabricação e distribuição física de seus
produtos, além da maneira como ela se relaciona com os outros membros da cadeia de
suprimentos). Nesse sentido, registra-se que muitas das empresas nacionais ainda lidam com
problemas de práticas gerenciais inadequadas e estrutura familiar com baixo grau de
profissionalização (GADELHA et al., 2008/2009).
Em terceiro lugar, têm-se os fatores institucionais, que chamam a atenção para o fato
de que o desempenho inovativo de uma empresa não depende apenas da sua capacidade
individual (tecnológica e de gestão). Nesse sentido é que se faz relevante considerar também
como os fabricantes nacionais de EMHO se relacionam com os demais agentes do sistema
nacional de inovação em saúde – outras empresas, agentes financeiros, organizações de
pesquisa (e desenvolvimento) e o governo (JOHNSON & LUNDVAL, 2005).
Em quarto lugar, têm-se os fatores conjunturais, que englobam os incentivos e
entraves ao esforço inovador e que afetam as empresas em geral. Nesse sentido, reconhece-se
que há lugares que oferecem condições mais favoráveis do que outros. Basicamente, isso
acontece pela disponibilidade concentrada de determinados recursos naturais e de mão de
obra especializada, pela infraestrutura logística, e por políticas de incentivos fiscais
empreendidas pelos governos em todas as esferas (municipal, estadual e federal). Pelo menos
em parte, esses fatores explicam a elevada concentração dos fabricantes de equipamentos para
a saúde. Registre-se que na região sudeste encontra-se 85,9% das empresas (75,9% em São
Paulo, 6% no Rio de Janeiro e 4,0% em Minas Gerais) (GADELHA et al., 2008/2009). De
modo geral, infere-se que isso acontece pela proximidade com os principais mercados
consumidores, pela concentração industrial (característica do Brasil) e pela disponibilidade
concentrada de mão de obra especializada.
Esses quatro fatores (tecnológicos, de gestão, institucionais e conjunturais) ressaltam a
natureza sistêmica e dinâmica da inovação, que é mais bem compreendida quando abordada
como um fenômeno técnico, econômico, político, social e em constante evolução, em torno do
qual se desenvolvem o setor produtivo e as economias nacionais (GADELHA et al.,
2008/2009). Logo, da perspectiva da inovação, as capacidades tecnológicas e de gestão, ainda
que sejam bem atendidas, não são suficientes para garantir um nível de competitividade
adequado para a indústria de EMHO do Brasil. Existe a necessidade de se considerar todas as
quatro dimensões em conjunto, pois, do contrário, corre-se o risco de se chegar a conclusões
parciais, o que efetivamente reduziria a efetividade e sustentabilidade das vantagens
competitivas construídas.
Tal efeito ficou evidenciado no caso da empresa EMI (Reino Unido), pioneira na
pesquisa, desenvolvimento e comercialização do tomógrafo computadorizado (portanto,
detentora de competências tecnológicas e de gestão), mas que não conseguiu sustentar sua
vantagem competitiva inicial, porque lhe faltou a capacidade de comercialização e de
expansão da fabricação do seu produto. Para reforçar ainda mais esse argumento, as
evidências parecem apontar que esta é uma característica da indústria de equipamentos
médico-hospitalares do Reino Unido (FURTADO, 2001).
O fato de que a indústria de EMHO é predominantemente constituída por pequenas e
médias empresas (PME) requer investigação um pouco mais detalhada, sobretudo no que diz

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respeito ao uso dos instrumentos de propriedade industrial (PI), o que será feito na seção
Erro! Fonte de referência não encontrada.3.3.

5. Considerações finais
Em termos de tecnologia e perfil empresarial, a indústria de EMHO como um todo,
apresenta grande heterogeneidade. Em relação à tecnologia, as empresas que atuam nos
segmentos de mercado mais avançados e de maior valor agregado investem significativa parte
de suas receitas em P&D, gerando um distanciamento tecnológico da concorrência e
reforçando a característica de oligopólio diferenciado dessa parte da indústria. Nos segmentos
de menor complexidade tecnológica, os esforços de inovação são mais orientados para
redução de custos, geralmente fundamentada em escala de produção e visando à competição
baseada em preços (GADELHA et al., 2008/2009).
Em relação ao perfil empresarial e no âmbito brasileiro, as grandes empresas,
basicamente subsidiárias das multinacionais, representam cerca de 8% do total, ocupam cerca
de 42% da mão de obra do setor, capturam quase 70% das vendas e predominam nos
segmentos de mercado com maior complexidade tecnológica. Já as médias e pequenas
empresas, embora em maior número (92% do total), ocupam os restantes 58% da mão de
obra, só conseguem capturar um pouco mais de 30% das vendas e ficam restritas aos
segmentos de média / baixa complexidade tecnológica, porém especializados (GADELHA et
al., 2008/2009).
Como já dito, estimativas sobre o mercado mundial para este ano sinalizam a
continuidade da tendência de aumento da demanda por serviços de saúde e, a reboque, por
equipamentos. Em termos de mercado brasileiro, no período de 2001 a 2006, observou-se um
aumento nas vendas de equipamentos para saúde a uma taxa de 18% a.a. e no número de
empresas, a taxa de 7% (GADELHA et al., 2008/2009).
Segundo estimativas, neste ano o mercado nacional de equipamentos deve atingir US$
3,4 bilhões, distribuídos em material de consumo (22,5%); diagnóstico por imagem (21,8%);
odontológico (4,4%); ortopédico (22,0%); e outros (29,3%), (GADELHA et al., 2008/2009).
O quadro descrito acima resume-se nos seguintes tópicos:
a) A demanda mundial e nacional por EMHO deve continuar crescendo nos próximos anos,
com possibilidades de expansão para indústria nacional. No âmbito nacional, foco desta
pesquisa, os gastos públicos e privados com a saúde têm sido impulsionados pelo
crescimento econômico e social, refletido no aumento do investimento estrangeiro direto
(IED), no crescimento das classes C, D e E, e no consequente aumento de demanda por
planos de saúde.
b) A produção interna é dominada por subsidiárias de grandes multinacionais, sobretudo nos
subsetores com tecnologia mais avançada. As subsidiárias, embora em menor número,
capturam a maior parte das vendas, além de empregarem mais pessoas e investirem mais.
c) Boa parte da demanda interna é atendida com importações diretas. Logo, um montante
considerável de divisas vai para o estrangeiro, refletindo o grau de competitividade da
indústria nacional, sobretudo nos itens de maior complexidade técnica, e deixando a
política nacional de Saúde exposta às oscilações do mercado financeiro internacional e
refém de estratégias competitivas nem sempre alinhadas com o interesse nacional.
d) As importações têm origem predominantemente nos países desenvolvidos, mas,
dependendo do equipamento específico, já começam a ocorrer importações também de
países em desenvolvimento, com destaque para a China.

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e) O país é o único nas Américas Central e do Sul a possuir uma base produtiva instalada,
relativamente diversificada, apesar de não conseguir competir com fabricantes
estrangeiros em todos os subsetores.
f) Predominantemente, empresas nacionais são de porte médio e especializadas nos
segmentos de baixa e média densidade tecnológica (apesar de isolados casos de sucesso,
inclusive com exportação da produção interna).
g) O contexto político e institucional é favorável às empresas nacionais, haja vista as
iniciativas governamentais, tais como o BNDES/Profarma, CT-Saúde, Brasil Maior e
Mais Saúde.

Todos estes pontos revelam que a indústria de EMHO está diante de situações que
precisam ser abordadas de modo sistêmico. Nesse sentido, um dos desafios que se impõem é
como promover a interação de todos os agentes direta ou indiretamente envolvidos com a
indústria de equipamentos e materiais médico-hospitalares e odontológicos (GADELHA et
al., 2008/2009).
Registra-se que, da parte do governo, já há ações concretas nesta direção: ampliação
do escopo do BNDES/Profarma (2007), da prioridade conferida pelos programas de CT&I e
da transformação do escopo das ações da política de saúde e pelo esforço de mobilizar o
aparato regulatório para o desenvolvimento empresarial deste subsistema (GADELHA et al.,
2008/2009).
Da parte das empresas nacionais fabricantes de EMHO, os esforços que elevaram as
exportações não foram suficientes para reverter o quadro de dependência externa. Isso chama
a atenção para a necessidade de desenvolver competências a fim de aproveitar as tendências
de aumento de demanda, já mencionadas. Essas competências transcendem as questões
técnicas. Mais do que isso, elas precisam ser adquiridas e/ou desenvolvidas, mediante um
autêntico processo de aprendizagem organizacional e, frequentemente, interorganizacional.
De modo geral, os aspectos discutidos até aqui permitem caracterizar a indústria de
EMHO como dinâmica do ponto de vista mercadológico, tecnológico e inovativo, de interesse
de empresas nacionais e multinacionais, com importantes desdobramentos econômicos e
sociais para o Brasil.
Os poucos casos de desempenho sustentável junto com o quadro geral de aumento das
exportações de equipamentos médicos, mesmo que não consigam reverter o quadro geral de
dependência externa, sinalizam que já existe uma base de competência instalada em algumas
empresas. Cabe lembrar que “oportunidades de demanda locais e pressões competitivas não
resultarão em inovação, a menos que as empresas possuam competências que as capacite a
responder.” (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008: 157).
Alguns estudos (ALVES, BOMTEMPO e COUTINHO, 2005; ALVES e
BOMTEMPO, 2007) consideram que as competências necessárias para inovar transcendem a
dimensão técnica. Nesse sentido, torna-se necessário compreender os aspectos técnicos,
organizacionais e relacionais mais influentes na dinâmica da inovação a que os fabricantes de
equipamentos médico-hospitalares estão submetidos, pois o potencial e o processo de
inovação são afetados por eles.

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autorização); avaliação de viabilidade de pedido de registro de propriedade intelectual no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial – INPI; projeto de experimento; design, ergonomia e modelagem de produtos;
prototipagem; resposta técnica de alta complexidade; e aquisição de conhecimentos tecnológicos e
transferência de tecnologia.
ii
Para ilustrar este fenômeno, registra-se que a introdução da ressonância magnética, por exemplo, não
eliminou o uso de radiografias.
iii
Para ilustrar, registra-se que, no período entre 1989 e 1998, por conta da introdução da tecnologia digital,
cujo projeto e fabricação as empresas nacionais não dominavam, o Brasil passou da condição de exportador
para importador de termômetros (FURTADO e SOUZA, 2001: 83).

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