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Gestão da Assistência
Farmacêutica
Especialização a distância
Módulo 3: Políticas de
saúde e acesso a medicamentos
O acesso aos
medicamentos no
sistema público
brasileiro e a
construção da
assistência
farmacêutica
Módulo 3
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República Dilma Vana Rousseff
Ministro da Saúde Alexandre Rocha Santos Padilha
Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Milton de Arruda Martins
Diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES/SGTES) Sigisfredo Luis Brenelli
Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) Carlos Augusto Grabois Gadelha
Diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF/SCTIE) José
Miguel do Nascimento Júnior
Responsável Técnico pelo Projeto UnA-SUS Francisco Eduardo de Campos
COMISSÃO GESTORA
Coordenadora do Curso Mareni Rocha Farias
Coordenadora Pedagógica Eliana Elisabeth Diehl
Coordenadora de Tutoria Rosana Isabel dos Santos
Coordenadora de Regionalização Silvana Nair Leite
Coordenador do Trabalho de Conclusão de Curso Luciano Soares
EQUIPE EaD
Alexandre Luiz Pereira
Bernd Heinrich Storb
Fabíola Bagatini
Fernanda Manzini
Gelso Luiz Borba Junior
Guilherme Daniel Pupo
Marcelo Campese
Blenda de Campos Rodrigues (Assessora Técnico-Pedagógica em EaD)
AUTORES
Rosana Isabel dos Santos
Luciano Soares
© 2011. Todos os direitos de reprodução são reservados à Universidade Federal de Santa Catarina.
Somente será permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte.
Referências. ........................................................................ 70
Unidade 4
Módulo 3
UNIDADE 4 − O ACESSO AOS MEDICAMENTOS
NO SISTEMA PÚBLICO BRASILEIRO E A CONS-
TRUÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
Ementa da Unidade
Apresentação
Caro especializando,
para que uma atividade seja útil ela deve ter uma função relevante,
deve ser bem explicada teoricamente e, talvez, o mais importante,
isso deve estar claro para os profissionais que nela atuam. Essa
unidade tem a intenção de construir com você o sentido e a
importância da assistência farmacêutica, caracterizando cores e
matizes, contradições e avanços.
Bons estudos!
Conteudistas responsáveis:
Conteudista de referência:
Luciano Soares
Conteudistas de gestão:
Contextualizando
Reflexão
E os farmacêuticos?
Reflexão
Acesso a quê? Para iniciar, vamos refletir sobre a razão de ser dos
serviços de saúde organizados em seu território de trabalho.
Reflexão
Você já se perguntou por que eles existem e por que estão organizados
da forma que você conhece?
anestesia
Julio Frenk, médico 2 Frenk2, a partir das ideias de Donabedian, sistematizou o fluxo de
mexicano, nascido em 1953, eventos entre a necessidade e a obtenção de cuidados necessários
foi Secretário de Saúde do (acessibilidade) (TRAVASSOS e MARTINS, 2004).
México e é professor na
Escola de Saúde Pública de A ilustração abaixo nos ajuda a entender a concepção de Frenk sobre
Havard. acessibilidade, como a relação existente entre:
Os obstáculos para procurar e obter cuidados... ...e as respectivas ...e as respectivas capacidades que a população teria em superar
capacidades que a população teria em superar esses obstáculos... esses obstáculos...
O desfecho não depende apenas do acesso a esse recurso qualificado, mas da adequação
da utilização desse recurso.
Acesso Acessibilidade
Percepção da acessibili-
Características da oferta
dade pelas pessoas
Características contextuais
Disponibilizar Disponibilizar
USO POTENCIAL DOS
SERVIÇOS DE SAÚDE
• Meios para obter
Saúde Estado
• Conhecimento de como obter
• Serviços
• Pessoal • Meios para obter
Privado
• Conhecimento de como obter
Bloco de notas:
Você saberia dizer quanto seu município gastou no ano 2010
para financiar a assistência farmacêutica? Você saberia dizer, de
forma fundamentada, se os recursos financeiros para a assistência
farmacêutica de seu município são insatisfatórios e por quê? Você
alguma vez já buscou essas informações? Se buscou, você encontrou
dificuldades para obter essas informações?
Acesse agora o seu Bloco de notas e registre as respostas a essas
questões. Elas serão fundamentais no processo de construção da sua
formação enquanto gestor, e das propostas de intervenção que você
deverá desenvolver no seu âmbito de trabalho.
Características individuais
}
WHO - 1985 Normal IGT Diabetes
WHO - 1999 Diabetes Diabetes Diabetes 40 (4)
≥ 7.8 ADA = Diabetes
n (%) 0 0 9 (0.9) 9
WHO - 1985 Diabetes Diabetes Diabetes
WHO - 1999 Diabetes Diabetes Diabetes
The data are in n (%). WHO - 1985, Diagnostic criteria of the WHO (1985); WHO - 1999, diagnostic criteria
of the WHO (1999); ADA - 1997, criteria of the ADA (1997) based exclusively on fasting plasma glucose.
Bold text: persons with different diagnoses according to whether the criteria of the WHO - 1985 or WHO
- 1999 are used.
Fonte: Botas et al. (2003).
Tabela 3 - Distribuição das pessoas segundo motivo da procura e tipo de serviço de saúde procurado, segundo
sexo e região urbana e rural.
Total** Total**
Motivo da procura* Homens Mulheres Serviço procurado Homens Mulheres
(%) (%) (%) (%)
Exames de rotina
28,4 40,3 Posto ou Centro 30,2 32,6
ou prevenção
Consultório
Doença 36,3 33,4 28,6 29,3
particular
Problema
12,4 10,5 Hospital 20,0 19,5
odontológico
Tratamento ou
11,3 10,4 Ambulatório clínica 8,8 10,0
reabilitação
Acidente ou lesão 7,1 2,7 PS/emergência 6,1 4,2
Vacinação 3,7 2,3 Farmácia 2,2 1,4
Amb. emp./
Atestado de saúde 0,7 0,3 2,4 1,2
sindicato
Outro motivo 0,1 0,0 Laboratório 0,6 0,8
Outro 1,0 1,0
Total Total
n 17.4046 26.328* n 17.049 27.745 RESULTADOS
% 100,0 100,0 % 100,0 100,0
* Excluindo motivos de procura de serviço de saúde relacionados a parto e pré-natal (4,9%
das mulheres na região urbana e 5,6% na região rural) Estado
** p<0,01 percebido
de saúde
Fonte: Adaptado de Brasil,1998
Proporção (%)
50,0 44,9 48,1
40,0
31,1 31,4
30,0 24,1
20,718,8 20,5 19,4
20,0 14,0 11,0
10,0 5,4
0,0
Centros e/ou Saúde da Médicos Urgência e Distribuição de
postos de saúde Família especialistas emergência medicamentos
Gráfico 2 - Proporção (%) das opiniões dos entrevistados a respeito da qualidade dos serviços públicos de saúde
prestados pelo SUS, segundo utilização e tipo de serviço pesquisado.
Fonte: BRASIL,2010
Bermudez et al. (1999, p.13) apud Oliveira et al. (2002, p.1432) definem
acesso a medicamentos como a “relação entre a necessidade de
medicamentos e a oferta dos mesmos, na qual essa necessidade é
satisfeita no momento e no lugar requerido pelo usuário (consumidor),
com a garantia de qualidade e a informação suficiente para o uso 3 Esse é um dos conceitos
adequado”. de políticas públicas. Celina
Souza (2006, p.24), em
Finalizamos sem fechar posição sobre a melhor definição de acesso. uma revisão da literatura,
Mais do que definir acesso, buscamos nesta lição identificar os descreve que “Não existe
elementos que caracterizam o acesso e compreender como eles uma única, nem melhor,
afetam a vida das pessoas e o funcionamento do SUS. definição sobre o que seja
política pública. Segunda
a autora, Mead (1995) a
Lição 3 - Políticas públicas voltadas para o acesso aos medica- define como um campo
mentos dentro do estudo da política
que analisa o governo à
O objetivo desta lição é lhe fornecer subsídios para que você luz de grandes questões
possa reconhecer as políticas públicas relacionadas ao acesso aos públicas e Lynn (1980),
medicamentos e sua relação com diferentes modelos conceituais de como um conjunto de
saúde e de proteção social. ações do governo que irão
produzir efeitos específicos.
Para isso, vamos discutir as formas pelas quais o Estado pode agir, via Ainda para Souza, Peters
políticas públicas, para facilitar ou garantir o acesso da população aos (1986) segue o mesmo veio:
medicamentos. Iniciaremos discutindo como o “jeito de conceber” a política pública é a soma
saúde interfere na definição e implementação das políticas públicas/ das atividades dos governos,
sociais. Neste momento, procuraremos interligar os conteúdos e que agem diretamente
conceitos abordados anteriormente, relacionando-os entre si. ou através de delegação,
e que influenciam a vida
Finalmente, vamos nos deter na questão das políticas públicas/ dos cidadãos e Dye (1984)
sociais para o acesso aos medicamentos em geral. sintetiza a definição de
política pública como “o que
Políticas públicas, necessidades e demandas o governo escolhe fazer ou
não fazer”. Para Souza, a
A segunda lição da unidade 2 deste Módulo aborda os modelos de definição mais conhecida
proteção social, as políticas públicas3 como respostas técnicas e continua sendo a de Laswell,
políticas do Estado frente a problemas da sociedade. A questão que ou seja, decisões e análises
permanece é sob qual perspectiva um “problema da sociedade” é sobre política pública
reconhecido como tal. O que é problema para um grupo social, pode implicam responder às
não ser assim considerado por outro grupo, ou pelo Estado. Então, seguintes questões: quem
vamos recolocar a questão em termos de necessidade e demanda. ganha o quê, por quê e que
Acompanhe o seguinte diálogo. diferença faz (SOUZA, 2006).
B: Humm...
B: Humm...
Reflexão
Quadro 11 - Questões referentes ao medicamento que devem ser respondidas pelas políticas públicas/sociais
voltadas ao acesso.
Necessidade Questões
Quadro 12 - Questões referentes aos serviços, e que devem ser respondidas pelas políticas públicas/sociais
voltadas ao acesso.
Quadro 13 - Questões referentes ao financiamento, que devem ser respondidas pelas políticas públicas/sociais
voltadas ao acesso.
Respostas do Estado
• agente de fomento,
• agente regulador.
Quadro 14 - Ações do Estado em seu papel de produtor de medicamentos, prestador de serviços relacionados à
assistência farmacêutica e financiador do setor saúde.
Link
Reflexão
Número de farmácias
10.790
6.459
5.052
2.995
Link
Reflexão
Essa expressão tem sido 10 Essa notícia, comum nos últimos anos, é um exemplo da ação do
utilizada em referência Poder Judiciário frente ao Poder Executivo, na efetivação de um
à intervenção do Poder direito social, no fenômeno da “judicialização da saúde10”. Mas
Judiciário na determinação aqui, queremos chamar a atenção para outro aspecto da notícia:
do fornecimento, pelo a assistência farmacêutica como o simples fornecimento de
Estado, de serviços e medicamentos pelo setor governamental.
produtos destinados à
saúde, para indivíduos, Quando o Judiciário decide somente com base na afirmação do
independentemente das direito à saúde, ignorando as políticas sociais e econômicas já
políticas públicas com esse estabelecidas, ele interfere nessas, se sobrepondo aos outros dois
fim. poderes, o Legislativo e o Executivo.
Exemplo 2
Seleção
Utilização: prescrição
Programação
dispensação e uso
Gerenciamento
Financiamento
Recursos Humanos
Sistema de Informações
Controle e Avaliação
Distribuição Aquisição
Armazenamento
Reflexão
Exemplo 4
15 Foi um período no
Com isso, durante muitos anos, a assistência farmacêutica, assim qual o ensino e o
entendida, esteve desvinculada da atividade do profissional exercício farmacêuticos
farmacêutico, diferentemente do que ocorria, e ainda ocorre, em relação se encontravam
a outros profissionais (como o médico e o odontólogo, para manter os predominantemente
voltados às análises clínicas
exemplos anteriores).
ou, em menor escala, à
produção industrial de
medicamentos.
A expressão literalmente 16 Em outras palavras, pode-se dizer que esses autores propuseram
usada foi “farmácia a adoção, por parte de farmacêuticos atuantes em farmácias
comunitária” (community comerciais16, dos preceitos da “Farmácia Clínica”, movimento
pharmacy). Consideramos, surgido na década de 1960, também nos Estados Unidos da América.
entretanto, essa expressão
inadequada para a A Farmácia Clínica, originada no meio hospitalar, buscava colocar
realidade brasileira, na o farmacêutico como elemento de ligação entre o médico (e o
qual os estabelecimentos diagnóstico), os resultados laboratoriais e o usuário, particularmente
farmacêuticos são mais no que diz respeito à informação sobre a medicação. Estabelecendo,
bem caracterizados como conjuntamente com o usuário e com o médico metas a serem atingidas,
“comerciais”. o farmacêutico atuaria monitorando as respostas apresentadas à
terapia farmacológica.
Quadro 15 - Diferenças entre os termos “atenção” e “assistência” quando empregados na saúde e, especificamente,
em questões farmacêuticas.
Dimensão
Ética
Dimensão Dimensão
Financeira Organizativa
SUS
Dimensão
Dimensão
Técnico-
Legal
operativa
Dimensão
Política
Ou seja, o SUS tem a ambição de contribuir para a formação de 17 O significado prático dos
uma sociedade mais justa (além de mais saudável). Para tal, está princípios do SUS é que
concebido como um sistema universal, equânime e integral17. ele deve atender a todos
(universalidade), investindo
Em relação ao acesso aos medicamentos, esses princípios têm servido mais onde a carência é
tanto para ampliá-lo de forma justa, quanto para justificar o apetite maior (equidade) e de
voraz da indústria farmacêutica, que fomenta o uso indiscriminado de forma a ofertar um conjunto
medicamentos, naquilo que vem sendo chamado de fenômeno da articulado e contínuo
judicialização da saúde. Esse ponto de tensionamento no SUS está de ações e serviços
exigindo uma maior participação dos profissionais farmacêuticos, preventivos, curativos e
quer na busca de critérios técnicos para uma solução das tensões, coletivos, exigidos em cada
quer na reflexão profunda sobre a quem estamos favorecendo com caso para todos os níveis de
nossas pequenas decisões diárias. complexidade de assistência
(integralidade).
O princípio da integralidade remete à necessidade de um serviço
farmacêutico articulado ao serviço de saúde, de modo a integrar as
ações de promoção e prevenção da saúde à assistência ambulatorial
(NORONHA, LIMA e MACHADO, 2008). Nossa atuação profissional
deve estar alinhada aos princípios do SUS e voltada ao atendimento
das necessidades da população.
Reflexão
Esses são alguns exemplos dos desafios que estão colocados para
os trabalhadores do SUS, inclusive nós, farmacêuticos.
Link
Ambiente Virtual
Reflexão
Dimensão técnico-operativa
Processos Político-Organizativos
Reflexão
Ambiente Virtual
Dimensão Financeira
Dimensão
Financeira
Uma política só se efetiva quando é executada e só é executada quando
existem condições humanas, técnicas, organizacionais e financeiras
SUS para isso. O quesito financeiro é particularmente determinante, já que
dele dependem, em grande parte, os demais. Mais uma vez vemos
como, na prática, uma dimensão influencia as demais.
Parece óbvio então que, uma vez aprovada determinada política, deva-
se dotá-la com recursos financeiros. Mas nem sempre é assim que
ocorre. O próprio SUS serve de exemplo: mesmo tendo sido incluído
o direito à saúde, por meio de políticas públicas, na Constituição
de 1988 (o que sem dúvidas, foi em si um avanço em termos de
conquistas sociais) e tendo sido definido o seu arcabouço legal nas
Leis Orgânicas da Saúde, leis federais n. 8.080 e n. 8.142, de 1990,
a precariedade no seu financiamento, nos anos seguintes, reflexo da
tendência neo-liberal instalada mundialmente, praticamente impediram
a sua implementação. Pode-se mesmo afirmar que o SUS só não
sucumbiu por contar com um movimento de apoio muito expressivo.
Conforme Ugá e Marques (2005), esse movimento é formado por
profissionais da área e pesquisadores, muitos deles antigos militantes
do então chamado movimento sanitarista dos anos 1970-1980, tendo
se refletido, inclusive, na formação e atuação da Frente Parlamentar
da Saúde, entidade civil fundada em 1993 e formada por deputados
e senadores de diferentes partidos e ideologias.
Ambiente Virtual
• Atenção Básica,
• Assistência Farmacêutica,
• Gestão do SUS e
• Investimentos em Saúde.
Destinação
Destinação
Assistência a agravos Linhas de cuidado nos Agravos de perfil
prevalentes e Protocolos Clínicos e endêmico e controle
prioritários Diretrizes Terapêuticas estratégico
Componente Básico
Link
Componente Especializado
Link
Link
Ambiente Virtual
Análise crítica
WHO. World Health Organization. The use of essential drugs. Who technical
report series. Sixth report of the WHO Expert Committee. Geneva: WHO, 1995.
http://lattes.cnpq.br/9220372399276737
Luciano Soares
http://lattes.cnpq.br/9608391843793204