Você está na página 1de 442

FUNDAMENTOS

DE SISTEMAS DE
TELECOMUNICAÇÕES

Antonio José Martins Soares


Flávio Elias Gomes De Deus
Georges Amvame Nze
Humberto Abdalla Junior
Jefferson De Jesus Wanderley
José Leite Pereira Filho
Lúcio Martins Da Silva
Paulo Henrique Portela Carvalho
Plinio Ricardo Ganim
Vinicíus Oliveira Caram Guimarães
SUMÁRIO
1 Introdução aos Sistemas de Comunicação......................................... 7
1.1 Elementos básicos dos Sistemas de comunicação...............................................8
1.2 A Eletricidade e as Ondas de Rádio...................................................................14
1.3 O espectro eletromagnético..............................................................................21
1.4 O Brasil e as Telecomunicações.........................................................................24
Referências.............................................................................................................. 27

2 Regulação e Padronização em Telecomunicações............................ 29


2.1 União Internacional de Telecomunicações (UIT)...............................................30
2.1.1 A História da UIT ..........................................................................................31
2.1.2 Composição da UIT.......................................................................................33
2.2 Regulação e Padronização na America Latina....................................................45
2.2.1 Comissão Inter-Americana de Telecomunicações (CITEL).............................45
2.2.2 Foro Latino-Americano de Entes Reguladores de Telecomunicações ( REGU-
LATEL).....................................................................................................................48
2.3 Organizações Associadas a Comunicações Via Satelite.....................................48
2.3.1 Organização Internacional de Telecomunicações por Satélite (ITSO)...........49
2.3.2 Organização Internacional de Comunicações Móveis via Satélite (IMSO)....50
2.4 O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)...........................................................52
2.5 As Comissões Brasileiras de Comunicações (CBCs)............................................55
2.6 Organizações para padrões industriais, comerciais e profissionais...................59
2.6.1 Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos - IEEE..............................59
2.6.2 European Telecommunications Standards Institute (ETSI)............................60
2.6.3 Associação das Indústrias de Telecomunicações. (TIA/EIA)..........................60
2.7 Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).............................................61
Referências.............................................................................................................. 63

3 Sinais e Espectro............................................................................. 65
3.1 Transformando a Informação em Sinal Elétrico.................................................65
3.2 Classificação do Sinal Elétrico ...........................................................................67
3.2.1 Sinal Contínuo e Sinal Discreto . ...................................................................68
3.2.2 Sinal Analógico .............................................................................................68
3.2.3 Sinal Digital....................................................................................................69
3.2.4 Bit/Byte.........................................................................................................70
3.2.5 Sinal Periódico...............................................................................................71

3
3.2.6 Sinal Aperiódico............................................................................................73
3.3 Formas de Onda................................................................................................. 73
3.4 Representando o Sinal Periódico Senoidal em função do tempo e da freqüência..75
3.5 Conceito de Domínio da Freqüência..................................................................76
3.5.1 Espectro de um sinal periódico.....................................................................78
3.5.2 Espectro de um sinal aperiódico...................................................................81
3.5.3 Espectro de um sinal digital..........................................................................83
3.6 Sinais de banda básica....................................................................................... 84
Referências.............................................................................................................86

4 Sistem. de Comunicação Analógico e Digital e os Meios de Transmissão.87


4.1 Sistemas de Comunicação Analógicos e Digitais................................................87
4.2 Conversão do Sinal Analógico em Sinal Digital..................................................89
4.2.1 Amostragem do Sinal....................................................................................90
4.2.2 Quantização .................................................................................................91
4.2.3 Codificação....................................................................................................92
4.3 Meios de Transmissão........................................................................................ 94
4.3.1 Par Trançado.................................................................................................97
4.3.2 Cabo Coaxial..................................................................................................97
4.3.3 Fibra Óptica...................................................................................................98
4.3.4 Transmissão via Rádio – Direcional...............................................................99
4.3.5 Transmissão via Rádio – Omnidirecional . ..................................................100
4.4 Banda Passante do Meio de Transmissão........................................................101
Referências............................................................................................................ 103

5 Técnicas de Transmissão e Parâmetros de Qualidade de um Sistema de


Comunicação .................................................................................. 105
5.1 Transmissão de sinais digitais em banda básica..............................................106
5.2 Transmissão com modulação...........................................................................108
5.2.1 Modulações analógicas.................................................................................112
5.2.1.1 Modulação de amplitude.........................................................................112
5.2.1.2 Modulação Angular (FM e PM)................................................................118
5.2.2 Modulações Digitais....................................................................................120
5.2.3 Comparação entre as modulações Digitais ................................................122
5.3.Multiplexação.................................................................................................. 123
5.3.1 Multiplexação FDM.....................................................................................124
5.3.2 Multiplexação TDM.....................................................................................127

4
5.3.3 Multiplexação CDM.....................................................................................129
5.3.4 Multiplexação WDM...................................................................................130
5.4 Qualidade da Transmissão...............................................................................132
5.4.1 O Decibel como Unidade de Medida .........................................................133
5.4.2 Atenuação...................................................................................................133
5.4.3 Distorção.....................................................................................................134
5.4.4 Interferência e Diafonia...............................................................................135
5.4.4 Ruído ..........................................................................................................138
5.4.6 Relação Sinal-Ruído ....................................................................................141
5.4.7 Taxa de erro de bit e capacidade do canal..................................................142
Referencias............................................................................................................ 144

6 Antenas e Propagação.................................................................. 145


6.1 Características da Onda Eletromagnética........................................................146
6.2 Espectro Eletromagnético................................................................................149
6.3 Propagação das ondas de rádio.......................................................................151
6.3.1 Propagação abaixo de 30 MHz....................................................................152
6.3.2 Propagação acima de 30 MHz.....................................................................154
6.4 Conceitos de Antenas......................................................................................155
6.4.1 Diagrama de Radiação................................................................................156
Diagrama Isotrópico.............................................................................................159
Diagrama omnidirecional.....................................................................................160
Diagrama direcional.............................................................................................160
6.4.2 Diretividade e Ganho..................................................................................162
Diretividade..........................................................................................................162
Ganho...................................................................................................................163
6.4.3 Polarização..................................................................................................164
6.4.4 Largura de banda........................................................................................165
6.5 Tipos Básicos de Antenas.................................................................................165
6.5.1 Antenas Eletricamente Curtas.....................................................................166
6.5.2 Antenas Ressonantes..................................................................................167
6.5.3 Antenas de Abertura...................................................................................170
Referencias............................................................................................................ 172

7 Serviço Telefônico Fixo Comutado................................................. 173


7.1 Critérios básicos da Telefonia . ........................................................................174
7.2 Rede Telefônica................................................................................................ 175

5
7.3 A Central Telefônica......................................................................................... 178
7.4 Classificação das Centrais Telefônicas [2]........................................................180
7.5 Rede Interurbana Nacional..............................................................................186
7.6 Telefonia internacional....................................................................................187
7.7 Tráfego Telefônico............................................................................................ 189
7.7.1 Caracterização do Tráfego Telefônico .........................................................189
7.7.2 Dimensionamento de Troncos....................................................................192
7.8 Sinalização....................................................................................................... 194
7.8.1 Sinalização do Assinante.............................................................................194
7.8.2 Sinalização Intercentrais..............................................................................195
7.8.2.1 Sinalização de Canal Associado (CAS)......................................................196
7.8.2.2 Sinalização por Canal Comum Número 7-................................................197
7.9 Plano de Numeração.......................................................................................199
7.10 Estrutura da Rede Telefônica.........................................................................204
7.10.1 Rede de Acesso, [4]...................................................................................205
7.10.2 Rede de Transporte ..................................................................................208
7.10.3 Conexões Nacionais e Internacionais à Longa Distância...........................211
Referências............................................................................................................ 212

8 Sistema móvel celular................................................................... 213


8.1 Reúso de canais............................................................................................... 215
8.2 Técnicas de múltiplo acesso.............................................................................218
8.3 Sistemas em utilização.....................................................................................224
8.4 Terceira geração e além...................................................................................228

9 Comunicação via Satélite.............................................................. 233


9.1 Breve Cronologia dos Satélites . ......................................................................233
9.2 Mercado de sistemas via satélite.....................................................................238
9.3 Aplicações dos Satélites ..................................................................................240
9.4 Características básicas do sistema via satélite.................................................242
9.5 Os equipamentos do segmento espacial.........................................................244
9.5.1 A Plataforma Espacial..................................................................................245
9.5.2 Transponders: O Subsistema de Comunicações..........................................247
9.5.3 Antenas e Área de Cobertura......................................................................250
9.6 O Segmento Terrestre......................................................................................253
9.7 Tipos de órbita................................................................................................. 255
9.7.1 Sistemas geoestacionários..........................................................................259

6
9.7.2 Sistemas não-geoestacionários...................................................................263
9.8 Lançamento e permanência dos satélites........................................................269
9.9 Técnicas de Múltiplo Acesso............................................................................270
9.9.1 Múltiplo Acesso por Divisão de Freqüência................................................271
9.9.2 Múltiplo Acesso por Divisão de Tempo.......................................................272
9.9.3 Múltiplo Acesso por Divisão de Código.......................................................272
9.10 Redes VSAT.................................................................................................... 273
9.11 Sistemas de Comunicação por Satélite em operação no Brasil.....................275
9.11.1 Sistema Brasileiro de Transmissão Por Satélite.........................................275
9.11.2 Satélites geoestacionários estrangeiros ...................................................277
9.11.3 Satélites não-geoestacionários estrangeiros ............................................277
Referências............................................................................................................ 278

10 Sistema de Comunicação Óptica................................................. 279


10.1 Introdução .................................................................................................... 279
10.2 Capacidade do sistema óptico.......................................................................280
10.3 Composição dos sistemas de comunicações ópticos.....................................283
10.4 Fibras ópticas................................................................................................. 284
10.4.1 Janelas de Transmissão.............................................................................287
10.4.2 Dispersão..................................................................................................289
10.4.3 Propagação da luz na fibra........................................................................289
10.5 Transmissor óptico......................................................................................... 293
10.5.1 Diodos eletroluminescentes.....................................................................294
10.5.2 Diodo Laser...............................................................................................295
10.5.3 Comparação entre LEDs e LASERs.............................................................296
10.6 Receptores ópticos........................................................................................ 299
10.7 Dispositivos e componentes ópticos..............................................................300
10.7.1 Regeneradores .........................................................................................301
10.7.2 Amplificadores ópticos..............................................................................301
10.7.3. Acopladores.............................................................................................304
10.7.4. Multiplexadores WDM.............................................................................305
10.8 Sistemas WDM............................................................................................... 306
10.8.1 Evolução dos Sistemas WDM....................................................................306
10.8.2 Padronização de Canais do Sistema WDM................................................308
10.8.2 Sistemas DWDM.......................................................................................311
10.8.3. Sistemas CWDM,[2].................................................................................312

7
10.8.4 CWDM x DWDM . .....................................................................................313
10.9 Aplicações ..................................................................................................... 314
Referencias............................................................................................................ 315

11 Radiodifusão sonora................................................................... 317


11.1 Introdução..................................................................................................... 317
11.2 Uma breve história do rádio..........................................................................321
11.3 Faixas de freqüência destinadas à radiodifusão sonora................................323
11.4 Modos de propagação das ondas de rádio....................................................325
11.5 Radiodifusão em onda média e onda tropical de 120 m...............................328
11.5.1. Canalização AM em OM e em OT de 120 m.............................................328
11.5.2. Áreas de serviço e contorno protegido de uma emissora AM.................330
11.5.3. Classes de emissoras AM.........................................................................331
11.5.4. Antenas transmissoras para OM..............................................................331
11.6 Radiodifusão sonora em ondas decamétricas...............................................332
11.7 Radiodifusão sonora em frequência modulada.............................................334
11.7.1. Modalidades de radiodifusão FM............................................................334
11.7.2. Canalização FM........................................................................................335
11.7.3. Áreas de serviço e contornos de uma emissora FM.................................337
11.7.4 Classes de emissoras FM...........................................................................338
11.7.5. Serviço de Radiodifusão Comunitária......................................................338
11.7.6. Antenas transmissoras utilizadas na radiodifusão FM.............................340
11.8 Radiodifusão sonora digital...........................................................................341
11.8.1. Benefícios da digitalização.......................................................................341
11.8.2. Principais sistemas padrões de radiodifusão sonora digital.....................343
11.8.3. Sistema HD-Radio.....................................................................................344
11.8.4. Sistema DRM............................................................................................347
Referências............................................................................................................ 350

12 Sistemas de Televisão................................................................. 353


12.1 Introdução..................................................................................................... 353
12.2 Sinais de vídeo e de áudio.............................................................................355
12.3 Imagem de televisão......................................................................................357
12.3.1 Resolução da TV analógica........................................................................359
12.3.2 Persistência visual.....................................................................................360
12.3.3 Sincronismo e apagamento.......................................................................363
12.4 TV a cores . .................................................................................................... 363

8
12.5 Sinal de Vídeo Composto...............................................................................366
12.6 Sistema de Transmissão e Recepção de TV....................................................367
12.6.1 Características do Sinal de TV para de transmissão..................................370
12.6.2 O processo de transmissão de TV.............................................................370
12.7 Os Serviços de TV........................................................................................... 373
12.8 Sistema de Televisão Digital...........................................................................374
12.9 Características da TV Digital...........................................................................375
12.9.1 Resolução da Imagem ..............................................................................377
12.9.2 Necessidade de compressão ....................................................................379
12.10 O modelo de TV digital................................................................................382
12.10.1 A Camada de Compressão .....................................................................384
12.10.2 A Camada de Transmissão......................................................................386
12.10.3 A camada de Middleware.......................................................................388
12.11 Padrões de TV digital...................................................................................390
12.11.1 Padrão ATSC............................................................................................392
12.11.2 Padrão DVB.............................................................................................393
12.11.3 Padrão ISDB.............................................................................................395
12.12 Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD)...........................................398
12.13 Transição Analógico-Digital..........................................................................406

13 TV por Assinatura ...................................................................... 411


13.1 Histórico . ...................................................................................................... 412
13.2 TV por Assinatura no Brasil............................................................................414
13.3 Operadoras e Programadoras, [5]..................................................................419
13.4 Sistema de TV a Cabo . ..................................................................................420
13.5 O Sistema MMDS........................................................................................... 424
13.5.1 A Estação de MMDS - Headend ou Cabeçal..............................................426
13.5.2 Sistema do Cliente.....................................................................................428
13.5.3 Estações Reforçadoras de Sinal.................................................................429
13.6 O sistema Direct to Home – DTH...................................................................430
13.6.1 Head-end DTH...........................................................................................431
13.6.2 Plataforma de Transmissão.......................................................................433
13.6.3 Sistema de Recepção . ..............................................................................434
13.7 Novos Serviços via TV por Assinatura............................................................436
Referencias............................................................................................................ 438

9
1
INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE
COMUNICAÇÃO

Desde que o telefone foi inventado, as telecomunicações tornou-


se uma parte importante de nossas vidas. A cada década, novas e
surpreendentes tecnologias são incorporadas aos sistemas de teleco-
municações mudando nossas vidas e viabilizando, a integração e de-
senvolvimento econômico, cultural e social das comunidades, povos e
do mundo de uma maneira geral.
Foi assim com o telegrafo, que transmitia mensagens, com a tele-
fonia associada ao serviço de voz, com o Rádio e Televisão e mais re-
centemente com o computador e as redes de comunicação de dados.
Neste capítulo, a partir do processo de comunicação entre duas
pessoas, identificamos os elementos principais que compõem um sis-
tema de telecomunicações e analisamos a evolução dos sistemas de
comunicações desde o seu início quando os principais instrumentos
eram os nossos sentidos até a consolidação dos princípios básicos das
telecomunicações por meio dos sistemas elétricos.
Em seguida é feita uma breve descrição de como ao longo da
história a eletricidade evolui até o advento das ondas de rádio, conso-
lidando de vez as telecomunicações via sinais elétricos.
Finalmente contextualiza-se o Brasil no mundo das telecomuni-
cações.

11
1.1 Elementos básicos dos Sistemas de comunicação

A engenharia de comunicações refere-se à transmissão de infor-


mação entre, no mínimo, dois pontos. Essa informação (voz, imagem
ou dados) pode ser transmitida por meio de palavras, gestos ou símbo-
los gráficos. Os elementos básicos que permitem a comunicação entre
dois pontos são o transmissor, o meio de transmissão e o receptor. O
conjunto destes três dispositivos constitui um canal de transmissão.
O exemplo mais habitual é o da comunicação sonora. Quando duas
pessoas conversam, o canal de transmissão é formado por transmissor,
a boca; meio de transmissão, o ar; e receptor, o ouvido. Nesse sistema,
cada indivíduo, na realidade, tem a capacidade de transmitir e receber
a mensagem, uma vez que ele tem a faculdade de falar (transmitir) e
de ouvir (receber). Esse tipo de característica, transmissor/receptor,
denomina-se transceptor. Fig.1.1.

Fig. 1.1 Elementos básicos de um canal de transmissão

Já que cada indivíduo pode ser considerado como um transceptor,


e uma conversa exige obrigatoriamente a troca de informação, tem-se

12
aí estabelecido os princípios do modo de transmissão bidirecional. Em
contrapartida ao modo de transmissão bidirecional, tem-se o modo
de transmissão unidirecional como, por exemplo, a radiodifusão, a
televisão, entre outros. Para que a conversa seja inteligível, é necessá-
rio que enquanto um fala o outro escute. Isso quer dizer que, embora
a transmissão seja bidirecional, ela se efetua alternadamente, em um
sentido de cada vez. A partir daí, é possível identificar três modos de
transmissão: simplex, semi-duplex e full-duplex.
Um sistema simplex permite que sinais sejam transmitidos em
um único sentido. A radiodifusão sonora e a radiodifusão de sons e
imagens (TV) são exemplos de sistemas simplex. Nesses sistemas, a
informação flui somente da estação de rádio ou de TV para o receptor
do ouvinte ou do telespectador.
Um sistema half-duplex permite a comunicação nos dois sentidos,
contudo somente em um sentido de cada vez (não simultaneamente).
Tipicamente, uma vez que um lado começa recebendo sinal, ele deve
esperar que o transmissor do outro lado pare de transmitir, antes de
responder. Um exemplo de sistema half-duplex é o radio bidirecional
conhecido como walkie-talkie, como qual se usa palavra “câmbio”, ou
outro comando escolhido previamente, para indicar o final da trans-
missão e, assim, garantir que somente um lado transmite de cada vez.
Isso é necessário porque ambos os lados transmitem na mesma fre-
qüência.
Um sistema full-duplex (ou simplesmente duplex) permite a co-
municação nos dois sentidos, mas, diferentemente do half-duplex,
permite que isso aconteça simultaneamente. As redes telefônicas são
exemplos de sistemas full-duplex, uma vez que elas permitem que am-
bos os locutores falem e sejam escutados ao mesmo tempo.
A Fig.1.2 ilustra uma analogia entre os três modos de transmissão
e o tráfego de veículos em uma rodovia.

13
Fig. 1.2 Ilustração dos modos de transmissão da informação.

Agora considere um ambiente com várias pessoas conversando


entre si, como em uma reunião social. Para se entender o que uma ou-
tra pessoa está falando, é preciso se esforçar e prestar mais atenção na
conversa. Em outras palavras, é necessário aumentar a sensibilidade
do receptor, neste caso, o ouvido. Isso é necessário porque as outras
pessoas estão falando, atrapalhando a compreensão da conversação es-
tabelecida. Todas as informações provenientes das outras pessoas são
consideradas ruído. Suponha que a altura da conversa em paralelo vá
crescendo gradativamente até que, a partir de determinado momento,
não se consiga distinguir a informação do ruído. Para restabelecer a
conversação, se altera a voz, quer dizer, aumenta-se a intensidade da
informação em relação ao ruído. Em outras palavras, aumenta-se a
relação sinal-ruído para a conversa se tornar audível.

14
Nessa mesma linha de raciocínio, considere a conversa entre
duas pessoas que vão se distanciando gradativamente. Verifica-se que,
mesmo para um ambiente extremamente silencioso, quanto maior a
distância mais difícil fica a compreensão da mensagem, pois a inten-
sidade do sinal sonoro vai ficando cada vez menor. Isso significa que
a capacidade de recuperar a informação é inversamente proporcio-
nal à distância. Quanto maior a distância, mais atenuado é o sinal.
O pior dessa experiência é que com algumas dezenas de metros os
sinais sonoros se tornam inaudíveis. O que se pode concluir é que o
meio atenua drasticamente as ondas sonoras. Então o meio é um fator
preponderante nas comunicações, principalmente nas comunicações
à longa distância.
Dessas experiências conclui-se que a qualidade de recepção de
um sinal pode ser deteriorada por dois fatores:
•  interferência de outros sinais, que deformam o sinal original
tornando-o incompreensível;
•  atenuação proveniente da distância percorrida, o que faz a in-
formação inaudível.
Para transmitir a informação à longa distância, vários sistemas fo-
ram desenvolvidos. A idéia básica era tornar, de alguma maneira, a
informação imune a esses fatores, ruído e atenuação. Dois sistemas
extremamente eficientes eram os que utilizavam sons de tambores e
de sinais de fumaça. O canal de transmissão agora era composto de:
transmissor, o tambor ou a fogueira; meio de transmissão, o ar; e re-
ceptor, o ouvido ou o olho humano.
O princípio era simples, tinha-se que colocar, por algum meca-
nismo, a informação a ser transmitida no batuque do tambor ou na
fumaça da fogueira, que eram os transportadores da informação. Eles
seriam as portadoras da informação. Tinha-se na realidade dois pro-
blemas. O primeiro era traduzir a informação em símbolos (codifica-
ção). O segundo problema era que esse código teria de ser acordado
entre remetente e destinatário.

15
Estabelecida a codificação a ser utilizada, pode-se descrever o sis-
tema da seguinte maneira. O transmissor (a fogueira, o tambor) é o
gerador de energia; algum dispositivo (o modulador) faz variar uma
característica da energia (a fumaça, a onda sonora) de acordo com os
símbolos preestabelecidos; do outro lado, esses símbolos são recebi-
dos e identificados pelo olho ou ouvido humano. Quando a fumaça ou
a onda sonora (a portadora da informação) contém uma mensagem,
trata-se de uma portadora modulada., Fig.1.3. Em síntese, o sistema
funciona da seguinte maneira:
•  o transmissor gera uma portadora;
•  a informação que se deseja transmitir é transformada em símbo-
los (codificada);
•  por intermédio de um modulador, essa informação codificada é
colocada na portadora;
•  a portadora modulada viaja através de um meio de transmissão
adequado até o receptor;
•  no receptor, recupera-se os símbolos da portadora por intermé-
dio de um demodulador;
•  finalmente, os símbolos são interpretados, recompondo a infor-
mação.
Para transmitir o sinal a grandes distâncias, eram instaladas repeti-
doras, por exemplo, um batedor de tambor que interpretava a mensa-
gem recebida e a transmitia para outro ponto. A distância entre dois ba-
tedores é denominada enlace. Alguns problemas começaram a surgir:
•  os enlaces eram relativamente curtos, remetente e destinatário
devem se ver ou se ouvir;
•  a existência de outras comunidades usando o mesmo sistema, o
que complicava demasiadamente a transmissão, ou seja, esse sis-
tema não permitia o compartilhamento do meio de transmissão;
•  a troca de mensagem era extremamente lenta, inviabilizando a
transmissão de grandes quantidades de informação.

16
O que fica claro é que, para se estabelecer um sistema de comu-
nicação à distância, é necessário que uma quantidade apropriada de
energia modulada consiga chegar ao receptor. Historicamente utiliza-
ram-se as energias sonoras e luminosas já que elas podem ser captadas
diretamente pelos nossos sentidos. Essas duas formas de energia ser-
viram como ponto de partida para as telecomunicações de massa. No
decorrer da história, essas formas de comunicação à longa distância
foram superadas pela comunicação por sinais elétricos.
O diagrama de blocos de um sistema de comunicação baseado
em sinais elétricos é mostrado na Fig.1.4. Na maioria dos sistemas,
a transmissão de informação é estreitamente relacionada com a mo-
dulação, isto é, com a variação no tempo de um determinado sinal
denominado portadora.

Fig. 1.3. Comunicações a Distancia utilizando nossos sentidos

Fig.1.4 Diagrama de blocos de um sistema de comunicação baseado


em sinais elétricos

17
A grande vantagem de se trabalhar com a informação na for-
ma de sinal elétrico é poder dar o mesmo tratamento a voz, dados e
imagens. Na realidade as comunicações baseadas em sinais elétricos
permitem padronizar, quantificar, transportar, agrupar, e distribuir a
informação de maneira rápida e eficiente. Essas características são des-
critas na Tabela I.

1.2 A Eletricidade e as Ondas de Rádio

Nesta seção, será discutido como surgiu a energia elétrica e como


ela foi se tornando, aos poucos, a base dos sistemas de comunicações.
Para entender essa história, é necessário viajar ao século XVIII, quan-
do a eletricidade e o magnetismo, fenômenos conhecidos desde a Gré-
cia antiga, começaram a ser pesquisados. Algumas dessas pesquisas
eram voltadas para a determinação da força exercida entre dois cor-
pos eletrizados. Nessa área, destacou-se o coronel Charles Coulomb
18
(1736-1806), um engenheiro militar francês. Coulomb verificou que
dois corpos isolados tinham certa quantidade de eletricidade imutável.
Era como se a eletricidade estivesse parada, ou estática, o que deu
origem ao termo eletrostática. A quantidade de eletricidade contida
em um corpo podia ser variada por meio do contato com outro cor-
po energizado. A partir dessas constatações, Coulomb concluiu que a
eletrificação de um corpo se dava através da transferência de cargas
elétricas de um corpo para outro.
O grande problema era como gerar a eletricidade. O primeiro ge-
rador artificial de eletricidade foi inventado, em 1801, por Alessandro
Volta (1745-1827), professor de física da Universidade de Pávia, Itália.
Conhecido como pilha voltaica, esse gerador era terminado por dois
metais diferentes que, quando conectados por um condutor, produzia
eletricidade. Nesse caso, a eletricidade produzida era dinâmica, ou
seja, a eletricidade saía da pilha, percorria o condutor como um fluido
e retornava à pilha pelo outro terminal.
Com a invenção de Volta, podia-se produzir eletricidade a qual-
quer momento, permitindo que outros experimentos fossem efetua-
dos. Um desses experimentos foi realizado pelo professor Hans Chris-
tian Oersted (1777-1851), da Universidade de Copenhague, que tentou
demonstrar em sala de aula um novo efeito elétrico. Ele colocou pró-
ximo à agulha de uma bússola magnética um fio metálico conduzindo
eletricidade, mas não observou nenhum efeito. No entanto, repetindo
a experiência após a aula, Oersted verificou que, quando aproximava
perpendicularmente o fio com eletricidade da bússola nada acontecia
(igual na sala de aula), porém, se mantivesse o fio paralelo à bússola,
a agulha se deslocava fazendo um ângulo reto com o fio eletrificado.
Com essa descoberta, Oersted associou o magnetismo à eletrici-
dade e ficou muito requisitado para participar de conferências e pro-
ferir palestras sobre o assunto. Em uma dessas palestras, na Academia
Francesa de Ciências, em Paris, estava André Ampère (1775-1836),
que ficou fascinado pelo assunto. As pesquisas de Ampère eram volta-
das para o fluxo de eletricidade através de sólidos. Ampère associou o
fluxo de eletricidade ao transporte das cargas elétricas, já constatadas
por Coulomb, dando-lhe o nome de corrente elétrica.

19
Por volta de 1820, já se tinha noção de tensão, uma força que fa-
zia as cargas elétricas se deslocarem, bem como de corrente elétrica,
que representava o fluxo de eletricidade. Coube ao cientista alemão
George Ohm (1789-1845) relacionar essas duas grandezas. Em suas
experiências, Ohm verificou que a corrente em um condutor era sem-
pre proporcional à tensão entre suas extremidades. Esse número era
relacionado com as dimensões do fio e com o tipo de material utiliza-
do. Na realidade ele constatava que os condutores, embora transpor-
tassem as cargas elétricas, apresentavam algum empecilho para a cor-
rente elétrica, assim como o atrito. Ohm chamou essa dificuldade de
resistência elétrica. A formulação de sua descoberta, conhecida como
lei de Ohm, é responsável pela utilização prática da eletricidade. As
unidades de tensão, corrente e resistência receberam o nome de volt,
ampère e ohm, respectivamente. Mais ainda, atribuiu-se o nome de
Coulomb à unidade de medida de carga elétrica.
Nessa mesma época destacou-se outro pesquisador, Michel Fara-
day (1791-1867), físico inglês que, por volta de 1831, descobriu a indu-
ção magnética. Faraday realizou durante muito tempo experimentos
de magnetismo que não apresentavam nenhum resultado expressivo.
Uma de suas experiências consistia em enrolar duas bobinas isoladas
em um anel de ferro. Uma bobina era conectada a uma bateria e a
outra, a um galvanômetro. Após ligar a bateria, Faraday verificou que
o galvanômetro permanecia estático, porém, quando desligou a bate-
ria, ele percebeu variação no galvanômetro. Para ter certeza de que o
galvanômetro havia mexido ao desligar a bateria, Faraday a religou e
observou que o galvanômetro mexeu, porém na direção oposta. Após
repetir a experiência, concluiu que a variação da corrente elétrica pas-
sando por um fio enrolado sobre um cilindro fazia o campo magné-
tico variar e essa variação de campo magnético produzia correntes
induzidas na segunda bobina. Ele elaborou o conceito de que uma
corrente induzida sempre é resultado de uma variação de linhas de
força magnética.
As descobertas de Faraday podem ser interpretadas da seguinte
maneira: corrente elétrica passando em uma bobina produz um cam-
po magnético; a variação do campo magnético produz uma corrente.
20
A variação do campo magnético pode ocorrer devido à variação da
corrente que o produziu ou movimentando um imã no interior da
bobina e produzir nela uma corrente elétrica. Isso significa que uma
corrente passando por um fio enrolado (bobina) faz com que a bobina
se comporte como um imã natural.
A partir dos experimentos de Faraday, o pesquisador escocês Ja-
mes Clerk Maxwell (1831-1879) convenceu-se que os dois fenômenos
eletricidade e magnetismo eram interligados. Em 1873, ele publicou
o famoso tratado, Eletricidade e Magnetismo, unificando todos os co-
nhecimentos de eletricidade e magnetismo em quatro equações, co-
nhecidas como Equações de Maxwell. Ele previu o movimento on-
dulatório eletromagnético, calculou a velocidade da luz e explicou a
propagação da luz como fenômeno ondulatório eletromagnético.
Naquela época não se conhecia ondas de rádio, mas Maxwell as
previu por meio de suas equações e ainda as descreveu como ondas
eletromagnéticas se propagando no vácuo à velocidade da luz. Ele
também demonstrou que essas ondas podem se propagar em outros
meios, porém com velocidades menores. Esta nova teoria era muito
revolucionária, mas, na realidade, não passava de teoria. Não havia
nada que comprovasse que a energia elétrica pudesse se propagar na
forma de onda eletromagnética, como o faz a luz. Foram necessários
15 anos para que Hertz demonstrasse conclusivamente as previsões de
Maxwell.
Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894) foi um físico alemão que revo-
lucionou o conceito de meio de transmissão. Hertz era um pesquisa-
dor que, em certa altura de sua vida, estava preocupado na produção
de faíscas a partir de dois eletrodos ligados a um gerador de alta ten-
são. Quando as pontas dos eletrodos eram aproximadas, saltava uma
faísca entre elas. No laboratório de Hertz, além da bancada principal,
existia uma outra, que lhe servia de suporte. Nessa outra bancada, por
acaso, encontrava-se um arco metálico com um pequeno espaçamento
entre suas extremidades. Hertz, ao colocar os equipamentos para fun-
cionar, aproximou os dois eletrodos para produzir faísca, constatando
que, ao mesmo tempo em que saltava uma faísca entre os eletrodos,

21
saltava uma outra pequena faísca no intervalo do arco. A partir dessa
constatação, Hertz efetuou inúmeros experimentos, concluindo que
as faíscas no arco variavam com a distância e com a orientação em
relação aos eletrodos. Hertz concluiu que alguma energia era emitida
pelas faíscas dos eletrodos, transmitida através do espaço e captada
pelo arco. A transmissão dessa energia ocorria através de ondas eletro-
magnéticas, o que comprovava as previsões de Maxwell.
A Fig.1.5 traça uma linha de tempo ressaltando os principais mar-
cos relacionados com a compreensão dos fenômenos eletromagnéticos.

Charles Coulomb
1785 apresenta a lei que rege as forças de
atração e repulsão entre dois corpos
isolados eletrizados

Alexandre Volta
1801 inventa a pilha elétrica, que tem seu
nome

Hans Christian Oersted


1820 demonstra que existe uma relação
entre eletricidade e magnetismo

André Marie Ampère


associa o fluxo de eletricidade ao transporte
1827
das cargas elétricas, dando-lhe o nome de
corrente elétrica

George Simon Ohm


1827 define o conceito de resistência elétrica que
relaciona tensão e corrente

Michael Faraday
1831 demonstra a possibilidade de produção de
corrente elétrica a partir da indução
magnética

James Clerk Maxwell


descreve matematicamente o comportamento
1872 dos fenômenos eletromagnéticos por meio de
quatro equações, as chamadas equações
de Maxwell

Heinrich Rudolf Hertz


1888 demonstra a existência das ondas
eletromagnéticas imaginadas por Maxwell

Fig. 1.5 Principais marcos relacionados aos fenômenos eletromagnéticos.

Com a descoberta de Hertz, que ficou conhecida como ondas


hertzianas, os pesquisadores da época foram desafiados a produzir
faíscas cada vez mais intensas. Essas faíscas eram produzidas se

22
afastando cada vez mais os eletrodos que eram ligados a geradores de
tensão cada vez mais elevada. Com essas faíscas, os arcos receptores
podiam ficar a distâncias maiores.
Rapidamente se chegou ao limite de tensão disponível. Em 1907,
começaram a aparecer os triodos, que permitiram a construção de
geradores de tensão alternada de altíssimas freqüências, da ordem de
quilohertz. O próximo passo foi experimentar esses geradores na pro-
dução de faíscas. Observou-se que, mesmo sem a produção de faís-
cas nos eletrodos, os arcos faiscavam. Depois de várias experiências,
chegou-se ao seguinte quadro. De um lado se colocava o gerador de
corrente alternada, agora denominado oscilador, ligado a dois eletro-
dos que, após inúmeras experiências, tomaram a forma de duas barras
verticais. Do outro lado, um par de eletrodos semelhante e na mesma
disposição era conectado a um medidor de corrente, Fig. 1.6.

Fig. 1.6 Captando as Ondas de Rádio

23
Quando o gerador era ligado, do outro lado o medidor acusava
passagem de corrente. Essa experiência conseguia de uma só vez co-
locar várias questões sem respostas.
•  Como explicar o aparecimento de corrente em um circuito
aberto?
•  Para onde foi a eletricidade do gerador?
As respostas vieram aos poucos e de forma a comprovar de ma-
neira irrefutável as previsões de Maxwell. Era simples, o circuito se
fechava pelo ar. A eletricidade gerada, pelo oscilador, caminhava pelo
eletrodo e era transmitida pelo espaço até ao outro par de eletrodos
que fazia a recepção da energia. O gerador produzia a energia na for-
ma de uma oscilação, que percorria uma determinada distância. Era
a energia se propagando em forma de uma onda eletromagnética. O
oscilador fornecia uma corrente elétrica, que oscilava rapidamente,
fazendo seu campo magnético associado variar, como constatado por
Faraday. A variação do campo magnético induzia um campo elétrico
variável que, por sua vez, criava o campo elétrico. Isso tudo se pro-
pagando, viajando de um ponto a outro a velocidade da luz. A Fig.1.7
ilustra o processo de propagação de ondas eletromagnéticas.

24
Fig. 1.7 Propagação de ondas eletromagnéticas.

1.3 O espectro eletromagnético

O espectro eletromagnético é a denominação das faixas de fre-


qüências que caracterizam os diversos tipos de ondas eletromagnéti-
cas, Fig.1.8.

25
Fig.1.8 Espectro Eletromagnético

Uma grande variedade de enlaces de comunicação pode ser im-


plementada usando como portadora uma freqüência do espectro ele-
tromagnético. Os organismos de regulação limitam a faixa de radio-
freqüências (RF) entre 30 kHz e 300 GHz, embora a propagação de
ondas eletromagnéticas também seja possível abaixo de alguns kHz.
Assim como o petróleo, o espectro de RF é um recurso natural es-
casso e, portanto, deve ser utilizado de forma prudente e conservativa.
Vários serviços como rádio AM, rádio FM, TV, celular, satélite e enla-
ces fixos terrestres devem compartilhar desse espectro comum. Além
disso, cada um desses serviços deve crescer e se expandir sem causar
interferência em outro. Os principais serviços de radiocomunicações
são mostrados na Tabela II.

26
Tabela II - Principais Serviços de Radiofrequência

Móvel
Móvel Marítimo Radiodifusão
Móvel Aeronáutico Radioamador
Móvel Terrestre Radioastronomia
Operação espacial
Pesquisa Espacial
Fixo Frequência Espacial
Fixo aeronáutico Pesquisa Espacial
Frequência padrão/sinais horários
Entre satélites
Radionavegação
Exploração da terra por satélite
Radionavegação Marítima
Radiodeterminação por satélite
Radionavegação aeronáutica
Auxílio à Meteorologia
Meteorologia por satélite
Radiolocalização

A tarefa de alocar e controlar as partes individuais do espectro


é de responsabilidade de um comitê internacional de padronização,
criado pelas Nações Unidas e denominado União Internacional de
Telecomunicações (ITU - International Telecommunications Union).
A ITU identifica uma faixa de frequências como apropriada para um
serviço em particular. As atribuições são decididas na World Radio-
comunication Conferences (WRCs) e registradas na tabela de atribui-
ção de frequências dos Regulamentos de Radiocomunicações da UIT
(RR: Radio Regulations). Uma vez adotadas, estas atribuições são se-
guidas pelo países membros da ITU.
O ITU dividiu o mundo em três regiões, que apresentam atribui-
ção de frequências distintas. Fig.1.9. A região 1 inclui a Europa, a Áfri-
ca e a área da antiga URSS e Mongólia; a região 2 inclui a América
do Norte e a América do Sul; a região 3 inclui a Ásia, a Austrália e o
Pacífico.

27
Fig.1.9 Mapa da ITU

1.4 O Brasil e as Telecomunicações

O Brasil faz parte da História das telecomunicações desde seu iní-


cio: Quando o primeiro telefone de Alexander Graham Bell estava sen-
do lançado em uma exposição na Filadélfia, em 1876, D. Pedro II, impe-
rador do Brasil, que ali estava presente, encomendou um dos primeiros
modelos. Dez anos depois, o Rio de Janeiro possuía cinco estações de
1000 assinantes cada uma, o que deu origem a Telephone Company of
Brazil que mais tarde, 1923, passou a denominar-se Companhia Telefô-
nica Brasileira, – CTB, [1].
Até os Anos 50, as concessões dos serviços de telecomunicações
eram distribuídas indistintamente pelos governos federal, estaduais e
municipais, propiciando que empresas operadoras surgissem e se ex-
pandissem de forma desordenada. No final da década existiam, aproxi-
madamente, 1000 companhias telefônicas.
O primeiro passo para o desenvolvimento ordenado das telecomu-
nicações no Brasil foi dado no início dos anos 60, com a aprovação pelo

28
Congresso Nacional, do Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT).
Essa lei, que foi o primeiro grande marco na história das telecomunica-
ções no Brasil, tinha os seguintes pontos principais, [2].
•  criação do Sistema Nacional de Telecomunicações, visando asse-
gurar a prestação, de forma integrada, de todos os serviços de tele-
comunicações;
•  instituição do CONTEL — Conselho Nacional de Telecomunica-
ções, tendo o DENTEL — Departamento Nacional de Telecomuni-
cações como sua secretaria-executiva;
•  atribuição ao CONTEL de poder para aprovar as especificações
das redes telefônicas, bem como o de estabelecer critérios para a
fixação de tarifas em todo o território nacional;
•  atribuição à União da competência para explorar diretamente os
troncos integrantes do Sistema Nacional de Telecomunicações;
•  definição do relacionamento entre poder concedente e concessio-
nário no campo da radiodifusão.
Um das principais ações do CBT, no sentido de efetivar-se a estru-
turação de um sistema nacional de telecomunicações foi a criação, em
1965 da Empresa Brasileira de Telecomunicações – Embratel, com a
finalidade de implementar o sistema de comunicações a longa distância,
ligando, entre si, as capitais e as principais cidades do País.
Posteriormente, com a reorganização da administração federal em
1967, foi criado o Ministério das Comunicações, ao qual, desde logo,
foram vinculados o CONTEL, o DENTEL e a EMBRATEL. O Minis-
tério das Comunicações assumiu então as competências do CONTEL,
passando a ser o encarregado da elaboração e do cumprimento das po-
líticas públicas do setor de comunicações.
Já no início dos anos 70, em função dos os investimentos efetuados e
da dinâmica imposta pela Embratel, era possível constatar a qualidade e
a expressiva expansão do serviço de telefonia de longa distância em con-
traste com a telefonia urbana que continuava a apresentar baixos níveis
de qualidade e de densidade populacional. Como solução, em 1972, foi

29
autorizada a criação da Telecomunicações Brasileiras S/A - TELEBRÁS,
vinculada ao Ministério das Comunicações, com atribuições de planejar,
implantar e operar o SNT. Neste sentido a TELEBRÁS instituiu em cada
estado uma empresa-polo e promoveu a incorporação das companhias
telefônicas existentes, mediante aquisição de seus acervos ou de seus
controles acionários. A TELEBRÁS era responsável pela formulação de
diretrizes gerais e de políticas de aquisição de equipamentos, bem como
a normalização técnica e a definição da política tarifária e da divisão de
receitas entre as operadoras regionais e a Embratel, [3].
O Sistema TELEBRÁS era composto por uma empresa “holding”,
a TELEBRÁS; por uma empresa “carrier” de longa distância de âmbito
nacional e internacional, (a EMBRATEL); e por 27 empresas de âmbito
estadual ou local — e por quatro empresas independentes, sendo três
estatais (a CRT, controlada pelo Governo do Estado do Rio Grande do
Sul; a SERCOMTEL, pela Prefeitura de Londrina; e a CETERP, pela
Prefeitura de Ribeirão Preto) e uma privada (a Cia. de Telecomunica-
ções do Brasil Central, sediada em Uberlândia e que atua no Triângulo
Mineiro, no nordeste de S. Paulo, no sul de Goiás e no sudeste do Mato
Grosso do Sul).
Ao longo de sua existência, a TELEBRÁS desenvolveu um trabalho
notável, criando uma rede de telecomunicações que integrou o País de
norte a sul e de leste a oeste.
O Sistema Telebrás, apesar de ter cumprido seu papel, já na dé-
cada de 90 começava a mostrar sinais de ineficiência para atender as
necessidades de modernização e expansão do setor. Para viabilizar o
crescimento e prover infra-estrutura tecnologicamente moderna, com
qualidade, padrão internacional e diversificação dos serviços, acesso
universal aos serviços básicos, foi formulada uma nova proposta para o
setor, que culmina com a Lei Geral de Telecomunicações (LGT), de 1997
e com a criação e implementação do órgão regulador, Agência Nacional
de Telecomunicações – Anatel, dando assim os primeiros passos para a
abertura do setor à iniciativa privada. Um ano depois, no dia 29 de julho
de 1998, o Sistema Telebrás era privatizado em leilão realizado na Bolsa
de Valores do Rio de Janeiro.

30
A Fig.1.10 sumariza a trajetória do setor de telecomunicações no
Brasil:

Fig. 1.10 Trajetória do setor de telecomunicações no Brasil

Referências
[1] Fundamentos de Comunicação – Editado por Humberto Abdalla,
Ed FT, UnB, 2009
[2] História da UIT, http://www.itu.int/net/about/history.aspx, aces-
sado em 14/11/20
[3] As Telecomunicações no Brasil: Do Segundo Império Até O Re-
gime Militar, Diamantino Fernandes Trindade, Laís dos Santos Pinto
Trindade, http://www2.eptic.com.br/sgw/data/bib/artigos, acessado
em 15/11/2009
[4] Evolução Do Setor De Telecomunicações No Brasil, Vera Batista
Filippi Ferreira, II Encontro Científico da Campanha Nacional das
Escolas da Comunidade (II EC-CNEC), Varginha, 9-10 de julho de
2004, www.oswaldocruz.br/download/artigos/social10.pdf, acessado,
15/11/2009
[5] “Três Momentos da História das Telecomunicações no Brasil”.
Ethevaldo Siqueira,. São Paulo: Dezembro Editorial, 2000.
[6] O Setor de Telecomunicações:História e Políticas Públicas no Bra-
sil, dissertação de mestrado, Jamerson Rogério do Nascimento, IB-
MEC, novembro de 2008

31
2
REGULAÇÃO E PADRONIZAÇÃO EM
TELECOMUNICAÇÕES

O objetivo da regulação e padronização nas telecomunicações é


estabelecer critérios e princípios que assegurem as condições de uso
amplo e eficiente dos serviços de telecomunicações em todo o planeta.
Neste sentido, os órgãos reguladores internacionais e nacionais,
trabalham em colaboração, com o propósito de garantir a oferta de
serviços de telecomunicações de qualidade, através de uma gestão
equitativa do espectro de radiofreqüências e órbitas de satélites que
assegurem comunicações sem fio livres de interferências, e na defini-
ção e adoção de normas técnicas que permitam a interoperabilidade,
interconectividade e portabilidade da aplicação entre equipamentos
de diferentes fabricantes.
As instituições que se preocupam com a regulação e padronização
das telecomunicações a nível internacional são
•  União Internacional de Telecomunicações (UIT)
•  Comissão Inter-Americana de Telecomunicações (CITEL)
•  Foro Latino-Americano de Entes Reguladores de Telecomuni-
cações (Regulatel)
•  Organização Internacional de Telecomunicações por Satélite
(Intelsat)
•  Organização Internacional de Telecomunicações Móveis por
Satélite (Inmarsat)
•  Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

33
A representação brasileira nos foros internacionais de telecomuni-
cações é feita pela Anatel. Para que a participação brasileira aconteça
de modo organizado e eficiente, foram criadas as Comissões Brasilei-
ras de Comunicações (CBC), [3].
É importante mencionar as organizações para padrões industriais,
comerciais e profissionais que tem suas atividades de padronização
dirigidas para áreas de interesse de seus membros, mas, geralmente
exercem forte influência na área de regulamentação das telecomuni-
cações.
•  TIA – Telecommunication Industries Association (Associação
das indústrias de telecomunicações);
•  IEEE – Institute of Electrical and Electronic Engineers (Instituto
de engenheiros elétricos e eletrônicos);
•  ETSI- European Telecommunications Standards Institute ( Insti-
tuto Europeu de Normas de Telecomunicações)
•  ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

2.1 União Internacional de Telecomunicações (UIT)

Os sistemas de telecomunicações, tecnicamente minimizam os


problemas associados a distancia e propõe a integração de todos os
povos por meio da informação. Ao lidar com esse conceito é impor-
tante compreender que para interconectar as redes de todos os países
alguns problemas técnicos devem ser resolvidos. Para isto é necessário
um fórum internacional que coordene os trabalhos de regulamentar e
padronizar as telecomunicações em nível internacional. Este é o pa-
pel da União Internacional das Telecomunicações (UIT), fundada em
1865 e que conta atualmente com 190 países membros e tem como
missão coordenar e gerenciar o espectro de radiofreqüências e posi-
ções órbitas para os serviços globais de telecomunicações.

34
2.1.1 A História da UIT
A ITU é uma das mais antigas organizações internacionais em
funcionamento. A sua origem está associada a origem dos sistemas de
comunicações, quando Samuel Morse, em 1844,enviou sua primeira
mensagem pública através de uma linha telegráfica entre Washington
e Baltimore,[1].
Quase dez anos depois, a telegrafia estava disponível como um
serviço ao público. Naqueles dias, porém, as linhas telegráficas não
ultrapassam as fronteiras nacionais. Como cada país usava um sistema
diferente, as mensagens tinham de ser transcritas, traduzidas e entre-
gues nas fronteiras, em seguida, re-transmitidas através da rede tele-
gráfica do país vizinho, [1].
Para tornar o serviço de telégrafo mais eficiente a nível interna-
cional, era necessário estabelecer regras comuns para padronizar códi-
gos, equipamentos e facilitar a interconexão internacional. Assim, em
1865, 20 Países se reuniram em Paris para a elaboração do primeiro
conjunto de regulamentos de funcionamento do telégrafo - a Conven-
ção Internacional do Telégrafo e criar International Telegraph Union
(ITU) que tinha como finalidade consolidar a regulamentação e pro-
por caso necessário, futuras alterações.
Após a concessão de patentes do telefone em 1876 e a subseqüen-
te expansão da telefonia, a União Internacional do Telégrafo come-
çou, em 1885, elaborar uma legislação internacional para telefonia.
No início dos anos 1920, surgem os serviços de telecomunicações via
rádio, dando origem ao desafio de utilizar, o espectro de radiofreqüên-
cias com diferentes tecnologias e para os mais diversos serviços sem
interferência entre estações.
Para acompanhar o progresso tecnológico e a contínua expansão
das telecomunicações, a ITU se organiza em três comitês, O Comitê
Consultivo Internacional de Telefonia (CCIF, criado em 1924), o
Comitê Consultivo Internacional do Telégrafo (CCIT, criada em
1925), e o Comitê Consultivo Internacional de Rádio (CCIR criado
em 1927). Esses comitês ficaram responsáveis pela coordenação dos

35
estudos técnicos, testes e medições realizadas nos diversos domínios
das telecomunicações, e da elaboração de normas internacionais.
A partir dessa estrutura a União Internacional de Telegrafia torna-
se capaz de cobrir todas as formas de comunicação, com e sem fio, o
que leva a mudança do nome em 1934, para União Internacional de
Telecomunicações.
Após a Segunda Guerra Mundial, em 1947, a UIT torna-se uma
agência especializada da recém criada Nações Unidas, ONU. Ao mes-
mo tempo, é criado o International Frequency Registration Board
(IFRB) para coordenar a tarefa cada vez mais complexa de gerenciar
o espectro de rádio-freqüência.
Em 1956, a CCIT e o CCIF foram fundidas no Comitê Consulti-
vo Internacional de Telefonia e Telegrafo (CCITT), a fim de respon-
der de maneira mais eficiente as demandas desses dois segmentos das
comunicações.
O ano de 1957 é marcado pelo lançamento do primeiro satélite
artificial, o Sputnik-1, é o início da era espacial. Em 1963, o primeiro
satélite de comunicações geoestacionário foi colocado em órbita. Mais
uma vez a UIT, cumprindo sua missão regulamenta a utilização, pelos
satélites, do espectro de radiofreqüências e das posições orbitais asso-
ciadas.
Nas últimas décadas do século XX, as telecomunicações foram
submetidas a grandes transformações associadas ao desenvolvimento
tecnológico, a crescente globalização da economia e a tendência mun-
dial de privatização dos mercados de telecomunicações. Esse novo
cenário exigiu da UIT uma estrutura de funcionamento que lhe con-
ferisse uma maior rapidez e flexibilidade na promoção do desenvolvi-
mento e a exploração dos meios de telecomunicação.
Do processo de reorganização, surgiu uma UTI com uma estru-
tura mais ágil e eficiente, combinando as atividades de seus órgãos
anteriores em três setores, relacionados às suas três principais áreas de
atividade: Normalização das Telecomunicações (UIT-T), Radiocomu-
nicações (UIT-R) e Desenvolvimento das Telecomunicações (UIT-D).

36
2.1.2 Composição da UIT
Para realizar a sua missão a UIT conta com uma estrutura com-
posta de uma Conferência de Plenipotenciários, órgão supremo da
União, um Conselho que atua como mandatário da Conferência de
Plenipotenciários, uma Secretaria Geral e três segmentos representan-
do, o Setor das Radiocomunicações (UIT-R), o Setor de Normalização
das Telecomunicações (UIT-T) e o Setor de Desenvolvimento das Te-
lecomunicações (UIT-D). Além disso, promove anualmente uma con-
ferencia mundial sobre as telecomunicações internacionais, Fig.2.1.

37
Fig.2.1 Estrutura da UIT

38
Conferência de Plenipotenciários
A Conferência de Plenipotenciários, órgão máximo da UIT, é
composta pelas delegações dos Estados-Membros. O termo Pleni-
potenciário, que vem do latim plenipotens (aquele que tem todos os
poderes) é utilizado para qualificar uma delegação com plenos po-
deres para representar seu país na missão para o qual foi designada,
podendo assinar acordos ou realizar negócios em nome do país que a
enviou. A Conferência de Plenipotenciários, realizada a cada quatro
anos, define as políticas gerais para o cumprimento dos objetivos da
União e elege os diretores do Conselho e dos três setores.

O Conselho da UIT
O Conselho da UIT (anteriormente chamado de Conselho de Ad-
ministração) é constituído por um máximo de 25% do número total
de Estados-Membros. Os membros do Conselho são eleitos pela Con-
ferência de Plenipotenciários por meio de processo que permite que
todos os continentes estejam representados. (Américas, Europa Oci-
dental, Europa Oriental, África, Ásia e Oceânia). O Conselho atual
compreende 46 Estados-Membros.
O papel do Conselho é conduzir os trabalhos entre as Conferên-
cias de Plenipotenciários, no sentido de assegurar o cumprimento
pleno das atividades da União, em conformidade com as diretrizes
estabelecidas pela Conferência de Plenipotenciários.
O Conselho também é responsável pela coordenação dos traba-
lhos da UIT com outras organizações das Nações Unidas.

O Setor de Radiocomunicações (UIT-R)


A função do Setor das radiocomunicações consiste em garantir a
utilização racional, equitativa, eficaz e econômica do espectro das ra-
diofreqüências por todos os serviços de radiocomunicações, incluindo
os que utilizam a órbita de satélites geoestacionários ou outras órbitas.

39
O funcionamento do Sector das Radiocomunicações, Fig. 2.2, é asse-
gurado por:
•  Conferências Mundiais e Regionais de Radiocomunicação;
•  Assembléias de Radiocomunicação
•  Junta do Regulamento de Radiocomunicação;
•  Grupos de Estudos e Grupo Consultivo de Radiocomunicação;
•  Reuniões Preparatórias da Conferência (CPM)
•  Departamento de Radiocomunicação

Fig.2.2 Funcionamento da ITU-R

40
Conferências Mundiais e Regionais de Radiocomunicação
As Conferências Mundiais de Radiocomunicação (WRC) são nor-
malmente convocadas com intervalos de dois ou três anos, para ana-
lisar todas as questões de radiocomunicação de caráter mundial e, se
necessário, rever a regulamentação de radiocomunicações e planos de
atribuição de freqüências e posições orbitais.
As Conferências Mundiais de Radiocomunicações são abertas a
todos os países membros da UIT, as organizações intergovernamen-
tais e regionais de telecomunicações e as instituições que operam os
sistemas de satélite. Além disso, os operadores de telecomunicações
autorizados pelo seu país para participar nos trabalhos do Setor de Ra-
diocomunicação são admitidos para as conferências.
Além das conferências mundiais de radiocomunicações, uma re-
gião de ITU ou um grupo de países pode realizar uma conferência
regional de radiocomunicações, com um mandato para desenvolver
acordos relativos a um serviço de radiocomunicações em particular ou
banda de freqüência.
No entanto, essas conferências não podem modificar regulamen-
tação de radiocomunicações, a não ser se aprovados por um WRC, e
decisões da conferência só são obrigatórias para os países que fazem
parte do acordo.

Assembléias de Radiocomunicações
As assembléias de radiocomunicações são igualmente convocadas
com intervalos de dois ou três anos e poderão ser associadas ao local
ou datas das conferências mundiais de radiocomunicações, de modo a
melhorar a eficácia e a produtividade do setor das radiocomunicações.
As assembléias de radiocomunicações estabelecem as bases técnicas
necessárias aos trabalhos das conferências mundiais de radiocomunica-
ções e dão andamento a todas as solicitações das referidas conferências.
As assembléias são responsáveis pela formação de grupos de estu-
do constituídos de peritos para analisar questões específicas no sentido

41
de fornecer subsídios técnicos para os trabalhos das conferências. É de
competência das assembléias garantir as condições necessárias para a
execução dos programas de trabalho propostos determinando a priori-
dade, a urgência e o prazo para conclusão dos estudos. Além disso, elas
identificam tópicos adequados para a agenda futura da WRC.

Junta de Regulamentos de Radiocomunicação


A Junta de Regulamentos de Radiocomunicação é um organismo
composto de 12 membros (ou 6% do número total de Estados-Mem-
bros da UIT), que aprova os critérios técnicos usados pelo Departa-
mento de Radiocomunicações na aplicação do regulamento da Rádio-
comuniicação. Ela também investiga as queixas feitas pelos membros
da UIT sobre a interferência de freqüências, e formula recomendações
para resolver tais problemas.
Os membros do conselho, eleitos na Conferência de Plenipotenci-
ários, são altamente qualificados no domínio das radiocomunicações e
possuem experiência prática em matéria de atribuição e utilização de
freqüências. Os membros exercem as suas atividades como guardiões
da confiança pública internacional e não como representantes dos res-
pectivos Estados membros, portanto, eles não podem fazer parte das
delegações nacionais em conferências.

Grupos de Estudos e Grupo Consultivo de Radiocomunicações (RAG)


O Grupo Consultivo de Radiocomunicações (RAG) é encarregado
de: rever as prioridades e estratégias adotadas pelo setor; acompanhar
e fornecer orientações aos trabalhos dos Grupos de Estudo e recomen-
dar medidas para promover a cooperação e coordenação com outras
organizações e com os outros setores da UIT.
A RAG ainda assessora o Diretor de Radiocomunicações no que
se refere a assuntos relacionados ao setor.

42
Os grupos de Estudo, propostos pelas assembléias de radiocomu-
nicações (RA) e supervisionados pelo Grupo Consultivo de Radioco-
municações (RAG), são formados por mais de 1 500 especialistas de
administrações e organizações de telecomunicações de todo o mundo.
Eles trabalham no sentido de:
•  elaborar propostas técnicas para as Conferências de Radiocomu-
nicações,
•  esboçar projetos de Recomendações,
•  elaborar manuais de aplicação das recomendações.
Atualmente existem 7 grupos de estudos dedicados aos seguintes
assuntos:
Grupo de Estudo 1 (SG 1) - Gestão do espectro
Grupo de Estudo 3 (SG 3) - propagação de onda de rádio
Grupo de Estudo 4 (SG 4) - serviços via Satellite
Grupo de Estudo 5 (SG 5) - serviços terrestres
Grupo de Estudo 6 (SG 6) - serviço de Radiodifusão
Grupo de Estudo 7 (SG 7) - serviços Científicos

Reunião Preparatória da Conferência (CPM)


Com base nas contribuições das Agencias Reguladoras, dos Gru-
pos de Estudo de Radiocomunicações e de outras fontes, sobre questões
técnicas, operacionais e processuais, são realizadas Reuniões Prepara-
tórias da Conferencia (CPM) com a finalidade de elaborar um relató-
rio para ser utilizado como um das fontes de apoio aos trabalhos das
Conferências Mundiais de Radiocomunicações. Na medida do possí-
vel, a CPM deve conciliar as diferenças nas abordagens constantes do
material de origem, ou, no caso em que as abordagens não poderem
ser conciliadas, incluir os diferentes pontos de vista e a sua justificação.

43
Departamento das Radiocomunicações (BR)
O Departamento de Radiocomunicações, ou BR, é o braço exe-
cutivo do Sector das Radiocomunicações, e é dirigido por um diretor
eleito. O diretor da BR atua como Secretário Executivo do Regula-
mento das Radiocomunicações, e é responsável pela coordenação dos
trabalhos do setor. A BR oferece apoio técnico e administrativo às as-
sembléias e congressos de radiocomunicações e aos grupos de estudo.
O Departamento de Radiocomunicações presta assessoria aos Es-
tados membros sobre o uso justo e eficaz do espectro de radiofreqüên-
cias e órbitas de satélites, e auxilia na resolução de casos de interferên-
cias prejudiciais

O Setor de Normalização das Telecomunicações (UIT-T)


O Setor da Normalização das Telecomunicações (UIT-T) tem como
objetivo a padronização de sistemas e equipamentos de telecomuni-
cações. Os padrões internacionais produzidos pelo ITU-T são citados
como “Recomendações”, devido ao seu caráter voluntário.
O Setor de Normalização das Telecomunicações divide o seu tra-
balho em categorias que são identificadas através de uma letra, conhe-
cidas como as “séries”, e as Recomendações são numeradas dentro de
cada série, por exemplo, “H.264”, é um padrão para compressão de
vídeo, baseado no MPEG-4.dentro da série “H” que trata de “Sistemas
Audiovisuais e Multimídia.
O funcionamento do Sector da Normalização das Telecomunica-
ções é assegurado por:
•  Assembléias Mundiais de Normalização das Telecomunicações;
•  Grupos de Estudos de Normalização das Tecomunicações e Gru-
po Consultivo de Normalização das Telecomunicações;
•  Departamento de Normalização das Telecomunicações.

44
Assembléia Mundial de Normalização das Telecomunicações
As Assembléias Mundiais de Normalização das Telecomunicações
- World Telecommunication Standardization Assembly - (WTSA) são
realizadas a cada quatro anos para aprovar, modificar ou rejeitar os
projetos de normas, “Recomendações”.
Compete as Assembléias aprovar o programa de trabalho da UIT-
T e determinar as prioridades, a urgência e prazo para conclusão dos
trabalhos relativos à elaboração de normas.
Além disso, as assembléias decidem sobre a estrutura dos grupos
de estudo e sobre as questões a serem estudados por cada grupo de es-
tudo. Essas questões se concentram na padronização dos serviços de te-
lecomunicações, operação e desempenho de equipamentos, sistemas,
redes, serviços, tarifas e métodos contabilísticos.

Grupos de Estudos de Normalização das Telecomunicações e Grupo Con-


sultivo da Normalização das Telecomunicações (TSAG)
O Grupo Consultivo da Normalização das Telecomunicações
(TSAG) é um grupo de apoio que, emite pareceres junto ao diretor do
Departamento da Normalização das Telecomunicações.
O TSAG tem como missão rever as prioridades e estratégias ado-
tadas pelo Setor, monitorizar e orientar os trabalhos dos grupos de es-
tudos e recomendar medidas de incentivo à cooperação com organi-
zações internacionais de normalização. O TSAG é responsável pelos
projetos de padronização definidos como “Recomendações”.
O Grupo atua como um órgão consultivo para os grupos de es-
tudo, ponderando as necessidades de todos os membros, dos países
desenvolvidos e em desenvolvimento, da indústria e dos governos
Os trabalhos dos Grupos de Estudo são o cerne da UIT-T. Eles se
dedicam a estudos técnicos em uma determinada área da normalização
das telecomunicações. Para ajudar na organização do trabalho, o SG
pode ser organizado em subgrupos denominados grupos de trabalho.
Atualmente estão ativos aproximadamente 15 Grupos de Estudos.
45
Departamento de Normalização das Telecomunicações (TSB)
O departamento é dirigido por um diretor eleito pelo plenipoten-
ciário. As tarefas atribuídas ao TSB incluem:
•  organizar e coordenar o processo de aprovação de recomenda-
ções UIT-T, bem como a sua publicação e distribuição aos membros
•  auxiliar o trabalho do setor e fazer todos os preparativos neces-
sários para assembléias e reuniões do Setor de Normalização das
Telecomunicações,
•  atualizar os documentos e bases de dados do Setor de Normali-
zação das Telecomunicações.
•  fornecer de informações técnicas e apoio ao desenvolvimento
das telecomunicações.

Setor de Desenvolvimento das Telecomunicações (UIT-D)


O setor de desenvolvimento da UIT (UIT-D) objetiva estimular
o progresso econômico e social por meio da disseminação acessível,
igualitária e sustentável das telecomunicações.
O Setor de Desenvolvimento das Telecomunicações cumpre suas
tarefas por meio de:
a) Conferências Mundiais e Regionais de Desenvolvimento das
Telecomunicações;
b) Grupos de Estudo de Desenvolvimento das Telecomunicações;
c) Departamento de Desenvolvimento das Telecomunicações.

Conferências Mundiais e Regionais de Desenvolvimento das .................
Telecomunicações, CMDT
Estas conferências definem objetivos e estratégias para o equi-
líbrio do desenvolvimento mundial e regional no setor das teleco-
municações. Elas servem para analisar os progressos realizados em

46
telecomunicações nos países em desenvolvimento e estabelecer pro-
gramas de desenvolvimento das TIC.
A prioridade é atribuída à expansão e modernização das redes, e a
mobilização de recursos necessários para impulsionar a penetração e o
acesso às telecomunicações nos países em desenvolvimento.
O CMDT promove reuniões preparatórias regionais (RPMs) que
estabelecem prioridades regionais na África, Américas, Estados Ára-
bes, Europa e Ásia, bem como um roteiro para alcançar as metas defi-
nidas regionalmente.
As resoluções, decisões, recomendações e relatórios das conferên-
cias são submetidos ao plenipotenciário.

Grupos de Estudos de Desenvolvimento das Telecomunicações e Grupo


Consultivo para o Desenvolvimento das Telecomunicações, TDAG
O Grupo Consultivo para o Desenvolvimento das Telecomuni-
cações, TDAG assessora o Diretor do Departamento do Desenvolvi-
mento das Telecomunicações no estabelecimento de prioridades, na
formulação de estratégias e na preparação e execução do orçamento e
do plano operacional do Setor do Desenvolvimento das Telecomuni-
cações
Os grupos de estudo representam tanto par os países desenvolvi-
dos e em desenvolvimento um fórum único para se discutir problemas
relacionados com os avanços das TIC nos países em desenvolvimento.
O ITU - D funciona com dois grupos de estudo, um que lida com
questões regulatórias e outro com questões técnicas. Os grupos elabo-
ram relatórios analisando os progressos realizados sobre uma varieda-
de de questões. Esses relatórios são encaminhados para a Conferência
Mundial de Desenvolvimento das Telecomunicações através do Grupo
Consultivo para o Desenvolvimento das Telecomunicações (TDAG).

47
A Secretaria de Desenvolvimento das Telecomunicações
Este órgão é o braço administrativo do Setor de Desenvolvimen-
to. Seus deveres e responsabilidades abrangem uma variedade de fun-
ções, incluindo a supervisão do programa, pareceres técnicos, coleta,
processamento e publicação de informações relevantes para o desen-
volvimento das telecomunicações. O departamento é dirigido por um
diretor eleito, que organiza e gerencia o trabalho do Setor.

Secretaria-Geral
A Secretaria-Geral tem como função gerir os aspectos administra-
tivos e financeiros da UIT, incluindo funções corporativas (comuni-
cações, assistência jurídica, financeira, de pessoal e serviços comuns ).
Alem disso a Secretaria-Geral fornece apoio as conferências e reu-
niões da UIT e mantém ligações com os Estados-Membros, a ONU,
e outras organizações internacionais. Também é responsável pelo pro-
grama de publicações da UIT.

Conferência Mundial de Telecomunicações Internacionais


As conferências mundiais de telecomunicações internacionais são
realizadas a pedido da Conferência de Plenipotenciários, e têm o poder
de rever o Regulamento das Telecomunicações Internacionais.
Os regulamentos prevêem um amplo conjunto de regras para as
administrações e os operadores de telecomunicações na prestação de
serviços de telecomunicações internacionais.
Devido à rápida evolução da tecnologia de telecomunicações, a
International Telecommunication analisa os regulamentos gerais que
visam facilitar a interconexão e a interoperabilidade global, com base
num acordo mútuo entre as operadoras de telecomunicação.

48
2.2 Regulação e Padronização na America Latina

Até algumas décadas atrás, as leis e regulamentos que regem os


diferentes aspectos das telecomunicações eram interpretados de dife-
rentes maneiras, impedindo o desenvolvimento do setor na América
Latina. Os padrões eram empregados de maneira caótica tornado
difícil definir critérios comuns para um serviço de telecomunicações
integrado em termos do continente americano. Duas organizações
regionais, de formação histórica diferentes, pertencentes a União In-
ternacional das Telecomunicações (UIT).se comprometeram em disci-
plinar as questões associadas a regulação e padronização na America.
•  Comissão Inter-Americana de Telecomunicações (CITEL)
•  Foro Latino-Americano de Entes Reguladores de Telecomunica-
ções (Regulatel)
Ambos Citel e Regulatel estão empenhadas em padronizar regras
e, promover o crescimento nos setores de telecomunicações e nos se-
tores relacionados com Tecnologia da Informação e Comunicações
(TIC).

2.2.1 Comissão Inter-Americana de Telecomunicações (CITEL)


A Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL) é uma
entidade da Organização dos Estados Americanos, estabelecida em
1963, com sede em Washington, DC, Estados Unidos.
A CITEL tem por finalidade servir de principal corpo consultivo
da Organização em todos os assuntos relacionados com as telecomuni-
cações nas Américas, facilitar e promover de todas as maneiras ao seu
alcance o desenvolvimento contínuo das telecomunicações no conti-
nente americano e considerar quaisquer outros assuntos relacionados
com a cooperação interamericana no campo das telecomunicações
de que for incumbida pela Assembléia Geral ou pelos Conselhos da
Organização.

49
A CITAL tem 35 países membros e 200 organizações associadas,
com voz mas sem voto. Mais recentemente, Citel, abriu suas portas
para os operadores privados, industriais e instituições internacionais
de financiamento, e os representantes científicos. Segundo os seus es-
tatutos, a CITEL tem autonomia técnica para a consecução dos seus
objetivos, dentro dos limites estabelecidos pela Carta da OEA.
A estrutura da CITEL inclui: a Comissão Executiva Permanen-
te (COM / CITEL), um comitê de coordenação, duas Comissões
de Consulta Permanentes (CCP I: Serviços públicos de Telecomuni-
cações, CCP II: comunicações de rádio, incluindo a radiodifusão) e
uma secretaria executiva. Além disso existem uma Coordenação de
Capacitação de Recursos Humanos e Grupos de Trabalhos relaciona-
dos a Plano Estratégico da CITEL, Assuntos Legais e Procedimentos,
Estrutura e Funcionamento da CITEL e, finalmente, um Grupo de Tra-
balho Provisório para ajudar os Países membros a preparar-se para as
reuniões do Conselho da União Internacional de Telecomunicações.

Fig.2.3 Estrutura da CITEL

50
O COM/CITEL é o Comitê Executivo Permanente da CITEL
com representantes de treze Estados Membros eleitos pela Assem-
bléia da CITEL e tem como funções principais:
•  Implementar as decisões da Assembléia da CITEL.
•  Propor à Assembléia da CITEL quaisquer emendas ao Estatuto
e ao Regulamento consideradas necessárias,
•  Estabelecer um programa de trabalho para a Secretaria Exe-
cutiva.
•  Estabelecer comitês técnicos e grupos de trabalho, determinan-
do seus programas de trabalho.
O Comitê Consultivo Permanente, CPP1, trata das seguintes ma-
térias associados aos serviços públicos de telecomunicações:
•  Coordenação de normas para redes e serviços de telecomuni-
cações.
•  Regulação e assuntos tarifários
•  Introdução de tecnologias e serviços, certificação de equipa-
mentos e exploração dos serviços públicos de telecomunicações
nos Estados Membros.
As atividades do Comitê Consultivo Permanente CPP2 que trata
de radiocomunicação e radiodifusão estão relacionadas com:
•  Coordenação de normas, planejamento, uso eficiente do espec-
tro radioelétrico e órbitas satelitais.
•  Operação dos serviços de radiocomunicações, incluindo os re-
lativos a radiodifusão.
•  Coordenação da preparação para as Conferências Mundiais e
Regionais de Radiocomunicações da UIT.

51
2.2.2 Foro Latino-Americano de Entes Reguladores de Telecomunica-
ções ( REGULATEL).
O Foro Latino-Americano de Entes Reguladores de Telecomuni-
cações (REGULATEL) foi criado para propiciar a troca de informa-
ção e experiência entre reguladores visando o desenvolvimento das
telecomunicações na America Latina.
O REGULATEL é uma sociedade que compreende 19 países
latino-americanos e agências reguladoras da Europa Central, América
do Sul e México. A organização foi criada em 1997, numa reunião em
Cancun, México, na presença dos respectivos chefes das autoridades
reguladoras. Sua estrutura inclui plenário, Presidente, Secretário-Ge-
ral e uma Comissão de Gestão.
Os principais objetivos deste grupo estão associados ao intercâm-
bio de informações sobre o quadro regulamentar de cada adminis-
tração e com a harmonização de regras e atividades das autoridades
reguladoras, a fim de contribuir para uma maior identificação e defesa
dos interesses regionais e a adoção de posições comuns a nível inter-
nacional, [4].
O Regulatel apresenta-se como um espaço comum de discussão,
informação e troca de experiências entre as autoridades sul-america-
nas responsáveis pela regulação das comunicações. Trata-se, portanto,
de uma organização que visa fomentar a cooperação e coordenação
das atividades no campo das telecomunicações, promovendo, assim,
o desenvolvimento do setor na América Latina.

2.3 Organizações Associadas a Comunicações Via Satelite

As comunicações via satélite de são fundamentais no processo de


integração, supervisão e segurança. No intuito de disponibilizar os ser-
viços de comunicações via satélite a todas as regiões do mundo o mais
rapidamente possível, acordos internacionais foram efetuados para es-
tabelecer um sistema comercial mundial único de telecomunicações

52
por satélite, INTELSAT, e para fornecer. serviços de comunicação
marítima e segurança pública via satélite. em todo o mundo, INMAR-
SAT. Hoje a INTELSAT e a INMARSAT são duas companhias pri-
vadas supervisionadas por duas organizações intergovernamentais, a
Organização Internacional de Telecomunicações por Satélite (ITSO)
e a Organização Internacional de Comunicações Móveis via Satélite
(IMSO).

2.3.1 Organização Internacional de Telecomunicações por Satélite (ITSO).


A criação da Organização Internacional de Telecomunicações por
Satélite (ITSO), anteriormente conhecida pela sigla “INTELSAT”, re-
sultou do esforço de um grupo de nações para se juntar aos Estados
Unidos em 1964 e estabelecer um sistema global de satélites de comu-
nicações. A Organização Internacional de Telecomunicações por Saté-
lite é uma organização intergovernamental que incorpora os princípios
estabelecidos em Assembléia Geral das Nações Unidas, que estabelece
que a comunicação por meio de satélites deva estar disponível para as
nações do mundo em uma base global e não discriminatória.
Com o objetivo de se adaptar às novas condições regulamentares
e ao ambiente concorrencial em que operava, com inovações cons-
tantes e custos crescentes, a organização, em 2001, é reestruturada de
forma a permitir a sua sobrevivência e continuação da prestação das
suas obrigações de serviço público.
No contexto desse processo de reestruturação, a organização,
foi dividida em duas entidades distintas. Deste modo, procedeu-se à
transferência da componente operacional da Intelsat para uma empre-
sa privada de responsabilidade limitada - Intelsat Ltd. - a qual assumiu
o cumprimento dos princípios fundamentais de cobertura e conecti-
vidade, que envolvem as obrigações de serviço público. Além disso,
manteve-se a organização intergovernamental, com uma nova desig-
nação - Organização Internacional de Telecomunicações por Satélite
(ITSO) -, com as suas funções circunscritas à supervisão do cumpri-
mento, pela nova empresa, do oferecimento e manutenção de serviços

53
públicos de telecomunicações, no segmento espacial, de elevada qua-
lidade e capacidade, incluindo telefonia, dados, vídeo e conectividade
com a Internet, para países e territórios, independentemente de sua
localização, dimensão ou nível de desenvolvimento, [4].
A atual estrutura da ITSO é constituída por 149 países membros,
que se reúnem em Assembléia Geral, de dois em dois anos. A Assem-
bléia elege um Diretor Geral, que assume as funções executivas, e um
Comitê Consultivo composto por representantes de 23 países mem-
bros que assessora o Diretor-Geral sobre todos os assuntos solicitados.

2.3.2 Organização Internacional de Comunicações Móveis via Satélite


(IMSO).
A Organização Internacional de Comunicações Móveis via Satéli-
te inicialmente conhecida pela sigla INMARSAT, é uma organização
intergovernamental de âmbito mundial, fundada em 1976.
A companhia foi fundada originalmente como o International
Maritime Satellite Organization (Inmarsat), uma organização sem fins
lucrativos internacional, criada a pedido da Organização Marítima In-
ternacional (OMI), uma entidade das Nações Unidas.
Esta organização tinha então como missão principal conceber e
gerir segmentos espaciais do sistema de satélites marítimos, fundamen-
talmente concentrados na melhoria do Sistema Global de Socorro e
Segurança Marítimos (GMDSS), bem como no desenvolvimento dos
serviços públicos de correspondência marítima e das possibilidades de
radiolocalização. Mais tarde quando começou a prestar serviços a ae-
ronaves e a usuários de portáteis o nome foi alterado para “Internatio-
nal Mobile Satellite Organization”, mas a sigla “Inmarsat” foi mantida.
Para sobreviver e dar continuidade a prestação das suas obriga-
ções de serviço público, dentro das novas condições regulamentares
e do ambiente concorrencial existentes, a organização foi obrigada a
se reestruturar.

54
A reestruturação ocorreu, em 1999, com a divisão da organização
em duas entidades distintas. Deste modo procedeu-se à transferência
da componente operacional da INMARSAT para uma empresa pri-
vada de responsabilidade limitada - INMARSAT Ltd. - que assumiu
a responsabilidade dos princípios de base, que envolvem, nomeada-
mente, o cumprimento das obrigações de serviço público, de cober-
tura mundial, com especial enfoque para as zonas remotas, e a gestão
do Sistema Global de Socorro e Segurança Marítimos (GMDSS). As
soluções de Inmarsat estão orientadas às áreas fora de cobertura de
sistemas de comunicação tradicional e entre seus usuários destacam-
se agências governamentais, organismos internacionais, empresas de
petróleo e gás, transporte marítimo, entre outros. Inmarsat não atende
clientes diretos senão a traves de sua rede mundial de distribuidores.
Além disso, manteve-se a organização intergovernamental, com
a nova designação IMSO (Organização Internacional de Comunica-
ções Móveis via Satélite), a qual tem funções circunscritas à supervisão
do cumprimento, pela nova empresa, dos princípios básicos.
A Organização tem uma forma de contrato de parceria público-
privada com a Inmarsat Ltd através de um Acordo de Serviços Pú-
blicos, que estabelece as obrigações da Inmarsat Ltd, em relação aos
serviços públicos relevantes, bem como define o mecanismo de fisca-
lização que existe entre a Inmarsat e IMSO, [5].
A IMSO também detém uma participação “especial” em Inmar-
sat Ltd, que fornece um mecanismo para assegurar que as decisões
comerciais tomadas não são prejudiciais para os serviços públicos.
A atual estrutura da IMSO, constituída por 93 países membros,
é composta por uma Assembléia Geral, que se reúne de dois em dois
anos, por um órgão executivo dirigido por Diretor Geral, e por um
Comitê Consultivo, composto por um número de Países-membros,
designados pela Assembléia, e que se reúne regularmente.

55
2.4 O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)

O MERCOSUL - Mercado Comum do Sul - é um bloco econô-


mico criado em 1991, pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai base-
ado no Mercado Comum Europeu com o objetivo e reduzir ou elimi-
nar impostos, proibições e restrições entre seus produtos. Além desses
membros de natureza definitiva, também são partes, como membros
associados, Bolívia e Chile.
Com a formação do bloco e devido à complexidade dos assuntos
discutidos entre os quatro países, foi criada uma estrutura formal de
trabalho conforme ilustrado na Fig. 2.4

Fig.2.4 – Estrutura do MERCOSUL

O Conselho do Mercado Comum é órgão superior que cuida da


política do processo de integração e da tomada de decisão para o cum-
primento dos objetivos do MERCOSUL. É integrado pelos Ministros
das Relações Exteriores e da Economia. A presidência é rotativa, exer-
cida em ordem alfabética pelos Estados Partes e com mandato de seis
meses. Uma vez em cada semestre deverá contar com a presença dos
Presidentes das Repúblicas.
56
A Comissão Parlamentar Conjunta é o canal de representação dos
parlamentos dos quatro países, de caráter consultivo e deliberativo.
O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo do Mercosul.
Tem a função de assistir o Conselho nas decisões de cunho executi-
vo. É integrado por quatro membros por país, entre os quais devem
constar obrigatoriamente representantes dos Ministérios das Relações
Exteriores, dos Ministérios de Economia ou equivalentes e dos Bancos
Centrais.
Os subgrupos de trabalho diretamente subordinados ao Grupo
Mercado Comum preparam minutas de decisões a serem submetidas
à apreciação do Conselho e estudam matérias específicas tratadas no
âmbito do MERCOSUL. Atualmente 10 subgrupos tratam dos se-
guintes assuntos:
SGT 1 – Comunicações
SGT 2 – Mineração
SGT 3 – Regulamentos técnicos
SGT 4 – Assuntos financeiros
SGT 5 – Transporte e infra-estrutura
SGT 6 – Meio ambiente
SGT 7 – Indústria
SGT 8 – Agricultura
SGT 9 – Energia
SGT10- Assuntos trabalhistas, emprego e seguridade social

O Subgrupo de Trabalho n. 1 – Comunicações (SGT.1) destina-se


à discussão sobre telecomunicações e assuntos postais. Para facilitar
os seus trabalhos, o SGT.1 é dividido em quatro Comissões Temáticas
(CT), a saber: i) CT de Serviços Públicos de Telecomunicações; ii) CT
de Radiocomunicações; iii) CT de Radiodifusão; iv) CT de Assuntos
Postais, Fig.2.5.

57
Fig.2.5 Comissões temáticas da subcomissão de telecomunicações

A Comissão de Comércio do Mercosul assiste o GMC, velando


pela aplicação dos instrumentos de política comercial comum pelos
Estados Partes para funcionamento da união aduaneira. No seu âmbi-
to, a CCM conta com 8 Comitês Técnicos, a saber:
Tarifas, Nomenclatura e Classificação de Mercadorias (CT Nº 1)
Assuntos Aduaneiros (CT Nº 2)
Normas e Disciplinas Comerciais (CT Nº 3)
Políticas Públicas que Distorcem a Competitividade (CT Nº 4)
Defesa da Concorrência (CT Nº 5)
Estatísticas de Comércio Exterior do Mercosul (CT N° 6)
Defesa do Consumidor (CT Nº 7)
Comitê de Defesa Comercial e Salvaguardas (CDCS)

A Secretaria Administrativa do MERCOSUL presta apoio opera-


cional e serviços aos órgãos do MERCOSUL.
O Foro Consultivo Econômico-Social de caráter consultivo privado
permite aos diferentes setores da sociedade (sindicatos, consumidores,
sociedade civil em geral) encaminhar seus pleitos aos órgãos de decisão.

58
2.5 As Comissões Brasileiras de Comunicações (CBCs)

As CBCs são responsáveis pela coordenação e atuação integrada


do Brasil nos organismos internacionais de telecomunicações. e de
responder a questões de interesse específico nacional,
A atual estrutura das CBCs, aprovada pela Anatel [7], é composta
de quatro CBCs, das quais uma é responsável pela atuação brasileira
nas instâncias diretivas das organizações internacionais relacionadas
às telecomunicações ou com temas de discussão relacionados a acor-
dos internacionais de comércio em serviços de telecomunicações ou à
Governança da Internet, e as outras três espelham os setores da União
Internacional de Telecomunicações (UIT), radiocomunicações (UIT-
R), normalização de telecomunicações (UIT-T) e desenvolvimento das
telecomunicações (UIT-D), Fig.2.6.

Fig.2.6 Estrutura das Comissões Brasileiras de Comunicações

As Comissões Brasileiras de Comunicações (CBCs) têm como fi-


nalidade:
•  realizar estudos e análises das questões a elas atribuídas;

59
•  preparar as “Propostas de Contribuições / Posições Brasileiras”
que objetivem orientar o posicionamento da administração brasi-
leira junto aos foros internacionais de telecomunicações;
•  elaborar relatórios anuais sobre o andamento dos trabalhos;
•  colaborar com os trabalhos desenvolvidos no âmbito das co-
ordenações da Comissão Interamericana de Telecomunicações
(Citel) e do Mercosul;
•  propor a realização de seminários, reuniões e debates e fomen-
tar a participação de novos especialistas, dentre outras.
A participação nas Comissões Brasileiras de Comunicações
(CBCs) é aberta aos segmentos públicos e privados da sociedade bra-
sileira com interesse direto no setor de telecomunicações, assim como
a especialistas que possam prestar colaboração nesta área, ou seja:
•  empresas prestadoras de serviços de telecomunicações;
•  organizações científicas e industriais;
•  empresas de consultoria e de prestação de serviços especializa-
dos;
•  instituições de ensino, pesquisa e desenvolvimento;
•  agências ou órgãos governamentais com interesse na área de
telecomunicações;
•  entidades e associações de classe do setor;
•  profissionais que atuam isoladamente ou no âmbito de organi-
zações em áreas ligadas às telecomunicações, como consultores,
professores ou pesquisadores.

As atribuições das CBC são:


CBC 1 - Governança e Regimes Internacionais – atua nos cole-
giados deliberativos de normalização, desenvolvimento e políticas de
telecomunicações da União Internacional de Telecomunicações, na

60
Comissão Interamericana de Telecomunicações (Citel), no Mercosul
e nos fóruns relacionados aos acordos internacionais de comércio em
serviços de telecomunicações ou à Governança de Internet.

CBC 2 - Radiocomunicações – coordena a participação e as po-


sições brasileiras perante o Grupo Assessor das Radiocomunicações
(RAG) e as Comissões de Estudo do Setor de Radiocomunicações da
UIT (UIT-R), bem como nos Comitês Consultivos Permanentes da
Citel e no Subgrupo de Trabalho nº 1 (SGT.1) do Mercosul, cujo tema
esteja relacionado à Radiocomunicações.

CBC 3 - Normalização de Telecomunicações – leva as posições


brasileiras ao Grupo Assessor de Normalização das Telecomunicações
(TSAG) e às Comissões de Estudo do Setor de Normalização da UIT
(UIT-T), bem como ao Comitê da Citel e ao SGT.1 do Mercosul, quan-
do o assunto for Normalização das Telecomunicações.

CBC 4 - Desenvolvimento das Telecomunicações - coordena a


participação e as posições brasileiras no Grupo Assessor para o De-
senvolvimento das Telecomunicações (TDAG) e nas Comissões de
Estudo do Setor de Desenvolvimento da UIT (UIT- D). Atuará ainda
no âmbito da Citel, do SGT.1 do Mercosul, da Comunidade de Países
de Língua Portuguesa (CPLP) e do Fórum Latino-Americano de Entes
Reguladores de Telecomunicações (Regulatel).

A Fig. 2.7 ilustra a relação entre as CBCs, os setores da UIT, seus


Grupos de Estudos (GE),a CITEL e o MERCOSUL,[8].

61
Fig.2.7 Áreas de atuação de cada CBC no ITU, CITEL e MERCOSUL

62
2.6 Organizações para padrões industriais, comerciais e profissio-
nais

Os serviços de telecomunicações são produtos complexos. O pro-


cesso de padronização deste tipo de produto tem utilizado, ao longo
dos anos, a técnica de partição em produtos menores, de definição
mais simplificada, menor abrangência e aplicação modular. Isto tem
gerado um grau de especialização e um crescimento exponencial da
quantidade de padrões gerada, ao mesmo tempo em que novos grupos
de padronização em telecomunicações são criados [9]. Dentro desse
universo pontuaremos algumas das mais importantes organizações de
padronização.

2.6.1 Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos - IEEE


O Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos ou IEEE é
uma organização profissional sem fins lucrativos, fundada nos Estados
Unidos. O IEEE foi formado em 1963 pela fusão do Instituto de En-
genheiros de Rádio (IRE) com o Instituto Americano de Engenheiros
Elétricistas (AIEE). O IEEE tem filiados em todas as partes do mun-
do, sendo seus sócios engenheiros eletricistas, engenheiros de compu-
tação, profissionais de telecomunicações e profissões afins. Sua meta é
promover conhecimento no campo da engenharia elétrica, eletrônica
e computação. Um de seus papéis mais importantes é o estabeleci-
mento de padrões para tecnologia da informação e comunicação.
Para se ter uma noção da importância do IEEE, pode-se citar o
conjunto de padrões para os componentes físicos das redes locais co-
nhecido como Projeto 802 por ter sido iniciado em Fevereiro de 1980.
Dentro desse conjunto de padrões encontra-se o IEEE 802.11, que
define a arquitetura das redes sem fio, também conhecidas como redes
Wi-Fi. Como prova de sucesso pode-se citar o crescente número de
Hot Spots baseado nesse padrão e o fato da maioria dos computadores
portáteis saírem de fábrica equipados com interfaces IEEE 802.11.

63
As atividades IEEE compreendem ainda a edição e publicação
revistas científicas e jornais de divulgação e a organização conferências.

2.6.2 European Telecommunications Standards Institute (ETSI)


O European Telecommunications Standards Institute (ETSI) é
uma organização independente, sem fins lucrativos que promove a
padronização dasTecnologias da Informação e Comunicação (TIC),
incluindo telefonia fixa, móvel, transmissão via rádio e tecnologias de
Internet, na Europa. O seu objetivo é definir padrões que permitam
ao mercado europeu funcionar como um todo ao nível das telecomu-
nicações.
O trabalho do ETSI está alinhado com as necessidades do merca-
do dos operadores de rede, fabricantes, prestadores de serviços, ins-
tituições de pesquisa e usuários finais. Com projeção mundial. ETSI
tem sido bem sucedido na padronização do GSM - sistema de telefone
celular e do TETRA - sistema de rádio móvel profissional.
O ETSI, criado em 1988, conta com 740 membros de 62 países,
incluindo fabricantes, operadores de rede, administradores, prestado-
res de serviços, órgãos de pesquisa e usuários - na verdade, todos os
principais intervenientes na área das TIC.

2.6.3 Associação das Indústrias de Telecomunicações. (TIA/EIA)


A Associação das Indústrias de Telecomunicações, (Telecommu-
nications Industries Association, TIA) é uma associação de comércio
global criada nos Estados Unidos, em 1988, que representa cerca de
600 empresas fornecedoras de produtos e serviços de telecomunica-
ções e informática. A TIA/EIA trabalha no sentido de desenvolver
padrões de telefonia e redes de dados O trabalho da associação tem
possibilitado a convergência de novas redes de comunicações em seu
estágio de desenvolvimento, favorecendo um ambiente de mercado
competitivo e inovador.

64
Algumas de suas normas são consideradas padrões universais, tais
como,
•  TIA/EIA-568-B: conjunto de três padrões que especifica o pla-
nejamento e a instalação do sistema de cabeamento em edifícios
comerciais para produtos e serviços de telecomunicações.
•  TIA J-STD-607: padrão que facilita a concepção e instalação de
aterramento de sistemas de telecomunicações
•  TIA/EIA-598- padrão identificação das fibras ópticas por códi-
go de cores

2.7 Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é uma en-


tidade privada e sem fins lucrativos e de utilidade pública, fundada
em 1940. A ABNT tem como missão prover a sociedade brasileira
de conhecimento sistematizado, por meio de documentos normativos,
que permita a produção, a comercialização e uso de bens e serviços de
forma competitiva e sustentável nos mercados interno e externo, con-
tribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico, proteção
do meio ambiente e defesa do consumidor
A ABNT é a única e exclusiva representante no Brasil das seguin-
tes entidades internacionais:
•  ISO – International Organization for Standardization
•  IEC – International Electrotechnical Comission

e das entidades de normalização regional:


•  COPANT – Comissão Panamericana de Normas Técnicas
•  AMN – Associação Mercosul de Normalização

65
Para elabora as Normas Brasileiras a ABNT possui 55 Comitês
Brasileiros especializados. Os Comitês relacionados com telecomuni-
cações e informática são:
ABNT/CB-03 – Eletricidade
Ambito de Atuação: Normalização no campo da eletricidade
compreendendo geração/transmissão e distribuição de energia; equi-
pamentos industriais em atmosferas explosivas; eletrônica; disposi-
tivos e acessórios elétricos; instrumentação; bens de consumo; con-
dutores elétricos; instalações elétricas; iluminação; compatibilidade
eletromagnética e telecomunicações no que concerne a terminologia,
requisitos, métodos de ensaio e generalidades
ABNT/CB-21 – Computadores e Processamento de Dados
Âmbito de Atuação: Normalização no campo de computado-
res e processamento de dados compreendendo automação bancária,
comercial e industrial, geração, transmissão e distribuição de dados;
segurança em instalações de informática; técnicas criptográficas; pro-
tocolo de serviços e cabos e conectores para redes locais, no que con-
cerne a terminologia, requisitos, métodos de ensaio e generalidades.

A ABNT também conta com uma Comissão Especial de Estudos


para Televisão Digital que tem como área de a atuação a Normalização
da TV Digital compreendendo transmissão, codificação, multiplexa-
ção e Service Information (SI), terminal de acesso, gestão de direitos
digitais, dados e canal de interatividade, no que concerne à termi-
nologia, requisitos, métodos de ensaio e generalidades. Essas normas
visam garantitr o uso racional, eficiente e econômico de espectro de
radiofreqüência pela TV Digital.

66
Referências
[1] História da UIT, http://www.itu.int/net/about/history.aspx, acessado
em 14/11/2009
[2] Monica Gutestam “ITU - 125 anos: na vanguarda das telecomunicações”,
http://findarticles.com/p/articles/mi_m1309/is_n3_v27/ai_8915056. Aces-
sado em 09 de novembro de 2009.
[3] The International Telecommunication Union (ITU) – Structure, http://
www.nationsencyclopedia.com/United-Nations-Related-Agencies/The-
International-Telecommunication-Union-ITU-STRUCTURE, acessado
11/11/2009
[4] As Quatro Estrelas de Um Mercado Comum
http://www.sindaspcg.com.br/servicos/Mercosul, Acessado em 22/11/2009
[5] International Telecommunications Satellite Organization, http://www.
itso.int. Acessado em 15/11/2009
[6] What is IMSO, http://www.imso.org/whatisimso_UK.asp. Acessado
em 15/11/2009
[7] Criação das Comissões Brasileiras de Comunicações – CBCs, Reso-
lução da Anatel Nº 502 de 18/04/2008, publicada no Diário Oficial de
22/04/2008, disponível no Site da Anatel: http://www.anatel.gov
[8] O Desenvolvimento das Recomendações Internacionais de Rádio e Te-
levisão e as Comissões Brasileiras de Comunicações, Pedro Humberto de
Andrade Lobo, Revista da SET, pp36-38, março 2009
[9] About IEEE, http://www.ieee.org/portal/site, acessado em 16/11/2009.
[10] About ETSI, http://www.etsi.org/WebSite/AboutETSI/AboutEtsi.
aspx, acessado em 16/11/2009
[11] Associação das Indústrias de Telecomunicações, Wikipédia, a enciclo-
pédia livre. Acessado em 16/11/2009
[12] Sobre as Normas Técnicas, Loreno Menezes da Silveira, Diretor de
Tecnologia da KNBS, 15/11/04, http://www.teleco.com.br/emdebate/lore-
no01.asp, acessado em 20/11/2009

67
3
SINAIS E ESPECTRO

Um sistema de comunicação geralmente inclui um transmissor,


um meio de transmissão através do qual a informação é transmitida e
um receptor, que produz na saída uma réplica identificável da infor-
mação de entrada, Fig. 3.1. Em geral, considera-se que um sinal elé-
trico em um sistema de comunicação seja uma seqüência de níveis de
tensão ou corrente que representam uma mensagem. Nesse sistema,
o transmissor recebe uma mensagem, e a codifica em um sinal, que
é transportado até o receptor, o qual decodifica esse sinal e recupera
a mensagem. Os sinais podem ser de tempo contínuo ou de tempo
discreto e ainda podem ser digitais ou analógicos.

Fig.3.1. Diagrama de blocos de um sistema de comunicação típico.

3.1 Transformando a Informação em Sinal Elétrico

Para transformar em sinais elétricos as informações que se apre-


sentam em forma de sons imagens e dados, os sistemas de comuni-
cação utilizam equipamentos conhecidos como transdutores. Os
transdutores são construídos tanto para transformar a informação
em um sinal elétrico como para realizar a transformação inversa.

69
Os transdutores mais conhecidos são: os microfones, os alto falantes,
as câmeras e telas de vídeos e os computadores que transformam qual-
quer tipo de informação, ou seja, som, imagem e dados, em um sinal
elétrico. Por exemplo, nos sinais de áudio, que é uma palavra vinda
do latim e significa “eu ouço”, o microfone converte as ondas sono-
ras em correspondentes variações elétricas do sinal de áudio. O alto
falante recebe este sinal de áudio em seus terminais e os converte em
ondas sonoras reproduzindo os sons originais. Já as imagens, podem
ser estáticas ou dinâmicas. Dois exemplos típicos de transformação
de imagens em sinais elétricos são o fax e os sinais de vídeo. O termo
vídeo é relacionado à luz e significa “eu vejo”, em latim. Nos sistemas
de vídeo, o tubo da câmera converte a luz incidente em variações elé-
tricas. O tubo da câmera está para o vídeo, assim como o microfone
está para o áudio. No outro extremo, o tubo de imagem converte o
sinal de vídeo em luz. A informação de vídeo é reproduzida na tela
do tubo de imagem, sendo uma réplica da cena captada pela câmera.
Na transmissão de dados, codifica-se a informação num conjunto de
valores binários (bits), ou seja, em uma seqüência de 0 e 1, que são
representados por dois níveis distintos do sinal elétrico.

70
Fig. 3.2. Transformação de sons, imagens e dados em sinais
elétricos.

3.2 Classificação do Sinal Elétrico

O sinal elétrico gerado pelo transdutor é um sinal no domínio do


tempo. Nesse domínio, pode-se acompanhar como as variações do
sinal evoluem com o passar do tempo. Um sinal no domínio do tempo
pode ser classificado de várias maneiras, algumas delas são: contínuo
e discreto analógico e digital; e periódico e aperiódico.

71
3.2.1 Sinal Contínuo e Sinal Discreto
Um sinal é dito contínuo quando a sua intensidade varia sem
nenhuma interrupção. Em outras palavras, a intensidade do sinal é
especificada para todos os valores de tempo “t”, sem nenhuma quebra
ou descontinuidade. Por outro lado classificamos o sinal de discreto,
quando o sinal é especificado somente para valores distintos de tempo
“t”, Fig. 3.3.

Fig. 3.3 Sinais contínuo e discreto no tempo

3.2.2 Sinal Analógico


O termo analógico vem de análogo, isto é, semelhante. Um sinal
analógico varia no tempo de um modo análogo ao da propriedade
física que esteve na sua origem. Estes sinais são contínuos e podem
assumir qualquer valor entre dois limites Por exemplo, o sinal elétrico
produzido por um microfone é análogo à onda acústica (voz, música,
ruído etc.) que é captada por esse microfone, Fig.3.4. Da mesma for-
ma, um sinal elétrico gerado por uma câmera de TV é análogo às va-
riações de luz da cena focalizada. Assim, esses sinais são denominados
sinais analógicos.

72
Fig. 3.4 Sinal Analógico

3.2.3 Sinal Digital


Em contrapartida ao sinal analógico, tem-se o sinal digital binário
(“bi=dois”), cuja intensidade pode assumir somente dois valores, 0 ou
1, e é essencialmente uma representação codificada da informação
original, Fig. 2.5. O sinal digital binário também é conhecido com bit
que é uma abreviatura de “Binary Digit” (em inglês, “dígito binário”).
Um exemplo de sinal digital é o Código Morse que representa
letras, números e sinais de pontuação por meio de um sinal codificado
enviado intermitentemente. Foi desenvolvido por Samuel Morse e Al-
fred Vail em 1835, criadores do telégrafo.
Este sistema representa letras, números e sinais de pontuação ape-
nas por uma seqüência de pontos, traços, e espaços. O Código Morse
pode ser transmitido usando apenas dois estados, — ligado e desligado
— o que pode ser representado por pulsos elétricos, conforme ilustra
a Fig. 3.5.

73
Fig. 3.5 Código Morse representado por uma seqüência de pulsos
elétricos

Na moderna comunicação digital cada símbolo é codificado com


o mesmo número de bits, diferentemente do código de Morse.

3.2.4 Bit/Byte
Em Telecomunicações ou em redes de computadores o volume de
tráfego, taxa de transmissão, é descrito em termos de bits por segun-
do (bps). Por exemplo, um modem de 56 kbps é capaz de transferir
56.000 bits (dados) em um único segundo. Já a capacidade de armaze-
namento é expressa em bytes.
Um byte, frequentemente confundido com bit, é um conjunto de
8 bits e é habitulmente usado para especificar o tamanho ou quantida-
de da memória ou da capacidade de armazenamento de um computa-
dor, independentemente do tipo de dados armazenados.
Note que quando nos referimos a bytes, o B da sigla é maiúsculo
(como em GB). Quando a medição é feita em bits, o B da sigla fica em
minúsculo (como em Gbps).

74
Fig. 3.6 Representação de um byte de comprimento de 8 bits

3.2.5 Sinal Periódico


Podemos associar sinais periódicos a eventos periódicos. Um
evento periódico é aquele que se repete em intervalos regulares. A
Fig.3.7 ilustra o conceito de período e freqüência. Período é o tempo
necessário para um evento se repetir. Já freqüência significa quantas
vezes o evento se repete em um determinado intervalo de tempo.
Quando esse intervalo de tempo é de um segundo, a medida de fre-
qüência é Hertz. Então um sinal de 4 Hertz, significa que o sinal se
repete 4 vezes em um segundo.

Fig. 3.7 Conceitos de período e freqüência

75
Em termos de sinal, diz-se que um sinal f(t) é periódico se e so-
mente se
f (t + T ) = f (t )
-∞ < t < ∞ (1.1)
onde a constante T é o período do sinal.

As três características básicas de um sinal periódico são amplitu-


de, freqüência e fase, Fig. 3.8.
•  Amplitude é intensidade do sinal em um instante de tempo
qualquer.
•  Freqüência, expressa em ciclos/segundos ou Hertz (Hz), é o nú-
mero de vezes que o sinal se repete por segundo
•  Fase é uma medida da posição relativa no tempo, dentro de um
período do sinal.

Fig. 3.8 Características básicas de um sinal periódico: a) Amplitude,


b) Fase, c) Freqüência.

76
3.2.6 Sinal Aperiódico
Sinais periódicos como sabemos são sinais que se repetem todo o
tempo. Isto é, são sinais que tem sempre a mesma forma. Infelizmen-
te os sinais que contem informação não têm essa característica. Para
que um sinal com alguma informação seja periódico, essa informação
deve ser repetida infinitamente, no mesmo tom, na mesma intensi-
dade e nos mesmos intervalos de tempo, o que no mundo real é im-
possível. A Fig. 3.9 ilustra a dificuldade de um sinal com informação
ser periódico. A principal característica de um Sinal aperiódico é não
apresentar um padrão repetitivo sobre o tempo, isto é, um sinal para
o qual não há periodicidade na repetição.

Fig. 3.9 Dificuldade de periodicidade de um sinal com informação.

3.3 Formas de Onda

A forma de onda é a representação gráfica de como uma onda


evolui ao longo do tempo. Normalmente os fenômenos ondulatórios,
tais como o som ou ondas eletromagnéticas obedecem a funções ma-
temáticas periódicas. Para cada função, a evolução da intensidade da
onda ao longo do tempo é diferente, criando assim, diferentes formas
de onda. A Fig.3.10 mostra duas formas de ondas, conhecidas como
onda senoidal e onda quadrada.

77
Fig. 3.10. Onda senoidal e onda quadrada.

A onda senoidal ou sinusoidal é a forma de onda mais simples que


se conhece. A imagem desta onda ocorre naturalmente na natureza,
como se pode observar nas ondas do mar, do som e da luz.
Todas as outras formas de onda, mesmo as mais complexas, são
chamadas de formas de ondas compostas porque podem ser decom-
postas em conjuntos de ondas senoidais de diferentes períodos e fre-
quências. A técnica para se transformar uma forma de onda complexa
em suas componentes sinusoidais é chamada de análise de Fourier.
O ouvido humano, por exemplo, pode reconhecer ondas seno sim-
ples, pois elas soam “limpas” e “claras” para nós. Um som que é cons-
tituído por mais de uma onda seno terá uma aparência “barulhenta”.
Por essas razões as ondas senoidais possuem dezenas de aplica-
ções. Em Telecomunicações, é a forma de onda utilizada como onda
portadora na maior parte das modulações de rádio.

78
3.4 Representando o Sinal Periódico Senoidal em função do tempo
e da freqüência.

O modelo matemático de um sinal periódico, expressa a evolução


do sinal ao longo do tempo e a frequencia que o sinal se repete em um
determinado intervalo de tempo. Isto permite a representação gráfica
do sinal periódicode duas maneiras em função do tempo e em função
da frequencia.
Considere o caso específico do sinal senoidal, de amplitude A e
freqüência f 1. Podemos representar o sinal como:

g ( t ) = A sen ( 2π f 1 t )
(2.2)
g ( f ) = A sen ( 2π f 1 t )

Como t é uma variável contínua, g ( t ) será uma função contínua.


No caso da representação gráfica em função da freqüência , a situa-
ção é diferente. A freqüência é uma variável discreta, que é zero exce-
to para um valor especifico f 1, o que acarreta a função existir apenas
para f 1. Para a representação gráfica considera-se- que a função é zero
para todos os valores de e assume o valor máximo em f 1. A Fig. 3.11
ilustra a representação gráfica da de uma função senoidal em função
do tempo e em função da freqüência.

79
Fig. 3.11 Representação gráfica de uma função senoidal em função
do tempo e da freqüência.

Essas representações em função do tempo e em função da fre-


qüência são conhecidas como “domínio do tempo” e “domínio da
freqüência”.

3.5 Conceito de Domínio da Freqüência

Considere dois sinais de mesmas amplitude e freqüência, porém


com formas de onda diferentes, senoidal e quadrada representados
tanto em função da freqüência como em função do tempo, conforme
ilustrado na Fig. 3.12. Verifica-se que embora representação em função
da freqüência não é apropriada porque ela só consegue representar si-
nais senoidais, ela fornece uma aproximação grosseira de como seria
ao onda quadrada.

80
Fig. 3.12 Representação de ondas senoidal e quadrada em função a)
tempo, b) freqüência.

Essa aproximação sugere que se outros sinais senoidais de me-


nores amplitudes e maiores freqüências fossem adicionados seria
possível recuperar a forma de onda original. Tudo se passa como se
fossemos fazer um bolo. Na receita deste bolo os ingredientes são es-
pecificados e suas quantidades bem definidas. A mesma coisa se passa
com a forma de onda do sinal elétrico. Suponha que os ingredientes
sejam ondas senoidais, As quantidades especificas de cada ingredien-
te são as amplitudes, freqüências e fases das senoides que entram na
composição da forma de onda do sinal, Fig.3.13.

81
Fig.3.13 Composição da forma de onda de um sinal composto
periódico.

Usando esse princípio é possível observar o sinal por meio de dois


domínios:
•  domínio do tempo – fornece informações de como se comporta
o sinal ao longo do tempo;
•  domínio da freqüência – especifica as freqüências presentes na
composição do sinal e qual a contribuição máxima de cada uma
delas.

3.5.1 Espectro de um sinal periódico


Partindo do princípio da superposição de sinais senoidais, o mate-
mático francês Joseph Fourier (1768-1876) mostrou que todo sinal peri-
ódico pode ser representado por uma soma de ondas senoidais, e que

82
as únicas ondas senoidais necessárias são as ondas cujas freqüências
são múltiplas inteiras da freqüência da onda que se deseja aproximar.
O conjunto desses sinais é denominado série de Fourier.
As representações gráficas das amplitudes (A) e das fases ( ) das
senoides versus freqüência são denominadas, respectivamente, espec-
tro de amplitude e espectro de fase do sinal. Esses espectros consti-
tuem uma representação completa do sinal no domínio da freqüência.
Eles especificam a composição espectral do sinal, isto é, especificam
a amplitude e a fase das senóides que compõem a forma de onda do
sinal.
A Fig.3.14 e a Fig.3.15 ilustram a relação que existe entre o domí-
nio do tempo e o domínio da freqüência. No caso, o espectro mostra-
do nessas figuras é o espectro de amplitude (A versus freqüência) de
uma onda quadrada . Algumas constatações importantes podem ser
feitas.
•  Todas as freqüências que compõem o sinal, a partir da segunda,
são inteiras múltiplas da primeira freqüência, conhecida como fre-
qüência fundamental. As freqüências múltiplas da fundamental
são conhecidas como harmônicos.
•  O período do sinal total é igual ao período da freqüência fun-
damental.
•  A representação do sinal no domínio da freqüência é discreta.
Neste exemplo, a onda quadrada de freqüência (fundamental)
é representada por 7 harmônicos. Cada harmônico é separado do
próximo por uma quantidade igual ou múltipla da freqüência funda-
mental. A diferença entre a maior freqüência e a menor freqüência
presentes no sinal, é definida como banda passante absoluta do sinal.
Muitos sinais tal como a onda quadrada é composta de um número
infinito de freqüências e, por conseguinte tem uma banda passante
infinita. Entretanto a maioria da energia do sinal está contida em uma
relativamente estreita banda de freqüências. Esta banda é referida
como banda passante efetiva ou simplesmente banda passante. Para
um onda quadrada de freqüência , levando-se em consideração os

83
7 primeiros harmônicos, a banda passante é o espectro se estende de
fo até 7 , Fig. 3.15. Observe que os harmônicos pares são nulos, pois
eles não contribuem para a formação da onda quadrada.

Fig. 3.14. Ilustração da relação entre o domínio do tempo e o


domínio da freqüência.

84
Fig. 3.15. Composição espectral de uma onda quadrada

3.5.2 Espectro de um sinal aperiódico


Como sabemos os sinais que representam algum tipo de infor-
mação (voz, vídeo, dados etc.) não são periódicos. Entretanto, para
esses sinais também é possível obter uma representação no domínio
da freqüência, ou seja, seu espectro. Contudo, o espectro desses sinais
não é um espectro de linhas (isto é, discreto) como o espectro de um
sinal periódico.

85
O Sinal aperiódico pode ser interpretado como um sinal pe-
riódico, cujo período tende para infinito. Quando o período do sinal
cresce, a freqüência fundamental diminui e os harmônicos tendem a
aproximarem uns dos outros, fazendo com que o número de freqüên-
cias que contribui para a formação do sinal cresça. No caso limite,
quando o sinal deixa de ser periódico, isto é não se repete de tempos
em tempos, o intervalo entre as freqüências que compõem o sinal é
tão pequeno que as freqüências ficam coladas umas nas outras, trans-
formando o espectro de freqüência discreto em contínuo. A Fig. 3.16
ilustra a composição de freqüência para uma função periódica e não
periódica.

Fig. 3.16 Espectro de freqüências para uma onda não periódica

86
3.5.3 Espectro de um sinal digital
Para compreender o espectro do sinal digital é necessário falar em
taxa de transmissão. Como nós sabemos, a taxa de transmissão signi-
fica quantos bits é possível transmitir em um segundo. Quanto maior
for a taxa de transmissão mais estreitos serão os bits. Considere o es-
pectro de freqüências de um pulso de largura “d”. Sabe-se conforme
mostrado na Fig. 3.17 que seu espectro é contínuo. A Fig. 3.18 ilustra a
relação existente entre a duração do pulso e o seu espectro de freqüên-
cias. Quanto mais estreito é o bit maior é a sua composição espectral.
No caso limite, quando o pulso tende para um impulso, o espectro de
freqüência será composto de todas as freqüências.

Fig. 3.17 Composição Espectral de um pulso em função de sua


duração

87
Fig.3.18 Composição Espectral para diferentes taxas de transmissão

3.6 Sinais de banda básica

Quando se converte uma informação em um sinal elétrico, a faixa


de freqüências ocupada pelo sinal logo após o transdutor é chamada
banda básica. Por exemplo, para sinais de vídeo ou áudio, a banda-
básica corresponde à faixa de freqüências que contém as informações
visuais ou auditivas desejadas. Em sistemas de áudio, as freqüências em
banda básica variam de 20 Hz a 15.000 Hz. Em sistemas de vídeo, as
freqüências em banda básica variam de 0 a 4,2 MHz.
Banda básica também é associada ao serviço que se quer prestar.
Um exemplo típico é a telefonia. Embora componentes de freqüência
da voz possam ser encontrados na faixa de 20 Hz até 20 kHz, verifica-se
que a maioria da energia da voz está concentrada em baixas freqüên-
cias, Fig.3.18. Testes demonstraram que freqüências abaixo de 600 Hz
pouco acrescentam à compreensão da voz pelo ouvido humano. A li-
nha tracejada que aparece na Fig.3.19 representa a faixa de freqüências
de inteligibilidade do conteúdo da voz. Testes exaustivos mostraram
que basta uma faixa de 0 a 4 kHz para transmitir um sinal de voz. Com
esta faixa se obtém boa inteligibilidade e pode-se até identificar a voz do
interlocutor. Essa faixa ficou conhecida como faixa de voz, e o canal te-
lefônico com essas características, como canal de voz. A Fig. 3.20 com-
para os espectros de freqüências da música e da voz com as faixas de
alguns serviços de comunicação voltados para esse tipo de transmissão.
88
Fig. 3.19. Espectro acústico da voz humana. (b) o canal de voz.

Fig.3.20 Sinal de voz e música em bandas básicas

89
A Tabela 3.1 mostra alguns tipos de sinais e suas bandas básicas.

Tabela 3.1 Banda básica de alguns sinais analógicos típicos.

Tipo de Sinal Natureza Banda Básica


telefone canal de voz 0-4 kHz
áudio música 0-20 kHz
Radiodifusão AM 0-5 kHz
Sonora FM 0-15 kHz
rádio amador 0-3 kHz
rádio faixa do cidadão 0-4 kHz
vídeo imagem em movimento 0-4,2 kHz
Radiodifusão de televisão 0-6 kHz
Sons e Imagens

Referências
[1] Fundamentos de Comunicação – Editado por Humberto Abdalla,
Ed FT, UnB, 2009

90
4
SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO
ANALÓGICO E DIGITAL E OS MEIOS DE
TRANSMISSÃO

Quando falamos em Sistemas de Comunicação estamos falando


da transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios
ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos, ca-
racteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer
natureza.
As duas maneiras mais usuais de classificar os sistemas de comuni-
cações estão associadas a natureza do sinal e aos meios de transmissão
utilizados.Os sistemas de comunicação são ditos analógicos ou digitais
em função da forma do sinal que contem a informação. Se a informa-
ção esta na forma digital o sistema de transmissão é digital. Da mesma
maneira se o sinal de informação está na forma analógica, o sistema é
analógico.
O sistema pode também ser classificado em função do meio de
transmissão utilizado. Os sistemas que utilizam o espaço livre são co-
nhecidos como sistemas via rádio, enquanto, os que utilizam fios, ca-
bos e fibras óticas por sistemas via cabo.

4.1 Sistemas de Comunicação Analógicos e Digitais

Nos sistemas de comunicação analógicos, pouco processamento é


realizado entre a fonte geradora de sinais (informação) e o canal de
transmissão. A informação é transmitida sem nenhum tipo de compac-
tação e os erros causados pelo canal (canal = meio físico de transmissão)

91
não são normalmente corrigidos, nem ao menos detectados. O caso di-
gital é bastante diferente: o sinal emitido pela fonte passa por um longo
caminho de processamento antes de ser transmitido; esse caminho tem
o objetivo de preparar o sinal para que este possa ser transmitido de
forma obter, várias vantagens em relação aos sinais analógicos:
•  o sinal fica mais imune a ruídos e interferências externas;
•  os diferentes tipos de sinais digitais, proveniente de diferentes
formas de informação podem se tratadas da mesma maneira na
transmissão – “um bit é um bit”;
•  o sinal pode ser criptografado fornecendo uma maior segurança
na transmissão da informação.
Devido a esssa vantagens existe forte migração dos sistemas analó-
gicos para os sistemas digitais. Das três grandes famílias de informação
–dados, voz e vídeo - a área de dados sempre foi digital, os serviços
de voz vêm se digitalizando desde os anos 60, e mais recentemente a
digitalização alcançou a área de vídeo, fundamentalmente em relação a
transmissão de TV.
O desempenho de um sistema de transmissão é aferido em função
da qualidade do sinal recebido. O sinal recebido deve ser uma cópia do
sinal transmitido. Quanto mais parecidos forem os sinais transmitido e
recebido, maior é a eficiência do sistema.
Os sistemas analógicos transmitem sinais contínuos que tem dife-
rentes formas. O receptor a priori não tem idéia da forma do sinal a
ser recebido. O receptor não tem condições de saber se o sinal que
está recebendo sofreu deformações relevantes. É impossível o receptor
tentar reconstruir o sinal transmitido por pura falta de informação sobre
sua forma.
Nos sistemas digitais, os sinais transmitidos têm a forma binária,
que pode ser representada, por exemplo, como tensão e não tensão.
O receptor além de saber a forma do sinal a receber, tem apenas o
encargo de detectar a presença de tensão ou não tensão em um certo
intervalo de tempo. A partir dessa deteção é possível reformatar o sinal,
tornando-o idêntico ao sinal transmitido, Fig. 4.1.
92
Fig. 4.1 Transmissão Analógica e Digital

4.2 Conversão do Sinal Analógico em Sinal Digital

A transformação de um sinal analógico em um sinal digital envol-


ve três etapas distintas; amostragem, quantização e codificação, con-
forme ilustrado na Fig. 4.2. Estas etapas são descritas a seguir.

Fig. 4.2 Etapas de conversão do sinal analógico em digital

93
4.2.1 Amostragem do Sinal
Considere um sinal f(t), que se deseja converter à forma digital.
Com este objetivo amostra-se o sinal periodicamente, com freqüência
de fc amostras por segundo. A caracterização conceitual deste proces-
so de amostragem, através de uma chave, é mostrada na Fig. 4.3.
A amostragem é efetuada com a finalidade de colocar o sinal em
forma digital e, posteriormente processá-lo, transmiti-lo e, reconstituí-
lo na sua forma contínua. Intuitivamente poderia se ter o sentimento
de que alguma informação valiosa foi irremediavelmente perdida no
processo de amostragem, inviabilizando a sua reconstituição.

Fig. 4.3 Amostragem de um sinal analógico

Admita que f(t) tem uma banda limitada de B Hz. Isto significa
que seu espectro de freqüências não tem nenhuma componente além
de f = B Hz.
Para o sinal f(t) com a banda limitada, pode-se mostrar que a
amostragem não destrói qualquer conteúdo de informação, desde que
a freqüência de amostragem fc seja igual ou maior que 2B. A freqüên-
cia mínima de amostragem, 2B, é denominada de “freqüência de Ny-
quist” e o intervalo de amostragem 1/2B de intervalo de Nyquist. Estas
designações são em homenagem ao engenheiro americano Harry Ny-
quist, que entre 1920 e 1930 trabalhou na Bell System desenvolvendo
pesquisa na área de transmissão de sinais.
Por exemplo, um sinal contínuo de voz, tem faixa de 0-4 Ghz.
Portanto a freqüência máxima que este sinal contém é 4kHz. Logo ele
deve ser amostrado com 8 kHz, isto é 8.000 vezes por segundo para
ser integralmente recuperado. A Fig. 4.4 ilustra o processo de discreti-
zação de um sinal de voz.
94
Fig. 4.4 Amostragem do sinal de voz

4.2.2 Quantização
A amostragem, conforme a Fig. 4.4, pode ser considerada como
uma série de pulsos cuja amplitude é igual ao sinal contínuo no ins-
tante da amostragem. Como a amplitude do sinal contínuo pode assu-
mir um número infinito de valores, significa que a amplitude do sinal
amostrado também pode assumir um número infinito de valores. Ora
isto quer dizer que o sinal amostrado é tão vulnerável a ação do meio
de transmissão, ruído e atenuação, quanto o sinal contínuo. Quando a
amplitude do sinal é modificada pela ação do ruído ou atenuação, na
recepção é impossível saber, pois qualquer valor é admissível.
Uma maneira de se tentar minimizar o problema é estabelecer
um número finito de valores possíveis para a amplitude do sinal amos-
trado. Isto significa que os infinitos valores que a amplitude do sinal
contínuo pode assumir serão, na amostragem, representados por uma
quantidade finita de valores. Os valores das amplitudes das amostras
serão aproximados para valores previamente estabelecidos, denomi-
nados níveis de quantização. Cada vez que o sinal é amostrado, a am-
plitude da amostra será aproximada para o nível de quantização mais
próximo, como mostrado na Fig.4.5. As linhas pontilhadas correspon-
dem aos níveis de quantização permitidos neste exemplo.
Esta aproximação é denominada quantização e os níveis 1, 2,
3... são denominados níveis de quantização.

95
Fig. 4.5 Processo de quantização do sinal amostrado

A quantização introduz um erro sistemático de até meio nível de


quantização. Quanto maior o número de níveis, menor o ruído de
quantização. Como os níveis são bem definidos, eles podem ser desig-
nados por dígitos. Estes dígitos podem ser representados por códigos
binários, isto é, a cada nível se faz corresponder um código binário.
Cada vez que ocorrer uma amplitude quantizada, ao invés dela ser
transmitida como um pulso poderá ser transmitido o código binário
correspondente ao seu nível.

4.2.3 Codificação
Como o bit só pode assumir “0”ou “1”, a quantidade de bits usa-
dos num código determinará a quantidade de níveis codificáveis, con-
forme a fórmula,
•  (4.1)
onde n = número de bits usados e C = número de combinações
possíveis.
Por exemplo, considere que um sinal contínuo de banda limitada
quantificado em 8 níveis. Cada um destes níveis é identificado por
um código binário de 3 bits (8 = 23). Assim cada pulso é substituído
por três pulsos binários, isto é, três bits. Este processo é ilustrado na
Fig.4.6.

96
Fig. 4.6 Processo de Codiicação de um sinal contínuo de banda
limitada.

O mesmo raciocínio pode ser utilizado para o canal de voz. O


sinal de voz é geralmente quantificado em 256 níveis. Cada um des-
ses 256 níveis pode ser identificado por um código de 8 bits . Assim,
cada pulso é substituído por oito bits. Como se tem 8.000 pulsos de
amostras por segundo, chega-se facilmente a 8 x 8000 bps ou 64kbps.

97
A seguinte correspondência pode ser feita.

Sinal de voz Analógico Digital


Banda Básica 0-4 kHz
Taxa de Transmissão 64 kbs

A Fig. 4.7 sintetiza o processo de transformação de um sinal ana-


lógico em um sinal digital envolvendo as três etapas:; amostragem,
quantificação e codificação

Fig.4.7 Digitalização de um sinal analógico

4.3 Meios de Transmissão

O transporte da informação a distância é realizado pelo meio de


transmissão. O meio de transmissão pode ser classificado em dois
grupos, via cabo e via rádio. O diagrama de blocos da Fig.4.8 mostra
dois sistemas de comunicação via rádio e via cabo, típicos.
98
Fig.4.8 Sistemas de comunicação via rádio e via cabo.

Os sistemas de comunicação via cabo utilizam como meio de trans-


missão os fios metálicos e as fibras ópticas. Na categoria de fios metáli-
cos se enquadram as linhas bifilares, os cabos de pares e os cabos coa-
xiais. As freqüências máximas de transmissão são relativamente baixas,
com exceção do cabo coaxial, que apresenta uma faixa de passagem
mais ampla.
As fibras ópticas são na realidade condutores de vidro (sílica) que
permitem canalizar a luz, dando origem a um outro tipo de sistema de
comunicação, denominado comunicações ópticas. A grande vantagem
das fibras ópticas é a sua enorme capacidade de transmitir informação
por distâncias elevadas com baixas distorções.
Os sistemas de comunicação via rádio utilizam o espaço como meio
de transmissão. Essa característica modifica substancialmente a topolo-
gia do transmissor e receptor. O transmissor acopla energia no espaço

99
em forma de ondas eletromagnéticas, através de uma antena. As ondas
eletromagnéticas se propagam no espaço e são captadas pelo receptor
também através de uma antena (acoplamento espaço-receptor).
O sistema de transmissão via rádio pode ser classificado como: Di-
recional & Omnidirecional. O sistema direcional privilegia um desti-
natário (localidade) em detrimento dos outros, enquanto o sistema om-
nidirecinal tem como filosofia distribuir o sinal pelo maior número de
usuários. Uma analogia com a irrigação de um jardim é feita na Fig. 4.9.

(a)

(b)

Fig. 4.9 Analogia com Sistema de comunicação via rádio, (a)


Omnidirecional, (b) Direcional.

100
4.3.1 Par Trançado
O par trançado é feito de dois fios de cobre isolados e arranjados
num padrão espiral regular, Fig. 4.10. O propósito de translaçar os
fios é diminuir a interferência elétrica. Na prática os pares são com-
binados em um cabo que pode conter dois, quatro ou centenas de
pares trançados. O par trançado é omeio mais utilizado nas redes te-
lefônicas. Mesmo tendo sido projetado para suportar o tráfego de voz
utilizando transmissão analógica, é possível transmitir dados digitais a
taxas moderadas, através da utilização de modens. O termo modem
é a abreviatura para modulador/demodulador. O modem representa
os 1s e 0s do sinal binário em dois sinais senoidais com freqüências
ligeiramente diferentes.
Para aplicações a longa distancia o par trançado é usado a taxas
típicas de 4 Mbps. Embora tenha custos baratos o par trançado é bas-
tante susceptível a interferência e ruído por ser pouco imune a interfe-
rência eletromagnética. A sua aplicação é limitada em termos de taxa
de transmissão e distancia.

Fig. 4.10 Cabo de par trançado

4.3.2 Cabo Coaxial


O cabo coaxial é constituído de dois condutores dispostos
axialmente (na forma de eixo), separados entre si e envoltos por
material isolante, Fig. 4.11. O condutor interno, mais rígido, é feito
de cobre e pode ser torcido ou sólido. O condutor externo é uma
malha metálica que, além de atuar como a segunda metade do circuito

101
elétrico, também protege o condutor interno contra interferências
externas (campos eletromagnéticos estranhos).

Fig. 4.11 Cabo Coaxial

Os cabos coaxiais são divididos em duas famílias: Banda Base e


Banda Larga, No cabo coaxial de banda base, o sinal é injetado dire-
tamente no cabo. Este tipo de cabo permite a transmissão de dados à
velocidade de 10 mbps.
Os cabos coaxiais banda larga suportam uma banda passante de
até 400Mhz. Devido a esta grande tolerância, esse cabo é muito utili-
zado para a transmissão do sinal de vídeo em tv a cabo.

4.3.3 Fibra Óptica


As fibras ópticas são na realidade condutores de vidro (sílica) que
permitem canalizar a luz, dando origem a um outro tipo de sistema de
comunicação, denominado comunicações ópticas, Fig.4.12.

Fig .4.12 Fibra Óptica

102
As vantagens da transmissão por fibra óptica relativamente aos
cabos metálicos são várias, tais como:
- Grande largura de banda na ordem de terahertz. É possí-
vel taxas de transmissão de até 16 tbps (terabits por segundo,
ou 16 trilhões de bits por segundo), operando à freqüências
de até 800 terahertz.
- Atenuação baixa e constante através de uma grande faixa
de freqüências, permitindo o aumento da distância entre re-
generadores de sinal, com a sua consequente diminuição ou
eliminação.
- Pequeno diâmetro e baixo peso, propiciando economia
de espaço (nesse aspecto a fibra óptica facilita o processo de
instalação). Um cabo de um centímetro de diâmetro pode
comportar 144 fibras, possibilitando até oito mil conversa-
ções simultâneas em ambos os sentidos de transmissão.
- Imunidade a interferências electromagnéticas e de rádio-
frequências, não necessitando de blindagem eléctrica.

4.3.4 Transmissão via Rádio – Direcional


Os sistemas de transmissão via rádio direcional trabalham na fai-
xa de freqüência que se extende de 1 GHz até 40 Ghz e podem ser
classificados como de microondas terrestre e microondas via satélite,
Fig. 4.13.
Os sistemas de microondas terrestre atuam de 2 GHz até 40Ghz e
apresentam antenas parabólicas, (aquelas em forma de prato ou bacia)
que devem estar em linha de visada. Para uma maior eficiência na
transmissão as antenas de microondas estão geralmente localizadas
em locais altos, como por exemplo, o alto dos edifícios.
Em microondas via satélite, o satélite é uma estação retransmisso-
ra que recebe em uma freqüência, amplifica o sinal e retransmite em
outra freqüência.

103
A faixa ótima de freqüências de operação é entre
1 GHz e 10 GHz. As principais aplicações são televisão, comunica-
ções telefônicas de longa distancia e redes comerciais privadas.

Fig. 4.13 Sistemas de Comunicação via rádio- direcional.

4.3.5 Transmissão via Rádio – Omnidirecional


O sistema omnidirecional, também conhecido como radiodifusão
terrestre, tem como característica a transmissão do sinal em todas as
direções e ao mesmo tempo. A radiodifusão terrestre ocupa a faixa de
freqüências compreendida entre 30MHz e 1 GHz. As principais apli-
cações são Radio AM, FM e Televisão VHF/UHF. As aplicações de
rádio FM e televisão necessitam de linha de visada, Fig. 4.14.

104
Fig. 4.14 Sistemas de Radiodifusão de Imagem e Som com linha de
visada.

4.4 Banda Passante do Meio de Transmissão

Para que um sinal seja recebido fielmente pelo receptor é neces-


sário que toda a sua faixa de freqüência seja integralmente transmitida
pelo meio de transmissão. Se este meio alterar diferentemente as com-
ponentes de freqüências, será recebido um sinal distorcido. Então o
meio de transmissão transmite bem uma certa faixa de freqüência que
pode ser maior ou menor dependendo do meio. Esta faixa tomou o
nome de banda passante do meio de transmissão.
A banda passante do canal pode ser estimada com o auxílio de
um sinal composto de todas as freqüências. Considere que as freqüên-
cias contribuem igualitariamente. Ao se transmitir o sinal através do
canal verifica-se que dentro de um certo intervalo de freqüências, as
amplitudes sofrem pouca atenuação, enquanto a partir de certo valor
de freqüência, as amplitudes começam a decresser continuamente. O
ponto de contribuição máxima é denominado freqüência central. O
ponto onde a contribuição cai pela metade comparada com o ponto

105
de contribuição máxima é conhecido como frequencia de corte. A
banda passante do canal é caracterizada pelas suas freqüências de cor-
te. Se o canal deixa passar apenas as baixas freqüências ele tem apenas
uma freqüência de corte. Se o canal deixa passar freqüências inter-
mediarias, ele possue duas freqüências de corte, uma inferior e outra
superior em relação à freqüência central. Nesse caso a banda passante
é a diferença entre as freqüências de corte superior e inferior, Fig. 4.14.
A conclusão é que um sinal para ser transmitido sem distorção
deve ter uma banda passante menor do que a banda passante do meio
de transmissão.

Fig.4.14 Banda Passante do Canal

106
Referências
[1] Fundamentos de Comunicação – Editado por Humberto Ab-
dalla, Ed FT, UnB, 2009
[2] Sistemas de comunicação, ,B. P. Lathi - Guanabara Dois, Rio
de Janeiro, 1983
[3] Sinais e Sistemas, Simon Haykin, Barry Van Vêem, 1.ed,
Bookman, Porto Alegre, 2001

107
5
TÉCNICAS DE TRANSMISSÃO E
PARÂMETROS DE QUALIDADE DE UM
SISTEMA DE COMUNICAÇÃO

O problema fundamental em comunicações é a transmissão de


informação de um ponto a outro. Esse tipo de problema é encontrado
em radiodifusão, televisão, telefonia, comunicações via satélite etc. A
informação é levada de um ponto a outro por sinais que se propagam
através de um meio, conhecido como canal. Esse canal pode ser o
espaço livre (atmosfera) ou cabos (par trançado, cabo coaxial, fibra
óptica etc.). Cada canal tem uma capacidade de carga que limita a
quantidade ou velocidade do fluxo de informação através do sistema.
Devido a essa limitação, os canais são conhecidos como canais de
comunicação de banda limitada. Há duas formas de transmitir sinais
sobre canais de comunicação de banda limitada: em banda básica e
na banda do canal. Na primeira forma, o sinal é transmitido na sua
banda de freqüência original; e na segunda, é necessário recorrer a
um procedimento conhecido como modulação que desloca a banda
básica do sinal para a banda do canal,permitindo assim a transmissão
da informação em uma banda diferente da original, Fig.5.1. É impor-
tante lembrar que, tanto na transmissão em banda básica como na
transmissão com modulação banda do canal deve ser compatível com
a banda do sinal.

109
Fig.5.1 Duas formas de transmitir sinais sobre canais de
comunicação de banda limitada.

5.1 Transmissão de sinais digitais em banda básica

Quando um sistema de comunicações não utiliza modulação, diz-


se que trabalha em banda básica. Nesse caso, a banda de trabalho do
canal coincide com a banda do sinal. A transmissão de sinais analó-
gicos em banda base está, normalmente, limitada a sistemas de trans-
missão a distâncias muito curtas, uma vez que esta solução é muito
sensível aos efeitos do ruído e interferência. Um exemplo da utilização
dessa solução é o da transmissão de voz entre os telefones e as centrais
da rede telefônica convencional. Um outro fator importante a ser leva-
do em consideração quando se transmite sinais analógicos em banda
básica é a composição espectral do sinal. Isso se deve ao fato de uma
alta freqüência apresentar maior atenuação na transmissão sobre par
de fios (característica do meio físico), assim, a distância alcançada pela
transmissão é menor.

110
A transmissão em banda base é frequentemente utilizada para a
transmissão digital de dados. Da mesma maneira que o sinal analógi-
co, a medida que o sinal viaja ao longo do meio ele sofre redução na
sua amplitude e torna-se distorcido. Outro problema grave é o efeito
do ruído no canal. Em comunicações digitais, esses dois fatores conju-
gados, provocam erros de interpretação pelo receptor (trocas de zeros
por uns, e vice-versa).
Então quando se transmite em banda básica geralmente o sinal é
submetido a um processo que modifica suas características tornando-
o mais apropriado ao meio de transmissão Este processo conhecido
como Codificação. A codificação transforma um certo conjunto de
dados que representa a mensagem original, noutro conjunto de dados
que representa , a mensagem codificada. A Codificação é realizada
com vista à obtenção de:
•  Compressão - representação efciente da informação, o que
aumenta a capacidade de transmissão do sistema.
•  Segurança – possibilita proteção e privacidade da informação
•  Robustez – habilita a deteção e correção de erros diminuindo os
problemas de transmissão
A Fig. 5.2 ilustra a utilização do codificador em uma transmissão
digital em Banda Básica.

Fig. 5.2. Transmissão em banda básica.

111
5.2 Transmissão com modulação

Quando se utiliza modulação no processo de transmissão, gera-se


um novo sinal que ocupa uma banda de freqüência diferente, deno-
minada banda do canal. A transmissão em redes de TV por cabo e as
emissões de rádio através do espaço livre são exemplos de transmis-
sões na banda do canal. A modulação consiste em fazer variar uma ou
mais características (amplitude, freqüência ou fase) de uma portadora
(normalmente um sinal senoidal de freqüência mais elevada) de acor-
do com um sinal que se pretende transmitir (sinal modulador).
Os sinais de banda básica produzidos pelas fontes de informação
não são apropriados para transmissão direta pelos canais normalmen-
te utilizados na comunicação de longa distância. Muitas vezes, esses
sinais precisam ser convertidos em sinais com características que per-
mitam a transmissão eficaz pelo canal disponível. Esse processo de
conversão é denominado modulação e está ilustrado na Fig.5.3.

Fig. 5.3. Ilustração do processo de modulação e da conseqüente


translação espectral do sinal

112
O sinal de banda básica — denominado, nesse contexto, sinal mo-
dulante ou sinal modulador — é usado para modificar um ou mais
parâmetros de um sinal senoidal de alta freqüência, denominado onda
portadora ou, simplesmente, portadora. O sinal resultante é denomi-
nado sinal modulado e tem um espectro que está localizado nas vizi-
nhanças da freqüência da portadora — que está denotada por fc. A mo-
dulação é realizada no transmissor. No extremo receptor do sistema
de comunicação, normalmente é requerido que o sinal de banda bási-
ca original seja restaurado a partir do sinal modulado recebido. Isso é
conseguido por meio de um processo denominado demodulação, que
é o oposto do processo de modulação. Na Fig.5.4 mostra uma onda
senoidal portadora sem e com modulação. Facilmente perceber-se a
influencia da modulação sobre a um dos parâmetros da onda porta-
dora (amplitude).

Fig.5.4 Visualização da onda portadora sem e com modulação

113
As principais razões pelas quais se utiliza a modulação são apre-
sentadas a seguir.
Radiação eficiente: Para se conseguir radiação eficiente de on-
das eletromagnéticas, as dimensões das antenas radiantes crescem
com o inverso da freqüência. Assim, para radiar sinais de banda bá-
sica seriam necessárias antenas de dimensões impraticáveis (dezenas
e até centenas de quilômetros). Se o sinal de banda básica modula
uma portadora senoidal de alta freqüência, o sinal modulado resultan-
te ocupará uma faixa de freqüências tão altas quanto a freqüência da
portadora e, conseqüentemente, o tamanho das antenas será reduzido.
Transmissão simultânea de vários sinais: A modulação per-
mite a transmissão simultânea de vários sinais de banda básica por
um único canal, que tenha uma banda passante maior que a soma de
todas as larguras de banda dos sinais de banda básica que se deseja
transmitir.
Transmissão mais robusta: Algumas das técnicas de modulação
são menos sensíveis aos efeitos do ruído, de interferências e de ou-
tras deteriorações causadas pelo canal. Contudo, essa maior robustez
é conseguida geralmente à custa de uma maior largura de faixa de
transmissão.
Como nós sabemos a informação pode estar na forma analógica
ou digital, porém a portadora em sistemas de telecomunicações é for-
çosamente analógica senoidal de alta freqüência já que somente nesta
forma ela pode ser irradiada como de onda eletromagnética
Quando a informação a ser transmitida é analógica, como, por
exemplo, voz e vídeo, as técnicas básicas de modulação recebem as
seguintes denominações:
•  modulação de amplitude (em inglês, amplitude modulation –
AM), na qual a amplitude da portadora é variada proporcional-
mente ao sinal modulante m(t);
•  modulação de freqüência (em inglês, frequency modulation –
FM), na qual a freqüência da portadora é variada proporcional-
mente ao sinal modulante m(t);
114
•  modulação de fase (em inglês, phase modulation – PM), na qual
a fase da portadora é variada proporcionalmente ao sinal modu-
lante m(t).
Quando a informação a ser transmitida é formada por dados digi-
tais, os esquemas básicos de modulação continuam sendo a de ampli-
tude, a de freqüência e a de fase. Contudo, outros nomes são utilizados
para designar esses esquemas básicos; são eles:
•  modulação por chaveamento de amplitude (em inglês, amplitu-
de shift keying – ASK), na qual a informação digital é represen-
tada (ou codificada) na amplitude da portadora senoidal, que é
alterada de acordo com os dados a serem transmitidos;
•  modulação por chaveamento de freqüência (em inglês, fre-
quency shift keying – FSK), na qual a informação digital é co-
dificada na freqüência da portadora senoidal, que é alterada de
acordo com os dados a serem transmitidos;
•  modulação por chaveamento de fase (em inglês, phase shift
keying – PSK), na qual a informação digital é codificada na fase
da portadora senoidal, que é alterada de acordo com os dados a
serem transmitidos.
A Fig.5.5 apresenta os principais tipos de modulação existentes
em Telecomunicações, enquanto a Tabela 1 traduz o significado de
cada uma das siglas utilizadas.

Fig.5.5 Principais tipos de modulação existentes em


Telecomunicações

115
Tabela 5.1 Significado das Siglas de Modulação

Parâmetro
alterado na Modulação Analógica Modulação Digital
Portadora

Amplitude AM (Amplitude Modulation) ASK (Amplitude-Shift Keying


Modulação em Amplitude Modulação por Desvio de Amplitude)

Freqüência FM (Frequency Modulation) FSK (Frequency-Shift Keying


Modulação em Freqüência Modulação por Desvio de Freqüência)

Fase PM (Phase Modulation) PSK (Phase-Shift Keying)


Modulação em Fase Modulação por Desvio de Fase

5.2.1 Modulações analógicas

As técnicas de modulação analógica são geralmente divididas em


duas classes: modulação de amplitude e modulação angular. Essas téc-
nicas de modulação são descritas a seguir.

5.2.1.1 Modulação de amplitude


Existem quatro técnicas de modulação de amplitude: AM
(DSB+C), DSB-SC, SSB e VSB, conforme listados na Tabela 5.2
Tabela 5.2. Tipos de Modulação AM.

Modulação AM Nomenclatura

DSB-C Double Side Band with Carrier


Duas Bandas Laterais com Portadora

DSB-SC Double Side Band with Supressed Carrier


Duas Bandas Laterais com Supressão da Portadora

SSB Single Side Band


Banda Lateral Ünica

VSB Vestigial Side Band


Banda Lateral Vestigial

116
AM comercial / DSB+C
Historicamente, o primeiro tipo de modulação desenvolvida foi a
modulação de amplitude convencional, a familiar AM da radiodifusão
comercial. Ela é definida como um processo no qual a amplitude da
onda portadora é variada linearmente com o sinal de banda básica
m(t). Este processo é conhecido como DSB+C, que significa que ele
transmite duas bandas laterais mais a portadora. A Fig. 5.6 ilustra o
processo de modulação DSB+ C.

Fig. 5.6 Modulação AM –DSB+C

Embora esse tipo de modulação seja dispendioso em termos de


potênca e utilize o dobro da banda passante necessária, ele é larga-
mente utilizado em função da facilidade de recuperar a sinal modu-
lante com circuitos de baixo custo conhecidos como detetores de en-
voltória.

117
DSB-SC
Na modulação AM-DSB+C a transmissão da portadora serve úni-
ca e exclusivamente para que o processo de demodulação seja facili-
tado. A. Potência da portadora não está relacionada a qualidade da
mensagem recebida. Par evitar esse disperdício de Potencia surgiu a
modulação DSB-SC (Double Sideband with Supressed Carrier; Ban-
da Lateral Dupla e Portadora Suprimida), onde a informação sobre a
portadora não é transmitida, Fig. 5.7.

Fig. 5.7 Modulação DSB-SC

O ponto negativo do DSB-SC: reside na demodulação. Para a


demodulação ocorrer corretamente, é necessário que exista um sin-
cronismo entre a portadora utilizada na modulação e a utilizada na de-
modulação, caso contrário o sinal não será corretamente demodulado.

118
AM /SSB
A necessidade de se encontrar um sistema que ocupasse a menor
faixa possível do espectro e com um melhor aproveitamento possível
da potência de transmissão contribuíram para a criação do sistema
AM/SSB (Amplitude Modulated Single Side Band). O sistema nasceu
do AM/DSB-SC que transmite duas faixas laterais que “levam” a mes-
ma informação. Portanto, se eliminarmos uma das faixas, ainda assim
a informação seria transmitida pela outra. Este sistema destina-se a
comunicações ponto-a-ponto e não à radiodifusão.
A partir do sistema AM/DSB-SC, podemos, então, retirar a ban-
da lateral inferior, gerando o AM/SSB-USB (Upper Side Band), ou
retiramos a banda lateral superior, gerando o AM/SSB-LSB (Lower
Side Band), Fig. 5.8 Para eliminar uma das faixas laterais, usa-se um
filtro conforme ilustrado na Fig. 5.9.

Fig. 5.8 Sistema de Modulação SSB

119
Fig. 5.9 Diagrama de Geração da Modulação SSB

AM /VSB
Alguns sinais típicos, tais como os de vídeo e radiodifusão de TV,
além de ocuparem uma extensa faixa de freqüência apresentam com-
ponentes significativas de baixas freqüências. A utilização da modu-
lação AM-SSB em sinais com essas características exige filtros com
respostas extremamente abruptas e de grande precisão, o que eleva
muito o custo de fabricação. A utilização da modulação AM- DSB
mostra-se também inviável devido a utilização de grande quantidade
de espectro. Uma solução para se transmitir sinais ricos em baixas
freqüências com bandas passantes elevadas é a.modulação com banda
lateral vestigial, que é um compromisso entre as modulações DSB-SC
e SSB.
Nessa técnica, uma das bandas laterais é preservada quase intacta
enquanto que da outra banda lateral é deixado apenas um resíduo, ou
vestígio, Fig.5.10. O vestígio transmitido da banda lateral indesejada
permite a construção de filtros com respostas de freqüências menos
rígidas. A modulação VSB é utilizada na transmissão da porção de
vídeo do sistema público de televisão. O diagrama de blocos de um
transmissor VSB é mostrado na Fig. 5.11.

120
Fig. 5.10 Modulação VSB

Fig. 5.11 Diagrama de Blocos do Transmissor VSB

A escolha do tipo de modulação a ser utilizada é função do servi-


ço a ser oferecido. Um dos principais fatores que distingue os tipos de
modulação AM é a largura espectral. A Tabela 5.2 mostra o espectro e
a largura espectral dos sinais modulados gerados por cada uma delas.

121
Tabela 5.3. Espectro e largura espectral de sinais modulados em
amplitude

Modulação Espectro Largura espectral

M(f )

Sinal modulante de Bm
banda básica

0 Bm f →
M(f )
Portadora
AM
(amplitude Banda Banda
modulation) lateral lateral 2 Bm
modulação de 0 Bm f →
inferior superior
amplitude
 Bm f →
f c − Bm fc f c  Bm f → c

DSB-SC Banda Banda


(double sideband – lateral lateral
suppressed carrier) inferior superior 2 Bm
banda lateral dupla –
portadora suprimida f c − Bm fc f c  Bm f →
c m c
f c  Bm f →
Banda
SSB lateral
(single sideband) superior Bm
banda lateral única
f c − Bm fc f c  Bm f →
c m c c  Bm f →
Resíduo Banda
da banda lateral
VSB
lateral superior
(vestigial sideband) Bm  ∆ v
inferior
banda lateral vestigial
f c −∆ v f c f c  Bm f →
c v c c  Bm f →

5.2.1.2 Modulação Angular (FM e PM)


Os principais fatores de degradação de um sinal modulado são
aqueles que alteram sua amplitude de forma indesejável tais como: o
ruído térmico e a distorção não-linear. Como a modulação em ampli-
tude está diretamente relacionada com a amplitude do sinal modula-
do, tanto o ruído térmico como a distorção não-linear são fatores que
influenciam negativamente na qualidade do sinal demodulado.

122
Por volta de 1920, a fim de contornar os problemas causados pela
degradação da amplitude do sinal modulado, resolveu-se estudar a
modulação da frequência (FM - frequency modulation) de uma onda
cossenoidal com variação proporcional ao sinal modulador, mantendo
a amplitude da onda constante. O processo FM tornou-se popular so-
mente quando Carson propôs uma fórmula empírica para o cálculo da
largura de faixa ocupada, a qual é maior que aquela do processo AM.
Verificou-se ainda, como era de se esperar, que o sinal demodulado
apresentava-se muito mais imune às influências do ruído térmico e da
distorção não-linear em comparação ao sinal proveniente da demodu-
lação em amplitude. Assim sendo, o processo FM tornou-se o tipo de
modulação preferido em comunicações que requerem alta qualidade do
sinal demodulado. (www.eletrica.ufpr.br/.../apostila/cap3/pg05.html)
Como a modulação em fase e a modulação em freqüência são mui-
to similares e representam o mesmo tipo de modulação, modulação
angular, focaremos apenas a modulação FM por ser de grande popula-
ridade, sendo atualmente utilizada em radiodifusão sonora na faixa de
VHF (rádio FM) e no sistema de áudio da TV em Aberto.
A Fig. 5.12 ilustra como a freqüência processo de modulação FM.
Na Fig.5.13 é possível visualizar como a freqüência da portadora varia
com a informação enquanto a amplitude permanece constante.

Fig.5.12 Modulação FM

123
Fig. 5.13 Variação da freqüência da portadora com a informação

5.2.2 Modulações Digitais


As modulações digitais são técnicas usadas para codificar dados
digitais em uma portadora cossenoidal. Conforme mencionado, as
técnicas básicas de modulação digital são a ASK (amplitude shifting
keying), a FSK (frequency shifting keying) e a PSK (phase shifting
keying), que correspondem às modulações de amplitude, de freqüên-
cia e de fase, respectivamente.

ASK - Modulação por Chaveamento de Amplitude


Esta é a forma mais simples de modulação digital, também conhe-
cida como on-off, e consiste em representar os símbolos zeros e uns de
um sinal digital pela ausência ou presença do sinal da portadora . Na
Fig.5.14 apresenta-se o esquema de modulação ASK.

124
Fig. 5.14 Modulação ASK

FSK - Modulação por Chaveamento de Freqüência


Na modulação FSK os símbolos zeros e uns são associados a
diferentes valores de freqüência, ou seja, para transmitir o símbolo
um, a portadora assume a freqüência f1, e para transmitir o símbolo
zero, a portadora assume a freqüência f2. Um exemplo é mostrado na
Fig.5.15, onde f1 é maior do que f2. A amplitude permanece constante.

Fig. 5.15 Modulação FSK

125
PSK - Modulação por Chaveamento de Fase
Na modulação PSK os símbolos zeros e uns são associados a mu-
danças na fase da portadora, e a freqüência permanece constante. A
Fig.5.16 ilustra uma modulação PSK onde uma inversão de 1800 ocor-
re a cada mudança de símbolo. A amplitude e freqüência permane-
cem constantes.

Fig. 5.16 Modulação PSK

5.2.3 Comparação entre as modulações Digitais


A Fig.5.17 mostra os três tipos de modulação digital e onde o sinal
digital(modulante) atua na portadora resultando no sinal modulado.

126
Fig.5.17 Sinais resultantes das modulações ASK, FSK e PSK

5.3.Multiplexação

O princípio da multiplexação consiste na transmissão simultânea


de informação de várias fontes independentes a mais de um destino,
através do mesmo canal de transmissão, Fig.5.18. Existem, basicamen-
te, quatro técnicas de multiplexação, listadas a seguir.
•  Multiplexação por divisão em freqüência (FDM), na qual os
sinais são modulados e distribuídos ao longo do espectro de fre-
qüências disponível.
•  Multiplexação por divisão no tempo (TDM), que aloca janelas
de tempo para os sinais previamente amostrados.
•  Multiplexação por divisão em códigos (CDM), em que os si-
nais são separados por técnicas de codificação, mas misturados
em tempo e freqüência.

127
•  Multiplexação por divisão em comprimentos de onda (WDM),
usada em transmissão por fibras ópticas em que a cada sinal é
atribuído um comprimento de onda óptico.
A multiplexação FDM, por lidar essencialmente com sinais ana-
lógicos e portadoras senoidais, ficou também conhecida como multi-
plexação analógica. A TDM, por sua vez, é associada à multiplexação
digital.

Fig. 5.18. Conceito de multiplexação.

5.3.1 Multiplexação FDM


A multiplexação FDM parte do princípio que o meio de trans-
missão possui uma banda passante muito maior que a necessária
para transmitir o sinal desejado. Com o objetivo de otimizar a banda
passante do meio, vários sinais são agrupados e transmitidos simulta-
neamente, Fig.5.19. A soma das bandas passantes dos sinais a serem
transmitidos não pode ser superior à banda passante do meio de trans-
missão.
Na técnica FDM, a banda do canal é dividida em intervalos de
freqüências, denominados janelas em freqüência. Os diferentes sinais
de informação devem ser colocados nessas janelas de freqüência, cada
um deles ocupando uma janela distinta daquelas ocupadas pelos ou-
tros sinais. É possível fazer uma analogia dessa técnica com uma ave-
nida tendo várias faixas. As faixas são as janelas de freqüências. Para
que todas as faixas estejam ocupadas, os carros devem trafegar lado a
lado, Fig.5.20.

128
Fig. 5.19. Conceito de multiplexação FDM.

Fig. 5.20. Princípio de multiplexação FDM.

O transmissor FDM é composto por um combinador que super-


põe a saída de vários moduladores AM independentes. Esses modu-
ladores transladam o espectro do seu respectivo sinal modulador de
forma a encaixar-se no seu próprio canal e sem que haja interferência
nos canais adjacentes. O receptor FDM pode ser formado por um

129
bloco demultiplexador, que contém um filtro para cada canal, e vários
demoduladores AM que restabelecem o sinal modulador do respecti-
vo canal, Fig.5.21.
As características do FDM são mostradas na Fig.5.22. Observa-se
que os sinais estão presentes todo o tempo, mas podem assumir freqüên-
cias somente na janela de freqüências correspondente. A fim de evitar
interferências entre canais adjacentes, as janelas são separadas por ban-
das de guarda. O conjunto completo das janelas em freqüência corres-
pondentes aos diversos canais e respectivas bandas de guarda é deno-
minado banda básica e caracteriza a estrutura do sinal composto FDM.

Fig. 5.21. Transmissão e recepção na técnica FDM.

Fig. 5.22. Estrutura de multiplexação por divisão de freqüência.

130
5.3.2 Multiplexação TDM
Como outras técnicas digitais, a multiplexação TDM é baseada
na teoria da amostragem. Para um sinal ser recuperado integralmente,
as amostras devem estar espaçadas de um determinado tempo. Quan-
do esse sinal é transmitido, o canal fica ocupado apenas em instan-
tes específicos correspondentes a amostras enviadas. O princípio da
multiplexação TDM é compartilhar o intervalo de tempo entre duas
amostras de determinado sinal com outros sinais, respeitando a teoria
da amostragem. A Fig.5.23 mostra uma analogia com uma avenida
onde as amostras do sinal são representadas por pequenas viaturas de
mesma cor espaçadas por determinado intervalo de tempo. É possível
ocupar a avenida com outras viaturas (amostras) pertencentes a outros
sinais e espaçadas da mesma quantidade de tempo entre si.
Portanto, no TDM, os sinais de entrada são amostrados um após
o outro e somente uma amostra de cada sinal ocupa o canal dentro de
determinado intervalo de tempo. Denomina-se janela o intervalo de
tempo no qual o meio fica disponível para o sinal. O conjunto de ja-
nelas entre duas amostras consecutivas de um mesmo sinal é definido
como quadro. Cada sinal multiplexado pode ocupar toda a faixa de
freqüências do meio de transmissão, mas as amostras do sinal original
só podem estar presentes nos tempos das janelas correspondentes ao
canal. Vale ressaltar que, após o processo de amostragem, o sinal é
quantizado e digitalizado antes de ser transmitido. A Fig.5.24 ilustra
um processo de multiplexação de seis canais de voz, em que cada
amostra é codificada em 8 bits. Como no FDM, as janelas de tempo
são separadas por um tempo de guarda.

131
Fig. 5.23. Princípio da multiplexação por divisão no tempo.

Fig. 5.24. Estrutura de multiplexação TDM para canais de voz.

132
5.3.3 Multiplexação CDM
Na multiplexação CDM, diferentemente das multiplexações
FDM e TDM, cada sinal a ser transmitido ocupa simultaneamente
toda a banda passante do canal de transmissão durante todo o tem-
po. O princípio utilizado é expandir significativamente as larguras de
banda dos sinais de informação e, em seguida, utilizando o processo
clássico de modulação, transmiti-los simultaneamente em uma mesma
freqüência, Fig.5.25.
A expansão da largura de banda de cada sinal é efetuada por um
código exclusivo traduzido na forma de um trem de pulsos. Utilizan-
do o mesmo código é possível reconstruir o sinal original. Então os
canais são identificados por um código exclusivo, não pela freqüência
em que transmitem, pois todos transmitem na mesma freqüência e ao
mesmo tempo. Se existissem emissoras de rádio e de TV transmitindo
com técnica CDM, os rádios e televisores não teriam mais dial nem
seletores de canais. Para selecionar uma emissora, bastaria teclar o
código dela. A Fig.5.26 ilustra o princípio de transmissão e recepção
de um sistema CDMA.

Fig. 5.25. Multiplexação por divisão de código.

133
Fig. 5.26. Sistema de transmissão e recepção CDMA.

5.3.4 Multiplexação WDM


O princípio das comunicações ópticas é converter um sinal elétri-
co (já multiplexado ou não) em um sinal óptico que é caracterizado
em termos de seu comprimento de onda, da mesma maneira que um
sinal de rádio é caracterizado por sua freqüência. A multiplexação

134
WDM (Multiplexação Domínio do Comprimento de Onda) permite
que vários comprimentos de onda distintos sejam transmitidos simul-
taneamente na mesma fibra, Fig.5.27.

Fig. 5.27. Multiplexação por divisão do comprimento de onda.

Uma evolução do sistema WDM é o sistema DWDM (Dense Wa-


velength Division Multiplexing), que consiste em transportar em uma
única fibra dezenas de comprimentos de onda, multiplicando, assim,
a capacidade das fibras. O sistema DWDM tem sido usado principal-
mente em redes de longa distância (terrestre e submarina) para ex-
pandir a capacidade de enlaces, permitindo que um maior número
de sinais (transportados por diferentes comprimentos de onda) sejam
transmitidos simultaneamente numa única fibra. A Fig.5.28 ilustra o
princípio de funcionamento de um sistema DWDM.

Fig. 5.28. Sistema DWDM.

135
5.4 Qualidade da Transmissão

Num sistema de comunicação, a informação recebida deve ser


idealmente, uma cópia fiel da informação transmitida. Contudo, no
processo de transmissão, o sinal é contaminado por algumas pertur-
bações provenientes dos equipamentos e meios de transmissão Essas
perturbações, podem ser classificadas como:
Atenuação - redução da potência do sinal
Distorção - alteração da forma do sinal provocada pelo siste-
ma de comunicação;
Interferência - contaminação do sinal por sinais externos
Ruído - sinais aleatórios que não transportam informações e
que tendem a obscurecer o sinal que contém a informação.

É importante diferenciar ruído e interferência. Considere o sinal


como a informaçao util e sem erros que recebemos ou enviamos. A
interferência é o sinal recebido com informação útil para outros, mas
para nós é incomodo e indesejável. Já o ruido, não tem informação,
é um sinal incomodo e indesejável para todos .Para melhor enterder
imagine uma conversa entre 2 pessoas num restaurante com muitas
pessoas a almoçarem.O sinal é a conversa das duas pessoas.Interferên-
cia é a conversa das outras pessoas. Ruido é o som causado pelo bater
dos pratos, talheres e copos.
Como a presença de ruído é inevitável, um fator de qualidade
do sistema de telecomunicações é a relação Sinal/Ruído. Em siste-
mas digitais a relação sinal ruído é utilizada juntamente com a banda
passante do canal para saber a capacidade de transmissão de bits por
segundos do canal.
O parâmetro que mede a qualidade de transmissão digital é a taxa
de erro de por bit (BER-Bit Error Rate)

136
5.4.1 O Decibel como Unidade de Medida
Em telecomunicações, trabalha-se com números extremamente
grandes ou pequenos. O uso de logaritmos torna estes números pe-
quenos e fáceis de manipular, e transforma produtos em somas e di-
visões em subtrações. Neste sentido, em 1923, adotou-se a unidade de
transmissão denominada de Bell, em homenagem ao inventor do tele-
fone que permite representar relações entre duas grandezas de mesmo
tipo, como relações de potências, tensões, correntes ou qualquer outra
relação adimensional. Portanto, permite definir ganhos e atenuações,
relação sinal/ruído, dinâmica, etc.
O bel (símbolo B) é uma escala relativa, sem dimensão (como a
percentagem), que compara a intensidade de um sinal a uma referên-
cia. não é uma unidade como o “metro”, o “segundo”, pois um valor
em dB deve sempre ser medido tendo um valor arbitrário como refe-
rência, isto é, um número dividido por outro. Como o bel é uma medi-
da muito grande para uso diário, o decibel (dB), que corresponde a um
décimo de bel (B), acabou se tornando a medida de uso mais comum.

5.4.2 Atenuação
Atenuação é o decréscimo da amplitude do sinal, ou seja, é a
perda que o sinal sofre durante a transmissão num dado meio físico,
Fig.5.29. Geralmente a atenuação é definida por (dB/km).
P  (5.1)
A  10 log  1  dB km
 P2 

137
Fig.5.29 Atenuação em um Sistema de Comunicação

É importante saber de quanto o sinal é atenuado em um enlace,


porque:o sinal deve chegar ao receptor com
•  potência suficiente para que os circuitos de recepção possam
detectá-lo e interpretá-lo.
•  um nível suficientemente mais intenso do que o ruído, para per-
mitir a recepção sem erros.

5.4.3 Distorção
A distorção consiste numa alteração da forma do sinal durante a
sua propagação desde o emissor até ao receptor. É uma deformação
introduzida no sinal, pelo próprio sistema de comunicação, A distor-
ção desaparece quando o sinal da fonte desaparece enquanto, o ruído
e a interferência não. Os principais mecanismos de distorção são:
•  Limitação de faixa -o sistema possui uma banda passante (BWsiste-
ma), e o sinal (informação) necessita uma determinada faixa (BWsi-
nal). Se BWsistema for menor do que BWsinal o sinal será distorcido;
•  Modificação de componentes- os fenômenos de envelhecimento,
umidade, sobrecarga, oxidação, etc, são capazes de mudar o valor
original dos componentes e acarretar grandes mudanças no sinal.

138
5.4.4 Interferência e Diafonia
A Interferência Eletromagnética é o processo por qual a energia
eletromagnética perturbadora é transmitida de um dispositivo, equi-
pamento ou sistema para um outro, via caminhos Irradiados e/ou
Conduzidos. A interferência significa a alteração de alguma das carac-
terísticas do sinal transmitido devido a um sinal exterior ao sistema de
transmissão. A interferência pode ser representada como a adição de
um sinal exterior ao sinal transmitido.
Os dois tipos mais freqüentes de interferência são: interferência
de radiofreqüência (RF), e interferência elétrica. A interferência de RF
é causada por transmissores de rádio e TV, equipamentos de comu-
nicação, sistemas de televisão a cabo e outros tipos de equipamentos
que geram energia de radiofreqüência como parte de sua operação. A
interferência elétrica é causada por geração de RF, através de cente-
lhamento elétrico ou descarga. Qualquer cabo ligado à fonte da cente-
lha conduz RF e atua como uma antena de transmissão.

Interferência de Rádio (RF)


A Interferência de Rádio (RF) é efinida como um sinal não de-
sejado que é captado pelo receptor e que o impede receber os sinais
desejados claramente Qualquer aparelho que gera RF, na sua função
normal, pode criar interferência de rádio também O sinal que está
interferindo não tem que estar na mesma freqüência. Os sinais que
estão perto da freqüência do receptor podem também interferir com
o receptor

Interferência Elétrica
A interferência elétrica não beneficia ninguém e quase nunca
é intencional. Com poucas exceções, os equipamentos que causam
problemas de interferência elétrica não foram concebidos para serem
fonte de energia de RF. Freqüentemente, a interferência resulta de um
defeito, uma falha ou um problema de manutenção.

139
A interferência elétrica é causada por computadores e equipa-
mentos digitais, equipamentos elétricos pesados, sistemas de ilumi-
nação, dispositivos elétricos defeituosos, etc. são fontes de interferên-
cia elétrica. Em muitos casos, como máquinas elétricas e sistemas de
iluminação, a interferência é resultado de fagulhas, arcos voltaicos e
descargas elétricas. A Fig.5.30 ilustra a interferência elétrica causada
por um motor

Fig. 5.30. Interferência eletromagnética causada por motores


elétricos.

Geralmente, os fabricantes são obrigados a projetar e fabricar seus


produtos de forma a não causarem interferência danosa. Em muitos
casos, essa é uma exigência legal, pois o governo impõe regulamen-
tações que definem limites estritos para a geração não-intencional de
interferência de RF.
Pode ser surpreendente, mas todas as formas de interferência elé-
trica são relativamente raras e contribuem apenas para uma pequena
parcela dos problemas de interferência em sistemas de telecomunica-
ções. Em grande parte, isso se deve ao fato de a redução da interferên-
cia danosa ter se tornado uma prioridade tanto do governo como da
indústria nos últimos anos.

Diafonia
A diafonia (cross-talk) é um fenômeno que ocorre quando dois ou
mais sinais que deveriam estar separados se interferem mutuamente.
Isso pode ocorrer entre sinais multiplexados em freqüências que pos-
suem uma banda de guarda insuficiente, ou quando dois ou mais si-
nais são carregados em fios muito próximos dentro de um cabo. Neste

140
segundo caso, cada fio atua como radiador e receptor, como se fosse
uma antena, de modo que a energia de um sinal é transferida para o
outro e vice-versa. Este fenômeno é conhecido em telefonia como li-
nha cruzada. Conforme ilustrado na Fig.3.31, a diafonia pode ser clas-
sificada nos dois tipos a seguir.
• NEXT (near-end crosstalk): causada pelo acoplamento eletro-
magnético na situação em que interferente e interferido estão transmi-
tindo em direções diferentes.
• FEXT (far-end crosstalk): causada pelo acoplamento eletromag-
nético na situação em que interferente e interferido estão transmitindo
na mesma direção.

Fig. 5.31. Classificação de diafonia.

141
5.4.4 Ruído
O ruído é um sinal aleatório e imprevisível que não transporta
informação, e que está presente em todos os sistemas. As perturbações
provocadas pelo ruído sobre o sinal limitam a habilidade de identifi-
car corretamente o sinal enviado, limitando, assim, a transmissão da
informação. Os efeitos do ruído são percebidos tanto nas transmissões
analógicas com digitais. Nos sistemas de transmissão analógica, a qua-
lidade do sinal recebido é avaliada por meio da relação entre a potên-
cia do sinal e a potência do ruído – relação sinal-ruído (SNR – signal
to noise ratio). Nos sistemas de transmissão digital, o desempenho é
avaliado por meio da probabilidade de ocorrerem erros, freqüente-
mente erros de bit, ou probabilidade de erro de bit (BER – bit error
rate). Os dois tipos de ruído que analisaremos são: Ruído Branco e
Ruído Impulsivo.

Ruído Branco
O ruído branco, também denominado ruído térmico é provocado
pela agitação térmica dos elétrons no condutor. Ele não pode ser eli-
minado, e está presente em todos os componentes eletrônicos e meios
de transmissão, sendo função da temperatura. Este ruído recebeu o
nome de ruído branco por estar distribuído uniformemente em todo
o espectro de freqüências, à semelhança da luz branca, que contém
todas as freqüências (cores). Na prática, é o chiado de fundo que pode
ser ouvido em qualquer sistema de comunicação. É mais danoso à co-
municação de voz que à comunicação de dados. A forma de onda e o
espectro de freqüência de um ruído branco são mostrados na Fig.5.32.
O ruído branco se incorpora ao sinal a ser transmitido de forma aditi-
va, conforme ilustra a Fig.5.33.

142
(a) (b)
Fig. 5.32. Ruído branco, (a) domínio do tempo, (b) domínio da
freqüência.

Fig. 5.33. Distorção do sinal causada pelo ruído branco.

Ruído Impulsivo
O ruído impulsivo é um ruído não-contínuo, consistindo de pul-
sos irregulares, relativamente curtos, com amplitudes que suplantam
as do sinal de informação. A sua principal característica é que não é
previsível, variando consideravelmente em amplitude, freqüência e
periodicidade de ocorrência. Dessa forma, dificilmente pode-se tratar
o ruído impulsivo.
O ruído impulsivo possui fontes naturais e artificiais. Entre as fon-
tes naturais, incluem-se as descargas atmosféricas, explosões solares,
raios etc. As fontes artificiais são provocadas pelo homem, em situa-
ções como operação de relés, ignição automotivas, impulsos de comu-
tação, discagens nas centrais telefônicas etc.

143
A Fig.5.34 mostra uma distribuição típica de um ruído impulsi-
vo. O ruído impulsivo em geral é pouco danoso em uma transmissão
analógica. Em transmissão de voz, por exemplo, pequenos intervalos
onde o sinal é corrompido não chegam a prejudicar a inteligibilidade
da comunicação. No entanto, em comunicações digitais, o ruído im-
pulsivo é uma fonte importante de erros. Por exemplo, um pico de
energia de 0,01 segundo de duração poderá não perturbar um canal
de voz, porém eliminará a informação de aproximadamente 50 bits
de uma transmissão que esteja sendo efetuada a 4.800 bps. A Fig.5.35
ilustra o efeito do ruído impulsivo sobre uma transmissão digital.

Fig. 3.34. Ruído impulsivo.

Fig. 5.35. Efeito do ruído impulsivo: em uma transmissão digital.

144
5.4.6 Relação Sinal-Ruído
Um sinal que está em presença de ruído deve ter amplitude bem
maior que a desse ruído para ser bem distinguido. O quanto um sinal
deve ser maior que o ruído para ser bem recebido pelo destinatário é
metrizada pela razão sinal-ruído, SNR, que é a razão de potência do
sinal e a potência contida no ruído presente em um ponto particular
da transmissão. Normalmente, essa razão é medida no receptor e, por
conveniência, é expressa em dB como
 potência do sinal 
SNR dB  10 log   (5.2)
 potência do ruído 

Essa relação fornece, em dB, o quanto o sinal excede o ruído.


Uma relação S/N alta significa um sinal de ótima qualidade. As Fig.
5.36 e 5.37 fornecem um gráfico sinal /ruído no tempo e na freqüência

Fig.5.36 Relação Sinal/Ruído no tempo

145
Fig.5.37 Relação Sinal/Ruído na freqüência.

5.4.7 Taxa de erro de bit e capacidade do canal


Em sistemas digitais, a qualidade do serviço é avaliada em função
da quantidade de erros provocada pelo meio de transmissão e pelos
equipamentos. Basicamente, a análise da qualidade de transmissão é
feita por meio da taxa de erro de bit, denominada BER. A BER é a
relação entre o número de bits errados e o número total de bits trans-
mitidos durante determinado intervalo de tempo.
número de bits errados
BER  (5.3)
número de bits transmitid os

A relação sinal-ruído também é importante em transmissão digital


porque permite calcular a capacidade de transmissão do canal em bits
por segundos usando-se a expressão
C  W log 2 ( 1  SNR ) (5.4)
em que C é a capacidade do canal, em bits por segundos, e W é a
banda passante do canal, em hertz. Essa formula é conhecida como lei
de Shannon e fornece a eficiência teórica. Por exemplo, considere um

146
canal de voz sendo utilizado para transmitir dados digitais. Assumindo
que a banda-passante é aproximadamente 3.100 Hz e que a (SNR)
típica é 30 dB, ou a razão 1.000/1, tem-se,
C  3.100 log 2 ( 1  1.000 )  30.894 bps (5.5)

A medida de eficiência de uma transmissão digital é a razão C/W,


dada em bps por hertz. Essa razão informa quantos bits é possível
colocar em 1 Hz .

147
Referencias
[1] Fundamentos de Comunicação – Editado por Humberto Abdalla,
Ed FT, UnB, 2009
[2] Sistemas de comunicação, ,B. P. Lathi - Guanabara Dois, Rio de
Janeiro, 1983
[3] Sinais e Sistemas, Simon Haykin, Barry Van Vêem, 1.ed, Book-
man, Porto Alegre, 2001
[4] Ovídio Barradas, “Você e as Telecomunicações”, Editora Interciên-
cia Ltda, 1995 Rio de Janeiro, Brasil
[5] William Stallings, “Data and Computer Communications”, fifth
edition, Prentice Hall, 1997, New Jersey, U.S.A.
[6] Mischa Schartz, “Transmissão, Modulação e Ruído”, segunda edi-
ção, Editora Guanabara, Dois, 1979, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
[7] Juarez do Nascimento, “Telecomunicações”, Makron Books do
Brasil Editora, 1992, São Paulo, SP,
[8] Leon W. Couch II, “Modern Communication Systems, Principles
and Application
[9] Tópicos avançados sobre sistemas sem fio
http://www.audio-technica.com/cms/. Acessado em 9/12/2009
[10] EMI – Interferência Eletromagnética, César Cassiolato,Gerente
de Produtos - Smar Equipamentos Industriais Ltda,

148
6
ANTENAS E PROPAGAÇÃO

Um aspecto interessante dos diferentes tipos de comunicação diz


respeito ao meio de transmissão da informação. Algumas vezes, o
meio é um fio condutor, enquanto que em outras, o meio é o espaço.
Nos telefones comuns, a comunicação entre os aparelhos ocorre atra-
vés de fios que formam grandes circuitos elétricos independentes da
rede de distribuição de energia. Tais circuitos podem utilizar os postes
como apoio, mas não estão ligados aos circuitos elétricos residenciais
e, por esse motivo, quando ocorre interrupção no fornecimento de
energia elétrica, os telefones continuam funcionando.
Os telefones celulares, por outro lado, têm sua própria fonte de
energia elétrica: uma bateria, que fica acoplada ao aparelho. Além dis-
so, tanto a fonte quanto o receptor da informação utilizam uma antena
para viabilizar a comunicação.
De forma semelhante ao rádio, a televisão também necessita de uma
fonte de energia para fazer funcionar seus componentes internos. Mas
as mensagens, incluindo-se o som e as imagens, são recebidas por meio
de uma antena conectada ao aparelho, que pode ser interna, externa ou
coletiva. De forma contrária, as denominadas TVs a cabo recebem as
mensagens através de fios especialmente instalados para esse fim.
O que se verifica é que os sistemas de comunicação podem ser
agrupados em duas grandes categorias: os guiados e os não guiados.
Os sistemas não guiados se utilizam de radiação eletromagnética atra-
vés do espaço e as antenas se constituem em elementos fundamentais,
funcionando como a interface entre os dispositivos do sistema que
guiam a onda e o meio no qual ela se propaga. Para o melhor entendi-
mento dos sistemas de comunicação não guiados, serão discutidos os
conceitos básicos de ondas, propagação e antenas.

149
6.1 Características da Onda Eletromagnética

Na natureza, observamos as ondas se manifestando de diferentes


modos, mas todas elas têm algo em comum: transportam energia sem
transportar matéria.
Para melhor compreender a idéia de transportar energia sem
transportar matéria, vamos enfileirar pedras de um dominó de for-
ma vertical e uniformemente espaçadas umas das outras, Fig. 6.1. Ao
empurrarmos a primeira pedra da seqüência, há um efeito em cadeia
onde cada uma empurra a seguinte, derrubando toda a serie. O mo-
vimento, ou onda, passa por todas as pedras enquanto as pedras con-
tinuam praticamente no mesmo lugar. Podemos dizer que a energia
aplicada à primeira pedra se desloca por todas as pedras enfileiradas
até a ultima pedra de dominó da seqüência. Portanto, não são as pe-
dras que se deslocam, mas sim a energia.

Fig. 6.1. Efeito dominó: a perturbação propagou-se pelo dominó.

As ondas podem ser classificadas como ondas mecânicas e eletro-


magnéticas. Ondas mecânicas são aquelas que precisam de um meio
material para poder se propagar.. Exemplos de ondas mecânicas são:
uma onda na água, a vibração de uma corda, as ondas sonoras, Fig.
6.2.

150
Fig. 6.2. Ondas mecânicas

As ondas eletromagnéticas não precisam de meio material para se


deslocar de um lugar para o outro. A onda eletromagnética é constitu-
ída por duas entidades interdependentes entre si: o campo elétrico, E,
e o campo magnético, H. Não é possível observar diretamente o cam-
po elétrico e o campo magnético, a não ser através de uma represen-
tação artificial, como a indicada na Fig.6.3: Estes campos evoluem no
espaço como uma onda, daí a designação de “onda eletromagnética”

151
Fig.6.3 - A onda eletromagnética.


Como se pode ver na Fig.6.3, a onda eletromagnética apresenta
um padrão que se repete enquanto se propaga. O comprimento desse
padrão de repetição no espaço designa-se por comprimento de onda,
e é medido em metros (m). Ao trajeto percorrido para realizar um
comprimento de onda chamamos de CICLO. O numero de ciclos
completados no tempo de um segundo chamamos de freqüência e é
medida em Hertz (Hz) O comprimento de onda e a freqüência estão
interligados entre si, através da velocidade de propagação da luz, con-
forme ilustrado na Fig.6.4, [1]. È fácil verificar que quanto mais eleva-
da for a freqüência menor será o comprimento de onda.

cλ f
c : velocidade da luz , λ : compriment o de onda , f : frequência da onda (6.1)

152
Figura 6.4 – Relação entre comprimento de onda e freqüência.

6.2 Espectro Eletromagnético

A palavra espectro (do latim “spectrum”, que significa fantasma


ou aparição) foi usada por Isaac Newton, no século XVII, para des-
crever a faixa de cores que apareceu quando numa experiência a luz
do Sol atravessou um prisma de vidro em sua trajetória. Atualmente,
chama-se espectro eletromagnético à faixa de freqüências e respec-
tivos comprimentos de ondas que caracterizam os diversos tipos de
ondas eletromagnéticas, Fig.6.5.
Cada parte do espectro eletromagnético tem suas aplicações
específicas que vão desde as linhas de alta tensão operando em 60
Hz, até aos raios X e raios gama que têm freqüências muito altas,

153
e comprimentos de onda muito curtos. Entre estes extremos de fre-
qüências, encontram-se as ondas de rádio, as microondas, a radiação
infravermelha, a luz visível e a radiação ultravioleta.

Fig. 6.5– Espectro eletromagnético.

A parte de radiofreqüência(RF) do espectro eletromagnético


ocupa as freqüências entre os 3 kHz e os 300 GHz. As aplicações
principais da gama de radiofreqüência do espectro eletromagnético
centram-se na área das telecomunicações: são exemplos a difusão de
rádio e televisão, os sistemas de comunicações móveis, os sistemas de
comunicação das forças militares e de segurança, e as comunicações
por satélite. Por acordo internacional, a faixa de RF é dividida em
bandas, cada banda sendo designada por um nome. A Tabela 1 mos-
tra as várias faixas de freqüência com suas desibnações e aplicações
típicas.

154
Tabela 6.1. Designação das faixas de freqüência do espectro ele-
tromagnético.

Faixa de Freqüência Designação Aplicações Típicas

3 - 30 kHz Very Low Frequency navegação em longas distâncias,


(VLF) comunicações submarinas.

30 - 300 kHz Low Frequency navegação em longas distâncias, rádio farol


(LF) marítimo.

300 - 3.000 kHz Medium Frequency AM comercial, rádio marítimo, freqüências


(MF) de emergência

3 - 30 MHz High Frequency rádio amador, comunicações militares,


(HF) broadcasting internacional, comunicações
com aviões e navios em grandes distâncias

30 - 300 MHz Very High Frequency televisão VHF, rádio FM, comunicação
(VHF) aérea em AM, auxílio à navegação aérea

0,3 - 3 GHz Ultra High Frequency televisão UHF, radar, enlaces de


(UHF) microondas, auxílio à navegação

3 - 30 GHz Super High Frequency comunicações por satélite, enlaces de


(SHF) microondas e radar

30 - 300 GHz Extra High Frequency radar, satélite experimental


(EHF)

103 - 107 GHz infravermelho, luz comunicações ópticas


visível, ultravioleta

6.3 Propagação das ondas de rádio

O meio de transmissão das ondas eletromagnéticas em espaço li-


vre é constituído pelo conjunto atmosfera-superfície terrestre. Embora
a atmosfera terrestre possa ser dividida em varias camadas, a ionos-
fera situada entre 80 km e 300 km da superfície da terra é a camada
mais importante em termos de propagação, pois, devido a radiação
solar ela se comporta como uma camada condutora.. Dependendo da
freqüência de operação, a propagação pode ocorrer por transmissão
direta, reflexão, e refração, Fig.6.6. Devido aos caminhos percorridos
durante a propagação as sondas ão classificadas como:

155
•  Ondas Celestes ou Ionosféricas – são as ondas que penetram
na ionosfera e devido a refração retornam a terra.
•  Ondas Terrestres – as ondas se propagam entre a superfície da
terra e a ionosfera, podendo a transmissão ser direta, por reflexão
ou por refração. Para certas faixas de freqüência a onda acompa-
nha a curvatura da terra e é conhecida como onda de superfície
•  Ondas em espaço livre - as ondas atravessam a ionosfera e se
propagam em espaço livre.

Fig. 6.6 Caminhos de propagação das ondas de rádio.

6.3.1 Propagação abaixo de 30 MHz


As ondas de rádio na faixa de freqüências entre 30 kHz e 30 MHz
são caracterizadas por grandes comprimentos de onda, o que permite
que elas acompanhem a curvatura da terra (ondas de superfície) e
sejam refletidas pelas camadas ionizadas da atmosfera superior (ionos-
fera).

156
O modo dominante de propagação para freqüências inferiores a 2
MHz é o de ondas de superfície, Fig.6.7. A onda eletromagnética nesta
faixa de freqüência tende a seguir o contorno da terra. Um exemplo
de utilização das características de propagação das ondas de superfície
é o serviço de radiodifusão AM, onde a cobertura local segue o con-
torno da terra e o sinal se propaga além do horizonte visual. A onda
de superfície é atenuada com a distância devido à absorção de sua
energia pela terra.
A propagação via ondas refletidas na ionosfera é ilustrada na
Fig.6.8. Ela é o modo dominante na faixa de freqüências entre 2 MHz
e 30 MHz, portanto é o modo dominante de propagação das ondas
curtas. A cobertura de longas distâncias é conseguida pela reflexão da
onda na ionosfera e na superfície terrestre.

Fig. 6.7 Ondas de superfície.

Fig. 6.8 - Ondas ionosféricas ou celestes.

157
6.3.2 Propagação acima de 30 MHz
A propagação acima de 30 MHz pode ser dividida em três faixas:
VHF, UHF e Microondas. Nessas faixas de freqüências, o modo de
propagação dominante é em visada direta, o que significa que a antena
transmissora tem que enxergar a antena receptora. Em outras pala-
vras, as ondas não mais acompanham a curvatura da terra nem são
refletidas pela ionosfera.
•  Nas faixas de VHF e UHF, os serviços mais conhecidos estão
relacionados com radiodifusão sonora, FM e televisão. As emis-
sões de TV são feitas acima de 5x107 Hz (50 MHz).
As ondas de rádio FM de TV não são refletidas pela ionosfera, de
modo que para estas ondas serem captadas a distâncias superiores a 75
km é necessário o uso de estações repetidoras, Fig.6.9.
As freqüências de microondas são utilizadas nas transmissões por
satélite porque atravessam facilmente a atmosfera terrestre, com me-
nos interferência do que ondas de menor frequencia, Fig.6.10. O Ra-
dar usa radiação em microondas para detectar a distância, velocidade
e outras características de objetos distantes. Redes Locais sem-fio, tais
como Bluetooth, WIFI, WiMAX e. alguns serviços de acesso à Inter-
net, bem como, certas redes de telefonia celular móvel, também usam
microondas.

Fig. 6.9. Propagação da faixa de VHF e UHF

158
Fig. 6.10. Propagação em microondas.

6.4 Conceitos de Antenas

Uma antena é a parte de um sistema de transmissão ou recepção


projetada para radiar ou receber ondas eletromagnéticas. Tem o obje-
tivo de fazer a transição entre a propagação guiada (num guia de onda,
cabo coaxial, linha de transmissão) e a propagação em espaço livre.
Muitas antenas comportam-se da mesma maneira na transmissão e na
recepção, sendo, portanto, dispositivos recíprocos.

Fig.6.11 Princípio de funcionamento de uma antena

Uma antena está sempre relacionada com a freqüência em que


vai operar. Ou seja, seu rendimento depende da utilização na faixa de
freqüência para a qual a antena foi projetada. Por exemplo, quando
o comprimento da antena é múltiplo do comprimento de onda da
freqüência do sinal a ser transmitido ou captado, dizemos que ela é

159
ressonante. Neste caso, existe uma freqüência principal para a qual a
antena irradiará maior energia, se for transmissora ou receberá maior
energia, se for receptora. A Fig. 6.12 mostra uma antena básica, forma-
da por dois condutores, cada um com 1/4 do comprimento de onda da
freqüência a ser emitida ou recebida.

Fig.6.12 Antena com máxima eficiência de emissão ou captação de


energia

Para descrever o desempenho de uma antena, é necessária a de-


finição de vários parâmetros. Alguns deles são inter-relacionados e
nem todos necessitam ser especificados para a completa descrição do
desempenho. Os principais parâmetros que caracterizam uma antena
são: diagrama de radiação, diretividade, ganho, polarização, largura
de banda e impedância. A seguir são feitas descrições mais detalhadas
de alguns desses parâmetros.

6.4.1 Diagrama de Radiação


O diagrama de radiação nada mais é do que a representação grá-
fica da distribuição de energia irradiada pela antena. Geralmente é
mostrado em duas dimensões.

160
Para entender melhor o conceito de diagrama de radiação consi-
dere a Fig.6.13 que mostra uma lanterna iluminando uma região total-
mente escura. Assuma que um medidor sensível à luz, do tipo usado
em fotografia, é utilizado com uma escala graduada em unidades de 0
a 10. Coloca-se o medidor diretamente em frente à lanterna e ajusta-se
a sua distância para que a leitura seja igual a 10, exatamente o fundo
de escala. Então, sempre mantendo a mesma distância do medidor
para a lanterna, move-se o medidor de luz em torno da lanterna como
indicado pela seta e anota-se a leitura para as 16 posições diferentes.
A seguir, plota-se esses valores em um gráfico polar, como na Fig.6.14.
Os valores lidos no medidor são plotados para as posições angulares
nas quais as medidas foram feitas.

Fig. 6.13. Lanterna iluminando uma região totalmente escura.

161
Fig. 6.14. Diagrama de radiação da lanterna da Fig.4.7.

O diagrama de irradiação mostra como a antena está cum-


prindo seu papel de concentrar energia em certa direção ou coletar
energia na recepção. Por este diagrama fica claro qual o sentido prefe-
rencial tanto para transmissão quanto para recepção
A forma mais completa de se representar o diagrama de irra-
diação é em três dimensões, porém com este tipo de representação é
de difícil interpretação, ele é decomposto em dois planos: vertical e
horizontal, Fig. 6.15. Os diagramas de irradiação nos planos vertical e
horizontal podem ser iguais ou totalmente diferentes, dependendo do
diagrama em três dimensões. Ou seja, necessariamente temos que ter
os dois planos representados.

162
Fig.6.15 Plano de representação do diagrama de radiação de uma
antena

Diagrama Isotrópico
A radiação de uma antena nunca tem, na prática, a mesma inten-
sidade em todas as direções. A intensidade pode ser zero em alguma
direção da antena e, em outras, ela pode ser maior do que a esperada
de uma antena que radiasse igualmente em todas as direções. Uma
Antena isotrópica é aquela que irradia igualmente em todas as dire-
ções. Mas para que isso aconteça, ela deve ser um ponto Os diagramas
de irradiação vertical e horizontal são em forma de circunferência,
pois o diagrama no espaço seria equivalente a uma esfera Essa antena
pode ser comparada a uma lâmpada que ilumina igualmente em todas
as direções.

Fig.6.16 Diagrama de radiação de uma antena isotrópica

A antena isotrópica existe somente na teoria (não existe antena

163
ideal), e sua finalidade é servir como padrão de referência na medição
de outras antenas

Diagrama omnidirecional
A antena omnidirecional irradia igualmente em todas as direções em
um plano sendo muito útil para cobrir, por exemplo, um salão de gran-
des dimensões, onde os usuários estariam distribuídos por toda a área.
Neste caso a antena omnidirecional seria colocada no centro do salão.

(a) espacial (b) vertical (c) horizontal

Fig. 6.17 Diagrama omnidirecional

Observa-se que esse diagrama é omnidirecional no plano hori-


zontal, mas é direcional no plano de elevação. Portanto, um diagrama
omnidirecional é um tipo especial de diagrama direcional.
Diagrama direcional
164
Uma antena direcional é aquela que tem a capacidade de radiar
e receber ondas eletromagnéticas mais eficientemente em algumas di-
reções do que em outras. Na Fig.6.18, mostra-se um exemplo de uma
antena com diagrama de radiação direcional

Fig. 6.18. Diagrama de radiação de uma antena direcional.

165
6.4.2 Diretividade e Ganho
Estes dois parâmetros característicos das antenas são muito im-
portantes para o projeto da melhor antena para um determinado sis-
tema. Uma antena de grande diretividade concentra em um ângulo
pequeno toda a sua potência radiada. Por exemplo, a antena omnidi-
recional tem diretividade igual à unidade, pois irradia igualmente em
todas as direções.
A diretividade e o ganho têm definições que se baseiam em aspec-
tos diferentes, mas dão uma informação semelhante sobre a antena.
A diferença entre estes dois parâmetros é relacionada ao conceito de
rendimento e, portanto das perdas.

Diretividade
Todas as antenas, mesmo as mais simples, exibem efeitos dire-
tivos, ou seja, a intensidade de radiação não é a mesma em todas as
direções da antena. Esta propriedade de radiar mais intensamente
para uma direção do que para outras é denominada Diretividade da
antena. Mede-se a Diretividade comparando-se a intensidade da ra-
diação na direção de máximo em relação a intensidade de radiação
produzida por uma antena isotrópica. A Fig. 6.19 apresenta o conceito
de Diretividade comparando o diagrama da antena diretiva com o da
antena isotrópica. Note que, enquanto a potência radiada da antena
diretiva é maior em uma determinada direção, comparada à isotrópi-
ca, para outras direções o valor pode ser até menor que aquele irradia-
do pela antena isotrópica. Note o aparecimento do chamados lóbulos
secundários , que são representações de irradiações fora da direção de
máximo.

166
Fig.6.19. Conceito de Diretividade

Ganho
O ganho de uma antena está relacionado com a sua diretividade.
A diretividade é baseada somente no aspecto do diagrama diretivo,
portanto, não leva em consideração qualquer perda de potência que
possa ocorrer na antena real. Para determinar o ganho, as perdas de-
vem ser subtraídas da potência fornecida para a antena, Fig.6.20. A
perda é normalmente uma porcentagem constante da potência de en-
trada, tal que o ganho G da antena é

G  ηD (6.2)

em que η é a eficiência (potência irradiada dividida pela potência


de entrada da antena)

167
Fig.6.20 Eficiência de uma antena

6.4.3 Polarização
A polarização de uma antena é definida pela orientação do campo
elétrico da onda recebida ou transmitida em relação ao plano de terra,
na direção do máximo da radiação, Fig. 6.21. As polarizações mais
comuns são denominadas de Vertical e Horizontal, Fig.6.22.

Fig. 6.21. Comportamento espacial dos campos elétrico e


magnético, em uma onda polarizada linearmente na vertical.

168
Fig. 6.22. Polarização Horizontal e Vertical

6.4.4 Largura de banda


Em muitas aplicações, uma antena deve operar efetivamente so-
bre uma grande faixa de freqüências, em torno de uma freqüência
central, sem perder suas características. A faixa de freqüências, para a
qual as características da antena se mantêm com uma variação aceitá-
vel relativamente aos valores obtidos para a freqüência central é de-
nominada largura de banda da antena.. As antenas que operam nessas
condições são conhecidas como antenas de banda larga.

6.5 Tipos Básicos de Antenas

A eficiência de um sistema de telecomunicações é dependen-


te do desempenho das antenas de transmissão e recepção. Visando
melhorar o desempenho com relação à freqüência de operação foram
desnvolvidos diversos modelos de antenas. A banda de freqüência na

169
qual a antena vai trabalhar define o tipo de antena a ser utilizada, pois
o tamanho da antena depende do comprimento de onda da freqüên-
cia de operação. Por exemplo, em radiodifusão AM (540-1600 KHz),
o comprimento de onda é da ordem de 300 metros( calculado a 1000
KHz), donde se conclui que nenhuma antena será eletricamente gran-
de (tamanho de vários comprimentos de onda). Então as antenas para
Ondas Médias (antenas eletricamente curtas) não podem ser muito
diretivas. De maneira inversa quando se trabalha na faixa de micro-
ondas, por exemplo, em 10 GHz o comprimento de onda é de 3 cm,
donde construir uma antena eletricamente grande é muito mais fácil,
e por conseguinte as antenas são mais diretivas: De acordo com seu
desempenho com relação à freqüência de operação, as antenas podem
ser divididas em três tipos básicos: Antenas eletricamente curtas, An-
tenas ressonantes, e Antenas de abertura.

6.5.1 Antenas Eletricamente Curtas


Uma antena é eletricamente curta quando as suas dimensões são
da ordem (ou menores) do que um décimo do comprimento de onda
para a freqüência de operação. Essa é a antena do tipo mais elemen-
tar e tem uma estrutura muito simples, com propriedades que não
são sensíveis aos detalhes de construção. As principais características
de uma antena eletricamente curta são: baixa diretividade, e baixa
eficiência de radiação. O monopolo vertical, usado nos carros para
recepção de sinal AM, é um exemplo de uma antena eletricamente
curta. Esse monopolo tem comprimento de aproximadamente 0,003λ
e diagrama de radiação aproximadamente omnidirecional no plano
horizontal. Outro exemplo são as antenas de transmissão de rádios
AM, que por razões econômicas e técnicas usa sua própria torre como
elemento irradiante; Fig.6.23.

170
Fig. 6.23. Antenas transmissoras de rádio AM.

6.5.2 Antenas Ressonantes


As antenas que operam em uma única freqüência ou em uma
pequena faixa de freqüências são denominadas ressonantes. As suas
características principais são: ganho baixo ou moderado e largura de
banda estreita.
Na faixa de HF (3 MHz a 30 MHz), que envolve comprimentos
de onda variando entre 100 m e 10 m, é possível construir estruturas
com dimensões da ordem de grandeza do comprimento de onda de
operação. Dessa forma, em aplicações na faixa de HF, grande ênfase
é dada sobre os dipolos de meia onda que, por maior facilidade de
utilização, são operados em polarização horizontal, Fig.6.24.

171
Fig.6.24 Dipolo Horizontal utilizado em HF

Na faixa de VHF (30 MHz a 300 MHz), onde os comprimentos


de onda variam entre 10 m e 1 m. os dipolos de meia onda são muito
utilizados, seja atuando isoladamente, seja como elemento ativo das
antenas Yagi, ou nas antenas log-periódicas para recepção de sinais
de TV
A Fig. 6.25 mostra uma antena yagi, onde se identificam o dipolo
dobrado (elemento que está conectado na linha de transmissão) e os
demais elementos parasitas, chamados de refletor (atrás do dipolo) e
diretores (a frente do dipolo). As antenas Yagi são eminentemente an-
tenas de faixa estreita (operação monocanal) e dedicadas a aplicação
no modo de recepção. Uma antena yagi emite o sinal em um ângulo

172
similar ao de um cone, resultando em um padrão de transmissão simi-
lar ao do diagrama da Fig.6.28 (b).

(a)

(b)

(c)
Fig. 6.25 Antena Yagi

A antena log- periódica, é constituída de vários dipolos de tama-


nhos diferentes, dispostos em uma ordem “logarítmica”, donde seu
nome de batismo. Apresenta características úteis e interessantes, tais
como, a faixa de freqüência extremamente larga, podendo, de acordo
com seu desenho, cobrir toda a faixa de TV, desde o canal 2 até o
canal 13, com ganho aproximadamente uniforme. A dimensão do me-
nor elemento determina a freqüência mais alta coberta, e a do maior
elemento a mais baixa freqüência, Fig. 6.26.

173
Fig. 6.26 Antena Log-periódica

6.5.3 Antenas de Abertura


Quando as freqüências chegam à faixa de microondas(gigahertz)
o comportamento das antenas muda. Os sinais nessa faixa de freqüên-
cias tendem mais a se refletirem nos condutores do que serem condu-
zidos pelos mesmos.
As antenas de abertura mais comuns são as antenas cornetas.
Os sinais captados pela corneta são levados ao circuito por um pino
condutor, indicado em vermelho na Fig.6.27.

Fig.6.27 Antena de abertura tipo corneta

Desde que as dimensões da corneta têm relação com o compri-


mento de onda, elas são pequenas e o ganho não é dos maiores. Para
contornar isso, usa-se um refletor parabólico, conforme arranjo da
Fig 6.28. O conjunto permite formar antenas com ganhos elevados.

174
Isso é fundamental para a recepção de sinais de satélites, uma vez que
as limitações logísticas dos satélites impedem a transmissão com altas
potências.

Fig.6.28 Antena parabólica

A parábola tem a propriedade especial que todos os raios inciden-


tes paralelos ao eixo são refletidos para o mesmo ponto, chamado foco
da parábola. Portanto, uma corneta situada no foco recebe uma inten-
sidade significativa de sinal, tanto maior quanto maiores as dimensões
do refletor. A Fig.6.32 mostra duas antenas parabólicas de recepção
de TV via satélite, para TV por assinatura e aberta respectivamente.

(a) (b)
Fig.6.32 Antenas parabólicas (a) TV por assinatura, (b) TV aberta

175
Referencias
[1] ABC das Ondas Eletromagnéticas, Carla Oliveira, Carlos Fernan-
des, Gonçalo Carpinteiro, Luís Correia,Instituto de Telecomunicações
/ Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa
[2] Antenas e Acessórios, Omar Carvalho Branquinho, www.puc-
camp.br, acessado em 17/12/2009
[3] Curso de Antenas : Teoria e Aplicações, Aranha,H;Fleming,W.J.;
INPE, São Jose dos Campos, SP, Set/2004.
[4] Tipos de Antenas, http://wapedia.mobi/pt/Tipos_de_antenas,
acessado 20/12/2009

176
7
SERVIÇO TELEFÔNICO FIXO COMUTADO

Telefonia é a área do conhecimento que trata da transmissão de


voz e outros sons através de uma rede de telecomunicações. Ela sur-
giu da necessidade das pessoas que estão à distância se comunicarem.
O serviço de telefonia é prestado a população via Serviço Telefônico
Fixo Comutado (STFC): e Serviço Móvel Celular (SMC).
O Serviço telefônico fixo comutado (Comutação é o termo usado
para indicar a conexão entre assinantes) é o serviço de telecomunica-
ções que, por meio da transmissão de voz e de outros sinais, destina-se
à comunicação entre pontos fixos determinados, utilizando processos
de telefonia, [1].
A Rede Telefônica Pública Comutada (RTPC) é uma rede de
comunicação (analógica ou digital), com acessos analógicos pelo as-
sinante. Destina-se, basicamente, ao serviço de telefonia, oferecen-
do suporte à comunicação de dados na faixa de voz (entre 300Hz e
3400Hz). Trata-se de uma estrutura de comunicação complexa e de
grande capilaridade.
São modalidades do serviço telefônico fixo comutado destinado
ao uso do público em geral o serviço local, o serviço de longa distância
nacional e o serviço de longa distância internacional, nos seguintes
termos:
I - O serviço local destina-se à comunicação entre pontos
fixos determinados situados em uma mesma Área Local;
II - O serviço de longa distância nacional destina-se à comu-
nicação entre pontos fixos determinados situados em Áreas
Locais distintas no território nacional; e

177
III - O serviço de longa distância internacional destina-se à
comunicação entre um ponto fixo situado no território nacio-
nal e um outro ponto no exterior.

7.1 Critérios básicos da Telefonia

A telefonia deve fornecer com ótima fidelidade, um máximo de


informações, com um mínimo de custos. Os principais fatores que
influenciam a qualidade da transmissão são:
•  Faixa de freqüência.
•  Intensidade de recepção.
•  Relação Sinal/Ruído.
•  Distorção.

Assim, diversos estudos foram realizados para determinar qual a


faixa de freqüências mais apropriada, sob o ponto de vista econômico
e da qualidade da transmissão. Foram basicamente levados em conta
os seguintes fatores, resultantes das características da voz e do ouvido
humano: intelegibilidade e energia da voz.
A intelegibilidade é definida como o percentual de palavras per-
feitamente reconhecidas numa conversação. Verificou-se que na faixa
de 100 a 1500 HZ estava concentrada 90% de energia da voz humana,
enquanto que na faixa acima de 1500 Hz estava concentrada 70% de
intelegibilidade das palavras.
Baseado num compromisso entre dois valores foi escolhida a fai-
xa de voz entre 300 e 3400 Hz para comunicações telefônicas, o que
garante 85% intelegibilidade e 68% de energia da voz recebida pelo
ouvinte.

178
7.2 Rede Telefônica

Após tomarmos contato com os fatores que têm influência numa


ligação telefônica, podemos estabelecer uma comunicação entre duas
pessoas quaisquer, utilizando dois aparelhos telefônicos interligados
por um par de fios, em que a distância entre A e B é pequena (Fig. 7.1)

Fig. 7.1 – Ligação Telefônica elementar

Se o interlocutor A deseja se comunicar com os outros três, o


número de condutores necessários triplica. Porém, se todos os quatro
pontos desejam se comunicar entre si, seriam necessários 6 pares de
fios, Fig. 7.2.

Fig. 7.2 – Ligação ponto a ponto com entre quatro usuários

O número de linhas para conexão de assinantes quando temos


ligação ponto-a-ponto é dado por:
N( N − 1) (7.1)
NL  linhas
2
onde N é o número de assinantes (nós) de uma rede:

179
Fica claro que um sistema operando desta forma se tornaria invi-
ável. Imagina um assinante para poder falar diretamente com 9.999
outros usuários, teria ligados ao local 9.999 pares de fios, sendo que
entre todos os 10.000 assinantes teriam-se 49.995.0000 linhas telefôni-
cas (pares de fios).
A fim de solucionar este problema, todos os interlocutores, cha-
mados assinantes, estão ligados a um centro telefônico, onde é exe-
cutada a interligação entre os assinantes que se desejam comunicar,
operação esta chamada de comunicação telefônica (Fig. 7.3).

Fig. 7.3 – Ligação telefônica utilizando um centro telefônico.

É neste centro telefônico, designado de Central Telefônica, que


circuitos temporários entre assinantes são estabelecidos permitindo
assim o compartilhamento de meios e otimização dos recursos dispo-
níveis. Comutação é o termo usado para indicar a conexão entre assi-
nantes. Daí o termo Central de Comutação (Switch). A Fig. 7.4 mostra
um típico sistema telefônico.
A conexão entre os assinantes e as centrais telefônicas, é normal-
mente construída utilizando cabos de fios metálicos em que um par
é dedicado a cada assinante. Este par, juntamente com os recursos
da central dedicados ao assinante é conhecido como acesso ou linha
telefônica, É uma linha analogia, com largura de banda suficiente para
possibilitar um conversação telefônica, possuindo cerca de 4KHz e

180
possibilitando trabalhar com dados em velocidades de até 33Kbps. A
grande maioria dos sistemas telefônicos, pelo menos no ambiente resi-
dencial, emprega esta configuração. A rede de acesso é limitada para
comunicações de dados sendo necessário agregar novas tecnologias
para transmissão de maiores velocidades. È por esta razão que circui-
tos que exigem maiores velocidades são mais caros.
A central a que estão conectados os assinantes de uma rede telefô-
nica é chamada de Central Local. Para permitir que assinantes ligados
a uma Central Local falem com os assinantes ligados a outra Central
Local são estabelecidas conexões entre as duas centrais, conhecidas
circuitos troncos, ou entroncamentos.
A rede de transmissão é o backbone por onde as conexões tele-
fônicas passam. Esta rede é totalmente digital (utiliza cabos óticos)
e emprega alta tecnologia que possibilitam transportar milhares de
ligações instantâneas.

Fig. 7.4 Sistema Telefônico

181
7.3- A Central Telefônica

A Central Telefônica tem como função básica possibilitar e super-


visionar a ligação entre dois assinantes de forma racionalizada e me-
nos complexa. O aspecto essencial nestes equipamentos é o dispositivo
que permite a conexão (e desconexão) de linhas telefônicas solicitando
comunicação. A filosofia de funcionamento desse dispositivo é basea-
da na Matriz de Comutação, sugerindo a idéia que todos os circuitos
representam uma linha ou coluna desta matriz, A intersecção de uma
linha com uma coluna origina um elemento da matriz e cada aparelho
está conectado a uma dessas intersecções. A matriz em seu estado de
repouso esta com suas interseções no estado aberto, se um telefone vier
a se comunicar com outro, linha correspondente a este telefone será
ativada assim como a coluna associada ao aparelho chamado. O apa-
relho chamador (linha) sempre aciona a coluna do chamado, Fig.7.5.

Fig.7.5. Matriz de Comutação

Além da comutação, as centrais telefônicas têm como funções


principais, gerência, distribuição, concentração, interligação e tarifa-
ção das chamadas produzidas pelos assinantes.
As centrais telefônicas sofreram uma evolução tecnológica con-
siderável nos últimos anos, evoluindo das centrais totalmente eletro-
mecânicas da década de 1960, até o surgimento em 1980 das centrais

182
de comutação totalmente eletrônicas, na qual as funções lógicas de
comando, controle e conexão são executadas por dispositivos eletrô-
nicos. Essas centrais utilizam computadores e são conhecidas como
Centrais de Programa Armazenado (CPA’s), Fig. 7.6.

Fig.7.6 Central de Programa Armazenado (CPA)

O controle por programa armazenado utilizado nas centrais atuais


apresenta uma série de vantagens sobre os sistemas eletromecânicos
anteriormente utilizados:
Uma central de comutação com controle por programa armaze-
nado pode ser interpretada como um computador de aplicação especí-
fica e que tem uma interface de entrada e de saída bastante complexa
denominada de matriz de comutação.
A central de comutação com controle por programa armazenado
embora tenha a parte de controle totalmente digital pelo uso do com-
putador, é conhecida como analógica, CPA-A, pois os sinais tratados
na matriz de comutação são analógicos. Quando os sinais tratados na
matriz de comutação são digitais, a central de comutação é conhecida
como CPA-T, ou controle por programa armazenado temporal, e foi
desenvolvida na década de 1970.

183
As CPA-T são centrais de comutação totalmente digitais. Os enla-
ces que chegam ou saem da matriz de comutação são enlaces digitais,
em geral multiplexados pela técnica denominada multiplexação por
código de pulsos, MCP, ou PCM (Pulse Code Multiplexing), em inglês.
A evolução para central totalmente digital trouxe à central flexi-
bilidade, confiabilidade, diminuição de tamanho, economia no consu-
mo de potência e facilidade na incorporação de novos serviços.

7.4 Classificação das Centrais Telefônicas [2]

As centrais de comutação são classificadas de acordo com as fun-


ções exercidas. A Fig. 7.7 apresenta uma rede de comutação composta
com diferentes tipos de centrais

Fig. 7.7 Tipos de Centrais de Comutação

Central Local: é a central telefônica na qual se ligam linhas de


assinante. A central local tem um terminal para cada assinante em
um raio típico de até 6 km e possui juntores para ligação com outras
centrais, Fig. 7.8.

184
Fig. 7.8 - Representação de uma Central Local

Uma central local tem como principais características:


•  possui alcance limitado à distâncias locais;
•  tem capacidade de funcionamento com até 10.000 assinantes;
•  possui a função de interligar os assinantes entre si na mesma
central;
•  possui a função de possibilitar a interligação dos assinantes ao
resto do sistema telefônico;
•  cada central local terá um número que será denominado de pre-
fixo;
•  possui a função de gerar o número de assinante.

Centrais Tandem: Com o aumento de usuários começaram a


existir em uma mesma região várias centrais locais. Para estabelecer
a conexão entre elas, as centrais locais foram interligadas diretamen-
te de forma aleatória. Com o constante aumento do número de assi-
nantes, a prática de centrais locais diretamente interligadas tornou-se
ineficiente porque estava acarretando o aumento indiscriminado de
cabos de interligação, Fig. 7.9.

185
Figura 7.9 - Representação de ligações diretas entre Centrais Locais

Para contornar os problemas de interligação entre as centrais lo-


cais, foram criadas as centrais Tandem, ou seja, são centrais que têm
a função de interligar diversas centrais locais entre si, Fig. 7.10. As
interligações entre as centrais são conhecidas pelo nome de “Cabos
Tronco”.

Fig. 7.10 - Representação de ligações entre Centrais Locais via


Tandem

186
Nos grandes centros são utilizadas várias centrais Tandem ligadas
entre si por cabos troncos. Quando houver a necessidade imprescin-
dível de interligar duas ou mais centrais locais diretamente entre si,
como em bairros de uma cidade que tenham centrais locais com vo-
lume de tráfego entre elas muito intenso, poderá ser efetuada uma
conexão especial que será denominada de “Linha de Junção”, Fig.7.11.

Fig. 7.11 Representação de Centrais Tandem interligadas e Linhas de


Junção.

As interconexões entre centrais sejam elas por linhas de junção ou


por centrais Tandem são denominadas “Rotas”. As linhas de junção
que possuem interligação direta entre centrais específicas são chama-
das de “Rotas Diretas”, que são necessárias devido ao alto tráfego en-
tre elas, como é o caso entre a Central Local 1 e a Central Local 2. Por
sua vez, as rotas como, Central Local 1 TandemCentral Local 2 são
consideradas “Rotas Alternativas” , Fig. 7.12.

187
Fig. 7.12. Rotas diretas e alternativas

Centrais de Trânsito: As centrais que apresentadas até agora são


válidas somente para locais próximos. Agora imaginemos que preci-
samos ligar para um assinante de outra cidade, é obvio que não seria
viável ligarmos as centrais locais de uma cidade com as centrais locais
de outra cidade através de cabos troncos, pois o custo/benefício não
compensaria. Para solucionar este problema foi criada uma forma de
comutar assinantes de diversas centrais locais através de uma central
especial, chamada de Central Trânsito
As Centrais de Trânsito são destinadas à interligação de centrais
de áreas locais diferentes. Por elas circulam o tráfego interurbano, de-
limitado por uma área de atendimento regional, agregando uma certa
quantidade de centrais locais, Fig. 7.13.

188
Fig.7.13 Centrais de transito interligando três áreas locais diferentes.

As Centrais Trânsito são organizadas hierarquicamente conforme


sua área de abrangência sendo as Centrais Trânsito Internacionais as
de mais alta hierarquia. É possível desta forma conectar um assinante
com outro em qualquer parte do mundo. Os níveis hierárquicos entre
as centrais de transito chamados de classes, Fig. 7.14:

Centrais de Trânsito Internacional: visam interconectar os as-


sinantes em nível internacional. As conexões podem ser estabelecidas
por meio de cabos submarinos ou via satélite.
Central Trânsito classe I – Representa o nível mais elevado da
rede interurbana. Essa central tem pelo menos acesso a uma central
internacional;
Central Trânsito classe II – Central trânsito interurbana, subor-
dinada a uma central classe I;
Central Trânsito classe III – Central trânsito interurbana, su-
bordinada a uma central classe II;
Central Trânsito classe IV – Central trânsito interurbana, su-
bordinada a uma central classe III e interligada a centrais locais.

189
Fig. 7.14 Estrutura das Centrais de Trânsito

7.5 Rede Interurbana Nacional

A Fig. 7.15 mostra uma ligação típica da rede interurbana nacio-


nal. O trecho compreendido entre dois centros subseqüentes de co-
mutação é denominado “seção comutada”. O encaminhamento, em
condições normais, na Rede Nacional, é composto de no máximo sete
seções comutadas (oito centrais).

190
Fig. 7.15 Rede Interurbana nacional

7.6 Telefonia internacional

O problema de interligar países, de certa forma não é muito dife-


rente. Um país terá uma ou várias centrais de trânsito internacionais,
por onde se concentram os tráfegos. Estas centrais são interligadas
a algumas centrais de trânsito nacionais e, até a locais. Os meios de
transmissão são de alta capacidade e apropriados para longas distân-
cias, inclusive transoceânicas. Portanto, satélites e cabos submarinos
são os de emprego mais comum.
As estações de trânsito internacionais são também chamadas de
“portas internacionais”. Estas portas e os meios internacionais utiliza-
dos, geralmente permitem além da telefonia a transmissão de serviços
tais como: telex, TV, comunicação de dados, etc. Os sistemas interna-
cionais assim como os urbanos e interurbanos permitem o aluguel de
circuitos privados.
O sistema internacional de telecomunicações de um país, para
integrar no sistema mundial de telecomunicações, deve obedecer a
regras rígidas, quanto à comutação, tráfego, qualidade do sinal, etc.
Estas regras são fixadas por organismos internacionais, que ditam não
só as normas técnicas e operacionais, como também as tarifárias.
191
Fig.7.16 Hierarquia de uma rede de telefonia Internacional

Fig. 7.17 Estrutura de uma ligação internacional

192
7.7 Tráfego Telefônico

A qualidade de serviço nos sistemas de telecomunicações é de-


pendente da intensidade de tráfego. Os sistemas estão projetados para
receber certa quantidade de tráfego, e nenhum deles está preparado
para receber uma grande quantidade sem limite de chamadas simultâ-
neas. Eles trabalham com a probabilidade de que nem todos usuários
(ou uma grande parcela) utilizarão seus serviços simultaneamente.
O tráfego telefônico representa o grau de ocupação dos circuitos
telefônicos. As centrais telefônicas são planejadas de tal modo que as
ligações realizadas pelo assinante tenham grande probabilidade de su-
cesso, mesmo nos períodos de tráfego telefônico mais intenso, ou seja,
nas chamadas “hora de maior movimento” (HMM). Obviamente, por
ser uma função estatística, devemos conviver com um determinado
grau de insucessos.
A quantidade de troncos e equipamentos de comutação será di-
mensionada de tal forma que, durante as HMM, somente uma por-
centagem muito pequena de ligações solicitadas não possa ser estabe-
lecida, pelo menos não imediatamente, por falta de equipamentos de
comutação (ligações que se perdem ou que precisam esperar).
A solução teórica de tais tarefas de dimensionamento pertence ao
setor da “teoria de tráfego”, seguindo um método desenvolvido por A
K. Erlang, cujo nome é utilizado para representar uma das unidades
de tráfego telefônico (abreviado para Erl.).

7.7.1 Caracterização do Tráfego Telefônico


Considere a situação simplificada, representada na Fig. 7.18 em
que assinantes da central A, fazem chamadas para assinantes da cen-
tral B. Algumas chamadas podem não se completar, devido a conges-
tionamento na rede, pelas seguintes razões:

193
•  Congestionamento em uma das Centrais. As Centrais são di-
mensionadas para suportar um número máximo de tentativas de
chamadas em um determinado período de tempo. O parâmetro
normalmente utilizado número de tentativas de chamadas na
Hora de Maior Movimento (HMM).
•  Congestionamento nos troncos que ligam uma central a outra.
O tronco padrão no Brasil é um circuito de 2 Mbit/s (E1) com
capacidade de 30 canais telefônicos (conversações).

Com Centrais adequadamente dimensionadas, o congestiona-


mento em um sistema telefônico passa a depender basicamente do
número de troncos entre as centrais.

Fig.7.18 Possibilidades de congestionamento telefônico

O tráfego telefônico nos fornece uma idéia da infra-estrutura da


rede para atender uma certa demanda. A Fig. 7.19 exemplifica como
ocorre a ocupação dos troncos entres duas centrais em função das
chamadas.

194
Fig.7.19 Ocupação dos Canais em 1 hora de observação.

A Fig.7.19 inicialmente apresenta o registro de ocupação de cada


circuito (livre ou ocupado). Em seguida, o gráfico mostra o registro de
ocupações simultâneas dos mesmos seis circuitos. Dos gráficos apre-
sentados podemos tirar algumas conclusões tais como:
•  Enquanto na primeira parte temos uma visão da ocupação de
cada circuito, na segunda parte temos uma melhor idéia da carga
total durante o período observado.
•  Todos os circuitos estiveram ocupados no intervalo de tempo
t20 até t30. Qualquer chamada que surgisse nesse intervalo seria
recusada ou enviada a um sistema de fila.
Com base nos gráficos da Fig. 7.22 fica mais fácil a compreensão
de alguns conceitos de tráfego.

195
Tempo de ocupação - é o intervalo de tempo em que uma cha-
mada está cupando um circuito.
Volume de tráfego (V) - é a soma dos tempos de ocupação dos
circuitos de um sistema.
A intensidade de tráfego é definida como o somatório dos tempos
das chamadas telefônicas (ocupação dos canais telefônicos) em um
determinado período de tempo, normalmente de uma hora.

A intensidade de tráfego é geralmente medida pela unidade Er-


lang. Seu valor numérico indica o número médio de chamadas efetua-
das simultaneamente, isto é, o número médio de troncos ocupados em
um mesmo intervalo de tempo. Uma só linha ocupada continuamente
corresponde, portanto, a um tráfego com o valor de 1 Erlang.
Por exemplo, se uma central telefônica tem um tronco de saída
com 6 circuitos e possui intensidade de tráfego de 3 Erlangs, espera-se
que metade dos circuitos esteja ocupada no instante da medida.

7.7.2 Dimensionamento de Troncos


A quantidade de equipamentos estabelecida por um dimensiona-
mento técnica e economicamente viável implica que, eventualmente,
nos horários de pico de tráfego (HMM), existam algumas chamadas
perdidas. As chamadas que excedem o número máximo de comu-
tações possíveis da central são descartadas ou bloqueadas. O sueco
A. K. Erlang (1872-1929) baseado em estudos estatísticos elaborou
a “Teoria do Tráfego Telefônico”, complementada por vários outros
estudiosos. Essa teoria estabelece um conjunto de fórmulas, onde é
possível determinar, a partir da intensidade de tráfego e uma certa
probabilidade de perda conhecida como Grau de Bloqueio, o número
a quantidade de linhas (troncos).

196
A dificuldade em realizar os cálculos com estas fórmulas levou a
elaboração de tabelas onde, dado o Bloqueio e o número de canais, se
obtém o tráfego suportado. Estas tabelas, conhecidas como Tabelas de
Erlang, vêm sendo substituídas por programas em calculadoras. Com
fins apenas didáticos apresentamos, na Fig 7.20 uma Tabela de Erlang
resumida.

Fig 7.20 Tabela de Erlang resumida.

Na tabela o campo percentual representa a perda “B”, a coluna


“Troncos” o número de circuitos e os valores internos indicam a capa-
cidade de tráfego em cada situação.
A título de exemplo, suponha que os 15 mil assinantes da Central
Local 1 originem na Hora de Maior Movimento (HMM) 500 chama-
das para assinantes da Central Local 2. Considere que cada chamada
tem uma duração média de 3 minutos.
Qual o número de troncos necessários para garantir que as cha-
madas bloqueadas devido ao número insuficiente de troncos seja infe-
rior a 5% em um período de maior movimento? Então temos:
Intensidade de Tráfego =: 500 x 3 minutos/60 minutos = 25 Erlangs
Grau de Bloqueio = 5%
Consultando a Tabela de Erlang, verificamos que são necessárias
30 linhas para garantir um Grau de Bloqueio de 5%.

197
Vale à pena ressaltar que o Plano Geral de Metas de Qualidade
(PGMQ) aplicável as operadoras de telefonia fixa no Brasil, estabelece
que o número de chamadas não completadas por congestionamento
na rede seja menor que 5%.

7.8 Sinalização

Para uma rede de telecomunicações operar de forma a responder


aos objetivos desejados é necessária a transferência e troca de informa-
ções de controle entre equipamentos envolvidos. O objetivo da sinali-
zação telefônica é prover às centrais envolvidas em uma chamada, das
informações necessárias para o estabelecimento das mesmas. A sinali-
zação telefônica pode ocorrer entre terminal e central ( Sinalização de
Assinantes) e entre centrais. Os tipos de sinalização utilizados são
mostrados na Fig. 7.21:

Fig.7.21 Tipos de Sinalização

7.8.1 Sinalização do Assinante


Também conhecida como Sinalização Acústica, consiste em uma
série de sinais audíveis com freqüências e cadências preestabelecidas,
emitidas da central telefônica para o assinante, que indica se o assi-
nante pode enviar o número para quem quer ligar (sinal de linha), se o
número para o qual se quer ligar está ocupado (sinal de ocupado), se o
número para o qual se quer ligar está disponível e está à espera de ser
atendido (sinal de chamada) entre outros sinais, Fig.7.22.

198
Fig. 7.22 Sinalização de Assinante

7.8.2 Sinalização Intercentrais


A relação entre as funções de sinalização e controle nas centrais
de comutação tem sido o principal fator de desenvolvimento dos sis-
temas de sinalização. Nas centrais analógicas as funções de controle
estavam intimamente ligadas às funções de comutação. Neste caso,
os caminhos físicos de sinalização e de voz são os mesmos, sendo por
isso designado por sistemas de sinalização de canal associado ou CAS
(“Channel Associated Signalling”).
Numa fase seguinte, separaram-se as funções de comutação das
funções de controle, tornando-se possível usar computadores para re-
alizar as funções de controle, obtendo-se uma maior flexibilidade e
redução de custos. As centrais que usam computadores para realizar o
controle são chamadas de Centrais de Programa Armazenado (CPA).
O tipo de sistema de sinalização utilizado é a sinalização em ca-
nal comum ou CCS (“Common Channel Signalling”). Neste tipo de
sistema é usado um caminho comum para um determinado número
de circuitos de sinalização, o que leva a existirem caminhos diferentes
para a voz e sinalização. O sistema de sinalização em canal comum,
desenvolvido pelo ITU-T é chamado “ Common Channel Signalling
System Number 7”, vulgarmente conhecido por SS7 que é o sistema de
sinalização adotado pelas operadoras de serviços de telefonia pública.

199
Fig. 7.23 Diferenças entre Sinalização por Canal Associado e
Sinalização por Canal Comum

7.8.2.1 Sinalização de Canal Associado (CAS)


As informações de sinalização concorrem com o sinal de voz den-
tro do mesmo espaço físico. Mesmo a sinalização ocorrendo antes da
conversação ser iniciada, ela usa o circuito que depois será usado para
a conversação. Por isso a sinalização é associada a canal, pois voz e
sinalização fluem pelos mesmos caminhos. A sinalização CAS inclui
duas componentes: sinalização de linha e sinalização inter-registo.
Sinalização de Linha é a que estabelece a comunicação entre
centrais nas linhas de junções e que agem durante toda a conexão.
A sinalização de linha promove a troca de informações entre cir-
cuitos denominados de juntores localizados nas centrais, Fig.7.24. Os
juntores são utilizados para supervisionar as linhas de junção entre
duas centrais. Quando um usuário de aparelho telefônico A tira o fone
do gancho, a central A reserva um juntor de origem e troca informa-
ções com o juntor de destino para reservar uma linha. Os sinais de
linha se destinam à:

200
•  Iniciar os procedimentos de ocupação e liberação de um juntor;
•  Informar colocação e retirada do fone do gancho do assinante;

Fig. 7.24 Linha de Junção e Sinalização de Linha

Sinalização Inter-registro. Registro ou Registrador é uma deno-


minação genérica dada aos circuitos ou elementos de uma estação de
comutação, capazes de interpretar e enviar informações para outros
centros de comutação.
As sinalizações de registro são informações relacionadas às condi-
ções particulares aos assinantes originador e recebedor de chamadas
e, eventualmente, às condições dos circuitos e elementos de comuta-
ção envolvidos. Essas informações devem ser trocadas entre registra-
dores das centrais, de forma a estabelecer uma conexão

7.8.2.2 Sinalização por Canal Comum Número 7-.


O sistema de sinalização por canal comum número 7 é aquele
onde temos um canal específico para troca de sinalização, isto é, um
dos canais ao invés de trafegar informações digitalizadas da conver-
sação é utilizado somente para enviar informações de sinalização co-
mum a diversas chamadas, sendo por este motivo, este tipo de sinaliza-
ção, denominado também de sistema de sinalização por canal comum
número 7 ou, simplesmente, sistema de sinalização número 7 (SS7).
O sistema de sinalização número 7 foi desenvolvido especialmente
para funcionar em centrais digitais de comutação (central telefônica),

201
com o objetivo de extrair maiores vantagens desse tipo de tecnologia.
Pode-se dizer quer o Sistema de Sinalização Número 7 é essencial-
mente uma rede de pacotes. A informação de sinalização é carregada
em pacotes de dados entre as centrais telefônicas de maneira seme-
lhante àquela usada em redes de comutação de pacotes. Essa rede de
comutação de pacotes, a rede SS7, agrega-se à rede telefônica (Rede
de Telecomunicações) existente, adicionando novas funcionalidades e
serviços de comunicação.
O sistema de sinalização em canal comum é um sistema otimi-
zado para transferência de informação entre os processadores das
centrais de comutação digital. Comparado com os sistemas anteriores
apresenta as seguintes vantagens:
1. Permite um maior volume de sinalização;
2. Reduz os tempos necessários para estabelecer as ligações;
3. Permite uma melhor utilização dos troncos;
4. Reduz a possibilidade de fraudes;
5. Permite a introdução de serviços baseados em bases de dados. .
6. Modificações podem ser feitas por software.
7. Pode atender tipos diferentes de serviços.
O SS7 foi projetado usando conceitos de comutação de pacotes e
estruturado em diferentes níveis conforme o modelo OSI para ser usa-
do em ligações nacionais e internacionais. O SS7 define três entidades
funcionais (Fig.7.25):
• Ponto de Sinalização ou SP (“Signalling Point”) – Nó terminal da
rede onde os pacotes são criados ou recebidos;
• Ponto de Transferência de Sinalização ou STP (“Signalling Trans-
fer Point”) – São comutadores de pacotes responsáveis pelo encami-
nhamento das mensagens de sinalização entre os vários SP’s;
• Vias de Sinalização ou SL (“Signalling Link”) – São ligações de
dados capazes de suportar uma taxa de 64kbps.

202
Fig.7.25 Estrutura e elementos de rede SS7

7.9 Plano de Numeração

Plano de Numeração é o modo de organização dos números dos


serviços de telecomunicações de uso público, no que se refere ao seu
formato e estrutura. Consiste em grupos de algarismos os quais con-
têm elementos usados para identificação de serviços, áreas geográfi-
cas, redes e clientes.
Cada terminal do sistema telefônico, seja ele fixo ou celular, tem
associado um conjunto de números ou códigos de acesso que permi-
tem que ele seja identificado de forma unívoca em todo o mundo.
Para que isto seja possível a União Internacional de Telecomuni-
cações (ITU) estabeleceu recomendações para atribuição e adminis-
tração dos recursos de numeração e padronizou os códigos de cada
país (country code). Os recursos de numeração são administrados no
Brasil pela ANATEL.
No Brasil, a cada assinante do serviço telefônico foi atribuído um
código de acesso de assinante, ou número telefônico, formado de 8
dígitos que é discado quando a ligação é local. Para ligações nacionais
e internacionais a chamada pode conter até 15 dígitos conforme ilus-
trado na Fig. 7.26.

203
Fig. 7.26 Formato de numeração de uma chamada telefônica.

O encaminhamento de chamadas dentro de uma rede telefônica


flui do assinante para a sua central telefônica local e daí para outras
centrais até o assinante chamado, de acordo com o número digitado
pelo assinante A.
Numeração de assinantes: As centrais locais são identificadas
entre si por seu prefixo. O prefixo é um código numérico de três ou
quatro algarismos.
A numeração dos assinantes dentro de um determinado prefixo é
também um código numérico de quatro algarismos que representam
a MCDU (milhar, centena, dezena, e unidade) da identificação do
circuito do assinante. Assim, o número completo do assinante é dado
pelo conjunto formado pelo prefixo da central mais o MCDU de seu
Circuito, Fig.7.27.

Fig. 7.27 Número do Assinante

Prefixos: Prefixos são os primeiros números em uma ligação te-


lefônica. O Prefixo Nacional (PN) é o algarismo 0 (ZERO) que deve
ser digitado antes do Número Nacional ao se efetuar uma chamada
telefônica para outra Área de Numeração.

204
O Prefixo Internacional (PI) é a combinação 00 (ZERO-ZERO)
que deverá ser digitado antes de Número Internacional ao se efetuar
uma chamada telefônica para outro país. O Prefixo para Chamada
Automática a Cobrar (PAC) é a combinação de algarismos que deverá
ser digitado antes do Número Nacional, ao se efetuar uma chamada
automática a cobrar no destino. O PAC é constituído pelos algarismos
90 (NOVE-ZERO). O Prefixo para Chamada Automática Internacio-
nal a Cobrar (PIC) é constituído por 099 (ZERO-NOVE-NOVE ),
Fig.7.28.
Código Tipo Descrição
0 Prefixo Nacional Identifica chamada de longa
distancia Nacional
00 Prefixo Internacional Identifica chamada de longa
distancia internacional
90 Prefixo de chamada a cobrar Caracteriza uma chamada a
cobrar no destino
099 Prefixo de Chamada Internacional a Cobrar Caracteriza uma chamada
Internacional a cobrar no destino

Fig.7.28 Tabela de prefixos

Código de seleção de Prestadora (CSP):Identifica a prestadora


do STFC, nas modalidades Longa Distância Nacional e Longa Distân-
cia Internacional sendo composto por 2 caracteres numéricos. Estes
códigos são escolhidos pelos prestadores de serviço entre os números
disponíveis estando reservados os números em que o primeiro dígito é
zeroe em que os dois dígitos são iguais. Exemplos de CPS existentes:
14, 15, 21, 23, 27, 31, 36 e 41.
Código Nacional: O código nacional também conhecido como
código de área ou DDD identifica uma área geográfica específica do
território nacional. Ele é composto por 2 caracteres numéricos. Dos
dois algarismos que identificam a localidade o primeiro identifica o
estado ou a região do país a qual pertence a localidade, por exemplo,
São Paulo (estado) é “1”, Rio de Janeiro e Espírito Santo tem por iden-
tificação o “2”, Minas Gerais é “3” e assim por diante, Fig.7.29. Por
exemplo, São Paulo tem código 11, a região Campinas tem código
19, Ribeirão Preto é 16, a cidade do Rio de Janeiro é 21, Belo Hori-
zonte é 31, etc. Assim é perfeitamente aceitável que existam centrais

205
telefônicas de mesmo prefixo, porém em localidades diferentes. Este
código é denominado DDD por permitir a “discagem direta a distân-
cia”, ou seja, sem intervenção da telefonista.

Fig. 7.29 Códigos DDD- Discagem Direta a Distância

Para realizar uma chamada interurbana devemos discar o códi-


go numérico“0” que, identifica a chamada como interurbana (nível
nacional) além de escolher a operadora que deve encaminhar a cha-
mada. A Fig.7.30, ilustra a composição numérica de uma chamada
interurbana.

206
Fig.7.30 Composição numérica de uma chamada interurbana.

No exemplo “XX” representa o código da operadora que deve


encaminhar a chamada.
Código Internacional: Para permitir a busca de um assinante
na rede mundial, A UIT – União Internacional de Telecomunicações
- definiu o Plano de Numeração Internacional, atribuindo um código
para cada país (Brasil 55, EUA 1, Itália 39, Argentina 54, etc), assim
como algumas regras básicas que facilitam o uso do serviço para co-
meçar uma ligação internacional deve ser digitado 00. Logo após, de
1 a 3 dígitos são reservados para o código do país de destino (A), se-
guidos pelo código nacional de destino (B) e em seguida o número do
assinante (C). Segundo a norma o número Internacional deve conter
no máximo 15 dígitos. A Fig.7.31 ilustra a composição numérica de
uma chamada internacional.

Fig.7.31 Composição numérica de uma chamada internacional

207
7.10 Estrutura da Rede Telefônica

Uma rede telefônica é constituída por: Rede de Comutação, Rede


de Acesso e Rede de Transmissão, Fig. 7.32. A rede de comutação,
como foi visto, é a rede composta de centrais de comutação, que per-
mite o encaminhamento da chamada telefônica do terminal do assi-
nante origem até o destino. A rede de acesso é a rede responsável pela
ligação física dos telefones à rede de comutação. A rede de transmis-
são ou rede de transporte da informação é composta dos sistemas de
transmissão através dos quais são realizadas as interconexões entre as
centrais de comutação. Atualmente a maioria das redes de transporte
é composta por sistemas de fibra óptica ou sistemas via rádio.

Fig. 7.32 Estrutura da rede telefônica

208
7.10.1 Rede de Acesso, [4]
Em um sistema telefônico convencional é denominado Rede de
Acesso ou Rede de Assinantes o conjunto de cabos de assinantes e de-
mais dispositivos complementares (linhas de duto, ferragens, postes,
blocos terminais, etc) que atendem a uma determinada localidade ou
área.
A rede de acesso composta é composta de [8];
fio-dropp: é a fiação que vai da tomada onde está conectado o telefo-
ne até a caixa de distribuição (CD), que une um feixe de fios.
rede secundária: é o trecho entre a caixa de distribuição e o armário
de distribuição (AD), que por sua vez une vários feixes que partem
das CD.
rede primária: é o trecho entre o AD e o distribuidor geral (DG),
que une vários feixes de cabos vindos dos AD e distribui pela central.
Parte da rede que integra os AD já utiliza tecnologia de fibras ópticas.
Quanto à rede, ela pode ser classificada como:
rede interna: conjunto de cabos, acessórios e ferragens que instala-
dos dentro de edificações, permitem as ligações de telecomunicações.
rede externa: segmento de rede que vai da parte externa das casas ou
prédios até a central telefônica, podendo ser caracterizada por cabea-
mento aéreo ou subterrâneo.
Para um melhor entendimento, a Fig. 7.33 mostra o diagrama das
redes de acesso das redes telefônicas.

209
Fig. 7.33 Diagrama de acesso das redes telefônicas

A Fig. 7.34 ilustra uma rede telefônica típica Da casa do usuário de


telefonia (assinante) a comunicação é estabelecida por fios metálicos
que, à medida que cresce a concentração, são agrupados em cabos até
alcançar a central telefônica. Este quadro compõe a “planta externa”
da rede telefônica.

Fig. 7.34 Planta Externa da Rede Telefônica

210
Da casa do assinante, o par de fios (fio “drop”) sai e junta-se com
os pares de outras casas no poste mais próximo, onde há uma caixa
de distribuição. Esta caixa permite acesso aos fios dos cabos aéreos
reunindo muitos pares de fios, seguindo pelos postes até um armário
de distribuição. A partir deste armário, cabos mais grossos reúnem os
cabos de muitos postes e seguem por dutos subterrâneos até o distri-
buidor geral (DG) do prédio da central telefônica. No “DG” os milha-
res de fios que vem das ruas são conectados aos fios que vão à central
telefônica.
O cabo subterrâneo que interliga o DG e o armário de distribui-
ção é conhecido por “cabo primário”. O cabo aéreo que interliga o
armário de distribuição e as caixas de distribuição é conhecido por
“cabo secundário” ou “lateral”. Cada “lateral” pode ter dezenas de
caixas de distribuição distribuídas ao longo de seu percurso, de forma
a atender a centenas de usuários. Para o caso de grandes empresas,
onde a concentração de linhas telefônicas é intensa, é comum o uso de
um lateral destinado exclusivamente à empresa.
Costuma-se chamar a planta externa de “investimento enterra-
do”. Uma vez construída, não é possível modificá-la; o máximo que
se pode fazer é ampliá-la, construindo mais dutos para mais cabos. O
projeto dessas redes deve prever, com razoável precisão, quem são
e onde estão os usuários potenciais, como a região onde vivem vai
desenvolver-se economicamente, onde se construirão condomínios
residenciais ou de escritórios, etc. Médias mundiais dizem que a rede
deve ser planejada para atender à demanda dos cinco anos seguintes.
Um erro de avaliação e os cabos serão enterrados no lugar errado, ou
seja, ficarão inúteis.
As redes primária e secundária, juntas, consomem cerca de 50%
de todo o dinheiro gasto em um sistema telefônico.

211
7.10.2 Rede de Transporte
Sistemas de telecomunicações compreendem o conjunto dos
meios técnicos apropriados para transportar e encaminhar o mais fiel-
mente possível uma informação a uma determinada distância através
de várias ligações interligadas. Pode-se conceituar meio de transmissão
como todo suporte que transporta as informações entre os terminais
telefônicos, desde a origem (central telefônica na origem da chamada)
até o destino (central telefônica no destino da chamada). Os meios de
transmissão utilizados são classificados como, via cabo ou via radio
Transmissão Via Cabo: As linhas físicas são caracterizadas por con-
dutores elétricos ou opticos, que interligam duas centrais telefônicas
quaisquer. As mais utilizadas são as de pares de condutores elétricos e
cabos coaxiais e fibras ópticas.
Pares de Condutores Elétricos: O par trançado liga fisicamente o
assinante individual de telefonia à central de comutação, sendo cons-
tituído por um par de fios metálicos. Os pares procedentes de diver-
sos assinantes de uma mesma área são, por sua vez, trançados em
conjunto, até formar cabos de até 100 pares (grupos), os quais, depois
de isolados, são acondicionados em tubulações de chumbo. Os cabos
de maior capacidade podem conter mais de 2.400 pares, e são nor-
malmente formados por grupos de até 100 pares, que são igualmente
isolados Os cabos de pares são conhecidos como cabos telefônicos.
Cabos Coaxiais:A transmissão de grande número de canais de tele-
fonia a longas distâncias através de cabos de pares apresenta grande
dificuldade de ordem prática. Assim, foram introduzidos, nas comu-
nicações entre centrais, os cabos coaxiais. Nos cabos coaxiais, devido
a sua banda passante, podem trafegar vários canais de voz ao mesmo
tempo. Para isto, quando se interconectam centrais telefônicas através
de cabos coaxiais, utiliza-se a multiplexação. . Os equipamentos uti-
lizados são O equipamento utilizado na multiplexação é o multiplex
(MUX), que necessita de dois cabos coaxiais, um para transmissão e
outro para a recepção, que trabalham indistintamente, enquanto um
transmite o outro pode receber.

212
Fibras Óticas estão sendo cada vez mais utilizadas nos sistemas de
comunicações devido à sua grande capacidade de transmissão e ao
seu custo ter diminuído enormemente na última década do milênio
passado. Muitos especialistas de comuicações acham que não está
muito distante o dia em que no primeiro mundo todas as casas estarão
conectadas por pelo menos uma fibra.. De forma geral, a fibra está
substituindo os antigos enlaces de cabo coaxial nas comunicações en-
tre centrais. Nas ligações via cabos ópticos além do MUX é necessário
um conversor eletro-óptico chamado de ELO.

Fig.7.35 Ligações típicas entre centrais utilizando cabos pares e


cabos troncos ópticos

No que se refere aos sistemas de telefonia, o uso dos cabos coa-


xiais vem se tornando cada vez mais reduzido, em função das vanta-
gens das fibras ópticas. No Brasil, por exemplo, desde 1988, não há
entroncamentos entre grandes centrais de telecomunicações que não
sejam ópticos. A principal aplicação do cabo coaxial, no momento,
encontra-se em sistemas de televisão por assinatura, nos quais ainda
não é economicamente viável efetuar ligações por fibra óptica até a
residência do assinante. A Fig.7.36 mostra uma fibra óptica e um cabo
telefônico com a mesma capacidade de transmissão.

213
Fig. 7.36 - Fibra óptica e cabo telefônico com a mesma capacidade
de transmissão.

Transmissão via rádio: Existem casos em que a distância entre as


centrais de comutação é maior e torna-se inviável a ligação via cabos.
Nessas situações o meio de transmissão é o espaço livre. A interligação
entre as centrais pode ser feita através de um equipamento de trans-
missão denominado rádio.
Um rádio é um conjunto composto de transmissor, antena trans-
missora, antena receptora e receptor. Por sua estrutura o rádio exige o
uso associado de um multiplexador (mux). Dessa forma, o rádio tem
por finalidade a transmissão de informações já preparadas pelo mux e
recebimento de informações emitidas por outro sistema rádio, entre-
gando a informação ao mux associado. Geralmente a quantidade de
canais para recepção e transmissão é a mesma no rádio e no mux asso-
ciado, Fig. 7.37. Esses enlaces são geralmente na faixa de microondas.

Fig. 7.37 Transmissão entre centrais via rádio


214
7.10.3 Conexões Nacionais e Internacionais à Longa Distância
Outros meios de interligação entre centrais de transito nacionais
e internacionais, quando enormes distância estão envolvidas podem,
ser utilizados, tais como,satélites ou cabos ópticos submarinos. A Fig.
7.38 mostra a interconexão de duas centrais por diferentes meios de
transmissão.

Fig. 7.38 - Esquema de uma ligação internacional

215
Referências

[1] Serviço telefônico fixo comutado, http://www.wisetel.com.br, aces-


sado em 31/12/2009
[2] Telefonia Básica, Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte,
Departamento De Engenharia Elétrica,Sistemas De Telecomunicações I
[3] Telefonia Fixa, Curso Técnico de Telecomunicações, Centro Fede-
ral de Educação Tecnológica de Mato Grosso, Prof. Fabiano de Pádua,
Cuiabá-MT 28/07/2008
[4] Telefonia Básica - Wilson Carvalho de Araújo
[5] Sinalização por Canal Comum nº7, Leandro Guimarães Viegas,
Renato Maluhy Bellan, Samory Mendes, CEFET – RJ, Rio de Janeiro,
2003
[6] Tráfego telefônico (Erlang), Eduardo Tude, http://www.teleco.com.
br/tutoriais, acessado em 04/01/2010
[7] Rede Telefônica Comutada, José Mauricio dos Santos Pinheiro,
05/04/2005, http://www.projetoderedes.com.br, acessado em
29/12/2009
[8] Rede de acesso, Wikipédia, a enciclopédia livre,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rede_de_Acesso, acessado 7/01/2010
[9] Rede de transmissão, Wikipédia, a enciclopédia livre, http://
pt.wikipedia.org/wiki/Rede_de_Transmissão, acessado 7/01/2010

216
8
SISTEMA MÓVEL CELULAR
Prof. Leonardo R.A.X. de Menezes.

Em pouco mais de quinze anos, as comunicações móveis transfor-


maram as telecomunicações no Brasil. O paradigma de telecomuni-
cações baseado na tecnologia de telefonia fixa cedeu lugar a um tipo
inteiramente novo de se comunicar. Assim como o e-mail causou uma
mudança na forma de trocar mensagens de texto, as comunicações ce-
lulares mudaram a face da telefonia no Brasil. Mas, há muito mais nas
comunicações móveis do que a telefonia celular. Esse assunto abrange
também a transmissão de dados, que, com os avanços das tecnologias
celulares, passa a ser parte integrante desse sistema de telecomunica-
ções. Em outra vertente das comunicações móveis, têm-se as redes
sem fio. Este tipo de rede encontra-se em expansão no país e, possi-
velmente, será a solução para a conhecida “questão da última milha”.
Ao estudar um tema amplo como comunicações móveis, uma das
abordagens mais frutíferas é delimitar o escopo de atuação e as carac-
terísticas comuns entre todos os sistemas. Nesse paradigma, o mais
interessante é categorizar as comunicações móveis em função de seus
elementos mais básicos. Dessa forma, também é possível analisar mais
claramente as escolhas tecnológicas que definiram os sistemas atuais e
que definirão os sistemas que virão.
Todos os tipos de comunicação móvel têm como premissas prin-
cipais mobilidade e serviços a múltiplos usuários. Essas características
implicam em uma série de restrições e escolhas técnicas que terminam
por definir os sistemas móveis.
Com relação à mobilidade, um ponto relativamente claro é a neces-
sidade do uso de tecnologia baseada na transmissão de informação sem

217
fio. Por conseguinte, um sistema de comunicações móveis tem que uti-
lizar o espectro eletromagnético em geral na faixa de radiofreqüência.
É possível utilizar outras faixas, mas a cobertura fica bastante limitada.
O acesso de múltiplos usuários ao sistema implica em técnicas
adequadas de múltiplo acesso. Estas podem ser bastante variadas, mas
geralmente podem ser caracterizadas como em freqüência (múltiplo
acesso por divisão de freqüência - FDMA), temporais (múltiplo acesso
por divisão de tempo - TDMA), espaciais (múltiplo acesso por divi-
são de espaço - SDMA), por detecção de portadora (múltiplo acesso
por detecção de portadora - CSMA) e codificadas (múltiplo acesso
por divisão de código - CDMA). Em geral, todas as demais técnicas
utilizam algum grau de múltiplo acesso por divisão de freqüência, já
que a transmissão e recepção são realizadas em faixas de freqüência
distintas. Também existem combinações de diferentes técnicas para
determinados sistemas.
Os parâmetros de mobilidade e acesso de múltiplos usuários defi-
nem diversas características únicas aos sistemas de comunicações mó-
veis. Normalmente, os sistemas utilizam reúso de canais para aumen-
tar a capacidade de comunicação, o que implica na divisão da área a
ser coberta em regiões menores, ou seja, em células. Naturalmente,
para que a mobilidade seja mantida, os terminais de usuários têm de
possuir a capacidade de alterar os canais no caso de locomoção entre
células. Este ponto, por si só, já cria uma diferenciação entre alguns
sistemas de comunicação móvel, pois diversas redes sem fio oferecem
mobilidade apenas dentro de células (mas é possível projetar redes
sem fio com possibilidade de troca de canais).
Além dessas diferenciações, os sistemas de comunicação móvel
podem ter dois tipos de topologia dominante: ad-hoc e estruturada.
Os sistemas ad-hoc são criados a partir dos terminais em si. Isso per-
mite flexibilidade e robustez na comunicação. Mas, ao mesmo tempo
todos os terminais devem poder retransmitir as mensagens - o que
implica em um consumo de energia mais acentuado. Ao contrário da
topologia ad-hoc, a estruturada é projetada com base na utilização de
pontos de acesso ao sistema. Portanto, a topologia estruturada é mais
concentradora e, por vezes, mais eficiente que a ad-hoc.
218
Com esses pontos, é possível estudar os sistemas de comunicação
sem fio em maiores detalhes. As próximas seções são dedicadas ao es-
clarecimento das características singulares que surgem da mobilidade
e do acesso de múltiplos usuários.

8.1 Reúso de canais

O fato de o sistema de comunicação móvel utilizar radiofreqüên-


cia como meio de acesso implica em diversas escolhas técnicas. O es-
pectro eletromagnético é um bem limitado que demanda uso eficiente
de seus recursos. Em virtude desse fato, as faixas de freqüências a
serem utilizadas devem permitir não somente o atendimento do ser-
viço em questão, mas também permitir o crescimento da planta de
usuários. Assim, dois aspectos devem ser considerados: a região do
espectro deve ter banda suficiente para atender as características da
informação a ser transmitida; e o espectro deve ser utilizado do modo
mais eficiente possível.
Nos primeiros sistemas desenvolvidos, o canal destinado para
cada usuário correspondia a uma faixa de freqüência estreita que pos-
sibilitasse a transmissão da informação. Como a banda total alocada
para o serviço era limitada, isso necessariamente implicava em uma
quantidade também limitada de canais. Ora se o número de canais é
limitado, como permitir que o serviço pudesse crescer sua base de usu-
ários? A solução encontrada foi que os canais pudessem ser reutiliza-
dos desde que separados geograficamente. Portanto, tem-se a divisão
da região a ser coberta pelo serviço em células.
Essa consideração mostra de modo inequívoco que todo sistema
de comunicação móvel com reúso (ou seja: celular) é limitado por in-
terferência, que tem origem primariamente nos canais reutilizados em
células próximas. Na realidade, mesmo após a evolução do sistema
aonde os canais correspondiam não apenas a faixas de freqüência essa
limitação continuou a existir. Os parâmetros da interferência depen-
dem naturalmente do sistema em utilização. Sua quantificação será

219
diferente dependendo do tipo de modulação, do tipo de esquema de
múltiplo acesso e da região coberta. No entanto, nenhum desses fato-
res altera o ponto que o sistema celular é limitado por interferência.
Por essa razão é que mesmo uma explicação simples do reúso permite
a visualização dos ganhos que o mesmo permite.
A Fig.8.1 ilustra a situação de uma região geográfica com um nú-
mero finito de canais, como, por exemplo, 70 canais. Isso significa
que, naquela região, no máximo 70 usuários poderiam usar o serviço
simultaneamente. Dividindo a região em sete células, existem algumas
possibilidades de como dividir este número de canais. Se cada célula
recebesse 10 canais, o número máximo de usuários que pode utilizar o
serviço continua inalterado. No entanto, ao se distribuir mais que dez
canais por célula, o número máximo aumenta. Caso sejam distribuí-
dos 70 canais por célula, o sistema suportará 490 usuários simultâneos.
Naturalmente, surge a questão da interferência de canais por cé-
lulas adjacentes. Essa interferência pode ser minimizada utilizando
técnicas apropriadas. No caso de sistemas analógicos, isso implica em
distribuir os canais pelas células de modo a diminuir esse efeito. Em
alguns sistemas digitais, a própria robustez do sistema permite reali-
zar a distribuição do modo descrito anteriormente. No entanto, nem
sempre isso é possível. Nestes casos, a distribuição de canais segue um
padrão determinado, inicialmente, por um número chamado fator de
reuso, que indica o número de células mínimo para que os canais vol-
tem a se repetir. Como exemplo, para um sistema com 70 canais, um
fator de reúso igual a sete implica em uma distribuição de 10 canais
por célula. Após completar-se um aglomerado com sete células, torna-
se a reutilizar os canais. Este procedimento é necessário em diversos
tipos de sistemas, tendo-se como resultado conjuntos de aglomerados.
Em todos os casos, o efeito prático é o aumento no número de
usuários que utilizam o sistema simultaneamente, o que significa um
aumento na eficiência no uso do espectro eletromagnético.

220
Fig. 8.1. Reúso de canais no sistema celular.

Um outro aspecto do reúso de canais é que o mesmo permite a


expansão do sistema de modo natural. Os sistemas anteriores eram
baseados na cobertura de uma grande área por uma única célula, ou
seja, eram sistemas sem reúso de canais. Por conseguinte, todos os
canais se encontravam dentro da célula. Caso o sistema precisasse ser
expandido, a única forma seria adicionar mais canais, aumentando
também a ocupação do espectro. No caso do sistema com reuso, basta
adicionar novas células ou dividir as células previamente existentes.
Evidentemente, mesmo esta expansão tem limitações: a interferência
vai crescendo à medida que as células ficam cada vez menores e com
mais canais.
Como pode ser verificado, o reúso de canais é um fator determi-
nado do conceito celular. A idéia da divisão de uma área de cobertura
em áreas menores denominadas células é uma conseqüência natural
do reúso. No entanto, um aspecto que necessita de destaque nessa
análise é sua implicação na mobilidade. Uma vez que células irão reu-
tilizar canais, quando um usuário se move de uma célula para outra o
terminal deve ser capaz de modificar os canais apropriadamente.
Essa troca de canais implica em um sistema de controle adequa-
do. Este sistema é automático nas redes de telefonia celular, mas não
nas redes sem fio de computadores. Nas redes de telefonia celular, a
tarefa de troca de canal é compartilhada pelo terminal de usuário e

221
uma central de controle própria do sistema. As tarefas normalmen-
te incluem reserva de recursos, verificação de canais disponíveis e a
troca propriamente dita. Um aspecto das redes de telefonia celular é
que, dependendo da carga de chamadas do sistema, é possível que a
ligação seja perdida nesse processo. A forma em que a troca é efetuada
depende do tipo de sistema em utilização, bem como da técnica de
múltiplo acesso.
Portanto, fica claro que o reúso permite um uso bastante eficiente
do espectro eletromagnético. No entanto, a forma como o acesso de
múltiplos usuários é realizado também pode ser utilizado para maxi-
mizar a eficiência do sistema.

8.2 Técnicas de múltiplo acesso

Além das divisões no tipo de múltiplo acesso (na freqüência, no


temporal etc.), existe uma divisão mais básica: se o acesso é realizado
no modo pacote ou no modo de circuito. O modo de pacote é a forma
mais comum de acesso em redes de comutação por pacote, em que
se enquadram diversos tipos de rede. O modo de circuito é mais utili-
zado nas redes comutadas a circuito. No caso das redes de comunica-
ção móvel, em geral as soluções para pacote utilizadas são em última
análise híbridas, pois utilizam técnicas mais comuns em comutação de
circuito. Um exemplo dessa situação é acesso ao meio em redes sem
fio de computadores, em que tanto o CDMA quanto o CSMA são
utilizados. Mesmo assim, a definição dos diversos tipos de métodos de
múltiplo acesso serve para ilustrar os procedimentos envolvidos.
O FDMA (frequency division multiple acess) foi o método mais
utilizado em sistemas de comunicação móvel baseados na tecnolo-
gia analógica. Em essência, cada canal de comunicação corresponde
a uma banda de freqüência, Fig.8.2. O número de canais é fixo e o
acesso é realizado baseado na sua disponibilidade. Para regular esses
acessos, existem canais de controle que, em última análise, são aces-
sados através de CSMA. Estes canais de controle indicam quando os

222
terminais podem utilizar os canais de comunicação. Em alguns siste-
mas, os canais de controle se misturam com os canais de comunica-
ção quando o sistema está transmitindo informação. Esta abordagem é
mais interessante devido ao fato de parte do canal de comunicação não
ser utilizada durante o processo (seja esta ineficiência no tempo ou na
freqüência). A escolha do FDMA para os sistemas analógicos é bastan-
te natural visto que tais sistemas são essencialmente transceptores FM
de banda programável. Ainda que esse esquema de múltiplo acesso te-
nha se restringido aos sistemas analógicos, diversas razões tecnológicas
forçam os demais sistemas a utilizarem o FDMA, mesmo que em parte.

Fig. 8.2. Múltiplo acesso por divisão de freqüência.

O TDMA (time division multiple acess) foi o sucessor do FDMA


nos sistemas digitais. Neste caso, os canais de comunicação estão se-
parados no tempo. É fácil perceber que este tipo de conceito está bas-
tante alinhado com a tecnologia digital. O número de canais é fixo e
o acesso é baseado em disponibilidade. Uma das grandes vantagens
é que, na mesma banda de freqüência utilizada por um canal FDMA,
diversos canais TDMA podem trafegar. Como o sistema é baseado
no tempo, existem relógios mestres que regulam o sistema. Através
da base de tempo fornecida pelos relógios, o sinal é transmitido em
intervalos de tempo predeterminados de forma digital. Esse sistema
demanda, a priori, sinais digitais, do contrário a eficiência do mesmo
é em grande parte comprometida. A Fig.8.3 ilustra o TDMA para a
situação do sistema IS-136, e a Fig.8.4, para o GSM.

223
Fig. 8.3. Múltiplo acesso por divisão do tempo, no caso do sistema
IS-136.

Fig. 8.4. Múltiplo acesso por divisão do tempo, no caso do sistema


GSM.

O CDMA (code division multiple acess) é uma evolução de méto-


dos de múltiplo acesso. Neste sistema, o conceito básico é a codifica-
ção específica dos sinais. Se os códigos não apresentarem correlação
entre si, o CDMA permite a transmissão de vários sinais no mesmo
meio de acesso. Neste caso, considerando apenas um sinal de interes-
se, os demais sinais irão se apresentar apenas como ruído no sistema,

224
Fig.8.5. Naturalmente, o número de sinais que pode ser transmitido
em uma banda de freqüência irá ser limitado pelo nível desse ruído.
Da mesma forma que o TDMA, o CDMA é usado somente para sinais
digitais. O preço da eficiência deste sistema é a maior complexidade
tecnológica envolvida na transmissão de sinais.

Fig. 8.5. Múltiplo acesso por divisão de código.

O SDMA (spatial division multiple acess) é uma técnica relati-


vamente nova. O sistema surgiu com o avanço da teoria de proces-
samento digital de sinais aplicada a antenas. Neste caso, a separação
espacial entre os diversos terminais é explorada de modo a aumentar
a capacidade do canal. Em geral, o SDMA é combinado com outra
técnica de múltiplo acesso. Existem ainda diversas limitações tecno-
lógicas no uso, sendo a não menos importante o custo associado. A
priori, o SDMA não necessita de sinais digitais para ser utilizado, mas
a combinação destes com o sistema facilita, em grande parte, a ope-
ração do mesmo. Em poucas palavras, no SDMA as antenas emitem
o sinal para terminais específicos se valendo que estes terminais estão
separados espacialmente, Fig.8.6. Neste ponto é que um sistema adi-
cional de múltiplo acesso é útil, já que existem limitações físicas na
resolução angular das antenas.

225
Fig. 8.6. Múltiplo acesso por divisão do espaço.

O CSMA (carrier sense multiple acess) é um método de múltiplo


acesso projetado para comutação de pacotes. No entanto, com as redes
sem fio, o CSMA também passou a ser utilizado em redes de comuta-
ção de circuito. Como estas redes também passaram a transmitir dados
e mesmo utilizar a transmissão de dados para seu funcionamento, então
o CSMA passou a fazer parte da operação normal do seu sistema. Nes-
te caso, o acesso ao meio é baseado em técnicas estatísticas. Quando
dois terminais tentam acessar o meio simultaneamente, ocorre a cha-
mada colisão. Por meio de algoritmos apropriados, tenta-se diminuir
ou mesmo evitar a probabilidade de colisão. Dessa forma, diversos ter-
minais podem acessar o mesmo meio. Naturalmente, o maior número
de terminais irá, em última análise, diminuir a taxa de transmissão por
terminal, apesar de garantir a eficiência no uso do canal.
Além da técnica de múltiplo acesso, a própria modulação do sinal
é importante para aumentar a eficiência do sistema. Como as redes
de comunicação móvel são limitadas por interferência, modulações
menos susceptíveis ao ruído tem melhor desempenho e permitem
sistemas mais eficientes. Um exemplo é o caso da telefonia celular
analógica, um sistema que poderia funcionar com modulações por
amplitude ao invés de modulações de fase. Caso isso fosse implemen-
tado, o efeito prático seria a grande redução do número de canais por

226
célula. Como exemplo, um sistema analógico utilizando modulação
por freqüência com fator de reúso igual a sete poderia ser realizado
com modulação por amplitude com fator de reúso 74. O efeito prático
seria um número muito grande de canais necessário para implementar
o sistema. Um sistema analógico de 740 canais permite 10 canais por
célula utilizando modulação AM. O mesmo sistema permite 21 canais
por célula com modulação FM.
Ainda considerando o caso analógico, as redes de telefonia celu-
lar analógicas foram originalmente projetadas para uso de fatores de
reúso de 3 ou 7. Mas é perfeitamente possível realizar uma rede aon-
de o fator de reúso fosse 1. Neste caso, ao se utilizar a modulação de
freqüência, seria necessário um índice de modulação de 121 (ao invés
de 5 ou 10 utilizado em sistemas implementados). O problema é que
esse índice de modulação diminui em 12 vezes o número de canais
disponíveis na banda de espectro alocada.
Nos sistemas digitais, a modulação de fase ainda é a escolha
preferencial. Mesmo no caso analógico, o FSK foi escolhido para a
transmissão de dados no canal de controle. As modulações utilizadas
podem ser por fase (PSK e suas variações: QPSK e DQPSK), por
freqüência (FSK), por fase contínua (COM – continuous phase modu-
lation e suas variações: MSK e GMSK), as de espectro espalhado (sal-
tos em freqüência e seqüência direta) e OFDM (orthogonal frequency
division modulation).
As modulações do tipo QPSK e GMSK em geral despertam
maior interesse devido ao seu desempenho em sistemas limitados em
potência (como terminais móveis). O sistema TDMA-AMPS (QPSK)
e o GSM (GMSK) se valem dessas modulações. O QPSK é ainda
utilizado no UMTS (Universal Mobile Telecommunications System).
Em redes de comunicações móveis de requisitos de potência menos
restritivos, o OFDM tem bastante utilização.

227
8.3 Sistemas em utilização

A primeira geração de telefonia móvel celular, estruturada em tec-


nologia analógica, foi implementada a partir do início da década de 80
do século passado. O exemplo típico dessa primeira geração é o siste-
ma AMPS (Advanced Mobile Phone System), que teve uma aceitação
mundial bastante significativa. O AMPS foi implementado no Brasil a
partir do início dos anos 90. Embora, atualmente, esse sistema tenha
sido substituído quase que inteiramente pelos sistemas de segunda ge-
ração, ainda existem terminais em utilização.
O AMPS é na realidade uma evolução de um outro sistema, o
IMTS (Improved Móbile Telephone System). No AMPS, o múltiplo
acesso é realizado por FDMA. Originalmente, devido ao modelo de
regulação, o AMPS operava em duas bandas A e B na faixa de 800
MHz sendo cada uma delas explorada por operadoras distintas. O
AMPS iniciou, em 1983, com 333 canais por banda, mas, devido ao
sucesso do sistema, o número de canais foi expandido para 416 por
banda, em 1989. Essa é a razão das bandas A e B serem divididas da
forma não adjacente encontrada no Brasil (A, B, A’, A’’, B’ e B’’). Dos
416 canais, 21 eram canais de controle, ou seja, o total de canais dis-
poníveis para voz era de 395. Cada canal corresponde a duas faixas
de freqüência distintas: uma para comunicação terminal com estação
base (uplink) e outra para o sentido reverso (downlink). Portanto, os
416 canais ocupam 12,5 MHz (uplink) + 12,5 MHz (downlink). A Fig.
8.7 mostra as freqüências usadas em diferentes faixas de freqüências.

228
a) faixa de 850 MHz e 900 MHz

b) na faixa de 1.700 MHz e 1.800 MHz

c) na faixa de 1.900 MHz e 2.100 MHz

Fig. 8.7. Freqüências usadas no AMPS.

229
O uso da tecnologia digital na segunda geração de sistemas mó-
veis foi motivado essencialmente pelo crescimento acelerado da de-
manda desse serviço nos Estados Unidos e no Japão. Em razão de
esse crescimento estar focado em grandes centros urbanos, melho-
rar a capacidade de tráfego tornou-se parâmetro fundamental para o
funcionamento do sistema. Além disso, a Europa necessitava de um
sistema único que substituísse os diversos sistemas analógicos existen-
tes - TACS (Total Access Communications System) no Reino Unido,
NMTS (Nordic Mobile Telecommunications System) na Escandinávia
e o Sistema C na Alemanha. Dada a vantagem tecnológica dos siste-
mas digitais sobre os analógicos, a escolha de um sistema digital único
permitiria que a Europa se integrasse de modo único. Esse aspecto é
bastante importante ao lembrar-se que os diversos sistemas analógicos
europeus eram incompatíveis entre si.
Os principais sistemas de segunda geração são o GSM (TDMA),
iDEN (TDMA), IS-136 (TDMA – conhecido também como D-AMPS),
IS-95 (CDMA – conhecido também como CDMA One). Os sistemas
IS-95 e IS-136 sucederam o AMPS no Brasil. As operadoras em ques-
tão continuaram utilizando as bandas A e B originais. O sistema iDEN
é exclusivo da operadora NEXTEL e possui regulamentação específi-
ca dentro do Serviço Móvel Especializado (SME). O GSM entrou no
Brasil com a abertura das novas bandas de operação (D e E).
O sistema IS-136 usa o TDMA como meio de múltiplo acesso
e modulação baseada em QPSK (DQPSK). Devido à tecnologia de
codificação de voz, nesse sistema, em um canal AMPS original (uma
ligação) pode trafegar até três ligações simultâneas. Segundo o plane-
jamento inicial, o sistema poderia suportar até seis ligações por canal
original, mas esta capacidade nunca chegou a ser implementada. No
IS-136, o canal de controle passou a ser digital e, com isso, o sistema
melhorou bastante a capacidade. A primeira operadora a utilizar essa
tecnologia foi a Americel (que depois alterou o nome para Claro).
O sistema IS-95 usa o CDMA como meio de múltiplo acesso e
modulação baseada em QPSK. A capacidade desse sistema é variá-
vel dependendo de diversos fatores, mas tanto o terminal do usuário

230
quanto a estação base (ponto de acesso) necessitam de capacidade de
processamento superior ao IS-136. Em termos práticos, isso significa
complexidade e custo adicionais. Mesmo assim, o CDMA pode utili-
zar um fator de reúso igual a um. Um ponto interessante é que tanto
o IS-136 quanto o IS-95 tem compatibilidade reversa com o AMPS.
Isso originalmente era uma vantagem, pois o terminal sempre podia
operar no modo analógico, mesmo que não existissem operadoras na
área em questão. No entanto, com o passar do tempo, a vantagem
se transformou em problema. A razão é que, no modo analógico, o
telefone celular pode ser clonado com relativa facilidade. Assim, um
dos pontos fortes do IS-95, a sua segurança, se tornou um dos pontos
fracos do sistema.
O GSM foi criado com o objetivo de definir um padrão comum
de telefones móveis para a Europa, oferecendo, além de telefonia e
fax, uma ampla variedade de novos serviços, como transferência de
dados, identificação do usuário (SIM – Subscriber Identity Module),
serviços de mensagens etc. Por esses motivos, ele é de longe o sistema
com maior sucesso no mundo, sendo utilizado por cerca de 85% dos
usuários de telefonia celular. O GSM usa o TDMA como meio de
múltiplo acesso e modulação baseada em GMSK. Devido ao seu mo-
delo de segurança e por não ter compatibilidade reversa com nenhum
sistema, a dificuldade de clonagem é substancialmente maior que dos
sistemas anteriores. O sistema é bastante maduro e pode utilizar fator
de reúso igual a 4. A estrutura de canais é bem diferente do sistema
AMPS, tendo sido originalmente projetado para faixa de 900 MHz.
No entanto, o GSM também opera nas bandas D e E com uma estru-
tura de 15+15 MHz. Devido à sua base de usuários, os custos do siste-
ma GSM são substancialmente menores que do IS-95 e do IS-136. A
maioria das operadoras do Brasil trabalha com GSM.
Pode-se dividir a evolução do padrão GSM em 3 fases: GSM
Fase 1, GSM Fase 2 e GSM Fase 2+. A especificação do GSM Fase
1 ou GSM 900 foi concluída em 1991 e a primeira rede comercial
entrou em serviço em 1992. Nesta primeira fase, estavam disponíveis
os serviços de voz, fac-símile grupo 3, transmissão de dados de bai-
xa velocidade e serviço de mensagens curtas (SMS – Short Messages
231
Service). A Fase 2, compatível com a Fase 1, teve suas especificações
completadas em 1995. Este padrão inclui as seguintes características
principais: padronização conjunta dos sistemas GSM 900 e GSM
1800 (DCS 1800); padronização de serviços auxiliares suplementares;
padronização dos codificadores de meia taxa (HR – Half Rate) e de
taxa completa aprimorada (EFR – Enhanced Full Rate); melhoria nos
serviços de mensagens curtas e de identificação do usuário. A Fase 2+
introduziu os circuitos comutados de alta velocidade (HSCSD – High
Speed Circuit Switched Data) com taxas de até 57,6 kbps e o serviço
de transmissão de pacotes de alta velocidade (GPRS – General Packet
Radio Service). O GPRS permite total mobilidade e cobertura de uma
ampla área com taxas de dados de até 115,2 kbps (teóricas), suportan-
do tanto o IP (Internet Protocol) como o X.25.
Além da Fase 2+ do GSM, o ETSI (European Telecommunica-
tions Standard Institute) decidiu desenvolver o EDGE (Enhanced
Data rates for Global Evolution) utilizando a mesma atribuição atual
do espectro. Os pontos comuns entre o EDGE e o GPRS em termos
da largura de faixa de RF (200 kHz), taxa de símbolos (270,8 kbps) e
formato do quadro (8 janelas TDMA/4,6 ms de quadro) facilitaram o
projeto de terminais multimodo. O EDGE se encontra em operação
em diversas cidades brasileiras.

8.4 Terceira geração e além

Em 2006, a terceira geração de sistemas celular iniciou sua pre-


sença no Brasil. Seus representantes foram o CDMA-2000 e o EDGE.
Atualmente, o W-CDMA (UMTS) também está presente. Apesar de
originalmente o 3G ter como alvo taxas de 2 Mbps para terminais es-
tacionários, já existem alternativas para até 7,2 Mbps para esses casos.
A vantagem da terceira geração está centralizada no aumento das
taxas de transmissão para a realização de acesso à Internet. A partir
desse ponto e dos serviços agregados já criados e que ainda estão em
planejamento, tem-se um panorama de crescimento acentuado para

232
o futuro. Curiosamente, em paralelo com esse tipo de avanço, tem-se
que as redes sem fio também possuem potencial para crescimento.
Ao contrário dos sistemas que exigem conectividade com mobilidade
a qualquer instante, as redes sem fio têm um caráter de mobilidade
diferente. Normalmente, esta característica é dita nomádica. A razão é
que os terminais não se encontram em mobilidade constante, apenas
em uma forma mais restrita de mobilidade.
Tendo em vista o oferecimento de novos tipos de serviços e o au-
mento da capacidade de transmissão, não se pode evitar o questiona-
mento de quanto isso ainda poderá crescer. Já existem padrões iniciais
para a quarta geração e muitos se encontram em teste. Nestes, tem-se a
possibilidade de rádios cognitivos (RDS), acesso de múltiplas entradas
e múltiplas saídas (MIMO) e outras tecnologias mais recentes.
Esta pergunta já foi realizada em 2003 por Phil Edholm (CTO da
Nortel, Canadá). A sua constatação é que assim como a Lei de Moore
rege o desempenho dos semicondutores, existe uma lei similar para
os dispositivos sem fio. A lei, que leva o seu nome, afirma que a taxa
de transmissão para terminais móveis dobra a cada 18 meses, Fig.8.8.
Assim, em 2000 tinha-se o GPRS a 14,4 kbps, portanto, para 2006,
tem-se algo como 230 kbps como comum ao sistema existente. Nota-
se que, enquanto os sistemas em existência podiam fornecer esse tipo
de taxa, as operadoras ainda não os ofereciam em massa para seus
usuários. Uma outra curiosidade é que ao extrapolar-se a lei para anos
futuros verifica-se que, em 2015, existirá em torno de 14 Mbps comum
ao sistema e, em 2030, esse valor será de 15 Gpbs.

233
Fig. 8.8. Lei de Edholm: a taxa de transmissão dobra a cada 18
meses.

Esse tipo de crescimento implica em mudanças grandes na forma


em como se realizam as comunicações sem fio. Em primeiro lugar, o
espectro de freqüência atualmente alocado para comunicações mó-
veis não permite as taxas projetadas para 2015 e menos ainda para as
taxas de 2030. Por esse motivo, algumas agências reguladoras já estão
se preparando para uma nova venda de espectro com vistas à quarta
geração. O órgão de regulação do Reino Unido (Ofcom) já iniciou os
trabalhos para a venda da banda de 2,6 GHz. Enquanto os sistemas de
2G utilização 25 MHz, os sistemas de 4G necessitam de pelo menos
10 vezes esse valor.
Outras modificações são de ordem tecnológica. A quarta geração
prevê acessos móveis a 100 Mbps e a 1 Gbps para casos estacioná-
rios. Isso implica em mudanças com relação à modulação, técnicas
de múltiplo acesso, codificação e outros pontos. No caso de terminais
móveis, aumentos na taxa de transmissão implicam em restrições ain-
da mais sérias com relação ao uso de baterias. Esse tipo de problema
foi inicialmente verificado na implantação dos primeiros terminais de

234
terceira geração. Em resumo, o tempo de uso dos terminais era redu-
zido devido às necessidades para transmissão de informação, ou seja,
a carga das baterias acabava rapidamente.
Existem ainda questões de ordem comercial. A adoção da tec-
nologia 3G está no início e suas aplicações se encontram com pouca
penetração. Existe a possibilidade de maior uso com a vídeo-chamada
e a possibilidade de ver televisão nos terminais móveis. No entanto,
dentro das aplicações de entrega de vídeo para terminais móveis, exis-
te uma disputa silenciosa de padrões. Esse tipo de serviço não está
padronizado e talvez demore um período relativamente razoável para
que esteja presente nos terminais de todos os usuários.
No caso do Brasil, a introdução da terceira geração traz um com-
ponente importante para o mercado de telecomunicações. Devido a
uma série de motivos, a banda larga para assinantes de telefonia nunca
foi inteiramente oferecida para a maioria dos assinantes. A existência
de sistemas móveis que possibilitam comunicação de até 2 Mbps, atu-
almente, chegando a 7,2 Mbps em poucos anos, cria um novo mer-
cado para a introdução da banda larga no país. Nesse mercado, as
empresas de comunicações móveis têm o potencial para assumir o
papel de liderança que antes era das empresas de telefonia fixa. Talvez
por esses motivos exista o potencial para a mudança no cenário das
telecomunicações (o provimento de Internet barata para assinantes)
que foi relegado inicialmente.

235
9
COMUNICAÇÃO VIA SATÉLITE

A Comunicação via satélite se caracteriza pela alta capacidade e


possibilidade de atender um elevado número de usuários a baixo cus-
to. A viabilidade econômica se concentra no atendimento de massa
global, a custos reduzidos, competitivos, sem fronteiras e, principal-
mente, complementando os serviços já existentes. Nesta linha, cobrem
regiões não atendidas por sistemas terrestres, pela baixa densidade
populacional, pela baixa renda, ou por dificuldades geográficas, [1].
O satélite, do ponto de vista de transmissão é uma simples estação
repetidora dos sinais recebidos da Terra que são detectados, desloca-
dos em freqüência, ampliados e retransmitidos de volta à Terra, [2].

9.1 Breve Cronologia dos Satélites

A história do sistema de comunicações via satélite começou em


1929, quando foi estabelecido o conceito de órbita geoestacionária,
por Hermann Noordung. Porém, foi em 1945 que a humanidade co-
meçou a sonhar com um mundo onde as distâncias não seriam mais
um impedimento para um sistema de transmissão de informação glo-
balizado e sem fronteiras. Nesse ano, Arthur C. Clarke demonstrou
que com três satélites com arcos orbitais de 120 graus seria possível
formar-se uma rede de comunicações cobrindo todo o globo terrestre.
Com os avanços tecnológicos impulsionados pela Guerra Fria,
principalmente em relação aos foguetes lançadores, foi possível, em
1957, o lançamento, com sucesso, do Sputnik-1, que se tornou o pri-
meiro satélite artificial da Terra. Pela primeira vez, sinais inteligentes
vindos do espaço foram detectados em uma estação terrestre.

237
Os anos 60 foram de inestimável progresso para as telecomunica-
ções via satélite. Em 1960, foi lançado pela NASA o ECHO-1, que foi
o primeiro satélite de comunicações. Consistia em um refletor passivo,
ou melhor, um grande balão metálico, que a 1.600 km de altitude em
relação ao solo, recebia um sinal de 2,5 GHz enviado da Terra e re-
transmitido por reflexão, em outro local da Terra. Ainda em 1960, foi
lançado o Courier-1B (USA), que foi o primeiro satélite de comunica-
ções a utilizar um amplificador embarcado para 2 GHz, minimizando
o efeito da distância entre o satélite e a Terra.
Em 1962, a AT&T (USA) envia ao espaço o TELSTAR-1, que era
um satélite em órbita inclinada de 45 sobre o equador. Sua trajetória
era excêntrica com perigeu em 953 km e apogeu em 5.632 km de
altitude. Nesse mesmo ano, a NASA envia o RELAY-1, a 1.000 km
de altitude. Esses satélites foram os primeiros a utilizar as técnicas de
diferentes freqüências para a subida (ida ao satélite) e para a descida
(volta a Terra).
As distâncias começaram a ser vencidas quando, em 1962, foram
realizadas as primeiras transmissões transatlânticas via satélite, porém
ainda não em larga escala. Em 1963, a NASA lançou o SYMCOM-2
constituindo o primeiro satélite geoestacionário de comunicações.
Este satélite tinha a capacidade de 300 canais de telefonia ou 1 de TV.
Em 1965, foi lançado o INTELSAT-1, primeiro satélite geoestacioná-
rio de comunicações para uso comercial, tendo como capacidade 240
canais de telefonia ou 1 de TV.
Ainda movida pela Guerra Fria, a URSS envia em 1965 o satélite
Molnya-1. Este satélite era em órbita elíptica de 12 horas transpolar,
para formar uma rede de comunicação e TV cobrindo todo o territó-
rio da então URSS. A órbita do Molnya-1 era excêntrica com perigeu
em 550 km e apogeu em 40.000 km, inclinada de 63º. Como o satélite
sobrevoava o território da URSS por apenas 11 horas, era necessário
pelo menos 3 satélites para cobertura contínua.
Em 1965, o INTELSAT-1 foi usado para assumir serviço de um
cabo submarino em reparo. Esta prática se tornou rotina e marcou
a importância dos sistemas via satélite. A partir deste momento, a

238
tecnologia evoluiu rapidamente e diversos sistemas foram implanta-
dos. Em 1967, foi lançado o primeiro satélite da série INTELSAT-2,
com capacidade de 240 canais de telefonia ou 1 de TV, e utilizando
também as técnicas de múltiplo acesso. Em 1968/70, a INTELSAT
lança o primeiro satélite da série INTELSAT-3. A capacidade estava
em plena expansão e o INTELSAT-3 já contava com 1.500 canais de
telefonia ou 4 de TV ou ainda combinações destes. Em 1971, foi a vez
dos satélites da série INTELSAT-4, com capacidade de 4.000 canais
de telefonia mais 2 de TV.
Em 1974, o Brasil entra no mundo das comunicações via satélite.
Nesse ano, foi criado o SBTS (Sistema Brasileiro de Telecomunicações
por Satélite). Inicialmente, o Brasil utilizou transponders alugados ao
INTELSAT. Nessa época, foram construídas 4 estações terrenas.
Em 1975, foi lançado o primeiro satélite da série INTELSAT-4A,
com 20 transponders, mais de 6.000 canais de telefonia mais 2 de
TV, com reúso de freqüência por separação de feixe. Mais uma vez
tinha-se a tecnologia em plena evolução aumentando sobremaneira a
capacidade dos sistemas de telecomunicações via satélite.
Somente em 1975 a URSS desenvolveu com sucesso o foguete
PROTON, que permitiu a URSS acessar a órbita geoestacionária, em
um ponto de lançamento não muito próximo do equador.
Em 1980, o INTELSAT-5 foi lançado, com capacidade de 12000
canais de telefonia, com banda múltipla 6/4 GHz e 14/11 GHz e com
reúso de freqüências por separação de feixe e por diversidade de po-
larização. Era assim o pleno uso da banda alocada para transmissão
via satélite.
Em 1985, o BRASILSAT série A foi lançado, constituindo o
primeiro satélite doméstico brasileiro. Do outro lado do mundo, em
1990, foi lançado o INTELSAT-6, com capacidade de 120.000 canais
de telefonia. Em 1994, o Brasil lançou o BRASILSAT-B, com 28 trans-
ponders em banda C (6/4 GHz) e um transponder em banda X (8/7
GHz), para aplicações militares.

239
Atualmente, existem mais de 200 satélites geoestacionários a
36.000 km de altitude e na mesma velocidade da Terra (revolução de
um dia). Porém, ao mesmo tempo em que os satélites geoestacionários
se desenvolviam, outros tipos de sistemas eram experimentados. En-
tre estes sistemas, aqueles chamados de sistemas de constelação tive-
ram um grande interesse.
Em 1964, foi lançado o sistema de navegação TRANSIT, que foi
o primeiro esboço de constelação de satélites, Fig.9.1. Nesse sistema,
os satélites são colocados sobre órbitas polares e em planos diferentes,
tentando obter uma cobertura global. Porém, nessa época, foi impossí-
vel o controle dos satélites e o perfeito sincronismo entre eles.

Fig. 9.1. Uma constelação de satélites para cobertura total em órbita


baixa.

Para remediar o problema anterior, em 1978, as Forças Armadas


Americanas desenvolvem o sistema Global Positioning System (GPS),
que foi a primeira constelação acessível a todos. Esse sistema mundial
de localização e de navegação necessita de 24 satélites em 6 planos
orbitais. Em 1994, a constelação estava completa. Em 1997/98, as
constelações Globalstar e Iridium para a radiotelefonia móvel por sa-
télite, em órbita baixa, se tornaram realidade, Fig.9.2. Nesses sistemas,
a idéia principal é prover serviço de telefonia e de comunicação de

240
dados independentemente da posição onde o usuário estiver, quer seja
nos centros urbanos, no campo, no escritório ou em casa, de férias ou
em trabalho e até mesmo se o usuário estiver em trânsito entre cida-
des, países e continentes. Esses sistemas trabalham em complemento
aos sistemas móveis de telefonia locais de cada país.
Para os anos 2000, são esperadas futuras gerações, tais como a
Teledesic e SkyBridge para aplicações multimídia a banda larga por
satélite, para navegação etc.

Fig. 9.2. Sistema de comunicações móveis via satélite.

241
9.2 Mercado de sistemas via satélite

A Fig.9.3 ilustra a divisão das regiões da Terra pelos principais


operadores de Satélite existentes.

Fig. 9.3. Operadores de satélites e suas regiões de cobertura.

A evolução dos sistemas via satélite pode ser dividida em duas eras:
a era analógica e a era digital. Na era analógica, os sistemas via satélite
se tornaram o principal meio de transmissão de telefonia e TV a longa
distância. A transmissão era tipicamente analógica com modulação FM.
Na era digital, formas sofisticadas de transmissão via satélite foram intro-
duzidas, como o sistema TDMA/PSK. Essa tecnologia foi impulsionada
por novos desafios, que surgiram a partir da década de 80 com a evolu-
ção das técnicas digitais, o desenvolvimento da fibra óptica, que apre-
senta enorme capacidade de transmissão com qualidade excepcional.
No presente e no futuro, os satélites terão um papel fundamental
na consolidação das auto-estradas da informação. Eles participarão da
ligação das redes integradas de computadores e de televisores inteli-
gentes, através da difusão direta, dos serviços de telefonia sem fio e do
acesso mundial da rede Internet. Os satélites trabalharão em conjunto
com as tecnologias a cabo (fibra óptica), oferecendo uma capacidade
superior de transmissão a um custo minimizado e de implementação
mais rápida.
242
Os satélites vêm contribuindo e contribuirão ao desenvolvimento
das telecomunicações nas zonas onde é muito caro ou muito difícil
de instalar uma infra-estrutura a cabo, nas zonas subdesenvolvidas ou
pouco povoadas. Os satélites irão contribuir ao fornecimento de servi-
ços telefonia sem fio e de televisão de qualidade a comunidades isola-
das nos meios rurais, nas ilhas e montanhas. Progressos em matéria de
tratamento embarcado, de compressão numérica e de miniaturização
de circuitos estão sendo aplicados aos satélites.
O maior trunfo dos sistemas via satélite é a flexibilidade, como em
qualquer sistema via rádio, porém ainda com menor infra-estrutura
requerida, principalmente em relação aos sistemas terrestres. O maior
e principal problema desses sistemas é o atraso. Devido às longas dis-
tâncias percorridas, o tempo entre uma transmissão da Terra e uma
recepção na Terra é da ordem de 250 ms, quando se utiliza apenas um
satélite geoestacionário entre os pontos de transmissão e de recepção.
Para tornar os sistemas via satélite mais competitivos, novas solu-
ções vêm sendo apresentadas a cada dia. Entre essas novidades, pode-
se destacar: novas tecnologias e aplicações, como os sistemas VSAT
(Very Small Aperture Terminal), satélites mais eficientes com mais
potência e controle de cobertura, processamento a bordo e satélite
de baixa órbita para comunicações móveis, no qual o atraso é bem
menor que para os sistemas geoestacionários.
O modelo de exploração dos sistemas de comunicação por satéli-
te assume duas formas:
•  os serviços de satélite são disponibilizados aos utilizadores fi-
nais diretamente pelos operadores dos próprios satélites, nomea-
damente nos casos de redes privativas, difusão direta de TV por
satélite e comunicações móveis;
•  os serviços de satélite são disponibilizados a operadores genéri-
cos de serviços de telecomunicações, os quais alugam capacidade
em satélites aos operadores dos satélites - é o caso da utilização de
satélites no transporte da rede fixa ou em aplicações de difusão de
televisão.

243
9.3 Aplicações dos Satélites

Podemos dividir os satélites artificiais em 2 grandes grupos, segun-


do a sua aplicação: civis e militares.
Os satélites de uso civil têm objetivos pacíficos: comunicações e
descobertas científicas, teste de novas tecnologias, levantamento de
recursos naturais, auxílio a tarefas diversas que, sem eles, seriam difi-
cilmente realizáveis.
Já os satélites de uso militar, cujo auge ocorreu durante a Guerra
Fria, objetivam espionar e intimidar o inimigo. Antes da queda da
União Soviética, os blocos ideológicos estavam bem definidos, e to-
dos sabiam a quem deveriam vigiar. Nos dias de hoje, quando esta
divisão em blocos não é bem clara, a tendência é que aqueles países
que detêm a tecnologia e os recursos financeiros necessários para uma
tarefa deste porte acabem por desconfiar e espionar todo o resto da
humanidade
A aplicação do satélite determina seu tipo e construção e pode-
mos classificá-los da seguinte forma:

Satélites de Comunicações
Comunicações fixas (FSS, Fixed Satellite Service)
Difusão (BSS, Broadcasting Satellite Service)
Comunicaçoes móveis (MSS, Mobile Satellite Service)

Satélites de Navegação
Posicionamento (GPS, Global Positioning System)

244
Satélites de observação da Terra (Satélites científicos)
Coletas de dados da Terra
Exploração do Universo
Meteorologia

Satélites Militares (Reconhecimento e Vigilânca)


Detecção de lançamento de mísseis
Espionagem

Atualmente cerca de 7.500 satélites orbitam a Terra. Alguns, geo-


estacionários (36.000 km de altura) para telecomunicações e, outros
de baixa altitude (200 km a 10.000 km) que servem para diversos pro-
pósitos. A Fig. 9.4 mostra o percentual de satélites em operação por
aplicação, [4].

Fig. 9.4 Percentual de Satélites por Aplicação

245
Estes satélites são voltados principalmente para os Estados Uni-
dos que respondem por aproximadamente 40% do mercado mundial
de satélite, [4]. A Fig. 9.5 mostra a utilização de satélite por pais, onde
pode-se observar a posição do Brasil com 2%.

Fig.9.5 Percentual de Satélites no Mundo

9.4 Características básicas do sistema via satélite

A tecnologia empregada em um sistema via satélite é um domínio


multidisciplinar no qual se encontra a participação, entre outros, da
Engenharia Mecânica, da Engenharia Elétrica, da Engenharia de Te-
lecomunicações e da Astronomia. Nesta seção, algumas considerações
de tecnologia serão apresentadas.
Satélites em órbita geoestacionária podem ser vistos como siste-
mas montados em torres de 36.000 km de altura, repetindo ou espa-
lhando sinais por extensas regiões da superfície terrestre.

246
O primeiro problema em sistemas de comunicação por satélite
é a própria espaçonave, que deve ser remotamente controlada. Esta
espaçonave fica em uma região de alto vácuo, passando por severos
ciclos de temperatura (-100 ºC a +100 ºC) e sendo bombardeada por
radiações, partículas subatômicas e micro meteoritos. Nesse sistema, o
satélite tem que gerar sua própria energia por meio de painéis solares,
cujo rendimento é da ordem de 15% sob uma radiação solar de 1,39
kW/m2. O sistema deve operar sem manutenção por 5 a 10 anos, o
que define sua vida útil.
Para os momentos de eclipse, quando o satélite passa pela sombra
da Terra (ocorrendo nos equinócios), as baterias devem suprir as ne-
cessidades de energia..
As órbitas dos satélites são regidas pela 2.a Lei de Kepler, que de-
fine que a linha que une o centro da Terra ao satélite varre áreas iguais
em tempos iguais. Deste princípio da dinâmica das órbitas, conclui-se
que o satélite se move mais rápido no perigeu, que é o ponto mais
próximo à Terra, e mais lento no apogeu, que é o ponto mais afastado,
Fig.9.6. Os satélites da família Molnya da extinta URSS utilizaram
esse princípio, definindo um sistema cujo apogeu está a 39.362 km e o
perigeu está a 1.006 km da superfície da Terra. Nesse sistema, o satélite
passa 11 horas no hemisfério norte e apenas 1 hora no hemisfério sul.

Fig. 9.6. Princípio da dinâmica das órbitas – 2.a Lei de Kepler.

247
Uma das principais características dos sistemas via satélite é a fle-
xibilidade. Isto quer dizer que a comunicação entre dois ou mais pon-
tos é realizada sem nenhuma infra-estrutura intermediária e, basica-
mente, independente da distância. Por outro lado, sistemas via satélite
requerem a utilização de estações terrenas de alto desempenho. Nestes
sistemas, são utilizadas antenas de alto ganho e de grande resistência
ao ruído. Os receptores devem ser de alta sensibilidade e de baixíssi-
mo ruído, apesar da utilização de transmissores de alta potência.
Como o sistema é do tipo espaço livre, sua capacidade, em nú-
mero de canais de informação, depende, por um lado, da banda de
freqüência alocada, mas também de técnicas capazes de incrementar
a capacidade sem aumentar a banda utilizada. Por isso, os sistemas via
satélite utilizam as técnicas de múltiplo acesso FDMA, TDMA e, mais
recentemente, CDMA, na qual cada estação pode falar com todas as
outras estações na mesma área de cobertura, utilizando apenas um
único satélite. Outra qualidade desses sistemas é sua grande capacida-
de de distribuição, inerente à própria geometria do enlace. Por isso, os
sistemas via satélite são por natureza sistema de radiodifusão.
É comum se dividir as comunicações via satélite em dois
segmentos:o segmento espacial, que é o satélite propriamente dito e, o
segmento terrestre, que são as estações terrenas.

9.5 Os equipamentos do segmento espacial

Os satélites são equipamentos complexos, que requerem uma


série de capacidades para poderem se manter operacionais em órbi-
ta, de forma que sua função principal possa ser executada. O satélite
pode ser considerado um sistema, composto por uma plataforma es-
pacial pela carga útil, que representa o verdadeiro sistema de comu-
nicação, e pelo sistema de antenas. A estrutura básica de um satélite é
mostrada nas Fig. 9.7.

248
Fig. 9.7. Partes constituintes de um satélite.

9.5.1 A Plataforma Espacial


A plataforma espacial é constituída dos seguintes subsistemas: es-
trutura; energia; telemetria e telecomando; controle térmico; controle
de atitude e órbita; Fig.9.8
Subsistema de Estrutura: é a base sobre a qual os equipamen-
tos do satélite são montados. Representa o suporte mecânico para os
equipamentos, acessórios e carga-útil do satélite, enquanto mantida no
chão, durante o lançamento e no espaço. A estrutura do satélite serve
também para proteger os equipamentos internos das mudanças extre-
mas de temperatura, da radiação e dos micrometeoritos.

249
Ainda na parte estrutural, pode ser encontrado o motor de apo-
geu. Tipicamente o foguete lançador coloca o satélite em uma órbita
de transferência. O motor de apogeu se encarrega de levar o satélite
desta órbita para a órbita geoestacionária.
Subsistema de Energia: é uma das partes mais importantes, dele
depende a vida útil do satélite. Esse sistema deve ser de alta confiabili-
dade e alta durabilidade. Ele é constituído de uma fonte primária, que
é formada por um conjunto de células solares, e de uma fonte secun-
dária, onde baterias servem de backup durante os eclipses. Durante
um eclipse, o satélite fica no cone de sombra da Terra, ocorrendo 21
dias antes e depois de cada equinócio (21 de março e 22 de setembro).
A duração máxima é de 72 minutos no equinócio e ocorre à meia noi-
te (tempo referido à longitude do satélite).
Subsistema de Controle Térmico: mantém os equipamentos
do satélite dentro dos níveis aceitáveis de temperatura de operação
dos mesmos. Em órbita um satélite está sujeito a variações extremas
de temperatura, desde bastante elevadas devido a exposição direta ao
Sol, até as bem baixas no momento em que o satélite se encontra na
sombra da Terra.
Subsistema de Telemetria-Telecomando: monitora as funções
do satélite, por meio da transmissão de sinais de comando. Para essas
funções, podem ser usados antenas e circuitos de comunicação do sa-
télite ou antenas e circuitos especializados em faixa de freqüência não
utilizada para comunicação.
Subsistema de Controle de Atitude e de Orbita: permite o po-
sicionamento do satélite em relação a um eixo de referência. O objetivo
é manter o apontamento correto. A precisão de apontamento está na
faixa de 0,05% a 0,15% da posição correta. Para que o satélite possa ser
utilizado como um repetidor, ele deve ser altamente estabilizado.
No satélite é necessário também um controle de órbita, pois a
órbita de um satélite sofre variações ao longo do dia, tanto no plano
da órbita quanto no sentido norte-sul. A correção da órbita é realizada
através de pequenos propulsores.

250
Fig.9.8 Subsistemas do Sistema Satélite

9.5.2 Transponders: O Subsistema de Comunicações


A carga útil de um satélite é constituída basicamente por diver-
sos subsistemas ativos de recepção/transmissão, também chamado de
transponder (transmiter/responder). O transponder é a parte do satélite
que combina a função de receber o sinal em determinada freqüência,
realizar a conversão da freqüência e transmitir o sinal recebido em uma
nova freqüência determinada. Cada transponder ocupa uma certa fai-
xa de freqüências que varia tipicamente entre 36 MHz e 80 MHz.. Um
satélite é composto de vários transponders, cada um se ocupando de
uma faixa específica de freqüência. Em outras palavras, ocupa porção
da banda de freqüência do satélite, que é de 500 MHz (os satélites para
banda C trabalham entre 3,7 e 4,2GHz, 500MHz de largura da banda
portanto). Normalmente cada transponder tem uma faixa de 36 MHz,
dentro da faixa total de 500. É por isso que o número de transponders
é limitado em um satélite, chegando no máximo a 12 (Fig. 9.9).

251
Fig.9.9 Canais de um Transponder

Para aumentar a capacidade de cada canal dentro da mesma faixa


de freqüência, os satélites utilizam dois sistemas de transmissão ope-
rando com polaridade cruzada de antenas. Para isso, um dos sistemas
a polaridade vertical e outro a polaridade horizontal. Embora os sinais
ocupem a mesma faixa de freqüência, as antenas conseguem separar
os sinais.. A polarização cruzada permitiu dobrar a capacidade de um
sistema de comunicação por rádio. Os satélites geoestacionários utili-
zam a polaridade cruzada para aumentar de 12 para 24 o número de
canais.
Os transponders recebem, amplificam, convertem freqüência e
retransmitem vários tipos de sinais de comunicação. Isto é feito em vá-
rios estágios: amplificação de faixa larga; translação para a freqüência
de descida e demultiplexação; amplificação de faixa estreita; multiple-
xação e retransmissão. A Fig.9.10 representa um sistema de recepção/
transmissão de um satélite.
Considere que o espectro total de uma dada polarização ocupe
uma banda de 500 MHz, dividida em 12 regiões espectrais de 36 MHz
cada. Toda essa banda é recebida pela antena, que funciona como
uma interface entre o meio de transmissão e o sistema receptor. Essa
banda de 500 MHz é amplificada por um amplificador de baixíssimo
ruído e, em seguida, convertida para a freqüência de descida, que ge-
ralmente é inferior à freqüência de subida ao satélite. Logo, a conver-
são é chamada de down-conversão.

252
O sinal convertido em freqüência passa então por um processo
de demultiplexação, ou separação de faixa. O demultiplexador possui
uma entrada e 12 saídas, para o caso deste exemplo. Cada saída do
demultiplexador é injetada em um sistema de amplificação dedicada
em freqüência. Nesse ponto começa o processo de transmissão do si-
nal para a Terra. Os sinais amplificados são novamente combinados e
enviados ao sistema transmissor, ou propriamente à antena de trans-
missão, Fig. 9.10.

Fig. 9.10. Sistema receptor/transmissor de um satélite.

Diversas faixas de freqüência são atualmente disponíveis para


transmissão via satélite. Na Tabela 9.1, estão especificadas as princi-
pais bandas, que estão expressas em MHz. As faixas C-estendida e
Ku foram alocadas de forma a minimizar as interferências advindas
de sistemas terrestres. Ambas são imunes a interferências com micro-
ondas terrestres. Na banda Ku, o uso de antenas de menor dimensão
constitui outra grande vantagem. Porém, nessa faixa, existe uma sensi-
bilidade à chuva, Fig. 9.11.

253
Tabela 9.1. Faixas de freqüências utilizadas em sistemas via satélite.

NOME DESCIDA SUBIDA


L 1530 - 1559 1626,5 - 1660,5
C 3700 - 4200 5925 - 6425
C EST. 3625 - 3700 5850 - 5925
X 7315 - 7375 7965 - 8025
Ku 11700 - 12200 14000 - 14500

Fig. 9.11 Bandas de operação do Sistema de Comunicação via


satélite

9.5.3 Antenas e Área de Cobertura


A antena é um dos itens mais importantes do satélite, pois é ela
que determina quais regiões do globo serão mais favorecidas, rece-
bendo níveis de sinal mais intensos. As antenas do satélite dependem
das freqüências em que ele opera e do formato do país que ilumina.
As transmissões mais comuns, em telecomunicações, se dão em fai-
xas em torno das freqüências de 4 GHz (subida) e 6 GHz (descida),

254
denominadas “banda C”. A maior parte das antenas empregadas é
constituída por um refletor parabólico e alimentadores, que são dis-
postos de modo a se obter a cobertura desejada, Fig. 9.12.

Fig.9.12 Antenas com refletores parabólicos

A Fig. 9.13 mostra a área de cobertura de um satélite. A área


coberta pela transmissão ou recepção de sinais de um satélite é co-
nhecida como foot-print, Fig.9.14. No caso de um satélite em órbita
geoestacionária, a área sempre fica a mesma, permitindo recepção ou
transmissão de sinais por meio do satélite a qualquer hora do dia. No
caso de um satélite que orbita a terra, a área de cobertura está em
mudança constante, permitindo o uso desse satélite por determinado
ponto na terra apenas durante determinado horário. A Fig.9.15 mostra
o “foot-print” do satélite Star One C2 lançado em abril de 2008 . As
“pegadas” (foot-print), mostram as regiões de maior intensidade de
sinal de transmissão do satélite Star One C2 sobre o Brasil,.

255
Fig. 9. 13 - Área de cobertura de acordo com a distância da terra

Fig.9.14 Foot print de um satélite

256
Fig.9.15 - Foot- print do Setélite Star-One.

9.6 O Segmento Terrestre

O segmento terrestre compreende estações terrenas destinadas


exclusivamente à manutenção e operação do satélite e outras para o
fim principal do sistema que é o serviço de comunicação entre usuá-
rios geralmente classificadas co mo (Fig.9.16):
•  ET (Estação Terrena de Comunicação): destinadas exclusiva-
mente aos serviços de telefonia, comunicações de dados, trans-
missão e recepção de TV, etc. Constituem os principais objetivos
do sistema, sendo geralmente classificada como:

257
a) HUB ou MASTER: estação central coletora e/ou distribuidora
de informações de uma determinada rede de estações remotas
b) REMOTA: estação terminal de usuário, classificada em:TVRO:
para recepções exclusivamente de TV e VSAT (Very Small Appertu-
re): estação transmissora e/ou receptora para telefonia, dados e TV,
equipada com antena de pequena abertura.

Fig. 9.16 – Configuração do sistema terrestre de comunicação via


satélite.

258
A Fig.9.17 ilustra o segmento terrestre em forma de diagrama de
blocos. As antenas utilizadas apresentam alta eficiência em ganho e
em ruído. Os sistemas de antenas são geralmente equipados por sis-
temas de rastreio do satélite. O sistema de transmissão é equipado de
amplificador de alta potência, HPA - High Power Amplifier, enquanto
o sistema de recepção conta com amplificador de baixíssimo ruído,
LNA- Low Noise Amplifier.

Fig. 9.17 Diagrama de blocos do segmento terrestre.

9.7 Tipos de órbita

As órbitas dos satélites podem ser descritas em relação à sua for-


ma, podendo ser circulares ou elípticas. Elas podem também ser des-
critas em função da posição do satélite em relação a um observador na
superfície terrestre. Neste caso, os satélites podem ser geoestacionário
ou não-geoestacionário. O caso de órbitas não circulares é minoria nos
sistemas de interesse. Existem duas zonas de elevada densidade de par-
tículas radiativas em órbita da Terra, denominadas de cinturões de Van
Hallen [3], e que compreendem as faixas de altitudes de 1500 - 5000
km e 13000-20000 km. A radiação existente nestas zonas deterioraria
o equipamento dos satélites sendo, portanto, impróprias para órbitas.
Como decorrência destes cinturões os satélites podem ser lançados

259
basicamente em três regiões celestes possíveis, conforme a Figura 9.18.
A Figura também mostra a latência do sinal bem como a quantidade de
satélites necessários para se cobrir toda a superfície terrestre,[4].

Fig. 9.18 - Propriedades: altitude, latência e satélites necessários

As regiões são chamadas de GEO, MEO, LEO, e HEO, siglas do


inglês Geoestationary, Médium, Low Earth Orbit e Highly Elliptical
Orbit. Os satélites GEO são chamados de geoestacionários por esta-
rem estáticos em relação à rotação da Terra, ou seja, a aproximada-
mente 35.800 Km. A classificação comumente usada, ilustrada nas Fig
9.19 e 9.20, é a seguinte:
•  Satélite GEO: órbita circular, estacionária em relação à Terra e
de grande altitude
•  Satélite MEO: órbita circular de altitude média e não estacioná-
rio em relação à Terra
•  Satélite LEO: órbita circular de altitude baixa e não estacionário
em relação à Terra
•  Satélite HEO: órbita elíptica e não estacionário em relação à
Terra

260
(b) Orbitas Elípticas

(a) Orbitas Circulares


Fig.9.19 Principais orbitas existentes

Fig. 9.20. Comparação entre as órbitas circulares e elípticas.

Em virtude das altitudes que os satélites atingem nas diversas órbi-


tas, assim teremos coberturas variáveis: entre relativamente reduzidas
para a órbita LEO, até cerca de meio globo para a órbita GEO e igual-
mente para a órbita HEO, quando o satélite se encontra no apogeu,
Fig.9.21.
261
Fig.9.21 Cobertura terrestre de satélites com diversas órbitas

A vida útil de um satélite depende de sua característica orbital.


Abaixo dos 200 km não é tecnicamente possível a manutenção de um
satélite, devido ao seu baixo tempo de vida por deterioração e aque-
cimento. A necessidade de motores e combustível nos satélites para
correção de órbita limita ainda o seu tempo de vida.
O tempo de vida médio dos satélites LEO e MEO são da ordem
dos 7-10 anos, sendo dos GEO da ordem dos 15-20 anos. A Fig. 9.22
mostra o percentual de satélites em atividade por tipo de órbita.
Os satélites também são classificados quanto à sua cobertura na
superfície da Terra. Dependendo da abrangência geográfica de seu(s)
feixe(s) são classificados em REGIONAIS ou INTERNACIONAIS
ou GLOBAIS. Satélites regionais possuem feixes cuja cobertura é res-
trita a alguns países ou menores. Satélites internacionais ou globais
possuem feixes de cobertura mundial, geralmente através de redes.

262
Fig.9.22 - Percentual de Satélites por tipo de órbita

9.7.1 Sistemas geoestacionários


Os sistemas GEOS são satélites colocados em órbita geoestacio-
nária a 36.000 km de altitude em relação à superfície terrestre, no
plano do equador, Fig. 9.23. O satélite é considerado imóvel se ob-
servado de qualquer ponto da superfície da Terra. A grande vantagem
desse sistema é que o satélite pode ser visto 24 horas por dia dentro
de sua área de cobertura. A principal desvantagem é o atraso de 500
ms entre a subida e a descida do sinal, em caso de dois saltos, o que
provoca degradação das comunicações em tempo real.

263
Fig. 9.23 - Satélite Geoestacionário

Os sistemas GEOS geralmente empregam a técnica de reutiliza-


ção de freqüência por polaridade e por feixe. Nesses sistemas, devido
às enormes distâncias envolvidas, há uma grande perda por espaço
livre. Por isso, terminais portáteis são pouco utilizados. Por outro lado,
obtêm-se grandes zonas de serviço, podendo a potência ser otimizada
para uma região de interesse. A cobertura se degrada à medida que se
afasta do equador .
Diversos sistemas geoestacionários operam hoje no mundo. A
EMBRATEL opera o SBTS com atualmente 3 satélites para a pres-
tação de serviços de comunicação de voz, dados e televisão. Existem
diversos outros sistemas, entre os quais se pode destacar
INTELSAT (lnternacional Telecommunications Satellite
Organization). É um consórcio internacional, com 120 paí-
ses membros, que dispõe de uma rede com 16 satélites (em
1990), cobrindo todo o globo terrestre, dividido em três re-
giões de operação: AOR - Atlantic Ocean Region, IOR - In-
dian Ocean Region e POR - Pacific Ocean Region.
INTERSPUTNIK (International System and Organization
of Space Communications). É uma organizaçao internacio-
nal com 15 países membros, provendo serviços de comunica-
ção fixa por satélite a 40 nações (originalmente atendia países
do bloco comunista). Para tal são utilizados 2 satélites STAT-
SIONAR 4, um sobre o Atlântico e outro sobre o Índico.

264
INMARSAT (lntemational Mobile Satellite Organization). É uma
organizaçao internacional com mais de 60 países membros, cujo ob-
jetivo é a prestação de serviços de comunicação móvel (aeronáutico,
marítimo e terrestre) por satélite. Para tal, sao utilizados 6 satélites em
4 regiões de operação: AOR-E -Atlantic Ocean Region - East; AOR-
W - Atlantic Ocean Region - West; IOR - lndian Ocean Region; POR
- Pacific Ocean Region.
PANAMSAT. É a primeira rede de satélite privada, dedicada às
comunicações internacionais. Atualmente o PANAMSAT dispõe de
um único satélite (PAS-I) sobre o Atlântico, cobrindo as Américas e a
Europa, porém sua segunda geração, composta por tres satélites. pro-
verá cobertura mundial.
ORION. É um sistema privado, dedicado a comunicação interna-
cional por satélite entre a América do Norte e a Europa, em operação.
A Fig. 9.24 ilustra a situação das posições orbitais geoestacionária.

265
266
Fig.9.24 - Posições orbitais geoestacionárias
9.7.2 Sistemas não-geoestacionários
Estes sistemas podem ser de órbita LEO, MEO e HEO. Classifi-
cam-se, entre os LEOS, aqueles de uso geral (voz, dados etc) e aqueles
de mensagens, batizados de Litle LEOS.
Nos sistemas LEOS, os satélites são de órbita baixa não-geoesta-
cionários na faixa de 700 km a 2.000 km de altitude. As órbitas são
circulares e usualmente no plano equatorial inclinado. A cobertura do
satélite sobre uma região do globo terrestre é periódica e não contí-
nua. As vantagens desse sistema são, por um lado, a baixa atenuação
do enlace, permitindo o uso de terminais realmente portáteis e, por
outro lado, um menor retardo que é da ordem de 20 ms, o que permi-
te uma comunicação em tempo real. Nesses sistemas, é possível cobrir
os pólos através de órbitas inclinadas. De forma geral, o custo de lan-
çamento é reduzido, em comparação do dos sistemas GEOS. Porém,
esses sistemas exigem um grande número de satélite para cobertura
global e contínua da Terra, formando as constelações de satélite.
Os sistemas MEOS são satélites de órbita intermediária não-geo-
estacionários na faixa de 10.000 km de altitude. Esses sistemas são um
bom compromisso entre os GEOS e LEOS. Por outro lado, os siste-
mas MEOS são satélites que descrevem uma órbita elíptica variando
de 1.000 a 39.000 km, com cobertura periódica.
As órbitas circulares não podem ser quaisquer. Ao redor da Ter-
ra encontram-se os denominados cinturões de Van Allen onde existe
uma grande concentração de partículas que impedem o bom funcio-
namento dos satélites. Por isso, as órbitas baixas estão entre 1.000 km
e 2.000 km e as órbitas média em torno de 10.000 km. A Tabela 9.2
resume as principais características entre os sistemas apresentados.

267
Tabela 9.2. Comparação entre GEO, LEO e MEO.

Característica GEO MEO LEO


Custo Segm. Médio Baixo Alto
Espacial
Vida útil 10 a 15 anos 10 a 15 anos 4 a 7 anos
Terminais Fixos Portáteis Portáteis
Retardo Alto Baixo Aceitável
Complexidade Baixa Média Alta
Troca de Inexistente Limitada Constante
Satélite

A seguir são apresentados os sistemas com satélites não geoesta-


cionários mais conhecidos, [5].

IRlDIUM - A Iridium e uma rede de comunicação via satélite


destinada a atender usuários localizados em lugares remotos. O proje-
to datado de 1990, foi uma iniciativa da Motorola.
O plano inicial previa 77 satélites (o elemento químico 77 é o
irídio), mas uma reavaliação do projeto concluiu que apenas 66 saté-
lites seriam necessários. Esses 66 satélites estão dispostos a 750Km de
altitude (LEO), separados em 6 eixos norte-sul com um satélite a cada
32 graus de latitude
A filosofia da rede era baseada na comunicação entre clientes feita
no espaço. Quando um cliente iniciava uma conexão ele enviava um
sinal ao satélite acima dele, o sinal era retransmitido entre os satélites
até chegar ao satélite mais próximo do usuário destino.Por conta disso,
a rede teria a capacidade de alcançar usuários nos lugares mais remo-
tos do planeta, Fig. 9.25.
Embora o projeto tivesse sido concebido em 1990, os serviços de
comunicação só tiveram início em novembro de 1998. Durante esse
tempo, a rede de telefonia celular evoluiu de tal maneira que , não
havia mercado para o Iridium, que oferecia celulares pesados e custos

268
do minuto a preços inacessíveis a maioria dos usuários. Conseqüente-
mente o lançamento da rede de comunicações Iridium foi um fracas-
so, pois não tinha um número mínimo de usuários que fosse capaz de
manter os custos fixos da rede. Nove meses depois de sua abertura,
teve que abrir concordata. A rede foi adquirida por um grupo privado
de investidores, que retornou ao mercado como Iridium Satellite ofe-
recendo diferentes serviços de comunicação. Os negócios com a rede
parecem estar se desenvolvendo aparentemente bem.

Fig. 9.25 Diagrama de uma ligação via o Sistema Iridium

Globalstar - É um sistema de 48 satélites LEO situados a 1400km


de altitude, que fornece serviços de telefonia e transmissão de dados
de baixa velocidade. O projeto teve início em 1991 como uma parce-
ria entre a Qualcomm e a Loral Corp.
Da mesma forma que aconteceu com a Iridium, ela obteve baixa
aceitação no mercado. Com apenas 66 mil usuários pelo mundo dos
550 mil necessários para fazer o sistema lucrativo, a Globalstar pe-
diu concordata em fevereiro de 2002 e em seguida foi adquirida pela
Thermo Capital Partners LLC e convertida Globalstar. Atualmente a
empresa opera normalmente tendo cobertura mundial.
269
A cobertura em todo o território nacional e mais 500 milhas náu-
ticas, é feita por meio de três estações terrestres (gateways) localizadas
em Presidente Prudente, Petrolina e Manaus. Cada uma é responsável
por manter a conexão permanente com os satélites, em suas respecti-
vas regiões de abrangência, Fig.9.26.

Fig. 9.26 - Cobertura do território nacional do Sistema Globostar

Teledesic - Concebido em 1990, pela Microsoft e McCaw, a


maior operadora de celulares dos EUA, para oferecer serviços de In-
ternet de banda larga. (uma espécie de provedor global da Internet,
com velocidades de fibra ótica).
O plano original de 1995, previa 840 satélites LEO de 700km
de altitude. Em 1997 foi feita uma reconfiguração com 288 satélites
a 1.400km de altitude Posteriormente, o projeto reduziu o número
de satélites para 30. A rede operaria na banda Ka. A Fig.9.27 mostra
como os 288 satélites LEO foram planejados para cobertura da terra.

270
O fracasso comercial da Iridium e Globalstar e de outros sistemas,
juntamente com a projeção de falência do empreendimento, foram
fatores primordiais para que o projeto fosse interrompido em de ou-
tubro de 2002, [3].

Fig.9. 27 - Órbitas dos 288 satélites do sistema Teledesic

Orbcomm – É uma companhia que oferece serviços de dados,


como mensagens e monitoramento, feito M2M (machine-to-machine).
A rede é formada por 29 satélites LEO orbitando a um altitude de 775
km.
GNSS (Global Navigation Satellite System) - Trata-se de um
termo genérico para referir os sistemas de navegação por satélite. Atu-
almente existem dois sistemas em operação, o GPS (Norte-americano)
e o GLONASS (Russo). Encontram-se, ainda outros dois em desen-
volvimento, o Galileo (Europeu) e o Compass (Chinês).

271
•  O GPS (Global Positioning System) é um sistema de em 24 sa-
télites MEO em 6 orbitas circulares, Fig. 9.28, que foi iniciado em
1979 e disponibilizado globalmente em 2004. Estes satélites estão
colocados de tal modo que em qualquer altura e ponto do nos-
so globo 6 deles estão sempre visíveis. A função de um receptor
GPS é localizar 4 ou mais desses satélites, determinar a distância
para cada um e utilizar esta informação para deduzir sua própria
posição
•  O GLONASS (Global’naya Navigatsionnaya Sputnikovaya Sis-
tema) sistema da antiga União Soviética, agora pertencente a Rus-
sia. O sistema opera com 24 satélites MEO. Por falta de reparo,
tem apenas disponibilidade parcial. Está em processo de reestru-
turação para oferecer cobertura mundial já em 2010.
•  O Galileo: é o sistema europeu que opera com 30 satélites
MEO Esta agendado para começar a operar em 2012.
•  O Compass: é o sistema chinês será contituido de 30 satélites
MEO e 5 GEO.

Fig. 9.28 - Constelação de satélites GPS em suas órbitas em torno da


Terra.

272
9.8 Lançamento e permanência dos satélites

O satélite está sujeito à gravidade, permanecendo no espaço quan-


do a força centrípeta anular a gravidade. Na órbita circular, a veloci-
dade do satélite deve ser mantida constante, exigindo acelerações de
compensação das influências externas. Pode-se, teoricamente, colocar
qualquer corpo em qualquer órbita desde que se tenha energia dispo-
nível. É possível que um objeto permaneça em órbita pouco acima da
superfície terrestre sem o uso de asas, desde que esteja se movendo a
uma velocidade em torno de 30.000 km/h e que não se desintegre.
A 36.000 km de altura, o peso (ou a força gravitacional) equivale a
apenas 2% dos parâmetros ao nível do mar, reduzindo assim a energia
necessária para manter o satélite em órbita. Porém, grande é a energia
necessária para levar o satélite da superfície a sua órbita final.
Os satélites não são lançados diretamente na sua órbita de traba-
lho. Os satélites são lançados para uma órbita de transferência (200
km de altura) e só então movidos para sua órbita final. A órbita de
transferência é aquela onde o foguete coloca o satélite. Com o uso de
um motor auxiliar (motor de apogeu), o satélite se desloca para sua
órbita final.
Existem diversos tipos de lançadores, que podem ser reutilizáveis
ou descartáveis. Os lançadores descartáveis abandonam suas partes
no espaço após a realização do trabalho. Os reutilizáveis podem ser
parcialmente ou totalmente recuperados e consequentemente reutili-
zados. Podem também ser tripulados ou comandados. A Fig.9.29 ilus-
tra alguns dos principais lançadores de satélites.

273
Fig. 9.29 Veículos lançadores de satélite.

9.9 Técnicas de Múltiplo Acesso

O satélite de comunicação permite o acesso múltiplo, ou seja, vá-


rias estações terrestres podem manter comunicação simultânea com
o satélite, transmitindo ou recebendo informações, de acordo com a
Fig.9.30.
O acesso múltiplo exige um gerenciamento preciso por parte da
empresa operadora do satélite, com o objetivo de evitar interferên-
cia mútua entre as diversas estações. O acesso do satélite e feito por
FDMA, TDMA e CDMA, desses o único que suporta sinais analógi-
cos é o FDMA, os demais transmitem sinais digitais.

274
9.9.1 Múltiplo Acesso por Divisão de Freqüência
No FDMA, a faixa total de um transponder é dividida e a cada
estação é designada uma parcela da faixa. Cada estação terrena trans-
mite uma portadora nesta faixa com mensagem para várias outras
estações. Cada estação demodula as portadoras de um conjunto de
outras estações para retirar as mensagens endereçadas a ela, Fig.9.30.
A grande vantagem do FDMA é a simplicidade do sistema, porém
maiores são os problemas relacionados à intermodulação.

Fig. 9.30. Sistema FDMA por satélite.

275
9.9.2 Múltiplo Acesso por Divisão de Tempo
No sistema TDMA, todas as estações operam com a mesma fre-
qüência, em tempos diferentes de modo que cada usuário possa em-
pregar toda faixa de freqüência e toda potência disponível no instan-
te em que transmite. Em cada instante apenas 1 usuário emprega o
Transponder. Para cada estação terrena é designado um intervalo de
tempo dentro do frame (trama). Cada estação terrena transmite sua
portadora nesse intervalo com mensagem para várias outras estações.
Todas as estações demodulam seqüencialmente as diferentes portado-
ras e retiram as mensagens endereçadas a cada uma delas, Fig.9.31.

Fig. 9.31. Emissão e recepção num sistema TDMA

9.9.3 Múltiplo Acesso por Divisão de Código


O sistema CDMA se baseia na técnica de espalhamento de es-
pectro. As transmissões podem ser feitas ao mesmo tempo e na mes-
ma faixa de freqüência. Cada portadora é identificada e separada por
meio de um código. O sistema CDMA é mais robusto à interferência
externa e, por isso, é mais propício nos sistemas de constelação de
satélites. Porém, esse sistema é mais complexo que os demais.

276
9.10 Redes VSAT

Idealizada no fim da década de 80, com o objetivo inicial de in-


tegrar unidades separadas por longas distâncias, a rede de comuni-
cações VSAT (Very Small Aperture Terminal) tem sido utilizada co-
mercialmente há 14 anos. Seu nome refere-se a qualquer terminal fixo
usado para prover comunicações interativas, ou somente de recepção.
As redes VSAT são constituídas por três componentes fundamentais:
• Estações remotas (terminais VSAT)
• Uma estação master opcional (HUB)
• Satélite de retransmissão.

Todos os terminais VSAT de um mesmo sistema utilizam o mes-


mo transponder e compartilham a mesma banda.
O sistema VSAT se diferencia dos demais por usar antenas de
pequeno diâmetro, menores que 2,0 m, Fig. 9.32. Este tipo de rede é
muito utilizado para a radiodifusão de TV e de transmissão de dados.

Fig. 9.32. Antena típica de redes VSAT.

277
Redes VSAT vêm sendo utilizadas em comunicações privadas,
permitindo uma maior confiabilidade, mas também com facilidades
de expansão. Existem redes VSAT interativas em topologia estrela
com um grande número de terminais VSAT e um HUB, normalmen-
te ligado a um sistema de computação hospedeiro (host).
Nas redes VSAT, a estação HUB é a estação central do sistema,
sendo geralmente de maior porte. Essa estação é situada na sede prin-
cipal da corporação, nas redes exclusivas, ou em posição favorável,
para possibilitar a conexão via redes públicas terrestres ou não, no
caso de redes compartilhadas. A estação HUB é composta por uma
unidade de RF e por uma unidade interna. A unidade de RF tem a
função de transmitir e receber os sinais destinados/originados na uni-
dade interna. A unidade interna é conectada a um computador (redes
exclusivas) ou a um conjunto de linhas privadas ou a uma rede pública
(redes compartilhadas). A função principal da estação HUB é a moni-
toração de toda a rede VSAT.

Fig. 9.33 Rede VSAT

278
9.11 Sistemas de Comunicação por Satélite em operação no Brasil

As Conferências da União Internacional de Telecomunicações –


UIT –, em 1985 e 1988, trataram da ocupação da órbita geoestacio-
nária, um bem natural escasso. Todo país tem o direito a pelo menos
uma posição no arco geoestacionário, com 300 MHz na Banda C (6/4
GHz) e 500 MHz na Banda Ku (14/11GHz) para “iluminar” seu pró-
prio território. No espaço, a distância mínima entre artefatos geoesta-
cionários está circunscrita a um cubo de 73 km de lado.
O país que desejar uma posição orbital formula pedido junto à
UIT. Caso haja outro pedido idêntico, o entendimento será dará entre
os países que podem negociar entre si. Concedido o direito a uma po-
sição orbital, o país tem sete anos – cinco de planejamento e dois de
implementação – para colocar seu satélite comercialmente em órbita.
O Brasil solicitou cerca de 22 posições orbitais geoestacionárias.
Atualmente, 39 satélites com total cobertura do Brasil, e 4 com
cobertura parcial, comercializam suas capacidades espaciais no terri-
tório brasileiro, [6]. Destes, 8 ocupam posições orbitais brasileiras e 35
possuem “direitos de aterrissagem” (landingrights);

9.11.1 Sistema Brasileiro de Transmissão Por Satélite


O sistema brasileiro de transmissão por satélite conta com oito sa-
télites geoestacionários, Fig. 9. 34. A Tabela 9.3 mostra a evolução do
uso de satélites geoestacionários por empresas brasileiras nos últimos
cinco anos, refletindo o aumento da oferta de capacidade espacial no
Brasil tanto na banda C quanto na banda Ku.

279
Tabela 9.3 Satélites geoestacionários brasileiros em operação

Fig.9.34 Satélite Geoestacionários Brasileiros

O Brasil ainda conta com quatro satélites não-geoestacionários


para aplicações científicas de exploração da Terra e meteorológica.
Dois deles de uso do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
e os outros dois resultado de uma parceria entre o INPE e instituições
chinesas (Projeto CBERS). Esses satélites são responsáveis pela coleta
de grande quantidade de informações que subsidiam estudos sobre
fenômenos meteorológicos e geofísicos e são de fundamental impor-
tância para o desenvolvimento tecnológico e científico do País, [7].

280
9.11.2 Satélites geoestacionários estrangeiros
Foram registradas na Anatel, em 2008, várias solicitações de fai-
xas de frequências adicionais por parte de exploradoras de satélites es-
trangeiros, fato sinalizador do interesse dessas empresas em expandir
cada vez mais sua atuação no Brasil que agora somam 35, ampliando
a capacidade espacial disponível para utilização por prestadoras de
serviços de telecomunicações no território brasileiro, [7]. A Fig.9.34
mostra o cenário de ocupação do arco orbital por satélites estrangei-
ros, autorizados a prover capacidade para as prestadoras de serviços
de telecomunicações no território brasileiro.

Fig.9.34 – Satélites estrangeiros provendo capacidade sobre o Brasil

9.11.3 Satélites não-geoestacionários estrangeiros


Além das redes de satélites geoestacionários antes mencionadas,
três outros sistemas de satélites não-geoestacionários operam no Bra-
sil: Globalstar, Iridium e Orbcomm (Telespazio). Esses sistemas são
comerciais e estão associados à prestação de Serviço Móvel Global
por Satélite (SMGS).

281
Referências
[1] Qualidade de Serviço em Comunicação sem Fio: Uma Aborda-
gem Algorítmica e de Otimização, Geraldo Robson Mateus, Univer-
sidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Ciência da Com-
putação, 1999, http://homepages.dcc.ufmg.br/~mateus, acessado em
10/01/2010.
[2] Comunicação Via Satélite (Parte I), http://www.eletrica.info/co-
municacao-via-satelite-primeira-parte/, acessado 11/01/2010
[3] “Satélites Impulsionando o Desenvolvimento do País”, palestra
Jarbas José Valente, ANATEL, Rio de Janeiro, março 2009.
[4] Evolução do Sistema Via Satélite, Prof.: Pedro de Alcântara Neto,
Telecomunicações News,Volume 3, 08/97
[5] Rede de Satélites, Dionathan Nakamura Universidade Estadual de
São Paulo, Dezembro, 2008
[6] Novas Aplicações e Visão de Mercado para Comunicações via
Satélite no Brasil, J.R.Cristovam, UNISAT Engenharia de Telecomu-
nicações, www.unisat.com.br, acessado em 26/01/2010
[7] Relatório Anual 2008 ANATEL, http://www.anatel.gov.br/hotsi-
tes/relatorio_anual_2008, acessado em 25/01/2010

282
10
SISTEMA DE COMUNICAÇÃO ÓPTICA

Desde que foram desenvolvidas, as fibras ópticas representaram


uma revolução na forma de transmitir informações. As fibras ópticas,
que são estruturas finas e flexíveis constituídas de vidro, permitem a
transmissão do sinal de informação utilizando ondas de luz por lon-
gas distâncias. O sistema óptico é parte óptica e parte eletrônica. O
entendimento de segmentos óptico e eletrônico é fundamental par a
compreensão de redes ópticas

10.1 Introdução

As primeiras experiências de transmissão de luz através do vidro,


atribuídas ao alemão Lamb, ocorreram em 1930. Entretanto, o termo
fibra óptica surgiu apenas em 1953, quando Kapany inventou um dis-
positivo que permitia a transmissão de imagens através de um feixe
flexível de fibra de vidro. Nessa época, a perda de potência da luz na
fibra de vidro era da ordem de milhares de decibéis por quilômetro,
restringindo o seu uso a distâncias menores que 1 metro.
Até o final da década de 1960, as pesquisas e aplicações da fibra
óptica não obtiveram resultados importantes para a sua utilização em
sistemas de comunicação. Nesse período, a tecnologia optoeletrônica
avançou até o desenvolvimento dos primeiros dispositivos emissores
de luz em estado sólido, como o LED e o Laser. A potência de luz
emitida pela fonte Laser permitiu conceber sistemas de comunicação
ópticos de longo alcance e grande capacidade de transmissão de in-
formação.

283
Em 1966, Kao e Hockman, na Inglaterra, apresentaram um tra-
balho que indicava a possibilidade de utilização de fibras ópticas em
sistemas de longa distância. Eles mostraram que a grande atenuação
da luz nas fibras de vidro, até então observadas, não era intrínseca
ao material, mas principalmente devido à presença de impurezas.
Concluía-se que, por meio da purificação do material básico da fibra,
podia-se obter atenuação inferior a 20 dB/km, limite que viabilizava,
na época, a sua utilização em sistemas de comunicação.
A partir de então, esforços foram realizados com o objetivo de
melhorar a velocidade de resposta dos LEDs, Lasers e fotodetetores.
Ao mesmo tempo, procurava-se melhorar as fibras ópticas, diminuin-
do sua atenuação e dispersão. Hoje, consegue-se fabricar fibras com
atenuação de 0,2 dB/km. Graças a isso, a utilização de sistemas óp-
ticos é cada vez mais freqüente, principalmente nas transmissões de
longa distância que demandem grande fluxo de informação.

10.2 Capacidade do sistema óptico

O espectro óptico está dividido em três faixas denominadas de


banda ultravioleta, banda visível e banda infravermelha. As bandas
ultravioleta e infravermelha não são visíveis pelo ser humano. As ra-
diações usadas atualmente em comunicações ópticas estão na faixa da
luz infravermelha, com comprimento de onda variando de 800nm a
1700nm, Fig.10.1, o que significa que a freqüência de uma portadora
óptica, em torno de 300 THz, é bem superior, por exemplo, à freqüên-
cia de uma portadora em microondas, [1]. Dessa forma, a capacidade
de transmissão de informações nos sistemas ópticos é muito maior
que a dos sistemas em microondas. Essa maior capacidade está rela-
cionada à largura de banda percentual da portadora modulada. Por
exemplo, se a largura de banda do sinal modulado estiver limitada a
1% da freqüência máxima disponível, a capacidade dos sistemas em
microondas será de centenas de MHz e a dos sistemas ópticos de mi-
lhares de MHz. Esse enorme potencial de capacidade de transmissão

284
é o que impulsiona o desenvolvimento das tecnologias de comunica-
ção ópticas.

Fig.10.1 Espectro eletromagnético

A capacidade de um sistema de comunicação pode ser medida


por meio do produto taxa de transmissão vezes a distância do enla-
ce BL, em que B é a taxa de bits e L é a distância entre repetidores.
A Fig.10.2 ilustra como esse produto tem aumentado, em função do
avanço tecnológico, desde o surgimento do telégrafo.
Sistemas de comunicação com BL ≈ 100 Mbps×km eram dispo-
níveis em 1970. Durante a segunda metade do século XX, o produto
BL aumentou por algumas ordens de grandeza devido à utilização da
luz como portadora. A primeira geração de sistemas ópticos começou
a operar em 1978, num comprimento de onda próximo de 0,85 µm.
Eles usavam uma taxa de transmissão na faixa de 50-100 Mbps e o
espaçamento entre repetidores podia alcançar cerca de 10 km [BL ≈
500 Mbps×km]. O espaçamento entre repetidores, maior que os sis-
temas usando cabos coaxiais, permitia a diminuição das instalações e
dos custos de manutenção associados com o número de repetidores.

285
A segunda geração de sistemas ópticos começou a ser desenvolvi-
da no início dos anos 1980 e permitiu que o espaçamento entre repe-
tidores aumentasse para cerca de 20 km. A taxa de bits dos sistemas
de primeira geração estava limitada a 100 Mbps, devido à dispersão
modal nas fibras multimodos. Esta limitação foi superada com o uso
de fibras monomodo. Em 1987, um sistema de segunda geração ope-
rando em 1,3 µm, numa taxa de 1,7 Gbps e com um espaçamento
entre repetidores de 50 km, estava disponível comercialmente.
O sistema WDM (Wavelength Division Multiplexing) é uma evo-
lução do sistema óptico ponto-a-ponto tradicional. O seu princípio de
funcionamento é essencialmente o mesmo da multiplexação pela divi-
são em freqüência (FDM), na qual vários sinais são transmitidos atra-
vés do mesmo meio com o uso de diferentes portadoras. A tecnologia
WDM possibilita a transmissão de várias portadoras ópticas em uma
mesma fibra, cada uma delas carregando determinado fluxo de dados.
A técnica WDM utiliza a banda espectral na região de 1.300 nm e
1.500 nm, que são as duas janelas de comprimento de onda nos quais
as fibras ópticas possuem perda de sinal muito baixa. Inicialmente,
cada janela era usada para transmitir apenas um único sinal. O de-
senvolvimento dos componentes ópticos, com melhor desempenho,
permitiu a utilização de cada janela para a transmissão de vários sinais
ópticos, cada um ocupando uma pequena fração da janela total dispo-
nível.
Os sistemas WDM evoluíram para as tecnologias DWDM e
CWDM. O DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexing) re-
fere-se a sistemas que utilizam um espaçamento menor que 200 GHz
entre os comprimentos de onda. O CWDM (Coarse Wavelength Divi-
sion Multiplexing) refere-se a sistemas mais baratos que utilizam maio-
res espaçamentos entre os comprimentos de onda.

286
Fig. 10.2. Aumento do produto taxa de bits vezes distância entre
1850 e 2000.

10.3 Composição dos sistemas de comunicações ópticos

Como todo sistema de comunicação o sistema de comunicação


óptico é constituído por três blocos básicos: o transmissor, o meio de
transmissão e o receptor. A Fig. 10.3 mostra a evolução dos sistemas
ópticos onde se destacam as fontes de luz, os fotodetetores, os ampli-
ficadores ópticos, os multiplexadores de comprimento de onda e as
fibras ópticas.
O Transmissor possui com função principal de transformar o sinal
elétrico em óptico. O receptor possui a função inversa do transmissor,
ou seja, detecta o sinal óptico e o converte para elétrico. O seu principal
componente é um fotodetector que realiza a conversão optoelétrica.. O
meio físico é a fibra óptica, que é um guia onde a luz trafega, desde
a extremidade emissora até a extremidade receptora. O amplificador
óptico fornece potência óptica ao o sinal de luz permitindo assim que
grandes distâncias sejam percorridas. Os multiplexadores de compri-
mento de onda agrupam vários sinais de luz em uma mesma fibra.

287
Fig. 10.3. Evolução dos Sistemas de Comunicação Ópticos e seus
principais componentes.

10.4 Fibras ópticas

Uma fibra óptica consiste de guia dielétrico formado por um nú-


cleo cilíndrico envolvido por uma casca. A seção transversal de uma
fibra é mostrada na Fig.10.4. Tanto o núcleo quanto a casca são fabri-
cados basicamente com sílica (SiO2), um material que tem índice de
refração aproximadamente igual a 1,45. O índice de refração de um
dielétrico é a relação entre a velocidade da luz no vácuo e a velocida-
de da luz no material. Durante a fabricação das fibras, certas impure-
zas (ou dopantes) são introduzidas no núcleo e(ou) na casca tal que o
índice de refração do núcleo seja um pouco maior que na casca.

288
Fig. 10.4. Geometria de uma fibra óptica.

A fibra óptica permite a transmissão de sinais, com baixas perdas,


sobre uma faixa de freqüências que é muito maior que a faixa dis-
ponível nos cabos de cobre ou qualquer outro meio de transmissão.
Essa propriedade permite que sinais com altas taxas sejam transmiti-
dos sobre longas distâncias, antes que eles necessitem ser regenerados
ou amplificados. É devido a essas características que os sistemas de
comunicação ópticos estão sendo largamente utilizados.
Os sistemas de comunicação conectados por fibras ópticas ofere-
cem vários benefícios que não são encontrados nos sistemas tradicio-
nais que usam fios condutores de cobre. Alguns deles são listados a
seguir.
•  A capacidade de transportar muito mais informação com gran-
de fidelidade do que os fios de cobre ou cabos coaxiais.
•  A fibra óptica pode suportar altas taxas de dados sobre distân-
cias muito maiores do que os cabos coaxiais, o que a torna ideal
para transmissão de dados digitais em série.
•  A fibra é totalmente imune a virtualmente todos os tipos de in-
terferência, incluindo descargas atmosféricas, e não conduz ele-
tricidade. Então, ela pode entrar em contato direto com linhas
e equipamentos elétricos de alta potência. Ela também não cria
qualquer circuito de retorno através da terra.
•  Como o material básico das fibras é o vidro, ela não sofre cor-
rosão e não é afetada por muitos produtos químicos. Ela pode ser
diretamente enterrada em diferentes tipos de solo ou exposta a am-
bientes corrosivos em indústrias químicas sem grandes cuidados.

289
•  Como a única portadora na fibra é a luz, não existe a possibi-
lidade de surgimento de arcos elétricos quando uma fibra rom-
pe. Mesmo nas condições de ambientes inflamáveis não existe
a possibilidade de incêndio, e nenhum perigo de ocorrência de
choque elétrico nos técnicos que fazem manutenção em uma fibra
rompida.
•  Quando colocados em ambientes externos, os cabos de fibra
óptica não são afetados pelas condições atmosféricas. Eles tam-
bém podem ser diretamente amarrados em cabos elétricos já exis-
tentes, sem problemas de indução de sinais estranhos.
•  O cabo de fibra óptica, mesmo o que contém várias fibras, tem
normalmente menor seção transversal e peso muito inferior ao de
um cabo de fios ou de um cabo coaxial que transportam a mesma
quantidade de informação. Ele é então mais fácil de manusear e
instalar e usa menos espaço em dutos (pode freqüentemente ser
instalado sem dutos).
•  O cabo de fibra óptica é ideal para sistemas que exigem se-
gurança da informação, porque é muito fácil a sua monitoração,
tornando difícil a retirada de luz sem que se perceba. Além do que
não existe nenhuma radiação pela fibra.

Existem dois efeitos que são bastante prejudiciais ao funcionamen-


to de sistemas de comunicações por fibra óptica. São a atenuação e a
dispersão. A atenuação faz com que haja perdas no sinal transmitido,
prejudicando principalmente o alcance do enlace. A dispersão, mais
sentida na transmissão digital, causa o alargamento do pulso durante a
transmissão, o que resulta em Interferência Intersimbólica .

290
10.4.1 Janelas de Transmissão
Como nenhum material é perfeitamente transparente, sempre
ocorre uma absorção parcial de luz quando esta é forçada a atraves-
sar um meio (absorção intrínseca). Numa fibra, além da absorção do
material que compõe seu núcleo, pode haver variações de densidade,
imperfeições na fabricação (absorção por defeitos estruturais), impu-
rezas (absorção extrínseca) e outros fatores que aumentam ainda mais
as perdas por absorção.
Diversas impurezas podem contaminar uma fibra. A principal é
a contaminação por íons hidroxila (OH -), causada por água dissolvi-
da no vidro (também chamada de atenuação por pico de água, Wa-
ter Peak Atenuation, WPA), que, por sua relevância nas tecnologias
pioneiras de fibra óptica, definiram intervalos de freqüências onde
essa atenuação era mínima, as chamadas janelas ópticas ou janelas de
transmissão. As janelas ópticas são as regiões onde não há picos de
atenuação devido ao íon OH.
Existem 3 janelas ópticas, ao redor de 850nm, 1300nm e 1550nm,
Fig.10.5. A primeira é utilizada para sistemas a curta distância, de bai-
xo custo e utilizando fontes e detectores simples. A segunda, por sua
vez, permite enormes capacidades de transmissão, sendo utilizada ge-
ralmente pelas fibras comerciais. Finalmente, a terceira é utilizada por
fibras de sílica, por constituir uma região de atenuação mínima para
esse material. Nessa janela se fabricam fibras de atenuações da ordem
de 0,2dB/km, o que já é praticamente o limite teórico para tal com-
primento de onda. As janelas ópticas podem ser classificadas como:

1ª Janela óptica: λ = 800 a 900nm (2 a 5 dB/km)


2ª Janela óptica: λ =1.300 nm (0,3 a 0,5 dB/km)
3ª Janela óptica: λ = 1550nm (0,18 a 0,25 dB/km)

291
O avanço da tecnologia de fabricação das fibras eliminou a conta-
minação por íons de hidroxila, permitindo a utilização de uma maior
região espectral, conforme ilustrado na Fig.10.5.

Fig.10.5. Perdas por atenuação na fibra óptica em função do


comprimento de onda.

A largura de banda útil de uma fibra pode ser obtida tomando-se


a banda na qual a perda em dB/km está dentro de um fator de 2 de seu
valor mínimo. Em 1,3 µm a banda é de aproximadamente 80 nm e,
em 1,55 µm, a banda é 80 nm. Em termos de freqüência óptica, essas
bandas correspondem à cerca de 35.000 GHz. Esta é uma largura de
banda extremamente grande, considerando que a taxa de bits necessá-
ria para diversas aplicações é de algumas dezenas de Mbps.

292
10.4.2 Dispersão
Quando os enlacem envolvem longas distâncias e altas taxas de
bits, o fenômeno da dispersão torna-se um fator limitante importante.
Dispersão refere-se ao fenômeno em que diferentes componentes de
freqüência do sinal caminham com diferentes velocidades no meio de
transmissão, o que ocasiona a chegada delas à outra extremidade es-
palhadas em relação ao tempo. A dispersão é a principal responsável
pela limitação da largura de banda do sinal transmitido. A dispersão
causa em sinais digitais, um alargamento temporal do sinal óptico, o
que resulta na superposição de diversos pulsos do sinal, Fig.10.6.

Fig. 10.6 Interferência Intersimbólica causada pelo efeito de


dispersão na fibra

10.4.3 Propagação da luz na fibra


Pode-se obter um entendimento simplificado da propagação da luz
na fibra por meio da óptica geométrica ou teoria dos raios. Na técnica
da óptica geométrica, a luz pode ser considerada como consistindo de
raios que se propagam em linhas retas dentro do material (ou meio),
sofrendo reflexão e(ou) refração na interface entre dois materiais. A

293
Fig.10.7 mostra a interface entre dois meios com índices de refração n1
e n2. Um raio de luz do meio 1 incide na interface entre os meios 1 e 2.
O ângulo de incidência θ1 é o ângulo entre o raio incidente e a normal
à interface entre os dois meios. Parte da energia é refletida para o meio
1, como raio refletido, e a energia restante (desprezando-se absorção)
passa para o meio 2, como raio transmitido. Existe um ângulo de inci-
dência que a reflexão é total, não havendo luz transmiida
Então, do ponto de vista da óptica geométrica, a luz se propaga na
fibra devido a uma série de reflexões internas totais que ocorrem na
interface núcleo-casca, Fig.10.8(a). Como diferentes raios percorrem
diferentes distâncias ao longo da fibra, a energia contida em um pulso
estreito (no tempo), no início da fibra, será espalhada sobre um inter-
valo de tempo maior, no final da fibra. Esse espalhamento no tempo,
que é chamado de dispersão modal, é obtido tomando-se a diferença
no tempo entre os raios que percorrem a maior e a menor distância. A
dispersão modal pode ser significativamente reduzida usando-se fibras
de índice gradual, Fig.10.8(b). Na fibra de índice gradual o núcleo não
possui índice de refração constante, mas este aumenta progressiva-
mente do eixo central até as bordas. Dessa forma, ocorre uma refração
gradual à medida que os raios se aproximam das bordas. Essa fibra
foi projetada para adequar-se às aplicações em sistemas de telecomu-
nicações. O raio do núcleo é menor do que nas fibras multimodo de
índice degrau o que diminui a quantidade de modos possíveis Possui
complexidade média de fabricação, mas que ainda mantém uma certa
facilidade de conexão e tem uma capacidade de transmissão adequada
às aplicações que se propõe, mas ainda não pode ser usada em longas
distâncias.

294
Fig. 10.7 Reflexão e refração da luz na interface entre dois meios.

Fig. 10.8. Fibras multimodo. a) índice degrau. b) índice gradual.

Para eliminar por completo os efeitos da dispersão modal utili-


zam-se as fibras chamadas de monomodo. Ele é caracterizado por um
núcleo finíssimo (de apenas alguns micrômetros) por onde há apenas
um único caminho para a luz, ou seja, apenas um modo, Fig. 10.9.
Como as dimensões dos cabos são próximas aos comprimentos da
luz incidente, a óptica geométrica não consegue explicar o que ocorre
nas fibras monomodo, e, portanto, para os cálculos nesse tipo de fibra,
deve-se tratar a luz como onda eletromagnética, e não mais como par-
tícula.

295
Fig. 10.9 Efeito da dispersão nas fibras multímodo e monomodo

A Fig. 10.10 mostra um corte longitudinal de uma fibra óptica. É


importante ressaltar que a luz deve ser inserida na fibra óptica lon-
gitudinalmente e deve respeitar um ângulo máximo de entrada para
continuar sob a condição de reflexão interna total na interface núcleo-
casca. Um valor típico para este ângulo é 12º. O ângulo máximo de-
fine, na verdade, um cone espacial chamado de cone de aceitação. O
seno do ângulo máximo de entrada é referido como abertura numé-
rica (NA, Numerical Aperture) e é freqüentemente encontrado nas
especificações técnicas das fibras ópticas comerciais.

Fig.10.10 - Estrutura de uma fibra óptica comum com seu cone de


aceitação.

296
10.5 Transmissor óptico

Os transmissores ópticos são compostos de uma fonte de luz, um


modulador e um acoplador, Fig.10.11. O modulador realiza a função
de inserir a informação no sinal óptico, a partir do sinal elétrico de
entrada. O sinal óptico pode ser modulado diretamente pela variação
da corrente elétrica, ou externamente, nos casos de sistemas em altas
taxas de dados. O acoplador é uma micro-lente que focaliza o sinal
óptico no plano de entrada da fibra óptica com a máxima eficiência
possível, Fig. 10.12

Fig. 10.11. Transmissor óptico.

Fig.10.12 A acoplamento fonte óptica-fibra óptica.

297
As fontes de luz podem ser entendidas com transdutores que a
partir de elétrons produzem fótons. Os elétrons são responsáveis por
correntes elétricas enquanto os fotons produzem luz. Segundo Eins-
tein, um feixe de luz monocromático de freqüência f é formado por
um enxame de fótons, que andam juntos na mesma direção e ordena-
damente. Quando isto acontece a luz é chamada de coerente. Quando
os fótons têm freqüências diferentes e não caminham na mesma dire-
ção a luz é não coerente. A Fig.10.13 ilustra o conceito de Luz coerente
e não coerente.

Fig.10.13 Luz Não Coerente e Coerente

Existem basicamente dois tipos de fontes de luz: o LED (Light


Emitting Diode), e o LASER (Light Amplification by Stimulated
Emission of Radiation) No LED a luz produzida é não coerente no
LASER a luz é coerente porém não é monocromática.

10.5.1 Diodos eletroluminescentes


As fontes de luz mais comuns para os sistemas de comunicação
por fibra óptica são os LEDs. Sua operação é como a operação básica
de um diodo comum. O LED é uma fonte de luz não coerente.
Os comprimentos de onda mais usados em aplicações de fibra
óptica são de 820 e 850 nm. Em temperatura ambiente, a largura de

298
banda típica de 3dB de um LED de 820 nm é de 40 nm, aproximada-
mente, Fig.10.14. A potência de luz de um LED é, aproximadamen-
te, proporcional à injeção de corrente. Os LED’s são mais simples,
baratos e confiáveis, mas possuem espectro mais largo de luz gerada
com uma emissão incoerente, pior eficiência de acoplamento de luz
na fibra e limitações na velocidade de modulação.
Por isso, os LED’s são usados principalmente em sistemas de me-
nor capacidade de transmissão, geralmente na primeira e segunda ja-
nelas ópticas.

Fig. 10.14 Espectro de emissão típico de LEDs.

10.5.2 Diodo Laser


A potência típica máxima de saída dos LEDs é muito baixa para
transmissão em longas distâncias. Eles também são limitados em ter-
mos de taxa de modulação. Por sua vez, os lasers possuem uma po-
tência de saída bem superior aos LEDs e podem operar em taxas da
ordem 10 Gbps a 15 Gbps, sendo limitados apenas pelos dispositivos
eletrônicos. Portanto, os lasers são fontes de luz mais indicadas para
sistema de comunicação óptico.
Os lasers utilizados na operação de redes de comunicação devem
ter uma largura de banda espectral estreita, resposta rápida e ser capaz
de acoplar uma quantidade significativa de potência óptica em uma
fibra. Os lasers são dispositivos relativamente caros, pois, em aplica-
ções de longa distância, são necessários controles de temperatura e de
potência de saída.

299
Existem dois tipos de Diodos Laser, multímodo e o monomodo,
Fig. 10.15. O Laser de Fabry-Perot (Laser multimodal), o espectro de
emissão é constituído por vários modos de oscilação longitudinais. Os
valores típicos da largura espectral a meia potência são 2 nm - 5 nm.
O Laser monomodal, laser DFB (distributed feedback).tem um prin-
cipio de funcionamento semelhante ao laser de FP, mas possui um
mecanismo conhecido por grelha de Bragg que filtra todos os modos
longitudinais excetuando o central.

Fig.10.15 Diodos Laser Multimodal e Monomodal.

10.5.3 Comparação entre LEDs e LASERs


Embora alguns tipos de lasers possam ser considerados monomo-
dais, a maioria das fontes ópticas (LED’s e LD’s) não é monocromática,
i.e. não emite um comprimento de onda , e sim uma largura espectral.

300
A largura espectral pode ser definida com largura de banda, em com-
primento de onda, para a qual o valor da potência decresce para me-
tade do seu valor máximo. A Fig. 10.16 compara a largura espectral de
um LED e um LASER ambos centrados em 820nm.

Fig.10.16 Largura espectral de fontes ópticas

As vantagens dos Diodos LASERs em relação aos LEDs são:


•  Maior potência de emissão (1-5 mW vs 10-100mW), Fig. 10.17.
•  Menor largura espectral (40 nm vs 5 nm.) Com LD’s monomo-
do consegue-se 0, 2 nm, Fig.10.18
•  Maior directividade (eficiência de acoplamento de »50% para as
fibras monomodais vs <1% com LED’s para essas fibras)

Em contra partida os diodos lasers apresentam


•  Custo de fabricação elevado (sendo os monomodo mais caros)
•  Dependência da temperatura
•  Complexidade do circuito de alimentação

301
Fig.10.17 Potência óptica: LED VS LASER

Fig.10.18 Largura Espectral: LED VS LASER

A Tabela 10.1 apresenta uma comparação entre as principais ca-


racterísticas do LED e LASER.

302
Tabela 10.1 - Comparação entre as principais características do LED
e LASER.

10.6 Receptores ópticos

Os receptores ópticos são compostos de um acoplador, um foto-


detector e um demodulador, Fig.10.19. O acoplador focaliza o sinal
óptico recebido para a entrada do fotodetector. Os fotodetectores uti-
lizados em sistemas de comunicação são fotodiodos semicondutores
devido à sua compatibilidade com as fibras ópticas. Freqüentemente,
o sinal recebido está na forma de pulsos ópticos representando os bits
0 e 1. No processo denominado detecção direta, o sinal recebido é
convertido diretamente em corrente elétrica. A demodulação é rea-
lizada por um circuito de decisão que identifica os bits como 0 ou
1, dependendo da amplitude da corrente elétrica. O receptor óptico
possui um papel importante no desempenho do sistema de transmis-
são, caracterizado pela taxa de bits errados (BER) detectados pelo re-
ceptor. Apesar de a BER ser definida como um erro cometido dentro
de determinada quantidade de bits transmitidos, ela é dependente
da taxa de bits. Uma BER de 10−6 corresponde, em média, a um bit
errado a cada milhão de bits transmitidos. A maioria dos sistemas de
303
comunicação especifica uma BER ≤ 10−9 como requisito de operação,
sendo que alguns ainda requerem uma BER tão pequena quanto 10−14.

Fig. 10.19 Receptor óptico.

A sensibilidade é um dos parâmetros utilizados para se medir o


desempenho de um receptor óptico. É usualmente definido como a
potência óptica média mínima que deve ser recebida no receptor óp-
tico para se garantir uma BER especificada.
Os fotodiodos são os fotodetectores utilizados em aplicações de
comunicação. Esses dispositivos convertem a luz diretamente em cor-
rente elétrica. Um diodo ideal pode converter um fóton em um elé-
tron, sendo que a corrente de saída resultante é muito pequena e, em
geral, um estágio de amplificação é necessário antes de o sinal ser pro-
cessado pelo receptor. Os dois principais tipos de fotodetectores são os
diodos PIN e os fotodiodos avalanche (APD), ambos são construídos
com materiais semicondutores. A Tabela 10.2 apresenta uma compa-
ração entre as principais parâmetros dos fotodetetores PIN e APD.
Tabela 10.2 - Comparação entre os fotodetetores PIN e APD.

10.7 Dispositivos e componentes ópticos


304
Além das fontes e dos detectores de luz, existem muitos outros
dispositivos e componentes que realizam funções importantes em um
sistema de comunicação óptico. Alguns deles são descritos a seguir.

10.7.1 Regeneradores
Uma grande preocupação em comunicações ópticas sempre foi
a questão da atenuação dos sinais ao longo de uma fibra óptica.. A
primeira solução para esse problema veio com a utilização dos regene-
radores elétricos. O sinal óptico, ao chegar nesses regeneradores, era
convertido em sinal elétrico, redigitalizado, e convertido, novamente,
em sinal óptico para ser transmitido.
Os regeneradores são receptores que reconstroem, temporizam,
e amplificam determinado fluxo de bits para transmissão, Fig.10.20.
Com isso, é removida qualquer dispersão e ruído do sinal. Por exe-
cutar os processamentos de reamplificação, reconstrução e retempo-
rização, os são denominados dispositivos 3Rs.. Os regeneradores são
projetados especificamente para o comprimento de onda, o protoco-
lo, e a velocidade de sinal transmitido. Para transmitir os diferentes
comprimentos de onda em uma mesma fibra com regeneradores, os
comprimentos de onda precisam ser separados em cada repetidor, re-
petidos separadamente e, finalmente, multiplexados. Esse processo é
mecanicamente complexo e requer um repetidor separado para cada
comprimento de onda.

Fig. 10.20. Regenerador óptico.

10.7.2 Amplificadores ópticos

305
Em enlaces atendidos por fibras com grande extensão, o uso de
amplificadores e regeneradores garante a manutenção da integridade
dos sinais ópticos. O amplificador óptico é um dispositivo que amplifi-
ca diretamente o sinal de luz, sem a necessidade de conversão óptico-
elétrico-óptico (OEO), o que diminui a probabilidade de ocorrência
de erro.
Os amplificadores ópticos surgiram na década de 90. O uso des-
tes amplificadores permitiu uma grande revolução nas comunicações
ópticas. O principal tipo de amplificador óptico atualmente usado é o
amplificador com fibra dopada com érbio. Este tipo de amplificador
atua na região de 1530nm a 1560nm.
Os amplificadores ópticos a fibra dopada de érbio (AFDE) funcio-
nam da seguinte maneira. Através de um laser externo, denominado
Laser de bombeio, um sinal óptico em um determinado comprimento
de onda é inserido na fibra. O érbio tem a propriedade de quando
excitado em determinados comprimentos de onda absorver a energia
inserida. A energia inserida é novamente liberada em forma de luz no
comprimento de onda de 1550nm. Este mecanismo permite a trans-
ferência de potência óptica para o comprimento de onda do enlace
reforçando o sinal óptico em transmissão, Fig. 10.21.

Fig.10.21 Amplificador Óptico a fibra dopada de érbio (AFDE)

O uso dos Amplicadores Ópticos resolve o problema dos enlaces


limitados por atenuação. No caso do enlace ser limitado por dispersão

306
faz-se necessário a utilização de regeneradores.
Pode-se usar o Amplificador em diferentes situação. A Fig.10.22
mostra vários amplificadores ópticos colocados em cascata, como am-
plificadores de linha, para compensar a atenuação da fibra óptica em
sistemas limitados pela atenuação, permitindo aumentar a distância
entre regeneradores. É também freqüente utilizar o Amplificador Óp-
tico como, (Fig.10.23):
Pré-amplificador - usado para amplificar um sinal fraco antes da
fotodetecção, permitindo mitigar o efeito do ruído de origem térmica
originado no receptor e melhorar a relação sinal-ruído.
Amplificador de potência (Pós-amplificador) - é colocado logo
a seguir à fonte óptica de modo a aumentar a potência transmitida,
e deste modo aumentar a distância de transmissão. Conjugando um
amplificador de potência com um pré-amplificador é possível atingir
distâncias entre 200 e 250 km em sistemas limitados pela atenuação.
Amplificador de compensação - usado para compensar as per-
das devidas à derivação de potência.

Fig. 10.22. Utilização do amplificador óptico como Amplificador de


Linha.

307
Fig10.23 Aplicações do Amplificador óptico

10.7.3. Acopladores
Em diversas situações em um sistema de comunicações é necessá-
ria a conexão de muitos terminais. Por exemplo, no caso de uma rede
local em anel, em cada ponto em que um dispositivo é conectado à
rede, o sinal precisa ser dividido em uma parte que é entregue ao dis-
positivo e outra que deve continuar ao longo da rede. Uma outra apli-
cação dos acopladores é como separadores ou combinadores em um
sistema WDM (multiplexação por divisão de comprimento de onda).
Pode-se através de uma acoplador combinar sinais gerados em diferen-
tes comprimentos de onda e transmiti-los em um mesmo canal (fibra).
Os acopladores sensíveis ao comprimento de onda são chamados
de acopladores WDM, enquanto os acopladores destinados apenas a
divisão de potência em um mesmo comprimento de onda recebem o
nome de splitter, Fig10.24.

308
Fig. 10.24 Acopladores ópticos

10.7.4. Multiplexadores WDM


O multiplexador de comprimento de onda (MUX) combina si-
nais de entrada de diferentes comprimentos de ondas vindo de múl-
tiplas fibras em um único feixe trafegando em apenas uma fibra. O
Demultiplexador realiza a função de separar o feixe recebido em suas
componentes de comprimento de onda e acoplá-los em fibras indivi-
duais. Fig.10.25.
O MUX fornece n entradas óticas. Cada entrada é equipada com
um filtro seletivo para certo comprimento de onda. As saídas destes
filtros são acopladas em uma fibra monomodo. No receptor, os com-
primentos de onda são separados de novo por um DEMUX. Mux e
Demux são componentes idênticos, a única diferença é que eles são
colocados em direções opostas.

Fig.10.25 MUX e DEMUX de comprimentos de onda

309
10.8 Sistemas WDM

Existem diversos tipos de WDM, sendo que sua classificação é


dada basicamente pela distância entre cada um dos comprimentos de
onda multiplexados. Os dois tipos principais de WDM são o CWDM
(Course Wavelength-Division Multiplexing) , e o DWDM ( Dense Wa-
velength-Division Multiplexing ), mas não há uma separação muito
clara entre eles, pois tais determinações (denso ou esparso) são quali-
tativas, e o que pode ser considerado como denso por alguns pode ser
esparso para outros, [2].
A grande vantagem associada ao WDM é a possibilidade de se
modular o aumento da capacidade de transmissão conforme o merca-
do e de acordo com a necessidade de tráfego. A principal razão para
a utilização destes sistemas é o baixo custo. Estes sistemas possibilitam
o alcance de uma melhor relação entre custos e bits transmitidos, sob
determinadas condições.

10.8.1 Evolução dos Sistemas WDM


Os primeiros sistemas utilizando mais de um comprimento de
onda, conhecidos WDM de primeira geração, surgiram no intuito de
dobrar a capacidade da fibra ótica, colocando dois comprimentos de
onda na mesma fibra. A princípio, utilizou-se a 2a janela nos sistemas
que já operavam na 1a janela. Posteriormente, com o desenvolvimen-
to de lasers operando na 3a janela, surgiram também sistemas operan-
do simultaneamente na 2a e 3a janela.
Desse modo, possibilitou-se a transmissão de dois canais unidire-
cionais na mesma fibra. Onde havia um par de fibras para comunica-
ção bidirecional, pôde-se colocar 2 canais bidirecionais.
No início dos anos 80 já estavam sendo comercializados sistemas
de 4 canais separados por 25nm na 1a janela, mas eram, por falta de
padrões, chamados simplesmente de sistemas WDM.

310
No começo dos anos 90 surgiu uma nova geração algumas vezes
chamada de WDM banda estreita (narrowband WDM) com até 8 ca-
nais espaçados de 400GHz (3.2nm), somente usando a 3ª janela. Em
meados dos anos 90 surgiu a denominação DWDM (Dense WDM),
que utilizava espaçamento entre canais de 100 ou 200GHz. e conse-
qüentemente maior número de canais, de 16 a 40, ainda na mesma
banda. Atualmente é possível trabalhar com espaçamento entre canais
de 50 GHz o que permite 80 canais por fibra.
Essa tecnologia centrada na terceira janela foi a preferida para apli-
cações de longa distância (long haul), devido a existências de fibras de
baixa atenuação, e a disponibilidade dos então novos EFDAs operan-
do nessa banda. O DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexing
- multiplexação densa por comprimento de onda) é uma tecnologia
WDM. A evolução da tecnologia DWDM é mostrada na Fig. 10.26.

Fig.10.26 Evolução da tecnologia DWDM

311
Segundo a ITU (International Telecommunications Union), os sis-
temas DWDM podem combinar até 64 canais em uma única fibra. Se
considerarmos a hipótese de que é possível transmitir até 40Gbps por
comprimento de onda, teríamos um sistema com uma capacidade de
transmissão de 2560Gbps, Fig.10.27. Um sistema DWDM capaz de
multiplexar 40 comprimentos de onda a 10 Gb/s por canal, possui
uma banda total de 400 Gb/s, o que é suficiente para transportar em
uma única fibra o conteúdo equivalente a mais que 1100 volumes de
uma enciclopédia em 1s.

Fig.10.27 Capacidade de transmissão em uma única fibra utilizando


DWDM

10.8.2 Padronização de Canais do Sistema WDM


O rápido desenvolvimento de sistemas DWDM em torno da 3ª
janela, compreendida entre 1530 nm e 1565 nm levou a ITU-T pa-
dronizar o número de comprimentos de onda possíveis de trafegar
em uma fibra. O critério adotado depende da taxa de transmissão
transportada. Dependendo da taxa de bits dos sinais ópticos, um espa-
çamento de canal mínimo é exigido para se certificar de que todos os
canais podem ser devidamente demultiplexedos após a transmissão.
Como regra geral, quanto maior a taxa de bits, maior é o espaçamento
de canais necessários.

312
Para um melhor aproveitamento, da região do espectro com
baixos coeficientes de atenuação, foi acrescentada uma 4ª Janela de
1565nm a 1625nm, chamada de Banda L
Para essas regiões do espectro a ITU-T G.694.1 definiu várias gra-
des de comprimento de onda com espaçamento de canal de 50 GHz,
100 GHz, 200GHz respectivamente, Fig. . A taxa de transmissão usu-
almente utilizada em redes de transporte DWDM é de 10 Gbps em
um canal de espaçamento de 50 GHz. Redes de transmissão com ta-
xas maiores como, por exemplo, 40 Gbps exigem um espaçamento de
canais de 100 GHz.

Fig.10.21 Canalização DWDM definida pela ITU.

Posteriormente a ITU normatizou uma divisão em Bandas para


todo o Espectro Fotônico, conforme é apresentado na Tabela 10.3
Tabela 10.3 Bandas Ópticas

313
O surgimento das fibras Low Water Peak (LWP - G.652D ITU-T):
onde os processos industriais de produção levaram a eliminação dos
picos de atenuação, permitiu que a faixa de 1400 nm (banda E) fosse
utilizada para tráfego de sistemas ópticos. Como conseqüência tive-
mos a ampliação dos Sistemas WDM não só em número de canais e
Taxa de Transmissão, mas também no numero de Bandas, Fig.10.29.
A ITU por meio da recomendação ITU-T G.694.2 estabeleceu uma
tabela de comprimentos de onda.com espaçamento de 20 nm entre
os canais, que divide todo o espectro fotônico em 18 canais, Fig.10.30.
Essa padronização é propícia para os Sistemas CWDM.

Fig. 10.29. Canais ópticos padronizados pela ITU.

Fig.10.30. Canalização para o Sistema CWDM definida pela ITU

314
10.8.2 Sistemas DWDM
O DWDM é a chave tecnológica para integração das redes de
dados, voz e imagem de altíssima capacidade. Além de ampliar ex-
ponencialmente a capacidade disponível na fibra, o DWDM possui
a vantagem de não necessitar de equipamentos finais para ser imple-
mentado.
Os sinais a serem transmitidos nos diferentes comprimentos de
onda podem possuir formatos e taxas de bit diferentes, o que promove
uma maior transparência aos sistemas de transporte. Cada sinal pode
ser formado por fontes de dados (texto, voz, vídeo, etc.) diferentes e
é transmitido dentro de seu próprio comprimento de onda. Assim, o
DWDM carrega os sinais de maneira independente uns dos outros,
significando que cada canal possui sua própria banda dedicada.

Fig. 10.31 Sistema típico DWDM

A grande vantagem associada ao DWDM é a possibilidade de se


modular o aumento da capacidade de transmissão conforme o merca-
do e de acordo com a necessidade de tráfego. A principal razão para
a utilização destes sistemas é o baixo custo. Estes sistemas possibilitam
o alcance de uma melhor relação entre custos e bits transmitidos, sob
determinadas condições. Em aplicações de longas distâncias, o siste-
ma DWDM se torna mais barato, pois um mesmo regenerador óptico
é utilizado para um grupo de canais, o que reduz o número de rege-
neradores e fibras utilizados. Por exemplo, para transmitir 20 Gbps
sobre 360 kms usando o sistema tradicional, são necessários 8 pares de

315
fibra cada uma transportando 2,5 Gbps, com regeneradores colocados
a cada 40 kms perfazendo um total de 64 regeneradores. Em contra
partida, é possível para transmitir a mesma quantidade de informação
em um sistema DWDM em uma única fibra com 8 canais com apenas
4 amplificadores posicionados a cada 120 kms, Fig.10.32.

Fig.10.32 Comparação entre o sistema óptico tradicional e o DWDM

10.8.3. Sistemas CWDM,[2]


O CWDM (Coarse WDM ou WDM Esparso) é uma tecnlogia
WDM de baixa densidade e seu princípio de funcionamento é o mes-
mo do WDM. Nesta técnica, a informação é agrupada em até 18 ca-
nais entre os comprimentos de onda de 1270 nm e 1610 nm, onde a
distância entre os canais é de 20 nm (3000 GHz).
Esse sistema exige menos controle do comprimento de onda e
possui elevada qualidade de serviço. Além disso, desnecessária a pre-
sença de amplificadores ópticos. Isso faz com que seja preferível o uso
do CWDM em redes metro, devido a seu custo acessível.
Outra característica dos sistemas CWDM é que estes possuem
flexibilidade suficiente para serem empregados em conexões ponto-
a-ponto. A taxa de transmissão suportada é de 1.25 Gbps, cobrindo
distâncias de até 40 km.

316
10.8.4 CWDM x DWDM
O CWDM e o DWDM, por serem tecnologias WDM, ambos
apresentam o mesmo princípio de funcionamento de combinar vários
comprimentos de onda em uma única fibra, de forma a aumentar sua
capacidade.
O DWDM surgiu bem antes do CWDM, que só apareceu depois
que o mercado das telecomunicações em expansão colocou os preços
dos componentes em níveis razoáveis.
O CWDM tem como principal característica a utilização de ca-
nais com grande espaçamento entre eles. Já o DWDM encaixa mais
de 40 canais na mesma faixa de freqüência utilizada para dois canais
de CWDM, Fig. 10.33.

Fig. 10.24 Compatibilidade entre DWDM e CWDM

Uma outra característica é que o CWDM é definida por compri-


mentos de onda, enquanto o. DWDM é definido em termos de fre-
qüências. Outras diferenças básicas são apresentadas na Tabela 10.4,
[2].

317
Tabela 10.4 Diferenças básicas entre CWDM e DWDM
Características CWDM DWDM
Número de comprimentos de onda que 18 64
podem ser combinados em uma única fibra
Faixa de comprimento de onda 1270 nm a 1610 nm 1492.25 nm a
1611.79 nm
Espaçamento entre canais 20 nm 100 GHz (0.8 nm)
Bandas ópticas utilizadas O, E e C S, C e L
Áreas de aplicações Redes Metropolitanas Aplicações ponto-a-
ponto
Densidade, devido ao espaçamento entre Baixa Alta
os canais

Geralmente, o DWDM é a melhor escolha para aplicações onde


a densidade dos canais ou a largura de banda são prioritárias. O
CWDM, por sua vez, é uma excelente opção onde os gastos devem ser
considerados. Há uma estimativa de que o emprego do CWDM pode
economizar em até 30% dos gastos se comparado com o DWDM.

10.9 Aplicações

As fibras ópticas são aplicadas a vários sistemas de comunicação,


tais como:
Rede Telefônica: serviços de tronco de telefonia, interligando centrais
de tráfego interurbano e interligação de centrais telefônicas urbanas.
Cabos Submarinos: sistemas de transmissão em cabos submarinos.
Televisão por Cabo (CATV): transmissão de sinais de vídeo através
de fibas ópticas.
Sistema de Energia e Transporte: distribuição de energia elétrica e
sistema de transmissão ferroviário.
Redes Locais de Computadores: aplicações em sistemas de longa
distância e locais. Na busca de padrões a fim de facilitar a conectividade
e minimizar os custos de aquisição e implantação com fibras ópticas.

318
Referencias

[1] Sistemas DWDM: Visão Sistêmica Atual, Jair Lisboa dos Santos,
http://www.teleco.com.br, acessado em 03/02/2010
[2] Sistemas de Comunicações Ópticas, Prof. Dr. Carmelo J. A. Bastos
Filho Escola Politécnica de Pernambuco - UPE
[3 ] Fibras ópticas e WDM , Rafael José Gonçalves Pereira , http://www.
gta.ufrj.br/grad/08_1/wdm1/index.html, acessado em 02/02/2010

319
11
RADIODIFUSÃO SONORA
Prof. Lúcio Martins da Silva

11.1 Introdução

Legalmente, radiodifusão é o serviço de telecomunicações que


permite a transmissão de sons (radiodifusão sonora) ou a transmissão
de sons e imagens (televisão), destinada a ser direta e livremente re-
cebida pelo público. Os serviços de radiodifusão têm finalidade edu-
cativa e cultural, mesmo em seus aspectos informativo e recreativo, e
são considerados de interesse nacional, sendo permitida a exploração
comercial dos mesmos, apenas na medida em que não prejudique esse
interesse e aquela finalidade. [Decreto nº 52.795 de outubro de 1963
— Regulamento dos Serviços de Radiodifusão — texto atualizado]. A
transmissão se dá por meio de ondas eletromagnéticas radiadas pela
antena de uma estação transmissora para serem recebidas por recepto-
res localizados na chamada área de cobertura da estação transmissora.
A Figura 11.1 mostra um diagrama esquemático de um sistema
de radiodifusão sonora. Primeiramente, a voz do locutor, as músicas
e outros sons são transformados em um sinal elétrico por meio de um
microfone — transdutor que converte onda acústica (som) em sinal
elétrico. Em seguida, esse sinal elétrico modula (isto é, modifica) um
outro sinal elétrico denominado portadora de radiofrequência (RF).
O sinal resultante, denominado sinal modulado, é, então, aplicado a
uma antena transmissora, que converte o sinal elétrico em onda ele-
tromagnética e a radia na atmosfera terrestre. O rádio (receptor) pos-
sui também uma antena (receptora) que faz a conversão inversa: isto
é, converte onda eletromagnética em um sinal elétrico de RF. O rádio

321
extrai, então, o sinal de banda básica (nesse caso, o áudio) do sinal
elétrico de RF recebido — esse processo de extração é denominado
demodulação. Por último, um alto-falante converte o sinal elétrico de
banda básica numa onda acústica (som).
A frequência da portadora de RF identifica a emissora de rádio e,
por isso, numa mesma região, cada emissora de rádio utiliza uma por-
tadora de frequência diferente. Assim, quando se diz que a emissora A
transmite na frequência de 96,1 MHz, essa é a frequência da portadora
que ela utiliza. A portadora, após ser convertida em onda eletromag-
nética, transporta a informação (nesse caso, o som) através do meio de
transmissão (atmosfera) até os receptores. O processo de transferência
da informação para a portadora é denominado modulação e existem
várias técnicas de modulação. A radiodifusão sonora analógica utiliza
a modulação de amplitude (em inglês, amplitude modulation – AM)
ou a modulação de frequência (em inglês, frequency modulation –
FM). Uma ilustração dessas modulações é mostrada na Figura 1.2.
Na primeira, o sinal modulante (sinal elétrico que representa o som)
modifica a amplitude da portadora e, na segunda, sua frequência que
é modificada — veja a Figura 11.2. Pode-se considerar que a modula-
ção translada espectralmente a informação (o som) para uma faixa
de frequência em torno da frequência da portadora — veja ilustração
mostrada na Figura 11.3. Dessa forma, escolhendo adequadamente as
frequências das portadoras, os sinais de várias emissoras podem ser
transmitidos simultaneamente em faixas de frequência diferentes, sem
se interferir mutuamente.
Alguns países já estão utilizando a radiodifusão sonora digital, o
que deverá ocorrer em breve também com o Brasil. Um sistema de
radiodifusão pode ser dividido em três partes: estúdio, transmissor e
receptores. Nos sistemas analógicos, o som é mantido na forma analó-
gica em todas as três partes. Os atuais sistemas de radiodifusão sonora
são, na realidade, híbridos, uma vez que seus estúdios são, geralmen-
te, digitais — veja Figura 11.4. Isto é, atualmente no estúdio de uma
emissora de rádio, os sons a serem transmitidos estão gravados em
formato digital em um compact disk (CD) ou no disco rígido de um

322
computador. Contudo, como o transmissor e os receptores são analó-
gicos, esses sons precisam ser convertidos para o formato analógico
para serem transmitidos e posteriormente recebidos. Em um sistema
de radiodifusão sonora digital, todas as três partes são digitais — veja
Figura 1.4. Nesse caso, os sons são transmitidos no formato digital e
somente no receptor haverá a conversão para o formato analógico —
essa conversão é necessária porque esse é formato que gera o som que
o ser humano escuta e compreende. Uma das principais vantagens do
sistema digital é a melhor qualidade do som tocado pelo receptor.
Sinal modulado
(sinal elétrico de RF)

Onda
eletromagnética

Onda acústica
(áudio) Sinal elétrico de banda básica

Transmissor
(modulador/
amplificador)
Microfone Antena
(transdutor) Portadora de RF transmissora
(transdutor)

Oscilador
Onda
(a)) eletromagnética
Onda acústica
(áudio) Sinal elétrico de banda básica
Sinal elétrico de RF

Receptor
(demodulador/
amplificador)
Alto-falante
(transdutor) Antena
receptora
(transdutor)
(b))

Figura 11.1 – Diagrama esquemático da radiodifusão sonora: (a)


transmissor; (b) receptor. (RF: radiofrequência.)

323
Sinal modulante Sinal
(sinal de informação) modulado
Modulador

Portadora

Sinal modulante
(informação)

Portadora

Sinal AM

Sinal FM

Tempo

Figura 11.2 – Ilustração mostrando a modulação de amplitude (ou


AM) e a modulação de frequência (ou FM).

FM
AM
AM
AM
Modulaç
Modulação

Faixa de áudio Onda Onda Onda


VHF
(banda básica) média tropical curta

0 20 525 1.705 2.300 5.060 5.900 26.100 87.400 108.000


Freqüência (kHz)

Figura 11.3 – Ação trasladadora da modulação.

Sistemas Sistemas Sistemas


analógicos híbridos digitais
Estúdio analógico Estúdio digital Estúdio digital
Transmissor analógico Transmissor analógico Transmissor digital
Receptores analógicos Receptores analógicos Receptores digitais

Figura 11.4 – Sistemas de radiodifusão sonora analógicos, híbridos e


digitais.

324
11.2 Uma breve história do rádio

A invenção do rádio, assim como muitas outras grandes inven-


ções, é baseada em trabalhos e descobertas de um número grande
de pessoas, desenvolvidos durante um longo tempo e alguns deles de
forma simultânea e independente [1][2]. Assim, não é possível atribuir
a invenção do rádio a uma única pessoa. A seguir, são citados alguns
nomes e fatos relacionados com a invenção e a história do rádio, mas
apenas com o intuito de dar uma idéia aproximada de quando tais
fatos ocorreram e algumas das pessoas envolvidas.
O rádio é um sistema de comunicação sem fio por meio de ondas
eletromagnéticas. A existência dessas ondas foi prevista matematica-
mente na década de 1860 pelo físico escocês James Clerk Maxwell,
cujo trabalho teórico foi inspirado em trabalhos experimentais ante-
riores de Joseph Henry, Michael Faraday e outros cientistas. Entre
1886 e 1888, o físico alemão Heinrich Rudoloh Hertz demonstrou a
transmissão e recepção das ondas eletromagnéticas previstas por Ma-
xwell e, assim, foi uma das primeiras pessoas a transmitir e receber
intencionalmente essas ondas. Contudo, Hertz não desenvolveu ou
propôs o uso prático dessas ondas na comunicação sem fio.
Guglielmo Marconi, um inventor italiano, foi um dos primeiros
a provar a viabilidade da radiocomunicação. Ele realizou em 1895,
na Itália, sua primeira transmissão e recepção de um sinal de rádio,
cobrindo uma distância de uma milha (1,6 km). Em 1899, ele fez
transmissões sem fio do código Morse através do Canal da Mancha.
Em 1901, ele conseguiu que sinais radiotelegráficos (a letra “S” em
código Morse) emitidos da Inglaterra fossem recebidos no Canadá,
atravessando o Atlântico Norte. Marconi fez muitas descobertas em
tecnologias do rádio, recebendo por isso o prêmio Nobel de física em
1909, juntamente com Karl Ferdinand Braun. Em 1912, a companhia
de Marconi já produzia aparelhos de rádio em larga escala, especial-
mente para navios.

325
Contudo, Nikola Tesla é atualmente creditado como sendo a pri-
meira pessoa a patentear nos EUA a tecnologia do rádio. A Suprema
Corte dos EUA determinou em 1943 a prevalência da patente de Tesla
sobre a de Marconi. Tesla iniciou sua pesquisa em rádio em 1891. Em
1893, em St. Louis, Missouri, Tesla deu uma demonstração pública da
radiocomunicação.
Entre 1893 e 1894, Roberto Landell de Moura, um padre e cientis-
ta brasileiro, também realizou experimentos com transmissões sem fio
por meio de ondas eletromagnéticas. Contudo, ele somente publicou
suas descobertas em 1900, quando ele fez uma demonstração pública de
uma transmissão sem fio de voz na cidade de São Paulo, em 3 de junho.
A radiofonia, transmissão de sons por meio de ondas eletromag-
néticas, se tornou realmente viável a partir de 1906, quando o ame-
ricano Lee DeForest inventou a válvula triodo. Com esse dispositivo
pode-se amplificar os sinais de rádio recebidos pela antena e, assim,
sinais muito mais fracos puderam ser recebidos. A válvula triodo tam-
bém foi usada para gerar as ondas de rádio e dessa forma se tornou
o principal componente dos transmissores e receptores de rádio. De-
Forest foi quem primeiro usou a palavra “rádio”. Um dos resultados
de seu trabalho foi a invenção da modulação de amplitude e, conse-
quentemente, do rádio AM, que permitiu que vários estações de rádio
pudessem transmitir em faixas de frequência diferentes sem se inter-
ferirem mutuamente. Os primeiros transmissores não permitiam isso.
As primeiras estações de radiodifusão sonora comerciais surgiram
em 1920, embora transmissões experimentais e amadoras tenham
ocorrido antes. No Brasil, as primeiras transmissões radiofônicas ocor-
reram em 1923.
Em 1933, Edwin H. Armstrong patenteou o esquema de transmis-
são utilizando modulação de frequência (em inglês, frequency modu-
lation – FM). A radiocomunicação FM minimiza, comparativamente
com a radiocomunicação AM, a estática e a interferência de ruídos em
geral na recepção do sinal de rádio. A primeira estação de rádio FM
surgiu em 1937. A partir de 1945 as estações FM entraram em opera-
ção. Em 1961, a radiodifusão FM estereofônica se iniciou nos EUA.

326
Na década de 1950 surgiram os primeiros rádios a transistor, mais
compactos e com menor consumo de energia, o que permitiu o surgi-
mento dos rádios portáteis.
A radiodifusão sonora está passando agora por uma grande evo-
lução com o uso das tecnologias digitais. Os sistemas de radio digital
começaram a ser desenvolvidos na década de 1980. Contudo, somen-
te em 1998 foi iniciado o uso comercial do primeiro sistema de rádio
digital, o sistema europeu DAB (Digital Áudio Broadcasting). Desde
então, vários outros sistemas de rádio digital foram desenvolvidos, os
principais são o sistema americano HD Radio (2001 e 2002), o sistema
europeu DRM (Digital Radio Mondiale) e o sistema japonês ISDB-TSB
(Integrated Services Digital Broadcasting – Terrestrial Sound). Atual-
mente, vários países têm estações de rádio digital, mas Inglaterra e
EUA são os dois países onde o uso da nova tecnologia mais cresceu.
A Inglaterra utiliza o sistema DAB e os EUA, o sistema HD Radio.
O Brasil provavelmente definirá no primeiro semestre de 2010 qual
sistema adotará, sendo que a escolha será entre os sistemas DRM e
HD Radio.

11.3 Faixas de freqüência destinadas à radiodifusão sonora

A Tabela 11.1 mostra quais são as faixas de freqüência que estão


destinadas, no Brasil, à radiodifusão sonora. Essa destinação pode ser
diferente de um país para outro e, principalmente, de uma região UIT
(União Internacional de Telecomunicações) para outra — o Brasil está
na Região 2 da UIT, constituída basicamente do continente america-
no.

Tabela 11.1– Faixas de freqüência destinadas, no Brasil, à


radiodifusão sonora terrestre.

327
Subdivisão Designação Modulação
Faixa de freqüência Banda
métrica popular utilizada
525 a 1.705 kHz MF Onda hectométrica Onda média (OM) AM
2.300 a 2.495 kHz MF Onda hectométrica Onda tropical (OT) AM
3.200 a 3.400 kHz
4.750 a 4.995 kHz HF Onda decamétrica Onda tropical (OT) AM
5.005 a 5.060 kHz
5.950 a 6.200 kHz
9.500 a 9.775 kHz
11.700 a 11.975 kHz
15.100 a 15.450 kHz HF Onda decamétrica Onda curta (OC) AM
17.700 a 17.900 kHz
21.450 a 21.750 kHz
25.600 a 26.100 kHz
87,4 a 108 MHz VHF Onda métrica FM
MF: medium frequency (frequência média)
HF: high frequency (frequência alta)
VHF: very high frequency (frquência muito alta)

Com base na divisão métrica do espectro eletromagnético1 , a ra-


diodifusão sonora pode ser classificada em três tipos, a saber: radio-
difusão sonora em ondas hectométricas, em ondas decamétricas e em
ondas métricas. Para cada uma dessas modalidades existe uma norma
técnica específica [1][4][5]. Nas faixas hectométrica e decamétrica, é
utilizada a modulação de amplitude (AM) e na faixa métrica, a modu-
lação de frequência (FM).
As faixas de frequência destinadas à radiodifusão sonora têm
também as denominações populares especificadas na Tabela 11.1. Os
termos onda média (OM) e onda curta (OC) significam uma onda ele-
tromagnética com comprimento de onda médio e com comprimento
curto, respectivamente. As ondas eletromagnéticas com frequência
entre 2300 kHz e 5900 kHz são conhecidas como ondas tropicais (OT)

1. Nessa divisão utiliza-se o comprimento de onda (λ) da onda eletromagnética, ao invés


da sua frequência (ƒ). Esses dois parâmetros se relacionam de acordo com a seguinte
equação
λ= v
f
onde ν é a velocidade de propagação da onda eletromagnética, em m/s (no vácuo, ν
= 3x108 m/s). Com a frequência ƒ em Hz, o comprimento de onda λ resultante é dado
em metro. Dizer que uma onda eletromagnética é hectométrica significa que seu com-
primento de onda é da ordem de 100 metros. Analogamente, uma onda decamétrica,
tem comprimento de onda da ordem de 10 metros e uma onda métrica, da ordem de
1 metro.

328
porque são utilizadas por estações de rádio que se situam dentro da
faixa tropical do globo terrestre (entre os trópicos de Capricórnio e de
Câncer).
A Tabela 11.2 contém a quantidade de estações de rádio licencia-
das em cada uma das bandas de frequência. O número de estações
FM mostrado é das emissoras comerciais e educativas, não inclui as
estações das rádios comunitárias.
Tabela 11.2 – Quantidade de estações de rádio licenciadas em cada
banda de frequência.

Quantidade de
Banda Modulação
estações licenciadas
OM AM 1.575
OT AM 72
OC AM 66
88 a 108 MHz FM 1.560
Total 3.273
Fonte: www.anatel.gov.br — consultado em 16.02.2010

11.4 Modos de propagação das ondas de rádio

O meio de transmissão das ondas eletromagnéticas da radiodifusão


é constituído pela atmosfera e superfície terrestres. As características
de propagação das ondas eletromagnéticas nesse meio de transmissão
são altamente dependentes da freqüência. As ondas eletromagnéticas
de freqüência menor que 30 MHz (OM, OT e OC) propagam-se prin-
cipalmente como onda de superfície e onda ionosférica (ou celeste). A
onda de superfície, ilustrada na Figura 1.5, segue o contorno da terra,
indo além do horizonte visual, mas é atenuada com a distância devi-
do à absorção de sua energia pela terra. Essa atenuação é função da
condutividade e da permissividade do solo (ou da superfície) por onde
a onda se desloca. Deve-se usar polarização vertical para a onda de
superfície, uma vez que a terra apresenta um efeito de curto-circuito
para a onda de polarização horizontal, atenuando-a severamente.
As ondas ionosféricas, ilustradas na Figura 11.5, são ondas refle-
tidas (na realidade, refratadas) pela ionosfera e que retornam à terra.

329
Esse modo de propagação possibilita que a onda atinja distâncias mui-
to grandes: distâncias transnacionais e transcontinentais. A região en-
tre o limite do alcance da onda de superfície e a área de recepção da
onda ionosférica é denominada zona de silêncio, pois não existe sinal
útil nessa região. O ângulo de reflexão e a perda de sinal na reflexão
ionosférica dependem da freqüência, da hora do dia, da estação do
ano e do nível da atividade solar.
Na faixa de ondas hectométricas (OM e OT de 120 m), a radio-
difusão no período diurno depende inteiramente da propagação por
onda de superfície. Durante o dia, as ondas ionosféricas nessa faixa
de freqüência são absorvidas pela camada D da ionosfera. À noite,
a camada D desaparece e as ondas ionosféricas hectométricas conse-
guem chegar a regiões distantes do transmissor, não alcançadas pela
onda de superfície. Assim, em OM, a recepção fixa é razoavelmente
estável durante o dia, embora a recepção móvel sofra deteriorações
significativas quando se passa, por exemplo, por túneis, sob viadutos
e sob linhas de transmissão de energia elétrica. À noite, o nível de
interferência pode tornar-se bastante alto devido às ondas ionosféricas
de emissoras distantes que utilizam o mesmo canal ou canal adjacente
ao da emissora que se deseja receber.
Na faixa de ondas decamétricas (OT de 90 ou 60 m e OC), onda
de superfície, é fortemente atenuada pela terra e tem alcance muito
pequeno. Nessa faixa, o modo principal de propagação é o das ondas
ionosféricas que, nesse caso, existem de dia e de noite. Por meio desse
tipo de onda, as emissoras de OC têm área de cobertura muito gran-
de, que pode conter vários países, e seu alcance pode ser transconti-
nental. Em função disso, a coordenação do uso dos canais de ondas
decamétricas é feita no plano mundial.
A propagação em linha de visada direta (LVD), ou onda espacial,
é o modo dominante para freqüências acima de 30 MHz e, portanto, é
o modo dominante na radiodifusão sonora FM, que opera na faixa de
87,4 a 108 MHz. Para essas freqüências, não é mais possível o uso da
reflexão ionosférica, porque a refração não curva a onda o suficiente
para que ela retorne à terra. Quanto à onda de superfície, ela é forte-
mente atenuada pela terra e tem alcance muito pequeno.

330
A propagação LVD requer que a antena receptora “veja” a antena
transmissora, ou seja, que não haja obstrução na trajetória retilínea en-
tre as antenas. Morros, prédios, árvores e a própria curvatura da terra
podem ser obstáculos para esse tipo de propagação. Por isso, procura-
se colocar as antenas transmissoras das emissoras FM em torres altas
e essas, por sua vez, sobre morros. Se possível, a antena receptora
deve ser colocada em uma torre também. Contudo, a recepção pode
se dar mesmo quando a trajetória LVD entre as antenas transmissora
e receptora está obstruída. Isso se deve à difração ou reflexão da onda
eletromagnética nos obstáculos (morros, prédios, árvores, etc.) que,
em princípio, impediriam a recepção da onda — veja ilustração mos-
trada na Figura 11.6. A difração causa o desvio da onda, fazendo com
que parte dela contorne o obstáculo, enquanto que a reflexão muda a
direção de propagação da onda.

Ionosfera

Onda
ionosférica

Antena
Onda de transmissora Onda de
superfície superfície
Terra

Figura 11.5 – Representação ilustrativa das ondas de


radiofrequência de superfície e ionosférica.

Antena Onda
transmissora eletromagnética
Onda
difratada

Onda
refletida

Figura 11.6 – Ilustração da propagação das ondas eletromagnéticas


na faixa de frequência da radiodifusão FM.

331
11.5 Radiodifusão em onda média e onda tropical de 120 m

A radiodifusão sonora em ondas médias (OM) e ondas tropicais


(OT) de 120 m é a modalidade de serviço de radiodifusão que opera
nas faixas de 525 a 1.705 kHz (OM) e de 2.300 a 2.495 kHz (OT de
120 m) — veja Tabela 1.1 e Figura 11.7 —, usando a modulação de am-
plitude (em inglês, amplitude modulation – AM). Esse serviço é nor-
malizado pelo Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão
Sonora em Onda Média e em Onda Tropical – 120m (Resolução nº
116 da ANATEL, de março de 1999) [4].

11.5.1. Canalização AM em OM e em OT de 120 m


A faixa de OM contém 118 canais. A cada canal está associada
uma frequência de portadora, que identifica o canal. A separação en-
tre duas frequências de portadora consecutivas é de 10 kHz e a pri-
meira freqüência é de 530 kHz. A faixa de OT de 120 m contém 19
canais, também com separação de 10 kHz entre portadoras, a primeira
sendo de 2.310 kHz.
O Regulamento Técnico [4] não especifica explicitamente a lar-
gura de um canal de radiodifusão AM. Contudo, o item 3.25 desse
regulamento especifica limites máximos para o nível das emissões
contidas nas faixas de freqüências abaixo de fc – 10,2 kHz e acima de
fc + 10,2 kHz, sendo fc a freqüência central do canal (ou a freqüência
da portadora). A Figura 11.8 mostra esses limites na forma de uma
máscara espectral: o espectro de potência do sinal emitido por uma
estação AM deve estar contido nessa máscara. Por essa especificação,
concluí-se que esse sinal pode ter uma largura espectral de até 20 kHz,
aproximadamente.
Se o sinal transmitido por uma estação AM tem uma largura es-
pectral de BT hertz, então ela está transmitindo um áudio com largura
espectral de BT/2 hertz2. Assim, em princípio, uma emissora AM pode

332
transmitir áudio com largura espectral de até 10 kHz, aproximada-
mente. O item 6.3.1.1 do Regulamento Técnico [4] especifica3 que as
estações AM devem ser capazes de transmitir áudio com largura es-
pectral de pelo menos 7,5 kHz, aproximadamente. Contudo, a maio-
ria dos receptores AM usados no Brasil não são capazes de tocar para
o ouvinte um áudio com essa largura espectral. Geralmente, o áudio
tocado por esses receptores têm largura espectral menor que 5 kHz.
Nesse caso, se a emissora está transmitindo um áudio com largura
espectral maior, ele será truncado espectralmente (e, portanto, dete-
riorado) pelo receptor.

1.625 kHz

1.705 kHz
535 kHz
525 kHz

Onda Média (OM)

Sub-faixa atribuída exclusivamente


ao serviço de radiodifusão sonora:
109 canais, com separação de 10 kHz
entre portadoras, a partir de 540 kHz
2.495 kHz
2.300 kHz

Radiodifusão
Onda Tropical (OT)
Radionavegação aeronáutica
Sub-faixa atribuída exclusivamente Radionavegação aeronáutica
ao serviço de radiodifusão sonora: (em caráter secundário)
19 canais, com separação de 10 kHz Radiolocalização
entre portadoras, a partir de 2.310 kHz (em caráter secundário)

Figura 11.7– Faixas de freqüência atribuídas ao serviço de


radiodifusão sonora em OM e OT (120 m).

2. A largura espectral de um sinal AM é o dobro da largura espectral do sinal modulan-


te (áudio) que modulou a portadora.
3. O item 6.3.1.1 do Regulamento Técnico [4] especifica que a resposta de áudio de um
transmissor AM não deverá variar mais que ± 1 dB, em relação ao valor de 1000 Hz, na
faixa de freqüências de áudio de 100 Hz a 5000 Hz, e não deverá variar mais que ± 3
dB na faixa de freqüências de 50 a 100 Hz e de 5000 a 7500 Hz, para percentagens de
modulação de 25, 50 e 85%.

333
da portadora sem modulação (dBc)
Nível máximo em relação ao nível
0
10,2 kHz
- 20

- 40

- 60

- 80
-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80
Afastamento em relação à freqüência da portadora (kHz)

Figura 11.8 – Máscara espectral com os limites máximos para as emissões


espúrias de uma emissora AM. As emissões em freqüências afastadas de mais
de 75 kHz da freqüência da portadora deverão estar (73+P) dB abaixo do nível
da portadora sem modulação, sendo 80 dB a maior atenuação exigida — P é a
potência de operação do transmissor, em dBk.

11.5.2. Áreas de serviço e contorno protegido de uma emissora AM


O sinal radiado por uma estação AM em OM (ou OT de 120 m)
propaga-se como onda eletromagnética de superfície e, a noite, tam-
bém como onda ionosférica — veja Seção 1.4 . Por isso, uma emissora
AM pode possuir duas áreas de serviço, a saber:
•  Área de Serviço Primária: área de serviço delimitada pelo
contorno para o qual o campo da onda de superfície está protegi-
do contra interferências objetáveis.
•  Área de Serviço Secundária: área de serviço delimitada pelo
contorno para o qual o campo da onda ionosférica está protegido
contra interferências objetáveis.
O contorno protegido de uma emissora é a linha contínua que
delimita a sua área de serviço que está protegida de interferências ob-
jetáveis, ou seja, de interferências que, repetida ou continuamente,
prejudiquem a recepção do sinal dessa emissora.

334
11.5.3. Classes de emissoras AM
As emissoras AM são classificadas em três classes (A, B e C), em
função de suas características técnicas, conforme mostra a Tabela 11.3.
As emissoras de OT na faixa de 120 m podem ser somente da Classe
C. Apenas as emissoras da classe A podem a área de serviço primária
protegida.
Note que a potência de transmissão máxima noturna da classe A é
menor que a diurna. É comum que uma emissora AM tenha que redu-
zir sua potência de transmissão à noite e isso pode ser exigido também
de emissoras das classes B e C. O motivo para esse procedimento é
que de dia não existem ondas ionosféricas e à noite sim — veja Seção
11.4. Como as ondas ionosféricas têm alcance muito grande, a redução
da potência de transmissão pode ser necessária para que o sinal de
uma emissora não interfira na recepção do sinal de outras emissoras
distantes.
Tabela 11.3 – Classificação das emissoras de OM e OT.

Destinação e áreas em que Pot. diurna Pot. noturna


Classe Categoria tem proteção contra máxima máxima
interferência objetável (kW) (kW)
Prover cobertura às áreas de
A Nacional 100 50
serviço primária e secundária
Prover cobertura regional das
zonas urbanas, suburbanas e
B Regional rurais de um ou mais centros 50 50
populacionais contidas em
sua área de serviço primária
Prover cobertura local das
1
zonas urbanas e suburbanas
C Local de um centro populacional (ou 5, quando 1
contidas em sua área de na Zona de
serviço primária Ruído 2)

11.5.4. Antenas transmissoras para OM


A Figura 11.9 mostra ilustração com dois tipos comuns de ante-
nas transmissoras utilizadas na radiodifusão AM em OM. Para ser efi-
ciente, o tamanho de uma antena deve ser inversamente proporcional
ao valor da frequência do sinal que se deseja que a antena radie (ou
receba): isto é, quanto menor a frequência maior deve ser a antena.
Por isso, as antenas transmissoras para OM são geralmente muito

335
grandes: são torres com altura de dezenas e até centenas de metros.
Assim, uma estação transmissora AM ocupa uma área relativamente
grande.

TX
TX

(a) (b)

Figura 11.9 – Tipos comuns de antenas transmissoras utilizadas


na radiodifusão AM em OM: (a) torre auto-suportada; (b) torre
estaiada.

11.6 Radiodifusão sonora em ondas decamétricas

A radiodifusão em ondas decamétricas — ondas tropicais (OT) de


90 ou 60 m e ondas curtas (OC) — é a modalidade de serviço de ra-
diodifusão que opera em subfaixas de freqüência situadas na faixa de
3.200 kHz a 26.100 kHz (veja Tabela 1.1), usando a modulação de
amplitude (em inglês, amplitude modulation – AM). Esse serviço é
padronizado pela Norma Técnica para Emissoras de Radiodifusão em
Ondas Decamétricas (Norma no 02/83) [1].
A Tabela 11.4 mostra uma listagem das faixas de ondas decamé-
tricas atribuídas, no Brasil, à radiodifusão sonora. Cada canal de ra-
diodifusão em ondas decamétricas é caracterizado pela freqüência de
sua portadora. Nas faixas de OT, o espaçamento entre portadoras de
canais adjacentes é de 10 kHz; nas faixas de OC, este espaçamento
é de 5 kHz. A portadora associada ao primeiro canal de cada faixa
estará, sempre, 5 kHz acima do início desta faixa (e.g., a portadora

336
do primeiro canal da faixa de 3 MHz será 3205 kHz; da faixa de 10
MHz será 9505 kHz, etc.) e a portadora associada ao último canal de
cada faixa estará, sempre, 5 kHz abaixo do final desta faixa (e.g., a
portadora do último canal da faixa de 6 MHz será 6195 kHz). Apenas
a canalização das faixas de 60 m de OT não obedece completamente
a essa regra. A fim de proteger a freqüência padrão de 5.000 kHz, as
portadoras do último canal da faixa de 4.750 kHz a 4.995 kHz e do
primeiro canal da faixa de 5.005 kHz a 5.060 kHz têm frequências de
4.985 kHz e 5.015 kHz, respectivamente.
Conforme já foi mencionado na Seção 11.4 , o modo principal
de propagação das ondas decamétricas é o das ondas ionosféricas. Por
isso, as emissoras de onda curta têm área de cobertura muito grande,
que podem conter vários países, e seu alcance pode ser transcontinen-
tal. Em função disso, a coordenação dos canais de onda decamétricas
é feita a nível mundial.
No Brasil, a radiodifusão em ondas curtas é usada principal-
mente para a cobertura do próprio território nacional, sendo exceção
o serviço internacional em ondas curtas da Empresa Brasil de Comu-
nicação (EBC). Contudo, em muitos países a radiodifusão em ondas
curtas é voltada principalmente para a cobertura internacional e é ge-
ralmente um serviço estatal ou de entidades religiosas.
Tabela 11.4 – Faixas de ondas decamétricas atribuídas, no Brasil, à
radiodifusão sonora.

Tipo Faixa de freqüência Designação


3.200 a 3.400 kHz Faixa de 3 MHz ou de 90 m
Onda tropical 4.750 a 4.995 kHz Faixa de 5 MHz ou de 60 m
5.005 a 5.060 kHz Faixa de 5 MHz ou de 60 m
5.950 a 6.200 kHz Faixa de 6 MHz ou de 49 m
9.500 a 9.775 kHz Faixa de 10 MHz ou de 31 m
11.700 a 11.975 kHz Faixa de 12 MHz ou de 25 m
Onda curta 15.100 a 15.450 kHz Faixa de 15 MHz ou de 19 m
17.700 a 17.900 kHz Faixa de 18 MHz ou de 16 m
21.450 a 21.750 kHz Faixa de 22 MHz ou de 13 m
25.600 a 26.100 kHz Faixa de 26 MHz ou de 11 m

337
11.7 Radiodifusão sonora em frequência modulada

Radiodifusão FM é a modalidade de serviço de radiodifusão que


opera na faixa de 87,4 MHz a 108 MHz, usando a modulação de fre-
qüência (em inglês, frequency modulation – FM). Esse serviço é nor-
malizado pelo Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão
Sonora em Freqüência Modulada (Resolução no 67 da Anatel, de no-
vembro de 1998) [5], pelo Regulamento do Serviço de Radiodifusão
Comunitária (Decreto no 2.615, de junho de 1998) [6] e pela Norma
Complementar do Serviço de Radiodifusão Comunitária (Norma no
2/98) [7].

11.7.1. Modalidades de radiodifusão FM


Estão previstas três modalidades de radiodifusão FM: monofôni-
ca, estereofônica e estereofônica com canal secundário. A Tabela 11.5
mostra a designação dessas modalidades e a largura de faixa neces-
sária para se transmitir o sinal FM de cada uma delas. A maioria das
emissoras em operação no Brasil faz transmissão do tipo 256KF8EHF.
As emissoras FM transmitem áudio com banda espectral de 50
Hz a 15.000 Hz. Portanto, é um áudio com qualidade espectral muito
superior àquela do áudio geralmente transmitido pelas emissoras AM,
cuja frequência máxima é normalmente inferior a 7.500 Hz — veja
Subseção 11.5.1 Além disso, as transmissões FM são estereofônicas,
enquanto que as transmissões AM são monofônicas. Em compensa-
ção, uma transmissão FM do tipo 256KF8EHF, a mais comum, ocupa
uma faixa de 256 kHz, enquanto que uma transmissão AM de áudio
com largura espectral de 7.500 Hz ocupa uma faixa de apenas 15 kHz
— ou seja, 17 vezes menor.

338
Tabela 11.5 - Modalidades de radiodifusão FM.

Tipo de Largura de faixa


Designação informação de transmissão
transmitida necessária (kHz)
180KF3EGN Áudio monofônico 180 kHz
256KF8EHF Áudio estereofônico 256 kHz
Áudio estereofônico
348KF8EWF 348 kHz
+ canal secundário

11.7.2. Canalização FM
A faixa de 87,4 MHz a 108 MHz, destinada à radiodifusão FM, con-
tém 103 canais — veja Figura 11.10. Cada canal é caracterizado pela fre-
qüência de sua portadora e tem um identificador numérico, com núme-
ros de 198 a 300. A primeira freqüência de portadora é de 88,5 MHz e a
última de 107,9 MHz. A separação entre portadoras de canais adjacentes
é de 200 kHz. Os canais 198, 199 e 200 são destinados, quando possível,
para uso exclusivo por estações do Serviço de Radiodifusão Comunitária
(RadCom). Esses três canais FM ocupam a parte superior do canal 6 de
TV (82 a 88 MHz) e, por isso, não podem ser utilizados nas localidades
em que existe transmissão de TV no canal 6. A faixa de 88 MHz a 108
MHz (canais de 201 a 300) é atribuída exclusivamente à radiodifusão
sonora.
Os regulamentos técnicos não especificam, de forma explicita e dire-
ta, a largura de um canal de radiodifusão FM. Contudo, são especificados
limites máximos para o nível das emissões contidas nas faixas de freqüên-
cias abaixo de (fc – 120) kHz e acima de (fc + 120) kHz, sendo fc a freqüên-
cia central do canal (ou a freqüência da portadora). A Figura 11.11 mostra
esses limites na forma de uma máscara espectral: o espectro de potência
do sinal emitido por uma estação FM deve estar contido nessa máscara.
É importante notar que dois canais adjacentes (e.g., canais 261 e 262)
não podem ser ocupados por estações próximas geograficamente. Isso
porque o espaçamento entre as portadoras desses canais é de 200 kHz e os
sinais transmitidos (considerando a modalidade 256KF8EHF) têm largura
espectral de 256 kHz. Consequentemente, sinais em canais adjacentes se

339
interfeririam mutuamente. Atualmente, nem mesmo canais com portado-
ras separadas de 400 kHz (e.g., canais 261 e 263) são ocupados por esta-
ções próximas geograficamente. Essa regra é aplicada por causa da baixa
seletividade dos rádios receptores. Contudo, duas estações podem ocupar
canais adjacentes ou o mesmo canal, se estão distantes uma da outra o
suficiente para seus sinais não se interferirem mutuamente.

108,000 MHz

117,975 MHz
76,000 MHz

87,400 MHz
88,000 MHz

Radionavegação
TV canais 5 e 6 Radiodifusão FM
aeronáutica

Canais 198-200, destinados, Faixa atribuída exclusivamente à radiodifusão sonora em


quando possível, para uso freqüência modulada (FM). Essa faixa é dividida em 100
exclusivo por estações do canais e cada canal é identificado pela sua freqüência
Serviço de Radiodifusão central, que é a freqüência da portadora da emissora FM. A
Comunitária. separação entre portadoras é de 200 kHz: a primeira tem
freqüência de 88,1 MHz e a última, de 107,9 MHz. A cada
canal é atribuído um número entre 201 e 300.

Canal: ... ...


0
1
2
3
4
5
6

8
9
0

4
5
6
7
8
9
0
8
9

1
2
3
4
20
20
20
20
20
20
20

25
25
26

29
29
29
29
29
29
30
19
19

26
26
26
26

... ...
,5
,7
,9
,1
,3
,5
,7
,9
,1

,5
,7
,9

10 ,1
10 ,3
10 ,5
0,7

10 ,5
10 ,9

10 ,5
10 ,7
7,9
10 ,1
10 ,3
87
87
87
88
88
88
88
88
90

99
99
99
0
0
0

6
6

7
7
7
7
10

10

Freqüência central do canal ou da portadora (MHz)

Figura 11.10 – Faixa de freqüência destinada à radiodifusão FM e


sua divisão em canais.
da portadora sem modulação (dBc)
Nível máximo em relação ao nível

0
120 kHz
- 20

- 40 240 kHz

- 60

- 80
-600 -500 -400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 500 600
Afastamento em relação à freqüência da portadora (kHz)

Figura 11.11 – Máscara espectral com os limites máximos para as emissões


espúrias de uma emissora FM. As emissões em freqüências afastadas de mais
de 600 kHz da freqüência da portadora deverão estar (73+P) dB abaixo do
nível da portadora sem modulação, sendo 80 dB a maior atenuação exigida —
onde P é a potência de operação do transmissor, em dBk.

340
11.7.3. Áreas de serviço e contornos de uma emissora FM
Para uma emissora FM, três áreas de serviço são definidas; são
elas:
•  Área de Serviço Primária: limitada pelo contorno de 74 dBµ
(contorno 1)4;
•  Área de Serviço Urbana: limitada pelo contorno de 66 dBµ
(contorno 2);
•  Área de Serviço Rural: compreendida entre o contorno e o con-
torno de 54 dBµ (contorno 3).
A Figura 11.12 mostra uma ilustração dos contornos acima men-
cionados. Toda emissora FM tem o seu sinal protegido, contra interfe-
rências prejudiciais, dentro de sua área de serviço urbana, delimitada
pelo contorno 2.

Contorno 3
54 dBμ (0,5 mV m)
Contorno 2 Antena
(Contorno protegido)
66 dBμ (2 mV m)
Contorno 1
74 dBμ (5 mV m)

Figura 11.12 - Ilustração dos principais contornos definidos para


uma cobertura FM.

4 Contorno é o lugar geométrico dos pontos onde a intensidade do sinal da


emissora tem um mesmo valor especificado. 74 dBμ é uma medida de inten-
sidade do campo elétrico da onda eletromagnética e corresponde a uma in-
tensidade de 5 mV/m — 66 dBμ corresponde a 2 mV/m e 54 dBμ a 0,5 mV/m.

341
11.7.4 Classes de emissoras FM
As emissoras FM são divididas em quatro categorias: especial (E),
A, B e C. Essas categorias são subdivididas em dez classes: E1, E2, E3,
A1, A2, A3, A4, B1, B2 e C. A Tabela 1.6 apresenta as especificações
que caracterizam cada uma dessas classes.
A classe de uma emissora é identificada pela maior distância ao
contorno protegido (66 dBµ). Uma vez definida a classe de uma emis-
sora, a distância máxima ao contorno de 66 dBµ, indicada na Tabela
3, não poderá ser excedida em nenhuma das radiais. Por outro lado, a
média aritmética das distâncias a esse contorno não poderá ser menor
que a distância máxima ao contorno da classe imediatamente inferior.
Tabela 1.6 - Classificação das emissoras FM.

Especificações (valores máximos admitidos)

Classe Potência (ERP) Distância ao contorno Altura de referência sobre


protegido (66 dBµ) o nível médio da radial
kW dBk (km) (m)
E1 100 20,0 78 600
E2 75 18,8 66 450
E3 60 17,8 54 300
A1 50 27,0 40 150
A2 30 14,8 36 150
A3 15 11,8 31 150
A4 5 7,0 24 150
B1 3 4,8 16 90
B2 1 0 12 90
C 0,3 -5,2 7 60

11.7.5. Serviço de Radiodifusão Comunitária


O Serviço de Radiodifusão Comunitária (RadCom), instituído
pela Lei no 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, é um serviço de radio-
difusão sonora em freqüência modulada (FM), com baixa potência e
com cobertura restrita, que pode ser executado por fundações e asso-
ciações comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de
prestação do serviço. Esse serviço foi regulamentado pelo Decreto no
2.615, de 3 de junho de 1998.

342
O canal 200 (87,9 MHz) foi designado para ser o canal nacional
para o serviço de RadCom. Para àquelas localidades em que não fosse
possível o uso desse canal, foi estabelecido que seria usado um dos
seguintes canais opcionais: 285 (104,9 MHz), 290 (105,9 MHz), 292
(106,3 MHz) e 300 (107,9 MHz). Contudo, em alguns municípios, não
foi possível a utilização de qualquer desses canais, tendo sido desig-
nado, nesses casos, um outro canal. Ainda, na cidade de São Paulo
e em alguns municípios integrantes da sua região metropolitana, ini-
cialmente não foi possível viabilizar um canal, qualquer que fosse ele,
para uso pela RadCom. Em março de 2004, a Anatel destinou, então,
a faixa de radiofreqüências de 87,4 MHz a 87,8 MHz (canais 198 e
199) para o Serviço de RadCom, em caráter secundário (Resolução no
356 da Anatel), o que possibilitou viabilizar um canal para RadCom
naqueles municípios.

Características técnicas das emissoras do RadCom


•  A potência efetiva radiada (ERP) pode ser, no máximo, de 25
watts.
•  O máximo valor de intensidade de campo que o sinal de uma
RadCom pode ter a uma distância de 1 km da antena e a uma
altura de 10 metros sobre o solo é de 91 dBµ (calculado conside-
rando propagação em espaço livre).
•  A área de serviço de uma emissora do RadCom é aquela limita-
da por uma circunferência de raio igual ou inferior a 1 km a partir
da antena transmissora, e será estabelecida de acordo com a área
da comunidade servida pela estação.
•  O sistema radiante de uma emissora do RadCom deve estar
localizado no centro da área de serviço da emissora e a antena
transmissora deve ter um ganho de, no máximo, 0 dB, em relação
ao dipolo de meia onda, e seu diagrama de radiação deve ser oni-
direcional. A altura da antena com relação ao solo pode ser de, no
máximo, trinta metros.
•  A separação mínima entre duas estações do RadCom é de 4 km.

343
•  O transmissor usado por uma RadCom deve ter certificação da
Anatel, ser pré-sintonizado na freqüência de operação consignada
e ter sua potência de saída inibida à potência de operação cons-
tante da licença para funcionamento.

11.7.6. Antenas transmissoras utilizadas na radiodifusão FM


A Figura 11.13 mostra fotografias de algumas antenas transmisso-
ras utilizadas na radiodifusão FM. Essas antenas são muito menores
que aquelas utilizadas na radiodifusão AM em OM — veja Subseção
11.5.4 . Isso porque as transmissões FM ocorrem em frequências mui-
to maiores e, como já foi dito, quanto maior a frequência menor pode
se a antena transmissora.
Note que as antenas FM são colocadas em torres altas, que por sua
vez são geralmente instaladas em cima de morros ou de prédios altos.
Isso é feito para aumentar a distância alcançada pelo sinal radiado,
tendo em vista a forma como a onda eletromagnética de frequência
muito alta se propaga — veja 11.4
A transmissão FM pode ser feita com uma única antena (veja fo-
tografia da esquerda na Figura 11.13) ou com um conjunto de antenas
(veja fotografias central e da direita na Figura 11.13), para obter uma
radiação mais eficiente ou para direcionar essa radiação.

Figura 11.13 – Exemplos de antenas transmissoras utilizadas na


radiodifusão FM.

344
11.8 Radiodifusão sonora digital

Na radiodifusão sonora AM ou FM, o áudio é transmitido na for-


ma analógica, que é a sua forma natural. Na radiodifusão sonora di-
gital, o áudio é transmitido no formato digital e no receptor é feita a
sua conversão para o formato analógico original. Há vários anos que o
formato digital predomina nos meios de gravação de áudio.
O esquema de transmissão digital utilizado pelos principais sis-
temas de radiodifusão sonora digital é o OFDM (orthogonal fre-
quency-division multiplexing). Esse esquema utiliza simultaneamente
centenas e até milhares de portadoras ortogonais e utiliza técnicas de
modulação digital em cada uma dessas portadoras.

11.8.1. Benefícios da digitalização


Os sistemas de radiodifusão digital oferecem melhorias e van-
tagens significativas em relação aos atuais sistemas analógicos AM e
FM. Suas principais vantagens são explicadas a seguir.
Melhor qualidade:
•  Recepção de melhor qualidade. Os sistemas digitais são mui-
to mais robustos que os sistemas analógicos em relação aos dis-
túrbios a que estão sujeitas as transmissões radioelétricas. Isto é,
os sistemas digitais propiciam uma qualidade de recepção muito
mais estável e sem as deteriorações audíveis comuns nas recep-
ções analógicas, especialmente nas recepções em onda média ou
onda curta no período noturno.
•  Áudio de melhor qualidade. Técnicas digitais de compressão de
áudio e esquemas de modulação digital com alta eficiência espec-
tral possibilitam a transmissão de sinais de áudio com largura de
banda maior do que a largura de banda dos sinais de áudio trans-
mitidos pelos sistemas analógicos AM e FM. Sistemas digitais de-
senvolvidos para usar os canais estreitos das faixas de onda média

345
e onda curta podem oferecer áudio com qualidade equivalente à
qualidade propiciada atualmente pela radiodifusão FM e, portan-
to, muito melhor que a qualidade propiciada pela radiodifusão
AM. Os sistemas digitais que usam canais mais largos em VHF
e em UHF podem oferecer áudio com qualidade equivalente à
qualidade propiciada pelos CDs.
Informações relacionadas com o serviço de áudio. Além do áu-
dio, um sistema de radiodifusão digital pode transmitir informações
na forma de texto relativas ao áudio, tais como nome da música, autor,
cantor, ano de gravação, disponibilidade do disco no mercado.
Serviços de dados. Sistemas de radiodifusão digital são independen-
tes do tipo de conteúdo, podendo ser um sistema multiserviço. Assim,
juntamente com o serviço de áudio, é possível oferecer serviços de
dados com informações na forma de texto, gráficos e até mesmo ima-
gens, que são mostradas em um visor do receptor. As informações
transmitidas podem ser sobre trânsito, clima, bolsas de valores, espor-
tes, etc.
Economia de potência na transmissão. Para ter a mesma área de
cobertura de uma transmissão analógica, a transmissão digital requer
potência de RF bem menor. Isso significa que os sistemas digitais pro-
piciam economia expressiva de energia.
Flexibilidade na configuração dos parâmetros de transmissão.
Em um sistema de radiodifusão digital, os parâmetros relativos à quali-
dade do áudio e à robustez podem ser ajustados de forma mais flexível
em função do tipo de cobertura desejada e das condições do canal.
Uso mais eficiente do espectro radioelétrico. Combinando técni-
cas de compressão de áudio e esquemas de modulação de alta eficiên-
cia espectral, a tecnologia digital pode propiciar um uso mais eficiente
do espectro radioelétrico.
Convergência. A digitalização permitirá a integração do rádio a pla-
taformas convergentes, o que poderá prover ao rádio uma maior inte-
ratividade e também uma maior competitividade.

346
Quanto às desvantagens da digitalização da radiodifusão sonora,
a principal é o custo relativamente alto da sua implantação. O usuário
terá que comprar um novo receptor, que inicialmente terá provavel-
mente um custo elevado, como acontece geralmente com produtos
que utilizam novas tecnologias. Quanto ao radiodifusor, dependendo
do tipo de seu transmissor, ele terá que substituí-lo ou, em alguns ca-
sos, terá que comprar pelo menos um novo modulador (ou excitador).
Contudo, o investimento feito pelo radiodifusor provavelmente será
compensado ao longo do tempo pela economia de energia elétrica e
pelo fato de que passará a ter um produto mais atrativo e que, portan-
to, deverá lhe propiciar maior faturamento.

11.8.2. Principais sistemas padrões de radiodifusão sonora digital


Atualmente, existem quatro sistemas de radiodifusão sonora digi-
tal terrestre recomendados pela UIT; são os seguintes:
•  sistema DAB (Digital Audio Broadcasting);
•  sistema ISDB-TSB (Integrated Services Digital Broadcasting –
Terrestrial Sound);
•  sistema DRM (Digital Radio Mondiale);
•  sistema HD-Radio (ou IBOC – in-band on-channel).
A Tabela 11.7 mostra as faixas de freqüência em que cada um
desses sistemas pode ser usado. Todos os quatro sistemas utilizam o
esquema de transmissão OFDM (orthogonal frequency-division mul-
tiplexing).
Tabela 11.7 – Faixa de freqüência em que pode ser usado cada um
dos sistemas de radiodifusão sonora digital.
Faixas de freqüência Largura do canal de Compatibilidade com
Sistema
em que pode ser usado transmissão usado canalização AM ou FM
DAB VHF e UHF 1.500 kHz Não é compatível
ISDB-TSB VHF e UHF 429 e 1.300 kHz Não é compatível
HD Radio FM VHF 400 kHz FM
HD Radio AM MF 20 e 30 kHz AM
DRM+ VHF 96 kHz FM
MF (OM e OT) 4,5, 5, 9, 10, 18 e 20
DRM AM
HF (OT e OC) kHz

347
O sistema DAB pode, do ponto de vista técnico, ser usado em
qualquer freqüência entre 30 MHz e 3 GHz. Contudo, por usar um
canal com largura de aproximadamente 1,5 MHz, ele não é compa-
tível com a canalização atualmente adotada para a radiodifusão em
freqüência modulada (FM), realizada em VHF. Por isso, para se utili-
zar esse sistema é necessária uma nova faixa de freqüência, isto é, uma
faixa destinada exclusivamente a ele. Em cada faixa espectral de 1,5
MHz, pode-se transmitir, tipicamente, 6 programas distintos, que são
difundidos por um único sistema radiante, usando, geralmente, uma
rede de freqüência única (RFU).
O sistema ISDB-TSB apresenta alguma similaridade com o sistema
DAB. A maioria dos parâmetros OFDM dos modos de transmissão
dos dois sistemas têm valores muito próximos. Contudo, o sistema
ISDB-TSB pode utilizar canais de aproximadamente 429 kHz ou 1,3
MHz. Quando utiliza canal de 1,3 MHz, o sistema ISDB-TSB suporta,
assim como o DAB, vários programas independentes que, após mul-
tiplexados, são difundidos por um único sistema radiante, geralmente
uma rede de freqüência única. Contudo, o sistema ISDB-TSB é mais
flexível do que o sistema DAB. Porém, assim como o sistema DAB, o
sistema ISDB-TSB requer a alocação de uma faixa de freqüência exclu-
siva para a sua utilização.

11.8.3. Sistema HD-Radio


O sistema HD-Radio (ou IBOC) foi desenvolvido pela empresa
americana iBiquity e foi adotado como padrão pelos Estados Unidos
da América. Ele oferece duas versões, uma para uso na faixa de onda
média (OM), destinada atualmente à radiodifusão AM, e outra para a
Banda II (subfaixa de VHF), destinada atualmente à radiodifusão FM.
Contudo, o sistema não oferece uma configuração para uso em onda
tropical (OT) e em onda curta (OC).
IBOC é a sigla para in-band on-channel (na banda e no canal).
O termo in band significa que os sinais de RF gerados pelo sistema
HD-Radio têm largura de banda compatível com a atual canalização

348
AM em OM ou FM em VHF. Portanto, sinais HD-Radio podem con-
viver nessas faixas de freqüência com os sinais analógicos AM ou FM
existentes. Ou seja, para usar esse sistema não é necessário alocar uma
faixa de freqüência exclusiva, como exigem os sistemas DAB e o ISBD-
TSB. O termo on channel significa que o mesmo canal AM ou FM usa-
do para transmitir o sinal analógico de uma emissora existente pode
ser usado para transmitir adicionalmente o sinal digital do HD-Radio.
Isto é, por um único canal é possível transmitir simultaneamente um
sinal analógico e um sinal digital, conforme ilustração mostrada na
Figura 11.14. Esse esquema de transmissão é denominado modo hí-
brido de transmissão ou, simplesmente, simulcast. Ele permite que a
emissora transmita simultaneamente o sinal analógico e o sinal digital
durante um período de transição e, com isso, que a mudança da tecno-
logia analógica para a digital seja suave. Posteriormente, a transmissão
analógica pode ser desativada e o sinal digital ajustado para ocupar
sozinho o canal.

Figura 11.14 - Ilustração do conceito IBOC.

A Figura 11.15 mostra os espectros estilizados dos sinais híbrido


(analógico e digital) e todo digital, da versão do HD Radio para VHF.
No modo híbrido, a potência do sinal digital é 100 vezes (ou 20 dB)
menor que a potência do sinal analógico FM. A capacidade de trans-
missão desse sistema é de 98 kbps, no modo híbrido, e superior a 200
kbps, no modo todo digital. No modo híbrido, é possível a transmissão
de até três programas de áudio e, no modo todo digital, de até oito
programas.
Os espectros estilizados dos sinais híbrido e todo digital da versão
do HD Radio para OM são mostrados na Figura 11.16. Nesse caso,
no modo híbrido, a potência do sinal digital é 20 vezes (ou 13 dB)

349
menor que a potência da portadora AM não modulada. A capacidade
de transmissão desse sistema é de 36 kbps, no modo híbrido, e de 40
kbps, no modo todo digital. Essa capacidade é suficiente para permitir
a transmissão de um sinal de áudio com qualidade pelo menos equiva-
lente àquela oferecida atualmente pelas emissoras FM.

Figura 11.15 - Espectro do sinal HD Radio para VHF: (a) híbrido; (b)
todo digital.

350
Figura 11.16 - Espectro do sinal HD Radio para OM: (a) híbrido; (b)
todo digital.

11.8.4. Sistema DRM


DRM (Didgital Radio Mondiale) é um padrão de rádio digital
disponibilizado em 2004 por um consórcio internacional (Consórcio
DRM), sediado na Europa e formado por radiodifusores, fabricantes
de transmissores e receptores, operadores de rede, instituições de pes-
quisa e órgãos regulatórios.
Inicialmente, o padrão DRM oferecia configurações apenas para
operação em freqüências inferiores a 30 MHz. Isto é, ele podia subs-
tituir apenas os sistemas analógicos AM. Contudo, em 2009 o padrão

351
DRM foi ampliado com uma nova configuração que pode ser usada
na faixa entre 30 MHz e 174 MHz. Essa configuração é denominada
DRM+ e pode substituir os sistemas analógicos FM.
Assim como o sistema AM HD-Radio, o sistema DRM gera sinais
de RF que têm largura de banda compatível com canalização adotada
atualmente para a radiodifusão sonora analógica AM e FM. Portanto,
o sistema DRM também não requer que seja alocada uma faixa de
freqüência exclusiva.
Uma das principais vantagens do sistema DRM é a sua flexibili-
dade. A sua versão denominada DRM30, para frequências inferiores
a 30 MHz, pode usar canais com largura de 4,5, 5, 9, 10, 18 e 20
kHz. Ela oferece quatro modos OFDM — veja Tabela 11.8 — que po-
dem ser combinados com diferentes níveis de proteção, determinados
pela taxa da codificação FEC (forward error correction), pela ordem
da constelação (4-QAM, 16-QAM ou 64-QAM) e pelo uso ou não
da modulação hierárquica. A capacidade de transmissão do sistema
DRM depende da configuração adotada, podendo ser um valor entre
4,8 kbps e 72 kbps. Em ondas médias e com canais de 10 kHz, a taxa
de dados típica é de 20 a 24 kbps. Para uma dada largura de canal,
as várias configurações possíveis oferecem diferentes compromissos
entre a capacidade de transmissão e a robustez em relação ao ruído,
aos efeitos dos múltiplos percursos e outras formas de deterioração.
A versão denominada DRM+, para frequências de 30 MHz a 174
MHz, utiliza uma banda de transmissão de 96 kHz, o que lhe confere
perfeita compatibilidade com a atual canalização FM. O DRM+ está
implementado no padrão como modo de robustez E — veja Tabela
11.8.
Tabela 11.8 – Modos de transmissão do sistema DRM.

Largura do canal Taxa de bits


Modo A faixa a que se destina
de RF (kHz) líquida (kbps)
A–D Faixas AM (< 30 MHz):
4,5, 5, 9, 10, 18, 20 4,8 a 72
(DRM30) OM, OT e OC
E Faixas FM (< 174 MHz):
96 37 a 186
(DRM+) Banda I e Banda II

352
Em qualquer das suas duas versões, o sistema DRM permite, em
cada canal de RF, a radiodifusão de até 4 serviços similares ou diferen-
tes: isto é, streams de áudio, dados ou serviços de vídeo.
O sistema DRM pode também operar no modo simulcast. A Fi-
gura 1.17 mostra uma ilustração de duas possíveis configurações DRM
simulcast.
Atualmente, o sistema DRM é o único sistema que oferece con-
figurações que possibilitam a radiodifusão em onda curta (OC), com
propagação por onda ionosférica, com um ou mais saltos. A radio-
difusão em OC é utilizada, na maioria dos casos, para atingir outros
países que não aquele em que está localizado o transmissor. Ou seja, a
radiodifusão em OC é geralmente internacional. Assim sendo, é dese-
jável que o sistema usado para executá-la seja um padrão mundial. O
sistema DRM, pelo seu bom desempenho nesse tipo de radiodifusão
e por ser o único capaz de propiciá-la até o momento, provavelmente
se tornará esse padrão mundial.

Figura 11.17 - Exemplos de configurações DRM simulcast.

353
Referências
[1] “Invention of radio”, disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/
Invention_Of_Radio, consultado em 3 de fevereiro de 2010.
[2] “History of radio”, disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/
History_of_radio, consultado em 3 de fevereiro de 2010.
[3] Norma Técnica para Emissoras de Radiodifusão em Ondas Deca-
métricas (Norma no 02/83), aprovada pela Portaria MC no 025, de
fevereiro 1983.
[4] Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em
Onda Média e em Onda Tropical – 120m, aprovado pela Resolução
no 116 da Anatel, de março de 1999.
[5] Regulamento Técnico para Emissoras de Radiodifusão Sonora em
Freqüência Modulada, aprovado pela Resolução no 67 da Anatel, de
novembro de 1998.
[6] Regulamento do Serviço de Radiodifusão Comunitária, aprovado
pelo Decreto no 2.615, de junho de 1998.
[7] Norma Complementar do Serviço de Radiodifusão Comunitária
(Norma no 2/98), aprovada pela Portaria MC no 191, de agosto 1998.
[8] ETSI EN 300 401: “Radio Broadcasting Systems: Digital Audio Bro-
adcasting (DAB) to mobile, portable and fixed receivers”, v1.3.3, 2001.
[9] ARIB, “Narrow Band ISDB-T for digital terrestrial sound broad-
casting — specification of channel coding, framing structure and modu-
lation”, novembro de 1999.
[10] S. Johnson, “The structure and generation of robust wavefor-
ms for AM in-band on-channel digital broadcasting”, disponível em
http://www.ibiquity.com/technology/papers.htm, acessado em janei-
ro de 2004.
[11] P. J. Peyla, “The structure and generation of robust waveforms for
FM in-band on-channel digital broadcasting”, disponível em http://
www.ibiquity.com/technology/papers.htm, acessado em janeiro de
2004.

354
[12] ETSI ES 201 980: “Digital Radio Mondiale (DRM); System Spe-
cification”, v1.2.2, 2003.
[13] Broadcasters’ User Manual, Publicação DRMTM, 1a ed., 2004.
Disponível em http://www.drm.org/.
[14] Sítio da Anatel: http://www.anatel.gov.br.
[15] http://www.abta.org.br/site/content/panorama/tecnologia.php

355
12
SISTEMAS DE TELEVISÃO

A televisão é uma grande ferramenta de comunicação e entreteni-


mento, e está presente no Brasil desde os seus primórdios. A primei-
ra transmissão comercial é feita nos Estados Unidos em 1945. Cinco
anos depois é inaugurada em São Paulo a TV Tupí. A partir desta data
a Televisão brasileira vem acompanhando e incorporando todas as
grandes mudanças tecnologias ocorridas no processo de transmissão
e recepção de TV.
O Sistema de transmissão e recepção de TV pode ser dividido em
três etapas: TV analógica em preto e branco, TV a cores e finalmente
TV Digital. Como a TV preto e branco e a TV a cores são baseadas
nos mesmos princípios tecnológicos e se ocupam da transmissão do
sinal analógico, optou-se em abordar o tema em dois segmentos,TV
analógica e TV digital.

12.1 Introdução

A transmissão de televisão por radiodifusão iniciou-se nos Estados


Unidos, em 1945, quando foram alocados para esse serviço os canais
de 2 a 13. O primeiro receptor de TV utilizado foi o modelo 630 TS
da RCA, comercializado a partir de 1946 por aproximadamente U$
400,00. Esse modelo tinha 30 válvulas eletrônicas e incluía um tubo de
imagem monocromática com tela circular de 10 polegadas.
Na América Latina, a primeira emissora de TV comercial surgiu
em 1950. Ela foi montada no Brasil por Assis Chateaubriand, o cria-
dor dos Diários Associados. Em setembro de 1950, entrou no ar a

357
TV Tupi de São Paulo. Os poucos telespectadores usavam televisores
importados para assistir programas de auditório, jornais e peças tea-
trais televisionadas da pioneira Tupi. A primeira fábrica brasileira de
receptores começou a funcionar em 1951, sob a marca Invictus.
A transmissão de TV a cores desenvolveu-se a partir de sistemas
que tinham padrões incompatíveis com os monocromáticos e uma lar-
gura de faixa maior que a utilizada nas transmissões monocromáticas
(6 MHz). Visando a compatibilidade das transmissões a cores e mo-
nocromáticas, a Federal Communication Comission (FCC), em 1954,
adotou nos Estados Unidos um sistema de cores revisado, prepara-
do por um comitê especial da Associação das Indústrias Eletrônicas
(EIA), o National Television Systems Committee (NTSC). Sua carac-
terística básica é o emprego de uma subportadora de crominância em
3,58 MHz multiplexada com a portadora de vídeo. O sistema NTSC
é usado nos Estados Unidos, Japão e em muitos outros países do con-
tinente americano.
Logo após os primeiros anos de transmissão comercial de TV a
cores nos Estados Unidos, novos sistemas passaram a ser implementa-
dos em diversos países. Em 1967, a Alemanha desenvolveu o sistema
PAL (phase alternating line), adotado nesse país e, sucessivamente, em
muitos outros que iniciaram transmissão de TV a cores. O SECAM
(sequential à memoire), originário na França, foi adotado também
pela antiga União Soviética e alguns outros países da Europa Oriental.
Em 1962, a transmissão de TV para todo o mundo tornou-se pos-
sível pela primeira vez pelo uso do satélite posicionado em órbita geo-
estacionária sobre a Terra.
No Brasil, as transmissões a cores somente ganhariam espaço no
final da década de 1960. O padrão adotado no Brasil foi o PAL-M, o
que significa o sistema alemão compatível com a tecnologia mono-
cromática adotada anteriormente no país. Em 31 de março de 1972,
os raros televisores em cores no país puderam mostrar as primeiras
imagens coloridas da Festa da Uva de Caxias do Sul (RS).

358
Uma década depois, anos 80, o mundo começou a pensar em TV
digital Nos anos 90 aconteceu o lançamento dos primeiros padrões:
o ATSC nos EUA e o DVD na Europa, porém o Japão foi o primeiro
país a iniciar pesquisas de um padrão para a televisão de alta defini-
ção, o qual foi lançadoem 2003, conhecido como ISDB.
Nos anos 2000 quando o Brasil resolveu adotar um padrão
para a TV digital, os avanços tecnológicos e a evolução do conceito de
TV digital levaram o Brasil a definir um novo padrão de transmissão,
o Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, ou SBTVD, um padrão
baseado no padrão japonês com inovações brasileiras, incluindo cria-
ções e aperfeiçoamento de equipamentos e de softwares.
Em 2 de dezembro de 2007, na cidade de São Paulo ocorreu pri-
meira transmissão oficial de sinal de TV digital no Brasil.

12.2 Sinais de vídeo e de áudio

A palavra televisão significa ver à distância. No sistema de televi-


são, as informações visuais de uma cena real são convertidas em sinais
elétricos, que são transmitidas para o receptor. As variações deste sinal
elétrico, que correspondem às alterações de luminosidade da cena,
formam o sinal de vídeo. No receptor, o sinal de vídeo é utilizado para
reconstruir a imagem na tela do monitor de imagem. Originalmente,
a televisão foi concebida como uma forma de entretenimento e divul-
gação de informação, transmitindo-se imagens por radiodifusão, assim
como o rádio transmite o som. A transmissão por radiodifusão comer-
cial ainda é o campo de aplicação mais amplo da televisão. Entretanto,
a partir da capacidade de reproduzir figuras, textos, desenhos e infor-
mações visuais, diversas aplicações tornaram-se comuns. É possível
assistir a programas de países estrangeiros, transmitidos via satélite, ou
reproduzir uma fita de videocassete, ou conectar o receptor de TV a
um videogame, a um computador ou a um cabo de TV por assinatura.

359
A imagem na televisão é formada pela exibição seqüencial de qua-
dros estáticos, a uma velocidade tal que o espectador tem a impressão
de movimento contínuo. Esse fenômeno de permanência da imagem
no cérebro, após sua retirada da retina, é conhecido como persistência
da visão humana e o tempo de permanência é de 50 milisegundos.
No cinema, são exibidos 24 quadros por segundo, enquanto que, na
televisão, esse número é de 30 quadros por segundo. Cada quadro é
subdividido em linhas, que são constituídas por pontos cuja intensida-
de luminosa depende da informação a ser mostrada.
No caso do sinal de vídeo, a luminosidade da cena é convertida
em sinal elétrico, uma área de cada vez. Logo, o sinal de vídeo, pro-
duzido pela câmera, consiste em variações seqüenciais no tempo, para
diferentes áreas. Por isso, um procedimento de varredura é necessário
para cobrir totalmente a cena, ponto a ponto, da esquerda para a di-
reita, linha a linha, de cima para baixo. A varredura é muito rápida,
o tempo para se varrer uma linha horizontal é de apenas 63,5 ms (mi-
crossegundos). Devido a essa rapidez de variações, o sinal de vídeo
contém freqüências de até aproximadamente 4 MHz. O mecanismo
de varredura exige que pulsos de sincronismo sejam utilizados com o
sinal de vídeo, a fim de tornar simultâneas a varredura na câmara e a
varredura no tubo de imagem. Neste, as pequenas áreas de maior ou
menor luminosidade e de diferentes cores são remontadas na posição
correta para recriar a imagem completa.
A faixa de freqüências das variações dos sinais de vídeo ou áudio
é chamada banda-base. Essas freqüências correspondem às informa-
ções desejadas, visuais ou auditivas, sem incluir outras complicações
como codificação ou modulação para funções especiais. Em sistemas
de áudio, as freqüências em banda-base vão de 20 Hz a 20 kHz. Em
sistemas de vídeo, as freqüências em banda-base variam de 0 Hz a 4
MHz. O sinal de áudio em banda-base pode ser injetado diretamente
em um alto-falante para reproduzir o som desejado. Também o sinal
de vídeo em banda-base pode alimentar o tubo de imagem para re-
produção da cena.

360
Na transmissão de sinais de radiofreqüência, o sinal de áudio em
banda-base modula uma onda portadora de radiofreqüência (RF). A
modulação torna-se necessária uma vez que freqüências de áudio são
excessivamente baixas para uma radiação eficiente. Além disso, di-
ferentes freqüências de onda portadora são utilizadas para diferentes
estações. O receptor pode ser sintonizado para cada freqüência de
onda portadora. No receptor, o sinal RF modulado é detectado para a
recuperação da informação de som original.
Os mesmos princípios aplicados na transmissão de rádio são uti-
lizados na de televisão. O sinal de vídeo em banda-base modula uma
onda portadora de alta freqüência para permitir a transmissão sem fios.
No receptor, o detector de vídeo recupera o sinal de vídeo original. As
transmissões de sinais de rádio e de televisão são bastante similares,
exceto pelo fato de a modulação de vídeo ser usada para a formação de
uma imagem. Associado ao vídeo existe um sinal de som, que é trans-
mitido em uma portadora separada. Todos estes sistemas requerem on-
das eletromagnéticas para transmissão. Na transmissão de televisão, a
modulação em amplitude (AM) é utilizada para o sinal de imagem e a
modulação em freqüência (FM), para o sinal de som associado.

12.3 Imagem de televisão

A imagem da TV é resultado da varredura de uma série de linhas


horizontais, uma sobre a outra, conforme ilustra a Fig.12.1. A ima-
gem é varrida da mesma forma em que é feita a leitura de um texto,
percorrendo-se todas as palavras de cada linha e todas as linhas de
uma página. Começando-se do topo à esquerda, todos os elementos
da imagem são varridos em sucessão da esquerda para a direita e de
cima para baixo, uma linha por vez. Isso é denominado varredura
linear horizontal, cujo processo é descrito a seguir.
O feixe de elétrons percorre uma linha horizontal, passando por
todos os elementos de imagem dessa linha. Ao final de cada linha, o
feixe retorna rapidamente para a esquerda para iniciar a varredura

361
da próxima linha. Durante o tempo de retorno, chamado de retraço,
nenhuma informação visual é obtida, já que ocorre o apagamento do
tubo de imagem. Quando o feixe de elétrons atinge o lado esquerdo,
sua posição vertical está um pouco mais baixa, de forma que possa
repetir o processo para a próxima linha e não o refaça na anterior.
Isso é feito pelo movimento de varredura vertical do feixe, que ocorre
simultaneamente ao horizontal. A varredura vertical acaba tornando
as linhas horizontais levemente inclinadas para baixo. Ao chegar ao
final da tela, o retraço vertical retorna o feixe para o início, e uma nova
seqüência de varredura começa.
O número de linhas na imagem foi fixado em 525 para um qua-
dro, no sistema de TV preto e branco adotado nos Estados Unidos
e na maioria dos países da América Latina, inclusive no Brasil. Esse
é o número ideal para a largura de faixa de 6 MHz do canal de ra-
diodifusão de televisão. O tempo para a varredura completa de um
quadro composto de 525 linhas é 1/30 s. Logo, as imagens se formam
em uma seqüência de 30 quadros por segundo. Para se ter a sensação
de movimento, um número suficiente de imagens completas precisa
ser exibido a cada segundo. Esse efeito é obtido tendo-se uma taxa de
repetição maior que 16 imagens a cada segundo. No cinema, utiliza-
se a taxa de 24 quadros por segundo, que é suficiente para produzir a
impressão de movimento na tela.

362
Fig. 12.1 - Varredura linear horizontal para a formação da imagem
de TV.

12.3.1 Resolução da TV analógica


Todos os sistemas reprodutores de imagem possuem limitações.
O menor detalhe capaz de ser reproduzido por determinado sistema
é denominado elemento de imagem ou pixel (picture element). A re-
solução de um sistema é especificada pelo número de pixels que ele
reproduz. Por exemplo, o antigo cinema de 16 mm, do qual se origi-
nou a TV em preto-e-branco, possui uma resolução de 125 mil pixels.
No caso da televisão, o menor detalhe capaz de ser reproduzido
na vertical seria correspondente à espessura de uma linha. Como o
padrão PAL-M é composto de 525 linhas por quadro, isso correspon-
deria a uma resolução vertical de 525 pixels. Entretanto, um quadro

363
de televisão possui efetivamente 480 linhas, pois 45 são perdidas du-
rante retraço vertical. Por outro lado, verificou-se que o telespectador
percebia uma relação inferior a real. Nesse sentido, foi acrescido um
fator de correção, conhecido como fator Kell, que evidenciou esse
fenômeno na década de 40. O fator Kell é a relação entre a resolução
efetiva e a resolução teórica. Para TV analógica, esse fator está em
torno de 0,65, o que fornece 0,65×480 = 312 linhas. Então, o número
efetivo de pixels na vertical é 312.
Como a relação de aspecto de uma tela de TV é de 4/3, ou seja,
quatro unidades de comprimento no sentido horizontal por três no
sentido vertical, a resolução horizontal (EH), obtida a partir da re-
solução vertical, fica EH = 312×4/3 = 416. Portanto, uma imagem
analógica tem toda a sua capacidade de resolução horizontal em um
conjunto de 416 barras verticais, ou 416 pixels. Finalmente, pode-se
concluir que a resolução da televisão é 312×416 = 129.792 pixels, ou
seja, é praticamente idêntica à resolução do antigo cinema de 16 mm.

12.3.2 Persistência visual


O olho humano é muito sensível à luminosidade, por isso, a taxa
de 24 quadros por segundo não é suficientemente rápida para fazer o
brilho de uma imagem misturar-se suavemente com a próxima quando
a tela é escurecida entre dois quadros. Como resultado, tem-se uma
cintilação luminosa, devido à alternância de luz na tela. No cinema, esse
problema é resolvido mudando-se 24 quadros por segundo no projetor,
mas exibindo-se duas vezes cada quadro, de forma que 48 imagens são
exibidas na tela em cada segundo. O obturador bloqueia a luz não so-
mente quando cada quadro está sendo mudado, mas também uma vez
durante a exibição de cada um, Fig.12.2. Existem, então, 48 vistas de
cena em cada segundo e a tela é escurecida 48 vezes no mesmo inter-
valo, embora haja apenas 24 quadros por segundo. Como resultado do
aumento da freqüência de apagamento, elimina-se a cintilação.
Na televisão, similarmente ao cinema, a repetição de quadros tam-
bém é empregada, mas, ao invés dos 24 quadros usados no cinema,

364
utiliza-se a exposição de 30 quadros por segundo para causar a sen-
sação de movimento. A sensação de cintilação também estaria pre-
sente nas variações de luminosidade, caso fossem exibidos apenas 30
quadros por segundo. Solução análoga à do cinema é empregada na
televisão: cada quadro é dividido em duas partes, de forma que são
apresentadas 60 vistas por segundo. Como não existe, na televisão,
um oclusor, como no cinema, pode-se obter o mesmo efeito entrela-
çando as linhas horizontais em dois grupos, um deles com as linhas
pares e outro com as ímpares. Cada um desses grupos é chamado de
campo, Fig.12.3.

Fig. 12.2. Solução proposta para o cinema.

Fig. 12.3. Formação de um campo.


365
A freqüência de repetição dos campos é de 60 por segundo, de
forma que dois campos são varridos durante um período de quadro
de 1/30 s. Têm-se, então, 60 vistas por segundo, que é uma freqüência
de repetição suficientemente alta para eliminar a cintilação. Esses va-
lores foram escolhidos nos Estados Unidos porque a maior parte das
residências ali é servida pela rede de distribuição elétrica em 60 Hz.
O mesmo ocorre no Brasil. Dessa forma, a freqüência de campos é
igual à da rede de energia. Em países em que a distribuição de energia
elétrica é em 50 Hz, a taxa usada é de 25 quadros por segundo e, por-
tanto, a freqüência de campos é de 50 Hz.
A freqüência de varredura vertical é a freqüência de campo, 60
Hz. É com essa freqüência que o feixe de elétrons completa seu ciclo
de movimento vertical, desde cima até em baixo e retornando para
cima. O tempo para a varredura vertical de um campo é 1/60 s. Como
cada campo contempla apenas linhas pares ou ímpares, o número de
linhas horizontais varridas por campo é metade das 525 linhas do
quadro, resultando em 262,5 linhas para cada campo vertical. Sendo
o período de cada campo 1/60 s e como cada um contém 262,5 linhas,
tem-se que o número de linhas por segundo é 262,5×60 = 15.750. Este
valor corresponde à freqüência com a qual o feixe de elétrons faz um
ciclo completo de movimento, da esquerda para a direita, retornando
à esquerda.
O tempo para varrer cada linha horizontal (tempo H) é 1/15.750
s, que equivale a 63,5 ms, aproximadamente. Esse valor indica que o
sinal de vídeo para elementos de imagem em uma linha horizontal
pode conter freqüências da ordem de megahertz. Como freqüência
ƒ = 1/T, se houvesse mais linhas, o tempo de varredura seria ainda
menor, resultando em freqüências mais altas. O sistema de 525 linhas
limita a máxima freqüência de vídeo em torno de 4 MHz, por causa
da restrição de largura de faixa de 6 MHz.

366
12.3.3 Sincronismo e apagamento
Pulsos de sincronismo são transmitidos como parte do sinal da
imagem, mas ocorrem durante o retraço, quando não há informação
visual sendo transmitida. Parte do sincronismo acontece ao fim de
cada linha e marca o início do retraço horizontal. O sincronismo acon-
tece no início do retraço ou no final do traço, e não no início do traço.
O sincronismo vertical acontece no final de cada campo e marca o
início do retraço vertical. Nesse momento, o feixe de elétrons deve es-
tar embaixo da imagem. Ocorrendo a perda do sincronismo vertical,
a imagem reproduzida “rola” para cima ou para baixo. Se não houver
sincronismo nas linhas de varredura, a imagem “escorrega” para di-
reita ou esquerda e acaba fragmentando-se em segmentos diagonais.
O tempo necessário para efetivar o apagamento é aproximada-
mente 16% do tempo de varredura de cada linha horizontal, ou seja,
63,5 ms × 0,16 = 10,2 ms. Para o apagamento vertical, o tempo necessá-
rio é 8% do tempo de um campo: 1/60 × 0,08 = 0,0013 s.

12.4 TV a cores

Uma das soluções mais fascinantes da engenharia é relacionada


à inserção de cor na transmissão de TV. O grande desafio era como
transmitir a imagem colorida ocupando a mesma banda de freqüência
e de maneira que os proprietários de aparelhos monocromáticos con-
tinuassem a receber o sinal de TV sem nenhuma degradação.
A fim de se ter compatibilidade entre os sistemas de TV mono-
cromática e a cores, o processo de transmissão utilizado é o mesmo,
exceto que as informações de cor da cena são acrescidas em termos
das componentes de vermelho, verde e azul, Fig.12.4. Os sinais cor-
respondentes ao vermelho, verde e azul são combinados para gerar
dois sinais distintos: de luminância e de crominância. O sinal de lu-
minância, chamado de Y, contém somente as variações de brilho da
imagem, incluindo detalhes, e é utilizado para reproduzir a imagem

367
em preto e branco. O sinal de crominância, chamado de C, contém
as informações de cor. Em TV monocromática, o sinal Y reproduz a
imagem em preto e branco. O sinal C é simplesmente desprezado.

Fig. 12.4. Princípio da transmissão a cores.

Uma observação atenta da ocupação do canal de TV permite


constatar que o sinal monocromático não ocupa de maneira contínua
o espectro, existindo janelas nas quais o sinal de crominância poderia
ser alocado. Esses espaços são decorrentes das varreduras horizontais
e verticais. A varredura horizontal dá origem a raias espectrais espa-
çadas de 15.750 Hz. Essas raias são envoltas em outras componentes
de freqüências provenientes da varredura vertical e espaçadas de 60
Hz, conforme ilustra a Fig.12.5. Então, o sinal de crominancia C é
modulado em uma subportadora que permita uma distribuição espec-
tral complementar a do sinal de luminância Y, conforme ilustrado na
Fig.6.6. A freqüência da subportadora é de 3,579545 MHz no padrão
NTSC, e 3,575611 MHz no padrão PAL-M, portanto, aproximada-
mente 3,58 MHz.

368
Fig. 12.5. Espectro de freqüência do sinal de TV monocromático.

Fig. 12.6. Espectro de freqüência do sinal de TV a cores.

369
12.5 Sinal de Vídeo Composto

A câmera recebe os sinais de vídeo com as componentes verme-


lha (red), verde (green) e azul (blue), correspondendo à informação
de cor da cena. Um circuito matriz gera novas formas de ondas na
sua saída, a partir do sinal R, G e B de entrada. Um sinal conterá a
informação de luminosidade Y, enquanto que os outros dois conterão
a cor. Estes devem ser misturas de cores, significando que eles contêm
R, G e B. As duas misturas de cores mais a luminância Y correspon-
dem à informação real da imagem contida nos sinais de vídeo R, G e
B. Na codificação Y, I e Q, Fig.12.7, tem-se:
•  Sinal Y: combinação de R, G e B que contém as variações de
brilho, correspondendo ao sinal de vídeo monocromático. O sinal
Y é formado tomando-se 30% do vídeo R, 59% do vídeo G e 11%
do vídeo B, Y = 0,30R + 0,59G + 0,11B.
•  Sinal I: formado por 0,60R - 0,28G - 0,32B.
•  Sinal Q: a composição de Q é 0,21R – 0,52G + 0,31B.

Fig. 12.7. Composição dos sinais Y, I e Q.

O sinal C é construído a partir dos sinais de misturas de cores I


e Q que, defasados entre si de 90° e modulados por uma portadora
de 3,58 MHz, são combinados num circuito somador. Os sinais C

370
e Y serão acoplados ao circuito somador, ou multiplexador de cor
(colorplexer), formando o sinal de vídeo completo que será entregue
ao transmissor, que procederá a modulação em amplitude da onda
portadora de imagem do canal designado de 6 MHz da estação. A
modulação é um sinal composto de vídeo a cores, incluindo o sincro-
nismo de deflexão e os pulsos de apagamento. A Fig.12.8 exemplifica
a formação do sinal de vídeo composto.

Fig. 12.8. Sinal de vídeo composto.

12.6 Sistema de Transmissão e Recepção de TV

Entende-se por difusão o envio de informações em todas as dire-


ções. Como mostra a Fig.12.9, a antena transmissora radia ondas ele-
tromagnéticas que podem ser captadas por uma antena receptora. O
transmissor de TV tem duas funções: transmitir áudio e vídeo. O sinal
AM de vídeo e o FM de som são radiados por uma mesma antena. A
antena receptora capta tanto a portadora de som quanto a de imagem.
Os sinais são amplificados e detectados para recuperar-se a modula-
ção original. A faixa de freqüências para a transmissão dos sinais de
vídeo e áudio é chamada canal de televisão. No padrão de televisão

371
utilizado no Brasil, a cada estação de TV é reservada uma faixa de 6
MHz de largura e uma freqüência portadora especificada pela ITU-R.
A largura de 6 MHz é necessária principalmente por causa do sinal de
vídeo que contém freqüências até 4,2 MHz. As freqüências mais altas
do sinal de vídeo, de 2-4 MHz, correspondem aos pequenos detalhes
horizontais da cena.
No início da transmissão de televisão, o canal 1 ocupava a faixa de
44-50 MHz, mas hoje esta faixa está destinada a outros serviços. Entre
os canais 4 e 5, as freqüências de 72-76 MHz são utilizadas em serviços
de rádio, como navegação aérea. A faixa de radiodifusão sonora em
FM (88-108 MHz) situa-se logo acima do canal 6, embora tal serviço
não se relacione com a difusão de TV. Um canal é dito adjacente a
outro quando lhe está próximo em freqüência, e não apenas no núme-
ro do canal. Assim, por exemplo, os canais 4 e 5 não são adjacentes,
porque existe um salto de 4 MHz entre 72-76 MHz. Os canais 2, 3 e
4, por outro lado, são realmente adjacentes. Os canais 7 a 13, da faixa
superior de VHF, também são adjacentes, assim como os canais de
UHF, devido às bandas contínuas de 6 MHz, Fig.12.10.
Nas faixas de VHF e UHF, os sinais propagam-se por transmissão
em linha de visada entre as antenas transmissora e receptora. Os sinais
radiados pouco seguem a curvatura da Terra. A transmissão em visada
direta torna a altura da antena importante para obter-se uma boa re-
cepção dos sinais de TV.
As entidades governamentais alocam os canais de televisão, que
devem manter-se dentro de normas técnicas bastante estritas. Cada
estação deve adequar-se a essas especialidades e servir às necessidades
da comunidade.
Enlaces em microondas e cabos de banda larga são utilizados para
a distribuição de programas de televisão através de redes nacionais.
É comum ter-se o estúdio, local onde os sinais são gerados e grava-
dos em fitas, localizado em áreas centrais das cidades, convenientes
às pessoas que produzem os programas. Um programa também pode
ser originado fora do estúdio, em viaturas de reportagem. O trans-
missor deve estar em alguma localização distante, normalmente no

372
ponto mais alto da cidade. Os sinais de banda-base chegam ao trans-
missor por microondas ou cabos de banda larga. Em muitos casos, o
transmissor possui sua própria ligação em microondas, o STL (studio
transmitter link), dispondo-se de antenas no estúdio e no transmissor.
O STL opera em bandas alocadas para essa finalidade, situadas entre
2 GHz e 12 GHz.

Fig. 12.9. Diagrama de blocos de um sistema de televisão.

Fig. 12.10. Exemplo de distribuição de canais em TV aberta.

373
12.6.1 Características do Sinal de TV para de transmissão
Para uma boa comunicação entre o transmissor e receptor de TV,
devem ser considerados as seguintes recomendações.
•  Por norma, a varredura deve ser efetuada com velocidade uni-
forme nas linhas horizontais, progredindo, de cima para baixo,
quando a cena é vista da posição da câmera.
•  O número de linhas por quadro é 525.
•  A taxa de exibição dos quadros é aproximadamente 30 Hz, ou
exatamente 29,97 Hz.
•  A subportadora de cor para o sinal NTSC tem a freqüência de
3,579545 MHz e, para o PAL-M, 3,575611 MHz.
•  A relação de aspecto é de 4:3, isto é, 4 unidades horizontais para
3 verticais, ou 1,33.
•  A largura do canal alocado a uma estação de TV é de 6 MHz,
aplicável aos canais em VHF, UHF, CATV e MMDS, monocro-
máticos ou em cores.
•  A portadora de vídeo é modulada em amplitude pelo sinal de
vídeo e pelo sinal de sincronismo. Ambos têm diferentes amplitu-
des no sinal AM transmitido.
•  O som associado é transmitido em FM. O máximo de desvio
de freqüência é ±25 kHz para 100% de modulação. A freqüência
interportadoras de vídeo e áudio deve ser de 4,5 MHz, isto é, a
portadora de som deve ser posicionada no espectro do canal de 6
MHz a 4,5 MHz acima da portadora de vídeo.

12.6.2 O processo de transmissão de TV


Na transmissão de televisão emprega-se, usualmente, a modula-
ção AM-VSB. Na modulação AM, faz-se com que a amplitude de uma
portadora de RF varie de acordo com a amplitude de uma tensão mo-
duladora, que, no caso do vídeo, é o sinal de banda-base, Fig.12.11. Na
televisão, o sinal banda-base é um sinal composto de vídeo.

374
Fig. 12.11. Portadora de imagem transmitida, modulada em
amplitude pelo sinal composto de vídeo.

O sinal AM de imagens não é transmitido como um sinal comum


com duas bandas laterais. Ao invés disso, parte da banda inferior é
eliminada por filtragem, antes da transmissão, permanecendo apenas
um vestígio dessa banda lateral, Fig.12.12. O objetivo é reduzir a faixa
de freqüência necessária para a modulação de vídeo do sinal de ima-
gem. Assim sendo, empregam-se canais de 6 MHz para a transmissão
de TV, no lugar dos 8 MHz, ou mais, que seriam necessários com a
banda lateral dupla com modulação de 4 MHz.

Fig. 12.12. Transmissão em banda lateral vestigial (VSB).

375
Na Fig.12.13 é ilustrado como os sinais de imagem e de som ficam
alojados no canal de 6 MHz. A freqüência da portadora de imagem
não está situada no centro do canal, devido à transmissão por banda
lateral vestigial. Observe os seguintes espaçamentos para as freqüên-
cias das portadoras.
•  A portadora da imagem P está a 1,25 MHz acima do extremo
inferior do canal.
•  A portadora de som S encontra-se 4,5 MHz acima da portadora
de imagem, ou 0,25 MHz abaixo do extremo superior do canal.
•  A subportadora de cor C está 3,58 MHz acima da portadora
de imagem, sob a forma de modulação de vídeo na banda lateral
superior.

Como exemplo de determinação de freqüência de um canal de


RF, considere o canal 3 de TV, na faixa de 60-66 MHz, Fig.12.14. A
portadora de imagem é dada por P = 60 + 1,25 = 61,25 MHz; a de
som por S = 61,25 + 4,5 = 65,75 MHz; e a subportadora de cor, por C
= 61,25 + 3,58 = 64,83 MHz.

Fig. 12.13. Utilização dos 6 MHz de um canal de radiodifusão em TV.

376
Fig. 12.14. Utilização do canal 3 de radiodifusão em TV.

12.7 Os Serviços de TV

Os serviços de radiodifusão de televisão podem ser classificados


conforme descrito na Tabela 12.1. A Tabela 12.2 apresenta a classifica-
ção das estações de TV e RTV em função de seus requisitos máximos.
Tabela 12.1. Serviços de radiodifusão de televisão.
Serviço de radiodifusão de televisão pela transmissão dos sinais de estação geradora de
TV
televisão (emissora de TV), para a recepção livre e gratuita pelo público em geral.
Retransmissão de televisão. É o serviço destinado a retransmitir, de forma simultânea, os
RTV
sinais de estação geradora de televisão, para a recepção livre e gratuita pelo público em
geral.
Repetição de TV. É o serviço destinado ao transporte de sinais de sons e imagens
RpTV
oriundos de uma estação geradora de televisão para estações repetidoras ou
retransmissoras ou, ainda, para outra estação geradora de televisão, cuja programação
pertença à mesma rede.

377
Tabela 12.2. Classificação das estações de TV e RTV.
distância máxima ao
classe canal máxima potência ERP
contorno protegido (km)
2-6 100 kW (20 dBk) 63
Especial (só TV) 7-13 316 kW (25 dBk) 66
UHF 1.600 kW (32 dBk) 53
2-6 10 kW (10 dBk) 42
A 7-13 31,6 kW (15 dBk) 46
UHF 160 kW (22 dBk) 40
2-6 1 kW (0 dBk) 25
B 7-13 3,16 kW (5 dBk) 28
UHF 16 kW (12 dBk) 26
2-6 0,1 kW (−10 dBk) 14
C 7-13 0,316 kW (−5 dBk) 16
UHF 1,6 kW (2,04 dBk) 14

12.8 Sistema de Televisão Digital

A TV digital terrestre, conhecida por Digital Television Terres-


trial Broadcasting (DTTB), teve início em 1988, nos EUA, quando foi
criado o Adivisory Commitee on Advanced Television (ACATS). Esse
comitê teve como objetivo desenvolver tecnologia para a transmissão
do sinal digital de televisão com qualidade superior à da já existente
na televisão analógica e que permitisse a inclusão de novos serviços.
Inicialmente, o ACATS decidiu desenvolver um sistema totalmente
digital, denominado DTV (Digital Television). Para isso, foi criado o
laboratório ATTC (Advanced Television Test Center), que, entre 1990
e 1992, testou seis propostas. Nos testes realizados, nenhuma das pro-
postas satisfez a todos os requisitos. Em 1993, sete empresas e ins-
tituições participantes dos testes (AT&T, GI, MIT, Phillips, Sarnoff,
Thomson e Zenith) formaram a Grande Aliança e, juntas, desenvolve-
ram um padrão para compressão do vídeo, o MPEG-2.
No final de 1993, os europeus decidiram desenvolver um padrão
totalmente digital e também adotaram o padrão MPEG. Criou-se en-
tão o consórcio Digital Vídeo Broadcasting (DVB). A versão DVB
para a radiodifusão terrestre (DVB-T) entrou em operação em 1998,

378
na Inglaterra. Em 1995, o Advanced Television System Commitee
(ATSC) recomenda ao FCC a adoção do sistema da Grande Aliança
como o padrão para a DTV norte-americana.
Em 1997, os japoneses decidiram desenvolver um padrão total-
mente digital. O sistema, denominado Integrated Services Digital
Broadcasting (ISDB), assemelha-se ao europeu e entrou em operação
com transmissão via satélite em 2000.
A China também resolveu adotar um padrão próprio de TV di-
gital. Atualmente, estão em teste dois padrões de transmissão digital
terrestre, desenvolvidos por universidades chinesas em parceria com
empresas dos Estados Unidos. A Tsinghua University de Beijing, asso-
ciada à Legend Silicon, é responsável pelo desenvolvimento do Digital
Multimedia Television Broadcasting-Terrestrial (DMB-T). A Jiao Tong
University, de Shangai, em conjunto com a Linx Electronics, propôs o
Advanced Digital Television Broadcasting (ADTB-T). Em princípio, o
governo chinês escolherá entre esses dois sistemas a opção para o país.
Em resumo, a televisão digital, no mundo, se divide basicamente
em quatro grandes grupos: o americano, com o sistema ATSC; o eu-
ropeu, que adota o padrão DVB-T; o japonês, chamado ISDB-T; e o
chinês, com o DMB-T ou ADTB-T. Além dessas quatro tecnologias é
possível se falar no ISDTV ou SBTVD, que denomina a tropicaliza-
ção feita no Brasil a partir do sistema japonês.

12.9 Características da TV Digital

A característica fundamental que distingue a plataforma de TV


digital da analógica é associada ao tratamento do sinal audiovisual por
meio de técnicas digitais: codificação, compressão e transmissão. Esse
tratamento fornece um sinal muito menos sensível a interteferências e
ruídos. O processo de digitalização do sinal de TV possibilita melhor
imagem, melhor som, mais canais e permite ao usário interagir com a
TV por meio de aplicações vindas junto com o áudio e o vídeo. Outras

379
quatro características − formato de tela 16:9, alta definição, interati-
vidade e mobilidade/portabilidade − são freqüentemente associadas
à plataforma de TV digital, pois sua implementação é facilitada ao
utilizar a tecnologia digital. No entanto, essas características não são
exclusivas dessa plataforma.
O formato 16:9 diz respeito à proporção entre as dimensões de
largura e altura com que as imagens são apresentadas na tela. Esse for-
mato, também designado como tela ampla ou widescreen, é o mesmo
exibido nas telas de cinema. A transmissão em alta definição implica
em imagem com qualidade muito superior à proporcionada pela TV
analógica. É usual que uma imagem, nesse padrão, seja produzida e
transmitida no formato 16:9. A definição padrão, por sua vez, dispo-
nibiliza ao usuário imagens com qualidade similar à percebida com o
uso do DVD em um aparelho analógico. Normalmente, esse padrão
é apresentado no formato tradicional (4:3), embora possa ser também
apresentado em widescreen.
A interatividade permite ao usuário manifestar suas preferências
e reações quanto ao conteúdo. Os níveis de interatividade variam se-
gundo a existência do canal de retorno. A mobilidade diz respeito à
recepção por terminais móveis (automóveis, trens etc.), enquanto a
portabilidade se refere aos dispositivos portáteis (celulares, notebooks
etc.). A Tabela 12.3 resume as principais vantagens da TV digital em
relação à TV analógica.
Tabela 12.3. Principais vantagens da TV digital em relação à TV analógica.

fator analógico digital


boa excelente (DVD)
qualidade da imagem degradações: fantasma e não degrada enquanto o sinal
chuvisco puder ser recebido
qualidade do áudio mono ou estéreo estéreo ou surround
interatividade (datacasting)
novos recursos múltipla programação em um
mesmo canal
potência transmitida até 100 kW típico 10 kW
otimização do espectro uso do espectro limitado por possível uso de canais
interferências adjacentes
mobilidade deficiente, de má qualidade excelente
portabilidade integração com os aparelhos
celulares

380
12.9.1 Resolução da Imagem
A maioria das TVs nos Estados Unidos e no Brasil é desenvolvida
para mostrar 480 linhas. A forma de como as estações de TV trans-
mitem seus sinais é normalmente chamado de definição padrão (stan-
dard definition - SD). A SDTV possui definição similar à da televisão
analógica e, apesar de comumente empregar o formato 4:3, pode-se
utilizar o formato 16:9.
O padrão de TV de alta definição (HDTV) utiliza o formato 16:9
e trabalha com 720 linhas ou 1.080 linhas. Os padrões de 1.080 linhas
trabalham com varreduras entrelaçada e progressiva, 1.080i e 1.080p.
O padrão de 720 linhas admite somente a varredura progressiva, 720p,
porque, na varredura entrelaçada, o quadro inteiro nunca é visto. Na
realidade, é visto as linhas ímpares de um quadro e as linhas pares de
um outro, o que reduz a resolução vertical do vídeo entrelaçado pela
metade, pois sempre é visto a metade do quadro anterior e a metade
do próximo. Isso explica porque os padrões 1.080i e 720p são conside-
rados de igual qualidade e classificados como HDTV, Fig.12.15.

Fig. 12.15. Funcionamento da varredura progressiva e da varredura


entrelaçada.

381
Portanto, tem-se definição padrão (480i) e alta definição (720p,
1.080i e 1.080p). Entre a definição padrão e a alta definição surgiu o
padrão conhecido como definição aprimorada (enhanced definition
– ED) que trabalha também com apenas 480 linhas de resolução. A
definição padrão é feita de linhas entrelaçadas (480i), enquanto que a
definição aprimorada usa 480 linhas progressivas (480p). A qualidade
da imagem utilizando varredura entrelaçada e varredura progressiva
pode ser observada na Fig.12.16. Existe ainda um padrão de baixa de-
finição (low definition television – LDTV), que utiliza 240 linhas com
varredura progressiva e razão de aspecto 4:3. Este padrão refere-se
a uma qualidade de resolução inferior e é utilizado para transmissão
com portabilidade. A Fig.12.17 mostra o grau de qualidade percebida
pelo usuário em relação aos diversos padrões de definição.

Fig. 12.16. Comparação da qualidade da imagem entre os padrões


SD (480i) e ED (480p) no formato 16:9.

Fig. 12.17. Qualidade da imagem em relação ao padrão de definição.

382
A Tabela 12.4 resume os padrões de definição existentes para TV
digital. A Fig.12.18 mostra as resoluções adotadas para TV digital e
também compara o tamanho de ocupado por cada uma, bem como o
seu formato de tela (razão de aspecto).
Tabela 12.4. Padrões de definição para TV digital.
qualidade linhas linhas formato quadros por segundo
horizontais verticais de tela e tipo de varredura
HDTV 1.080 1920 16:9 24p, 30i, 30p
HDTV 720 1280 16:9 24p, 30p
EDTV 480 853 16:9 24p, 30p
SDTV 480 853 16:9 30i
SDTV 480 640 4:3 30i
LDTV 240 320 30i

Fig. 12.18. Modos de visualização da TV digital.

12.9.2 Necessidade de compressão


U�������������������������������������������������������������
m vídeo digitalizado com a qualidade típica de televisão ana-
lógica possui uma resolução de 129.792 pixels. Considerando que se
trata de TV a cores, cada pixel é representado pela composição das
cores vermelha, verde e azul. Essa representação é conhecida como
padrão RGB (red-green-blue). Cada pixel é decomposto em três com-
ponentes e cada componente é codificada em 8 bits. Assim, cada pixel
é representado por 24 bits, resultando aproximadamente 3 Mbits por

383
quadro (129.792 �������������������������������������������������������
������������������������������������������������������
24 bits = 3.115.008 bits). A Fig.12.19 ilustra o pro-
cesso de digitalização de uma imagem de TV.

Fig. 12.19. Número de bits de uma imagem colorida na TV analógica


com formato de tela 4:3.

Como, para se ter a sensação de movimento, é necessário 30 qua-


dros por segundo, tem-se aproximadamente uma taxa de 90 Mbps.
Considerando uma eficiência espectral de 1:2, isto é, em cada Hz é
possível transportar dois bits (2 bits por Hz), é necessário uma banda
passante de 45 MHz para a transmissão de TV digital com a definição
padrão (SD). Para o formato HDTV, a banda passante é da ordem
de 750 MHz, Fig.12.20. Apesar da possibilidade de fornecer novos
serviços e melhor recepção, a banda passante necessária praticamente
inviabilizaria a digitalização do sinal de TV.

384
Fig. 12.20. Banda passante necessária para transmitir um sinal de
HDTV sem compressão.

No entanto, as amostras espaciais e temporais em um vídeo são


bastante correlacionadas entre si, assim, é possível explorar essa carac-
terística para que o vídeo digital seja representado e comprimido de
maneira eficiente. Dessa forma, é a compressão de dados que viabiliza
a transmissão dos dados de maneira mais rápida e eficiente, em canais
com banda razoavelmente limitada, pois contém um número menor
de dados e a “mesma” informação. Para a televisão digital, tanto o si-
nal de vídeo quanto o de áudio são digitalizados e codificados utilizan-
do técnicas eficientes de compressão de sinais. Os sinais codificados
e os serviços são multiplexados em um stream (fluxo de dados) que
é recodificado (codificação de canal) e modulado para transmissão,
Fig.12.21.

385
Fig. 12.21. Diagrama de blocos de um emissor de sinais da televisão
digital.

12.10 O modelo de TV digital

Para implementar a TV digital, foi imprescindível o estudo de


novas técnicas de codificação de imagem e de áudio, juntamente com
um novo método de transmissão. A ITU estabeleceu um modelo bási-
co de referência para a TV digital, que deve ser seguido pelos padrões
públicos. Assim como o Open System Interconnect (OSI) da Interna-
tional Organization for Standardization (ISO), o modelo da televisão
digital foi desenvolvido em camadas. As principais funções das cinco
camadas desse modelo são as apresentadas a seguir.
•  Camada de aplicação. Corresponde à camada visível para o
usuário e que fará a interação direta com o mesmo, sendo su-
portada pelas camadas inferiores. É responsável pela execução
dos aplicativos, como Internet, filmes etc.
•  Camada de middleware. Camada de software que oferece um
serviço padronizado para a camada de aplicação, escondendo as
peculiaridades e heterogeneidades das camadas de compressão,
transporte e transmissão.
•  Camada de compressão. Realiza a compressão e a descompres-
são de fluxos de áudio e de vídeo.

386
•  Camada de transporte. Efetua a multiplexação e a demultiple-
xação dos programas de TV.
•  Camada de transmissão. É responsável pela sintonia, modula-
ção e demodulação, codificação e decodificação do sinal.

A Fig.12.22 apresenta as camadas desse modelo, na qual estão


representados os blocos funcionais básicos de um sistema de TV di-
gital. O primeiro deles, de codificação e compressão do sinal fonte, é
responsável pela conversão e compressão dos sinais de áudio e vídeo
em feixes digitais denominados fluxos elementares de informação. O
segundo, de multiplexação e transporte, é responsável pela multiple-
xação dos diferentes fluxos elementares formando um único feixe di-
gital na sua saída. Por último, vem o bloco de codificação do canal e
modulação, responsável por converter o feixe digital multiplexado em
um sinal passível de transmissão por um meio físico.
Todos os padrões utilizam técnicas de compressão e modulação
de múltiplos níveis, a fim de garantir bandas similares às alocadas para
a TV analógica. O sistema americano utiliza uma faixa de 6 MHz. O
DVB-T e o padrão chinês podem utilizar bandas de 6 MHz e 8 MHz.
O sistema japonês, ISDB-T, é capaz de operar com as bandas de 6, 7
ou 8 MHz.

387
Fig. 12.22. Arquitetura em camadas da TV digital.

12.10.1 A Camada de Compressão


A compressão de vídeo e áudio é necessária para que a trans-
missão de TV digital possa ser feita em canais com a mesma banda
passante utilizada pela TV analógica. Os padrões de compressão utili-
zados nos sistemas de TV digital pertencem à família MPEG (Moving
Picture Experts Group). Esse grupo surgiu em 1987 com o propósito
de desenvolver algoritmos e ferramentas para a codificação das in-
formações de áudio e vídeo em um formato digital comprimido. As
atividades do MPEG cobrem mais que a compressão de vídeo, vez
que a compressão do áudio associado e a sincronização audiovisual
não podem ser independentes da compressão do vídeo. O vídeo e
o áudio devem ser multiplexados em um único fluxo de bits. Para
realizar todas essas tarefas, o padrão MPEG foi estruturado em três

388
partes: MPEG-vídeo, MPEG-áudio e MPEG-sistemas, que trata da
sincronização de áudios e vídeos e define uma estrutura multiplexada
para combinar fluxos elementares (áudio, vídeo e serviço).
Atualmente existe uma série de padrões propostos pelo grupo
MPEG, entre eles, o MPEG-1, o MPEG-2 e o MPEG-4. Disponibili-
zado no início dos anos 90, o padrão MPEG-1 foi o primeiro membro
dessa família, sendo voltado para aplicações de vídeo e CD-ROM. O
MPEG-2, uma evolução do MPEG-1, teve sua primeira versão em
1994. Inicialmente esse padrão foi concebido para atender às necessi-
dades da TV digital com definição padrão (SDTV). As aplicações para
televisão de alta-definição (HDTV) seriam atendidas pelo MPEG-3.
No desenvolvimento do MPEG-2, ficou claro que as técnicas empre-
gadas também atendiam às necessidades do padrão HDTV, assim, o
MPG-3 foi descartado. O padrão MPEG-2 visa aplicações em TV di-
gital, DVD e TV por satélite. Os padrões MPEG-1 e MPEG-2, seme-
lhantes em conceitos básicos, abordam a representação da informação
áudio-visual considerando apenas informações originárias de fontes
naturais de áudio e vídeo. Ambos estão fundamentados em técnicas
baseadas em codificação por meio de transformadas.
Para que a convergência com outras aplicações e serviços se tor-
nasse viável, principalmente com as redes móveis, surgiu o MPEG-4,
que trabalha com taxas de codificação e transmissão bem menores.
Enquanto o MPEG-2 trabalha com a codificação orientada ao pixel,
tendo atingido praticamente os limites da saturação em termos de
compressão de taxas,���������������������������������������������
o MPEG-4 trabalha ��������������������������
com a codificação do obje-
to. Essa característica possibilita que vídeos e outros conteúdos sejam
codificados com uma qualidade aceitável e distribuídos em taxas de
transmissão apropriadas tanto para banda passante de celular de ter-
ceira geração (3G) como para HDTV, isto é, de 40 kbps a 10 Mbps.
A Fig.12.23 mostra as principais diferenças e aplicações dos padrões
MPEG-1, 2 e 4.

389
Fig. 12.23. Principais características dos padrões MPEG.

12.10.2 A Camada de Transmissão


A camada de transmissão é responsável por converter o feixe di-
gital multiplexado em um sinal (ou grupo de sinais) passível de trans-
missão por um meio físico, no caso, o ar. No modulador, o feixe digital
multiplexado recebe informações adicionais que têm como objetivo ga-
rantir sua recuperação com a máxima perfeição nos receptores. Essas
informações acrescem significativamente a taxa final de transmissão em
forma de códigos corretores de erro, que são essenciais para a robustez
do sinal transmitido em radiofreqüência.
Admitindo-se que os codec’s de áudio e vídeo sejam comuns em
todos os padrões de TV digital, então a diferença mais relevante entre
os padrões está situada na arquitetura de modulação. Os dois métodos
de modulação digital utilizados na TV digital são a modulação com por-
tadora única (SCM) ou a modulação com múltiplas portadoras (MCM).
A técnica de SCM é empregada nos padrões americano ATSC, que
usa o esquema de modulação 8VSB (vestigial side band com 8 níveis) e
chinês, que usa o OQAM (offset quadrature amplitude modulation). A
técnica de múltiplas portadoras é utilizada nos padrões europeu DVB-T
e japonês ISDB-T, que trabalham com o COFDM (coded orthogonal
frequency division multiplex), Fig.12.24

390
Fig. 12.24. Modulações utilizadas pelos padrões de TV digital.

As técnicas de SCM de modulação digital com taxas de aproxi-


madamente 20 Mbps são muito sensíveis ao multipercurso, ruído e
interferência, sendo necessário o uso de técnicas de codificação com-
plexas para fazer a recepção mais robusta. As técnicas de modulação
com várias portadoras proporcionam ao sistema maior robustez frente
ao ruído impulsivo e multipercursos. A principal desvantagem da mo-
dulação MCM é a elevada complexidade de implementação dos pro-
cessos de modulação e demodulação, que aumentam com o número
de portadoras. Porém, utilizando-se a técnica da transformada de Fou-
rier não é necessário gerar e recuperar cada portadora separadamente.
Outro problema enfrentado pela TV digital é relacionado à trans-
missão para terminais móveis, devido o efeito de Doppler. O efeito
Doppler se traduz numa alteração da freqüência dos sinais recebidos
derivada da velocidade relativa entre emissor e receptor. No caso de
aproximação, a freqüência aparente da onda recebida pelo observa-
dor fica maior que a freqüência emitida. Ao contrário, no caso de
afastamento, a freqüência aparente diminui, conforme ilustrado na
Fig.12.25 Este efeito depende não só da freqüência dos sinais em ques-
tão, mas também da velocidade relativa entre o transmissor e o re-
ceptor, estabelecendo um limite na velocidade de um terminal para a
recepção do sinal com boa qualidade. A modulação 8-VSB não abor-
da essa questão. Com a modulação COFDM é possível se obter TV
digital com mobilidade e portabilidade de boa qualidade.

391
Fig. 12.25. Efeito Doppler.

12.10.3 A camada de Middleware


Middleware é um termo geral, normalmente utilizado para um
de código de software que atua como aglutinador ou mediador en-
tre dois programas existentes e independentes. Sua função é trazer
independência das aplicações com o sistema de transmissão. A TV
digital combina as funções da TV tradicional (broadcast) com a inte-
ratividade, textos e gráficos. Em um sistema de TV digital interativa,
o middleware corresponde a uma camada de software que permite o
desenvolvimento de aplicações interativas para a TV digital de forma
independente da plataforma de hardware dos fabricantes de converso-
res digitais (set-top boxes). O middleware permite que qualquer apli-
cação seja transportada para qualquer receptor digital (ou set-top box)
que suporte o middleware adotado. Assim, o middleware traduz os
aplicativos para o equipamento de cada usuário, possibilitando que as
aplicações sejam carregadas na maior variedade possível de recepto-
res, independentemente do padrão de transmissão. A Fig.12.26 apre-
senta a interação do middleware com o difusor, meio de transmissão
e receptor.

392
Fig. 12.26. Interação entre os integrantes do sistema e o middleware.

Tendo em vista os benefícios proporcionados com a adoção


dessa camada, os três principais órgãos de padronização em TV
digital incluíram em suas especificações a definição de um padrão
para plataformas de middleware para suporte ao desenvolvimen-
to de aplicações. Dessa forma, existem, atualmente, três principais
padrões de middleware adotados no mundo, que são apresentados
na Tabela 12.4 associado ao respectivo órgão de padronização que
o definiu. Dentro de alguns anos, quando a TV digital substituir com-
pletamente a TV analógica, a convergência total entre os middlewares
será notada. Os middlewares farão o papel de interface entre os di-
versos padrões de transmissão e o conteúdo dos serviços, programas,
entretenimentos etc., gerados de forma independente do padrão de
transmissão.
Tabela 12.4. Padrões de middleware para TV digital.

393
12.11 Padrões de TV digital

As plataformas de transmissão atualmente propostas para o ser-


viço de radiodifusão digital são ATSC-T, DVB-T, ISDB-T, SBTVD
e BMB-T ou ADTB-T. Por se dispor de poucas informações e não ser
padronizado pela UIT como modelo de referência, o padrão chinês
(BMB-T/ADTB-T) pouco será comentado. O modelo brasileiro, SB-
TVD, por ser uma evolução do padrão ISDB-T, será comentado em
separado. É importante ressaltar que as plataformas analisadas apre-
sentam soluções tanto para a transmissão via satélite (TVD-S), como
para transmissão por cabo óptico ou coaxial.
Embora as plataformas ATSC-T, DVB-T e ISDB-T apresentem ca-
racterísticas e particularidades específicas, grande parte da tecnologia
empregada é a mesma. Para os blocos de compressão e de multipexação
(transporte), há uma conformidade pela utilização do MPEG. No bloco
de transmissão e modulação, são usadas duas técnicas de modulação:
8-VSB e COFDM. A característica que mais diferencia os padrões está
associada ao middleware, em que cada padrão utiliza uma arquitetura
específica. O princípio de funcionamento da TV digital terrestre é apre-
sentado na Fig.7.27. A Fig.12.28 ilustra uma visão em camadas de um
sistema de televisão digital, identificando as diversas opções de padrões
de transmissão, transporte, codificação e middleware que podem ser
adotados em cada camada, para as transmissões terrestre, cabo e satélite.

394
Fig. 12.27. Diagrama de blocos da TV digital terrestre.

Fig. 12.28. Opções de padrões para um sistema de televisão digital


interativa.

395
12.11.1 Padrão ATSC
O padrão ATSC, criado nos Estados Unidos por um grupo de em-
presas, foi adotado pela FCC (Federal Communications Commission)
na década de 90. Atualmente, cerca de 64% dos telespectadores ame-
ricanos utilizam a TV digital com o padrão ATSC-T. O ATSC também
é utilizado no México, Argentina, Taiwan, Coréia do Sul e Canadá.
O padrão é organizado em quatro camadas interligadas, Fig.12.29.
Na camada superior é formada a imagem, com os formatos especí-
ficos. Na segunda camada, a de vídeo, é feita a compressão do sinal
de vídeo através do sistema MPEG-2. Estas duas primeiras camadas
também trabalham com o sistema Dolby AC-3 para o sinal de áudio
e juntas podem ser chamadas de camada de aplicação, pois definem
aplicações específicas com HDTV ou SDTV. Na terceira camada, de
transporte dos pacotes, são organizados os pacotes de forma separada,
que podem ser vídeo, áudio e dados. Esses pacotes são unidos para se
transformar em um feixe de aproximadamente 19,39 Mbps. A quarta
camada ou camada inferior é responsável pela transmissão, na qual a
modulação 8-VSB trabalha. Além da transmissão terrestre (radiodifu-
são) é possível utilizar o padrão ATSC via cabo, que utiliza a modula-
ção 64 QAM, e via satélite, que emprega a modulação QPSK.
Como o sistema americano visava inicialmente à veiculação da
HDTV, embora permitisse também a transmissão de SDTV e de ca-
nais de dados para a implementação da interatividade, a possibilidade
de convergência com a telefonia celular de terceira geração visando
a TV móvel não foi considerada. Outro problema é relacionado à
modulação 8-VSB que apresenta baixa robustez ao multipercurso, ge-
rando dificuldades de recepção em aparelhos fixos, localizados em
áreas sujeitas a interferências, e em aparelhos portáteis com apenas
antena interna. Recentemente, a ATSC apresentou uma nova ge-
ração de receptores que aparentemente elimina os problemas de
recepção quando se utiliza apenas antena interna. No entanto, a
transmissão para aparelhos móveis continua sendo problemática.

396
Fig. 12.29. Plataforma digital no padrão ATSC-T.

12.11.2 Padrão DVB


O padrão DVB (Digital Video Broadcasting), criado no ano de
1993 por um consórcio organizado pelo próprio setor, é atualmente a
plataforma mais utilizada, sendo adotada na Europa, Austrália, Nova
Zelândia e em alguns países africanos, Fig.12.30. Isso representa um
mercado de aproximadamente 300 milhões de receptores. O padrão
DVB-T foi desenvolvido para atender as necessidades dos países eu-
ropeus e permitir a migração da TV analógica para TV digital dentro
do mesmo canal de freqüências. Como a maioria dos países europeus
adota canais para radiodifusão de TV de 7 MHz ou 8 MHz, o padrão
DVB-T opera com essas duas larguras de faixa de canal, embora possa
ser adaptado a canais de 6 MHz. Em um canal de 8 MHz é possível
transmitir, simultaneamente, quatro programas SDTV com boa quali-
dade de imagem, ou então apenas um com qualidade HDTV.
A principal característica da TV Digital DVB-T é a modulação
COFDM. O DVB-T admite dois modos de operação, conhecidos

397
como 2K (que utiliza 1.705 portadoras) e 8K (6.817 portadoras). Uma
das vantagens dessa divisão do sinal em um elevado número de por-
tadoras é a maior imunidade a ruído e uma grande robustez do siste-
ma em canais com multipercursos, permitindo assim a recepção de
boa qualidade em áreas sujeitas a interferências. Conforme o modo
de operação e dos parâmetros utilizados na codificação e modulação
do sinal, o sistema DVT-T apresenta diferentes relações capacidade/
robustez, que pode ser traduzida como uma configuração hierárquica.
Na prática, isso significa que o telespectador pode assistir a um mes-
mo programa em dois diferentes níveis de resolução, mais baixa para
recepção móvel (480 linhas em médias) e mais alta (1.028 linhas) para
recepção fixa; ou dois programas completos diferentes.

Fig. 12.30. Situação mundial das plataformas de TVD-T.

A Fig.12.31 mostra o diagrama em blocos do sistema DVB. Na ca-


mada de codificação, o sistema MPEG-2 é utilizado tanto para o sinal
de vídeo quanto para o sinal de áudio. Depois de passar pela camada
de multiplexação, o feixe gerado vai para a camada de transmissão,
na qual é modulado de acordo com o meio. Quando o meio de trans-
missão for via radiodifusão, usa-se modulação COFDM, e, para as
transmissões via cabo, utiliza-se a QAM, que também é empregada
no caso de radiodifusão terrestre por microondas. O meio via satélite
utiliza a modulação QPSK.

398
Embora o DVB-T tenha características técnicas que permitissem a
recepção móvel, este tipo de aplicação mostrou-se inviável em função
do alto consumo de energia e a necessidade de duas antenas, con-
dições incompatíveis com os receptores portáteis. Para corrigir essas
falhas, surgiu o padrão DVB-H (Digital Video Broadcast – Handheld).
Esse padrão possibilita baixos consumos de energia e acrescenta algu-
mas funções otimizadas para mobilidade. Em contrapartida, a necessi-
dade de boa recepção com uma pequena antena exigiu uma topologia
de rede mais densa, com mais transmissores, que para a recepção com
grandes antenas exteriores. Contudo, tanto a altura das antenas quan-
to a energia de transmissão necessárias serão menores.
Dos pontos de vista técnico e financeiro, é exeqüível desenvolver
redes DVB-H com cobertura semelhante a das redes de telefonia mó-
vel, o que permitiria integrar a recepção de DVB-H em equipamentos
móveis, daí resultando o benefício do acesso simultâneo a telecomu-
nicações e a TV móvel.

Fig. 12.31. Plataforma de transmissão DVB.

12.11.3 Padrão ISDB


O padrão ISDB (Integrated Services of Digital Broadcasting) foi
desenvolvido pelo grupo japonês DiBEG (Digital Broadcasting Ex-
perts Group) nas décadas de 70 e 80 do século passado, porém, so-
mente na década de 90 começou a entrar no mercado. A estrutura
de funcionamento é semelhante ao modelo europeu, contudo, mais
399
avançada. É o único modelo a permitir que a TV digital seja utilizada
com todas as suas aplicações, inclusive a convergência com os apare-
lhos de terceira geração. Além disso, é o mais indicado para as regiões
metropolitanas (com alta densidade habitacional). Três tipos de siste-
ma foram desenvolvidos para compor a plataforma ISDB: ISDB-T
(Terrestre), ISDB-S (Satélite), e ISDB-C (Cabo).
O ISDB-T é uma plataforma concebida para múltiplas aplicações,
não apenas para o serviço de televisão. A Fig.12.32 ilustra os principais
serviços que podem ser oferecidos. Tendo em vista tal princípio, o sis-
tema ISDB-T utiliza a tecnologia exclusiva de modulação BST-OFDM
(band segmented transmission - orthogonal frequency division multiple-
xing), que permite dividir a banda de 6 MHz em 13 segmentos. Os pa-
râmetros de transmissão podem ser definidos independentemente para
cada segmento, utilizando as propriedades da modulação OFDM. Te-
oricamente, um canal de 6 MHz poderia ser dividido entre 13 serviços
ou emissoras diferentes. Nesse caso, cada segmento tem uma largura de
429 kHz (6/14 MHz), e pode ter os seus próprios parâmetros de trans-
missão. No ISDB, os 13 segmentos podem ser reunidos em até três gru-
pos diferentes. Para cada grupo, é possível estabelecer parâmetros de
transmissão específicos (esquema de modulação/correção de erro). Isso
permite uma transmissão hierárquica em que os programas são trans-
mitidos com níveis de robustez diferentes dependendo da aplicação. Os
segmentos são numerados de 0 a 12, e estão dispostos conforme indica-
dos na Fig.12.33. A segmentação de banda é um dos principais recursos
que torna o padrão ISDB-T mais flexível que o padrão DVB-T. Pode-se
utilizar, por exemplo, apenas o segmento de número 0 para transmitir
um sinal LDTV de baixa taxa que será recebido em um dispositivo
móvel, enquanto que os demais segmentos podem ser empregados na
transmissão de um sinal HDTV para a recepção fixa, conforme ilustra a
Fig.12.34. Nessa figura, apresenta-se também o caso no qual a segmen-
tação de banda é utilizada para transmitir sinais de vídeo em LDTV
para recepção móvel e dois sinais EDTV distintos para a recepção fixa.
Logo, o uso da segmentação de banda permite que a emissora envie
sinais de vídeo diretamente para o celular do telespectador, sem a ne-
cessidade da operadora de telefonia.

400
Fig. 12.32. Principais serviços do ISDB-T.

Fig. 12.33. Segmentação de banda no ISDB-T.

Fig. 12.34. Exemplos da utilização da segmentação de banda.

401
O ISDB utiliza MPEG-2 para a codificação de vídeo, e MPEG-
2:AAC para o áudio. Assim como os padrões anteriores, o transporte
é feito via MPEG-2 TS. Para a transmissão terrestre, é aplicada a mo-
dulação BST-OFDM. Na transmissão via satélite, cabo e terrestre, o
processamento é igual, havendo diferenças somente na correção de
erro e na modulação final antes da transmissão propriamente dita, de
acordo com o meio (satélite, cabo ou terrestre). A Fig.12.35 mostra o
diagrama de blocos do padrão ISDB.

Fig. 12.35. Diagrama de blocos do padrão ISDB.

12.12 Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD)

Em 2006, 51 milhões (93,5%) dos 54,6 milhões dos lares brasileiros


contavam com aparelhos de TV. Embora isso represente um mercado
significativo, é necessário observar a sua composição. Grande parte
desses televisores é de 14 polegadas (27%) e de 20 polegadas (37%) e
estão equipados apenas com antena interna (47%). Outra característica
de mercado a ser observada são os números de usuários da TV aberta
e da TV por assinatura no Brasil e nos países que já adotaram um pa-
drão de TV digital, Fig.12.36. No Brasil, 80% dos lares só recebem TV
aberta e apenas 8,4% tem TV por assinatura. Esses números indicam
que o sistema de TV digital a ser adotado no Brasil deverá ser uma
solução de baixo custo, robusto para permitir a recepção do sinal com
antena interna, e flexível para fornecer outros serviços, incluindo mo-
bilidade, portabilidade e interatividade.

402
Fig. 12.36. Número de assinantes de TV aberta e TV por assinatura.

O modelo de implantação de TV digital terrestre oferecerá fle-


xibilidade de forma a permitir que as emissoras de TV possam fazer
opção por determinado conjunto de aplicações de modo a customizar
o serviço às regiões que atenderão, podendo modificá-lo ao longo do
tempo. O modelo deverá contemplar o melhor desempenho técnico
em cada uma das seguintes aplicações: transmissão de SDTV simples
e de SDTV com múltipla programação; transmissão de HDTV; re-
cepção móvel e portátil; multimídia; e interatividade. A partir dessas
premissas, os três principais padrões de TV digital no mundo foram
testados, com o objetivo de auxiliar na escolha do padrão a ser adota-
do no Brasil.
Cada padrão de TV digital representa um modelo de escolha em
quatro dimensões diferentes: modulação, transmissão, middleware e
aplicativos. Cada uma dessas dimensões, que são relativamente inde-
pendentes entre si, podem ser avaliadas individualmente, mas tam-
bém se inter-relacionam. Durante os testes, constatou-se que o padrão
ATSC privilegiou a alta definição de imagem e recepção por cabo ou
com antena externa. A sua tecnologia chave de modulação, 8VSB, não
permite a multiprogramação e não é adequada para a geografia brasi-
leira. Além de não possuir interatividade, a recepção com antena inter-
na é ruim e não é possível a recepção móvel em carros, ônibus e trens.

403
O padrão DVB-T trabalha com múltiplas portadoras - COFDM
-, admitindo assim uma modulação hierárquica. Essa flexibilidade
permite que a robustez seja diferenciada por serviços, tal que a par-
cela de dados correspondentes a informações menos críticas pode ser
codificada de modo menos robusto ou com esquemas de modulação
para maiores taxas. Dependendo do modo de configuração, o DVB-
T pode transmitir alta definição ou multiprogramação, mas, embora
apresente vários recursos interativos, não é eficiente para aplicações
visando portabilidade. A portabilidade é feita a partir das operadoras
de telefonia que compram os programas das emissoras e revendem
em pacotes para os assinantes. Os lucros de propaganda ficam para
as operadoras de telefonia. Isso traria mudanças no modelo de negó-
cios de televisão, no qual as redes de TV permitiriam a entrada das
empresas de telefonia no mercado de distribuição e produção de con-
teúdo audiovisual para a radiodifusão. Um dos sistemas desse padrão,
o DVB-S, desenvolvido para transmissões via satélite, já virou padrão
em todo o mundo, inclusive no Brasil.
O padrão ISDB-T, que também trabalha com multiportadoras,
foi desenvolvido a partir de um aperfeiçoamento do padrão europeu.
O diferencial do padrão ISDB-T é a segmentação da banda passante
em 13 segmentos que podem ser agrupados para a transmissão de até
3 informações distintas. O ISDB-T apresentou o melhor desempenho
na recepção interna com antenas pequenas, na recepção móvel em
carros, ônibus e trens e na recepção portátil em celulares e laptops.
Mostrou-se flexível para a integração com os outros padrões por meio
de sistema híbrido. O modelo de negócios não é alterado. A difu-
são de conteúdo audiovisual continua com as emissoras de TV. As
operadoras de telefonia, eventualmente, ficariam com a exploração
comercial do canal de interatividade, fazendo a transmissão de dados
entre o telespectador e a emissora de TV, no caso dos programas com
aplicações interativas.
Um terceiro componente importante é o middleware, um siste-
ma operacional que dá suporte para o desenvolvimento de diferentes
aplicativos dentro da TV digital. Esse sistema é colocado em um chip

404
que irá no set-top box ou dentro do televisor. Na TV interativa, o pa-
drão de middleware definirá os tipos de serviço que se deseja oferecer.
Cada um dos padrões tem seu próprio middleware, que é protegido
pela legislação de patentes e funciona como uma espécie de caixa-
preta da TV digital.
A Fig.12.37 sintetiza as tecnologias utilizadas pelos três consór-
cios. Verifica-se que a grande diferença entre os três padrões ocorre
no nível de transmissão e de middleware. Os três consórcios usam
para compressão e transporte o formato MPEG-2. Embora o padrão
MPEG-2 para compressão seja o mais utilizado comercialmente, sen-
do adotado por quase todos os provedores de televisão via satélite,
por exemplo, SKY, DISH, DirecTV, e por várias TVs a cabo digitais
no mundo, atualmente já existem outros padrões que proporcionam
maior eficiência nas taxas de compressão. A adoção de um padrão de
compressão mais eficiente permitiria uma melhor utilização do espec-
tro e, por conseguinte, uma maior quantidade informação e serviços
veiculados.

Fig.12.37. Tecnologias utilizadas pelos padrões de TV Digital.

Em termos de interatividade, os três padrões são limitados pela


forma como oferecem interatividade. A interação pode acontecer de
três maneiras: local, intermitente e plena.
A interatividade local ocorre quando algo chega ao receptor e
o usuário interage com seu próprio equipamento, sem enviar nada

405
de volta para o emissor. Por exemplo, durante um jogo de futebol o
espectador tem a opção de ver as estatísticas da partida, que são en-
viadas para o receptor, sem solicitação do usuário, mas ele vê apenas
aquilo que seleciona. Outro exemplo são as filmagens com várias câ-
meras, permitindo ao espectador selecionar o ângulo que deseja ver
a cena. Neste caso, os padrões se equivalem bastante, pois todos são
capazes de transmitir textos e imagens no espaço de dados alocado
para uma faixa de 6 MHz.
A interatividade intermitente (one-way) é quando o espectador
envia algo para o emissor, mas sem receber resposta, como nas vota-
ções e enquetes. É a comunicação de mão única. Em vez de o espec-
tador telefonar, acessar um site ou mandar um torpedo, ele pressiona
um botão em seu controle remoto para dar seu voto. O sistema tem
um canal de comunicação com a emissora (geralmente por linha tele-
fônica), com o qual uma ação do usuário gera uma conexão.
Quando a interatividade é plena, o usuário deve possuir um canal
de retorno sempre disponível, como em serviços ADSL ou cabo. O me-
canismo do canal de retorno não impacta na rede de transmissão de TV
digital, pois é feito por outro canal, ou seja, uma outra rede de dados.
Em qualquer das interatividades, as soluções existentes estão
aquém do desejado. Fica claro que o Brasil vai ter que solucionar a
questão da interatividade resolvendo um problema maior, que é a uni-
versalização e facilitação de acesso à rede de dados IP.
Considerando a análise feita nos três padrões existentes e as ne-
cessidades do padrão brasileiro, conclui-se que o padrão japonês po-
deria servir de base para o padrão brasileiro de TV digital. A razão
da escolha baseia-se em premissas tecnológicas indiscutíveis, seja pelos
resultados dos testes de robustez do sinal emitido, pela flexibilidade do
sistema de modulação, seja por sua mobilidade. A modulação, que uti-
liza a tecnologia BST-OFDM, permite o uso do modelo one segment
caracterizado pela transmissão de sinal a partir da banda de freqüência
usada para o alcance voltado para terminais fixos. Dessa forma, é pos-
sível a sua captação por terminais portáteis e móveis, sem a utilização
de outras redes de conexão e sem custos adicionais para o consumidor.

406
Para adequar o padrão japonês às necessidades brasileiras e evitar
o envelhecimento tecnológico precoce do SBTVD, introduziu-se ino-
vações nas camadas de compressão e de middleware.
Como resultado das modificações feitas no ISBD-T para atender o
SBTVD, surgiu o padrão ISDTV-T (International Standard for Digital
Television – Terrestrial), que se harmoniza com o padrão oriental e
compõe um modelo enriquecido por uma nova tecnologia de com-
pressão e por um novo middleware, Fig.12.38. O nome ISDTV foi
adotado objetivando a exportação dessa tecnologia híbrida, desenvol-
vida a partir da incorporação de alguns elementos do padrão japonês,
para outros países, principalmente da América Latina.

Fig. 12.38 O padrão ISDTV-T.

Na definição do padrão de TV brasileiro, procurou-se trabalhar


com uma tecnologia de compressão capaz de fornecer a mesma qua-
lidade de vídeo do MPEG-2 com uma taxa de bits muito mais baixa,
e que fosse compatível com vídeos de baixa e alta taxas ou com baixa
e alta resolução. Entre os vários padrões de codificação, compactação
e compressão existentes, optou-se pelo ���������������������������
padrão H.264, também conhe-
cido como advanced video coder (AVC), ou como MPEG-4 Parte 10.

407
As inovações do H.264/AVC propiciaram um comportamento me-
lhor que os demais padrões em diversas situações. Com aproximada-
mente a metade da taxa de bits utilizada no MPEG2 é possível obter
a mesma qualidade de imagem, Fig.12.39.

Fig. 12.39. Comparação entre as taxas de transmissão utilizando


MPEG-2 e MPEG-4 Parte 10.

O MPEG4 consegue comprimir mais dados e transmiti-los usan-


do menos espectro. Essa capacidade terá impactos econômicos im-
portantes, no futuro, pois, com mais eficiência no espectro, haverá
a possibilidade de uso de um maior número de canais. A Fig.12.40
mostra o ganho espectral possível com o MPEG-4 para diferentes al-
ternativas de codificação. O padrão brasileiro permite a transmissão
nos formatos 480i, 480p, 720p e 1.080i e na taxas de quadros 25, 30,
50 e 60 Hz. Embora as taxas de 25 e 50 Hz não sejam utilizadas no
Brasil, elas foram incorporadas ao padrão para permitir que ele possa
ser usado em diferentes países.

408
Fig. 12.40. Ocupação da banda passante para diferentes alternativas
de codificação.

Outra novidade é o middleware Ginga, que viabiliza o uso de no-


vas aplicações, sendo compatível com softwares desenvolvidos para os
middlewares dos padrões internacionais, assim como os softwares de-
senvolvidos para o Ginga também rodam nos internacionais. A grande
diferença está no uso memória e de processamento do sistema brasilei-
ro, muito mais racional que os modelos internacionais. O Ginga pode
ser comparado ao Windows do computador. Portanto, a interativida-
de efetiva depende da instalação desse software nos conversores ou
nos novos aparelhos integrados de televisores. O Ginga é um software
aberto, composto de dois subsistemas, que permitem o desenvolvimen-
to de aplicações seguindo duas filosofias de programação diferentes.
Dependendo das funcionalidades requeridas no projeto de cada aplica-
ção, uma filosofia possuirá uma melhor adequação que a outra.
Uma outra vantagem do sistema brasileiro é a possibilidade de
compatibilidade com tecnologias mais avançadas, como a transmissão
de televisão via protocolo de internet, por exemplo.

409
Em resumo, o padrão ISBD-T reúne as melhores características
de cada um dos padrões existentes, introduz inovações tecnológicas,
propicia a inclusão digital e leva em consideração as especificidades
econômicas e culturais do país.

12.13 Transição Analógico-Digital

A implantação da TV digital necessita de uma fase de transição


em que a coexistência com o sistema analógico é imprescindível. As
emissoras devem transmitir a sua programação através de canais dife-
renciados para os sinais digitais e os sinais analógicos. Este processo é
conhecido por simulcasting. Considerando a migração gradual para o
sistema de televisão digital, a Anatel elaborou um Plano Básico de Dis-
tribuição de Canais de Televisão Digital (PBTVD), no qual está previs-
to uma fase de transição com a convivência de emissoras analógicas e
digitais. As principais considerações que orientaram a constituição do
PBTVD foram:
•  reserva de espectro radioelétrico para implantação da TV digital;
•  canalização com ocupação de 6 MHz de banda;
•  manutenção das emissoras analógicas até a o final da transição;
•  fase de transição simulcast com emissoras analógicas e digitais;
•  proteção em interferência mútua analógico-digital;
•  fase futura somente com emissoras digitais;
•  ocupação dos canais digitais nas faixas VHF alto (7 a 13) e UHF
(14 a 59);
•  reserva dos canais UHF de 60 a 69 a serem utilizados estrategi-
camente;
•  harmonização de coberturas analógico-digital.

410
Na faixa de freqüências dos canais de VHF baixo (2 a 6), ocorrem
sinais interferentes (ruídos impulsivos) que degradam significativa-
mente a qualidade da transmissão digital. Por isso, esses canais tende-
rão a ser descontinuados com a migração de todas as emissoras ana-
lógicas para digital. O PBTVD viabiliza 1.893 canais e contempla o
universo de 296 localidades brasileiras, alcançando aproximadamente
110 milhões de pessoas. A Fig.12.41 mostra os números de canais por
estado, enquanto a Fig.12.42 apresenta o PBTVD para cidade de São
Paulo.

Fig. 12.41. Números de canais digitais por estado.

411
Fig. 12.42 Plano básico de canalização de São Paulo.

O processo de transição se inicia com a transmissão simulcast nas


grandes cidades, dentro de um cronograma preestabelecido para todo
o território nacional. A transição é composta de quatro fases distintas,
Fig.12.43. Em uma primeira fase, chamada de transmissão voluntária,
haverá um tempo para adaptação das emissoras ao novo sistema. Em
seguida, inicia-se uma fase de transmissão obrigatória, na qual as emis-
soras serão obrigadas a transmitir pelo menos três horas de programa-
ção. A partir daí, a emissora entra numa fase de crescimento devendo,
dentro de um tempo determinado, ter sua programação 100% digital.
A fase seguinte, considerada a fase de transmissão estabilizada, durará
o tempo necessário para que a maioria dos usuários tenha adquirido
um conversor ou uma HDTV. Então toda a transmissão analógica será
interrompida, significando o término do simulcast. A Fig.12.44 apre-
senta o cronograma estipulado para a implantação da TV digital.

Fig. 12.43. Fases de transição da transmissão analógica para digital.

412
Fig. 12.44. Cronograma de implantação da TV digital.

No calendário de datas-limites para a extinção do sinal analógico,


o Brasil não se encontra tão para trás em relação a países desenvolvi-
dos. O atual sistema de transmissão de televisão aberta será desativado
no Brasil em 2016, cinco anos após o Japão, onde a migração começou
em 2003. A Tabela 12.5 mostra as datas previstas para implantação
definitiva da TV digital em diversos países.
Tabela 12.5. Cronograma de Implantação TV digital no mundo.
data prevista país
2007 Finlândia, Suécia e Suíça
2008 Alemanha
2009 Estados Unidos e Dinamarca
2011 Canadá, França, Coréia do Sul e Japão
2012 Hong Kong, Irlanda e Reino Unido
2015 China
2016 Brasil
2017 Rússia

413
13
TV POR ASSINATURA

Inicialmente a TV por assinatura destinava-se à distribuição de


sinais de vídeo e/ou áudio para assinantes. Com o avanço tecnológico,
outros serviços convergentes, como internet banda larga e telefonia
foram incorporados e oferecidos ao assinante.
Atualmente a TV por assinatura no Brasil utiliza três tecnologias
distintas, cuja principal diferença é a distribuição do sinal para o assi-
nante, conforme ilustrado na Fig.13.1. Na TV a Cabo, a distribuição
é feita por intermédio de meios físicos (cabos coaxiais e fibras óticas).
No sistema MMDS (Serviço de Distribuição de Sinais Multiponto
Multicanais), utiliza-se radiofreqüências na faixa de microondas (2500
a 2680 MHz). No sistema DTH (Direct To Home), a distribuição é fei-
ta por meio de satélites. Há ainda o Serviço Especial de Televisão por
Assinatura (TVA), que utiliza a faixa de UHF (ultra high frequency,
canais de 14 a 69) para transmissão de conteúdo pago (podendo haver
emprego parcial de codificação). O serviço de TVA é periférico, re-
metendo ao início da televisão paga no Brasil, não havendo, portanto,
novas autorizações.

415
Fig.13.1 - Tipos de TV por Assinatura

13.1 Histórico

No fim dos anos 40 iniciaram as transmissões comerciais de te-


levisão nos Estados Unidos. Como na faixa de freqüências alocada
para televisão, a propagação é em “visada direta” o sinal recebido em
localidades distantes e com relevo acidentado era de má qualidade.
Em 1950, as pessoas que viviam em vales remotos na Pensilvâ-
nia resolveram seus problemas de transmissão colocando antenas nas
colinas e puxando cabos até suas casas, dando origem ao que hoje

416
conhecemos por TV por assinatura. Na verdade, o que eles haviam
inventado era o princípio tecnológico da transmissão via cabo como
alternativa de distribuição de sinais de televisão por meio físico, [1]
Os primeiros sistemas a cabo eram, de fato, antenas instaladas
em locais estratégicos, com cabos muito longos conectando-as aos te-
levisores de seus assinantes. Pelo fato de o sinal da antena se tornar
mais fraco à medida que viaja ao longo do cabo, os fornecedores de
cabo tiveram que embutir amplificadores em espaços regulares para
aumentar a força do sinal e torná-lo aceitável para os espectadores.
Até a década de 1970 as empresas prestadoras de TV a cabo limi-
tavam-se a distribuir a mesma programação transmitida gratuitamente
por “broadcast”. Só em 1971 as empresas Teleprompter e Manhattan
Cable iniciaram em Nova York a transmissão de programação que
adicionava ao conteúdo do “broadcast” um conjunto de serviços gera-
dos pelos operadores, [1]
Essa mesma década presenciou um fato que marcaria definitiva-
mente a história da TV por assinatura. Em 1975 a Home Box Office
– HBO disponibilizou seu sinal via satélite para as operadoras de TV
a cabo nos Estados Unidos. O uso das transmissões via satélite per-
mitiu a distribuição de programação à distância para operadoras em
diferentes cidades. Por sua vez, as operadoras puderam retransmitir,
simultaneamente, via cabo, essa programação para seus assinantes, [1]
Com o intuito de promover a competição com os sistemas de TV a
cabo, o órgão regulador das telecomunicações americano (FCC) cria,
em meados dos anos 1970, o serviço MMDS (multichannel multipoint
distribution service) a partir da faixa institucional (ITFS) reservada a
organizações educacionais, religiosas e hospitais.
No início dos anos 80, surgem os sistemas de transmissão direta
de TV por satélite (DTH). O DTH, originalmente analógico, é trans-
mitido em banda C (3,5-4,2 GHz). O elevado custo do aluguel do
transponder estimulou a digitalização do sistema e migração para ban-
da Ku (13-15 GHz).

417
É também na década de 80 que nasce a CBN, primeiro canal
especializado em notícia, inaugurando a programação segmentada na
televisão. O sucesso desse modelo de pequenas redes independentes
e segmentadas alastrou-se pelo país. Foi então que surgiram os canais
ESPN, Discovery e Cartoon. Esse tipo de programação segmentada
modificou sensivelmente os hábitos dos telespectadores americanos
Para se ter uma idéia de 1979 a 1990 a audiência das três redes de
TV aberta– CBS, ABC e NBC – despencou de 91% para menos de
60%%, [1]. Em 1999 pela primeira vez os domicílios somaram mais
tempo assistindo a televisão por assinatura do que televisão aberta.
Hoje, o sistema TV por assinatura nos EUA oferece mais de 500
canais e internet de alta velocidade para aproximadamente 60 mi-
lhões de residências.

13.2 TV por Assinatura no Brasil

No Brasil, a primeira transmissão a cabo ocorreu em 1958, em


função da necessidade de resolver um problema puramente técnico:
fazer com que o sinal das emissoras de televisão localizadas na cidade
do Rio de Janeiro chegasse às cidades de Petrópolis, Teresópolis, Fri-
burgo e outras, situadas na Serra do Mar, com boa qualidade de som e
de imagem. As cidades serranas passaram a ser servidas por uma rede
de cabos coaxiais que transportavam os sinais até as residências depois
de recebidos por antenas que funcionavam como uma espécie de re-
transmissoras, instaladas no alto da serra. Os usuários que desejassem
o serviço pagavam uma taxa mensal, a exemplo do que ocorre hoje
com o moderno serviço de TV por Assinatura, [2].
Porém devido ao modelo político econômico vigente no Brasil nas
décadas de 60 e 70, a TV por Assinatura só se torna realidade nos anos 90.
Durante anos 60 e 70 houve incentivo governamental para que as
redes de TV expandissem a fim de integrar o país, o que ficou mais fá-
cil com a utilização de satélites a partir dos anos 80. São 6 as principais

418
redes de TV (Globo, Bandeirantes, Rede TV, SBT, Record, TV Brasil)
presente na maioria das cidades através de transmissores próprios ou
mantidos pelas prefeituras. Essa abundância de opções de sinais de TV
sem custo fez com que o desenvolvimento da TV por Assinatura no
Brasil fosse retardado, só se iniciando no final de 1991. A primeira ini-
ciativa de TV por Assinatura no país surgiu em São José dos Campos,
interior do estado de São Paulo, em 1976, através da transmissão de
sete canais convencionais de VHF. Como nos EUA, a transmissão ini-
cial funcionou como um serviço de antena coletiva para a comunidade.
Dez anos depois surgiu o Canal + de TV por Assinatura lançado pelo
Grupo Machline (Sharp) em São Paulo e transmitido através de um
sistema de microondas. Em 1991 o grupo Abril se associou ao Grupo
Machline lançando a TVA e expandindo o sistema para outras capitais
como Rio de Janeiro e Curitiba. Também em 1991, as Organizações
Globo passaram a atuar em TV por Assinatura com o lançamento da
Globosat, que produzia e distribuía, via satélite, quatro canais.
O Sistema MMDS surge, no Brasil, em 1992 com atribuição de 3
canais. Em 1994, é editada a norma do MMDS pelo Ministério das Co-
municações, destinando a faixa de 2.500-2.686 MHz para este serviço.
Mesmo assim, a TV por Assinatura no Brasil ainda era incipiente.
O custo da mensalidade era elevado e a oferta dos serviços atingia nú-
mero reduzido de cidades. O novo tipo de TV podia ser considerado
um privilégio.
A TV por assinatura começou realmente a se desenvolver com a
promulgação da Lei da TV a Cabo em 1995. Além de regulamentar
o serviço de TV por assinatura transmitida via cabo, essa lei marcou
o início da exploração de serviços de telecomunicações por empresas
privadas e a abertura do setor para participação de capital estrangeiro,
até um limite de 49% por empresa, mesmo antes de concluída a priva-
tização do Sistema Telebrás, em 1998, [3].
As demais modalidades de TV por assinatura, exploradas no Bra-
sil – o DTH (Direct To Home), por satélite, e o MMDS (Multichannel
Multipoint Distribution Service), por microondas – não foram regula-
mentadas por lei ordinária no Congresso Nacional, como aconteceu

419
com a TV a cabo. As duas modalidades foram enquadradas, dois anos
depois da Lei do Cabo, como Serviço Especial de Telecomunicações.
Ainda existe o Serviço Especial de Televisão por Assinatura (TVA)
que distribui sinais de TV codificados, mediante a utilização de canais
de UHF.
O mercado de TV por Assinatura é representada por 176 empre-
sas distribuidoras de sinais de TV por Assinatura, Tabela 13.1, que
detêm 349 outorgas em operação e 34 em instalação, Fig. 13. 2, [4].
Tabela 13.1 Prestadoras de Serviços de TV por Assinatura

Fig.13.2 Número de outorgas de TV por assinatura

420
A TV por assinatura está presente em quase totalidade dos mu-
nicípios brasileiros, 5.084 são atendidos por meio de DTH.enquanto
as tecnologias Cabo e MMDS atendem 479 municípios, Tabela 13.2
Tabela 13.2 – Número de municípios atendidos por TV por Assinatura

Tecnologia Municípios
DTH 5.084
MMDS e CABO 479

Embora tenha potencial e infra-estrutura instalada para aten-


der grande parte da população brasileira,os usuários de TV por assi-
natura estão fortemente concentrados na região sudoeste, Fig.13.3, e
como esperado nas classes A e B. A Fig.13.4 mostra quantos domi-
cílios possuem o serviço de TV por assinatura (linha vermelha), por
classe de renda

Fig.13.3 Distribuição de assinantes por estados da federação

421
Fig.13.4 - Penetração da TV por assinatura por classes de renda

Atualmente o número de assinantes de TV por assinatura é de


aproximadamente 7 milhões, conforme dados da ABTA, Fig.13.5, [4].
Desse número 60% utilizam a tecnologia convencional de transmissão
a cabo; 34% utilizam DTH (satélite); 5 % utilizam MMDS (micro-
ondas) e 0,35% são usuários da TVA, Fig.13.6 .

Fig.13.5 Evolução do número de assinantes

Fig.13.6 Distribuição de assinantes por tecnologia

422
Embora o número atual de assinantes represente pouco mais de
7% dos domicílios brasileiros, o número de assinantes nos últimos
anos, impulsionado pela convergência de serviços, grade de programa-
ção segmentada, e a portabilidade vem crescendo consideravelmente.
Basta verificar que o setor teve um crescimento de 7 % no terceiro tri-
mestre de 2009, comparando-se com o trimestre anterior, totalizando
6,91 milhões de assinantes. Se comparado com o mesmo período, em
2008, o aumento no número de assinantes é de 14%, Fig.13.5, [4].

13.3 Operadoras e Programadoras, [5]

A TV por assinatura pode ser considerado como um instrumento


de distribuição de conteúdos áudio visuais. Dentro dessa visão, os dois
agentes fundamentais desse processo são a operadora e a programa-
dora.
A Operadora é a empresa responsável pela distribuição de sinais
de TV por assinatura. A operadora, normalmente, não produz conte-
údo. Ela capta os sinais dos canais contratados ou dos canais abertos,
processa-os e os envia aos assinantes por cabo, microondas ou satélite.
Também é a operadora a responsável pelo atendimento e cobrança
dos assinantes.
Já as Programadoras são empresas que fornecem conteúdo (ca-
nais) para TV paga. Podem produzir programação própria, represen-
tar canais estrangeiros no país ou comprar programas e reformatá-los
em canais para o público local.
As operadoras pagam às programadoras, responsáveis pelo con-
teúdo, pela exibição de seus canais, sempre em uma base mensal por
número de assinantes. Os custos com programação giram em torno de
20% a 30% dos custos totais de uma operação.

423
13.4 Sistema de TV a Cabo

O serviço de TV a cabo foi criado pela necessidade de se melho-


rar a recepção de TV em áreas remotas, onde a recepção era feita em
torres ou edifícios altos e redistribuída por cabo para a comunidade.
A disponibilidade de uma grande variedade de programação, com
canais locais, nacionais e internacionais, tornou a TV a cabo uma op-
ção muito atrativa para as residências urbanas. O esquema típico da
topologia de um sistema de TV a cabo é mostrado na Fig.13.7.

Fig. 13.7 Esquema de um sistema de TV a cabo.

O sistema de cabo pode ser dividido em quatro grupos: geradores


de programação; headend cabeçal; rede de distribuição do sinal; e
recepção do assinante.
No headend ou cabeçal, é feita a recepção dos canais de satéli-
te através de antenas parabólicas. O sinal é geralmente recebido nas
bandas C e Ku. Além desses canais, são também recebidos os canais
locais de VHF e UHF. Os sinais de áudio e de vídeo são processados,
codificados e modulados em uma portadora de FI. No próximo está-
gio, cada sinal de vídeo e áudio é upconvertido para sua freqüência

424
de transmissão. As redes de cabo típicas possuem bandas de 350, 550
ou 750 MHz, ou seja, os sinais provenientes dos moduladores são up-
convertidos para canais dentro da banda de transmissão das redes de
cabo. A seguir, os canais passam por um combinador que os agrupa
em um único cabo de saída, para posterior amplificação e inserção na
rede de distribuição. A rede de distribuição é híbrida, sendo a trans-
missão realizada em fibra óptica e o acesso ao usuário através de cabo
coaxial.

Fig. 13.8 Funcionamento da TV a cabo.

Embora a fibra óptica tenha uma banda passante que permite a


transmissão de uma infinidade de canais e outras informações simulta-
neamente a capacidade de transmissão da TV a cabo é limitada pela
banda do cabo coaxial, podendo ir até 750 MHz. O plano de freqüên-
cias para TV a cabo é apresentado na Fig.13.9.

425
Fig. 13.9. Plano de freqüências da TV a cabo.

Os sinais são distribuídos em uma rede ramificada composta de


cabos coaxiais de 75 W e amplificadores de banda larga distribuídos ao
longo da rede, dimensionados de forma a prover sinal com qualidade
nas residências. Os cabos troncais transportam o conjunto de canais
do cabeçal (headend) até a vizinhança a ser atendida. Amplificadores
troncais são introduzidos em distâncias adequadas de modo a manter
a intensidade do sinal e uma relação sinal-ruído adequada, de modo a
não se degradar a qualidade da imagem. Quando a distância a ser aten-
dida é muito grande, utiliza-se fibras ópticas ou enlaces de microondas
para transportar o sinal antes da sua redistribuição por cabo coaxial.
Os cabos de distribuição ramificam-se a partir dos pontos de termina-
ção dos cabos troncais e estendem-se até as residências, Fig. 13.10.

Fig. 13.10. Planta de uma rede de distribuição de TV a cabo.

426
A conexão de assinante é feita diretamente na rede externa por
meio de um derivador, conhecido como TAP, Fig.13.11 (a). Em edifí-
cios, para se atender a todos os aptos, faz-se um projeto de distribuição
interna dos sinais, Fig. 13.11 (b).
Na casa do assinante é instalado um set-top box (receptor/decodi-
ficador) permite ao usuário selecionar um canal em particular e con-
trolar que canais estão disponíveis. Um receptor básico é composto
de um downconverter que translada um canal do espectro disponível
para o canal 3 ou 4 da TV. Ele incorpora ainda funções de decodifica-
ção do sinal para o caso de acesso condicional. As redes de cabo mais
antigas não possuíam sistemas de acesso condicional, que permitem
controlar o acesso de pessoas não autorizadas aos canais transmitidos.
Entretanto, em virtude da pirataria e do interesse de prover pacotes
diferenciados de programação a seus assinantes, os operadores viram-
se obrigados a codificar os sinais transmitidos em suas redes.

(a)

427
(b)
Fig.13.11 Conexão de assinantes, (a) Instalação em casas, (b)
Instalação em edifícios.

13.5 O Sistema MMDS

O sistema conhecido por MMDS refere-se ao sistema de trans-


missão de TV em freqüência de microondas, que utiliza o espaço livre
para a oferta, mediante assinatura, de canais com programação varia-
da. Suas principais vantagens com relação à TV a cabo convencional
residem no menor custo de implantação da estação de transmissão
e na disponibilidade imediata do sinal para instalação no assinante,
contrariamente à TV a cabo, que necessita do cabeamento prévio da
região a ser atendida. No espectro radioelétrico, o MMDS está locali-
zado e dividido como ilustra a Fig.13.12.

428
Fig. 13.12 - MMDS no espectro radioelétrico

O sistema de operação em MMDS, esquematizado na Fig.13.13,


pode ser divido em 3 grandes grupos: geradoras; estação de MMDS
(headend); e recepção no assinante. O primeiro grupo consiste nas
operadoras responsáveis pela geração da programação e pelo uplink
(transmissão via satélite) do sinal que será posteriormente retransmiti-
do pelas estações de MMDS. O segundo grupo, as estações MMDS,
tem por função principal a difusão do sinal de TV nas freqüências
atribuídas ao serviço. No terceiro e último grupo, tem-se o assinante
ao qual são fornecidos todos os equipamentos necessários à recepção
do sinal em microondas e sua downconversão.
Como primeiro grupo se refere a geração de programação e é
idêntico nos três tipos de TV por assinatura, analisaremos apenas os
grupos relacinados a Estação de MMDS e Assinantes

429
Fig. 13.13. Sistema MMDS.

13.5.1 A Estação de MMDS - Headend ou Cabeçal


O diagrama de uma estação de MMDS, também denominada hea-
dend ou cabeçal, é mostrado na Fig.13.14. A recepção dos canais envia-
dos pelas geradoras de satélite ocorre nas freqüências de downlink mos-
tradas na Tabela 13. 3. Estas correspondem às bandas em que operam
os satélites para TV. Para a recepção, faz-se uso de antenas parabólicas
cujo diâmetro é determinado a partir do estudo do enlace via satélite, ou
seja, da intensidade de sinal esperado no ponto de recepção.

430
Fig. 13.14 - Diagrama do sistema de MMDS

Tabela 13.3 Freqüências de downlink do sistema MMDS.

Banda Freq. Downlink


C 3,7 a 4,2 MHz
Ku 11,7 a 12,2 Ghz
Ka 17,7 a 19,3 GHz

Uma vez recebido, o sinal é processado para adequar o padrão


de vídeo do sinal recebido (NTSC, Secam, Pal-G, Pal-N) ao padrão
local. Nesse processo, também é realizado o ajuste dos sinais de vídeo
(crominância, luminância, matizes, níveis de branco e preto) de forma
a compatibilizar seus parâmetros aos padrões usuais de transmissão
e também proceder à equalização dos canais de áudio. É possível a
transmissão de um segundo canal de áudio (SAP – second audio pro-
gram) para cada canal de vídeo, pelo uso de moduladores especiais.
Esse modulador encapsula dentro da banda de 200 kHz, correspon-
dente à banda de áudio no canal de TV, o sinal mono, estéreo e de
SAP. Na Fig.13.15 pode ser vista a composição de um canal de TV de
6 MHz e o encapsulamento do SAP segundo o sistema BTSC.

Fig. 13.15- Modulação FM de Áudio - Sistema BTSC

431
Antes da transmissão, o sinal de vídeo, por determinação da regu-
lamentação aplicável, deve ser codificado. Esta codificação visa preve-
nir que pessoas não autorizadas recebam o sinal da estação, além de
diferenciar o sistema de MMDS das TVs convencionais. A codificação
atua diretamente no sinal de vídeo, podendo ser analógica ou digital.
Em um canal de MMDS analógico, a modulação de vídeo é AM
vestigial (AM-VSB) e a modulação de áudio, FM. Utiliza-se, geralmen-
te, um transmissor para cada canal. .

13.5.2 Sistema do Cliente


O sistema do cliente, mostrado na Fig.13.16, é composto basica-
mente da antena receptora de microondas, downconverter (conversor
de freqüências inferior) e do decodificador sintonizador de canais. O
downconverter baixa a freqüência da banda de recepção (2.500-2.686
MHz) para a freqüência de super-banda (222-408 MHz). O decodifi-
cador permite que o sinal codificado no headend seja perfeitamente
sintonizado pelo assinante autorizado. Adicionalmente, utiliza-se fil-
tros e amplificadores para garantir o melhor sinal possível ao cliente.

Fig. 13.16. Sistema de recepção do assinante

432
13.5.3 Estações Reforçadoras de Sinal
A recepção do MMDS necessita de linha de visada, ou seja, não
deve haver obstáculos (montanhas, edifícios, árvores etc.) entre as
antenas transmissora e receptora. Na propagação por microondas, o
sinal de RF sofre fortes atenuações em obstáculos. As operações de
MMDS geralmente apresentam, dentro de sua área de prestação de
serviço, regiões de sombra, onde os sinais têm baixos níveis, a ponto
de inviabilizar sua captação com boa qualidade. A Fig.13.17 ilustra
uma situação típica de uma obstrução por relevo causando área de
sombra. Nesses casos, a solução adotada é a utilização de reforçadoras
de sinal, como mostrado na Fig.13.18.

Fig. 13.17 - Obstrução por relevo

Fig. 13.18 - Reforçadora de Sinal

433
13.6 O sistema Direct to Home – DTH

Os sistemas DTH são projetados para transmitir televisão para


receptores domésticos, por difusão direta através de um satélite.
A arquitetura básica de um sistema de DTH é provavelmente a
mais simples de todas as aplicações de satélite, pois se baseia em um
único uplink (transmissão ou subida até o satélite) e milhões de down-
links (recepção ou descida do satélite) individuais nas residências dos
assinantes do serviço, conforme mostrado na Fig. 13.19.

Fig. 13.19 - Sistema DTH

Os sistemas podem ser digitais ou analógicos. Em virtude do alto


custo envolvido no uso de satélites, os sistemas analógicos, que ocu-
pam grandes bandas passantes, tendem a desaparecer. Já os sistemas
digitais, por utilizarem técnicas de compressão de vídeo e modulação
digital, utilizam forma mais eficiente a capacidade dos transponders,
transmitindo 5 ou mais canais onde transmite-se no máximo 2 canais
analógicos. Todos os serviços de DTH no Brasil usam sinais digitais, o
que permite, além de excelente qualidade de som e imagem, um me-
lhor aproveitamento do caro espaço que ocupam nos satélites. A co-
bertura do sistema DTH é praticamente de todo o território nacional,
variando um pouco de acordo com o footprint, ou área de cobertura,

434
de cada satélite. Como em outras tecnologias de TV por assinatura,
o Sistema DTH pode ser decomposto em: headend, plataforma de
transmissão e recepção do assinante, Fig. 13.20.

Fig. 13.20 – Composição do sistema DTH

13.6.1 Head-end DTH


O Head-end é responsável pela escolha, compilação e transmis-
são de várias programações provenientes de diversas fontes em um
único sinal para o satélite. A Fig. 13.21 mostra o digrama de um hea-
dend de DTH Digital.

435
Fig. 13.21 – Headend Digital - DTH

As fontes de programação utilizadas são canais analógicos ou di-


gitais, provenientes de receptores de satélite, ou unidades de vídeo
para a geração e inserção de programações locais. Além dessas, outras
fontes de programação digitais são utilizados através de servidores de
vídeo e áudio. Esses últimos são equipamentos compostos de bancos
(arrays) de discos rígidos de alta capacidade que armazenam áudio e
vídeo em forma digital, comprimido ou não. Esses são a fonte para
os serviços de Pay-per-view, NVOD (Near Video on Demand), VOD
(Video on Demand) e canais de música.
O codificador (encoder) e a parte do sistema responsável pela di-
gitalização e compressão do sinal de vídeo analógico. A compressão
é conseguida pela eliminação das informações redundantes, presente
no sinal de vídeo, diminuindo desta forma as necessidades de largu-
ra de banda sem degradação aparente da imagem. Na saída de cada
encoder tem-se o sinal de vídeo convertido em pacotes de informa-
ção digital (bitstream). A depender do tipo de programação (esportes,

436
filmes, noticiários...) maior a compressão que se pode conseguir, em
virtude do grau de redundância presente na imagem. Tipicamente,
para ter-se um vídeo de boa qualidade é necessário um bitstream de
1,5 a 6 Mbps. Como comparação, um vídeo analógico digitalizado e
sem compressão tem uma taxa de 270 Mbps, ou seja, a compressão
típica conseguida é de 50:1.
O multiplexador é o equipamento que combina um conjunto de
bistreams proveniente dos encoders, em um bitstream único, que será
a seguir modulado. O multiplexador faz também interface entre o bits-
tream e o sistema de acesso condicional (CAS - Conditional Access
System) . Esse último é um software responsável por gerar a informa-
ção que permitirá ao decodificador (STB - set top box) do assinante do
identificar os serviços aos quais tem acesso.
O CAS comunica-se com outro software, o sistema de gerenciamen-
to de assinantes (SMS - Subcriber management system), que controla e
armazena todas as informações relativas à base de assinantes, tais como
pacotes de canais autorizados, eventos de VOD (Video on Demand) ou
NVOD (Near Video on Demand) solicitados, pagamentos e etc.
O modulador digital, transforma o bistream serial do multiplexa-
dor em símbolos e esses em correspondentes variações em uma porta-
dora de freqüência intermediária.
O combinador de canais combina as portadora dos moduladores
digitais e faz a upconversão do sinal até a freqüência de subida do sa-
télite, e por fim, para a sua transmissão, o sinal é amplificado por um
Amplificador de alta Potência -HPA (high power amplifier e enviado
a uma antena parabólica .

13.6.2 Plataforma de Transmissão


A transmissão do sinal do Headend para o satélite é efetuada por
antenas parabólicas cujos diâmetros variam entre 9 e 12 m. Os pratos
são relativamente grandes , quando comparados com as antenas de
recepção com vista a maximizar a potência do sinal de ligação com o

437
satélite. O sinal é transladado para uma freqüência específica para o
qual o transponder do satélite foi previamente programado. O satélite
retransmite o sinal de volta à Terra, mas em uma faixa de freqüência
diferente de modo a evitar interferência com o sinal de uplink).
Existem dois tipos de satélites usados para a transmissão de
televisão, o chamado Direct Broadcast Satellite (DBS) e o Fixed Servi-
ce Satellite (FSS). Nos satélite DBS o sinal é transmitido de maneira a
poder ser recebido por qualquer utilizador (broadcasting), desde que
este possua uma antena receptora e tenha subscrito o serviço requeri-
do (no caso de canais pagos). Para isso a potência utilizada neste tipo
de satélites é maior em relação ao FSS, deste modo permite que as
antenas de recepção sejam de menor dimensão, facilitando assim a
sua comercialização e aceitação por parte dos utilizadores finais. Os
satélites DBS operam banda Ku. Os satélites FSS operam na banda
C e na parte inferior da banda Ku. Os satélites FSS podem também
ser usados para serviços direct-to-home, no entanto, devido à potência
emitida neste tipo de satélites (inferior à potência utilizado por satélites
DBS) as antenas de recepção tem de ser de maior dimensão. Outro
aspecto concernente a faixa de freqüência reside nas características
próprias de cada banda. Por exemplo, um sistema que opere na banda
C está fortemente sujeito a interferências por links terrestres. A banda
Ku por sua vez está isenta deste tipo de interferência, entretanto esta
sujeita ao esvaecimento por chuva (rain fade), que pode levar à inope-
rância do sistema. As freqüências de uplink e downlink utilizadas são
mostradas na Tab. 13.4.
Tab. 13.4. Frequências de Downlink (recepção) em DTH

13.6.3 Sistema de Recepção

438
O sinal proveniente do satélite, captado pelo assinante, é imedia-
tamente conduzido para um Bloco Conversor de Baixo Ruído –LNB
(Low Noise Block converter). O LNB amplifica e translada o sinal para
freqüências mais baixas e encaminha o sinal para o receptor que realiza
a demodulação e a conversão do sinal digital para o formato analógico
de forma que possam ser vistos em uma TV convencional. Às vezes,
o receptor inclui a capacidade de desembaralhar ou descriptografar; O
receptor é então chamado um Integrated receptor / decodificador ou
IRD. A Fig. 13.22 ilustra o esquema de recepção do DTH.

Fig. 13.22 - Esquema de recepção de sistema DTH

A Fig13.23 sintetiza o processo de geração, transmissão e recep-


ção do Sistema DTH.

439
Fig. 13.23 Gerações, transmissão e recepção do sinal no Sistema DTH

13.7 Novos Serviços via TV por Assinatura

O Triple Play é uma tecnologia que permite oferecer em um só


meio físico: acesso à internet banda larga, TV por assinatura e telefo-
nia, Fig.13.24

Fig.13.24 Triple-Play, convergência dos serviços de voz, dados e TV.

440
Em sua essência, o conceito triple play não é algo totalmente
novo. Do ponto de vista da prestação de serviços, há alguns anos, em
países desenvolvidos, operadoras de TV por assinatura já comerciali-
zam um mix de serviços de TV, telefonia e acesso à Internet.
Embora esse serviço possa ser prestado por operadoras tradicio-
nais de telefonia fixa, móvel e de TV por assinatura, fixaremos nossa
análise nas operadoras de TV a cabo, em função de sua plataforma
híbrida de distribuição fibra óptica/cabo coaxial.
A fibra óptica é reconhecidamente o melhor meio para suportar
em uma única conexão todo o tráfego gerado pela convergência dos
serviços de TV, internet e telefonia. Isto é devido a sua alta capacida-
de de banda, baixas perdas e confiabilidade. Como as operadoras de
TV a cabo já contavam com uma de rede de distribuição baseada em
fibras ópticas foi possível a rapida implementação do serviços o triple
- play . A Fig. 13. 25 ilustra um tipo de arquitetura triple - play tendo
como base uma rede de TV a Cabo.

Fig.13.25 Serviços Triple - Play, utilizando a Plataforma de TV a Cabo

É importante ressaltar que a conexão da linha telefônica está li-


gada no cabo da TV por assinatura, a qual depende dos repetidores
alimentados no trajeto da central até sua casa. Se faltar energia em
um deles, sua TV pára e, conseqüentemente, sua banda larga e seu
telefone também param.

441
Referencias

[1] O mercado de TV por assinatura no Brasil: crise e reestruturação


diante da convergência tecnológica, Rodrigo Murtinho de Martinez
Torres, Abril de 2005, Dissertação de Mestrado em Comunicação,
Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil
[2] Nossa historia: TV a cabo no Brasil. http://www.tvsp2.com.br,
acessado em 11/02/2010
[3] TV por Assinatura: Histórico e Evolução, Juarez Quadros do Nas-
cimento, 07/05/2007, http://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialtvas-
sinatura, acessado em 15/02/2010
[4] Dados Estatísticos dos Serviços de TV por Assinatura, ANATEL
- Agência Nacional de Telecomunicações, Superintendência de Servi-
ços de Comunicação de Massa – SCM, Julho/2009.
[5] O que são operadoras e programadoras? http://www.abta.org.br,
acessado em 15/02/2010
[6] Como funciona a TV a cabo, Curt Franklin, http://eletronicos.hsw.
uol.com.br/tv-a-cabo1.htm, acessado em 10/02/2010
[7] TV Digital Via Satélite, http://www.img.lx.it.pt. Acessado em
12/12/2009
[8] Triple Play, Um fenômeno sem volta na indústria de telecomunica-
ções. Jorge Leonel, Alex Paulino, Orlando Bugbil, Promom, Business
and Technology Review, dezembro 2009.

442

Você também pode gostar