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CEF 405 Sul geográfico brasileiro, eram realmente perfeitos

Disciplina: ARTES para sediar a definitiva capital do Brasil,


Professor Joselito Brasília!!
2º bimestre- 6º ano
NOME:

SÉRIE

TURMA:

AS ORIGENS DE BRASÍLIA

Gente!? E aí, vamos falar um pouco


mais sobre as origens de Brasília?!! A
sociedade brasileira, a muito tempo, sempre
desejou tirar a capital do Brasil do litoral, que Imagem do mapa do Quadrilátero Cruls e da localização de
foi em Salvador e depois no Rio de Janeiro. Brasília.
Várias eram as razões para isso. O fato é que
não sabiam exatamente para onde levar. A Para isso, a Missão Cruls fez um
certeza que tinham era que a nova capital do detalhado relatório técnico delimitando o
Brasil tinha que ir para o interior do Brasil. conhecido “Quadrilátero Cruls”, que seria o
Daí vários cientistas e pesquisadores viajaram melhor lugar, sugerido por eles, para a
pelo interior do nosso país estudando o melhor transferência da nova capital.
lugar para essa transferência. Só que, somente no governo de
E foi no ano de 1892, já na República, Juscelino Kubitschek, o Presidente bossa nova,
que o governo de Floriano Peixoto enviou ao em 1955, conseguiram promover a tão
interior do Brasil o cientista astrônomo Louis sonhada e profundamente estudada
Crulls! Ele organizou uma notável comissão transferência da capital do Brasil de Rio de
de cientistas ao seu lado, entre botânicos, Janeiro para o Centro-Oeste. Brasília ficou
engenheiros, sanitaristas e fotográfos para num quadradinho dentro do grande
realização de suas pesquisas. Essa equipe de Quadrilátero Cruls, numa região próxima ao
investigação territorial e climática viajou até o Rio Paranoá, possiblitando o represamento de
Planalto Central, e ficou conhecida como a tal rio para a formação do lago artificial, o
Missão Cruls!!! Lago Paranoá.
Brasília, em seu intuito criativo e
original, carregava em seus ideais não somente
a transferência da capital do litoral para o
interior, mas também, o desejo de discutir e
tentar corrigir os problemas que geravam, e
ainda geram, as desigualdades sociais e
humanas do Brasil.
Isso perpassa por todos nós. Somos
indígenas, afro-brasileiros, europeus, mas
também somos asiáticos, árabes e muito mais.
O mundo todo se encontra em Brasília!!!
Não só pela formação brasileira ser
A Missão Cruls em Pirenóplois. 1992. Fotografia de Henrique multicultural e ter a chegada e presença de
Morize. vários grupos humanos de várias partes do
planeta. Mas também porque em Brasília tem
A Missão Cruls foi a primeira quase todas as Embaixadas, que são
responsável por mapear e detalhar, representações políticas, de vários países do
principalmente, as condições ambientais para a mundo.
transferência da nova capital do Brasil. E não Brasília é ainda mais multicultural,
seria diferente do que já sabemos hoje. O porque nesta cidade é possível conviver com
Cerrado, como ecossitema, suas águas puras e as influências culturais de todas as regiões do
cristalinas, e o Planato Central do centro
Brasil. Somos nordentinos, sulistas e do norte. urbanístico de Lúco Costa, apoiado nas questões escolares
elaboradas por Anísio Teixeira.
Temos forte influência do Sudeste e estamos
no Centro-Oeste. Brasíla tem também a
Uma das principais sugestões que os
influência cultural de todas as regiões do
artistas construtores de Brasília tiveram para
Brasil e do mundo!!!
tentar minimizar os problemas do Brasil foi a
Brasília, na época da sua construção,
inclusão de escolas por toda a cidade. E em
se propõs a discutir como as cidades são feitas
especial, as grandes construções arquitetônicas
pelo Brasil e em dar uma nova sugestão de
especializadas para os ensinos gerais de todas
como as pessoas podem se relacionar melhor
as artes, esportes e convivência social, que são
com o meio social. Por exemplo, no período
as maravilhosas Escolas Parques de Brasília.
colonial todas as cidades brasileiras foram
Logo, Brasília ao ser construída,
feitas sob a ordem do Vaticano, seus modelos
realizou várias façanhas ao mesmo tempo.
estéticos e culturais, trazendo, enfim, o
Reuniu muitos dos povos da terra, todas as
cristianismo católico, principalmente, para a
regiões do Brasil, e ainda sugeriu um modo de
feitura das relações concretas humanas, este
viver social que tentasse minimizar as
tempo das artes é conhecido como Barroco. É
desigualdades sociais. Sugestão essa apoiada
o caso de quase todas as cidades do Brasil!!
principalmente na concepção de que as
cidades brasileiras deveriam dar mais valor às
escolas, e em especial, a um novo modelo de
escola, as Escolas Parques, centradas no fazer
prático e teórico das Artes pelos estudantes
apoiados por seus professores.
Isso gerou, e ainda gera, em nós todos
que estamos aqui em Brasíla e no Distrito
Federal, mesmo que esse plano Brasília tenha
sido interrompido por várias razões históricas
e sociais, uma novo entendimento de formação
humana fundamentado na educação.
Realmente, nós de Brasília temos
Vista frontal da Igreja de São Francisco de Assis. Cidade de nossas características especiais. Somos
Ouro Preto. Arquiteto Aleijadinho. Arte barroca.
herdeiros e formadores de uma cultura nova
que tem a tendência para se abrir para o
Brasília não se opõe à essa estrutura
inédito e criativo na experiência humana, de
urbana de colocar a igreja no centro das
olho na educação e no futuro!
relações humanas e sociais, mas sugere e
Movimentos artísticos e culturais de
realiza, em parte, a inclusão, neste panorama
todo o Brasil e do mundo estão aqui. E ainda
citadino, também a escola, como um centro de
temos pessoas que fazem cultura já com essa
discussão e solução dos problemas do Brasil.
nova forma de ser de Brasília, ainda indefinida
Veja o exemplo da quadra modelo de Brasília,
pois está crescendo e se expandindo.
a 308 sul.
Lembram do Quadrilátero Cruls?
Aquela região do Planalto Central está sendo
ocupada com o Plano Piolto no centro. Hoje
ainda entende-se que Brasília é o projeto do
Plano Piloto elaborado por Lúcio Costa, mas
há quem já fale de uma Grande Brasília, que
se encontra no território delimitado por Louis
Cruls.
Uma coisa é certa! O futuro está
também nas nossas mãos, e juntos, certamente,
buscaremos fazer o melhor para nós e para as
próximas gerações de pessoas que viverão no
Distrito Federal e Entorno acreditando que
Vista da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima projetada por Oscar
Niemeyer. E, ao fundo, a Escola Parque 308 sul, planejada por
eles tomem as melhores decisões quando for o
José de Souza Reis. Ambas estão dentro do planejamento tempo deles!
Artistas de Brasília

Paulo Tovar

Ima gem re tirada da interne t, sem autor def inido.

Foto de autor desconhecido

Centro Tradicional de Invenção Cultural


Vindo do interior de Goiás,
Paulo Tovar chegou em Brasília em
1972. Na escola Elefante Branco,
conheceu alguns dos nomes que
viriam a formar a primeira geração
de artistas da cidade. Nas
superquadras do Plano Piloto,
encontrou o caldo que alimentava a
nascente identidade brasiliense.
Inspirado pelo movimento Geração
Mimeógrafo, uniu-se ao grupo, mais
especificamente ao poeta José Sóter,
para publicar e estimular a cena Orquestra Alada Trovão da Mata | Facebook
literária candanga. Foi poeta
andarilho, mas deu início à jornada O Centro Tradicional de Invenção
artística nos anos 1980, no Concerto Cultural é sede do Grupo Seu Estrelo e da
Cabeças, que acontecia na 311 Sul. Orquestra Alada Trovão da Mata. O
Tovar fez poesias, músicas, Centro de Invenção oferece, ao longo de
parceiros, deixou filhos, amores, todo o ano, oficina de teatro de terreiro,
venceu festivais, criou polêmicas, oficina de percussão e oficina de danças
plantou árvores e deixou a vida em tradicionais. Realiza, também, o projeto
2009. “Não há como falar do Tovar Casa de Fita, direcionado para crianças de
sem falar em música. Uma de suas 4 a 7 anos. Além disso, há 16 anos é
principais contribuições à cultura de responsável por realizar 3 festejos
Brasília, foi a de ser um dos músicos tradicionais anuais de Brasília: A Festa de
e compositores do ainda presente Abrição, em abril, O Fuazeiro, em junho e
grupo musical “Liga Tripa”. a Festa do Calango Voador, em setembro.  
Liga Tripa é uma banda
formada por diversos músicos que
juntos vem, desde a década de 70,
alegrando e trazendo, nessa busca, a
identidade brasiliense.
2- A cultura dos afro-diaspóricos:
Africanos e afro-brasileiros
Quem são e como vivem as populações
indígenas do Brasil?

Imagem retirada do Facebook

O Centro de Invenção é
responsável pela criação de uma nova
tradição em Brasília, é a casinha onde
habitam as fantásticas figuras do Mito do
Calango Voador, escrito por Tico
Magalhães. Oferece uma fonte de pesquisa
e vivência para o aprofundamento na
construção diária de nossa identidade
local.
O Centro Tradicional de Invenção
Cultural se coloca à disposição como um
espaço de RECRIAÇÃO, divulgando os Os povos indígenas são os mais
antigos habitantes do território que hoje
saberes populares, por meio de mestres e
chamamos de Brasil. São centenas de grupos
mestras e brincantes das inúmeras diferentes entre si, e cada etnia indígena tem
manifestações artísticas do país, sua própria forma de ver o mundo, a política, a
celebrando a riqueza da cultura nacional e vida, a cultura e também a arte. Em 1500,
reelaborando a cultura brasileira. antes dos europeus, especialmente os
Buscando, assim, novos valores, novas portugueses, chegarem ao Brasil, já havia
maneiras de construir saberes, cerca de quatro milhões de pessoas no que se
proporcionando ao indivíduo um outro transformaria no atual território brasileiro.
modo de pensar as relações da sociedade Hoje a população indígena
contemporânea. contabilizada é de cerca de 890 mil pessoas,
................................. representantes de cerca de 305 etnias
indígenas diferentes. Ou seja, temos pelo
menos 305 definições e visões diferentes de
Como podemos observar em mundo.
Brasília, a cultura em que estamos Para a maioria dos povos indígenas a
inseridos e inventando e reinventando é criação artística está em toda parte e em tudo o
uma mistura de muitas expressões que eles se propõem a fazer: desde as pinturas
artísticas de várias partes do mundo e do corporais até a construção de casas, também
Brasil. Contudo é importante notar a objetos, músicas, contos, rituais religiosos e
fundamental influência de duas grandes e muito mais. Para eles, não existe separação
maravilhosas expressões que está presente entre arte e o resto da vida. A arte está em
em toda a parte, revelada ou não, e que nos todos os lugares!
influência a todos o tempo todo. As técnicas artísticas são divididas
entre os homens e mulheres da sociedade e
cada membro da sociedade pode se tornar um
especialista na sua realização. Porém, sempre
1- A cultura dos povos indígenas
há os que se sobressaem, estes são homens aprendem cantos ligados a sua esfera
específica de produtividade.
O pássaro japim é o grande modelo de
artista para os humanos entre os Kaxinawa,
pois além das capacidades de tecelão e cantor,
o japim compartilha com os humanos o hábito
e o conhecimento de viverem em comunidade,
um conhecimento considerado condição para
qualquer outra habilidade.

Mais curiosidades sobre a cultura e práticas


expressivas indígenas!!!

considerados ‘mestres’.
Assim, entre os Kaxinawa, por
exemplo a mestre na arte da tecelagem é
chamada de ainbu keneya ,‘mulher com
desenho’ ou ainda de txana ibu ainbu, ‘dona
dos japins’, ou seja, liderança ritual feminina
da aldeia, responsável pela organização do
trabalho coletivo do preparo do algodão.
Este mesmo título, ‘dona dos japins’, é
dado às mulheres que lideram o canto
feminino durante a performance ritual. O
japim é um pássaro que tece elaborados ninhos
alongados, pendurados nos galhos das árvores.
Em cantos rituais seu ninho é chamado de
txana disi, ‘rede do japiim' e assim o pássaro
serve de metáfora para indicar a excelência na Para os povos Krahô a arte também
tecelagem. O líder de canto masculino é estará muito ligada a tudo que pensam e fazem
igualmente chamado de txanaibu, ‘dono dos em sua vida cotidiana. E uma coisa que é
japins’. muito importante para o povo Krahô é que
todos estejam em harmonia, equilíbrio e em
busca da felicidade. Assim, eles terão muitas
festas para aprender, confraternizar e
comemorar.
Existe entre os Krahô uma figura
muito importante e sagrada, o Hotxuá. O
Hotxuá é uma espécie de palhaço sagrado. Isso
porque se o riso é sagrado para o povo Krahô,
aquele que é responsável por provocar o riso,
também é sagrado.
O Hotxuá é responsável pelo bem-
estar e equilíbrio de toda a aldeia, por isso,
durante o dia ele faz várias cenas e brinca com
todos da aldeia. Se algum conflito acontece ele
é chamado para ajudar e fazer a tensão da
O japim, além de ser um pássaro situação se dissolver a partir de seus
tecelão, é também aquele que imita o maior ensinamentos.
número de cantos de outros pássaros e Embora tenhamos muitas pessoas
animais. Assim, as mulheres aprendem cantos indígenas que vivem com seus povos em
que as ajudam a aprender a tecer com desenho, aldeias e áreas indígenas demarcadas, muitas
e também a desenvolver outras atividades populações indígenas viveram o processo de
produtivas da vida em comunidade, enquanto desterritorialização, quer dizer, foram
afastados de algum modo de suas práticas
telúricas originais, e foram obrigadas a sair de
suas terras e procurar formas de sobreviver na
cidade. Essas são as pessoas indígenas em
meio urbano, porém que não perdem contato
com sua tradição, e também não deixam de ser
indígenas.
Atualmente muitos representantes dos
povos indígenas entraram em centros de
formação, universidades e ocupam cargos
políticos, governamentais e muitos também
são artistas como Juão Nyn, ator e escritor da
etnia Potyguara, Jaider Esbell, pintor e
desenhista Macuxi.

Jaider Esbell com sua obra Pata Ewa’n – O Coração do Mundo)

Jaider Esbell, artista, escritor e


produtor cultural indígena da etnia Makuxi.
Nasceu em Normandia, estado de Roraima, e
viveu, até os 18 anos, onde hoje é a Terra
Indígena Raposa – Serra do Sol (TI Raposa –
Serra do Sol). Em 2016, recebe indicação ao
Prêmio PIPA, o maior prêmio da arte
contemporânea Brasileira.
Em seu trabalho Jaider traz as forças
da floresta, dos seres e suas reflexões sobre
ancestralidade, conhecimento, memória,
política global, o ser local, xamanismo visual e
poder.
Ele esteve em exposição em Brasília
com a série de quadros TransMakunaíma – o
buraco é mais embaixo . Uma série que fala de
Makunaíma, seu ancestral, visto como avô de
seu povo, o povo Macuxi. Makunaíma. Juão Nyn é multiartista, atua na
performance, no teatro, no cinema e na
música. É potyguara, tem 31 anos e é militante
do movimento Indígena do Rio Grande do
Norte pela APIRN (Associação dos Povos
Indígenas do Rio Grande do Norte). É
integrante do Coletivo Estopô Balaio de
Criação, Memória e Narrativa, da Cia. de Arte
Teatro Interrompido e vocalista/compositor da
banda Androide Sem Par. Formado em
Licenciatura em Teatro pela UFRN, está há
cinco anos em trânsito entre Natal e São Paulo.

Agora que vimos como as


expressões e entendimentos de arte e
cultura podem ser múltiplos de acordo
com a perspectiva dos povos indígenas,
Em 2020 Juão lançou seu primeiro
livro com a dramaturgia TYBYRA - UMA vamos entender um pouco de como isso
TRAGÉDIA INDÍGENA BRASILEIRA. O pode ser visto pelas populações negras do
livro é dividido em cinco atos nomeados Luz, Brasil.
os diálogos possuem a linguagem dos povos Ao contrário dos povos indígenas
originários brasileiros e a violência que foram que conseguiram em algum nível se
submetidos. A sua história então tem como manter vinculados às suas comunidades e
protagonista Tybyra, personagem indígena famílias mesmo diante das violências da
baseado em uma figura histórica, de trajetória colonização europeia. No caso dos afro-
trágica. diaspóricos, os europeus se esforçaram
Tybyra é conhecido por ter sido a para acabar com a história ancestral das
primeira pessoa a ser condenada à morte pelo
populações negras que foram trazidas
Estado Brasileiro por ser LGBT. Juão fez uma
vasta pesquisa e se baseia em documento também para o Brasil.
histórico do frade Yves D’Évreux em seu
diário “Viagem ao Norte do Brasil feita nos
anos de 1613 e 1614″.

De onde eram os africanos escravizados que


vieram para Brasil?
Contudo, mesmo assim as pessoas Centro-Ocidental, que inclui as regiões
negras, já nos navios de tráfico negreiro se do Congo, Angola e Moçambique. 
uniram para que suas histórias não fossem Outros eram os yorubanos ou
apagadas totalmente. “sudaneses” (oeste-africanos), que se
Muitos de nós desconhecemos por destacam como um dos grupos mais
completo palavras como yorubá, jeje, fon, importantes, que, dos mercados de
bantu – nomes de culturas e nações Salvador, se espalhou por todo o
africanos, das quais, às vezes, sem muito Recôncavo baiano.
conhecimento a esse respeito, somos Dentre esses estavam os Iorubás ou
herdeiros das culturas desses povos, que Nagôs e os Jejes (que inclui as etnias de
foram trazidos para o Brasil nos porões Fon; Ashanti; Ewé; Fanti), os Mina e
dos navios negreiros. Juntos e misturados os Malês (que são povos do oeste africano
vinham também reis e rainhas muçulmano), entre os quais também os
sequestrados de suas terras como Mandingas, Fulas, Tapas, Bornu
prisioneiros de guerra. Indivíduos e Gurunsi. Atualmente esses países são
condenados, simplesmente raptados em Togo, Gana, Nigéria, Costa do Marfim e
suas vilas, retirados violentamente de suas Benim, onde está a “costa dos escravos”.   
terras, incluindo mulheres e crianças. A Durante o ciclo do ouro no Brasil
escravidão obrigou filhos de vários confins (no século XVIII) muitos sudaneses foram
da velha mamma África a se misturarem levados para Minas Gerais, onde também
forçosamente. chegaram a predominar. No século XIX
Tanto para os traficantes quanto foram superados pelo grupo de pessoas
para os senhores que compravam os escravizadas chamadas de bantos da região
escravos nas terras tupiniquins era melhor de Angola, Congo ou Cabinda, Benguelas
separar as pessoas negras das mesmas e Moçambique.
famílias e aldeias, a fim de evitar possíveis Os bantos foram introduzidos em
revoltas e tentativas de fuga. No entanto Pernambuco, de onde seguiram até
essa estratégia de separação de escravos de Alagoas; no Rio de Janeiro, de onde se
mesmas aldeias não conseguiu evitar o espalharam por Minas Gerais e São Paulo;
inevitável. E foi assim que, ainda nos e no Maranhão, atingindo daí o Pará.
porões dos navios, se iniciou uma relação Ainda no Rio de Janeiro e em Santa
conhecida por muitos como o “pacto da Catarina foram introduzidos os camundás,
senzala” – o pacto cultural, musical, camundongos e os quiçamãs.
religioso, social que foi feito por um Nós, os brasileiros, somos
instinto de sobrevivência por negros de herdeiros de várias culturas africanas
diferentes aldeias para sobreviverem no também. E essas histórias,
Brasil, criando a partir dessa fusão os certamente, deveriam estar nos livros de
pilares de uma nova cultura pós-africana: histórias de nossas escolas, para que
como no Brasil temos o candomblé, a pudéssemos conhecer melhor nossas
umbanda, o samba e hip-hop. próprias raízes.
E foi no Novo Mundo onde
aconteceu não apenas a fusão de línguas, Exploração de linguagens artísticas-
como de crenças e costumes. Somos produções afro-brasileiras
herdeiros da diáspora!
Milhares de pessoas negras vindas Após essa introdução sobre as culturas
negras veremos agora algumas manifestações
de várias partes da África chegaram em
culturais e alguns artistas importantes que
portos brasileiros. O maior número dessas fazem parte das expressões afro-brasileiras.
pessoas escravizadas pertencia aos grupos
do tronco lingüístico banto da África
Capoeira Um dos principais representantes da
capoeira foi o Mestre Pastinha. Aprendeu
A capoeira é uma luta que brinca com desde criança capoeira e tratou de difundir ela
a musicalidade, a formação de pequenas letras por todo o Brasil e o mundo como Arte.
e expressão do corpo. Assim, alguns A prática corporal da capoeira
instrumentos são essenciais para que uma roda enquanto expressão artística teve grande
de capoeira aconteça, como o berimbau, impacto no mundo, possibilitando a formação
pandeiros e atabaque. de escolas que privilegiam o trabalho físico e
mental ao mesmo tempo, representando um
aprendizado que mistura cultura, corporeidade
e linguagens artísticas diversas.
Mestre Pastinha foi um dos maiores
propagadores da Capoeira Angola, modalidade
tradicional da capoeira no Brasil. Muitas de
suas frases são conhecidas entre os
capoeiristas, essa é uma delas: "Capoeirista
não é aquele que sabe movimentar o corpo, e
sim aquele que se deixa movimentar pela
alma".

(Negros lutando (1824), de Augustus Earle. Aquarela) MAIS CURIOSIDADES SOBRE AS


PRÁTICAS ARTÍSTICAS AFRO-
A capoeira é desenvolvida entre os BRASILEIRAS!!!
povos negros escravizados ainda no período
do Brasil colônia. Seus ensinamentos eram Teatro Experimental do Negro (TEN)
passados de forma oral, e o objetivo principal
era dar condicionamento e conhecimento
físico às pessoas negras escravizadas para que
conseguissem fugir e resistir aos capitães do
mato, caso fossem capturadas.
As músicas e os instrumentos foram
adicionados como modo de distração para que
a luta fosse vista apenas como brincadeira e
fossem permitidas. Entretanto, a capoeira foi
proibida de ser praticada ainda no Brasil
império e seguiu em proibição até 1930,
quando passou a ser reconhecida como um
símbolo da identidade brasileira. Em 2014, a
Roda de Capoeira foi declarada Patrimônio
Cultural Imaterial da Humanidade pela
Unesco.

O teatro como conhecemos tradicionalmente,


praticado em palcos e com plateia, é praticado
no Brasil desde muito tempo, porém sempre
teve baixa representatividade de pessoas
negras. Uma prática comum entre as elites
brancas, era de se pintarem de preto, para
representar pessoas negras de forma
depreciativa e vergonhosa, o que ficou
conhecido como “black face”.
Mestre Pastinha. Fotografia de autor desconhecido.
Assim, Abdias Nascimento decide Em 1955, promoveu a Semana do
dedicar parte de sua vida ao desenvolvimento Negro e um concurso de artes plásticas tendo
do que ele chama de Teatro Experimental do como tema o Cristo Negro. Publicou o jornal
Negro, ou TEN. Quilombo (1948-50), a antologia Dramas para
negros e prólogo para brancos (1961), e os
livros Sortilégio (Mistério Negro), de Abdias
Nascimento (1959), e “Teatro Experimental do
Negro: Testemunhos” (1966). Além disso, o
TEN também organizou o Comitê
Democrático Afro-Brasileiro e, em seguida, a
Convenção Nacional do Negro, que
apresentou à Constituinte de 1946, entre outras
propostas, a inserção da discriminação racial
como crime de lesa-pátria.

Grace Passô

Foto retirada da internet, Autor desconhecido.

O TEN - Teatro Experimental do


Negro atuou principalmente entre 1944 e 1961
encenando mais de 33 peças. Uma das suas
mais famosas atrizes é Ruth de Souza a
primeira artista nascida no país indicada ao
prêmio de melhor atriz em um festival
internacional de cinema, por seu trabalho em
Sinhá Moça, no Festival de Veneza de 1954.

Atualmente, Grace Passô é um dos


maiores nomes do teatro e do cinema
brasileiro. Recentemente recebeu os prêmios
de melhor atriz em diversos festivais pelos
filmes Temporada, Praça Paris e Vaga Carne.
Vaga Carne é um filme média-metragem
desenvolvido a partir de sua dramaturgia de
mesmo nome. Enquanto dramaturga também
ganhou diversas premiações. Outros textos
Ruth de Souza. Foto retirada da internet, Autor desconhecido dramatúrgicos de Grace Passô que merecem
destaque são Por Elise, Guerrilheiras ou Para a
Além do trabalho com o teatro, o TEN terra não há desaparecidos e Congresso
tinha uma forte postura política, criando Internacional do Medo.
entidades como a Associação das Empregadas Grace Passô trabalha muito com as
Domésticas e o Conselho Nacional de relações sociais e os relacionamentos, trazendo
Mulheres Negras. Publicou o jornal Quilombo, em seu texto e em suas personagens muitos
que denunciava a discriminação racial em todo dilemas vividos pelos corpos de mulheres
o Brasil e dava notícias e informações sobre negras, periféricas ou não, lésbicas ou não.
cultura negra no mundo. Combateu o padrão Porém supera todas essas questões ao tratar
eurocentrista de beleza dos concursos de Miss principalmente sobre a liberdade e a felicidade
Brasil, realizando concursos de beleza para dos corpos.
mulheres negras. Em Vaga Carne, tanto no filme,
quanto na peça, ela conta a história de uma
voz que invade um corpo e assim fala de como
é sentir e ver o mundo de diferentes formas.
Assim, Grace também abre a possibilidade
para quem vê e escuta sua apresentação de se
questionar sobre as diferenças que existem
entre cada um de nós e como isso pode ser
belo.

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