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FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA


ANDRÉ AUGUSTO HABECK

ECUMENISMO E CONFESSIONALIDADE LUTERANA: ANÁLISE DOS


DOCUMENTOS DA IECLB A PARTIR DA ÓTICA DOS USOS DA LEI

São Bento do Sul


2018
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FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA


ANDRÉ AUGUSTO HABECK

ECUMENISMO E CONFESSIONALIDADE LUTERANA: ANÁLISE DOS


DOCUMENTOS DA IECLB A PARTIR DA ÓTICA DOS USOS DA LEI

Elaboração de Ensaio Monográfico apresentado à


Faculdade Luterana de Teologia – FLT como requisito
parcial para à Disciplina de Avaliação Intermediária.
Contribui para a análise dos documentos da IECLB a
partir da ótica dos usos da lei
Orientador: Prof. Dr. Euler Renato Westphal

São Bento do Sul


2018
3

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 4

1 ECUMENISMO: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO ................................................................ 5

1.1 GOTTFRIED BRAKEMEIER ............................................................................................ 5

1.1.1 Base Bíblica no Novo Testamento.................................................................................. 7

1.1.2 Relação com a Reforma .................................................................................................. 8

1.2 RUDOLF VON SINNER .................................................................................................... 9

2 ECUMENISMO NO CONTEXTO DA IECLB ................................................................ 11

2.1 PRÁTICAS ECUMÊNICAS DA IECLB ......................................................................... 13

3 ECUMENISMO SOB A PERSPECTIVA DO USO DA LEI .......................................... 16

3.1 O USO DA LEI ................................................................................................................. 16

3.1.1 O uso político da Lei ..................................................................................................... 16

3.1.2 O uso teológico da Lei ................................................................................................... 16

3.1.3 O uso didático da Lei .................................................................................................... 16

3.2 A RELAÇÃO DO USO POLÍTICO DA LEI COM O ECUMENISMO ......................... 16

3.2.1 O diálogo inter-religioso e o uso da Lei. ...................................................................... 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 19

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 20
4

INTRODUÇÃO

Atualmente vive-se um contexto de grande pluralidade de igrejas cristãs espalhadas


pelo Brasil e pelo mundo, esse pode ser um fator muito positivo, para que as pessoas possam
encontrar variadas formas de vivenciar a sua fé, da maneira que mais se identifica. Porém não
é exatamente esse cenário que se visualiza no grande contexto cristão.
Inicialmente é apresentado o conceito de ecumenismo partindo de dois principais
autores e uma breve contextualização histórica fazendo que seja possível entender a raiz do
termo e perceber a evolução de seu significado.
O presente trabalho tem a intenção de discutir as relações ecumênicas partindo do
ponto de vista da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, seja em seu próprio
contexto brasileiro, seja no contexto global. Serão expostos os principais pontos de documentos
normativos acerca do ecumenismo, bem como de documentos confessionais. Também serão
apresentadas algumas práticas e parcerias que esta igreja tem em suas relações ecumênicas.
Outra intenção do trabalho é relacionar o uso político da Lei com o ecumenismo,
apontando quais são os objetivos do uso da Lei, quais são os limites do ecumenismo e a partir
de que ponto este passa a ser considerado diálogo inter-religioso.
5

1 ECUMENISMO: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO

Este capítulo visa trazer o conceito de ecumenismo baseado em dois autores principais
e coloca-los em diálogo. Isso se faz necessário para o bom andamento do trabalho nos capítulos
seguintes. Os autores são: Gottfried Brakemeier, nascido em 1937, professor de teologia
sistemática e ecumênica na Faculdades EST em São Leopoldo – RS e Rudolf von Sinner,
nascido em 1967, na Suíça, também professor de teologia sistemática, ecumenismo e diálogo
inter-religioso na Faculdades EST em São Leopoldo – RS.

1.1 GOTTFRIED BRAKEMEIER

Para definir o conceito de ecumenismo é necessário entender a origem da palavra. Esta


expressão tem origem grega, da palavra οἶκουμένη que transliterado corresponde a oikoumene.
Analisando gramaticalmente, esse vocábulo é o particípio feminino de oikein, cujo significado
é habitar. Sendo assim a tradução literal seria: habitada, fica subentendido que está relacionado
a terra, então o significado seria: terra habitada. O termo ecumenismo tem a mesma origem que
etimológica que ecologia, economia, ecossistema e várias outras. Todas essas palavras dizem
respeito ao mundo que o ser humano vive, então primeiramente tem um sentido geográfico, o
espeço em que o ser humano habita. É sob essa perspectiva que o termo aparece no Antigo e
no Novo Testamento.1
Esse termo porém, desde cedo, recebeu outros sentidos: politicamente representa o
império romano, culturalmente trata da união do mundo feita pelo helenismo, tanto é que no
versículo de Mateus 24.14, “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para
testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.”, o termo traduzido por mundo no grego é o
vocábulo οἰκουμένῃ, ou seja, para os primeiros cristãos o ecumenismo era o alvo da
evangelização. Mais tarde o termo é atribuído a própria igreja, como definição para a igreja
espalhada pelo mundo, a partir de então seu significado passa a ser eclesiológico, ligado ao
corpo de Cristo, ultrapassando os limites das instituições, chegando até os confins da terra.2
A missão atual do ecumenismo é unir o corpo de Cristo, ou seja, todas as igrejas cristãs
espalhadas pelo mundo, porém segundo Brakemeier o sentido de ecumenismo vai além do
eclesiológico, deve haver um esforço para unir a humanidade e a sociedade como um todo,
conforme enfatiza o Conselho Mundial de Igrejas “A unidade dos/as cristãos/ãs é prioritária.

1
BRAKEMEIER, Gottfried. "Preservando a unidade do espírito no vínculo da paz": um curso de ecumenismo.
São Paulo: ASTE, 2004, p. 9.
2
BRAKEMEIER, 2004, p. 9 – 10.
6

Mas não é um fim em si.”3, fazendo assim relembrar o sentido original da palavra, que envolve
todo o mundo habitado.4
Durante a história da Igreja, e do mundo, aconteceram muitas divisões, desde cedo, já
no Novo Testamento há relatos de grupos que se separaram, como os gnósticos, ou pelagianos.
Mais tarde, em 1054 d.C. acontece a divisão entre Igreja do oriente e Igreja do ocidente, outra
divisão acontece no século XVI com a reforma protestante, chegando aos dias atuais com a
enorme diversidade de denominações cristãs existentes. Toda essa pluralidade não é o problema
em si, o que causa problema para a missão dos cristãos é a concorrência existente entre as
denominações. A intenção do ecumenismo é, em certa medida, reverter essas divisões,
novamente trazendo unidade.5
Os próprios credos da Igreja Cristã, Credo Apostólico ou Niceno-Constantinopolitano
expressam a intenção de unidade da Igreja, que é baseada no evangelho, é o que Jesus queria.
Claro que as diferenças são inevitáveis, essas com certeza geram grupos diferentes dentro da
Igreja de Cristo, isto já é visível no Novo Testamento, quando Paulo escreve cartas às várias
igrejas da época. Essa diversidade não é problema, pois ecumenismo não requer uniformidade,
mas unidade. Essa unidade já é anterior as divisões, por isso a unidade não é obra do
ecumenismo, e sim do Espírito Santo, o ecumenismo apenas tem a missão de tornar essa
unidade visível.6
O próprio ecumenismo não é algo uniforme, mas sim multifacetado, existem várias
formas e vários níveis de se fazer ecumenismo. Existem muitas barreiras que o ecumenismo
encontra, principalmente por grupos mais tradicionais, ou por falta de conhecimento do que é
o ecumenismo, visto que o ecumenismo essencialmente não abre mão da verdade, por isso todo
o medo de perder a identidade do grupo ou de a verdade ser relativizada é em vão. O
ecumenismo não pretende aniquilar as diferenças, mas busca ter abertura de diálogo entre elas.7
A relação entre missão e ecumenismo não deve ser contraditória, mas sim amigável,
pois fazer missão não deveria simplesmente ser a captura de membros, mas deve ser um convite
a pessoas sem Igreja para terem uma comunidade, a verdadeira missão deve ultrapassar os
limites institucionais. Ecumenismo não é opcional na Igreja Cristã, pois Jesus Cristo quer a
comunhão entre seus discípulos, o próprio Espírito Santo está junto na comunhão dos crentes.8

3
BRAKEMEIER, 2004, p. 10.
4
BRAKEMEIER, 2004, p. 10.
5
BRAKEMEIER, 2004, p. 10 – 11.
6
BRAKEMEIER, 2004, p. 11 – 12 .
7
BRAKEMEIER, 2004, p. 12.
8
BRAKEMEIER, 2004, p. 12 – 13.
7

Toda a teologia deve ser baseada no ecumenismo, pois para entender teologia se faz
necessário entender todo o pano de fundo histórico e cultural do conhecimento teológico, isso
vale para todas as áreas da teologia.9
O caminho para alcançar o ecumenismo é vasto e pedregoso, porém é necessário que
se faça. O termo ecumenismo ainda exige muita explicação e clarificação para todas as pessoas,
falta definir um conceito de ecumenismo. É um assunto complexo que exige muita discussão.10

1.1.1 Base Bíblica no Novo Testamento


Desde a raiz da Igreja é possível verificar como Jesus Cristo queria a unidade dos
crentes, quando Ele fala do seu rebanho de ovelhas dá a entender que há um só rebanho e um
só pastor. Na carta de Paulo aos Coríntios, em 1.13 está claro o pensamento de que é
inconcebível que Jesus Cristo esteja dividido.11
O versículo base para o ecumenismo está em João 17.21, que diz “a fim de que todos
sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o
mundo creia que tu me enviaste.”12 Este versículo fala da unidade de Cristo com o Pai, essa
unidade é para servir de modelo para a unidade para todos os que vierem a crer no Senhor Jesus
Cristo.
Um exemplo interessante de ecumenismo encontrado no Novo Testamento é o consílio
dos apóstolos, relatado em Atos 15, cujo assunto principal foi a unidade da Igreja, levando em
conta que esta era formada pela comunidade judaica e pelos gentílico-cristãos. Chegando a
conclusão que somente Cristo salva, independente da cultura.13
Outro interessante relato de ecumenismo é a coleta para a comunidade judaica em
Jerusalém14, onde comunidades gentílico-cristãs levantam ofertas para a comunidade judaica.
Todos os membros da Igreja de Cristo vivem pela graça de Deus. É importante destacara que
“A justificação por graça e fé é o mais poderoso fato ecumênico.”.15
Vale destacar também que o século XXI apresenta uma sociedade multicultural, o que
tem influência direta com o ecumenismo. Partindo da prática ecumênica, não é necessário
suprimir e acabar com a cultura de outra igreja ou denominação, isso seria fatalmente trágico,

9
BRAKEMEIER, 2004, p. 13.
10
BRAKEMEIER, 2004, p. 14.
11
BRAKEMEIER, 2004, p. 17 – 18.
12
JOÃO. In: BÍBLIA on-line: versão Almeida Revista e Atualizada. 1993. Disponível em:
<https://my.bible.com/pt/bible/1608/JHN.17.ARA>. Acesso em: 05 dez. 2018.
13
BRAKEMEIER, 2004, p. 21.
14
2 Coríntios 8 e 9.
15
BRAKEMEIER, 2004, p. 21 – 22.
8

afinal o objetivo do ecumenismo não é fundir grupo, mas unir eles. Isso significa que as
diferenças não podem ser negadas, mas sendo o cerne a fé em Jesus Cristo, é possível criar
formas de diálogo entre as diferentes culturas.16

1.1.2 Relação com a Reforma


É importante ressaltar que a história das igrejas protestantes não inicia na reforma, mas
sim no século I, em Jerusalém. A intensão da reforma protestante não foi criar uma nova igreja,
mas reforma a igreja existente, por isso até mesmo a Confissão de Augsburgo se considera
ecumênica.17
A partir da divisão que acabou ocorrendo surge a pergunta pela verdadeira Igreja, que
pelos luteranos nunca foi respondida com uma instituição, mas com critérios referentes ao
evangelho puro e administração dos sacramentos. Ou seja “A unidade da Igreja se fundamenta
num consenso na doutrina e na prática sacramental”18
Um termo chave para o ecumenismo é tolerância, visto que este é sinônimo de
suportar, ou seja não é necessário nivelar as pessoas, nem mesmo Jesus nivelou seus seguidores,
mas lhes deu o direito da diferença. “O respeito devido à alteridade social, cultural e étnica de
pessoas e grupos”19, esse é o conceito principal de tolerância dentro do ecumenismo.
Vale destacar novamente que o cerne deve permanecer, então tolerância não deve ser
sinônimo de permissividade. Não há como suportar negação de mandamentos ou questões
fundamentais da fé.20
Diante da sociedade plural atual o ecumenismo cristão deveria se tornar paradigmático
em esferas como a política e a social, pois “ecumenismo permite a identidade própria, mas
descarta o individualismo e o corporativismo”21, ou seja ele não elimina a variedade, mas
estabelece diálogo entre as partes.22
Mesmo nesse sentido o ecumenismo não deixa de te seu significado teológico, pois
também é desejo de Deus que na sociedade tenha paz, libertação do mal. Ou seja o ecumenismo
é “proposta a ser traduzida para outras esferas no afã de viabilizar a sociedade plural.”.23

16
BRAKEMEIER, 2004, p. 123 – 124.
17
BRAKEMEIER, 2004, p. 71.
18
BRAKEMEIER, 2004, p. 72.
19
BRAKEMEIER, 2004, p. 124.
20
BRAKEMEIER, 2004, p. 125.
21
BRAKEMEIER, 2004, p. 125.
22
BRAKEMEIER, 2004, p. 125.
23
BRAKEMEIER, 2004, p. 126
9

Brakemeier ainda destaca que “necessário se faz superar temores e clarear objetivos”24,
ou seja é necessário muitas vezes reconciliação, esse é um ponto muito destacado no próximo
item, que trata do conceito de Rudolf von Sinner.

1.2 RUDOLF VON SINNER


Sinner, quando fala sobre ecumenismo em seu livro Confiança e Convivência:
Reflexões éticas e ecumênicas, inicia abordando o tema da desconfiança existente
principalmente entre a igreja católica romana e as igrejas protestantes. Desde o início ele deixa
bem claro que para o ecumenismo esse clima deve ser superado.25
Assim como Brakemeier ele vê a diversidade de igrejas existentes no Brasil como algo
bom e não como empecilho para o ecumenismo. Segundo Sinner a diversidade de igrejas no
contexto brasileiro seria ótima para ter diferentes vivências da fé cristã. Porém na prática o que
ocorre é a concorrência entre as igrejas, cada uma querendo atrapalhar o trabalhado de outra,
ou mesmo roubar membros para si.26
Sinner também destaca que ao viver nesse contexto de desconfiança, envenenamento
e concorrência a Igreja não está cumprindo com seu testemunho descrito em Efésio 4.1-3, que
é suportar uns aos outros e também viver em união no vínculo da paz. Assim como Brakemeier,
Sinner ressalta que a unidade é diferente da uniformidade, o ecumenismo busca a unidade, que
de um modo geral significa viver na diversidade sem ser mutuamente exclusivo.27
Também é importante destacar que não há somente o ecumenismo para dentro do
contexto das igrejas cristãs, mas também para fora desse contexto. Sinner utiliza o exemplo do
envio dos 72 discípulos de Lucas 10. Ele destaca que os discípulos são instruídos primeiramente
a construir um relacionamento de paz e de confiança, para só então anunciar a vinda do Reino.28
Sinner apresenta um histórico de projetos que tentaram colocar em prática o
ecumenismo em vários contextos. Iniciando por Dietrich Bonhoeffer, no contexto da segunda
Guerra Mundial, teve a ousadia de tentar proclamar a paz de Cristo, naquele contexto, sobre o
mundo todo. Logo após ele cita os esforços feitos pelo CMI – Conselho Mundial de Igrejas –
para estabelecer a paz global.29

24
BRAKEMEIER, 2004, p. 127.
25
SINNER, Rudolf von. Confiança e convivência: reflexões éticas e ecumênicas. São Leopoldo, RS: Sinodal,
2007, p. 70.
26
SINNER, 2007, p. 70.
27
SINNER, 2007, p. 71.
28
SINNER, 2007, p. 71.
29
SINNER, 2007, p. 72 – 73.
10

Vale destacar que entre os esforços recentes do CMI está a publicação de um guia de
estudo intitulado Chamados à ação transformadora: Diaconia Ecumênica. Um dos principais
objetivos do documento é “Propor questões para discussão com o objetivo de atualizar os
assuntos que o documento levanta em relação à prática diaconal local e como esta se relaciona
com parceiros ecumênicos e outras redes.”.30 Em todo final de capítulo desse guia são propostas
algumas questões bem práticas para discussão, as questões são sempre direcionadas ao contexto
exato que o leitor vive.

30
CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS – CMI. Chamados à ação transformadora: Diaconia Ecumênica.
Disponível em: < https://www.oikoumene.org/pt/documentos/programmes/called-to-transformative-action-
ecumenical-diakonia-study-guide/@@download/file/Study-Guide-Ecumenical-Diakonia-PORT.pdf>. Acesso
em: 03 dez. 2018.
11

2 ECUMENISMO NO CONTEXTO DA IECLB

Em seu site institucional a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB


– tem, na guia de valores, um tópico sobre ecumenicidade. Nesse tópico é apresentada a situação
real do contexto brasileiro, do qual a IECLB não se exclui, de forma bem concreta é abordada
a questão de que há muitas tensões e conflitos no contexto da Igreja, que há fortes marcas da
institucionalização da Igreja e que isso pode ser uma barreira para o ecumenismo. 31 Porém o
texto também enfatiza o ecumenismo como obrigatório e fundamental na Igreja Cristã,
destacando também a importância disso como testemunho cristão:
“A ecumenicidade torna possível a busca e o fomento de relações fraternais entre
diferentes corpos eclesiásticos. Orações e celebrações conjuntas, diálogos e serviços
de cooperação entre denominações cristãs desconstroem animosidades históricas e
constroem caminhos para encontros fraternos tendo em vista um testemunho
afirmativo na sociedade e no mundo.”32
Nesse mesmo texto, em seu último parágrafo ainda é abordada a questão do diálogo
inter-religioso, levando em conta que o ecumenismo é a busca pela unidade de todo o mundo
habitado, porém essa ainda é uma questão pouco discutida. Sobre essa questão o texto encerra
com as seguintes palavras: “Este movimento, ainda incipiente, representa um grande desafio
para o futuro.”.33
Ainda no site institucional da IECLB encontra-se a missão dessa instituição, que
possui um parágrafo dedicado a prática ecumênica, descrevendo algumas práticas que
procuram, como Igreja Cristã, realizar:
“Ao se incluirem na missão de Deus (missio dei) as comunidades evitam a auto-
suficiência e o isolamento. Elas estabelecem relações de parceria e cooperação com
outras denominações cristãs, com organizações eclesiásticas, com entidades e
instituições da sociedade civil e com instâncias governamentais. Elas igualmente são
parceiras na missão de Deus no mundo e na sociedade.”34
De acordo com o boletim informativo publicado em oito de abril de 1988, que trata da
cooperação intereclesiástica a IECLB é chamada a anunciar a Boa Nova no contexto em que
está inserida, juntamente com outras igrejas, participando assim da Missão de Deus no mundo.
Neste informativo também fica claro que não há processos formais para desempenhar a prática

31
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Ecumenicidade: Abertura
dialogal e cooperação no corpo de Cristo. Disponível em: <http://luteranos.com.br/conteudo/ecumenicidade>.
Acesso em: 03 dez. 2018.
32
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Ecumenicidade: Abertura
dialogal e cooperação no corpo de Cristo. Disponível em: <http://luteranos.com.br/conteudo/ecumenicidade>.
Acesso em: 03 dez. 2018.
33
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Ecumenicidade: Abertura
dialogal e cooperação no corpo de Cristo. Disponível em: <http://luteranos.com.br/conteudo/ecumenicidade>.
Acesso em: 03 dez. 2018.
34
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Missão: As parcerias de Deus
no mundo. Disponível em: <http://luteranos.com.br/conteudo/missao>. Acesso em: 03 dez. 2018.
12

ecumênica, mas que a IECLB é aberta, tanto para oferecer seus recurso e disponibilidades, tanto
para receber recursos e disponibilidades de outras igrejas. Também é destacado que essas
relações ecumênicas devem sempre ser analisadas e avaliadas. 35 Vale destacar o último tópico
deste boletim: “7. À luz deste posicionamento, deve-se estabelecer um diálogo com as outras
Igrejas, conveniadas ou não, na busca por novas formas de participação conjunta na Missão de
Deus.”36
A fundamentação para o ecumenismo na IECLB parte da figura do corpo de Cristo,
entendendo-se parte do corpo. Cada membro desse corpo tem suas habilidades e fragilidades, a
IECLB coloca suas habilidades e recursos a disposição e reconhece que também necessita da
ajuda fraternal.37
Quanto aos critérios para realização ecumênica na IECLB também vale analisar
documentos confessionais. No artigo VII da Confissão de Augsburgo, que trata da Igreja,
encontra-se que
“Ensinam, outrossim, que sempre permanecerá uma santa igreja. E a igreja é a
congregação dos santos, na qual o evangelho é pregado de maneira pura e os
sacramentos são administrados corretamente. E para a verdadeira unidade da igreja
basta que haja acordo quanto à doutrina do evangelho e à administração dos
sacramentos. Não é necessário que as tradições humanas ou os ritos e cerimônias
instituídos pelos homens sejam semelhantes em toda a parte. Como diz Paulo: ‘Uma
só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, etc.’”38
Ou seja, todas as outras tradições que partem do ser humano são acessórios, o que
importa é que o que está no centro.
Conforme o Livro de Concórdia, existem três símbolos ecumênicos, estes são sempre
citados para confirmar a doutrina luterana baseada no ensino da igreja Antiga. O primeiro é o
Credo Apostólico, que não vem diretamente dos apóstolos, mas tem suas raízes neles, este é o
resultado de uma revisão do antigo Credo Romano. O segundo é o Credo Niceno, que passou a
ser usado depois do Concílio de Niceia, que lutava contra os arianos, depois disso teve pequenas
mudanças no Concílio de Constantinopla e foi reafirmado no Concílio de Calcedônia. O terceiro
é o Credo Atanasiano, pouco se sabe sobre sua origem, o que é possível de afirmar é que não

35
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Cooperação
Intereclesiástica – Princípios. 1988. Disponível em:
<http://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/governanca-suporte-normativo/cooperacao-
intereclesiastica-principios>. Acesso em: 03 dez. 2018.
36
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Cooperação
Intereclesiástica – Princípios. 1988. Disponível em:
<http://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/governanca-suporte-normativo/cooperacao-
intereclesiastica-principios>. Acesso em: 03 dez. 2018.
37
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Parceria – critérios. Porto
Alegre – RS. 1989. Disponível em: <http://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/governanca-suporte-
normativo/parceria-criterios>. Acesso em: 03 dez. 2018.
38
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL - IECLB. Livro de Concórdia: as
confissões da Igreja Evangélica Luterana. 6. ed. revisada e atualizada. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2006, p. 66.
13

foi composto por Atanásio, o que pode-se supor é que no tempo de Atanásio tenha se iniciado
a composição, apesar de que a época do século V ou VI pareça mais provável.39
No site da Federação Luterana Mundial encontra-se um parágrafo importante a
destacar sobre ecumenismo: “Esta comunhão é um presente antes de ser uma tarefa. Nós
ouvimos o evangelho da graça de Deus, recebemos o batismo e nos unimos na Santa Comunhão.
E assim somos atraídos a Deus e uns aos outros.”(tradução nossa)40. Portanto antes de encarar
o ecumenismo como algo pesado de ser praticado, deve-se lembrar que a convivência com os
demais crentes é um presente concedido a humanidade.

2.1 PRÁTICAS ECUMÊNICAS DA IECLB


Em sua própria constituição a IECLB assume um compromisso ecumênico. As
comunidades da IECLB estão conscientes que no contexto em que estão inseridas não devem
ficar isoladas, pois a concorrência entre denominações não é um testemunho saudável e não
contribui para a missão de proclamar o evangelho.41
A seguir serão apresentadas algumas organizações ecumênicas as quais a IECLB está
ligada:
 Conselho Mundial de Igrejas42: órgão internacional fundado em 1948 em Amsterdã,
na Holanda, representando 147 Igrejas de todo o globo terrestre. É um grupo de
comunhão de Igrejas.43 A última notícia publicada pela IECLB em relação ao CMI
fala sobre um encontro regional de responsáveis pelas relações ecumênicas de
várias igrejas da América Latina e do Caribe realizado nos dias 18 a 20 de setembro.
O objetivo do encontro aprimorar as relações ecumênicas nessa região. Quanto ao
programa “inclui orar juntos, compartilhar ideias, e visitar igrejas e comunidades
locais”.44

39
IECLB, 2006, p. 18 – 22.
40
This communion is a gift before it is a task. We hear the gospel of God’s grace, receive baptism and join together
in Holy Communion. And thus we are drawn to God, and to one another. LUTHERAN WORLD FEDERATION.
Communion. Disponível em: <https://www.lutheranworld.org/content/communion>. Acesso em: 05 dez. 2018.
41
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Unidade na Palavra e na
Ação. Disponível em: <http://luteranos.com.br/conteudo_organizacao/ecumene/unidade-na-palavra-e-na-acao>.
Acesso em: 05 dez. 2018.
42
Site oficial do CMI: <https://www.oikoumene.org/pt>.
43
BRAKEMEIER, 2004, p. 39 – 40.
44
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Referentes Ecumênicos da
América Latina e do Caribe encontram-se na Argentina. 2018. Disponível em:
<http://www.luteranos.com.br/noticias/conselho-mundial-de-igrejas-cmi-1/referentes-ecumenicos-da-america-
latina-e-do-caribe-encontram-se-na-argentina>. Acesso em: 05 dez. 2018.
14

 Federação Luterana Mundial45: foi criada em 1947 e atualmente representa 148


igrejas de confessionalidade luterana, sendo esta de 99 países diferentes, com 3
áreas de trabalho, sendo estas o serviço, a missão integral e a teologia e relações
ecumênicas e inter-religiosas.46 O site da IECLB traz a notícia de integração de um
novo membro na FLM, uma pequena igreja de confissão luterana na Guatemala. A
ILAG (Igreja Agostiniana Luterana da Guatemala) tem aproximadamente 3000
membros e tem um grande foco na educação.47
 Conselho Latino-Americano de Igrejas48: O primeiro pontapé49 para a criação do
CLAI foi dado em 1978, mas foi oficialmente criado em 1982.50 A missão do CLAI
é
“Fortalecer-se como espaço de encontro, formação, diálogo, cooperação, incidência
pública e articulação, em relação a processos, dentro do universo ecumênico,
interreligioso e em relação à sociedade civil e aos organismos multilaterais.”
A notícia mais recente da IECLB em relação ao CLAI trata da VI Assembleia,
realizada em 2013. Nessa oportunidade também foi realizada a eleição para o CLAI.
A IECLB esteve presente no evento através da participação do então Pastor Vice-
Presidente, Pastor Carlos Moeller.51
 Conselho Nacional de Igrejas Cristãs52: Aconteceu em novembro de 2018 o
Encontro das Regionais do CONIC em Brasília. Nessa oportunidade a discussão
principal foi em torno de religião e política. Também foram discutidas questões
práticas de campanhas e parcerias com a União Europeia.53
 Sociedade Bíblica do Brasil54: Aconteceu em 16 e 17 de agosto de 2018 a 22ª
Assembleia Geral da SBB, sendo eleita a nova diretoria. Nessa ocasião foram

45
Site oficial da FLM: <https://www.lutheranworld.org>.
46
LUTHERAN WORLD FEDERATION. About the LWF. Disponível em:
<https://www.lutheranworld.org/content/about-lwf>. Acesso em: 05 dez. 2018.
47
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Novo membro da FLM:
Igreja Luterana Agostiniana da Guatemala. 2018. Disponível em:
<http://www.luteranos.com.br/noticias/federacao-luterana-mundial-flm-1/novo-membro-da-flm-igreja-luterana-
agostiniana-da-guatemala>. Acesso em: 05 dez. 2018.
48
Site oficial da CLAI no Brasil: <http://www.claibrasil.org.br>.
49
No sentido de primeira atitude tomada em relação ao assunto.
50
CONSELHO LATINO AMERICANO DE IGREJAS. Quem Somos. Disponível em:
<http://www.claibrasil.org.br/quem-somos>. Acesso em: 05 dez. 2018.
51
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Encerramento da VI
Assembleia Geral do CLAI. 2013. Disponível em: <http://www.luteranos.com.br/noticias/conselho-latino-
americano-de-igrejas-clai-1/encerramento-da-vi-assembleia-geral-do-clai>. Acesso em: 05 dez. 2018.
52
Site oficial do CONIC: <https://conic.org.br/portal/>.
53
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Encontro dos Regionais do
CONIC: integração e troca de ideias. 2018. Disponível em: <http://www.luteranos.com.br/noticias/conselho-
nacional-de-igrejas-cristas-conic-1/encontro-dos-regionais-do-conic-integracao-e-troca-de-ideias>. Acesso em:
05 dez. 2018.
54
Site oficial da SBB: <http://www.sbb.org.br>.
15

eleitos alguns ministros da IECLB para comporem a diretoria. No ano de 2018 a


SBB completa 70 anos de atuação no Brasil.55
A IECLB ainda tem contato com outros movimento e organizações ecumênicas,
nacionais e internacionais, como o Dia Mundial de Oração, Fórum Ecumênico – Brasil56. Bem
como com várias igrejas no Brasil e no exterior:57
 Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB
 Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR
 Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB
 Igreja Evangélica da Alemanha (Evangelische Kirche in Deutschland) - EKD
 Igreja Evangélica Luterana na América (Evangelical Lutheran Church in
America) - ELCA
 Igreja Evangélica Luterana da Baviera (Evangelische-Lutherische Kiche in
Bayern) - Alemanha
 Igreja Evangélica do Norte da Alemanha (Evangelisch-Lutherische Kirche in
Norddeutschland) - Alemanha
 Igreja Evangélica da Noruega
 Igreja da Suécia
 Igreja Evangélica Luterana do Japão (Evangelical Lutheran Church in Japan)
 Igreja Evangélica Luterana em Moçambique
 Comunhão de Igrejas Luteranas da América Central

55
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Nova diretoria da Sociedade
Bíblica do Brasil (SBB). 2018. Disponível em: < http://www.luteranos.com.br/noticias/sociedade-biblica-do-
brasil-sbb-1/nova-diretoria-da-sociedade-biblica-do-brasil-sbb>. Acesso em: 05 dez. 2018.
56
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Organismo ecumênicos.
Disponível em: <http://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/ecumene/organismos-ecumenicos>. Acesso
em: 05 dez. 2018.
57
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB. Igrejas. Disponível em:
<http://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/ecumene/igrejas-2>. Acesso em: dez. 2018.
16

3 ECUMENISMO SOB A PERSPECTIVA DO USO DA LEI

3.1 O USO DA LEI


A revelação específica de Deus ao ser humano é através de sua Palavra, esta Palavra
consiste em lei e evangelho. Neste capítulo será abordada a questão da Lei, com enfoque no
primeiro uso da Lei, o uso político.58
Através de sua Palavra Deus revela a sua vontade, a partir disso quer que o ser humano
a obedeça, essa lei é dada para o bem da humanidade, podendo ser distinguida em dois ou três
usos.59
3.1.1 O uso político da Lei
Toda sociedade precisa de leis ou regras que orientem o convívio humano, essas leis
ou regras também são dadas por Deus e por isso o primeiro uso da lei é chamado de político ou
civil, justamente por ter esse papel. Essa lei não substitui a lei do Estado, porém é a lei de Deus,
que tem função construtiva e deseja ser respeitada por toda a humanidade, independente de
crenças.60
3.1.2 O uso teológico da Lei
Também chamado de uso pedagógico da lei. Esse uso é responsável por confrontar a
vontade de Deus com as atitudes humanos. Mostrando o quanto o ser humano está em débito
com a vontade de Deus, ou seja, revela que o ser humano é pecador e carece da graça e do
perdão de Deus.61
3.1.3 O uso didático da Lei
O terceiro uso da lei é questionado se de fato é lei mesmo, tem mais aspecto de
recomendação. É o uso da Lei que traz orientação para colocar a fé em prática. Um exemplo
desse uso da lei são as exortações presentes do Novo Testamento.62

3.2 A RELAÇÃO DO USO POLÍTICO DA LEI COM O ECUMENISMO


Com base nos conceitos de ecumenismo supracitados é possível estabelecer uma
relação com o primeiro uso dá lei, visto que os dois possuem ligação direta com os
relacionamentos humanos.

58
BRAKEMEIER, Gottfried. Panorama da dogmática cristã: à luz da confissão luterana. São Leopoldo, RS:
Sinodal, 2010, p. 20.
59
BRAKEMEIER, 2010, p. 20.
60
BRAKEMEIER, 2010, p. 20 – 21.
61
BRAKEMEIER, 2010, p. 21.
62
BRAKEMEIER, 2010, p. 21.
17

Enquanto o uso da Lei está ligado a preservar a vida, manter condições dignas de viver
ao ser humano, o ecumenismo busca trazer a unidade das pessoas, isso pode ocorrer através de
ações conjuntas de vários grupos63 para o bem comum da sociedade.
As ações ecumênicas não precisam estar sempre ligadas ao um fim religioso, a final
os crentes são chamados a servir ao próximo. Em Marcos 10.42 – 45 está escrito: “Mas Jesus,
chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos
povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre
vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos
sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do
Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.”64
Ao analisar esse texto vale destacar que Jesus diz para ser servo de todos, não fica discriminado
um grupo específico de pessoas. Dessa forma o servir ao próximo é simplesmente servir, sem
um objetivo de querer conquistar membros.
Conforme citado no capítulo 1, o ecumenismo é um dever dos cristãos, por isso deve
ser praticado por estes como resposta a sua fé. Porém o uso político da Lei não é dever somente
dos cristãos, é dever de toda a sociedade. Partindo disso pode se dizer que o limite do
ecumenismo é quando este é realizado entre grupos65 cristãos. Quando é realizado com grupos
de outras religiões pode ser chamado de macro ecumenismo ou diálogo inter-religioso.

3.2.1 O diálogo inter-religioso e o uso da Lei.


Há muita discussão acerca do conceito de diálogo inter-religioso, pois se o
ecumenismo envolve apenas os cristãos, então a ecumene não tem mais o conceito global, mas
apenas eclesiástico. Nesse aspecto, ecumenismo busca a unidade dos cristãos, não da
humanidade. Diálogo inter-religioso se caracteriza por ações conjuntas entre as grandes
religiões.66 Segundo Sinner existem três principais modelos de relacionamento inter-religioso.
O primeiro é o Exclusivismo, este afirma que há somente uma religião verdadeira e que somente
esta conhece a verdade. O segundo é o Inclusivismo, também afirma a existência de somente
uma religião verdadeira, porém reconhece pequenos pedaços de verdade em outras religiões. O
terceiro modelo é o Pluralismo, admitindo que todas as religiões são verdadeiras e que não há
nenhuma religião melhor que a outra. Há ainda estudiosos que defendam um quarto modelo,

63
Ou igrejas, denominações.
64
MARCOS. In: BÍBLIA on-line: versão Almeida Revista e Atualizada. 1993. Disponível em:
<https://my.bible.com/pt/bible/1608/MRK.10.ARA>. Acesso em: 05 dez. 2018.
65
Igrejas ou organizações.
66
BRAKEMEIER, 2004, p. 113 – 114.
18

que é o Exotismo, porém não há muita sustentação, visto que este defende a colocação de que
a religião do outro é melhor que a própria religião, esse modelo não se sustenta, pois se alguém
não está satisfeito com a religião simplesmente migra para outra.67
Levando em conta que o primeiro uso da Lei não está restrito aos cristãos, ações e
parcerias que se encaixam no diálogo inter-religioso são muito válidas para a preservação da
vida, como por exemplo uma campanha de arrecadação de mantimentos para famílias
necessitadas, ou um mutirão de limpeza da encosta dos rios, para preservação da mata ciliar.
Essas ações são muito válidas e importantes, mas vale destacar seu limite. Este vai até
o ponto dá preservação da vida. Conforme Westphal, o primeiro uso da lei não está relacionado
a questões salvíficas. Por isso é importante “não transformar economia, política, matrimônio,
entre outros em salvação.”68

67
SINNER, 2007, p. 121 – 122.
68
HABECK, André Augusto. Da Revelação. São Bento do Sul, 2018. Notas de aula da disciplina Teologia
Sistemática I, professor Euler Renato Westphal, Curso de bacharelado em Teologia, Faculdade Luterana de
Teologia.
19

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou um panorama do surgimento do termo ecumenismo. É
interessante observar como ocorrem mudanças no significado das palavras, uma palavra como
ecumenismo, que inicialmente tinha um significado simples de abrangência global, passa a ter
um significado eclesiológico e bem mais complexo, com limitações e subdivisões.
Vale destacar a importância do ecumenismo na vida espiritual dos cristãos, visto que
não é algo opcional, mas uma ordem do próprio Cristo, de trazer unidade entre todos os povos
da terra. Percebe-se essa importância sabendo que a unidade que Cristo tem com o Pai, as
pessoas devem ter entre si.
Também se percebe que para que se façam práticas ecumênicas não é necessário que
os envolvidos tenham culturas e cerimônia semelhantes, mas que professem a mesma confissão
de fé. Basta que o centro seja comum a todos.
Ações inter-religiosas são muito válidas dentro do aspecto do uso da Lei. Visto que
não estão no âmbito da salvação, mas da preservação da vida. Também a isto os cristão são
chamados, visto que são chamados a servir a todos.
20

REFERÊNCIAS

BRAKEMEIER, Gottfried. "Preservando a unidade do espírito no vínculo da paz": um


curso de ecumenismo. São Paulo: ASTE, 2004. 130 p.

______. Panorama da dogmática cristã: à luz da confissão luterana. São Leopoldo, RS:
Sinodal, 2010. 136 p.

______. Panorama da dogmática cristã: à luz da confissão luterana. São Leopoldo, RS:
Sinodal, 2010. 136 p.

CONSELHO LATINO AMERICANO DE IGREJAS. Quem Somos. Disponível em:


<http://www.claibrasil.org.br/quem-somos>. Acesso em: 05 dez. 2018.

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Diaconia Ecumênica. Disponível em: <
https://www.oikoumene.org/pt/documentos/programmes/called-to-transformative-action-
ecumenical-diakonia-study-guide/@@download/file/Study-Guide-Ecumenical-Diakonia-
PORT.pdf>. Acesso em: 03 dez. 2018.

HABECK, André Augusto. Da Revelação. São Bento do Sul, 2018. Notas de aula da
disciplina Teologia Sistemática I, professor Euler Renato Westphal, Curso de bacharelado em
Teologia, Faculdade Luterana de Teologia.

IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL – IECLB.


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______. Livro de Concórdia: as confissões da Igreja Evangélica Luterana. 6. ed. revisada e


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