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Ser diferente
DE LHO NA IMAGEM
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6. Existem certos jogos e brincadeiras que são praticados geralmente por meninos, e outros,
por meninas.
Resposta pessoal. Sugestões: futebol, baseball (taco), judô, bolinha de gude, figurinha, pião, soltar pipa, etc.
a) Que esportes, jogos e brincadeiras são mais praticados por meninos?
b) E quais são mais praticados por meninas? Resposta pessoal. Sugestões: ginástica olímpica, balé,
brincar de roda ou de boneca, etc.
c) Na sua opinião, existe preconceito de sexo nas brincadeiras e nos jogos?
Por quê? Resposta pessoal.
d) Você conhece alguém que se destaca num jogo ou esporte que geralmen-
te é praticado pelo sexo oposto? Essa pessoa sofre ou sofreu preconcei-
tos? Conte para os colegas. Resposta pessoal.
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A pipoca
Falaram pouco até chegar no morro.
Fundação Portinari
O caminho que subiam era estreito. O Tuca foi
na frente. Quase correndo. Feito querendo escapar da
discussão que crescia lá dentro dele: um Tuca dizendo
que amigo-que-é-amigo não tá ligando se a gente mora
aqui ou lá; o outro Tuca não acreditando e cada vez mais
arrependido da ideia de comer pipoca.
E atrás dos dois lá ia o Rodrigo, querendo assobiar
para disfarçar. Querendo mas não podendo: já estava
botando a alma pela boca de tanto subir.
Quantas vezes, com a luz de tudo que é barraco
se espalhando pelo morro, o Rodrigo tinha escutado
dizer: que bonito que é favela de noite! as luzes parecem
estrelas.
E o Rodrigo ia olhando cada barraco, cada criança,
cada bicho, vira-lata, porco, rato, olhando tudo que pas-
sava: bonito? estrela? cadê?!
[...]
Quando chegaram no alto o Rodrigo estava sem
— Vem! eu te mostro. — E desceu correndo na frente. Num instantinho chegou na curva que ele
tinha mostrado. Respirou fundo. Lembrou do perfume do talco. Olhou pro lado: estava um lameiro
medonho naquele pedaço do morro: tinha chovido forte na véspera e uma mistura de água e de lixo
tinha empoçado ali.
O Rodrigo chegou de língua de fora: o Tuca tinha descido tão depressa que mais parecia um
cabrito.
— Pô cara! — ele reclamou — assim não dá. Você quase me mata nessa des...
Mas o Tuca já tinha virado pra ele de cara feia e já estava gritando:
— Não precisa me dizer! eu sei muito bem que não dá. Como é que vai dar pra gente ser amigo
com você cheirando a talco...
— Eu?!
— ... e eu aqui nesse lixo todo. Não precisa me dizer, tá bem? eu sei, EU SEI, que não dá.
Você que ainda não sabe de tudo. Quer saber mais, quer? quer? — Pegou o Rodrigo pela camisa. —
Quando a minha irmã tranca minha mãe daquele jeito é porque a minha mãe já tá tão bêbada que
faz qualquer besteira pra continuar bebendo mais. — Começou a sacudir o Rodrigo. — Você olhou
bem pra cara dela, olhou? pena que ela não tava chorando e gritando pra você ver. Ela chora e grita
(feito neném com fome) pedindo cachaça por favor.
— Me solta Tuca!
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COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO
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8. No contato com Tuca, Rodrigo — um garoto até certo ponto ingênuo — aprendeu muitas coisas.
Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães
Professor: Esta questão possibilita o exercício de uma operação importante: o levantamento de hipóteses a partir da coerência interna do texto.
a) Em algum momento, Rodrigo manifestou preconceito em relação à pobreza de Tuca? Se não,
o que sentiu? Não, Rodrigo manifestou apenas espanto.
b) Você acha que, depois dessa experiência, os dois vão continuar a ser amigos?
Provavelmente sim, pois Rodrigo em nenhum momento demonstrou estar decepcionado com o amigo. Tuca, por sua vez, provavelmente irá perceber que Rodrigo gosta dele mesmo
depois de conhecer a miséria em que ele vive.
A LINGUAGEM DO TEXTO
1. Releia este fragmento:
Observe que o narrador poderia ter escrito “Tinha uma mulher, uma panela e pipoca espalhadas
no chão”, mas o efeito de sentido não seria o mesmo.
a) Que efeitos resultam dessa repetição? ritmo, quebra da sequência lógica, gradação de ideias, duplo sentido
b) Empregando a mesma técnica usada pelo narrador, reescreva a frase seguinte, desdobrando-a
em três frases: “Notei uma mulher, uma criança, a vida no jardim”.
Resposta pessoal. Sugestão: Notei uma mulher no jardim. Notei uma criança no jardim. Notei a vida no jardim.
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“eu sei, EU SEI, que não dá. Você que ainda não sabe de tudo”
Na 1ª frase, a autora empregou EU SEI com letras maiúsculas e, na 2ª frase, empregou o pronome
Você com letras do tipo itálico, que são letras ligeiramente inclinadas para a direita. Esses recursos
servem para expressar, na escrita, o modo como falamos, isto é, para indicar se estamos gritando,
falando baixo ou de forma lenta, se estamos enfatizando alguma palavra ou expressão, etc.
a) Leia o trecho em voz alta, procurando exprimir o modo como Tuca deve ter pronunciado
essas palavras.
b) Concluindo, explique por que a autora empregou as maiúsculas e o itálico nessas frases.
As maiúsculas indicam que a personagem gritou ou falou alto; o itálico indica que ela enfatizou a palavra ao pronunciá-la.
3. O texto faz uso de várias expressões da linguagem coloquial. Dê o sentido das seguintes expressões:
• amigo-que-é-amigo amigo verdadeiro • espichou o queixo mostrou
• botando a alma pela boca cansado • cara feia bravo
• se virando arranjando dinheiro • pra cara dela para o rosto dela
Trocando ideias
O nariz
Era um dentista respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculda-
de. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes, mas de uma sólida reputação como
profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher
e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros
pretos, sobrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com Groucho Marx. Mas o nosso
dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa de almoço — sempre almoçava em
casa — com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.
— O que é isso? — perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
— Isto o quê?
— Esse nariz.
— Ah, vi numa vitrina, entrei e comprei.
— Logo você, papai...
Depois do almoço ele foi recos-
tar-se no sofá da sala como fazia
todos os dias. A mulher impa-
cientou-se.
— Tire esse negócio.
— Por quê?
Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães
is
(Luis Fernando Verissimo. O nariz e outras crônicas. uma carreira mais duradoura no
Bettmann/Corb
São Paulo: Ática, 1994. p. 73-6.) cinema, usava bigode e sobran-
celhas pretos e espessos. Seus
óculos pesados destacavam
ainda mais o nariz avantajado.
reputação: fama, renome.
repudiar: rejeitar, repelir.
sestear: fazer a sesta, descansar,
cochilar.
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO
1. A crônica discute vários aspectos da vida social moderna; contudo, um deles se destaca. Das
palavras seguintes, qual traduz o assunto central do texto?
2. As três frases a seguir expressam a reação da esposa e da filha diante do comportamento do dentista:
a) De uma frase para outra, nota-se que o narrador, para demonstrar o processo de irritação da
esposa e da filha, empregou o recurso da gradação. Esse recurso consiste em criar um movi-
Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães
mento crescente ou decrescente, que acontece aos poucos, em graus. Comparando as partes
destacadas nas frases, observa-se uma gradação crescente ou decrescente? Gradação crescente.
b) A partir de que momento o comportamento bem-humorado da mãe e da filha começa a se
modificar? A partir do momento em que percebem não se tratar apenas de uma brincadeira comum.
“Era um dentista respeitadíssimo. [...] Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreen-
dentes, mas de uma sólida reputação como profissional e cidadão.”
A LINGUAGEM DO TEXTO
“— Não sei — respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. — Nunca
vi ‘ele’ assim.”
a) Por que o narrador empregou o pronome ele entre aspas? Entre outras possibilidades, porque quer explicitar que tem cons-
ciência de que está empregando uma construção gramatical que
b) Como ficaria essa frase de acordo com a norma-padrão? foge à norma-padrão. Ou porque talvez queira dar uma entonação
especial ao pronome, o que seria difícil com o emprego do oblíquo.
Nunca o vi assim.
“— Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
— Mas não sou ‘um homem’. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo
homem.”
a) De acordo com o contexto, por que a personagem empregou o artigo indefinido ao responder
à filha que ele não é “um homem”? Porque quer ressaltar que ele não é um homem qualquer, como tantos outros.
b) Por que, nas frases seguintes, ele emprega o artigo definido?
Porque, com os definidos, a personagem confirma que é alguém que elas conhecem bem: o marido, o pai.
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1. O cartum é organizado em nove cenas ou situações. Observe a expressão do homem nas duas
primeiras cenas. O que ele parece estar fazendo? Ele parece estar pensando sobre alguma coisa, buscando alguma ideia.
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5. Os textos nos permitem concluir que, quando uma pessoa passa a se comportar de modo dife-
rente, pode haver dois tipos de reação por parte das pessoas que estão à sua volta.
Isolar a pessoa que se comporta de
a) Tomando como base o texto “O nariz”, qual é o primeiro tipo de reação? modo diferente.
b) Tomando como base o cartum, que outro tipo de reação pode haver?
O comportamento diferente pode ser imitado pelas demais pessoas até se tornar um comportamento normal. Professor: Chame a atenção dos alunos para o fato de que, no cartum,
apesar de as demais pessoas passarem a ter o mesmo comportamento do protagonista, este rejeita o grupo e prefere o isolamento.
6. Tanto o texto “O nariz” quanto o cartum refletem sobre o desejo de ser diferente. Na sua opinião:
a) Essa é uma necessidade de todo ser humano? Por quê? Resposta pessoal.
b) É fácil ser diferente? Por quê? Resposta pessoal.
Trocando ideias
1. A crônica retrata uma situação extrema de comportamento social diferente. Mas, no dia a dia, nas
mínimas coisas podemos notar o preconceito social em relação ao que é diferente, como o uso
2. Apesar de haver preconceito social em relação ao que é diferente, alguns setores da sociedade
procuram tirar proveito daquilo que é incomum, ganhando dinheiro com
Stuart Hughs/Stone
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