HELENA WULFF

(UNIVERSIDADE DE ESTOCOLMO, SUÉCIA)

C
BALLET E CULTURAS TRANSNACIONAIS DA
DANÇA

Orientações para leitura de textos: Prof. Dr. Marcio Pizarro Noronha

Etnografia globalizada do ballet
• Gregory Bateson (1972): qual é a diferença entre o cisne do ballet e a dançarina
humana? Um metálogos (conversação sobre um assunto problemático, onde se
discute o assunto e a estrutura da conversa)
• Culturas nacionais / estilos nacionais
• Cultura transnacional de dança – ballet globalizado – mundo transnacional e
memória social da dança
• Etnografia do ballet como cultura globalizada – estudo de campo – campo multilocal
e observação participante diária, entrevistas – estudo de 3 companhias nacionais de
ballet clássico (ROYAL SWEDISH BALET, ESTOCOLMO – SUÉCIA; ROYAL BALLET – LONDRES
– INGLATERRA; AMERICAN BALLET – NYC – EUA); 1 companhia de dança
contemporânea (FRANKFURT BALLET, FRANKFURT – ALEMANHA; foi fechado em 2004,
quando substituída pela THE FORSYTHE COMPANY, em 2005); acompanhamento de
uma produção contemporânea do ballet Giselle, na Irlanda.
TRAJETOS HISTÓRICOS
• SÉCULO XIV – NORTE DA ITÁLIA – RENASCIMENTO (danças folclóricas, desfiles nas Cortes,
festas e festivais)
• SÉCULOS XVI E XVII – ESPETÁCULO DAS CORTES EUROPEIAS PARA SANTIFICAR E GLORIFICAR
O PODER MONÁRQUICO (THOMAS, 2003)
• SÉCULO XVI – Catarina de Médicis – mudança de Florença para Paris – casamento com o
herdeiro da coroa francesa, presença de artistas italianos na França
• Balthasar de Beaujoyeux
• 1581 – criação do Ballet Comique de la Reine, Paris – produção de um libreto, distribuição
dos programas pela Europa, produção de ballet espetáculo
• ENTRE 1589 E 1610 FORAM CRIADOS 80 BALLETS NAS CORTES FRANCESAS
• OS DANÇARINOS HOMENS REPRESENTAVAM OS PAPEIS FEMININOS
• LUIS XIV (1643-1715) – O BALLET SE TORNA UMA PROFISSÃO; BALLET DE CORTE DANÇADO
PELO REI
TRAJETOS HISTÓRICOS, 2
• Século XVIII – ORIGENS DO PERÍODO ROMÂNTICO DO BALLET CLÁSSICO
• FORMAÇÃO DA ESTRUTURA DO BALLET CLÁSSICO – 200 PASSOS APRESENTADOS NUMA
LÍNGUA PADRÃO, O FRANCÊS
• POR VOLTA DE 1830 – LUIS XV – SISTEMAS DE NOTAÇÃO DE DANÇA ESTABELECIDOS,
PADRÕES DE MOVIMENTO, ESPAÇO, FORMA, MUSICALIDADE, ESTILO DOS
FUNDAMENTOS DO BALLET (PÉS ESTICADOS, CINCO POSIÇÕES DOS PÉS, DOZE
POSIÇÕES DE BRAÇO) (SASPORTES E RIBEIRO, 1991)
Romantismo, origens eséculo XIX
• Período romântico do ballet clássico – 1832 – coreografia de Filippo Taglioni, pai, na
figura da bailarina sueco-italiana, Marie Taglioni, a filha – ballet LA SYLPHIDE
• O SURGIMENTO DA EXPRESSÃO ETÉREA (TUTU DE SINO, SALTOS, SAPATILHA DE PONTA)
• WALTER SORELL, 1981 – ESTUDO DO BALLET ROMÂNTICO COM ELEMENTOS
SOBRENATURAIS A PARTIR DO MUNDO ORDINÁRIO
• Romantismo do século XIX – cultura visual espetacularizada e cultura dos bastidores
do ballet – modelo CORTÊS, moldes de etiqueta – associação entre uma cultura de
elite com uma cultura física (modelagens proeminentes do corpo)
Eixo global russo
• Estudos de CRAINE E MACKRELL, 2000
• Marius Petita, bailarino francês, abre uma escola em São Petersburgo, coreografias de
A BELA ADORMECIDA, LAGO DOS CISNES, QUEBRA-NOZES
• Ballets russes, Sergei Diaghlev
• Ballet modernista com turnês internacionais
• Anna Pavlova – carreira internacional
• Migração dos bailarinos-professores russos para diversas partes do mundo (China,
Israel, etc.)
Eixo global britânico
• BRIAN TURNER (2005) – a dança é importante para as teorias da globalização;
situações políticas de dominação com a difusão da cultura do ballet; estudo e análise
do eixo global de língua inglesa pós 1920 (Império Britânico e The Royal Academy of
Dancing – RAD)
• O objetivo era estabelecer e desenvolver escolas e a arte do ballet nas colônias
britânicas e, mais tarde, nas COMMONWEALTH (EX-COLÔNIAS), tais como nas
situações da Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Hong Kong
• Criar mecanismos de controle da dança – o RAD – banca examinadora do ballet
britânico para avaliar professores de ballet mundial
EUA
• GEORGE BALANCHINE
• A EXPORTAÇÃO DO BALLET PARA OS EUA
• 1940 – FUNDAÇÃO DO NYC BALLET
CUBA
• BALLET COMO CULTURA ELEVADA
• DEMOCRATIZAÇÃO DAS ARTES
• PÓS 1959 – SUBSÍDIO ESTATAL PARA A FORMAÇÃO E MANUTENÇÃO ARTÍSTICA
• MODELO ALICIA ALONSO
CHINA
• ESTUDOS DE CRAINE E MACKRELL, 2000
• ESTUDOS DE LINI, 2003
• POSTURA EM BUSCA DO BALLET NACIONAL PÓS 1960
• DIREÇÃO GERAL DA ESPOSA DE MAO ZEDONG, JIANG QING
BRASIL
• 1817 – COREOGRAFIA DO CASAMENTO DE D. PEDRO E D. LEOPOLDINA; O FRANCÊS
LUIS LACOMBE, TEATRO REAL (SUCENA, 1989)
• ANOS 1930 – MIGRAÇÃO DE BAILARINOS E COREÓGRAFOS EUROPEUS E RUSSOS PARA
O BRASIL (ACHCAR, 1998; SUCENA, 1989)
• SÉCULOS XIX – XX (PRIMEIRA METADE): PROJETO DE BALLETS NACIONAIS
• 1927 – CORPO DE BAILE DO TEATRO MUNICIPAL DO RJ
• 1940 – CORPO DE BAILE DO TEATRO MUNICIPAL DE SP
CENTROS CONTEMPORÂNEOS DO
BALLET
• JOHN NEUMEIER – HAMBURGO
• WILLIAM FORSYTHE – FRANKFURT
• JIRI KYLIAN – HAIA
• MAURICE BEJART – BRUXELAS
• PINA BAUSCH – WUPPERTAL

• AS NOVAS DIMENSÕES GLOBAIS DO BALLET: EXPLORAÇÃO DO VISUAL E DO

AUDIOVISUAL, FILMES, TRANSMISSÃO DE ESPETÁCULOS, ETC.
• (CASS, 1993; SORELL, 1981; WULFF, 1998 E 2005)
REPRODUZINDO O ROMANTISMO
TEMPO FÍSICO
DECORRIDO, ESCALA, LINEAR, MEDIDA
DE MOVIMENTO
COREOGRAFIA E MÚSICA CONSTANTES
• O TEMPO E O OUTRO (1983), JOHANNES FABIAN
• QUAL O MOTIVO DA ATUALIDADE DOS BALLETS ROMÂNTICOS?
TEMPO TIPOLÓGICO
QUALITATIVO, ESTADOS,
SIGNIFICATIVO, NÃO LINEAR
PERMITE ABORDAR EVENTOS
SOCIOCULTURAIS E O IMPACTO
CONTINUADO DE UM
ACONTECIMENTO
ANOS 1830, 1940, 1960 INTERVALOS E
IMPACTOS
NOVA SIGNIFICAÇÃO, NOVA FIGURA
DO INTÉRPRETE EM CENA
O ALÉM DO ROMANTISMO...
• O CURTO CICLO DE VIDA DO ROMANTISMO (1830 – 1840) – SEUS TEMAS ARQUETÍPICOS,
SEUS CÓDIGOS DE CONDUTA, SUA MORALIDADE, SUAS METANARRATIVAS
FOLCLÓRICAS, SUAS HISTÓRIAS DE FANTASMAS, SÍLFIDES, FADAS, CIGANOS, NÔMADES,
ORIENTALISMO, EXOTISMO – APRESENTADOS NA FIGURA DE SÍNTESE DA BAILARINA E O
BAILARINO COMO POURTEUR (CARREGADOR)
• A FIGURA MASCULINA ESTÁ RESTRITA AO BALLET RUSSO – NIJINSKY – E AO
DINAMARQUÊS
• ANOS 1970 – RUDOLF NUREYEV
• ANOS 1990 – PARADIAR A SITUAÇÃO MENOR DO HOMEM NO MUNDO DO BALLET E SUA
FALTA DE VISIBILIDADE
PESQUISAS ATUAIS
• AS CARREIRAS DURAM EM MÉDIA 20 ANOS
• AS LESÕES REDUZEM POSSIBILIDADES DE EMPREGO
• HABITUS (BOURDIEU, 1977) – AS DISPOSIÇÕES ESTÃO INSCRITAS NO CORPO (PERCEPÇÃO,
AÇÃO, ARRANJOS, COMBINAÇÕES, SEQUENCIAS, MEMÓRIAS E MEMÓRIA CORPORAL)
• A CULTURA FÍSICA DO BALLET É A DO ALÉM DA DOR – INSIDERS (ALÉM DO HUMANO) E
OUTSIDERS (OS OUTROS)
• COMPARAÇÃO AO ESTUDO DE WACQUANT SOBRE OS BOXEADORES DE CHICAGO (1995,
2004)
• ESTADO TRANSCENDENTAL (BLACKING, 1977)
• NOVAS ZONAS ARTÍSTICAS E RECOMPENSAS SENSORIAIS (WULFF, 1998)
• REPERTÓRIO DE CONCEITUAÇÃO DOS TIPOS DE CORPOS E MOVIMENTOS (FEDERICO, 1974;
WULFF, 1998) – CARREIRA FEMININA, ESTRUTURA MASCULINA DE PODER (DIRETORES E
COREÓGRAFOS, HOMENS HOMOSSEXUAIS)
• O CASAL PADRÃO DO SÉCULO XX: MARGOT FONTEYN E RUDOLF NUREYEV
O JOGO PENSADO
• XADREZ, BOXE, BALLET
• O BAILARINO PENSANTE – ETIQUETA, DISCIPLINA, COMPREENSÃO LÓGICA DA ESTRUTURA
COREOGRÁFICA, TRABALHO SOBRE AS ZONAS DIFÍCEIS E TENSAS DAS COREOGRAFIAS,
TREINAMENTO CORPORAL, DIETAS, CURSOS, MÉDIA MAIS ALTA DE ENSAIOS QUE OUTROS
DANÇARINOS, SÃO “CAVALOS DE TRABALHO” OU “CAVALOS DE CORRIDA”
• CARREIRAS QUE PERMITEM UMA ASCENSÃO DESDE O SÉCULO XIX – AUSÊNCIA DE CAPITAL
CULTURAL FAMILIAR; ORIGENS NAS CLASSES BAIXAS E MÉDIAS BAIXAS
• VIA DO ASCETISMO CORPORAL
• ETIQUETA CORPORAL SOCIALMENTE CONSTRUÍDA
• ASPECTO RITUAL DA CULTURA FÍSICA + ASPECTO PRAGMÁTICO (TREINO)
• DISCIPLINAMENTO DOS CORPOS E SUA DOCILIZAÇÃO (FOUCAULT, 1979, VIGIAR E PUNIR)
LAGO DOS CISNES E GISELLE
• O BALLET DOS BALLETS
• 1895 – LAGO DOS CISNES, SÃO PETERSBURGO, RUSSIA, COREOGRAFIA DE MARIUS PETIPA E
LEV IVANOV, MÚSICA DE TCHAIKOVSKY; LIBRETO DO FOLCLORE ALEMÃO
• AS VERSÕES PARÓDICAS
• 1970 – LES BALLERTS TROCKADEROS, MONTE CARLO – COMPANHIA MASCULINA DE DANÇA
• 1995 – MATTHEW BOURNE, WEST END LONDRES E BROADWAY, VERSÃO MASCULINA NOS
PAPÉIS FEMININOS
• COREOGRAFIA DE MATS EK PARA O CULLBERG BALLET – MISTURA DO BALLET CLÁSSICO COM
A DANÇA FOLCLÓRICA CONTEMPORÂNEA
• GISELLE
• COREOGRAFIA DE MICHAEL KEEGAN-DOLAN, IRLANDA – PRODUÇÃO QUE NEGOCIA
ETNICIDADE E NACIONALISMO (IRLANDÊS), LEITURA CRÍTICA DO IDEAL RURAL ROMÃNTICO
DO BALLET ORIGINAL
PADRÕES DE GESTÃO DE
COMPANHIAS
• PÓS-2000
• HIERARQUIA – LÍDER, GRUPO PRINCIPAL, SUBSTITUTOS, SECUNDÁRIOS (REED, 1998)
• ESPECIALIZAÇÃO DO TRABALHO (MINDEN, 2005)
• COREÓGRAFOS E COREOGRAFIAS COMO PRODUTOS
• REPERTÓRIOS NÃO ORIGINAIS COM INVESTIMENTO EM GRANDE DIVERSIDADE COREOGRÁFICA
• CORPOS ATLÉTICOS E PLURALIDADE DE TÉCNICAS EXIGIDA DOS BAILARINOS (AALTEN, 2004; WAINWRIGHT
E TURNER, 2004)
• REDUÇÃO DA LIBERDADE INTERPRETATIVA (MENOR VALORIZAÇÃO DA EXPRESSIVIDADE INDIVIDUAL)
• ROTINAS DE TRABALHO ADMINISTRADAS
• LESÕES E ACIDENTES DE TRABALHO
• IMAGEM ESTÉTICA JUVENIL – MÉDIA DA CARREIRA 30 ANOS DE IDADE (ROCAGLIA, 2008)
• OS ROYALTIES COREOGRÁFICOS (WAINWRIGHT, 2007)
• GESTÃO COMERCIAL – REDUÇÃO DAS TURNÊS E SUBSTITUIÇÃO POR OUTROS PERFIS DE PRODUTOS –
EXIBIÇÃO SIMULTÂNEA EM CINEMAS, FILMES DE DANÇA, ETC. (DELINDER, 2005)
ETNOGRAFIAS CONTEMPORÂNEAS
NO BALLET
• ESTUDOS SOCIOCULTURAIS – WAINWRIGHT, WILLIAMS E TURNER – 2004, 2006 E 2007;
WULFF, 2008; CITRO, 2011
• ESTUDOS SOCIOCULTURAIS SENSORIAIS – PINK 2009 E 2011; HARQUAIL E KING, 2010
• ESTUDOS SOCIOORGANIZACIONAIS COM ENFOQUE NO CORPO – HINDMARSH E
PILNICK, 2007; FLORES-PEREIRA E OUTROS, 2008; ROSA E BRITO, 2010