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ARTIGO ARTICLE 1053

Entre a saúde coletiva e a saúde mental:


um instrumental metodológico para avaliação
da rede de Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS) do Sistema Único de Saúde

Public health and mental health: methodological


tools to evaluate the Brazilian Network
of Referral Centers for Psycho-Social Care (CAPS)
in the Brazilian Unified Health System

Rosana Teresa Onocko-Campos 1

Juarez Pereira Furtado 1

Abstract Saúde mental: um problema


para a saúde coletiva?
1 Faculdade de Ciências This article presents a preliminary discussion of
Médicas, Universidade
potential methodological tools for qualitative Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Estadual de Campinas,
Campinas, Brasil. research on the Network of Referral Centers for apontam que os transtornos mentais de cerca
Psycho-Social Care (CAPS) in the Brazilian Uni- de 450 milhões de pessoas ainda estão longe de
Correspondência
fied Health System (SUS). The relevance of men- receberem a mesma relevância dada à saúde fí-
R. T. Onocko-Campos
Departamento de Medicina tal health within the field of public health is ex- sica, sobretudo nos países em desenvolvimen-
Preventiva e Social, amined. The study focuses on the high preva- to. Estima-se que os transtornos mentais e de
Faculdade de Ciências
lence of mental disorders and the dispropor- comportamento respondam por 12% da carga
Médicas, Universidade
Estadual de Campinas. tionate lack of studies on the interface between mundial de doenças, enquanto as verbas orça-
Rua Américo de Campos 93, mental health and public health. The establish- mentárias para a saúde mental na maioria dos
Campinas, SP
13083-040, Brasil.
ment of an interdisciplinary field between pub- países representam menos de 1% dos seus gas-
rosanaoc@mpc.com.br lic health and mental health is proposed to tos totais em saúde; além do que, 40% dos paí-
meet common needs by achieving similar per- ses carecem de políticas de saúde mental e
spectives in knowledge and practice. A particu- mais de 30% sequer possuem programas nessa
lar group of tools is proposed, emphasizing the área. Ainda, os custos indiretos gerados pela
importance of reclaiming and guaranteeing the desassistência – provenientes do aumento da
roles of various social actors to shape the assess- duração dos transtornos e incapacitações –
ment process, the need for collecting and stan- acabam por superar os custos diretos 1.
dardizing academic studies on the topic, and No Brasil – com gastos de 2,4% do orça-
the importance of promoting a new research mento do SUS em saúde mental e prevalência
field focusing on public health policies to sup- de 3% de transtornos mentais severos e persis-
port policymakers, managers, and health teams tentes e 6% de dependentes químicos – tem
in reshaping their practices. havido sensível inversão do financiamento nos
últimos anos, privilegiando-se os equipamen-
Mental Health; Mental Health Services; Services tos substitutivos em detrimento dos hospitais
Evaluation psiquiátricos, como ilustra o fato de que em
1997 a rede composta por 176 Centros de Aten-
ção Psicossocial (CAPS) recebia 6% dos recur-
sos destinados pelo SUS à saúde mental, en-
quanto a rede hospitalar, com 71 mil leitos, re-

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cebia os outros 94%. Em 2004, os 516 CAPS cos e ensaios diagnósticos (...). São raros os nú-
existentes receberam 20% dos recursos citados cleos ou grupos de pesquisa que vinculem saú-
contra 80% destinados aos 55 mil leitos psi- de mental, contexto social e saúde pública”
quiátricos no Brasil 2. (grifos nossos).
Podemos apontar a aprovação da Lei n. Tal vinculação permitiria o desenvolvimen-
10.216 da Reforma Psiquiátrica, a publicação to de investigações na interface entre saúde co-
da Portaria n. 336/02 e da Portaria n. 189/02 – letiva e saúde mental, que permanece ainda um
que atualizam a Portaria n. 224/92 e incorpo- território quase inexplorado, potencialmente
ram os avanços ocorridos na condução dos equi- uma área emergente de máxima relevância so-
pamentos substitutivos 3 – a realização da III cial. O estabelecimento de interlocução sistemá-
Conferência Nacional de Saúde Mental 4, que, tica entre esses dois campos poderia trazer sig-
entre outras coisas, consolidou o novo modelo nificativo avanço para ambos, conforme apon-
assistencial dos CAPS e, finalmente, a expe- tam experiências exitosas nesse sentido 8.
riência acumulada nos mais de dez anos de A efervescência da última década, represen-
existência desses serviços como fatores decisi- tada pelos debates e efetivas transformações
vos na história recente para um substancial in- no âmbito da saúde mental no Brasil, vem ocor-
cremento dos CAPS no Brasil e para a relativi- rendo com restrito acompanhamento, elabora-
zação do papel (ainda) hegemônico dos hospi- ção e contribuição instrumental por parte do
tais psiquiátricos na atenção em saúde mental. pensamento da saúde coletiva. Ainda que per-
Nesse contexto, os CAPS assumem especial tençam a um movimento de raízes comuns, a
relevância no cenário das novas práticas em Reforma Sanitária e a Reforma Psiquiátrica se-
saúde mental no país, configurando-se como guiram caminhos paralelos na última década,
dispositivo tornado estratégico para a reversão esboçando uma certa distância disciplinar en-
do modelo hospitalar. O Ministério da Saúde tre os dois campos 9.
(MS) preconiza para estes serviços o papel de A saúde coletiva em suas vertentes relacio-
articulador de uma lógica de rede calcada em nadas à avaliação de serviços e desenvolvi-
várias instâncias 5, como as de cuidados bási- mento de pessoal vem ampliando seu espaço
cos (Programa Saúde da Família – PSF), ambu- na academia sem correlativo aumento de sua
latórios, leitos de hospitais gerais e iniciativas utilização nos serviços de saúde mental que,
de suporte e reabilitação psicossocial – Servi- por sua vez, requerem uma necessária adapta-
ços Residenciais Terapêuticos e trabalho prote- ção desse instrumental e não a simples extra-
gido 6. No entanto, a função aglutinadora e de polação de categorias já consagradas em ou-
organizador da rede local de saúde mental re- tros âmbitos.
querida dos CAPS é ainda um horizonte a ser A necessidade de novos e mais estudos nes-
alcançado no plano nacional. sa área é ressaltada por importantes atores da
Algumas observações preliminares permi- reforma, conforme relato da III Conferência Na-
tem-nos supor que certas críticas aos CAPS, cional de Saúde Mental 3 (p. 75), que aponta a
produzidas no seio da Reforma Psiquiátrica, se necessidade de “estimular a articulação entre
não guarnecidas de um corpo de categorias pa- entidades de financiamento à pesquisa (CAPES,
ra o seu enfrentamento e superação, poderão CNPq etc.), entidades formadoras e o Ministério
expor os serviços ao risco de sua deslegitimiza- da Saúde para o fomento à pesquisa e prioriza-
ção social sem que os impasses sejam suficien- ção de temas da assistência em Saúde Mental e
temente identificados e enfrentados. Referimo- Reforma Psiquiátrica”.
nos a certas falas (presentes, por exemplo, no Considerando os CAPS dispositivos estraté-
último Congresso Brasileiro de CAPS, realizado gicos da reforma dos cuidados em saúde men-
em São Paulo em 2004), nas quais figuras rele- tal no Brasil – configurando-se simbólica e nu-
vantes do Movimento pela Reforma Psiquiátri- mericamente como a grande aposta do Movi-
ca, gestores e trabalhadores apontam para o mento de Reforma Psiquiátrica Nacional –, e
risco de uma “manicomialização” dos novos considerando a aproximação entre a saúde co-
equipamentos. letiva e a saúde mental uma necessidade para
O próprio MS 7 (p. 2) reconhece a necessi- a constituição de um campo interdisciplinar de
dade de qualificar a discussão em torno das saberes e práticas, julgamos investigações es-
novas ações em saúde mental: “em relação ao pecificamente dirigidas aos CAPS como poten-
debate científico e à produção de conhecimen- cialmente geradoras de subsídios para a Refor-
to, o tema da saúde mental como parte da saú- ma Psiquiátrica Brasileira e, ao mesmo tempo,
de pública está ausente na graduação e pós- propulsora de um novo território de pesquisa
graduação (...). Toda a pesquisa na área con- no âmbito das políticas públicas e da avaliação
centra-se em dois grupos: ensaios farmacológi- de serviços de saúde.

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Propomos assim, a realização de pesquisas Os CAPS configuram-se como serviços co-


avaliativas que possibilitem a aproximação de munitários ambulatoriais e regionalizados nos
temas intrínsecos à gestão – como gestão e sub- quais os pacientes deverão receber consultas
jetividade 10,11 – com processos avaliativos par- médicas, atendimentos terapêuticos indivi-
ticipativos e construtivistas 12. A convergência duais e/ou grupais, podendo participar de ate-
desses campos deverá levar em conta proble- liês abertos, de atividades lúdicas e recreativas
mas surgidos da transposição para a prática promovidas pelos profissionais do serviço, de
dos princípios da reforma psiquiátrica, bem maneira mais ou menos intensiva 2 e articula-
como as vicissitudes identificadas pelos traba- das em torno de um projeto terapêutico indivi-
lhadores e usuários no cotidiano dos CAPS. dualizado 20,21,22, voltado para o tratamento e
reabilitação psicossocial, devendo também ha-
ver iniciativas extensivas aos familiares 23 e às
Os Centros de Atenção Psicossocial questões de ordem social presentes no cotidia-
no dos usuários 24.
O primeiro CAPS do país surge em março de Para que os CAPS venham a ser realmente
1987, com a inauguração do CAPS Luis da Ro- novos serviços, rompendo com a estrutura teóri-
cha Cerqueira, na Cidade de São Paulo, e repre- ca e prática do modelo hospitalar hegemônico,
senta a efetiva implementação de um novo faz-se necessário que o atendimento ali ofertado
modelo de atenção em saúde mental para ex- esteja comprometido com necessárias rupturas
pressiva fração dos doentes mentais (psicóti- de ordem ética, política e epistemológica em re-
cos e neuróticos graves) atendidos na rede pú- lação ao status quo representado pela atenção
blica, sendo seu ideário constituído de propos- tradicionalmente prestada pela rede pública e
tas dirigidas à superação das limitações evi- conveniada de saúde mental, sobretudo nos am-
denciadas pelo binômio ambulatório-hospital bulatórios e hospitais psiquiátricos 13,25.
psiquiátrico no tratamento e reabilitação de Para Amarante & Torres 25, é necessário um
sua clientela 13. rompimento fundamental com ao menos qua-
Inserido no contexto político da redemo- tro referenciais: o método epistêmico da psi-
cratização do país e nas lutas pela revisão dos quiatria; o conceito de doença mental enquan-
marcos conceituais, das formas de atenção e to erro, desrazão e periculosidade; o princípio
de financiamento das ações de saúde mental pineliano de isolamento terapêutico e final-
que se fortaleceram a partir do final da década mente os princípios do tratamento moral que
de 1980 na América Latina 14 e no Brasil 15,16,17, embasam as terapêuticas normalizadoras – aos
o CAPS Luis da Rocha Cerqueira (ou CAPS Ita- quais acrescentaríamos a inserção de uma clí-
peva), juntamente com os Núcleos de Atenção nica ampliada 26, centrada no sujeito 27 e inse-
Psicossocial (NAPS), inaugurados a partir de parável tanto das formas de organização dos
1989, em Santos, irão se constituir em referên- processos de trabalho, quanto das maneiras de
cia obrigatória para a implantação de serviços habitar a polis, isto é, a política.
substitutivos ao manicômio em nosso país. Essas características constitutivas dos CAPS,
Porém, serão os NAPS santistas que, atra- representadas por compromissos de ordem
vés do funcionamento territorializado, 24 ho- prática inerente a qualquer unidade de saúde
ras/dia, com leitos destinados a pacientes em e, ao mesmo tempo, por elementos provenien-
crise e operando em rede com outros serviços, tes de novos referenciais de ordem epistemoló-
que efetivarão o mais significativo avanço na gica, ética, clínica e política, derivados de sua
superação do modelo centrado nos hospitais vinculação com a superação das políticas pú-
psiquiátricos, ambulatórios e urgências psi- blicas tradicionais de saúde mental no Brasil,
quiátricas, efetivando verdadeira ruptura para- tornam-no, a partir dessa convergência, um
digmática em relação ao modelo anterior. serviço de saúde particularmente complexo.
Essas duas iniciativas serão precursoras de Por um lado, os CAPS constituem-se de uma
congêneres não só no Estado de São Paulo, mas estrutura alinhada aos princípios que norteiam
em todo o Brasil, uma vez que subsidiarão o MS os demais serviços de saúde pertencentes ao
na formulação da Portaria n. 224/92 18, primei- SUS: compõem-se de uma instituição própria,
ro documento oficial a estabelecer critérios pa- inserida na gestão pública, buscando garantir
ra o credenciamento e financiamento dos acesso, integralidade e resolutividade na aten-
CAPS pelo SUS. A partir da publicação dessa ção prestada, acolhendo diariamente (em alguns
portaria, o número de CAPS e /ou NAPS au- casos, diuturnamente) uma clientela constituí-
mentou significativamente, atingindo cento e da de pessoas com transtorno mental grave (e
sessenta serviços em 1995 19 e superando qui- respectivos familiares) por uma equipe multi-
nhentas unidades em todo o país em 2004 2. profissional.

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Por outro lado, a subversão da lógica da hie- O desenvolvimento desse instrumental a


rarquização efetivada pelos CAPS ao estrutura- partir da saúde coletiva – mas comprometido
rem-se como “equipamentos-síntese” 24, agre- com uma postura essencial e necessariamente
gando os diferentes níveis de atenção em uma interdisciplinar – parece-nos o mais apropria-
só unidade 28, fazem emergir relevantes ques- do para fazer frente ao desafio de realizar um
tões e debates no âmbito da própria organiza- processo avaliativo sistemático dos CAPS neste
ção do SUS. Qual é a inserção esperada dos dado momento histórico.
CAPS na rede de serviços? O que o MS 2 quer
dizer quando aponta para o fato de que os CAPS
deveriam ser “ordenadores” da rede? Seria esta Proposta metodológica
uma volta à forma piramidal própria da hierar-
quização classicamente definida pelo SUS ou Paradigma construtivista e interpretativo
estar-se-ia trabalhando com uma concepção
de rede horizontal na qual, então, o papel do Situadas na confluência de diversas discipli-
CAPS poderia ser entendido como o de agen- nas, as pesquisas e práticas na saúde coletiva e
ciador, articulador? na saúde mental constituem-se em pano de fun-
Soma-se a isso a inevitável e necessária con- do privilegiado para o debate em torno da opo-
sideração das repercussões subjetivas do aten- sição entre abordagens qualitativas e quantita-
dimento a psicóticos nos trabalhadores desses tivas. A formação de consensos entre defenso-
serviços 29,30, advindas da lida com o sofrimento res do uso de métodos quantitativos e/ou quali-
psíquico e a loucura que podem originar meca- tativos parece situar-se num distante e impro-
nismos defensivos de diversas ordens 31,32,33,34,35. vável horizonte, havendo discursos que apon-
Desse modo, os novos aspectos institucio- tam tanto para a compatibilização de diversas
nais decorrentes da reforma psiquiátrica em ordens entre os dois referenciais 44,45,46,47, co-
geral, e da emergência dos CAPS em particular, mo autores que advogam a incompatibilidade
colocam em especial evidência as inter-rela- paradigmática desses referenciais 48.
ções entre subjetividade, gestão dos processos A nosso ver, os termos quantitativos e qua-
de trabalho e clínica 10,36. A aproximação rigo- litativos remetem para além das técnicas utili-
rosa entre estes três domínios requer dispositi- zadas na coleta ou geração de informações 49,
vos específicos para a abordagem dos proces- constituindo-se como paradigmas na acepção
sos envolvidos 11,37 e um processo avaliativo de Khun 50, ou seja, um conjunto de suposições
que contemple suas nuanças 12. interligadas e relativas ao mundo social, pro-
A nova arquitetura clínica e institucional porcionando referencial filosófico para o estu-
representada pelo CAPS 38 coloca-o como es- do organizado deste mundo. Ou ainda, segun-
paço de produção de novas práticas sociais pa- do Morin 45 (p. 89), o paradigma como “aquilo
ra lidar com o sofrimento psíquico de maneira que está no princípio da construção das teorias,
diferente da tradicional, requerendo também a o núcleo obscuro que orienta os discursos teóri-
construção de novos conceitos 39 para uma ade- cos neste ou naquele sentido”.
quada aproximação e análise desses novos ser- As questões ontológicas (relativas à consti-
viços. tuição e estrutura da natureza da realidade so-
Tais conceitos originariam-se das intera- cial), as epistemológicas (relativas às condi-
ções estabelecidas entre os campos da saúde ções e limites estruturais que sustentam o pro-
coletiva – já que a reforma psiquiátrica insere- cesso de conhecimento, a relação entre sujeito
se nos planos das políticas públicas de saúde 5 – e objeto e a origem, limites e natureza do conhe-
e da saúde mental, que sustenta ações ética e cimento humano) e as questões metodológicas
clinicamente orientadas às especificidades de (relativas às condutas ou regras a serem segui-
um grupo social portador de um traço comum, das para analisar ou compreender o objeto) se-
no caso a “loucura”, e a exclusão social 40,41. riam interligadas e essencialmente distintas
A interação dessas três áreas – saúde coleti- nos paradigmas quantitativos e qualitativos 48.
va, saúde mental e clínica – é complexa e mar- O paradigma pós-positivista, baseia-se em
cada por convergências, tensões e antagonis- uma ontologia realista que pressupõe a existên-
mos que imprimem peculiar conformação aos cia de uma realidade independente do observa-
CAPS. Por essa razão, o esforço de compreen- dor e de seus interesses, regida por leis naturais
são e análise dos processos de gestão, assistên- da qual será extraído o conhecimento. A episte-
cia e avaliação desses serviços irá requerer um mologia, neste paradigma, é dualista, calcada
instrumental metodológico específico que con- na objetividade da relação sujeito-objeto. A me-
temple a pluralidade e interdisciplinaridade todologia é pouco permeável ao contexto e bus-
que os constituem 25,42,43. ca estabelecer o objeto em sua essência.

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O paradigma construtivista ou naturalista poderiam aumentar as chances de utilização


baseia-se numa perspectiva ontológica relati- dos resultados da avaliação?
vista, que considera a existência de múltiplas Como já afirmaram Schraiber & Nemes 52,
realidades socialmente construídas, não gover- não se trata de avaliar um procedimento ou
nadas por leis naturais. Neste caso, a “verdade” uma técnica isoladamente nem se restringir ao
é definida a partir de consensos. A epistemolo- impacto de uma intervenção mediante catego-
gia, neste paradigma, é subjetivista, conside- rias clássicas da epidemiologia. Avaliar envol-
rando a interação e reconstrução mútua entre veria a consideração de várias ordens de pro-
objeto, investigador e realidade. Finalmente, a blemas, o que aponta para a necessidade de
metodologia neste paradigma é hermenêutica, superar as avaliações instrumentais baseadas
envolvendo contínua e dialética interação, aná- nas normas fixas da clínica e da epidemiologia.
lise, críticas e novas análises. Interessa-nos aumentar o grau de compre-
Considerando-se que é justamente nas idéias ensão dos processos envolvidos nos novos ser-
de transformação e mudança que reside a for- viços de saúde mental. Faz-se necessário co-
ça do referencial construtivista ou interpretati- nhecer o conteúdo da caixa preta que se inter-
vo 51, preconizamos o desenvolvimento de in- põe entre os objetivos explicitados e os resulta-
vestigações relativas às novas iniciativas em dos alcançados pelos novos serviços.
saúde mental no interior deste paradigma, de A novidade representada pelo processo de
modo a simultaneamente compreender, anali- desinstitucionalização da assistência em saúde
sar e efetivar mudanças na reforma psiquiátri- mental faz emergir a necessidade de compre-
ca em curso. ensão crítica da efetivação desta nova política
O reconhecimento da complexidade, coe- de prestação de cuidados. Por seu turno, a pes-
rência e articulação interna entre os compo- quisa avaliativa neste contexto deveria possibi-
nentes dos paradigmas quantitativo e qualita- litar: (1) a inclusão de diferentes pontos de vis-
tivo não significa considerá-los incompatíveis ta e valores dos envolvidos com os novos servi-
de maneira absoluta. Assim sendo, uma vez de- ços; (2) viabilizar e ampliar a utilização dos re-
finida a finalidade da pesquisa e, conforme o sultados da avaliação; (3) considerar o inevitá-
caso, percebendo-se a pertinência de valer-se vel caráter político da pesquisa em geral e da
da integração entre os dois referenciais, deve- pesquisa avaliativa em particular e (4) empon-
se operar a partir da premissa de que um deles derar os grupos envolvidos com os serviços (tra-
cumprirá o papel de subsidiário do outro, ha- balhadores e usuários), possibilitando que se
vendo um referencial maior e determinante, apropriem dos conhecimentos ligados à reali-
calcado no modo de conceber a realidade, a re- zação de um processo avaliativo.
lação sujeito-objeto e a própria finalidade da É urgente a superação de algumas questões
ciência. Será sempre uma integração avessa à da avaliação clássica, via de regra centrada no
fusão, muito mais próxima da alegoria da im- avaliador, nos resultados e em suas expressões
bricação: os dois referenciais dispostos de mo- numéricas. A inclusão de diversos atores envol-
do a que só em parte sobreponham-se um ao vidos com os serviços, a consideração de seus
outro, como as telhas de um telhado ou as es- diferentes valores e pontos de vista, bem como
camas de um peixe. a preocupação com a utilização dos resultados
do processo investigativo nos parece divisores
Avaliação qualitativa de água na constituição de processos avaliati-
vos participativos.
Seria possível efetivar um processo avaliativo
que contemplasse as questões do avaliador- O objeto
pesquisador e também dos grupos diretamen-
te implicados na condução de um programa ou Para Gadamer 53, são o presente e seus interes-
serviço, de tal modo a conjugar uma certa ex- ses que interpelam o investigador. Assim, é o
ternalidade, garantida pelo primeiro, com as presente e suas questões não compreendidas,
questões construídas e decantadas ao longo de elevadas à forma de uma pergunta, que fazem
anos de envolvimento direto com o tema, pro- possível o destaque do objeto. O pesquisador en-
venientes destes últimos? Seria possível aden- tão volta sua atenção para o passado e as tradi-
trar em questões oriundas do próprio processo ções, sendo na fusão desses dois horizontes
de trabalho ou de efeitos não previstos? Quais (passado-presente) que o objeto de estudo se
questões seriam consideradas pertinentes pe- destaca.
los trabalhadores, usuários, gestores e outros O conceito de destaque do objeto de estu-
grupos de interesse? Que aspectos do cotidia- do nos parece apropriado na medida em que
no suscitam questões e que, se consideradas, não amputa o objeto de suas condições de pro-

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dução, pois aquilo que é destacado ressalta ao questões e reivindicações existentes 48, para re-
mesmo tempo aquilo do qual se destaca 53. Em velar as aprendizagens silenciosas do cotidia-
nosso caso, as questões não compreendidas dos no 56 e propiciar espaço para negociações e
CAPS – que representam a grande aposta de trocas simbólicas entre os envolvidos 57.
Reforma Psiquiátrica brasileira – deve nos levar Os gerentes dos CAPS, trabalhadores da as-
à busca pelo passado e pelas tradições da área. sistência, nível central de administração muni-
O que a saúde coletiva e a saúde mental tra- cipal, usuários e familiares constituem-se gru-
zem de seus respectivos percursos e bagagens pos de interesse a priori, sendo que outras ca-
históricas para o desenho das políticas e dos ser- tegorias podem ser eventualmente incluídas se
viços substitutivos de saúde mental na atualida- consideradas as características de cada local.
de? Interpelados pelos impasses oriundos dos Os grupos de interesse podem ser abordados
novos serviços de saúde mental, buscamos res- utilizando-se a técnica de grupos focais.
postas às questões: como de fato eles têm fun-
cionado no cotidiano? Como organizam os pro- • Grupos focais
cessos de trabalho e que formas neles assume a
gestão? Qual ou quais modelos de clínica vem ou Grupos focais vêm sendo amplamente utiliza-
vêm se desenvolvendo? Com quais estratégias de dos nas áreas da saúde, educação e sociologia
formação estão sendo preparados seus trabalha- para a captação de dados e para a avaliação de
dores? Quais os dilemas ou entraves existentes programas e serviços 58 mostrando-se perti-
na relação dos novos serviços com outros equi- nentes em processos de avaliação participativa.
pamentos da rede SUS? Como estão se organi- O grupo focal é uma técnica que permite a
zando e funcionando as equipes dos CAPS? Co- obtenção de dados a partir de sessões grupais
mo, no cotidiano dos Serviços os modelos de entre pessoas que compartilham um traço em
gestão e de atenção estão se articulando? comum. Tais grupos permitem a coleta de in-
Como podemos observar, e concordando formações relevantes sobre um determinado
com Gadamer 53, o problema da aplicação está tema, possibilitando a apreensão não somente
sempre, e desde o começo, definido pelo obje- do que pensam os participantes, mas também
to. Para a metodologia gadameriana, o desta- do porquê eles pensam de determinada forma,
que do objeto já opera uma aplicação, pois é além de possibilitar a observação da interação
no contexto desta última que se faz possível o entre seus componentes e os diferentes graus
seu destaque. de consensos e dissensos existentes 59,60.
Isto implica que no bojo da escolha do ob-
jeto deverá estar contida preocupação por de- Tratamento e interpretação dos dados
linear saídas para os problemas concretos que
venham a ser detectados na atenção prestada Em um desenho hipotético de pesquisa, como
nos serviços substitutivos (CAPS) do Sistema vimos esboçando neste artigo, podem surgir,
Público de Saúde, gerando subsídios para a to- dentre outros, dados relativos aos modelos de
mada de decisão em diversos níveis. gestão assistencial, formação dos trabalhado-
res da saúde e decorrências da institucionali-
Técnicas de coleta de dados zação. Neste caso, deverão ser considerados a
partir de uma abordagem que permita conju-
Naturalmente, as formas de coleta de dados se- gar análise e interpretação com a construção
rão decorrentes das “escolhas” paradigmáticas de novas alternativas, tarefa para a qual propo-
e metodológicas. Em nosso caso, citamos duas mos a utilização da hermenêutica crítica utili-
dentre outras possíveis e pertinentes ao que vi- zada por Ricoeur 61,62, por sua vez inspirada na
mos discutindo anteriormente. hermenêutica gadameriana 53.
É nosso entendimento que a interpretação
• Identificação dos grupos de interesse é composta de dois movimentos: análise e cons-
trução 11,63, sendo a análise necessária para a
A inclusão de representantes de diferentes seg- compreensão aprimorada dos fenômenos em
mentos envolvidos em um programa ou servi- curso, e a construção 64 à maneira de uma nar-
ço, na qualidade de seus trabalhadores ou be- rativa, fundamental para a formulação de pro-
neficiários (“stakeholders”), vem sendo defen- postas e elaboração de novos sentidos que po-
dida por diversos autores para aumentar a deriam ser agenciados por trabalhadores e ges-
chance de utilização dos resultados da pesqui- tores no aprimoramento da atenção em saúde
sa 54, para estimular a participação, a capacita- mental no Brasil.
ção e o desenvolvimento dos envolvidos 55, pa- Como ressaltado por Gadamer 53, a herme-
ra a consideração dos diferentes interesses, nêutica não deve ser considerada uma meto-

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dologia no sentido cartesiano, mas uma postu- A ação avaliativa nos CAPS é uma ação so-
ra interrogativa que se aplicaria fundamental- cial singular, desenvolvida em ambientes com-
mente ao estudo de textos. Assim, consideran- plexos, nos quais dificilmente se poderia atri-
do-se a abordagem hermenêutica, pode-se tra- buir significado específico a um elemento sem
balhar o material produzido pelos grupos fo- considerar a lógica e a interferência de outros,
cais (ou outras fontes) da seguinte forma: sobretudo no contexto da desinstitucionaliza-
1. Após a primeira aproximação do material ção de programas e serviços 65.
gerado nos grupos focais, faz-se uma primeira A partir dessa constatação, Mercier 65 esta-
interpretação das narrativas ali produzidas, con- belece algumas proposições, dentre as quais:
siderando o material como unidade narrativa; (1) a escolha das questões da avaliação deter-
2. Após essa construção narrativa, empreen- mina o grupo de interesse por ela privilegiado;
de-se uma segunda fase de interpretação con- (2) os métodos epidemiológicos e quase-expe-
frontando as narrativas produzidas entre si: rimentais são pouco úteis para a intervenção
seus diálogos, convergências, diferenças e pon- direta; (3) existem, em avaliação, abordagens
tos de recalque. O produto dessa fase será con- mais aptas que outras para favorecer a articu-
siderado como uma meta-narrativa; lação entre intervenção e pesquisa; (4) a utili-
3. Finalmente, pode-se realizar uma terceira zação de dados da avaliação visando ao plane-
volta hermenêutica visando à interpretação jamento de intervenções pode acarretar efeitos
dessa meta-narrativa e ao contexto da produ- perversos aos usuários.
ção histórico-social tanto da saúde coletiva bra- Criar alternativas à hegemonia do aspecto
sileira quanto da saúde mental. Nesse momen- financeiro na análise de intervenções, minimi-
to, busca-se identificar a presença das várias zar eventuais efeitos perversos aos grupos ne-
tradições dessas duas áreas e, novamente, seus las implicados 66, considerar a complexidade
pontos de diálogo, interação, convergências, do serviço e de sua inserção no contexto, com-
diferenças e recalques; preender melhor os componentes e formas de
4. O produto dessas três etapas de trabalho articulação da ainda novidade representada
deverá ser apresentado e discutido com os par- pelos CAPS, parecem ser alguns dos benefícios
ticipantes dos grupos de interesse, sendo suas da instauração de processos avaliativos parti-
considerações incluídas no relatório final. cipativos nesses centros.
Dessa maneira, procuraremos cumprir com Considerando que, no Brasil, setores pro-
o postulado hermenêutico de passar várias ve- gressistas da reforma psiquiátrica ocupam lu-
zes pelo mesmo lugar e que caracteriza o círcu- gar de destaque na formulação e na condução
lo hermenêutico. Círculo que, no dizer de Ga- executiva das mudanças em saúde mental,
damer 53, não deve ser visto como “círculo vi- acreditamos ser oportuno incluir no processo
cioso” pois, apesar de ser obrigado a passar pe- de avaliação dos dispositivos criados para a im-
lo mesmo lugar, passa sempre em uma latitude plementação da reforma, atores que, de algu-
diferente, de maneira que “quando se logra ma forma, mantém-se à margem do processo,
compreender, compreende-se sempre de manei- em posturas essencialmente críticas, o que po-
ra diferente” 54 (p. 444). de reduzir eventuais pontos cegos dos gestores
e formuladores de políticas 67.
A avaliação sistemática dos CAPS, de suas
Considerações finais: um processo relações com a rede de serviços gerais de saú-
avaliativo qualitativo na interface entre de, do seu exercício do papel “ordenador” da
a saúde coletiva e a saúde mental rede e a elucidação das formas sob as quais es-
se papel é ou não exercido poderiam subsidiar
Toda ação social desenvolve-se em um contex- reformulações e acertos de rumo das políticas
to de complexidade crescente, envolvendo vá- vigentes para a área, visando o incremento de
rios atores sociais, portadores de papéis, inte- sua eficácia.
resses, lógicas e linguagens diversos e não rara-
mente contraditórios.

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Resumo Referências

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