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A atenção em Saúde Mental em municípios

ARTIGO ARTICLE
de pequeno e médio portes: ressonâncias da reforma psiquiátrica

Mental Healthcare in small and medium-sized cities:


resonance of the psychiatric reform

Cristina Amélia Luzio 1


Solange L’Abbate 2

Abstract From the analysis of the national Mental Resumo A partir da análise da Política Nacional de
Health policy, formulated in the past years, and from Saúde Mental formulada nos últimos anos e das ex-
the experiences developed after 1987, it is sought to: periências desenvolvidas após 1987 no país, procu-
understand how Brazilian Health System has con- ra-se compreender como o Sistema Único de Saúde
tributed to the development of the psychiatric reform tem contribuído ao avanço da reforma psiquiátrica
in towns; verify how the assistance offered in those nos municípios; verificar como a assistência ofereci-
towns is making the psychiatric reform principles da nesses municípios está viabilizando os princípios
feasible as well as improving the users´ living condi- da reforma psiquiátrica e a melhora das condições de
tions; and research the role of the workers and man- vida dos usuários, bem como pesquisar o papel dos
agers in the construction of new care practices in trabalhadores e gestores na construção de novas prá-
Mental Health. The analysis of the discursive prac- ticas de cuidado em Saúde Mental. A análise das prá-
tices point out that the various social segments in- ticas discursivas aponta que os vários segmentos so-
volved in Mental Health have acquaintance with the ciais envolvidos na Saúde Mental conhecem os prin-
principles and proposals of the psychiatric reform. cípios e propostas da reforma psiquiátrica. No en-
However, the municipal administrations do not thor- tanto, as gestões municipais não assumem integral-
oughly take on the proposals of the Health Ministry mente as propostas do Ministério da Saúde para a
to this field, under the allegation of lack of financial área, sob a alegação de falta de recursos financeiros
funds to meet the demands. The users and their rela- para a contrapartida exigida. Os usuários e familia-
tives have gradually assumed the new intervention res têm aos poucos assumido as novas propostas de
proposals, but the mechanisms of participation and intervenção, mas os mecanismos de participação e
popular organization are still incipient. Lastly, it is organização popular ainda são incipientes. Por fim,
1
Departamento de important to stress that for an effective consolidation deve-se destacar que, para uma efetiva consolidação
Psicologia Clínica,
of the current psychiatric reform proposals, there must das propostas atuais da reforma psiquiátrica, é ne-
Faculdade de Ciências e
Letras de Assis, UNESP. be, among other actions, more commitment by the cessário um maior compromisso dos gestores com a
Av. Dom Antonio 2100, managers as far as Mental Health is concerned, more atenção em Saúde Mental, maior investimento nas
Jardim Universitário.
investments in multi-professional teams, encourage- equipes multiprofissionais, o estímulo à organização
19806-900 Assis SP.
caluzio@assis.unesp.br ment to the organization and the users’ and relatives’ e à participação dos usuários e familiares e a inte-
2
Departamento de participation and integration of health devices, so- gralidade dos dispositivos de saúde, de assistência so-
Medicina Preventiva e
cial assistance and the culture existing in towns. cial e de cultura existentes nas cidades.
Social, Faculdade de
Ciências Médicas, Key words Psychiatric reform, Psychosocial atten- Palavras-chave Reforma psiquiátrica, Atenção
UNICAMP. tion, Mental health, Collective health psicossocial, Saúde mental, Saúde coletiva
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Luzio CA, L’Abbate S

Considerações iniciais: Saúde Mental, oferecida por municípios de peque-


a inserção da Saúde Mental no SUS no e médio portes, está viabilizando, de um lado, os
princípios da reforma psiquiátrica e, de outro, a
A partir da implantação do Sistema Único de Saúde melhora das condições de vida dos usuários.
(SUS), os municípios buscaram viabilizar, em to-
dos os setores da saúde, os direitos constitucionais
de seus usuários. Muitos passaram a desenvolver Percurso metodológico
ações substitutivas na Saúde Mental. Em artigo re-
centemente publicado1, analisaram-se algumas ex- O estudo situa-se no campo das metodologias qua-
periências exitosas no campo da Saúde Mental no litativas, sendo que a escolha dos municípios de Cân-
Estado de São Paulo. No entanto, pouco se conhece dido Mota e Assis, considerados, respectivamente,
acerca das ressonâncias da política nacional de Saúde de pequeno e médio portes e localizados na região
Mental na maioria dos municípios, em especial nos oeste do Estado de São Paulo, não foi orientada por
de pequeno e médio portes, cujos governos não se nenhum critério clássico de amostragem probabi-
destacam enquanto gestores comprometidos com lística, mas por terem serviços de Saúde Mental es-
a melhoria das condições de vida da população e truturados e inseridos no sistema de saúde local.
com a redução das desigualdades sociais. Para conhecer a maneira como estão ocorren-
Embora a maioria da população (51%) resida do os avanços, as dificuldades e os entraves exis-
nos 4% dos municípios com população acima de tentes na transformação das práticas manicomi-
100.000 habitantes, 96% possuem população infe- ais dos municípios estudados, foram utilizadas téc-
rior a 100.000 habitantes, sendo que 63% dos mu- nicas para a captação das informações, tais como:
nicípios brasileiros possuem população de até análise de textos e documentos, bem como realiza-
20.000 habitantes. Portanto, o cotidiano das insti- ção de entrevistas semi-estruturadas com partici-
tuições de saúde nos pequenos territórios caracte- pantes dos diversos segmentos sociais implicados
riza a quase totalidade dos municípios brasileiros2. com a Saúde Mental.
No que se refere à atenção em Saúde Mental, A partir dos aportes teóricos desenvolvidos por
os municípios de pequeno e médio portes em ge- vários autores4-8, cujas produções são orientadas
ral, a partir da criação do SUS, incluíram equipes pelo método dialético, buscou-se captar os movi-
de Saúde Mental nas Unidades Básicas de Saúde mentos contraditórios e mutantes no processo de
(UBS). Esse fato não significou que os municípios construção de novos modos e novas práticas de
assumiam um projeto de Saúde Mental, pautado cuidado em Saúde Mental nos municípios estuda-
pelos princípios e diretrizes da reforma psiquiátri- dos, notadamente no que se refere aos intercruza-
ca. Na maioria das vezes, tais municípios procura- mentos das práticas discursivas relacionadas aos
ram dar conta de sua nova responsabilidade de temas estudados.
cuidar de seus usuários essencialmente via inter- A expressão “atenção psicossocial”, aqui utili-
nação psiquiátrica e medicação, reproduzindo ape- zada, define o conjunto de ações nos campos teóri-
nas o modelo psiquiátrico hegemônico3. cos, éticos, técnicos, políticos e sociais, aptos a cons-
Na década de 1990, o Ministério de Saúde (MS) tituírem um novo paradigma para as práticas em
passou a propor uma política de Saúde Mental a Saúde Mental. Enfim, ele compartilha da premissa
partir das experiências municipais inovadoras, as- de que a atenção psicossocial não é apenas mu-
sociadas às reflexões e às propostas operadas pelo dança da assistência, mas um processo de transi-
movimento da reforma psiquiátrica, possibilitan- ção paradigmática9.
do aos gestores, aos profissionais, aos usuários e à Os temas investigados foram agrupados em
sociedade civil o conhecimento e o acesso a um categorias construídas a partir de uma articulação
novo projeto de atenção em Saúde Mental. entre a produção dos autores acima citados e as
Nesse sentido, este estudo, que compõe a tese extraídas dos textos, documentos e entrevistas,
de doutorado da primeira autora, propôs-se a co- conforme apresenta o Quadro 1.
nhecer as ressonâncias das propostas do movimen- Quanto aos entrevistados, todos possuíam mais
to da reforma psiquiátrica no que se refere às trans- de seis meses de envolvimento nos serviços de Saúde
formações nos campos teórico-conceitual, técnico- Mental pesquisados e, portanto, podem ser consi-
assistencial, político-jurídico e sociocultural, em derados atores sociais relevantes, capazes de contri-
municípios de pequeno e médio portes, tomando buir para o enfrentamento dos desafios colocados a
como realidade empírica as cidades de Cândido cada momento. Para facilitar a citação dos discursos
Mota e Assis, no interior do Estado de São Paulo. dos participantes e proteger suas identidades, estes
Ou seja, buscou identificar como a assistência em foram nomeados de acordo com o Quadro 2.
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Quadro 1. As categorias de análise: campos, definição e subtemas.

campo definição subtemas


Identificar e compreender a concepção de saúde- Concepção de saúde/doença mental
doença-cura, os meios de trabalho e de Objetivos e meios de tratamento
teórico-
tratamento queque orientam os serviços de Finalidade do tratamento e seus efeitos
conceitual
Saúde Mental. terapêuticos e éticos
Referencial teórico e formação profissional
Analisar a organização da rede de serviços como Modo de organização do serviço
técnico- espaços de produção de subjetividades, garantidos Organização das ações no serviço
assistencial por intermédio de novos equipamentos e diversas O trabalho em equipe
ações e pela co-gestão dos usuários, trabalhadores Fluxo do poder decisório e de execução do serviço
e população As ações no território
Analisar a legislação (federal, estadual e Percepção das políticas de Saúde Mental estadual
político- municipal) referente à doença mental, de modo e nacional
jurídico a permitir aos usuários o exercício dos direitos à Leis, portarias, normas e diretrizes acerca da
cidadania, acesso ao trabalho e à inclusão social atenção psicossocial.
Direitos dos usuários
Política local e a Saúde Mental
Identificar as práticas que objetivam as Percepção da população acerca da doença mental
mudanças da percepção da sociedade acerca da ações intersetoriais
sociocultural
doença mental, da loucura, da anormalidade e da Relação da população e os serviços
periculosidade do louco e dos serviços de Saúde Participação popular e o controle social
Mental

Quadro 2. Identificação dos participantes do estudo de acordo com sua representação e município de origem.

Representantes Cândido Mota identificação Assis identificação


Secretário Municipal de Saúde G1 Secretário Municipal de Saúde G1
Gestores Coordenador de Saúde Mental G2 Articulador de Saúde Mental G2
do Centro de Saúde da DIRVIII
Coordenador de Saúde Mental G3
do município
Coordenador dos Ambulatório G4
e CAPS
membro da equipe de apoio T1 membro da equipe de apoio T1
Trabalhadores assistente social T2 assistente social T2
psicólogo T3 psicólogo T3
psiquiatra T4 psiquiatra T4
usuário U1 usuário U1
família U2 família U2
Usuários Representante dos usuários do U3 Representante dos usuários do U3
CMS CMS

A (re) construção de duas situações dado em 1923, tinha uma população, segundo o
singulares: os municípios estudados Censo de 2000, de 29.280 habitantes, sendo 91%
residentes na zona urbana. Assis, por sua vez, fun-
Os municípios de Cândido Mota e Assis locali- dado em 1905, possuía, segundo o mesmo docu-
zam-se no oeste do Estado de São Paulo, na região mento, uma população de 87.251 habitantes, dos
do médio Vale do Paranapanema. O primeiro, fun- quais 95,6% vivem na zona urbana10.
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Os primórdios da assistência A partir de 1984, outros movimentos empe-


em Saúde Mental nos municípios estudados nharam-se em construir um Projeto de Saúde
Mental público para o município e a região que
Na área da Saúde Mental, pode-se afirmar que contemplasse a criação de um ambulatório de Saú-
na região de Assis, sede da antiga DIR VIII, o único de Mental integrado num sistema hierarquizado.
atendimento público em Saúde Mental disponível Dentre eles, destacou-se a criação do núcleo de es-
à maioria da população até a década de 1980 era o tágio curricular do Curso de Psicologia da Facul-
da internação psiquiátrica. No entanto, os dois dade de Ciências e Letras de Assis-Unesp, junto ao
municípios nunca conviveram com a presença con- Centro de Saúde I.
creta de hospitais psiquiátricos. As internações dos Ao final de 1987, a Prefeitura Municipal, sem
usuários residentes nessas cidades sempre ocorre- nenhuma discussão prévia com os segmentos en-
ram em instituições localizadas em municípios de volvidos com a Saúde Mental, encampou o ambu-
outras regiões, a uma distância de, no mínimo, se- latório do hospital psiquiátrico, sendo que o aten-
tenta quilômetros. dimento em Saúde Mental do Centro de Saúde I
No município de Cândido Mota, a assistência deslocou-se para o ambulatório de Saúde Mental,
em Saúde Mental iniciou-se no começo da década com a transferência desordenada dos usuários.
de 1990, com a implantação do Sistema Único de A partir daquele momento, a atenção em Saú-
Saúde (SUS), e com a criação, no Centro de Saúde de Mental em Assis sofreu um refluxo e, apenas na
I, de uma equipe mínima de Saúde Mental (um gestão municipal de 1993-96, quando houve um
psicólogo e um médico-clínico), a qual realizava efetivo esforço de se consolidar o Sistema Único de
apenas psicodiagnóstico, medicação e internação Saúde, a assistência em Saúde Mental passou a in-
psiquiátrica. Após 1995, a equipe foi ampliada para tegrar o sistema.
dois psicólogos, um assistente social e um médico
psiquiatra e começou a desenvolver ações com o
objetivo de implantar ações assistenciais substitu- Consolidação do SUS
tivas à internação psiquiátrica. e as ressonâncias da reforma psiquiátrica
Em Assis, a assistência pública em Saúde Mental
acompanha, à distância, as políticas nacional e esta- Campo teórico-conceitual
dual para o setor, em especial aquelas construídas
após 1964. Assim, em 1971, o Lions Club, estimula- Nas entrevistas analisadas, foram constatadas,
do pelo crescimento da rede de hospitais particula- basicamente, duas concepções de sofrimento men-
res e conveniados com o poder público, decidiu tal. Uma primeira, ainda predominante e em con-
construir um macro hospital psiquiátrico na cida- sonância com o modelo manicomial, pode ser ob-
de, com 5 mil metros quadrados de área construí- servada neste depoimento: Por incrível que pareça,
da. No final daquele ano, a obra foi paralisada por tem profissionais da equipe que priorizam a inter-
falta de recursos financeiros e o prédio ficou aban- nação ainda. Mesmo os psicólogos priorizam a in-
donado, exposto à deterioração e à depredação11. ternação. (G2-Assis).
No início da década de 1980, iniciou-se, na Facul- Nesta perspectiva, os objetivos do tratamento
dade de Ciências e Letras de Assis – Unesp, a discus- estavam centrados na remissão dos sintomas e na
são sobre a assistência em Saúde Mental na cidade, diminuição da internação, sendo a medicação, a
motivada pela intenção do Lions Clube de doar o terapêutica central do tratamento e as outras ações
prédio inacabado do hospital psiquiátrico. Nesse apenas complementares: Quando o paciente está
contexto, foi elaborado, por uma comissão formada em crise, ele não está bem, o primeiro passo é medi-
por representantes do Lions, da universidade e das car, esperar eliminar o sintoma da crise e só então
entidades de profissionais da área, um projeto de propor as atividades. (G2-Cândido Mota).
Ambulatório de Saúde Mental para funcionar em Portanto, o trabalho da equipe seria ainda mé-
uma parte daquele prédio. Tal projeto era inspirado dico-centrado, apesar do compromisso de propi-
no modelo da psiquiatria comunitária americana e, ciar um tratamento mais humano e digno ao usu-
em especial, na experiência realizada no Estado de ário e produzir a ressocialização: Trabalho insisten-
São Paulo por Luiz Cerqueira na década de 1970. temente pela ressocialização do paciente. (T4-Cân-
O Ambulatório de Saúde Mental foi inaugura- dido Mota).
do em 1984, com a administração de uma outra Na segunda concepção, o sofrimento psíquico
comissão, nomeada pela entidade filantrópica, sen- foi compreendido como fenômeno histórico-so-
do que suas atividades centravam-se na consulta cial e peculiar: Eu acho que ela é uma doença social,
psiquiátrica e na psicoterapia individual. cultural e não é só física e emocional. (G3-Assis).
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Associada a essa visão, alguns trabalhadores UBS. O CAPS II, que se caracterizava como um
explicitavam a importância de se entrar com con- serviço intermediário entre o ambulatório e o hos-
tato com o sofrimento psíquico do sujeito: Eu já pital psiquiátrico, atendia os usuários com sofri-
venho estudando alguns autores que se propõem a mento mental grave. Essa forma de organização
pensar de uma outra maneira. E isso diferencia a dos serviços produzia problemas no sistema de
escuta da subjetividade do usuário. Você imaginar referência e contra-referência e, conseqüentemen-
que ele é alguém que pode conviver melhor, com te, havia muitas reclamações de usuários, profis-
menos sofrimento. (G2-Cândido Mota). sionais e gestores.
Os profissionais apontaram, como finalidade Em Assis, em 1997, a SMS elaborou um projeto
do tratamento, a promoção de uma reinserção so- de NAPS/CAPS com vistas a estabelecer convênio
cial capaz de garantir o direito ao trabalho, à cida- com o Ministério da Saúde, mas ele não foi cadas-
dania e ao reposicionamento singular do usuário trado naquele momento, apenas em 2002. Mesmo
na sociedade: Criar uma nova singularidade, de uma assim, o município implantou, naquele ano, o Pro-
nova subjetividade social, isso ainda não.(G2-Cân- jeto de Atenção Intensiva (PAI), cujas atividades
dido Mota). eram desenvolvidas no ambulatório de Saúde Men-
Seguramente, esta última era uma concepção tal: Quando eu entrei aqui não existia o CAPS. Mon-
que revelava uma abertura para uma abordagem tamos o grupo de música e eu montei o da escolinha.
mais abrangente e conseqüente para o sofrimento Mais tarde vieram os estagiários da Unesp para aju-
psíquico humano. dar. (T2-Assis). E a criação do CAPS ampliou as
ações intensivas e de inserção social iniciados pelo
Campo técnico-assistencial PAI, conforme será abordado posteriormente.
Enfim, os dois municípios ainda reproduziam,
Nesse campo, constatou-se uma mudança mais nos seus serviços de Saúde Mental, as propostas
ampla. A política nacional de Saúde Mental, assu- contidas no documento da Secretaria Estadual so-
mida pelo Ministério da Saúde principalmente a bre o trabalho para equipes em UBS, em Ambula-
partir de 2000, tem contribuído para essa mudan- tório de Saúde Mental12. Nessa perspectiva, o CAPS
ça, na medida em que os gestores municipais pas- continha um serviço intermediário, o ambulató-
saram a ter acesso a uma legislação comprometi- rio e o hospital psiquiátrico, e não substitutivo.
da com a atenção psicossocial e a vários incentivos Nenhum dos municípios estudados possuía, em
financeiros para implantá-la e implementá-la. funcionamento, serviços de urgência e emergência.
Os municípios estudados procuraram trans- Em Cândido Mota, o psiquiatra era responsável pe-
formar as propostas da reforma psiquiátrica em las intercorrências psiquiátricas. Às vezes, na sua au-
atos, mesmo que de maneira lenta, gradativa e à sência, algum médico da unidade de saúde atendia
custa de esforços da equipe, pelo menos no que se determinada situação e fazia o encaminhamento,
referia à diminuição da internação psiquiátrica. geralmente para internação psiquiátrica. Outra pos-
Em Cândido Mota, a equipe, responsável por sibilidade para urgência e emergência em Saúde Mental
toda a demanda da cidade em Saúde Mental, era era o PS da Santa Casa, a partir das 18 hs. Por isso, o
composta de um coordenador (psicólogo), um Programa de Saúde Mental fazia algumas tentativas
psiquiatra, cinco psicólogos, uma técnica de enfer- para que o PS acolhesse as urgências da Saúde Men-
magem e uma assistente social. tal: A gente tem buscado um contato mais freqüente
Em Assis, era mais evidente a organização da junto à Santa Casa, que é a nossa única referência de
atenção na saúde e na Saúde Mental em uma rede emergência. Hoje, a gente tem um contato com um
regionalizada e hierarquizada em níveis primário, novo enfermeiro. É um enfermeiro que está lá há, mais
secundário e terciário. Os serviços funcionavam em ou menos, seis meses. (G2-Cândido Mota).
vários locais e eram articulados em um sistema de Em Assis, o CAPS e o ambulatório não tinham
referência e contra-referência. No setor de Saúde a atribuição de acolher as situações de emergência,
Mental, havia um psicólogo em sete Unidades de incumbindo-se apenas de algumas intercorrências
Saúde (UBS) com a atribuição de atuar nos seguin- de seus usuários. As situações de urgência e emer-
tes setores: Seria um investindo em prevenção, em gência da Saúde Mental eram encaminhadas para
orientação, até em psicoterapia. Poderíamos ampliar internação nos hospitais de referência ou atendi-
as ações junto à comunidade, dentro das escolas, ou das no PS municipal. Fiel à lógica do próprio mo-
em instituições que estão ao redor. (G3-Assis). delo de sistema integrado e hierarquizado, às ve-
O ambulatório era responsável pelos atendi- zes, o PS resistia ou reclamava de receber muitas
mentos em terapêutica medicamentosa e em psi- das situações da demanda espontânea da assistên-
coterapia individual e grupal, encaminhados pelas cia, notadamente no horário diurno.
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Luzio CA, L’Abbate S

A PM constituía um recurso muito utilizado Mas, de maneira geral, as atividades do estágio


no atendimento das situações de urgência e emer- curricular e do curso de aprimoramento desenvolvi-
gência em Saúde Mental do município de Assis. Os das nesses municípios revelam uma rica e relevante
policiais já compunham o cenário da assistência experiência de inserção da universidade na comuni-
em Saúde Mental local, uma vez que sempre eram dade local e regional. Tais atividades acadêmico-
acionados pelos familiares ou mesmo pelos servi- assistenciais contribuem para uma maior aproxi-
ços de atenção primária e secundária: É por isso mação entre as diferentes esferas da sociedade, tan-
que, quando se tem um paciente agitado, a gente to no âmbito da universidade como fora dela, e
chama a polícia militar pra levar no PS. (G4-Assis). fortalecem a articulação entre o saber transmitido
Os atendimentos realizados no PS recebiam na universidade e a construção de novos saberes,
muitas reclamações, principalmente pela ausência bem como a formação de alunos críticos e prepara-
de retaguarda da equipe de psiquiatria do Hospi- dos para intervir nas diferentes realidades que en-
tal Regional para o PS, a exemplo do que ocorria contrarem no seu exercício profissional futuro. Esta
no caso de outras especialidades médicas: Deveria parceria entre a universidade e as instituições de
existir no hospital geral e no PS um profissional pre- saúde também contribui para implantação das po-
parado para essa situação. (U3-Assis). líticas públicas para Saúde Mental consoantes com
Os profissionais dos serviços de Saúde Mental a atenção psicossocial e o SUS e, conseqüentemen-
dos dois municípios consideravam que o trabalho te, para a melhoria da qualidade da atenção presta-
em equipe era importante para se construir as ações da aos usuários pelos serviços de saúde municipais.
e organizar os serviços comprometidos com a aten- Nos dois municípios, as equipes organizavam
ção psicossocial. As equipes contavam com a partici- o trabalho por intermédio de reuniões. Em Cândi-
pação de estagiários de psicologia da UNESP e de do Mota, elas eram semanais, com a participação
profissionais recém-formados do Programa de Apri- mensal dos estagiários e do supervisor de estágio.
moramento Profissional (equivalente à especia- A equipe de apoio participava apenas em situações
lização), em Saúde Mental e Saúde Pública da DIR pontuais e esporádicas e os usuários não tinham
VIII, vinculado ao Programa de Bolsas para Médi- nenhuma participação.
cos e Outros Profissionais de Nível Superior que atu- Em Assis, no ambulatório de Saúde Mental e
am na Área da Saúde, criado pelo Governo do Esta- no CAPS, havia duas reuniões semanais: uma com
do de São Paulo e gerido pela Fundação de Desen- os estagiários e a equipe técnica, menos os médicos;
volvimento Administrativo (FUNDAP), cujo objeti- outra com a equipe técnica, incluindo os médicos e
vo era a formação e o aprimoramento de recursos a equipe de apoio. Também era realizada uma reu-
humanos para a área da Saúde Mental em conso- nião mensal com a participação dos psicólogos das
nância com o modelo de atenção psicossocial. UBS, da coordenação do ambulatório/CAPS e da
No entanto, havia diferenças na maneira de cada coordenação de Saúde Mental do município: A gente
equipe perceber a presença desses atores sociais. Em tenta discutir em cima dos casos concretos, dos enca-
Cândido Mota, os aprimorandos e os estagiários minhamentos e dos problemas trazidos. (G3-Assis).
definiam suas atividades no serviço a partir de seus As dificuldades e as divergências identificadas
interesses pessoais e dos objetivos acadêmicos, ar- nas reuniões foram ressaltadas como obstáculos
ticuladas que eram com a demanda do serviço. De para o desenvolvimento da equipe e o andamento
maneira geral, a equipe não tinha problemas de do trabalho: Eu acho que a equipe tem um medo de
integração com esses “atores estrangeiros e de pas- se responsabilizar pelas novas, por novas coisas.(T3-
sagem”: Eu acho que tem uma aceitação interessan- Cândido Mota).
te, pois há uma expectativa em relação ao aprimo- Enfim, era constante a percepção de que, nas
rando. Há esse vínculo com a universidade e eles res- reuniões de equipe, a discussão dos problemas de
gatam isso em vários momentos.(T3- Cândido Mota) algum usuário e de seu cuidado era uma maneira
Em Assis, a situação se apresentou diferente. de questionar e criticar indiretamente a conduta de
Havia mais divergências e constantes conflitos en- algum membro da equipe. Tais momentos produ-
tre a equipe e os estagiários. No início do PAI, as ziam ruídos cuja repercussão se estendia para fora
oficinas eram realizadas em conjunto pelos profis- da reunião e chegavam à sala da equipe, como se
sionais e, principalmente, os estagiários: Com essa fossem problemas apenas pessoais: Se as diferen-
mudança de coordenação, a equipe se afastou da pior ças teóricas e práticas começam a ser vivenciadas
maneira. E eu já falei, que para ela ver essa equipe como pessoais, transformam-se num ataque à pes-
envolvida do jeito que era antes, ela vai ter que pedir soa. (G2-Cândido Mota).
mesmo, porque ninguém mais vai voltar espontane- Parece que quando você avalia que algum pacien-
amente. (T3-Assis). te não tem condições pra participar de uma deter-
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minada oficina, tudo vira discussão, tudo vira briga restabelecimento de um suposto equilíbrio men-
e acaba virando uma coisa pessoal. (T3-Assis). tal: Ele tem que tomar remédio durante a vida intei-
De maneira geral, os conflitos das equipes dos ra. E tomar remédio faz muito bem a ele. E ele está
dois municípios apareciam localizados no âmbito comportado, mas a doutora achou que ele está meio
das relações pessoais-afetivas e, freqüentemente, confuso ao conversar (U2-Assis).
deslocavam-se para a reivindicação de supervisão Uma outra forma de intervenção realizada
de novas técnicas de tratamento, isto é, de especia- nos serviços dos municípios era a oficina terapêuti-
lizações: Eu penso que eu preciso me aperfeiçoar no ca. No entanto, a inserção das oficinas nos serviços
atendimento familiar para que eu possa trabalhar e e sua articulação com as demais ações de cuidado
orientar as famílias. (T2-Cândido Mota). eram diferentes. Em Cândido Mota, em 1998, foi
Os profissionais das equipes, seja em Assis, seja contratada uma psicóloga para desenvolver ofici-
em Cândido Mota, funcionavam como uma mera nas terapêuticas com os usuários adultos no am-
junção de pessoas, segundo a lógica de “linha de bulatório de Saúde Mental. Tal experiência foi con-
montagem”, centrada no modelo taylorista. Nesse siderada importante para os usuários: Na oficina
sentido, os profissionais pareciam ter dificuldades eu gosto de estar com os meus colegas. Eu participo,
de problematizar seu modo de atuar como produto eu sorrio, eu converso, eu canto, eu brinco, conto
da alienação produzida pela própria divisão do pro- piada, conto verso e eu me sinto muito bem indo lá:
cesso de trabalho, de modo que as equipes dos servi- aquela é a minha família. (U1-Cândido Mota).
ços de Saúde Mental pudessem construir o fazer co- Mesmo assim, a equipe teve dificuldades para
letivo e a descoberta de novas entradas para recom- integrar essa atividade no seu cotidiano: Eu perce-
por o seu projeto de atenção psicossocial, embora os bo que ainda não se tem muita clareza o para quê
conflitos apareçam como divergências pessoais7, 8, 13. dessa oficina como dispositivo, além de atendimento
O processo de elaboração do projeto de traba- em grupo e individual. (T3-Cândido Mota).
lho da equipe exige que esta desenvolva inicialmente No município de Assis, as oficinas terapêuticas
o seu reconhecimento como grupo. Depois, é ne- estavam mais consolidadas, mas eram coordena-
cessário conhecer os seus recursos técnico-políti- das por estagiários de psicologia e tinham como
cos, analisar os saberes em disputa e compor um objetivo propiciar ao usuário o exercício de sua
referencial para agir. Finalmente, o grupo identifi- singularidade e de cidadania: E a oficina entra nes-
ca os recursos (saberes, poder, legitimidade, tem- te espaço com a perspectiva ética de criação de mun-
po, ousadia, paixão, entre outros) que possui para dos, onde o desejo se coloca como os pés que a vida
realizar seu projeto14. tem para caminhar, melhorando assim a qualidade
Enfim, as análises sobre o funcionamento da de vida e exercendo a cidadania15. E a intervenção
equipe, suas dificuldades e seus conflitos parecem nas famílias dos usuários também foi sublinhada
apontar para uma crise da coordenação nos servi- como muito importante nos dois municípios: Uma
ços dos dois municípios. As equipes e as coorde- das críticas mais comuns é dos familiares, porque
nações dos serviços, embora reconhecessem essa deve haver um trabalho intensivo com eles que a
situação, não conseguiam construir, nos serviços, gente ainda não tem feito. (G3- Assis).
um espaço coletivo, com uma maior horizontali- Porém, as equipes dos municípios realizavam
zação nas relações intra-institucionais capazes de tais ações ainda de modo pontual, esporádico e,
propiciar a responsabilização real do serviço pelo muitas vezes, relacionado à administração da me-
cuidado do usuário, de modo a considerá-lo em dicação: Trabalho familiar. E se for necessário, tam-
sua singularidade. bém ajudar no manuseio da medicação. Em uns a
As ações de Saúde Mental desenvolvidas nos gente consegue fazer, mas não em todos. (G2-Cândi-
dois municípios eram predominantemente as já do Mota).
consagradas no campo, tais como: recepção, con- Em 2002, foi criada, no município de Assis, a
sulta psiquiátrica e medicação, psicoterapia grupal Associação de Usuários, Familiares, Trabalhado-
e individual; porém, a consulta psiquiátrica e a res e Amigos da Saúde Mental – PIRASSIS – a par-
medicação constituíam os eixos centrais dos servi- tir da iniciativa dos estagiários do curso de psico-
ços: Nós buscamos aumentar o número de horas [do logia da UNESP: Era uma coisa antiga a idéia de
psiquiatra] para que se pudesse dar um respaldo às fazer a associação. Os estagiários colocavam nas nos-
psicólogas, às assistentes sociais que trabalham no sas cabeças que tinham que montar uma associação
serviço. (G1-Cândido Mota). ou talvez uma cooperativa, pois faltava muito mate-
A utilização da medicação em grande escala re- rial para as oficinas. (U1-Assis). Mas a referida as-
afirmaria a idéia de que o objetivo central do trata- sociação ainda precisava constituir-se de fato num
mento é a supressão dos sintomas do usuário e o espaço de mediação entre os usuários, suas famí-
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lias e a sociedade. Ou seja, em 2002, ainda eram torialidade das ações desenvolvidas nas cidades para
pontuais e pouco numerosas as ações nos espaços construir uma rede de cuidado e inclusão social.
públicos das cidades e, portanto, não contribuíam
para a construção de uma rede de dispositivos ar- Campo político-jurídico
ticulada em propostas comuns e coletivas, produ-
tora de cidadania e de transformação social. Os vários segmentos sociais dos municípios
Foi possível observar que a tentativa dos mu- conheciam os princípios e propostas da reforma
nicípios de construir uma “rede de serviços” ou psiquiátrica, embora esse conhecimento apresen-
“rede de assistência” de Saúde Mental, hierarqui- tasse diferenças entre os gestores, trabalhadores e
zada e em um sistema de referência-contra-refe- usuários. Os gestores, naturalmente, e até por ne-
rência, tem impedido a responsabilização do servi- cessidade do seu cargo, demonstraram ter maio-
ço pelas ações de Saúde Mental em uma determi- res informações sobre a legislação (portarias, nor-
nada área e a articulação das ações de cuidado re- mas e projetos do MS e SES-SP): Existia uma luta
alizadas pelos diversos dispositivos: pronto-socor- antimanicomial que eu acho que veio bem antes dessa
ros, hospitais gerais e psiquiátricos, escolas, con- política. Então, para mim, já está mais claro que a
selhos tutelares, promotoria pública, creches, as- gente precisava ter um outro tipo de trabalho. (G1-
sociações de bairro, entidades filantrópicas. Em Assis). Os trabalhadores pareciam desconhecer a
conseqüência disso, os diversos serviços nos dife- legislação: Eles dizem que nunca receberam uma
rentes níveis de atenção não reconhecem a existên- portaria. A gente manda, mas eles não sabem ou não
cia de várias lógicas de funcionamento, de múlti- se lembram.(G2 de Assis). Ou evidenciaram pouco
plos atravessamentos provocados por diversos flu- envolvimento com o tema: Mas eu tenho sentido
xos dos usuários. um pouco de dificuldade dos gestores também esta-
As ações no território devem ativar os recursos rem entendendo e implementando isso, e dos profis-
do habitat de origem ou de referência do usuário, sionais para promover outras práticas e repensar
necessários para a construção de projetos terapêu- essa orientação. (T3-Cândido Mota). Os usuários
ticos emancipadores e transformadores do imagi- evidenciaram interesse na política de distribuição
nário social. Nessa perspectiva, o termo “territó- de medicamentos, de benefícios sociais como, por
rio” aqui adotado não se refere apenas ao espaço exemplo, da Lei Orgânica da Assistência Social
geográfico, mas também aos espaços demográfi- (LOAS): A família passou a entender a necessidade
co, epidemiológico, tecnológico, econômico, soci- da medicação. E que uma internação faz mal para o
al, cultural, político, produto de um processo per- paciente. O benefício [LOAS] ajudou esse paciente a
manente em que se articulam diferentes sujeitos ser respeitado, porque ele participa de orçamento da
políticos com suas necessidades, interesses, dese- casa. (T2-Assis).
jos e sonhos16,17. Os municípios, pressionados pela política eco-
A responsabilização pelo tratamento do usu- nômica, buscam novos recursos financeiros para
ário presume a invenção, o planejamento, a ava- poder governar, sendo que qualquer possibilidade
liação e a gestão dos novos saberes e fazeres no de captar recursos é sempre bem-vinda. Entretan-
coletivo, garantindo a participação de todos os ato- to, os investimentos propostos pelo Ministério da
res envolvidos. Essa produção coletiva não é natu- Saúde para a Saúde Mental nem sempre foram
ral: ela é construída no cotidiano do serviço. A equi- considerados boas fontes de captação de recursos.
pe, a coordenação e a clientela precisam desenvol- As críticas referiam-se à necessidade da contrapar-
ver sua capacidade de análise da realidade de seu tida do município, à existência de verbas vincula-
trabalho e de seu “entorno” para construir seu pro- das a projetos. Tal situação, acrescida das exigênci-
jeto, conhecer e problematizar seus referenciais teó- as da Lei de Responsabilidade Fiscal, principalmen-
rico-técnico-políticos, criar mediações, equacionar te no tocante às limitações com despesas com re-
seus conflitos, reorganizar o trabalho. cursos humanos, apareceram como justificativas
Em síntese, uma efetiva consolidação das pro- do pouco interesse dos municípios pelos recursos
postas atuais da reforma psiquiátrica requer, entre disponibilizados pelo Ministério da Saúde para a
outras ações, um maior compromisso dos gesto- Saúde Mental: Quando o Ministério da Saúde di-
res com a atenção em Saúde Mental, um maior vulga e incentiva a criação do CAPS nos municípi-
investimento no suporte para as equipes de Saúde os, há sempre a promessa de que os recursos para esse
Mental das UBS, CAPS e a articulação com o Pro- serviço vão aumentar. Mas isso é muito perigo, pois
grama Saúde da Família-PSF. Também deve esti- a contrapartida municipal é maior. (G1-Assis)
mular a organização e a participação dos usuários A alternância de poder na esfera do executivo
e familiares, bem como a integralidade e a interse- municipal foi apontada como um outro obstácu-
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lo no processo de construção da atenção psicosso- rede de resistência para a manutenção de seus pres-
cial, pois os serviços se organizavam de maneira supostos básicos.
precária e frágil, o que os tornava vulneráveis no Mas se, de um lado, os municípios têm en-
início de cada nova gestão administrativa: Então, o contrado dificuldades para cumprir as suas atri-
problema é, o que você tinha numa certa adminis- buições, de outro, os gestores municipais nem sem-
tração, a outra não vai usar, porque não foi ela quem pre estão compromissados suficientemente com a
criou. Sempre há mudanças de equipe, e isso é muito política nacional de saúde, de modo a implantar as
ruim. (G1-Assis) propostas do Ministério da Saúde para consolidar
São inquestionáveis os benefícios resultantes da o SUS, e mesmo para solicitar recursos disponí-
gestão local da atenção em saúde para a popula- veis. Enfim, Não há nenhuma garantia intrínseca à
ção, a partir da implementação do SUS, após 1989. autonomia dos governos locais que os torne respon-
Naquele momento, eram grandes as expectativas sáveis, comprometidos com as necessidades dos cida-
decorrentes da promulgação da Constituição de dãos e determinados a administrar com eficiência18.
1988, principalmente no que se referia à ampliação Nos municípios estudados, a atenção em Saú-
do papel do município como composição federa- de Mental não é prioridade para os gestores: Eu
tiva. As perspectivas de maior autonomia, de no- não vejo a SM como uma prioridade para o gestor.
vas responsabilidades e de mais recursos para os Eu vejo que ele está satisfeito do jeito que ela está
municípios, aliadas à esperança de mudança no funcionando. Mas uma prioridade de olhar para o
panorama político do país (a proximidade da pri- setor.(G2-Cândido Mota)
meira eleição direta para Presidente da República, Também existe a falta de maior empenho e com-
desde 1960) e a ampliação e a consolidação dos prometimento com as propostas do SUS e da re-
movimentos sociais contribuíram para a eficácia forma psiquiátrica, no tocante à necessidade de
de muitas administrações municipais na gestão das mudança do modelo assistencial: Temos caminha-
políticas públicas. do muito lentamente. Fica muito distante o que é
Tal cenário continha a promessa de renovação proposto do que é realizado. (G2-Cândido Mota)
da vida política. E apontava para um novo mo- É necessário que haja mecanismos mais efeti-
mento político em que o Estado é concebido como vos de orientação para a mudança do modelo assis-
arena de lutas políticas, com uma nova correlação tencial e de acompanhamento da aplicação dos re-
de forças entre as classes dominantes e as classes cursos financeiros, não somente em nível local, mas
dominadas, havendo, portanto, o fortalecimento estadual e federal. Para isso, faz-se necessária a reto-
da autonomia da sociedade civil. mada das ações realizadas pelos diversos segmen-
Esse contexto político não se manteve na déca- tos sociais e, dentre eles, os conselhos profissionais
da de 1990. A redução do papel do Estado na ges- comprometidos com essa mudança. As comissões
tão das políticas públicas tem impedido a susten- de reforma psiquiátrica (nacional e estaduais) e os
tação do pacto social construído pela sociedade movimentos sociais (o da Luta Antimanicomial)
civil. Nesse processo, as regras do mercado são devem retomar e ampliar as ações de acompanha-
consideradas suficientes para produzir o bem-es- mento, orientação e fiscalização da implantação das
tar do homem, podendo ser complementadas com diretrizes e propostas de ações e serviços nos municí-
algumas ações políticas compensatórias. Do Esta- pios, em especial, os de pequeno e médio portes,
do espera-se que seja capaz, de um lado, de propi- além de contribuírem para o fortalecimento da par-
ciar a mobilidade externa do capital, do consumo ticipação popular e do controle social.
e do sistema financeiro e, de outro, de controlar o É importante ainda destacar que não existe ne-
poder dos movimentos sociais. nhuma legislação municipal que contemple a mu-
Nesse sentido, a descentralização da gestão das dança do modelo assistencial nos municípios estu-
políticas públicas continua se consolidando, mas dados. Há apenas algumas diretrizes contidas em
não necessariamente comprometida com a quali- conferências de saúde e na I Conferência Regional
dade de vida da população. O objetivo da gestão de Saúde, já analisadas anteriormente. As confe-
desloca-se para o controle e o equilíbrio do déficit rências de saúde dessas cidades vêm sendo espaços
público. Assim, a maioria dos municípios estaria importantes de participação popular e para delibe-
gerenciando a pulverização das políticas públicas e rações, visando à construção de uma política local
a precarização dos direitos constitucionais da po- para os vários setores da saúde. No entanto, elas
pulação. O desafio nessa primeira década do século ainda não conseguem desempenhar seu papel de
XXI é de fazer avançar o SUS e a construção da rede co-participante de fato no processo de construção
de atenção psicossocial e, essencialmente, criar uma da política local de saúde e da atenção psicossocial.
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Campo sociocultural Contudo, essa situação não garante a constru-


ção de uma rede de dispositivos articulada em pro-
Os municípios pouco desenvolviam ações para postas comuns e coletivas; enfim, de uma rede
transformarem a percepção da população acerca produtora de transformação social e cidadania.
da doença mental e das pessoas consideradas como Para constituir uma rede de resistência e disparado-
tal. Em geral, os serviços dos dois municípios ava- ra de mudanças, deve haver nos municípios um
liaram que o estigma social para com a pessoa con- maior estímulo para a organização e para a partici-
siderada “doente mental” ainda era muito grande: pação dos usuários e familiares, a integralidade
A própria família criou um estigma dessas pessoas. dos dispositivos de saúde, de assistência social e de
Eles tentam até dizer que não tem ninguém com esse cultura neles existentes, com o objetivo de cons-
problema na família, mas não é bem assim. Hoje, truir uma rede de cuidado e reinserção social eman-
caiu o conceito de louco, agitado e eles são tratados cipadora. Também é indispensável construir uma
como psicóticos, neuróticos. (G1-Cândido Mota) interlocução com o Poder Judiciário para propi-
No entanto, na medida em que aumentavam ciar a mudança na cultura jurídica das concepções
as ações desenvolvidas nos espaços públicos da acerca da doença mental e das formas de trata-
cidade, com a população passando a interagir mais mentos que envolvem a exclusão, a segregação e o
com os usuários da rede de Saúde Mental, obser- confinamento dos usuários da Saúde Mental e,
vou-se uma maior aceitação ou uma maior tole- conseqüentemente, a compreensão e a aceitação
rância e condescendência para com tais pacientes, dos novos serviços de atenção psicossocial, inclusi-
notadamente quando eles não estavam em crise: ve para os dependentes químicos e outras drogas.
Eu ouvi relatos na Conferência Municipal de Saúde. No que se refere à relação da população e dos
As pessoas acharam incrível a participação de al- serviços de Saúde Mental, observou-se que, nos
guns usuários da Saúde Mental contribuindo para o dois municípios, os gestores e trabalhadores
processo. (U3-Assis) avaliaram que a população mantinha uma boa
Finalizando, é possível perceber que a realização relação com os serviços de Saúde Mental: Nos-
de ações no território do serviço e nos espaços públi- so serviço é, para a nossa alegria, visto de uma forma
cos pode permitir uma maior compreensão da soci- muito boa. Basta ver o número de pessoas que são
edade sobre o sofrimento psíquico e, conseqüente- atendidas e se dirigem para cá, por ouvir falar bem
mente, uma maior tolerância e aceitação do usuário do serviço. (G1-Cândido Mota)
para com os serviços de Saúde Mental (na realidade, Mas não tenho reclamação sobre a Saúde Men-
essa mudança de percepção deveria ser tema de ou- tal. Eu acho que o pessoal que está trabalhando com
tra investigação, por sinal muito interessante). Saúde Mental é diferenciado. O pessoal que trabalha
Os municípios estudados realizavam tam- no CAPS é comprometido e se dedicam. ( G1-Assis).
bém poucas ações intersetoriais, mesmo entre Também, entre os usuários, encontrou-se uma
os diversos setores da administração pública, em- visão positiva do serviço: O programa [SM] tem
bora em seus documentos destacassem sua im- dado resultado para os usuários, porque, eu acho que
portância. Entre as justificativas, era recorrente o eles estão sendo bem assistidos. (U3-Cândido Mota)
preconceito para com o usuário da Saúde Mental: No município de Assis, ocorreram mais recla-
A gente é muito excluída ainda. Fica parecendo que mações. Estas se centravam nos atrasos dos médi-
a SM não tem nada a ver com as pessoas e com o resto cos: E, às vezes, o médico chega aqui com duas horas
das coisas (G3-Assis); a falta de projetos de inclu- e meia de atraso. Então, os pacientes ficam agitados.
são social: É difícil porque a Secretaria da Assistên- (T1-Assis); e na falta de medicação: Você recebe uma
cia não tem projeto nenhum. E de Educação também reclamação de que faltou um medicamento ou que ele
não (G2-Cândido Mota); e os entraves burocráti- chegou atrasado; mas a gente procura não deixar fal-
cos das secretarias de governos: Porque a gente a tar. (G1-Assis)
recebe [alimentação] de uma parceria com a Secre- Também foi identificada uma outra reclamação
taria da Educação que tem a cozinha-piloto. Quan- relacionada à não aceitação inicial dos familiares da
do a Educação entra em férias, não tem comida, não proposta de tratamento substitutiva à internação psi-
tem refeição para os pacientes. (G4-Assis). quiátrica. Porém, a própria equipe admite a falta de
O município maior tem mais recursos para trabalho mais efetivo com os familiares, com o obje-
desenvolver ações intersetoriais, em especial com a tivo de produzir demanda para um outro tipo de
Secretaria de Assistência Social: Teve um avanço tratamento: Uma das críticas mais comuns é dos fami-
nessa parceria, no sentido de conseguir encaixar sete liares. Eles esperam poder deixar o usuário lá, para que
usuários em atividades lá (monitores de projetos eles possam ir trabalhar. Às vezes, quando a família
como oficina de pintura e horta). (G3-Assis) briga porque ela quer internar o usuário. (G3-Assis)
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Em relação aos mecanismos de participação e Considerações finais
controle social, constatou-se que no município
menor, estes ainda não são efetivos: Quando foram Este estudo pretendeu trazer subsídios importan-
montados esses conselhos procurava obedecer às leis. tes para a construção de uma rede articulada de
Então os prefeitos fizeram uma loucura, pegaram o atenção psicossocial nos municípios de pequeno e
pessoal a laço. Eu acho que cinqüenta por cento de- médio portes, mas também procurou mostrar
les, hoje, desconhecem os programas e os projetos den- obstáculos significativos de efetivar as diretrizes e
tro da área de Saúde. (U3-Cândido Mota) as propostas da reforma psiquiátrica, atualmente
No município de médio porte, as instâncias de contidas na política nacional de Saúde Mental.
participação popular e controle social estavam mais As diretrizes e as propostas da reforma psiqui-
consolidadas, principalmente quando compara- átrica têm conseguido adentrar no Sistema Único
das às existentes nos demais municípios da região. de Saúde dos diversos municípios, principalmente
Entretanto, a atuação do CMS e a participação ati- quando os segmentos (gestores, trabalhadores e
va de seus conselheiros não podem ser considera- usuários) envolvidos na atenção em Saúde Mental
das como indicadores da existência de mobiliza- estão comprometidos com as mudanças. Contu-
ção e organização da sociedade civil em torno das do, é necessário, de fato, que haja também o com-
questões da saúde: É um Conselho ativo, atuante. prometimento dos gestores municipais com a po-
Mas precisa-se urgentemente de um treinamento pulação e com a melhoria de suas condições de
para conselheiro. O conselheiro é leigo e ele não sabe vida para a criação de serviços substitutivos em
no que ele está votando. (G2-Assis) Saúde Mental.
Porém, a atenção em Saúde Mental não parece O outro aspecto a ser ressaltado são os riscos da
ter espaço no CMS de saúde. As discussões acerca medicalização da demanda da Saúde Mental, quan-
desse tema e do serviço são apenas pontuais e es- do se tem como objetivo e formas de tratamento
porádicas: Só aparece quando eu levo. Então eu uso apenas a diminuição da internação psiquiátrica, sem
esse espaço para informar, pois não tem muita soli- qualquer investimento na formação permanente das
citação sobre como funciona a Saúde Mental. Nem equipes dos serviços, comprometida com os pres-
recebe-se queixa! (G2-Cândido Mota) supostos teóricos da atenção psicossocial.
Essas dificuldades se reproduzem também na Também constituiria obstáculo para a reforma
organização e no funcionamento dos Conselhos psiquiátrica a hipótese de os serviços, ao retomarem
Gestores existentes nas unidades de saúde: A popu- e estimularem as práticas identificadas com trata-
lação não sabe direito o que é aquilo e as pessoas que mento moral, não conseguirem produzir novas prá-
às vezes têm mais recursos não querem participar. ticas para propiciar ao usuário o acesso a bens, à
(G3-Assis) cultura, à educação, ao trabalho, à convivência, à
Em síntese, a existência de poucos espaços po- história, enfim, ao direito de ser sujeito e cidadão.
líticos de negociação entre os diversos atores soci- Na perspectiva do tratamento moral, o acolhi-
ais interfere na produção de conhecimento coleti- mento e o cuidado do usuário estaria centrado
vo acerca do sofrimento psíquico e na diminuição apenas na tolerância e no suprimento solicitado
do estigma social da loucura. pelo usuário. As metas da solidariedade e da dimi-
Deve-se ressaltar, ainda, que a implantação e a nuição das desigualdades sociais, necessárias para
consolidação das diretrizes e das propostas da re- que a pessoa considerada doente mental passe a
forma psiquiátrica supõem uma construção coleti- ter direitos e autonomia, seriam substituídas pelo
va que exige envolvimento dos atores dos diversos voluntarismo e pela compaixão.
segmentos da sociedade. O empenho e a organiza- Assim, os serviços e as equipes funcionariam
ção dos trabalhadores, dos usuários, dos familia- por impulso, seguindo o princípio do “quanto an-
res e das demais entidades da sociedade civil são tes melhor”, desvinculado, porém, de qualquer pre-
fundamentais. Mas, sem dúvida alguma, é impres- ocupação com as conseqüências que a ação pode-
cindível que os governos municipais rompam com ria provocar no usuário. Os serviços poderiam ou
um modelo de administração pública centrado na deveriam ofertar algo que suprimisse o pedido do
conservação e nas pequenas intervenções no espa- usuário, antes mesmo de acolhê-lo e ouvi-lo. Nessa
ço urbano, na construção de grandes obras, no fisio- perspectiva, a compaixão piedosa estaria sendo re-
logismo político, assumindo um projeto de gover- tomada como categoria de controle social, capaz de
no autônomo, centrado em políticas sociais e vol- contribuir para o estabelecimento de uma ordem
tado para a melhoria de vida de toda a população. social mais justa, porém desvinculada de qualquer
transformação das condições materiais geradoras
de desigualdades.
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Luzio CA, L’Abbate S

Em síntese, o processo de desinstitucionaliza- para os usuários e a população, para viabilizar sua


ção e a superação do modelo manicomial exigem organização e sua participação nesse processo.
transformações da sociedade para se construir uma
história que privilegie a vida, portanto, inserindo-
se no campo das lutas sociais. Porém, é possível
construir utopias no próprio cotidiano para viabi-
lizar a transição paradigmática exigida pelas dire-
trizes e propostas da reforma psiquiátrica, que es- Colaboradores
tariam centradas no investimento nos trabalhado-
res da Saúde Mental, principalmente no que se refe- CA Luzio foi autora da pesquisa original, participou
re à formação permanente dos profissionais dos de todas as etapas da elaboração do artigo; L’Abbate
serviços e na reformulação da formação profissio- orientou o estudo original e participou igualmente
nal. Tais utopias deveriam também estar voltadas de todas as etapas da elaboração do artigo.

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