Etnomusicologia

Renato Moreira Varoni de Castro
ETNOMUSICOLOGIA
São Luís
2022
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DREUDVHUUHPL[DGDDGDSWDGDHVHUYLUSDUDFULDomRGHREUDVGHULYDGDVGHVGHTXHFRP¿QVQmRFRPHUFLDLVTXHVHMD
DWULEXtGRFUpGLWRDRDXWRUHTXHDVREUDVGHULYDGDVVHMDPOLFHQFLDGDVVREDPHVPDOLFHQoD
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA
Reitor Professor Conteudista

Gustavo Pereira da Costa Renato Moreira Varoni de Castro
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Pró-Reitora de Graduação Designer Pedagógico
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Núcleo de Tecnologias para Educação
3URMHWR*Ui¿FRH'LDJUDPDomR
,OND0iUFLD5LEHLUR66HUUD&RRUG*HUDO
Josimar de Jesus Costa Almeida
Sistema Universidade Aberta do Brasil
,OND0iUFLD5LEHLUR66HUUD&RRUG*HUDO Capa
Rômulo Santos Coelho
0DULDGDV*UDoDV1)HUUHLUD&RRUG$GMXQWD_&RRUGGH&XUVR
Coordenação do Setor Design Educacional
'DQLHOOH0DUWLQV/)HUQDQGHV/LPD&RRUG3HGDJyJLFD
&ULVWLDQH3HL[RWR&RRUG$GPLQLVWUDWLYD
Castro, Renato Moreira Varoni de
(WQRPXVLFRORJLD >H%RRN@ 5HQDWR 0RUHLUD 9DURQL GH

&DVWUR±6mR/XtV8(0$QHW
I
,6%1,6%1
0~VLFD&XOWXUD6RFLHGDGH,7tWXOR
&'8
APRESENTAÇÃO
Cara(o) estudante,
A Etnomusicologia é uma área do conhecimento que estuda o

ID]HUPXVLFDOHPUHODomRjFXOWXUDHjVRFLHGDGH,VVRVLJQL¿FDGL]HUTXHR
etnomusicólogo não se interessa apenas pelos sons da música, mas por todo
RFRQWH[WRVRFLRFXOWXUDOTXHLQÀXHQFLDRID]HUPXVLFDOHpLQÀXHQFLDGRSRUHOH
Neste sentido, a etnomusicologia se diferencia de abordagens exclusivamente
musicológicas que tradicionalmente privilegiam o estudo do som da música em
VLRXDDQiOLVHGRUHJLVWURVRQRURQDSDUWLWXUD$FRQFHSomRPDLVDEUDQJHQWH
da etnomusicologia em relação aos estudos musicais a posiciona, desde sua
origem, como área interdisciplinar ou mesmo transdisciplinar, reunindo em
XPPHVPRHVWXGRPXVLFDOP~VLFDFXOWXUDHVRFLHGDGH
Normalmente, os etnomusicólogos são entusiastas da sua área de
estudos, para não dizer que são, verdadeiramente, apaixonados pelo que
ID]HP ,VWR VH H[SOLFD SRU YiULDV UD]}HV$R HVFROKHU XPD SUiWLFD PXVLFDO
para se aprofundar, o etnomusicólogo trabalha com um tipo de música o qual
VHLGHQWL¿FDRXTXHWHPPXLWDFXULRVLGDGHGHFRQKHFHUWHQGRRSULYLOpJLRGH
HVWDUODGRDODGRFRPDVSHVVRDVTXHPDQWrPYLYDVDVWUDGLo}HVPXVLFDLV
TXH DGPLUD 6XD SDUWLFLSDomR SRGH DVVXPLU YiULDV IRUPDV VHMD WRFDQGR
dançando, observando, conversando, entrevistando, gravando performances
e/ou convivendo por períodos mais ou menos longos, o que o possibilita
HVWUHLWDUUHODo}HVFRPRVJUXSRV³SHVTXLVDGRV´
Um outro aspecto da etnomusicologia que fascina seus praticantes é
a possibilidade de através da pesquisa musical poder agir politicamente em
IDYRUGHJUXSRVVRFLDLVPHQRVIDYRUHFLGRV8PDDomRSROtWLFDQHVWHVHQWLGR
pode se expressar de várias formas em uma pesquisa etnomusicológica;
desde a intervenção direta do pesquisador em benefício de uma comunidade
ou até mesmo pela colaboração horizontal, participativa e dialógica com as
SHVVRDV HQYROYLGDV FRP R REMHWLYR GH HPDQFLSDomR VRFLDO 4XDOTXHU TXH
VHMDDIRUPDGHSHVTXLVDDGRWDGDRVHWQRPXVLFyORJRVWrPFRPSURPLVVRV
sociais e humanitários com seus interlocutores e procuram sempre adotar
XPDSRVWXUDFUtWLFDWDQWRHPUHODomRjVLQMXVWLoDVVRFLDLVTXDQWRDRVVHXV
SUySULRVPpWRGRVGHWUDEDOKR
No entanto, esta breve apresentação não dá conta de explicar
todas as possíveis abordagens, correntes ou formas de se realizar estudos
HWQRPXVLFROyJLFRV,VVRYDLGHSHQGHUGHYiULDVSDUWLFXODULGDGHVGRSDtVGH
RULJHPGD¿OLDomRLQVWLWXFLRQDOGRHQIRTXHWHyULFRPHWRGROyJLFRGRSHUtRGR
KLVWyULFRRXPHVPRGRLQWHUHVVHLQGLYLGXDOGHFDGDSHVTXLVDGRU3RUWDQWR
OHLDFRPFDOPDHVWHHERRNTXHDR¿QDOYRFrWHUiXPDERDQRomRGDiUHDGH
(WQRPXVLFRORJLDHWDOYH]DWpPHVPRTXHLUDVHWRUQDUXPHWQRPXVLFyORJR
3URI5HQDWR0RUHLUD9DURQLGH&DVWUR
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
UNIDADE 1 – ETNOMUSICOLOGIA PRÉ-1945
1.1 INTRODUÇÃO
1.2 DA MUSICOLOGIA COMPARADA À ETNOMUSICOLOGIA
1.3 A ESCOLA DE BERLIM DE MUSICOLOGIA COMPARADA
1.4 CHARLES SEEGER E GEORGE HERZOG
RESUMO
REFERÊNCIAS
UNIDADE 2 – ETNOMUSICOLOGIA PÓS-1945
2.1 O TERMO ETNOMUSICOLOGIA
2.2 ALAN MERRIAM x MANTLE HOOD
2.3 TEORIA NA ETNOMUSICOLOGIA
2.4 USOS E FUNÇÕES DA MÚSICA
2.5 DEFINIÇÕES DE ETNOMUSICOLOGIA
2.6 ETNOMUSICOLOGIA NO SÉCULO XXI
RESUMO
REFERÊNCIAS
Licenciatura em Música
UNIDADE 3 – ETNOMUSICOLOGIA NO BRASIL
3.1 SUPERAÇÃO DO PARADIGMA FOLCLORISTA E

NACIONALISTA
3.2 ETNOMUSICOLOGIA NAS UNIVERSIDADES

BRASILEIRAS
3.3 ETNOMUSICOLOGIA EMANCIPATÓRIA BRASILEIRA
3.4 POR UMA ETNOMUSICOLOGIA ANTI-IMPERIALISTA

PÓS-GOLPE DE 2016
RESUMO
REFERÊNCIAS

1 8ඖඑඌඉඌඍ
ETNOMUSICOLOGIA PRÉ-1945
OBJETIVOS
x Aprender como surgiu a Etnomusicologia;
x Reconhecer suas características dentre os estudos musicais;
x ,GHQWL¿FDUDVWUDQVIRUPDo}HVGD(WQRPXVLFRORJLDTXDQGRPLJURX
GD(XURSDSDUDRV(8$
1.1 INTRODUÇÃO
Apresenta-se aqui a versão que o ilustre etnomusicólogo Bruno Nettl,

considerada a mais aceita sobre as origens e consolidação da etnomusicologia no
FRQWH[WRHXURSHXHQRUWHDPHULFDQR$WUDMHWyULDGDHWQRPXVLFRORJLDDSUHVHQWDGXDV
GLFRWRPLDVEiVLFDVDSULPHLUDGLYLGHDKLVWyULDGDGLVFLSOLQDHPGRLVSHUtRGRVSULQFLSDLV
um chamado de Musicologia Comparada, dominado por estudiosos germânicos que
faziam estudos históricos e analíticos a partir da gravação e coleta de artefatos com
ênfase na comparação, e outro denominado de Etnomusicologia, começando por
YROWDGHHPDUFDGRSHODDGRomRGRSUySULRWHUPRHWQRPXVLFRORJLDSRUDFDGrPLFRV
norte-americanos que estavam interessados em concentrar esforços no estudo de
músicas não ocidentais contemporâneas, utilizando várias metodologias de pesquisa
1(77/
A outra dicotomia apresentada por Nettl divide este segundo período em

GXDVDERUGDJHQVSULQFLSDLVXPDDQWURSROyJLFDTXHYrD(WQRPXVLFRORJLDFRPRXPD
subdivisão da Antropologia social e cultural e, portanto, enfatiza o estudo da música na
cultura, e outra musicológica, associada academicamente ao campo de música, e tendo
FRPR VXD SULQFLSDO FDUDFWHUtVWLFD R FRQFHLWR GH ³ELPXVLFDOLGDGH´ RX R DSUHQGL]DGR
ÀXHQWHGHXPLQVWUXPHQWRPXVLFDOGDFXOWXUDPXVLFDOGR³RXWUR´FRPRPpWRGRFHQWUDO
SDUDHVWXGRGHP~VLFDVQmRRFLGHQWDLV
Todos esses termos, conceitos e abordagens, e ainda muitos outros, serão

H[SOLFDGRVGHWDOKDGDPHQWHQHVWHHERRN1D8QLGDGHRIRFRVHUiQRGHVHQYROYLPHQWR
GD (WQRPXVLFRORJLD GHVGH R VpFXOR ;,; DWp R ¿QDO GD 6HJXQGD *XHUUD 0XQGLDO HP
8P IDWR FXULRVR GHVWD KLVWyULD p TXH QR SHUtRGR LQGLFDGR D (WQRPXVLFRORJLD
DLQGDQmRSRVVXtDHVWHQRPHVHQGRGHQRPLQDGDGH0XVLFRORJLD&RPSDUDGD
8
1.2 DA MUSICOLOGIA COMPARADA À ETNOMUSICOLOGIA
No contexto euro-americano, a interpretação mais aceita da História da

Etnomusicologia dá conta de sua origem como uma subdivisão da Musicologia, sendo
VXDFHUWLGmRGHQDVFLPHQWRDSXEOLFDomRHPGRDUWLJRUfmang, Methode und Ziel
der Mussikwissenschaft³2HVFRSRPpWRGRHPHWDGDPXVLFRORJLD´ pelo vienense
*XLGR$GOHU0XVLFRORJLDVLJQL¿FDYDRHVWXGRFLHQWt¿FRGDP~VLFDHDR
dividi-la em duas correntes, uma Histórica e outra Sistemática, Guido Adler tentou
estabelecer um modelo que abrangesse o máximo de especialização nas várias vertentes
dos estudos musicais, sendo uma delas denominada de MusikologieRX³0XVLFRORJLD
&RPSDUDGD´DSULPHLUDGHQRPLQDomRGD(WQRPXVLFRORJLD08**/(6721(
No modelo de Adler, a Musicologia HistóricaDERUGDULDDP~VLFDDUUDQMDGDHP

pSRFDVSRYRVLPSpULRVSDtVHVSURYtQFLDVFLGDGHVHVFRODVHDUWLVWDVLQGLYLGXDOPHQWH
6XDVXEGLYLVmRLQFOXLULD
$ 3DOHRJUD¿DPXVLFDOGHFLIUDomRGHGRFXPHQWRVKLVWyULFRVPDQXVFULWRVH
notação musical;
% &DWHJRULDVKLVWyULFDVEiVLFDVDJUXSDPHQWRGDVIRUPDVPXVLFDLV
& /HLV , &RPR LQFRUSRUDGD QD FRPSRVLomR PXVLFDO GH FDGD pSRFD ,,
Como concebida e ensinada pelos teóricos; (III) Como aparece na prática
as artes;
' ,QVWUXPHQWRVPXVLFDLV
Na Musicologia Sistemática, o modelo de Adler lidaria com a catalogação

GDVSULQFLSDLVOHLVDSOLFiYHLVjVYiULDVGLYLV}HVGD0~VLFD
$ ,QYHVWLJDomRHMXVWL¿FDomRGDVOHLVDF~VWLFDVHP,KDUPRQLD,,ULWPRH

(III) melodia;
% (VWpWLFDHSVLFRORJLDGDP~VLFDFRPSDUDomRHDYDOLDomRHPUHODomRDRV
temas percebidos;
9
& (GXFDomR PXVLFDO R HQVLQR GH P~VLFD HP JHUDO KDUPRQLD

FRQWUDSRQWR FRPSRVLomR RUTXHVWUDomR SHUIRUPDQFH YRFDO H
instrumental;
D. Musikologie ³0XVLFRORJLD FRPSDUDGD´ FRPSDUDomR GH WUDEDOKRV

PXVLFDLVHVSHFLDOPHQWHGHFDQo}HVIROFOyULFDVGRVYiULRVSRYRVGDWHUUD
FRPSURSyVLWRHWQRJUi¿FRHGHFODVVL¿FDomRGHVXDVIRUPDV(VWHLWHP
é convencionalmente considerado como precursor da etnomusicologia
FRPRiUHDDFDGrPLFD1(77/3,172
Porém, além da Musikologie ou musicologia comparada, que estabelece um ramo

GDPXVLFRORJLDGHGLFDGRDRHVWXGRHWQRJUi¿FRHFRPSDUDWLYRGHP~VLFDVQmRRFLGHQWDLV
IRLDLQGDQDGpFDGDGHTXHVXUJLUDPRXWUDVSXEOLFDo}HVHHYHQWRVTXHDQXQFLDUDPDV
SULQFLSDLVTXHVW}HVHSDUDGLJPDVGRTXHPDLVWDUGHYLULDDVHUFRQVLGHUDGRFRPRSUiWLFDV
FRPXQV QR FDPSR GD (WQRPXVLFRORJLD (UDP HOHV HVWXGRV LQWHUFXOWXUDLV GH P~VLFD
pesquisa de campo, o estudo de música na cultura, organologia comparada e atenção aos
SUREOHPDVGHDQiOLVHPXVLFDOWRGDVDSDUHFHQGRTXDVHVLPXOWDQHDPHQWH(VVDVTXHVW}HV
podem ser resumidas de um modo geral como o interesse dos estudiosos ocidentais de
FRPSUHHQGHUR³RXWUR´$OJXPDVYDULDo}HVGHVVDVSUiWLFDVMiHUDPHQFRQWUDGDVGHIRUPD
SLRQHLUDQDSXEOLFDomRGRDUWLJRGH&DUO6WXPSIVREUHRVtQGLRV%HOOD&RRODGD
América do Norte, que embora tivesse uma compreensão evolucionista das culturas de
povos iletrados e as considerasse como estágios anteriores em uma escala evolutiva da
humanidade, inaugurava a descrição detalhada de uma cultura e como novo paradigma de
SHVTXLVDHPP~VLFD1(77/
2VHJXQGRHYHQWRIRLDSULPHLUDJUDYDomRGHP~VLFDLQGtJHQDIHLWDHP
SRU-HVVH:DOWHU)HZNHVQRV(VWDGRV8QLGRVTXDQGRJUDYRXP~VLFDV
dos Passamaquoddy do Maine e dos Zuni do Arizona, utilizando o fonógrafo de Edison
FRPRIHUUDPHQWDGHSHVTXLVD2WHUFHLURHYHQWRGRVDQRVTXHPDUFRXRLQtFLR
da Musicologia comparada e por consequência da Etnomusicologia foi a publicação do
DUWLJR³6REUHDVHVFDODVPXVLFDLVGHYiULDVQDo}HVÓn the Musical Scales of Various
NationsGH$OH[DQGHU-RKQ(OOLV(VWHWUDEDOKRpIUHTXHQWHPHQWHFRQVLGHUDGR
FRPRRSULPHLURDIRUQHFHUXPHVWXGRFRPSDUDWLYRHQWUHP~VLFDVGHGLIHUHQWHVFXOWXUDV
$RFRQWUiULRGH$GOHUTXHHUDXPRXVDGRMRYHPSHVTXLVDGRU$OH[DQGHU(OOLV
10
HUDXPSHVTXLVDGRUPDGXURHXPD¿JXUDGLVWLQWDQDLQWHOHFWXDOLGDGHEULWkQLFD
HPTXHFRQWULEXtUDQDViUHDVGD3VLFRORJLD)RQpWLFD$F~VWLFDH0DWHPiWLFD
Ellis apresentou um aparelho de medição de intervalos musicais denominado

cents systemRQGHHOHHUDFDSD]GHGLYLGLUXPDHVFDODWHPSHUDGDGHVHPLWRQVHP
SDUWHVLJXDLVGLYLGLQGRSRUWDQWRFDGDVHPLWRPHPSDUWHVHTXLYDOHQWHV$
SUHFLVmRGRVHXVLVWHPDSHUPLWLXOKHID]HUDQiOLVHVREMHWLYDVGHHVFDODVQmRRFLGHQWDLV
e concluir que as escalas são produtos de escolhas culturais dos povos e não de leis
DF~VWLFDV(OOLVVXJHULDTXHIHQ{PHQRVDF~VWLFRVGHYHULDPVHUHVWXGDGRVSRUFLHQWLVWDV
ao invés de músicos, uma vez que quem está treinado, particularmente, em um sistema
PXVLFDO WHQGH D FRQVLGHUDU VRQV ³IDPLOLDUHV´ FRPR ³QDWXUDLV´ )RL H[DPLQDGR XP
JUDQGHQ~PHURGHVLVWHPDVGHWRQVHD¿QDo}HVHGHFODURXVHTXH³DHVFDODPXVLFDO
não é somente uma, não é natural e nem mesmo fundada necessariamente nas leis
TXHFRQVWLWXHPRVRPPXVLFDOPDVPXLWRGLYHUVDPXLWRDUWL¿FLDOHPXLWRFDSULFKRVD´
VHJXQGR(OOLVS2DFKDGRGH(OOLVFRORFRXHP[HTXHDVXSRVWDVXSHULRULGDGH
GR VLVWHPD GH D¿QDomR WHPSHUDGD GD P~VLFD RFLGHQWDO DEULQGR R FDPLQKR SDUD D
FRPSDUDomRWUDQVFXOWXUDOHQWUHVLVWHPDVPXVLFDLV6XDSHVTXLVDDMXGRXDVXSHUDUD
LGHLDGHTXHDVSUiWLFDVPXVLFDLVGDVFKDPDGDV³FXOWXUDVSULPLWLYDVÚHSUHVHQWDYDP
XPDIDVHLQLFLDOGDHYROXomRGDP~VLFDDUWtVWLFDHXURSHLD
)LJXUD,QWHUYDORGHRLWDYDGLYLGLGDHPVHPLWRQVWHPSHUDGRVQDFRUYHUPHOKDHD

LQGLFDomRGHVXDGLYLVmRHPSDUWHVFRPRQRcents systemGH$OH[DQGHU(OOLV
)RQWHKWWSK\SHUSK\VLFVSK\DVWUJVXHGXKEDVH0XVLFFHQWVKWPO
11
É importante destacar que tudo isso só foi possível com uma revolução
tecnológica que foi a invenção do fonógrafo pelo cientista norte-americano Thomas Alva
(GLVRQHP(VVDQRYDWHFQRORJLDIDFLOLWRXDSHVTXLVDGHFDPSRHVHHVSDOKRX
rapidamente em várias áreas do conhecimento, sendo usado por antropólogos,
missionários, naturalistas e turistas que passaram a gravar músicas de várias partes do
PXQGR)RLDSDUWLUGRIRQyJUDIRSRUWDQWRTXHVHS{GHHIHWLYDPHQWHJUDYDUHUHSURGX]LU
VRQV GH PDQHLUD D SHUPLWLU FRPSDUDomR HQWUH GLIHUHQWHV WUDGLo}HV PXVLFDLV 'HVWD
forma, a gravação de músicas em pesquisa de campo se tornou uma das técnicas mais
utilizadas para se coletar dados para os estudos de Musicologia Comparada e, mais
WDUGHGD(WQRPXVLFRORJLD
)LJXUD )UDQFHV'HQVPRUHJUDYDQGRRFKHIH%ODFNIRRWHP
)RQWHKWWSVHQZLNLSHGLDRUJZLNL)UDQFHVB'HQVPRUHPHGLD)LOH)UDQFHVB'HQVPRUHB
UHFRUGLQJB0RXQWDLQB&KLHIMSJ
12
1.3 A ESCOLA DE BERLIM DE MUSICOLOGIA COMPARADA
A musicologia comparada teve seu início com o estabelecimento do Arquivo

)RQRJUi¿FR GH %HUOLP %HUOLQ 3KRQRJUDPP$UFKLY SRU &DUO 6WXPSI ± H
VHJXLGR SRU VHXV FRODERUDGRUHV 2WWR$EUDKDP H (ULFK 0RWLW] YRQ +RUERVWHO ±
6WXPSIHUDXP¿OyVRIRDOHPmRHSVLFyORJRWHyULFRTXH¿FRXFRQKHFLGRSRUVXD
SHVTXLVDVREUHD3VLFRORJLDGDP~VLFD$EUDKDPHUDXPPpGLFRHSVLFyORJRWDPEpP
DOHPmRTXHVHGHGLFRXj3VLFRDF~VWLFDH3VLFRORJLDGDP~VLFDVHUYLQGRGHD
FRPRDVVLVWHQWHGH6WXPSIQR,QVWLWXWRGH3VLFRORJLDGD8QLYHUVLGDGHGH%HUOLP
Hornbostel era um musicólogo, etnólogo e químico austríaco, que depois de mudar
para Berlim passou a combinar estudos musicológicos com psicologia experimental
0&/($1S
)LJXUD)RQyJUDIRGH(GLVRQQR3KRQRJUDPP$UFKLYGH%HUOLP
)RQWHKWWSVZZZEHUOLQGHNXOWXUXQGWLFNHWVIRWRVPXVHHQJDOOHU\
KWPO"SDJH VOLGH
(P6WXPSIRUJDQL]RXXPDFROHomRGHFLOLQGURVGHFHUDGH(GLVRQTXH
HP LULD VH WRUQDU R$UTXLYR )RQRJUi¿FR GH %HUOLP R PDLV SURHPLQHQWH
em sua modalidade, tanto pelo grande número de artefatos colecionados, quanto pela
H[SHUWLVHGHVHXVSHVTXLVDGRUHV$FRQFHSomRGRDUTXLYRIRLXPVXFHVVRjpSRFDH
Hornbostel conseguiu reunir uma boa quantidade de colaboradores capacitados que
13
PDLV WDUGH LULDP GLYXOJDU VHXV PpWRGRV SHOR PXQGR 8P GHOHV IRL &XUW 6DFKV TXH
HP DVVRFLDomR D HOH GHVHQYROYHX R VLVWHPD +RUQERVWHO6DFKV GH FODVVL¿FDomR GRV
instrumentos musicais, Systematik der Musikinstrumente TXH FRP DOJXPDV
DOWHUDo}HVpDWpKRMHXWLOL]DGRHPJUDQGHVPXVHXVGRPXQGR1
)LJXUDVH&LOLQGURVGHFHUDGH(GLVRQQR3KRQRJUDPP$UFKLYGH%HUOLP
KWPO"SDJH VOLGH
)LJXUD$FHUYRIRQRJUi¿FRGR3KRQRJUDPP$UFKLYGH%HUOLP
KWPO"SDJH VOLGH
1
9HU0XVLFDOLQVWUXPHQWPXVHXPVRQOLQH0,02'LVSRQtYHOHPKWWSVPLPRLQWHUQDWLRQDOFRP0,02
14
Em termos teórico-metodológicos, Hornbostel considerava que a Musicologia

&RPSDUDGD WLQKD FRPR VHX SULQFLSDO REMHWR GH HVWXGR DV RULJHQV GD P~VLFD D
SUHVHUYDomR GH DUWHIDWRV PXVLFDLV H TXHVW}HV GH HVWpWLFD PDV R PDLV LPSRUWDQWH
SDUDRDXWRUHUDDXWLOL]DomRGHPpWRGRVHWpFQLFDVREMHWLYDVSDUDPHGLUWUDQVFUHYHU
HDQDOLVDUP~VLFDV1(77/2VSULPHLURVPXVLFyORJRVFRPSDUDWLYRVIRFDYDP
suas pesquisas, principalmente, na estrutura das músicas não ocidentais, tendo
FRPRREMHWLYRGHOLQHDUDVUHODo}HVKLVWyULFDVHJHQpWLFDVHQWUHVLVWHPDVPXVLFDLVGR
PXQGR 6XDV WHRULDV HUDP FRQVWUXtGDV HP WHUPRV GH HYROXomR VRFLDO H QD FUHQoD
de estágios invariantes no progresso das culturas, tendo a humanidade partido da
FXOWXUD³VHOYDJHP´SDVVDQGRSHOD³EiUEDUD´DWpFKHJDUj³FLYLOL]DGD´8PDGDVWHRULDV
presentes nos trabalhos da musicologia comparada estava baseada no difusionismo
e recebia a denominação de Kulturkreis, também chamada de teoria dos círculos
FXOWXUDLV $FUHGLWDYDVH TXH WUDoRV FXOWXUDLV DVVLP FRPR DUWHIDWRV H IRUPDV GH
RUJDQL]DomR VRFLDO HUDP FULDGRV VRPHQWH HP XPD GHWHUPLQDGD iUHD JHRJUi¿FD H
VHHVSDOKDYDPSHORPXQGRGHL[DQGRUDVWURVTXHLQGLFDYDPDVVXDVRULJHQV1HVWD
lógica, uma característica musical que se encontrasse muito difundida por várias partes
do mundo indicaria necessariamente sua hereditariedade de uma prática mais antiga
que de forma unidirecional teria se difundido para outros círculos culturais; por outro
ODGRWUDoRVFXOWXUDLVSRXFRGLVVHPLQDGRVLQGLFDULDPVHUHPPDLVUHFHQWHV(VWDQRomR
assumia uma fundamental não inventividade dos grupos humanos para criar formas
culturais paralelamente a outras culturas, sendo o único caminho possível a linearidade
KLVWyULFD
+RMH VH WHP D QtWLGD QRomR GH TXH HVWDV WHRULDV HUDP IDOVDV H DOWDPHQWH
etnocêntricas (ou eurocêntricas), assumindo à priori uma suposta superioridade da
FKDPDGD FXOWXUD RFLGHQWDO HP FRPSDUDomR jV GHPDLV$ FXOWXUD GR RFLGHQWH VHULD
pois, sempre a melhor, e todo o resto do mundo estaria em estágios inferiores de
GHVHQYROYLPHQWR FXOWXUDO e LPSRUWDQWH UHVVDOWDU TXH HVWH WLSR GH SHQVDPHQWR
HYROXFLRQLVWDGDP~VLFDMiIRLDEDQGRQDGRKiPXLWRWHPSRSHORVHWQRPXVLFyORJRVH
só poderiam vigorar em uma época em que se ignorava os muitos sistemas musicais
VR¿VWLFDGRVTXHVHWrPSHORPXQGR

Grove music RQOLQH 2[IRUG 0XVLF 2QOLQH 2[IRUG 8QLYHUVLW\ 3UHVV 'LVSRQtYHO HP KWWSZZZR[IRUGPXVLFRQOLQHFRPVXEVFULEHUERRNRPRB
JPR$FHVVRHPMDQ
15
'HD+RUQERVWHOIRLGLUHWRUGRDUTXLYRIRQRJUi¿FRGH%HUOLPHVy
SDURX VXDV DWLYLGDGHV FRP D FKHJDGD DR SRGHU GR UHJLPH QD]LVWD QD$OHPDQKD 2
VHXDOXQR*HRUJH+HU]RJVHWUDQVIHULXSDUDRV(8$WRUQDQGRVHXPDGDV¿JXUDV
FHQWUDLVQDFRQVROLGDomRGD(WQRPXVLFRORJLDFRPRiUHDDFDGrPLFD
1.4 CHARLES SEEGER E GEORGE HERZOG
A Etnomusicologia como campo do conhecimento e disciplina acadêmica se

FRQVROLGRXDRORQJRGRVpFXOR;;QRV(8$6XDWUDMHWyULDFRQWRXFRPDFRODERUDomR
GHDFDGrPLFRVFRPIRUPDo}HVGLYHUVDVHSURYHQLHQWHVGHYiULDVSDUWHVGRPXQGR
'RLVGRVPDLVUHOHYDQWHVQRSHUtRGRSUpTXDQGRDGLVFLSOLQDDLQGDVHFKDPDYD
0XVLFRORJLD &RPSDUDGD IRUDP R HVWDGXQLGHQVH &KDUOHV 6HHJHU ± H R
K~QJDUR *HRUJH +HU]RJ %UXQR 1HWWO DSRQWD 6HHJHU H +HU]RJ
FRPRSUHFXUVRUHVGD(WQRPXVLFRORJLDQRSDtVSRUpPFRPRH[SUHVV}HVGHSDUDGLJPDV
UDGLFDOPHQWHRSRVWRVGDiUHD&RQKHFHUXPSRXFRGDKLVWyULDHGDSURGXomRFLHQWt¿FD
desses autores será útil para se entender como o pensamento etnomusicológico foi se
FRQVWLWXLQGRDWUDYpVGRVWHPSRV
1HWWOLQIRUPDTXH&KDUOHV6HHJHUQmRVHFRQVLGHUDYDXPHWQRPXVLFyORJR

HPERUD WHQKD VHPSUH VH GHGLFDGR D SHQVDU TXHVW}HV TXH PDLV WDUGH YLULDP D VHU
centrais na Etnomusicologia como, por exemplo, o estudo da música na cultura e o
HVWXGRFRPSDUDWLYRGRVVLVWHPDVPXVLFDLV6HHJHUHVWDYDWDPEpPFRQVLVWHQWHPHQWH
envolvido com a música vernácula (ou música do dia a dia), tanto a música popular
urbana quanto a de tradição oral, que ele abordava com um enfoque mais amplo do que
VHID]LDFRPDFKDPDGDP~VLFD³IROFOyULFD´(VVHVLQWHUHVVHVFRLQFLGLDPFRPXPIRUWH
HQJDMDPHQWRHPUHIRUPDVRFLDOHSROtWLFDHQRSDSHOGDP~VLFDQHVVHSURFHVVR3RUpP
VHJXQGR1HWWORTXHPDLVFDUDFWHUL]D6HHJHUFRPRDOWDPHQWHVLJQL¿FDQWHQD
+LVWyULDGD(WQRPXVLFRORJLDQRUWHDPHULFDQDHUDVXDSHUVRQDOLGDGHDUURMDGD6HHJHUVH
tornara uma grande inspiração para seus alunos e pares, na medida em que estimulava
SRVWXUDVUDGLFDLVHQRYDVGLUHo}HVSDUDRSHQVDPHQWRPXVLFDOGHVSUH]DQGRRTXHRV
RXWURVDFKDYDPVREUHVXDVFRQFHSo}HV
16
1HWWOD¿UPDTXH6HHJHUQmRIRUMRXQHQKXPPpWRGRSDUWLFXODUDSDUWLU

das suas fontes de pesquisa; mais do que isso, continuou inovando de maneira
idiossincrática e se algumas vezes era difícil acompanhar suas ideias, mas era muito
IiFLOVHVHQWLULQVSLUDGRSRUHOH1(77/*HRUJH+HU]RJSRURXWURODGRWHQWRX
HVWDEHOHFHUXPDFRQVLVWHQWHPHWRGRORJLDSUiWLFDGHSHVTXLVDFRPHVSHFt¿FRVPpWRGRV
HWpFQLFDVRVTXDLVSRGHUVHLDVHJXLUIDFLOPHQWH1RHQWDQWRVXDUHWyULFDQmRHUDWmR
LQVSLUDGRUDTXDQWRDGH6HHJHUFRPHQWD1HWWOTXHFRQYLYHXFRPRVUHIHULGRV
HVWXGLRVRVHIRLRULHQWDGRSRU+HU]RJHPVHXGRXWRUDPHQWR
Herzog teve uma formação privilegiada à época, foi treinado em Musicologia

&RPSDUDGD SRU +RUQERVWHO QR DUTXLYR IRQRJUi¿FR GH %HUOLP H PXGRXVH SDUD RV
(VWDGRV 8QLGRV HP RQGH HVWXGRX$QWURSRORJLD QD 8QLYHUVLGDGH GH &RO~PELD
VREDRULHQWDomRGH)UDQ]%RDVeLQGLVSHQViYHOGHVWDFDUDLPSRUWkQFLD
GH )UDQ] %RDV SDUD D$QWURSRORJLD H SDUD D (WQRPXVLFRORJLD %RDV FULWLFDYD R TXH
FRQVLGHUDYDVHUHPHVWXGRVHVSHFXODWLYRVHUHGXFLRQLVWDVRX³SHVTXLVDVGHJDELQHWH´
(armchair researchSUDWLFDGDVSHORVDGHSWRVGD0XVLFRORJLD&RPSDUDGD(OHHQVLQDYD
para seus alunos da Universidade de Columbia o estudo holístico das culturas musicais
FRPDXWLOL]DomRGHSHVTXLVDVGHFDPSRHDGHVFULomRHWQRJUi¿FDGHWDOKDGDGHFDGD
JUXSR HVWXGDGR )RL GHIHQVRU GR UHODWLYLVPR FXOWXUDO D¿UPDQGR TXH FDGD FXOWXUD
possui uma estrutura interna de referência e, portanto, deveria ser estudada em seus
SUySULRVWHUPRV$OpPGLVVR%RDVUHMHLWDYDDLGHLDGHTXHOHLVXQLYHUsais governavam
DVGLQkPLFDVFXOWXUDLVGHIHQGHQGRRSDUWLFXODULVPRKLVWyULFRGDVFXOWXUDV
7RGDVHVVDVLGHLDVLQÀXHQFLDUDP+HU]RJTXHpFUHGLWDGRFRPRRSUHFXUVRU
da Escola Americana de Musicologia Comparada, combinando métodos de Hornbostel
FRP PpWRGRV GD DQWURSRORJLD FXOWXUDO GH %RDV (VVD SDUWLFXODULGDGH OKH GHX D
possibilidade de estabelecer algumas tendências que se consolidariam futuramente na
(WQRPXVLFRORJLDDLPSRUWkQFLDGDSHVTXLVDGHFDPSRIHLWDSHORSUySULRSHVTXLVDGRUR
PpWRGRFRPSDUDWLYRHDFULDomRGHDUTXLYRVPXVLFDLVGDVFXOWXUDVHVWXGDGDV*UDoDV
a Herzog e Boas, a Etnomusicologia norte-americana se distanciou da Musicologia
&RPSDUDGDSULQFLSDOPHQWHSRUTXHIRFDYDWDQWRQRVXVRVHIXQo}HVGDP~VLFDFRPR
em sua estrutura sonora, ultrapassando a ideia de coleção e comparação das músicas
GRPXQGR$(WQRPXVLFRORJLDSDVVDYDDVVLPVHDSUR[LPDUGDDQWURSRORJLDPDVLVVR
17
QmR IDULD D iUHD VH WRUQDU WRWDOPHQWH FRHVD &RPR VHUi YLVWR QD 8QLGDGH GHVWH
e-book, houve muita disputa e controvérsia em relação a quais seriam as melhores
DERUGDJHQVWHyULFRPHWRGROyJLFDVQRFDPLQKRGDFRQVROLGDomRGD(WQRPXVLFRORJLD
RESUMO
Nesta Unidade, foi abordada a origem da Etnomusicologia a partir da narrativa

GRPLQDQWHQD$PpULFDGR1RUWHH(XURSDQDSHUVSHFWLYDGH%UXQR1HWWO
)DORXVHGRDUWLJRGRYLHQHQVH*XLGR$GOHUTXHSXEOLFRXXPDUWLJRVREUH
RHVFRSRPpWRGRVHREMHWLYRVGD0XVLFRORJLDRQGHRDXWRUHVWDEHOHFH
XPD VXEGLYLVmR SDUD R HVWXGR HWQRJUi¿FR GD P~VLFD &RPHQWRXVH VREUH D
UHYROXomRWHFQROyJLFDGRIRQyJUDIRLQYHQWDGRSRU7KRPDV(GLVRQHPH
do cents system de Alexander Ellis que media com grande precisão as escalas
musicais, comprovando a não superioridade das músicas europeias sobre a de
RXWURVSRYRV&RPHQWRXVHVREUHD(VFRODGH%HUOLPGH0XVLFRORJLD&RPSDUDGD
HGROHJDGRGHL[DGRSRU+RUQERVWHOSDUDRTXHYLULDVHWRUQDUD(WQRPXVLFRORJLD
Apresentou-se as ideias de Herzog, Boas e Charles Seeger como autores
FHQWUDLVGD(WQRPXVLFRORJLDQRLQtFLRGRVpFXOR;;
18
(//,6$-2QWKHPXVLFDOVFDOHVRIYDULRXVQDWLRQVJournal of the Royal Society of

ArtsS
0&/($10Pioneers of ethnomusicology&RUDO6SULQJV)ORULGD/OXPLQD3UHVV

0(55,$0$3The anthropology of music.(YDQVWRQ1RUWKZHVWHUQ8QLY3UHVV

08**/(6721( ( $'/(5 * *XLGR $GOHU¶V ³7KH 6FRSH 0HWKRG DQG $LP RI
0XVLFRORJ\´ DQ HQJOLVK WUDQVODWLRQ ZLWK DQ KLVWRULFRDQDO\WLFDO FRPPHQWDU\
Yearbook for Traditional MusicYS
1(77/%Nettl’s elephant: RQWKHKLVWRU\RIHWKQRPXVLFRORJ\ 8UEDQD8QLYHUVLW\RI

,OOLQRLV3UHVV
1(77/ % The Study of Ethnomusicology: 7KLUW\7KUHH 'LVFXVVLRQV &KDPSDLJQ

8QLYHUVLW\RI,OOLQRLV3UHVV
1(77/%7KHGXDOQDWXUHRIHWKQRPXVLFRORJ\LQ1RUWK$PHULFDWKHFRQWULEXWLRQVRI
&KDUOHV6HHJHUDQG*HRUJH+HU]RJ,Q1(77/%%2+/0$139HGVComparative
musicology and anthropology of music: HVVD\VRQWKHKLVWRU\RIHWKQRPXVLFRORJ\
&KLFDJR8QLYHUVLW\RI&KLFDJR3UHVVS
3,1727 GH 2 DQRV GH HWQRPXVLFRORJLD H D iUHD IRQRJUi¿FD GD GLVFLSOLQD QR
%UDVLO ,Q ,, (QFRQWUR GD$VVRFLDomR %UDVLOHLUD GH (WQRPXVLFRORJLD 6DOYDGRU
Anais... 'LVSRQtYHO HP KWWSVRQVGREUDVLOEORJVSRWFRPHWQRPXVLFRORJLD
DQRVKWPO$FHVVRHPGH]
19
ETNOMUSICOLOGIA PÓS-1945
OBJETIVOS
x Entender a escolha do termo Etnomusicologia e os caminhos que
levaram à consolidação da área;
x Entender as ideias em torno da disputa entre Merriam e Hood e os

modelos de estudos etnomusicológicos;
x Conhecer as teorias sociais que dão suporte aos estudos

HWQRPXVLFROyJLFRVHDVGH¿QLo}HVGH(WQRPXVLFRORJLD
2.1 O TERMO ETNOMUSICOLOGIA
OSULPHLURJUDQGHGHVD¿RGD(WQRPXVLFRORJLDQRSyVJXHUUDIRLRIRUWDOHFLPHQWR
de sua identidade acadêmica dentre as áreas do conhecimento que com ela dividia os
REMHWRVHPHWRGRORJLDVGHSHVTXLVDFRPRD$QWURSRORJLDR)ROFORUHHD0XVLFRORJLD
Acadêmicos norte-americanos chegaram à conclusão de que deveria ser mudado
o nome da disciplina, que passou primeiro de Musicologia Comparada para etno-
PXVLFRORJLD FRP KtIHQ H ORJR HP VHJXLGD (WQRPXVLFRORJLD HP (PERUD
HP PXLWDV SXEOLFDo}HV DWULEXLVH D FULDomR GR WHUPR DR KRODQGrV -DDS .XQVW SHOD
publicação de seu livro Musicologica: a Study of the Nature of Ethnomusicology, its
Problems, Methods, and Representative Personalities, Bruno Nettl considera que o
termo Etnomusicologia poderia ter tido outras autorias; por exemplo, do ucraniano
.OHPHQW.YLWD1(77/S
O mais importante não era apenas a mudança do nome, mas o que ela
H[SUHVVDYDHPWHUPRVGHFRQFHSomRLQWHOHFWXDOHSUiWLFDDFDGrPLFD2SUH¿[R³HWQR´
MXQWRDRYRFiEXOR³PXVLFRORJLDÚHSUHVHQWDYDRFDUiWHULQWHUGLVFLSOLQDUGDiUHDHPDLV
GR TXH LVVR DVVXPLD GH¿QLWLYDPHQWH VXD DSUR[LPDomR FRP D$QWURSRORJLD VRFLDO H
FXOWXUDOHRVHXGLVWDQFLDPHQWRGD³PXVLFRORJLDFRPSDUDGD´GHRULJHPHXURSHLD2V
HWQRPXVLFyORJRV DFKDYDP TXH R DEDQGRQR GD H[SUHVVmR ³PXVLFRORJLD FRPSDUDGD´
VH MXVWL¿FDYD SRU HOD QmR VHU PDLV FRPSDUDWLYD GR TXH TXDOTXHU RXWUR FDPSR GR
FRQKHFLPHQWRHTXHDVFRPSDUDo}HVHQWUHDVIRUPDVGHVHID]HUP~VLFDVySRGHULDP
VHUFRWHMDGDVGHSRLVTXHIRVVHPHQWHQGLGDVSURIXQGDPHQWHQRVWHUPRVGHFDGDFXOWXUD
$OpPGLVVRDLQGDKDYLDDLQFHUWH]DVHHUDUHDOPHQWHUD]RiYHOUHDOL]DUFRPSDUDo}HV
transculturais para se chegar ao enunciado de leis universais, considerando-se que as
P~VLFDVHFXOWXUDVGRPXQGRHUDP~QLFDV1(77/
Essa mudança de paradigma da Etnomusicologia no período do pós-

guerra levou à criação de duas sociedades acadêmicas que impulsionaram sua
SUR¿VVLRQDOL]DomR D Society for Ethnomusicology (SEM), nos Estados Unidos da
América e o Internacional Council for Tradicional Music,&70QD(XURSD¬pSRFD
GHVXDFULDomRR,&70ORFDOL]DYDDP~VLFDQRFHQWURGHVHXGLVFXUVRUHÀHWLQGRXPD
preferência disciplinar de acadêmicos europeus pelo folclore musical e pela predileção
21
GHHVFUHYHUVREUHVXDSUySULDP~VLFD3RURXWURODGRDSociety for Ethnomusicology

estava menos preocupada com o tipo de música estudada e mais interessada em
GHVHQYROYHUPHWRGRORJLDVHHQFRUDMDUDLQWHUGLVFLSOLQDULGDGHHQWUHDVFLrQFLDVKXPDQDV
H VRFLDLV$V GXDV DVVRFLDo}HV MXQWDV WLYHUDP R PpULWR GH DXPHQWDU R SRWHQFLDO GD
HWQRPXVLFRORJLDSDUDLQFOXLUXPDPXOWLWXGHGHDERUGDJHQVSDUD³P~VLFDVGRPXQGR´
e músicas locais, tanto para abordagens antropológicas quanto musicológicas,
SRVVLELOLWDQGR TXH RV HWQRPXVLFyORJRV KRMH SRVVDP HVFROKHU D SDUWLU GH XP DPSOR
HVSHFWURGHPpWRGRVGLVFLSOLQDUHVHDOLQKDPHQWRVLQVWLWXFLRQDLV1
2.2 ALAN MERRIAM X MANTLE HOOD
Um dos autores que melhor representou os novos rumos da Etnomusicologia

H QD YHUGDGH XP GH VHXV JUDQGHV DUWt¿FHV IRL$ODQ 3 0HUULDP ± (P
VHX DUWLJR ³(WKQRPXVLFRORJ\ 'LVFXVVLRQV DQG 'H¿QLWLRQV RI WKH )LHOG´ HOH D¿UPDYD
que em seus primórdios a Etnomusicologia estava mais preocupada com sistemas
tonais e estruturas musicais, mas esta perspectiva havia mudado quando a disciplina
VHWUDQVIHULXSDUDRV(VWDGRV8QLGRVHSDVVRXDGDUrQIDVHQDVUHODo}HVHQWUHP~VLFD
HFXOWXUD'HVWDIRUPDGHIHQGHQGRRHVWXGRGDP~VLFDWDPEpPSHODVFLrQFLDVVRFLDLV
HQmRVRPHQWHSHODVKXPDQLGDGHVHSRUP~VLFRV0HUULDPGH¿QLXDFRPR³RHVWXGR
GDP~VLFDQDFXOWXUD´0(55,$0S1RVHXFOiVVLFR³The Anthropology of
Music´0HUULDPDSURIXQGDVHXVDUJXPHQWRVGHTXHD(WQRPXVLFRORJLDSRVVXtD
uma natureza dupla, pois carregava em si as sementes de sua divisão, de um lado
PXVLFROyJLFDHGRRXWURHWQROyJLFD
A música é um produto do homem e tem estrutura, mas sua estrutura não pode
WHU H[LVWrQFLD SUySULD GLYRUFLDGD GR FRPSRUWDPHQWR TXH D SURGX] $ ¿P GH
entender por que uma estrutura musical existe como existe, devemos também
entender como e por que o comportamento que a produz é como ele é e como e
por que os conceitos que fundamentam esse comportamento são ordenados de
WDOPDQHLUDDSURGX]LUXPDIRUPDSDUWLFXODUPHQWHGHVHMDGDGHVRPRUJDQL]DGR
0(55,$0S
1
Grove musicRQOLQH2[IRUG0XVLF2QOLQH>2[IRUG@2[IRUG8QLYHUVLW\3UHVVKWWSZZZR[IRUGPXVLFRQOLQHFRPVXEVFULEHUERRNRPRBJPR
$FHVVDGRHP

7UDGXomROLYUH

7UDGXomROLYUH
22
Para tal empreendimento, Merriam propôs um modelo de estudos com três níveis
DQDOtWLFRV$RHVWXGDUP~VLFDQDFXOWXUDRHWQRPXVLFyORJRGHYHULDDQDOLVDU,FRQFHLWRV
VREUHDP~VLFD,,FRPSRUWDPHQWRVHPUHODomRjP~VLFDH,,,RVRPPXVLFDOHPVL
3RUpPDRD¿UPDUTXHD(WQRPXVLFRORJLDHUDD$QWURSRORJLDGDP~VLFDHSURSRU
um modelo voltado primordialmente à Antropologia, Merriam sofreu críticas de alguns de
VHXVSDUHV2SULQFLSDOGHOHVIRL0DQWWOH+RRG±TXHGLIHUHQWHPHQWHGH0HUULDP
era principalmente um músico e defendia que o etnomusicólogo deveria ser um músico
ÀXHQWHQDFXOWXUDTXHSUHWHQGLDHVWXGDU)D]HQGRXPDDQDORJLDDRELOLQJXLVPRRXVHMD
DQHFHVVLGDGHGHVHIDODUÀXHQWHPHQWHDOtQJXDGRVSRYRVHVWXGDGRV+RRGHVFUHYHXR
artigo The Challenge of Bi-Musicality, onde demandava do etnomusicólogo que
VHWRUQDVVHÀXHQWHQDSUiWLFDLQVWUXPHQWDOGR³RXWUR´SRLVGHRXWUDPDQHLUDQXQFDLULD
FRQKHFHUVX¿FLHQWHPHQWHXPDFXOWXUDPXVLFDOHVWXGDGDDOpPGDVXD
A disputa Merriam versus Hood pode ser entendida como um embate de

WHQGrQFLDV GHQWUR GD (WQRPXVLFRORJLD 8PD PDLV DQWURSROyJLFD QD FRQFHSomR
de Merriam e seu modelo tripartite (conceito-comportamento-som), e outra mais
PXVLFROyJLFDFRPDLGHLDGHELPXVLFDOLGDGHGH+RRG6HSDUD0HUULDP(WQRPXVLFRORJLD
HUD R HVWXGR GD ³P~VLFD QD FXOWXUD´ H SRVWHULRUPHQWH ³P~VLFD FRP FXOWXUD´
0(55,$0DSXG1(77/SSDUD+RRGSDSXG0(55,$1
SD³>(WQR@PXVLFRORJLDpXPFDPSRGRFRQKHFLPHQWRTXHWHPSRUREMHWRD
LQYHVWLJDomRGDDUWHGDP~VLFDFRPRIHQ{PHQRItVLFRSVLFROyJLFRHVWpWLFRHFXOWXUDO
2 >HWQR@ PXVLFyORJR p XP SHVTXLVDGRU DFDGrPLFR H WHP FRPR REMHWLYR SULQFLSDO R
FRQKHFLPHQWRGDP~VLFD´0HUULDPFULWLFDYDDGH¿QLomRGH+RRGSRUFRQVLGHUiODVHU
a mesma proposta da Sociedade Americana de Musicologia, apenas com a adição do
SUH¿[R³HWQR´DRYRFiEXORPXVLFRORJLDHSRUWDQWRGDQGRrQIDVHPDLRUjP~VLFDHP
VL$KLVWyULDLQWHOHFWXDOTXHOHYRXDHVVDVDERUGDJHQVFRQÀLWDQWHVSRGHVHUWUDoDGD
SHOD¿OLDomRLQWHOHFWXDOGH0HUULDPjVLGHLDVGRVHXSURIHVVRU+HUNRYLWVTXHSRUVXD
vez foi aluno de Franz Boas (abordado na Unidade 1), que enfatizava a importância
GH VH HVWXGDU FDGD GRPtQLR GD FXOWXUD HP XPD LQYHVWLJDomR HWQRPXVLFROyJLFD 1R
FDVRGH+RRGVHH[SOLFDSHODLQÀXrQFLDGRWUDEDOKRGH$OH[DQGHU(OOLVHVXDDQiOLVH

7UDGXomROLYUHGRWUHFKR³>@FRQFHSWXDOL]DWLRQDERXWPXVLFEHKDYLRULQUHODWLRQWRPXVLFDQGPXVLFVRXQGLWVHOI´0(55,$0S

7UDGXomROLYUH³2GHVD¿RGDELPXVLFDOLGDGH´

7UDGXomROLYUH³>(WKQR@PXVLFRORJ\LVD¿HOGRINQRZOHGJHKDYLQJDVLWVREMHFWWKHLQYHVWLJDWLRQRIWKHDUWRIPXVLFDVDSK\VLFDOSV\FKRORJLFDO
DHVWKHWLFDQGFXOWXUDOSKHQRPHQRQ7KH>HWKQR@PXVLFRORJLVWLVDUHVHDUFKVFKRODUDQGKHDLPVSULPDULO\DWNQRZOHGJHDERXWPXVLF´
23
de sistemas de tons, através de seu professor Jaap Kunst, quando Hood se doutorou
QD+RODQGD(VVDGLVSXWDGRPLQRXRVDQRVGHHQD(WQRPXVLFRORJLDQRUWH
DPHULFDQD0&/($1
Figura 7 - Alan Merriam
)RQWHKWWSVHQZLNLSHGLDRUJZLNL$ODQB3B0HUULDPPHGLD)LOH$ODQB0HUULDPMSJ
)LJXUD&DSDGROLYURThe Anthropology of MusicGH$ODQ0HUULDP
)RQWHKWWSVERRNVJRRJOHFRPEUERRNVDERXW7KHB$QWKURSRORJ\BRIB0XVLF
KWPO"LG E8$)I&:RV& UHGLUBHVF \
24
)LJXUD0DQWOH+RRG
)RQWHKWWSVHQZLNLSHGLDRUJZLNL0DQWOHB+RRG
)LJXUD0DQWOH+RRGWRFDQGRRRebab
)RQWHKWWSVHQZLNLSHGLDRUJZLNL0DQWOHB+RRG
Embora a ênfase de cada autor possa ser diferente sobre qual seria o melhor
método ou abordagem aos estudos etnomusicológicos, percebe-se que ambos
entendiam que a música tinha alguma conexão com a cultura e, portanto, deveria ser
HVWXGDGDHPUHODomRDHOD$GLVFXVVmRVREUHRJUDXHWLSRGHUHODomRHQWUHP~VLFD
e cultura é um dos importantes temas da Etnomusicologia, pois os próprios conceitos
GHP~VLFDHFXOWXUDQmRVmRWmRyEYLRVFRPRSRGHPSDUHFHUjSULPHLUDYLVWD1HWWO
25
DSRQWDRFRQFHLWRGH&XOWXUDGH(GZDUG7\ORUFRPRWHQGRXPDJUDQGH

força explicativa e, ainda, sendo um valioso ponto de partida para se discutir a música
FRPR SDUWH GD &XOWXUD 7\ORU S DSXG 1(77/ S7 GH¿QH FXOWXUD
FRPR ³XP WRGR FRPSOH[R TXH LQFOXL FRQKHFLPHQWR FUHQoD DUWH PRUDO OHL FRVWXPH
e qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelos homens como membros de
XPDVRFLHGDGH´$RVHTXHVWLonar sobre as possíveis formas da música se encaixar
nesse todo complexo de Tylor, Nettl considera que esta associação é variada na
HWQRPXVLFRORJLDHYHPVHQGRUH¿QDGDDRORQJRGHVXDKLVWyULD1(77/
+RRGHPXPDVHJXQGDWHQWDWLYDGHGH¿QLomRD¿UPDYDTXHDHWQRPXVLFRORJLD
HUDRHVWXGRGDP~VLFD³QmRVRPHQWHHPWHUPRVGHODSUySULDPDVWDPEpPHPUHODomR
DRVHXFRQWH[WRFXOWXUDO´$3(/SDSXG1(77/S, o que não
ID]LDDYDQoDUDFRPSUHHQVmRGDOLJDomRHQWUHP~VLFDHFXOWXUD'HXPDIRUPDPDLV
integrada, o estudo da música na culWXUDGH0HUULDPHVXDDQWURSRORJLDGDP~VLFD
GHPDQGDYDPDLQFRUSRUDomRGRVRPGDP~VLFDRVFRQFHLWRVGRVSDUWLFLSDQWHV
e o comportamento em relação à música e, na verdade, todos os domínios da vida social
QXPHVWXGRHWQRPXVLFROyJLFR(VVHHQIRTXHDVVXPLDTXHRFRPSOH[RFXOWXUDOLQFOXL
DP~VLFDHTXHRVRXWURVGRPtQLRVGDFXOWXUDDIHWDPIRUWHPHQWHVHXGRPtQLR(UDD
aplicação do instrumental teórico-metodológico da Antropologia à serviço do estudo da
P~VLFD&RQWXGR$QWKRQ\6HHJHUDUJXPHQWDTXHD$QWURSRORJLDHDV&LrQFLDV
sociais, embora tenham a tradição de estudar a produção cultural dos povos, tendem a
GDU³XPDrQIDVHPDLRUjVIRUPDo}HVVRFLDLVHHFRQ{PLFDVGRTXHjP~VLFDHDVRXWUDV
artes, e tendem a isolar os processos econômicos daqueles que envolvem a linguagem,
DP~VLFDRXRVGHPDLVFRQFHLWRVHFRLVDVLQWDQJtYHLV´6((*(5S(PXPD
SHUVSHFWLYDPDLVUDGLFDO6HHJHUSURS}HXPD³DQWURSRORJLDPXVLFDO´HPTXHD
música possa ser considerada, ela própria, a força criadora do complexo da cultura e
QmRDSHQDVXPUHÀH[RRXXPHOHPHQWRGDPHVPD
Em vez de estudar a música na cultura (conforme propôs Alan Merriam em

DDQWURSRORJLDPXVLFDOHVWXGDDYLGDVRFLDOFRPRSHUIRUPDQFH(PYH]GH
pressupor uma matriz social e cultural preexistente e logicamente antecedente,
dentro da qual a música acontece, examina a maneira como a música faz parte
GDSUySULDFRQVWUXomRHLQWHUSUHWDomRGDVUHODo}HVHGRVSURFHVVRVVRFLDLVH
FRQFHLWXDLV6((*(5S
7
7UDGXomROLYUH

7UDGXomROLYUH
26
Figura 11 - Anthony Seeger
)RQWHKWWSVPXVLFZDVKLQJWRQHGXHYHQWVOHFWXUHSUHVHQWDWLRQDQWKRQ\VHHJHUXFOD
)LJXUD$QWKRQ\6HHJHUVHQGRSLQWDGRSHORV.ƭVrGMr
)RQWHKWWSVLPJVRFLRDPELHQWDORUJYSXEOLFR.LVHGMHNLVHGMHBMSJKWPO
27
)LJXUD/LYURGH$QWKRQ\6HHJHU3RUTXHFDQWDPRV.ƭVrGMr'LUHLWRVDXWRUDLV
GHVWLQDGRVDRV.ƭVrGMrGR$OWR;LQJ~QRHVWDGRGR0DWR*URVVR
)RQWHKWWSVZZZDPD]RQFRPEU3RUTXH&DQWDPRV.&$V&$$GM&$$
GS
Ainda que vários autores possam ter encontrado maneiras diferentes de

relacionar música e cultura em um estudo etnomusicológico, o modelo tripartite de
0HUULDP FRQFHLWRFRPSRUWDPHQWRVRP p FRQVLGHUDGR XP GRV PDLV LQÀXHQWHV QD
KLVWyULD GD GLVFLSOLQD 7RGDYLD 7LPRWK\ 5LFH PHVPR UHFRQKHFHQGR HVVD
LPSRUWkQFLDSURS{VXPDQRYDYHUVmRGHPRGHORSDUDDGLVFLSOLQDQRVHXDUWLJR³(P
GLUHomRjUHPRGHODomRGDHWQRPXVLFRORJLD´5LFHFRQVLGHUDYDTXHRPRGHORGH
0HUULDPWLQKDSHORPHQRVWUrVYDQWDJHQV3ULPHLURSRUHOHWHUVRPHQWHWUrVSDUWHVHUD
IiFLOGHVHUPHPRUL]DGR6HJXQGRPDLVGRTXHXPDOLVWDGHQtYHLVDQDOtWLFRVHOHSRVVXtD
DVTXDOLGDGHVGHFRPSOHWXGHTXHFDUDFWHUL]DYDPRGRPtQLRGD(WQRPXVLFRORJLD(P
terceiro lugar, o modelo de Merriam era uma proposta para a realidade de como uma
cultura musical funcionaria, sugerindo que os conceitos nativos sobre música poderiam
levar a uma mudança de comportamento com respeito à música, que por sua vez
DIHWDULDRVRPGDP~VLFD
7UDGXomROLYUHGH“Toward the Remodeling of Ethnomusicology”5,&(

28
%DVHDQGRVH QR DUJXPHQWR GH &OLႇRUG *HHUW] GH TXH RV VLVWHPDV
simbólicos seriam historicamente construídos, socialmente mantidos e individualmente
DSOLFDGRV5LFHSURS}HXPPRGHORSDUDRHVWXGRGRVSURFHVVRVIRUPDWLYRVGD
P~VLFDHPVRFLHGDGHDSDUWLUGHXPDSHUJXQWDFRPWUrVGLPHQV}HV³FRPRRVSRYRV
historicamente constroem, socialmente mantêm e individualmente criam e vivenciam a
P~VLFD"´5,&(S2XHPRXWUDVSDODYUDVRVHWQRPXVLFyORJRVGHYHULDP
investigar como a música é historicamente construída, socialmente mantida e
LQGLYLGXDOPHQWHFULDGDHYLYHQFLDGD5LFHDFUHGLWDTXHVHXPRGHORDPSOLDDSHUVSHFWLYD
central do modelo de Merriam, pois além de incorporar a importância do processo
social (predominante no modelo de Merriam), procura integrar a dimensão histórica,
SRUXPODGRHDH[SHULrQFLDHDJrQFLDLQGLYLGXDOSRURXWUR
$LQGDVREUHDVUHODo}HVHQWUHP~VLFDHFXOWXUDQHPWRGRVRVHWQRPXVLFyORJRV
concordavam com a centralidade dessa conexão ou com a natureza dela na musicalidade
KXPDQD1DGpFDGDGHHRDQWURSyORJRHHWQRPXVLFyORJREULWkQLFR-RKQ
Blacking procurou na biologia, ou melhor, na própria evolução humana, as raízes da
P~VLFD$ SURGXomR PXVLFDO DUJXPHQWRX %ODFNLQJ HUD EDVHDGD QR FRUSR KXPDQR
tanto em suas estruturas genéticas quanto físicas, tornando a música, portanto, uma
SUiWLFDHVSHFt¿FDGDHVSpFLHKXPDQDGHQWURGDQDWXUH]D$FXOWXUDQHVWHFDVRQmR
era essencialmente um contexto para a música, mas um produto de práticas musicais
que se combinavam com outras atividades humanas fundamentais para produzir a
VRFLHGDGH$P~VLFDVySRGHULDVHUWRWDOPHQWHHQWHQGLGDFRPR³VRPKXPDQDPHQWH
RUJDQL]DGR´ H RV HVWLORV GH P~VLFD VHULDP SRUWDQWR EDVHDGRV QR TXH R KRPHP
HVFROKHXVHOHFLRQDUGDQDWXUH]DFRPRSDUWHGHVXDH[SUHVVmRFXOWXUDO2DXWRUD¿UPD
³WRGD DomR H FRPSRUWDPHQWR PXVLFDO WrP TXH VHU REVHUYDGRV HP UHODomR jV VXDV
IXQo}HV DGDSWDWLYDV HP XP FRQWH[WR HYROXFLRQiULR WDQWR VH LVWR p OLPLWDGR j VXD
função dentro do mecanismo adaptativo de diferentes culturas, ou estendido às suas
IXQo}HVQDHYROXomRELRVVRFLDO´%/$&.,1*SDSXG1(77/S
O apelo de Blacking às ciências biológicas fazia os etnomusicólogos lembrarem que
o comportamento humano tem bases biológicas e que a cultura também é produto da
QDWXUH]D %ODFNLQJ HVWLPXORX R LQWHUHVVH HP IHQ{PHQRV PXVLFDLV UHODFLRQDGRV FRP
bases físico-performáticas, notadamente a dança, mas ele nunca teorizou totalmente
XPFRQMXQWRGHSDUkPHWURVELROyJLFRVSDUDDLQYHVWLJDomRHWQRPXVLFROyJLFD11

7UDGXomROLYUH
11
2OLYURPDLVFRQKHFLGRGH-RKQ%ODFNLQJpR+RZPXVLFDOLVPDQWUDGX]LGRSDUDYiULRVLGLRPDV
29
2.3 TEORIA NA ETNOMUSICOLOGIA
Uma das características que distingue a etnomusicologia de outras áreas

GRVHVWXGRVPXVLFDLVWHPVLGRDrQIDVHGDGDjWHRULD(PYiULRVSRQWRVGDKLVWyULD
alguma teoria em particular se tornou inspiradora e, mesmo, considerada quase
SHUIHLWDSDUDH[SOLFDURVIHQ{PHQRVPXVLFDLV1HWWOFRQVLGHUDTXHDWHRULDHP
Etnomusicologia é um termo que engloba premissas básicas para a pesquisa e faz
uma lista de hipóteses e pressupostos teóricos os quais considera que vêm sendo
DGRWDGRVSRUHWQRPXVLFyORJRV
O mundo musical pode ser explicado olhando-o como um grupo de músicas
e sistemas musicais distintos;
A música pode ser melhor entendida como um sistema de signos pelos
quais os humanos se comunicam;
Ela é melhor entendida através da combinação de perspectivas internas e
externas;
$ FXOWXUD PXVLFDO GH XPD VRFLHGDGH p R UHVXOWDGR GH UHODo}HV GH SRGHU
entre grupos de pessoas;
Ela afeta e é afetada por outros domínios da cultura;
O estilo musical é em parte resultado de estruturas sociais;
A música é universal nas culturas humanas;
2 FRQFHLWR GH ³P~VLFD´ p XPD FRQVWUXomR FXOWXUDO HVSHFt¿FD GH FDGD
sociedade;
A estrutura musical e, às vezes, o comportamento, podem ser explicados
por princípios da linguística e do comportamento da língua;
A música das culturas do mundo pode ser melhor entendida aplicando-se
PpWRGRVFRPSDUDWLYRV
)RQWH1HWWO
30
)LJXUD%UXQR1HWWO
)RQWHKWWSVPXVLFLOOLQRLVHGXQHZVUHPHPEHULQJEUXQRQHWWO
)LJXUD/LYURLQÀXHQWHGH%UXQR1HWWO
)RQWHKWWSVZZZJRRGUHDGVFRPERRNVKRZ7KHB6WXG\BRIB(WKQRPXVLFRORJ\
31
É importante observar que a lista acima mencionada por Nettl é baseada em

teorias sociais que não podem ser consideradas como entes estanques e facilmente
VHSDUiYHLV HP XQLGDGHV FRHUHQWHV$VVLP HODV SRGHP GLYLGLU DVSHFWRV FRP WHRULDV
anteriores, podendo se sobrepor e inter-relacionar-se, tornando difícil uma categorização
WRWDOPHQWH FODUD 0HVPR DVVLP 5XWK 6WRQH SURFXURX DUUDQMDU RV QRPHV GDV
abordagens teórico-metodológicas das áreas de ciências sociais e humanidades que
GHIRUPDLPSOtFLWDRXH[SOtFLWDWrPVLGRHPSUHJDGDVSRUHWQRPXVLFyORJRV2SULQFLSDO
REMHWLYR GHVWD OLVWDJXLD p VHUYLU GH UHIHUrQFLD SDUD TXH HWQRPXVLFyORJRV LQLFLDQWHV
tenham uma noção geral de onde suas ideias e seus trabalhos se encaixariam numa
ampla gama de possibilidades, ou ainda servir de inspiração teórico-metodológica
SDUDIXWXUDVSHVTXLVDV2LPSRUWDQWHpQmRREVFXUHFHURHVWXGRGRID]HUPXVLFDOFRP
enquadramentos teóricos inapropriados, pois as teorias devem, em última instância,
esclarecer as ideias e fortalecer a qualidade do diálogo intelectual ao invés de torná-lo
LQDFHVVtYHO
1. Evolucionismo cultural e difusionismo na musicologia comparada
Evolucionismo cultural na musicologia comparada – Teoria de que os traços

FXOWXUDLVVHPRYHPDWUDYpVGRWHPSRHHVSDoRDSDUWLUGRVHXSRQWRGHRULJHP$SRLD
DLGHLDGDSROLJrQHVH1HVWHFDVRSDUWHVHGRSUHVVXSRVWRGHTXHDP~VLFDHYROXLGR
VLPSOHVSDUDRFRPSOH[RQDPHGLGDHPTXHDVVRFLHGDGHVHYROXHP&HUWDVSUiWLFDV
musicais podem ocorrer em várias sociedades paralelamente, pelo fato de todos os
KXPDQRVGLYLGLUHPDVPHVPDVHVWUXWXUDVSVLFROyJLFDVFRQWDQWRTXHDWLQMDPXPFHUWR
grau de evolução;
Difusionismo na musicologia comparada – Teoria de que todas as culturas

estão evoluindo sempre para estágios mais altos e algumas alcançaram um estágio
PDLVDYDQoDGRTXHRXWUDV$SRLDDLGHLDGDPRQRJrQHVH2GLIXVLRQLVPRPXVLFDOIRL
amplamente utilizado na Musicologia Comparada por etnomusicólogos e seus estudos
VREUHDGLIXVmRGHLQVWUXPHQWRVPXVLFDLVD¿QDo}HVHHVFDODV3DUWHVHGRSUHVVXSRVWR
GHTXHWUDoRVFXOWXUDLVVmRGLIXQGLGRVRXVHPRYHPGHXPOXJDUSDUDRXWURQRWHPSR
+iDSHQDVXP~QLFROXJDUSRVVtYHOGHLQYHQomR
32
2. Abordagens estrutural-funcionalistas
Estudam fenômenos sociais em termos de suas consequências para toda a

sociedade;
Focam em vários sistemas (social, parentesco) que estão relacionados

entre si;
Permitem o etnomusicólogo estudar música de uma maneira que a integra

no complexo sociocultural que a envolve;
Permitem uma tentativa de explicar o papel da música como integradora da

vida em comunidade;
7rP FRPR UHIHUrQFLD H[HPSODU R FDStWXOR ³;,´ GR OLYUR ³Anthropology of

Music´GH$ODQ0HUULDPVREUHRVXVRVHIXQo}HVGDP~VLFD
3. Abordagens linguísticas
(WQRFLrQFLD±VLVWHPDGHFRQKHFLPHQWRGHXPDGDGDFXOWXUDHFODVVL¿FDo}HV
locais da sociedade;
Modelos de transformação gerativa – tipo de gramática estrutural

DVVRFLDGDDRWUDEDOKRGH1RDP&KRPVN\,$SDUWLUGHXPFRUSXVGHVRQVPXVLFDLV
R HWQRPXVLFyORJR SRGH LGHQWL¿FDU UHJUDV TXH JHUDP QmR VRPHQWH DTXHOH WLSR GH
FRUSXVPDVWDPEpPRXWURVSRVVtYHLVTXHVHFRQIRUPDPFRPDVPHVPDVUHJUDV,,
A estrutura profunda está ligada a estrutura de superfície, desenvolvendo regras para
DHVWUXWXUDSURIXQGDHGHVHQYROYHQGRUHJUDVSDUDSURGX]LUDHVWUXWXUDGHVXSHUItFLH
(III) A preocupação do etnomusicólogo é com o conhecimento implícito que aquele que
conhece os processos da música pode demonstrar ao etnomusicólogo;
6HPLyWLFD±WHPSURYLGRIRUPDOL]DomRSDUWLFXODUPHQWHQDVTXHVW}HVGHVLJ
QL¿FDGR,$VHPLyWLFDWHPGLIHUHQFLDGRRVQtYHLVVLQWiWLFRVVHPkQWLFRVHSDUDGLJPi
WLFRVGRFRQKHFLPHQWR,,$VHPLyWLFDWHPLOXPLQDGRXPDiUHDGRFRQKHFLPHQWRTXH
WHPSURYLGRFDPLQKRVIRUPDLVSDUDLQYHVWLJDURVHQWLGRRXVLJQL¿FDGRQDFRPXQLFD
omRPXVLFDOSDUWLFXODUPHQWHVLJQL¿FDGRVHPkQWLFR,,,$SHVTXLVDHPHWQRPXVLFROR
JLDWHPVHHQULTXHFLGRSHODVGHVFREHUWDVGDVHPLyWLFDDRORQJRGRWHPSR
33
4. Estruturalismo paradigmático
Abordagem ao estruturalismo que assume estruturas mentais similares;
&RQVWUXtGRHPXPVLVWHPDGHRSRVLo}HVRXRSRVWRV
2SRVLo}HVPHGLDGDVDWUDYpVGHWUDQVIRUPDo}HV
(VWUXWXUDVGHVXSHUItFLHPHQRVLPSRUWDQWHVGRTXHHVWUXWXUDVVXEMDFHQWHV
Toda performance musical é governada por um número limitado de categorias

RSHUDFLRQDLV QD HVWUXWXUD GD PHQWH (VVDV FDWHJRULDV PXVLFDLV VmR SULQFLSDOPHQWH
ELQiULDVRXRSRVLFLRQDLVHHVVDVRSRVLo}HVHPP~VLFDVmRPHGLDGDVSRUWUDQVIRUPDo}HV
5. Explicações marxistas
Todas as estruturas humanas têm raízes históricas/materiais e essas origens

precisam ser entendidas;
A análise marxista foca na relação entre classes socioeconômicas, tanto

dentro de uma dada sociedade como entre sociedades;
Ideologia é um sistema de crenças resultando em formas de condicionamento

cultural;
8PREMHWLYRGRVWHyULFRVPDU[LVWDVpLGHQWL¿FDUDLGHRORJLDQDVSURGXo}HV
culturais;
Outra preocupação dos marxistas é a mercantilização – a prática de se

relacionar pessoas ou coisas com base no seu valor de troca;
O capitalismo está continuamente buscando novos mercados e essa

busca por novos lugares para vender produtos e obter matérias-primas é a causa do
imperialismo;
Ideias são frequentemente estruturadas em termos dialéticos ou entre teses

HDQWtWHVHV
34
6. Teorias literárias e dramatúrgicas
0HWiIRUD ± SHUPLWH FRQVLGHUDo}HV FRQFHLWXDLV GH HOHPHQWRV GLVWLQWRV HP

uma mesma ideia – enfatiza a possibilidade de múltiplas perspectivas de análises –
LQFRUSRUDSHUVSHFWLYDVVXEMHWLYDVHREMHWLYDV
Modelos de dramaturgia – A vida no dia a dia é análoga ao encenamento

GUDPiWLFR H PXVLFDO QR SDOFR$OJXQV DVSHFWRV GD LQWHUDomR PXVLFDO VmR DEHUWRV H
GLVSRQtYHLVDRS~EOLFRHQTXDQWRRXWURVVmRHVFRQGLGRVGHVHXVSDUWLFLSDQWHV,QWHUDomR
musical é circunscrita espacialmente;
Desconstrução – Até o momento não há uma grande contribuição deste modo

de análise na etnomusicologia, mas tem sido empregado como base para abordagens
SyVPRGHUQDVQDVTXDLVHWQRPXVLFyORJRVWrPVHEDVHDGR
7. Cognição e teoria da comunicação
Cognição – Como performances musicais envolvem cognição, compete

ao etnomusicólogo saber algo sobre como os psicólogos consideram este fenômeno
que se baseia em psicologia experimental e se diferencia radicalmente da pesquisa
HWQRJUi¿FD
Teoria da Comunicação – Tem tido um impacto importante, porém difuso na

(WQRPXVLFRORJLD 2 PRGHOR GH FRPXQLFDomR VHPLyWLFRFLEHUQpWLFR GH 'RHGH 1DXWD
HPVHXOLYUR³The Meaning of Information´pFRQVLGHUDGRSRU5XWK6WRQHFRPR
GHSDUWLFXODULQWHUHVVHj(WQRPXVLFRORJLD
8. Teoria da performance em etnomusicologia
Estrutura de análise para explicar a performance oral baseada na

sociolinguística, performance teatral ou musicologia;
Considera que a performance aumenta a experiência, possibilitando uma

maior intensidade de comunicação entre performer e a audiência;
35
³3HUIRUPDQFHFXOWXUDO´±XQLGDGHGHDQiOLVHHPVRFLHGDGHVGHODUJDHVFDOD
nas quais pessoas exibem sua cultura para eles próprios e para visitantes;
³3HUIRUPDQFHFXOWXUDO´±)RFDQDSHUIRUPDQFHFRPRXPDWRWDOLGDGHHVXDV
UHODo}HVFRPRWRGRGDVRFLHGDGH
9. Gênero, etnicidade e questões de identidade
4XDGURGHLQYHVWLJDomRTXHIRFDQDSROtWLFDGHJrQHURVGHVLJXDOGDGHHQWUH
gêneros e sexualidade;
Teoria feminista – de acordo com as teorias feministas, o patriarcado é um

sistema ideológico que se autoperpetua e que mantém homens e mulheres em papéis
GHJrQHURQRVTXDLVSUHYDOHFHDGRPLQDomRPDVFXOLQD$FXOWXUDIRUPDWDRVJrQHURV
e os comportamentos associados a eles;
Etnicidade – Grupos sociais entendidos em termos de sua construção,

manutenção e negociação de fronteiras;
Etnicidade – Muitos grupos étnicos existem em um contexto de oposição a

outros grupos;
(WQLFLGDGH±ÇQIDVHVQDVGLIHUHQoDVDMXGDPDGH¿QLUHWQLFLGDGHV
,GHQWLGDGHUXUDOXUEDQD±UHODo}HVVRFLDLVFRPSOH[DVTXHVHGHVHQYROYHP
GHXPÀXLGRPRYLPHQWRHQWUHRLQWHULRUHDFLGDGH
Identidade nacional – agrupamento social de pessoas associadas a um

determinado estado-nação;
Identidade racial – Conceito social sobre pessoas baseado em um número

GH IDWRUHV ,GHQWLGDGH UDFLDO WDPEpP HVWi UHODFLRQDGD j FRU GD SHOH j FRPSRVLomR
JHQpWLFDRXjDXWRLGHQWL¿FDomRGDSHVVRD
36
10. Fenomenologia e etnomusicologia experiencial
$rQIDVHQDLQWHUDomRVRFLDOFRPREDVHSDUDDFRQVWUXomRGHVLJQL¿FDGR
estressa a interação como ponto de partida à pesquisa;
A atenção a aspectos processuais da música responde ao desequilíbrio de

muitas abordagens que enfatizam o produto musical;
Preocupação da relação da música com a língua e vários tipos de consciência

VREUHRFRQFHLWXDO
11. Pesquisa histórica
O tratamento histórico da pesquisa fornece um contexto ampliado como

forma de entender performances contemporâneas;
'RFXPHQWRV KLVWyULFRV HVFULWRV DMXGDP D FRUURERUDU KLVWyULDV RUDLV H D

FRQVLVWrQFLDHWQRJUi¿FD
Investigação etnomusicológica que enfatiza história traz métodos históricos

para lidar com tópicos que poderiam de outra forma ser excluídos da alçada do
HWQRPXVLFyORJR
12. Questões pós-modernas, pós-coloniais e globais
9DVWDV SRUo}HV GR PXQGR IRUDP GRPLQDGDV H VXERUGLQDGDV D SRGHUHV

coloniais durante os séculos anteriores, afetando profundamente a interação humana
assim como as performances musicais;
Frequentemente há a negação da conquista no mesmo momento em que

se estabelece a hegemonia;
Alguns traços intelectuais do pós-modernismo incluem a crise de

representação, o interesse na multivocalidade, o foco no poder da dinâmica social,
SUHRFXSDomR FRP TXHVW}HV GH KHJHPRQLD DVVLP FRPR TXHVW}HV VREUH D LOXVmR GH
autoridade do etnógrafo;
37
3yVPRGHUQLVWDVIRFDPHPXPFRQMXQWRGHGLVFXUVRVGHVFHQWUDGRVRQGH
uma autoridade única não existe;
2REMHWLYRGRVSyVPRGHUQLVWDVpUHYHODUSUREOHPDVLGHROyJLFRVTXHHVWmR
IUHTXHQWHPHQWH IRUD GD DWHQomR PDV WrP LPSRUWDQWHV LPSOLFDo}HV SDUD HQWHQGHU
qualquer situação particular;
A cultura da classe trabalhadora tem sido mal compreendida e subvalorizada;
3HVVRDV LGHLDV H P~VLFDV FLUFXODP HP ÀX[RV JOREDLV TXH WUDQVFHQGHP

fronteiras nacionais;
3RGHU GLQKHLUR H LGHLDV VH LQWHUUHODFLRQDP HP ÀX[RV JOREDLV RQGH D

FRPXQLFDomRUiSLGDIDFLOLWDRPRYLPHQWRGHVVDVHRXWUDVPHUFDGRULDV
2.4 USOS E FUNÇÕES DA MÚSICA
Há um longo caminho percorrido pela Etnomusicologia desde a publicação do

modelo de Merriam (som-conceito-comportamento) até as correntes pós-modernas e
pós-coloniais, mas a maioria dessas abordagens vem da antropologia sociocultural,
QDTXDOVHXVVHJXLGRUHVDFUHGLWDPTXHDVUHODo}HVVRFLDLVHQWUHLQGLYtGXRVRXPDLV
LPSRUWDQWH HQWUH JUXSRV GH SHVVRDV RX SRYRV VmR VLJQL¿FDQWHV HP H[SOLFDU RXWURV
GRPtQLRVGDVFXOWXUDV1HVWHVHQWLGRLGHQWL¿FDURVXVRVHIXQo}HVGDP~VLFDDLQGD
HQFRQWUDXWLOLGDGHSDUDSHVTXLVDVHWQRPXVLFROyJLFDV'HQWURGRHVWUXWXUDOIXQFLRQDOLVPR
TXHPPHOKRUHVWDEHOHFHXDVGLIHUHQoDVHQWUHRVXVRVHIXQo}HVGDP~VLFDIRL$ODQ
0HUULDP TXH GHGLFRX XP FDStWXOR LQWHLUR GR VHX OLYUR Anthropology of music
SDUDH[SRUHGHEDWHUHVWHWHPD
Merriam alerta que, apesar da descrição de uma prática musical por si só

VHULPSRUWDQWHHODpPDLVSRWHQWHTXDQGRDSOLFDGDDRHQWHQGLPHQWRGDVIXQo}HVH
VLJQL¿FDGRVSURIXQGRVQDVRFLHGDGH2HWQRPXVLFyORJRTXHUVDEHURTXHHVWDVP~VLFDV
³ID]HP´HFRPRHODV³ID]HP´SDUDDVSHVVRDV4XDQGRQyVIDODPRVGRVXVRVGDP~VLFD
estamos nos referindo às maneiras pelas quais a música é empregada na sociedade
38
humana, para a prática habitual ou o exercício costumeiro da música, tanto como uma
FRLVDHPVLRXFRPRXWUDVDWLYLGDGHV0(55,$0S1HVWDSHUVSHFWLYDRV
próprios membros de determinada sociedade são capazes de expressar seus usos a
SDUWLUGHXPDDYDOLDomRLQWHUQD
$IXQomRSRGHQmRVHUH[SUHVVDGDSHORSRQWRGHYLVWDGDDYDOLDomRLQGtJHQD>@
RVHQWLGRQHVVHVWHUPRVVHUHIHUHDRHQWHQGLPHQWRGRTXHDP~VLFDµID]¶SDUD
seres humanos como avaliado por observador externo que pretende ampliar seu
QtYHOGHFRPSUHHQVmR>@$P~VLFDpXWLOL]DGDHPFHUWDVVLWXDo}HVHVHWRUQD
parte delas, mas ela pode ou não ter uma função mais profunda (MERRIAM,
S
0HUULDPIH]XPDOLVWDGRTXHFRQVLGHURXVHUGH]IXQo}HVLPSRUWDQWHVGDP~VLFD
PDVDOHUWRXTXHHODVQmRVmRLQGHSHQGHQWHVRXIXQFLRQDPGHIRUPDWmRFDWHJRUL]DGD
A função de expressão emocional;
A função do prazer estético;
A função do entretenimento;
A função da comunicação;
A função de representação simbólica;
A função de reação física;
A função de compelir conformidade às normas sociais;
$IXQomRGHYDOLGDomRGDVLQVWLWXLo}HVVRFLDLVHULWXDLVUHOLJLRVRV
A função de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura;
$IXQomRGHFRQWULEXLomRSDUDDLQWHJUDomRGDVRFLHGDGH
7UDGXomROLYUHGHWRGDVDVIXQo}HVGDP~VLFDOLVWDGDVSRU0HUULDPS

39
2.5 DEFINIÇÕES DE ETNOMUSICOLOGIA
$LPSRUWkQFLDGHOLVWDUHFODVVL¿FDUDVGH¿QLo}HVGDHWQRPXVLFRORJLDVHGiSHOR
seu caráter interdisciplinar (ou transdisciplinar) e a grande variedade de abordagens,
áreas de interesses e metodologias de pesquisa empregadas na área ao longo do
WHPSR %UXQR 1HWWO ID] XPD FRPSLODomR H FODVVL¿FDomR GDV GH¿QLo}HV SRLV
considera que a identidade ou várias identidades da disciplina podem ser vislumbradas
nelas
1. 'H¿QLo}HVGHHWQRPXVLFRORJLDEDVHDGDVQRREMHWRGHHVWXGRHVFROKLGR
pelo pesquisador:
Estudo de músicas folclóricas e músicas que costumam ser chamadas de

³SULPLWLYDV´FRPRWULEDOLQGtJHQDRXP~VLFDVGRSDVVDGR
Músicas não ocidentais e folclóricas;
Todas as músicas fora da cultura do investigador;
Todas as músicas de tradição oral;
7RGDV DV P~VLFDV GH XPD GHWHUPLQDGD ORFDOLGDGH SRU H[HPSOR ³D
HWQRPXVLFRORJLDGH7yTXLR´
A música que uma determinada parte da população considera como dela,

FRPR³P~VLFDQHJUD´GR%UDVLORXGRV(VWDGRV8QLGRVSRUH[HPSOR
Toda a música contemporânea;
Toda a música humana;
7XGRSURGX]LGRQDFXOWXUDRXQDQDWXUH]DTXHSRGHVHUFRQVLGHUDGRP~VLFD

7UDGXomROLYUH
40
2. 'H¿QLo}HVGDHWQRPXVLFRORJLDSHODDWLYLGDGHWtSLFDGRSHVTXLVDGRU
Estudo comparativo de sistemas musicais e culturas (atividade essencialmente

musicológica);
Estudo compreensivo da cultura musical de uma determinada sociedade

(abordagem essencialmente antropológica);
Estudo de músicas como sistemas, talvez sistemas de signos (uma atividade

relacionada à linguística ou semiótica);
Estudo da música na cultura ou como cultura ou, talvez, música em seu

contexto cultural com técnicas derivadas da antropologia (frequentemente chamada de
³DQWURSRORJLDGDP~VLFD´
Estudo histórico da música fora do campo da música clássica ocidental

XVDQGRDERUGDJHQVGHKLVWRULDGRUHVHVSHFLDOLVWDVHPHVWXGRVGHiUHDHIROFORULVWDV
3. 'H¿QLo}HVTXHIRFDPQRVREMHWLYRV~OWLPRVGDHWQRPXVLFRORJLD
Procura por universais na música;
'HVFULomRGRVSDGU}HVGHVRPSURGX]LGRVSRUXPDVRFLHGDGH
8PFDPSRFXMDSUiWLFDLUiEHQH¿FLDUDKXPDQLGDGH
eLPSRUWDQWHDFUHVFHQWDUDTXLPDLVXPDGH¿QLomRGH(WQRPXVLFRORJLDQHVWH
caso, publicada na página da Society for Ethnomusicology (SEM), baseada nos EUA,
TXHpDPDLVLQÀXHQWHDVVRFLDomRGHHWQRPXVLFyORJRV
$FHVVRHPGH]

41
DEFINIÇÃO DA SOCIETY FOR ETHNOMUSICOLOGY
• (WQRPXVLFRORJLD p R HVWXGR GD P~VLFD QR VHX FRQWH[WR VRFLDO H FXOWXUDO

Etnomusicólogos examinam a música como um processo social em ordem para
HQWHQGHUQmRVRPHQWHRTXHpP~VLFDPDVVHXVLJQL¿FDGRSDUDVHXVSUDWLFDQWHVH
DXGLrQFLDV
• (OD p DOWDPHQWH LQWHUGLVFLSOLQDU Indivíduos trabalhando neste campo têm

treinamento em música, antropologia cultural, folclore, estudos de performance, dança,
estudos de área, estudos culturais, estudos de gênero, raça e etnicidade, ou outros
FDPSRVGDVKXPDQLGDGHVHFLrQFLDVVRFLDLV$LQGDDVVLPWRGRVRVHWQRPXVLFyORJRV
GLYLGHPXPDIXQGDomRFRHUHQWHQDVVHJXLQWHVDERUGDJHQVHPpWRGRV
DEmpregando uma perspectiva global em música (englobando todas as áreas

JHRJUi¿FDVHWLSRVGHP~VLFD
EEntendendo música como prática social (vendo a música como uma atividade
humana que está inter-relacionada com seus contextos sociais e culturais);
F(QJDMDQGRHPSHVTXLVDGHFDPSRHWQRJUi¿FDREVHUYDQGRHSDUWLFLSDQGR
QRID]HUPXVLFDOHDWLYLGDGHVUHODFLRQDGDVHHPSHVTXLVDKLVWyULFD
• (WQRPXVLFyORJRV WUDEDOKDP QXPD YDULHGDGH GH HVIHUDV &RPR

SHVTXLVDGRUHVHVWXGDPP~VLFDGHTXDOTXHUSDUWHGRPXQGRHLQYHVWLJDPDVFRQH[}HV
HPGLYHUVRVHOHPHQWRVGDYLGDVRFLDOHFXOWXUD&RPRHGXFDGRUHVHQVLQDPFXUVRVHP
músicas do mundo, música popular, o estudo cultural da música e uma variedade de
DXODV HVSHFLDOL]DGDV SRU H[HPSOR WUDGLo}HV PXVLFDLV VDJUDGDV P~VLFD H SROtWLFD
teoria e métodos);
• (WQRPXVLFyORJRV VmR WDPEpP DWLYRV HP WUDEDOKRV S~EOLFRV H DSOLFDGRV

Associando-se com comunidades musicais que estudam, etnomusicólogos podem
GRFXPHQWDU H SURPRYHU WUDGLo}HV PXVLFDLV RX SDUWLFLSDU HP SURMHWRV TXH HQYROYHP
SROtWLFDV FXOWXUDLV HGXFDomR UHVROXomR GH FRQÀLWR VD~GH VXVWHQWDELOLGDGH GR
PHLR DPELHQWH SURJUDPDomR DUWtVWLFD RX ³DGYRFDFLD´ HP GHIHVD GRV P~VLFRV
Etnomusicólogos frequentemente trabalham com museus, arquivos, arts-presenting
42
organizationsHVFRODVSULPiULDVHVHFXQGiULDVHPSUHVDVGHPtGLDHRXWUDVLQVWLWXLo}HV
TXHSURPRYHPDDSUHFLDomRHFRPSUHHQVmRGDVP~VLFDVGRPXQGR
2.6 ETNOMUSICOLOGIA NO SÉCULO XXI
1R ¿QDO GRV DQRV TXHVWLRQDYDVH VH D (WQRPXVLFRORJLD HUD XP
FDPSR XQL¿FDGR GH HVWXGRV RX XP DJORPHUDGR GH GLVFLSOLQDV WDPDQKR HUD VHX
GHVHQYROYLPHQWRHYDULHGDGHGHDERUGDJHQV6HVHXHVWDEHOHFLPHQWRFRPRGLVFLSOLQD
H[LJLXVHXIRUWDOHFLPHQWRFRPLGHQWLGDGHSUySULDQR¿QDOGRVpFXORXPDQRYDWHQWDWLYD
GH PXGDQoD GH QRPH UHÀHWLD R GHVFRQWHQWDPHQWR GH PXLWRV DFDGrPLFRV TXH QmR
consideravam que o termo ainda representasse suas práticas e perspectivas teóricas
QDiUHD6HSRUXPODGRSRGLDVHSHUFHEHUXPDHVWUXWXUDVyOLGDHPWRUQRGHXPFDPSR
FRPWHRULDPpWRGRSXEOLFDo}HVHDVVRFLDo}HVDFDGrPLFDVQDFLRQDLVHLQWHUQDFLRQDLV
SRURXWURDVXDFHQWUDOL]DomRGL¿FXOWDYDDLQFOXVmRGHGLYHUVDVRQWRORJLDVGDP~VLFD
HPHWRGRORJLDVGHLQYHVWLJDomRPXVLFDO
2IDWRpTXHDSHVDUGLVVRHODQmRSDURXGHFUHVFHUQR¿QDOGRVpFXOR;;H
LQtFLRGR;;,RTXHVHSRGHYHUL¿FDUQRVZHEVLWHVGD6(0 e o ICTM17, que dão conta
GHXPDVpULHGHHVSHFLDOL]Do}HVHiUHDVGHLQWHUHVVHGHQWURGD(WQRPXVLFRORJLD
ICTM
Músicas Africanas;
Etnomusicologia Aplicada;
Etnomusicologia Audiovisual;
Etnochoreologia;

*URYHPXVLFRQOLQH2[IRUG0XVLF2QOLQH>2[IRUG@2[IRUG8QLYHUVLW\3UHVVKWWSZZZR[IRUGPXVLFRQOLQHFRPVXEVFULEHUERRNRPRBJPR
$FHVVRHPGH]

6(0GLVSRQtYHOHPKWWSVZZZHWKQRPXVLFRORJ\RUJ$FHVVRHPGH]
17
,&70GLVSRQtYHOHPKWWSLFWPXVLFRUJ$FHVVRHPGH]
43
História Global da Música;
Fontes Históricas;
,FRQRJUD¿DGDV$UWHV3HUIRUPiWLFDV
Música e Dança Indígena;
0DTƗP
Estudos de Música Mediterrânea;
Música Multipart;
Música e Artes Aliadas do Grande Sul da Ásia;
Música e Dança na América Latina e Caribe;
Música e Dança no Sudeste Europeu;
Música e Dança da Oceania;
Música e Dança do Mundo Eslavo;
Música e Minorias;
Arqueologia musical;
Música no Mundo Árabe;
Música do Mundo de Língua Turca;
Música, Educação e Inclusão Social;
Música, Gênero e Sexualidade;
Instrumentos Musicais;
Músicas do Leste Asiático;
Artes Performáticas do Sudeste Asiático;
6RP0RYLPHQWRH&LrQFLDV
44
SEM
A Sociedade de Pesquisa musical Árabe (SAMR);
Grupo de Interesse Especial Anatólio Ecumene;
*UXSRGH,QWHUHVVH(VSHFLDOGH(VWXGRVSDUD'H¿FLHQWHVH6XUGRV
Grupo de Interesse Especial das Artes Performáticas Japonesas;
Grupo de Interesse Especial para Arquivamento;
Grupo de Interesse Especial para Música Celta;
Grupo de Interesse Especial para Etnomusicologia Cognitiva;
Grupo de Interesse Especial para Ecomusicologia;
Grupo de Interesse Especial para Etnomusicologia Econômica;
Grupo de Interesse Especial para a Música Europeia;
Grupo de Interesse Especial para a Música do Mundo Francófono;
Grupo de Interesse Especial para Jazz;
Grupo de Interesse Especial para a Música Judaica;
Grupo de Interesse Especial para Etnomusicologia Médica;
Grupo de Interesse Especial para Análise de Música;
Grupo de Interesse Especial para Música e Violência;
Grupo de Interesse Especial para a Música do Irã e Ásia Central;
Grupo de Interesse Especial para Organologia;
*UXSRGH,QWHUHVVH(VSHFLDOSDUD(VWXGRVGH9R]
&RPR SUDWLFDGD KRMH D (WQRPXVLFRORJLD FRQWULEXL QmR VRPHQWH SDUD

R FUHVFLPHQWR GD GLVFLSOLQD PDV WDPEpP HQJDMD DWRUHV HP XP SURFHVVR GH
45
UHPRGHODPHQWR H UHGH¿QLomR GR FDPSR TXH D FRORFD HP RSRVLomR j GLVFLSOLQD

que um dia se chamou etno-musicologia em meados do século XX, quando a
Musicologia Comparada foi redirecionada por acadêmicos norte-americanos e
HXURSHXV$VSHVTXLVDVHWQRPXVLFROyJLFDVMiQmRFRUUHVSRQGHPQHFHVVDULDPHQWH
aos assuntos, abordagens e metodologias dos clássicos da disciplina como há
DOJXPDVGpFDGDVDWUiV
([SUHVVDGR GH PDQHLUD VLPSOHV R SULQFLSDO REMHWR GH HVWXGR WHP VLGR
H[SOLFLWDPHQWHLGHQWL¿FDGRFRPRP~VLFDVHXIRFRpRHVWXGRGRID]HUPXVLFDO
humano e a base metodológica para pesquisa tem sido o trabalho de campo
SDUDGDUDSRLRjSURGXomRGHSHVTXLVDDFDGrPLFD2TXHHWQRPXVLFyORJRV
estudam e usam como fundação para seus estudos e outras atividades
KRMH VmR GH¿QLGRV PDLV DPSODPHQWH GR TXH QDV SULPHLUDV GpFDGDV LQFOXL
P~VLFD PDV SRGH WDPEpP IRFDU HYHQWRV VRQRURV H DF~VWLFRV 3HVTXLVDV
UHFHQWHVWDPEpPGHVD¿DPRVSULPHLURVPRGHORVFRPHVWXGRVTXHVHPRYHP
facilmente entre mundos humanos e não humanos para reconhecer, por
H[HPSOR UHODo}HV VRFLDLV HQWUH SHVVRDV H FRLVDV H PHVPR UHODomR HQWUH
QmR KXPDQRV FRPR HVVHQFLDO SDUD HQWHQGHU SURGXomR PXVLFDO H VRQRUD
7UDEDOKRGHFDPSRTXDVHIUHTXHQWHPHQWHLQFOXLVtWLRVItVLFRVHGLJLWDLV³HP
FDVD´ H QR H[WHULRU H LVVR HQJDMD HVWXGDQWHV H HVWXGLRVRV HP SHVTXLVDV
H HP DWLYLGDGHV DSOLFDGDV (QJDMDPHQWR VRFLDO VRPHQWH SDUD EHQH¿FLDU D
comunidade é o que demonstra a grande diferença; o propósito do trabalho
GHFDPSRKRMHQmRpSULPRUGLDOSDUDSURGX]LUHVWXGRVHWQRJUi¿FRVSDUDD
FRPXQLGDGHDFDGrPLFD3267S

7UDGXomROLYUH
46
RESUMO
Nesta Unidade, foi explicado como a Etnomusicologia adotou seu novo nome a partir de
XPDGHFLVmRGHHVWXGLRVRVPDMRULWDULDPHQWHQRUWHDPHULFDQRVTXHLPSXOVLRQDUDPR
HVWXGRFXOWXUDOGDP~VLFD(VVHVDFDGrPLFRVSDVVDUDPDXWLOL]DUUHIHUHQFLDLVWHyULFR
PHWRGROyJLFRVGD$QWURSRORJLDSDUDHVWXGDUDVVXQWRVPXVLFDLV9LXVHTXHRVWHyULFRV
Alan Merriam e Mantle Hood, ambos norte-americanos, possuíam perspectivas
FRQÀLWDQWHV VREUH D QDWXUH]D GRV HVWXGRV HWQRPXVLFROyJLFRV (P VHX PRGHOR
tripartite (som, comportamento e conceitos), Merriam defendia o estudo da música
na cultura, enquanto Hood era adepto da bi-musicalidade como método central para
FRQKHFHUXPDFXOWXUDPXVLFDO³HVWUDQKD´)RUDPDSUHVHQWDGDVYiULDVWHRULDVVRFLDLV
que os etnomusicólogos, consciente ou inconscientemente, utilizam para estudar os
IHQ{PHQRVPXVLFDLV(PVHJXLGDDSUHVHQWRXVHRXWUDVGH¿QLo}HVGH(WQRPXVLFRORJLD
EHPFRPRDVSDODYUDVGH-HQQLIHU3RVWFRPRLQWXLWRGHUHIRUoDURkPELWRGD
GLVFLSOLQDHVXDVSRVVLELOLGDGHVGHDERUGDJHPDWXDomRHVFRSRHREMHWLYRVQRPXQGR
FRQWHPSRUkQHR
+22' 0 7KH &KDOOHQJH RI ³%L0XVLFDOLW\´ Ethnomusicology Y Q S
0D\
0&/($10Pioneers of ethnomusicology.&RUDO6SULQJV)ORULGD/OXPLQD3UHVV

0(55,$0$3The anthropology of music.(YDQVWRQ1RUWKZHVWHUQ8QLY3UHVV

47
0(55,$0 $ 3 (WKQRPXVLFRORJ\ GLVFXVVLRQ DQG GH¿QLWLRQ RI WKH

¿HOGEthnomusicology.S
1(77/ % The Study of Ethnomusicology:7KLUW\7KUHH 'LVFXVVLRQV &KDPSDLJQ

8QLYHUVLW\RI,OOLQRLV3UHVV
3267-&Ethnomusicology:DFRQWHPSRUDU\UHDGHU9ROXPH,,1HZ<RUN5RXWOHGJH
7D\ORU )UDQFLV*URXS
5,&( 7 7RZDUG WKH 5HPRGHOLQJ RI (WKQRPXVLFRORJ\ Ethnomusicology S

5,&(7Modeling ethnomusicology1HZ<RUN2[IRUG8QLYHUVLW\3UHVV
SEEGER, A. 3RUTXHFDQWDPRV.ƭVrGMr6mR3DXOR&RVDF1DLI\.
6721(50Theory for Ethnomusicology1HZ-HUVH\3HDUVRQ(GXFDWLRQ
48
ETNOMUSICOLOGIA NO
BRASIL
OBJETIVOS
x Compreender as dinâmicas históricas e socioculturais que
favoreceram o crescimento da Etnomusicologia no Brasil;
x Compreender os contextos de inserção da Etnomusicologia na

universidade brasileira;
x Conhecer as características da Etnomusicologia no Brasil e suas

YHUWHQWHVHQJDMDGDVSROLWLFDPHQWH
3.1 SUPERAÇÃO DO PARADIGMA FOLCLORISTA E NACIONALISTA
$WUDMHWyULDGRVHVWXGRVVREUHP~VLFDHFXOWXUDQR%UDVLOHVWiOLJDGDDRLQWHUHVVH
dos intelectuais brasileiros em entender o próprio país através de sua formação
sociocultural com o intuito de resolver o problema de seu atraso frente aos países
GHVHQYROYLGRV (VWH HQWHQGLPHQWR IRL VH WUDQVIRUPDQGR GHVGH R ¿QDO GR VpFXOR ;,;
FRPDSURFODPDomRGD5HS~EOLFDDWpR¿QDOGRVpFXOR;;TXDQGRDHWQRPXVLFRORJLD
foi ganhando status de campo do conhecimento no Brasil, até ser institucionalizada em
YiULDVXQLYHUVLGDGHVEUDVLOHLUDV3DUDHQWHQGHUPRVVXDFRQVROLGDomRVHJXLUHPRVRV
FDPLQKRVVXJHULGRVSRU6X]HO5HLO\HPVHXDUWLJRBrazilian Musics, Brazilian
IdentitiesTXHLGHQWL¿FDDHPHUJrQFLDGDiUHDFRPRXPSURFHVVRDWUHODGRDRVHVWXGRV
PXVLFDLVHFXOWXUDLVHDRGHVHQYROYLPHQWRKLVWyULFRHSROtWLFRQDFLRQDLV
1R ¿QDO GR VpFXOR ;,; H LQtFLR GR VpFXOR ;; D LQWHOHFWXDOLGDGH EUDVLOHLUD
LQÀXHQFLDGD SRU WHRULDV UDFLDLV H FOLPiWLFDV YLQGDV GD (XURSD DFUHGLWDYD TXH R
DWUDVRGRSDtVHPUHODomRjVRXWUDVQDo}HVGRPXQGRVHMXVWL¿FDYDSRUXPDDOHJDGD
inferioridade genética motivada pela miscigenação entre as chamadas três raças
IRUPDGRUDVRtQGLRRQHJURHREUDQFRHXURSHXDOpPpFODURGRFOLPDWURSLFDOTXH
WRUQDYD VHXV KDELWDQWHV SUHJXLoRVRV SDUD R WUDEDOKR$ VROXomR SDUD HVWH SUREOHPD
seria a branqueamento da população brasileira, que se imaginava que poderia ocorrer
GHQWURGHXPRXGRLVVpFXORV8PGHVVHVSULPHLURVHVWXGLRVRVGDFXOWXUDEUDVLOHLUD
H DGHSWR GHVVDV LGHLDV IRL 6tOYLR 5RPHUR 1 DXWRU GH XPD LQ¿QLGDGH GH
OLYURVHDUWLJRVVREUHDVWUDGLo}HVSRSXODUHVEUDVLOHLUDVFRPREstudos sobre a poesia
popular no Brasil História da literatura brasileira H Cantos populares do
Brasil 5RPHURTXHHUDXPIHUYRURVRGHIHQVRUGHSROtWLFDVGHEUDQTXHDPHQWR
UDFLDODFKDYDTXHRVHVWXGLRVRVEUDVLOHLURVGHYHULDPLGHQWL¿FDUFRPRDPLVFLJHQDomR
UDFLDOVHH[SUHVVDYDQDSURGXomRFXOWXUDOGRSDtV2DXWRUFRQGHQDYDDLGHDOL]DomR
do índio, diferente de escritores românticos como José de Alencar, por considerar que
os negros tiveram uma participação maior na conformação social brasileira, além de
VHUHP UDFLDOPHQWH VXSHULRUHV DRV QDWLYRV GD WHUUD 9(1785$ S DSXG
5(,/<S
1
'LVSRQtYHOHPKWWSVSWZLNLSHGLDRUJZLNL6&$'OYLRB5RPHUR$FHVVRHPGH]
50
$SyV D ³VXUSUHVD´ LQLFLDO GH UHFRQKHFHU R SDtV FRPR PLVFLJHQDGR H TXH R

branqueamento não seria a solução para seu atraso, a intelectualidade brasileira
SURFXUDYD HQFRQWUDU RXWUDV UD]}HV SDUD H[SOLFDU R DFDQKDGR GHVHQYROYLPHQWR GR
%UDVLOHPUHODomRDRPXQGR3DVVRXVHDLGHQWL¿FDUHQWmRTXHRSUREOHPDQmRHUD
necessariamente uma questão racial e sim uma questão de desenvolvimento cultural,
pois faltava o país assumir-se como criador de sua própria cultura, uma cultura híbrida
H RULJLQDO TXH UHÀHWLVVH D FRPSRVLomR JHQpWLFD PLVFLJHQDGD GH VXD SRSXODomR 2
problema do país passou a ser, então, atribuído à histórica dependência cultural que
KDYLDVHGHVHQYROYLGRHQWUH%UDVLOH(XURSD
1yV WHPRV H[LVWLGR GHVGH R QRVVR QDVFLPHQWR FRPR XPD QDomR VHMD FRPR
,PSpULR RX 5HS~EOLFD VHMD GLUHWD RX LQGLUHWDPHQWH VRE D WXWHODJHP VH QmR
SROtWLFDSHORPHQRVPRUDOGD(XURSD3HQVDPRVFRPXPFpUHEURHVWUDQJHLUR
estamos vestidos por alfaiates estrangeiros; comemos uma dieta estrangeira; e
para coroar esse ato de servilismo, em nossa pátria, muitas vezes sufocamos
QRVVD OtQJXD PDWHUQD SDUD IDODU XPD OtQJXD HVWUDQJHLUD 0(648,7$
DSXG5(,/<S
8PDGDVUD]}HVKLVWyULFDVTXHWHULDPH[DFHUEDGRDVGLIHUHQoDVFXOWXUDLVHQWUH
Brasil e Europa era o impacto simbólico da transferência de toda a corte e da família real
SRUWXJXHVDSDUDR5LRGH-DQHLURHP*LOEHUWR)UH\UHGHVWDFRXTXHROX[R
e a opulência de uma corte europeia no Brasil afetavam negativamente a população
ORFDOTXHVHYLDHQYHUJRQKDGDGHVHXSUySULRMHLWRGHVHUOHYDQGRRVDUHMHLWDUVXD
SUySULDFXOWXUD5HODWRVGDXUEDQL]DomRHXURSHL]DomRHFLYLOL]DomRGDFLGDGHVHULDP
UHSHWLGRV SHOD PDLRULD GRV YLDMDQWHV H FURQLVWDV TXH YLYHUDP QR 5LR GH -DQHLUR QR
VpFXOR ;,; FRPR XP REMHWLYR GHFODUDGR H PHVPR XPD REVHVVmR GD PRQDUTXLD
SRUWXJXHVDGHGHPRQVWUDUSRGHUSRUPHLRGHVXDFDSLWDO1RFDPSRGDVDUWHVXPD
das medidas foi contratar músicos europeus de destaque para se apresentarem na
UHFpPFRQVWUXtGDFDSHODUHDOHQRWHDWUR6mR-RmR$PDLRULDGHOHVHUDPFDQWRUHVGH
ySHUDLWDOLDQRVTXHFREUDYDPJUDQGHVVRPDVGHGLQKHLURSDUDVHDSUHVHQWDUQR%UDVLO
O teatro se tornaria uma importante referência social para o novo posicionamento
do Rio de Janeiro, não apenas por suas performances musicais, mas também pela
SURGXomRWHDWUDOHHWLTXHWD$VVLPRVWHDWURVVHWUDQVIRUPDUDPHPORFDLVSDUDDSUHQGHU
PRGRVFLYLOL]DGRVHUH¿QDGRVQRVTXDLVDSUHVHQoDFRQVWDQWHGRPRQDUFDRXTXDGURV
FRPVXDLPDJHPQDFDEDQDUHDOQDVXDDXVrQFLDLQÀXHQFLDYDPRS~EOLFRVHMDSRU
51
FRQYLGDU DR FRPSRUWDPHQWR DGHTXDGR GXUDQWH DV DSUHVHQWDo}HV RX SRU PRVWUDU R
FRQWH~GR FLYLOL]DGRU GDV SHoDV$OpP GLVVR HP FKHJRX DR 5LR XP JUXSR GH
DUWLVWDVIUDQFHVHVFRPRREMHWLYRGHFULDUXPDDFDGHPLDGHDUWHVSOiVWLFDVQDFLGDGH
nos moldes da instituição francesa, porém a academia só foi realmente construída em
0$/(5%$
Tratava-se, portanto, de construir e valorizar uma identidade cultural brasileira

TXHUHÀHWLVVHRFDUiWHUPLVFLJHQDGRGHVXDSRSXODomRHVHGLVWDQFLDVVHGDVLQÀXrQFLDV
HXURSHLDVTXHQmRSHUPLWLDPRGHVHQYROYLPHQWRSUySULRHRULJLQDOGRSDtV$LQFRUSRUDomR
GDLGHLDGHKLEULGLVPRFXOWXUDOFRPRSURMHWRGDLQWHOHFWXDOLGDGHEUDVLOHLUDQRVpFXOR;;
DSDUHFH FODUDPHQWH QR WUDEDOKR GH 0iULR GH$QGUDGH QD SXEOLFDomR
de seu livro O ensaio sobre a música brasileira HP TXH 0iULR H[SOLFD VHXV
conceitos de modernidade e nacionalização e prescreve, tecnicamente, quais seriam
DVIRUPDVGHVHID]HUP~VLFDHQJDMDGDQDFRQVWUXomRGDQDFLRQDOLGDGHEUDVLOHLUD
Até há pouco a música artística brasileira viveu divorciada da nossa entidade

UDFLDO,VVRWLQKDPHVPRTXHVXFHGHU$QDomREUDVLOHLUDpDQWHULRUjQRVVDUDoD
$SUySULDP~VLFDSRSXODUGD0RQDUTXLDQmRDSUHVHQWDXPDIXVmRVDWLVIDWyULD
Os elementos que a vinham formando se lembravam das bandas de além, muito
SXURVDLQGD(UDPSRUWXJXHVHVHDIULFDQRV$LQGDQmRHUDPEUDVLOHLURVQmR6L
QXPDRXQRXWUDSHoDIROFOyULFDGRVPHDGRVGRVpFXORSDVVDGRMiVHGHOLQHLDP
os caracteres da música brasileira, é mesmo só com os derradeiros tempos do
,PSpULRTXHHOHVSULQFLSLDPDEXQGDQGR(UDIDWDORVDUWLVWDVGXPDUDoDLQGHFLVD
VHWRUQDUDPLQGHFLVRVTXHQHPHOD2TXHLPSRUWDp VDEHUVHDREUDGHVVHV
DUWLVWDVGHYHGHVHUFRQWDGDFRPRYDORUQDFLRQDO$FKRLQFRQWHVWiYHOTXHVLP
HVWDYHUL¿FDomRDWp SDUHFHRFLRVDPDVSDUDRPHLRPRGHUQREUDVLOHLURVHLTXH
QmRp$1'5$'(S
2DXWRUWDPEpPSUHVFUHYH
Um dos conselhos europeus que tenho escutado bem é que a gente se quiser
fazer música nacional tem que campear elementos entre os aborígenes pois que
VyPHVPRHVWHVpTXHVmROHJLWLPDPHQWHEUDVLOHLURV,VVRpXPDSXHULOLGDGHTXH
LQFOXLLJQRUkQFLDGRVSUREOHPDVVRFLROyJLFRVpWQLFRVSVLFROyJLFRVHHVWpWLFRV
8PDDUWHQDFLRQDOQmRVHID]FRPHVFROKDGLVFULFLRQiULDHGLOHWDQWHGHHOHPHQWRV
XPDDUWHQDFLRQDOMiHVWDIHLWDQDLQFRQVFLrQFLDGRSRYR2DUWLVWDWHPVyTXHGDU
SDUDRVHOHPHQWRVMi H[LVWHQWHVXPDWUDQVSRVLomRHUXGLWDTXHIDoDGDP~VLFD
SRSXODU P~VLFD DUWtVWLFD LVWR p LPHGLDWDPHQWH GHVLQWHUHVVDGD 2 KRPHP
52
GD QDomR %UDVLO KRMH HVWi PDLV DIDVWDGR GR DPHUtQGLR TXH GR MDSRQrV H GR
K~QJDUR 2 HOHPHQWR DPHUtQGLR QR SRSXODULR EUDVLOHLUR HVWi SVLFRORJLFDPHQWH
DVVLPLODGR H SUDWLFDPHQWH Mi p TXDVH QXOR %UDVLO p XPD QDomR FRP QRUPDV
VRFLDLVHOHPHQWRVUDFLDLVHOLPLWHVJHRJUi¿FRV2DPHUtQGLRQmRSDUWLFLSDGHVVDV
FRLVDVHPHVPRSDUDQGRHPQRVVDWHUUDFRQWLQXDDPHUtQGLRHQmREUDVLOHLUR2
TXHHYLGHQWHPHQWHQmRGHVWUXLQHQKXPGRVQRVVRVGHYHUHVSDUDFRPHOH6y
mesmo depois de termos praticado os deveres globais que temos para com ele
pTXHSRGHPRVH[LJLUGHOHDSUiWLFDGRGHYHUEUDVLOHLUR$1'5$'(S
$LQGDUHVVDOWDTXH
O período atual do Brasil, especialmente nas artes, é o de nacionalização.

Estamos procurando conformar a produção humana do país com a
realidade nacional... Pois toda arte socialmente primitiva que nem a nossa, é
DUWHVRFLDOWULEDOUHOLJLRVDFRPHPRUDWLYDeDUWHGHFLUFXQVWkQFLDeLQWHUHVVDGD
Toda arte exclusivamente artística e desinteressada não tem cabimento numa
IDVHSULPLWLYDIDVHGHFRQVWUXomReLQWULQVHFDPHQWHLQGLYLGXDOLVWD(RVHIHLWRV
GRLQGLYLGXDOLVPRDUWtVWLFRQRJHUDOVmRGHVWUXWLYRV2UDQXPDIDVHSULPLWLYLVWDR
LQGLYtGXRTXHQmRVLJDRULWPRGHODpSHGUHJXOKRQDERWLQD6HDJHQWHSULQFLSLD
PDWXWDQGR VREUH R YDORU LQWUtQVHFR GR SHGUHJXOKR H R FRQFHLWR ¿ORVy¿FR GH
MXVWLoDDSHGUD¿FDQRVDSDWRHDJHQWHPDQTXHMD³$SHGUDWHPGHVHUMRJDGD
IRUDéXPDLQMXVWLoDMXVWDIUXWDGHpSRFD$1'5$'(SJULIRQRVVR
Este outro trecho enfatiza que
2FULWpULRDWXDOGH0~VLFD%UDVLOHLUDGHYHVHUQmR¿ORVy¿FRPDVVRFLDO'HYHVHU
XPFULWpULRGHFRPEDWH$IRUoDQRYDTXHYROXQWDULDPHQWHVHGHVSHUGLoDSRUXP
motivo que só pode ser indecoroso (comodidade própria, covardia ou pretensão)
p XPDIRUoDDQWLQDFLRQDOHIDOVL¿FDGRUD2FULWpULRGHP~VLFDEUDVLOHLUDSDUDD
DWXDOLGDGHGHYHH[LVWLUHPUHODomRjDWXDOLGDGH$DWXDOLGDGHEUDVLOHLUDVHDSOLFD
DIHUUDGDPHQWHDQDFLRQDOL]DUDQRVVDPDQLIHVWDomR&RLVDTXHSRGHVHUIHLWD
H HVWi VHQGR VHP QHQKXPD [HQRIRELD QHP LPSHULDOLVPR 2 FULWpULR KLVWyULFR
atual da Música Brasileira é o da manifestação musical que sendo feita por
EUDVLOHLURRXLQGLYtGXRQDFLRQDOL]DGRUHÀHWHDVFDUDFWHUtVWLFDVPXVLFDLVGDUDoD
$1'5$'(S
Percebe-se, portanto, o discurso de construção da nacionalidade brasileira

D SDUWLU GD LQFRUSRUDomR GDV PDQLIHVWDo}HV FXOWXUDLV GH VHXV HOHPHQWRV pWQLFRV
3RUpPQRFDVRGH0iULR¿FDFODURTXHRHOHPHQWRLQGtJHQDQmRHVWDULDWRWDOPHQWH
incorporado na nacionalidade brasileira, a não ser de forma indireta, pois teria sido
53
³SVLFRORJLFDPHQWH DVVLPLODGR´ SHOR SRYR EUDVLOHLUR &RPR GLUHWRU GR GHSDUWDPHQWR

de cultura da cidade de São Paulo, Mário empreendeu e coordenou uma série de
YLDJHQVSHOR%UDVLOSDUDFROHWDUD³PDWpULDSULPD´TXHVHULDXWLOL]DGDSDUDVHXSURMHWR
QDFLRQDOLVWD$0LVVmRGH3HVTXLVDV)ROFOyULFDVDRQRUWHHQRUGHVWHGRSDtVHP
UHVXOWRXQDREWHQomRGHREMHWRVIRWRJUD¿DVHIRQRJUDPDVDOpPGH¿OPHV
TXHUHJLVWUDUDPWUDGLo}HVSRSXODUHVFRPRR[DQJ{WDPERUGHFULRXODWDPERUGHPLQD
FDWLPEyEDEDVVXrFKHJDQoDGHPDUXMRVEXPEDPHXERLHQWUHRXWURV&217,(5
S2XWURVIROFORULVWDVWDPEpPHPSUHHQGHUDPFROHWDGHPDWHULDLVSRSXODUHV
SHOR%UDVLOHVXDVLQWHQo}HVQmRVHGLIHUHQFLDYDPPXLWRHPPHDGRVGRVpFXOR;;
Um traço recorrente da produção folclorística – que vemos poder ser facilmente

ORFDOL]DGRQDVXDYHUWHQWHEUDVLOHLUD±p VXDrQIDVHQRVDVSHFWRV³DXWrQWLFRV´
H ³FRPXQLWiULRV´ GDV FXOWXUDV GR ³SRYR´ GH PDQHLUD D DSUHVHQWDU VXDV
PDQLIHVWDo}HVFRPRXPDEDVHDGHTXDGDSDUDDGH¿QLomRGRFDUiWHUQDFLRQDO
Associada a essa visão idealizada, encontramos, particularmente nos primeiros
IROFORULVWDV YiULDV GLVWRUo}HV QR PDWHULDO FROHWDGR QDV TXDLV RV YHUVRV VmR
corrigidos e os costumes de seus informantes são suavizados para corresponder
PDLV¿HOPHQWHDHVVDLPDJHP9,/+(1$S
Já no caso de Gilberto Freyre, em seu clássico Casa-grande e Senzala:

)RUPDomRGDIDPtOLDEUDVLOHLUDVRERUHJLPHGDHFRQRPLDSDWULDUFDOREUDVLOHLUR
PHVWLoRSRVVXtDXPDFRQ¿JXUDomRGLIHUHQWHGDGHIHQGLGDSRU0iULR)UH\UHDFUHGLWDYD
que a informalidade do sistema colonial brasileiro e a falta de exclusivismo racial dos
SRUWXJXHVHVFULDUDPXPFRQWH[WRGHUHODo}HVLQWHUUDFLDLVEHQLJQDQDTXDOEUDQFRV
negros e mestiços trabalhavam lado a lado de maneira mais ou menos harmoniosa
FRP REMHWLYRV FRPXQV 1HVWD REUD R PHVWLoR KtEULGR p FRQVLGHUDGR XP VtPEROR GD
unidade nacional, incorporando a síntese da disparidade social do país, como pode ser
SHUFHELGRQDVSDODYUDVGH)UH\UH
6HPTXHQR%UDVLOVHYHUL¿TXHSHUIHLWDLQWHUFRPXQLFDomRHQWUHVHXVH[WUHPRVGH
FXOWXUD±DLQGDDQWDJ{QLFRVHSRUYH]HVDWpH[SORVLYRVFKRFDQGRVHHPFRQÀLWRV
intensamente dramáticos como o de Canudos – ainda assim podemos nos felicitar
GH XP DMXVWDPHQWR GH WUDGLo}HV H GH WHQGrQFLDV UDUR HQWUH SRYRV IRUPDGRV
QDVPHVPDVFLUFXQVWkQFLDVLPSHULDOLVWDVGHFRORQL]DomRPRGHUQDGRVWUySLFRV
A verdade é que no Brasil, ao contrário do que se observa em outros países
da América e da África de recente colonização européia, a cultura primitiva –
WDQWR D DPHUtQGLD FRPR D DIULFDQD ± QmR VH YHP LVRODQGR HP ERO}HV GXURV
54
VHFRV LQGLJHVWRV LQDVVLPLOiYHLV DR VLVWHPD VRFLDO GR HXURSHX 0XLWR PHQRV
HVWUDWL¿FDQGRVH HP DUFDtVPRV H FXULRVLGDGHV HWQRJUi¿FDV )D]VH VHQWLU QD
presença viva, útil, ativa, e não apenas pitoresca, de elementos com atuação
FULDGRUDQRGHVHQYROYLPHQWRQDFLRQDO)5(<5(S
(VWD UHSUHVHQWDomR GR FDUiWHU EUDVLOHLUR VHUYLX GH EDVH SDUD RV REMHWLYRV
SRSXOLVWDV GH *HW~OLR 9DUJDV TXH GH D JRYHUQRX R SDtV IRFDQGR QD
LQGXVWULDOL]DomR H FRP XP IRUWH GLVFXUVR QDFLRQDOLVWD 2 VDPED JrQHUR SRSXODU
da cidade do Rio de Janeiro, foi propagado pela Rádio Nacional para todo o país,
promovendo a ideia de integração dos diversos grupos raciais e culturais do país e se
WRUQDQGRXPGRVPDLVGXUDGRXURVVtPERORVGDLGHQWLGDGHQDFLRQDOEUDVLOHLUD0HVPR
depois da queda do Estado Novo, a orientação nacionalista continuou a prevalecer na
obra dos intelectuais brasileiros, estivessem eles trabalhando com música folclórica,
SRSXODU RX P~VLFD GH FRQFHUWR (VWD DERUGDJHP SHUPDQHFHX YLJHQWH SRU WRGRV RV
DQRVGDGLWDGXUDPLOLWDUGHD5(,/<
Apesar da ligação entre pesquisa e construção da nação, muitos estudiosos

SURGX]LUDPWUDEDOKRVGHWDOKDGRVVREUHDP~VLFDEUDVLOHLUD8PDGDViUHDVTXHPDLVVH
GHVHQYROYHXIRLD+LVWyULDGDP~VLFDEUDVLOHLUD9DOHUHVVDOWDUTXHHVVDVKLVWyULDVDOpP
GHPDQWHUHPRTXHXPDQDUUDWLYDGHPLVFLJHQDomRHFRQÀXrQFLDSDUDDFULDomRGH
uma cultura nacional, também se caracterizavam por reproduzirem ideias e fatos umas
GDVRXWUDV%/20%(5*(PIRLSXEOLFDGDDSULPHLUD+LVWyULDGDP~VLFD
QR%UDVLOHVFULWDSRU*XLOKHUPHGH0HORA música no Brasil: desde os
WHPSRVFRORQLDLVDWpRSULPHLURGHFrQLRGD5HS~EOLFD2VHJXQGROLYURIRLA História da
Música Brasileira GH5HQDWR$OPHLGD1HVWHPHVPRDQRRLWDOLDQR
Vincenzo Cernicchiaro, radicado no Brasil, publicou a Storia della musica nel Brasile
Além do Ensaio sobre a Música Brasileira MiPHQFLRQDGR0iULRGH$QGUDGH
publica o &RPSrQGLRGH+LVWyULDGDP~VLFDEUDVLOHLUDTXH foi reeditado como a
Pequena História da Música HP7RGDYLDQHVWH~OWLPR0iULRUHIHUHVHj+LVWyULD
XQLYHUVDO GD P~VLFD UHVWULQJLQGR j P~VLFD EUDVLOHLUD DSHQDV GRLV FDStWXORV 5HQDWR
$OPHLGDUHHGLWDVXDREUDQRPHVPRDQRGH&RQWLQXDQGRFRPDOLVWDGHOLYURV
HP /XL] +HLWRU &RUUHLD GH$]HYHGR SXEOLFD R OLYUR 150 anos de
música no Brasil (1800-1950)(PIRLSXEOLFDGDDHistória da Música Brasileira
GH%UXQR.LHIHUHHPIRLSXEOLFDGDDHistória da Música no Brasil,
55
SRU9DVFR0DUL]%/20%(5*&DUOD%ORPEHUJTXHIRUQHFHXDOLVWDGRVOLYURVH

autores sobre História da música brasileira, sintetiza como esses trabalhos possuíam
caraterísticas que corroboram com a ideia de síntese cultural evolutiva da sociedade
EUDVLOHLUD
³1DV KLVWyULDV GD P~VLFD LGHQWL¿FDUDPVH GXDV IRUPDV GH µHYROXFLRQLVPR¶

A da concepção de uma música que evolui do simples para o complexo e a
segunda concepção, a da história baseada na evolução de gêneros musicais
H RX GH HVWLORV 1D SULPHLUD D QRomR GH HYROXomR YLVRX D IRUPDomR GH XPD
XQLGDGHQDFLRQDO1HVWDOHLWXUDLQFOXHPVHDVREUDVGH>*XLOKHUPHGH@0HORH
[Renato] Almeida, nas quais se tentou sintetizar as várias identidades musicais,
HP SURO GH XPD XQLGDGH 3DUD 0HOR SRU H[HPSOR ³UHFRQKHFHUVHLD D DUWH
PXVLFDO GH XP SDtVDWUDYpVGD LQÀXrQFLD GRV SRYRV TXH FRQWULEXtUDP SDUD D
FRQVWLWXFLRQDOL]DomR GH VXD QDFLRQDOLGDGH´$ FUHQoD GHVWHV DXWRUHV EDVHRX
VH QD LGHLD GH XPD PHVWLoDJHP TXH QmR DSUHVHQWRX FRQÀLWRV QHP VRFLDLV
nem políticos, e que permaneceu isenta de problemas na sua apropriação de
GLIHUHQoDVHQDWUDQVPLVVmRGHVXDVFDUDFWHUtVWLFDV(VWDPDQHLUDGHGHVFUHYHU
R SURFHVVR JHURX D LPSUHVVmR GH TXH D P~VLFD EUDVLOHLUD Mi QDVFHUD PLVWD
0HOR DR GHVFUHYHU R TXH FKDPRX GH ³SHUtRGR FRORQLDO´ GHX D HQWHQGHU TXH
a mestiçagem musical e racial havia acontecido sempre, e que as formas e
JrQHURV PXVLFDLV DOL DSUHVHQWDGRV Vy SUHFLVDUDP VHU ³GHVHQYROYLGRV¶ FRP R
SDVVDUGRVWHPSRV´%/20%(5*S
De fato, pode-se constatar que as histórias da música brasileira partem da

ideia de um período formativo onde músicas de índios, africanos e europeus foram
se misturando até a consolidação de gêneros populares, como a modinha e o lundu
QRVpFXOR;,;TXHVHULDPDPERVIXV}HVHQWUHP~VLFDQHJUDRULJLQiULDGRVEDWXTXHV
e calundus com formas de canção portuguesas, tendo a primeira se africanizado
H D VHJXQGD VH HXURSHL]DGR $R HQWUDU QR VpFXOR ;; QDUUDWLYDV FDQ{QLFDV VmR
construídas, abordando, por um lado, o movimento Modernista que estaria atrelado à
³JUDQGHDUWH´GDP~VLFDHSRURXWURDFRQVROLGDomRGRVDPEDFRPRJrQHURSRSXODU
QDFLRQDO&RPDDEHUWXUDSROtWLFDHPDRULHQWDomRQDFLRQDOLVWDGDSHVTXLVDHP
música no Brasil começou a ser revista criticamente, promovendo uma nova tendência
direcionada a desmantelar a mitologia das três raças que havia dominado o Brasil na
HVIHUDPXVLFROyJLFD5(,/<
Este é um momento particularmente empolgante para a pesquisa musical no

%UDVLO HYLGHQFLDGR SHOD H[SORVmR GH SXEOLFDo}HV GH DOWD TXDOLGDGH TXH VH
56
WRUQDUDPGLVSRQtYHLVQRV~OWLPRVGH]DQRVRXHQWmR(PWHUPRVJHUDLVSRGH
VHGL]HUTXHRGHEDWHDWXDOHVWiFHQWUDGRQDVGXDVIDFHVGDPHVPDPRHGDGH
XPODGRKiSHVTXLVDGRUHVHQJDMDGRVHPDYDOLDo}HVFUtWLFDVGDVIRUPDVFRPR
a música tem sido implicada na construção da identidade nacional brasileira (ver
0HQH]HV %DVWRV 4XLQWHUR5LYHU D 5HLO\ 9LDQQD
>@ H RXWURV H SRU RXWUR ODGR Ki DTXHOHV TXH GHIHQGHP XPD QRomR GH
P~VLFD EUDVLOHLUD TXH VHMD FDSD] GH DEUDQJHU D PXOWLSOLFLGDGH GH LGHQWLGDGHV
TXHVHFRQVWURHPPXVLFDOPHQWHQRWHUULWyULRQDFLRQDO5(,/<S
3.2 ETNOMUSICOLOGIA NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
Em seu balanço sobre a institucionalização da Etnomusicologia nas

XQLYHUVLGDGHV EUDVLOHLUDV (OL]DEHWK 7UDYDVVRV GHVWDFD TXDWUR DVSHFWRV GR
FRQWH[WRFXOWXUDOHLQWHOHFWXDOTXHIDYRUHFHUDPWDOHPSUHHQGLPHQWR³DGHVORFDPHQWR
do paradigma da evolução nacional, que dominou a produção musicológica brasileira;
EFUHVFLPHQWRGDGLVFLSOLQDVLPXOWDQHDPHQWHjVGLVFXVV}HVVREUHDFULVHGRFRQFHLWR
GHFXOWXUDFUHQRYDomRGDVSUHRFXSDo}HVFRPDFLVmRHQWUHGLVFXUVRVRQRURPXVLFDO
HGLVFXUVRYHUEDOGUHQRYDomRGDVSUHRFXSDo}HVFRPDLQG~VWULDFXOWXUDOHFRPD
PHUFDQWLOL]DomRGDVSUiWLFDVFXOWXUDLV´
2SULPHLURMiGHEDWLGRQDVHomRDQWHULRUIRLD,³VXSHUDomRGRSDUDGLJPDGD
QDFLRQDOL]DomRTXHRULHQWRXDVDERUGDJHQVGDP~VLFDGHVGHRLQtFLRGRVpFXOR;;´
Ao invés de única possibilidade de compreender a música brasileira, tal paradigma
SDVVRX D VHU XPD SRVVLELOLGDGH GHQWUH PXLWDV RXWUDV7UDYDVVRV DFUHVFHQWD TXH DV
grandes narrativas da música brasileira abrangiam a música popular, porém, no início
do século XX, ainda não havia se difundida a palavra folclore para designar as culturas
HP~VLFDVGHWUDGLomRRUDOVLWXDGDVIRUDGRPHUFDGR

7UDGXomROLYUH

$OJXQVDFRQWHFLPHQWRVDSRQWDGRVSRU7UDYDVVRVTXHLPSXOVLRQDUDPDHWQRPXVLFRORJLDQR%UDVLOIRUDP³$IXQGDomRGD$VVRFLDomR%UDVLOHLUD
de Etnomusicologia (ABET), no âmbito da Conferência do International Council for Traditional MusicQR5LRGH-DQHLURHP2SULPHLUR
HQFRQWURGD$%(7HP5HFLIHFULDomRGRV/DERUDWyULRVGH(WQRPXVLFRORJLDGD8)5-HGD8)0*´75$9$6626S
57
2 HVWXGR GD HQWmR FKDPDGD P~VLFD SRSXODU JLUDYD HP WRUQR GD LGHQWL¿FDomR
GDVFRQWULEXLo}HVGHFDGDXPDGDV³UDoDVÍRUPDGRUDV±FRPRVHGL]LD±SDUD
DVtQWHVHQDFLRQDO$LQVWLWXFLRQDOL]DomRGDHWQRPXVLFRORJLDQR%UDVLORFRUUH
SRLVDR¿PGDKHJHPRQLDHVWpWLFDGRQDFLRQDOSRSXODUH±QXPRXWURUHJLVWUR
±FRPRXPGRVIUXWRVGHXPDUHGH¿QLomRGRSDQRUDPDGRVVDEHUHVVREUHD
P~VLFD PDLV HVSHFLDOL]DGRV H PDLV LQGHSHQGHQWHV HQWUH VL 75$9$6626
S
Outro contexto apontado por Travassos no período de institucionalização da

Etnomusicologia no Brasil foi (II) o crescimento da disciplina simultaneamente às
GLVFXVV}HVVREUHD³FULVH´GRFRQFHLWRGHFXOWXUDTXHIRLFRORFDGRVREHVFUXWtQLRH
questionado sobre seu caráter sistêmico, deixou de ser considerada como unidade
HVWDQTXH H SDVVRX D VHU SHUFHELGD HP VHX FDUiWHU ÀXLGR H GLQkPLFR &LWDQGR
&OLႇRUG*HHUW]S7UDYDVVRVSD¿UPDTXHQXP³PXQGRPDLV
FRPSOHWDPHQWHLQWHUOLJDGRHPDLVLQWULQFDGDPHQWHFRPSDUWLPHQWDOL]DGR´HPTXH³R
FDWiORJRGHLGHQWL¿FDo}HVGLVSRQtYHLVVHH[SDQGHFRQWUDLVHPXGDGHIRUPD´±D
YLVmRGRSODQHWDUHSOHWRGHXQLGDGHVFKDPDGDV³FXOWXUDV´H[S}HVXDLQDGHTXDomR
Na Etnomusicologia norte-americana, a repercussão aparece em um artigo de Mark
6ORELQVREUHDVPLFURP~VLFDV³1mRKi QHQKXPVHQWLGRJHUDOQRVLVWHPDQHQKXPD
IRUoD RFXOWD TXH FRQWUROH R ÀXLU GD FXOWXUD´ FRQIRUPH 6ORELQ S DSXG
75$9$6626S
Outros dois aspectos do contexto intelectual que teriam contribuído para

a institucionalização, como apontados pela autora, foram (III) a renovação dos
debates sobre as diferenças entre fazer e falar sobre música, e (IV) a renovação das
SUHRFXSDo}HVFRPDLQG~VWULDFXOWXUDOHFRPDPHUFDQWLOL]DomRGDVSUiWLFDVFXOWXUDLV
Em relação ao primeiro ponto, a amplitude de escopo da Etnomusicologia que abrange
WRGDVDVP~VLFDVGRPXQGRHDSUySULDÀXLGH]GRFRQFHLWRGHFXOWXUDQmRUHODFLRQDULD
GLUHWDPHQWH SUiWLFDV PXVLFDLV j WHUULWyULRV JHRJUi¿FRV H OLEHUWRX R HWQRPXVLFyORJR
GH VHU QHFHVVDULDPHQWH DOJXpP TXH DSHQDV IDOD VREUH P~VLFD$ ELPXVLFDOLGDGH
ou multimusicalidade e associação entre teoria e prática passam a ser um valor
FRUUHQWH QRV HVWXGRV GDV P~VLFDV WUDGLFLRQDLV 1R TXH GL] UHVSHLWR DR VHJXQGR
contexto mencionado acima, Travassos aponta ansiedade dos etnomusicólogos

$ERUGDJHQV TXH GHIHQGHP TXH R HWQRPXVLFyORJR VH WRUQH ÀXHQWH HP PDLV GR TXH XPD WUDGLomR RX LQVWUXPHQWR PXVLFDO -i DERUGDGR QD
8QLGDGHGHVWHH%RRN
58
com o crescimento da chamada World Music, onde vem ocorrendo a apropriação

dos repertórios de povos tradicionais para um mercado de música e os perigos da
SODQL¿FDomRGDVSUiWLFDVDRLQYpVGRUHVSHLWRVREUHVXDVGLIHUHQoDV
Desse esboço de balanço, saliento a necessidade de multiplicar os núcleos

DFDGrPLFRVGDGLVFLSOLQDSDUDDVVHJXUDUDIRUPDomRGHSHVVRDOTXDOL¿FDGRHHP
Q~PHURVSURSRUFLRQDLVjVGHPDQGDVP~OWLSODVHYDULDGDVGDVRFLHGDGHEUDVLOHLUD
Desde os grupos sociais tradicionalmente visitados por etnomusicólogos – índios,
comunidades rurais e comunidades afro-descendentes – até as heterogêneas
³WULERV´H³VXEFXOWXUDV´XUEDQDVSDVVDQGRSRUGLiVSRUDVHQFODYHVGHPLJUDQWHV
P~VLFDVEUDVLOHLUDVIRUDGR%UDVLOHWFKiPXLWRPDLVWHUULWyULRVWHPiWLFRVGRTXH
HWQRPXVLFyORJRVID]HQGRSHVTXLVDIRUPDGRVHDSRLDGRVLQVWLWXFLRQDOPHQWH(
como os balanços são forçosamente efêmeros, espero que esta última frase se
WRUQHREVROHWDHPSRXFRWHPSR75$9$6626S
Considerando-se as palavras de Elizabeth Travassos sobre a necessidade

GH JDUDQWLU D FRQWtQXD IRUPDomR GH SHVVRDO TXDOL¿FDGR SDUD DWHQGHU D SOXUDOLGDGH
da sociedade brasileira, assim como a ampliação da variedade temática das
SHVTXLVDV HWQRPXVLFROyJLFDV SRGHVH FRQFOXLU TXH HP JUDQGH PHGLGD HVWH GHVD¿R
YHPGHFRQFUHWL]DQGR8PDOHLWXUDDWHQWDjVGXDVWDEHODVDEDL[RHPDLVRPDSDGD
etnomusicologia no Brasil revelam o franco crescimento da área e sua possibilidade
GH VH UHSURGX]LU GHQWUR GR %UDVLO 2 OHYDQWDPHQWR Gi FRQWD GH TXH DSyV DQRV
GH LQVHUomR QDV XQLYHUVLGDGHV SXEOLFRXVH PDLV GH GLVVHUWDo}HV GH PHVWUDGR
H PDLV GH WHVHV GH GRXWRUDGRV DOpP GH UHYHODU D SUHVHQoD GD HWQRPXVLFRORJLD
HP XQLYHUVLGDGHV GH WRGDV DV UHJL}HV GR SDtV HPERUD QmR HP WRGRV RV HVWDGRV
Além disso, etnomusicólogos ensinam em cursos de graduação em Música, tanto
EDFKDUHODGRV TXDQWR OLFHQFLDWXUDV HP GLVFLSOLQDV FRP YiULDV GHQRPLQDo}HV FRPR
Etnomusicologia, Introdução à Etnomusicologia, Antropologia da Música, Música e
&XOWXUD 7ySLFRV HP (WQRPXVLFRORJLD H PHVPR )ROFORUH /h+1,1* HW DO
S
Todavia é importante reconhecer que os etnomusicólogos brasileiros não

atuam somente na universidade pública, embora esse possa ser o seu principal
REMHWLYRSHODHVWDELOLGDGHVWDWXVVRFLDOHPHOKRUHVVDOiULRVGRTXHHPXQLYHUVLGDGHV
H HVFRODV SDUWLFXODUHV )RUD GD XQLYHUVLGDGH Ki HWQRPXVLFyORJRV WUDEDOKDQGR HP
VHFUHWDULDVGHFXOWXUD%DKLD5LRGH-DQHLURH6mR3DXORHSDUWLFLSDQGRHPDo}HV
59
e processos de políticas públicas como, por exemplo, no 'RVVLr GR VDPED GH URGD
do Recôncavo baiano(WQRPXVLFyORJRVWDPEpPSDUWLFLSDPGHEDQFDVHFRPLVV}HV
MXOJDGRUDV GH IHVWLYDLV H HYHQWRV TXH HQYROYHP D FXOWXUD SRSXODU DOpP GH VHUHP
DUWLFXODGRUHV FXOWXUDLV SURGX]LQGR HYHQWRV H DUWLVWDV +i WDPEpP HWQRPXVLFyORJRV
que trabalham com o patrimônio material e imaterial, atuando pelo Iphan (Instituto do
3DWULP{QLR +LVWyULFR H $UWtVWLFR 1DFLRQDO 2 FKDPDGR WHUFHLUR VHWRU WDPEpP FRQWD
FRPDFRODERUDomRGHHWQRPXVLFyORJRVVHMDHP21*VSDUDIRUPDomRGHMRYHQVRX
SUHSDUDomRGHPDWHULDOGLGiWLFRQDiUHDGDFXOWXUD/h+1,1*HWDOS
Tabela 1
ETNOMUSICOLOGIA E ETNOMUSICÓLOGOS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
$WXDomRGHVGH$WXDomRGH
Atuação no Programa de Pós-Graduação da Mestrados Doutorados

Nome Local do doutorado Ano Desde
IES orientados orientados
Manuel Veiga EUA UFBA DWp
Jose Jorge de Carvalho Irlanda AnB (Antropologia)

&HUFDGH
Rafael Bastos USP (Antropologia Social) UFSC (Antropologia) (incluímos apenas
DVGLVVHUWDo}HV
Angela Lühning Alemanha UFBA focadas na
etnomusiciologia,
Elizabeth Lucas EUA UFRGS &HUFDGH
não considerando
(idem)
as voltadas mais
Marcos Branda Lacerda Alemanha USP (Musicologia) SDUDDVTXHVW}HV
de antropologia,
6DPXHO$UD~MR EUA UFRJ musicologia ou
ducação musical
Martha Ulhos EUA UniRio
Elizabeth Travasso ( UFRJ (Antropologia Social) UniRio
.LO]D6HWWL863SHVTXLVDGRUDLQGHSHQGHQWHVHPYtQFXORIRUPDOFRPXPD,6(6

5LWD6HJDWR,UODQGD8Q%DWXDQDiUHDGD$QWURSRORJLD
Flávia Camargo Toni USP (Artes) USP (Artes/Musicologia)
Carlos Sandrori França (Musicologia) UFPE e UFPB (Antropologia e Etnomusicologia) H
Alberto Ikeda USP (Comunicação) UNESP
Rosangela Tugny França (Musicologia) UFMG/UFSB
Luiz Casar Magalhães EUA UFBA (Educação Musical e Etnomusicologia)
Sonia Chada UFBA UFBA/UFPA
Carlos Palombini Inglaterra UFMG (Musicologia)

&HUFDGH 0DLVGH
Eurides Santos UFBA UFPB
(idem) (idem)
Guilherme Werlang Inglaterra (Musicologia) UFF (Ciências das Artes)
Alice Santomi Lumi UFBA UFPB
Acácio Piedade UFSC (Antropologia) UDESC
Deise Montardo UFSC (Antropologia Social)) UFAM (Antropologia e Etnomusicologia)
Reginaldo Gil Braga UFRGS UFRGS
/XLV5LFDUGR6LOYD4XHLUR] UFBA UFPB (Etnomusicologia e Educação Musical)
-RVp$OEHUWR66LOYD UniRio UFRJ (Educação Musical e Etnomusicologia)
)RQWH/KQLQJHWDOS
60
Tabela 2
ETNOMUSICOLOGIA E ETNOMUSICÓLOGOS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
$WXDomRGHVGH
Mestrados Doutorados
Nome Local do doutorado Ano Atuação no Programa de Pós-Graduação da IES Desde
orientados orientados
Glaura Lucas UniRio UFMG
Liliam Barros UFBA UFPA &HUFDGH 0DLVGH

(idem) (idem)
Adriana Fernandes USA UFG e UFPB H
.D]DGLZD0XQNXQD863VRFLRORJLD8&/$HWQRPXVLFRORJLD863

7LDJRGH2OLYHLUD3LQWR%HUOLQ863
(OED%UDJD5DPDOKR/LYHUSRRO8(&(
Maria Ignez Cruz Mello ( 8)6&8'(6&DSDUWLUGH
$WXDomRGHVGHQDJUDGXDomRHHYHQWXDOPHQWHQDSyVJUDGXDomR
Atuação na IES: graduação e pós-graduação ou

Nome Local do doutorado Data Mestrados orientados
só na graduação
Xavier Vatin 8)5%QD3yVHP$QWURSRORJLD8)%$GHVGH

França (Antropologia)

Hugo Ribeiro UFBA 8)6H8Q%QD3yVQD8Q%GHVGH
Mario Maia UFRGS UFPel
Ewuin Pitre-Vasquez USP (Musicologia) UFPR
Laila Rosa UFBA UFBA
Jean Joubert Mendes UFBA UFRN
Allan de Paula Oliveira UFSC (Antropologia) UOestePR
Maria Eugênia Dominguez UFSC (Antropologia) UFSC
Luis Hering Coelho UFRGS UFPel
Paulo Muirilo Aramal UFRGS UEPA
Luciana Prass UFRGS UFRGS
Marilia Stein UFRGS UFRGS
Edilberto Fonseca UniRio UFF
Francisca Marques USP (Antropologia) UFRB
Luciano Caroso UFBA UEFS
Agostinho Líma UFBA UFRN 0DLVTXH
Roberto Thiesen UFBA UNIPAMPA
Mackely Borges UFBA UFS
Laize Guazina UniRio UNESPAR
Katharina Döring Alemanha (Educação Musical) UNEB
Alvaro Neder UniRio UniRio
Vicenzo Cambria USA UniRio
Ewelter Rocha USP (Antropologia Social) UECE
Evandro Rodrigues Higa UNESP UFMS
Bernardo Mesquita UFBA UEA
Julia Tygel USP UFSCar
Tiago Carvalho UFBA UFC-Sobral
Luana Zambiazzi dos Santos UFRGS UNIPAMPA
Rafael Henrique Soares Velloso UFRGS UFPel
Suzel Ana Reily USP (Antropologia Social) 81,&$03GHVGH
Michael Lyanaga EUA 8)5%GHVGH
+HORtVDGH$UD~MR'XDUWH9DOHQWH38&6mR3DXORQD863DSDUWLUGH

&DUPHQ6DHQ]&RRSDW,QVW6XSHULRUGH$UWHV+DYDQD8(&(DQD8)&$DSDUWLUGH
)RQWH/KQLQJHWDOS
61
Figura 16
)RQWH/KQLQJHWDOS
3.3 ETNOMUSICOLOGIA EMANCIPATÓRIA BRASILEIRA
Mesmo com as várias formas de praticá-la no Brasil, a depender da época,

instituição, região e tipo de orientação teórica, há diferenças importantes entre a
HWQRPXVLFRORJLDEUDVLOHLUDHDHWQRPXVLFRORJLD³FHQWUDO´SUDWLFDGDQR$PpULFDGR1RUWH
H(XURSD,VWRSRGHVHUFRQVWDWDGRSHORSUySULRUHSHUWyULRRXWLSRGHFXOWXUDPXVLFDO
HVWXGDGD6HQR%UDVLORVHWQRPXVLFyORJRVSULYLOHJLDPFXOWXUDVPXVLFDLVORFDLVRXR
³RXWURSUy[LPR´QRVFHQWURVPDLVGHVHQYROYLGRVKiDSUHIHUrQFLDHPVHSHVTXLVDUR
62
³RXWUR GLVWDQWH´ TXHU GL]HU SHUWHQFHQWH D RXWURV SDtVHV H FRQWLQHQWHV 6H QR LQtFLR
GDHWQRPXVLFRORJLDQR%UDVLOSULYLOHJLDYDVHJUXSRVSHUWHQFHQWHVDORFDLVJHRJUi¿FRV
determinados, como tribos indígenas ou quilombos, gradativamente os temas foram
YDULDQGRHFRPHoDUDPDDERUGDUTXDOTXHUPDQLIHVWDomRPXVLFDOEUDVLOHLUDVHMDXUEDQD
RX UXUDO JUXSRV pWQLFRV HVSHFt¿FRV P~VLFDV WUDGLFLRQDLV RX PLGLiWLFDV H WDPEpP
SURSRVWDVWUDQVYHUVDLVFRPRHVWXGRVGHJrQHURHHPDPELHQWHVGLJLWDLV/h+1,1*
HWDOS
8PDFRPSDUDomRHQWUHDVGXDVWUDQVFULo}HVDEDL[RGiXPDERDDPRVWUDGR
TXHHUDHRTXHVHWRUQRXDHWQRPXVLFRORJLDQR%UDVLO2SULPHLURH[FHUWRpXPWUHFKR
do livro Viagem à Terra do Brasil e foi escrito pelo francês Jean de Léry sobre a música
GRV7XSLQDPEiVGR5LRGH-DQHLURQRDQRGHSRGHQGRVHUFRQVLGHUDGRFRPRR
SULPHLURUHJLVWURHWQRPXVLFROyJLFRIHLWRQR%UDVLORXVREUHWUDGLo}HVPXVLFDLVEUDVLOHLUDV
GHIRUPDSRVLWLYDGLVWLQJXLQGRVHGRVUHODWRVGRJUDQGHQ~PHURGHYLDMDQWHVHXURSHXV
que nos primeiros séculos da colonização da América retratavam a vida dos povos
QDWLYRVGHIRUPDSHMRUDWLYDHQIDWL]DQGRRTXHFRQVLGHUDYDPVHU³H[yWLFR´³SULPLWLYR´
RXLQIHULRU
>@(VVDVFHULP{QLDVGXUDUDPFHUFDGHGXDVKRUDVHGXUDQWHHVVHWHPSRRV
quinhentos ou seiscentos selvagens não cessaram de dançar e cantar de um
PRGR WmR KDUPRQLRVR TXH QLQJXpP GLULD QmR FRQKHFHUHP P~VLFD 6H FRPR
GLVVH QR LQtFLR GHVVD DOJD]DUUD PH DVVXVWHL Mi DJRUD PH PDQWLQKD DEVRUWR
em coro ouvindo os acordes dessa imensa multidão e sobretudo a cadência e o
HVWULELOKRUHSHWLGRDFDGDFRSOD+HKHD\UHKH\UiKH\UD\UHKH\UDKH\UHXrK
(DLQGDKRMHTXDQGRUHFRUGRHVVDFHQDVLQWRSDOSLWDURFRUDomRHSDUHFHPHD
HVWDURXYLQGR3DUDWHUPLQDUEDWHUDPFRPRSp GLUHLWRQRFKmRFRPPDLVIRUoD
e depois de cuspirem para á frente, unanimemente, pronunciaram duas ou três
YH]HVFRPYR]URXFDHe, hyá, hyá, hyá./e5<S
O trecho acima sobre os Tupinambás do Rio de Janeiro é citado em várias

SXEOLFDo}HVGHUHIHUrQFLDGD(WQRPXVLFRORJLD%$5=&22/(<Grove Dictionary
of Music and Musicians OnlineHQWUHPXLWDVRXWUDVFRPRXPPDUFRKLVWyULFR
GRVSULPHLURVUHJLVWURVHWQRJUi¿FRVVREUHP~VLFDHGDQoDQmRHXURSHLDVFRPXPYLpV
PDLVKXPDQLVWD2VHJXQGRWH[WRDVHJXLUpXPDFDUWDHVFULWDSHORVJXDUDQL.DLRZi

-HDQGH/pU\QDVFHXHP/D0DUJHOOHQDVYL]LQKDQoDVGDDEDGLDGH6DLQW6HLQHGH%RXUJRJQHQRDQRGH4XDQGRYHLRDR%UDVLOHUD
sapateiro e estudante de Teologia, tendo, mais tarde, se tornado um PLVVLRQiULRUHOLJLRVR/e5<S
63
de Pyelito Kue/Mbrakay – Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil em 11 de

RXWXEURGH
1yV KRPHQV PXOKHUHV FULDQoDV FRPXQLGDGHV JXDUDQL.DLRZi

RULJLQiULDV GH WHNRKD 3XHOLWR .XH0EUDND\ YLPRV DWUDYpV GHVWD FDUWD
DSUHVHQWDUHVWDLQIRUPDomRGHTXHQyVFRPXQLGDGHVORJRVHUHPRVDWDFDGRV
violentados e expulsos da margem do rio pela própria Justiça Federal de Navirai-
06'HIDWRVDEHPRVPXLWREHPTXHQRFHQWURGHVVHQRVVRWHUULWyULRDQWLJR
estão enterrados vários dos nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão os
FHPLWpULRVGHWRGRVRVQRVVRVDQWHSDVVDGRV&LHQWHVGHVVHIDWRKLVWyULFRQyV
MiYDPRVHTXHUHPRVVHUPRUWRVHHQWHUUDGRVMXQWRVDRVQRVVRVDQWHSDVVDGRV
DTXLPHVPRRQGHHVWDPRVKRMHSRULVVRSHGLPRVDR*RYHUQRH-XVWLoD)HGHUDO
SDUDQmRGHFUHWDUDRUGHPGHGHVSHMRH[SXOVmRPDVVROLFLWDPRVSDUDGHFUHWDU
D QRVVD PRUWH FROHWLYD H SDUD HQWHUUDU QyV WRGRV DTXL 3HGLPRV GH XPD YH]
por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários
WUDWRUHVSDUDFDYDUXPJUDQGHEXUDFRSDUDMRJDUHHQWHUUDURVQRVVRVFRUSRV
(VVHpQRVVRSHGLGRDRVMXt]HVIHGHUDLV$VVLPpSDUDGHFUHWDUDQRVVDPRUWH
coletiva guarani e kaiowá de Puelito Kue/Mbrakay e para enterrar-nos todos
DTXL$5$Ò-2S
Analisando somente a diferença dos textos sobre os Tupinambás e os

*XDUDQL.DLRZi HP UHODomR DR FRQWH~GR SHUVSHFWLYD H HQXQFLDGR YHUL¿FDVH TXH
os indígenas em alguma medida conseguiram que ocorresse uma transformação em
VXDV UHODo}HV FRP D FLYLOL]DomR GRV EUDQFRV H GHL[DVVHP GH VHU QHFHVVDULDPHQWH
³REMHWRVGHSHVTXLVD´SRGHQGRHQFRQWUDUIRUPDVGHDWXDUSROLWLFDPHQWHHPGHIHVDGH
VXDVFDXVDV3RUpPGHYHUtDPRVQRVSHUJXQWDURTXHUHDOPHQWHPXGRXHPUHODomR
jH[SURSULDomRGHVXDVWHUUDVHDQLTXLODomRGHVXDVIRUPDVGHYLGDQRV~OWLPRV
DQRV"&RPRD(WQRPXVLFRORJLDSRGHLQWHUIHULUSDUDUHYHUWHUHVWHTXDGUR"4XDLVVmRRV
métodos ou metodologias de pesquisa etnomusicológicas que devem ser trabalhados
com a população espoliada que vive no campo e na cidade? No primeiro parágrafo
do capítulo 5HÀH[}HV,QWURGXWyULDV do livro Etnomusicologia no Brasil, que é um marco
histórico e epistêmico da área no país, as autoras Angela Lühning e Rosângela Tugny
D¿UPDPTXH
$ WUDMHWyULD GLVFLSOLQDU GD HWQRPXVLFRORJLD WHP FRPR SUHVVXSRVWR R SURIXQGR

interesse e respeito pela diversidade sociocultural e política de pessoas e grupos
que se encontram em posição minoritária frente às hegemonias geopolíticas,
YLYHQGRSURFHVVRVFRQWtQXRVGHH[SURSULDomRVHMDHODWHUULWRULDOSDWULPRQLDORX
64
VLPEyOLFDVHMDHODHVWDWDORXSULYDGD1R%UDVLODHWQRPXVLFRORJLDVHFRQIURQWRX
ao longo do tempo com a expropriação, mais do que como um tema a se debatido
RXPDLVGRTXHSHORLQWHUHVVHHHPSDWLDGRVHWQRPXVLFyORJRV(VVDTXHVWmR
DGHQWURXWDPEpPRVVHXVPpWRGRVGHWUDEDOKR$LQGDTXHSDUHoDPGHFXQKR
HWQRJUi¿FRDVSHVTXLVDVHSUiWLFDVHWQRPXVLFROyJLFDVQR%UDVLOLQFRUSRUDUDP
em seus procedimentos um vinculo com as políticas públicas, com a mobilização
social, com a proteção de territórios e saberes, com o cotidiano da violência
urbana e da violência simbólica e com a urgência que marca a sobrevivência
GHDOJXQVGRVSRYRVFRPRVTXDLVHOHVWUDEDOKDPHVHVROLGDUL]DP/h+1,1*
78*1<S
Isto fez com que os caminhos percorridos pela etnomusicologia brasileira a

UHODFLRQDVVHP FRP RULHQWDo}HV WHyULFRPHWRGROyJLFDV GLWDV HQJDMDGDV DSOLFDGDV
SDUWLFLSDWLYDV FRODERUDWLYDV RX GLDOyJLFDV LGHQWL¿FDGDV FRPR FDUDFWHUtVWLFDV GH
XPD HWQRPXVLFRORJLD SUDWLFDGD DWXDOPHQWH QR %UDVLO /h+1,1* HW DO 8P
GRV H[SRHQWHV GHVWD SUi[LV VRQRUD p R HWQRPXVLFyORJR EUDVLOHLUR 6DPXHO $UD~MR
Em seu artigo )URPQHXWUDOLW\WRSUD[LVWKHVKLIWLQJSROLWLFVRIHWKQRPXVLFRORJ\LQWKH
contemporary world$UD~MRFULWLFDDVSUiWLFDVPRGHUQDVHSyVPRGHUQDVGHSHVTXLVD
H GHIHQGH XPD DSUR[LPDomR UDGLFDO HQWUH SHVTXLVDGRUHV H ³SHVTXLVDGRV´ HP WRGDV
DVHWDSDVGRSURFHVVRGHSURGXomRGRFRQKHFLPHQWRPXVLFDO$UD~MRH[SOLFD
SULPHLUDPHQWH R TXH VHULDP HVVHV PRGHORV GH HWQRJUD¿DV PXVLFDLV WUDGLFLRQDLV
GLYLGLQGRRVHPGRLVWLSRVSULQFLSDLV³RPRGHUQRHRSyVPRGHUQR´3RVWHULRUPHQWH
H[S}HVXDSURSRVWDLQWHQVDPHQWHSDUWLFLSDWLYD
2HVWLORPRGHUQRGHVHFRQFHEHUXPDHWQRJUD¿DPXVLFDOVHULDLQVSLUDGRQRV
PRGHORV FRQVDJUDGRV GXUDQWH D PRGHUQLGDGH 1HVVH PRGHOR R SHVTXLVDGRU OLJDGR
a uma instituição acadêmica e munido de teorias, métodos e categorias acadêmicas
GH¿QLULD R IRFR REMHWLYR H D QDWXUH]D GRV GDGRV D VHUHP ³FROHWDGRV´ FRP DOJXPD
FRODERUDomRGRVQDWLYRVQHVWD~OWLPDHWDSD(PVHJXLGDIDULDXPDWUDGXomRFXOWXUDO
GRVGDGRVSRVVLYHOPHQWHFRPDOJXPDDMXGDGRVQDWLYRVRVLQWHUSUHWDULDGDIRUPD
PDLVFRHUHQWHSRVVtYHOHSXEOLFDULDRUHVXOWDGRFRPDXWRULDLQGLYLGXDO1RPRGHORSyV
PRGHUQRRXUHÀH[LYRKDYHULDPDLRUDEHUWXUDjFRODERUDomRLQGtJHQD$SyVDGH¿QLomR
GR IRFR H REMHWLYRV GD SHVTXLVD SHOR DFDGrPLFR R UHVWDQWH GDV HWDSDV ± GHVGH D
GH¿QLomRGHTXDLVGDGRVGHYDPVHUFROHWDGRVVXDWUDGXomRLQWHUSUHWDomRHDXWRULD
±VHULDPGLYLGLGRVGHIRUPDLJXDOLWiULDFRPRVQDWLYRV&RPRDOWHUQDWLYDDHVVHVGRLV
PRGHORVDSUHVHQWDGRV$UD~MRDSRQWDQXPWHUFHLURSODQRDHWQRJUD¿DPXVLFDO
65
No formato proposto, todas as etapas mencionadas acima seriam realizadas em

FRQMXQWRHSDUDREHQHItFLRGDVSHVVRDVHQYROYLGDVGDIRUPDPDLVKRUL]RQWDOHGLDOyJLFD
SRVVtYHO1HVWDDERUGDJHPDSHVTXLVDWHULDDSULRULGDGHGHDWHQGHUDVGHPDQGDVGD
FRPXQLGDGH H VHXV UHVXOWDGRV VHULDP GLIXQGLGRV WDQWR HP SXEOLFDo}HV DFDGrPLFDV
TXDQWRHPRXWURVPHLRVVHPSUHGHIRUPDFROHWLYD$OpPGLVVRDVSDUWHVHQYROYLGDV
discutiriam sobre o próprio processo dialógico que permearia a pesquisa, abrindo novas
IURQWHLUDVGHLQWHUHVVHHIRUPDVGHGLIXVmR
3.4 RUMO A UMA ETNOMUSICOLOGIA ANTI-IMPERIALISTA NO PÓS-GOLPE

DE 2016?
&RPRPXQGRHPHEXOLomRHFRPJUDYHVHUiSLGDVWUDQVIRUPDo}HVJHRSROtWLFDV
QHVWHDQRGHRHWQRPXVLFyORJRQmRSRGHH[FOXLUGHVHXHVFRSRGHDQiOLVHDV
forças sociais, políticas e econômicas que atuam dentro e fora do Brasil, as quais
LQWHUIHUHPGLUHWDPHQWHQDYLGDGDSRSXODomRDTXHHOHVHSURS}HWUDEDOKDUODGRDODGR
Por esta razão, nesse segmento, utilizarei quatro exemplos sobre o panorama social do
SDtVWUDoDGRVSRU6DPXHO$UD~MR7HDR¿QDOIRUPXODUHLXPDVpULHGHTXHVW}HV
SDUDTXHVLUYDPGHUHÀH[mRVREUHRVIXWXURVFDPLQKRVGDHWQRPXVLFRORJLDEUDVLOHLUD
6DPXHO$UD~MRQRSUHIiFLR³2FDPSRGDHWQRPXVLFRORJLDEUDVLOHLUDIRUPDomRGLiORJRV
HFRPSURPHWLPHQWRSROtWLFR´GROLYUR(WQRPXVLFRORJLDQR%UDVLOD¿UPDTXH
1mR p SUHFLVR JUDQGH HVIRUoR SDUD VH FRQVWDWDU KRMH QR TXDGUR
neodesenvolvimentista que norteia a atual etapa da política e vida social do país
>@DVVDVVLQDWRVHPPDVVDRXQmRGHLQGtJHQDVQHJURVKRPRVVH[XDLV
mulheres e trabalhadores pobres em geral, na cidade e no campo, assim como de
DQLTXLODPHQWRGHVHXVUHVSHFWLYRVPRGRVGHYLGDHYLV}HVGHPXQGRDOWHUQDWLYDV
a modelos capturados por ideias antidemocráticas, racistas, homofóbicas e
PLVyJLQDVGH´SURJUHVVR´DSURYDomRVHPDGHYLGDGLVFXVVmRHQHJRFLDomR
$UHIHUrQFLDDRDQRGHHRXVRGDH[SUHVVmRJROSHGHVHGiSRUVHUXPDQRTXHPDUFDDUXSWXUDGHPRFUiWLFDRFRUULGDQR%UDVLOFRP

DGHSRVLomRGDSUHVLGHQWDGD5HS~EOLFD'LOPD5RXVVHႇ8PQ~PHURHOHYDGRGHWUDEDOKRVDFDGrPLFRVFRPHVWDWHPiWLFDYHPVHQGRSXEOLFDGR
QR%UDVLOQRV~OWLPRVDQRV3DUDXPDSURIXQGDPHQWRVREUHHVWHIDWRKLVWyULFRFRQVXOWDURVOLYURV2*ROSHGHHR)XWXURGD'HPRFUDFLDQR
%UDVLO6$1726HWDO2*ROSHGHHD(GXFDomRQR%UDVLO.5$:&=<./20%$5',*ROSHH'HPRFUDFLDQR%UDVLO
/(21Ë',2$/0(,'$$1'5$'(381721,2&RODSVRGDGHPRFUDFLDQR%UDVLO±GD&RQVWLWXLomRDR*ROSHGH0,*8(/
2*ROSHGHHDFRUURVmRGDGHPRFUDFLDQR%UDVLO12521+$/,0$1$6&,0(172$UHVLVWrQFLDDR*ROSHGH3521(5
&,77$',127(1(%$805$026),/+2$&ULVHGD'HPRFUDFLD%UDVLOHLUD/8&(1$35(9,7$/,/8&(1$
7
3URIHVVRUWLWXODUGHHWQRPXVLFRORJLDGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGR5LRGH-DQHLUR8)5-
66
entre as partes envolvidas, de leis e empreendimentos potencialmente predatórios

HPWHUPRVVRFLRDPELHQWDLVGRVTXDLVR&yGLJR)ORUHVWDOH%HOR0RQWHMiVmR
H[HPSORV UHPRWRV DSURYDomR VRE VHPHOKDQWHV FRQGLo}HV GH SRXFD RX
nenhuma negociação, de legislação ligada à especulação imobiliária urbana ou
às formas mais recentes de acumulação capitalista de propriedade em áreas
rurais, que privilegiam o poder econômico de grupos e indivíduos em detrimento
GDV SRSXODo}HV SROtWLFD H HFRQRPLFDPHQWH VXEDOWHUQL]DGDV H DR FXVWR GD
DXWRULWiULDFULPLQDOL]DomRHHOLPLQDomRGHVVDV~OWLPDVHPDQLSXODomRHVS~ULD
de dispositivos constitucionais levando à deposição de presidenta legitimamente
eleita e sem culpa comprovada de quaisquer crimes de responsabilidade, levando
o país à desordem político-institucional, que inclui a extinção do Ministério
da Ciência e Tecnologia, um dos sustentáculos da produção de massa crítica
QHFHVViULDDRGHVHQYROYLPHQWR$5$Ò-2S
Soma-se a este cenário a prisão do ex-presidente da República, Luiz Inácio

/XOD GD 6LOYD TXH R LPSHGLX GH FRQFRUUHU jV HOHLo}HV SUHVLGHQFLDLV GH $SyV
GLDV VXD SULVmR UHYHORXVH VHU XPD IDUVD MXUtGLFRPLGLiWLFD 6$9,$1,
6$1726 /20%$5', /,0$ 63,*2/21 +RMH Mi VH VDEH
DVVLP FRPR DSyV R SHUtRGR GD GLWDGXUD HPSUHVDULDOPLOLWDU TXH R
retrocesso nacional vem sofrendo substancial interferência imperialista, principalmente
estadunidense, através de mecanismos de dominação do Departamento de Estado e
de Justiça que, historicamente, interferem na política interna dos países da América
/DWLQD 0('(,526 ),/+2 6$9,$1, &287,1+2 6,/9$
)(55(,5$ 025$(6 (VWH EUHYtVVLPR FRQWH[WR KLVWyULFR p HVVHQFLDO
para que o etnomusicólogo questione sobre qual deve ser a prática etnomusicológica
QR%UDVLOFRQWHPSRUkQHR6HPHOHFRUUHPRVRULVFRGHUHWRUQDUPRVDRVSDUDGLJPDV
QDFLRQDOLVWDVHIROFORULVWDVTXHGRPLQDUDPRVHVWXGRVPXVLFDLVDWpDGpFDGDGH
DVVXQWRWUDWDGRQRLQtFLRGD8QLGDGHRXPHVPRGHFDLUQRHUURHSLVWHPROyJLFR
de achar que a música está fora da sociedade e que as práticas musicais não são
SHUPHDGDVSHORVDFRQWHFLPHQWRVFXOWXUDLVVRFLDLVHSROtWLFRV
Dentro deste cenário, de um ponto de vista etnomusicológico, o que seria

UHDOPHQWHWUDQVIRUPDGRUSDUDDVSRSXODo}HVKLVWRULFDPHQWHRSULPLGDVQR%UDVLO"&RPR
pesquisas dialógicas, horizontais e participativas poderiam realmente transformar a
precária realidade dos indígenas diante da expansão desenfreada do agronegócio e do
garimpo sobre suas terras e águas? Como os etnomusicólogos pretendem responder
67
DHVWDFRQMXQWXUDSROtWLFDDWXDOXPDYH]TXHVHXGHFODUDGR³REMHWR´GHSHVTXLVDVmR
DV SRSXODo}HV PDLV DIHWDGDV" 4XDLV QtYHLV GH UDGLFDOLGDGH RV HWQRPXVLFyORJRV
estariam dispostos a adotar para confrontar forças internacionais associadas às
classes dominantes nacionais que vêm promovendo a devastação social, econômica
HFXOWXUDOGRSDtVFRPRXPWRGR"4XDOVHULDPDVSURSRVWDVPHWRGROyJLFDVHDVQRYDV
epistemologias a serem adotadas pela etnomusicologia brasileira neste contexto
de renovada interferência imperialista? Haveria a possibilidade de rumarmos para
a construção de uma etnomusicologia anti-imperialista após o golpe de estado de
"(VVDVHPXLWDVRXWUDVTXHVW}HVWrPRREMHWLYRGHLQVWLJDUQRVVDLPDJLQDomRDR
PHVPRWHPSRHPTXHQRVLPS}HXPULJRULQWHOHFWXDOTXHQRVKDELOLWHDFRQVWUXLUXPD
HWQRPXVLFRORJLDFDGDYH]PDLVFUtWLFDHUHÀH[LYDHFDSD]GHUHVSRQGHUjFUHVFHQWH
FRPSOH[LGDGHGDVRFLHGDGHEUDVLOHLUDHVXDEXVFDSRUVREHUDQLD
RESUMO
Nesta Unidade, foi abordado o modo como a Etnomusicologia se desenvolveu no Brasil,

como ela foi implementada nas universidades brasileiras e o que caracteriza sua prática
QRSDtV0RVWURXVHTXHDVXSHUDomRGRSDUDGLJPDIROFOyULFRHQDFLRQDOLVWDHGRPLWR
das três raças formadoras foi fundamental para que se revelasse a pluralidade cultural
HPXVLFDOGR%UDVLORTXHVHWRUQRXRSULQFLSDOREMHWRGRVHVWXGRVHWQRPXVLFROyJLFRV
Observou-se que a etnomusicologia brasileira privilegia o trabalho dialógico, horizontal
e colaborativo com as pessoas que fazem música e que sua característica principal é
DDWXDomRSROtWLFDSDUDDWUDQVIRUPDomRVRFLDOGRVVXMHLWRVKLVWRULFDPHQWHLQMXVWLoDGRV
QRSDtV$R¿QDOWUDoRXVHXPUiSLGRSDQRUDPDVREUHDVLWXDomRKLVWyULFDVRFLDOH
SROtWLFDFRQWHPSRUkQHDEUDVLOHLUDQRVHQWLGRGHLGHQWL¿FDUDVWUDQVIRUPDo}HVRFRUULGDV
recentemente no Brasil e de se questionar quais deveriam ser as novas abordagens
HWQRPXVLFROyJLFDVDSDUWLUGRVGHVD¿RVFRORFDGRVSHORSUHVHQWHPRPHQWRKLVWyULFR
68
$5$Ò-2 6 )URP QHXWUDOLW\ WR SUD[LV WKH VKLIWLQJ SROLWLFV LQ HWKQRPXVLFRORJ\ LQ WKH
FRQWHPSRUDU\ZRUOG,Q3267-&2UJEthnomusicology: a contemporary reader,
YROXPH,,1HZ<RUN5RXWOHGJHS
%/20%(5*&+LVWyULDVGD0~VLFDQR%UDVLOH0XVLFRORJLDXPDOHLWXUDSUHOLPLQDU
Música e ArtesYMXOGH]
&217,(5$ 0iULR GH$QGUDGH H D 0~VLFD Revista Música, São Paulo, vS, n
S-
&287,1+2-$3UHIiFLR2*ROSHGHHR)XWXURGD'HPRFUDFLDQR%UDVLO,Q
6$1726/$%$&&(*$09$0$7(86<*$62UJVO golpe de 2016 e
o futuro da democracia no Brasil. 6mR/XtV('8)0$S
)(55(,5$-.$UHS~EOLFDWXWHODGD,Q6$1726/$%$&&(*$09$0$7(86
<*$62UJVO golpe de 2016 e o futuro da Democracia no Brasil6mR/XtV
('8)0$S
)5(<5( * &$5'262 ) + )216(&$ ( 1 ' 781$ * + Casa-grande
& senzalaIRUPDomRGDIDPtOLDEUDVLOHLUDVRERUHJLPHGDHFRQRPLDSDWULDUFDO6mR
3DXOR*OREDO(GLWRUD
/e5< - GH$<526$ 3 0 ' 6 *$))$5(/ 3 0,//,(7 6 Viagem à terra do
Brasil6mR3DXOR/LYUDULD0DUWLQV(GLWRUD
/20%$5',-&/,0$052%UDVLOUHSXEOLFDQRXPDKLVWyULDGHJROSHVGH(VWDGR
,Q/8&(1$&35(9,7$/,)6/8&(1$/A crise da democracia brasileiraY
8EHUOkQGLD1DYHJDQGR3XEOLFDo}HVS
/h+1,1* $ &$59$/+2 7 4 0 ',1,= ) & /23(6 $ 0 / 'HVD¿R GD
HWQRPXVLFRORJLDQR%UDVLO,Q/h+1,1*$78*1<52UJVEtnomusicologia no
Brasil6DOYDGRU(GLWRUDGH8)%$S
69
/h+1,1* $ 78*1< 5 3 (WQRPXVLFRORJLD QR %UDVLO UHÀH[}HV LQWURGXWyULDV ,Q
/h+1,1*$78*1<52UJVEtnomusicologia no Brasil6DOYDGRU(GLWRUDGH
8)%$S
0$/(5%$ - A corte no exílio: civilização e poder no Brasil às vésperas da

,QGHSHQGrQFLDD6mR3DXOR&RPSDQKLDGDV/HWUDV
0('(,52),/+2%2JROSHQR%UDVLOHDUHRUJDQL]DomRLPSHULDOLVWDHPWHPSRGH
JOREDOL]DomR ,Q .5$:&=<. 1 /20%$5', - & 2UJV O golpe de 2016 e a
educação no Brasil8EHUOkQGLD1DYHJDQGR3XEOLFDo}HVS
025$(65$$VLQÀXrQFLDVQRUWHDPHULFDQDVQR*ROSHGH,Q/8&(1$&
35(9,7$/, ) 6 /8&(1$ / A crise da democracia brasileira Y 8EHUOkQGLD
1DYHJDQGR3XEOLFDo}HVS
5(,/< 6 ,QWURGXFWLRQ %UD]LOLDQ PXVLFV %UD]LOLDQ LGHQWLWLHV British Journal of

EthnomusicologyS
6$1726<902RFDVRGRMXUtGLFRHDSUHGRPLQkQFLDGRSROtWLFRDSUHVXQomRGH
LQRFrQFLDQRFDVR/XOD,Q6$1726/$%$&&(*$09$0$7(86<*$6
2UJVO golpe de 2016 e o futuro da Democracia no Brasil6mR/XtV('8)0$
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6$9,$1,'$FULVHSROtWLFDHRSDSHOGDHGXFDomRQDUHVLVWrQFLDDRJROSHGHQR
%UDVLO,Q.5$:&=<.1/20%$5',-&2UJVO golpe de 2016 e a educação
no Brasil.8EHUOkQGLD1DYHJDQGR3XEOLFDo}HVS
6,/9$%*RPHVGD)RLXPJROSHFRQWUDDGHPRFUDFLD,Q6$1726/$%$&&(*$
09$0$7(86<*$62UJVO golpe de 2016 e o futuro da Democracia no
Brasil. 6mR/XtV('8)0$S
63,*2/211)RUPDomRGHSURIHVVRUHVR(VWDGRSyVGHPRFUiWLFRDGLWDGXUDHRV
JROSHV GH H QR %UDVLO ,Q .5$:&=<. 1 /20%$5', - & 2UJV O
golpe de 2016 e a educação no Brasil8EHUOkQGLD1DYHJDQGR3XEOLFDo}HV
S
70
75$9$6626 ( (VERoR GH EDODQoR GD HWQRPXVLFRORJLD QR %UDVLO OPUS >VO@ Y
S GH] 'LVSRQtYHO HP KWWSVZZZDQSSRPFRPEUUHYLVWDLQGH[SKS
RSXVDUWLFOHYLHZ$FHVVRHPGH]
9,/+(1$/533URMHWRH0LVVmR2PRYLPHQWRIROFOyULFREUDVLOHLUR
7HVH 'RXWRUDGR HP $QWURSRORJLD 6RFLDO 8QLYHUVLGDGH )HGHUDO GR 5LR GH
-DQHLUR5LRGH-DQHLUR
71
Nota
(VWH HERRN REMHWLYD VHUYLU GH UHIHUHQFLDO ELEOLRJUi¿FR SDUD D GLVFLSOLQD
de Etnomusicologia do curso de Licenciatura em Música da Universidade
(VWDGXDO GR 0DUDQKmR QD PRGDOLGDGH (D' 6HX FRQWH~GR p XPD
LQWHUSUHWDomRGHVWHDXWRUGDVIRQWHVELEOLRJUi¿FDVSURGX]LGDVSRUDOJXQV
GRVPDLVLQÀXHQWHVDXWRUHVQRFDPSRGD(WQRPXVLFRORJLDQRUWHDPHULFDQD
HXURSHLD H EUDVLOHLUD $ LPSRUWkQFLD GD FRQIHFomR GHVWH HERRN VH Gi
SULQFLSDOPHQWHHPYLUWXGHGDFDUrQFLDGHELEOLRJUD¿DHPOtQJXDSRUWXJXHVD
nesta área, além de esta ser pouco acessível aos alunos que frequentam
FXUVRVjGLVWkQFLD

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Renato Moreira Varoni de Castro

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA

Reitor Professor Conteudista

Vice-Reitor Designer de Linguagem

Castro, Renato Moreira Varoni de

(WQRPXVLFRORJLD >H%RRN@  5HQDWR 0RUHLUD 9DURQL GH

A Etnomusicologia é uma área do conhecimento que estuda o

UNIDADE 1 – ETNOMUSICOLOGIA PRÉ-1945  

1.1 INTRODUÇÃO  

1.2 DA MUSICOLOGIA COMPARADA À ETNOMUSICOLOGIA  

1.3 A ESCOLA DE BERLIM DE MUSICOLOGIA COMPARADA 

1.4 CHARLES SEEGER E GEORGE HERZOG  

UNIDADE 2 – ETNOMUSICOLOGIA PÓS-1945  

2.1 O TERMO ETNOMUSICOLOGIA  

2.2 ALAN MERRIAM x MANTLE HOOD  

2.3 TEORIA NA ETNOMUSICOLOGIA  

2.4 USOS E FUNÇÕES DA MÚSICA 

2.5 DEFINIÇÕES DE ETNOMUSICOLOGIA 

2.6 ETNOMUSICOLOGIA NO SÉCULO XXI 

UNIDADE 3 – ETNOMUSICOLOGIA NO BRASIL  

3.1 SUPERAÇÃO DO PARADIGMA FOLCLORISTA E

3.2 ETNOMUSICOLOGIA NAS UNIVERSIDADES

3.3 ETNOMUSICOLOGIA EMANCIPATÓRIA BRASILEIRA  

3.4 POR UMA ETNOMUSICOLOGIA ANTI-IMPERIALISTA

RESUMO  

REFERÊNCIAS  

x Reconhecer suas características dentre os estudos musicais;

Apresenta-se aqui a versão que o ilustre etnomusicólogo Bruno Nettl,

A outra dicotomia apresentada por Nettl divide este segundo período em

Todos esses termos, conceitos e abordagens, e ainda muitos outros, serão

1.2 DA MUSICOLOGIA COMPARADA À ETNOMUSICOLOGIA

No contexto euro-americano, a interpretação mais aceita da História da

No modelo de Adler, a Musicologia HistóricaDERUGDULDDP~VLFDDUUDQMDGDHP

Na Musicologia Sistemática, o modelo de Adler lidaria com a catalogação

$ ,QYHVWLJDomRHMXVWL¿FDomRGDVOHLVDF~VWLFDVHP , KDUPRQLD ,, ULWPRH

& (GXFDomR PXVLFDO R HQVLQR GH  P~VLFD HP JHUDO  KDUPRQLD 

D. Musikologie ³0XVLFRORJLD FRPSDUDGD´  FRPSDUDomR GH WUDEDOKRV

Porém, além da Musikologie ou musicologia comparada, que estabelece um ramo

Ellis apresentou um aparelho de medição de intervalos musicais denominado

)LJXUD,QWHUYDORGHRLWDYDGLYLGLGDHPVHPLWRQVWHPSHUDGRV QDFRUYHUPHOKD HD

1.3 A ESCOLA DE BERLIM DE MUSICOLOGIA COMPARADA

A musicologia comparada teve seu início com o estabelecimento do Arquivo

Em termos teórico-metodológicos, Hornbostel considerava que a Musicologia

1.4 CHARLES SEEGER E GEORGE HERZOG

A Etnomusicologia como campo do conhecimento e disciplina acadêmica se

1HWWO  LQIRUPDTXH&KDUOHV6HHJHUQmRVHFRQVLGHUDYDXPHWQRPXVLFyORJR

1HWWO  D¿UPDTXH6HHJHUQmRIRUMRXQHQKXPPpWRGRSDUWLFXODUDSDUWLU

Herzog teve uma formação privilegiada à época, foi treinado em Musicologia

Nesta Unidade, foi abordada a origem da Etnomusicologia a partir da narrativa

(//,6$-2QWKHPXVLFDOVFDOHVRIYDULRXVQDWLRQVJournal of the Royal Society of

0(55,$0$3The anthropology of music.(YDQVWRQ1RUWKZHVWHUQ8QLY3UHVV

1(77/%Nettl’s elephant: RQWKHKLVWRU\RIHWKQRPXVLFRORJ\ 8UEDQD8QLYHUVLW\RI

1(77/ % The Study of Ethnomusicology: 7KLUW\7KUHH 'LVFXVVLRQV &KDPSDLJQ

x Entender as ideias em torno da disputa entre Merriam e Hood e os

x Conhecer as teorias sociais que dão suporte aos estudos

2.1 O TERMO ETNOMUSICOLOGIA

Essa mudança de paradigma da Etnomusicologia no período do pós-

GHHVFUHYHUVREUHVXDSUySULDP~VLFD3RURXWURODGRDSociety for Ethnomusicology

2.2 ALAN MERRIAM X MANTLE HOOD

Um dos autores que melhor representou os novos rumos da Etnomusicologia

A disputa Merriam versus Hood pode ser entendida como um embate de

Figura 7 - Alan Merriam

)LJXUD&DSDGROLYURThe Anthropology of MusicGH$ODQ0HUULDP  

 DSRQWDRFRQFHLWRGH&XOWXUDGH(GZDUG7\ORU  FRPRWHQGRXPDJUDQGH

(WQRPXVLFRORJLD >H%RRN@ 5HQDWR 0RUHLUD 9DURQL GH

UNIDADE 1 – ETNOMUSICOLOGIA PRÉ-1945

1.1 INTRODUÇÃO

1.2 DA MUSICOLOGIA COMPARADA À ETNOMUSICOLOGIA

1.3 A ESCOLA DE BERLIM DE MUSICOLOGIA COMPARADA

1.4 CHARLES SEEGER E GEORGE HERZOG

UNIDADE 2 – ETNOMUSICOLOGIA PÓS-1945

2.1 O TERMO ETNOMUSICOLOGIA

2.2 ALAN MERRIAM x MANTLE HOOD

2.3 TEORIA NA ETNOMUSICOLOGIA

2.4 USOS E FUNÇÕES DA MÚSICA

2.5 DEFINIÇÕES DE ETNOMUSICOLOGIA

2.6 ETNOMUSICOLOGIA NO SÉCULO XXI

UNIDADE 3 – ETNOMUSICOLOGIA NO BRASIL

3.3 ETNOMUSICOLOGIA EMANCIPATÓRIA BRASILEIRA

RESUMO

REFERÊNCIAS

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& (GXFDomR PXVLFDO R HQVLQR GH P~VLFD HP JHUDO KDUPRQLD

D. Musikologie ³0XVLFRORJLD FRPSDUDGD´ FRPSDUDomR GH WUDEDOKRV

)LJXUD,QWHUYDORGHRLWDYDGLYLGLGDHPVHPLWRQVWHPSHUDGRVQDFRUYHUPHOKDHD

1HWWOLQIRUPDTXH&KDUOHV6HHJHUQmRVHFRQVLGHUDYDXPHWQRPXVLFyORJR

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(//,6$-2QWKHPXVLFDOVFDOHVRIYDULRXVQDWLRQVJournal of the Royal Society of

0(55,$0$3The anthropology of music.(YDQVWRQ1RUWKZHVWHUQ8QLY3UHVV

1(77/%Nettl’s elephant: RQWKHKLVWRU\RIHWKQRPXVLFRORJ\ 8UEDQD8QLYHUVLW\RI

1(77/ % The Study of Ethnomusicology: 7KLUW\7KUHH 'LVFXVVLRQV &KDPSDLJQ

GHHVFUHYHUVREUHVXDSUySULDP~VLFD3RURXWURODGRDSociety for Ethnomusicology

)LJXUD&DSDGROLYURThe Anthropology of MusicGH$ODQ0HUULDP

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7UDGXomROLYUHGH“Toward the Remodeling of Ethnomusicology”5,&(

3HVVRDV LGHLDV H P~VLFDV FLUFXODP HP ÀX[RV JOREDLV TXH WUDQVFHQGHP

3RGHU GLQKHLUR H LGHLDV VH LQWHUUHODFLRQDP HP ÀX[RV JOREDLV RQGH D

A função de expressão emocional;

A função do prazer estético;

A função do entretenimento;

A função da comunicação;

A função de representação simbólica;

A função de reação física;

A função de compelir conformidade às normas sociais;

A função de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura;