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O negro na ciência brasileira contemporânea

através de duas amostras


GABRIEL NASCIMENTO*

Resumo
A presença do negro na ciência brasileira ainda é um tema pouco discutido por
pesquisadores e educadores, tanto nas universidades quanto nos demais setores
da educação, ciência e tecnologia. Neste artigo apresentamos duas amostras,
retiradas de dois grupos de trabalho, no âmbito da Capes e do CNPq, para
apresentar um perfil etnicorracial da ciência brasileira e analisar a presença do
racismo epistêmico na produção do conhecimento.
Palavras-chave: Racismo; Capes; CNPq; Ciência.
The presence of black in Brazilian science remains as an issue not sufficiently
discussed by researchers and educators, in the universities and in other contexts
of education, science and technology. In this article we present two samples,
from two working groups, installed at the so-called research funding agencies
Capes and CNPq, aiming at presenting a racial profile of Brazilian science and
analyzing the presence of epistemic racism in the production of knowledge.
Key words: Racism; Capes; CNPq; Science.

*
GABRIEL NASCIMENTO é professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências e do
Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Sul da Bahia, e
doutorando em Letras pela USP.

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Introdução dessa forma pouco discutida de racismo,
que se prepondera nos espaços de poder
A ciência brasileira qualificada e e tem relação direta com a manutenção
organizada tem, pelo menos, 60 anos de de privilégios.
existência, desde a criação das
principais agências de fomento. O Como aporte metodológico, nos
Conselho Nacional de Desenvolvimento orientamos através dos marcos de uma
Científico e Tecnológico (CNPq), por pesquisa qualitativa, com o uso de
exemplo, surge em 1951, quase duas dados quantitativos, para interpretar, à
décadas depois de muita pressão, luz da teoria decolonial, a conformidade
através da Lei nº 1.310 de 15 de janeiro do racismo epistêmico no Brasil.
de 1951. A Coordenação de Racismo epistêmico e colonialidade
Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível do poder
Superior (Capes), por sua vez, surgiu na
mesma época através do Decreto O racismo epistêmico é comumente
29.741, e era chamada pelo nome de utilizado nas pesquisas internacionais
Campanha Nacional de pelos teóricos latino-americanos do
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível decolonialismo para analisar as formas
Superior. de construção do conhecimento pelas
chamadas amarras ocidentalistas do
Mais de 60 anos depois, a produção do colonialismo e da imposição moderna
conhecimento do negro e pelo negro na pelo histórico escravista e de exploração
construção dos arcabouços científicos colonial há séculos.
brasileiros passa a ser objeto do
questionamento de movimentos sociais, Não é fácil dar uma definição, tanto
seja através de sociedades e associações rápida quanto localizada, ao que
como a Associação Brasileira de chamamos de racismo epistêmico, mas
Pesquisadores Negros (ABPN) e algumas pistas passam a surgir a partir
Associação Nacional de Pós- da revisitação das obras de alguns
graduandos (ANPG), bem como pelos autores, como é o caso do sociólogo
coletivos negros universitários. porto-riquenho Ramon Grossfoguel, do
semiótico argentino Walter Mignolo, do
Neste artigo trazemos duas amostras filósofo colombiano Santiago Castro-
produzidas no âmbito da Capes e do Gómez e da filósofa panamenha Linda
CNPq para analisar a presença do negro Alcoff.
na ciência brasileira. Essas amostras
trazem, no caso da Capes, a presença de O primeiro conceito que guia nossa
pós-graduandos negros nos programas análise, a partir desses autores, é a
de pós-graduação recomendados pela relação entre colonialidade e poder no
agência e, no caso do CNPq, a mundo ocidental. Tomando emprestado
participação dos negros nos Comitês de o conceito foucaultiano de disciplina, o
Assessoramento (CAs) do CNPq. racismo epistêmico se configura através
da noção de sujeito criada e difundida
Inicialmente, trazemos à baila a no mundo colonial pelo europeu branco
discussão sobre a relação entre e mantida através das elites brancas
colonialidade e poder, a partir da teoria locais. No mundo pós-colonial, para a
decolonial, para entendermos como se manutenção de um status quo colonial,
dá no Brasil a construção do que a difusão dos privilégios brancos
chamamos de racismo epistêmico e, a necessita da manutenção do
partir daí, a elaboração e efetivação universalismo ocidentalista que é

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imanentemente epistêmico, como nos metodológicos de afastamento entre
apontam as palavras a seguir: pesquisador e participante na pesquisa
científica e utiliza fundo metodológico
El universalismo abstracto apenas descritivo, sem nenhuma
epistémico en la tradición de la
qualidade interventiva, esta no sentido
filosofía occidental moderna forma
parte intrínseca del racismo de transformar a sociedade e combater
epistemológico. Si la razón as desigualdades. A minha principal
universal y la verdad solamente hipótese, que não será explorada com o
pueden partir de un sujeto devido detalhamento neste trabalho, é
blancoeuropeo- masculino- que essa metodologia é o know-how de
heterosexual, y si la única tradición manutenção de uma epistemologia
de pensamiento con dicha excludente e racista na Academia
capacidad de universalidad y de brasileira.
acceso a la verdad es la occidental,
entonces no hay universalismo O que vem sendo observado como
abstracto sin racismo epistémico. El racismo epistêmico, muitas vezes, surge
racismo epistemológico es na própria confusão entre um
intrínseco al “universalismo eurocentrismo versus fundamentalismo
abstracto” occidental, que encubre a que, na visão de Grossfoguel (2007)
quien habla y el lugar desde donde
reflete um perigo da teoria pós-colonial.
habla (GROSSFOGUEL, 2007, p.
71). Isso se dá porque a postura crítica em
relação ao Ocidente não deve deixar de
Como nos aponta o autor nessa levar em conta que o não-diálogo pode
passagem, se esse universalismo levar a uma estreiteza de pensamento
abstrato de que tratamos parte de fundamentalista. Para o autor, é preciso
europeus, brancos e heterossexuais, que haver uma alternativa. Essa alternativa
fundam daí uma tradição de implica em questões diretamente
pensamento, há relações colocadas de epistêmicas, como é o caso de enxergar,
espaço e tempo na narrativa “global’ do de forma crítica, o papel das
Ocidente que permite um pensamento democracias burguesas em toda a
excludente que define o que é e o que América Latina e a própria crítica às
não é conhecimento. Em seus escritos, teorias críticas europeias sobre a
Foucault (2009) já chamava a atenção Europa. É o caso das teorias pós-
para o perigo da definição do que é e do modernas que, como sugere
que não é objeto científico nessa Grossfoguel (2007) são uma crítica
produção do saber. No caso da tradição europeia à modernidade europeia. Não é
do universalismo ocidental, sua nesse contexto que se configura a crítica
abstração no pensamento produzido no decolonial à modernidade e seu
território colonial leva à criação de uma universalismo, e a proposta do autor de
matriz de pensamento onde brancos configuração de uma
falam pelos negros e os descrevem sem “transmodernidade”, pois, como ele nos
se esforçarem, muitas vezes, para lhes afirma:
dar voz. É o que eu inadvertidamente
Todo lo dicho hasta ahora [en las
considero a relação entre epistemologia
criticas decoloniales] no tiene nada
e metodologia no status quo colonial que ver con la perspectiva
produzido e mantido no Brasil, porque a posmodernista. La perspectiva
produção do conhecimento que ignora transmoderna no es equivalente a la
as vozes negras é aquela que decide crítica posmodernista. La
pela utilização de referenciais posmodernidad es una crítica

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eurocéntrica al eurocentrismo. desresponsabilização do branco sobre o
Reproduce todos los problemas de racismo:
la modernidad/colonialidad
(GROSSFOGUEL, 2007, p. 74). Há cerca de dez anos ficamos
A confusão intermitente que se faz entre surpreendidos ao descobrir que os
africanos do norte detestavam os
a teoria decolonial e a pós-moderna é
homens de cor. Era-nos realmente
mais uma vez a redução do papel das impossível entrar em contacto com
vozes marginalizadas pelo próprio os nativos. Deixamos a África com
discurso epistemológico dominante. destino à França, sem ter
Essa separação é importante e merece compreendido a razão desta
melhor exploração e entendimento, que animosidade. Entretanto, alguns
não daremos conta neste artigo 1 . A fatos nos levaram a refletir. O
perspectiva transmoderna engloba o francês não gosta do judeu que não
Ocidente e o exerce criticamente de gosta do árabe, que não gosta do
modo a combater o colonialismo ainda preto... Ao árabe se diz: “Se vocês
fundante entre nós, sendo possível ir estão pobres é porque o judeu vos
enrolou, tomou tudo de vocês”. Ao
além da modernidade e pós-
judeu se diz: “Vocês não estão em
modernidade. pé de igualdade com os árabes
Se entendemos que todo o pensamento porque na verdade vocês são
colonialista está implicado num brancos e têm Bergson e Einstein”.
universalismo epistêmico, onde tempo e Ao preto se diz: “Vocês são os
espaço se configuram, sua manutenção melhores soldados do Império
Francês, os árabes se consideram
só se pode dar através de mitos entre os
superiores a vocês, mas eles estão
colonizados e forças pós-coloniais enganados”. Aliás, não é verdade,
(trataremos um pouco disso na próxima não se diz nada ao preto, não se tem
seção). nada a lhe dizer, o soldado
Em melhores termos, Fanon (2008) senegalês é um infante, o bom-
descreve de maneira abundante a infante-do-seu-capitão, o valente
que só-sabe-receber-ordens: – Você
relação entre o colonialismo e as
não passar. – Por quê? – Eu não
máscaras brancas racistas que saber. Você não passar. O branco,
introduzem a dominação racial pós- incapaz de enfrentar todas as
colonial ao povo negro. Desde a reivindicações, se livra das
linguagem até os mitos, o negro pós- responsabilidades. Eu denomino
colonial é ensinado constantemente a se este processo de repartição racial
“desenegrecer”, como se isso fosse da culpa (FANON, 2008, p. 98,
possível. Nesse sentido, no trecho a grifos meus).
seguir, o autor mostra como a estrutura
do racismo invade o sujeito colonizado A passagem acima revela, como tem
de modo a fazer com que ele não goste reafirmado Grossfoguel (2013), que o
do seu semelhante, e isso leve a uma racismo se dá em um conjunto de
hierarquias e não como uma substância
em si, e, por causa de seu precedente
tanto biologicista quanto religioso
1
Para uma melhor leitura sobre esse item, veja (SAID, 2007), impõe marcas de
CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. exclusão de ódio entre os sujeitos que
(Orgs.) El giro decolonial: reflexiones para una
diversidad epistémica más allá del capitalismo
tiveram seu território e história
global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, colonizados, de modo que
2007. desresponsabiliza o branco do racismo e

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desorganiza e deslegitima a luta racial. que, no país, violento é “o outro”: o
Nesse sentido, para Fanon (2008), o menino de rua, a prostituta, o travesti,
complexo de inferioridade é uma os negros, os índios, os movimentos
criação do colonialismo e não do negro. sociais e as demais comunidades
marginalizadas. Assim, sendo essas
É nesse contexto de colonialidade do
comunidades é que são violentas e,
poder que se configura o racismo
portanto, não-brasileiras.
epistêmico, levando o ódio entre os
povos que foram colonizados e Esse jogo semântico tem a prevalência
invisibilização e apagamento do transitória e temporária do próprio signo
conhecimento sobre o negro e pelo (aqui tomando uma dimensão mais
negro. Neste trabalho entendemos derridiana), mas cumpre seu papel
racismo epistêmico como um conjunto fundamental na discussão entre o
de configurações de hierarquização do “dentro” e o “fora” do signo e da
pensamento para a construção de uma identidade: se o Brasil é um lugar
epistemologia branca, heterossexual e cordial e da não-violência, segundo o
de matriz burguesa que decide o que é discurso das elites coloniais, logo, o que
conhecimento e destrói, subrepresenta, é violento é não-cordial e, logo, não-
invisibiliza e apaga as genealogias de brasileiro. Tomando ainda o conceito de
produção intelectual não-branca. suplementação do adiamento da
construção do signo (a partir de
A seguir destacaremos de forma crítica
DERRIDA, 1978), o sentido de
e mais direta a questão da colonialidade
“violento” e “não-violento” vai sendo
no pensamento científico produzido no
suplementado, por esse mesmo discurso
Brasil nas últimas décadas através de
de prosperidade e meritocracia, através
um mito muito reproduzido entre nós: o
das elites de hoje, para alcançar e inserir
brasileiro cordial.
outras comunidades marginalizadas
Entre o brasileiro cordial e o racismo como violentas: o jovem de periferia, os
cordial LGBTs, as mulheres feministas etc.
Os mitos sobre o Brasil são objeto de Um aspecto fundamental desse discurso
longa discussão nas ciências humanas, civilizatório das elites encontra sombra
sociais e sociais aplicadas, como trazem em uma teoria sociológica muito
os trabalhos de Chauí (2006, 2000), respeitada nas ciências sociais
Holanda (2013) e Souza (2015) etc. brasileiras, que é a teoria de Holanda
Esses trabalhos possibilitam diferentes (2013), que, em nossa visão é o ponto
dimensões sobre esses mitos, e vamos de partida para teorização do que é o
nos concentrar em alguns aspectos deles brasileiro cordial e, a partir daí, definir
para tratar da relação entre a ideia de o que é o racismo cordial no Brasil.
brasileiro cordial e o racismo cordial no
O brasileiro cordial, em Holanda
Brasil.
(2013), é uma boa tentativa de oposição
O mito fundador que constitui o à bem-intencionada unidade morena
autoritarismo de nossa sociedade (nas trazida à baila na teoria sociológica de
palavras de CHAUÍ, 2000), tem Freyre (1936), para quem a mestiçagem
nascedouro nas elites brancas brasileiras (automática, cordial e equilibrada) das
que construíram uma narrativa raças é algo elogiável no país,
vencedora de que o Brasil não é um produzindo, dessa forma, o arcabouço
lugar violento (o chamado mito da não- para afirmação de nossa mestiçagem.
violência analisado por CHAUÍ, 2006) e Para Holanda (2013), esse brasileiro

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cordial é um problema na nossa através do distanciamento entre
narrativa, porque é cúmplice de todos os interesses privados e públicos, o
“mal feitos” cometidos no Estado e pelo discurso oficial de Estado nega a
Estado, de modo que a cordialidade se violência estruturante e reafirma as
torna um grande obstáculo de narrativas já seculares das elites brancas
desenvolvimento nacional. O contrário brasileiras, de que o Brasil não é um
dessa cordialidade é a noção de um lugar de violência e, portanto, não tem
Estado republicano, com atores de racismo. É neste momento que vamos
diversos campos políticos, e de agentes nos centrar de agora em diante.
“neutros”.
Parece ser um consenso nos dias atuais,
A partir das cuidadosas análises de pelo menos entre pesquisadores negros
Souza (2015), é preciso observar que a (MUNANGA, 2006; FERREIRA e
oposição de Sérgio Buarque de Holanda CAMARGO, 2013, entre outros) da
à teoria de Freyre (1936) é perigosa à prevalência de um racismo cordial, com
medida que demoniza o brasileiro peculiaridades coloniais brasileiras que
cordial no Estado e não o demoniza no merecem mais cautela e cuidado.
mercado. Ao não tratar do mercado, a
ideia de Estado corrupto e mercado Porém, ainda não é inteiramente
próspero se efetiva como imaginário defendida a característica estrutural e
dominante entre nós, no senso comum. estruturante desse racismo cordial.
Essa agenda também impôs ao Nosso entendimento aqui é que a
imaginário dos próprios partidos de natureza do racismo cordial é mais
esquerda a noção de um Estado complexa do que se parece. Por
“neutro” e republicano, levando aos entendermos o racismo cordial como
governos mais populares, como é o caso uma materialização do racismo
dos governos de Lula e Dilma, a estrutural entre nós, de modo a
ingênua indicação de pessoas reafirmar a ideia de não-violência e,
supostamente “mais neutras” para portanto, uma democracia racial, numa
tribunais superiores e funções vitalícias república sem racismo (e apenas com
no Estado brasileiro, bem como a preconceito de classe, discurso que une
observância à indicação em lista dos setores da esquerda e da direita), o
mais votados pelo Ministério Público racismo cordial não poderia existir sem
Federal para a Procuradoria Geral da sua matiz institucional, que se reproduz
República. Em nossa visão, a tentativa em outras formas de racismo e ações
de limar uma cordialidade corrupta no racistas: são os agentes institucionais
Estado nos levou à ilusão de que o que produziram, por exemplo, em uma
Estado, nas dadas condições de década de governos mais populares,
democracia burguesa, é neutro. Em poucos dados etnicorraciais sobre as
nossa visão, e tomando não apenas uma comunidades marginalizadas de negros,
visão estruturalista do marxismo, mas índios, quilombolas etc. na demografia
sua própria atualização, o Estado é um brasileira, que continuou a produzir e
espaço disputável por todas as correntes reproduzir a desigualdade em espaços
e forças políticas. institucionais de prestígio dos próprios
governos mais populares (com maioria
Assim, é passível de reconhecimento do branca), com um não enfrentamento da
lócus onde se estrutura o chamado discrepância etnicorracial na própria
racismo cordial. Havendo a tentativa de ciência, com maioria branca desde a
obstrução da cordialidade no Estado, comunidade da pós-graduação até a

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comunidade dos Comitês de concentração dos programas de pós-
Assessoramento do CNPq. É neste graduação no Sul/Sudeste), culturais (do
ponto que nos ligamos ao que foi ponto de vista da disparidade entre o
discutido na seção anterior, no que investimento entre áreas distintas, sendo
concerne ao racismo epistêmico. É o que umas recebem muito mais
racismo epistêmico uma das principais investimento do que outras de acordo
bases do racismo cordial (que convive com uma dada visão de estratégia) e
com a violência, desde setores da direita etnicorraciais (com forte concentração
até setores da esquerda de maneira de brancos na pós-graduação). É neste
cordial, reafirmando o mal da ponto que se centra este artigo.
cordialidade do Estado enquanto se No âmbito da Capes, um dos maiores
cala, de forma cordial, com a violência entraves que ajudam a dar sustentáculo
racial conduzida contra grupos ao racismo epistêmico e cordial, ao
marginalizados). nosso ver, é a inexistência de dados
A seguir discutiremos alguns dados a etnicorraciais na pós-graduação. Essa
partir da primeira amostra de análise, comunidade, regida através das normas
obtida através de grupo de trabalho na criadas pela Capes em seus colegiados e
Capes. com forte participação da própria
comunidade científica, é analisada
A Capes, a Plataforma Sucupira: a demograficamente sob diversos
primeira amostra aspectos, mas quase ou nunca através
do recorte racial. É o caso das bases de
Como dito em nossa introdução, a dados da própria Capes que até aqui não
Coordenação de Aperfeiçoamento do incluíram sequer a autodeclaração
Pessoal de Nível Superior (Capes) foi etnicorracial como mecanismo de
criada como campanha de formação análise e constituição de sua base de
qualificada para a pesquisa através do dados.
Decreto 29.741 de 1951. Mesmo não
nos cabendo discussão mais Os dados etnicorraciais conhecidos até
aprofundada sobre avaliação e os aqui são conduzidos pelos recortes
méritos da Capes, é indiscutível que ela tirados da última Pesquisa Nacional por
tem funcionado há décadas como um Amostra de Domicilio (Pnad/2013) 2 ,
dos mais importantes referenciais de levando ao Governo Federal a anunciar
regulação técnico-científica do mundo, a presença de 28% de negros na pós-
sendo capaz de recomendar milhares de graduação (tomando pretos e pardos).
programas espalhados pelo Brasil, além No entanto, essa pesquisa passa a ficar
da condução de editais de sob suspeita após a criação do Grupo de
financiamento, programas de parceria e Trabalho (GT) Inclusão social na pós-
descentralização e organização do graduação no âmbito da Capes, criado
sistema de pós-graduação. através da Portaria MEC nº 149, de 13
No entanto, como entidade ainda nova de novembro de 20153. Com o objetivo
(comparada às demais entidades de de debater a inclusão social de
regulação e organização do mundo), a
Capes não tem dado conta de algumas
2
problemáticas, já reivindicadas por Para conferência dos dados da base
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/popul
organizações, associações e sociedades acao/trabalhoerendimento/pnad2013/>
científicas, como é o caso das 3
Eu representei a Associação Nacional de Pós-
assimetrias regionais (com ainda forte graduandos nesse grupo.

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comunidades marginalizadas na pós-graduação e com representação delas (havia
presença de entidades do movimento negro, de representantes indígenas e de pessoas
com deficiência), a Capes apresentou, através de seus agentes credenciados, alguns
dados referentes à composição de perfil etnicorracial na pós-graduação brasileira. Como
é sabido dos agentes que atuam na pós-graduação, a Plataforma Sucupira tem ausência
total de autodeclaração e instrumentos para entender a realidade etnicorracial e
socioeconômica dos pós-graduandos, sendo aqueles dados os primeiros dados
fornecidos pela Capes sobre composição do perfil dos pós-graduandos brasileiros.
Os dados fornecidos pela Capes4 foram obtidos através do cruzamento das bases de
dados do Censo da Educação Superior, Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e
Relação Anual de Informações Sociais (RAIS- Ministério do Trabalho), tendo como
base os números de documentos fornecidos no cadastro de cada base. Esse cruzamento
levou à checagem da realidade de estudantes que, ao se autodeclarar em qualquer uma
das bases anteriores, foram encontrados na Plataforma Sucupira, da Capes. A tabela a
seguir foi obtida no Grupo de Trabalho da Capes, através da junção dos dados da base:

CENSO + Número de
ENEM + RAIS Alunos
374.944

Encontrado
85,00%
66.160

Não encontrado
15,00%
Total 441.104
Tabela 1- Número de pós-graduandos (2013-2015) segundo a junção dos dados das bases

Os números da Plataforma Sucupira para o período estão dispostos a seguir:


Doutorado 154.944
Mestrado 238.878
Mestrado Profissional 47.282
Total 441.104
Tabela 2- Número de pós-graduandos (2013-2015) disposto na Plataforma Sucupira

4
Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) pela
disponibilização dos dados graças ao trabalho primoroso dos professores Dr. Márcio de Castro Silva Filho
e Dr. Sérgio da Costa Côrtes pela realização desse estudo preliminar e sua apresentação ao Grupo de
Trabalho.

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Os dados etnicorraciais a seguir são retirados desse cruzamento de dados e se referem à
composição étnica encontrada entre os anos 2013-2015, cruzados a partir da Plataforma
Sucupira e encontrados ou no Censo da Educação Superior (CES-2009-2013) ou na
base do Enem (2009-2014) ou na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS- 2013-
2014):
COR/RAÇA Quantidade%
Amarela 2.972 0,98
Branca 119.825 39,38
Indígena 522 0,17
Não Declarado 53.072 17,44
Não Dispõe da Informação76.491 25,14
Não Identificado 5.630 1,85
Parda 36.198 11,9
Preta 9.583 3,15
Tabela 3- Cruzamento dos dados a partir das bases de dados CES/ Enem/RAIS/Plataforma Sucupira

Dos 374.293 estudantes cruzados, Mestres 2012: Estudos da demografia


81,16% se autodeclararam e constituem da base técnico-científica brasileira6 do
a base para nossa amostra. Esse espelho Centro de Gestão de Estudos
de autodeclaração é muito importante Estratégicos (CGEE) do Ministério da
para nossa análise fundamental do Ciência, Tecnologia, Inovação e
racismo epistêmico na ciência brasileira Comunicações (MCTIC), divulgado em
neste artigo. Por outro lado, o 2013 pelo Governo Federal, naquele
percentual de não declarados (17,44%), ano os brancos, que no período
não identificado (1,85%) e sem correspondiam a 47% da população,
informação na base (25,14%) 5 são representavam 80% dos mestres e
preocupantes. doutores titulados. Os pardos, que eram
Entretanto, segundo a tabela 2, entre os naquele ano 42% da população,
anos 2013-2015 foram encontrados representavam apenas 16% dos mestres
apenas 15,22% de negros (pretos e e 12% dos doutores titulados. Os pretos,
pardos). Se recortarmos esse número que eram 8% da população,
para pretos, o percentual cai para 3%. representavam no período 3% dos
mestres e 2% dos doutores7.
Os dados acima, obtidos com
exclusividade pelos membros do Grupo Os dados dessa primeira amostra
de Trabalho, revelam a disparidade revelam que a presença dos pós-
entre negros e brancos na pós-
graduação e confirmam outros estudos. 6
Confira o estudo de forma mais aprofundada
Se analisarmos os dados do estudo aqui
http://www.cgee.org.br/publicacoes/mestres_e_
doutores.php
5 7
Esses dados se referem àqueles que não Os dados de censo são por autodeclaração. Até
obtiveram resultado no cruzamento dos dados a finalização do artigo não conseguimos os
nas bases. dados detalhados para cada ano.

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graduandos negros (pretos e pardos) é A Plataforma Lattes é a mais importante
muito pequena e não teve evolução base do CNPq, e uma das mais
como no caso da graduação, e que o importantes do mundo e reúne
número de pós-graduandos negros não pesquisadores das mais diversas regiões
acompanhou a política de reserva de brasileiras. Tal como é caso da
vagas nas universidades (iniciada há Plataforma Sucupira, a Plataforma
mais de dez anos, primeiro nas Lattes não permite a autodeclaração
universidades estaduais e depois nas etnicorracial dos pesquisadores, o que
universidades federais através da Lei dificulta uma análise mais aprofundada
12.711/2012). Como já observado, se do perfil etnicorracial na ciência
tomarmos os dados de pretos, os dados brasileira.
caem para 3% de pós-graduandos, Entretanto, no âmbito da Capes foi
igualando-se ao número de pretos criado um Grupo de Trabalho com o
diplomados em 2012. objetivo de debater o perfil
A seguir apresentaremos a segunda socioeconômico dos CAs da agência.
amostra, com dados dos comitês de Neste artigo analisaremos alguns dados
assessoramento do CNPq, para buscar recortados desse grupo de trabalho, de
analisar os dados a partir da discussão modo a servir para nossas interpretações
sobre racismo cordial e racismo e conclusões.
epistêmico. Como a maioria dos CAs têm 0% de
membros negros, apresentamos abaixo
O CNPq e os comitês de um quadro com o recorte de alguns
assessoramento: a segunda amostra dados produzidos nesse GT sobre todos
os CAs8:
Tal como a Capes, o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) foi criado em
1951, através da Lei nº 1.310 e fruto de
grande pressão da Academia Brasileira
de Ciências e da comunidade científica.
Durante essas décadas, ao contrário da
Capes, que também funciona como
agência que normativiza e regula a pós-
graduação brasileira, o CNPq tem
cuidado da pesquisa para formação,
desde a pesquisa básica até a pesquisa
aplicada.

Os Comitês de Assessoramento (CAs)


do CNPq têm o objetivo de prestar
assessoria ao CNPq na formulação de
políticas e na avaliação de programas e
projetos nas mais diversas áreas, e
reúnem cerca de 300 pesquisadores 8
Os dados divulgados aqui são retirados tanto
indicados pelas sociedades científicas e do âmbito do GT quanto de sua divulgação no
por pesquisadores com bolsa de estudo de Tavares et aliae (Online), disponível
produtividade e aprovados pelo em
<http://www.cnpq.br/documents/10157/1f95db4
Conselho Deliberativo do CNPq.
9-f382-4e22-9df7-933608de9e8d>.

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COR/RAÇA Percentual

Branca 74,3%

Parda 5,5%

Preta 0,3%

Amarela 2,0%

Não informada 17,9%

Tabela 4- Perfil etnicorracial dos Comitês de Assessoramento do CNPq

Se tomarmos os dados por região, temos os números a seguir:


Região Percentual

Centro-Oeste 3,5%

Norte 2,9%

Nordeste 13,9%

Sul 20,8%

Sudeste 59%

Tabela 5- Perfil dos Comitês de Assessoramento do CNPq por região

Se tomarmos os dados apresentados, os Ao observar os dados dispostos nas 5


negros (pretos e pardos) representam tabelas apresentadas neste texto, é
apenas 5,9% dos pesquisadores preciso analisar que são, primeiramente,
qualificados nos Comitês de recorte (e não o todo) de dados
Assessoramento do CNPq, uma cuidadosos disponibilizados pelas duas
quantidade muito pequena. Esses dados agências. Em segundo lugar, são dados
revelam que, num espaço tão que refletem dois loci de produção
qualificado como os CAs do CNPq, não científica específicos: a população de
há quase participação e presença de pós-graduandos (pós-graduandos
negros na avaliação de projetos tão regularmente matriculados em
estratégicos para o país na área de mestrados e doutorados, iniciando a
ciência e tecnologia. vida acadêmica ou no meio da formação
A seguir apresentamos algumas científica) e a população dos membros
discussões através de nossa dos CAs do CNPq (que são cientistas
interpretação dos dados das duas com produção intelectual qualificada e
amostras. conhecida pela comunidade científica,
sendo boa parte deles pesquisadores
Algumas interpretações com bolsa de produtividade do CNPq).

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Esses dois recortes possibilitam ver o regionais impede uma
impacto de um lócus para o outro, de verificação maior dos lugares e
modo que uma realidade modifica a regiões onde se concentram
outra. Os assessores do comitê são algumas populações
consultores de projetos e programas etnicorraciais. No caso da
importantes do CNPq, que avaliam Capes, o dado disponibilizado
financiamento e formulação de projetos em estudo mais avançado pela
e políticas estratégicas para o Brasil, agência estava ilegível e não
que os recomendam ou não. Os pós- pôde ser analisado neste estudo.
graduandos, muitas vezes, são aqueles Os dados do CNPq tinham o
que são recomendados ou não por esses percentual dos membros dos
consultores e recebem ou não a CAs por região e universidade,
chancela do Estado brasileiro para mas não diziam qual perfil
pesquisar. etnicorracial era mais presente
em cada região, o que
Ou seja, partindo de nossa discussão
impossibilitou uma análise mais
teórica sobre a relação entre o racismo
profunda;
estrutural com o racismo cordial, uma
das primeiras conclusões que podemos c) Com exceção da
ter é que ele só pode ser cordial à publicação do CNPq em seu
medida que se institucionaliza na domínio e site (Cf. TAVARES
narrativa da neutralidade, da et. aliae, Online), esses dados
cordialidade e da não-violência, não foram disponibilizados ou
tornando-se monumento estruturante da publicados em periódicos
natureza do discurso e das formações nacionais e internacionais, o que
discursivas nesses espaços. Ao dificulta sua utilização pela
analisarmos que ambas as amostras têm própria comunidade científica.
dados parecidos da composição de
Embora essas duas amostras não deem
negros e negras na ciência, verificamos
conta das múltiplas possibilidades de
que, institucionalmente, esse espaço faz
recorte e análise, é importante
prevalecer a cordialidade do racismo
compreender como elas significam e
estrutural no Brasil de modo a
ressignificam uma forma de racismo
reproduzir, assim, alguns itens:
que se organiza nas hierarquias do
a) A ausência de dados conhecimento e promove Epistemicídio
(tanto na Plataforma Lattes dos objetos e da produção negra. Para
quanto na Plataforma Sucupira) Carneiro (2005), o Epistemicídio atua
e a não recomendação para como negação da legitimidade do outro,
preenchimento de dados de de modo a negar-lhe a voz e a
autodeclaração pelos agentes existência, como ela nos expõe a seguir:
públicos e pela própria O epistemicídio é, para além da
comunidade, de modo a anulação e desqualificação do
incentivar o detalhamento do conhecimento dos povos
perfil socioeconômico e subjugados, um processo
etnicorracial da própria persistente de produção da
comunidade; indigência cultural: pela negação ao
acesso a educação, sobretudo de
b) A prevalência de dados qualidade; pela produção da
que ainda não se integram na inferiorização intelectual; pelos
complexidade das assimetrias diferentes mecanismos de

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deslegitimação do negro como epistemicídio das vozes das
portador e produtor de comunidades marginalizadas.
conhecimento e de rebaixamento da
capacidade cognitiva pela carência Outros dados que as tabelas trazem é
material e/ou pelo que, quanto mais escuro se é, menos se
comprometimento da auto-estima está representado tanto na pós-
pelos processos de discriminação graduação quanto entre os cientistas que
correntes no processo educativo. julgam os grandes projetos científicos
Isto porque não é possível do país.
desqualificar as formas de
conhecimento dos povos Por outro lado, não temos dados da
dominados sem desqualificá-los evolução dessa população na pós-
também, individual e graduação na última década, o que
coletivamente, como sujeitos
cognoscentes. E, ao fazê-lo,
dificulta uma análise mais aprofundada
destitui-lhe a razão, a condição para da participação do negro na ciência e
alcançar o conhecimento “legítimo” sua inserção nos últimos anos.
ou legitimado. Por isso o
epistemicídio fere de morte a
A seguir apresentamos algumas
racionalidade do subjugado ou a conclusões e algumas implicações sobre
sequestra, mutila a capacidade de esses dados para a educação brasileira e
aprender etc. (CARNEIRO, 2005, para os futuros trabalhos sobre esse
p. 97) objeto.
Por isso, segundo a autora, ao negar a Algumas conclusões
legitimidade de um conhecimento, o
epistemicídio fere de morte o As implicações educacionais dos dados
conhecimento do outro, sendo ele o apresentados neste trabalho são muitas
grande sustentáculo do racismo podem arrefecer diversas conclusões.
epistêmico e de suas configurações na Como o racismo é uma estrutura
universidade brasileira, de modo a complexa em nossa sociedade, a
silenciar ou acabar com a racionalidade primeira conclusão que aqui chegamos
das comunidades marginalizadas, como é que a maior dificuldade para um
é o caso dos negros, índios, mulheres, pesquisador que investiga a presença
transgêneros, etc. dos negros na ciência é a ausência de
dados etnicorraciais oficiais.
No caso dos dados criados, entendemos
que esta divulgação cumpre o papel de O Brasil mudou e avançou muito na
divulgá-los e mostrar um grande marco área de transparência, possibilitando
para a existência do epistemicídio: a diversos estudos sobre a composição
ausência de representação de negros e étnica do povo brasileiro. No entanto,
negras na pós-graduação e nos comitês na área científica esses ainda são tabus
de cientistas que prestam que parecem em transição e merecem
assessoramento e consulta ao CNPq. cuidado de pesquisadores e
pesquisadoras atentos e atentas.
Entendemos aqui que a não diversidade
nesses espaços faz com que as vozes Outrossim, entendemos que a entrada de
marginalizadas sejam tratadas de forma negros e negras, além das mais diversas
subrepresentadas ou de forma comunidades marginalizadas, num
naturalizada pela própria Academia, espaço como a pós-graduação
configurando a existência de um possibilita novos olhares sobre os
racismo epistêmico e, daí em diante, o objetos científicos e, portanto,

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mudanças epistemológicas na própria inglesa aprovado pelo PNLD. Revista da
ciência brasileira. ABPN. Vol. 6, N. 12. P. 177-202. 2013.
FOUCAULT, M.. A arqueologia do saber. 7.
Neste artigo buscamos apresentar ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
alguns dados que ainda são incompletos
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. 2.
e não apresentam a amplitude da
ed. São Paulo, SP: Schmidt, 1936.
representação das desigualdades e
exclusão do negro na ciência brasileira. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do
Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das
Embora faltem ainda muitos dados Letras, 2013.
complementares, entendemos que essa
dimensão pode se dar em trabalhos GROSFOGUEL, R. Descolonizando los
universalismos occidentales: el pluri-versalismo
futuros a partir de novos estudos e transmoderno decolonial desde Aimé Césaire
trabalhos, tomando como base essas hasta los zapatistas. In: CASTRO-GÓMEZ, S.;
duas amostras. GROSFOGUEL, R. (Orgs.) El giro decolonial:
reflexiones para una diversidad epistémica más
Desse modo, é necessário haver allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del
mudanças tanto na inclusão de grupos Hombre Editores, 2007.
marginalizados, quanto no debate, em GROSFOGUEL, R. The Structure of
trabalhos futuros, sobre o papel dessa Knowledge in Westernized Universities
realidade para a manutenção de Epistemic Racism/Sexism and the Four
privilégios brancos no status quo e a Genocides/Epistemicides of the Long 16th
manutenção do racismo epistêmico e Century. Human Architecture: Journal of the
Sociology of Self-Knowledge, XI, Issue 1, Fall
sua configuração cordial na sociedade 2013.
brasileira.
MUNANGA, K. Algumas considerações sobre
‘raça’, ação afirmativa e identidade negra no
Brasil: fundamentos antropológicos. Revista
Referências USP, n. 68, p. 46-57, 2006.
CARNEIRO. A. S. Construção do Outro
SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente
como Não-Ser como fundamento do Ser. Tese
como invenção do Ocidente. ed. atual. São
(Doutoramento em Educação). Universidade de
Paulo: Companhia das Letras, 2007
São Paulo: São Paulo, 2005.
SOUZA, J. A tolice da inteligência brasileira.
CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e
Rio de Janeiro 2015.
sociedade autoritária. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2000. TAVARES, I.; BRAGA, M. L. S.; LIMA, B.S.
Análise sobre a participação de negras e
CHAUÍ, M. Simulacro e poder: uma análise da
negros no sistema científico. Disponível em
mídia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
<http://www.cnpq.br/documents/10157/1f95db4
2006.
9-f382-4e22-9df7-933608de9e8d>. Acesso em:
DERRIDA, J. Writing and Difference. UK: 09 fev. 2017.
The Gresham Press, 1978.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas.
Recebido em 2018-04-17
Salvador: EdUFBa, 2008.
Publicado em 2018-07-06
FERREIRA, A. J..; CAMARGO, Mábia. O
racismo cordial no livro didático de língua

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