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RACISMO ENQUANTO PRÁTICA IDEOLÓGICA: UMA ANÁLISE


SOBRE OS REBATIMENTOS DO RACISMO PARA ESTUDANTES
NEGRAS/NEGROS NO AMBIENTE ESCOLAR

RESUMO:O estudo tem como objetivo discutir o racismo como


ideologia do poder dominante e os reflexos para estudantes
negras(os) no ambiente escolar. Refletimos sobre o racismo
estrutural em nossa sociedade e visualizamos a escola como
aparelho ideológico que pode reforçar essa idéia ou ter uma
postura contraria a essa ideologia. Para tal estudo,
apresentamos como base o método materialismo histórico
dialético e análise qualitativa, por meio de um estudo
bibliográfico. Dessa forma, identificamos que a ideologia racista
está presente na escola e que, muitas vezes, estudantes
negras(os) não se sentem representados na escola.
Ressaltamos, a importância de uma educação antirracista.
Palavras-chave: educação; Ideologia; racismo.

1 INTRODUÇÃO

O racismo é uma ideologia que, desde o período colonial, foi utilizada com
objetivo de inferiorizar os povos africanos e os escravizar, é um instrumento do poder
dominante, que se configura em um conjunto de idéias que exercem um poder dentro
da sociedade. Nesse sentido, no ambiente escolar que é aparelho de controle do
Estado, essa ideologia racista se faz presente contribuindo para que estudantes
negras/negros tenham um distanciamento de sua identidade racial.
Assim, o reflexo dessa ideologia é o mito da democracia racial que produz um
falso discurso de igualdade racial. A escola, quando silencia as pautas raciais,
comunga com esse discurso e nega a existência do racismo e atua concernentemente
com ele e é, também, uma expressão do pouco letramento racial que os brasileiros
têm.
Desse modo, quando a escola não discute questões étnico-raciais, dificulta a
construção de consciência racial e cria barreiras para os estudantes no processo de
conhecimento de suas histórias, pois, muitas vezes, as conhecem de forma enviesada,
distorcida e unilateral e, por isso, a entendemos como fator proveniente de uma
ideologia racista. Nosso objetivo é abordar o racismo enquanto ideologia dominante e
os impactos para estudantes negras e negros no ambiente escolar.
Dessa maneira, nosso artigo está dividido em dois tópicos contemplando as
categorias racismo, ideologia e educação. No primeiro, abordaremos o racismo como
ideologia e problematizar quem detém esse poder ideológico; no segundo,
debateremos quais os reflexos da ideologia racista para estudantes negras e negros.
Dessa forma, ressaltamos que a ideologia racista se faz presente nos
equipamentos educacionais quando nega e omite a história da população negra ou as
discussões sobre raça e nesse sentido, há uma necessidade da educação ter uma
prática antirracista coerente com o papel da educação no processo de transformação
da sociedade.

2 RACISMO E IDEOLOGIA

O racismo é um sistema estrutural em nossa sociedade e configura-se enquanto


atos de discriminação e preconceito atrelados a raça. As pessoas negras, desde o
período escravista até os dias atuais, sofrem com essas discriminações. O racismo é
um elemento que busca inferiorizar, desqualificar indivíduos e grupos, tem uma base
ideológica, portanto, tem materialidade na sua prática. Vivemos em uma sociedade
racista.
Assim, compreendemos que o racismo existe, porque, ao longo da história, os
dominadores encontraram formas de inferiorizar socialmente uma raça. Foi construído
um mito que apresentava os povos africanos como pessoas não civilizadas, não
evoluídas intelectualmente e culturalmente, colocando-os como subalternos. O
dominador, o branco europeu, considerado civilizado, passou a escravizá-los.
Marx e Engels (2001) apresentam que os sujeitos da classe dominante, a partir
das suas ideias e posições, apropriam-se, em todos os sentidos, da posição
dominante. No escravismo, havia duas classes: os exploradores, dominadores e os
escravizados, considerados como classe subalterna. Segundo Clóvis Moura (1994), a
idéia de inferior e subalterno era usada pelo dominador para justificativar o
escravismo:

Há um racismo interno em várias nações, especialmente nas que fizeram


parte do sistema colonial, através do qual suas classes dominantes mantêm o
sistema de exploração das camadas trabalhadoras negras e mestiças. Com a
montagem do antigo sistema colonial e a expansão das metrópoles
colonizadoras, esse racismo se desenvolveu como arma justificadora da
invasão e domínio das áreas consideradas "bárbaras", "inferiores",
"selvagens", que por isso mesmo seriam beneficiadas com a ocupação de
seus territórios e a destruição de suas populações pelas nações "civilizadas".
(MOURA, 1994, p. 5).

Dessa forma, como apontado pelo autor, os colonizadores buscavam legitimar a


idéia de uma raça inferior, para exercer o controle e a dominação, por meio de um
discurso equivocado objetivava justificar o escravismo. É nesse sentido que
apontamos a ideologia como elemento fundamental para manter o seu domínio, pois é
um instrumento usado de forma estratégica pelos que detém o poder.
Nesse sentido, é importante compreender o conceito de ideologia para
entender como ela é utilizada para manter o racismo. Conforme nos traz Marx e
Engels (2001, p. 49) “a ideologia seria o estudo da origem da formação das ideias que
se constitui como uma ciência propedêutica as demais”. Ainda segundo os autores, “a
questão das idéias se colocavam no quadro do sistema de Hegel, aí, a idéia é o sujeito
cujo predicado consistia nas suas objetificações (a natureza e as formas históricas da
realidade social” (MARX; ENGELS, 2001, p. 50).

São ideias sistematizadas, ilusões através da qual os homens pensam sua


realidade de forma enviesada, deformada, fantasmagórica, a primeira e
máxima de toda ilusão, própria de toda ideologia, consiste justamente em lhe
atribuir a história dos homens. Sobre o crisma da ideologia é que a história se
desenvolve como realização da idéia absoluta. Ora, tal ideia não tem
existência própria, mas deriva do substrato material da história. (MARX;
ENGELS, 2001, p. 54).

A ideologia é um mecanismo usado por quem detém o domínio dentro da


sociedade, o qual legitima suas ideias como únicas e verdadeiras. Ela tem um poder
social de tornar universais ideias e pensamentos, possui um valor de veracidade que
torna-se, muitas vezes, inquestionável, pois quem dita as regras é, justamente, quem
tem o controle e o poder. Então, em cada época se apresenta uma figura dominante.
Nesse sentido, denota-se como a classe dominante, à época, os colonizadores
que utilizavam-se de um discurso ideológico. A ideologia se faz presente no discurso
do dominador para explicar a exploração, a dominação, a apropriação e suas ações
perversas, desumanas e violentas com os povos negros africanos. Dentro disso, essa
ideologia foi utilizada para justificar o escravismo colonial.
Dessa maneira, Moura (2021) apresenta que a abolição do escravismo como
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modo de produção não se deu por bondade dos colonizadores ou por vontade do
homem branco, mas de forma estratégica, inclusive utilizando a ideologia abolicionista
que, na verdade, tinha o objetivo de implementar um sistema que lhes desse mais
lucro: o capitalismo. A própria abolição era uma ideologia.
Então, o poder dominante, após a abolição, procurou novas roupagens. Uma
delas foi o mito da democracia racial que, segundo Carneiro (2011), é um termo
utilizado para dizer que no Brasil há uma diversidade de raças e que não existe
racismo. Na realidade, é completamente inviável utilizar o termo democracia racial se

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Moura (2021) concordando com as colocações de Gorender (2016), ressalta que no Brasil o modo de
produção escravista colonial se deu de forma diferenciada em relação ao escravismo já existente; tratou-
se, portanto, de um modo de produção historicamente novo.
um grupo passou mais de três séculos escravizado, despossuídos de qualquer bem
material/cultural.
Ainda após a abolição formal do escravismo, não ocorreram políticas que
pudessem alterar esse contexto e pessoas negras continuaram em condições
precárias de vida e sobrevivência, permaneceram às margens da sociedade e não
conseguiram se inserir no mercado de trabalho. Isso permanece até os dias atuais,
então não há como dizer que há uma igualdade entre as raças. Essa foi mais uma
ideologia criada para desconsiderar o problema do racismo no Brasil.
Nesse sentido, a ideologia pode ser entendida não apenas como um conjunto de
ideias, ela é, além disso, disseminada pelos diferentes meios (comunicação, massa,
igreja, escola. São introduzidas na mente dos indivíduos. (AISI, 2011). Então, possui
grande efeito social no pensamento dos sujeitos. Apontamos, aqui, que há uma
ideologia em torno da naturalização do racismo.
A escola sendo um aparelho privado de hegemonia do dominante, tem o poder
de reproduzir e naturalizar a condição da pessoa negra ou tencionar essa realidade.
Nesse sentido, no próximo tópico iremos discutir os reflexos da ideologia racista para
estudantes negras e negros no ambiente escolar e a importância de uma educação
antirracista.

2.1 REFLEXOS DO RACISMO ENQUANTO IDEOLOGIA: REBATIMENTOS PARA


ESTUDANTES NEGRAS/NEGROS NO AMBIENTE ESCOLAR

O racismo é uma realidade em nosso país que está sistematizada por um


conjunto de ideologias que fortalecem um discurso de inferioridade e subalternidade
de pessoas negras. Desse modo, para estudantes negras e negros observamos o
quanto é desafiador viver em uma sociedade que inferioriza sua cor, sua origem, sua
cultura, sua história.
Assim, conforme Carneiro (2011), pessoas negras, por terem sua identidade
étnica e racial destroçada pelo racismo, pela discriminação, têm dificuldade no
processo de reafirmação da identidade que é, inclusive, desvalorizada. A partir disso,
a escola precisa proporcionar um espaço onde não haja uma hierarquia entre
estudantes brancas(os) e negras(os). A identidade negra precisa ser encontrada nos
espaços da escola, nos conteúdos e nos livros didáticos. É imprescindível que a
educação adote uma prática que contribua para romper com a estrutura racista.
Nesse sentido, a educação deve exercer o seu papel enquanto agente de
transformação. Afirma-se na constituinte de (1988) que ela tem como objetivo “o pleno
desenvolvimento da pessoa”. Então, esse pleno desenvolvimento só acontece se
todos os sujeitos que estão inseridos sentirem-se contemplados nos equipamentos
escolares. A educação tem a tarefa de contribuir com a mudança de estrutura da
sociedade.
Nesse sentido, Saviani (2014) comunga com essa visão, ao abordar que a tarefa
de um sistema educacional para o Brasil, coincidindo com a tarefa de transformação
estrutural da sociedade brasileira, deve cumprir, então, o papel de pensar em
mudanças a partir do que está posto na realidade. É, portanto, essencial traçar
estratégias contrárias ao racismo estrutural.
Do ponto de vista prático, trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a
seletividade, a discriminação e o rebaixamento do ensino das camadas
populares. Lutar contra a marginalidade através da escola significa engajar-
se no esforço para garantir aos estudantes um ensino da melhor qualidade
possível nas condições históricas atuais. O papel de uma teoria crítica da
educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta de modo a evitar
que ela seja apropriada e articulada com os interesses dominantes.
(SAVIANI, 2012, p.30-31.Grifos nossos).

Saviani apresenta, a partir do viés marxista, uma educação que atenda às


necessidades dos indivíduos e que discuta, de fato, as problemáticas sociais. Partindo
desse pensamento, ela deve ser contrária aos interesses do poder dominante que
propagam o racismo. A educação torna-se revolucionária e cumpre seu papel quando
tem uma visão crítica da realidade e a questiona.
Paulo Freire, como grande referência na educação, também comunga com esse
pensamento, ao relatar a necessidade constante de alimentar o desenvolvimento do
pensamento crítico, a partir da tomada de consciência e do reconhecimento enquanto
sujeitos das suas relações. Nisso, consiste a conscientização, que resulta em um
trabalho pedagógico crítico, apoiado em condições históricas propícias (FREIRE,
1975). Ainda em sua obra Pedagogia do Oprimido (1975), o autor reforça que:

O papel das lideranças (e, sinonimamente, dos intelectuais) de buscar


desconstruir a dominação que historicamente serviu para balizar suas
relações com o povo e para construir com ele a superação das contradições
(ainda) em que se encontram. É que, enquanto a dominação, por sua mesma
natureza, exige apenas um polo dominador e um polo dominado, que se
contradizem antagonicamente, a libertação revolucionária, que busca a
superação desta contradição, implica na existência desses polos e mais
numa liderança que emerge no processo desta busca. Esta liderança que
emerge, ou se identifica com as massas populares, como oprimida também,
ou não é revolucionária. ( FREIRE, 1975, p. 11)

Dessa maneira, ambos os autores acreditam que a educação precisa ser


pensada para atender os interesses populares, as demandas sociais. Para uma
educação revolucionária assumir esse papel e pensar na transformação da sociedade,
é necessário um direcionamento crítico que não contribua com as condições impostas
pelo poder dominante.
Contudo, criaram-se nos mecanismos educacionais, o que podemos chamar de
“a negação do ser negro”. O que se aprende nos currículos é a historiografia branca
europeia como base civilizatória a ser copiada, enquanto o negro aparece como um
ser subalterno, com visibilidade majoritariamente relacionada apenas ao escravismo.
Nos livros didáticos, ficava mais visível esse tipo de estratégia, nos quais a presença
negra se limita ao trabalho escravo ou é colocado em situações de subalternidade,
inferioridade e ridicularizado fenotipicamente (FREITAS, 2012).
Assim, esses mecanismos educacionais estão coerentes com a ideologia racista,
reforçando o discurso da pessoa negra como inferior, atrasada e não civilizada,
enquanto o branco aparece como o ideal e civilizado. A partir disso, para as
estudantes negras, os sentimentos de baixa estima e de negação podem surgir em
detrimento de uma valorização das brancas.
Nesse sentido, a ideologia dá sustentabilidade ao racismo, pois é o poder
dominante que a mantém. Por ser uma sociedade capitalista, dividida em classes, ela
detém os meios de produção, os meios para universalizar sua visão de mundo e suas
justificativas ideológicas a respeito das relações sociais de produção, que garantem
sua dominação econômica. (AISI, 2011).
Dessa maneira, “a educação que faz parte de um dos aparelhos de dominação
do Estado, um aparelho privado de hegemonia” (GRAMSCI, 2011,p. 77), é um
instrumento que reproduz ideias dominantes. A educação pode ser utilizada de forma
a atender determinados interesses da burguesia e, muitas vezes, deixar de cumprir
seu papel enquanto agente de transformação social.
Na escola, as regras são determinadas por outros e não pelos próprios sujeitos.
Outros que têm o poder de determinar o que pode e o que não pode ser feito, já nosso
desejo se submete às normas internas, interioriza-se: A disciplina se converte em
cidadãos disciplinados (AISI, 2011). A escola apresenta um direcionamento a ser
seguido como o correto, no qual as ideias são disseminadas com a lógica do
pensamento dominante.
Concorda com essa afirmação, o Mészáros (2008), quando apresenta que a
educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu ao propósito
de não só fornecer os conhecimentos necessários à máquina produtiva em expansão
do sistema do capital, como também gerar e transmitir os valores que legitimam os
interesses dominantes.
Nesse sentido, se a educação serve de máquina de controle para o capital, a
escola que materializa esse direito é um espaço no qual o racismo pode ser
reproduzido. Essa reprodução ocorre quando não se discute as pautas sobre raça e
não questionam as condições impostas para a pessoa negra, o que contribui para
estudantes negras (os) não terem uma compreensão real do racismo.
A Eliane Cavalleiro, em seu livro, discute a não percepção do racismo por parte
dos estudantes como uma estratégia da democracia racial brasileira, que nega a
existência do problema. A ausência ou a limitação da discussão de raça impede uma
visão crítica sobre o problema. Tem-se a ideia de que não há racismo e não se fala
dele (CAVALEIRO, 2012).
Assim, a fala da autora mostra como o racismo muitas vezes não é visto como
problema da sociedade pela escola, mas fica enviesado pela ideologia, pelo mito da
democracia racial como se a sociedade escravista tivesse ocorrida em um passado e
agora, negras e negros estivessem em condição de igualdade com a população
branca. Quando não se assume que existe racismo na sociedade, também não se fala
sobre ele. Há uma omissão que faz com que as discussões sobre raça na escola só
cheguem de forma pontual, especificamente no dia da consciência negra e, ainda, de
forma muito limitada.
Assim, quando a discussão racial é mencionada na escola, ela aparece através
de datas comemorativas (13 de maio ou no dia 20 de novembro) (SANT’ANA, 2005).
Esse ritual pedagógico, que ignora as questões étnico-raciais estabelecidas no espaço
escolar, pode estar comprometendo o desempenho e o desenvolvimento da
personalidade de crianças e adolescentes negros, bem como contribuindo para
crianças e adolescentes brancos se sentirem superiores (CAVALLEIRO, 2012).

O livro didático de forma geral omite o histórico, cultural, o cotidiano dos


segmentos subalternos da sociedade, o negro, índios, entre outros. Isto
concorre em grande parte para a fragmentação da sua identidade e
autoestima. (...) não é um livro apenas um transmissor de estereótipos.
Contudo, é ele por seu caráter “verdadeiro”, pela importância que lhe é
atribuída, pela exigência social do seu uso, de forma constante e sistemática
logra introjetar na mente das crianças e jovens e adultos visões distorcidas da
realidade humana e social. A identificação com as mensagens e textos
colabora para a dissociação de sua identidade individual e social. (SILVA,
1995, p.7).

Isso demostra a necessidade de uma ação pedagógica de combate ao racismo


e seus desdobramentos, tais como preconceito e discriminação étnico-racial. Elas
podem acontecer no cotidiano escolar, com ações na escola que discutam as
questões étnicos raciais, ensinando a história da África, mostrando os heróis e rainhas
que foram escravizados por colonizadores, falando sobre a identidade negra, fazendo
com que estudantes negras e negros tenham uma referência positiva da sua
identidade, provocando distorções de conteúdo curricular, entre outros.
A escola tem um papel de extrema importância na educação dos jovens, sendo
um veículo de socialização primária, goza de uma função ideológica privilegiada, pela
sua atuação sistemática, constantemente obrigatória aos alunos (CAVALLEIRO,
2012). Assim, a escola como um agente que goza de uma função ideológica, precisa
contribuir para a distorção da ideologia predominante, nesse caso, a ideologia racista.
O Mészáros (2008) apresenta, ainda, uma das principais funções da educação formal
na nossa sociedade, que é produzir tanta conformidade ou “consenso” que são
legalmente sancionados pelo poder dominante.
Dessa forma, a educação tem um papel fundamental na consciência dos sujeitos
e deve ser um agente que vá contra essa ideologia. Torna-se uma urgência a
educação ter uma prática antirracista. Essa prática deve ser contínua, conforme Hooks
(2020), quando se começa a falar de cultura e diversidade é entusiasmante para as
pessoas negras que sempre estiveram à margem e sempre tiveram sentimentos
ambivalentes, visto que o conhecimento era partilhado de modo a reforçar o
colonialismo e a dominação. Quando questões étnico-raciais são discutidas na escola,
faz imensa diferença na formação de estudantes negras (os).
Ademais, há uma necessidade da efetividade da lei 10.639/03, que acrescenta
na lei de diretrizes e base, o ensino de História e Cultura Afro-brasileira. Pesquisas
recentes, divulgadas pela Agência Brasil (2023), mostram que mais de 70% das
escolas não colocam em prática essa lei, o que é bastante questionável, pois revela a
omissão, a negação da história de pessoas negras, sua cultura e identidade. Este ano
de 2023 fez 20 anos que essa lei existe e é de grande relevância sua prática real.
Assim, acredita-se na importância dessas práticas supracitadas para que
estudantes negras e negros possam ter um debate sobre sua verdadeira história e
sentindo-se contemplados no ambiente escolar em que sua cultura e sua identidade
são valorizadas. O exercício de se encontrar nos símbolos, nas imagens e nas falas é
uma experiência que seria muito significativa para esses sujeitos. Essas atitudes, no
cotidiano da sala de aula, são práticas antirracistas, necessárias na contribuição para
que a educação assuma seu papel como prática libertadora.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, entendemos o quanto o racismo, enquanto ideologia, tem o


poder de se manter ao longo da história, pois procura legitimar a desigualdade racial,
desde o período colonial e permanece até os dias atuais, alimentada pelo mito da
democracia racial.
Analisamos, ainda, como o racismo, enquanto ideologia, reflete de forma muito
negativa as e os estudantes negras e negros que têm pautas raciais negligenciadas,
invisibilizadas e é a escola reforça isso, quando não tem uma postura antirracista e
naturaliza os elementos da ideologia racista.
Assim, fica nítida a necessidade de serem utilizados mecanismos educacionais
contrários à ideologia racista, tendo em vista os prejuízos na construção da identidade
das pessoas negras, que têm dificuldade com o reconhecimento dentro do seu grupo
racial e distantes de terem uma consciência racial.

REFERÊNCIAS

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brasileiro. Disponível em: < Brhttps://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2023-
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