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Direção - Bem Vindos a Bloomusalém

Dirigir o espetáculo foi um desafio interessante. A partir da adaptação do texto tínhamos


muitas tarefas a serem realizadas: conseguir internalizar as intenções das personagens, se apropriar do
texto de maneira satisfatória, ensaiar o suficiente para ser algo apresentável ao público, trabalhar as
marcações de palco, sonoplastia e tudo isso num período muito curto de tempo.
A partir da divisão dos papéis começamos os ensaios, fizemos vários exercícios de
preparação, concentração e integração para proporcionar um bom ambiente para trabalharmos a nossa
representação. Foram 2 meses desde que pegamos o texto pela primeira vez até o dia do espetáculo e
além da preparação dos atores também foi de responsabilidade da direção todas as resoluções que
envolviam a nossa cenografia/figurino.
Para a cenografia utilizamos um grande tecido branco de 9m x 8m. O pano fica suspenso com
cordas que fazem um quadrado de cerca de 5m x 4m onde acontece todo o ato cênico. Todos os atores
desde o início estão embaixo dessa estrutura, ao longo da peça as personagens tem sua entrada em
buracos no pano e marcada através de cenas, sons e orientações dadas pelo texto, em algumas
situações após sua entrada, a personagem continua participando das cenas apenas com reações, não
necessariamente com falas premeditadas. A utilização do pano foi inspirada numa performance da
artista brasileira Lygia Pape.
Na configuração das cenas tentamos deixar tudo bem arranjado para que em qualquer lugar
em que os espectadores viessem a sentar, ele pudesse sempre ter a visualização completa do
espetáculo, outro cuidado foi não sobrepor posições próximas no pano e também as diferentes alturas
em que cada um aparece. Vale lembrar que os diferentes níveis do pano transmitem tanto uma posição
hierárquica entre as personagens quanto uma harmonização que facilita o entendimento das ações.
Em algumas posições do pano deixamos apenas espaço suficiente para que a personagem
apareça com a sua cabeça, em outras é possível aparecer da cintura para cima e fizemos também
aparições de “meio busto”, nelas a personagem sai pelo buraco numa posição diagonal e fica a sua
cabeça e um braço exposto. Tudo isso é pensado para dar mais dinamismo e enriquecer o jogo teatral.
Em um espetáculo onde os atores não aparecem de corpo inteiro é muito fácil cair na monotonia, um
desafio a ser vencido era de trazer movimento para a cena sem que as personagens efetivamente se
movimentassem no palco. As luzes, os movimentos de entrada e saída, as transições de som e uma
grande expressividade facial também ajudaram muito essa movimentação.
No que tange ao texto, uma preocupação geral é como fazer o público que não conhece James
Joyce absorver o que estava acontecendo em palco. As falas que fazem referência a cultura irlandesa,
as mudanças repentinas de intenções e a grande quantidade de personagens em cena geram
propositalmente o sentimento de confusão, já a configuração no espaço, caracterização, luz, som e
cadência do texto visam que o espectador se situe no que está acontecendo sem perder essa ideia de
ser um delírio/sonho.
Por fim, no processo de direção introduzimos a sonoplastia, para isso foram utilizadas
músicas tipicamente irlandesas que traziam o tom das cenas, elas entram em transições ou como trilha
sonora de apoio. Também tivemos personagens que apareceram em forma de locução e barulhos para
ambientação como sinos, sirene policial, choro de bebê e etc.
No geral aconteceram muitas mudanças na concepção do espetáculo e foi um processo bem
enriquecedor quando pensamos no crescimento coletivo, tivemos ótimas atuações, considerando um
elenco composto por atores e não atores, todos da produção bem engajados com o objetivo final e isso
tudo aliado a um bom direcionamento por parte da professora Dirce Waltrick do Amarante, que nos
guiou nesse exercício de adaptação e montagem cênica, acredito que atingimos um resultado
satisfatório e que ainda pode ser muito aprimorado a partir de nossa criação.

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