Você está na página 1de 6

CADA CORPO É

UM MUNDO
POR LUISA COSER E LEONARDO C ARVAJA L
CADA CORPO É UM MUN DO

SOBRE O CONTEXTO 1

ES PA Ç O, GESTO E
TEMPO

No primeiro ciclo de nosso projeto, foi considerado


um período de adaptação das crianças à proposta,
da proposta às crianças, e do entrosamento entre
crianças - equipe de professores. Introduzimos
alguns fatores importantes para o
desenvolvimento desse projeto que são: espaço,
gesto-ação e tempo.

Logo no início, realizamos uma brincadeira para nos


apresentarmos: em roda, usando uma bola,
enquanto se reconhecia alguém que também
estava na roda, dizia seu nome e passava a bola.
Essa brincadeira tem evoluções, de acordo com
cada turma, mas rende muito porque também
podemos nos deslocar no espaço. Esse gesto de
lançar algo pro outro - de se lançar ao outro -
trouxe uma boa conversa sobre a comunicação, o
bom uso do espaço, da voz. Por exemplo, se
lançarmos muito forte, a bola pode machucar, ou
nunca chegar ao seu correspondente. É uma
dinâmica entre tempo, espaço e gesto. Um gesto
que se comunica de forma eficiente, resulta numa
dinâmica que se sustenta. Queremos afirmar esse
tipo de brincadeira como o motor dos nossos
encontros e que está presente em todas as
vivências, porque seguimos com o objetivo de criar
um ambiente de intimidade e segurança para
todos. Por isso, importante ressaltar que pouco a
pouco, esse ambiente vai sendo mais contornado
e as crianças estão aprendendo realmente a se
comunicarem cada vez melhor, com confiança,
foco e boa qualidade no movimento e na escuta,

HOJE
sem perder a alegria e espontaneidade.
A
CADA CORPO É UM MUN DO

Também inserimos algumas propostas de contato


entre as crianças, de toque - reconhecimento dos
ossos, músculos, articulações, pesquisar o espaço
de olhos fechados, com um guia. A experiência do
toque e dos olhos fechados é muito importante
para introduzir o aspecto socioemocional no
grupo, como formas de reconhecer o mundo
interno e o mundo externo, com domínio das
emoções e possibilidade de expressar esse
trânsito entre interior-exterior. Tivemos
comentários muito interessantes sobre essas
vivências como:
“Me senti livre!”
“Pude sentir minhas costelas subirem e descerem.”
“Não tive medo...”
Finalmente, para que cada encontro tenha um
desafio, sempre motivamos, mas dificultamos para
que as crianças queiram ir adiante. Fizemos uma
proposta de telefone-sem-fio com gestos, onde cada
um ia fazendo um gesto expressivo e passando
adiante. No desafio, as crianças tiveram que
incorporar todos os gestos da turma até se tornar
uma coreografia que pudesse ser repetida por cada
um. Ao final, um a um foi ao centro e representou a
sua interpretação dessa coreografia de gestos.
Introduzimos a ideia de pausa e repetição e
voltamos a ideia de orientação (uma criança guia e
a outra, responde). A prática de condução também
insere um elemento importante no entendimento de
equipe, permitir-se ser conduzido e também saber
como conduzir são refinamentos motores e
expressivos que ajudam muito as crianças
desenvolverem capacidades de comunicação e
bom entendimento. Aos poucos vamos criando
um pequeno mundo cheio de mundos e
expandindo nossas capacidades de escolha, de
escuta e de repertório expressivo.
CADA CORPO É UM MUN DO

SOBRE O CONTEXTO 2

ES PA Ç O, GESTO E
TEMPO

Iniciamos o segundo ciclo do projeto em


continuidade à pesquisa sobre o espaço e a
comunicação, além de desenvolvermos, dentro
destes fatores, noções de ritmo e composição.

Abordamos o elemento da escrita, trazendo-a como


um recurso de identidade e composição. Em
formatos diferentes, as crianças escreveram seus
nomes numa folha em branco. A proposta
desdobrou para falar o nome na roda em volume
baixo, normal e forte. Em seguida, cada criamça
“escreveu” seu nome no espaço e no chão com
partes do corpo (dedos, cotovelos, ombros,
cabeça, quadril, joelhos, pés, língua, olhos e nariz),
também em formatos e dimensões diferentes. Os
pequenos performers juntaram duplas e
apresentaram para a turma, a escrita do nome nos
diferentes tamanhos.

Também em nossos encontros, aconteceu uma


dança a dois com movimentos minimalistas e
grandes com o foco em algumas partes do corpo,
trazendo a noção das articulações do corpo. O
exercício promoveu o desafio de isolar partes do
corpo e abriu espaço para a subjetividade no sentido
de imaginar as letras sendo escritas no ar ou no
chão.

Continuamos a proposta de lançar e receber,


comunicando um gesto para um colega e utilizamos
a ideia de super poderes.
Novamente as crianças formaram duplas para
apresentar a proposta. Foi muito bom vê-las

HOJE
abertas para o jogo, se divertindo muito com a
oportunidade de mostrar os poderes dos
personagens que assistem nos desenhos.
CADA CORPO É UM MUN DO

Juntamos essa atividade, com a atividade anterior,


na brincadeira da estátua (na música a s c r i a n ç a s
faziam a “ dança dos poderes”. N a pausa da
música, criavam uma estátua no nível alto.
Novamente na música, faziam a dança dos nomes
no espaço e na pausa seguinte, criavam uma estátua
no nível baixo). Essa brincadeira é ótima para dar a
importância da pausa dentro do movimento, algo
que para uma criança é um grande desafio.

Aproveitamos a ideia dos superpoderes para “entrar”


nos elementos da natureza. O encontro foi
dedicado para o elemento ar, começando com uma
roda de conversa para falar de situações e imagens
onde o ar é o protagonista (furacão, vento, brisa,
avião, aves, respiração, bexiga, pokémons de ar,
etc…). A proposta era fazer uma experiência
sensorial, na qual a metade da turma fechava os
olhos em pé e a outra metade gerava vento com
tecidos e, finalmente, as crianças usaram as imagens
e sensações para improvisar com o corpo, criando
gestos de ar. Cada uma delas guardou um gesto
para ensinar para a turma e assim criar uma
coreografia única. O fator da comunicação aqui
era essencial, para que cada uma conseguisse
transmitir o gesto para a turma e passar a
sensação e imagem do movimento, mais do que a
forma.

Seguimos com o elemento fogo como protagonista


(fogueira, vulcão, fósforo, vela, fogão, dragão,
etc…).
Na experiência sensorial, as crianças se
conectaram, transmitindo energia e pressão para o
corpo do outro.
Continuaremos a usar os elementos da natureza
como estímulos, para conduzir as propostas e
fortalecer a pesquisa individual e em grupo das
expressões de cada corpo no espaço e no tempo.

Você também pode gostar