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PROGRAMA

Interações e
Brincadeira

O BRINCAR EM DIFERENTES TEMPOS E ESPAÇOS


As discussões sobre a Educação Infantil,
principalmente no que diz respeito à concepção de criança,
do brincar livre, da criança como produtora de
conhecimento, tem nos levado à diversas reflexões sobre o
papel da escola nesse processo de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças. Isso nos permite repensar
as experiências que são oportunizadas para elas no espaço
escolar.
Pensar e repensar a criança como autora e
construtora do próprio conhecimento, é imprescindível para
pensar no cotidiano das crianças, priorizando o
protagonismo delas. Como nos traz o Currículo de
Pernambuco (2018): Pensando neste aspecto, é importante ressaltar
que a concepção de criança, como autora de seu
processo de aprendizagem, deve permear desde o
“[...] as experiências pedagógicas vivenciadas pelas crianças
devem ser compreendidas de modo a garantir a totalidade planejamento ao replanejamento das ações. Visto que é
nos conhecimentos que constrói, nas relações entre razão e necessário que essa criança seja o centro do
emoção, nas expressões corporais e verbais que planejamento e não mera espectadora no seu processo
desenvolve.” p. 60.
de construção de conhecimento.
Neste bloco, iremos direcionar as reflexões ao campo de
experiências: Espaços, tempos, quantidades, relações e
transformações, encaminhando nossa atenção para o trabalho
de inter campos, onde os campos de experiências se
relacionam e se completam nas atividades propostas. O
referido campo de experiência, traz reflexões pertinentes para
o desenvolvimento e aprendizagem, uma vez que…

“Promove interações e brincadeiras nas quais a criança


possa observar, manipular objetos, explorar seu entorno,
levantar hipóteses e buscar respostas às suas
curiosidades e indagações. Isso amplia seu mundo físico e
sociocultural e desenvolve sua sensibilidade, incentivando
um agir lúdico e um olhar poético sobre o mundo, as
pessoas e as coisas nele existentes.”
Para considerar o campo de experiência em sua amplitude é importante oportunizar momentos em que a criança
seja protagonista na construção do seu conhecimento, sendo imprescindível a MEDIAÇÃO DO PROFESSOR.
Dessa forma, se faz necessário:

● Oferecer oportunidades para a criança investigar questões acerca do mundo e de si mesmas. A partir disso, o
professor pode aprender mais sobre ela e sua forma de conhecer.
● Discutir noções de espaço, tempo, quantidade, assim como relações e de transformações de elementos, motivando
um olhar crítico e criativo do mundo. A criança deve ser estimulada a fazer perguntas, construir hipóteses e
generalizações.
● Realizar a “escuta” das crianças, para ajudá-las a perceber relações entre objetos e materiais, estimulá-las a fazer
novas descobertas e construir novos conhecimentos a partir dos saberes que já possuem.
● Estimular a exploração de quantidades em diferentes situações e o
desenvolvimento de noções espaciais (longe, perto, em cima, embaixo,
dentro, fora, para frente, para trás, para o lado, para cima, para baixo),
temporais (quer dizer no tempo físico - dia e noite, estações do ano - e
cronológico - ontem, hoje, amanhã) e de noções sobre unidades de medida e
grandezas. além de oferecer a oportunidade de observar e identificar as
relações sociais assim como fenômenos naturais.
Fonte: Ebook Campos de Experiências: Efetivando direitos e aprendizagens na Educação Infantil
SUGESTÕES DE
ATIVIDADES
As atividades sugeridas, foram realizadas no seminário
do Programa Criança Alfabetizada ( COLOCAR DATA),
uma experiência realizada com adultos. Neste bloco,
apresentaremos estas sugestões para contribuir com a
prática pedagógica dos professores da Educação Infantil.
Dentre as inúmeras possibilidades de atividades que podemos sugerir, trazemos aqui a ideia do “Inventário da
Natureza”, que tem como objetivo principal, desenvolver a observação atenta, a percepção de detalhes e o
discernimento de semelhanças e diferenças, organizar e classificar elementos. Além de pensar na ideia de diversidade e
o reconhecimento dos elementos da natureza. Estimulando os sentidos, respeitando a infância e promovendo vivências
instigantes para as crianças aprenderem experimentando.

A atividade iniciou a partir de um questionamento: “O que


tem na natureza?”. E em seguida, com o auxílio de uma
ferramenta digital (Jamboard¹), fizemos uma chuva de
ideias construindo um quadro com a contribuição de todos
os participantes.

Destacamos que a utilização do Jamboard foi uma escolha


das formadoras, e os professores podem escolher a
ferramenta que se sentirem confortável para o
desenvolvimento inventário da natureza. Fonte: arquivo pessoal das autoras deste capítulo. Jamboard construído na
formação.

¹Jamboard: Um quadro interativo do Google, que possibilita a construção coletiva de ideias.


Cada um teve a possibilidade de expressar suas ideias a partir de suas experiências pessoais e de seu ponto de
vista sobre a pergunta inicial. Assim, a construção coletiva se torna mais significativa, pois é a partir do que cada
um já sabe e contribui que pensamos nas diversas possibilidades de desdobramentos da atividade.

Então, a segunda etapa foi a qualificação e quantificação do que foi encontrado na natureza, como veremos
adiante.

É super importante, nesse momento inicial que nós, como professoras, tenhamos uma escuta ativa e atenta no
desenvolvimento da atividade, como nos diz OSTETTO:

“...a observação e a escuta atenta nos levam, como professoras, a


acolher cada opinião, a refletir sobre os significados das vozes e dos
gestos das crianças, e que, ao ouvi-las, podemos perceber caminhos
EZA
NATU R apontados para seguirmos juntas, potencializando processos e
IO DA propiciando um espaço maior de trocas, interações e aprendizagens.” p?
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Na próxima etapa do inventário da natureza, numa fase investigativa, solicitamos aos participantes que registrassem a
natureza que estava disponível ao redor de cada um e concentramos as imagens na plataforma do Google Drive.
Recebemos os registros a partir de um formulário do Google. Com as crianças, a professora pode receber os registros
através de outras plataformas como o (whatsapp, telegram, entre outros.), ou fotos, desenhos e etc.

Nesse momento, podemos observar várias características do


cotidiano dos participantes, coisas e objetos que fazem parte
da vivência delas. Nesse sentido, isso contribui para
compreender melhor os posicionamentos, as opiniões delas,
fazendo com que possamos pensar no trajeto das atividades.

É interessante que no trajeto das vivências, possamos


pensar nas diversas possibilidades que podem surgir a partir
Fonte: arquivo pessoal das autoras deste capítulo. Pasta no google drive das respostas das crianças, e assim dar vez e voz para cada
com os registros da natureza dos participantes.
uma delas.
Ressaltamos a importância da participação das crianças no processo de aprendizagem. A partir do momento que as
crianças observam e identificam seus registros junto aos registros da turma, elas se sentem parte daquele processo,
fazendo com que a vivência tenha importância e significado para o processo de aprendizagem.

Ou seja, sempre terá uma emoção por trás desse processo de se sentir parte do que está acontecendo na turma, como
complementa Rinaldi, 2012: “Por trás do ato de escuta existe normalmente uma curiosidade, um desejo, uma dúvida, um
interesse; há sempre alguma emoção”. p124

INVENTÁRIO DA NATUREZA

2 - Pesquisa e registro: As
crianças irão observar ao seu
redor e fazer registro do que
encontraram.

Materiais/recursos: Câmera
fotográfica, papel, canetas e etc.
Na continuidade do processo de construção do inventário da natureza, começamos a listar os elementos encontrados
nos registros trazidos pelos participantes, então de tudo tinha um pouco. Essa listagem foi construída observando todos
os registros recebidos, dos animais, das plantas, entre outros.

As categorias encontradas, listadas e quantificadas foram escolhidas e discutidas em grupo. Então nem sempre
podem ser iguais, pois dependerá dos registros encontrados e do consenso do grupo. Nesse momento é importante
levar em consideração a opinião de todos, e se alguma sugestão seja muito diferente, ou se alguma dúvida surgir, é
interessante também discutir com o grande grupo, para que assim se chegue à resposta que agrade a todos.
INVENTÁRIO DA NATUREZA

3 - Construção do inventário: Listar os


elementos encontrados e organizá-los por
categorias.
● Momento importante de ESCUTA das
opiniões e reflexões das crianças.
● Neste momento podemos,
perceber/definir as próximas
Percebam que nesse momento, podemos explorar atividades, a partir das dúvidas,
curiosidades e interesses das
diversos aspectos para o processo de aprendizagem,
crianças.
como perguntar para as crianças sobre os elementos de Materiais/recursos: Jambord, quadro
cada categoria, sobre a quantidade de cada elemento branco, cartolina, pilots, canetas.
em cada categoria e o porque de algum elemento
específico fazer parte de uma categoria específica.
É necessário mencionar que o processo de registro é importante para todos os participantes da atividade. Para as
crianças, no sentido de desenvolver o sentimento e atitude investigativa de seu cotidiano e aprender nessas
experiências. E para o professor para despertar a importância da reflexão de cada momento da vivência, que vem
desde o planejamento até a reflexão ao final da atividade. “O registro viabiliza o pensar e o repensar da prática
pedagógica”. E OSTETTO ainda complementa que:
“Registrar é um exercício essencial para o professor alinhar sua
prática: quando escrevíamos o que vivenciávamos, conseguíamos
rever a prática, levantar possibilidades e saber onde mudar, onde
potencializar, onde acrescentar e o que acrescentar.” p?

Então precisamos levar em consideração alguns pontos importantes: o que já


foi construído, as dúvidas e questionamentos que foram levantados e
replanejar no sentido de responder às curiosidades das crianças.

Nesse contexto, a escuta atenta do(a) professor(a), novamente, tem um papel


crucial nesse replanejamento das ações, pois é partir dessa reflexão que se
dará a continuidade do processo de aprendizagem.
Alguns Desdobramentos

A partir das possibilidades que construímos no inventário da natureza,


podemos pensar e desenvolver várias atividades, dando continuidade ao
que foi construído com as crianças.

Observando a construção do primeiro Jamboard, por exemplo, podemos


pensar em alguns desdobramentos. Se estivéssemos presencialmente, a
exposição das ideias das crianças com a construção de um quadro em
uma cartolina, com colagens e desenhos seria uma ideia possível de
realizar. Como também, cada criança poderia construir o seu inventário e
posteriormente um grande inventário do grupo, destacando os aspectos
em comum e descobrindo as novidades.
Na etapa do registro dos elementos da
natureza, cada um poderia trazer um
elemento e registrar de alguma forma,
seja na foto, no desenho ou até mesmo
um exemplar da natureza, como uma
folha, um galho e etc, para a partir disso
criar as categorias.

Em relação ao registro, podemos pensar


em diversas maneiras de como elaborar
essa etapa. Por exemplo, se estiver
ocorrendo remotamente, os participantes
têm a possibilidade de enviar o registro
por meio digital (formulários do google,
whatsapp, e-mail, etc) e compartilhar
com todos.

Em uma possibilidade presencial, seria


super interessante que a natureza fosse
levada para a sala e todos pudessem
sentir, tocar e experimentar o que cada
um levou. Fotos da natureza registrada pelos participantes da formação,
em novembro de 2020.
Com a construção do inventário da natureza, temos algumas opções de desdobramentos. O primeiro deles seria o
trabalho com as categorias, trabalhando o gênero textual, a lista, que a partir da que foi construída, com os elementos
encontrados na natureza, disponibilizar para as crianças a possibilidade de fazer outros tipos de listas (lista das
brincadeiras que eles mais gostam, lista de comidas preferidas, etc.

É importante ressaltar que, as


categorias criadas foram
pensadas e discutidas em grupo.
Cada participante tem a
possibilidade de expressar suas
ideias e contribuir com os outros.

É necessário que os professores


percebam essa dinâmica de
apresentação das ideias e utilizem
esse momento para promover
autonomia e participação das
crianças.

Registros do inventário da natureza elaborado durante a formação.


Na lista vamos criando e categorizando a partir do que foi
encontrado, como tipos de plantas, tipos de grãos, frutas e etc.

Além da construção de listas, a contagem dos elementos


também abre possibilidades para o reconhecimento dos
SUGESTÕES DE DESDOBRAMENTOS A números decimais, como também ordinais e a contagem.
PARTIR DO INVENTÁRIO DA NATUREZA
Tais atividades, possibilitam as crianças aprenderem novas
* Produzir de listas
* Organizar coleções palavras, assim ampliando seu vocabulário, como também a
* Contar e classificar de elementos consolidação das palavras que elas já sabem, fazendo com que
*Explorar temáticas como: animais, tenham sentido e significado para o cotidiano delas.
alimentação saudável, fauna e flora, entre
outras.
* Ampliar o vocabulário Nas etapas de construção das
* Construir um gráfico com o resultado do experiências é imprescindível que o
inventário
papel da professora como mediadora se
faça sempre presente, pois esse papel
será definidor para a garantia dos
direitos das crianças.
SUGESTÕES DE DESDOBRAMENTOS A
PARTIR DO INVENTÁRIO DA NATUREZA
Podemos construir listas de diversos tipos
com as crianças, uma delas pode ser a
Produção de listas lista dos nomes da turma. Podemos
organizar alfabeticamente, reconhecendo
o sistema de escrita alfabética como
representação dos sons da fala.

- Lista de animais que as crianças


podem ter em casa;
- Lista do nome das cores; É válido ressaltar que a construção da
- Lista dos brinquedos da escola, lista pode ser feita como desdobramento
dos brinquedos que eles tem em de alguma atividade, como também o
casa; ponto de partida para o desenvolvimento
- Lista das brincadeiras; de alguma proposta.
etc.

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que podemos considerar:

(EI03EF12PE) Reconhecer
semelhanças e diferenças entre o (EI03ET05PE) Classificar objetos e
seu nome e o de seus colegas, figuras de acordo com suas
quanto à grafia e aos segmentos semelhanças e diferenças.
sonoros.
Podemos estimular as crianças a selecionar e acumular objetos, que
Organizar coleções podem ser: potinhos de diferentes cores e tamanhos, folhas de plantas ,
pedras encontradas pelo chão, tampinhas de garrafa, bolas de gude, lápis
de cor etc.
A partir disso, podemos pensar em observar os interesses
das crianças e fazer perguntas( sem respostas prontas) para
instigar a criança a construir hipóteses e assim criar critérios
próprios que podem ser de quantidade, tamanho, cor e etc.

Podemos conversar sobre a característica dos elementos e


organizar algumas coleções, estimulando as crianças a
organizar os elementos da forma que preferir. Nesse
momento, o professor pode pensar em diversas
intencionalidades de aprendizagem tornando as propostas
ainda mais significativas para as crianças.

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que podemos considerar:

(EI03ET07PE) Relacionar números às


suas respectivas quantidades e
(EI03ET 10 PE) Registrar
identificar o antes, o depois e o entre
quantidades, com escrita numérica
em uma sequência a partir das
(espontânea ou não), a partir do
brincadeiras e em diferentes situações
uso social do número.
cotidianas.
“[...] nessas experiências e em muitas outras, as crianças
também se deparam, frequentemente, com conhecimentos
matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades,
dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos,
avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas,
conhecimento e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais
etc.) que igualmente aguçam a curiosidade.”

“Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências


nas quais as crianças possam fazer observações, manipular
objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e
consultar fontes de informação para buscar respostas às suas
curiosidades e indagações.”

Currículo de Pernambuco - Educação Infantil. p.80


ORGANIZANDO AS IDEIAS
Quando consideramos a criança no
centro do planejamento das ações, e como
protagonista do seu processo de
aprendizagem, não é coerente separar esses
aspectos na construção dos registros pois,
são elementos essenciais da prática
pedagógica do professor.
O registro do cotidiano das crianças é
um dos instrumentos do planejamento, no
qual o (a) professor (a) deve propor
atividades que possibilitem a aprendizagem
e desenvolvimento da criança.
Na observação do cotidiano, o professor (a) deverá estar atento às ações,
diálogos e expressões das crianças, buscando compreender o pensamento
das mesmas. É importante que as observações aconteçam individualmente
e/ou em grupo, adquirindo elementos para reflexão possibilitando o
redirecionamento da prática pedagógica.

Da escuta das crianças nasce nossa


intencionalidade, fortemente marcada no
planejamento.
A observação e os registros do cotidiano são aspectos importantes para o planejamento
pedagógico, pois são a base para continuidade do trabalho centrado na criança, uma vez que os
registros têm múltiplas funções como a construção de memória, replanejamento e comunicação
tanto para equipe pedagógica, quanto para as famílias.
Nesse sentido, a observação e os registros devem considerar as falas, manifestações e
curiosidades das crianças. A partir destes aspectos, o professor (a) terá elementos para refletir
sobre sua prática e dar continuidade ao que foi planejado.
O que colocar nos registros? Fiquem atentas (os):
• Às situações cotidianas: descrever o comportamento da
criança, contextualizando-o e não qualificando-o.
• Contextualizar também as aprendizagens. Aprendizagens
são construídas num contexto vivido, mediado por outros
profissionais, outras crianças, outros espaços...
• Descrever características relevantes do desenvolvimento da
criança, a partir das interações, brincadeiras e mediações.
• Organizar seu texto com coesão e coerência, agregando
itens que se afinam, evitando a repetição de informações.
Fonte: Registros na educação infantil: Pesquisa e prática pedagógica/ Luciana Esmeralda Ostetto (org.). –
Campinas, SP: Papirus, 2017. (p.38 )
REFERÊNCIAS

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