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Educação infantil em

pauta
A documentação pedagógica como estratégia para renovação pedagógica.
Paulo Sérgio Fochi
Documentação Pedagógica

• O que sabemos? É preciso documentar!

• O que consideramos necessário? Intencionalidade.

• O que consideramos equívocos? – Registro pelo registro.

• Como documentar? Da forma que faça sentido para a criança.

• Quais são os instrumentos que podem ser utilizados nessa


documentação?
Documentação – A incipiência de produções e a jovialidade do tema
no país deixam aberto um espaço para muitas compreensões
aligeiradas e para mera transposição nominal de antigas práticas.

A ideia de documentação pedagógica como conceito ainda está muito


reduzida ao ato de produzir registros (documentar) e ao modo como
os registros são compilados para comunicar (documentação).

A documentação, na verdade, deve revelar a visão do professor e da


escola em relação a criança e ao processo de desenvolvimento –
“reposicionar adulto e criança a partir de uma renovação da prática
pedagógica” (Fochi, 2019)
Reggio Emilia

• “Na experiência de Reggio Emilia, que é onde encontramos a origem do


conceito, a ideia da documentação pedagógica foi sendo construída a
partir da própria elaboração dos modos de fazer, refletir e narrar o
cotidiano pedagógico e as aprendizagens das crianças.” (p.142)

• “É preciso criar um sistema de trabalho sustentado em uma visão


democrática, reflexiva e participativa” (p.142)
Por que a documentação pedagógica?
- Não se perder e nem prender a pedagogias anônimas e oficiosas, que não permitam
ao professor uma intencionalidade clara e declarada na documentação

- Fazer da escola Lócus de transformação social e emancipação e de uma visão


democrática aberta do mundo.

- Criar estratégias que contribuam para que os atores pedagógicos da escolas estejam
constantemente percebendo, refletindo, projetando e desenvolvendo o cotidiano
pedagógico.

- Narrar a aprendizagem das crianças e o cotidiano pedagógico.

- documentação pedagógica como um conceito que atua no sentido de nos ajudar a ver,
a refletir, a projetar e a narrar se coloca como uma estratégia potente para a
renovação pedagógica e para a construção de significados.
O que é documentação pedagógica?
• Documentar (ato de produzir registro) é diferente de Documentação (O produto
comunicado)

• DOCUMENTAR: O verbo documentar é sinônimo de registrar, de produzir documentos ou


evidências. Nesse caso, estamos remetendo à ação de fotografar, filmar, anotar, recolher
produções das crianças.

• DOCUMENTAÇÃO: O substantivo documentação trata do documento construído a partir


dos registros realizados, ou seja, do produto em si (livreto, folheto, vídeo, painel, mini-
história, portfólio).

• Assim como o simples ato de produzir registros (documentar) não se basta em si mesmo,
o produto (ou seja, a documentação) também não. O conceito documentação pedagógica
envolve um modo de olhar, de refletir, de fazer, de pensar e de narrar o cotidiano
pedagógico e as aprendizagens das crianças e dos adultos.
- São dois os processos coexistentes que envolvem a estratégia da documentação
pedagógica: um está relacionado com o modo como o professor planeja, organiza e cria
possibilidades de aprendizagem (DOCUMENTAR) e o outro está relacionado com a forma
como torna visíveis as aprendizagens das crianças e o cotidiano pedagógico
(DOCUMENTAÇÃO).

- “a documentação pedagógica como uma reformulação do que é didática, pois ajuda o


professor a construir um modo de estar com as crianças, de construir uma nova noção de
docência e de projetar e narrar sobre as aprendizagens e sobre o cotidiano” (p.147)

Muda também a forma como a família e a sociedade enxergam as ações da escola:

- “o trabalho com a documentação pedagógica declarou o nosso modo de agir com as


crianças. Forçou, de maneira agradável, a refinar os métodos de observação e registro de
tal maneira que os processos de aprendizagem das crianças tornam-se a base dos diálogos
com os pais”. A construção de um modo de estar com as crianças, de compreender e de dar
visibilidade aos processos de aprendizagem e de se relacionar com a comunidade são os
aspectos centrais que reconheço na documentação pedagógica.” (p.147)
O conceito de documentação pedagógica ajuda a:
a) Qualificar nossa capacidade de escutar as crianças — pois fomos entendendo que
escutar é um verbo ativo para aprender a responder às necessidades das crianças em
termos de organização do contexto educativo;
b) Refletir a organização das propostas e da própria vida cotidiana — harmonizando as
demandas e necessidades dos meninos e das meninas com as da instituição e dos
adultos;
c) Criar abertura para transformar os contextos em que estão inseridos — pois um
processo de renovação pedagógica envolve a disponibilidade dos sujeitos que
constroem o cotidiano pedagógico, e isso se dá por um processo de compreensão da
necessidade da transformação e não por imposição;
d) Vivenciar percursos de formação contextualizados e com alto grau de reflexividade para
os profissionais — que foram aprendendo a ver, refletir, projetar e construir
conhecimento sobre os processos vivenciados no interior das escolas;
e) Construir um conhecimento situado e fecundado em teorias — aprendendo o verdadeiro
exercício da pedagogia como uma ciência praxiológica;
f) Narrar as aprendizagens das crianças, dos adultos e da identidade da escola — como
exercício testemunhal e de restituição do cotidiano pedagógico e do modo como as
crianças aprendem
“É possível afirmá-la (A documentação) como uma estratégia de formação, de investigação e de sustentação de um dado
conhecimento praxiológico. Conecta, portanto, a contemporaneidade que há entre o mundo da prática e o mundo da
construção de significados, sem se abster da forte exigência interpretativa que é construída a partir de marcos
referenciais.” (p.149)
A comunicação deve ser entendida a partir do processo, da provisoriedade e do resultado:

“Processos, pois o que interessa comunicar não é o que as crianças aprendem, mas como as
crianças operam para construir seus saberes, quais as estratégias utilizadas ou construídas por elas
para alcançar seus desejos. Provisoriedade, visto que implica assumir que o conhecimento é
provisório e parcial — não estamos falando de verdades únicas e absolutas sobre as crianças,
tampouco se deseja que o processo comunicado seja compreendido como um retrato da realidade;
ao contrário, é sempre uma forma de interpretação que adultos estão construindo sobre os percursos
dos meninos e das meninas na escola como uma construção de significados. Resultado, pois existe
um compromisso de dar testemunho aos caminhos que resultaram da ação das crianças em seus
projetos pessoais ou em grupos e do próprio cotidiano pedagógico. Mesmo que parcial ou
provisório, existe algo a ser compartilhado, se entendermos o percurso que as crianças vão
traçando também como resultado de sua experiência educativa.” (p.150)
• Documentar e documentação funcionam ainda como duas ferramentas
diferentes no trabalho do professor:

“Como tenho argumentado ao longo deste texto, acredito que há dois níveis focais
do trabalho na documentação pedagógica: o primeiro, interno, em que são gerados
os processos documentais da construção de uma prática observada, registrada e
interpretada para a sua retroalimentação e para a identificação das zonas de
construção de conhecimento das crianças, dos profissionais e da instituição. O
segundo nível, externo, trata da comunicação das crenças e dos valores que a
instituição construiu, da comunicação dos percursos de aprendizagem das crianças
e do modo como elas interpretam e elaboram sentidos para si mesmas, para os
outros e para o mundo, ou seja, é um nível de compartilhamento e diálogo
democrático com a comunidade.” (p.151)

- As reflexões desses dois níveis focais são sustentadas por aquilo que tenho
chamado de pilares da documentação pedagógica: observar, registrar e
interpretar.
Observar – colocar em suspensão nossas ideias prefixadas a respeito
das crianças para querer conhecê-las, compreender seus processos de
aprendizagem e criar a temporalidade necessária para refletir sobre a
própria relação com os meninos e as meninas.

Registrar: é um modo de tirar as crianças do anonimato para iluminar a


complexidade de suas ações. Os registros servem simultaneamente para
ir construindo os observáveis que retroalimentam o trabalho pedagógico e
servem como material para a elaboração das comunicações

Interpretar: interpretar para projetar, como um meio para refletir sobre


o trabalho pedagógico de maneira rigorosa, metódica e democrática,
perspectivando a proposição de organizar, planejar e realizar a
transformação do cotidiano pedagógico
A documentação pedagógica tem como interesse investigar e tornar visíveis:

• a) os distintos aspectos da vida cotidiana, como o momento da alimentação, os


deslocamentos entre os diferentes espaços, o momento da troca;

• b) as diversas camadas das interações entre as crianças ou das crianças com os adultos, da
constituição das amizades entre elas, de como se tornam grupo no cotidiano das instituições
e de como interagem com o seu entorno;

• c) das brincadeiras como valor para a promoção da cultura infantil;

• d) dos projetos de investigação levados a cabo com as crianças em pequenos ou grandes


grupos e de modo como aprendem e constroem suas teorias;

Indica e esclarece qual é a posição do professor em relação a observação:


prática altamente reflexiva, resultando em uma postura de investigação e de
transformação do contexto. Quando declaradas as concepções que emergem desse
processo, interrompe-se o círculo vicioso de fazer abstrações genéricas nos documentos
que a escola comunica e de criar abismos entre o dito e o feito.
Nos dois níveis de documentação pedagógica mobilizam-se três dimensões
importantes:

a) o planejamento do contexto educativo, em que se organizam os tempos, os espaços,


as materialidades e os diferentes arranjos de grupos com maior consciência e
assertividade em termos de resposta das necessidades das crianças, graças ao nível
de reflexividade dos adultos;

b) a construção e a concretização de um projeto educativo, que não se limita a um


documento escrito, mas que se mantém vivo, comunicado e constantemente revisitado
pelos diferentes atores da escola, traduzido no cotidiano da instituição;

c) um modo contextualizado e permanente de formação dos professores.

Concluindo, O exercício de construir a ação pedagógica implicada na observação, no


registro e na reflexividade do cotidiano educativo mobiliza o professor a aprender a tomar
consciência sobre o seu próprio fazer. Assim, comunicar, posteriormente, também o
responsabiliza e lhe confere a devida importância e valor no processo educativo de uma
criança.
Formas de Documentar

Uso de fotografias;
Legendas;
Descrições;
Tentativas de escrita de mini-histórias;
Variedade nos formatos e códigos de comunicação;
Diminuição significativa do uso de fichas contendo letras, números e
desenhos estereotipados (na nossa realidade isso já não é mais
cosnsiderado).
Ainda sobre a documentação:
REFLEXÃO
• A documentação considera e proporciona contextos de
escuta de si e do outro.

INTENCIONALIDADE
• Por que propor determinado registro?

CLAREZA
Qual a melhor linguagem a ser utilizada e por quê?
Precisamos ter sempre em mente que os registros não são solicitados para
ocupar o tempo das crianças ou para encher a pasta de atividades. Da
mesma forma, a infinidade de vídeos ou fotografias que produzimos não
podem ter como objetivo principal, a construção de um acervo de imagens
que utilizaremos ocasionalmente, ao final de cada período para compor
com as demandas de registros solicitadas aos professores – relatórios,
portfólios, vídeos etc. -.
(ARAÚJO, s.d., p.15)
Formas de Documentar
• Reflexões coletivas sobre a documentação e a Pedagogia
Freinet;
• Portfólio;
• Livro da Vida;
• Mini-História;
• Outras formas? Quais?

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