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UNIOESTE – UNIVERSIDADE mesmo tempo tentador, e nesta parte se

observa uma figura de linguagem, característica


ESTADUAL do barroco, a antítese, entre o plano material
OESTE DO PARANÁ 2022 (flor) e o espiritual (anjo), e que no final da
POEMAS poesia acaba se tornando um paradoxo
 “SONETOS A D. ANGELA DE SOUSA (mulher-anjo). Na segunda estrofe aborda o
PAREDES”, “A MESMA D. ANGELA”, “BENZESE desejo do poeta, por ver uma flor tão bela que
O POETA DE VÁRIAS AÇÕES QUE OBSERVA NA sente vontade de tê-lo para si (Quem veria uma
SUA PÁTRIA – Gregório de flor, que a não cortara...?), mas quando é
Matos Guerra; associada a um anjo tem de ser idolatrada (E
 LIRA I – EU, MARÍLIA, NÃO SOU ALGUM quem um Anjo tão luzente, / Que por seu Deus,
VAQUEIRO – Tomás Antônio Gonzaga; o não idolatra?).
 SE EU MORRESSE AMANHÃ – Álvares de Sendo que, no primeiro terceto é observado, já
Azevedo; que sua amada representa a figura de um anjo,
 O CANTO DO GUERREIRO – Gonçalves Dias; é melhor apenas protegê-la, guardá-la, pois
 “REMORSO”, “O INCÊNDIO DE ROMA” – sabe que é uma tentação só de vê-la, como se
Olavo Bilac; dissesse "a carne é fraca". E na ultima estrofe
 “ACROBATA DA DOR-Cruz e Souza deixa clara que a hipótese não se confirma na
estrofe anterior, pois, sua amada por ser tão
formosa e elegante (Mas vejo, que tão bela, e
À mesma D. Ângela – Gregório de Matos tão galharda,) acaba conquistando-o e não
resistindo. Devido, a mesma não evitar que ele
Anjo no nome, Angélica na cara, a deseje, pois se percebe com isso que ela não é
Isso é ser flor, e Anjo juntamente, anjo, mas é anjo ao mesmo tempo por ser tão
Ser Angélica flor, e anjo florente, angelical. É justamente analisados o amar e o
Em quem, senão em vós se uniformara? querer, que no verso final predomina o
paradoxo "Sois anjo, que me tenta, e não me
Quem veria uma flor, que a não cortara guarda".
De verde pé, de rama florescente? Uma característica do Barroco presente na
E quem um Anjo vira tão luzente, poesia lírica, e o aspecto cultista (jogo de
Que por seu Deus, o não idolatrara? palavras), como por exemplo em "Ângela",
"Angélica" e "Anjo", como também "flor" e
Se como anjo sois dos meus altares, "florente"
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólico azares. POEMA: Benze-se o poeta de várias
ações
Mas vejo, que tão bela e tão galharda, Benze-se o poeta de várias ações
Posto que os anjos nunca dão pesares, que observa na sua pátria Destes que campam no
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda mundo/ sem ter engenho profundo,/ e, entre
gabos dos amigos,/ os vemos em papa-figos/ sem
ANÁLISE À mesma D. Ângela – Gregório de tempestade, nem vento: Anjo Bento. De quem
Matos com letras secretas/ tudo que alcança é por
tretas,/ baculejando sem pejo, / por matar o seu
Este é um soneto de versos decassílabos com desejo,/ desde a manhã té a tarde: Deus me
rimas regulares, ou seja, rimas opostas nos dois guarde. Do que passeia farfante,/ muito prezado
quartetos (ABBA/ABBA), e rimas alternadas nos de amante/ por fora luvas, galões,/insígnias,
dois tercetos (CDC/DCD). Nesta poesia lírica armas, bastões,/ por dentro pão bolorento:/ Anjo
evidencia de um lado a idéia do amor, que pode Bento. Destes beatos fingidos,/ cabisbaixos,
ser de dor e sofrimento e de outro lado é vista a encolhidos,/ por dentro fatais maganos,/ sendo
figura feminina como uma perdição, um pecado nas caras uns Janos,/ que fazem do vício
que atormenta. Cujo nome Angélica, nome de alarde:/Deus me guarde. Que vejamos teso
flor e em latim ângelus (anjo). andar,/ quem mal sabe engatinhar,/ meio inteiro
Na primeira estrofe o poeta tenta fazer uma e presumido,/ ficando o outro abatido/ com
síntese entre flor e anjo, a primeiro começa a maior merecimento:/ Anjo Bento. Destes avaros
fazer uma imagem de uma mulher construída mofinos,/ que põem na mesa pepinos/ de toda
com uma beleza pura e o segundo por ser ao iguaria isenta,/ com seu limão e pimenta,/porque
diz que queima e arde:/ Deus me guarde. Que
pregue um douto sermão/ um alarve, um Graças, Marília bela,
asneirão,/ e que esgrima em demasia/ quem Graças à minha Estrela!
nunca lá na Sofia/ soube por um argumento:/
Anjo Bento. Desse santo emascarado,/ que fala Os teus olhos espalham luz divina,
do meu pecado,/ e se tem por Santo A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Antônio,/mas em lutas com o demônio/ se Papoula, ou rosa delicada, e fina,
mostra sempre cobarde:/ Deus me guarde. A .O Te cobre as faces, que são cor de neve.
ato de benzer-se pode ser compreendido como Os teus cabelos são uns fios d?ouro;
uma altitude irônica do poeta diante as mazelas Teu lindo corpo bálsamos vapora.
de sua pátria? Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
No poema, o ato de benzer-se com certeza Graças, Marília bela,
pode ser compreendido como um ato irônico Graças à minha Estrela!
diante daquilo que o eu-lírico observa em sua
pátria. Ao longo dos verbos, observamos ANÁLISE
algumas expressões jocosas como “asneirão” ou
“tudo que alcança é por tretas” para tratar dos As estrofes são constituídas de dez versos,
homens e mulheres que têm atitudes erradas sendo as oitos iniciais decassílabos e os dois
ou mesquinhas. Além disso, outras expressões últimos refrões hexassílabos, isto é, com seis
de cunho religioso são usadas para expressar o sílabas métricas. As rimas são alternadas e
afastamento do eu-lírico diante das coisas opostas (ABABCDDC). Esta é uma poesia em que
erradas que observa. o eu-lirico enfatiza o sentimento amoroso e que
tal sentimento é associado à imagem de Marília
à de uma estrela. Com isso o poeta tenta passar
MARÍLIA DE DIRCEU com muita clareza e equilíbrio sua poesia,
colocando como "pano de fundo", a natureza e
Lira I o sentimento bucólico.
Na primeira estrofe, o eu-lirico se coloca como
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, pastor e ao mesmo tempo deixa claro que não
Que viva de guardar alheio gado; pode ser confundido com qualquer vaqueiro,
De tosco trato, d? expressões grosseiro, "Que viva de guardar alheio gado; / de tosco
Dos frios gelos, e dos sóis queimado. trado, de expressões grosseiro...". e o eu-lirico
Tenho próprio casal, e nele assisto; afirma ser um pastor vaidoso e que dar muita
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; importância para os bens matérias "tenho
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, próprio casal..." e que pode muito bem se
E mais as finas lãs, de que me visto. sustentar ..."vinho, legume, fruta, azeite..".
Graças, Marília bela, Assim é um pastor abastado "bem de vida" e
Graças à minha Estrela! não um simples vaqueiro que cuida de gado
alheio, afirmando ter seu próprio rebanho e que
Eu vi o meu semblante numa fonte, por isso merece o amor de Marilia. Dessa forma
Dos anos inda não está cortado: encontra-se a presença do bucolismo,
Os pastores, que habitam este monte, ressaltando a natureza.
Com tal destreza toco a sanfoninha, Na segunda estrofe o eu-lirico exalta a sua
Que inveja até me tem o próprio Alceste: superioridade e ainda admira o seu semblante
Ao som dela concerto a voz celeste; por ser mais velho que Marília, e então é
Nem canto letra, que não seja minha, notada nessa estrofe a presença de elementos
Graças, Marília bela, arcádicos como, pastores, cajado, fonte e
Graças à minha Estrela! outros. Já na terceira estrofe o eu-lirico pede
Marília em casamento, pois tem como sustentá-
Mas tendo tantos dotes da ventura, la, destacando que seus bens materiais são
Só apreço lhes dou, gentil Pastora, muito importante, mas não tanto quanto o seu
Depois que teu afeto me segura, amor por ela, é notável um pouco de
Que queres do que tenho ser senhora. romantismo no verso "Porém, gentil Pastora, o
É bom, minha Marília, é bom ser dono teu agrado / vale mais que um rebanho e mais
De um rebanho, que cubra monte, e prado; que um trono".
Porém, gentil Pastora, o teu agrado E na última estrofe é dedicada a Marília,
Vale mais q?um rebanho, e mais q?um trono. palavras que só a valoriza, que seduzem uma
mulher, assim o eu-lírico vai utilizando um Quanta glória pressinto em meu futuro!
excesso de metáforas, comparando-a com a Que aurora de porvir e que manhã!
"luz divina", "papoila ou rosa delicada", "fios de Eu perdera chorando essas coroas
ouros" e "lindo corpo que vapora bálsamo". Se eu morresse amanhã!
Ao  mesmo  tempo em  que  lamenta  por  uma 
Se eu morresse amanhã morte tão  prematura, ele também a exalta
Álvares de Azevedo como  solução  para a dor física  que  o 
Se eu morresse amanhã, viria ao menos atormenta. O escapismo  –  uma das
Fechar meus olhos minha triste irmã; características do Arcadismo e do Romantismo 
Minha mãe de saudades morreria –  é   o desejo de  fugir  a  uma  situação
Se eu morresse amanhã! conflituosa;  no texto de  Azevedo, o eu lírico
Quanta glória pressinto em meu futuro! livrar-se-ia da dor se morresse.
Que aurora de porvir e que manhã! Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Eu perdera chorando essas coroas Acorda a natureza mais louçã!
Se eu morresse amanhã! Não me batera tanto amor no peito
Que sol! que céu azul! que doce n’alva Se eu morresse amanhã!
Acorda a natureza mais louçã! Mas essa dor da vida que devora
Não me batera tanto amor no peito A ânsia de glória, o dolorido afã…
Se eu morresse amanhã! A dor no peito emudecera ao menos
Mas essa dor da vida que devora Se eu morresse amanhã!
A ânsia de glória, o dolorido afã… CONTAGEM GRAMATICAL
A dor no peito emudecera ao menos Mas| es|sa| dor| da| vi|da| que| de|vo|ra 
Se eu morresse amanhã! (11 sílabas)
O  texto é parte  de  uma coletânea publicada A| ân|sia| de| gló|ria|, o| do|lo|ri|do| a|fã…
em 1853 –  um ano   após a  morte de seu  autor (13 sílabas)
–  e intitulada  Lira dos    vinte anos. É A |dor |no| pei|to |e|mu|de|ce|ra| ao| me|
importante  observar que  todo o  texto  é nos (13 sílabas)
construído a  partir  de  uma  hipótese –  o  que, Se| eu| mor|res|se| a|ma|nhã! (8 sílabas)
gramaticalmente,  é   obtido  por  meio do Contagem poética:
subjuntivo.  Esse  modo enuncia a ação do  Mas| es|sa| dor| da| vi|da| que| de|vo|ra 
verbo como  “algo eventual,  incerta, irreal,  em (10 sílabas)
dependência  estreita com a  vontade, a  A ân|sia| de| gló|ria, o| do|lo|ri|do a|fã… (10
imaginação ou  o sentimento daquele que o sílabas)
emprega. Por  isso, as noções  temporais  não A |dor |no| pei|to e|mu|de|ce|ra ao| me|nos
são  precisas como  no  indicativo” (CUNHA & (10  sílabas)
CINTRA, 2008,  p. 487).  No  título do  poema, Se eu| mor|res|se a|ma|nhã! (6 sílabas)
podemos  perceber a preocupação do  eu  lírico É interesse observarmos,  o  recurso  linguístico 
em  relação ao seu  futuro e  ao de sua família utilizado  nas  duas estrofes  destacadas. 
caso viesse a falecer. Uma  das características O leitor deve notar que, nos dois últimos versos
mais  marcantes do  movimento romântico  é  de cada uma delas, o autor afasta-se da norma
a idealização e o  eu  lírico  fantasia  sobre o  culta ao elaborar a hipótese:  em   lugar de  
momento de  sua morte: como seus  familiares  bateria e emudeceria, Azevedo utiliza batera e
se comportariam  naquela situação? emudecera. Em   uma leitura  superficial do
Se eu morresse amanhã, viria ao menos texto, podemos julgar que  o jovem  poeta
Fechar meus olhos minha triste irmã; comete um erro  gramatical, utilizando os
Minha mãe de saudades morreria verbos  no  pretérito  mais-que-perfeito do 
Se eu morresse amanhã! indicativo. Ao  analisarmos a  métrica  do texto,
Álvares de Azevedo morreu de tuberculose aos percebemos que  o poeta assim  o  faz com  o 
21 anos e expôs sua doença propósito de  manter a  quantidade de sílabas
em muitos de seus textos, como em   métricas.
Lembrança de  morrer (“Quando em  meu  peito Como representante  da segunda  geração do
rebentar-se a fibra…”).  Em  Se eu  morresse Romantismo, o adolescente  Álvares de 
amanhã,  aparece a  incerteza sobre  o  futuro;  Azevedo escreveu sobre os  dramas, as
ao contrário dos  outros   jovens de  sua  idade, aspirações, as decepções, os desejos e a
o eu lírico (talvez uma  representação do  rebeldia  juvenis. No texto aqui analisado,
próprio poeta)  não viveria nenhuma  glória e,  podemos  notar  que o  poeta não se inspirava
por  isso,  evocava  a própria  morte: em  situações exteriores, mas  a  inspiração 
vinha dele  mesmo e de suas experiências de  A onça raivosa
vida. Meus passos conhece,
O imigo estremece,
O Canto do Guerreiro E a ave medrosa
por Gonçalves Dias Se esconde no céu.
Poema publicado em Primeiros Cantos. — Quem há mais valente,
— Mais destro do que eu?

VI
I
Se as matas estrujo
Aqui na floresta
Co os sons do Boré,
Dos ventos batida,
Mil arcos se encurvam,
Façanhas de bravos
Mil setas lá voam,
Não geram escravos,
Mil gritos reboam,
Que estimem a vida
Mil homens de pé
Sem guerra e lidar.
Eis surgem, respondem
— Ouvi-me, Guerreiros.
Aos sons do Boré!
— Ouvi meu cantar.
— Quem é mais valente,
— Mais forte quem é?
II
VII
Valente na guerra
Quem há, como eu sou?
Lá vão pelas matas;
Quem vibra o tacape
Não fazem ruído:
Com mais valentia?
O vento gemendo
Quem golpes daria
E as malas tremendo
Fatais, como eu dou?
E o triste carpido
— Guerreiros, ouvi-me;
Duma ave a cantar,
— Quem há, como eu sou?
São eles — guerreiros,
Que faço avançar.
III
VIII
Quem guia nos ares
A frecha imprumada,
E o Piaga se ruge
Ferindo uma presa,
No seu Maracá,
Com tanta certeza,
A morte lá paira
Na altura arrojada
Nos ares frechados,
Onde eu a mandar?
Os campos juncados
— Guerreiros, ouvi-me,
De mortos são já:
— Ouvi meu cantar.
Mil homens viveram,
Mil homens são lá.
IV
IX
Quem tantos imigos
Em guerras preou?
E então se de novo
Quem canta seus feitos
Eu toco o Boré;
Com mais energia?
Qual fonte que salta
Quem golpes daria
De rocha empinada,
Fatais, como eu dou?
Que vai marulhosa,
— Guerreiros, ouvi-me:
Fremente e queixosa,
— Quem há, como eu sou?
Que a raiva apagada
De todo não é,
V
Tal eles se escoam (...)
Na caça ou na lide,
Quem há que me afronte?! Na estrutura aparente do poema “O Canto do
guerreiro”, é possível perceber a presença de
nove estrofes divididas por números romanos (I caminho (“Quem tantos imigos / Em guerras
a IX). Seus versos apresentam uma forma preou?”) e quem mais tem energia para
encadeada e não são uniformes, pois seis de derrotar mortalmente seus inimigos em
suas estrofes possuem oito versos, uma possui batalhas.
nove, outra dez e a última doze. Entretanto, o É na quinta estrofe que o índio menciona o fato
poema apresenta uma métrica perfeita na qual de que ninguém é tão corajoso a ponto de
todos os versos contêm a mesma quantidade de enfrentá-lo, “Na caça ou na lide, / Quem há que
sílabas poéticas (5), afigurando-se, assim, uma me afronte?!”. Ele é tão temido naquela
redondilha menor. floresta que, além de seus inimigos, até os
Quanto às rimas, elas são irregulares e, em sua animais que lá habitam têm medo dele: “A onça
maioria, pobres (bravos/escravos/Guerreiros; raivosa / Meus passos conhece, / O imigo
lidar/cantar...). Vale destacar a presença da estremece, / E a ave medrosa / Se esconde no
figura de linguagem hipérbole em: “Mil arcos se céu.”. Após contar mais de suas conquistas, o
encurvam,/ Mil setas lá voam,/ Mil gritos índio questiona novamente seus colegas se há
reboam / Mil homens de pé”. Ainda, evidencia- alguém mais valente do que ele, capaz de fazer
se o paralelismo da expressão “- Guerreiros, tudo o que ele já fez: “- Quem há mais
ouvi-me”. Também, o poema é repleto de valente, / - Mais destro do que eu?”.
anáforas, tais como “Quem” e “Mil”. Na sexta estrofe, o eu-lírico alude que é com a
Quanto à estrutura profunda do poema, o ajuda de sua trombeta que ele chama seus
sujeito poético é um índio guerreiro que está se guerreiros para a guerra; fazendo, assim, a
vangloriando de suas conquistas juntamente floresta inteira estremecer com o som do seu
com seus companheiros de guerra. Como ele é instrumento e da multidão que o segue: “Se as
o líder de sua tribo, seus guerreiros precisam matas estrujo / Co os sons do Boré, / Mil arcos
reconhecê-lo como o mais forte e mais valente se encurvam, / Mil setas lá voam, / Mil gritos
de todos; assim, conta-lhes seus feitos mais reboam, / Mil homens de pé / Eis surgem,
impressionantes para que seja respeitado respondem / Aos sons do Boré!”. Dessa forma,
“como um líder deve ser”. por ser capaz de liderar esses homens e de
Na primeira estrofe, esse índio apresenta ao conquistar tudo o que já conquistou, ele
leitor o local onde ele e sua tribo vivem “Aqui continua pedindo que seu batalhão confirme a
na floresta / Dos ventos batida”. No momento sua bravura: “- Quem é mais valente / - Mais
seguinte, ele menciona que lá todos eles são forte quem é?”.
livres e resistirão à escravidão, se for preciso: Na estrofe seguinte, o sujeito poético cita que
“Façanhas de bravos / Não geram escravos, / seus guerreiros, por terem nascido naquelas
Que estimem a vida / Sem guerra e lidar.” Por matas, conseguem vaguear por lá sem fazerem
fim, ele reafirma a sua liderança através dos barulho algum (“Lá vão pelas matas; / Não
sétimo e oitavo verso, nos quais ele convida os fazem ruído”); permitindo que, no momento
outros guerreiros a ouvirem o seu chamado: “- em que estivessem em uma guerra, os inimigos
Ouvi-me, Guerreiros. / - Ouvi meu cantar.” não soubessem onde eles estariam, já que a
Na segunda estrofe, o índio guerreiro mata e os bichos que lá vivem continuariam
denomina-se como “valente” e desafia seus agindo normalmente com a presença deles: “O
colegas a falarem se há alguém tão temido vento gemendo / E as malas tremendo / E o
quanto ele naquela tribo: “Quem há, como eu triste carpido / Duma ave a cantar”.
sou?”. Ele considera-se o melhor guerreiro Na oitava estrofe, o índio guerreiro menciona
entre os outros, aquele que “vibra o tacape com uma cena de guerra, na qual o pajé de sua tribo
mais valentia” e que dá os “golpes mais fatais” toca o seu maracá para abençoar os guerreiros
em seus inimigos. Em seguida, ele convida e livrá-los da morte: “E o Piaga se ruge / No seu
novamente seus colegas para juntarem-se a si: Maracá”. Nos próximos versos, ele diz que os
“- Guerreiros, ouvi-me; / - Quem há, como eu campos de guerra estão repletos de inimigos
sou?”. mortos; contudo, aduz que todos os guerreiros
Nas próximas estrofes (III e IV), o índio guerreiro comandados por ele continuam vivos: “A morte
continua questionando sua tribo e lá paira / Nos ares frechados, / Os campos
vangloriando-se de seus feitos. É ele quem tem juncados / De mortos são já: / Mil homens
o melhor manejo da “frecha”, “Quem guia nos viveram, / Mil homens são lá.”
ares / A frecha imprumada,/ Ferindo uma
presa,/ Com tanta certeza,/ Na altura arrojada/
Onde eu [ele] a mandar?”. Foi ele quem mais
prendeu os inimigos que sua tribo fizera pelo
Na última estrofe, o sujeito poético, mais uma estampido,
vez, reforça o seu poder como um líder, já que Como a um sopro fatal, rolam esfaceladas.
se acaso ele precisar chamar seus guerreiros E os templos, os museus, o Capitólio erguido
para a guerra novamente, a floresta irá balançar Em mármor frígio, o Foro, as erectas arcadas
ao som de sua trombeta: “E então se de novo / Dos aquedutos, tudo as garras inflamadas
Eu toco o Boré; / Qual fonte que salta / De Do incêndio cingem, tudo esbroa-se partido.
rocha empinada, / Que vai marulhosa, / Longe, reverberando o clarão purpurino,
Fremente e queixosa”. Além do mais, ele deixa Arde em chamas o Tibre e acende-se o
claro que uma nova batalha estará horizonte.
por vir, pois a raiva que sente de seus inimigos Impassível, porém, no alto do Palatino,
não passou mesmo após a sangrenta batalha Nero, com o manto grego ondeando ao ombro,
(“Que a raiva apagada / De todo não é”). Por assoma
fim, ele invoca seus guerreiros a enunciarem Entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte,
mais uma vez quem é o mais forte de todos: “- Lira em punho, celebra a destruição de Roma
Guerreiros, dizei-me, / - Tão forte quem é?”. A temática proposta, isto é, a Antiguidade
Como o presente poema faz parte da Primeira Clássica, bem como o cuidado formal, soneto
Geração – Indianista e Nacionalista – do com versos alexandrinos, é inerente ao
Romantismo no Brasil, as características desta Parnasianismo.
podem ser percebidas através da temática da
coragem, da força, das façanhas indígenas, da Acrobata da Dor
resistência à escravidão, e em seu sujeito
poético; pois, há o enaltecimento do índio o Gargalha, ri, num riso de tormenta,
qual é o próprio eu-lírico da obra. O índio, aqui, Como um palhaço, que desengonçado,
tem seus feitos exaltados e é lembrado e Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
tratado como herói, valente, virtuoso e nobre – De uma ironia e de uma dor violenta.
nosso legítimo antepassado nacional –, análogo
ao cavaleiro medieval para o europeu. Ainda, há Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
a forte presença da natureza e animais (flora e Agita os guizos, e convulsionado
fauna); manifestando, assim, elementos Salta, gavroche, salta clown, varado
principais das obras de Gonçalves Dias. Pelo estertor dessa agonia lenta ...
Remorso – Olavo Bilac
Às vezes, uma dor me desespera… Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Nestas ânsias e dúvidas em que ando. Vamos! retesa os músculos, retesa
Cismo e padeço, neste outono, quando Nessas macabras piruetas d’aço...
Calculo o que perdi na primavera.
Versos e amores sufoquei calando, E embora caias sobre o chão, fremente,
Sem os gozar numa explosão sincera… Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Mais viver, mais penar e amar cantando! Cruz e Sousa
Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice, Gavroche: garotos de Paris, figuradamente
Mártir da hipocrisia ou da virtude, artista.
Os beijos que não tive por tolice, Estertor: respiração anormal própria de
Por timidez o que sofrer não pude, moribundos.
E por pudor os versos que não disse Fremente: vibrante, agitado, violento.
O poema Remorso de Olavo Bilac, expressa o Estuoso: que ferve, ardente, febril.
lamento que o autor sente pelas coisas que ele
deixou de fazer. O poema se caracteriza com a Acrobata da Dor”, em forma de soneto,
era parnasiana por composição de soneto, apresenta a característica preocupação formal
clareza e lógica e por ser descritivo. Além disso, de Cruz e Sousa que o aproxima inclusive dos
o poema é de rimas ricas e raras ‘calando, parnasianos: a utilização de vocabulário
cantando’. requintado e erudito, a força das imagens na
O Incêndio De Roma poética bem como a forma lapidar antecipam a
Raiva o incêndio. A ruir, soltas, desconjuntadas, nobreza destes versos sugestivos, bem ao gosto
As muralhas de pedra, o espaço adormecido A simbologia presente neste poema simbolista
De eco em eco acordando ao medonho é de impressionante intensidade e frequência,
desde o inicio do poema até o seu desfecho
encontramos bastantes evidências lexicais que 02 – Ainda sobre o soneto, assinale a afirmação
construíram sugestões. Aqui neste poema, errônea:
Acrobata da Dor, percebemos uma intenção do a) há uma alusão ao fato de o palhaço,
autor de fazer com que o leitor possa tentar interiormente dilacerado, mascarar seus
identificar quem afinal seria este Acrobata/ sentimentos para transmitir alegria.
Artista, o que só conseguimos descobrir no final b)- a fachada de alegria e o sofrimento interior
do poema, a metáfora do poema se inclina para compõem a natureza conflitante do coração do
o coração. Podemos ver isto em algumas poeta, sensibilizando o público.
evidências que o autor põe no soneto, c) há um vocabulário sugestivo, remetendo ao
“Gargalhada sanguinolenta...” onde o “eu-lírico” coração: “gargalhada sanguinolenta”,
sugere a idéia da cor vermelha do sangue; “convulsionado”, “retesa os músculos”.
“Convulsionado...” que pode representar os d) o poema pode ser visto também como uma
batimentos cardíacos deste coração, etc. metáfora da condição do artista, em que se
O poema exprime a metáfora da convivência do revelam as relações entre arte e poeta.
ser humano com o seu exterior, onde este e) a condição do artista se espelha na do
precisa suportar suas dores cotidianas e, para palhaço, sendo este forçado a rir, numa espécie
driblá-las, o ser deve fazer as “acrobacias” da de tortura interna e eterna.
vida mesmo com o peso de sua dor interior. É
necessário derrubar as barreiras e dificuldades 03 – Assinale o item em que a expressão
com uma alegria mascarada e determinada a utilizada possui uma carga semântica que
seguir em frente. Em outras palavras, se destoa das demais:
enxergarmos o coração numa perspectiva a) “riso de tormenta”
transcendental e espiritual, é possível vermos o b) “gargalhada atroz, sanguinolenta”
coração como uma simbologia do nosso c) “agonia lenta”
interior, do nosso espírito, da nossa mente, ou d-) “Pedem-se bis”
seja, o nosso centro das atenções. e) “macabras piruetas”
Outro ponto interessante neste poema é a linha
lógica das descrições do Acrobata. Através 04 – Assinale a alternativa em que a indicação
destas sugestões, o “eu-lírico” deixa que o leitor entre parênteses não está de acordo com o
guie o texto, só depende dele decifrar o verso:
sentimento gravado no soneto, ou seja, há uma a)- “Gargalha, ri, num riso de tormenta,”
linha cronológica de sugestões que o leitor (pleonasmo vicioso)
precisa captar para que no final o poema se b) “salta, gavroche, salta clown, varado”
encerre. (assonância)
c) “Da gargalhada atroz, sanguinolenta,”
(sinestesia)
Entendendo o soneto: d) “nessas macabras piruetas d’aço...”
(metáfora)
01 – Fazendo uma análise mais detalhada do e) “afogado em teu sangue estuoso e quente,”
soneto, assinale a afirmação incorreta: (aliteração).
a) ao longo do texto, constata-se que o
acrobata da dor, desempenhando o papel de
um triste e sofrido palhaço, é metáfora do
próprio coração.
b) o acrobata precisa acolher a manifestação da
audiência e seguir desempenhando seu papel,
mesmo que o leve à morte.
c) essa espécie de clown, que vive de agradar às
multidões, paga um preço alto: a ocultação de
sua dor interior.
d) cena grotesca, o bis é a sedução da plateia
que acaba conduzindo o acrobata para a
tragédia.
e) -a plateia pedindo bis corresponde à elite
política que exige do cidadão, em sua luta
diária, as maiores acrobacias.

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