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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia o segundo capítulo do romance Iracema, do
escritor José de Alencar (1829-1877), publicado em 1865.

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da
1
graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da 2jati não era doce como seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque
como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu,
onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando,
alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a
sombra da 3oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre
esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o
canto.
Iracema saiu do banho: o 4aljôfar d’água ainda a 5roreja, como à doce 6mangaba que
corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do 7gará as flechas de seu
arco e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa 8ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos
da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras, remexe o uru9 de palha matizada, onde
traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do 10crautá, as agulhas da 11juçara com que tece
a renda e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol
não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não
algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos
olhos o azul triste das águas profundas. 12Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas
de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão 13lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O
moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor.
Sofreu mais d’alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de
si o arco e a 14uiraçaba e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava.
Depois Iracema quebrou a 15flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo
a ponta farpada.
O guerreiro falou:
– Quebras comigo a flecha da paz?
– Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a
estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
– Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já
possuíram e hoje têm os meus.
– Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à
cabana de Araquém, pai de Iracema.

Iracema, 2006.

1
graúna: pássaro de cor negra.
2
jati: pequena abelha que fabrica delicioso mel.
3
oiticica: árvore frondosa.
4
aljôfar: pérola; por extensão: gota.
5
rorejar: banhar.
6
mangaba: fruto da mangabeira.
7
gará: ave de cor vermelha.
8
ará: periquito.
9
uru: pequeno cesto.
10
crautá: bromélia.
11
juçara: palmeira de grandes espinhos.
12
ignoto: que ou o que é desconhecido.
13
lesto: ágil, veloz.
14
uiraçaba: estojo em que se guardavam e transportavam as flechas.
15
quebrar a flecha: maneira simbólica de se estabelecer a paz entre os indígenas.

1. O modo como o narrador descreve a personagem Iracema está de acordo com os preceitos
da estética romântica? Justifique sua resposta, valendo-se de três expressões retiradas do
texto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


VAGABUNDO

Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,


Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo e sou 1ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro


Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.
(...)

Oito dias lá vão que ando cismado


Na donzela que ali defronte mora.
Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora!...

Tenho por meu palácio as longas ruas;


Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.

O degrau das igrejas é meu trono,


Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,


De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.
(...)

Ora, se por aí alguma bela


Bem doirada e amante da preguiça
Quiser a 2nívea mão unir à minha,
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.

Álvares de Azevedo
Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

1
ditoso − feliz
2
nívea − branca
2. Na quinta estrofe do poema Vagabundo, Álvares de Azevedo, poeta da segunda geração do
Romantismo, aborda um tema muito frequente entre os primeiros românticos.

Identifique o tema e explique a diferença entre a abordagem desse tema por Álvares de
Azevedo e pelos poetas românticos da primeira geração.

3. (Unifesp 2009) Leia o texto.

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e
mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu
hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde
campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava
apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
(José de Alencar, "Iracema".)
a) Explique a construção da personagem em conformidade com os preceitos da literatura
romântica.
b) Identifique e exemplifique o recurso linguístico-textual recorrente para a construção da
personagem.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


HAPPY END
(Cacaso)

O meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente.

4. ADEUS, MEUS SONHOS!

(Álvares de Azevedo)

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!


Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias


À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus? morra comigo


A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

O poema de Álvares de Azevedo, assim como o de Cacaso, trabalha com o par desejo/
realidade. Com base nessa afirmação, demonstre, a partir de elementos textuais, que "Adeus,
meus sonhos!" constitui forte ilustração da poética da segunda geração romântica, à qual
pertence o autor.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


A LAGARTIXA

A lagartixa ao sol ardente vive


E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo-te como o vinho e como o sono,


Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.

Posso agora viver: para coroas


Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.

Vale todo um harém a minha bela,


Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.

(AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas (ed. crítica de Péricles Eugênio da Silva Ramos/
org. Iumna Maria Simon). Campinas/SP: UNICAMP; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado,
2002.)

5. A poética da segunda geração romântica é frequentemente associada ao melancólico, ao


sombrio, ao fúnebre; a lírica amorosa, por sua vez, costuma ser caracterizada como
lamentação de amores perdidos ou frustrados.
Relacione essas duas afirmativas ao texto no que se refere à seleção vocabular relativa aos
amantes e a seu tratamento poético.

6. Verifica-se, no poema, a alternância entre a 2a e a 3a pessoas do discurso.


Explique essa alternância na construção do poema.

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