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António Zambujo – um cantor de A a Z

Alentejo. É a região onde nasci e à qual continuo a ter uma ligação muito forte. Sempre
a tive. Além disso, foi também a música tradicional alentejana que me fez querer ser
músico e começar a cantar. Enquanto artista, devo muito à cultura alentejana.

Beja. A minha cidade. Onde nasci, cresci e onde tenho os meus amigos mais antigos,
5 onde estudei, onde aprendi música e onde também comecei a cantar. Fiz parte de um
grupo de música tradicional quando era miúdo, estudei lá no Conservatório, toquei numa
das bandas filarmónicas da cidade. É também o sítio onde ainda vive a minha família e
ao qual continuo a regressar com alguma frequência – embora cada vez menos, com
grande pena minha.
[…]
10 Dublin. Uma cidade onde nunca fui e que tenho muita curiosidade em conhecer, para
ver se os irlandeses são assim tão parecidos com os portugueses como já ouvi dizer
tantas vezes. Gostava de ir lá, não só beber uns copos com eles, mas também por causa
da tradição do folk, uma grande influência para mim. Foi a música celta irlandesa que
esteve na origem de muita da música norte-americana, que nos deu nomes como o de
15 Tom Waits, que é um artista muito importante para mim.

Estádio do Benfica. Um local que frequentei muito, mas ao qual nunca mais voltei. A
partir do ano passado, quando acabou a época, aconteceu aqui qualquer coisa dentro de
mim, devido a todas as polémicas dos clubes, que me fez desinteressar-me por completo
de tudo o que diga respeito ao futebol. Adorava todo o ritual de ir ao estádio com os
20 amigos, mas nunca mais voltei. Deixei de comprar jornais desportivos e de assinar
canais de televisão de desporto, caríssimos.
[…]
Guitarra. Não foi o meu primeiro instrumento, mas acaba por ser o mais importante.
Estudei clarinete e nunca tinha tocado guitarra antes, até aprender os acordes básicos
quando cantava no coro da igreja, em Beja. Depois, só mais tarde, quando fui para
25 Lisboa, é que aprendi uns acordes mais elaborados, com o Mário Delgado. A partir daí,
todo o meu trabalho de composição passou a ser feito com a guitarra, que é, cada vez
mais, o meu instrumento.
[…]
Independência. É o mais importante para um artista, poder ser independente e ter total
liberdade para fazer aquilo que lhe dá na real gana. É algo que sempre prezei muito e
30 que sempre consegui ter, também porque fui teimoso no modo como fiz as coisas.
Quando acreditamos muito em algo, não temos de obedecer a mais nada além do nosso
impulso – curiosamente outra palavra começada por i, tal como “instinto”. Há muitas
palavras que poderia escolher e todas elas conduzem ao mesmo, poder fazer aquilo que
quero e em que acredito. Isso é determinante para qualquer tipo de arte.

35 Joaquim. A letra do nome do meu pai; de João, o nome do meu filho; de Joaquina, o
nome da minha avó. É um J que funciona como um F de Família, que é algo muito
importante na minha vida.
[…]
Rato. Foi um animal de estimação do meu filho que desapareceu por minha culpa,
porque deixei a gaiola aberta, causando toda uma tragédia lá em casa. Chamava-se
40 Sumo. Foi um drama enorme, para ele e para mim, que também me tinha afeiçoado ao
bicho. Foi o segundo animal de estimação que tive na vida, antes só tinha tido um cão,
quando era miúdo. Agora, temos dois porquinhos-da-índia, o Ted e o Chewbacca. É a
chamada lei das compensações…
[…]

1
Vitória. Porque a vida é feita de pequenas vitórias. Devemos estar sempre à procura de
45 novos desafios e não nos deixarmos deslumbrar pelo sucesso, nem dormir à sombra dele,
embora às vezes seja fácil cair nessa tentação. É por isso que tento sempre ter um pé
assente no chão, mesmo quando estou a sentir-me no céu.
[…]
Zambas. Alcunha que a malta do Porto me deu. E pegou. O meu último disco tinha uma
música chamada “Zamba del Olvido”, que é um original do cantor uruguaio Jorge
50 Drexler, através do qual descobri que “zamba” é também um ritmo sul-americano.

in Visão, 22 de novembro de 2018

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