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RESUMO
O presente artigo aborda o Sítio Histórico de Itapina, que se trata do mais recente a ser tombado
pelo Estado do Espírito Santo. O distrito de Itapina, situa-se às margens do Rio Doce e da atual
Estrada de Ferro Vale do Rio Doce, no município de Colatina, região noroeste do estado do Espírito
Santo. A ocupação da região deu-se por volta de 1866, com a chegada de fluminenses e mineiros.
Posteriormente, a partir de 1889, chegaram os imigrantes italianos e algumas famílias libanesas. As
características arquitetônicas que são evidenciadas nos casarios de Itapina refletem essa mescla de
costumes e culturas, onde predominam-se casas térreas e sobrados nos estilos eclético e proto-
moderno, além, da arquitetura tradicional da imigração e da arquitetura industrial e ferroviária, que
podem ser vislumbradas na antiga estação e nos armazéns de café, ao longo do sítio. O vilarejo
prosperou no período áureo do café, por volta de 1907, com a construção da Estrada de Ferro Vitória-
Minas (EFVM), onde escoava-se toda a produção da região. Porém, com a crise de 1929 e a
erradicação dos cafezais este cenário de prosperidade mudou. Na década de 1940, deu-se o início
do processo de esvaziamento do vilarejo, os comerciantes que ali residiam mudaram-se para outros
núcleos urbanos. No ano de 2013, o Sítio Histórico de Itapina foi tombado em nível estadual, onde ao
todo foram tombados 82 imóveis e outros 43 foram decretados de interesse de preservação para
compor o conjunto. O documento preza pela proteção dos bens culturais e naturais que constituem a
Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac) de Itapina, constituída pelo Sítio Histórico Urbano,
Patrimônio Ambiental Urbano e Paisagem Cultural. Como o tombamento é recente, pouco tem sido
feito efetivamente para garantir o que foi decretado na Resolução 003/2013. A mesma, ainda não faz
parte totalmente do cotidiano do vilarejo, faltando ações que despertem a conscientização e
conhecimento da lei por parte dos moradores e proprietários, sendo que os mesmos não
compreendem a importância do sítio, ocasionando a situação atual de Itapina, que é de
esquecimento, até mesmo no cenário regional ele é desconhecido. Além disso, o cenário da região
está em plena mudança, fator decorrente da forte seca dos últimos meses e da lama de rejeitos que
atingiu o Rio Doce no final de 2015. O fato, é que o vilarejo apresenta marcas da história do
desenvolvimento local e da luta dos imigrantes, onde a relação entre o lugar e as marcas deixadas
pelo homem e sua cultura se fazem presentes e precisam ser preservadas. Isto posto, discutir a
temática sobre a preservação de Itapina através do viés do patrimônio e preservação apresenta-se
como o foco deste artigo, reconhecendo a importância do conjunto, com o intuito de incentivar a
sociedade a preservar a memória do lugar.
O Vilarejo desenvolveu-se no período áureo do café, onde o principal meio de transporte até
então era por meio de animais, logo após iniciou-se através de embarcações que cruzavam
o Rio Doce, em 1907 iniciou-se a construção da ferrovia, ocasionando o aumento
progressivo da escoamento do café que era produzido na região, porém, a maior utilização
da ferrovia pelos produtores, comerciantes e habitantes, de modo geral teve início a partir de
IX Mestres e Conselheiros Agentes Multiplicadores do Patrimônio
Belo Horizonte/MG de 21 a 23/06/2017.
janeiro de 1923, com a inauguração do trecho que ligava Itapina ao município de Itaguaçu.
Com a crise de 1929 o cenário de Itapina muda, a prosperidade oriunda dos cafezais diminui
e começa assim a erradicação dos mesmos. Por volta da década de 1940, tem início o
processo de esvaziamento do vilarejo, os comerciantes que ali residiam se mudam para
outros núcleos urbanos, como o Centro de Colatina, em busca de novas condições de
trabalho, culminando na decadência, abandono e esquecimento do vilarejo. Após os
acontecimentos, a estação ferroviária foi desativada, por volta de 1980, e a ponte, iniciada
no governo de Juscelino Kubitschek, com a intenção de facilitar o acesso à vila, nunca
chegou a ser concluída (CASTIGLIONI, 2010).
O núcleo histórico do distrito de Itapina é constituí-se por casarios construídos entre o final
do século XIX e meados do século XX, sendo casas térreas e sobrados predominantemente
nos estilos eclético e proto-moderno, além da arquitetura tradicional da imigração,
decorrente dos primeiros habitantes de Itapina e da arquitetura industrial e ferroviária,
encontrada na estação e nos armazéns de café ao longo do vilarejo (CASTIGLIONI, 2010).
Com o esvaziamento provocado pela decadência da produção cafeeira, o vilarejo, que antes
possuía uma intensa vida cultural, comercial e econômica nunca mais se recuperou.
Atualmente, a vila possui pequenos comércios locais, como farmácia, sorveteria, mercearias
e bares. A maioria dos moradores trabalha na cidade de Colatina ou na zona rural.
O cenário bucólico de Itapina muda uma vez por ano, durante as fcomemorações do
Festival Nacional de Viola, o popularmente conhecido como ‘Fenaviola’, onde músicos e
violeiros da região se tornam atração centenas de turistas que ocupam as ruas da cidade e
e se hospedam nos casarios que guardam em sua arquitetura a história do vilarejo.
Nas últimas décadas, o patrimônio arquitetônico das cidades vem recebendo grande
atenção. Preservá-los ao longo do tempo pode manter viva a história de um grupo ou
sociedade. Para Rodrigues (2001, p.16), “o patrimônio representa a identidade local e, por
mais diversa que seja a população, a sua criação serve como uma ponte que resume várias
histórias em uma só”.
Dessa forma, foi criado pela Lei de n° 6 de 09 de novembro de 1967, dentro da SECULT, o
Conselho Estadual de Cultura – CEC. Órgão consultivo vinculado a Secretaria de Estado da
Cultura, responsável pela normatização, deliberação que responde a demandas oriundas da
sociedade, procurando integrar as ações de Política Cultural do Estado do Espírito Santo,
como os tombamentos, por exemplo. Como pode ser visto, é o CEC, através do suporte da
SECULT, responsável no Espírito Santo pelas questões de tombamento e fiscalização dos
bens imóveis, logo, dos Sítios Históricos. Para que um imóvel tombado no Estado, seja
submetido a qualquer modificação, deve ser enviado um pedido para avaliação da CEC e,
somente depois de avaliado o pedido é liberado.
Além das normas da SECULT e do CEC que regem o tombamento e a manutenção dos
sítios, instrumentos próprios de cada município, como Plano Diretor Municipal (PDM) e leis
municipais, regulam as intervenções e alterações nesses locais.
Assim, podemos definir o Tombamento como um ato administrativo realizado pelo poder
público com o objetivo de preservar, por intermédio de legislação específica, bens de valor
histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população,
impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados, culminando com o registro
em livros especiais denominados Livros de Tombo. O principal objetivo jurídico do
tombamento, de acordo com Fernandes (2010, p. 28) é a declaração da obrigatoriedade de
conservação do objeto tombado. Outro aspecto importante, segundo o autor, é a
possibilidade de se estender a proteção jurídica à vizinhança ou entorno da coisa tombada,
para a preservação da visibilidade da ambiência.Apesar de estar em vigor há vários anos, a
previsão legal do tombamento ainda é um conceito em evolução, uma vez que são muitos
os problemas de definição do objeto e do entorno a ser protegido (FERNANDES, 2010,
p.29).
De toda forma, para Fernandes (2010, p.29), o principal efeito jurídico do tombamento é,
seguramente, a proibição de mudanças nas características essenciais do bem tombado. O
tombamento tem ainda aplicação em todo tipo de imóveis e móveis, sejam eles públicos ou
privados. Em sua concepção original, transforma o bem em patrimônio cultural sem
promover sua estatização, estabelecendo um regime especial de propriedade. Sendo assim,
o bem tombado não passa a pertencer ao patrimônio público se for de propriedade privada.
A partir do tombamento, passa a existir sobre ele uma “restrição individual ou geral, parcial
ou total, bem como vínculos de disponibilidade, destinação, imodificabilidade e preferência”
(FERNANDES, 2010, p.29).Conforme o Decreto-Lei n° 25/37, o “tombamento” pode ser
realizado de forma voluntária, quando o proprietário solicita ou concorda com a medida, ou
de forma compulsória, quando a proposta não tenha partido do proprietário ou responsável,
independente da natureza pública ou privada dos bens.
O vilarejo de Itapina, além dos imigrantes europeus, recebeu ainda algumas poucas famílias
de libaneses. Com todas estas tradições diferentes, o vilarejo desenvolveu um modo de vida
interessante e até mesmo de intensa atividade cultural para a época, resguardando as
devidas proporções. As características arquitetônicas dos casarios de Itapina refletem esta
mescla de culturas, com referências à arquitetura popular do imigrante e da arquitetura
brasileira da época (CASTIGLIONI, 2010, p. 23).
De acordo com Castiglioni (2010) algumas destas edificações possuem um grande número
de quartos, o que evidência que as famílias que habitavam essas moradias possuiam um
grande número de pessoas, a cozinha é espaçosa e possui um maior afastamento de
fundos,além disso os quintais possuiam jardins, pequenos pomares, além de criação de
animais de pequeno porte, como galinhas. Neste tipo de casa muitas vezes, o primeiro
pavimento era usado como venda e/ou comércio e o segundo como moradia.
Outra característica presente nas edificações do vilarejo é a tipologia das casas tipo “porta e
janela”, se apresentando como as casas térreas mais simplificadas. Elas poderiam variar na
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sequência: janela-porta-janela ou vice-versa; ou janela-janela-porta ou vice-versa, mas
esses três elementos sempre marcavam a fachada da edificação. (CASTIGLIONI, 2010)
De uma forma geral, pode-se perceber que a maior parte do casario está preservado,
porém, sabe-se que a melhor forma de se preservar uma edificação é através do uso da
mesma, e, foi constatado que há um grande número de imóveis que estão fechados e
abandonados, o que pode ocasionar na perda total de sua estrutura.
O Sítio Histórico de Itapina, se apresenta, ainda hoje, como peça fundamental à composição
da memória histórica e social do município. Permanecendo-se como referencial do
município de Colatina e objeto de impacto para a sociedade colatinense.
Através dos inúmeros dados citados é possível notar que a memória histórica e imagem viva
de tempos passados não encontram-se presentes na edifcação, ocasionando a
descaracterização e a destruição do bem herdado das gerações passadas, acarretando o
rompimento da corrente do conhecimento social, físico e histórico da edificação.
A falta de gestão, entendida como crise dos espaços de memória, implica em um processo
de reflexão sobre a informação genética da cidade que sofre ameaças em meio ao caos,
carecendo de restauração e preservação.
Considerações Finais
Diante do que foi exposto constata-se a importância histórica deste sítio no campo da
arquitetura e urbanismo num contexto local e regional, quais características outorgam a ele
valor de singularidade que justifique seu tombamento. E então, comprovada sua importância
histórica, verificar se as ações as quais ele está submetida têm cumprido o papel de manter
suas principais características, se tem permitido a manutenção do ambiente que o justifica
enquanto sítio.
Contudo, devido à uma gestão falha do poder público municipal e estatual, que não promove
ações no sentido de por em prática a legislação existente, o sítio está perdendo importantes
características que compõe seu conjunto. Aponta-se para a necessidade de se aprofundar
as ações de preservação deste sítio, bem como resgatar a autoestima da população local
em geral e orientá-la no sentido de fazê-la compreender que, apesar de o patrimônio
histórico arquitetônico visível na paisagem urbana ser a expressão monumental da condição
dominante em um determinado período do passado, e que esta condição não condiz com a
atualidade, o patrimônio também é resultado da força do trabalho e da arte de seus
antepassados no processo de sua construção e que, portanto, merece ser preservado.
Nota-se ainda a necessidade de intervenções urgentes do poder público, através de ações
relacionadas ao planejamento urbano, Incluindo aí, iniciativas para requalificação,
revitalização e refuncionalização do patrimônio edificado, assim como ações de cunho
educativo, para qualificação da população em relação à educação patrimonial e a
consequente valorização por parte da sociedade, para o conjunto patrimônio edificado.
Referências Bibliográficas
BOGÉA, K. B. S. R. Centro Histórico de São Luis Patrimônio Mundial, São Luís. 200.
MORELATO, Andressa da Silveira. Sítio histórico urbano de Santa Leopoldina : uma análise de
sua preservação / Dissertação de Mestrado em Artes. Programa
de Pós-Graduação da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2013.
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