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(1970-2022)
Resumo:
A presente comunicação analisa as interações humanidade/natureza entre 1970 a 2022 no
litoral do Piauí. Apesar de ser o menor litoral do país, essa região vem passando pelos
últimos 50 anos por sucessivas intervenções de grande escala que apagam e silenciam a
cultura e memória de comunidades tradicionais existentes. A partir disso, se faz
necessário analisar a partir da história oral e dos documentos hemerográficos, os embates,
resistências e desafios enfrentados pelos povos costeiros do Piauí. O turismo de massa, a
pesca industrial e a implantação de usinas eólicas são um dos vetores que alteraram as
relações de pescadores artesanais, marisqueiras, catadores de caranguejo e agricultores,
inclusive dilapidando direitos sobre o território.
INTRODUÇÃO
Este texto visa analisar a partir da ótica da História ambiental, área de investigação
historiográfica surgida nos anos 1960 e 1970 (MAHL; MARTINEZ, 2021), as interações
humanidade/natureza no litoral do Piauí. Apesar de ser o menor litoral do país, essa região
vem passando pelos últimos 50 anos por sucessivas intervenções de grande escala que
apagam e silenciam a cultura e memória de comunidades tradicionais costeiras existentes.
Desse modo, o recorte que vai entre 1970 e 2022 dá conta de uma série de
conflitos, divididos no presente artigo em três grandes temas: o turismo de massa, a pesca
industrial e a implantação de usinas eólicas. Para a construção desse trabalho foram
utilizados os caminhos da história oral, a partir do gênero de história oral temática e da
história oral de vida. Assim, foram ouvidas as experiências de homens e mulheres do
litoral piauiense.
Documentos hemerográficos também fazem parte do corpus documental dessa
investigação e foram cotejados com as narrativas orais. Os jornais Folha do Litoral, Norte
do Piauí, além do anuário Almanaque da Parnaíba, todos circulados no período
analisado, dão conta da multiplicidade de debates e interesses exteriores ao território
estudado.
1
Mestre em História pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas -EFLCH da Universidade Federal
de São Paulo-UNIFESP, graduando em História pela Universidade Estadual do Piauí; doutorando em
História pela Universidade Federal Fluminense, pesquisador do LABHOI/UFF e bolsista CAPES/PROEX,
pdrovagner@gmail.com
Areia
Procuradas desde o século XIX por grupos locais (OLIVEIRA, 2017; BAPTISTA,
2019) por isso já serem espaços balneários (VIDAL; GOMES e RIBEIRO, 2018), as
praias no Piauí só foram alvo do turismo de massa na segunda metade do XX. Nos
primeiros anos da década de 1970, o governador Alberto Tavares Silva (ARENA) incluiu
a “indústria sem chaminés” no plano de governo especiais (CEPRO, 2016). O
empreendimento do turismo no Piauí não era experiência isolada, uma vez que “o turismo
aparecia como uma atividade econômica importante para o desenvolvimento do país”
(MÜLLER et al., 2011, p. 693) na década em questão.
As tradicionais praias de banho eram vilas de pescadores acostumadas com famílias
que em períodos de férias faziam “temporadas balneárias”. Uma delas é a praia do
Coqueiro, objeto de análise nessa parte do texto. Situada em Luís Correia, um dos quatro
municípios litorâneos, essa vila de pescadores na década de 1970 foi transformada em um
dos polos turísticos da região litorânea piauiense.
Nascido e criado no Coqueiro, o pescador de 60 anos, Raimundo Galeno de Sousa,
conta que os caminhos até essa praia eram precários, por isso, poucos eram os turistas que
ali apareciam. As estradas de areia eram percorridas diariamente por pescadores e demais
trabalhadores e trabalhadoras da praia. Conforme o colaborador, “não tinha carro nessa
época. Na época, tinha que levar de animal. Aqui se chamava de comboio. Era muito
animal, né? Eles, os pescadores, botaram o peixe de madrugada cedo” (Raimundo Sousa,
2022). O próprio pai de Raimundo foi um desses homens que rotineiramente iam até a
“cidade” comercializar o pescado.
Em 1969, na sexta página do Folha do Litoral, foi impressa uma matéria relatando
que seu fundador, João Batista da Silva (MDB), na época deputado estadual, clamava
para a feitura de um ramal rodoviário ligando Coqueiro à sede municipal via Bezerro
Morto. A justificativa do trecho dava-se “pelo aproveitamento da nossa zona litorânea,
visando, como é óbvio, a movimentação turística nesta parte do Piauí, sempre reclamando
o interesse dos investidores e de modo particular, das atenções do poder público para o
magno problema regional” (FOLHA DO LITORAL. 19/06/1969, p. 6). Demoraria algum
tempo para que a ligação fosse efetivada e a motivação era o turismo.
Após muita súplica, um caminho de piçarra foi feito em 1971 e o Folha do Litoral
noticiou a obra. Assim como a matéria de três anos antes, a de janeiro de 1971 considerava
a obra um aparato para desenvolver o turismo (FOLHA DO LITORAL, 1971) no norte
do estado. Depois de inaugurada a estrada, Alberto Tavares Silva (ARENA), com o, na
época prefeito de Luís Correia, Manoel de Melo Lopes Pedrosa e o antecessor, Antônio
de Pádua Costa Lima (ARENA), visitaram-na.
O jornal O Norte do Piauí noticiou a visita e afirmou ter ficado Alberto Silva,
Mar
É muita pesca. A pesca cresceu muito de um certo tempo para cá. Não
tinha esses barcos que tem hoje. Aqui em Luís Correia, tem muito
barco. Se você vir a multidão de material que eles trabalham. Um barco
daqueles tem que produzir muito porque a despesa é alta. Canoinha não!
Canoinha pega uns vinte quilos de peixe e já ganha um trocadinho, não
tem despesa de quase nada não (RAIMUNDO GALENO, 2022).
Vento
Considerações finais:
Referências: