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Economia ou ecologia?

Ediovani Antônio Gaboardi


Professor do curso de Filosofia da UPF
gaboardi@upf.br

As palavras economia e ecologia têm em comum o radical grego oikos, que significa
casa. Mas, na prática, aparentam ser totalmente opostas. Economia tem a ver com progresso.
Aqui a questão é como usar da maneira mais eficiente todos os recursos disponíveis,
começando pelos naturais, na satisfação dos interesses. Na ecologia o pensamento parece ser
o oposto. O ideal é preservar os recursos naturais, mantendo a natureza ao máximo intocada.
Mas, se as duas áreas se preocupam com nossa “casa” (oikos), como são possíveis posições
tão diferentes?
A economia clássica surge com Adam Smith no século 18. Ele buscava compreender
como o interesse individual produzia a ordem do sistema capitalista nascente. O cerne do
argumento de Smith é que o egoísmo individual gera um equilíbrio, que se orienta pela lei da
oferta e da procura. Por exemplo, se as pessoas estiverem consumindo demais um
determinado produto, seu preço aumentará, pois haverá muita demanda. Com o preço muito
alto, o consumo diminuirá, restabelecendo o equilíbrio. O mesmo vale para os salários.
Trabalhos em que poucos têm interesse devem ter salários maiores, pois a demanda será
maior em relação à oferta.
É com esse tipo de raciocínio que a economia clássica pensa ser possível gerir nossa
casa, ou seja, a totalidade dos recursos naturais e humanos de que dispomos. O problema é
que a lei da oferta e da procura funciona pressupondo que todos os interesses relevantes estão
sempre dados nas relações econômicas. Aliás, a novidade da abordagem econômica é
justamente não discutir a validade deste ou daquele interesse, já que isso leva a discussões de
cunho moral ou religioso. Tomam-se os interesses como dados e vê-se simplesmente a
“lógica” que os equilibra.
É nesse ponto que a ecologia insere algo novo. Por incrível que pareça, a ecologia tem
basicamente o mesmo objeto que a economia: a totalidade dos recursos naturais e humanos. A
diferença é que o ponto de vista ecológico redefine os interesses que estão em jogo nas
relações econômicas. Interesses de populações marginalizadas, das gerações futuras e
inclusive de outras espécies agora precisam ser levados em conta.
A economia clássica buscava manter-se indiferente à discussão sobre a legitimidade
dos interesses. Era o próprio peso econômico do interesse que lhe dava legitimidade. Já o
ponto de vista ecológico nega a validade absoluta dos interesses pressupostos pela economia
clássica. Ernst Haeckel, ao criar a noção de ecologia, quis substituir os referenciais
econômicos tradicionais pelas leis da natureza. Mas ele pressupõe, assim, que o interesse das
gerações futuras e das outras espécies deve ser levado em conta. Isso significa que no fundo
há uma questão ética em jogo na disputa entre economia e ecologia. Ambas querem
administrar nosso lar, a Terra; entretanto, têm opiniões muito diferentes a respeito de quem
são seus legítimos inquilinos.

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