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O DO

LIVRO FIM
REFLEXO
_Narciso, estamos na sua casa?
Perguntou Yan olhando para os lados e vendo a
quantidade de espelhos velhos e moveis antigos
cobertos por lençóis brancos e poeira.

_De certa forma sim Yan .


Respondeu com uma voz esganiçada de quem
sente dor .

O lugar, mesmo nítido causava em Yan a


sensação de estar dentro de um sonho, as
vozes dos dois pareciam estar sendo ecoadas
como em um cômodo completamente vazio,
Yan levantou-se do chão sua visão deu umas
duas voltas completas dentro de sua mente e
ele escorou-se em algo para não voltar ao chão.
Olhou para o lado e viu –ainda embaçado-
Narciso encolhido , apertando o próprio
abdômen como quem está com dor de barriga,
de sua pele Narciso arrancava amplas placas de
vidro que ao soltar no chão desfaziam-se em
cinzas brancas. Estava claramente machucado,
em muitas partes do corpo o sangue escorria,
em outras a pele enegreceu como se tivesse
apodrecido..
Yan ficou ainda mais tonto, o estomago enjoou
de uma forma aguda e uma pequena
quantidade de sangue subiu-lhe até a boca,
segurou para não vomitá-lo no chão .

_ O que fez comigo Narciso? Me envenenou?


_Não Yan eu te salvei, aliás eu salvei a nós dois,
vai se sentir meio estranho porque aqui não é o
seu lugar de natureza, para você tudo aqui terá
sensação de miragem e seu corpo tentará
força-lo a sair, mas você não pode, não agora! –
interrompeu a fala com mais um gemido de
dor-

Yan viu à sua frente o único móvel que não


estava coberto, um enorme espelho
emoldurado em mateira, grande o suficiente
para ver que do outro lado havia uma sala
exatamente igual a que estava mas seu reflexo
que deveria estar olhando-o diretamente nos
olhos não estava lá.

Yan arregalou os olhos:


_Narciso, o que eu estou fazendo dentro de um
espelho?
_Tudo começou quando Yan fechou os olhos com um Uma máscara de porcelana
você resolveu sonhar com suspiro profundo, ergueu a branca visivelmente
seu amigo coelho, ele cabeça e viu Marcela, presa congelada caiu das mãos de
começou a juntar todas as a uma parede com o peito Narciso, mas como por
peças que faltavam para atravessado pela própria maldição ela não se
trazer a Luna de volta. espada, Yan viu-se quebrou.
Ele juntou as páginas que remexendo as roupas de
precisava, caçou os que não couro da Ventrue e tirando _Ele podia te seguir pelo
quiseram entregar por bem, de lá de dentro uma página mundo dos sonhos, pela
matou muitos de nós e velha do antigo diário. umbral dos espíritos e pelo
muitos de outras raças, nas Deixando Marcela lá aos plano físico com essa
últimas três noites ele gritos como se fosse um desgraça de máscara, mas
causou muito mais desgraça enfeite macabro de parede. há um lugar que ele não
do que era possível pode entrar sem ser
imaginar, aparentemente Mais um suspiro febril e Yan convidado.
nada podia detê-lo, tudo o dessa vez apenas sentia o
que ele desejava fazer calor soprando em seu _Mas como você conseguiu
parece que simplesmente rosto, quando abriu os olhos me trazer para cá Narciso?
acontecia, ele estava com em fez de ver seu espelho
muita sorte eu poderia sem reflexo ele viu uma _Não foi fácil, afinal todos
dizer. cabana na floresta em os membros que tentaram
Yan mantinha-se obcecado chamas que iluminavam as tiveram seu sangue
pela nitidez que havia de lá árvores ao redor, e podia congelado, e nós sem
do vidro descoberto na sala. ouvir Triz, Luna e Shenya sangue não somos, como
_Yan, você está me gritando, pedindo aos posso dizer, muito
ouvindo? deuses que as salvasse. eficientes...
Na imersão absoluta de sua Acontece que congelar o
falta de reflexo memórias Fechou mais uma vez os sangue nas veias de alguém
começava a aparecer em olhos pois não queria mais pode ser fácil para ele,
sua mente, lugares onde que aquela lembrança fosse porém congelar uma pedra
nunca esteve, pessoas que sua, nem aquela e nem maciça de vidro é um pouco
nunca viu, seus olhos todas as outras que viriam a mais difícil. Ele não esperava
ardiam e escorriam seguir. Parecia que sua ter que lutar com alguém
lágrimas. Ele via as chamas, mente estava lhe pregando que ainda se move depois
ouvia os gritos como se de uma peça, como poderia se de vitrificado. Quando eu
uma só vez as memórias lembrar dessas coisas com fugi do leilão sabia que não
pudessem ser acessadas. tão perfeita clareza como se poderia fazer nada se não
Estava estagnado, parado tivesse sido realmente ele estivesse em minha casa.
diante do espelho, não que as tivesse feito. Corri para cá, esperei pois
movia nenhum músculo. sabia que você viria atrás de
_Yan, não era você Yan, Não _Yan não foi você, foi ele! mim, aliás, você não, ele.
era você! Finalmente Yan ouviu o que
Viu então Úrsula em suas Narciso lhe dizia e virou-se Eu coloquei a minha cópia
memórias, ela gritava para ele ainda caído no da página a leilão, você
desesperadamente, canto da sala . estava lá assistindo, usando
enquanto lanças de gelo a máscara, todos achavam
esfumaçante a prendiam ao _Porque essas lembranças que era você mas quando
chão, seu sangue congelava estão na minha cabeça comecei os lances da página
e ela não conseguia se Narciso? ele não aguentou de ira por
mover, sua figura enegreceu ter sido enganado, e
completamente, esperava- _Ele te usou Yan, você revelou-se.
se virasse logo uma sombra deixou a porta aberta para
e desaparecesse de vez, ele entrar em sua mente e Eu diria que você causou
mas não, ela não estava em sua alma, ele não podia uma péssima impressão aos
conseguindo, a ventania fazer isso sem um convidados.
gélida que corria ao seu receptáculo. Sinto muito
redor não a deixava partir. Yan, mas realmente Minha casa teve que ser
_Yan, não era você! –insistia aconteceram... interditada, há estátuas de
Narciso tentando se arrastar gelo por toda parte.
até ele. Narciso mostrou o que
segurava no abdômen. Não sei quem mais escapou.

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