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Este material foi redigido pela

Escola Convergência de Teologia & Vida Cristã EAD


(Ensino a Distância).

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Todos os direitos reservados

Autoria:
Harlindo de Souza

Edição:
Matheus da Cas

Diagramação:
Daniel Sousa

ESCOLA CONVERGÊNCIA
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contato@escolaconvergencia.com.br
(19) 98340-8088
INTRODUÇÃO
1. Oratória

Oratória é a habilidade de falar em público, ser eloquente e ter aptidão com as


palavras. Isso é necessário pois, mesmo que o indivíduo tenha um bom con-
teúdo e unção, se não souber como se comunicar, não será efetivo ao pregar.
Haverá uma barreira entre o pregador e o interlocutor.

2. Unção

Unção tem a ver com veemência ao pregar. É o expositor que consegue trans-
mitir o coração de Deus para a igreja.
Trata-se da pregação que atinge o íntimo. Ela não apenas comunica, mas cativa
e coloca um peso no coração daqueles que a ouvem. É o Espírito Santo usando
de tal sermão, fazendo com que a Palavra penetre mais profundamente; é Deus
usando as conjunções para fazer algo que meras palavras nunca fariam.
São as pregações onde os indivíduos se esquecem do pregador, pois são atin-
gidos pela mensagem. É como se Deus falasse diretamente conosco. Nas pa-
lavras de Lutero, “é Cristo chegando a nós”.
A ARTE DE PR EGAR BEM
o que não te ensinaram sobre pregação

Um bom pregador será equilibrado nessas três habilidades.


Vale lembrar que ambos os pontos são importantes e necessários, mas é preciso
compreender que essas habilidades podem ser desenvolvidas e cada indivíduo terá
naturalmente propensão a alguma delas, possuindo pontos fortes e fracos.
Para exemplificar a importância desses tópicos, Timothy Keller, no seu livro “Pre-
gação”, nos lembra que Genebra, no século XVI, possuía essas três habilidades
destacadas em três pregadores distintos:
• Calvino, possuindo grande conteúdo e desenvolvimento teológico, com-
preensão bíblica e base doutrinária;
• Pierre Viret, que tinha grande eloquência e habilidade com as palaA prega-
ção é uma maneira efetiva de cumprir a grande comissão, isto é, fazer discí-
pulos. Embora não seja a única maneira de cumprir as ordens de Cristo, foi
amplamente utilizada em toda história da igreja, tendo um papel determinan-
te até hoje.
Porém, expor a Palavra é algo que constantemente causa crise na vida de inúme-
ras pessoas, principalmente aquelas que pregam constantemente. Isso porque para
que alguém se torne um bom expositor bíblico é necessário experiência, empenho
e algumas habilidades.
Geralmente aqueles que não tem problemas em relação a preparação e apresen-
tação do sermão se resumem a dois grupos: pregadores muito experientes, que
possuem muito tempo de púlpito; e maus pregadores, onde a exposição não tem
uma boa efetividade.
Vale lembrar que a inexperiência possivelmente fará com que o pregador cometa
erros e não seja tão eficaz ao se comunicar. Também pode ficar desnorteado no mo-
mento da preparação do sermão. Mas quando começamos a nos dedicar a algo novo
é comum que cometamos deslizes, e ao expor a Palavra não será diferente. Diante
disso, é importante saber que o desenvolvimento de um indivíduo enquanto prega-
dor é uma jornada, e consequentemente leva tempo e dedicação.
Além disso, embora o processo possa ser árduo, a dificuldade produzirá pessoas
que encontrarão mais ferramentas para auxiliar aqueles que estão iniciando nessa
mesma trajetória. Certamente Deus usará da dificuldade para o aperfeiçoamento.
A ARTE DE PR EGAR BEM
o que não te ensinaram sobre pregação

APÓSTOLO PAULO, UM EXEMPLO NO


MINISTÉRIO DA PALAVRA

“E agora eu sei que todos vocês, em cujo meio passei pregando o Reino,
não mais verão o meu rosto. Portanto, no dia de hoje testifico diante de
vocês que estou limpo do sangue de todos, porque jamais deixei de lhes
anunciar todo o plano de Deus.” (Atos 20.25-27 - NAA)

Certamente o Apóstolo Paulo é uma das grandes figuras do cristianismo e um im-


portante personagem no início da igreja. Ele pregou o Evangelho em meio a perse-
guição, sendo implacável no seu ministério de levar a Palavra aos gentios e judeus.
É notável nessa passagem que o apóstolo possuía uma grande confiança quanto ao
seu serviço à igreja e a proclamação do Evangelho, ao ponto de dizer que cumpriu
suas responsabilidades diante do Senhor: “estou limpo do sangue de todos, porque
jamais deixei de lhes anunciar todo o plano de Deus”. Segundo Paulo, ele proclamou-
-lhes tudo que era necessário para o cumprimento da vontade de Deus. Deu àquela
comunidade todas as ferramentas e anunciou o que era preciso para que eles com-
preendessem o Reino de Deus e vivessem uma vida para Glória de Cristo.
Com isso, o apóstolo não queria dizer que não havia mais nada que tal igreja pudesse
aprender, mas que ele havia transmitido todo o peso que Deus tinha colocado no seu
coração. Agora era o momento de outras pessoas prosseguirem com esse trabalho.
Aqui cabe um valioso ensino: precisamos ser intencionais para propagar aquilo que
Deus coloca em nosso interior com o objetivo de, além de pregar a verdade, enviar
outros a essa preciosa tarefa.
O ministério da pregação, assim como todos os outros ministérios, tem como fina-
lidade chegar a um momento em que esse serviço é dispensável. A igreja não deve
ficar refém de uma figura ou pregador. Por isso, a tarefa do expositor da Palavra não
é fazer da comunidade dependente de si, mas levá-los à maturidade, onde seu tra-
balho se torne secundário e, posteriormente, possivelmente desnecessário.
Devemos fazer como o Apóstolo Paulo que, após ensinar aquilo que era preciso e o
que ele tinha a oferecer, deseja que a igreja ande em excelência, desenvolvendo em
si os ministérios e dons necessários para a saúde do corpo de Cristo.
A ARTE DE PR EGAR BEM
o que não te ensinaram sobre pregação

A INFLUÊNCIA QUE OS CONTEÚDOS


VIRTUAIS TEM EXERCIDO

Para exercer tal ofício com excelência, pastores e líderes devem possuir uma pro-
funda fidelidade ao ministério da Palavra. As Escrituras não são apenas um detalhe,
mas algo central e extremamente importante, pois a igreja será em grande parte
resultado da palavra que está sendo pregada ali.
Porém, a Internet trouxe uma nova dinâmica de como consumimos conteúdos,
inclusive pregações. E ao ter acesso a materiais externos à igreja local, há dois tipos
de pessoas:
•Aquela que tem uma dieta saudável em sua comunidade, onde lhe é trans-
mitido o necessário para estabelecer as bases da sua vida cristã. Assim, tudo o
que ela ouve de fora é um acréscimo a isso.
•O indivíduo que não recebe os fundamentos do Evangelho e ensinos sólidos
em sua igreja. Essa pessoa acaba ficando confusa com o excesso de informa-
ção, pois ouvirá muitas vozes diferentes na Internet. Já não sabe no que acre-
ditar e como viver a vida cristã.

No primeiro exemplo vemos um alguém que tem um relacionamento saudável com


os conteúdos que consome, pois recebeu os fundamentos bíblicos em um contexto
favorável. Já no exemplo subsequente, vemos uma pessoa que por não possuir bases
firmes tenta se alimentar virtualmente, mas acaba confusa.
Por isso os membros de uma igreja precisam saber que aquilo que estão ouvindo
em suas comunidades é suficiente para viverem a vida cristã. Com isso em mente,
questione-se: as pessoas da sua igreja local estão sendo tão bem alimentadas que
aquilo que recebem de fora são apenas acréscimos? Ou estão desnutridas por conta
do estado do púlpito?

FERRAMENTAS PARA O DESENVOLVIMENTO


DA PREGAÇÃO E DO PREGADOR

Já que há tamanha demanda, veremos como o pregador pode se desenvolver para


passar a mensagem bíblica com intrepidez, fidelidade e clareza.
No processo de preparar e pregar um sermão, há várias habilidades que devemos
desenvolver e ferramentas que poderemos usar para nos auxiliar. Para isso, citare-
mos três habilidades importantes que o pregador deve apresentar:
A ARTE DE PR EGAR BEM
o que não te ensinaram sobre pregação

3. Conteúdo

Ter um bom conteúdo diz respeito ao conhecimento bíblico e teológico que


o indivíduo tem, aplicado a igreja local ou contexto em que está pregando.
Ao falar sobre conhecimento bíblico e teológico, não nos referimos neces-
sariamente e resumidamente ao conhecimento adquirido ao ler um livro
acadêmico e didático. Mas ao pensamento e coerência teológica desenvol-
vida pelo pregador.
É necessário que haja uma sistematização do pensamento teológico na mente
do expositor bíblico. Caso contrário, entrará inevitavelmente em contradi-
ções durante os sermões. Deve haver coerência na linha de raciocínio dos
líderes e pastores, pois incoerências teológicas resultarão em incoerências na
vida cristã.
Por isso, a igreja local precisa ouvir pregações a respeito de algo que com-
põem um todo. Se não houver unidade entre os sermões, os membros ficarão
confusos, resultando em dificuldades para a igreja local e desassociação de
determinados ensinos.
•Calvino, possuindo grande conteúdo e desenvolvimento teológico, compre-
ensão bíblica e base doutrinária;
•Pierre Viret, que tinha grande eloquência e habilidade com as palavras;
•Teodoro de Beza, sendo o mais veemente ao pregar, mais focado em arre-
pendimento e conseguia tocar fortemente o interior das pessoas.

COMO DESENVOLVER TAIS HABILIDADES?

Desenvolvendo Conteúdo
a) Pessoas que têm dificuldade com conteúdo precisam ler, estudar e es-
tar em constante contato com material teológico. A leitura é uma maneira
muito efetiva de aprender e enriquecer a mente, sendo indispensável para
aquele que almeja ser um bom pregador. Estar em contato com conteúdos
teológicos, através de vídeos ou podcasts, por exemplo, também trará gran-
des acréscimos.
b) É importante ter diálogo com pessoas que possuem esse mesmo desejo. Nes-
sa experiência comunitária, os indivíduos além de se encorajarem mutuamente
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nos estudos, perceberão pontas soltas de seus pensamentos, possíveis incoe-


rências e vários pontos de vista diferentes a respeito de um mesmo assunto.
Há ainda, ao estudar sozinho, o perigo de cairmos em erros teológicos ou
idéias antibíblicas. Essa troca de experiências fará com que a chance de estar-
mos falhando intelectualmente seja minimizada drasticamente.
Ou seja, a experiência de crescer nos estudos em comunidade é enriquece-
dora.

Desenvolvendo a Comunicação
a) Para crescermos na arte de nos comunicar, é interessante procurar e ouvir
constantemente pessoas que falam bem em público, como grandes pregado-
res e bons palestrantes. Nisso, aprenderemos a nos comportar bem, frente a
quem nos ouve, além de captar novas ferramentas para nos auxiliar.
b) É importante fazer leituras de materiais que não sejam teológicos ou di-
dáticos. A leitura dos clássicos da literatura, ficções e biografias trarão uma
riqueza na imaginação e compreensão do ser humano. O indivíduo passará
a ter um entendimento mais amplo da realidade, que não é apenas lógica e
teórica, mas também poética e subjetiva.
Ao acessar apenas conteúdo teológico, a imaginação não será desenvolvida;
haverá na mente da pessoa apenas conceitos. Pessoas assim não conseguem
fazer ilustrações, trazer exemplos ou cativar o público, mas acabam apenas
passando informações e conteúdo. Ler outras categorias de literatura enri-
quece o vocabulário e a capacidade de se comunicar.
c)Ter uma boa dicção é essencial para uma comunicação efetiva, já que o pre-
gador tem de se fazer compreensível e claro.
d) A linguagem corporal também é uma forma de nos comunicarmos. Isso en-
volve postura, expressões, gestos e tom de voz. Uma boa postura, por exem-
plo, manterá a atenção das pessoas, que também darão mais credibilidade
àquilo que falamos.
e) Ter comunhão com outras pessoas é um ponto importante. Há o caso de
pessoas que possuem muita informação e conteúdo e ainda assim não se co-
municam bem, pois não possuem um bom diálogo. As conversas do cotidia-
no e boas interações nos ensinarão a ser mais bem-sucedidos ao transmitir
aquilo que desejamos. É necessário sabermos nos comunicar com a mente do
outro, entendendo seu ponto de vista e sua forma de pensar.
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f ) Trazendo novamente a importância da vida em comunidade, em todo esse


processo precisamos de amigos que nos falarão a verdade. Aqueles que irão
nos avisar se estamos nos desenvolvendo bem ou não, dizer quando erramos
ou que não houve congruência na exposição.
Bajulação não ajudará nessa jornada. Infelizmente há momentos em que as
pessoas ao redor percebem que o indivíduo não possui aptidão para pregar ou
deve melhorar em algo, porém ninguém o avisa. Por isso, precisamos de ami-
gos que digam a verdade, nos dando um feedback realista de nossos pontos
positivos e negativos.

Nessa jornada temos de cuidar para não perdermos o alvo: queremos que as pes-
soas cresçam em compreensão da Bíblia e não em admiração na nossa habilidade
de falar. Nosso objetivo é dar glórias a Deus e não levantar nosso próprio nome. A
habilidade de falar bem é importantíssima para comunicar a mensagem do Evan-
gelho, mas perde um de seus propósitos quanto o indivíduo usa para engrandecer
a si mesmo.

Desenvolvendo Autoconhecimento
É muito comum que as primeiras experiências no púlpito mostrem nossas qualida-
des e fraquezas ao pregar. Por isso o autoconhecimento é importantíssimo, saben-
do que cada pessoa tem uma própria personalidade e modo de se expressar.
Assim, embora seja importante termos exemplos de bons pregadores, simplesmen-
te tentar imitá-los pode não dar certo, pois fará com que a oratória fique superficial.
É necessário perceber que temos personalidades diferentes e, consequentemente,
maneiras diferentes de nos articularmos. Imitar e seguir padrões é algo natural,
mas devemos amadurecer para ir encontrando nossa própria ‘voz’.
Entender a si e sua maneira de falar em público ajudará não só a como se posicionar
no púlpito, mas até mesmo como preparar o sermão. A composição do esboço é
algo muito pessoal. Enquanto alguns se sentem mais à vontade escrevendo muito,
outros separam apenas os tópicos, enquanto alguns podem se sentir bem pregando
sem esboço.
Ademais, conhecer nosso contexto pessoal é vital para entender a si mesmo. Temos
de saber que cada indivíduo tem uma experiência de vida, um contexto social, in-
telectual e econômico - esses aspectos compõem o pano de fundo de nossas vidas
e contribuíram para formar quem somos. Não devemos tentar nos comunicar de
maneira que venhamos excluir nossa história pessoal. Precisamos nos tornar com-
preensíveis, mas nesse processo não podemos nos tornar uma outra pessoa.
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O Processo
Essa é uma longa jornada de preparação e aperfeiçoamento. Não há como pular as
etapas deste processo. Assim, talvez a melhor maneira de aprendermos a pregar é
pregando. A experiência terá um papel importante e fundamental.
Ainda, devemos trabalhar naquilo que não somos tão bons. Comumente não tere-
mos todas as habilidades citadas acima, mas podemos trabalhar nos nossos pontos
fracos a fim de melhorarmos. Deixar de ter uma dessas habilidades não anulará
nosso ministério, mas devemos buscar sempre nos desenvolver e progredir.
Nesse sentido, precisamos buscar fazer tudo com excelência, que deve ser uma
característica do cristianismo. Temos de ter em mente que nosso objetivo é o bem
do corpo de Cristo. Nesse processo, podemos concluir que não temos maestria
para a pregação ou ensino. Se assim for, precisamos ter humildade para reconhecer
nossas limitações, sabendo que podemos contribuir de inúmeras outras maneiras.
Aos que têm destreza, devem aprender o propósito de pregar: levar as pessoas a
Deus. Ao fim da pregação, o desejo deve ser que os membros se voltem para Cristo,
e não para o pregador.

O QUE PREGAMOS?

Aqui iremos falar do conteúdo da mensagem: pregamos a palavra de Deus, e não


nossas ideias e preconceitos. Não devemos gastar tempo expondo nossa opinião,
mas aquilo que é a palavra de Deus. Para isso:
1. Precisamos pregar a Bíblia: embora possamos sentir algo no nosso interior,
aquilo que ouvimos precisa ser atestado e julgado pelas Escrituras. A Palavra
deve sempre estar acima das nossas experiências pessoais.
2. Para quem pregamos: às vezes pregamos para pessoas que não estão pre-
sentes, isto é, uma mensagem em desacordo com o público presente. Preci-
samos considerar quem são as pessoas que ouvem: o que elas experimentam,
o que consomem, quais suas cosmovisões, seus contextos sociais e suas pre-
ferências.
Sem isso, podemos erroneamente usar determinadas situações ou exemplos
que não fazem parte do imaginário social do público presente, ou ainda, estar
respondendo perguntas que ninguém está fazendo. Portanto, precisamos co-
nhecer a cultura e o contexto ao nosso redor para podermos nos comunicar
adequadamente com as pessoas.
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Como falamos anteriormente, nosso objetivo deve ser expor as Escrituras. Temos
que ter cuidado para não ficar buscando novos significados no texto bíblico. Se a
igreja considera que suas pregações tem um teor ou significado completamente
novo, isso pode dizer que aquele não é o significado do texto de fato. Obviamente
que existem casos onde a comunidade pode ter pouco conhecimento bíblico e os
ensinos possam ser realmente uma novidade. Mas há pregadores que sempre que-
rem trazer uma novidade, algo que ninguém nunca falou, que estava escondido
no texto e ninguém nunca percebeu. Isso dá espaço para erros e heresias, além de
afastar as pessoas das Escrituras.
Para que isso não ocorra, veremos como fazer uma correta interpretação dos textos
bíblicos, assim como aplicá-los à nossa realidade.

FUNDAMENTOS DE UM MINISTÉRIO FRUTÍFERO

Exegese Bíblica:
Exegese é um termo técnico que diz respeito a extrair do texto bíblico qual é o real
significado dele. Todo texto é escrito para pessoas específicas, em uma época e con-
texto próprio, incluindo a Bíblia. Ele não foi endereçado para nós, em nossos dias
e temos que saber disso para fazermos uma correta interpretação das Escrituras.
O autor bíblico sempre tem um objetivo e uma forma de se comunicar, que diz
respeito ao contexto na qual ele se encontra. Precisamos entender o que o autor
quis dizer naquele tempo presente. Só assim poderemos saber o que o texto tem a
dizer para nós hoje.
Assim, para fazer uma boa exegese, seguem algumas dicas e ferramentas que serão
úteis:
a) É importantíssimo conhecer o contexto da passagem, isto é, o que dizem
os versículos e os capítulos anteriores e posteriores. Embora seja possível
pregarmos apenas alguns poucos versículos, na preparação do sermão é ne-
cessário ler os versículos antecedentes e subsequentes, a fim de entendermos
o contexto e o significado correto da passagem por inteiro.
b) O conhecimento histórico e cultural do período também é fundamental.
Há muitas informações bíblicas que iremos conhecer através de materiais
que são externos a Bíblia. Há nas escrituras, por exemplo, provérbios, ditados
e expressões populares que atualmente não fazem sentido algum. Somente
estudando o contexto histórico é que entenderemos o que o autor queria
dizer de fato.
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Para isso, o uso de comentários bíblicos, dicionários e enciclopédias podem


ajudar muito.
Obs: temos que ter o cuidado de saber que o comentário bíblico não possui a
mesma autoridade da própria Escritura. O autor que escreveu tal comentário
não está isento de erros e, embora haja grande confiabilidade nos comentá-
rios de grandes acadêmicos, não se tratam de verdades absolutas.
c) Ter uma grande quantidade de traduções bíblicas ajudará na interpretação
das passagens. Cada tradução bíblica tem suas diferenças e peculiaridades, e
usar várias versões de traduções certamente enriquecerá a compreensão do
texto.
d) Se exegese é o processo de conhecer o texto, concluímos que não iremos
conseguir nos aprofundar em um texto bíblico sem nos familiarizarmos com
ele. Portanto, além de estudar a respeito do texto (contexto da passagem,
contexto histórico, traduções, etc), é necessário olhar para a passagem em
questão e gastar tempo de meditação nela.
d) E finalmente, conhecer a Bíblia. A própria Bíblia nos ajuda a compreender
o texto bíblico; a Escritura é o melhor comentário bíblico que existe! Quanto
mais um indivíduo tem um conhecimento amplo da Bíblia, maior é sua capa-
cidade de interpretar suas partes individuais. Conseguirá entender a Palavra
como um todo, conhecendo sua mensagem e tendo a capacidade de fazer
referências cruzadas, que auxiliará na preparação do sermão.

Aplicação prática:
O texto dentro do seu contexto precisa ser aplicado às nossas circunstâncias. Sa-
bendo que o texto bíblico não foi endereçado a nós, não falará dos dilemas que en-
frentamos hoje. Porém, ela possui verdades e conceitos que podem ser conectados
com nossa realidade a fim de sabermos qual é a postura que devemos ter.
Para isso, separamos alguns pontos que irão lhe auxiliar:
a) Para fazer a aplicação precisamos conhecer nossa cultura; saber o que está
acontecendo ao nosso redor, a realidade do mundo. Por vezes ficamos tão
imersos na ‘vida evangélica’ que perdemos o contato com a realidade. Já não
sabemos como as pessoas pensam, qual a postura delas e as ideias que estão
sendo propagadas na cultura.
É só com tal conhecimento que podemos fazer a ponte entre a Bíblia e a so-
ciedade atual; esses dois mundos que estão separados por mais de dois mil
anos de história.
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Isso porque a cultura ao nosso redor precisa ouvir o que o cristianismo tem
a dizer sobre os dilemas do tempo presente. Até mesmo na igreja há muitos
membros que estão sendo mais influenciados pela cultura que nos cerca do
que pela Bíblia. Às vezes as pessoas passam horas no instagram, Netflix, Te-
levisão e Youtube, enquanto veem apenas uma pregação por semana. Logo,
questões que estão em contradição com a Bíblia surgirão e precisarão de res-
postas.
Assim, é necessário trazer a Bíblia para as questões do dia-a-dia, de maneira
que, ao nos depararmos com os dilemas culturais, saberemos como nos posi-
cionar. Para isso, pregações e ensinos temáticos sobre tais problemas podem
ser de grande valia para auxiliar o corpo de Cristo.
Além disso, o pregador tem três papéis em relação à cultura:
- Denunciar aquilo que é explicitamente pecaminoso e alertar as pessoas;
- Redimir aquilo que é neutro na sociedade;
- Ver a graça comum da cultura, enxergando aquilo que é bom e utilizar
para apontar para bondade e graça de Deus.
Portanto, a igreja precisa estar preparada para alcançar a sua cultura com o
Evangelho. Não apenas isso, mas também temos a possibilidade de, por meio
do Evangelho, elevar aspectos da cultura que estão caídos. O pregador irá
influenciar a maneira como as pessoas vivem; assim ele se torna um exemplo
em vários aspectos. Por isso, quando iremos pregar a palavra, quanto mais ex-
celentes pudermos ser nisso, melhor. A excelência passará a ser algo presente
na comunidade.
b) Pastorear pessoas e ouvir os problemas delas será importante. Isso porque
entenderemos como o coração humano funciona. Os problemas da alma hu-
mana são universais, embora os contextos sejam diversos. Ao entender me-
lhor o ser humano, consequentemente conseguimos nos comunicar melhor
com eles. Todos temos um pano de fundo em nossas vidas - um ambiente
social, econômico, familiar, experiências de vida, desenvolvimento da vida
intelectual e emocional. Sabendo disso e conhecendo nosso público, teremos
mais facilidade de nos comunicarmos.
Nesse contexto, há dentro das igrejas uma grande quantidade de diversidade,
diferentes idades, gostos, estilos e preferências. Isso, além de ser comum, é
saudável para o corpo de Cristo. Mas é normal que a igreja, em sua cultura,
atraia pessoas semelhantes aos membros que fazem parte dela. Isso ocorre pois
o ser humano se identifica com aquele que é parecido, pois temos tendências
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a atrair e nos associarmos a pessoas que têm semelhanças conosco. Por isso,
entender a predominância e cultura de nossas comunidades é interessante.
c) Por fim, devemos entender que esse é um árduo trabalho também intelec-
tual. A fé cristã nos obriga a lidar com questões que são um desafio intelectual
e a pregação contribuirá para isso.
Com isso, vemos que o resultado de uma boa exegese e uma boa aplicação é uma
ponte entre o texto bíblico e o povo. Só assim haverá uma compreensão correta da
Bíblia, onde as Escrituras também falarão no tempo presente e trarão clareza para
a igreja de Cristo.

CONCLUSÃO

É através da pregação que o Evangelho pode ser proclamado, tanto a crentes como
a descrentes. É um dos momentos usado por Deus para falar com seu povo e edi-
ficar a igreja, além de despertar aqueles que não estão na luz. A importância desse
ministério é evidente ao olharmos para os escritos bíblicos, assim como foi impres-
cindível em toda história da igreja. Falando a respeito da pregação, o Dr. Martyn
Lloyd-Jones diz:

[...] a obra da pregação é a mais elevada, a maior e a mais gloriosa vo-


cação para a qual alguém pode ser chamado. Se alguém quer conhecer
outra razão, eu diria, sem hesitação, que a mais urgente necessidade
da igreja cristã, na atualidade, é a pregação autêntica. E, visto que é
a maior e mais urgente necessidade da igreja, evidentemente ela é
também a maior necessidade do mundo1.”

Mesmo diante de tamanha importância, como vimos, há uma grande necessidade


de pessoas que se dediquem ao estudo e meditação das Escrituras para pregar a
verdade. A igreja precisa de indivíduos sérios e comprometidos com a Palavra, que
buscam desenvolver as habilidades necessárias para passar os ensinos bíblicos com
intrepidez.
Por isso, lhe encorajamos a caminhar nessa jornada de aprendizado, a fim de co-
municar as boas novas de forma autêntica e ser um instrumento nas mãos de Deus.

1. LLOYD-JONES, Martyn. Pregação e Pregadores (Kindle Edition). Editora Fiel, 2008, p. 8


A ARTE DE PR EGAR BEM
o que não te ensinaram sobre pregação

MATRICULE-SE JÁ!

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