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África do Sul 

  A República da África do Sul (RAS) é seguramente o país que, pelas suas dimensões territoriais, possui a maior
concentração mundial de riquezas minerais: ouro, diamantes, carvão, ferro, manganês, urânio, platina, cromo, titânio,
entre outros. Isso explica o apoio estadunidense ao governo da África do Sul mesmo durante a vigência do apartheid
(apartar, separar) , um sistema oficial de racismo e de segregação étnica.

A África do Sul é o país mais industrializado de todo continente, respondendo por volta da metade de todo parque
industrial africano. Apresenta também um alto padrão de vida para a minoria branca, descendentes de ex-
colonizadores holandeses ou ingleses. Mas o que prevalece é uma baixa qualidade de vida para a maioria da
população, principalmente para os negros (70% no total), mestiços e asiáticos.

Com o objetivo de controlara a maioria negra e manter o modelo econômico baseado na exploração da força de
trabalho negra, a minoria branca na África do Sul, detentora do poder e da riqueza, criou o, apartheid, tão rejeitado
pelo restante do mundo e, em especial, pelos vizinhos africanos, e que só foi eliminado em 1994.

Assim, durante mais de três décadas, a África do Sul possui um racismo oficializado, isto é, determinado por leis, que
estabelecem direitos desiguais de acordo com a cor da pele. Essa discriminação fez parte da Constituição do país até a
realização das primeiras eleições livres e multirraciais para cargos legislativos e para a Presidência do país, em abril de
1994.

O apartheid foi implantado na África do Sul após a sua independência completa diante do Reino Unido, em 1961.
Antes disso já havia enormes entre brancos e negros, pois uma das bases do colonialismo é exatamente a divulgação,
pelos colonizadores, de sua “superioridade” racial em relação aos colonizados. Quem mais defendeu o apartheid foi a
população branca de origem holandesa, os chamados africânderes, muito mais radicais no seu racismo que os de
origem inglesa.

Com a descolonização do continente, os países independentes passaram a ser governados pelos próprios africanos. Na
África do Sul, porém, o novo governo representante da minoria branca, achou que era necessário oficializar as
diferenças étnicas para manter os privilégios dos brancos e evitar uma maior participação dos negros nas decisões.

Nas décadas de 1960 e 1970, o apartheid foi aperfeiçoado, tornando-se mais radical. A diferença entre brancos e
negros – e também entre mestiços e asiáticos (indianos), em menor proporção –, se ampliaram. Em 1945, por
exemplo, o salário pago a um negro correspondia 25% do que era pago a um branco para realizar uma mesma tarefa.
Já em 1970, esse salário recebido por um negro equivalia a somente 17% do que um branco recebia pelo mesmo
serviço.

Algumas leis rigorosas foram criadas, como por exemplo:

● Nenhum negro tinha direito de adquirir terras;

● Era proibido casamento de brancos com pessoas de outra cor;

● Era proibido o acesso de negros a certos hotéis, restaurantes de luxo, etc;

● Era necessário um passe, ou seja, uma autorização para negros viajarem de uma cidade a outra dentro do país;

● Um africano não podia hospedar ninguém, nem mesmo parentes, por mais de 72 horas em sua casa.
Tudo isso representou uma tentativa de controlar melhor a maioria negra, de evitar que ela se organizasse e lutasse
contra o regime imposto pela minoria branca.

Essa discriminação pode ser observada até hoje nas áreas residenciais. Os brancos têm as suas cidades, os seus bairros
exclusivos, limpos, com boa iluminação, água encanada, habitações amplas, etc. Os negros foram obrigados a se
fixarem em “cidades negras” – as townships –, situadas na periferia das “cidades brancas”, pois elas fornecem força de
trabalho barata e têm de estar por perto para trabalhar.

A infraestrutura das “cidades negras” é precária. Essas cidades já foram palco de inúmeras manifestações
antiapartheid, de violentos choques de negros co a polícia. Sharpeville e Soweto, situadas nas vizinhanças da maior e
mais industrializada cidade do país – Johannesburgo –, são exemplos de townships. 

Para resolver o problema do “excesso” de negros no país, cuja natalidade é bem maior que a dos brancos, o governo
sul-africano criou os bantustões ou homelands.

Os bantustões eram regiões especiais, onde grande parte dos negros ficava confinada. Possuíam um governo próprio,
mas fantoche ou títere, isto é, dirigido pela África do Sul. Nesses bantustões estavam as piores terras do país, com
solos pobres e sem riquezas minerais, para onde em geral os negros foram levados à força.

Foram criados dez bantustões. Na verdade, essa foi uma estratégia geopolítica das autoridades sul-africanas para
resolver o problema racial. Como os bantustões não têm riquezas e nem atividades econômicas importantes, os
negros eram obrigados a trabalhar nas indústrias sul-africanas instaladas nas proximidades dos bantustões. Esse
seriam apenas fornecedores de mão de obra barata para as empresas da África do Sul e seus habitantes não teriam
direitos políticos na medida em que seriam “estrangeiros”.

Assim, teoricamente, a culpa pela pobreza desses bantustões não seria do governo da África do Sul, mas dos próprios
negros que adquiriram sua “independência”. Essa ideia astuciosa acabou sendo denunciada no mundo inteiro. Aliás, a
condenação pela maioria dos países do mundo, da política de segregação racial e de criação de bantustões foi
aumentando as dificuldades da África do Sul na cena internacional.

Dessa forma, em fevereiro de 1990, o governo da África do Sul tomou diversas medidas com o objetivo de abrandar o
regime do apartheid, promovendo ao mesmo tempo reformas no campo político. A principal medida foi libertar o
líder negro Nelson Mandela, que estava na prisão há 28 anos. Também foram legalizados os partidos e movimentos de
oposição, entre eles o Congresso Nacional Africano. Além disso, praticamente todos os presos políticos ganharam a
liberdade, e as numerosas restrições que afetavam a vida dos negros foram eliminadas, como proibição de frequentar
piscinas e praias  reservadas só para brancos; proibição de usar ônibus só de brancos, banheiros, etc.

Em 1992, o governo realizou um plebiscito (consulta à população) sobre o final do apartheid que foi aprovada pela
maioria da população branca. A partir de abril de 1994, com a realização das primeiras eleições livres e multirraciais na
África do Sul para os cargos legislativos e para a presidência da República, desapareceu oficialmente o apartheid. 

Uma nova Constituição foi promulgada, tornando iguais os direitos de todas as pessoas, qualquer que seja a sua etnia
e cor de pele, e, além disso, várias línguas dos povos africanos foram oficializadas no país. Além das duas línguas
oficiais que já existiam (o inglês e o africâner, um idioma derivado do holandês), também os idiomas zulu e xosa, além
de outros sete, tornaram-se línguas oficiais do país.

Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da história do país, tentou realizar um projeto de união nacional, com a
participação no seu governo de negros e brancos. Esse governo de união nacional conseguiu evitar uma guerra civil,
mas não conseguiu diminuir as desigualdades econômicas vigentes na época do apartheid, além de não conseguir
resolver alguns conflitos étnicos entre as principais etnias negras do país: zulus e xosas (origem do presidente
Mandela).

Com o fim do governo de Nelson Mandela em 1999, o grande desafio dos sul-africanos é manter a estabilidade do país
e superar as inúmeras dificuldades econômicas e sociais do país. E como representante africano do BRICs (órgão que
reúne países importantes do planeta, mas que não engloba os países mais desenvolvidos do mundo, como: Brasil,
Rússia, Índia e China, além da África do Sul), o desenvolvimento e a superação dos problemas sociais e econômicos na
África do Sul, poderá propagar para inúmeros outros países do continente.

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