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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO

Princípiot Fundamentais da Coagulação


~

e Floculação

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Jp PUBLICAÇÃO DO DEPARTAMENTO
DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO
COM A COLABORAÇÃO DA
PLANIDRO ENGENHEIROS CONSULTORES S. A.
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO

CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA SANITÁRIA.
SALVADOR, BAHIA, 1973

Princípios. fundamentais da Coagulação


e floculação

Eng.o JOSt ROBERTO CAMPOS


Depto. de Hidráulica e Saneamento da
EESC - USP

ENTIDADES PATROCINADORAS: 8 N0 E
FAPESP
O presente trabalho constitui um esrorço conjunto dos mem-
bros do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenh~

ria de São Carlos da Universidade de São Paulo.

A colaboração rinanceira é devida ao B.N.D.E., C.A.P.E.S.,


C.N.Pq •. e F.A.P.E.S.P.

A impressão contou: com o apoio da PLANIDRO -Engenheiros


Consultores S.A., e do Setor de Publicações da Escola de Engenharia
de São Carlos.,

A omissão de algum nome seria uma irreparável injustiça.


Por esta razão deixamos de listá-los.

Nossos agradecimentos a todos que direta ou indiretamente


possibilitaram a execução desta modesta contribuição.

Jurandyr Povinelli
Coordenador de Pós-Graduação
do S.,H .. s.
PRINC!PIOS FUNDAMENTAIS DA COAGULAÇÃO E FLOCULAÇÃO

José Roberto Campos (*)

RESUMO

Este trabalho ap~e~~~alguns conce~tos fundamentais rel~


tivos à Teoria da Estabilidade dos colÓides, com especial atenção às
propriedades eletrocinéticas, e sua importância na ·coagulação e flo-
culação de águas para abastecim~to.pÚblico.
O desenvolvimento surpreendente da QuÍmica Coloidal tornou
possível o entendimento dos princÍpios fundamentais da coagulação e
floculação.. ,, .
A revisão desses conceitos permite melhor compreensão do
comportamento dos colÓides, que constituem um dos grandes problemas
no tratamento de águas para abastecimento.

(*) Professor Auxiliar de Ensino do Departamento de Hidráulica e Sa-


neamento da Escola de Engenh~ria de São Carlos - u .. s.P.
tNDICE

Pág.
1 INTRODUÇÃO 1

2 - COLÓIDES eooeeooooootloeeoeoeooeoeooQeo®eocoooeoeaooeeec;eoeo 1
2.1 Generalidades e o o e o o o o e o o o o o e e o o e e o o e e e e e e e o e o - e o • o e e e 1
2.2 Classificação e e e e o o o e e c e o o l 9 o o i / J o o o e o c • e e e o o o e o e e o e o o o e 2
2.3 Características Principais dos ColÓides 4

3 - POTENCIAL ZETA ooeeoeoeoeoeoeeqeoeoooeooeeoooeeceoeeeeeoeoe 6


3.1 Generalidades eeec~eoeeoeeoeooeeeooeeeeeee•eooeoeeeco 6
3.2 Conceituação do Potencial Zeta •••••••••••••••••••••• 7
3-3 Métodos Experimentais para a Determinação da Velocida
de de Eletroforese eeeeeeeeoeeeeeeeeoeeeeeeoeoeeoeooe 11
3.4- Comentirios ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 16
4 - COAGULAÇÃO E FLOCULAÇÃO oGIIeeeeoeeeeeoeeeeeooeeoeooeoeeeeeee 16
4.1 Generalidades e e o c e Q s o e o e $ e e e e e e e o e e e e o e e e e o e e e e o e e o o 16
4.2 Desestabilização dos Co1Óides o•••••••••••••••••••••• 17
5 - GOMP ARAÇÃO DAS T:gCNICAS MAIS COMUNS DE ENSAIOS DE COAGULA-
ÇÃO FLOCULAÇÃO e e e o e e o o e e c o e e o e e e e e e o e e e o c o o o o e o e o e e e o o o e 21
5.1 Generalidades ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 21
5.2 Técnicas Mais Comuns •••••••• " •••·e e e. o •••• o e ••••••• e. 22

6 C~NSIDERAÇOES FINAIS o e o o e os o e o e o;t. o e 41' ao e e e e e e e e e o o o G o e o o o o o o 29


7- REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS eoecooooeeeoseooeeoeeeeeeceooooe 29
1 - INTRODUÇÃO

Coagulação e floculação .constituem a parte mais delicada


do tratamento de águas,para abastecimento pÚblico. Qualquer falha, -
neste setor, pode acarretar grandes prejuízos na qualidade e custo
do produto, distribuído à população.
Dá-se, atualmente, a devida importância ao Fornecimento de
Energia e às Propriedades Eletrocinéticas dos ColÓides, no estudo da
Coagulação e Floculação.
O conhecimento desses conceitos permite determinações mais
racionais e menos empÍricas das dosagens convenientes de coagulante~
na obtenção de flocos de boa qualidade~

O uso cada vez maior de auxiliares de coagulação (ou flo-


culação), em vista do seu custo relativamente elevado, exige que se
estudem as propriedades das imp~rezas da água, p~ra se empregar, ap~
nas, a qua,nt.idade necessária e li>Ufici.ente desses produtos, visando
aos ~esultados desejados.
Pode-se ainda, de acorno com determinações do Potencial Ze
ta, otimizar os resultados (custo e qualidade), utilizando-se coagu-
lantes primários e auxiliares.
Este trabalho contém ligeira revisão sobre alguns dos as-
pectos das Propriedades Eletrocinéticas dos ColÓidea,interessando às
pess~as que trabalham, no tratamento de água para abastecimento ...

2 - COL6IDES

2.1 - Generalidades

No perÍodo de 1770 a 1840, a QuÍmica se limitava,apenas ao


estudo de substâncias que apresentas~em baixo peso molecular, encon-
tradas, geralmente, sob a forma cristalina.,
Em meados do século passado, a atenção foi voltada para al.
guns tipos. de compostos que não se comportavam de maneira análoga aos
-2-
até ali estudados (1).
Selmi (1845) notou que o Cloreto de Prata produzia "pseudo
-soluções" que não chegavam às co!fdições das soluções verdadeiras.
A evolução desta descoberta levou ~ introdução dos termos
"Micela" (1858), por Nãgeli, e "ColÓide" (1861), por Grahan.
A partir da invenção do ultramicroscÓpio, por Zsigmondy e
Siedentopf (1903), a Química Coloidal evoluiu extraordinariamente,as
sumindo, hoje, papel notório, em muitos setores da atividade humana.

2.2 Classificação

Há vários tipos de dispersões coloidais, mas a que exige


maiores m~núcias, quando se visa ao tratamento de água, é aquela em
que se tem uma fase sÓlida, dispersa em uma lÍquida (Sol); mais par-
ticularmente ainda, quando se t~m, co.mo fase disperaante a~água.
Co'naiderando-se estas-limitações, pode-se classi:{icar os
colÓides como sendo: hidrÓfilos ou hidrÓfobos.
ColÓides hidrÓfilos
As partículas de colÓides hidrÓfilos são compostas de gru-
pos polares, solÚveis em água, que atraem para prÓximo de si "molé-
culas" do meio dispersante, formando uma película que exerce ação
protetora e tornando o colÓide bastante estável, difÍcil de coagular
e flocular.
Graxas, Óleos, sabões e detergentes pertencem a este grupo,
,
quando dispersos em agua.
Os sabÕes e detergentes podem ser chamados de"EletrÓlitos
Coloidais" (2,3), tendo em vista seu comportamento, quando lançados
em meio aq1,1oso.
Hess (1937), empregando difração de raio X, descobriu que
moléculas de oleato de Sódio, quando dispersas em água, juntavam-se
aos pares, formando grupamentos da maneira mostrada, na Figura 1.
-3-

DO Na } OLEATO DE SÓDIO
DO CH3

Fig. 1 - Comportamento do oleato de SÓdio,


"
disperso em agua.

A Figura 2 mostra o efeito de solubilização que os sabÕes


apresentam.

DO CH3 } OLEATO DE SODIO I

DO Na

Fig. 2 - Comportamento do oleato de Sódio


.
disperso em agua e na presença de
benzeno ..
-4-
Analogamente ao que acontece com o benzeno, esta solubili-
zaçao ocorre com determinadas impurezas~ presentes na água, ·eviden-
ciando os problemas que sabÕes e detergentes acarretam, no Tratamen-
to de Água, '"fabricando" micelo.s hidrÓfilas bastante estáveis.
Infelizmente, grandes quantidades de detergentes sao lanç~

das, diariamente~ nos rios que sofrem o efeito cumulativo, causado


pela nao biodegradabilidade da maioria. desses produtos*
ColJides HidrÓfobos
Neste caso 1 a fase dispersa ~ constituÍda de material inso

Esses colÓides geralmente OO:)rrem em maior quantidade que


os hidrÓfilos, nas ág~as dest~nadas a tratamento e distribuição.Suas
propriedades eletrocin~ticas são bastante importantes e serão estuda
das no CapÍtulo 3.

2 •. 3 - Ca:.~'3Lcterísticas Princi:pais dos ColÓides

2. 3. l - Taman..'i-J.o das Partículas

As partículas coloidais (4) que apresentam fimensões desde


10-~ até 1 r não podem ser nvistas" COli O emprego do microsc~io
comum, exigindo o ultramicroscÓpio (campo: ~~ a 10~ ) e o micros
r
copio eletronico ,campo:
, h
10-l
.;u.ate" :proximo
"' a lO = 3JV'- )•
~ importante frisar que os limites impostos nao sao r!gi-
dost podendo existir dispersÕes coloidais com partículas maiores ou
menores que as admiti&as, no parágrafo anteriore

2e3.2 - Movimento Browniano

Brown (1828)? botânico inglês, estudando uma suspensão de


grãos de pÓlen observou, pela primeira vez, este fenômeno (4)e Wei-
I'
ner sugeriu que tal fato devl&: ao bombardeio das part1culas dis
persas, pelas "mol~culas" da fase dispersante.
-5-
Ao movimento desordenado das partículas coloidais, conse-
qÜente deste bombardeio, dá~se o nome de Movimento Browniano,o qual
impede que as mesmas se sedimentem, porque a agitação da fase dis-
persante sempre existe, nas condiçÕes normais.

2.3.3 - Efeito Tyndall

As partÍculas coloidais apresent~m tamanho suficientemente


grande (em relação ao comprimento de onda da luz) para dispersar os
raios luminosos, ao passo que as do meio são pequenas demais para
afetar sua propagação.
Essa propriedade pode ser empregada para se ter informa-
çÕes sobre o tamanho das partículas e também para a medida da turbi-
dez do sistema.

2.3.4 - Adsorção Superficial

Quando se divide finamente um material aumenta-se a sua


superfÍcie externa de contato com o meio, em que se encontra, super-
fÍcie esta que pode apresentar tensões e/ou não saturação, produzin-
do o que se costuma chamar (4) de Adsorção Superficial.
Essa caracteristica permite variadÍssimas aplicações,entre
as quais citam-se:

Eliminação de odor e sabor da água, pelo emprego


de carvão ativado
Filtração
Máscaras de carvao contra gases venenosos, cujas
moléculas são polares, etc.

2.3.5 - Osmose

Quando a dispersão está separada da fase dispersante por


,
uma membrana, permeável apenas à fase dispersante (1), o sistema so
-6-
entra em equilÍbio, quando foi estabelecida uma diferença de pressa~-
entre os dois meios, denominada Pressão Osmótica.

2.3.6 - Diálise e Ultrafiltração

Caso se queira remover as substâncias dissolvidas, que po-


dem atravessar a membrana, mediante reposição contínua do lÍquido p~
ro, tem-se o fenômeno que se denomina Diálise. Se o processo é acel~
rado com o auxÍlio de pressão, tem-se a Ultrafiltração.

2.3.7 - Propriedades Eletrocinéticas

Essas propriedades sao consequências do potencial eletros-


tático que as partículas coloidais adquirem, por adsorção de cargas
elétricas da fase dispersante. Esse potencial dá aos colÓides a cap~
cidade de se moverem, quando sob a açao de um campo elétrico.
O ponto de partida para o conhecimento de tal comportamen-
to é o estudo do Potencial Zeta, que será apresentado, no Capítulo 3.

3 - POTENCIAL ZETA

3.1 - Generalidades

Suponha-se partículas coloidais dispersas em um lÍquido e


aplique-se eletrodos de sinais contrários. Observar-se-á que elas se
movem em relação ao lÍquido.
Esse movimento é conseqüente da diferença de potencial en-
tre os eletrodos e da carga das partículas. O fenômeno é denominado:
ELETROFORESE.
O conceito de Potencial Zeta partiu dessa descoberta e a
esplêndida evolução dos conhecimentos, nesse campo, deve-se, princi-
palmente, a Verwey, Overbeek, Abranson e outros (5)
-7-
De maneira geral (6), todas as partículas coloidais, dis-
persas em águas, cujo pH se encontra entre 5 e 10, apresentam carga
negativa devido à adsorção seletiva de Íons eletronegativos. Como di
ficilmente uma água a ser tratada foge a essa gama de valores de pH,
os estudos de coagulação e floculação se desenvolveram,baseados em
modelos de partículas coloidais negativas.

3.2 - Conceituação do Potencial Zeta

Para explicar os comportamentos eletrocinéticos dos colÓi-


des, Gouy e Stern (7, 1) propuseram a TEORIA DA DUPLA CAMADA.
Tomando-se uma superfÍcie plana carregada negativamente,em
contato com um lÍquido que contenha Íons positivos e negativos dis-
solvidos, haverá um acúmulo de cargas positivas, prÓximo às paredes
,
(camada compacta) e, enquanto se afasta da mesma, o número de .1.ons
de cargas opostas tende a se igualar (camada difusa).
Stern fez a hipÓtese de que cada uma das camadas se consti
tuiria de um condensador, sendo que a capacidade total dos mesmos,em
série, seria:

c
m " cd
ct =
c + cd
m

cd = capacidade do condensador constituído pela camada di-


f usa
Cm = capacidade do condensador constituído pela partícula
e o inÍcio da camada difusa.

Stern considerou que C era aproximadamente constante e


m
que Cd dependia fortemente da concentração do eletrÓli to, ·presente no
lÍquido.
No caso de partículas coloidais inseridas em meio aquoso,
que apresente eletrÓlitos dissolvidos, nota-se a formação de uma ca-
mada estacionária de Íons aderidos à superfÍcie, circundada por uma
camada difusa, que se desenvolve até haver o equilÍbrio eletrostáti-
co das cargas.
+

/
/
+
-- -- ""
-!-

-r

+
- '\ +
+

+
+
-8-

+
_f + \ +

+
+ - \
\ +

+
+
\ +
I +

+ -"' +
....
Q)
z +
/
I - Potencial prÓximo

""' --"C à partícula


Q)

+
+

co modo
difuso
camada Concentroç.Õo dos
compacto ions positivos

dos
íons negativos

Fig .. Conceito do Potencial Zeta

POTENCIAL ZETA é a medida do potencial elétrico entre a su


perfÍcie externa da camada compacta, que se desenvolve ao redor da
partícula e o meio lÍquido, em que ela está inserida.
Os Íons de carga contrária são atraÍdos ao colÓide, por
forças eletrostáticas, enquanto que a agitação térmica e o Movimento
Erowniano tendem a distribuí-los, por toda massa lÍquida.
Esse sistema de cargas, superfÍcie de colÓide e camada de
sinal contrário recebe o nome de Dupla Camada (5).
-9-
Se a carga negativa do col'Óide for grande, os Íons de car-
ga contrária ("counterions") poderão ser tão fortemente atraÍdos q_ue
aderem à mesma, formando a Camada Compacta ("stern layer").
A Camada Compacta parcialmente neutraliza a carga e a atr~

ção eletrostática do colÓide e assim os "counterions" remanescentes


i\

vao estar mais difusos, diminuindo a concentração, à proporção q_ue


se afasta da partícula, constituindo uma Camada Difusa .( "Diffuse
Layer"). A dimensão dessa camada depende, principalmente, da concen-
tração de Íons no lÍquido e pode apresentar-se com valores de alguns
ângstrom.
Potencial Zeta é uma função da carga da Camada Difusa (por
unidade de superfÍcie do colÓide) e da extensão da mesma.
Quando um lÍq_uido que contém partículas carregadas disper-
sas é submetido a um campo eleétrico, o atrito entre as partículas e
o lÍquido que contém a Camada Difusa reduz o movimento na direção
,
dos eletrodos. Quanto maior for a extensão dessa camada, menor ser a
o atrito. Po~tanto, a velocidade de uma partícula dispersa sob a
ação de um campo elétrico aumenta, com o aumento da densidade e ex-
tensão da Camada Difusa.
Essa velocidade é proporcional ao potencial eletrico entre
os eletrodos e ao Potencial Zeta.
Afirma-se que, aparentemente, a carga do colÓide é propor-
cional a sua velocidade, q_uando submetido a um campo elétrico cons-
tante.
Abranson e outros provaram experimentalmente que tal pro~r

cionalidade é estritamente um fenÔmeno superficial.


Mais recentemente, Johson e Alexander (4) definiram o Po-
tencial Zeta como a energia requerida para se trazer uma carga unitá
ria, desde o infinito até o "plano de cisalhamento", sendo que "pla-
no de cisalhamento 11 é aq_uele que separa do resto da dispersão, a sec
ção da camada que se move, juntamente com a partícula, e está situa-
do entre a superfície interna e externa da dupla camada.
-10-

''
'' exterior
camada

distância

l
I
I
I -
o L.---For.ca repulsiva
lO
cn ~ eletrocinética
::1
o.
Cl>
a::
o
...
u
<o
LL.. Distância entre as superfÍcies
o
lO
u.
...o
<(
atrativa de Van Der Waals

FIGURA 2 Potencial Zeta segundo Johnson e Alexsander


-11-
Helmholtz (4) compara a ~~pla Camada a um condensador Qe
cargas iguais e opostas, distanciadas de
Supondo-se q a carga das partículas e o Potencial Ze-
ta, tem-se, de acordo com a eletrostática:

q ~ (3.2)
D
c

D = constante dielétrica
c

O Potencial Zeta é proporcional à Velocidade de Eletrofore


se, como mostra a equação de Helmholtz Smoluchowsky:

?=
~=viscosidade absoluta da água, em poises
H = gradiente de potencial, em
v
p em

Na maioria dos casos, a Velocidade de Eletroforese é dada,


nas seguintes unidades:

v
em

Essa maneira de expressar é bastante prática, pois leva em


conta a velocidade e o gradiente de potencial empregado.

3.3 - Métodos Experimentais para a Determinação da Velocidade de


Eletroforese

Dos métodos que serão apresentados, apenas o da célula de


-12-
eletroforese possui qualidades que justificam o seu emprego,cada vez
mais difundido, em vários campos de atividades cientÍficas.
Os outros serão apenas mencionados, superficialmente, em
vista de estarem bastante ultrapassados e de oferecerem resultados
menos precisos que os obtidos pela técnica refinada de que se dispõe
quando se utiliza a célula de eletroforese.

3.3.1 - Método de Hittorf

Uma corrente i é mantida através de uma dispersão coloi-


dal durante um tempo t e quantidade q de material coloidal que
se depositou no ânodo ou no cátodo é determinada analiticamente. A
velocidade de eletroforese é dada por:

v =
c i t

c = concentração do colÓide em g/cm3


~ = condutividade do lÍquido

Esse método foi muito pouco usado e, segundo Overbeek,apr~


senta razoável precisão.

3.3.2 - Método da Fronteira

Burton (1) criou um dispositivo bastante simples e capaz


de fornecer conclusões sobre o sinal da carga e a velocidade de ele-
troforese das· partículas.
Consta essencialmente de um tubo em U preenchido, na par-
te inferior, pela dispersio problema, e na superior, geralmente,pelo
ultrafiltrado dessa dispersão, criando-se uma fronteira de separaçã~
bastante nÍtida, entre os dois meios.
Estabelecendo-se uma diferença de potencial entre os eletr,2.
dos, esquematicamente mostrados na Figura 3, há um deslocamento des-
sa fronteira e, de acordo com a velocidade da mesma, do sentido do
movimento e da voltagem imposta, extraem-se informações razóáveis so
bre o comportamento das partículas dispersas.
-13-
O número de condições que deve ser satisfeito para a execu
ção de tal ensaio é tão grande que somente se conseguem resultados
satisfatÓrios, nos casos em que as condutividades da dispersão e do
ultrafiltrado estejam bastante prÓximas.

Fig. 3 - Dispositico idealizado por Eurton

3.3.3 - Método de Tiselius

Tiselius (1) também se baseou no princÍpio explorado por


Burton, mas efetuou grandes aperfeiçoamentos que merecem algum desta
que:
Equipamento mais elaborado, permitindo o enchi-
mento do tubo com os dois meios, separadamente,
originando, conseqllentemente, uma fronteira mais
nÍtida.
-14-
Eletrodos reversÍveis
Movimento da fronteira detectado por um conjunto
de lentes, fundamentando-se na diferença de Índi
ce de refração, existente entre a dispersão e o
ultrafiltrado.

3.3.4 - Célula de Microeletroforese

A primeira célula de Microeletroforese foi projetada por


Briggs; presta-se para determinações em soluções que apresentem bai-
xas concentrações iÔnicas, tais as encontradas nas investigações de
coagulação das águas.
Modernamente, necessita-se do seguinte equipamento (5) pa-
ra o estudo de eletroforese:
Um estereomicroscÓpio com um micrômetro ocular
especial; uma ocular de 15x; e objetivas de 2x,
4x, 6x, 8x.
Um iluminador especial, capaz de produzir um del
gado feixe de raios de luz branca-azulada inten-
sa, com um filtro absorvente de calor.
Um equipamento permitindo variar a voltagem, con
tinuamente, de OV a 500V.
Uma célula de Eletroforese, de plástico de Ótima
qualidade, com eletrodos de platina-iridiada.
Um suporte da Célula, contendo um espelho de al-
ta reflexão, para conduzir o feixe luminoso atra
vés do tubo onde se encontra a dispersão.
Um relÓgio especial, com capacidade para efetuar
leituras de segundos e décimos de segundos.

Na Figura 4, encontra-se esquematizada a Célula (5). Note-


-se que uma das extremidades da mesma é fechada e a outra, aberta.E~
se critério é adotado para se evitar qualquer movimento dentro da Cé
-15-
lula que nao seja causado pela voltagem.
Quando se estuda a velocidade de eletroforese de flocos,p~
de-se deixar as duas extremidades abertas, para, inclinando-se o tu-
bo, localizar os mesmos em posiçÕes favoráveis ao estudo.

CORTE

EXTREMIDADE PLANTA
ABERTA

Fig. 4 - Célula de Eletroforese (5)

A iluminação efetuada de acordo com a técnica esquematiza-·


da~ na Figura 5, evita a luz direta no equipamento Ótico do microscó
pio e permite observar partículas muito menores do que no caso de a
luz incidir, diretamente, de baiYn nR~a cima, no eixo do mesmo (5).
DE ELETROFORESE

LUZ BRANCA

(""''" """'
l LACA DE

ESPÊLHO
PLÁSTICO

Fig. 5 - Técnica de iluminação da célula (5)


-16-
Para se ter uma comparaçao: a velocidade de eletroforese do
~. subtilis pode ser facilmente medida com a ocular de 15x e uma obj~

tiva de 4x ou 6x, ao passo que, de outra maneira, necessitar-se-ia de


ampliações da ordem de 1.000 a 1.500 !
Esse processo pode ser utilizado para qualquer colÓide,con
tanto que sua concentração não seja muito alta. Para que o efeito da
eletroendosmose não acarrete erro na leitura, efetuam-se medidas so
bre partículas que distem 0,15 D das paredes do tubo de diâmetro D.
A velocidade (U) das partículas é expressa em microns por
segundo, por volt por centímetro, e o Potencial Zeta é determinado
por curvas de calibração do aparelho, ou lançando-se mão de equaçoes.

3.4 - Comentários

Existem outros equipamentos fundamentados na Célula de


Briggs, diferindo entre si, apenas quanto ao sistema Óti
co, tipos de eletrodos, suporte da Célula, etc.
Acredita-se que essa técnica ainda não se difundiu,esse~
cialmente, pelos seguintes motivos:
a) A maior parte das pesquisas foram desenvolvidas por
cientistas puros, não se preocupando com interesses co-
merciais.
b) Pouca bibliografia sobre o assunto.
~ de se desejar que, pelo menos as grandes Estações de
Tratamento de Água e os LaboratÓrios de Pesquisa adqui-
ram tal equipamento.

4 - COAGULAÇÃO E FLOCULAÇÃO

4.1 - Generalidades

Em muitos livros e revistas, há grande descaso no tocante


às definiçÕes corretas de Coagulação e Floculação (8) e como esses
-17-
conceitos sao fundamentais vale recordar que o termo "coagular'' pro-
vém do lat~m "Coagulare", que significa juntar e "flocular" origin_§;
-se de "Flocculare" que exprime "produzir flocos 11 •
As partículas dispersas que apresentam Potencial Zeta (P.
z.) da ordem de - 30 mV (ou maior,negativamente) têm estabilidade -
crescente com esse potencial, mas nota-se tendência de aglomeração,
quando há uma redução para valores inferiores a - 10 mV. Os melho-
res resultados se conseguem quando P.Z. é prÓximo a zero mVe
Assim sendo, "Coagular" significa reduzir o Potencial Ze-
ta a tal ponto que se consiga a união de partículas coloidais produ-
zindo flocos, isto é "Floculando".
Desta explanação, vê-se a importância da estabilidade dos
colÓides, devido às suas cargas, no tratamento da águac
Os principais objetivos da Coagulação e Floculação (compl~
mentadas pela Sedimentação e Filtração), são:

Redução da cor
Destruição de algas e plancton, em geral
Eliminação de substâncias que produzem sabor e odor
- Eliminação de bactérias e agentes patogênicos
Redução da turbidez, ca.usada :por partículas que nao se
sedimentam rapidamente.(Uma partícula de sÍlica de 10-3
mm (4) sedimenta a uma velocidade de l mm por hora !)e

4.2 - Desestabilização dos ColÓides

Segundo a Figura 2, do capítulo referente ao Potencial Ze-


ta, duas partículas prÓximas de colóides hidrÓfobos estão sujeitas a
duas forças opostas: a força de repulsão, causada pelo Potencial Ze-
ta e a de atração de Van der Waals. Como resultante, obtém-se u~~
curva que apresenta o pico que se costuma chamar de "Barreira de :i::-
nergia".
-18-
Para se combater essa "Barreira" é necessário diminuir o
,
Potencial Zeta e fornecer energia ao sistema, para incrementar o nu-
mero de colisões das partículas.

4.2.1 - Redução do Potencial Zeta

Estudos devidos a Schulze, Linder e Pencton mostraram que


os colÓides eram extremamente sensÍveis a pequenas quantidades de e-
letrÓlitos, com relação a sua estabilidade (1). Hardy, (1900) con-
cluiu que esta sensibilidade estava bastante ligada à mobilidade da
partícula, quando submetida a um campo elétrico.
A Regra de Schulze-Hardy estabalece que, na coagulação de
sols, o poder dos Íons bivalentes é 20 a 30 vezes maior que o dos mo
novalentes e o dos Íons trivalentes é 10 a 100 vezes maior que o
dos bivalentes. A Figura 1 compara rudimentarmente o que ocorre,qua~

do se introduz Íons para reduzir o Potencial Zeta (7).

CAMADA FIXA CA14AOA DIFUSA


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OISTANCIA-
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Fig. 1 - Efeito dos ions dispersos sobre o Potencial


Zeta (7)
-19-
As Figuras l-a, 1-b e l-c, mostram o efeito do aumento da
concentração de Íons dispersos.
Comparando-se l-a e 1-d visualiza-se a consequência do au-
mento da carga d_os Íons dispersos.
A introdução de coagulantes primários e/ou polieletrÓlitos
catiÔnicos (9) na massa lÍquida é justificada por esse conceito.

4.2.2 - Fornecimento de Energia

Os dois tipos de flocos, mostrados na Figura 2 (6),demons-


tram o resultado da agitação correta (Flocos DendrÍticos) e o da agi
tação deficiente (Flocos Grumosos).
O Floco DendrÍtico além de ser melhor aproveitado, englo-
bando impurezas em todo o seu volume, é mais resistente e denso, se-
dimentando-se com maior facilidade.

FLOCO GRUMOSO F LO C O DE ND R(T l CO

Fig. 2 - Influência da Agitação, na Qualidade


dos Flocos

Logicamente, energia em excesso também pode ser prejudic~


Smoluchowshi, em 1917, publicou uma teoria matemática vi-
sando ao estudo da variação do número de partículas coloidais dispeE
sas em um sistema, em função do tempo, supondo que a força respuls!
va entre as mesmas estivesse reduzida a valores desprezíveis (utili-
zando-se eletrólitos, por exemplo).
-20-

Ele desenvolveu duas equaçÕes; uma delas con9iderava as co


lisões ocasionadas apenas pela ação do Hovimento Browniano e a ou-
tra supunha a existência de forças de cisalhamento na massa lÍquida
conseqüentes da introdução de energia no sistema. Logicamente a se-
gunda mais representa as condiçÕes reais, com suas aproximações.
Como a mistura dos produtos químicos na água e a obtenção
de flocos compactos estão diretamente relacionados com a energia in-
troduzida, definiu-se Gradiente de Velocidade.
Gradiente de Velocidade (G) é a taxa de va~iação da veloci
dade v de escoamento, segundo uma direção perpendicular a direção
do escoamento.

dv
G = unidade: s-l
dy

Considerando-se as forças que agem sobre um cubo elementar


de água sujeita à "agitação", pode-se escrever:

G = gradiente de velocidade (s- 1 )


p = potência introduzida na água (kgf m/s)
v = volume Útil do tanque (m3) ,
= viscosidade absoluta da água na dada temperatura
f (Kgf s/m 2 )

A equação (4.2) mostra que G é função da potência Útil P


utilizada por unidade de volume e da viscosidade absoluta da água.
O Gradiente de Velocidade também está relacionado co~ o nÚ
mero de colisões entre as partículas que se encontram na água, atra-
vés da "Equação de Camp e Stern", originada da teoria desenvolvida
por Smoluchowski, que mostra a importância desse fator na floculaçã~
-21-
G
N =
6

G = gradiente de velocidade
,
N = número de contatos efetuados entre N
1 part1culas de
diâmetro d, e N partículas de diâmetro d , na unidade
2 2
de tempo, por unidade de volume, na agitação.

Para condiçÕes reais esta equação pode ser simplificada.


~ importante frisar que o fornecimento de energia deve obe

decer certas imposiçÕes, para trazer bons resultados:

considerando-se que a hidrÓlise, polimerização, e rea-


çoes dos coagulantes na água ocorrem em frações de segun
do é necessário que a aplicação desses produtos se faça
em pontos de G relativamente elevados e que a mistura o-
corra em intervalo de tempo bastante reduzido,
nas câmaras de floculação deve-se fornecer energia sufi-
ciente para promover formação de flocos compactos e -
na o
utilizar valores relativamente altos de G para que as
forças de cisalhamento, não causem destruição de flocos
já formados ou em formação.

5 - COMPARACÃO DAS T~CNICAS MAIS COMUNS DE ENSAIOS DE COAGULAÇÁO


FLOCULAÇÃO

5.1 - Generalidades

Exaustivas pesquisas têm sido realizadas com o fito de se


prever e controlar o processo de coagulação, nas Estações de Trata-
mento de Água.
Caberá ao responsável pela operaçao, eleger a técnica que
mais se coadune com o tipo de problema a ser su?erado, nunca relega~

QO a um segundo plano a condição estratégica que o ,ratamento quÍmi-


co da água desempenha, no rendimento e economia glo(,al de um sistema
de abastecimento.
-22-
5.2.- Técnicas Mais Comuns

A seguir serão abordadas algumas das técnicas de ensaios&


coagulação mais utilizadas, atualmente:
Ensaio dos Jarros
Ensaio dos Jarros Aprimorado
Concentração Residual de C.oagulante
Número de Filtrabilidade
- Refiltração em Membranas
Filtração em Coluna Piloto
Contagem EletrÔnica de Partículas
Condutividade
Titulação Coloidal
- Potencial Zeta

5.2.1 - Ensaio dos Jarros

O Ensaio dos Jarros foi empregado, pela primeira vez, por


Langelier e Charles Gilman Hyde (10) em 1918, (Sacramento, CalifÓr-
nia) e, a partir de 1921, começou a ser utilizado, em larga escala.
O equipamento para este ensaio consiste, normalmente, de
seis recipientes dotados de agitadores, simulando as câmaras de mis-
tura e floculação de uma Estação de Tratamenta de Água.
Variando-se as dosagens de coagulantes e de outros produ-
tos quÍmicos procura-se chegar, por observação visual, às condições
Ótimas de formação de flocos e turbidez do sobrenadante.
Uma das críticas ao 'Ensaio dos Jarros' é que ele não pode
ser considerado como um modelo hidráulico de câmaras de mistura e
floculação e que o tamanho dos ~locas não apresenta os princÍpios de
semelhança, necessários, quando se estudam modelos reduzidos.
-23-
5.2.2 - Ensaio dos Jarros Aprimorado

Consta do equipamento convencional, mas apresentando em c~

da jarro (de secção quadrada, preferivelmente) um tubo parcialmente


imerso que se liga a um pequeno frasco de alguns centímetros cÚbicos
de capacidade.
Um sistema de "vácuo" é ligado, simultaneamente, a todos
os pequenos frascos, de maneira que se possa aspirar amostras a qual
quer instante desejado
,
Um minuto apÓs o inÍcio da sedimentação uma aspiraçao e
feita, com o equipamento descrito, obtendo-se uma amostra do sobrena
dante de cada jarro.
As seis amostras sao enviadas a um turbidÍmetro de boa pr~
cisãà e anotada a turbidez de cada uma delas. Faz-se determinações ~
nál~gas para os tempos de 2, 3, 5 e 30 minutos.
Na figura abaixo, são apresentadas algumas curvas semelhan
tes ~s que se obt~m em ensaios (12).

lf--r--1
I

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1-
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1- I lr-1-J
o 2 3 4 5 30 loAIN.

TE~PO OE SEDIMENTAÇÃO

Fig., 1 - Apresentação de resultados do ·:Ensaio


dosJarros Aprimorado

A observação visual, apenas, pode levar a interpretações


A

erroneas ou bastante pessoais, ao passo que os gráficos oferecem co~


-24-
dições de análise mais precisas, sobre a qualidade dos flocos.
Curvas semelhantes a E são mais comumente encontradas, mas
o desejável é atingir-se a clarificação mais satisfatÓria, como no
caso D.
Este ensaio minimiza o julgamento pessoal, nao exige expe-
riência do operador e permite considerações sobre:
- Uniformidade do floco
- Densidade dos flocos (velocidade de sedimentação)
- Grau de clarificação da água
- Tamanho dos flocos

5.2.3 - Concentração Residual do Coagulante

Consiste em se determinar a concentração de Íons em solu-


ção ou suspensão do coagulante utilizado, mediante uma análise quÍmi
ca do sobrenadante, nos Ensaios dos Jarros.
Esse ensaio pode oferecer informações sobre as condiçõesca
coagulação e floculação, pois vários autores afirmam que um excesso
de coagulante é de grande conveniência para a otimização dos flocos.

5.2.4 -NÚmero de Filtrabilidade

Shull (11) estudou oito águas diferentes, da região de Fi-


ladélfia, usando sulfato de AlumÍnio como coagulante. Comparou o tem
po necessário para se filtrar 200 ml, da amostra do sobrenadante pr~
veniente de Ensaios dos Jarros, sob pressão constante, através de u-
ma membrana de , com o tempo requerido para se filtrar igual
0,45)~

volume de água destilada. A relação entre os dois tempos é conhecida


como "número de filtrabilidade".
Shull procurou relacionar os valores obtidos com medidas
do Potencial Zeta das mesmas águas e, apesar de haver conseguido seu
intento, não se pode ainda generalizar o fato, devido ao pequeno nú-
mero de ensaios e também por haver apenas se utilizado de sulfato de
AlumÍnio, não se preocupando com outros coagulantes.,
-25-
5.2.5 - Refiltração em Membranas

Esta técnica (11) envolve a formação de uma camada filtra!!.


te fazendo-se passar a suspensão através de uma membrana de 0,45jk,
sob pressão constante. O filtrado é coletado e refiltrado através da
camada e da membrana.
,
O tempo necessário para refiltrar o volume especÍfico e
chamado "tempo de refiltração".
~ importante frisar que flocos gelatinosos, causados por
excesso de coagulantes e/ou pela baixa agitação, dificultam a refil-
tração, reduzindo a velocidade.do fluxo e aumentando conseqüentemen-
te, o "Tempo de Refiltração".
Esse critério de avaliação foi desenvolvido por LaMer,Smel
lie e Lee e, apesar de ser bastante simples, seus resultados são tão
Úteis quanto os de determinação do "nÚmero de filtrabilidade".
Ensaios comparativos (13) mostraram que as dosagens Óti-
mas de sulfato de alumÍnio, determinadas por refiltração são relati-
vamente bai:c3.s, quando comparadas às determinações para a Ótima sedi
mentação.

5.2.6 -Filtração em Coluna Piloto

Conley e Evers (11, 13) sugerem que se empregue uma coluna


piloto de filtração, utilizando-se água coagulada e floculada, nas
prÓprias instalaçÕes da Estação de Tratamento. A turbidez do filtra-
do é controlada e qualquer deterioração, na qualidade, indica neces-
sidade de alteração na dosagem empregada.

5.2.7 -Contagem Eletrônica de Partículas

Inicialmente, a Medicina utilizava-se desta técnica(ll)pa-


ra a contagem de células sanguÍneas. Gradualmente, esta idéia foi
-26-
atingindo novos campos e também nas pesquisas sobre coagulação foi
comprovada a sua eficiência.
A técnica de contagem eletrônica (13) envolve o uso de um
suprimento de "vácuo" que aspira a suspensão através de um· pequeno
orifÍcio, sob condições convenientes do gradiente de velocidade G.
Um eletrÓlito é anteriormente adicionado à suspensão, para torná-la
condutora.
Enquanto o lÍquido escoa, através do orifÍcio,eletrodos e~
trategicamente colocados (mantendo uma corrente constante entre si)
sofrem pulsações de voltagem, proporcionais aos v~lumes das partícu-
las que atravessam o orifÍcio. Essas pulsações são eletronicamente~
pliadas e, a seguir, interpretadas.

5.2.8 - Condutividade

Eabcock e Knowlton (11) relacionaram em gráficos as dife-


renças de condutividade antes e depois da adição de sulfato de Alu-
mÍnio contra a dosagem do mesmo, no tratamento de uma água colorida
de baixa alcalinidade. A curva resultante se apresentou constituÍda,
aproximadamente, de dois segmentos distintos, interceptando-se no
ponto de melhor remoção de cor.
Essa técnica deve ser empregada apenas quando a água apr~
senta alcalinidade suficiente para a coagulação, pois, segundo en-
saios efetuados (11) para diversas amostras, conclui-se que as dife-
renças de condutividade variam, de acordo com a alcalinidade.

5.2.9 - Titulação Coloidal

Usando-se a técnica da titulação coloidal (14) é possível


desenvolver-se uma razoável relação entre a carga dos colÓides da
água bruta, a alcalinidade total e a dosagem Ótima de sulfato de Alu
, .
m~n~o.
-27-
Essa técnica fornece informações que podem ser empregadas,
de maneira análoga aos dados obtidos pela determinação da velocidade
de eletroforese.
A rapidez e a facilidade de realizar avaliações, sem a ne-
cessidade de equipamentos especializados, coloca essa idéia em posi-
ção bastante atrativa, quando a água bruta está sujeita a flutuações
rápidas de qualidade.
Kawamura, Tanaka e Hanna (15) desenvolveram essa técnica,
fundamentados na possibilidade de dispersões de partículas coloidais
carregadas serem neutralizadas, pela ação de um colÓide de carga o-
posta.,
Como indicador, usa-se Toluidina Azul (T.B.) que muda de
azul para pÚrpura, quando na presença de uma dispersão de partícu-
las coloidais carregadas negativamente. Methyl Glycol Chitosan (M.G.
C.) e Polyvinyl Alcohol Sulfate (P.V.S.Ko) são aplicados como pa-
drões de colÓides positivos e negativos, respectivamente. Esses pro-
dutos são fabricados pela SEIKO KAGAKU YAKUHIN LTDA., FUKUOKA- JAPÃO
e se encontram mostrados na Figura 2.

~o CH 2 0(CH 2 CH 2 0) 2 H n

n!:!SOO n ~1.000
Ca,H:asOsNI C2 H3 04SK
( M.G.C.) (P.V.S.K.)

CH 3
C,sHu;NliS
(T. 8.)
Fig. 2 - Produtos pG1.ra'.a "tJ:tulação coloidal (15)
-28-
Por diferença entre o volume da dispersão padrão utilizada
na titulação da amostra e o volume para titular igual quantidade de
água destilada, a carga do material ensaiado pode ser determinada,
facilmente. Essas cargas são expressas, comumente, em miliequivalen-
tes, por litro de dispersãoo
Apenas a título de comentário, anexaram-se os ensaios efe-
tuados (14) com a água de Griggs Reservoir (E.E~u.u.).

5 "1.15 ·n
~ "1.0 "· ·ao:!::
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1-····.JO~
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..... ······-
1
100 200 100
OOUGI!M OE SULFATO OI
AI.UhtiNIO •lblm9

Fig. 3 - Ensaios com a água de Grigga Reservoir

Essa água apresentava na data do ensaio: Turbidez•7,8 ppm,


cor = 34 ppm, pH = 8,6 e alcalinidade 195 ppm. =
Note-se a extrema semelhança entre as curvas representati-
vas da MOBILIDADE e da CARGA DO COLOIDE, principalmente no aspectode
determinação do "ponto isoelétrico". A divergência notada no campo
positivo não é fator importante, visto saber-se que a melhor remoção
de turbidez se dá em valores negativos prÓximo ao ,aro e para a rem~
ção de cor, valores nulos ou ligeiramente positivoa, na maioria dos
casos.
-29-
5.2.10 - Potencial Zeta

Essa técnica já foi estudada, no capÍtulo dedicado a esse


assunto ..

6 - CONSIDERAÇOES FINAIS

No capítulo 5, foram mostradas as técnicas mais comuns uti


lizadas na determinação da dosagem conveniente de coagulantes e no
controle da Coagulação e Floculação.
As pesquisas neste campo merecem especial atenção das enti
dades responsáveis, pois o estudo detalhado do tratamento quÍmico p~
de trazer grande economia e melhora, na qualidade do produto distri-
buÍdo à população.
Não desmerecendo o Ensaio dos Jarros, convencional, deve-
ria haver grande estímulo ao emprego de técnicas mais recentes como
Ensaio dos Jarros Aprimorado, Titulação Coloidal, medida de Poten-
cial Zeta, etc ..
O Ensaio c,,os Jarros Aprimorado poderia ser empregado, nas
pequenas Estaçoes de Tratamento e a Titulação Coloidal e o Zetâmetro
(principalmente) deveriam ser utilizados, nas grandes instalações e
laboratórios de pesquisa.

7 - REFER:fiNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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