Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BELÉM
2022
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. Mairi dos Tupinambá e Belém dos portugueses:
encontro e confronto de memórias. In Um imenso Portugal: estudos luso-amazônicos.
Belém: EDUFPA, 2020.
1
Figueiredo, Aldrin Moura de. Mairi dos Tupinambá e Belém dos portugueses: encontro e confronto de
memórias. In Um imenso Portugal: estudos luso-amazônicos. Belém: EDUFPA, 2020, p. 19.
2
Idem, ibidem, p. 23.
construções lusitanas, no então conhecido bairro da Cidade Velha. Já exposto em outro
momento de seu texto, o autor retoma nesse tópico o cenário de expulsão dos indígenas dessa
área da cidade para a periferia, com o intuito de desenvolver os arruamentos empreendidos
pelos portugueses. O que acontece nesse momento é a separação de uma cidade indígena e
uma cidade lusitana, seria a Cidade Velha portuguesa e a Campina indígena, complementares
entre si. O fato é que os indígenas não ficam de fora desse meio social, com o estabelecimento
de quatro importantes ordens religiosas – Franciscanos, Carmelitas, Mercedários e Jesuítas –
para a catequização dos indígenas, as trocas culturais começam a se desenvolver. Certamente
essas trocas corroboraram para a formação da cidade, com o destaque para a contribuição
indígena pois como argumenta “O próprio ir e vir dependia do indígena.” (FIGUEIREDO,
2020, p. 27).
Sua última análise, no tópico Mestiços e Cabanos: Outras Memórias a argumentação
de Figueiredo se desenvolve acerca dos trabalhos produzidos em âmbito nacional sobre o
tema da mestiçagem e a perda que o movimento político da Cabanagem sofre nos usos dos
espaços da memória na paisagem urbana.3
Com a ocorrência do processo de mestiçagem em território nacional, diversos
intelectuais passam a dedicar-se à escrita sobre o tema. Na Amazônia, o nome de maior
destaque foi o de José Veríssimo, que inicia de acordo com o autor “[...] uma espécie de
inauguração dos estudos etnográficos sobre a Amazônia, em profundo diálogo com os debates
mais importantes que ocorriam no Brasil e no estrangeiro.” (FIGUEIREDO, 2020, p.28). O
fato é que o tema da mestiçagem, mais uma vez, assim como já citado anteriormente, a
questão dos rios, configuram uma espécie de biografia da Amazônia, utilizada posteriormente
em diversos trabalhos. Com isso, a cidade de Belém recebe o título de “cidade mestiça”,
decorrente dos diversos contatos e trocas culturais que aqui ocorreram.
No que se refere a questão da Cabanagem, o que o autor discorre é sobre como o
principal movimento político e de maior alcance da Amazônia perde seu espaço na memória
urbana da cidade. Incontestavelmente esse movimento nos deixa quase nenhum registro de
imagem, porém o autor nos chama a atenção para as histórias e narrativas visuais que ainda
podem se escrever4, isso significa estudar as imagens que retratavam o que o autor chama de
reafirmação da nacionalidade5. É com isso que se torna possível, em 1933 com a pintura
3
Figueiredo, Aldrin Moura de. Mairi dos Tupinambá e Belém dos portugueses: encontro e confronto de
memórias. In Um imenso Portugal: estudos luso-amazônicos. Belém: EDUFPA, 2020, p. 34.
4
Idem, ibidem, p. 35.
5
Idem, ibidem, p. 36.
Tubas dos Mundurucus de Gariasso pensar a figura do indígena associada ao cabano, além da
integração desses indivíduos à paisagem de Belém.
Portanto, conclui-se com os argumentos de Aldrin Figueiredo que pensar as
construções lusitanas na cidade de Belém é pensar inseparavelmente as contribuições
indígenas. Esses que estiveram de forma assídua tanto em obras de natureza material quanto
no que se refere a questão cultural. O fato é que, apesar do apagamento desses indivíduos do
centro urbano, o que hoje em dia conhecemos como centro histórico, ao conhecer a história do
espaço se faz indissociável a memória dos mortos e conflitos que ali ocorreram.