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REVISTA ELETRÔNICA ESTÁCIO SAÚDE

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EFEITOS DA CRIOLIPÓLISE SOBRE A PRODUÇÃO DE IRISINA E SURGIMENTO DE


ADIPÓCITOS BEGES

Resumo
Irisina é uma proteína secretada pelo tecido muscular quando em atividade ou submetido a
temperaturas reduzidas, e estimula o surgimento de adipócitos beges conhecidos por
apresentarem atividade termogênica. Como a exposição ao frio é uma condição oferecida pelo
procedimento de criolipólise, realizamos este estudo de revisão procurando relacionar
condições de temperatura e sucção, com o surgimento de adipócitos beges. Para tanto,
selecionamos artigos científicos através de busca em banco de dados. Como a baixa
temperatura gerada pela criolipólise não alcança áreas teciduais profundas, é pouco provável
que irisina seja secretada pelo músculo esquelético. No entanto, há relatos da expressão de
irisina em células, como fibroblastos e adipócitos brancos. Há possibilidade de surgimento de
adipócitos beges durante a criolipólise a partir da indução pelo frio ou secreção de irisina.
Descritores: Criolipólise, Irisina, Adipócito bege, Tecido adiposo, Termogênese.

EFFECTS OF CRYOLIPOLYSIS ON PRODUCTION AND IRISIN ADIPOCYTE EMERGENCE


BEIGES

Abstract
The irisin is a protein secreted by muscle tissue when active or when the body is subjected to
low temperatures, and that stimulates the emergence of beiges adipocytes known to have
thermogenic activity. As exposure to cold is also a condition offered by cryolipolysis procedure,
we conducted this study review to relate the temperature and suction, with a possible
emergence of adipocytes beiges. We selected scientific articles through search database. As
the low temperature generated by cryolipolysis not reach deep tissue areas irisin which is
unlikely to be secreted by skeletal muscle. However, there are reports of irisin expression in
other cells such as fibroblasts and white adipocytes themselves. There is possibility of
adipocytes beiges emergence during cryolipolysis from induction by cold or irisin secretion.
Descriptors: Cryolipolysis, Irisin, Adipocyte beige, Adipose tissue, Thermogenesis.

EFECTOS DE LA CRIOLIPÓLISE SOBRE LA PRODUCTION DE IRISINA Y LA APARICIÓN


DE ADIPOCITOS BEIGES

Resumen
Irisina es una proteína secretada por el tejido muscular, cuando activo o cuando está a baja
temperatura, y estimula la aparición de beige adipocitos que tienen actividad termogénica.
Como la exposición al frío es una condición ofrecida por la criolipólise, hemos preparado una
revisión del estudio para relacionar la temperatura y la succión, con una posible aparición de
adipocitos beiges. Seleccionamos artículos científicos de la base de datos. La temperatura baja
generada por criolipólise no llega a las zonas profundas del tejido por esto la irisina es poco
probable que sea secretada por el músculo esquelético. Estudios demuestran que hay
expresión de irisina en otras células como fibroblastos y los adipocitos blancos. Hay posibilidad
de emergencia de adipocitos beiges durante criolipólise mediante la secreción irisina.
Descriptores: Criolipólise, Irisina, Adipocitos beige, Tejido adiposo, La termogénesis .

1 2 3
Glória Márcia Motta Silveira , Husten Silva Carvalho , Anderson dos Santos Cordeiro
1
Acadêmica em Fisioterapia na Universidade Estácio de Sá. Aluna de Iniciação Científica. Rio de Janeiro/RJ/Brasil.
2
Doutor em Ciências Morfológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor adjunto III na Universidade
Estácio de Sá. Rio de Janeiro/RJ/Brasil.
3
Acadêmico em Fisioterapia na Universidade Estácio de Sá. Aluna de Iniciação Científica. Rio de Janeiro/RJ/Brasil.

138 Revista Eletrônica Estácio Saúde - Volume 5, Número 2, 2016


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INTRODUÇÃO hormônios ou neurotransmissores.


O tecido adiposo é um tipo Na membrana plasmática destas
especial de tecido conjuntivo que células há receptores das mais
tem como principal característica a diversas substâncias, tais como,
presença de adipócitos, que podem insulina, hormônio do crescimento,
ser especializados em armazenar noradrenalina e glicocorticoides,
triglicerídeos ou metabolizar lipídios que auxiliam a captação e liberação
para gerar calor. O corpo humano de ácidos graxos e glicerol(2).
necessita de fornecimento O hormônio insulina favorece
ininterrupto de energia para manter a entrada de glicose em adipócitos
a homeostase metabólica e e conversão em ácidos graxos para
equilíbrio energético. Para manter o depois formar triglicerídeos. A
balanço energético, o excesso de noradrenalina, que é um
nutrientes é armazenado na forma neurotransmissor liberado pelas
de glicogênio e triglicerídeos, terminações pós-ganglionares dos
permitindo que o corpo continue a nervos da divisão simpática
funcionar mesmo em estado de voltadas para o tecido adiposo,
dieta precária ou de aumento das provoca a degradação de
necessidades energéticas. Os triglicerídeos e liberação de ácidos
adipócitos estão agrupados em graxos e glicerol. Os níveis de
lobos separados por septos nas noradrenalina aumentam quando o
regiões mais profundas da derme. indivíduo é exposto à atividade
Nos septos ou paredes de tecido física intensa, ao jejum prolongado
conectivo encontram-se vasos ou ao frio(2).
sanguíneos e terminações nervosas Há dois tipos de adipócitos,
que permitem a troca de nutrientes os chamados uniloculares, que
e o controle da atividade deste contêm uma única gotícula de lipídio
tecido pelo sistema nervoso(1). em seu interior, e os multiloculares,
Os triglicerídeos que contêm múltiplas gotículas de
armazenados nos adipócitos são lipídios. As células uniloculares
frequentemente degradados e formam o tecido adiposo branco e
sintetizados, dependendo do as células multiloculares formam o
contato com estímulos locais, tecido adiposo pardo ou marrom(1).
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No corpo humano, o tecido adiposo clássicas, como os fatores de


branco é muito mais abundante que crescimento e proteínas sistêmicas
o tecido adiposo marrom e, por complementares, além de proteínas
conterem uma única gotícula de envolvidas na regulação da pressão
lipídio, esses adipócitos apresentam arterial, na homeostase vascular, no
capacidade contínua de metabolismo e na angiogênese(3).
armazenamento de lipídios, Os adipócitos secretam
podendo aumentar seu tamanho. várias citocinas ou proteínas de fase
Os adipócitos brancos apresentam aguda que, direta ou indiretamente,
núcleo deslocado em direção à elevam a produção e circulação de
membrana plasmática, o complexo fatores relacionados com a
de Golgi é reduzido e há poucas inflamação, tais como: o fator de
mitocôndrias(1). O tecido adiposo necrose tumoral a (TNF-α); a
branco é capaz de armazenar interleucina 6 (IL-6) e os fatores do
(3-4)
grande quantidade de energia na complemento B, C3 e D . O TNF-
forma de triglicerídeos e α diminui a resposta à insulina
desempenha papel importante como através da redução dos níveis de
órgão endócrino secretando, expressão de transportadores de
principalmente, o hormônio leptina, glicose (GLUT-4) na superfície
que regula o comportamento celular, ou inibindo a atividade de
alimentar(1). Esse tecido também receptores para insulina(3-4). Quanto
secreta proteínas chamadas às moléculas de complemento ou os
adipocinas, importantes no controle fatores B, C3 e o D, sabe-se que a
da obesidade e da homeostase presença dos fatores B e D é
energética(1). A secreção de importante para a síntese do fator
adipocinas está relacionada com a C3a, a partir de C3. O fator C3a,
sensibilidade à insulina, à resposta logo quando formado, é clivado
imunológica, e ao desenvolvimento levando à formação da proteína
(1)
da doença vascular . ASP (acylation stimulating protein)
As adipocinas são altamente que intervém na síntese e
diversificadas quanto a sua armazenamento de triglicerídeos(3-
5)
estrutura proteica e a sua função .
fisiológica. Inclui-se citocinas
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Estudos em roedores presente em recém-nascidos, nas


mostraram que sua deficiência está regiões axilar, cervical, perirrenal e
associada à diminuição da gordura periadrenal, mas após o nascimento
corporal e aumento da sensibilidade é rapidamente reduzida(1). Em
à insulina(3). Os níveis de C3a estão adultos, a gordura marrom é
reduzidos no jejum ou lipodistrofia e encontrada nas regiões
aumentam com ingestão alimentar, paracervical, supraclavicular e
concomitantemente com os níveis paravertebral(1). Há evidências de
de ASP(3-4). que em algumas enfermidades que
O tecido adiposo marrom, acometem idosos, levando a intenso
diferentemente do tecido adiposo emagrecimento, o tecido adiposo
branco, apresenta adipócitos com marron desenvolve-se nos mesmos
espaços intracelulares mais locais dos recém-nascidos(1).
preservados, há maior quantidade Adipócitos marrons, quando
de mitocôndrias e o núcleo pode expostos ao frio, produzem muito
estar mais centralizado. Além disso, mais calor e em velocidade
os adipócitos marrons armazenam superior, em razão do seu grande
triglicerídeos de forma não número de mitocôndrias, quando
contínua(1). A presença de comparados aos adipócitos
citocromos em numerosas brancos(1,5).
mitocôndrias e a alta vascularização A exposição ao frio faz com
são os motivos para sua coloração que receptores sensoriais
(1)
marrom avermelhado . Outra localizados na pele enviem sinais ao
característica marcante é o quanto centro encefálico fazendo com que
as terminações nervosas alcançam ocorra retransmissão de impulsos
mais diretamente os adipócitos, não nervosos simpáticos com liberação
ficando restritas aos vasos de neurotransmissores, como a
sanguíneos, como ocorre no tecido noradrenalina, capazes de ativar
(1)
adiposo branco . enzimas que fragmentam
A gordura marrom é triglicerídeos em ácidos graxos e
encontrada principalmente em glicerol. Em seguida, os ácidos
espécies mamíferas que hibernam. graxos são oxidados para produção
Nos seres humanos está mais de calor(5-6). A atividade metabólica
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de adipócitos marrons está tecido adiposo bege, os adipócitos


associada com a redução da aparecem tipicamente a partir do
obesidade, justamente pela tecido adiposo branco, geralmente
oxidação de ácidos graxos e glicose no compartimento subcutâneo, em
para sustentar a termogênese(5). resposta à estimulação ao frio ou ao
Há estudos recentes que sugerem receptor β3-adrenérgico. Os
também um papel endócrino, mas adipócitos beges seriam
que ainda não foi caracterizado(7). intermediários entre os adipócitos
Várias moléculas marrons e os brancos(8).
sinalizadoras ou com propriedades A criolipólise corresponde à
endócrinas secretadas pelo tecido perda de tecido adiposo através da
adiposo marrom foram identificadas, exposição à baixa temperatura e foi
especialmente quando em primeiramente observada através
condições de ativação termogênica. da inflamação do tecido adiposo
Entre os fatores endócrinos bucal em bebês, após contato
secretados pelo tecido adiposo prolongado com alimentos gelados
(9-10)
marrom estão o fator de . Com base neste relato, dois
crescimento semelhante à insulina I pesquisadores da escola de
(IGF-1), IL6 e o fator de crescimento medicina de Harvard, iniciaram
(5,7)
de fibroblastos (FGF) . Como há testes em modelo animal expondo
uma forte associação entre a partes do corpo a temperaturas
atividade dos adipócitos marrons e baixas com o auxílio de um
um perfil metabólico saudável, estes aparelho propagador de baixa
podem ser considerados uma temperatura e de sucção a vácuo
potencial ferramenta terapêutica para redução do fluxo sanguíneo(11).
contra a obesidade e doenças Durante o experimento, as funções
metabólicas associadas. hepáticas e os níveis de lipídios
Recentemente, um novo tipo de séricos não apresentaram qualquer
tecido adiposo metabolicamente aumento significativo.
ativo foi identificado e apresenta A criolipólise é aplicada com
respostas de termogênese maior frequência na região
semelhantes ao tecido adiposo abdominopélvica, nos membros
marrom. Nesse tecido, denominado superiores e na parte posterior do
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torso. A temperatura é ajustada no gordura visceral, o tratamento seria


equipamento entre -5oC e -15oC. No proibido, haja vista que a
entanto, não é essa a temperatura proximidade com órgãos poderia
que o tecido adiposo alcança, representar um sério risco de lesões
principalmente nos níveis pela exposição ao frio intenso(10).
profundos. Durante a aplicação ou Os riscos envolvidos na criolipólise
fase de resfriamento, a temperatura são mínimos. Não há riscos de
subdérmica cai gradualmente para queimaduras na pele, já que a
12°C em cerca de 3,3 minutos, e gordura é mais sensível ao frio que
5°C em cerca de 10 minutos, de os demais tecidos, ficando a pele e
acordo com um estudo feito em as fibras musculares ilesas. Na
modelo animal e que utilizou prática clínica, utiliza-se uma única
termômetro implantado sessão por região do corpo, sendo
subdermicamente(10). que cada sessão leva cerca de uma
Embora a placa de hora e abrange uma área de 20 cm2
(10-11)
resfriamento atinja temperatura .
negativa e não seja esta mesma A irisina é um peptídeo
temperatura a que incide no tecido incluído no grupo das miocinas. O
adiposo, isso não compromete a gene que codifica a irisina é
eficácia do método, pois segundo chamado FNDC5 (fibronectina do
relatos, os danos aos adipócitos tipo III contendo cinco domínios)(12).
brancos ocorrem em torno de 10°C Pesquisadores descobriram que
(10-11)
. É também importante lembrar durante o exercício físico, ocorre o
que a gordura visceral, intra- aumento da proteína PGC1-alfa
abdominal, ou que situa-se atrás (Co-ativador-1 alfa do receptor
dos músculos do abdômen ou entre ativado por proliferador de
os órgãos, não sofre qualquer efeito peroxissoma), que estimula a
ou dano, pois o resfriamento não expressão do gene FNDC5, levando
alcança essas camadas de a uma proteína que apresenta um
gordura(10-11). A criolipólise mostra peptídeo sinal na região N-terminal,
eficiência apenas para eliminação seguido por dois domínios de
de gordura subcutânea. Mesmo se fibronectina e um domínio
houvesse como isolar a região com hidrofóbico inserido na membrana
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da célula(13). O gene FNDC5 permitiram a constatação de que


localizado no cromossomo 1p34.4, temperaturas elevadas provocam
contem 6 éxons que codificam uma aumento da expressão de irisina no
proteína com 212 aminoácidos. Esta soro e na saliva de indivíduos,
proteína de membrana, em seguida, possivelmente pela necessidade
é clivada e a parte secretada na energética em propiciar o
(14,16)
corrente sanguínea é a irisina resfriamento corporal . O
(Figura 1). A irisina tem um peso estresse oxidativo e um possível
molecular de 12 kDa e apresenta a dano nas células musculares
sequência de aminoácido de 30-142 também podem estimular a
da proteína obtida pela expressão secreção de irisina(14-16).
do gene FNDC5. Esta sequência de Este estudo constitui-se de
aminoácidos apresenta uma uma revisão da literatura, que
homologia de 100% com outras procura contribuir para o
espécies de mamíferos(12). Irisina, esclarecimento sobre possíveis
quando ligada ao seu receptor relações entre as condições de
presente na superfície de adipócitos temperatura ou de sucção do
brancos, estimula a expressão da volume tecidual, oferecidas pelo
proteína desacopladora-1 (UCP-1) equipamento de criolipólise, e uma
ou termogenina, podendo levar à provável secreção de irisina, com
transformação de adipócitos surgimento de adipócitos beges.
brancos em beges(12-13). A proteína
UCP-1 é conhecida por sua MÉTODOS
capacidade de transportar prótons
através da membrana mitocondrial O estudo de revisão aqui
interna, evitando a síntese de ATP, apresentado foi elaborado através
para que haja dissipação da energia da seleção de artigos científicos
na forma de calor(14). originais publicados nos últimos 5
Estudos demonstraram que a anos com buscas no banco de
irisina sinaliza a termogênese em dados do SciELO e da Bireme, a
tecido adiposo marrom, partir das fontes Medline e Lilacs.
principalmente a partir da exposição Utilizamos como palavras chaves:
ao frio(14-16). Estudos também criolipólise, irisina, adipócito bege,
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tecido adiposo, termogênese. produção de irisina ou surgimento


Também fizemos uso de artigos de adipócitos. Assim, 28 artigos
anteriores a 2010 para definição de serviram para fundamentação
conceitos básicos. Selecionamos teórica e discussão dessa revisão
104 artigos, sendo que 76 deles (fig.1).
foram excluídos por não tratarem
diretamente da criolipólise,

104 títulos identificados na busca inicial por via


eletrônica

76 artigos excluídos por :


 não relacionarem
temperaturas reduzidas com
o surgimento de tecido
28 artigos incluídos que adiposo bege;
abordavam:  não abordarem os efeitos de
 tecido adiposo branco, catecolaminas sobre o
marrom e bege; metabolismo de lipídios
 metabolismo de lipídios e  e que não tratarem da
efeitos de catecolaminas termoterapia relacionada à
sobre o metabolismo de produção de irisina ou ao
lipídios; metabolismo lipídico.
 criolipólise e
 síntese de irisina, sua
regulação e efeitos sobre o
surgimento de tecido
adiposo bege.

Tecido Metabolismo Criolipólise Irisina


adiposo (8) (7) (6) (7)

Figura 1 - Fluxograma do processo de inclusão dos artigos na revisão


bibliográfica.

DISCUSSÃO marrom nas regiões supraclavicular


e paravertebral(17). Inclusive a
Seres humanos adultos ativação de adipócitos marrons
expostos ao frio, de forma parece ser mais intensa a partir da
semelhante ao que ocorre durante exposição ao frio que durante a
aplicação da criolipólise, confirmou utilização apenas de fármacos
o surgimento de tecido adiposo agonistas de receptores

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adrenérgicos, sugerindo a temperatura é mantida por longo


participação conjunta de outros tempo, ou quando a temperatura é
mediadores além da noradrenalina, reduzida abaixo de 10ºC, alguns
como o fator de crescimento de autores relatam a presença de uma
fibroblastos (FGF gene 21) e a vasodilatação reflexa profunda de
(17)
irisina . frio induzida, após o período inicial
Estudos feitos a partir da de vasoconstrição, sem aumento da
exposição ao frio em roedores atividade metabólica local(19-20).
demonstraram que o FGF 21 Com base nesses relatos,
apresenta níveis elevados em outros estudos procuraram
diferentes tecidos, como demonstrar a ativação de um reflexo
parênquima hepático, tecido axônico em que, ao esfriar uma
adiposo branco, tecido adiposo área tecidual para menos de 10oC,
marrom e parênquima pancreático, seria possível inibir a atividade
enquanto a irisina mostrou ser miogênica de músculo liso ou
secretada principalmente por tecido reduzir a sensibilidade de vasos
(17-18)
muscular . Com base nesses sanguíneos para noradrenalina,
resultados, realizamos nosso estudo causando vasodilatação. No
de revisão sobre criolipólise, como entanto, outro pesquisador mostrou
um procedimento capaz de que em partes do corpo submetidas
favorecer o aumento do número de à baixa temperatura por mais de
adipócitos beges e redução no 100 minutos, não houve qualquer
número de adipócitos brancos por vasodilatação durante este período.
apoptose. Inclusive a vasoconstrição
A diminuição da temperatura permanece por um
nos tecidos causada pelo período relativamente longo após a
procedimento de criolipólise traz retirada do estímulo de baixa
como consequência a limitação na temperatura(21).
quantidade de oxigênio e de Existe uma interação
nutrientes, além de interferir contínua e indispensável entre os
diretamente nas ações químicas mecanismos neural e metabólico
dentro das células ou entre as que controlam o fluxo sanguíneo,
células. Quando a redução da embora o mecanismo neural sirva
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mais para o controle global da uma área de 20 cm2 por uma hora
pressão arterial. A perda de calor também poderia causar alteração
através da superfície cutânea em na temperatura média do sangue, o
uma área de 20 cm2, delimitada que seria capaz de ativar estruturas
pela ponteira do equipamento de hipotalâmicas favorecendo resposta
criolipólise, deve causar esfriamento sináptica. Quanto ao mecanismo
suficiente para estimular receptores metabólico em baixa temperatura, o
do frio (de Krause) que variam de 1 que se sabe é que a taxa
- 25 por cm2 de tecido da pele. metabólica na área tecidual
Estes receptores de envolvida é reduzida, diminuindo
temperatura participam do controle também os mediadores da
do fluxo sanguíneo cutâneo por vasodilatação.
produzirem sinais nervosos reflexos Há um estudo que
para os vasos sanguíneos através demonstrou produção de irisina por
da medula espinhal ou passando fibroblastos durante exposição ao
pelo hipotálamo. Ao retornarem frio ou ativação adrenérgica(17). Isso
para os vasos sanguíneos, a reforça a possibilidade de encontrar
transmissão de impulsos por vias níveis elevados de irisina no local
eferentes da divisão simpática de aplicação da criolipólise,
causam liberação de noradrenalina considerando a forte presença de
nas terminações(22-23). tecido conectivo entre os grupos de
Como não há relatos sobre a adipócitos branco e na parede de
criolipólise e aumento nos níveis de vasos sanguíneos que integram a
noradrenalina, é importante a intensa rede que irriga os grupos de
realização de novos estudos que adipócitos. Nesse mesmo estudo,
envolvam avaliação da resposta foi verificado resistência à irisina em
noradrenérgica em humanos, animais obesos.
através do uso de equipamentos, Outro estudo utilizando
como o frequencímetro, ou ainda, a modelo animal também mostrou que
avaliação local dos níveis de o tecido adiposo branco, visceral ou
noradrenalina ou detecção do subcutâneo, é capaz de secretar
complexo receptor ligante, em FNDC5. Além disso, mostrou que
modelos animais. A exposição de adipócitos brancos reduzem
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significativamente a secreção de receptores beta 3 pela


FNDC5 em animais que passaram noradrenalina? É certo que as
por períodos em jejum, enquanto condições oferecidas pela
que, em animais obesos houve altos criolipólise através do uso da
níveis de expressão dessa ponteira que limita a aplicação e cria
(24)
proteína . sucção a vácuo sobre o volume
Estudo sobre a definição da tecidual submetido à baixa
via de sinalização responsável pela temperatura são capazes de reduzir
termogênese em adipócitos marrons a resposta neural, mas ainda assim,
demonstrou que a ativação de os níveis de noradrenalina podem
receptores beta adrenérgicos pelo ser alterados por via reflexa ou por
frio ou pelo uso de agonistas do resposta hipotalâmica, talvez o
receptor B3, levou ativação da suficiente para ativação de
adenilato ciclase e formação de receptores beta 3 induzindo a
AMPc(25). O AMPc causou a expressão de irisina em outros tipos
ativação da proteína PKA, celulares, conforme foi relatado para
provocando lipólise com liberação adipócitos brancos(17,24). Assim
de ácidos graxos e ativação da como também foi relatado em
proteína p38 MAPK. Tanto os fibroblastos(17).
ácidos graxos quanto a p38 MAPK Outra questão é a
causam ativação de receptores possibilidade de resistência à irisina,
nucleares PPAR alfa, responsáveis conforme relatado em estudos
pela expressão da proteína envolvendo modelo animal. No
desacopladora de mitocôndria entanto, como a criolipólise não é
(UCP1) e o fator de transcrição indicada em indivíduos obesos, isto
PGC1alfa. Como o PGC1 alfa é o favoreceria a ação da irisina
fator mais importante que leva à produzida pela exposição ao
expressão de FNDC5 e irisina, não frio(17,26-28).
seria possível uma mesma via ou Por fim, como após
via de sinalização similar que esfriamento, provavelmente a
levasse à síntese de irisina em vasoconstrição perdura, o efeito da
adipócitos brancos em baixas noradrenalina e outros fatores,
temperaturas ou pela ativação de como FGF21, devem agir
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intensamente na produção de efeito de mediadores devem agir


irisina. intensamente na produção de
irisina. De acordo com a avaliação
CONCLUSÃO do trabalho, há possibilidades de
transformação de adipócitos
A baixa temperatura gerada brancos por indução da irisina, que
pela criolipólise não alcança regiões deve apresentar níveis elevados
mais profundas, sendo pouco pela baixa temperatura e ação de
provável a secreção de irisina pelo mediadores em fibroblastos ou nos
músculo esquelético. No entanto, há próprios adipócitos brancos durante
relatos da expressão de irisina em a criolipólise.
outros tipos celulares, como em Novos estudos utilizando
fibroblastos e nos próprios modelos “in vitro” devem ser feitos
adipócitos brancos. na tentativa de identificar e
A exposição ao frio leva a caracterizar receptores de irisina.
liberação de mediadores locais Outros trabalhos utilizando
como a noradrenalina e o fator de modelos animais também devem
crescimento de fibroblastos (FGF ser realizados na tentativa de
gene 21) que favorecem a secreção identificar alterações morfológicas
de irisina por adipócitos ou relacionadas com o surgimento de
fibroblastos no local da criolipólise. tecido marrom a partir de
A resistência à irisina foi procedimento correspondente à
encontrada em vários estudos criolipólise em humanos. Inclusive,
envolvendo animais obesos, esses estudos favoreceriam a
semelhante ao que acontece com constatação de que nenhuma célula
insulina e leptina, no entanto, a poderia sofrer lesões em seu
criolipólise não é aplicada nessa material nuclear sem posterior
condição em humanos, o que apoptose.
favoreceria a ação da irisina na
transformação de adipócitos REFERÊNCIAS
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