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GEOGRAFIA

PROFESSOR: JOÃO FELIPE


OBJETIVO DA AULA: Analisar a importância da atividade industrial para a organização do Espaço Geográfico
e as modificações na DIT associadas ao reordenamento territorial pós-fordista.
PONTO DO EDITAL ABORDADO: 3; 3.1;3.3;

Aula 05
Geografia Econômica: a divisão Internacional do trabalho

1. PAÍSES CENTRAIS E PERIFÉRICOS – A RELAÇÃO DESIGUAL

 A industrialização original:

A divisão internacional (ou territorial) do trabalho (DIT) surgiu com a atividade industrial
(da Revolução Industrial inglesa até, aproximadamente, a IIGM). No início, a produção industrial era
concentrada em poucos países e desenvolvida apenas em determinadas áreas desses países. A matéria-
prima utilizada, geralmente, vinha de outro lugar. Nesse sentido, na medida em que o mundo se tornava
mais integrado, a DTI definia “papéis” para cada local do mundo: os que produziam e os que cediam
matérias-primas.
Essa divisão foi totalmente superada à medida que o processo produtivo tornou-se bem
mais complexo com as cadeias globais de valor: as etapas da produção deixaram de ser concentradas (em
níveis nacional e internacional), tornando-se segmentadas.

 As tradicionais concentrações industriais:

- O nordeste dos EUA e o sul dos Grandes Lagos;

- O Vale do Ruhr (Alemanha);

- O Vale do Sena (França);

- O Triângulo Industrial da Itália;

- A megalópole de Tokkaido (Japão);


Concentrações industriais nos EUA

 Nesses locais havia sempre algum fator marcante (potencial hídrico, presença de carvão, etc.) que
facilitava a produção.
 Com as novas tecnologias, houve a flexibilização da produção (no meio técnico-científico-
informacional). Porém, isso não significa que atualmente as indústrias possam ser instaladas em
qualquer lugar. A segmentação também não é feita de maneira aleatória, ou seja, as partes do
processo produtivo podem ser executadas em diferentes locais/países, mas essas localizações
são escolhidas considerando as vantagens de se produzir em cada uma.
 Algumas regiões de antiga concentração industrial tornaram-se decadentes (Ex: obsolescência de
Detroit = aumento do desemprego). A economia criativa pode reverter esse quadro, mas a
produção de alguns produtos não é mais vantajosa (ex.: produzir Iphone nos EUA em vez de
produzir na China). Por outro lado, outras metrópoles industriais passaram por uma reconversão
produtiva eficiente, como foi o caso de Chicago, São Paulo, Londres etc.

 A tese do triângulo locacional (Alfred Weber)

 Localização não flexível: a tese propõe o estabelecimento de um triângulo cujos vértices


representam a localização do mercado consumidor, a localização das fontes de matérias-primas e
energia, e a localização da indústria. Esta última seria estrategicamente escolhida no ponto do
triângulo mais vantajoso ( ou no centro, considerando as distâncias dos demais).

 Essa tese tornou-se totalmente obsoleta, uma vez que as tecnologias de comunicação e transporte
flexibilizaram a localização da indústria. Ou seja, o triângulo poderia representar o mundo todo.
 OBS: Reitera-se que essa flexibilidade da produção não significa a perda de importância do lugar,
que continua seguindo uma lógica.

 Industrialização Tardia e nova DIT

Os países mais desenvolvidos fizeram a industrialização tradicional/clássica (séculos XVIII


e XIX). Mas alguns países periféricos também conseguiram passar por uma expansão industrial em
meados do século XX, a chamada industrialização tardia, que não reproduziu a industrialização original
inglesa, e que não necessariamente os levou a um alto padrão de desenvolvimento. Enquanto a
industrialização clássica foi lenta (países desenvolviam tecnologia) a retardatária foi muito rápida
(importavam tecnologia).
A nova DIT, portanto, embora favoreça a fabricação de produtos em vários locais (com
o uso de tecnologia alheia), não necessariamente gera desenvolvimento, pois este é baseado no
desenvolvimento de tecnologias.

 Dentre os países de industrialização tardia, dois grupos distintos podem ser


apontados:

- Países grandes (ex.: Brasil, Argentina, México, África do Sul e Índia*) -> Modelo de substituição de
importações;

- Países asiáticos (Tigres Asiáticos originais e novos Tigres -> Coreia, Singapura, Hong Kong e Taiwan;
posteriormente, a China e o Vietnã, por exemplo) -> Modelo de plataforma de exportações.

*A Índia acabou mudando para o modelo de plataforma de exportações.

Observações:

 Em meados dos anos 50, fazia mais sentido imaginar que os países grandes, que adotaram o
modelo de industrialização por substituição de importações, se tornariam mais desenvolvidos:
tinham maiores mercados consumidores e produziam para dentro (maior autonomia no processo).
Os asiáticos, por sua vez, ao servirem como plataforma de exportação, produziam para mercados
externos.

 Ambos os grupos utilizavam tecnologia estrangeira, mas a grande diferença que tornou esses
últimos mais desenvolvidos que os primeiros foi o grande investimento que fizeram em educação
e pesquisa, que os permitiu alcançar outras etapas da industrialização e o consequente
desenvolvimento.

 Tese dos gansos voadores: nos anos 1950 e 1960, o país asiático que produzia artigos muito
baratos era o Japão. Ao investir em educação e pesquisa, o país começou a fabricar produtos mais
sofisticados (ex.: produtos eletrônicos da Sony), abrindo espaço para o papel de produtor de
artigos baratos à Coreia. Esta reproduziu o modelo de investimentos japonês, elevando sua
produção (ex.: Hyundai, Samsung, etc.), transferindo ao Vietnã, Tailândia e Indonésia. A China, do
mesmo modo, passou de produtora de produtos de baixa qualidade para uma grande potência
industrial a partir dos investimentos em educação, pesquisa e tecnologia.

 Geovane Arrigue, em sua obra “O longo século XX”, caracterizou esse processo como “economia de
transbordamento” -> cada país transbordou o modelo a outros, sucessivamente.

 A China iniciou o processo de transição em 1978 com as reformas econômicas de Deng Xiaoping.
Nesse período, o país foi aberto ao capital estrangeiro, atraído cada vez mais pela farta e barata
mão de obra e investimentos estatais na produção. Desse modo, alcançou as etapas mais
avançadas de produção mais rapidamente que os demais países.
Por que produzir uma simples caneta esferográfica ainda é um desafio na China?

A China enviou foguetes ao espaço, produziu milhões de smartphones e fabricou trens de alta velocidade mas, até
hoje, não tinha conseguido avançar em um setor: a produção de canetas esferográficas.
Há um ano, o primeiro-ministro, Li Keqiang, fez um pronunciamento em rede nacional de televisão lamentando o
fracasso do país na produção de uma versão de boa qualidade de uma simples caneta.
De acordo com Li, as canetas produzidas no país eram "ásperas" quando comparadas com as fabricadas na
Alemanha, Suíça e Japão.
O problema não está na tinta ou no corpo do objeto, mas na ponta, a bolinha que espalha a tinta enquanto a pessoa
escreve.
Parece um dispositivo simples, mas para sua fabricação são necessárias máquinas de alta precisão e sólidas placas de
aço que sejam muito finas.
Para resumir: o aço chinês não é suficientemente bom para fabricação destas placas. E é por isso que o país ainda
luta para dar uma forma mais adequada às pontas das canetas esferográficas.(...)
Na verdade, a capacidade de fazer uma boa esferográfica não é tão importante assim para a China.
O governo está muito mais preocupado é com a fabricação de produtos inovadores e de alta tecnologia, um dos
pontos principais do programa "Made in China 2025", criado para acelerar o crescimento interno.
E objetos de valor relativamente baixo, como as canetas esferográficas, não são prioridade.
Mas o mistério da fabricação destas canetas tinha um caráter simbólico.
Apesar de produzir mais da metade do ferro-gusa e do aço do mundo, a China continuava dependendo, em grande
medida, das importações de aço de alta qualidade.
O premiê Li dizia que essa falha mostrava a necessidade de o país melhorar sua capacidade de manufatura.(...)
http://www.bbc.com/portuguese/internacional-38585645 11-01-2017

NOVA DIT -> não considera se há indústria ou não, mas sim se há domínio tecnológico e a
mão de obra qualificada.

2.1 A NOVA DIT: CENTRO, PERIFERIA E CENTRO-PERIFERIA:

“O que chamo de mais nova divisão internacional do trabalho será disposta em quatro posições diferentes
na economia informacional/global:

1. produtores de alto valor com base no trabalho informacional;

2. produtores de grande volume, baseados no trabalho de mais baixo custo;

3. produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e os

4. produtores redundantes, resumidos ao trabalho desvalorizado.

A localização vantajosa desses diferentes tipos de trabalhos também determina a prosperidade dos
mercados, uma vez que a geração de renda dependerá da capacidade de criar valor incorporado em cada
segmento da economia global. A questão crucial é que essas posições diferentes não coincidem com países.
São organizações em redes e fluxos, utilizando a infra-estrutura tecnológica da economia informacional.
Representam concentrações geográficas em algumas áreas do planeta, de forma que a economia global é
diferenciada geograficamente. Entretanto, a mais nova divisão internacional do trabalho não ocorre entre
países, mas entre agentes econômicos localizados nas quatro posições, ao longo de uma estrutura global de
redes e fluxos.”

(Castells,Manuel- A sociedade em rede-1999- Página 160)


 Indicação de leitura: “A condição pós-moderna” – David Harvey

 Modelo fordista e pós-fordista

 O modelo fordista foi marcado pela rigidez da produção. Características:

-> rigidez na localização das indústrias;

-> rigidez dos produtos: pouca variação de produtos e grandes estoques (produção em massa).

-> rigidez sobre o trabalhador: alienação -> só realizava uma atividade repetidamente;

-> Just in case -> produção local de tudo o que fosse necessário e estoque para vender posteriormente;

-> Todas as etapas da produção eram feitas em grandes fábricas, no mesmo lugar.

-> A lógica fordista tratava os trabalhadores como potenciais consumidores, por isso, melhorar salários era
preferível a demiti-los;

-> Esse modelo minou as possibilidades de maiores ganhos para os capitalistas, pois, as vendas eram feitas
em grande escala, mas os custos de produção eram altos e a mão de obra era muito cara (havia força
sindical).

FORDISMO:

• O taylorismo (anterior);

• A produção em série;

• A rigidez do sistema produtivo;

“por trás de todos esses traços específicos de rigidez, havia uma configuração muito pesada e
aparentemente fixa do poder político e das relações recíprocas, que atou em larga escala as grandes
massas de trabalhadores, o grande capital e o governo no que cada vez mais se assemelhou a um nó
disfuncional de interesses adquiridos, definidos de forma tão estrita que mais fizeram minar do que
garantir a acumulação de capital.”

(Harvey, David-A condição pós-moderna)

 Fordismo periférico:

-> engenharia externa (produziam réplicas dos produtos estrangeiros, com tecnologia estrangeira - não
havia tecnologia própria);

-> consumo apenas das classes médias (não houve consumo em massa);

-> Questão social: a produção voltava-se, necessariamente, para o consumo em massa. Entretanto, o
padrão de renda de grande parte dos cidadãos dos países periféricos não os permitia o consumo de muitos
desses produtos (ex.: automóveis, eletrodomésticos, etc). Logo, não se pode falar em fordismo pleno na
periferia.

“Trata-se de um autêntico fordismo, com a união da acumulação intensiva e do crescimento dos


mercados do lado de bens de consumo duráveis. Mas permanece periférico, primeiro no sentido em que,
nos circuitos mundiais dos ramos produtivos, os postos de trabalho e as produções correspondentes aos
níveis da fabricação qualificada e, sobretudo, da engenharia permanecem largamente exteriores ao país.
Por outro lado,os mercados correspondem a uma combinação específica do consumo das classes médias
modernas locais e das exportações para o centro desses mesmos produtos manufaturados a baixo preço.”

(Benko, Georges- Economia Espaço e globalização- página 237)

 O modelo pós-fordista (Toyotismo)

-> Com os avanços tecnológicos, foi possível encontrar mão de obra mais barata em outros locais, e,
consequentemente, diminuir os custos totais de produção. Surgia a fragmentação produtiva, que superou
o modelo rígido fordista (chamado de Toyotismo, pois, a empresa Toyota foi a primeira a adotar esse
padrão de produção).

->Produção em rede -> Surgem as cadeias globais de valor;

-> Just in case -> produção e venda (produzir apenas o que vai vender, a partir de uma cadeia de
suprimentos -> sem grandes estoques, como no fordismo);

-> Surgem os tecnopólos;

-> Apesar da flexibilização, o toyotismo é caracterizado pela grande pressão sobre os trabalhadores (mais-
valia);

-> Para Harvey, esse modelo foi chamado de “acumulação flexível”: o acúmulo de capital advinha da
flexibilização da produção espalhada pelo território.

-> A desterritorialização (T-D-R): a produção era territorializada em determinado local; é


desterritorializada quando, a partir de novas tecnologias, há fuga de produtores dos altos custos de
produção que esse local proporciona; é reterritorializada em outro local.

OBS: como sabemos, o espaço geográfico é moldado segundo a relação espaço-natureza (uso). Com as
novas tecnologias, as mudanças nele se tornaram cada vez mais rápidas; Ademais, se por um lado houve
mais integração no mundo devido às novas tecnologias, por outro, segundo Milton Santos, houve
fragmentação, pois muitas áreas continuam marginalizadas dos principais fluxos tecnológicos, produtivos,
econômicos, etc. -> Descentralização da produção e centralização do poder.
2. A MUNDIALIZAÇÃO DA ECONOMIA

 A formação de oligopólios mundiais -> multinacionais;


 Mundialização da economia;
 Transnacionalização do capital;

Após a IIGM, o capital concentrado em uma escala transfronteiriça permitiu a união ou compra de
empresas por outras. Ou seja, além do capital transnacionalizado, a produção tornou-se transfronteiriça
(mundialização da produção).

3. SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL

 Características:

 Terciarização: dos trabalhadores e do PIB;

Fabricar produtos já não favorece a contratação de tantos trabalhadores como antes. Há, então, um
processo de terciarização -> avanço da contratação de mão de obra no setor terciário (OBS: não é
terceirização);

 Setor primário -> agricultura, extrativismo e pecuária -> sociedade rural;


 Setor secundário -> indústria e bens duráveis-> sociedade urbana
 Setor terciário -> serviços e comércio (com componentes de renda variáveis) ;
 Setor quaternário -> pesquisa e alta tecnologia;

Exemplo1 : No gráfico, o agronegócio não é limitado ao setor primário. Parte do “PIB do agronegócio” está
nos outros setores.
Exemplo2: A economia se tornou mais terciária -> “quem comanda” a economia está neste setor;
Desse modo, percebe-se que fabricar já não é a atividade mais lucrativa. É mais importante
elaborar o produto.

 Produção em um lugar e consumo em outro;


 A sociedade da comunicação;
 Fixos e nexos (fluxos):

“Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que,
graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como
informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação”.

(Milton Santos)

CACD
(1ª fase 2015- modificada) A aparição das chamadas cidades mundiais e das cidades globais se explica pela
necessidade de organização e controle da economia global. O termo cidade global, em sua versão mais
topológica, é definido por Saskia Sassen como um território onde se exerce uma série de funções de
organização e controle na economia global e nos fluxos de investimentos em escala planetária. O. Nel.Lo e F.
Muñoz. El proceso de urbanización. In.: Geografía humana, J. Romero et al (Coord.). Barcelona: Ariel, 2008, p.
321 (com adaptações).

Considerando a perspectiva conceitual de Saskia Sassen, julgue (C ou E) os itens seguintes, relativos a cidades
globais.

1. (C) A dinâmica fundamental do novo processo de urbanização pressupõe que, quanto mais a
economia for globalizada, maior será a convergência de funções centrais nas cidades globais, cuja
densidade demográfica elevada expressa espacialmente essa dinâmica.
2. (C) A dispersão territorial das atividades econômicas contribui, por meio, por exemplo, de tecnologias da
informação, para o crescimento das funções e das operações centralizadas nas cidades globais.

3. (C) A globalização econômica contribui para uma nova geografia da centralidade e da marginalidade,
tornando as cidades globais lugares de concentração de poder econômico, ao passo que cidades que foram
centros manufatureiros experimentam nítido declínio.

 LEITURAS:

Leitura Obrigatória: HARVEY, David. Condição pós-moderna: Uma pesquisa sobre as origens da Mudança
Cultural. Edições Loyola. Parte II - Transformação político-econômica do capitalismo - Cap.7 - "Introdução";
Cap. 8 - " O fordismo"; Cap.9 - " Do fordismo à acumulação flexível"; Cap. 10 - "Teorizando a transição";
Cap. 11 - "Acumulação flexível". P 117-184.
Leitura Complementar: BENKO, Georges. Economia, Espaço e Globalização na aurora do século XXI. Editora
Hucitec. Cap.5- Emergència de um novo sistema produtivo. P. 105-130

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