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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM LINGUÍSTICA

O GÊNERO RESUMO EM ARTIGOS CIENTÍFICOS: uma análise dos movimentos


retóricos

CHRISTINE MELLO MINISTHER REIS

RIO DE JANEIRO

FEVEREIRO/2016
CHRISTINE MELLO MINISTHER REIS

O GÊNERO RESUMO EM ARTIGOS CIENTÍFICOS: uma análise dos movimentos


retóricos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Linguística da Universidade Federal
do Rio de Janeiro - UFRJ, Faculdade de Letras, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de mestre em Linguística.
Orientadora: Maria Cecilia de Magalhães Mollica

RIO DE JANEIRO
FEVEREIRO/2016
FICHA DE CATALOGAÇÃO

Ministher, Christine Mello.


O gênero resumo em artigos científicos: uma análise dos
movimentos retóricos/Christine Mello Ministher Reis. Rio de Janeiro:
UFRJ/PÓS-LING, 2016.
x, 89 f
Orientadora: Maria Cecilia de Magalhães Mollica
Dissertação (mestrado) UFRJ/ Faculdade de Letras/ Programa de Pós-
Graduação em Linguística, 2016.
Referências: 86-89 f
1. Gênero textual. 2. Resumo científico. 3. Análise dos movimentos
retóricos. I. Mollica, Maria Cecilia de Magalhães. II. UFRJ/ Faculdade de
Letras/ Programa de Pós-Graduação em Linguística. III. Título.
iii

CHRISTINE MELLO MINISTHER REIS


O GÊNERO RESUMO EM ARTIGOS CIENTÍFICOS: UMA ANÁLISE DOS
MOVIMENTOS RETÓRICOS
Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de mestre em Linguística.

Data da aprovação
_____/_____/_________

Banca Examinadora:

___________________________________________________________________
Prof.ª Dra. Maria Cecilia de Magalhães Mollica
Presidente/Orientadora – PPGL - UFRJ

___________________________________________________________________
Prof.ª Dra. Tânia Conceição Clemente de Souza – PPGL - UFRJ

___________________________________________________________________
Prof.ª Dra. Vânia Lisboa da Silveira Guedes – PPGCI - UFRJ

___________________________________________________________________
Prof.º Dr. Gean Nunes Damulakis - PPGL - UFRJ

___________________________________________________________________

Prof.ª Dra. Cynthia Aparecida Pereira Patusco Gomes da Silva


iv

Dedico esta dissertação ao meu amado filho.


v

AGRADECIMENTOS

Agradeço infinitamente a Deus por mais esta vitória, por me carregar nos
braços nos momentos mais difíceis, em que eu já não tinha mais forças, e por me
fazer cruzar a linha de chegada.
À minha mãe que, mesmo estando distante, estava sempre ligando, torcendo
e orando por mim.
Em especial, meu agradecimento à professora Dra. Maria Cecilia de
Magalhães Mollica por ter aceitado ser minha orientadora.
Aos professores doutores que aceitaram fazer parte da banca examinadora
da minha dissertação.
Por fim, agradeço aos amigos Bruno Araújo, Fábio Marçal e Marisa Soares
pela amistosa parceria trilhada nessa fase.
vi

Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades,


lembrai-vos de que as grandes coisas do homem
foram conquistadas do que parecia impossível.

Charles Chaplin
vii

RESUMO

MINISTHER, Christine Mello. O gênero resumo em artigos científicos: uma análise


dos movimentos retóricos. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras - UFRJ, 2016.
Dissertação (Mestrado em Linguística).

Atualmente, muitos estudiosos têm falado e escrito a respeito de produção de texto e


gêneros textuais, no entanto poucos progressos reais têm sido alcançados nessa
área. Docentes e discentes vivem em busca do tão almejado sucesso na produção
textual acadêmica. Diante desse panorama, busca-se analisar como está a produção
textual dos graduados e pós-graduados Brasil afora. Os objetivos desta dissertação
são os de analisar a produção do gênero resumo que integra os artigos científicos de
periódicos e propor sugestões que contribuam para uma produção mais consciente e
eficaz do gênero ora em foco. Para realizar esta pesquisa, utilizou-se, como método
de análise, o modelo dos cinco movimentos retóricos potencialmente presentes em
um resumo de artigo científico, proposto por Swales & Feak (2009). Os resumos de
artigos científicos que compõem a amostra deste trabalho foram extraídos de revistas
Qualis A2, periódicos muito bem pontuados pela Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os resultados encontrados mostram que
apenas 13.33% dos resumos analisados possuem quatro dos cinco movimentos
possíveis e que nenhum resumo possui os cinco movimentos. Conclui-se, pois, que
os produtores de resumos de artigos científicos, em sua maioria, não dominam o
gênero em tela.

Palavras-chave: Gênero textual. Resumo científico. Movimentos retóricos.


viii

ABSTRACT

MINISTHER, Christine Mello. O gênero resumo em artigos científicos: uma análise


dos movimentos retóricos. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras - UFRJ, 2016.
Dissertação (Mestrado em Linguística).

Currently, many scholars have spoken and written about text production, textual
genres, but little effective progress has been made in this area. We aimed to analyze
Brazilian undergraduate and graduate students’ text production. This work aims to
analyze the production of abstracts, a genre that makes part of scientific papers, as
well as to propose suggestions that may contribute to a more conscious and efficient
production concerning this genre. For this research, we have adopted as a
methodology the five rhetorical moves model, potentially present in abstracts,
proposed by Swales & Feak (2009). The abstracts analyzed in this study have been
taken from “Qualis A2” journals, according to Coordination for the Improvement of
Higher Education Personnel (CAPES). The results show that only 13.33% of the
abstracts analyzed had four of the five possible moves, and none of them had all those
moves. We may conclude, therefore, that most producers of the scientific articles
abstracts does not master the genre in focus.

Key-Words: Textual genre. Abstract. Rhetorical moves.


ix

SUMÁRIO

Lista de tabelas ......................................................................................................... x


INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
1. QUESTÕES, OBJETIVOS E HIPÓTESES ........................................................... 13
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .............................................................................................. 14
2.1. Tipologia Textual na visão tradicional ............................................................. 15
2.2. Uma nova proposta de classificação de Tipologia Textual e sua correlação
com os Gêneros Textuais ..................................................................................... 19
2.3. Novo quadro de Tipologias Textuais: conceitos e características ................... 22
2.3.1. Descritiva .................................................................................................. 22
2.3.2. Narrativa ................................................................................................... 23
2.3.3. Expositiva ................................................................................................. 25
2.3.4. Argumentativa ........................................................................................... 26
2.3.5. Argumentativa-persuasiva ........................................................................ 27
2.3.6. Injuntiva .................................................................................................... 28
2.4. Gênero discursivo e gênero textual, há diferença? ......................................... 29
2.5. Gênero Textual ............................................................................................... 33
2.6. O gênero “Resumo” ........................................................................................ 35
2.7. O gênero resumo segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas -
ABNT (NBR 6028/2003) ......................................................................................... 38
2.8. O resumo de artigos científicos na perspectiva de Swales e Feak ................. 42
3. AMOSTRA ................................................................................................................................... 44
4. METODOLOGIA ........................................................................................................................ 45
5. ANÁLISE ...................................................................................................................................... 47
6. RESULTADOS ........................................................................................................................... 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 84
REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 86
x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição dos movimentos retóricos das três áreas do conhecimento que
foram analisadas: Urbanismo, Direito e Artes, 77

Tabela 2: Distribuição dos movimentos retóricos por área do conhecimento:


Urbanismo, 77

Tabela 3: Distribuição dos movimentos retóricos por área do conhecimento: Direito,


77-78

Tabela 4: Distribuição dos movimentos retóricos por área do conhecimento: Artes, 78

Tabela 5: Média da quantidade de palavras por área do conhecimento, 78

Tabela 6: Distribuição da quantidade de movimentos retóricos por área do


conhecimento, 79-80

Tabela 7: Distribuição percentual da quantidade de movimentos retóricos presentes


nos resumos, 80

Tabela 8: Frequência das construções metadiscursivas e autorreferentes, 81

Tabela 9: Frequência de verbos e pronomes de primeira pessoa nas construções


autorreferentes, 81

Tabela 10: Percentual de verbos e pronomes de primeira pessoa nas construções


autorreferentes, 81
11

INTRODUÇÃO

Após a invenção da escrita, cerca de cinco mil anos atrás, a sociedade,


paulatinamente, passou a se organizar influenciada por esta modalidade da
linguagem. A escrita torna-se uma das formas pública de comunicação. Assim sendo,
não basta saber tão somente se comunicar através da linguagem oral, emerge a
necessidade de se ter uma sociedade dotada de domínio da modalidade escrita.

Na atualidade, é imprescindível que todos os cidadãos busquem


aprimoramento de suas capacidades e habilidades, a fim de que possam melhor se
colocar no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo. Então, torna-se imperioso
completar o Ensino Fundamental, mas isso só não basta, é preciso ter o Ensino Médio,
ainda assim, ter apenas o Ensino Médio completo, não é suficiente, é preciso ter, no
mínimo, uma graduação. A graduação também é ainda insuficiente, é preciso ir além,
ter pós-graduação: mestrado, doutorado, pós-doutorado. Quando o indivíduo chega
ao Ensino Superior, em teoria, ele já passou pelos crivos básicos de letramento,
entretanto, na prática, esse ser, ao alçar um espaço nas universidades, se depara
com uma grande dificuldade de se expressar, tanto em língua falada, quanto –
mormente – em língua escrita.

Ante ao que foi exposto é que se coloca a problematização desenvolvida nesta


dissertação, resumida nas seguintes questões: Como são produzidos os textos?
Como é elaborado o gênero resumo? Como é elaborado o gênero “resumo” que
integra o artigo científico? Quais estratégias retóricas estão em jogo quando da
produção do resumo de um artigo científico?

Assim, objetiva-se, precipuamente neste trabalho, analisar como os resumos


são produzidos e identificar a macroestrutura que os compõem. Busca-se desvendar
que movimentos retóricos estão presentes, para, em seguida, sugerir critérios que
possam contribuir para a construção mais eficiente do gênero “resumo” em artigos
científicos.

As hipóteses para os questionamentos anteriormente feitos são:

a) existe uma superestrutura, uma macroestrutura retórica que norteia o


gênero resumo;
12

b) a maioria dos produtores de resumos científicos a desconhecem.

A justificativa para o desenvolvimento do tema ora proposto se dá ante a


observação das rotineiras situações angustiantes vivenciadas por alunos e
professores, quando da produção de um texto. De um lado, há o aluno (seja ele do
Ensino Médio, graduando e até mesmo pós-graduando) angustiado por se sentir
incapaz de escrever o seu resumo; do outro, há o docente ansioso por não alcançar
o tão almejado sucesso escolar/acadêmico pelo seu discente. Sendo assim, esta
pesquisa se faz relevante, uma vez que busca explicitar a superestrutura retórica que
há por trás do resumo do artigo científico e sugerir critérios para que sua elaboração
seja feita com maior proficiência.

Para alcançar os objetivos traçados, lança-se mão de pressupostos teóricos


da Linguística Textual, do Funcionalismo e da Sociolinguística. Busca-se identificar,
especificamente, a perspectiva dos cinco movimentos retóricos elaborada por Swales
& Feak (2009), que serve como a principal base do arcabouço teórico desta pesquisa.

Como corpus de análise, selecionaram-se aleatoriamente trinta resumos de


artigos científicos, publicados em três periódicos on-line, com classificação Qualis A2,
distribuídos nas seguintes áreas do conhecimento: dez de Urbanismo; dez de Direito
e dez de Artes.

O texto da presente dissertação estrutura-se da seguinte maneira: no capítulo


um, encontram-se as questões, os objetivos e as hipóteses que justificam tal pesquisa;
no capítulo dois, são expostos os pressupostos teóricos que norteiam a linha de
pesquisa aqui desenvolvida; no capítulo três, explica-se a amostra; no capítulo quatro,
explicita-se a metodologia, no capítulo cinco, são feitas as análises, no capítulo seis,
expõem-se e discutem-se os resultados, por fim tecem-se as considerações finais,
seguidas das referências.
13

1 QUESTÕES, OBJETIVOS E HIPÓTESES

Nesta seção da dissertação, são expostas as questões, os objetivos e as


hipóteses que justificam a pesquisa ora realizada.

As questões, ora feitas, que justificam esta pesquisa são: a) como são
produzidos os textos? b) em especial, como são produzidos os resumos que integram
os artigos científicos? c) os graduados e pós-graduados elaboram os resumos dos
artigos científicos, publicados em periódicos, de forma eficiente?

Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é analisar trinta resumos de


artigos científicos de três áreas do conhecimento, escolhidas aleatoriamente: dez de
Artes, dez de Direito e dez Urbanismo, a fim de verificar se os graduados e pós-
graduados produzem os resumos de forma eficiente, à luz do modelo dos cinco
movimentos retóricos potencialmente presentes nos resumos de artigos científicos, de
acordo com a perspectiva postulada por Swales e Feak (2009). O critério para seleção
dos periódicos foi a pontuação que tais revistas científicas obtiveram pela CAPES, ou
seja, todos os resumos aqui analisados foram retirados de periódicos que possuem
classificação Qualis A2. Em seguida, objetiva-se sugerir critérios que contribuam para
uma produção textual mais eficiente do gênero em tela.

As hipóteses deste trabalho são:

a) existe uma macroestrutura retórica presente nos resumos de artigos científicos,


independentemente da área do conhecimento em que tais resumos estão
inseridos;
b) os autores de resumos, em sua maioria, não a conhecem.

Em suma, pretende-se, ao final deste trabalho, confirmar ou refutar as


hipóteses levantadas e responder as questões que justificam esta pesquisa. Além
disso, almeja-se sugerir critérios que possivelmente servirão de auxílio para a
produção do gênero em foco neste trabalho.
14

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Os pressupostos teóricos que norteiam esta dissertação encontram base na


Linguística Textual, no Funcionalismo e na Sociolinguística, esta última numa
abordagem de fenômenos discursivo-pragmáticos. Nos dizeres de Tagliomonte (2012,
p. 247): “tem havido, na Sociolinguística, uma grande onda de interesse em recursos
discursivo-pragmáticos ao longo dos últimos quinze anos”.

Os principais autores que servem de arcabouço teórico para esta pesquisa


são: Bazerman (2011), Marcuschi (2008, 2010a, 2010b), Maingueneau (2013),
Bronckart (1999) e Swales & Feak (2009).

Segundo Bazerman (2011, pp. 16-17):

[...] Descrições linguísticas da variedade escrita da linguagem procuram


grandes padrões de uso linguístico, frequentemente distinguidos por funções
amplas – tais como a narrativa, a descrição, o argumento, o relato,
independente desses padrões da linguagem serem chamados de texto ou
gênero. Outras caracterizações linguísticas da variação (chamados registros)
são baseadas nas distinções de agrupamentos e ocasiões sociais. Essas
caracterizações funcionais e sociais normalmente se aplicam a sequências
de palavras em vez de organizações maiores de documentos, embora alguns
trabalhos linguísticos enfoquem o enunciado ou a declaração completa, tais
como os trabalhos [...] de Swales [...].

Com base em Bazerman, pode-se asseverar que à Sociolinguística cabe não


somente analisar sequências de palavras, distinções de agrupamentos e ocasiões
sociais, mas também analisar organizações maiores de documentos como Swales &
Feak o fazem.

Para Bazerman (2011, p. 17):

[...] A regularidade da variação linguística em vez de ser vista como derivada


de funções gerais ou das variáveis sociais presumidas surge da tipificação de
circunstâncias e práticas. [...] O foco está no enunciado limitado, reconhecível
como um texto completo – uma matéria jornalística, um relatório do governo,
um trabalho final em sociologia ou um tratado de vários volumes. [...]

É de acordo com a Linguística Textual, com o Funcionalismo e com uma


abordagem Sociolinguística, não limitada a funções gerais ou a variáveis sociais
15

presumidas, mas voltada para a tipificação de circunstâncias e práticas, focada num


enunciado reconhecível como um texto completo, é que se desenvolvem os
pressupostos teóricos deste trabalho.

2.1 Tipologia Textual na visão Tradicional

Tradicionalmente, a tipologia textual é classificada em três tipos básicos de


textos: a narração, a descrição e a dissertação. Em alguns manuais, podem ser
encontrados quatro tipos textuais: a narração, a descrição, a dissertação e a
dissertação-argumentativa. Conceituando tipologia textual, pode-se dizer que se trata
de tipos de textos, isto é, de sequências caracterizadas pela macroestrutura e pelas
estruturas linguísticas de sua composição.

Quando se pensa em escrever um texto sobre algo que se vivenciou, uma


viagem, uma festa, por exemplo, primeiramente é preciso decidir a macroestrutura
que vai ser usada:

* se você vai narrar os acontecimentos: “Mês passado fui pela primeira vez à
Inglaterra...” - Tipologia Narrativa;

* se você vai descrever características do lugar, das pessoas: “Na Inglaterra as


pessoas transitam sérias, sisudas, pelas ruas, não sorriem. À noite só os ‘pubs’ ficam
cheios de jovens, que em geral possuem um ar austero e conversam mormente sobre
trabalho, contudo é um lindo lugar para se viajar.” - Tipologia Descritiva;

* se você vai apresentar uma reflexão teórica acerca daquela experiência: “Ir a um
país como a Inglaterra é experimentar como um cidadão deve ser tratado de forma
digna, nas suas necessidades mais básicas, como saúde, educação e segurança.” -
Tipologia Dissertativa;

* se você vai apresentar um texto que tenha por objetivo persuadir o leitor: “Ir à
Inglaterra é uma viagem imperdível, pois é a oportunidade que o brasileiro tem de ver
o que é ser tratado como um verdadeiro cidadão, com dignidade.” - Tipologia
Dissertativa-argumentativa ou simplesmente “Tipologia Argumentativa”.
16

Após a decisão preliminar sobre que tipologia textual será usada, é preciso
decidir, como redator, que ponto de vista se adotará:

• se o autor quer se colocar no texto de alguma maneira, então lança-se mão da


primeira pessoa do discurso;
• se o autor prefere se distanciar do texto, se manter imparcial, lança-se mão da
terceira pessoa do discurso.

Outra decisão a ser tomada, na hora de escrever, porém não menos importante
que as anteriores, diz respeito ao nível de linguagem. Se o texto vai ser subjetivo,
coloquial, informal ou se será mais objetivo, com uma linguagem mais formal, com o
narrador distanciado, imparcial. Essa decisão influenciará três pontos cruciais para a
escritura do texto:

1) a escolha da estrutura linguística, que poderá ser mais simples ou mais


complexa;
2) o uso do vocabulário, que poderá ser mais erudito ou mais coloquial;
3) o modo como o texto se dirige ao leitor, chamando-o para o texto, ou
deixando-o apenas como mero espectador distanciado.

As escolhas do redator se darão de acordo com o objetivo comunicativo


pretendido e de acordo com as intenções do gênero textual a ser produzido. Mais
adiante, a noção de gênero textual será abordada de forma mais aprofundada.

Quando se decide o gênero textual a ser escrito, acaba-se por utilizar tipologias
variadas de texto. A essa miscelânea de tipologias dentro de um mesmo gênero
textual, dá-se o nome de heterogeneidade tipológica textual, conforme MARCUSCHI
(2010b, p. 33). Desse modo, dentro de um único gênero, como “carta”, por exemplo,
pode-se encontrar mais de uma tipologia textual. O exemplo abaixo ilustrará o que
acaba de ser afirmado:

Gênero: Carta

Buenos Aires, 17 de junho de 2013.

O trecho acima é descritivo.


17

Já o trecho abaixo é narrativo.

Quando cheguei ao aeroporto, o táxi já estava à minha espera, para levar-me


ao hotel. Cheguei ao hotel, a primeira coisa que fiz foi despir-me e entrar numa
banheira de espuma maravilhosa...

Com o pequeno exemplo acima, comprova-se que um único gênero (no caso em
tela: carta) pode abarcar sequências tipológicas variadas.

O exemplo acima, por se tratar de uma sequência curta de texto, só ilustra dois
tipos textuais: descrição e narração. Num texto maior, seria possível encontrar mais
que dois tipos, por isso a Tipologia Textual Tradicional com apenas três ou quatro
tipos textuais não dá conta de uma classificação adequada, fazendo-se mister ampliar
a classificação tipológica dos textos.

Sendo assim, Werlich (apud MARCUSCHI, 2010b, p. 29-30) propõe o seguinte


quadro de classificação de tipos textuais:

Tipos Textuais segundo Werlich (1973)

Bases temáticas Exemplos Traços linguísticos


1. Descritiva “Sobre a mesa Este tipo de enunciado textual tem uma
havia milhares de estrutura simples com um verbo estático
vidros” no presente ou imperfeito, um
complemento e uma indicação
circunstancial de lugar.
2. Narrativa “Os passageiros Este tipo de enunciado textual tem um
aterrissaram em verbo de mudança de passado, um
Nova York no circunstancial de tempo e lugar. Por sua
meio da noite” referência temporal e local, este
enunciado é designado como enunciado
indicativo de ação.
18

3. Expositiva (a) “Uma parte do Em (a), temos uma base textual


cérebro é o denominada exposição sintética pelo
córtex.” processo da composição. Aparece um
sujeito, um predicado (no presente) e um
(b) “O cérebro
complemento com um grupo nominal.
tem 10 milhões
Trata-se de um enunciado de identificação
de neurônios.”
de fenômenos. Em (b), temos uma base
textual denominada de exposição
analítica pelo processo de decomposição.
Também é uma estrutura com um sujeito,
um verbo da família do verbo ter (ou
verbos como: “contém”, “consiste”,
“compreende”) e um complemento que
estabelece com o sujeito uma relação
parte-todo. Trata-se de um enunciado de
ligação de fenômenos.
4. Argumentativa “A obsessão com Tem-se aqui uma forma verbal com o
a durabilidade verbo ser no presente e um complemento
nas artes não é (que no caso é um adjetivo). Trata-se de
permanente.” um enunciado de atribuição de qualidade.
5. Injuntiva “Pare!” Vem representada por um verbo no
imperativo. Estes são os enunciados
“Seja razoável.”
incitadores à ação. Estes textos podem
sofrer certas modificações na forma e
assumir, por exemplo, a configuração
mais longa onde o imperativo é
substituído por um “deve”. Por exemplo:
“Todos os brasileiros na idade de 18 anos
do sexo masculino devem comparecer ao
exército para alistarem-se”.
19

A proposta de Werlich amplia a classificação de Tipologia Textual Tradicional,


tornando mais abrangentes os tipos de textos existentes.

2.2 Uma nova proposta de classificação de Tipologia Textual e sua correlação


com os Gêneros Textuais

Antes de prosseguir com o tema Tipologia Textual e propor um quadro novo


que relaciona Tipologia Textual a Gênero Textual, cabe conceituar, de maneira
objetiva, a expressão “domínio discursivo”, muito utilizada modernamente, porém de
modo muito impreciso em alguns textos que tratam da ciência Linguística.

Nos dizeres de MARCUSCHI (op. cit., pp. 24-25):

(c) Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou


instância de produção discursiva ou de atividade humana. Esses domínios
não são textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos
bastante específicos. [...] Constituem práticas discursivas dentro das quais
podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que, às vezes, lhes são
próprios (em certos casos exclusivos) como práticas ou rotinas comunicativas
institucionalizadas.

De posse do conceito de domínio discurso, pode-se prosseguir com o tema


“Tipos Textuais” e a proposição de um novo quadro de Tipologias Textuais, que difere
muito do quadro de Werlich, uma vez que o referido autor elenca cinco tipos textuais
e os relaciona aos traços linguísticos, exemplificando-os. Já o quadro que será
proposto neste trabalho tem por objetivo precípuo ampliar para seis os tipos textuais
e relacioná-los aos gêneros textuais.

A taxonomia de que se lança mão neste estudo não pretende relacionar todos
os gêneros existentes, haja vista que o número de tipos textuais é apenas um ponto
de partida que se limita a cinco tipos, no caso de Werlich. Já os gêneros textuais
apresentam potencial quase infinito.

Também é sabido que um único gênero textual pode abarcar mais de uma
tipologia, conforme elucida Passarelli, (2011, pp. 23-24):
20

Tipo e gênero não formam uma dicotomia, mas se complementam. Um


gênero pode envolver vários tipos, como uma fábula, gênero em cujo nível
textual predominam sequências narrativas, mas também abriga a presença
de sequências descritivas (cenário, características das personagens) e do
caráter argumentativo instaurado pela sentença moral.

O quadro que se propõe abaixo esclarece a questão da relação entre tipologias


de textos e gêneros textuais e desfaz confusões de nomenclaturas, muitas vezes
redundantes e sem nexo, existentes em alguns manuais de Linguística. Busca-se, de
forma objetiva e simples, ampliar para seis os tipos textuais, relacionando as tipologias
textuais predominantes aos domínios discursivos, às práticas sociodiscursivas e aos
gêneros textuais:

Quadro 1. Tipologias e gêneros textuais

Tipologias Domínios Práticas Gêneros Textuais


textuais discursivos sóciodiscursivas
predominantes
1. Descritiva Exposição e Apresentação de currículo, boletim
caracterização propriedades, meteorológico, folheto
de objetos, qualidades e turístico, anúncios de
ambientes características de classificados, cardápio
ações ou objetos, mapa geológico, mapa
estados. ambientes, ações geomorfológico, mapa
ou estados. climático, mapa
hidrográfico, mapa
biogeográfico etc.
2. Narrativa Narração de Narração de relatos de viagens, diário
fatos e sequências íntimo, autobiografia;
experiências textuais de testemunho, notícia
experiências jornalística, ata etc.
vividas, situadas
no tempo.
21

Narração Representação fábula, conto, anedota,


literária, ficcional textual pela criação lenda, conto
imagética de maravilhoso, narrativa
enredo, mítica, romance etc.
personagens,
tempo, cenários,
situações.
3. Expositiva Produção e Divulgação de entrevista, relatório
difusão de distintos tipos de científico, verbete
conhecimentos saberes enciclopédico, artigo
científico, verbete de
dicionário, livro didático,
resumo, fichamento etc.
4. Argumentativa Debate de Sustentação, resenha, texto de
problemas refutação e tomada opinião, editorial etc.
existentes na de posição
sociedade, no
mundo
5. Argumentativa- Levantamento Sustentação, cartazes, aviso, texto
persuasiva de uma refutação, tomada publicitário, campanhas
discussão, que de posição e etc.
gera debates utilização dos
com o fito de mecanismos de
persuadir o outro persuasão para
convencer o outro
6. Injuntiva Instruções e Orientação e bula, receituário médico,
determinações determinação de receita culinária, placa
de ordens e ordens e ações de trânsito, Leis,
normas instruções de uso,
instruções de montagem
etc.
22

2.3 Novo quadro de Tipologias Textuais: conceitos e características

Nos subitens a seguir, serão expostos, de forma sucinta, os conceitos, as


características e as exemplificações de cada uma das tipologias de textos
mencionadas no quadro da subseção 2.2.

2.3.1 Descritiva

Descritiva é uma tipologia que tem por objetivo descrever características de


uma pessoa, de um objeto ou de uma dada situação, que se inscrevem em um
determinado momento estático do tempo.

É um tipo textual caracterizado:

• pela simultaneidade de enunciados, que não necessitam de uma ordem


sequencial fixa para ter sentindo;
• pela abundância de adjetivos;
• pelo fato de quando se descrevem ações, através de verbos, como respirar,
cercar etc., todas essas estão no presente, não demonstrando transformações
através do tempo, pois o tempo nesse tipo textual é estático.

Faz-se mister destacar que é um tipo textual que não costuma ser a tipologia
de predominância nos diversos gêneros textuais existentes, todavia é bem marcante
e recorrente em vários trechos de alguns textos literários, como por exemplo no livro
“O cortiço”, de Aluísio Azevedo (2010, pp. 38, 39), cujo gênero textual é o romance
realista e a sequência tipológica descritiva é bastante presente, conforme se vê no
pequeno trecho abaixo:

Cercavam-na homens, mulheres e crianças; todos queriam novas


dela. Não vinha em traje de domingo; trazia casaquinho branco, uma saia que
lhe deixava ver o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de
marroquim de diversas cores. No seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado
sobre a nuca, havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha
espetado por um gancho. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um
odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o
atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda,
pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua
fisionomia com um realce fascinador.
23

No trecho, é possível comprovar que se trata de uma sequência de tipologia


descritiva, através da característica de tempo estático. Verifica-se, ainda, a não
necessidade de uma ordem fixa nas sequências dos enunciados. Observa-se que se
a ordem dos períodos for invertida, colocada do fim para o começo, o sentido do
parágrafo não será afetado:

Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia


para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e
brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador. E toda
ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas
aromáticas. No seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca,
havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha espetado por um
gancho. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de
trevos e plantas aromáticas. Não vinha em traje de domingo; trazia
casaquinho branco, uma saia que lhe deixava ver o pé sem meia num chinelo
de polimento com enfeites de marroquim de diversas cores. Cercavam-na
homens, mulheres e crianças; todos queriam novas dela.

Atente-se também para o fato de que a ordem em que os enunciados


aparecem é apenas uma questão de estilo, não uma necessidade de ordem
cronológica para que o parágrafo faça sentido, até porque não há de se falar em ordem
cronológica, uma vez que, nesse tipo de texto, o tempo é estático.

É de extrema relevância, para se reconhecer uma sequência de tipo


descritiva, que se note que, nesse tipo textual, os verbos que exprimem ação e
movimento relatam aspectos simultâneos, não havendo progressão temporal de
anterioridade e posterioridade. O oposto ocorre no tipo narrativo, como se verá
adiante.

2.3.2 Narrativa

Nesta tipologia, relatam-se mudanças progressivas de estado que vão


ocorrendo com as coisas e as pessoas através do tempo. As ocorrências dos
enunciados aparecem seguindo uma sequência. O tempo não é estático, há uma
relação de anterioridade e posterioridade latente, que ocorre com as diversas
transformações da história através do tempo, mesmo que a que a sequência linear
apareça alterada por alguma razão, como, por exemplo, o estilo de quem escreveu.
24

Para ilustrar, pode-se citar a cronologia não linear criada por Assis na obra
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1999), cujo gênero textual é o romance, em
que o autor escreve a história começando pelo fim, com o personagem-narrador
narrando a própria morte. Tal fato não significa que não houve progressão temporal e
que se possa inverter a ordem dos períodos e parágrafos, pois se assim fosse feito, a
história ficaria sem sentido e desconexa. Machado de Assis opera uma inversão da
ordem linear, que é facilmente reconstruída pelo leitor ao longo da leitura, e nada tem
a ver com a inversão de períodos e parágrafos de forma aleatória, processada na
tipologia descritiva.

Observem-se, no Capítulo I do livro citado, as características da narração,


ASSIS (1999, p.15):

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou


pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu
não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a
campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante
e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito,
mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de


agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e
quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos
e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é
que não houve cartas e anúncios. Acresce que chovia – peneirava – uma
chuvinha miúda e triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um
daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso
que proferiu à beira da minha cova: - “Vós, que conhecesses, meus senhores,
vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda
irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade.
Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o
azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à
natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso
ilustre finado.”

O trecho acima é um exemplo da tipologia narrativa literária, ficcional.

A seguir, tem-se um exemplo da tipologia “Narrativa de fatos e experiências”,


cujo gênero textual é “ata de reunião”. A ata que segue foi extraída através de meio
eletrônico disponível em
<https://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task>. Acesso em 12 jun.
2015:
25

ATA DE REUNIÃO DO GRUPO DE TRABALHO DESIGNADO PELA


COMISSÃO DE ESPECIALISTAS EM ENSINO MÉDICO PARA ANÁLISE E
PROPOSIÇÕES SOBRE A MEDIDA PROVISÓRIA 621/2013

No dia 25 de julho de 2013, na Sala de Reuniões da Secretaria da


Educação Superior, do Ministério da Educação, reuniu-se a Comissão
designada pela Comissão de Especialistas em Ensino Médico para analisar
e apresentar proposições sobre a Medida Provisória 621/2013. Participaram
os seguintes membros: Bráulio Luna Filho, Geraldo Brasileiro Filho, Jadete
Barbosa Lampert e José da Silva Guedes, da Comissão de Especialistas em
Ensino Médico; Maria do Patrocínio Tenório Nunes, da Comissão Nacional
de Residência Médica e Henry de Holanda Campos, da Comissão de
Expansão dos Cursos de Medicina no âmbito das Instituições Federais de
Ensino Superior. Participaram, sem manifestação de voto, Gilberto Garcia, do
Conselho Nacional de Educação, Vinícius Ximenes, do Ministério da
Educação, e Felipe Proenço, do Ministério da Saúde. A reunião foi aberta
pelo Secretário da Educação Superior, Paulo Speller, que definiu os pontos
de pauta, explicitando igualmente o que era esperado como contribuição da
Comissão. Depois de exaustivas discussões os membros da Comissão
deliberaram por oferecer as seguintes recomendações: [...]

Sendo assim, de modo geral, a tipologia narrativa é caracterizada por:

• uma progressão temporal;


• uma relação de anterioridade e posterioridade;
• uma ordem cronológica, que pode ser linear ou não linear;
• certos tempos verbais que são mais recorrentes, como o pretérito perfeito
(hesitei), o pretérito imperfeito (chovia), o pretérito mais-que-perfeito (fora) e o
futuro do pretérito (poria).

2.3.3 Expositiva

Este tipo de texto é caracterizado pela construção e difusão de saberes, e


conhecimentos. Tem por objetivo expor, explicar, conceituar, transmitir informações e
conhecimentos de modo objetivo.

De modo geral, as características desta tipologia são:

• impessoalidade;
• redação em terceira pessoa do discurso;
• uso da variante padrão da língua;
26

• imparcialidade, sem a incorporação de “achismos”.

Abaixo segue um exemplo desta tipologia, cujo gênero é “verbete de


dicionário”, extraído do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio Versão 7 (2010):

expositivo

[Do lat. expositus ‘exposto’ + -ivo]

Adjetivo.

1. Respeitante a exposição.
2. Que expõe, descreve, apresenta, dá a conhecer.

2.3.4 Argumentativa

Esta tipologia analisa e interpreta dados da realidade por meio de abstrações.


A argumentação interpreta, por meio de teorias, dados concretos do mundo real.
Como a argumentação lança mão de teorias, para análise e interpretação de dados
concretos, o grau de abstração do tipo textual argumentativo é bem elevado. A priori
a argumentação não apresenta progressão temporal, mesmo assim não é possível
inverter a ordem das sequências dos enunciados, como se pode fazer na descrição,
já que implicaria na quebra das relações lógicas de sentido do texto.

De forma genérica, podem-se elencar as seguintes características desta


tipologia:

• exposição de ideias acerca de determinado assunto, através de abstrações;


• maior recorrência do tempo verbal presente (indicativo);
• uso de instrumentos, como tabelas, gráficos, dados estatísticos, autores
consagrados, que sustentem ou refutem as ideias explicitadas.

Abaixo segue um exemplo do gênero “editorial”, cuja sequência tipológica é


argumentativa, extraída do jornal Estadão de São Paulo, publicada em 16 de junho de
2015, disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-pt-expoe-sua-
crise,1706958>. Acesso em 16 jun. 2015:
27

O PT expõe a sua crise

O 5º congresso do PT serviu para confirmar que o partido vive a maior


e mais grave crise em 35 anos de existência e não consegue reagir à
tendência crescente de aprofundá-la, diante da impossibilidade de
conciliação das várias correntes que se digladiam internamente. O
documento aprovado ao final do encontro – ou desencontro, numa tradução
mais fiel ao espírito da coisa, esmera-se em salvar as aparências,
contornando as divergências, especialmente aquela em torno da política
econômica do governo e das medidas propostas pela presidente Dilma
Rousseff para botar ordem nas contas públicas, via ajuste fiscal.

[...]

2.3.5 Argumentativa-persuasiva

Este tipo textual, além de explicar, analisar e interpretar dados da realidade


concreta, através de teorias e abstrações, como na tipologia Argumentativa, tem por
objetivo primaz convencer, persuadir o seu interlocutor. Tem em vista o seu
interlocutor e sua tomada de posição de acordo com as teses defendidas neste tipo
textual.

De forma genérica, esta tipologia caracteriza-se:

• por usar recursos retórico-discursivos que levem o leitor a crer e a fazer aquilo
que o texto propõe;
• pela comprovação das teses defendidas, através do uso de citações de outros
textos legitimados que tratem o tema, o chamado “argumento de autoridade”;
• pela persuasão, saliente-se que para ser persuasiva, a tipologia em tela não
pode abstrair-se do fato de que há argumentos contrários aos nela defendidos.
Para persuadir, deve-se expor com clareza os argumentos contrários e refutá-
los com argumentos tão sólidos, que sejam quase que inquestionáveis.

Abaixo segue um exemplo da tipologia em tela, cujo gênero textual é o “texto


publicitário”, extraído de
<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/15159/imagens/2008.j
pg>. Acesso em 16 jun. 2015:
28

2.3.6 Injuntiva

Injuntiva é a tipologia que indica orientação, instrução e prescrição de ordens e


ações. É o tipo textual que vai além da simples informação, tem por objetivo instruir
ou prescrever determinada ação ou comportamento. Tal instrução ou prescrição tem
de ser seguida à risca, senão pode trazer prejuízos para aquele que pratica dada ação,
ou tem certo comportamento contrário à regra.

Genericamente, esta tipologia caracteriza-se por:

• verbos no modo imperativo;


• imposição de regras e normas.

Segue, abaixo, um exemplo do gênero “placa de trânsito”, extraído de


<http://towbar.com.br/loja/FotosProdutos_2/4993/0405201114161923644426541265
1f56we1f56ef1236r65.jpg>. Acesso em 16 jun. 2015:
29

2.4 Gênero Discursivo e Gênero Textual, há diferença?

Muitos pesquisadores usam as terminologias gênero discursivo e gênero


textual como sinônimas, todavia há de se salientar que existem autores que
distinguem um conceito do outro.

Segundo Bakhtin (1997, p. 279):

[...] Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual,


mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente
estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros
discursivos.

A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois


a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera
dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai
diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se
desenvolve e fica mais complexa. [...]

Há estudiosos que não distinguem gênero discursivo de gênero textual,


fazendo uma miscelânea desses dois conceitos. Marcuschi usa a expressão “gênero
textual”, asseverando adotar a concepção bakhtiniana, todavia Bakhtin não usa a
expressão “gênero textual”, como se observa na citação acima. Apesar de os dois
conceitos terem uma relação bastante estreita, há de se destacar que Marcuschi
atribui indiferentemente a gênero textual um conceito que Bakhtin atribui estritamente
a gênero discursivo (ou do discurso), conforme se confirma na citação abaixo em que
MARCUSCHI (2010b, p. 30) afirma que:
30

Como já lembrado, os gêneros textuais não se caracterizam como


formas estruturais estáticas e definidas de uma vez por todas. Bakhtin [1997]
dizia que os gêneros eram tipos “relativamente estáveis” de enunciados
elaborados pelas mais diversas esferas da atividade humana.

No trecho acima, percebe-se que Marcuschi faz uma citação parafraseada de


Bakhtin, porém sem distinguir que quando Bakhtin (op. cit.) se refere a “gêneros” no
seu texto original, ele alude, estritamente, a gêneros discursivos, não menciona
gêneros textuais, conforme Marcuschi deixa subentendido.

A essa altura o leitor deve estar se perguntando: “Mas então qual é a diferença
entre gênero discursivo e gênero textual? Qual a relevância em se distinguir tais
conceitos?”

O conceito de gênero discursivo proposto por Bakhtin dá ênfase ao conteúdo


temático, ao estilo e à construção composicional, porém não no vazio, mas
determinado pelas condições de produção de uma dada interlocução
sociocomunicativa.

De acordo com Maingueneau (2013), para se conceber um gênero de discurso,


é preciso estar atento às condições que envolvem elementos de ordens diversas, a
saber: uma finalidade reconhecida; o estatuto de parceiros legítimos; o lugar e o
momento legítimos; um suporte material; uma organização textual; recursos
linguísticos específicos. Dos elementos mencionados acima, vale destacar e comentar
dois deles:

a) “Uma organização textual”: todo gênero de discurso associa-se a uma


determinada ‘organização textual’. Assim sendo, Maingueneau (2013, p. 75) afirma
que:

[...] Dominar um gênero de discurso é ter consciência mais ou menos clara


dos modos de encadeamento de seus constituintes em diferentes níveis: de
frase a frase, mas também em suas partes maiores. Esses modos de
organização podem ser objeto de uma aprendizagem: a dissertação, as
anotações de síntese... se ensinam; outros gêneros, na realidade a maioria,
são aprendidos por impregnação. Um gênero elementar como um provérbio
é constituído de um só enunciado estruturado de maneira binária (“Tal pai/tal
filho”, “Quem tudo quer, tudo perder”...).
31

Desse modo, a organização textual pode ser ensinada ou aprendida por


impregnação. No caso da organização textual que pode ser ensinada, o autor destaca
que se deve atentar para os constituintes em diferentes níveis, tanto de frase a frase,
quanto em suas partes maiores;

b) Quanto aos “Recursos linguísticos específicos”, assevera o autor (ibidem,


pp. 75-76) que:

Todo gênero de discurso implica que seus participantes dominem um


certo uso da língua, caso desejem corresponder convenientemente às
expectativas. Para cada tipo de atividade verbal há recursos linguísticos: por
exemplo, existe uma certa “linguagem administrativa” que mobiliza
determinadas locuções prepositivas (“no que concerne a”, “em virtude de”
etc.), locuções verbais (“trazer ao conhecimento de”), certas construções de
frases etc.

Para se produzir e compreender bem um gênero, é necessário ter uma


organização textual e dominar os recursos linguísticos específicos que estejam de
acordo com o gênero adotado.

Quando Maingueneau menciona gêneros nas citações transpostas para este


trabalho, ele está se referindo a gênero discursivo, ele procura explicar a distinção
entre gênero discursivo e gênero textual (ibid., p. 78):

[...] De fato, propriamente falando, o único e verdadeiro gênero de discurso é


o jornal no qual esses “gêneros” se encontram incluídos: não se pode ler um
fait divers ou editorial fora do jornal do qual ele faz parte. É certo que o fait
divers ou editorial são gêneros de textos no sentido de obedecerem a um
certo número de normas, mas não são gêneros de discurso, ou seja, não são
uma atividade verbal autônoma.

Para o autor, o que mormente diferencia gênero textual de gênero discursivo é


o fato de o primeiro estar centrado em obedecer a certo número de normas; o segundo
centra-se em desenvolver uma atividade verbal autônoma.

Diferenciando gênero textual de gênero discursivo:


32

Gênero Textual ≠ Gênero Discursivo

Possui um papel, uma função na Autônomo em sua circulação e em


estruturação/textualidade relação às condições de produção

A noção de gênero textual segundo Marcuschi (2008, p.155):

Gênero textual refere os textos materializados em situações


comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que
encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões
sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais,
objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de
forças históricas, sociais, institucionais e técnicas.

Marcuschi adota os conceitos de Bakhtin, modifica algumas palavras, inclui


mais alguns pontos e denomina gênero textual, sem se preocupar em distinguir
gênero discursivo de gênero textual. Para ele, as duas terminologias se mesclam e
acabam se fundindo e, na prática, fica muito difícil delimitar a linha tênue entre um
conceito e o outro.

A relevância em se distinguir gênero textual de gênero discursivo reside no fato


de que são ideias conceptuais um pouco diferentes, o que pode gerar metodologias
de análises distintas. Na prática da maioria dos trabalhos com gêneros, no entanto,
essa distinção é indiferente.

Os interessados em se aprofundar em tal distinção podem recorrer aos


autores elencados a seguir: Bakhtin (1997), Swales (1990), Bronckart (1999), Adam
(1990), Bazerman (2011), Maingueneau (2013), Rojo (2015) dentre outros.

Neste trabalho é adotada a terminologia “Gênero Textual”, conforme Adam


(1990), Swales & Feak (2009), Bronckart (1999), Bazerman (2011), Marscuschi (2008,
2010a, 2010b) o fazem.
33

2.5 Gênero Textual

Nesta subseção, busca-se conceituar gênero textual, à luz das ideias de alguns
autores que tratam muito bem o tema.

Bazerman (2006, p. 30) assevera que:

[...] Se começamos a seguir padrões comunicativos com os quais outras


pessoas estão familiarizadas, elas podem reconhecer mais facilmente o que
estamos dizendo e o que pretendemos realizar. Assim, podemos antecipar
melhor quais serão as reações das pessoas se seguimos essas formas
padronizadas e reconhecíveis. Tais padrões se reforçam mutuamente. As
formas de comunicação reconhecíveis e autorreforçadoras emergem como
gêneros.

Para Bazerman, no processo de interlocução, locutor e interlocutor buscam


formas/tipos de enunciados que seguem padrões comunicativos típicos, numa
cooperação mútua, que passam a ser reconhecidos e adotados pelos interlocutores
em determinadas ações e circunstâncias. A esse fenômeno, o autor denomina
“tipificação”.

Ainda de acordo com Bazerman, o reconhecimento de características típicas


recorrentes nos textos é importante para que se identifiquem os gêneros textuais.

Assim ao ler um texto com as características a seguir, o leitor identificará o


gênero textual ao qual tal texto pertence: a) local e data, colocados à margem
esquerda da folha; b) vocativo ou chamamento, que pode ser afetivo como, por
exemplo, “Querida amiga”; c) desenvolvimento do texto, que pode ser informal, com
revelações intimamente particulares, pertencentes ao universo comum dos
interlocutores; d) despedida e assinatura, que contenham expressões que
demonstrem informalidade, intimidade e afetuosidade, como, por exemplo, “Com todo
meu amor”. Ante essas características típicas recorrentes, o leitor torna-se capaz de
identificar que se trata do gênero textual “carta pessoal”.

Bazerman exorta, todavia, que limitar-se somente às características típicas


recorrentes de um texto, pode levar a uma visão equivocada na identificação do
gênero.

Desse modo, o autor (op. cit. p. 32) afirma que:


34

[...] A definição de gênero como apenas um conjunto de traços textuais ignora


o papel dos indivíduos no uso e na construção dos sentidos. Ignora as
diferenças de percepção e compreensão, o uso criativo da comunicação para
satisfazer novas necessidades percebidas em novas circunstâncias e a
mudança no modo de compreender o gênero no decorrer do tempo.

[...] Gêneros emergem nos processos sociais em que pessoas tentam


compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades
e compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos.

Os gêneros tipificam muitas coisas além da forma textual. São parte do


modo como os seres humanos dão forma às atividades sociais.

De acordo com a perspectiva defendida por Bazerman, as características


tipificadas de um texto são importantes para se reconhecer determinado gênero
textual, mas é preciso ir além. É preciso encarar os gêneros como parte do processo
de como as pessoas dão forma às atividades sociais, profissionais, acadêmicas etc.

Segundo Miller1 (1984, p. 151): “a definição de gênero não pode estar centrada
principalmente na substância e na forma do discurso, mas no efeito de ação que este
discurso produz.” Isto quer dizer que, para Miller, gênero é uma forma de ação social.

Já Hammond2 afirma que parte do ensino baseado em gênero envolve uma


discussão em sala de aula sobre a estrutura do texto. Segundo ele (1987, p. 173), a
estrutura do texto envolve: “a) como é a melhor maneira de começar e terminar um
texto; b) o que se colocar no meio do texto; c) como é a melhor maneira de organizar
a informação que comporá o texto.”

A análise que esta dissertação se propõe a fazer não deixa de conceber o


gênero como ação social, todavia tem como objetivo precípuo analisar a
macroestrutura retórica do gênero resumo de artigos científicos, publicados em
periódicos.

1
Tradução e adaptação feitas pela autora desta dissertação.
2
Tradução e adaptação feitas pela autora desta dissertação.
35

2.6 O gênero “Resumo”

Neste ponto da dissertação, busca-se conceituar especificamente o gênero


resumo.

Segundo Bazerman (op. cit. p. 30):

Uma maneira de coordenar melhor nossos atos de fala uns com os


outros é agir de modo típico, modos facilmente reconhecidos como
realizadores de determinados atos em determinadas circunstâncias. Se
percebemos que um certo tipo de enunciado ou texto funciona bem numa
situação e pode ser compreendido de uma certa maneira, quando nos
encontrarmos numa situação similar, a tendência é falar ou escrever alguma
coisa também similar.

[...]

Este processo de mover-se em direção a formas de enunciados, que


reconhecidamente realizam certas ações em determinadas circunstâncias, e
de uma compreensão padronizada de determinadas situações, é chamado
tipificação.

Bazerman mostra que os gêneros devem seguir determinada padronização e


tipificação e é dentro dessa concepção que se vai direcionar o conceito de resumo e
seus descritores. O resumo tem de seguir determinada padronização no seu formato
e na sua estrutura, de tal forma que seja facilmente reconhecido pelo interlocutor.

Hasan explicita que um texto e seu contexto se realizam através de algumas


metafunções. Interessa para este trabalho a seguinte: “metafunção textual, que
expressa a estrutura e o formato do texto, possibilitando, assim, ao sujeito estruturar
a experiência em textos coesos e coerentes a partir do sistema da língua.” (Hasan
1996, p. 39)

Lancaster (2004, p. 6):

O principal objetivo do resumo é indicar de que trata o documento ou


sintetizar o seu conteúdo. Um grupo de termos de indexação serve ao mesmo
propósito. Por exemplo, o seguinte conjunto de termos proporciona uma ideia
bastante razoável sobre os assuntos tratados num relatório hipotético:

Centros de informação

Compartilhamento de recursos
36

Catálogos coletivos

Catalogação cooperativa

Redes em linhas

Empréstimos entre bibliotecas

Em certo sentido essa lista de termos pode ser vista como uma espécie
de mini resumo.

Segundo o autor, o resumo reúne, informa, de forma sintética, o assunto tratado


num documento principal, que pode ser um artigo de periódico, uma tese, uma
dissertação, por exemplo. Além de conceituar resumo, o autor menciona termos de
indexação, como grupos de termos relacionados ao resumo e ao texto do documento
principal, que garantem um panorama geral sobre os assuntos tratados no documento
original. Não por acaso, o que o autor denomina termos de indexação coincide com o
que a Associação Brasileira de Normas Técnicas, doravante ABNT, chama de
“Palavras-chave”.

Lancaster (op. cit. p. 7) defende ainda uma distinção entre resumos, a saber, o
resumo breve e o resumo ampliado, nos seguintes termos:

O título contém uma indicação geral sobre aquilo de que trata o artigo.
O resumo breve oferece mais detalhes indicando que o artigo apresenta
resultados da pesquisa e identificando as principais questões analisadas. O
resumo ampliado vai mais além, identificando todas as questões analisadas
na pesquisa e informando sobre o tamanho da amostra utilizada no estudo.

Lancaster fala a partir da visão de um bibliotecário, trata, principalmente, de


resumos constantes de bancos de dados de bibliotecas, que podem ser manuais,
através das antigas fichas de papel cartão, ou informatizados. Modernamente, as
bibliotecas possuem seus acervos devidamente catalogados em bancos de dados
informatizados.

Por se tratar de resumos de bancos de dados de bibliotecas, na visão dele,


faz-se mister esta distinção entre resumo breve e resumo ampliado, sendo este último
uma fonte mais ampla, com maiores informações para quem acessa o banco de dados
37

do acervo bibliotecário. Tratando-se de resumos de artigos científicos publicados em


periódicos, não há de se falar em resumo ampliado, o resumo neste caso tem de ser
sintético, objetivo, sucinto.

Mais adiante em seu livro, Lancaster conceitua resumo nos seguintes termos
(op. cit. p. 100): “O resumo é uma apresentação sucinta, porém exata, do conteúdo
de um documento.”

O autor ainda salienta que se deve diferenciar resumo de extrato. Ele


descreve o que é extrato (idem): “[...] é uma versão abreviada de um documento feita
mediante a extração de frases do próprio documento.” O que o autor chama de extrato
seria aquilo que se denomina, comumente, fichamento.

Para distinguir resumo de extrato, esclarece Lancaster (idem): “O verdadeiro


resumo, ainda que inclua palavras que ocorram no documento, é um texto criado pelo
resumidor e não uma transcrição direta do texto do autor.”

A citação acima é de extrema importância para aqueles que pretendem realizar


um resumo. Muitas vezes, o que se vê nos resumos são meras transcrições de trechos
do texto original, o que descaracteriza completamente o gênero resumo. É
extremamente importante que o resumidor tenha em mente que o texto resumido deve
ser fiel às ideias do texto original, todavia quem resume jamais deve copiar,
transcrever trechos do texto original.

Lancaster propõe uma classificação de tipos de resumos (ibid, pp. 101-112):

• Anotação;
• Resumos indicativos ou descritivos;
• Resumos informativos;
• Resumos críticos;
• Resumo em formato de diagrama de bloco (proposto por Broer, 1971);
• Resumos modulares;
• Mini Resumos;
• Resumos telegráficos.
38

2.7 O gênero resumo segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas –


ABNT (NBR 6028/2003)

A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, através de sua NBR


6028/2003, que tem o objetivo de padronizar e de estabelecer os requisitos para a
redação e a apresentação de resumos, define o que é resumo da seguinte maneira:
“apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento.”

A ABNT, ainda na mesma NBR3 citada, elenca três tipos de resumo, definindo-
os:

2.3. Resumo crítico: Resumo redigido por especialistas com


análise crítica de um documento.

2.5. Resumo indicativo: indica apenas os pontos principais do


documento, não apresentando dados qualitativos, quantitativos, etc. De
modo geral não dispensa a consulta ao original.

2.6. Resumo informativo: informa ao leitor finalidades, metodologias,


resultados e conclusões do documento, de tal forma que este possa,
inclusive, dispensar a consulta ao original.

Apesar de a ABNT denominar um dos tipos de resumo de “resumo crítico”, é


importante destacar que “resumo crítico” nada mais é do que o gênero denominado
“resenha”. Deve-se preferir usar o termo “resenha” a “resumo crítico”.

De acordo com as definições de resumo da ABNT, parece que o resumo


indicativo é o tipo de resumo que normalmente precede os artigos científicos e
trabalhos acadêmicos de modo geral, como monografias, dissertações e teses, porém
a mesma NBR apresenta contradições nas distinções entre resumo indicativo e
resumo informativo, conforme será visto nas próximas linhas.

3
Observação: na própria NBR há um salto do item 2.3. para o 2.5., sendo suprimido o item 2.4., possivelmente
por erro de digitação da própria NBR. Saliente-se que não foi erro da autora desta dissertação, a autora somente
transcreveu conforme consta no texto original.
39

A NBR 6028/2003 ainda estabelece as regras gerais de apresentação dos


resumos. Abaixo serão citados e devidamente comentados vários itens dessa NBR:

3.1. O resumo deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as


conclusões do documento. A ordem e a extensão destes itens dependem do
tipo de resumo (indicativo ou informativo) e do tratamento que cada item
recebe no documento original.

No item 3.1, a NBR se contradiz, uma vez que, quando conceitua “resumo
indicativo” no item 2.5, não informa que deve constar nele o objetivo, o método, os
resultados, as conclusões. Declara que tais informações devem constar no “resumo
informativo”, item 2.6. Logo a própria NBR cria situação de embaraço e confusão para
aqueles que buscam nela uma diretriz precisa para elaborar o resumo científico. O
escritor fica, pois, confuso se o resumo que precede o artigo científico é o “indicativo”
ou o “informativo”. Na verdade, parece que o resumo científico seria um misto dos dois
tipos, itens 2.5 e 2.6.

Item “3.3 O resumo deve ser composto de uma sequência de frases concisas,
afirmativas e não de enumeração e tópicos. Recomenda-se o uso de parágrafo único.”
De acordo com a citação descrita, o resumo deve ser estruturado em parágrafo único,
não em tópicos e enumerações. Outro detalhe que merece destaque é que quando
esta norma orienta usar frases afirmativas, subentende-se que se deve evitar o uso
de negativas e imperativas.

Item “3.3.1 A primeira frase deve ser significativa, explicando o tema principal
do documento. A seguir, deve-se indicar a informação sobre a categoria do tratamento
(memória, estudo de caso, análise da situação etc.)”. De acordo com este item, a
primeira frase tem de ser elucidativa, explicitando o tema ao qual o autor se propõe a
abordar, podendo até indicar se se trata de um artigo científico, de uma monografia,
de uma tese.

No item 3.3.2, a NBR informa que: “Deve-se usar o verbo na voz ativa e na
terceira pessoa do singular.” Neste item, vale ressaltar que o uso das primeiras
pessoas do discurso, tanto do singular, quanto do plural, são rechaçadas pela ABNT.
40

O item 3.3.3 informa que: “As palavras-chave devem figurar logo abaixo do
resumo, antecedidas da expressão Palavras-chave; separadas entre si por ponto e
finalizadas também por ponto.” De acordo em este item, os resumos, mormente os de
trabalhos acadêmicos e os de periódicos, precisam ser sucedidos por palavras-chave.
Então, o que seriam palavras-chave? A própria NBR 6028 define palavra-chave da
seguinte maneira: “palavra representativa do documento, escolhida,
preferencialmente, em vocabulário controlado.”

No item 3.3.4, constam regras do que se deve evitar no resumo:

a) símbolos e contrações que não sejam de uso corrente;

b) fórmulas, equações, diagramas etc., que não sejam absolutamente


necessários; quando seu emprego for imprescindível, defini-los na primeira
vez que aparecerem.

Destaque-se que, neste item, há regras importantes a serem observadas. Por


exemplo, há muita terminologia técnica nas diversas áreas dos saberes, muitos
símbolos, muitas siglas, inclusive em língua estrangeira, que não devem ser
colocados no resumo. São terminologias restritas à determinada área científica, o que
tornaria o texto muitas vezes incompreensível, tirando do resumo uma de suas
principais características, a de ser um texto objetivo e de claro entendimento, todavia
se for imprescindível o uso de símbolos, contrações, siglas, fórmulas etc., é importante
defini-los desde o primeiro momento em que aparecem no resumo.

O item 3.3.5 da NBR 6028 normatiza os resumos quanto à extensão que devem
ter:

a) de 150 a 500 palavras os de trabalhos acadêmicos (teses, dissertações


e outros) e relatórios técnicos científicos;
b) de 100 a 250 palavras os de artigos de periódicos;
c) de 50 a 100 palavras os destinados a indicações breves.
Os resumos críticos, por suas características especiais, não estão
sujeitos a limites de palavras.

Quanto à extensão dos resumos, a NBR 6028 normatiza uma delimitação nos
tamanhos, segundo a qual determina-se que o resumo não pode ter menos de 100,
tampouco mais de 250 palavras.
41

Abaixo segue um quadro ilustrativo, elaborado com base na NBR 6028, para
melhor ilustrar a normatização da ABNT para o gênero resumo:

Quadro 2. Normas para elaboração de resumos segundo a ABNT

TIPOS DE CARACTERÍSTICAS REGRAS GERAIS DE O QUE DEVE


RESUMOS APRESENTAÇÃO SER EVITADO
EM UM
RESUMO
Resumo Resumo redigido por * o resumo deve ressaltar a) símbolos e
crítico especialistas com o objetivo, o método os contrações que
análise crítica de um resultados e as não sejam de
documento. conclusões do uso corrente;
Resumo Indica apenas os documento. A ordem e a
indicativo pontos principais do extensão destes itens
documento, não dependem do tipo de
b) fórmulas,
apresentado dados resumo (indicativo ou
equações,
qualitativos, informativo) e do
diagramas etc.,
quantitativos, etc. De tratamento que cada item
que não sejam
modo geral não recebe no documento
absolutamente
dispensa a consulta original;
necessários;
ao original.
quando seu
* o resumo deve ser
Resumo Informa ao leitor
emprego for
composto de uma
informativo finalidades,
imprescindível,
sequência de frases
metodologias,
defini-los na
concisas, afirmativas e
resultados e
primeira vez que
não de enumeração e
conclusões do
aparecerem.
tópicos. Recomenda-se o
documento, de tal
uso de parágrafo único;
forma que este
possa, inclusive,
* a primeira frase deve
dispensar a consulta
ser significativa,
ao original.
explicando o tema
42

principal do documento.
A seguir, deve-se indicar
a informação sobre a
categoria do tratamento
(memória, estudo de
caso, análise da situação
etc.);

* deve-se usar o verbo na


voz ativa e na terceira
pessoa do singular;

* as palavras-chave
devem figurar logo
abaixo do resumo,
antecedidas da
expressão “Palavras-
chave”; separadas entre
si por ponto e finalizadas
também por ponto.

2.8 O resumo de artigos científicos na perspectiva de Swales & Feak

De acordo com Swales & Feak (2009), os primeiros resumos começaram a


ser introduzidos nos artigos de pesquisa da área médica, isso por volta da década de
60. E o resumo que agora está na moda, chamado “resumo estruturado”, não havia
surgido até mais ou menos 1987.

Para os autores, os resumos podem ser analisados de acordo com um


potencial máximo de cinco movimentos retóricos. Um movimento retórico é um trecho
de texto que faz um trabalho particular. É um termo funcional, não gramatical.

Os referidos autores expõem a existência de dois tipos de resumos científicos:


o “resumo tradicional” e o “resumo estruturado”. A diferença entre os dois tipos de
resumo está justamente na estrutura. No primeiro, tem-se a estrutura de um único
43

parágrafo dotado de vários períodos contendo os movimentos retóricos; no segundo


tipo, o resumo é estruturado em subseções, que intitulam cada um dos movimentos
retóricos presentes.

Os autores mencionam algumas construções linguísticas que aparecem nos


resumos: “metadiscurso” e “autorreferente”. Metadiscurso seria quando o autor não
se coloca diretamente no texto, não usa a primeira pessoa do discurso (“eu” ou “nós”).
Autorreferente seria quando o autor se coloca diretamente no texto, usando a primeira
pessoa ( “eu” ou “nós”).

Na concepção dos autores, o Resumo do Artigo de Pesquisa não é


propriamente um gênero autônomo, mas parte do gênero “Artigo científico”. Apesar
desse posicionamento dos autores, de que o resumo é parte do gênero “Artigo
Científico”, não um gênero em si, no Brasil há um consenso de que o resumo, mesmo
sendo parte integrante de um Artigo Científico/Artigo de Pesquisa, é um gênero
textual. É esta visão, de resumo como um gênero textual, que é a adotada nesta
pesquisa.
44

3 AMOSTRA

A amostra desta dissertação é composta de trinta resumos de artigos


científicos publicados em periódicos (on-line) com Qualis A2. Escolheram-se,
aleatoriamente, três áreas do conhecimento, a saber: Urbanismo, Artes e Direito.
Segue abaixo um quadro demonstrativo com os periódicos escolhidos:

Quadro 3. Periódicos utilizados na pesquisa

Área do Periódicos – Qualis A2 Quantidade


conhecimento de resumos
Urbanismo REVISTA URBE. Paraná: PUCPR, v.7, n. 1, 2015. 7

REVISTA URBE. Paraná: PUCPR, v. 7, n. 2, 2015. 3


Direito REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO - UFPR.
Paraná: UFPR, v. 60, n. 1, 2015. 7

REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO - UFPR.


Paraná: UFPR, v. 60, n. 2, 2015. 3
Artes REVISTA MORINGA – UFPA. Paraíba: UFPA v.
5, n. 2, 2014. 6

REVISTA MORINGA – UFPA. Paraíba: UFPA v.


6, n. 1, 2015. 4

Total: 30
45

4 METODOLOGIA

A metodologia adotada nesta dissertação se baseia no modelo dos cinco


movimentos retóricos potencialmente presentes nos “Resumos” de Artigos Científicos,
postulado por Swales e Feak (2009), conforme o quadro que segue abaixo:

Quadro 4. Movimentos retóricos

MOVIMENTOS RÓTULOS TÍPICOS PERGUNTAS IMPLÍCITAS


Mov. 1 Antecedentes/ O que sabemos acerca do
introdução/ situação tema? Por que este tema é
importante?
Mov. 2 Apresentar a pesquisa/ O que este estudo aborda?
propósito
Mov. 3 Métodos/ materiais/ Como foi feito o estudo?
sujeitos/ procedimentos
Mov. 4 Resultados/ achados O que foi descoberto?
Mov. 5 Discussão/ conclusão/ O que os resultados
implicações/ significam?
recomendações

Para ilustrar como ocorrem esses movimentos retóricos num exemplo prático
e como a análise do corpus desta dissertação se desenvolve, segue abaixo um
modelo de análise:

Guy Veloso: uma travessia com os irmãos das almas4

Este artigo analisa fotografias de Guy Veloso pertencentes à série Penitentes:


dos Ritos de Sangue à Fascinação do Fim do Mundo que teve início em 2002. Mov. 2
Doze dessas imagens foram expostas na 29ª Bienal de São Paulo, realizada em
2010. No processo analítico estão presentes questões específicas da estética
Mov. 3
fotográfica e concernentes à abordagem sociopolítica. A base teórica foi
desenvolvida a partir de Andre Rouillé e Euclides da Cunha.

4
MORKAZEL, Marisa. Guy Veloso: uma travessia com os irmãos das almas. Arteriais. Pará, v. 1, n 1,
p. 67, 2015. Disponível em: <http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ppgartes>. Acesso em: 16 jun.
2015.
46

Descrição:

1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,


ausência dos movimentos 1, 3 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: não ocorrem;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta
47

5 ANÁLISE
Nesta seção, são analisados os dados da amostra coletada para os fins desta
pesquisa de dissertação, com base na metodologia descrita no capítulo anterior. A
seguir, apresentam-se os resumos com seus respectivos movimentos retóricos,
seguidos de suas descrições.

REVISTA URBE. Paraná: PUCPR, v.7, n. 1, 2015. Disponível em:


<http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/urbe?dd99=about>. Acesso em: 18 jun.
2015.

RESUMO 1
Urbanização dispersa e mobilidade no contexto metropolitano de Natal: a
dinâmica da população e a ampliação do espaço de vida
Ricardo Ojima, Felipe Ferreira Monteiro, Tiago Carlos Lima do Nascimento

Embora ainda coexistam no espaço urbano o modelo concêntrico e o disperso


de urbanização, considera-se aqui que esse fenômeno reflete mais a Mov. 1
cristalização e materialidade dos processos anteriores do que a perpetuação da
mesma dinâmica urbana que os fizeram existir. A hipótese perseguida é a de
que há um novo padrão de urbanização disperso e fragmentado que tem tornado
o tecido urbano socialmente mais heterogêneo e que tal característica coloca
novos desafios tanto para a esfera social quanto para a escala individual. Assim, Mov. 3
apresenta-se o processo de expansão urbano da Região Metropolitana de Natal
(RMN), a partir de uma abordagem espacial e demográfica, em direção ao eixo
sul de desenvolvimento urbano. Nesse sentido, observar as transformações
ocorridas ao longo da década de 2000 nos permite compreender a dimensão do Mov. 2
fenômeno e do processo de dispersão urbana na região e ainda analisar o seu
impacto. Os resultados permitem confirmar a ampliação dos espaços de vida
associados a uma tendência para a dispersão urbana no sentido sul da RMN, Mov. 5
indicando que tais processos também estão por ocorrer em regiões
metropolitanas nordestinas.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 3, 2 e 5,
ausência do movimento 4;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 1;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: inversa.
48

RESUMO 2
Análise da acessibilidade a hospitais: Estudo de caso para as cidades de São
Carlos (SP) e Rio Claro (SP)
Patrícia Baldini de Medeiros Garcia
Archimedes Azevedo Raia Jr.

Os hospitais podem causar impactos significativos nos seus arredores e também Mov. 1
nos sistemas de transporte da região que estão inseridos, caracterizando-os
como potenciais Polos Geradores de Viagens (PGV). Nesse sentido, este artigo Mov. 2
aborda a acessibilidade a um hospital do tipo “Santa Casa”, com análise feita
considerando-se os três modos de viagem: a pé, automóvel e transporte público
coletivo (ônibus) nas cidades de Rio Claro/SP e São Carlos/SP. O método
proposto baseia-se em indicadores (tempo) para se medir essa acessibilidade
fazendo-se o uso de SIGs. Dados do Censo 2000 do IBGE foram utilizados para
estimativas das faixas de rendimento médio de setores censitários. Pesquisa Mov. 3
com usuários dos hospitais foram realizadas para caracterização dos perfis
desses usuários e localização da origem das viagens. Com isso, realizou-se uma
análise comparativa entre a acessibilidade, segundo as faixas de rendimento
médio do setor censitário, para verificar se realmente a parcela da população
que mais necessita e utiliza desse serviço possui níveis de acessibilidade
compatíveis.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2 e 3,
ausência dos movimentos 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 5;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
49

RESUMO 3
Planejamento ambiental e ocupação do solo urbano em Presidente Prudente
(SP)
Sibila Corral de Arêa Leão Honda
Marcela do Carmo Vieira
Mayara Pissutti Albano
Yeda Ruiz Maria

O planejamento urbano ambiental é processo de extrema importância para os


centros urbanos atualmente, auxiliando na ocupação racional e no equilíbrio
ambiental. Não deveria ser desvinculado das políticas de desenvolvimento, pois Mov. 1
está diretamente relacionado à qualidade de vida. Auxiliando nesse processo, o
plano diretor municipal, aprovado constitucionalmente em 1988, é instrumento
fundamental para orientar a ação dos agentes em prol do desenvolvimento
urbano equilibrado. Apoiado nessa premissa, este artigo tem como objetivo
primeiro a contribuição dessa discussão, por meio da relação de uso e ocupação
do solo urbano e a produção da habitação de interesse social em cidades Mov. 2
médias, considerando as questões ambientais, tendo como estudo de caso a
realidade da cidade de Presidente Prudente, município localizado no oeste do
Estado de São Paulo, no período entre 1997 e 1999. A metodologia utilizada foi
baseada em pesquisa qualitativa, com levantamentos de campo dos conjuntos Mov. 3
habitacionais escolhidos, segundo aspectos arquitetônicos, urbanísticos e
ambientais. Verifica-se uma realidade inadequada no município analisado, cujos
projetos de habitação social são inseridos na malha urbana desconsiderando Mov. 4
normas, leis e diretrizes, em um processo de políticas urbanas não coerentes
com os propósitos socioambientais desejáveis.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2, 3 e 4,
ausência do movimento 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
50

RESUMO 4

Gestão ambiental de parques urbanos: o caso do Parque Ecológico do


Município de Belém Gunnar Vingren
Silvia Laura Costa Cardoso
Mário Vasconcellos Sobrinho
Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos

O artigo debate fatores que facilitam e dificultam a implementação de um parque


urbano. Discutem-se as facilidades e dificuldades inerentes à implementação de Mov. 2
parques urbanos face aos múltiplos interesses que envolvem os atores sociais.
Analisa-se o caso do Parque Ecológico do Município de Belém Gunnar Vingren
(PEGV) e enfocam-se os conceitos de participação, governança urbana e gestão
ambiental. Utiliza-se da teoria dos stakeholders para identificação dos atores Mov. 3
sociais e interpretação de seus comportamentos no processo de implementação
do parque. Metodologicamente, o trabalho assume a abordagem qualitativa e se
utiliza da observação direta e entrevistas semiestruturadas. O estudo mostra a
importância dos movimentos sociais urbanos para a preservação das áreas
verdes da cidade e melhoria da qualidade de vida urbana. Aponta que a gestão
ambiental dos parques urbanos depende fundamentalmente do ordenamento do
seu próprio território e entorno. Em áreas com território desordenado é elevada
a possibilidade de pressão sobre parque e depredação dos seus recursos Mov. 4
naturais. A pesquisa mostra que os modelos de gestão urbana da cidade
influenciam no nível de participação dos atores sociais nos conselhos gestores
de parques. Empiricamente, o artigo mostra que a capacidade institucional para
a gestão do PEGV avançou bastante; todavia, paradoxalmente, a capacidade
organizacional do governo municipal é limitada para a gestão de todo o sistema.
Dentre todos os desafios na gestão de parques urbanos, o mais proeminente é Mov. 5
o de construção de uma aliança de governança participativa entre os
stakeholders.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 3, 4 e 5,
ausência do movimento 1;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 2;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
51

Resumo 5

Novas perspectivas na gestão do saneamento: apresentação


de um modelo de destinação final de resíduos sólidos urbanos
Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi

A complexidade que envolve a prestação dos serviços públicos de coleta,


tratamento e destinação final de resíduos sólidos, as dimensões que a questão
assume face às diversas repercussões sociais, governamentais, territoriais e
técnicas e o seu potencial de alteração qualitativa do meio ambiente conduzem
a um estudo mais aprofundado da gestão dos aterros e suas inter-relações com Mov. 1
as instituições ligadas aos resíduos sólidos e à gestão das cidades. A questão
que norteou este trabalho foi: o desenvolvimento de um modelo para instalação
de equipamentos de destinação final dos resíduos sólidos, que envolva aspectos
ambientais e de gestão, pode atender as especificidades, particularidades, de
diferentes municípios? A metodologia adotada foi o estudo multicasos descritivo
e exploratório. Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e Mov. 3
explicação dos eventos encontrados, o estudo se desenvolveu num ambiente
que preconizou a abordagem quantiqualitativa. Conclui-se com a apresentação
e a definição das atividades de um Modelo para Instalação e Gestão de
Equipamentos de Destinação Final dos Resíduos Sólidos. Tratou-se de um
processo de construção teórica e metodológica que partiu de perguntas e gerou Mov. 5
novas questões, especialmente quanto à forma de mensurar e analisar possíveis
mudanças comportamentais em saneamento básico, em função das posturas e
procedimentos inovadores difundidos em todo o país pela Política Nacional de
Resíduos Sólidos.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 3 e 5,
ausência dos movimentos 2 e 4;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
52

Resumo 6

Empresários urbanos e produção do espaço residencial:


condomínios-clube na Zona Sul de Natal (RN)1
Felipe Fernandes de Araújo

As causas da localização e disseminação dos condomínios-clube em Natal, bem


como as estratégias utilizadas pelos empresários urbanos para transformar a Mov. 2
configuração residencial, são alvos da investigação que resultou neste trabalho.
A principal consequência desse novo fenômeno é a ratificação do processo de
segmentação urbana existente na cidade, que é um elemento essencial na
relação existente entre acumulação capitalista e produção do espaço urbano. A Mov. 5
inovação espacial pretendida pelos empresários urbanos como forma de
diferenciação e aumento dos lucros gera, por outro lado, uma homogeneização
do espaço residencial por meio da disseminação da tipologia condomínio-clube
pela cidade. Com base em autores como Harvey e Abramo, é possível perceber
a relação entre o desenvolvimento capitalista e a forma espacial urbana. Além
de pesquisa bibliográfica, a metodologia utilizada baseou-se em entrevistas Mov. 3
semiestruturadas junto aos agentes do mercado imobiliário, para abranger a
relação entre a materialidade construída (estoques habitacionais) e o discurso
hegemônico que orienta a configuração residencial da cidade. Como resultado,
observou-se que tal discurso tende para um ponto comum, isto é, há uma Mov. 4
convergência dos pensamentos e da prática dos agentes acerca da localização
e das características de cada empreendimento. Como consequência imediata, Mov. 5
tem-se uma homogeneização socioespacial em certos bairros em detrimento do
restante da cidade.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 3, 4 e 5,
ausência do movimento 1;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: diversa.
53

Resumo 7

Participação política e gestão urbana sob o Estatuto da Cidade


Jefferson Oliveira Goulart

Eliana Tadeu Terci

Estevam Vanale Otero

A versão hegemônica da democracia tem inspiração na abordagem de


Schumpeter, legado do pluralismo liberal que a reduz à formação de maiorias
legítimas por meio da representação. Não obstante, a democratização de países
que passaram pelo autoritarismo proporcionou experiências inovadoras da
sociedade civil em novos formatos participativos. No Brasil, essa
experimentação tem particular expressão em nível municipal. No plano Mov. 1
institucional, o Estatuto da Cidade regulamentou o capítulo da Política Urbana
da Constituição Federal de 1988 e preconiza formatos participativos de políticas
públicas de gestão urbana “por meio da participação pública e as associações
representativas”. A construção dessa agenda resulta de imposição institucional
e reflete decisões governamentais e demandas da sociedade civil. O texto
analisa a participação, seu alcance para compartilhar decisões e em que medida Mov. 2
esses formatos participativos dependem dos governos na implantação de novos
paradigmas de gestão urbana. A abordagem combina análise teórica e empírica
de processos de elaboração de Planos Diretores orientados normativamente Mov. 3
pelo Estatuto da Cidade. A base empírica é formada por três cidades médias do
interior paulista: Piracicaba, Bauru e Rio Claro.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2 e 3,
ausência dos movimentos 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
54

REVISTA URBE. Paraná: PUCPR, v. 7, n. 2, 2015. Disponível em:


<http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/urbe?dd99=about>. Acesso em: 18 jun.
2015.

Resumo 8

Planos diretores municipais de pequeno porte


no Paraná: Cianorte, Rondon e São Tomé
Tomás Antonio Moreira
Maria Inês Terbeck

Os instrumentos do Plano Diretor Municipal, por força de lei ou por opção de


gestão, constituem importantes mecanismos de planejamento em uso
atualmente. Após 13 anos de aprovação da Lei Federal nº 10.257/2001, Estatuto Mov. 1
da Cidade e 8 anos da Lei Estadual nº 15.229/2006, quando praticamente todos
os municípios no estado do Paraná já elaboraram seus Planos Diretores
Municipais, devido à obrigatoriedade estadual. Este artigo tem como objetivo
avaliar como e se a sua implementação está auxiliando os municípios em seu
processo de Gestão Urbana. Os municípios de Cianorte, Rondon e São Tomé Mov. 2
são o foco do trabalho na Mesorregião Noroeste do estado do Paraná, pelo seu
peculiar processo de urbanização conduzido pela Companhia de Terras do Norte
do Paraná, mais tarde Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná.
Identificou-se que ocorreram avanços significativos na aplicação da legislação e
instrumentos do Estatuto da Cidade, que a existência do instrumento do Plano
Diretor Municipal tem auxiliado na Gestão dos municípios. Identificou‑se que os Mov. 4
municípios pequenos, considerando-se os com população menor que 20 mil
habitantes, estão implementando seus planos, resguardadas suas limitações.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2 e 4,
ausência dos movimentos 3 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
55

Resumo 9

As mudanças habitacionais em regiões metropolitanas brasileiras

César Marques
Henrique Frey

A partir da década de 2000, o mercado de habitação brasileiro passou por


sensíveis mudanças, que permitiram a retomada do crescimento da construção
civil, do número de unidades construídas e comercializadas. Tais mudanças
foram possíveis em função de uma série de mudanças nas políticas urbanas e
habitacionais, com destaque para a ampliação da oferta do financiamento Mov. 1
habitacional, que permitiu a incorporação de uma parcela maior da população no
acesso à casa própria. No entanto, os efeitos das recentes políticas de habitação
ainda não são claros. Por um lado, o crescimento do valor dos bens imobiliários
foi generalizado, alcançando patamares comparáveis a de importantes centros
mundiais, principalmente nas grandes cidades e metrópoles brasileiras. Por
outro, ainda pouco se sabe sobre os efeitos quantitativos desse modelo, ou seja,
se de fato a parcela da população com acesso ao domicílio próprio aumentou Mov. 2
significativamente e houve uma consequente queda do número de domicílios
alugados e cedidos. Para isso, esse artigo propõe uma primeira análise
exploratória, utilizando os dados dos Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010
para avaliar se tais políticas alteraram as dinâmicas das condições de ocupação
nos domicílios na escala metropolitana. Analisamos dados das três maiores Mov. 3
regiões metropolitanas (Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro) a partir do
município, comparando as mudanças na sede e no entorno. O texto está
estruturado em torno da discussão do mercado habitacional no Brasil, das
inovações em termos de políticas públicas no período recente e da própria
análise dos dados censitários, apontando suas potencialidades e limites.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2 e 3,
ausência dos movimentos 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
um misto das duas construções: metadiscurso e autorreferente. A
autorreferência ocorre no movimento 3, através da desinência número pessoal
de primeira pessoa do plural, porém sem ocorrência do sujeito preenchido
“nós”.
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
56

Resumo 10

O processo de renovação das áreas centrais na cidade


contemporânea: O caso do conjunto arquitetônico e
paisagístico da Praça do Congresso, em Criciúma (SC)
Gustavo Rogério De Lucca
Margareth de Castro Afeche Pimenta

A expansão urbana desordenada no Brasil e a consolidação da cidade


corporativa têm estimulado, com a conivência do Estado neoliberal, a
propagação de modos de ocupação cada vez mais vinculados a interesses
imobiliários imediatos. A ausência de planejamento urbano de caráter social é
percebida principalmente nos médios e grandes centros urbanos, onde se
registra um agressivo processo de renovação das áreas centrais, cada vez mais
ousado, alterando inclusive, irreversivelmente, a paisagem de núcleos históricos.
É o caso de setores da centralidade urbana de Criciúma/SC, cidade produzida Mov. 1
sob influências econômicas da mineração de carvão e, posteriormente, por
outras atividades industriais. É destaque o conjunto arquitetônico e paisagístico
da Praça do Congresso, objeto de estudo deste artigo, formado a partir das
primeiras décadas do século XX com residências em estilos variados, desde
chalés com influências no Romantismo europeu a exemplares da arquitetura
modernista. Juntas com a praça, configuravam um espaço de referência em
qualidade de vida e importante para a preservação de vínculos identitários e de
memória. Considera-se, no entanto, que as transformações mais recentes são
parte de um quadro nacional de empobrecimento da urbanização e demonstram
Mov. 5
que a subserviência das políticas públicas a interesses econômicos imediatos
tendem a desaparecer, em breve, com parte importante da diversidade dos
conjuntos históricos brasileiros.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1 e 5,
ausência dos movimentos 2, 3 e 4;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
57

REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO - UFPR. Paraná: UFPR, v. 60, n. 1, 2015.


Disponível em <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/>. Acesso em: 18 jun.
2015.

Resumo 11

PASSOS PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DO DIREITO


Julio Cesar de Aguiar

o artigo apresenta algumas ideias fundamentais para o desenvolvimento de uma


abordagem evolucionária do direito, baseada no conceito behaviorista radical de Mov. 2
sistema social como rede de padrões comportamentais entrelaçados. Depois de
discutir os três níveis de seleção comportamental, a saber, filogenético,
ontogenético e sociocultural, o artigo explica como a emergência de um sistema Mov. 5
jurídico funcionalmente especializado baseado em organizações jurídicas foi
capaz de internalizar o processo de evolução do direito por meio da seleção das
normas jurídicas mediante contingências jurídicas de segundo grau.

Descrição:

1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 5;


ausência dos movimentos 1, 3 e 4;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
58

Resumo 12

PROTESTOS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA –


O JULGAMENTO DO HABEAS CORPUS 8800 E O CONFLITO ENTRE OS
PODERES JUDICIÁRIO E EXECUTIVO
Laila Maia Galvão

a presente pesquisa investiga, a partir de uma análise institucional, a atuação do


Supremo Tribunal Federal (STF) durante a Primeira República, com foco Mov. 2
especialmente na relação tensa estabelecida entre os Poderes Executivo e
Judiciário. Serão apresentados alguns episódios envolvendo a chamada edição
de protestos, em que o Tribunal se manifestava por meio de uma nota pública Mov. 3
contra as ações do Poder Executivo. A partir da análise mais detalhada de um
desses episódios, ocorrido em 1923, buscar-se-á identificar como se dava esta
disputa por espaços de poder entre o STF e a Presidência da República.

Descrição:

1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,


ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
59

Resumo 13

A PRODUÇÃO DA VIDA NUA NO ESTADO DE GUERRA GLOBAL


Maiquel Angelo Dezordi Wermuth

o artigo analisa os contornos biopolíticos do combate ao terrorismo no ambiente Mov. 2


de guerra global. A biopolítica é apresentada como o movimento por meio do
qual se dá a implicação da vida natural do homem nos mecanismos e nos
cálculos do poder. Nesse rumo, é o estudo da biopolítica que viabiliza a
compreensão dos motivos pelos quais o homem da contemporaneidade
encontra-se exposto a uma violência sem precedentes, o que permite falar a
Mov. 3
respeito de um patamar de indistinção entre direito e violência, na medida em
que o estado de exceção se transforma no paradigma dominante da política. A
figura do homo sacer é apresentada como emblemática para a compreensão
deste espaço anômico, ou seja, deste ambiente no qual aquilo que é excluído da
norma geral não está, em razão disso, absolutamente fora de relação com a
norma, mas se mantém em relação com ela na forma da suspensão: a norma se
aplica à exceção desaplicando-se.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,
ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
60

Resumo 14

GLOBALIZAÇÃO E O DÉFICIT DEMOCRÁTICO DAS INSTITUIÇÕES


REPRESENTATIVAS BRASILEIRAS

Murilo Gaspardo

em decorrência da globalização, o Estado perdeu o monopólio da mediação


política. Por exemplo, passou a compartilhar decisões com múltiplos atores,
internos e externos, e não é capaz de controlar diversas variáveis que interferem
na vida nacional. Isso tem impactos sobre o funcionamento e a legitimidade das
instituições representativas. Entretanto, há paradoxos que as acompanham
Mov. 1
desde seus primórdios e, em Estados semiperiféricos como o Brasil e outros
latino-americanos, há questões histórico-culturais, como bloqueios internos e
externos à soberania, cultura política patrimonialista, clientelista e populista, bem
como uma sociedade precariamente integrada e com profundas desigualdades,
que também explicam os problemas da democracia. Assim, o propósito desta
pesquisa consistiu em investigar quais elementos caracterizadores do déficit Mov. 2
democrático das instituições representativas brasileiras foram, de fato, causados
ou potencializados pela globalização. Com isso, procurou-se superar análises
simplificadoras, que atribuem todos os problemas da democracia
contemporânea à globalização, ou, então, insistem em restringir o campo de
Mov. 3
análise aos limites estabelecidos pelo modelo democrático representativo de
base territorial, cujo potencial explicativo apresenta limites severos em um
contexto de policentrismo político, e em que as instituições representativas se
revelam incompatíveis com as exigências de mediação social.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2, e 3,
ausência dos movimentos 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
61

Resumo 15
GRANDES ESPERANÇAS EM UM MUNDO DE INJUSTIÇAS: INTERFACES
ENTRE AMARTYA SEN E CHARLES DICKENS
Pedro Augusto Gravatá Nicoli

o presente ensaio promove uma aproximação entre a Ideia de Justiça de


Amartya Sen e a obra-prima Grandes Esperanças, do romancista inglês Charles
Dickens, publicada em 1860, lançando luz sobre aproximações e contrapontos
Mov. 2
entre a teoria de Sen e a vivência dos personagens de Dickens. Essa correlação
parte da epígrafe da obra de Sen, que evoca as injustiças sentidas pelo
protagonista Pip, de Grandes Esperanças, na abertura de seu projeto de justiça.
Para tanto, as dimensões estruturantes da teoria da justiça de Sen serão
revisitadas, como um projeto concreto de remoção de injustiças, nas linhas da Mov. 3
argumentação racional e da teoria da escolha social, em contraponto a teorias
transcendentes. Por sua vez, o universo do menino Pip, de Grandes Esperanças,
revelará o complexo caminho desde a inocência infantil à obsessão e esnobismo,
com esperanças e frustrações construídas no cenário da Inglaterra vitoriana, de
mazelas profundas da pobreza e desigualdade legadas pela Revolução
Industrial. Dickens, nesse sentido, é ao mesmo tempo um crítico ácido de seu
tempo, engajando-se na transformação social, e um mestre na exploração da
Mov. 4
dinâmica psíquica das relações humanas. Assim é que se aproximam os autores
pelo retrato pungente da injustiça, a demandar a máxima e imediata remoção.
Afastam-se, talvez, no convite à reflexão abstrata do justo e do ético em si, bem
como do peso dado às instituições. De todo modo, pensar a justiça nesse espaço
compartilhado, em que o poder evocativo e o alcance comunicativo das ideias
sejam expandidos, coloca-se como exercício enriquecedor em todos os sentidos.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 3, e 4,
ausência dos movimentos 1 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
62

Resumo 16

A TUTELA JURÍDICA DO CONSUMIDOR DIANTE DO ATRASO DO


INCORPORADOR IMOBILIÁRIO
Fabrício Germano Alves
Thiago de Lucena Motta

o presente artigo trata das consequências jurídicas do atraso do incorporador em


entregar o edifício em uma incorporação imobiliária, analisando as opções Mov. 2
colocadas pelo ordenamento jurídico à disposição do consumidor adquirente
lesado pela mora. O contrato de aquisição de unidade autônoma em
incorporação imobiliária envolve, em regra, fornecedor e consumidor, o que atrai Mov. 1
a incidência do regime protetivo instituído pelo Código de Defesa do Consumidor.
A partir de análise da normatização pertinente, de bibliografia especializada e
decisões de tribunais, o objetivo do presente trabalho é demonstrar que a lógica Mov. 3
que deve orientar os casos de atraso é a responsabilização do incorporador e2
pelos danos de qualquer ordem causados ao consumidor, garantindo-se a este
autonomia para prosseguir no contrato ou proceder à resolução do mesmo.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 1, e 3,
ausência dos movimentos 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: diversa.
63

Resumo 17

DISTINÇÕES HERMENÊUTICAS DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO


CIVIL: O INTÉRPRETE NA DOUTRINA DE PIETRO PERLINGIERI
Carlos Nelson Konder

o artigo visa a analisar a metodologia da constitucionalização do direito civil de Mov. 2


Pietro Perlingieri, por vezes referida como “direito civil-constitucional”, por meio
da confrontação deste método com os demais, estabelecendo comparações,
distinções, divergências, semelhanças e, por vezes, oportunidades de diálogo.
Mov. 3
Utilizou-se, para tanto, a resposta dos métodos para duas grandes questões
interligadas acerca da interpretação do direito: deontologia x teleologia e
liberdade x restrição à atuação do intérprete.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,
ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
64

REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO - UFPR. Paraná: UFPR, v. 60, n. 2, 2015.


Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/>. Acesso em: 18 jun.
2015.

Resumo 18

MOVIMENTOS SOCIAIS DE DIREITOS HUMANOS, REGIMES AUTORITÁRIOS E


TRANSIÇÃO: ANÁLISE COMPARADA BRASIL E ARGENTINA
Arcénio Francisco Cuco
Junior Ivan Bourscheid
Rodolfo Silva Marques

o presente texto tem em vista analisar os fatores que influenciaram a atuação


dos movimentos sociais de direitos humanos durante a vigência dos regimes Mov. 2
autoritários e as implicações dos mesmos para a atuação dos movimentos no
processo de transição democrática no Brasil e na Argentina. No trabalho,
procuramos responder à seguinte questão: por que na Argentina houve uma
grande mobilização dos movimentos sociais em busca de memória e justiça em
relação ao regime da junta militar (1976-1983), diferentemente do que ocorreu
no Brasil em relação ao governo militar de 1964-1985? Para estabelecermos
uma explicação que permitisse alcançar os objetivos traçados neste trabalho,
Mov. 3
vimos que era necessário que na análise dos dados fossem conjugadas três
categorias de fatores explicativos, que por sua vez facilitariam o estabelecimento
de variáveis de comparação entre ambos os países. Dessa conjugação de
fatores, apuramos que o processo histórico dos regimes autoritários tem um peso Mov. 4
importante na análise da atuação dos movimentos sociais nesses países. Para
a coleta de dados que sustenta a nossa base comparativa, privilegiamos a Mov. 3
revisão bibliográfica.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 3 e 4,
ausência dos movimentos 1 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
um misto das duas construções: metadiscurso e autorreferente. A
autorreferência ocorre nos movimentos 3 e 4, através da desinência número
pessoal de primeira pessoa do plural, porém sem ocorrência do sujeito
preenchido “nós”;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: diversa.
65

Resumo 19

RESPONSABILIDADE CIVIL, JUSTIÇA E REGIME INSTITUCIONAL: UMA


COMPARAÇÃO ENTRE O ESTADO DE BEM-ESTAR E A DEMOCRACIA
ECONÔMICA
Leandro Martins Zanitelli

o trabalho diferencia dois tipos de regime institucional – o Estado de bem-estar


e a democracia econômica, e procura determinar as características gerais da Mov. 2
responsabilidade civil mais consentâneas com cada um deles. Argumenta-se em
favor de duas afirmações centrais, a saber, primeiro, a de que a tendência à
objetivação da responsabilidade civil verificada no direito brasileiro é adequada
Mov. 3
ao modo de produção do Estado de bem-estar e, segundo, a de que essa
objetivação também se coaduna com a democracia econômica, regime sob o
qual o problema das externalidades relacionadas ao volume da produção se
abranda, mas não desaparece. Com isso, o artigo também ilustra uma maneira
(“indireta”) de aplicar a justiça a problemas de direito civil, a qual consiste em Mov. 4
verificar inicialmente qual o tipo de regime institucional mais propenso à
realização dos princípios da justiça, para então inquirir sobre as características
do direito civil mais congruentes com esse regime.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 3 e 4;
ausência dos movimentos 1 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
66

Resumo 20

O SISTEMA DE JUSTIÇA PENAL ENTRE A INVISIBILIDADE PÚBLICA E O


RECONHECIMENTO NA MODERNIDADE PERIFÉRICA
Raphael Boldt
João Maurício Adeodato

diante das aparentes contradições do discurso punitivo da modernidade,


fundador do processo penal e das tensões entre emancipação e regulação que
caracterizam o Direito e o Judiciário modernos, espaços públicos supostamente
destinados ao reconhecimento dos indivíduos, pretende-se discutir se o sistema Mov. 2
de justiça criminal e, em especial, o processo penal, podem assegurar aos
indivíduos as condições necessárias à afirmação da visibilidade e do
reconhecimento. A partir do método dialético, defende-se a tese de que o
processo penal da modernidade e, em especial, o sistema de justiça penal Mov. 3
brasileiro, são incompatíveis com o reconhecimento intersubjetivo em razão de
um obstáculo epistemológico, que serve ao mesmo tempo de mecanismo
eficiente de consolidação da invisibilidade pública e de humilhação social.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,
ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
67

REVISTA MORINGA – UFPA. Paraíba: UFPA v. 5, n. 2, 2014. Disponível em:


<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/moringa/index>. Acesso em: 18 jun. 2015.

Resumo 21

“ARTE” E A “CIÊNCIA” DE CONTAR HISTÓRIAS:


como a noção de performance pode provocar diálogos entre a pesquisa e a
prática
Luciana Hartmann

Mov. 2

Este artigo, baseado em levantamento da produção bibliográfica brasileira sobre Mov. 3


a narração de histórias e no escopo teórico-metodológico fornecido pelos
estudos da performance, pretende promover uma análise dos diálogos possíveis Mov. 2
entre a pesquisa e a prática do contar histórias.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3;
ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: diversa.
68

Resumo 22

O ESPETÁCULO COMO ACONTECIMENTO CONTEXTUAL:


dimensão espaço-tempo para a construção real-ficcional
Cecília Lauritzen Jácome Campos

O estudo tem por objetivo discutir a relação tempo/espaço e suas implicações Mov. 2
nas dimensões real/ficcional do espetáculo teatral. Para tanto, dois espetáculos
são referidos para a análise dos aspectos levantados, Pequenos milagres do Mov. 3
Grupo Galpão e Hysteria do Grupo XIX. A partir do exercício crítico da recepção,
as reflexões traçadas apontam determinadas linhas de raciocínio que valorizam Mov. 4
a condição do espetáculo enquanto acontecimento e experiência.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 3 e 4,
ausência dos movimentos 1 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
69

Resumo 23

A PRESENÇA DO REAL:
do extremo à perturbação na experiência receptiva
da cena contemporânea
Alessandra Montagner

Este artigo disserta sobre experiências receptivas de choque impulsionadas pela Mov. 2
utilização do extremo nas produções da cena contemporânea. Analisa-se uma
cena do espetáculo B. #4, do ciclo de tragédias Tragedia Endogonidia, da Mov. 3
companhia teatral italiana Socìetas Raffaello Sanzio, a fim de ilustrar a
perturbação e ambivalência que fundam novas possibilidades relacionais e Mov. 2
pessoais pela experiência estética.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,
ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: diversa.
70

Resumo 24

O MATERIAL FATZER DE BRECHT:


notas sobre o inacabado como nova forma de narrar
Francimara Nogueira Teixeira

O artigo faz uma aproximação do Material Fatzer, de Brecht, através da


Mov. 3
contextualização histórica de sua produção e da problematização de questões
formais. Procura apontar pistas para abordar o texto da peça didática como
modelo para novas formas de narrar a partir do que o próprio material já Mov. 2
apresenta em sua estrutura de documento e comentário.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 3 e 2;
ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: inversa.
71

Resumo 25

ENTRE RAÍZES, CORPO E FÉ:


poetnografias dançadas

Renata de Lima Silva

O objetivo deste artigo é explicitar e discutir a metodologia de trabalho Núcleo


de Pesquisa e Investigação Cênica Coletivo 22 (SP/GO) a partir de articulações Mov. 2
que aproximam, ao mesmo tempo que diferenciam, os campos da arte e
antropologia. A discussão é feita a partir do processo em elaboração de uma Mov. 3
performance que investiga a história de vida de mulheres que habitam e
significam o cerrado brasileiro.

Descrição:

1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,


ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 2;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
72

Resumo 26

RUMO A POSSÍVEIS DRAMATURGIAS DO ESPAÇO


Marina Marcondes Machado

Este artigo comenta o estado da atual pesquisa da autora e revela seus Mov. 2
bastidores, em termos de leituras bem como de procedimentos criativos. Toma
como ponto de partida a intersecção entre teatro, fenomenologia e psicanálise
Mov. 3
de modo a tecer uma rede de significados para a expressão “dramaturgia do
espaço”, em busca de modos de escrita para textos dramatúrgicos que se
mostrem como “roteiros de improviso”.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 3,
ausência dos movimentos 1, 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
73

REVISTA MORINGA – UFPA. Paraíba: UFPA v. 6, n. 1, 2015. Disponível em:


<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/moringa/index>. Acesso em: 18 jun. 2015.

Resumo 27

A TRAGÉDIA DE CARMEN:
teatro e cinema na obra de Peter Brook
Gabriela Lírio Gurgel Monteiro

O artigo investiga a relação entre teatro e cinema na obra de Peter Brook, através Mov. 2
da análise do filme e do espetáculo “A Tragédia de Carmen”. O conceito de
adaptação e as relações espaço-temporais serão analisadas na transposição Mov. 3
das linguagens. Observa-se o foco no trabalho do ator e a importância dada à Mov. 4
comunicabilidade com o público.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2, 3 e 4,
ausência dos movimentos 1 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
74

Resumo 28

LITERATURA, TEATRO E CINEMA:


o Mahabharata de Peter Brook, um encontro multicultural
Gabriela Lírio Gurgel Monteiro

O artigo analisa a adaptação cinematográfica do poema épico indiano O Mov. 2


Mahabharata. O diretor Peter Brook e o roteirista Jean-Claude Carrière, após
longa pesquisa, dedicaram-se à adaptação do poema, primeiro para o teatro e
depois para o cinema, obtendo, deste modo, uma dupla investigação. O Mov. 4
multiculturalismo da proposta e a problemática da identificação/distanciamento
foram fundamentais ao entendimento do processo de adaptação da obra.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 4,
ausência dos movimentos 1, 3 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente: ocorre
exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a primeira
pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
75

Resumo 29
VAZIO E PLENITUDE
José Tonezzi
Lúcia Romano

O texto apresenta alguns preceitos brookianos do fazer teatral, em especial no


que concerne à interpretação, pensados a partir do relato de atividades Mov. 2
desenvolvidas em São Paulo, com orientação do ator e diretor Alain Maratrat. A
revisão da experiência passada encaminha a reflexão sobre a presença de Brook
na cultura teatral nacional de meados da década de 1990, além de observar
Mov. 4
alguns limites e possibilidades da troca “intercultural”, sob a luz do projeto de
“transculturalidade” presente no teatro de Peter Brook e empreendido por
Maratrat em parceria com um grupo de jovens atores e atrizes brasileiros.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 2 e 4,
ausência dos movimentos 1, 3 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente:
ocorre exclusivamente a construção de metadiscurso, logo não ocorre a
primeira pessoa do discurso, nem do singular, nem do plural;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
76

Resumo 30

CORPOS E ARTEFACTOS EM CENA


Catarina Firmo

A cena contemporânea tem vindo a preocupar-se cada vez mais com o modo Mov. 1
como o corpo e a matéria são questionados na sua simbiose e dissemelhança.
Neste estudo, proponho refletir acerca da articulação entre o corpo atuante e o Mov. 2
artefacto cénico, observando técnicas e métodos de trabalho do ator. As
reflexões tecidas serão ilustradas, através de uma incursão por algumas Mov. 3
companhias portuguesas.

Descrição:
1) Quanto aos movimentos retóricos: presença dos movimentos 1, 2 e 3,
ausência dos movimentos 4 e 5;
2) Quanto aos tipos de construção de metadiscurso e autorreferente:
ocorre um misto das duas construções: metadiscurso e autorreferente. A
autorreferência ocorre no movimento 2, através da desinência número
pessoal de primeira pessoa do singular, porém sem ocorrência do sujeito
preenchido “eu”;
3) Quanto à ocorrência de abreviações/acrônimos: 0;
4) Quanto à ordem cronológica dos movimentos: direta.
77

6 RESULTADOS

Após a delimitação dos movimentos retóricos dos resumos que compõem a


amostra, apresentam-se as tabelas com a distribuição e a frequência dos dados
analisados, seguidas de explicitações e discussões dos resultados encontrados.

Tabela 1: Distribuição dos movimentos retóricos das três áreas do


conhecimento que foram analisadas: Urbanismo, Direito e Artes.
Quantidade de resumos analisados: 30
Movimentos Ocorrências dos Percentagem
Retóricos movimentos
Movimento 1 11 37%
Movimento 2 28 93%
Movimento 3 25 83%
Movimento 4 11 37%
Movimento 5 6 20%

De modo geral, os resultados da tabela 1 revelam que os produtores de


resumos de artigos científicos tendem a lançar mão em maior escala dos movimentos
2 e 3, preterindo o movimento 5. Estes resultados coincidem em parte com os
resultados das pesquisas de Swales e Feak (2009), nas quais os autores afirmam
haver uma maior ocorrência dos movimentos 4 e 2, e uma menor incidência do
movimento 5.

Tabela 2: Distribuição dos movimentos retóricos por área do conhecimento:


Urbanismo
Quantidade de resumos analisados: 10
Movimentos Ocorrências dos Percentagem
retóricos movimentos
Movimento 1 8 80%
Movimento 2 8 80%
Movimento 3 8 80%
Movimento 4 4 40%
Movimento 5 5 50%

Tabela 3: Distribuição dos movimentos retóricos por área do conhecimento:


Direito
Quantidade de resumos analisados: 10
Movimentos Ocorrências dos Percentagem
Retóricos movimentos
Movimento 1 2 20%
Movimento 2 10 100%
78

Movimento 3 9 90%
Movimento 4 2 20%
Movimento 5 1 1%

Tabela 4: Distribuição dos movimentos retóricos por área do conhecimento:


Artes
Quantidade de resumos analisados: 10
Movimentos Ocorrências dos Percentagem
Retóricos movimentos
Movimento 1 1 10%
Movimento 2 10 100%
Movimento 3 8 80%
Movimento 4 4 40%
Movimento 5 0 0%

Tabela 5: Média da quantidade de palavras por área do conhecimento


Área do Média da quantidade Quantidade de palavras/caracteres
conhecimento de palavras presentes permitidas por resumo, de acordo
nos resumos com cada uma das revistas
Urbanismo 199.2 150 a 250 palavras
Direito 140.4 150 a 250 palavras
Artes 62.4 (407.5 caracteres) 5 linhas ou 460 caracteres

A ABNT, na NBR 6028/2003, determina que os resumos de artigos científicos


devem possuir uma quantidade de palavras que pode variar de 100 a 250. Isto
significa que a ABNT, como uma Associação reguladora das normas de apresentação
dos resumos em artigos científicos, deve ter suas regras respeitadas, tanto pelos
periódicos científicos, quanto pelos escritores dos resumos. As equipes editoriais dos
periódicos têm de delimitar os tamanhos dos resumos dentro dos parâmetros
estabelecidos pela Associação, não de acordo com critérios e regras próprias.
Observa-se, na tabela 5, que na área de Direito, apesar de o periódico obedecer aos
parâmetros estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, a média
da quantidade de palavras dos resumos analisados não chega nem ao número
mínimo estabelecido pela própria revista, que é de 150 palavras. Na área de Artes, o
problema é ainda mais grave, uma vez que o próprio periódico ignora que o critério
para o estabelecimento dos tamanhos dos resumos é a quantidade de palavras, não
a quantidade de linhas ou de caracteres. Quando o periódico estabelece regras
próprias, sem embasamento na ABNT, através de número de caracteres, ignorando o
79

critério estabelecido pela NBR 6028/2003, tal periódico cria um problema para os
escritores dos resumos e seus potenciais leitores. Como pode ser visto na tabela em
tela, os resumos de Artes possuem em média 407.5 caracteres, obedecendo à regra
arbitrária estabelecida pelo próprio periódico, o que equivale a uma média de 62.4
palavras presentes nos resumos desta revista, o que está muito aquém do número
mínimo de palavras estabelecido pela ABNT, ou seja, 100 palavras. O critério
particular e arbitrário de delimitação do tamanho dos resumos da tal revista da área
de Artes pode implicar num problema para o produtor do resumo, que se vê preso a
um número muito reduzido de palavras, para poder elaborar o seu resumo de forma
adequada. Além de ser um problema para o produtor do resumo, pode acabar por se
tornar também um problema para o leitor. Ao ler o resumo, o leitor pode não conseguir
encontrar as informações minimamente necessárias para decidir se vale a pena ler ou
não o artigo na íntegra, dessa forma o leitor pode deixar de ler um artigo útil por não
ter encontrado no resumo as informações necessárias que o fariam ler e conhecer o
artigo integralmente.

Apesar de a revista de Artes analisada estabelecer normas de tamanho dos


resumos contrárias às regras da NBR 6028/2003, não parece ser essa delimitação
arbitrária de tamanho o que impede os escritores de elaborarem seus resumos com
um número adequado de movimentos. Os resumos do periódico de Direito, aqui
analisados, que estabelece o número de palavras de acordo com a NBR citada,
também não possuem uma quantidade significativamente maior de movimentos que
os de Artes. Os dois periódicos possuem praticamente a mesma quantidade de
movimentos. Por conseguinte, a existência de um número pequeno de movimentos
retóricos presentes nos resumos aqui analisados não se deve à delimitação da
quantidade de palavras estar ou não de acordo com as regras da ABNT, mas sim ao
desconhecimento ou à falta de habilidade por parte dos produtores de resumos de
artigos científicos.

Tabela 6: Distribuição da quantidade de movimentos retóricos por área do


conhecimento
Área do Quantidade de Média
conhecimento movimentos retóricos
presentes
80

Urbanismo 33 3.3
Direito 25 2.5
Artes 23 2.3
Média geral 2.7

Tabela 7: Distribuição percentual da quantidade de movimentos retóricos


presentes nos resumos
Quantidade de movimentos presentes Percentual
1 movimento 0%
2 movimentos 43.33%
3 movimentos 43.33%
4 movimentos 13.33%
5 movimentos 0%

Diante do que foi exposto nos argumentos da tabela 5, poder-se-ia


depreender, equivocadamente, que a quantidade pequena de movimentos estivesse
relacionada ao critério estabelecido arbitrariamente pela revista de Artes aqui
analisada, contudo a quantidade pequena de movimentos presentes nos resumos não
se deve exclusivamente ao fato de a referida revista de Artes utilizar critérios
particulares e arbitrários, antes pode ter a ver com a falta de conhecimento ou
habilidade do escritor do resumo. Os discentes brasileiros, de modo geral,
possivelmente não foram ensinados desde cedo a produzir resumos, tampouco
resumos de artigos científicos. Isso pode ser comprovado ao se comparar a média da
quantidade de movimentos retóricos entre as áreas de Direito e Artes. Ao cotejar a
quantidade de movimentos presentes nos resumos das duas áreas, Artes e Direito,
verifica-se que, mesmo o periódico de Direito estabelecendo uma quantidade de
palavras de acordo com as regras da ABNT, a quantidade de movimentos é
praticamente a mesma dos resumos da revista de Artes: enquanto esta tem a média
de 2.3 movimentos retóricos presentes em seus resumos, aquela tem uma média de
2.5, uma diferença irrisória. Isto comprova que a quantidade pequena de movimentos
retóricos presentes tanto na área de Artes, quanto na de Direito se deve ao fato de
certa dificuldade ou falta de conhecimento prévio dos produtores de resumos e não
encontra justificativa nas peculiaridades dos campos do conhecimento.

A análise dos dados da tabela 7 revela que 0% dos resumos possui somente
um movimento e também 0% possui os cinco movimentos potencialmente possíveis.
81

Percebe-se ainda que 86.66% dos resumos possuem de 2 a 3 movimentos e somente


13.33 % possuem 4 movimentos.

Tabela 8: Frequência das construções metadiscursivas e autorreferentes


Metadiscurso Autorreferente
90% - 27 10% - 3

Quanto às construções metadiscursivas e autorreferentes, verifica-se, na


tabela 8, o alto percentual de resumos que usam metadiscurso, 90%, em oposição à
pequena percentagem, apenas 10%, que usam a autorreferência. Há de se destacar
que os poucos resumos que usaram a primeira pessoa do discurso, tanto do singular,
quanto do plural, não preencheram foneticamente o sujeito, o que reforça a tese de
que a variante formal escrita continua fortemente marcada pela desinência número
pessoal do verbo.

A predominância de metadiscurso revela que os escritores de resumos de


artigos científicos, em sua maioria, estão alinhados à normatização da ABNT, que
determina que os resumos têm de ser escritos em 3ª pessoa.

Tabela 9: Frequência de verbos e pronomes de primeira pessoa nas construções


autorreferentes
Resumos Verbo na 1ª Verbo na 1ª Pronome de 1ª Pronome de
pessoa do pessoa do do singular 1ª pessoa do
singular plural plural
Resumo 9 0 1 0 0
Resumo 18 0 5 0 0
Resumo 30 1 0 0 0

Tabela 10: Percentual de verbos e pronomes de primeira pessoa nas


construções autorreferentes
Verbos na 1ª Verbos na 1ª Pronomes de 1ª Pronomes de 1ª
pessoa do singular pessoa do plural pessoa do pessoa do plural
singular
3.3% 6.7% 0% 0%
82

Do pequeno percentual de 10% dos resumos que utilizaram a autorreferência,


6.7% apresentaram a primeira pessoa do plural e apenas 3.3%, a primeira pessoa do
singular. Desses 10% não houve ocorrência de pronomes de primeira pessoa, nem
do singular, nem do plural, isto é, não houve sujeito foneticamente preenchido.

Vale destacar que houve uma grande dificuldade em segmentar os


movimentos retóricos nos resumos que compõem o corpus desta dissertação, uma
vez que os escritores, em sua maioria, talvez por não terem conhecimento do modelo
de movimentos retóricos pertinentes aos resumos, escrevem de modo que fica quase
impossível segmentar, identificar exatamente onde começa e onde termina cada
movimento.

Uma sugestão de solução para evitar um resumo mal estruturado, em que não
se consegue delimitar claramente onde começa e onde termina cada movimento, seria
a difusão e o ensino do “resumo estruturado”, que quase não é conhecido e é muito
pouco usado no Brasil. Se o “resumo estruturado” fosse ensinado em larga escala no
Brasil, talvez houvesse menos problemas no que tange à produção textual dos
resumos científicos. O “resumo estruturado”, como o próprio nome já diz, estabelece
uma estrutura prévia, um esquema para direcionar o escritor, fazendo com que o
resumidor não se perca quanto aos movimentos retóricos relevantes e imprescindíveis
a um bom resumo.

O “resumo estruturado” é bastante similar ao resumo tradicional no que se


refere ao conteúdo e à organização. O que os distingue é que no estruturado cada
movimento retórico vem explicitamente precedido pelo seu rótulo/título, o que não
ocorre no tradicional. Abaixo segue um exemplo de “resumo estruturado”, extraído da
Revista da Escola de Enfermagem da USP:

RESUMO5

OBJETIVO

Validar tecnologia assistiva para mulheres com deficiência visual aprenderem a utilizar o preservativo
feminino.

5
Revista da Escola de Enfermagem - USP. São Paulo: USP, v. 48, n. 6, 2014. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/reeusp>. Acesso em: 20 jun. 2015.
83

MÉTODO

Estudo de desenvolvimento metodológico, realizado em página da web, com coleta de dados entre
maio e outubro de 2012. Participaram 14 juízes, sendo sete juízas em saúde sexual e reprodutiva
(1ª etapa) e sete em educação especial (2ª etapa).

RESULTADOS

Todos os itens atingiram o parâmetro adotado de 70% de concordância. Na 1ª etapa foi acrescentada
a representação do colo do útero com novos materiais e na 2ª incluiu-se que as instruções devem
ser ouvidas duas vezes.

CONCLUSÃO

A tecnologia foi validada e está adequada quanto aos objetivos, estrutura/apresentação e relevância.
É um instrumento de promoção da saúde válido, inovador e de baixo custo, que poderá auxiliar
mulheres com deficiência visual a utilizar o preservativo feminino.

Saliente-se que o potencial máximo de movimentos retóricos presentes nos


resumos de artigos científicos é de cinco movimentos, sendo o movimento 1
pouquíssimo utilizado e o seu teor dispensável. Um resumo bem elaborado deve
possuir os quatro movimentos presentes no resumo acima, isto é, do movimento 2 até
o 5.
Conforme já dito, o resumo estruturado é bastante similar ao tradicional no
conteúdo e na organização. Dessa forma, o resumidor que tenha de redigir no formato
tradicional, pode previamente elaborar o resumo estruturado, a fim de criar o
esqueleto do resumo tradicional, para depois retirar os “rótulos/títulos” (objetivo,
método, resultados, conclusão) e tornar o texto em parágrafo único, conforme deve
ser o resumo tradicional. Nesse caso, ao retirar os rótulos e transformar o “resumo
estruturado” em “tradicional” com um único parágrafo, o resumidor deve atentar para
o fato de que o texto pode ficar sem coesão, logo deverá fazer as adaptações
necessárias, utilizando os conectivos adequados, para tornar o resumo coeso.
Em suma, se o “resumo estruturado” for difundido e ensinado nas
escolas/universidades brasileiras, talvez diminuam os problemas relacionados à
produção textual do gênero “resumo de artigo científico”.
84

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas análises e nos resultados obtidos nesta pesquisa de


dissertação, percebe-se que os resumos de artigos científicos, mesmo os bem
qualificados pela CAPES, como os da amostra aqui analisada, não possuem uma
quantidade suficiente de movimentos retóricos que os classifique como resumos
eficientes, do ponto de vista para o qual eles devem servir. O papel primordial do
resumo é o de conter as informações mínimas imprescindíveis para que o leitor possa
ter a clara noção se o artigo aborda ou não o assunto de seu interesse. Para obterem-
se as informações imprescindíveis a um bom resumo, é necessário que o resumo
tenha em média quatro dos cinco movimentos potencialmente possíveis, sendo o
movimento dois indispensável, visto que é nele que o resumidor informa o objetivo do
artigo científico.

Desse modo, sugere-se, além de ter uma média de quatro movimentos


retóricos, alguns critérios para a elaboração de um resumo eficiente. Para que o
escritor do resumo não se perca, ele pode lançar mão de elaborar previamente o
resumo estruturado, depois retirar os rótulos e usar os conectivos que forem
necessários para estabelecer a coesão entre os movimentos retóricos.

Quando se resume um texto, o escritor deve reduzi-lo, condensá-lo, sem fugir,


no entanto, ao teor do texto original. O resumidor tem de se manter fiel ao texto de
base, que serviu de ponto de partida para o resumo. Para isso, é imprescindível que
tenha em mente três elementos:

1) as partes essenciais do texto;


2) a manutenção da ordem em que texto progride, a fim de não se perder na
organização das ideias centrais e tornar o texto incoerente, sem sentido para o
leitor;
3) a concatenação e a correlação que o texto mantém entre suas partes.

Sendo assim, o resumo é uma redução do texto original, todavia sem conter
transcrições do original, cooptando suas ideias principais, sem esquecer o
encadeamento lógico do texto de origem.
85

Por se tratar de um texto sucinto, num resumo, não cabe estender-se de forma
pormenorizada a respeito do tema tratado, o que não significa que o resumidor possa
colocar frases soltas e vagas.

Algo importante que também não se deve fazer é retirar trechos do texto
original e colá-los no resumo. Se o resumidor assim o fizer, estará criando um texto
qualquer que não será o gênero resumo, estará construindo uma miscelânea de
gêneros que não formará um gênero específico, mas uma mistura de dois gêneros: o
resumo e o fichamento, o que pode descaracterizar completamente o gênero resumo.

Esta pesquisa pretendeu verificar numa amostra, composta por resumos de


artigos científicos bem qualificados pela CAPES, com Qualis A2, se os resumos são
eficientes ou não, a partir da análise da presença ou ausência dos movimentos
retóricos postulados por Swales e Feak (2009). Verificou-se nesta amostra que os
resumos não são tão eficientes, uma vez que se registra ausência significativa de
movimentos retóricos essenciais a um bom resumo. Os resultados encontrados nesta
pesquisa, provavelmente se devem ao fato de a cultura escolar brasileira não
disseminar, não ensinar, de forma adequada, como deve ser elaborado um resumo
eficiente.

Além disso, observou-se que há revistas, como a de Artes, que não obedecem
aos critérios de extensão estabelecidos pela NBR 6028/2003, o que por si só já é uma
grande arbitrariedade, que pode prejudicar a boa elaboração de um resumo. Por fim,
procurou-se sugerir alguns critérios que possam ajudar os resumidores a elaborar
seus resumos de forma mais eficiente.
86

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