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Júlia Beatriz Lopes Silva

Psicóloga

NATUREZA VS. CRIAÇÃO Mestre e Doutora em Saúde da


Criança e do Adolescente – Faculdade
de Medicina UFMG
Professora Adjunta Psicologia UFMG
1
ambiente

hereditariedade

Qual tem maior impacto relativo?

desenvolvimento
2
ambiente

hereditariedade

Como genética e ambiente interagem?

desenvolvimento
3
Hereditariedade:
traços ou características inatas herdadas dos
pais biológicos

4
MATURAÇÃO
Padrões de mudança sequencial geneticamente programados (Gesell, 1925)

CARACTERÍSTICAS:
❑ universal
❑ sequencial
❑ relativamente impermeável à influência ambiental

5
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O QUE É UM COMPORTAMENTO INATO?
O que significa dizer que algo é inato?
⚫ Habilidades inatas devem estar presentes em toda a população
⚫ Desenvolvimento deve seguir um curso comum entre os indíviduos
⚫ Não há necessidade de treinamento explícito
⚫ Existência de componente genético

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RELAÇÃO ENTRE EXPERIÊNCIA E PADRÕES
MATURACIONAIS
RECAPITULANDO....

Período sensível: experiência pode contribuir mais para o desenvolvimento


adequado
*efeitos não tão graves!

Período crítico: mesma estimulação em outros períodos do desenvolvimento tem


pouco ou nenhum efeito

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GENÉTICA DO COMPORTAMENTO

GÊMEOS ADOÇÃO 9
ESTUDOS COM GÊMEOS

10
>
11
Gêmeos
Gêmeos monozigóticos tendem
monozigóticos a compartilhar
compartilham material também os mesmo
genético ambientes

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ESTUDOS DE ADOÇÃO
Permitem o maior controle da variável ambiental em estudos de herdabilidade

“quando um transtorno tem um correlato


genético, ele deve ocorrer mais
frequentemente entre parentes de sangue
do que em parentes adotados”

“quando um transtorno é mais suscetível


à influências ambientais, ele deve ser mais
frequente em parentes adotivos do que
biológicos.”

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Familares
“genéticos”
Familiares
“genético-
ADOÇÃO
mais-
ambientais”
Familiares
“ambientais”

Plomin et al., 2011 14


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QUESTÕES METODOLÓGICAS
EM ESTUDOS DE ADOÇÃO

Representatividade/generalização

Ambiente pré-natal

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MODELOS DE COMBINAÇÃO

Gêmeos adotados separados & Gêmeos criados juntos:

Gêmeos idênticos criados separados desde o início da vida são quase tão parecidos
em termos de habilidade cognitiva geral quanto aqueles criados juntos
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767 pares de gêmeos
(pelo menos 1 cumpre critério pra dificuldade de aprendizagem da leitura)
5 anos depois da primeira avaliação

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(1) influências genéticas na RD são substanciais e
altamente estáveis;
(2) a comorbidade entre RD e IN é devida em grande
parte a influências genéticas, tanto transversal
quanto longitudinalmente;
(3) influências genéticas contribuem significativamente
menos para a comorbidade entre RD e H / I.

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INTERAÇÃO GENÓTIPO-AMBIENTE
a) efeitos passivos: pais genéticos providenciam o ambiente de criação do filho (efeitos
genéticos e ambientais não podem ser separados). Efeito diminui com a idade

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INTERAÇÃO GENÓTIPO-AMBIENTE
b) efeitos evocativos: quando a criança extrai respostas de outros que são influenciadas pelo
seu genótipo (por ex: uma criança de temperamento irritável tende a responder diferente de
uma criança de temperamento fácil e o tipo de atenção recebida pelo cuidador será
diferente). Efeitos evocativos permanecem constantes ao longo do desenvolvimento

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INTERAÇÃO GENÓTIPO-AMBIENTE
c) efeitos ativos: o genótipo influencia na escolha do ambiente. (por ex: crianças que gostam de
esportes vão procurar outras crianças que também compartilham o hobby). Efeitos ativos
aumentam com a idade, a medida que a criança fica mais independente dos seus pais e pode
procurar seus próprios ambientes

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Influência dos pais maior na infância e decai com a idade

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MODELO DE
ENCAIXE OTIMIZADO
Thomas & Chess, 1986

TEMPERAMENTO PADRÕES DE
INFANTIL CRIAÇÃO

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CAUSA OU CONSEQUÊNCIA?

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INFLUÊNCIAS AMBIENTAIS NA EXPRESSÃO DE
GENES
Meninos com a presença de um gente no cromossomo X associado à comportamentos
antissociais só eram mais agressivos do que meninos sem esse gene caso tivessem sido
expostos à abuso infantil severo.

Meninas com ou sem o gene não diferiam em relação à probabilidade de exposição


ao abuso

(Caspi et al., 2002)

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Modelo de diátese-estresse
da agressividade

Genótipo MAOA Gênero masculino

Maus tratos Comportamentos


na infância agressivos
(Caspi et al., 2002) 28
Modelo de diátese-estresse
da depressão

Gênero feminino

Eventos Sintomas
estressantes depressivos

(Caspi et al., 2003) 29


DIFERENÇA DE GÊNERO

A partir dos 3 anos


Hormonal ou representação social?
Agressividade relacional
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MENINAS MALVADAS

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DIFERENÇA DE GÊNERO NA MATEMÁTICA

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34
35
DIFERENÇA DE EMPREGABILIDADE NAS ÁREAS STEM

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https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/09/10/mulheres-sao-so-26-em-profissoes-tecnologicas.ghtml?utm_source=valorinveste&utm_medium=referral&utm_campaign=materia
DIFERENÇA AUMENTA COM ESCOLARIDADE?

(Metaanálise: Lindberg et al., 2010)

MULHERES HOMENS

d cohen = magnitude do efeito, tamanho da diferença entre os grupos (Pequeno≤0.20; Médio≤0.50; Grande≤0.80)
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https://rpsychologist.com/cohend/
FATORES QUE INFLUENCIAM A APRENDIZAGEM DA
MATEMÁTICA

MEMÓRIA DE SENSO
INTELIGÊNCIA
TRABALHO NUMÉRICO

PROCESSAMENTO HABILIDADES
FONOLÓGICO VISUOESPACIAIS

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FATORES QUE INFLUENCIAM A APRENDIZAGEM DA
MATEMÁTICA

NUMERACIA
ESCOLARIZAÇÃO
FAMILIAR

AUTO
ANSIEDADE INTERESSE NA
CONFIANÇA NA
MATEMÁTICA MATEMÁTICA
MATEMÁTICA

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MODELO BIOPSICOSSOCIAL DA DIFERENÇA
DE GÊNERO NA MATEMÁTICA

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(Casey & Ganley, 2021)
TRANSTORNO DE
CONDUTA

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Mark: O que torna as pessoas más?
Terapeuta: Mau é uma palavra que as pessoas usam quando desistem de tentar
entender alguém. Há uma razão para tudo, se nós pudermos procurar.

Mark: E se não houver uma razão? Se algo simplesmente é?


Terapeuta: Por que, Mark? Você se acha mau? Por que deixou sua mãe morrer?
Você sabe que não é verdade.

Mark: E se houvesse um garoto e ele fizesse coisas terríveis porque ele gosta de
fazer? Você não diria que ele é mau?
Terapeuta: Não acredito no mal.

Mark: Pois devia acreditar.

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Prisão

Violência

Deliquência grave

Associação com colegas


agressivos/deliquentes

Agressão dissimulada

Conflitos com colegas e


professores/rejeição social
Agressão física e verbal, conflito com os
pais

Oposição, provocação, desobediência em casa 44


PREJUÍZOS ASSOCIADOS
QI VERBAL

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negligência parental
práticas parentais rígidas
falta de supervisão TREINAMENTO DE PAIS

trocas frequentes dos


responsáveis pela criança*
exposição à violência
transtorno de personalidade
anti-social na família

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FATORES DE RISCO

Temperamentais Ambientais Genéticos e


fisiólógicos
• Regulação de • Práticas • Córtex pré-
emoção parentais frontal e
agressivas, amigdala
inconsistentes
ou negligentes

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Semelhança genética é muito mais acentuada nos gêmeos de 4 a 7 anos
para crueldade do que desobediência e provocação

Mason & Frick, 1994

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Relação entre transtorno da personalidade dos pais e o
de conduta dos filhos

*mesmo em casos de adoção!

Dumas, 2011
49
CONTEXTOS DO DESENVOLVIMENTO
50
CONTEXTOS DO DESENVOLVIMENTO
FAMÍLIA NUCLEAR

Mudanças de emprego
Casamentos homoafetivos
FAMÍLIA NUCLEAR
Divórcio

51
52
53
NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO

54
CRITÉRIO BRASIL

55
56
57
IMPACTO DA POBREZA

direto
• desnutrição

indireto
• Stress dos pais
58
Hackman, D. A., Farah, M. J., & Meaney,
M. J. (2010). Socioeconomic status and the
brain: mechanistic insights from human and
animal research. Nature Reviews
Neuroscience, 11(9), 651–659.
59
Sarsour, K., Sheridan, M., Jutte, D., Nuru-Jeter, A., Hinshaw, S., & Boyce, W. T. (2010). Family
Socioeconomic Status and Child Executive Functions: The Roles of Language, Home Environment,
and Single Parenthood. Journal of the International Neuropsychological Society, 17(01), 120–132.
60
Noble, K. G., Houston, S. M., Kan, E., & Sowell, E. R.
(2012). Neural correlates of socioeconomic status in the
developing human brain. Developmental science, 15(4),
516-527.
61
Lawson, G. M., Duda, J.
T., Avants, B. B., Wu, J.,
& Farah, M. J.
(2013). Associations
between children’s
socioeconomic status and
prefrontal cortical
thickness. Developmental
Science, 16(5), 641–
652.

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63
Dinheiro não
traz felicidade...

Maios taxa de
abuso de
substância e
transtornos
internalizantes
(Luthar & Latendresse,
2005)

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VIÉS DE PESQUISA?

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MODELO DE INFLUÊNCIA AMBIENTAL DE ASLIN
(1981)
Cinco diferentes modelos de relacionamento entre maturação e influências ambientais
1. maturação: modelo maturacional sem influência ambiental
2. manutenção: algum estímulo ambiental é necessário para sustentar algum comportamento
que já se desenvolveu em termos maturacionais (ex: visão. Se um olho for tampado, a
habilidade diminui)
3. facilitação: comportamento se desenvolve mais cedo do que se desenvolveria em virtude
de experiências (ex: crianças com as quais os pais falam sentenças mais complexas entre 18 e
24 meses tendem a desenvolver a fala um pouco mais cedo)
4. sintonia: determinada experiência leva a um ganho permanente ou a um nível de
desempenho permanentemente mais alto (ex:crianças de famílias pobres que frequentam
escolas melhores na infância tem resultados de QI permanentemente mais altos do que
crianças do mesmo NSE que não tiveram a oportunidade)
5. indução: efeito puramente ambiental (aprender um esporte ou outro idioma)

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Diferentes teorias contemporâneas da
psicologia do desenvolvimento atribuem à
ênfases diferentes sobre aa influência do
ambiente e da genética do
desenvolvimento, além dos pressupostos
acerca da continuidade desenvolvimental

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DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO
Epigenética: genes x ambiente
A relação entre genes, estrutura cerebral e funcionamento cognitivo é
bidirecional.

gene estrutura cerebral funcionamento cerebral experiência

Epigenética pode ser definida como


uma modificação funcional do DNA
que não envolve alteração na sua
sequência; são mudanças na
transcrição gênica.

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Padrão de metilação do fator
neurotrófico derivado do cérebro
(brain-derived neurotrophic fator,
BDNF).

O BDNF é importante para memória de


longo prazo, e está associado ao o
crescimento e diferenciação de novos
neurônios e sinapses.

Este gene é bastante sensível à


modificações no seu padrão de
expressão devido à aspectos
epigenéticos, como estresse crônico, uso
de imipramina e uso de cigarro durante
a gestação.
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ALTERAÇÕES NEUROBIOLÓGICAS:
CAUSA OU CONSEQUÊNCIA?

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QUESTÕES
AULA ANTERIOR:
1. Qual o principal método de coleta de dados de pesquisa da psicologia do
desenvolvimento clássica e quais suas limitações?
2. Quais as principais vantagens e desvantagens de estudos longitudinais?

AULA DE HOJE:
1. Descreva as três interações genótipo-ambiente e dê exemplos.
2. Quais as possíveis causas ambientais e genéticas da agressividade?

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